agricultura em goiás políticas de modernização agrícola

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AGRICULTURA EM GOIÁS: POLÍTICAS DE MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA
NO PERÍODO MILITAR.
Pedro Henrique Marques Cardoso 1,3; Dulce Portilho Maciel2,3
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Bolsista PBIC/UEG
Pesquisadora – Orientadora
3 Curso de História-licenciatura, Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas
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RESUMO
Atualmente a agricultura na região Centro-Oeste é referencia no cenário
nacional, a agroindústria se tornou umas das principais características da região. A partir
de 1960, quando a modernização do setor agrário brasileiro começou a fazer parte dos
planos do governo federal, iniciou-se um rápido processo que veio a transformar a
agricultura da região Centro-Oeste, cujo eco-sistema característico é o cerrado, em uma
das regiões mais produtivas do Brasil.
Palavras-chave: agricultura, modernização, Centro-Oeste
Introdução
O presente estudo objetiva realizar análise das políticas de modernização
agrícola no Estado de Goiás, no período de 1960 a 1980. Neste período, a sociedade
brasileira passou por intensas transformações, resultantes da instauração do regime
militar no país e da crise política e econômica que a antecedeu. O cerrado, o eco-sistema
característico da região Centro-Oeste, por muito tempo foi tido como impróprio para
agricultura em grande escala, em razão de seu solo pouco produtivo. A partir das
inovações tecnológicas trazidas para região, mediante ações promovidas pelo governo
federal, tornou-se uma das áreas geográficas mais produtivas do país. A política de
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Bolsista PBIC/UEG
Pesquisadora – Orientadora
3 Curso de História-licenciatura, Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas
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modernização agrícola direcionada a região Centro-Oeste – aqui analisada no caso
especifico de Goiás – fez parte dos planos do Estado brasileiro, no sentido de aumentar
a produção agrícola do Brasil.
Material e Métodos
O presente trabalho baseia-se numa pesquisa em fontes documentais primárias,
entre elas, os acervos da Fundação Brasil Central (FBC) – 1943-1968 – e da
Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO) – 1968-1991. A
exploração exaustiva dos documentos segue como método usado nesta pesquisa, além
de leituras bibliográficas acerca do tema.
Resultados e Discussão
Políticas de modernização agrícola: o caso de Goiás
A evolução da ciência e da tecnologia, bem como sua relação com o
desenvolvimento econômico dos países industrializados é de fundamental importância
neste trabalho, pois a modernização da agricultura no Brasil se enquadra basicamente
nesta relação. Desta maneira, no intuito de esclarecer alguns aspectos a respeito da
evolução da ciência e da tecnologia, utilizaremos da leitura que Tamás Szmrecsányi faz
sobre essa evolução, em seu artigo Esboços de História Econômica da Ciência e da
Tecnologia.
Szmrecsányi faz análise entre o progresso do conhecimento e o progresso
econômico. Para tanto, o autor entende que é preciso definir o papel do progresso
técnico distinguindo, as descobertas e invenções das inovações tecnológicas
propriamente ditas, pois, apenas estas últimas compõem o processo de desenvolvimento
econômico. Tais inovações tecnológicas passam a fazer parte deste processo, “...através
dos mecanismos de indução e de difusão do progresso técnico.” (SZMRECSÁNYI,
2001, p.156).
Quanto ao progresso do conhecimento (progresso científico), este é acelerado
pelo progresso técnico a partir das exigências do sistema econômico. Assim, as
atividades de pesquisa tendem a se expandir ocasionando numa maior interação entre
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ciência e tecnologia, sendo o resultado, o crescimento dos processos de produção e de
inovações tecnológicas.
Dessa forma, esta pesquisa tem em vista contribuir para ampliação do
conhecimento científico acerca da natureza e do homem do Estado de Goiás.
Orientando-se para a análise das políticas de modernização da agricultura neste estado,
durante o período que corresponde à ditadura militar no Brasil. Tais políticas fizeram
parte dos planos do governo federal, no intuito de modernizar o setor agrícola brasileiro.
As disparidades existentes entre os setores urbano e rural, em fins da década de
1950, causaram grande preocupação ao Estado brasileiro. Sobre essa questão,
Wenceslau Gonçalves Neto analisa o fato de existirem capitalistas tanto no campo
quanto na zona urbana, embora na prática, houvesse predomínio do setor urbano. Por
esse motivo o Estado brasileiro passou a enfrentar um grande desafio a partir da década
de 1960: “conciliar os interesses do capital no campo e na cidade”. (GONÇALVES
NETO,1997, p.116). Para isso, o Estado é apresentado como um aparelho repressivo, no
caso em questão, Estado burguês – ou seja, defende os interesses da burguesia,
enquanto classe social.
O autor tem como principio, então, a idéia de que o Estado é um mecanismo de
poder e de decisão, que na história contemporânea sempre zela pela ordem capitalista,
ou seja, pelo interesse de uma minoria burguesa. Desta forma, o setor agrário é tido
como espaço de exploração capitalista, confirmando assim, o interesse do Estado no seu
desenvolvimento.
Sobre o Estado de Goiás, a participação da agricultura na formação do PIB foi
característica principal até 1968. A partir de então, houve uma mudança considerável na
economia goiana, pois os setores industrial e de serviços começaram a adquirir destaque
nesta economia. De acordo com Dorival Geraldine (2006), embora a participação da
agricultura na formação da renda nacional tenha declinado a partir da década de 1970,
não se pode afirmar que o valor da produção rural tenha diminuído, pois o que houve foi
um processo de inter-relação entre os setores agrícola, industrial e de serviços,
resultante da modernização da agricultura.
A partir de 1960, uma série de medidas político-econômicas previstas no Plano
Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social – 1963-1965 - voltaram-se para o
setor agrícola brasileiro. Tais medidas preconizavam o uso de insumos modernos nas
propriedades. Entre 1964 e 1970, os seguintes planos foram adotados: Plano de Ação
Econômica do Governo (PAEG), em 1964; Plano Decenal de Desenvolvimento
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Econômico (PED), em 1966; Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND),
em 1969. Todos estes planos buscavam melhorias para a agricultura, sendo o principal
objetivo destes, aumentar a produção agrícola voltada para o mercado externo.
Na década de 1970, diversos programas foram implantados, dentre eles, o
Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (PRODOESTE), que criava vários
incentivos aos investimentos privados nesta região e o Programa de Assentamento
Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), este, com vistas a viabilizar técnica e
economicamente a ocupação agrícola dos cerrados. Além disso, foi elaborado o
Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que compreendia novos
programa s, com o objetivo de beneficiar espaços regionais definidos. Assim surgiram: o
POLOAMAZÔNIA (Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia),
este atendia parte dos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso; o POLOCENTRO
(Programa de Desenvolvimento dos Cerrados); o PRODECER (Programa de
Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados).
Embora os Planos Nacionais de Desenvolvimento não diagnosticassem
problemas estruturais na agricultura, em termos gerais, os planos eram bem
semelhantes. Visavam: a colonização de espaços vazios, como o Cerrado no CentroOeste, por exemplo; aumento na produtividade agrícola; incentivo à industrialização no
meio rural; fortalecimento do crédito rural; etc.
A evolução do setor agrícola no Estado de Goiás é marcada pela forte presença
do capital monopolista, da industrialização da agricultura e da integração dos capitais
agrícola, comercial, industrial e financeiro. Geraldine identifica doze tipos de
organização agrária na região Centro-Oeste. No Estado de Goiás apenas quatro tipos de
organização se distinguem. Elas se distribuem numa área que tem a Chapada dos
Veadeiros ao norte, Serra do Caiapó e Vertente Goiana ao sul, Planalto Goiano ao leste,
e Rio Vermelho a oeste.
No ano de 1975, foi criado o Sistema de Incentivos à Industrialização (SIN). Seu
principal objetivo era estimular empresas por meio da elaboração de estudos e projetos
técnicos e de viabilidade econômica, no intuito de promover o desenvolvimento
industrial do Estado de Goiás. Em 1984, foi criado o Fundo de Participação e Fomento à
Industrialização do Estado de Goiás (FOMENTAR).
O processo de modernização da agricultura em Goiás resultou no posterior
desenvolvimento da agroindústria, atualmente, uma das principais características da
economia do Estado e da região Centro-Oeste do Brasil. Embora considerável parte do
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território goiano já esteja experimentando a realidade promovida pelas tecnologias
agrícolas avançadas, a agricultura tradicional ainda está presente em algumas
localidades de Goiás. Isto, segundo Luís Antônio Estevam, ocorre porque “uma das
características marcantes da modernização agrícola em Goiás foi a sua localização
espacial no centro-sul do Estado”. (2004, p.25).
A agricultura tradicional foi tida por um longo período como uma das principais
características do Estado de Goiás. Suas particularidades – somam-se a isto as relações
econômicas e sócio-culturais – assumiram um caráter diferenciado das outras regiões
brasileiras, transformando-se numa barreira ao rápido desenvolvimento econômico
deste Estado. Embora atualmente predomine uma agricultura modernizada em Goiás,
não se pode generalizar, pois ainda permanecem algumas práticas tradicionais de cultivo
em determinadas áreas do território goiano.
A respeito das conseqüências do uso da mecanização no solo – resultantes do
processo de inovação tecnológica – sabe-se, por exemplo, que o solo pode atingir alto
nível de degradação. Como o cerrado goiano é considerado uma das últimas fronteiras
agrícolas do mundo, medidas para sustentabilidade do mesmo já estão sendo tomadas,
como por exemplo, a adoção do plantio direto.
Entende-se por plantio direto, uma “prática agronômica inovadora, que
movimenta menos o solo e permite um eficiente controle da erosão, pela manutenção de
uma cobertura morta (palha) sobre o solo”. (RODRIGUES,2004, p.106). Essa forma de
plantio foi introduzida no Brasil no ano de 1969, como reação à forma fortemente
mecanizada, então crescentemente adotada na agricultura, causadora de grande
degradação do solo.
Conclusões
Sobre o processo de industrialização da região goiana, bem como a
modernização da agricultura, houve uma considerável mudança a partir das décadas de
1950 e 1960. Segundo Geraldine, o número de unidades industriais no Estado de Goiás
passou de 2.926 para 11.809, isto num período de 35 anos. Toda essa evolução é
resultado de políticas que almejavam integrar a região Centro-Oeste à nova ordem
econômica nacional e mundial.
Portanto, as políticas implantadas para desenvolvimento da agricultura brasileira
só reforçaram sua subordinação ao sistema urbano- industrial, visto que, o processo de
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planejamento era todo fomentado pelos grupos de maior poder, representados no
Estado.
Referências Bibliográficas
•
ESTEVAM, Luís Antônio. 2004. Agricultura Tradicional em Go iás. In
PEREIRA, Armantino Alves (Org.) Agricultura de Goiás: análise e dinâmica.
Goiânia: UCG, p. 25-47.
•
GERALDINE, Dorival Gomes. 2006. Economia Goiana: da agricultura ao
agronegócio. In CASTRO, Joana D’arc Bardella. (Org). Economia Goiana:
cadeias
produtivas,
reestruturação,
mineração,
agricultura
e
industrialização. Anápolis: UEG, p.31-54.
•
NETO, Wenceslau Gonçalves. 1997. A ação do Estado: a agricultura nos planos
de governo no Brasil. In Estado e Agricultura no Brasil: política agrícola e
modernização econômica brasileira 1960-1980. São Paulo: Hucitec, p. 115140.
•
RODRIGUES, Waldecy. 2004. Avaliação econômica do uso de tecnologias
agrícolas sustentáveis nos cerrados brasileiros – o caso do plantio direto. In
CASTRO, Joana D’arc Bardella. (Org). Ensaios sobre Economia Regional
Goiana. Anápolis: UEG, p.105-126.
•
SZMRECSÁNYI, Tamás. 2001. Esboços de História Econômica da Ciência e da
Tecnologia. In SOARES, Luiz Carlos (Org.) Da Revolução Científica à Big
(Business) Science. São Paulo: Hucitec / Niterói: EdUFF, pp. 155-200.
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