Vikings: Mais que um povo, um ideal 1 – Introdução: Este é meu segundo trabalho para a revista Klepsidra. No trabalho anterior, realizei uma abordagem bem ampla sobre a História da civilização Inca. Minha área de interesse em História é justamente como surgiram, se desenvolveram, evoluíram e, algumas vezes, se extinguiram as civilizações dos períodos Antigo e Medieval, como os próprios Incas. Neste trabalho, continuarei a desenvolver minha área de interesse, porém agora escrevendo sobre um outro povo, cujo brilho social, cultural e militar também foi imenso, mas que assim como os Incas (só que de maneira bem diversa) acabou por perder sua cultura própria e, sendo assim, deixou de ser um povo em particular, para se mesclar ao cenário do Ocidente mundial. Bem como os Incas, os Vikings não foram totalmente exterminados (ainda existem descendentes de Incas por toda a cordilheira dos Andes, e os descendentes dos Vikings são os povos Escandinavos de hoje), mas sua cultura foi aos poucos se perdendo em detrimento da Religião e dos costumes da Europa Cristã. Pretendo aqui, não apenas mostrar de um ponto meramente descritivo como se desenvolveu o povo Viking, mas sim explicar o fenômeno que suas incursões causaram na Europa, discutir o fato de os verdadeiros descobridores da América terem sido estes navegadores (por volta de 500 anos antes de Colombo) e, por fim, explicar a seguinte afirmação: “Os Escandinavos deixaram de serem Vikings ao se tornarem Cristãos”. Antes de iniciar meu texto, quero deixar claro que ele não visa ser um trabalho completo como seria o feito por um especialista no tema, mas apenas intenta familiarizar um pouco mais o estudante brasileiro com este tema tão pouco conhecido: Os Vikings. No entanto é bem possível que meu texto seja uma das mais abrangentes e completas obras sobre este povo escrita em Português, uma vez que tive imensa dificuldade em encontrar dados e obras sobre este tema em nossa língua. Inclusive, quando pedi indicações bibliográficas sobre o tema para a professora de Idade Média da USP, ela não só não me indicou com precisão nenhum livro, como também disse que toda a bibliografia disponível sobre o povo estava em Inglês, Francês, Alemão ou outras línguas Européias. Sendo assim, talvez meu trabalho seja mais importante ainda do que foi o dos Incas, uma vez que existem diversas obras sobre aquele povo traduzidas para o Português ou mesmo feitas no Brasil. 2 – Localização Espacial e Contextualização Racial: Neste trecho do trabalho irei descrever algumas das levas migratórias que se dirigiram para a Europa ao longo dos séculos, dando ênfase ao período final da Antigüidade e inicial da Idade Média. Acredito que a melhor maneira de explicar um fato histórico é, antes de mais nada, contextualizá-lo geograficamente. Pois bem, neste trecho irei diferenciar a nossa noção atual de Escandinávia daquilo que era a Escandinávia na época do surgimento dos Vikings. 2.1 – A Escandinávia: A Escandinávia atual é composta por duas penínsulas: a Escandinava e a Jutlândia. Na península Escandinava situam-se a Noruega, a Suécia e a Finlândia, e na península da Jutlândia situa-se a Dinamarca. Portanto, o termo Escandinavo refere-se aos habitantes de um desses quatro países. No entanto, a situação não era a mesma no final da Antigüidade e princípio da Idade Média. Na realidade, esses quatro países ditos Escandinavos são formados por três povos diferentes (muitos não sabem, mas ao longo da História, centenas de povos diferentes migraram, guerrearam e, às vezes se miscigenaram na Europa, sendo assim, o conceito de Raça pura é um absurdo completo, mesmo em se tratando dos loiríssimos Escandinavos), os Fineses, os Teutões (ou Teutos) e os Escandinavos propriamente ditos. Os Fineses constituíram uma leva migratória provavelmente oriunda do norte da Ásia, que aos poucos foi se aproximando da Escandinávia, até se sedentarizar, no final da Antigüidade, na atual Finlândia e em algumas regiões do norte e nordeste da Suécia. Os Teutões são uma leva migratória muito mais antiga, desde os mais remotos tempos eles já habitavam a Europa e moveram-se muito pouco até se estabelecerem na Jutlândia, nas ilhas do mar Báltico e no sudoeste da Suécia. Entretanto, os Teutões não são muito conhecidos pois tinham divisões internas entre “raças”. As principais “raças” Teutônicas eram os Saxões, os Anglos, os Frísios, os Jutos (cuja “raça” deu nome à Jutlândia) e os Danos. Por fim, os Escandinavos também são um povo muito antigo na região, cuja presença remonta talvez aos mais longínquos tempos da Pré- história. Eles se estabeleceram inicialmente no noroeste da Noruega, mas depois se espalharam por toda a Noruega e pela maior parte da Suécia. No início do século V, os Romanos estavam em franca decadência, e em 410, visando proteger a própria cidade de Roma dos ataques das hordas bárbaras, o Imperador retirou as tropas que guardavam a Britânia (ilha onde atualmente se situam Inglaterra, Escócia e País de Gales). Sendo assim, os habitantes da península da Jutlândia começaram a atacar a Britânia, pois as condições de sobrevivência no lugar eram terríveis (terras estéreis e frio intenso). Foi assim que Anglos, Frísios, Jutos e muitos Saxões transferiram-se para a Britânia, onde sua miscigenação com os Britânicos (nativos da Britânia) deu origem aos Ingleses. Depois dessa leva migratória que perdurou pela primeira metade do século V, a Jutlândia se viu semi abandonada, e foi ocupada pelos Danos (ao norte e centro), que residiam no sul da Suécia e ilhas do Báltico, e pelos Saxões (ao sul). As comunidades nessa época eram muito divididas e é provável que cada pequeno povoado constituísse um Reino de fato. O leitor deve estar se perguntando: “Mas por que o autor está me falando sobre todos esses povos?” Bem, a resposta é simples. Acontece que os Danos, foram o único povo Teutão que não migrou para a Britânia, pelo contrário, a migração dos outros deu-lhes mais espaço, pois mesmo os Saxões migraram em grande parte para a Britânia. Sendo assim, os Danos se espalharam e ocuparam a Jutlândia, sem abandonar nem as ilhas do Báltico, nem o sul da Suécia. Isso é importante para delimitar o tema de meu trabalho, pois ao contrário do que muito acham, os Vikings não eram os Noruegueses, os Dinamarqueses e os Suecos, pois os Suecos, juntamente com os Danos que habitavam a Suécia compuseram, na época Viking, o povo Varegue ou Varangiano, não sendo portanto os Suecos, Vikings. Estes se compuseram pelos Escandinavos da Noruega e pelos Danos da Jutlândia e ilhas Bálticas. 3 – Termos Gerais da Civilização Viking: Esta parte da obra remete-se a explicar melhor os conceitos básicos dos povos Norueguês e Dano, conhecidos como Vikings. Veremos aqui como era sua forma de governo, sua religião, seus hábitos, suas características populacionais e até seu desenvolvimento sócio-econômico. 3.1 – Miscelânea de Reinos: Como já havia mencionado, no início do processo de ocupação da Jutlândia pelos Danos, provavelmente cada povoado formava um Reino distinto, sendo portanto praticamente impossível precisar quantos Reinos haviam de fato na Jutlândia e ilhas Bálticas (no mais das vezes não me referirei mais aos Danos da Suécia, nem tão pouco aos Suecos), é certo que havia dezenas deles, todos muito atrasados, com suas populações vivendo num sistema político Monárquico, semelhante a uma Monarquia Parlamentarista, o qual explicarei mais adiante. Já na Noruega, existiam três grandes regiões: os fiordes Ocidentais, mais ao norte; Bergen, no oeste e sudoeste; e o fiorde Vik, no sudeste e sul. A situação dos fiordes Ocidentais e do fiorde Vik era bem semelhante a situação da Jutlândia e das ilhas Bálticas, apenas na região de Bergen parece ter havido uma centralização mais precoce dos povoados locais sob o domínio da cidade de Bergen. No início do século VI, no fiorde Vik, foi fundada a cidade de Oslo (atual capital da Noruega). Era uma cidadezinha agrícola, mais próxima de um vilarejo feudal do que de um burgos. No entanto, seu povo começou a exercer certa influência sobre os povos vizinhos e gradualmente os foi submetendo ao seu domínio, o que provocou no final do século VII e começo do VIII, a centralização da região sob o domínio de Oslo. Tanto que o fiorde Vik também é chamado de Oslo. Porém, o frio intenso e a conseqüente semi-esterilidade do solo, além da superpopulação (a população Norueguesa chegava a cerca de dois milhões de habitantes no início da Era Viking) fizeram com que os povos do fiorde Vik quisessem sair de lá, rumo a lugares mais quentes e de solo mais fértil. A palavra Viking propriamente dita quer dizer: o habitante do fiorde Vik. Portanto, se analisarmos sob esta perspectiva, apenas estes seriam Vikings. Porém como os reides eram realizados por Noruegueses (inicialmente do fiorde Vik, mas depois também das outras regiões da Noruega) e Danos (posteriormente chamados Dinamarqueses), então muitos tentam justificar a palavra Viking de outras formas, como por exemplo a palavra Islandesa vik, que quer dizer baía, ou regato, sendo assim, um Viking é alguém que vive numa baía ou regato. Há também a palavra anglo-saxônica wic, que quer dizer acampamento, sendo assim, um Viking seria alguém que acampa de tocaia. De qualquer forma, os Vikings não adotavam esta denominação, eles se chamavam pelo seu respectivo lugar de origem (podia ser o fiorde Vik, a Dinamarca, ou até mesmo uma simples aldeia). Nem mesmo os povos da época os chamavam de Vikings. Os povos que lhes eram contemporâneos lhes chamavam de Nórdicos. 3.2 – Política: Os povos conhecidos como Vikings manifestavam uma forma política semelhante. Não se sabe se esta forma de governo era própria de todos os Escandinavos e depois se difundiu também para os Danos, ou se ela era própria da cidade de Oslo e difundiu-se segundo sua expansão. Porém, a primeira hipótese é mais aceitável, visto que Oslo não chegou a formar um verdadeiro Império, pois não dominou a Escandinávia. A característica mais marcante dos povos Vikings no que diz respeito a sua política é que todos eles adotavam a Monarquia, mas na grande maioria dos casos, uma Monarquia em moldes atuais, ou seja, semelhante às Monarquias Parlamentares de hoje em dia. Os Reis tinham poder absoluto no que dizia respeito às guerras, regiões dominadas e tudo que tivesse ligação com os domínios de seu Reino. Porém, ele não podia criar leis, ou mesmo julgar pessoas, estas tarefas eram delegadas às Althings, ou simplesmente Things. As Althings eram uma reunião de todos os homens (mulheres não participavam) livres (escravos não participavam) e adultos (crianças não participavam) do Reino. Em cada localidade do Reino existia uma Althing, o que significa que mesmo no caso de domínios pequenos, as leis e o sistema judicial poderia variar de uma cidade ou região, para outra, dentro de um mesmo Reino. O Rei só poderia tratar da economia e de assuntos militares das regiões dominadas. Na realidade, as sociedades Vikings tinham um sistema político semelhante às Democracias Gregas, pois salvo a exceção da existência de um Rei, cada região se autogovernava através de seus cidadãos (como na Grécia antiga, o termo cidadão não tem o mesmo significado que hoje, pois nem todos os habitantes eram cidadãos). A sucessão Real era sempre conturbada, os homens mais poderosos do Reino travavam guerras de influência e, às vezes de fato, para ver quem iria suceder o Rei morto, já que a sucessão hereditária só foi instituída no século XIV. Entretanto, o fato de os poderosos escolherem o novo Rei não implicava, como veremos a seguir, na exclusão dos filhos do Rei da sua linha de sucessão. Pelo contrário, muitas vezes o filho do Rei morto herdava seu trono, ou por se acreditar que ele teria os mesmos valores admirados no pai, ou então porque este (o Rei) deixara homens de confiança que assegurariam ao filho o trono após sua morte. Essa situação era mais comum quando o Rei morria em campo de batalha, pois devido a necessidade de se coroar outro Rei rapidamente (para não desorganizar as tropas), escolhia-se o filho do Rei como seu sucessor. 3.3 – As sociedades Vikings: Os povos Vikings, assim como tinham uma mesma organização política, também compartilhavam uma mesma composição sociocultural. A língua falada pelos Vikings era a mesma, seu alfabeto também era o mesmo: o Alfabeto Rúnico. As sociedades estavam divididas, de um modo geral, da seguinte maneira: O Rei estava no ápice da Pirâmide; abaixo dele estavam os karls, homens ricos e grandes proprietários de terras (os karls não eram nobres, pois nas sociedades Vikings não havia nobres); abaixo dos karls havia os jarls, ou seja, o povo, livres, mas sem posses ou com poucas propriedades, geralmente pequenos comerciantes ou lavradores. Os jarls compunham o grosso dos exércitos Vikings e tinham participação nas Althings; abaixo dos jarls, havia os thralls, escravos. Eles geralmente eram prisioneiros de batalhas, mas podiam ser (dependendo da decisão da Althing da região) escravos por dívidas ou por crimes, seus proprietários tinham direito de vida e morte sobre eles. A maior parte dos povoados Vikings eram fazendas pequenas, com entre cinqüenta e quinhentos habitantes. Nessas fazendas, a vida era comunitária, ou seja, todos deviam se ajudar mutuamente. O trabalho era dividido de acordo com as especialidades de cada um. Uns eram ferreiros, outros pescadores (os povoados sempre se desenvolviam nas proximidades de rios, lagos ou na borda de um fiorde), outros cuidavam dos rebanhos, uns eram artesãos, outros eram soldados profissionais, mas a maioria era agricultora. As semeaduras ocorriam tão logo a primavera começava, pois os grãos precisavam ser colhidos no final do verão para que pudessem ser armazenados para o outono e inverno. Durante o inverno, as principais fontes de alimentos eram a carne de gado e das caças que eles obtinham. No verão o gado era transportado para as montanhas para pastar longe das plantações. Nas fazendas, as pessoas moravam geralmente em grandes casarões comunitários. Geralmente esses casarões eram habitados pelas famílias. Por exemplo: três irmãos, com suas respectivas esposas, filhos e netos. As mulheres tinham a função de ajudar os maridos, além de cozinharem e fazerem as roupas para toda a família. Quando os maridos se ausentavam caçando ou guerreando (não só os soldados profissionais lutavam nas guerras, o grosso dos contingentes era de homens do povo), as mulheres se tornavam as chefes do lar, não só defendendo-o contra invasores e bandidos, mas também comerciando com os mercadores. As sociedades Vikings eram monogâmicas e o núcleo familiar era como o das sociedades Cristãs, com o homem ocupando o lugar de chefe da casa, tendo inclusive um assento diferenciado (aonde somente ele podia sentar). As campanhas militares eram geralmente no inverno, pois assim os homens do povo podiam integrar os exércitos sem terem prejuízos maiores, pois teriam feito as colheitas em suas fazendas. A arquitetura variava de acordo com a região ocupada, ou seja, dependendo do frio e dos recursos naturais disponíveis as casas e outras construções eram feitas com um ou outro tipo de madeira. Aliás, a madeira era a principal matéria prima para as construções Vikings (o que dificultou as chances de achados arqueológicos, pois a madeira se decompõe), por ser extremamente abundante, principalmente na Noruega, mas também nas regiões colonizadas posteriormente, como Islândia, Groenlândia e ilhas Britânicas. Porém, nem só em fazendas viviam os Vikings. Existiam também grandes cidades em seus domínios, e eles fundaram outras também. As principais cidades da Noruega e Dinamarca na Era Viking eram: Oslo, Kaupang, Gokstad, Bergen e Trondheim, na Noruega; e Jelling e Hedeby, na Dinamarca. Estas cidade eram na maioria das vezes localizadas ao redor de fiordes e protegidas com altas e largas muralhas de terra batida. Nelas as casas eram bem menores, morando apenas o núcleo familiar em si (homem, mulher e filhos). As obrigações eram semelhantes, mas as cidades não dependiam da agricultura local para sobreviverem, elas podiam fazer isso através do comércio que era a sua principal fonte de lucros. Talvez a mais importante cidade Viking tenha sido Hedeby, na Dinamarca. O comércio na região era tão intenso que chegava a atrair até mesmo os Árabes da Espanha. Os Vikings vendiam e compravam de tudo, mas um de seus principais produtos de venda eram os escravos, no mais das vezes prisioneiros feitos em reides às ilhas Britânicas. Sabe-se que para um Viking, o dia do nascimento era muito importante, sendo nele definido o nome que o bebê teria. O nome da pessoa, segundo a crença, determinava seu caráter. Os Vikings também se preocupavam com a educação de seus filhos. Geralmente, nas fazendas um homem velho reunia as crianças para contar a História dos antepassados, explicar o funcionamento das Althings, dizer que devem louvar o Rei e os Deuses, além de iniciá-las na Religião e, algumas vezes, no conhecimento das Runas. Nas cidades não se sabe como era realizada a educação das crianças. Sempre que imaginamos os Vikings, lembramos de homens bárbaros, muito maus, trajando roupas peludas e elmos com chifres. Pois bem, esta visão está no mínimo equivocada. Comecemos por desmistificar os elmos com chifres ou asas. Muitos dizem que os Vikings os usavam pois tinham medo de que o céu lhes viesse a cair nas cabeças. Na realidade, os Vikings nunca utilizaram tais elmos, eles não passam de uma invenção artística das óperas do século XIX, que visavam resgatar a imagem dos Vikings, sem saber ao certo com eles eram. Os verdadeiros capacetes Vikings eram cônicos e sem chifres, como o da foto. Quanto às roupas peludas, é certo que no seu cotidiano eles realmente utilizavam roupas bem grossas, devido ao frio das regiões que habitavam, mas apenas uma minoria dos guerreiros as utilizavam, nas batalhas, pois preferiam (por razões óbvias) as malhas de aço e ferro, uma vez que estas protegiam-nos dos golpes. Já o fato de serem maus e bárbaros é de fácil explicação. Os primeiros ataques Vikings foram reides a mosteiros na costas e ilhas Britânicas (no final do século VIII), mesmo depois, os Vikings continuaram gostando muito de realizar ataques a mosteiros devido ao fato de estes não serem tão bem protegidos quanto as cidades e guardarem tesouros da Igreja Católica, além de vinho, bebida muito apreciada por habitantes de regiões frias. Esse costume de atacar mosteiros fez com que a Igreja rapidamente condenasse os Vikings e os visse como verdadeiros enviados do inferno. Uma oração comum em finais do século IX dizia o seguinte: “Da fúria dos Nórdicos livrai-nos, ó Senhor”. Talvez a grande vantagem que os Vikings tenham tido sobre os demais povos da Europa que lhes foram contemporâneos tenha sido sua alta tecnologia de construção naval. Os Noruegueses e Dinamarqueses desenvolveram no início da Idade Média um tipo de embarcação que só veio a ser superada cerca de seiscentos anos mais tarde pelos Portugueses, com a invenção das Caravelas e Naus (que na época funcionavam, não eram como as de hoje). As embarcações Vikings eram de dois tipos básicos: as de transporte e comércio; e as de guerra. Ambas tinham em comum o fato de serem longas, estreitas e com quilhas (parte de baixo do navio) que penetravam muito pouco na água. Sendo assim, elas podiam navegar com estabilidade tanto no mar profundo, quanto em rios rasos, podendo chegar até a praia para que os guerreiros descessem e atacassem o lugar. A supremacia das embarcações Vikings não estava somente na estabilidade, mas também na utilização combinada de remos e velas. Os navios geralmente navegavam com o vento através de velas (foram os primeiros navios da História a usarem o vento como principal fonte de movimento), só utilizavam os remos quando não havia vento. Existiam, como já mencionei, dois tipos de embarcações, a diferença entre elas era que as mercantes e de transporte, as chamadas knorrs, eram maiores e mais largas que as destinadas a guerra, as chamadas drakkars. Uma knorr precisava ser maior do que uma drakkar pelo fato de que transportava produtos, algumas vezes elas levavam até gado, era também nelas que as pessoas comuns se mudavam para colônias recém estabelecidas. Tantos as drakkars quanto as knorrs eram enfeitadas com cabeças de dragões ou serpentes em suas proas e com velas listradas (ou xadrezes) em misturas de verde, vermelho ou azul com branco. Nas drakkars, cada homem ia sentado em cima de um pacote que continha suas armas e armadura, este pacote servia-lhe de banco, cada um também tinha um remo, e o último homem era o encarregado do leme, que dava direção ao navio. Quando o navio estava para chegar ao local do ataque, os homens desfaziam seus pacotes e se preparavam para o ataque. Cada drakkar transportava em média quarenta guerreiros, uma knorr transportava muito mais pessoas ainda. Foi graças as drakkars e as knorrs que os Vikings conseguiram colonizaram grande parte das ilhas Britânicas, assaltar a Europa e descobrir a Islândia, a Groenlândia e a América. 3.4 – Religião e Mitos: Os Vikings não eram criaturas enviadas pelo demônio, ou mesmo homens sem religião, como pensavam alguns homens da época. Apesar de seu costume (que desagradava em muito a Igreja Católica e que lhes proporcionou tais famas) de saquear mosteiros, os Vikings eram extremamente religiosos e desenvolveram uma religião muito peculiar por ser, além de semelhante às doutrinas Protestantes que lhe foram posteriores por cerca de quinhentos anos, um dos maiores, senão o maior incentivo que os Nórdicos tiveram para realizar sua expansão. Além de uma religião muito evoluída (no sentido de ser adaptada às necessidades de sua população), os Vikings também possuíam vários mitos, como Anões, Dragões, Duendes, Serpentes Marinhas, Gnomos, Elfos e Sereias. Todos estes mitos, por sinal, hoje em dia povoam os chamados RPGs, que foram a febre dos adolescentes da década de 90. O interessante em se estudar tais mitos é justamente entender como, quando e porque surgiram suas idealizações. Sendo assim abordarei inicialmente as idealizações da mitologia Viking, passando depois às suas crenças religiosas propriamente ditas. Os Vikings acreditavam que os homens podiam ser perturbados por Elfos e Duendes, que segundo eles seriam criaturas pequenas e com capacidades de se tornarem invisíveis (ou de se esconderem das pessoas de tal forma que não podiam ser encontradas). Os Duendes, segundo as crenças Vikings eram sabotadores natos, gostavam de roubar coisas e escondê-las dos homens. Podiam até provocar naufrágios caso sabotassem um navio. Já os Elfos eram muito parecidos com os humanos, só que bem menores, com orelhas puxadas e poderes mágicos. Alguns rituais de bruxaria invocavam estas entidades para pedir ajuda ou prejudicar outras pessoas (os Elfos são um pouco semelhantes ao que representa o Saci Pererê no folclore Brasileiro do interior). Os Gnomos eram parecidos com os Duendes, porém, com características boas. Eles protegiam os animais e as florestas, além de guardarem o pote de ouro de Asgard (o céu dos Vikings). Mitos como os das Serpentes Marinhas e Sereias são de fácil compreensão, à medida que os Vikings (principalmente os Noruegueses) adentravam no oceano, o medo dos naufrágios se tornava mais presente, sendo assim a crença em criaturas que os proporcionavam era lógica. As Sereias eram temidas pelos navegadores, pois segundo a lenda, elas ficariam sentadas sobre os rochedos próximos do litoral e com seu canto hipnótico atrairiam os homens para lá, fazendo o navio bater nas rochas e afundar, matando a todos, além disso, elas também podiam aparecer no meio do mar, onde com seu canto podiam fazer os homens se atirarem na água para pegá-las, morrendo afogados. No entanto, as Sereias não são uma criação da Mitologia Viking, uma vez que já existem lendas de Sereias em contos antigos como a Odisséia, do Grego Homero. Já as Serpentes Marinhas (comuns em representações artísticas de mapas da Idade Média) eram criaturas que habitavam as água profundas, algumas vezes elas podiam querer se alimentar dos homens, sendo assim subiam à superfície e tentavam virar as embarcações para depois devorar os tripulantes. Justamente para se protegerem das Serpentes Marinhas e de outros perigos imaginários, os Vikings utilizavam na proa de seus barcos cabeças de Dragão, pois assim, estariam protegidos, uma vez que acreditavam que o Dragão era o animal mais poderoso e, portanto, mais temido do mundo. A crença na existência de Dragões, no entanto, não é de origem Viking. Ela remonta a um passado muito mais remoto, e teria surgido na China, cerca de cinco mil anos antes de Cristo, quando os Chineses encontravam esqueletos de dinossauros e tentavam explicar de onde teriam surgido ossadas tão enormes. De um forma desconhecida, esta crença (a dos Dragões) se difundiu pelos séculos e pelas regiões até atingir a Escandinávia. No entanto, os Vikings foram os responsáveis pela instituição do mito dos Dragões na Europa. Quando vemos filmes sobre histórias de Dragões, ou jogamos RPGs com Dragões, aqueles animais não são os do imaginário Chinês, mas sim os do imaginário Viking. Por fim, não podemos nos esquecer dos Anões. Se pensarmos novamente nos jogos de RPG, lembraremos que os Anões nesses jogos são sempre representados com a imagem que temos dos Vikings (imagem que, como já expliquei, é falsa), ou seja, utilizam elmos com chifres, botas e roupas peludas e sua arma preferida é um machado (o machado era realmente a principal arma Viking, mas o machado de mão, não o machado de batalha que é muito maior e que necessita da utilização das duas mãos em sua operação, não usavam este machado, pois gostavam de usar escudos), a imagem dos Anões de RPGs também pode ser a de outros povos Medievais, como Árabes e até Cristãos. Pois bem, não é que na Idade Média não existissem as pessoas com baixa estatura, que hoje são conhecidas como anões, mas os Anões mitológicos são criação da Mitologia Viking. Os Nórdicos acreditavam que esses seres eram imortais e viviam embaixo da terra, eles eram mineiros, e apesar de desprezados pelos Deuses, sempre que podiam, ajudavam os homens. Mas falemos agora sobre a Religião Viking propriamente dita. Ela era uma seita complexa, com um panteão (conjunto de deuses) muito semelhante ao da Mitologia Grega (talvez inspirado nela), o comportamento dos Deuses em suas interações com os homens também eram muito semelhante ao da Mitologia Grega, porém, a motivação social desta religião, diferentemente da Grega, não era apenas explicar fenômenos e reações inexplicáveis, mas também, e principalmente, estimular o povo que a adota a melhorar de vida; tal qual as doutrinas Protestantes do século XVI. A Religião Viking se chamava Ásatrú, ou Vanatrú. Não havia nela uma explicação própria para a criação do mundo, como na maioria das religiões, bem como, diferentemente da maioria das religiões, o culto aos Deuses não era realizado em templos, pois os Vikings não os construíam. Os cultos eram realizados em locais onde as pessoas se sentiam em total sintonia com a natureza, ou seja, normalmente próximo a cachoeiras, lagos, florestas ou até na beira do mar; desde que o lugar fosse afastado da civilização. O Ásatrú é baseado na renovação (digo é, pois ainda hoje existem seguidores dessa religião), ou seja, num passado remoto teriam existido outros deuses que não os atuais, que numa guerra foram vencidos e destruídos pelos atuais que ocuparam seu lugar. Porém, os próprios deuses atuais também virão a ser destruídos numa guerra e, portanto, substituídos por outros deuses num futuro distante. Essa guerra entre os deuses é conhecida como Ragnarök. No Ragnarök, todos os deuses velhos morrerão e junto com eles, também a humanidade, serão então os deuses velhos substituídos por novos e a humanidade recomeçará do zero. Esse mito é uma clara alusão ao Apocalipse da Bíblia, onde todos serão julgados, os bons serão salvos e os maus punidos, no fim do mundo. Os Vikings acreditavam que o mundo, bem como o céu (lugar onde os deuses moravam), chamado de Asgard existia não devido aos deuses, mas sim a uma árvore mágica chamada Yggdrasill. Esta árvore teria as raízes tão profundas que apenas as criaturas hostis (rejeitadas pelos deuses (como os Anões)) viviam à sua volta; ao redor do caule de Yggdrasill estava o mundo dos homens, ou seja, o nosso mundo, chamado de Midgard; e acima das folhas mais altas localizava-se Asgard. Para os Nórdicos também existia uma alma, que eles chamavam Filgia. A Filgia só se separava do corpo em duas ocasiões: na morte e ao dormir. Em ambas as ocasiões, a alma ia “dar um passeio” no Reino dos mortos (que depois explicarei com era) e se encontrava com as pessoas falecidas, sendo assim, os Vikings acreditavam que ao dormirem podiam ter presságios de coisas que estavam por acontecer, sendo os sonhos, por isso, considerados muito importantes. O ponto mais importante da Ásatrú, no entanto era a doutrina que julgo semelhante à doutrina Protestante. Entendam: a Escandinávia era extremamente fria o ano todo, por isso, a agricultura é muito difícil. Pois bem, o mundo do mortos estava dividido em duas partes: uma chamada Walhalla, análoga à nossa noção de Paraíso e outra chamada Hel, análoga à nossa noção de Inferno. Walhalla tinha o clima ameno e o solo extremamente fértil, além de o sol brilhar o tempo todo, coisa que não acontece no Círculo Polar Ártico, pois durante boa parte do ano, as pessoas são submetidas a chamada noite eterna, e em outras épocas, o sol nasce à meia-noite. Já Hel (nome que inspirou nos Ingleses a palavra Hell, que em inglês quer dizer Inferno) era gélido, com terras estéreis e noite perpétua, ou seja, um retrato da Escandinávia. Isso (a semelhança de sua terra natal com Hel) incentivava as pessoas a quererem deixá-la, rumo a um lugar mais quente, de terras mais férteis e onde o dia e a noite se eqüivalessem (ver item 4 – O Ser Viking). Somente essa comparação entre a Escandinávia e o Hel já seria suficiente para incentivar as pessoas a colonizar outras regiões, no entanto, havia um outro motivo mais forte que empurrava as pessoas a isso. Quando realizavam reides a outras regiões, mesmo que não as colonizassem, os Vikings roubavam muitas riquezas e, por tanto, melhoravam de vida. Pois bem, Walhalla estava reservada para os corajosos, ou seja, os que morreram lutando; para os saudáveis, os escolhidos dos deuses; e para os ricos e bem sucedidos. Em contraposição, Hel estava reservado aos doentes, aos medrosos e aos pobres. Por isso, todos lutavam para melhorar de vida, pois assim, ainda que mortos, iriam para o tão sonhado lugar melhor. É inevitável que se façam comparações entre as religiões Ásatrú, Luterana e Calvinista. Uma vez que a doutrina Calvinista prevê a salvação pela predestinação, ou seja, os que forem escolhidos pelos deus (ou por Deus) para se tornarem ricos, receberam um sinal divino de que serão salvos, e doutrina Luterana diz que a salvação é dada pela fé, tanto que ela pode ser claramente ilustrada na seguinte frase: “Filha, peca forte. Mas crê mais ainda, e serás salva”. A semelhança é óbvia, uma vez que não importava aos Vikings as boas obras que tivessem deixado na terra, ou mesmo a correção de suas vidas, o que importava era que acreditassem em seus deuses (pois se não acreditassem, não teriam estímulo para lutar), pois se fossem escolhidos por eles para serem bem sucedidos (ganhassem as lutas e, por isso, enriquecessem) seriam salvos, caso contrário, a danação os esperava. Cabe ,depois de tal comparação, questionar se Lutero e Calvino não conheciam o Ásatrú, pois se o conheciam, podemos então dizer que não passavam de plagiadores de uma doutrina muito mais antiga. Sendo assim, a única coisa que teriam feito na realidade foi adaptá-la à fé Cristã. Sei que já me alonguei muito no que diz respeito às crenças Vikings, mas, como veremos mais adiante, elas serão importantíssimas para a compreensão do que era ser Viking e além disso, constituem talvez um dos mais importantes legados Vikings aos nossos dias. Abaixo segue a lista das principais divindades do Ásatrú, especificadas com seus poderes e algumas curiosidades. Odin: Era o principal Deus Viking. Ele governava Asgard e também Midgard. Vivia montado em seu cavalo negro de oito patas chamado Sleiphir, e seguido por seus dois lobos de estimação: Geri e Freki. Era o Deus da Magia, da Morte e da Guerra, empunhava a lança Gungnir, que nunca erra o alvo. Ele também era o Protetor dos Estadistas (governantes) e dos Poetas. Segundo o imaginário Viking, o principal presente de Odin aos homens foi a sabedoria, representada pelo Alfabeto Rúnico, entretanto, Odin teve que fazer um grande sacrifício para poder criar este alfabeto. Sacrifício este que lhe custou o olho direito. Odin era celebrado na quartasfeiras, e por isso, este dia ficou conhecido como Odinsday, que depois, tornou-se em inglês a Wednesday (quarta-feira). O possível análogo de Odin na mitologia Grega é Zeus, por se tratar do Deus dos deuses. Frigg: Era a esposa de Odin, conhecida por saber de todos os segredos do Universo, entretanto, ela não contava estes segredos para ninguém, nem mesmo para Odin. É a deusa da Fertilidade e suas possíveis análogas na Mitologia Grega são Era, por se tratar da mulher de Zeus e Deusa dos Partos, ou Gaia, por se tratar da Mãe Terra, a Fertilidade em pessoa. Thor: É com certeza o Deus mais conhecido do Ásatrú. Isso devido, é claro, ao famoso desenho de nome “Thor, o Deus do Trovão”. Na verdade, Thor não era apenas o Deus do Trovão, mas também o Deus da Chuva, do Relâmpago e da Vingança. Ele era o melhor entre todos os guerreiros de Asgard, mas não era o Deus da Guerra, nem dos Guerreiros. Empunhando seu mítico martelo de pedra chamado Mijollnir, ele era invencível em qualquer batalha. Os guerreiros Vikings costumavam usar réplicas em miniatura do Mijollnir penduradas em seus pescoços durante as batalhas, pois acreditavam que assim também seriam invencíveis, como o Deus. Apesar disso, Thor era o menos inteligente de todos os deuses. O possível análogo de Thor na Mitologia Grega é Apolo, por ser filho de Zeus, bem como Thor é filho de Odin, além disso, Apolo é o Deus do Sol, e Thor também é Deus de entidades celestes. Este Deus era reverenciado todas as quintas-feiras, sendo este dia chamado de Thorsday, que deu origem ao nome da quinta-feira em inglês, ou seja, Thursday. Loki: Também é filho de Odin, e irmão de Thor, era um Deus curioso, por ser ao mesmo tempo o Deus do Bem e do Mal. Ele era conhecido com o trapaceiro de Asgard, pois sempre tentava enganar os outros deuses. Seu dia de reverência era o sábado, que era conhecido como Lokisday, mas este dia, por não se tratar de um Deus de tanta relevância no contexto Viking, não deu origem ao nome atual do sábado em inglês. Tyr: Era o Deus dos Guerreiros e do Combate (não da Guerra). Era o líder do exército dos deuses, apesar de não ser nem de longe o melhor guerreiro. Seu possível análogo na Mitologia Grega é Marte, que apesar de ser o Deus da Guerra, também não é nem de longe o melhor guerreiro do Olimpo. Tyr era muito celebrado principalmente pelos soldados profissionais, e seu dia era a terça-feira, que ficou conhecida como Tyrsday, palavra que em inglês deu origem à Tuesday (terça-feira). Frey: Trata-se de um dos principais Deuses do Ásatrú. Ele é o Rei dos Duendes e o Deus masculino da Fertilidade. Ele é sempre representado com o pênis ereto, para demonstrar que é fértil. Freya: Irmã de Frey, é a mais importante entre as Deusas do Ásatrú, superando até mesmo Frigg. Ela também é uma Duende e é a Deusa do Amor e da Magia. Era celebrada nas sextas-feiras, por isso este dia era chamado de Freyasday, o que deu origem em inglês ao dia Friday (sextafeira). Heimdal: Era o porteiro de Asgard, ele guardava a única forma de acesso ao Reino dos deuses: o arco-íris. Njord: É um Deus muito importante para os Vikings, por se tratar do Deus dos Mares, era também o Protetor dos Marinheiros e Pescadores. Idun: Deusa da Saúde, possuía uma caixa de madeira mágica, onde guardava um infinito número de maçãs as quais tinha a obrigação de servir a todos os deuses, todos os dia. Estas maçãs é que lhes garantiam a força e a eterna juventude. Na Mitologia Grega existia a crença de que os deuses se mantinham fortes e jovens porque comiam Ambrósio e bebiam Néctar todos os dias. Quem servia Néctar aos deuses Gregos era Baco, o Deus do Vinho, por isso ele é o possível análogo de Idun. Nornes: Eram três irmãs responsáveis pela guarda e preservação da árvore Yggdarsill. Elas deveriam mantê-la longe das vistas dos homens e fazer chover hidromel (bebida alcoólica a base de mel fermentado, típica dos Vikings) sobre suas raízes todos os dias, para que ela nunca morresse, o que seria o fim do mundo. Urd era a irmã mais velha e vivia olhando para trás, por cima do ombro; é a Deusa do Passado. Verdandi é bem jovem e gosta de olhar para o chão; é a Deusa do Presente. Já de Skuld, não se pode precisar a idade, pois ela vive enrolada em panos negros e com um capuz na cabeça, além disso, ela leva um pergaminho nas mãos, pergaminho esse que contém os segredos do Futuro, do qual ela é a Deusa. Dvalin: É o Rei dos Anões, além de ser o Deus do mundo subterrâneo. Valkyrias: São entidades femininas que aparecem para os homens que estão prestes a morrer. Apenas estes podem vê-las, para os demais elas são invisíveis. Elas têm a missão de conduzir os mortos até Walhalla ou Hel. 4 – O Ser Viking: Bem, agora que o leitor já está bem familiarizado com os Vikings, eu explicarei o porquê do título deste trabalho. Como podem ver, no título eu afirmo que os Vikings não eram apenas um povo, eram muito mais, ou seja, eram um ideal. Mas como? Você mesmo disse que os Vikings eram os habitantes do fiorde Vik, não disse? O leitor deve estar perguntando. Pois eu respondo. Todos conhecem pelo menos um pouco da História da Roma. Pois então, Roma, como todos sabem é um cidade, a atual capital da Itália, mas no passado já controlou um dos maiores Impérios que o mundo já teve. Nesta época dizia-se Romano a um conjunto de situações e a Cultura que foi estabelecida por aquele povo, mesmo que fosse o Romano de Alexandria, no Egito ou de Córdoba, na Espanha. Tudo pertencia ao estilo próprio de Roma, que surgiu na cidade de Roma. Sendo assim, é mais fácil explicar o porque do nome Viking, basta compreender que foi um estilo de vida que surgiu no fiorde Vik. No entanto, os Romanos conquistaram um grande Império, enquanto que os Vikings tiveram pouquíssimos períodos de união. O que caracteriza os Vikings como um grupo não é a raça, pois como vimos os Danos são Teutões e os Noruegueses são Escandinavos. Não é um Império, pois salvo durante o reinado de Canuto os Vikings não foram totalmente unidos. O que os caracteriza como um grupo então? Poderia ser a mesma língua, mas não é. Poderia ser a mesma forma de governo, mas não é. Poderia ser o mesmo estilo de embarcações, roupas, alimentação, armas e guerras. Mas também não é. Poderia, é verdade, serem todas essas coisas juntas, formando então uma mesma Cultura. É, poderia, inclusive esta hipótese chega bem perto do que é de fato ser Viking. Mas o ser Viking não é apenas ter uma mesma cultura, nem sequer religião, porém, o Ásatrú esta diretamente ligado ao que é ser Viking, mas não é o único motivo, quero dizer. Não bastava seguir o Ásatrú para ser Viking, pois o Ásatrú foi, provavelmente, criado com o intuito de incutir em todos os Vikings aquilo que podemos definir como: o ideal Viking. Mas o que seria este ideal? Bem, chega de enrolação, o ser Viking é ser movido pelo ideal de fugir do frio e da esterilidade do solo a qualquer custo. Não importa se o indivíduo terá de matar, roubar, destruir e até morrer (indo para Walhalla). Desde que ele consiga sair do triste inferno gelado e estéril onde vive para ir habitar terras melhores, tudo bem. Partindo destas afirmações podemos então finalmente discorrer sobre o pensamento que lancei no início da obra: “Um Escandinavo deixa de ser um Viking quando ser torna Cristão”. É simples a dissertação sobre esta frase. Os Vikings tinham o Ásatrú como uma espécie de manual de instruções de seu ideal (como expliquei no item 3.4). Sua religião não só os obrigava a procurar um lugar melhor para viver, como também justificava tudo o que fizessem para chegar a ele. Portanto, a instituição dos valores Cristãos nas cabeças dos Escandinavos foi incutindo neles o medo de que se pecassem (matando, saqueando mosteiros, roubando, comercializando com os Árabes...) poderiam ser punidos. Além disso, a doutrina Católica diz que os homens devem se resignar com a situação a que Deus os submeteu, pois tudo não passa de uma provação Divina. Sendo assim, depois de pouco mais de um século da conversão do primeiro Rei da Noruega ao Cristianismo, a chamada Era Viking chegou ao fim. Pois em um século, uma religião preparada para dominar o povo, como o Catolicismo, pode se enraizar em uma população de tal forma que as crenças antigas podem chegar à beira do esquecimento. Podemos então afirmar que o Catolicismo destruiu os Vikings. 5 – Como os Danos se tornaram Dinamarqueses: Como já fiz referência no item 2.1, os Danos eram um dos povos Teutões e se estabeleceram na Jutlândia, ilhas do Báltico e sudoeste da Suécia. Como também fiz referência nesse mesmo item, os Danos que habitavam a Suécia, bem como os próprios Suecos, não eram Vikings, eram Varegues. Mas como e quando os Danos da Jutlândia e ilhas do Báltico começaram a ser conhecidos como Dinamarqueses. Bem, esta é uma História que remonta aos tempos de Carlos Magno. Para melhor esclarecimento façamos uma breve contextualização para explicar quem foi Carlos Magno. Desde o final do Império Romano, os Francos se estabeleceram como um Reino, com o legendário Rei Clóvis de Reims. Ele foi o fundador da Dinastia Merovíngia, que governou o Reino Franco do século V até o século VIII. Entretanto, os Reis Merovígios tinham o costume de eleger um Prefeito do Palácio, que funcionava como uma espécie de Primeiro Ministro do Reino. Aos poucos, os Prefeitos do Palácio começaram a se tornar mais influentes e importantes que o próprio Rei Franco, no entanto, não davam o golpe e se tornavam Reis, pois não teriam apoio o suficiente. No princípio do século VIII, Carlos Martel foi escolhido como Prefeito do Palácio e em 732, conteve a expansão Árabe que visava tomar a cidade de Poitiers. À partir daí, os Prefeitos do Palácio ganharam mais poder junto ao papado, uma vez que um deles conteve a invasão dos terríveis Mouros (como eram conhecidos os Árabes). Carlos Martel tornou-se muito influente também entre a população Franca, e conseguiu que o Rei lhe permitisse que seus filhos herdasses dele o posto de Prefeitos do Palácio. Pepino e seu irmão Carlomano (filhos de Carlos Martel) herdaram então o posto de Prefeitos da Palácio. Em 747, Carlomano renunciou deixando Pepino como único Prefeito do Palácio. Porém Pepino tinha ambições maiores do que ser apenas o Prefeito do Palácio, realizou um acordo com o Papa Zacarias e, em 751, depôs o Rei Merovíngio Childerico III e foi coroado Rei dos Francos, com o nome de Pepino III, o Breve. A Dinastia de Pepino recebeu o nome de Dinastia Carolíngia, em homenagem a seu pai, Carlos Martel. Em troca pela coroação, Pepino reconquistou para a Igreja as terras em volta de Roma (o Exarcado de Ravena e o Ducado de Roma). O Reinado de Pepino III iniciou de fato o período dos Reis Francos Cristãos. Quando Pepino III morreu, em 768, seu Reino foi dividido entre seus dois filhos: Carlos e Carlomano. Porém, Carlomano morreu em 771, deixando Carlos reinar sozinho. Carlos veio a ser conhecido como Carlos Magno (ou seja, Carlos, o Grande). Ele dedicou os primeiros anos de seu Reinado a expandir os domínios do Reino Franco, pois queria Cristianizar o mundo. Tentou retomar a Espanha aos Árabes mas, como fracassou, estabeleceu na divisa entre o Reino Franco e a Espanha uma Marca, ou seja, uma região governada por um Marquês. A Marca era extremamente militarizada e visava ser uma zona tampão para impedir o avanço dos Mouros. A idéia de instituir Marcas nas regiões fronteiriças agradou Carlos Magno, pois dessa forma ele não precisaria manter um exército nacional, bastariam os exércitos dos Marqueses. Por seu poderio crescente e esforços em prol da disseminação da fé Cristã, em 800, Carlos Magno foi coroado pelo Papa como Imperador Romano (alguns julgam que nasceu aqui o Sacro Império Romano-Germânico, mas na realidade ele só nasceu mesmo no final do século X, sob Oto I). Como eu já havia mencionado no item 2.1, os Saxões não rumaram todos para a Inglaterra, muitos ficaram na região sul da Jutlândia e outros rumaram mais para o sul ainda, numa região que ficou conhecida como Saxônia. Os Saxões eram pagãos e por isso, Carlos Magno iniciou ataques a seu território já no ano de 772, com o objetivo de conquistá-lo e converter os Saxões (da Saxônia) à fé Cristã, missão que finalmente concluiu em 803. Sendo assim, Carlos Magno estabeleceu uma Marca na Saxônia, mas ordenou a ela a anexação da Jutlândia, região onde moravam os Danos. Nessa época, os Danos da península da Jutlândia estavam unificados sob um Rei Herói (os Reis Heróis são Reis que antes da época da unificação definitiva do país, conseguiram uma unificação temporária, graças a seus feitos heróicos ou gloriosos, entretanto, tão logo esses Reis morriam, o país se fragmentava novamente) chamado Godofredo (porém Godofredo não dominava os Danos das ilhas Bálticas e da Suécia), que era de origem Norueguesa. A Marca Franca desfechou alguns ataques contra os Reino de Godofredo, mas teve o azar de que os Danos lutavam todos juntos, como se fossem um país de fato, por estarem passando por um período temporário de centralização Monárquica. Sendo assim, os Franco fracassaram em seus ataques contra os Danos e estabeleceram uma nova Marca que foi batizada de Marca dos Danos, depois Marca Dana, depois Dana Marca e por fim Dinamarca. Portanto Dinamarca era o nome da região tampão localizada entre o Império de Romano de Carlos Magno e a Jutlândia de Godofredo. No entanto, os Danos da Jutlândia e depois os das ilhas Bálticas começaram a se chamar de Dinamarqueses para se diferenciarem dos Danos da Suécia. Só para complementar quanto a Carlos Magno, depois de sua morte, em 814, seu filho não conseguiu manter o Império tão forte quanto era, e com seus netos (de Carlos Magno), finalmente ele se fragmentou em três Reinos inicialmente, depois em mais. Porém, a Dinamarca também se fragmentou novamente após a morte de Godofredo, mas Jelling se estabeleceu, durante o Reinado de Godofredo e perdurou depois, como centro de poder da Dinamarca, tanto que mais tarde, quando o país foi unificado definitivamente, a capital se tornou Jelling. Copenhague só se tornou a capital da Dinamarca em 1443. 6 – A História dos Vikings: Esta parte do trabalho se remete a narrar os fatos mais importantes da História Viking. É claro que não se tratará de uma sessão completa, visto que a complexidade de uma civilização é muita para que se pretenda esgotar seus fatos. Mas darei um panorama geral dos principais Reis, batalhas, conquistas e fatos da História Viking. Para melhor compreensão dividirei a sessão em três partes, e cada parte em duas sub-partes, para assim explicar mais didaticamente os feitos e fatos de Dinamarca e Noruega nos períodos estudados em cada sessão. 6.1 – Os Vikings da segunda metade do século VIII até a primeira metade do século IX: Aqui relatarei os principais acontecimentos que deram origem aos povos Vikings, além de narrar o início da Era Viking, com o famoso saque ao Mosteiro de Lindisfarne, na Inglaterra. Neste período Noruegueses e Dinamarqueses estavam ainda se estabelecendo como povos navegadores e conquistadores. Foi nesta época que os Vikings estabeleceram suas primeiras colônias e bases militares fora de suas terras natais. 6.1.1 – Os Noruegueses no Período de 750 a 850: Por volta de 750, os povoados e cidadezinhas do fiorde Vik já estavam unificados sob o controle do Rei Viking de Oslo. Esses povos sobreviviam através da caça, da agricultura e da pesca. Mas tinham o sonho de obterem as riquezas das quais os viajantes falavam. Os Reis de Oslo haviam, com o intuito inicial de se protegerem de ataques dos Suecos e de Bergen, incentivado a criação de um exército profissional. Estes homens eram da mais alta classe social: os karls, e eram sustentados pelo governo para treinarem técnicas de combate. Eles compravam suas armas e vestimentas com recursos próprios, e estavam sempre prontos para o combate. No ano de 793, alguns navios carregados de soldados profissionais deixaram o fiorde Vik e rumaram para as ilhas Britânicas. Seu destino era a atual Holy Island, na Inglaterra. Na época esta ilha se chamava Lindisfarne e havia nela um feudo da Igreja, com um Mosteiro de relativa importância. É bom que se esclareça que a Inglaterra havia sido convertida à fé Cristã pelos Romanos no século IV, mas com sua saída, no século V, ela foi invadida pelos povos Teutônicos (Frísios, Jutos, Anglos e Saxões), que perseguiram os nativos Britânicos (que haviam sido convertidos pelos Romanos). Mais ao norte, na atual Escócia, havia os Celtas, que já praticavam o Cristianismo também desde os tempos Romanos. Os Britânicos foram caçados pelos Teutônicos e foram obrigados a se refugiar em pontos do extremo ocidente da ilha: a Cornualha, mais ao sul; Gales mais ao centro; e Strathclyde, mais ao norte, perto dos Celtas e dos Pictos que habitavam a região da atual Escócia. Os Celtas, junto com os Britânicos tornaram Cristã a Irlanda, mas não tiveram o mesmo sucesso na Inglaterra em si. Porém, em 597, uma missão enviada por Roma e chefiada por Santo Agostinho (este é o segundo Santo Agostinho, antes dele existiu um outro que viveu no século IV) chegou ao Reino Teutônico de Kent (na região sudeste da Inglaterra) e conseguiu convertê-lo ao Catolicismo, Santo Agostinho teve sua missão facilitada pelo fato de que a esposa do Rei de Kent era Celta, e por isso, Cristã. No entretanto existiam vários outros Reinos Teutônicos na Inglaterra, tais como: Wessex, Sussex, Essex, Mércia, Anglia Oriental, Lindsey, Deira e Bernícia (estes dois últimos depois foram unificados formando a chamada Nortúmbria). Em 625, Edwin, Rei da Nortúmbria, quis se casar com Ethelburga, princesa de Kent. Porém, seu pai (o pai da princesa) exigiu, como condição para conceder a mão da filha, que Edwin se deixasse batizar e abrisse seu Reino para a conversão ao Cristianismo. Edwin então consentiu que o pupilo de Santo Agostinho, o monge Paulino o batizasse em York, no ano de 627. Depois disso, ele permitiu que Paulino pregasse para o povo ao lado do palácio Real, na cidade de Yeavering, construindo, inclusive, para Paulino uma igreja monumental em York (onde foi celebrado o casamento). Em 633, Edwin morreu e seu filho, Oswald ascendeu ao trono já sendo Cristão. Entretanto Paulino havia retornado para Kent, então Oswald pediu que lhe fosse enviado outro missionário para ocupar o lugar de Paulino. O enviado foi Aidan. No entanto, Aidan não tinha uma formação sacerdotal nos moldes Romanos, ele era Celta e pertencia ao Cristianismo das Igrejas Britânica e Celta (legadas pelos Romanos). Aidan ergueu na ilha de Lindisfarne o Mosteiro de Lindisfarne, além de convencer o Rei Oswald a construir vários Mosteiros por toda a Nortúmbria (que fazia divisa com os Reinos Celtas e Pictos do norte). A influência de Aidan sobre o povo da Nortúmbria foi tão grande que, com efeito, ele converteu o Reino ao Catolicismo. A Nortúmbria junto com os Celtas e o Reino de Kent evangelizaram toda a Inglaterra e a Escócia, além de enviarem missionários para as ilhas próximas (conhecidas como ilhas Britânicas). Em 664, em Whitby, na Nortúmbria, foi assinada a união das Igrejas Católicas Celta e Romana. Toda esta explicação serviu para mostrar que em 793, quando os Vikings se dirigiram para a ilha de Lindisfarne, a Inglaterra já era Cristã a algum tempo. Pois bem, num certo dia, logo depois do amanhecer, aportaram na ilha de Lindisfarne as drakkars Vikings, e delas desceram centenas de guerreiros, soldados profissionais, que operaram um verdadeiro massacre na população do feudo, mataram facilmente os poucos guerreiros do Mosteiro, assassinaram vários monges, aprisionaram outros (para vender como escravos), adentraram no Mosteiro, roubaram as peças em ouro e pedras preciosas e por fim atearam fogo à construção. Partiram de volta para Oslo deixando para trás um rastro de destruição e iniciando na população inglesa um medo terrível de novos ataques, pois os sobreviventes do reide abandonaram Lindisfarne e espalharam a história. Nos anos que se seguiram, os Vikings realizaram diversos outros reides a Mosteiros em ilhas e na costa inglesa e Escocesa, principalmente na Nortúmbria. Quanto a Escócia é interessante que se diga como esta se formou. Os Romanos jamais dominaram a região norte da Britânia devido a ferocidade com que se defendiam seus habitantes: os Pictos. Não se sabe muito sobre eles. Sabe-se apenas que existiam duas língua nesse povo (os do sul, próximos à Inglaterra, falavam a língua dos Britânicos (que não é muito semelhante ao inglês, é mais parecida com o Galês), e os do norte, um dialeto desconhecido). Na realidade, a sociedade Píctica era inicialmente agrícola (semelhante às sociedades feudais), mas um SuperReino (no Feudalismo, quando um Senhor impõe sua suserania a vários outros, o Reino resultante de todos os Reinos que lhe prestam vassalagem é chamado Super-Reino) parece ter se desenvolvido, evoluindo, nos séculos VII e VIII, para uma Monarquia centralizada. Uma curiosidade sobre os Pictos era que a sucessão Real não era pelo filho mais velho do Rei, mas sim pelo sobrinho mais velho do Rei que fosse filho de alguma de suas irmãs, sendo assim, os homens mandavam, mas as mulheres é que estabeleciam a linhagem de sucessão. Os Celtas que habitavam a Irlanda, chamados Irlandeses, também compunham uma parte da população da atual Escócia, inclusive o termo Escocês era sinônimo de Irlandês, somente depois de muito tempo de ocupação dos Irlandeses na Escócia é que o termo Escocês passou a designar exclusivamente os Irlandeses da Escócia. Por volta do começo do século VIII a família Real Píctica iniciou uma política de alianças matrimoniais com a família Real Escocesa (os Irlandeses da Escócia também já haviam realizado sua unificação Monárquica), resultando em príncipes aspirantes aos tronos dos dois Reinos. Em 843, finalmente o Reino Píctico e o Reino Escocês se uniram na formação da Escócia, estabelecendo um sistema de sucessão partilinear, ou seja, cada vez o descendente de um dos Reinos governava. Entretanto, na região conhecida hoje como Escócia havia também o Reino Britânico de Strathclyde, que à partir da fusão Celto-Píctica na Monarquia Escocesa, começou a ser impiedosamente atacado até ser totalmente anexado à Escócia em finais do século IX. Os Noruegueses atacavam não só a Nortúmbria e a Escócia, como também as ilhas Britânicas e a Irlanda. Nos ataques às pequenas ilhas os Vikings da Noruega conquistaram neste período as primeiras colônias de sua História. Entre os anos de 800 e 810, eles capturaram os arquipélagos de Shetland, Orkney (Órcadas) e Faeroer (Faroe), estabelecendo colônias de povoamento nesses lugares. Os guerreiros não encontravam muita dificuldade para dominar arquipélagos pequenos como os referidos, devido ao fato de serem mal protegidos, uma vez que além de missionários, havia apenas pequenos povoados agrícolas nessas regiões. Dificilmente os Vikings encontravam alguma tropa de cavalaria ou mesmo guerreiros Cristãos profissionais (nobres). Nessas campanhas começaram a ser utilizados membros das classes mais pobres da população, ou seja, os jarls, que iam às expedições em busca de riquezas e motivados pelos preceitos do Ásatrú. Os ataques à Irlanda eram curiosos, pois devido à divisão em que a ilha se encontrava, muitos guerreiros Vikings acabavam se desviando de seus objetivos iniciais durante os ataques. Vejamos. A Irlanda era uma ilha de população Celta, eles haviam chegado lá antes mesmo da era Cristã, mas haviam sido (como já mencionei) convertidos ao Cristianismo. Inicialmente, haviam vários Reinos feudais na ilha, porém, com o passar do tempo, através de guerras, os pequenos Reinos foram jurando vassalagem uns aos outros até formarem os quatro Super-Reinos da Irlanda: os Uí Dúnlainge, no sudeste; os Eógannachta (ou Munster), no sudoeste; os Uí Briúin (ou Connaught), no noroeste; e os Uí Néill (ou O’Neill), no nordeste. À partir de 795, os Vikings Noruegueses começaram a realizar reides nas costas Irlandesas, mas as lutas entre os Super-Reinos acabaram por desviar vários soldados profissionais de seu objetivo, ou seja, o saque. Isso por que os Super-Reinos contratavam-nos como mercenários para lutarem contra os outros Super-Reinos. Mesmo assim, os reides Vikings continuaram e na maioria das vezes causavam pânico e resultavam em saques valiosos. Em 841, uma expedição gigantesca aportou no sul da Irlanda e arrasou o Super-Reino dos Uí Dúnlainge, no sudeste. Terminaram por estabelecer uma base permanente na ilha com a conquista da cidade fortificada de Dublin (atual capital da Irlanda). Entretanto, os Vikings não colocaram o território dos Uí Dúnlainge sob sua autoridade direta. Deixaram seus aliados O’Neill administrarem a região, e guardaram para si apenas os direitos comercias dela, mesmo assim muitos Noruegueses migraram para a Irlanda, onde estabeleceram vários povoados. Posteriormente também Dinamarqueses migraram para as terras Norueguesas da Irlanda. Mas o centro Viking da Irlanda continuou sendo Dublin, e todos os três SuperReinos restantes lhe respeitavam e temiam. 6.1.2 – Os Dinamarqueses no Período de 750 a 850: Há cerca de mil e duzentos anos atrás, ou seja, por volta do ano 800, os Dinamarqueses entraram em sua Era Viking. Como já mencionei, até esta época eles não se reconheciam como sendo Dinamarqueses, mas apenas como Danos. Após 803, quando repeliram as tentativas de Carlos Magno de conquistar a Jutlândia, os Danos passaram a se reconhecer gradativamente mais como Dinamarqueses. Como eu disse (nos itens 2.1 e 5), a região sudoeste da Suécia também era habitada por Danos, mas estes não eram Vikings. Apesar disso, mais tarde foram também anexados àquilo que se tornou a Dinamarca. Apesar de terem repelido os ataques de Carlos Magno, os Dinamarqueses, governados na época por Godofredo, sabiam que outros ataques poderiam vir a ser desfechados contra seu povo. Por isso, Godofredo ordenou por volta de 805 ordenou a construção de uma muralha de terra para separar a Jutlândia do Império de Carlos Magno. Essa muralha recebeu o nome de Danevirke e sua finalidade primordial era proteger a cidade de Hedeby, que era o mais importante centro de comércio da Dinamarca. Enquanto Carlos Magno reinou os Dinamarqueses não se atreveram a atacar seu Império; contentando-se em atacar apenas a região sul da Inglaterra, ou seja, os Reinos de Kent, Essex, Wessex, Sussex, Mércia, Lindsey e Anglia Oriental; mas após sua morte, em 814, iniciaram seus reides na Europa continental. Os Dinamarqueses também são considerados Vikings, porém suas rotas de ataques não eram as mesmas dos Noruegueses (ver mapa no final do item 2.1). Eles costumavam ir até a foz de rios como o Sena e o Reno e à partir daí subi-los e saquear as cidades e vilas em suas margens. Depois retornavam para sua terra natal com o produto dos saques. Entretanto, o maior feito dos Dinamarqueses no período referido foi realizado no ano de 851 (sei que o período em teoria iria até 850, mas preferi enquadrar este ato aqui para não inflar demais a próxima cronologia Dinamarquesa). Mas voltemos, em 851 uma grande esquadra Viking deixou a Dinamarca rumando para a Inglaterra. Eles se dirigiam para a região de costume, ou seja, o sul e sudeste da ilha. Porém não havia apenas drakkars na esquadra, pelo contrário, havia muitos knorrs (navios de transporte) carregando inclusive mulheres e crianças. Isso caracterizava uma expedição atípica, pois as expedições que realizavam reides levavam em média apenas um ou dois knorrs (às vezes mais, dependendo do tamanho do lugar a ser saqueado), mas estes iam para trazer os saques de volta, portanto não levavam mulheres, nem crianças. Mas por que esta expedição levava mulheres e crianças? Simples, porque ela não visava realizar apenas um reide, mas sim se estabelecer na Inglaterra, ou seja, criar lá uma base para os Dinamarqueses (assim como a cidade de Dublin era para os Noruegueses, na Irlanda). Os navios se dirigiram para o Reino de Kent e, numa ilha chamada Sheppey, na foz do rio Tâmisa (a menos de 50 km de Londres), desembarcaram. Eles exterminaram o povoado que havia ali e sem muita resistência iniciaram uma povoação Viking na Inglaterra. A escolha da ilha Sheppey não foi por acaso, se tratava de um lugar estratégico, pois por se situar na foz do principal rio da Inglaterra, permitia que os Vikings atravessassem boa parte da ilha, saqueando-a. Bastava que o povoado fosse bem fortificado, o que os Dinamarqueses trataram de fazer o mais rápido possível, para evitar os ataques Ingleses. 6.2 – Os Vikings da segunda metade do século IX até a primeira metade do século X: Podemos dizer que esta é a chamada Época de Ouro dos Vikings. Eles já estavam bem organizados e possuíam colônias (os Noruegueses apenas) e bases militares fora da Escandinávia. Neste trecho veremos como, à partir ou não de tais pontos, os Vikings ampliaram seus domínios chegando a conquistar muitas áreas na Inglaterra e França, além de descobrirem a Islândia. Porém, também foi neste período que o Catolicismo, o germe da destruição dos Vikings, começou a ser plantado nas sociedades Escandinavas, com a conversão de alguns Reis. 6.2.1 – Os Noruegueses no Período de 850 a 950: Os Noruegueses continuavam suas navegações desenfreadas e, em 860, navegando para noroeste das ilhas Faroe, encontraram a Islândia. Na verdade é incorreto afirmar que os Vikings descobriram a Islândia, pois quando lá chegaram a terra não estava deserta, ou habitada por nativos, mas sim por monges Irlandeses eremitas. Entretanto, tais monges, a exemplo de Lindisfarne, foram ou mortos ou aprisionados para serem vendidos como escravos. O que deixou o caminho livre para a colonização de mais esta ilha. Porém, logo os Noruegueses perceberam que o lugar era tão frio quanto sua terra natal (por isso o nome Terra do Gelo, em inglês Iceland). Mesmo assim eles fundaram na região alguns povoados e uma pequena cidade: Reykjavik, tornando a Islândia mais uma colônia Norueguesa. Apesar disso, posteriormente Dinamarqueses também habitaram a região, mas isso depois da Era Viking. Por volta de 870, com apenas dez anos de idade, Haraldo I, o Louro, assumiu o trono de Oslo. Nesta época, o fiorde Vik já estava totalmente leal ao domínio do Rei de Oslo mas, por outro lado, Bergen também se fortalecera muito na porção ocidental da Noruega. Tanto assim que havia imposto seu domínio a região dos Fiordes Ocidentais, transferindo sua capital (a de Bergen) para Trondheim. Haraldo I tinha um sonho: conquistar para sua coroa toda a Noruega, unificando-a não como os Reis Heróis, mas definitivamente. À partir desse desejo, o Rei empreendeu todos os esforços de seu Reino entre os anos de 885 e 890 para submeter Bergen ao seu poder. A maior arma que os Vikings tinham contra Bergen eram as drakkars, pois Bergen não sabia construí-las e por isso, seus navios de guerra eram muito inferiores. Sendo assim, Haraldo I esforçou-se em se tornar invencível nos mares e tão logo conseguiu, começou a atacar os portos de cidades como Bergen e Trondheim, desencadeando uma guerra dentro da Noruega. Bergen através de sua nobreza, revidava como podia aos cercos navais dos Vikings, mas por seus navios serem inferiores, se viu encurralada por volta do ano 890. Ocorreu então a chamada Batalha de Hafrsfjord, no fiorde Hafrs. Nesta batalha, exclusivamente naval, os Vikings impuseram a Bergen a derrota definitiva e anexaram, de uma vez por todas, a região aos domínios de Oslo. Depois da unificação da Noruega por Haraldo I, a capital do país deixou de ser Oslo, para passar a ser Trondheim, que era na época a principal cidade Norueguesa. Ainda no Reinado de Haraldo I, um ataque nos moldes do realizado à Irlanda, em 841, foi realizado no extremo norte da Escócia, partindo das ilhas Órcadas. Esse ataque, no qual o próprio Haraldo I tomou parte, anexou a região aos domínios Noruegueses. Essa região juntamente com os arquipélagos de Shetland, Órcadas e Faroe formou o chamado Condado das Órcadas. O sonho de Haraldo I estava concretizado. Ele não só havia unificado a Noruega, como também podia vangloriar-se de ser um dos maiores Monarcas da Europa, pois além de seu país, ele controlava as ilhas Órcadas, Shetland e Faroe, além de um quarto da Irlanda, o norte da Escócia e a Islândia. No entanto, o poder demasiado de Haroldo I acabou se tornando uma faca de dois gumes. Pois ao mesmo tempo que em seu longo Reinado (de 870 a 945) ele ampliou muito os domínios territoriais de Oslo, seu excesso de autoritarismo colocou as Althings mais distantes contra ele, fazendo, em muitos casos, suas ordens não serem cumpridas, o que provocou uma violenta crise política entre os Vikings Noruegueses, proporcionando aos Dinamarqueses deixarem de serem os coadjuvantes no cenário Viking para se tornarem os personagens principais. A crise era tão violenta que com a morte de Haraldo I em 945, apenas a Noruega estava sob a autoridade de Oslo, tendo o Condado das Órcadas se tornado praticamente independente. A Islândia e Dublin seguiram esse exemplo, mas continuavam sob a autoridade (pelo menos simbólica) da Noruega, coisa que foi deixando de acontecer cada vez mais ao Condado das Órcadas, que estava cada vez mais sob a influência da Escócia. Depois da morte de Haraldo I seu filho caçula, Erik, o Machado Sangrento, reclamou o trono, mas seu filho (filho de Haraldo I) mais velho, Haakon retornou da Inglaterra, onde havia crescido como filho adotivo do Rei Athelstan de Wessex (que era Cristão), e reclamou o trono para si. Os karls, com medo de que Erik, por ter convivido com o pai, continuasse com seus desmandos, resolveram apoiar Haakon, dando-lhe o trono de Oslo. Haakon tornou-se então Haakon I, Rei da Noruega. Haakon I foi o primeiro Rei Cristão da Noruega. Por ter sido criado numa corte Cristã, ele acreditava e seguia os preceitos do Catolicismo, e sua meta de governo foi converter a Noruega a essa doutrina. Para isso ele construiu Catedrais nas principais cidades, ou seja, em Oslo, Trondheim e Bergen. Também restaurou as Althings de toda a Noruega para colocá-las sob seu domínio, coisa que não acontecia antes, pois como já mencionei, as Althings tinham autonomia em relação ao Rei. 6.2.2 – Os Dinamarqueses no Período de 850 a 950: Depois de dominarem a ilha Sheppey, na Inglaterra, os Dinamarqueses se converteram no pior pesadelo dos povos Ingleses. Através da ilha, e de outras ilhas próximas às fozes de rios (ilhas que eles vieram a conquistar depois), os Dinamarqueses penetravam no interior da Inglaterra e realizavam saques às diversas cidades, por mais fortificadas que fossem. Geralmente os saques funcionavam da seguinte maneira: os Dinamarqueses chegavam a uma determinada região e exigiam uma certa quantidade de ouro e outras riquezas para não atacá-la. Esse tributo exigido se chamava Danegeld. Se o povoado pagasse o tributo, os Vikings iam embora, mas voltavam dentro de alguns meses exigindo novo tributo, de tal maneira que os recursos do povoado iam se esgotando até que ele não pudesse mais pagar o Danegeld. Quando isso acontecia, ou seja, os Ingleses não pagavam o tributo, os Vikings saqueavam a vila e, por vezes, conquistavam-na criando uma nova base de operações. Com efeito os Danegeld serviram para melhorar a máquina de guerra Dinamarquesa. Por volta de 850 (as fontes são confusas entre 845 e 865), um líder Dinamarquês chamado Ragnar Lothbrok subiu o rio Sena com uma expedição gigantesca e saqueou Paris. Parece que havia por volta de trinta mil homens em sua expedição. Reides como este demonstram o apogeu Dinamarquês. Neste período, um outro chefe Dinamarquês também saqueou o Reino Franco, ele se chamava Hastein, e depois de três anos saqueando os Francos, partiu de lá, em 862, com sessenta e dois navios (entre knorrs e drakkars). Entretanto, ele rumou para o sul, em direção à Espanha Árabe, aportando perto de Cádiz. Ele entrou em luta com os Mouros, mas foi derrotado e acabou perdendo parte do que havia roubado dos Francos. Sendo assim, reuniu os homens e navios que lhe restavam e continuou navegando rumo ao oriente, penetrando no mar Mediterrâneo. No caminho ele atacou as cidades Árabes de Ceuta e Tânger, no norte da África, mas se dirigiu para o nordeste da Espanha, onde entrou novamente em luta contra os Sarracenos (Árabes), mas desta vez, venceu-os e saqueou seus territórios. Depois disso, ele voltou a saquear o Reino Franco (mas agora sua porção sul, banhada pelo Mediterrâneo). Passou então o inverno numa ilhota da foz do rio Ródano (no próprio Reino Franco), para depois seguir sua viagem Mediterrâneo adentro, pois seu objetivo era saquear Roma. Após o inverno, Hastein e seus homens levantaram acampamento e seguiram com cerca de quarenta navios (os que haviam sobrado da derrota frente aos Árabes do sul da Espanha) rumo a península Itálica, onde esperavam enfim saquear Roma. Por volta de 863, eles avistaram a majestosa cidade de Luna, na Itália, e a confundiram com Roma, por isso a atacaram. Inicialmente foram repelidos, mas Hastein armou um plano muito inteligente: fingiu ter sido gravemente ferido na batalha e aceitou receber o batismo e extrema unção (bênção que se dá aos mortos) dos sacerdotes de Luna (que ele ainda pensava ser Roma). Sendo assim, quando ele fingiu estar morto, o povo da cidade permitiu que seu corpo fosse levado para dentro para ser sepultado. Uma vez em Luna, Hastein “ressuscitou” e liderou seus homens na pilhagem da cidade. A expedição de Hastein foi uma das mais impressionantes incursões Vikings no mar Mediterrâneo. Já na Inglaterra, aos poucos os Dinamarqueses foram tomando todos os Reinos abaixo da Nortúmbria, ou seja: Kent, Lindsey, Anglia Oriental, Mércia, Essex e Sussex. Faltava-lhe apenas o Reino de Wessex, que a essa época já dominava também a Cornualha Britânica. Em 870, os Vikings chefiados por Ivar, o Desossado e por Hubba (ambos filhos de Ragnar Lothbrok) atacaram o Reino de Wessex, que era governado por Etelred. Mas este os repeliu. Novamente, em 871, os Dinamarqueses, agora chefiados por Guthrum, voltaram a atacar Wessex, por ocasião da morte de Etelred. Porém, seu irmão e sucessor, Alfred voltou a expulsá-los. Os Dinamarqueses se retiraram para Reading e organizaram novo ataque contra Wessex em 876, mas foram derrotados novamente. Então armaram uma estratégia inteligente de ataque. Na meia-noite de ano novo de 878, desfecharam um forte ataque contra Wessex, forçando Alfred a bater em retirada para a cidade de Athelney. A Inglaterra abaixo da Nortúmbria estava toda tomada pelos Vikings da Dinamarca. No entanto, Alfred não estava morto e de Athelney organizou seu contra-ataque. Ainda em 878, reuniu um exército entre os povos dominados de Wessex, Sussex, Kent e Mércia, e enfrentou os Escandinavos na Batalha de Edington. Alfred venceu e obrigou os Vikings a se retirarem para o leste. Sendo assim, nas regiões de Lindsey, Essex, Anglia Oriental e boa parte da Mércia, foi estabelecido o chamado território de Danelaw, a colônia Dinamarquesa na Inglaterra. Alfred continuou desfechando ataques a Danelaw, até que em 880 ocupou Londres e estabeleceu ali o marco divisório entre Danelaw e Wessex (que agora dominava também Sussex, Kent e boa parte da Mércia, além dos seus antigos territórios e da Cornualha). Como parte do tratado entre Wessex e os Vikings, o líder Dinamarquês Guthrum foi obrigado a ser batizado e se comprometer a propagar o Catolicismo no território de Danelaw. Foi a conversão dos Vikings da Inglaterra ao Catolicismo. Os sucessores de Alfred; Eduardo, o Velho (899 a 925), Athelstan (925 a 939), Edmund (939 a 946) e Eadred (946 a 955); continuaram desfechando ataques a Danelaw, além de atacarem também os Reinos da Nortúmbria e da Escócia. A expulsão dos Dinamarqueses da cidade de York (ponto estratégico, por se situar no centro da Inglaterra), por Eadred, somada aos outros atos dos Reis de Wessex proporcionaram a que Edgar fosse coroado, em 973 como o primeiro Rei de toda a Inglaterra, ou seja, as lutas de Wessex contra Danelaw proporcionaram a unificação da Inglaterra. Entretanto, Danelaw não foi inteiramente conquistada, bem como não o foi a Escócia. A presença Viking na Inglaterra continuou até 1066. Até agora falamos dos Dinamarqueses na Inglaterra, mas agora vamos falar do que eles fizeram na Europa continental. Os Dinamarqueses, bem como os Noruegueses (aqueles mais do que estes) sempre atacaram os Francos através do rio Sena, por ser uma entrada estratégica, e próxima da Escandinávia, para esse Reino (o Reino Franco (após a morte de Carlos Magno, e de seu filho, seus netos dividiram o Império em três partes inicialmente: uma delas consistia na norte da Itália, a outra naquilo que depois seria, junto com a primeira parte, o Sacro Império Romano-Germânico, e a terceira parte tornou-se o Reino Franco. Mais tarde, uma região entre o Reino Franco e o Reino Germânico tornouse a Borgonha)). Pois bem, um Viking de origem Norueguesa, mas no comando de tropas Dinamarquesas, chamado Rolf Gangr estava atacando o Reino Franco havia muito tempo, mas em 911, ele foi derrotado nos arredores de Chartres, pelas tropas do Rei Carlos III, o Simples. Caído prisioneiro, Rolf Gangr foi levado à presença de Carlos III, em Saint-Clair-sur-Epte, que surpreendentemente não o condenou, mas fez-lhe uma proposta irrecusável. O chefe Viking teria que aceitar ser batizado e converter-se ao Catolicismo, para ganhar as terras de ambas as margens da foz do Sena. Rolf Gangr teria que jurar vassalagem a Carlos III e prometer ser os guardião do Reino Franco contra os Vikings, tanto Noruegueses, quanto Dinamarqueses. O raciocínio de Carlos III foi óbvio, contra um Viking, nada melhor que outro. Rolf Gangr aceitou a proposta e em 912 foi batizado e nomeado Duque da Normandia (a região até então não se chamava assim, este nome lhe foi dado em alusão à população que a habitava, ou seja, Dinamarqueses e Noruegueses descendentes dos Nórdicos). Depois disso, Rolf Gangr passou a ser conhecido como Rollon. Uma curiosidade: segundo as Sagas Vikings escritas por Islandeses no século XIV, Rollon tinha o apelido de “o Andarilho”, mas não porque gostava de andar, e sim porque segundo tais Sagas, suas pernas eram tão compridas que não havia cavalo em que ele pudesse montar. A Normandia, apesar de ter origens Vikings, rapidamente se converteu em uma região do Reino Franco propriamente dita. Pois em 950 a migração de Escandinavos para o território foi proibida e, no século XI, o idioma Escandinavo também. Sendo assim, a Normandia não pode ser considerada uma colônia Dinamarquesa, mas apenas uma área de povoamento Viking, uma vez que prestava vassalagem ao Reino Franco. Durante o Reinado de Gorme, o Velho (de 936 a 950), a Dinamarca foi também definitivamente unificada. Gorme estabeleceu a capital do país na cidade de Jelling, na Jutlândia, onde ergueu em homenagem a sua mulher uma estela memorial (monolito, ou coluna, destinada a ter uma inscrição), que junto com a que seu filho Haroldo Dente Azul ergueu para ele (para Gorme), é o mais belo monumento da Era Viking. 6.3 – Os Vikings da segunda metade do século X até o fim da Era Viking: Aqui será relatada a decadência Viking, ela veio junto com o Catolicismo e pois um fim às incursões de um povo tão avançado nas tecnologias náuticas e bélicas, que conseguiu empreender, quase quinhentos anos antes de Colombo, a descoberta da América, não só pela Groenlândia (que apesar de muitos não saberem, pertence à América), mas também por Vinland, que ao contrário do que muitos pensam, foi realmente descoberta. Veremos também nesta parte do trabalho a série de guerras entre os próprios Vikings, Noruegueses contra Dinamarqueses e vice-versa, que enfraqueceram ainda mais os povos Nórdicos, dando a impressão temporária de fortalecimento de um dos lados, como no Império de Canuto, mas que acabaram por levar a, já exaurida, civilização Viking a perda quase total de sua importância deixando, inclusive, os Escandinavos de serem os Vikings. 6.3.1 – Os Noruegueses no Período de 950 a 1066: Haakon I era o Rei da Noruega em 950, quando esta foi atacada pelos Dinamarqueses chefiados por seu Rei Haroldo Dente Azul, filho de Gorme, o Velho, que unificou a Dinamarca. Haroldo Dente Azul atacou a Noruega com seus drakkars e seus guerreiros, mas Haakon I teve muito sucesso na defesa do Reino, expulsando o invasor. Porém, dez anos se passaram, ou seja, em 960, Haroldo tornou a atacar a Noruega. Desta vez, Haakon I foi pego de surpresa e morto na batalha. Resultado, a Noruega foi conquistada pela Dinamarca de Haroldo Dente Azul. Depois da conquista da Noruega por Haroldo Dente Azul, a História dos acontecimentos de Dinamarca e Noruega se mistura muito, por isso deixarei para contá-la quando falar da Dinamarca neste período, porque sobre a Noruega há outras coisas para contar, entretanto sobre a Dinamarca, não há. Bem, já que exclui da pauta de temas deste trecho a situação políticomilitar da Noruega, então me remeterei a contar fatos importantes ocorridos nas possessões marítimas deste país, que apesar de estarem parcialmente independentes desde o final do governo de Haraldo I, continuaram a receber sua influência. Contarei aqui a História de um homem muito rico pertencente ao karl, chamado Erik, o Vermelho. Com certeza muitos já ouviram falar a respeito deste Viking, mas garanto que a maioria não tem nem idéia do porquê de sua fama. É este o objetivo aqui, contar quem foi ele. Erik nasceu por volta de 940, na Noruega. Cresceu lá, e por volta de 970, numa discussão na Althing, matou um outro notável Norueguês. Ele foi julgado, mas sua pena não foi a morte, e sim o banimento para a Islândia. Chegando na Islândia, como era muito rico, Erik logo se tornou o proprietário de um fazenda, e junto com sua família estava reconstruindo sua vida. Entretanto, por razões desconhecidas, em 980 ele matou outro homem, agora um notável da Islândia. Sua pena foi novamente o banimento, mas não para um lugar definido. Agora ele já não mais podia pisar nem na Noruega, nem na Islândia. Restavam-lhe poucas opções de onde ir, então, por dois anos ele navegou com um grupo de seguidores seus, deixando sua família na Islândia. Em 982, ele encontrou uma terra cheia de rochedos a noroeste da Islândia. Desembarcou lá e viu alguns campos verdes (era verão), na hora ele percebeu que havia descoberto novas terras. Erik viu nisso a chance de criar seu próprio Reino, independente da Noruega, que tanto o perseguia. Ele retornou para a Islândia dizendo que havia descoberto a Gröenland (que em inglês ficou Greenland, ou Terra Verde). Ele sabia que com esse nome atrairia para seu empreendimento muitas pessoas em busca da tão sonhada terra fértil. Quatro anos mais tarde, em 986, ele finalmente conduziu uma esquadra de vinte e cinco knorrs até a Groenlândia. Lá, ele se radicou na região sul, que ficou conhecida como Colônia Oriental (por ser mais perto da Europa). Fundaram a cidade de Gardar e a vila, ou fazenda de Brattahlid, da qual Erik se tornou o chefe. Aos poucos foram chegando mais pessoas e a Groenlândia foi sendo povoada. A cidade de Gardar chegou a ter uma Catedral, um Mosteiro Beneditino, um Convento de monjas e doze Paróquias. Mais tarde, mas ainda no século X, foi edificada mais a noroeste a chamada Colônia Ocidental, mas nela só havia o pequeno povoado de Gothabfjord (mapa da Groenlândia, com as Colônias Oriental e Ocidental destacadas no item 2.1). Não é nem preciso mencionar, devido ao imenso número de Igrejas, que a Groenlândia sempre foi Católica, desde seus primórdios. Há indícios que mostram que a conversão da Groenlândia ao Catolicismo ocorreu entre 990 e 1000. No ano 1000, Erik, o Vermelho (também dito Erik, o Ruivo) morreu e foi sucedido no governo de Brattahlid por seu filho Leif Eriksson (Eriksson = Erik + son (filho de Erik)), que teve que desistir de seu empreendimento marítimo (explicado detalhadamente no item 7 – Vinland) para suceder o pai. 6.3.2 – Os Dinamarqueses no Período de 950 a 1066: Como já havia mencionado, Haroldo Dente Azul conquistou a Noruega em 960, mas vejamos melhor como ocorreram os fatos. Haroldo atacou o Reino de Haakon I, em 950, mas não se saiu bem, foi repelido. Em 960, Haroldo atacou novamente a Noruega, e desta vez a conquistou. A Noruega já estava infiltrada pelo Catolicismo, apesar de a maioria de sua população ser ainda pagã (adepta do Ásatrú), e lá, Haroldo Dente Azul tomou contato direto com os sacerdotes Católicos, uma vez que Haakon I era Católico, ele havia se cercado de uma elite clerical Cristã. Diz a lenda que, depois de tomar o poder na Noruega, Haroldo submeteu os sacerdotes leais a Haakon I a uma sessão de tortura, porém sua fé era tão grande que eles não sentiam dor. Vendo aquilo, Haroldo se convenceu de que o Deus dos Católicos era de fato poderoso e se converteu ao Catolicismo, deixando-se batizar logo em seguida. A conversão de Haroldo Dente Azul iniciou a propagação da fé Cristã também na Dinamarca. O Rei esforçou-se para converter tanto Dinamarqueses quanto Noruegueses ao Catolicismo, e incentivou a construção de igrejas por todo o seu Reino. As igrejas que os Vikings construíam eram de um estilo particular, muito diferentes das igrejas tradicionais da Europa. Eram as chamadas Igrejas de Aduelas, feitas inteiramente de madeira trabalhada com imagens da História Viking (muitas dessas imagens eram pagãs). O mais belo nessas igrejas era o estilo da construção. Elas eram pequenas, mas muito altas, com vários telhados escalonados e sobrepostos o que produzia um efeito muito bonito tanto externa quanto internamente. Em 974, o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Oto II atacou a Jutlândia e conquistou-a, deixando a Dinamarca reduzida às suas ilhas e ao sudoeste da Suécia. Doze anos depois, em 986, Haroldo Dente Azul foi destronado por seu filho Swein Barba Bifurcada, e morreu no exílio, pouco depois. O primeiro objetivo de Swein foi o de retomar a Jutlândia ao Sacro Império Romano-Germânico. Para isso, ele desfechou diversos ataques contra seus inimigos, até que em 990 ele conseguiu expulsá-los, durante o governo do Imperador Oto III. Porém, os mais de quinze anos de dominação pelo Sacro Império concluíram na Jutlândia o que Haroldo Dente Azul havia começado, ou seja, a conversão do povo a fé Cristã. Em 994, Swein Barba Bifurcada junto com seu amigo Olaf Tryggvesson, um membro do karl Norueguês, desfechou um grande ataque contra Londres, visando retomá-la de Wessex. Mas o ataque fracassou. Quando retornaram da Inglaterra, Swein resolveu entregar a coroa da Noruega para Olaf Tryggvesson. Ele queria reconstruir a Dinamarca, que julgava estar em frangalhos após a saída Germânica. No entanto, no ano 1000, Olaf e Swein se desentenderam e este declarou guerra àquele. A Dinamarca era muito mais poderosa do que a Noruega (pois Swein tinha dividido o poder, mas não o poderio econômico e militar) e, portanto, a guerra se resolveu logo, com a derrota e morte de Olaf Tryggvesson na Batalha de Svolder. Swein retomou a coroa da Noruega e a manteve até sua morte, em 1014. Mas as atenções dele estavam voltadas para a Inglaterra, que desde a expansão de Wessex (iniciada por Alfred em 878), estava engolindo o território Dinamarquês de Danelaw. Aproveitando-se do que restara desse território, Swein invadiu a Inglaterra em 1001 e, em 1002, conseguiu uma grande vitória sobre o Rei Inglês (nesta época a Inglaterra já era um país, como mencionei no item 6.2.2), denominada o Massacre do dia de São Brice, quando conseguiu um bom fortalecimento de Danelaw. Onze anos depois, agora ajudado por seu filho Canuto, Swein derrotou o Rei Etelred, o Irresoluto, e só não conquistou a Inglaterra porque este conseguiu fugir da batalha. Entretanto, Swein Barba Bifurcada morreu em 1014, deixando seu trono na Noruega e na Dinamarca vagos, enquanto seu filho, Canuto, se embrenhava na luta contra os Ingleses. Devido a esta situação, na Noruega Olaf Haraldsson (ou Olaf II) começou a governar interinamente, escolhido por uma Althing, enquanto que na Dinamarca, a fragmentação política ressurgiu. Canuto não era Rei de nada, mas os exércitos de seu pai continuavam seguindo-o, pois em última instância ele seria, pelo menos, o governante de Danelaw. Em 1016, finalmente Etelred, o Irresoluto tombou em combate. O caminho para o trono Inglês estava aberto. Edmund Ironside (um Duque Inglês) ainda tentou conter Canuto, mas seus homens (os de Canuto) o derrotaram e ele foi coroado Rei da Inglaterra. Edmund Ironside só conseguiu preservar Eduardo, filho de Etelred, enviando-o para a Normandia, onde seria criado por Guilherme, o Duque da Normandia. Finalmente os Vikings conquistavam a Inglaterra. Mas o preço foi alto, Canuto havia perdido tudo o que seu pai conquistara na Escandinávia. Os primeiros atos de Canuto como Rei da Inglaterra foram punir severamente todos os Ingleses que se opusessem a ele, mas com seu casamento, em 1017, com a viúva do Rei Etelred, o Irresoluto, ele mudou sua política e passou o resto de seu Reinado se esforçando para que Vikings e Ingleses convivessem em paz. Depois que já havia assegurado sua posição na Inglaterra, Canuto embarcou para a Dinamarca, em 1019, e rapidamente (com pouca resistência) reunificou o país e no mesmo ano tomou para si a coroa Dinamarquesa. Na Noruega porém, as coisas estavam mais difíceis, Olaf Haraldsson, que governava interinamente desde a morte de Swein Barba Bifurcada, em 1014, reivindicou o trono Norueguês em 1015 e, em 1016, foi coroado Rei da Noruega. Olaf Haraldsson era descendente de Haraldo, o Louro, e aceitou ser batizado, em 1013, em Rouen, na Normandia, para poder ser candidato ao trono, ou pelo menos ao governo interino da Noruega. Quando foi coroado dedicou-se a enraizar ainda mais o Catolicismo na Noruega, pois percebeu que a Igreja proporcionava uma excelente máquina de dominação popular. Entretanto, Olaf II exagerou e suas medidas provocaram grande hostilidade por parte das Althings Norueguesas. Canuto não havia desistido do ideal de reconquistar para si o que fora de seu pai, por isso, em 1028, invadiu a Noruega tomando Trondheim, onde se proclamou Rei. Olaf Haraldsson estava extremamente impopular (desde os ricos até o povo) e sua única opção foi fugir para a Rússia, buscando refúgio no Principado de Kiev (fundado pelos Varegues e considerado por muitos como o primeiro Reino da Rússia), onde reuniu um exército mercenário (composto por pagãos) e retornou à Noruega para enfrentar Canuto, em 1030. Porém, seus exércitos eram inferiores aos experientes soldados de Canuto e ele foi derrotado e morto na Batalha de Stiklestad. Após a morte de Olaf Haraldsson, começaram a surgir rumores de milagres operados por ele (apesar de sua extrema impopularidade), rumores estes que levaram à sua canonização como Santo Olavo, o padroeiro da Noruega, em 1164. Canuto enfim unificara sob seu poder a Inglaterra, a Dinamarca e a Noruega, além de ter influência na Islândia e nos territórios de presença Viking da Irlanda. Porém o Condado das Órcadas estava cada vez mais distante dos acontecimentos políticos Escandinavos e já era muito mais influenciado pelo Reino da Escócia do que pelos Vikings em si. O único homem que pode ser chamado de “Imperador Viking”, ou seja, Canuto, morreu em 1035 e o Império, que ele havia conquistado com tanto esforço, se esfacelou. Na Noruega, assumiu o trono Magnus, filho mais velho de Olaf Haraldsson. Já na Inglaterra, os filhos de Canuto Reinaram, mas Haroldo, o Pé-de-Lebre (1035 a 1040) Reinou apenas cinco anos e foi morto por conspiradores e Harthecnut (1040 a 1042) conseguiu reinar apenas dois anos antes de também ser morto por conspiradores Ingleses que aspiravam devolver o trono Inglês a um Inglês. Por isso, trouxeram de volta da Normandia Eduardo, o Confessor, filho de Etelred, o Irresoluto. Sob o pretexto de ser meio-irmão de Harthecnut (uma vez que este era filho de Canuto com a viúva de Etelred), Eduardo assumiu o trono da Inglaterra, em 1042. Eduardo havia sido mandado por Edmund Ironside para a Normandia, em 1016, quando seu pai morreu, com o objetivo de preservar a linhagem dinástica Inglesa. Ele cresceu sob a tutela de Guilherme, Duque da Normandia. Quando assumiu o trono, fez um pacto com Guilherme segundo o qual, o que morresse primeiro deixaria seu trono para o outro. Eduardo governou até 1066, e foi um dos mais Cristãos dentre todos os Reis da Inglaterra, tanto assim que em 1161 foi canonizado como Santo Eduardo. Uma de suas principais contribuições culturais foi a construção da Abadia de Westmister. Após a Batalha de Stiklestad, Haraldo Hardrada, irmão de Olaf Haraldsson, fugiu de volta para Kiev, onde ingressou no exército Varegue. Foi servir como mercenário Varegue no exército do Império Bizantino, mas em 1045, a notícia da morte de Magnus (filho de Olaf Haraldsson, que havia recebido o trono Norueguês após a morte de Canuto), o fez regressar à Noruega, em 1046, e reclamar o trono para si. Acabou sendo coroado Rei da Noruega, em 1047. Em seu Reinado, teve pulso de ferro, o que lhe rendeu o apelido de Hardrada , que quer dizer “Conselheiro Duro”. Em 1066, quando Eduardo, o Confessor, Rei da Inglaterra, morreu, havia três pretendentes à sua sucessão: o Duque Guilherme (ou William), da Normandia (de acordo com o pacto que citei acima); seu filho (filho de Eduardo) Haroldo Godwinson; e Haraldo Hardrada (Haraldo III), Rei da Noruega. Como os Ingleses queria ser governados por um Inglês, nomearam Haroldo Godwinson como Rei Haroldo II, o que causou insatisfação nas duas outras partes. Haraldo Hardrada foi o primeiro a se manifestar. Tão logo Haroldo Godwinson foi coroado, em janeiro de 1066, ele atacou a Inglaterra. Os Noruegueses tiveram grandes sucessos. Penetrando pela antiga Nortúmbria, eles venceram o Duque de York e tomaram a cidade. Entretanto, não conseguiram avançar mais e, em 25 de setembro do mesmo ano, foram surpreendidos por um ataque Inglês e derrotados na Batalha de Stamford Bridge, na qual o próprio Haraldo Hardrada morreu. A derrota de Haraldo Hardrada na Batalha de Stamford Bridge (nos arredores de York) marca o fim da Era Viking. Quando a coroa Inglesa parecia assegurada para Haroldo Godwinson, o Duque Guilherme da Normandia desembarcou na Inglaterra e reclamou o trono para si, alegando ser seu direito devido ao pacto que fizera com Eduardo, o Confessor. Como foi hostilizado, preparou-se para a guerra e, no dia 14 de outubro do mesmo 1066, na Batalha de Hastings, na antiga região do Sussex, as tropas de arqueiros e cavaleiros dos Normandos derrotaram as tropas de espadachins e guerreiros com machado de batalha dos Ingleses, pois as tropas Inglesas não estavam acostumadas a enfrentar cavaleiros, nem tão pouco arqueiros. Haroldo Godwinson foi morto e Guilherme, dito Guilherme, o Conquistador, conquistou a Inglaterra, pondo um fim definitivo às linhagens de Reis Ingleses descendentes dos Teutões e ligando profundamente o Ducado da Normandia à Inglaterra, ligação essa que bem mais tarde, no século XIV, deu origem à chamada Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. Os Normandos, apesar de terem descendência Viking, não eram Vikings (eram muito mais Francos), e sua ascensão marca o declínio dos Vikings. Haraldo Hardrada é considerado o último Rei ou chefe Escandinavo com características Vikings. 7 – Vinland: No ano de ocupação da Groenlândia por Erik, o Vermelho, e seus seguidores, ou seja, 986, um navegador Norueguês chamado Bjarni chegou à Islândia dizendo que havia avistado terras além da Groenlândia. Ninguém acreditou nele. Todos achavam que ele estava mentindo, ou que havia visto alguma parte da Groenlândia que não era habitada. Mesmo assim, o boato se espalhou pelos povos da Islândia e, sendo assim (pois estes povos povoaram-na), chegou à Groenlândia. No início, todos achavam não passar de uma bobagem e não davam muita importância para isso. Mas o filho mais velho de Erik, o Vermelho: Leif Eriksson, começou a se interessar pela história de Bjarni. Ele reuniu um grupo de aventureiros, em 999, e partiu rumo ao desconhecido, para ver se encontrava a tal terra de que Bjarni falara. Por volta do começo do ano 1000, ele e seus homens avistaram terras. Eram muito frias, cobertas de gelo, por isso ele as batizou de Helluland (em alusão a Hel, o inferno gelado de Ásatrú). Tratava-se da atual ilha de Baffin, no Canadá. Leif Eriksson tinha boas noções de navegação e sabia que não existem terras sem fim, por isso, se havia terras naquele ponto, com certeza haveria também mais abaixo, onde o frio era menos intenso. Sendo assim ele resolveu costear a terra encontrada, rumando para o sul. Alguns meses depois ele encontrou mais terras, desta vez, terras cheias de árvores, mas sem nenhum sinal de povoamento. Ele chamou o lugar de Markland (em alusão ao fato de aquele lugar ser um marco para sua expedição), e o tal lugar consistia na atual península do Labrador. Leif não quis voltar ainda para a Groenlândia, pois quis ir mais para o sul. Nesta viagem, ele encontrou terras mais quentes e com sinal de povoamento. Resolveu então desembarcar e fazer contato com os habitantes do lugar. Os Nórdicos eram muito claros (loiros ou até ruivos), e Leif Eriksson havia acabado de encontrar índios norte-americanos, era natural que ele os achasse diferentes, por isso os batizou de Skraelings, que quer dizer feios. Naturalmente, a viagem havia sido desgastante e Leif Eriksson e seus homens resolveram montar acampamento para passar alguns meses antes de voltar para a Groenlândia. Neste tempo, eles conviveram com os nativos, e sua convivência foi pacífica. Eles trocaram tecidos vermelhos por peles e couros de animais e, quando retornaram a Groenlândia, contaram a História dizendo que o lugar era maravilhoso. Batizaram-no de Vinland (terra das vinhas), para atrair pessoas para o novo povoamento. Ainda no ano 1000, Leif Eriksson retornou a Vinland e fundou a cidadezinha de L’Anse-aux-Meadows, com cerca de trinta pessoas entre homens, mulheres e crianças. Depois retornou à Groenlândia (ainda no ano 1000) para buscar mais pessoas, mas soube que seu pai havia morrido e que ele precisava assumir a vila de Brattahlid em seu lugar. Devido a este imprevisto, Leif Eriksson abandonou o projeto de povoar Vinland, e nunca mais foi para L’Anse-aux-Meadows. Mesmo assim, continuaram a ir knorrs carregados de pessoas para lá, até o ano 1003, mas depois pararam, pois a própria população da Groenlândia já era escassa. Por volta de 1009, a população de L’Anse-aux-Meadows beirava as duzentas ou trezentas pessoas, mas começaram a ocorrer duas crises no local. A primeira era de ordem econômica, pois como não iam mais knorrs para lá há seis anos, estavam começando a faltar coisas como tecidos, gado e produtos que a região não tinha condições de produzir. Além disso, os indígenas, antes amigáveis, estarem agora exercendo muita pressão sobre os Vikings para que estes trocassem com eles suas armas por peles de animais, coisa que os Vikings não queriam fazer, para não armar os possíveis inimigos de amanhã. O clima entre os Vikings e os Skraelings ficou cada vez mais tenso nos três anos subseqüentes, até que, em 1012, os índios atacaram L’Anseaux-Meadows, mataram todos (ou pelo menos a grande maioria) de seus habitantes, queimaram ou destruíram a maioria das casas (algumas sobreviveram e foram encontradas, junto com resquícios de cerâmicas Vikings, em escavações realizadas em 1962, o que provou de fato a existência de Vinland) e assim puseram um fim às pretensões dos Vikings de colonizar aquilo que viria a ser a América. A Groenlândia continuou a enviar knorrs a Markland para pegar madeira até 1035. Depois, as terras descobertas no ocidente começaram a se tornar inviáveis economicamente e, por isso, foram abandonadas até caírem no esquecimento inclusive do próprio povo da Groenlândia. Desta aventura fica uma única questão: Será que devemos reverenciar a Cristóvão Colombo por descobrir a América, ou aos Vikings, que afinal o fizeram quase quinhentos anos antes e com recursos muito menos avançados, pois não conheciam nem a bússola, nem o astrolábio, nem mesmo desenhavam mapas dos oceanos, ou seja, realizaram uma empreitada muito mais difícil e, por quê não, corajosa. É uma coisa que devemos pensar. Se na realidade é tão importante para nós fixarmos datas, marcos e reverenciarmos heróis (e não os processos que ocorreram para que os fatos se desenvolvessem, o que seria mais correto), então acho que temos mais do que a obrigação de reverenciarmos os verdadeiros heróis e, neste caso, o herói (ou meramente descobridor, como queiram) é Leif Eriksson. 8 – A União de Calmar, o Fim da Groenlândia e o Legado Viking: Neste item falarei sobre os três temas acima descritos, que apesar de não fazerem mais parte da chamada Era Viking, considero de suma importância que sejam estudados, mesmo que superficialmente, para que não tenhamos sobre os Vikings a mesma impressão que temos sobre a Grécia após a morte de Alexandre, ou sobre Roma depois da adoção do Cristianismo e antes de sua queda, ou seja, a impressão de que tudo acabou e que nada mais resta do que havia. Essa é inclusive uma impressão muito comum para nós, já que gostamos tanto de estabelecer marcos. Os marcos só nos servem para facilitar a contextualização dos fatos no tempo, e não para que criemos a falsa idéia de que certa coisa existia, e de um dia para o outro passou a não existir mais. Portanto, é errado pensarmos que Roma caiu, pois apesar de ter sido capturada por Godos, Roma já estava em decadência a vários anos, e sua captura só foi possível graças a isso. O mesmo ocorre com os Vikings, uma vez que sua Era só chegou ao fim devido aos erros (como a adoção do Catolicismo) de seus governantes, já que isso descaracterizou o povo. Só adotamos o marco da morte de Haraldo Hardrada na Batalha de Stamford Bridge como o final da Era Viking, pois temos a necessidade de explicar para nossos próprios cérebros quando devemos parar de chamar os Escandinavos de Vikings. Mas como já expliquei, o mais correto é não chamar de Viking a um Escandinavo Cristão. Para melhor compreensão dos fatos neste trecho (já que um não é diretamente ligado ao outro), acredito que seja melhor estudar cada um deles isoladamente, como um item próprio, baseado na cronologia dos fatos. 8.1 – Os Legados Vikings: Apesar de ser um verdadeiro chavão, a frase a seguir descreve com precisão o que foram os Vikings: “foram um povo à frente de seu tempo”. É a mais pura verdade, talvez por isso tenham nos deixado tantos legados, que no mais das vezes, nem sabemos que se tratam de legados Vikings. Durante os primeiros séculos da Idade Média, ou seja, durante a chamada Alta Idade Média, quando o que chamamos de Feudalismo ainda não existia, vários povos ditos Germânicos entraram no cenário Europeu e, como disse, os Vikings (juntamente como os Varegues) foram os últimos. O Feudalismo foi um fenômeno que ocorreu propriamente dito na chamada Idade Média Central e, como é estudado, apenas na chamada Ilha de França, região do Reino Franco. Suas bases foram lançadas pelos Romanos, com leis como o Colonato acrescidas da moral Cristã. As invasões dos Godos (Ostrogodos (na Itália) e Visigodos (na Espanha)) trouxeram ao cenário Europeu Ocidental a tradição da Vassalagem, que somada às tradições romanas, embasaram Carlos Magno na divisão interna de seu Império, uma vez que ele, ao conquistar novas terras, submetia o Rei delas à sua suserania, sendo assim, a evolução dessa situação, que ocorreu após a morte de Carlos Magno, deu origem ao feudalismo de fato, que digamos, só principiou no século XI. Devido a isso, podemos concluir que os Vikings existiram (no esplendor de sua Era) no período imediatamente posterior à chegada Árabe a Europa, e anterior ao estabelecimento do Feudalismo, como nós conhecemos. A época era de muitas transformações, pois como mencionei, vários povos novos haviam entrado no contexto europeu recentemente, a Igreja Católica tentava se afirmar (e estava começando a conseguir) em meio a tantos povos não Cristãos, o ideal de restauração do Império Romano permanecia vivo na mente dos grandes Reis do período (primeiro com Justiniano, depois Carlos Magno e por fim Oto I), além de o comércio marítimo europeu estar, senão morto, adormecido depois da entrada dos Árabes na Espanha. Foi nesse contexto que os Vikings existiram. Eles, com suas drakkars punham medo em todas as populações Européias, desde Árabes até Italianos, passando por Francos, Germânicos e principalmente Ingleses. Seus reides, inicialmente apenas com o objetivo de realizar saques, acabaram por criar colônias e bases militares, fundando e ampliando dezenas de cidades e vilas em todo o ocidente Europeu (no oriente do continente o fenômeno foi semelhante (mas em menor escala) em relação aos Varegues). Os Vikings eram exímios artesãos, sabiam trabalhar muito bem a madeira, o marfim e o ferro. Criaram uma religião com preceitos tão avançados que só foram de novo pensados (ou copiados) no século XVI, por Lutero e Calvino. Suas técnicas de navegação eram tão avançadas que só foram, de fato, superadas pelos Portugueses no século XV, ou seja, mais de quatrocentos anos depois. Eles proporcionaram um renascimento, ainda que temporário, do comércio marítimo Europeu, com rotas através dos mares Báltico e do Norte, além de rios Europeus como o Ródano, o Reno, o Sena e o Tâmisa. Além disso, algumas palavras e jogos (como os RPGs), de hoje são baseados em palavras, atitudes e crenças Vikings. Apesar de todos esses feitos serem impressionantes, eles não constituem os principais legados Vikings. Vejamos então quais foram esses legados. Digamos que, por causa dos Vikings, a Inglaterra se unificou, ou passou a reconhecer um único Rei como sendo o Rei de toda a Inglaterra (ainda que em períodos posteriores, este domínio não tenha sido tão forte, devido ao Feudalismo, que apesar de não ter existido como o estudamos na Inglaterra, também a atingiu) muito mais cedo do que o faria se não tivesse recebido a pressão externa que recebeu. Os descobrimentos Vikings, como a Islândia, a Groenlândia e a América (com Vinland, Markland e Helluland) foram também tão impressionantes que podemos chamar sua época de Primeira Era dos Descobrimentos, sendo a chamada Era dos Descobrimentos, então, a Segunda Era dos Descobrimentos. Podemos também dizer que os Vikings auxiliaram na formação de um povo: os Normandos. Inclusive, os Normandos tiveram sua Época de Ouro imediatamente após o fim da Era Viking, uma vez que a conquista da Inglaterra por Guilherme, o Conquistador, Duque da Normandia, o marco (outra vez essa palavra) inicial da Era Normanda, ocorreu um mês depois da derrota de Haraldo Hardrada na Batalha de Stamford Bridge, o marco final da Era Viking. Sendo assim, podemos realmente dizer (apesar de os Normandos já na época de Guilherme terem mais características Francas do que Vikings), que os Normandos são os herdeiros dos Vikings. 8.2 – A União de Calmar: Após a morte de Haraldo Hardrada, os povos Escandinavos que já haviam reduzido suas incursões consideravelmente desde o início da conversão ao Catolicismo, praticamente as pararam e Noruega, Dinamarca e Suécia (agora citarei a Suécia porque ela também fez parte da União de Calmar e porque os Varegues também entraram em declínio na mesma época que os Viking, cerca de cinqüenta anos antes) limitaram-se a manterem vivas as relações comercias com as regiões que colonizaram ou dominaram no passado. Entretanto, a Dinamarca começou a exercer certa preponderância sobre as outra duas, passando a influir diretamente sobre a Suécia (e consequentemente sobre a Finlândia que, na época, não passava de um Ducado da Suécia), mas não tão efetivamente sobre a Noruega, que mantivera suas relações com Islândia e Groenlândia (que aceitou a soberania Norueguesa em 1261, antes porém, a Noruega já exercia influência cada vez mais forte na região), apesar de ter perdido em definitivo qualquer poder sobre o Ducado das Órcadas, que agora obedecia à Escócia e também sobre a sua porção da Irlanda, que em 1170 foi derrotada e em 1171 tomada pelos Ingleses, governados pelos Rei Henrique II. O glorioso passado Viking e Varegue já era muito mais distante nas conseqüências do que no tempo, ou seja, os Reinos Escandinavos estavam resumidos a uma pobreza muito grande, salvo pela Dinamarca que aumentava cada vez mais seu domínio comercial no Báltico. Entretanto, em 1370, Lübeck venceu Valdemar IV, Rei da Dinamarca, após uma guerra de nove anos, e estabeleceu o domínio do comércio no mar Báltico, pela Liga Hanseática (Federação Comercial de cidades do norte da Alemanha). Valdemar IV era pai de Alberto, Rei da Suécia, e de Margaret, Rainha Consorte (esposa do Rei, quando quem governa é o Rei) da Noruega. Pois bem, após sua derrota (a de Valdemar IV). Margaret começou a pensar numa maneira de restabelecer o poder dos países Escandinavos frente ao crescente poderio da Liga Hanseática. Nessa mesma época, Alberto, da Suécia, morreu e quem herdaria seu trono seria Érico, seu neto, uma vez que seu filho havia morrido. Porém Érico era apenas uma criança, e sua parente mais próxima era a tia-avó Margaret, agora também Rainha da Dinamarca, depois da morte do pai Valdemar IV. Aproveitando-se de toda esta confusão nas sucessões dinásticas dos países Escandinavos, Margaret resolveu convencer todas as três nobrezas a jurarem lealdade a seu sobrinho-neto Érico. As nobrezas se reuniram e assinaram, em 1397, o que ficou conhecido como União de Calmar. À partir dessa data, Suécia (e Finlândia), Dinamarca e Noruega (Islândia e Groenlândia) estariam unidas sob uma só Monarquia, porém, as leis de cada país continuariam a ser diferentes. Margaret utilizou os pretextos de que Érico era uma criança e de que ela era sua parente mais próxima, para governar em seu lugar (por toda sua vida (vida de Margaret)). Sendo assim, a Noruega assumiu a preponderância na União de Calmar, com Margaret reinando na Suécia e Dinamarca e seu marido reinando na Noruega. Porém, após a morte de Margaret, em 1412, Érico assumiu o trono Escandinavo de fato, mas o Rei da Noruega não quis abdicar de seus privilégios, uma vez que por ser o marido de Margaret, ele além de continuar governando seu país, ainda governava os outros. Sendo assim, a Noruega passou a integrar a União apenas no papel, pois de fato não fazia mais parte dela. O fato de a Noruega não participar efetivamente da União de Calmar, estimulou a Liga Hanseática, contra a qual a União de Calmar havia sido criada, a se infiltrar no país, fazendo de Bergen um de seus principais centros administrativos e assim, sob a proteção Norueguesa, podendo exercer o comércio no Báltico com muita facilidade. A influência da Liga Hanseática sobre a Noruega e a recusa desta em integrar de fato a União de Calmar, aceleraram seu desmantelamento (da União de Calmar), que ocorreu finalmente em 1523. Da extinção da União de Calmar, surgiram os países Escandinavos da forma que os conhecemos hoje, exceto a Finlândia, que só conseguiu sua independência total bem depois, em 1917 (devido a Revolução Russa, pois a Rússia dominava o país desde 1713, quando o Czar Pedro, o Grande o tomou da Suécia). 8.3 – O Fim da Groenlândia: A Groenlândia nunca foi densamente povoada devido às suas condições climáticas horríveis. Mesmo assim, havia pelo menos duas cidades Gardar e Godthaab, além de vilas (ou fazendas), como Brattahlid. Os Esquimós que habitavam as regiões central e do norte sempre foram hostis aos Noruegueses, pois os consideravam inimigos. No entanto, os contatos entre eles eram muito esporádicos devido a distância de suas povoações. Uma catástrofe da natureza porém, começou a colocar fim às povoações da Groenlândia, por volta da metade do século XIV. Na realidade, neste período ocorreu aquilo que os estudiosos chamam de Pequena Glaciação, ou seja, um período como o Período Glacial, só que com conseqüências bem mais brandas, talvez devido a um pequeno afastamento da Terra em relação ao Sol. Essa Pequena Glaciação levou a uma diminuição brutal das temperaturas em toda a região Ártica, e também nas proximidades dela. Sendo assim, a vida se tornou quase impraticável no norte de países como a Groenlândia e os países Escandinavos. O que causou a morte de muitas pessoas e a migração para o sul, de outras. Como se pode notar no mapa de item 2.1, a chamada Colônia Ocidental da Groenlândia, cuja capital era Godthaab, localizava-se muito mais ao norte do que a Colônia Oriental, por isso, a vida lá se tornou muito difícil, devido ao congelamento da água potável, e até de áreas da água do mar, próximas a terra. Além disso, a agricultura se tornou impraticável na região. Como se não bastassem essas duas catástrofes para destruírem a Colônia Ocidental, a Noruega começou a fazer contatos cada vez mais esporádicos com a região, em virtude de suas relações com a Liga Hanseática estarem sendo mais lucrativas do que o pobre comércio que desenvolvia com a Groenlândia. Os contatos foram se tornando cada vez mais raros, até que se enceraram por volta de 1370, com a Colônia Ocidental e por volta de 1450, com a Colônia Oriental, mais próxima da Noruega. Além desta outra tragédia, os Esquimós, que viviam mais para o centro e para o norte da ilha, começaram a procurar o sul e o litoral, por serem menos frios. O que os levou por volta de 1390, a destruir com suas incursões a cidade de Godthaab. Na verdade, eles não destruíram a cidade, apenas mataram todos os seus habitantes (os poucos que haviam resistido ao frio) e ocuparam suas casa, que eles consideravam mais quentes do que seus iglus. As ameaças do frio, do fim do interesse Norueguês e dos ataques (cada vez mais freqüentes) dos Esquimós, estavam também atormentando as populações de Gardar e Brattahlid, mas por essa região se situar mais ao sul e também mais perto da Noruega, ela não só era menos fria como também mais populosa do que a Colônia Ocidental, sedo assim, é provável que seus habitantes tenham conseguido sobreviver até por volta de 1510, mas depois disso, os Esquimós conquistaram totalmente a região, terminando com aquele que havia sido o mais brilhante esforço colonizador da Era Viking e de toda a Europa na Idade Média: a Groenlândia. Mas a Groenlândia é conhecida e ocupada (mesmo que pouco) ainda hoje, então como você pode dizer que sua povoação foi destruída e extinta em 1510? Bem, é simples, mais tarde, em 1721, um missionário Dinamarquês chamado Hans Egede, acreditando no que diziam as Sagas Vikings, escritas por autores Islandeses no século XIV, navegou rumo a Groenlândia e qual não foi sua surpresa quando constatou que as Histórias eram verdadeiras, ou seja, que existia de fato a ilha mencionada nas Sagas. Sendo assim, ele tomou posse do território em nome da Dinamarca e ele pertence a esta até hoje. A cidade de Godthaab foi encontrada e reconstruída, sendo hoje a capital da província da Groenlândia, que é também a maior ilha do mundo. 9 – Bibliografia e Fontes Visuais: CALVINO, João. Sobre o Governo Civil GIBSON, Michael. Os Vikings LUTERO, Martinho. Sobre a Autoridade Secular McEVEDY, Colin. Atlas da História Medieval PERRUDIN, Françoise. Civilizações Antigas TRIGGS, Tony D.. Os Saxões Dicionário da Idade Média. Organização: LOYN, Henry R.. Revisão Técnica: FRANCO, Hilário Junior Vários. Grande Enciclopédia Delta Larousse Revista Veja de abril de 2000 Além da Bibliografia acima citada, ainda utilizei-me de diversos sites em Português e Inglês sobre Vikigs e o Ásatrú. Para encontrar tais sites, basta ir aos sites de busca e procurar por Vikigs, Viking, Vinland, Asatru, Noruega, Dinamarca, Idade Média, Medieval Age...