do arquivo - Associação Brasileira de Horticultura

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Volume 22 número 1
janeiro-março 2004
SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
ISSN 0102-0536
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A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo CAB, AGROBASE,
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Programa de apoio a publicações científicas
Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983
Trimestral
Títulos
anteriores:
V.
V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.
1-3,
1961-1963,
Olericultura.
Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969.
Periodicidade até 1981: Anual.
de 1982 a 1998: Semestral
de 1999 a 2001: Quadrimestral
a partir de 2002: Trimestral
ISSN 0102-0536
1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Sociedade de Olericultura do
Brasil.
CDD 635.05
Tiragem: 1.000 exemplares
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Volume 22 número 1
janeiro-março 2004
ISSN 0102-0536
SUMÁRIO/CONTENT
PESQUISA / RESEARCH
Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação
Tomato crop production under different substrates and greenhouse models
O. A. Carrijo; M. C. Vidal; N. V. B. Reis; R. B. Souza; N. Makishima
Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos
Vegetative propagation of the wild basil using different types of cuttings and substrata
P. A. D. Ehlert; J. M. Q. Luz; R. Innecco
Coeficientes de variação de algumas características do meloeiro: uma proposta de classificação
Coefficients of variation of some melon yield components and fruit quality traits: a proposal for classification
L. L. Lima; G. H. S. Nunes; F. Bezerra Neto
Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola
Influence of genotype and maturity stage at harvest on fresh weight, quality and cure of onion
V. L. F. Soares; F. L. Finger; P. R. Mosquim
Produção do melão rendilhado em função da concentração de potássio na solução nutritiva e do número de frutos por planta
Net melon yield as affected by potassium concentration in nutrient solution and number of fruits per plant
C. C. Costa; A. B. Cecílio Filho; R. L. Cavarianni; J. C. Barbosa
Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido
Effects of dosage and types of organic composts in the production of lettuce in two soils under protected environment
R. L. Villas Bôas; J. C. Passos; D. M. Fernandes; L. T. Büll; V. R. S. Cezar; R. Goto
Efeito do retardamento da colheita, na qualidade e na vida útil do melão Orange Flesh
Effect of the harvest delay on the quality and post-harvest shelf-life of Orange Flesh melons
F. V. S. Mendonça; J. B. Menezes; V. A. Gois; A. A. Guimarães; G. H. S. Nunes; C. F. Mendonça Júnior
Crescimento de singônio com diferentes tutores e substratos à base de mesocarpo de coco
Growth of arrowhead plants with different supporting sticks and potting media
N. A. Souza; J. Jasmim
Enxertia em plantas de pimentão no controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido
Sweet pepper grafting to control phytophthora blight under protected cultivation
H. S. Santos ; R. Goto
Efeitos de inundações temporárias do solo em plantas de ervilha
Effects of temporary waterlogging in pea plants
J. S. Sá; D. E. Cruciani; K. Minami
Divergência genética entre acessos de taro
Genetic diversity in taro accessions
F. H. F. Pereira; M. Puiatti; G. V. Miranda; D. J. H. Silva; F. L. Finger
Crescimento e produção de cúrcuma (Curcuma longa L.) em função de adubação mineral e densidade de plantio
Growth and production of turmeric as a result of mineral fertilizer and planting density
N. F. Silva; P. E. Sonnenberg; J. D. Borges
Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal
Interaction genotype x environment of lettuce cultivars in Jaboticabal, Brazil
E. B. Figueiredo; E. B. Malheiros; L. T. Braz
Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e patogenicidade
Root-knot nematode: cultivars reaction and damage to radish
C. E. Rossi; P. T. Montaldi
Armazenamento de melão amarelo, híbrido RX 20094, sob temperatura ambiente
Yellow melon, RX 20094 hybrid, stored at room temperature
F. V. S. Mendonça; J. B. Menezes; A. A. Guimarães; P. A. Souza; A. N. Simões; G. L.F.M. Souza
Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil
Races of Xanthomonas spp. associated to bacterial spot in processing tomatoes in Brazil
A. M. Quezado-Duval; L. E. A. Camargo
Resposta do coentro à adubação fosfatada em solo com baixo nível de fósforo
Effect of phosphorus fertilization on the yield of coriander in soil with low levels of phosphorus
A. P. Oliveira; L. R. Araújo; J. E. M. F. Mendes; O. R. Dantas Júnior; M. S. Silva
Variabilidade genética de Diadegma sp., parasitóide da traça-das-crucíferas, através de RAPD-PCR
Genetic variability of Diadegma sp., parasitoid of diamondback moth using RAPD-PCR
R. Monnerat; S. Leal-Bertioli; D. Bertioli; T. Butt; D. Bordat
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Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide
Accumulation and exportation of macronutrients by watermelon Tide hybrid
L. C. Grangeiro; A. B. Cecílio Filho
Qualidade do melão exportado pelo porto de Natal
Quality of melon exported through the port of Natal, Brazil
R. Sales Júnior.; S. P. F. Soares; J. Amaro Filho; G. H. S. Nunes; V. S. Miranda
Mapa de preferência de couve minimamente processada
Preference mapping of fresh-cut collard
M. I. S. Dantas; V. P. R. Minim; R. Puschmann; J. D. S. Carneiro; R. L. Barbosa
Relações alométricas para estimativa da fitomassa aérea em pupunheira
Peach palm biomass estimates based on allometric relationships
F. V. A. Vega; M. L. A. Bovi; S. H. Spiering; G. Godoy Júnior
Desidratação de sementes de quatro lotes de pupunheira: efeitos sobre a germinação e o vigor
Dehydration effects on germination and vigor of four pejibaye seedlots
M. L. A. Bovi; C. C. Martins; S. H. Spiering
Caracterização morfológica e agronômica de acessos de manjericão e alfavaca
Morphologic and agronomic characterization of basil accessions
A. F. Blank; J. L.S. Carvalho Filho; A. L. Santos Neto; P. B. Alves; M. F. Arrigoni-Blank; R. Silva-Mann; M. C. Mendonça
Rendimento e qualidade de cultivares de pepino para processamento em função do espaçamento de plantio
Effect of plant spacing on the yield and quality of pickling cucumber cultivars
G. M. Resende; J. E. Flori
Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1-metilciclopropreno
Postharvest storage of Galia ‘Solar King’ muskmelon under 1-methylcyclopropene
M. A. C. Lima; R. E. Alves; C. I. Biscegli; H. A.C. Filgueiras; F. M. Cocozza
Efeito de composto orgânico sobre a produção e características comerciais de alface americana
Effect of organic compost on crisp head lettuce production and commercial characteristics
J. E. Yuri; G. M. Resende; J. C. Rodrigues Júnior; J. H. Mota; R. J. Souza
Aplicação de biossólido na implantação da cultura da pupunheira
Sewage sludge application on peach palm (Bactris gasipaes Kunth)
F. V. A. Vega; M. L.A. Bovi; R. S. Berton; G. Godoy Júnior; M. A.R. Cembranelli
Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana
Path coefficient analysis between vegetative and heart-of-palm yield traits in Australian King palm
R. P. Uzzo; M. L.A. Bovi; S. H.Spiering; L. A. Sáes
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PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE
Crescimento e absorção de nutrientes pelo Lisianthus (Eustoma grandiflorum) cultivado em solo
Growing and nutrients absorption by lisianthus (Eustoma grandiflorum) cultivated in soil
M. S. Camargo; L. K. Shimizu; M. A. Saito; C. H. Kameoka; S. C. Mello; Q. A. C. Carmello
Modificações sensoriais em cenoura minimamente processada e armazenada sob refrigeração
Sensory modifications of fresh cut carrots stored under refrigeration
J. M. Resende; A. F. S. Coelho; E. C. Castro; O. J. Saggin Júnior; T. Nascimento; B. C. Benedetti
Intensidade de ataque de tripes, de alternaria e da queima-das-pontas em cultivares de cebola
Intensity of attacks of thrips, purple blotch and gray mold on onion cultivars
G. L. D. Leite; M. C. Santos; S. L. Rocha; C. A. Costa; C. I. M. Almeida
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EEONOMIA E EXTENSÃO RURAL / ECONOMY AND RURAL EXTENSION
Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90
Performance of the Brazilian agrindustrial chain of tomato in the 90’s
P. C. T. Melo; N. J. Vilela
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COMUNICAÇÃO
162
AGRADECIMENTO /
162
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
pesquisa
CARRIJO, O.A.; VIDAL, M.C.; REIS, N.V.B.; SOUZA, R.B.; MAKISHIMA, N. Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de
vegetação. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p.05-09, jan-mar 2004.
Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas
de vegetação
Osmar A. Carrijo; Mariane C. Vidal; Neville V.B. dos Reis; Ronessa B. de Souza; Nozomu Makishima
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Um experimento com a cultura do tomate, foi instalado na
Embrapa Hortaliças em Brasília, durante os anos de 2000 e 2001,
para avaliar a produção do tomateiro em diferentes substratos e casas de vegetação. Os substratos utilizados foram casca de arroz, casca de arroz parcialmente carbonizada, fibra de coco verde, lã de
rocha, maravalha, serragem e substrato para produção de mudas utilizado na Embrapa Hortaliças (150 L de terra de subsolo, 50 L de
casca de arroz parcialmente carbonizada e 17 L de esterco de galinha). Os modelos de casas de vegetação utilizados foram teto em
arco, arco com teto convectivo e capela. Não foi verificada diferença estatística significativa quanto a produção de frutos comerciais
entre os substratos fibra de coco (10,4 kg m-2), serragem (9,3 kg m-2),
casca de arroz carbonizada (9,3 kg m-2) e maravalha (9,0 kg m-2). A
menor produção foi obtida com o substrato lã de rocha (6,4 kg m-2).
Houve redução da produção entre os anos de cultivo, em torno de
33%, em decorrência de um intenso ataque de traça do tomateiro
(Tuta absoluta) em todas as casas de vegetação, prejudicando a produtividade. O maior peso médio dos frutos foi obtido sobre a fibra
de coco (128 g m-2) e casca de arroz carbonizada (123 g m-2), independente do modelo de casa de vegetação utilizado.
Tomato crop production under different substrates and
greenhouse models
The trial was carried out at Embrapa Hortaliças, in Brasilia,
Brazil, to evaluate the performance of tomato crop production during
two years (2000 and 2001), under three greenhouse models and
different types of substrates. The greenhouse models were arch roof;
even span and an arch roof with upper convective aperture. The
substrates were rice husk, carbonized rice husk, coconut fiber,
sawdust, coarsed sawdust, rockwool and a substrate for seedling
production used at Embrapa Hortaliças. No significant statistical
difference was verified for tomatoes cultivated in coconut fiber (10,4
kg m-2), sawdust (9,9 kg m-2), carbonized rice husk (9,3 kg m-2) and
coarse sawdust (9,0 kg m-2). On the other hand, the smallest
production was obtained for tomatoes cultivated in rockwool (6,4
kg m-2 ). There was a yield reduction between cultivation years due
to the South American tomato moth (Tuta absoluta) in all
greenhouses. Coconut fiber and carbonized rice husk yielded the
heaviest fruits, 128 g and 123 g respectively.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, fertirrigação, cultivo sem
solo, solução nutritiva.
Keywords: Lycopersicon esculentum, fertigation, nutrient solution,
soilless culture.
(Recebido para publicação em 7 de maio de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003)
A
crescente demanda por hortaliças
de alta qualidade e ofertadas durante o ano todo tem contribuído para o investimento em novos sistemas de cultivo que permitam produção adaptada a
diferentes regiões e condições adversas
do ambiente. No Brasil, o cultivo de hortaliças em ambiente protegido, vem ganhando espaço entre os produtores, devido principalmente, à relativa facilidade em manejar as condições de cultivo
quando comparado ao sistema convencional em campo aberto.
A utilização do plástico na
olericultura tem sido bastante empregada no Brasil, desde a década de 70, inicialmente com a cultura do morango
(Goto, 1997). Com o incremento desta
prática, houve necessidade do desenvolvimento de tecnologias para cultivo de
hortaliças sob estruturas de proteção o
que vem sendo realizado sempre busHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
cando aliar produtividade a custos reduzidos de produção.
No que se refere às estruturas de proteção, as casas de vegetação permitem
alterar o microclima de um determinado ambiente, viabilizando o cultivo de
hortaliças em épocas desfavoráveis do
ano (Martins et al., 1994), bem como
ampliar o período de produção
(Makishima e Carrijo, 1998), proporcionando maior produtividade e melhor
qualidade de frutos (Loures et al., 1998).
A busca de práticas que concentrem a
produção sob estruturas de proteção na
entressafra é importante para regularizar o abastecimento e obter preços mais
elevados (Streck et al., 1998).
Cultivos em substratos demonstram
grande avanço frente aos sistemas de
cultivo no solo, pois oferecem vantagens
como o manejo mais adequado da água,
o fornecimento de nutrientes em doses
e épocas apropriadas, a redução do risco de salinização do meio radicular e a
redução da ocorrência de problemas
fitossanitários, que se traduzem em benefícios diretos no rendimento e qualidade dos produtos colhidos (Andriolo
et al., 1999). O substrato deve apresentar algumas propriedades físicas e químicas intrínsecas importantes para sua
utilização como, boa capacidade de retenção de água, na faixa de 1 a 5 kPa,
alta disponibilização de oxigênio para
as raízes, capacidade de manutenção da
proporção correta entre fase sólida e líquida, alta capacidade de troca catiônica
(CTC), baixa relação C/N entre outras
(Martinez, 2002; Fernandez e Gomes,
1999; Martinez e Barbosa, 1999).
A necessidade de se caracterizar produtos encontrados nas diferentes regiões
do país e torná-los disponíveis como
substrato agrícola é fundamental para
5
Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação
reduzir os custos da produção (Andriolo
et al., 1999). Além disso, a questão
ambiental deve ser considerada na escolha dessas matérias primas para produção de substratos. Na Europa, por
exemplo, existe a preocupação em se
desenvolver novos substratos a fim de
substituir a utilização da turfa, pois é um
recurso natural não renovável
(Baumgarten, 2002). É importante desenvolver substratos de baixo custo, de
fácil utilização, de longa durabilidade e
recicláveis, ou ainda, desenvolver métodos para reaproveitá-los no cultivo
convencional e na melhoria das condições químicas e físicas do solo (Sassaki,
1997). Nesse sentido, uma boa oportunidade seria desenvolver meios para utilização da casca do coco verde, cuja
água é bastante consumida hoje no Brasil, não só na região litorânea mas em
todo o território nacional. Após o consumo da água de coco, a casca é descartada provocando problemas nas cidades,
pois ocupam um grande volume e apresentam decomposição lenta (Carrijo et
al., 2002).
Nunes (2000) relatou que o pó de
coco é um excelente material orgânico
para formulação de substratos devido às
suas propriedades de retenção de umidade, aeração do meio de cultivo e
estimulador de enraizamento. Silveira et
al. (2002) verificaram que a utilização
de pó de coco verde como substrato reduziu o custo da produção de mudas de
tomateiro em torno de 47%, além de
constituir um subproduto abundante da
agroindústria do coco, de ampla disponibilidade e de baixo valor no mercado.
Bezerra e Rosa (2002) verificaram que
o uso do pó de coco verde como
substrato para enraizamento de estacas
de crisântemo possibilita formação de
raízes com maior volume e espessura e
alta percentagem de enraizamento. Contudo, outros estudos são necessários para
avaliar características de desenvolvimento das plantas nesses substratos,
importantes para seu estabelecimento e
produção final.
Este trabalho objetivou avaliar a eficiência de diferentes substratos para o
cultivo do tomateiro em três modelos de
casa de vegetação, a partir de produtos
facilmente disponíveis na região do Distrito Federal e considerando a necessidade de se desenvolver técnicas que
6
possibilitem regularizar as ofertas de
produtos durante todo o ano.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos
na Embrapa Hortaliças, em Brasília (latitude: 15º 56’, longitude: 48º 08’, altitude: 997,6 m) nos anos de 2000 (época
seca) e 2001 (época chuvosa). Foram
utilizados os tomates cultivar TX no ano
de 2000 e Larissa em 2001.
As casas de vegetação utilizadas foram do tipo capela, tipo arco e tipo arco
com teto convectivo, todas com 50 m de
comprimento, 8 m de largura e pé direito
de 2,5 m, cobertas com polietileno de
baixa densidade (PEBD) de 150 mm. Os
substratos utilizados para o cultivo foram
casca de arroz, casca de arroz parcialmente carbonizada, fibra de coco verde, lã de
rocha, maravalha, serragem e uma adaptação do substrato para produção de mudas utilizado na Embrapa Hortaliças. A
fibra de coco verde foi obtida conforme
metodologia descrita por Carrijo et al.
(2002). A maravalha constituiu-se em
raspas de madeira obtidas a partir do aparelhamento da madeira. O substrato
Embrapa Hortaliças utilizado para produção de mudas foi constituído de 150 L
de terra de subsolo, 50 L de casca de arroz parcialmente carbonizada e 17 L de
esterco de galinha. Para cada 50 L da mistura adicionou-se 100 g da formulação
4–30–16 de N, P2O5, K 2O, 100 g de
calcário dolomítico e 40 g de
termofosfato com boro e zinco (0,1% de
B e 0,55% de Zn).
Para caracterização dos substratos
foram determinados a capacidade de
aeração (CapAr), que é a porosidade após
cessado o processo de drenagem; a água
facilmente disponível (AFD), que é a
umidade entre 1 e 5 kPa e a água de reserva (ARes), que é o teor de umidade
entre as tensões de 5 e 10 kPa. Os teores
de nutrientes totais, pH e condutividade
elétrica de cada substrato foram determinados antes de cada plantio.
Para determinação da curva de retenção de umidade foram utilizadas células de pressão com cilindro médio de
5,37 cm de diâmetro por 2,98 cm de altura e controle de pressão por
manômetro de água. Os substratos foram colocados em cilindros, saturados,
e deixados em repouso por 24 horas.
Após esse período, foram novamente
saturados e submetidos à pressão de trabalho. Todos os pontos da curva foram
determinados com a mesma amostra
antes do plantio e ajustados pelo modelo de Van Genutchten (1980).
Os substratos foram acondicionados
em contentores plásticos tipo bisnagas
(“slabs”) de 1,05 m de comprimento por
0,30 m de diâmetro. Foram colocadas 3
bisnagas por parcela na posição horizontal, e em cada uma foram transplantadas
3 mudas no espaçamento de 0,35 m entre plantas e 1,0 m entre fileiras. Todos
os nutrientes foram aplicados via
fertirrigação, utilizando a solução nutritiva de Hochmuth (1995). O tutoramento
feito na vertical com uma haste por planta e os demais tratos culturais foram os
recomendados para a cultura do tomateiro. A irrigação foi por gotejamento
com um gotejador de múltiplas saídas
(uma por planta), para manter drenagem
de 30% do total aplicado, que foi avaliado diariamente e a partir do qual a irrigação foi ajustada, segundo os estádios de
desenvolvimento da planta.
Foram avaliados o peso médio dos
frutos e a produção de frutos comerciais
ao final do ciclo de cultivo (120 dias em
2000 e 150 dias em 2001).
O delineamento experimental utilizado foi hierarquizado (nested design)
em blocos casualizados com quatro repetições. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e teste de
Tukey a 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação aos diferentes tipos de
casa de vegetação utilizados, não houve diferença estatística significativa para
a produção de frutos comerciais de tomate (Tabela 1). A produção média obtida foi de 9,13 kg m-2 na casa do tipo
arco, 8,99 kg m-2 na casa tipo arco com
teto convectivo e de 8,54 kg m-2 na casa
do tipo capela. Esses resultados podem
estar relacionados com alguns fatores
importantes que devem ser considerados quando se trabalha em casa de vegetação, tais como radiação solar incidente, temperatura, direção e velocidade dos ventos, entre outros (Walker e
Duncan, 1971; Makishima e Carrijo,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
O. A. Carrijo et al.
Tabela 1. Produção comercial (kg m-2), peso médio (g) e número de frutos de tomate com podridão apical (m-2) em diferentes substratos sob
cultivo protegido, média de dois anos. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000/2001.
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
– não significativo.
NS
Tabela 2. Valores médios da capacidade de aeração (CapAr), água facilmente disponível (AFD)
e água de reserva (ARes) dos substratos avaliados. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2003.
2000). No primeiro ano de cultivo, a
temperatura média da casa do tipo capela (26,5ºC) foi a mais alta atingida
durante o período experimental, comparado as demais casas (25ºC tipo arco
e 24ºC tipo arco com teto convectivo).
Martins et al. (1994) verificaram que a
casa de vegetação tipo capela, comparada a outras casas de vegetação, proporciona menor produção, que pode estar relacionada à menor radiação solar
incidente neste tipo de casa de vegetação, que reduz a taxa assimilatória, diminuindo conseqüentemente a alocação
de reservas para formação dos frutos.
No segundo ano de cultivo (2001) a
produção total obtida foi cerca de 33%
inferior a do primeiro ano de cultivo
(2000). Essa redução foi atribuída a um
severo ataque de traça do tomateiro
(Tuta absoluta) no final do ciclo da cultura, igualmente distribuído por toda a
cultura, nas três casas de vegetação, o
que causou morte dos ponteiros, reduzindo o período de colheita e a produtiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
vidade. Em 2000, a produção do tomateiro cultivado em fibra de coco foi de
12,5 kg m-2, em casca de arroz carbonizada (11,6 kg m-2), serragem (11,3 kg
m-2 ) e maravalha (10,6 kg m-2 ). No ano
de 2001, o substrato fibra de coco proporcionou produção de 8,3 kg m-2, serragem 8,5 kg m-2, substrato da Embrapa
Hortaliças 7,7 kg m-2, maravalha 7,5 kg
m-2, casca de arroz carbonizada 7,0 kg
m-2, casca de arroz 6,0 kg m-2 e lã de
rocha 4,6 kg m-2. Carrijo et al. (2002)
obtiveram produtividade de tomate cultivado em fibra de coco verde de até 18,9
kg m-2 em casa de vegetação.
Com relação ao peso médio dos frutos (Tabela 1), os substratos fibra de
coco verde e casca de arroz carbonizada proporcionaram os maiores pesos
médios, 128,2 g e 123,3 g, respectivamente. Os menores pesos médios foram
obtidos nos cultivos sob lã de rocha
(107,4 g) e casca de arroz (110,7 g).
Esses resultados podem estar relacionados à capacidade de disponibilização de
nutrientes e água de cada substrato. Para
que haja um desenvolvimento harmônico, é essencial que cada um dos órgãos ou tecidos receba a quantidade necessária de assimilados e que esse abastecimento seja efetuado no tempo correto. Dessa forma, é possível suprir uma
região de franco crescimento e evitar
que outro órgão de menor atividade seja
abastecido (Larcher, 2000). Se ocorrer
algum distúrbio durante essas mudanças de prioridade no vegetal, sejam elas
ambientais ou endógenas, todo o desenvolvimento pode ser prejudicado.
As maiores perdas durante a produção foram detectadas em frutos devidas
à podridão apical (Tabela 1). Os maiores índices ocorreram no substrato casca de arroz parcialmente carbonizada
(15,5 frutos m-2) que diferiu significativamente apenas de serragem (8,8 frutos
m-2) e lã de rocha (8,3 frutos m-2). É possível que as perdas estejam relacionadas à deficiência hídrica, pois os
substratos que apresentaram menor incidência de podridão, serragem e lã de
rocha, são aqueles que retém mais água
na faixa de 1 a 5 kPa (água facilmente
disponível) (Tabela 2). A umidade de
reserva da lã de rocha é extremamente
baixa, o que acarretou déficit hídricos
em períodos de alta evapotranspiração
(Figura 1). Nos substratos constituídos
por casca de arroz, a água disponível
diminui rapidamente exigindo irrigações
muito freqüentes (Andriolo et al., 1999).
Segundo Passos (1999), além da
deficiência hídrica, a podridão apical
pode ser decorrente de distúrbios
7
Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação
Tabela 3. Características químicas em sete substratos em plantios sucessivos de tomateiro. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2003.
nd – não determinado
nutricionais relacionados principalmente com a deficiência de cálcio. Esse elemento, é um importante constituinte da
lamela média da membrana celulósica
e sua deficiência causa má formação da
parede celular, podendo ser responsável
pela rachadura dos frutos. Embora com
alta demanda evapotranspiratória no interior das casas de vegetação, no período experimental, a quantidade de Ca absorvida pelas plantas não foi suficiente
para evitar a podridão apical nos diferentes substratos. Sob algumas condições, como baixa umidade relativa contínua, mesmo com alta disponibilidade
de cálcio no solo, a maior parte da água
absorvida é dirigida para as folhas maduras para manter a hidratação do vegetal. Desta forma, muito pouco cálcio
chega aos pontos de crescimento e frutos, e eles se tornam deficientes (Adams,
1986).Os frutos apresentam relativamente baixa capacidade transpiratória e
o cálcio é um elemento de baixa mobilidade no floema, assim, seu movimento para os frutos se dá predominantemente por fluxo de massa via xilema
8
Figura 1. Curva de retenção de água ajustada pelo modelo de Van Genuchten (1980) dos
substratos utilizados para cultivo de tomate. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000/2001.
impulsionados pela pressão radicular, processo que normalmente ocorre à noite
quando a umidade relativa aumenta. Neste caso, para evitar ou minimizar a incidência da podridão estilar faz-se necessário realizar pulverizações semanais com
este nutriente direcionadas para os frutos.
Para um bom substrato a água facilmente disponível, deve estar entre 20 a
30% de umidade volumétrica, a água de
reserva entre 4 e 10% e a capacidade de
aeração entre 20 e 30% (Abad e
Noguera, 2000). Somente a serragem
apresentou valores dentro dos intervaHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
O. A. Carrijo et al.
los recomendáveis (Tabela 2). No
substrato Embrapa Hortaliças a capacidade de aeração foi menor que o mínimo recomendável o que causou problemas na cultura em períodos de baixa
demanda evaporativa.
O cultivo sucessivo nos substratos
aumentou a concentração de nutrientes.
O teor de Fe foi excessivo indicando a
necessidade de ajustes na solução nutritiva (Tabela 3). A relação C/N muita
alta no material inicial de serragem,
maravalha e fibra de coco verde indica
a necessidade de enriquecimento com
N para o melhor desenvolvimento inicial das plantas. Espera-se que em cultivos subsequentes todos os materiais,
com exceção da lã de rocha, apresentem redução da relação C/N. Com apenas dois cultivos, a relação C/N dos
substratos fibra de coco verde,
maravalha e serragem já diminuiu consideravelmente. Segundo Abad e
Noguera (1998) relação C/N entre 20 e
40 indica um substrato constituído por
material orgânico maduro e estável, condição alcançada na fibra de coco verde,
casca de arroz carbonizada e substrato
Embrapa Hortaliças. A relação C/N da
lã de rocha, material inerte, deve-se à
presença de raízes dos cultivos.
Os dados apresentados sugerem que
a fibra de coco verde pode constituir um
excelente substrato para o cultivo de
tomate em ambiente protegido possibilitando obter-se alta produtividade com
qualidade.
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Brasileira, Brasília, v.22, n1, p. 10-13, jan-mar 2004.
Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de
estacas e substratos1
Polyana Aparecida D. Ehlert1; José Magno Q. Luz2; Renato Innecco3
1
UNESP-FCA-Depto Horticultura, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected]; 2UFU-ICIAG, C. Postal
593, 38400-902 Uberlândia-MG; 3UFC-Depto Fitotecnia, C. Postal 12.168, 60356-001 Fortaleza-CE.
RESUMO
ABSTRACT
A propagação vegetativa é considerada importante ferramenta
para o melhoramento de espécies lenhosas e herbáceas e vem sendo
amplamente utilizada, visando melhorar e manter variedades de
importância econômica e medicinal. Neste contexto utilizou-se estacas de alfavaca-cravo de 15 cm para apicais e 25 cm para as medianas, sendo estas com e sem folhas. As estacas foram plantadas em
bandejas de isopor de 72 células, utilizando-se 10 substratos. Após
35 dias, as estacas foram retiradas com cuidado, sendo as partes
aéreas e radiculares separadas e acondicionadas em saco de papel e
mantidas em estufa a 70°C por 48 h para posterior avaliação da
matéria seca. Analisou-se a percentagem de enraizamento, número
de folhas na estaca, peso de matéria seca de folha e de raiz. Não
houve interação significativa entre os diferentes tipos de substrato e
estaca para percentagem de enraizamento, sendo que os substratos
de modo geral diferiram pouco entre si. Entre os tipos de estaca
destacaram-se para esta variável a mediana sem folha e a apical com
folha. Para as demais variáveis houve interação significativa entre o
tipo de estaca e o substrato. A melhor estaca foi a mediana sem folhas plantadas em substrato arisco + esterco + húmus e vermiculita
nas seguintes proporções: 20%:40%:40%; 40%:20%:40% e
40%:40%.
Vegetative propagation of the wild basil using different types
of cuttings and substrata
Palavras-chave: Ocimum gratissimum L., mudas, planta medicinal.
Keywords: Ocimum gratissimum L., seedlings, medicinal plant.
The vegetative propagation is an important tool for the
improvement of woody and herbaceous species and could be an
important tool to improve and to maintain varieties of economic and
medicinal importance. In this experiment cuttings 15 cm long of the
apical portion and also 25 cm long cuttings of the medial portion of
the stems, were used both with and without leaves. The cuttings
were planted on styrofoam trays with 72 cells, using 10 different
substrata. After 35 days, cuttings were carefully removed, the aerial
portion being separated from the roots and conditioned in paper bags
and maintained in a stove at 70°C for 48 h, for the dry weight
evaluation. There were analyzed the percentage of rooting, number
of leaves per cutting and leaf and root dry weight. There was no
interaction among substrata and cuttings for the percentage of rooting.
Were no significant differences in the rooting among the different
substrata used in the experiment there. Better rooting was observed
on cuttings from the medial portion of the stem without leaves and
from the apical portion with leaves. For the other variables there
was significant interaction between the cuttings and the substrata.
The cutting that presented best results were those from the medial
portion without leaves in the substrata with A+E sandy soil + humus
+ vermiculite in the following proportions: (20%: 40%:40%);
(40%:20%:40%) and (40%:40%:20%) respectively.
(Recebido para publicação em 29 de novembro de 2002 e aceito em 18 de setembro de 2003)
A
alfavaca-cravo (Ocimum
gratissimum L.) pertence à família Labiatae, originária da Ásia e África
(Correa Júnior, 1994; Matos, 1998),
apresentando-se como perene nessas
regiões; em regiões frias é anual. É planta alógama e seu melhoramento pode ser
difícil devido ao tamanho da flor e de
suas características reprodutivas. A propagação vegetativa pode ser a solução
para a manutenção e multiplicação dessa espécie.
Hibrida-se facilmente, apresentando
grande número de subespécies e variedades (Correia Júnior, 1994). Muitas
espécies de plantas cultivadas, tanto
lenhosas como herbáceas, são altamente heterozigotas; portanto, a propagação
vegetativa é ferramenta importante para
o melhoramento dessas culturas, devido à eficiência e rapidez na fixação de
genótipos com características desejáveis
e formação de clones superiores
(Hartmann et al., 1990).
Estudos promovidos no Brasil e no
exterior demonstraram que a utilização,
no plantio, de estacas herbáceas,
semilenhosas e lenhosas, com folha presente ou ausente, assim como a época
de coleta delas, influenciam consideravelmente no enraizamento (Bezerra e
Lederman, 1995). Browse (1979) rela-
ta que estacas semilenhosas são mais espessas e possuem melhores condições
de sobrevivência que as herbáceas, por
apresentarem elevadas quantidades de
assimilados e, por isso podem produzir
raízes sob condições de fraca
luminosidade. Morales (1990), trabalhando com enraizamento de citrus, verificou que a presença de folhas nas estacas elevou a percentagem de estacas
enraizadas. Zancan (1989), utilizou estaca semilenhosa de ameixeira para
plantio. Verificou elevada percentagem
de enraizamento nas estacas retiradas da
porção apical dos ramos devido ser a
região de síntese de auxina. Outro im-
¹Parte da dissertação apresentada à Universidade Federal do Ceará pela primeira autora, para obtenção do título de mestre em agronomia, área de concentração em fitotecnia.
10
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos
Tabela 1. Percentagem média de enraizamento de diferentes tipos de estacas de alfavaca-cravo (O. gratissimum L.), em diferentes combinações de substrato. Pentecoste (CE), UFC-FEVC, 1999.
/A+E = arisco + esterco; H= húmus; V= vermiculita; 2/EDMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca
apical com folha; EASF=estaca apical sem folha.
*/**Médias seguidas por letras minúsculas distintas na vertical e maiúscula na horizontal diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probalidade.
1
portante fator para um bom
enraizamento é o substrato. Segundo
Couvillon (1988), o substrato pode ser
determinante para o sucesso do
enraizamento de estacas, embora para
algumas espécies vegetais, e mesmo
cultivares, não haja efeito de substrato
(Pokorny e Austin, 1982).
No que se refere ao uso de estaquia
com plantas medicinais pouco se sabe.
Mendonça (1997), trabalhando com alecrim-pimenta (Lippia sidoides Cham.)
sob sombrite constatou que o melhor
tipo de estaca foi a herbácea com a presença de folhas.
Neste trabalho procurou-se determinar o melhor tipo de estaca e substrato
para a propagação vegetativa da alfavaca-cravo.
MATERIAL E MÉTODOS
Estacas semilenhosas de plantas de
alfavaca-cravo (O. gratissimum L.) cultivadas no horto de plantas medicinal da
Fazenda Experimental Vale do Curu foram retiradas de plantas propagadas sexualmente, com aproximadamente 2,5
anos de idade. Obteve-se estacas das
porções apical (com 15 cm) e mediana
(com 25 cm), sem folhas e com um par
de folhas alternadas. Estas foram plantadas em bandejas de isopor de 72 células, utilizando-se três substratos (esterHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
co bovino curtido, húmus e vermiculita)
em
diferentes
concentrações,
complementadas para 100% com arisco
(que corresponde ao terriço na região
sudeste) num total de 10 combinações
(tabela 1) O delineamento foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial
(10x4), em três repetições com seis estacas por parcela, num total de 720 estacas. Posteriormente foram levadas
para sombrite com 50% de cobertura e
com nebulização intermitente. Aos 35
dias após a instalação do experimento,
as estacas foram cuidadosamente retiradas das bandejas para evitar danos da
parte aérea e sistema radicular. Em seguida, separaram-se as partes aéreas do
sistema radicular, que foram acondicionadas separadamente em sacos de papel e levadas para estufa à temperatura
de 70°C por 48 horas. Avaliou-se a percentagem de enraizamento; número de
folhas nas estacas (realizadas logo após
as estacas serem retiradas das bandejas);
peso da matéria seca de folha e peso da
matéria seca de raiz.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se elevada taxa de sobrevivência das estacas, apesar de nem todas apresentarem raiz. Não houve
interação significativa entre os diferentes substratos e tipos de estaca. O
substrato que continha 100% de arisco
+ esterco foi o que proporcionou menor
enraizamento, com percentagem média
de 67,8% (Tabela 1). Com relação aos
tipos de estacas, as mais altas porcentagens de enraizamentos ocorreram nas
medianas sem folhas e nas apicais com
folhas (99,7% e 98,6%, respectivamente). Trabalhando com citrus, Morales
(1990) verificou maior enraizamento
quando utilizou estacas com folhas. A
não diferença significativa entre estacas
medianas sem folhas e estacas apicais
com folhas, contraria o encontrado por
Zancan (1989), que pesquisando sobre
ameixeira, obteve melhores respostas
com estacas da porção apical dos ramos,
sendo provável que as diferenças encontradas sejam devido às diferenças existentes entre as espécies trabalhadas.
Para o número de folhas nas estacas, peso de matéria seca de folhas e de
raiz verificou-se que houve interação
significativa entre tipo de estaca e
substrato. Para a primeira característica, de maneira geral, a estaca mediana
sem folha destacou-se, pois foi a única
que apresentou superioridade em relação às outras estacas, dentro de todas as
combinações dos substratos (Tabela 2).
Por outro lado, com relação aos
substratos, a estaca mediana sem folha
apresentou as maiores variações do número de folhas e o substrato que se
11
P. A. D. Ehlert et al.
Tabela 2. Número de folhas em diferentes tipos de estacas de alfavaca-cravo (O.gratissimum L.), em diferentes combinações de substrato.
Pentecoste, (CE), UFC-FEVC, 1999.
1
/A+E = arisco + esterco; H = húmus; V = vermiculita; 2/EMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca
apical com folha; EASF=estaca apical sem folha.
Médias seguidas por letras distintas minúsculas na vertical e maiúscula na horizontal, diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste Tukey.
Tabela 3. Médias do peso de matéria seca (g) de folha em diferentes tipos de estacas de alfavaca-cravo (O. gratissimum L.), em diferentes
combinações de substrato. Pentecoste, (CE), UFC-FEVC, 1999.
/A+E = arisco + esterco; H = húmus; V = vermiculita; 2/EMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca
apical com folha; EASF=estaca apical sem folha.
Médias seguidas por letras distintas minúsculas na vertical e maiúscula na horizontal, diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
1
destacou foi o que tinha 20% de arisco
+ esterco, 40% de vermiculita e 40% de
húmus, porém não diferiu significativamente das combinações com arisco +
esterco 40% + húmus 20% + vermiculita
40% e arisco + esterco 40% +húmus
40% + vermiculita 20% (Tabela 2). As
menores variações das combinações de
substrato ocorreram na estaca mediana
com folhas e apical sem folha.
Considerando o peso da matéria seca
de folhas os resultados foram bem semelhantes aos encontradas para o número de folhas. A estaca mediana sem
folha novamente foi a única que apre12
sentou os maiores valores dentro de todas as combinações dos substratos, ao
contrário do que ocorreu para estaca
apical sem folha (Tabela 3). Porém, considerando os valores obtidos dentro do
fator estaca, pelas diferentes combinações de substratos, verificou-se que as
maiores variações ocorreram nas estacas medianas. Por outro lado, na estaca
apical sem folha não ocorreu nenhuma
variação para a característica em questão (Tabela 3).
Para o peso de matéria seca de raiz,
novamente verificou-se superioridade
da estaca mediana sem folha dentro de
todas as combinações, porém não diferiu muito das estacas mediana e apical
com folhas (Tabela 4). Os resultados
estão de acordo com Browse (1979) que
relata que estacas semilenhosas possuem
maiores condições de sobrevivência,
apesar de serem mais suscetíveis à perda d’água quando as folhas estão presentes; além disso, elas apresentam elevadas quantidades de assimilados e, por
isto, podem produzir raízes sob condições de fraca luminosidade. Ao contrário das duas últimas características avaliadas, os substratos não variaram dentro dos diferentes tipos de estacas.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos
Tabela 4- Médias do peso de matéria seca (grama) de raiz em estacas de alfavaca-cravo (O. gratissimum L.), para os diferentes substratos.
Pentecoste, (CE), UFC-FEVC, 1999.
/A+E = arisco + esterco; H = húmus; V = vermiculita; 2/EMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca
apical com folha; EASF=estaca apical sem folha.
Médias seguidas por letras distintas minúsculas na vertical e maiúscula na horizontal, diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste Tukey.
1
Pelo exposto, de acordo com as características avaliadas, observou-se resposta negativa da estaca apical sem folha, em comparação com os demais tipos de estacas. Este resultado diverge
do encontrado por Zancan (1989) que
utilizando estaca semilenhosa de ameixeira constatou elevada percentagem de
enraizamento nas estacas retiradas da
porção apical dos ramos.
Diante dos resultados, constatou-se
neste trabalho ser possível a propagação vegetativa da alfavaca–cravo por
estaquia, sendo a melhor estaca, a mediana sem folhas, de 25 cm, plantadas
em substrato que contenha arisco + esterco a 40% ou 20% acrescido de 20%
ou 40% de húmus, respectivamente e
mais 40% de vermiculita.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
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Coeficientes de variação de algumas características do meloeiro: uma
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Lonjoré Leocádio de Lima; Glauber Henrique de S. Nunes; Francisco Bezerra Neto
ESAM, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Uma proposta para classificação dos coeficientes de variação
das características: produtividade, peso do fruto, número de frutos,
teor de sólidos solúveis, firmeza da polpa, açúcares totais e acidez
total titulável foi estabelecida em dados de trabalhos com meloeiro
(Cucumis melo L.) conduzidos na cidade de Mossoró. Os valores de
CVs foram obtidos de 98 trabalhos, em sua maioria dissertações e
monografias defendidas na ESAM. Foram utilizados os métodos de
Garcia (1989) e dos Quantis Amostrais. Houve discordância nas freqüências observadas entre as duas metodologias propostas neste trabalho e a de Pimentel Gomes (1985) para as características açúcar
total, teor de sólidos solúveis, peso do fruto, produtividade e número de frutos. Para a acidez total titulável, observaram-se reduzidas
diferenças quanto aos limites baixo, médio e alto, porém, segundo a
classificação de Pimentel Gomes (1985), nenhum dos dados foi classificado como muito alto. Apenas para a característica firmeza da
polpa houve alta concordância entre as metodologias de Garcia
(1985) e dos Quantis Amostrais e a de Pimentel Gomes (1985). Os
métodos de Garcia (1985) e dos Quantis Amostrais permitiram a
classificação mais adequada dos coeficientes de variação para o
meloeiro.
Coefficients of variation of some melon yield components
and fruit quality traits: a proposal for classification
Palavras-chave: Cucumis melo, precisão experimental, análise de
variância.
Keywords: Cucumis melo, experimental precision, analysis of
variance.
A proposal for classifying the coefficients of variation of melon
yield, fruit weight, fruit number, soluble solids content, pulp firmness,
total sugars, pH and total titrable acidity was established in data
from melon experiments carried out in Mossoró, Brazil. The CV
values came from 98 works, mostly from theses and monographs
submitted to the faculty of Mossoró. The variation coefficients (CV)
were classified according to Garcia’s (1989) proposal and sample
quantiles. A disagreement in the observed frequencies between these
two methodologies proposed in this paper and that of Pimentel Gomes
(1985) for total sugars, soluble solids content, fruit weight, pH, yield
and number of fruits was observed. Small differences were observed
in the low, medium and high CV bands for total titrable acidity.
However, very high CV band for any assessed characteristic, based
on the Pimentel Gomes (1985) classification was not observed. A
very good agreement between the classifications proposed by Garcia
(1989) and sample quantiles, and that of Pimentel Gomes (1985) for
pulp firmness was observed. In general, the classifications proposed
by Garcia (1989) and sample quantiles were more appropriate to
evaluate the melon yield and quality traits than that of Pimentel
Gomes (1985).
(Recebido para publicação em 17 de dezembro de 2002 e aceito em 10 de novembro de 2003)
E
m experimentação agrícola a preocupação com a precisão dos ensaios
é constante por parte dos pesquisadores. Os ensaios com baixa precisão podem fazer com que se obtenham conclusões incorretas dos resultados, aumentando-se a probabilidade de ocorrência de
erro tipo II, ou seja, apontar igualdade
entre tratamentos quando realmente existe diferença. Com efeito, a decisão errada prejudica a adoção de novas
tecnologias por não permitir a indicação
do melhor tratamento para o produtor
(Judice, 2000).
O coeficiente de variação (CV), definido como o desvio-padrão expresso
em porcentagem de média, é a medida
mais utilizada para medir a instabilidade relativa de uma característica ou variável (Sampaio, 1998). Considera-se
que quanto menor o CV, maior será a
14
homogeneidade dos dados e menor a
variação do acaso (Garcia, 1989).
Na experimentação agrícola, o CV
tem a vantagem de possibilitar a comparação da precisão entre experimentos,
envolvendo a mesma variável-resposta,
permitindo que o pesquisador possa
quantificar a precisão de sua investigação (Steel e Torrie, 1980; Sampaio,
1998). Contudo, deve-se tomar cuidado, com resultados de experimentos distintos que são obtidos em condições diferentes (Scapim et al., 1995).
Pimentel Gomes (1985) fez uma classificação para o coeficiente de variação.
No entanto, essa classificação, mesmo
sendo extensivamente utilizada, é
abrangente e não considera a natureza do
ensaio quanto à cultura estudada e, principalmente, quanto à variável utilizada,
o que pode ser importante para interpre-
tação das magnitudes dessa medida, conforme comentou Garcia (1989).
Existe a necessidade de classificação
dos coeficientes de variação para a realidade inerente a cada cultura, a fim de que
se possa ter um referencial na comparação da precisão de experimentos distintos. Alguns trabalhos neste sentido foram
realizados com milho (Scapim et al.,
1995), citros (Amaral et al., 1997), soja e
trigo (Lúcio, 1997), arroz (Costa et al.,
2002), espécies forrageiras (Ambrosano
e Schamas, 1994; Clemente e Muniz,
2002), espécies florestais (Garcia, 1995)
e diversas culturas agrícolas (Estefanel et
al., 1987). Na área animal, também há trabalhos que visam a classificação de coeficientes de variação (Judice et al., 1999).
Para melão, uma das principais hortaliças cultivadas no Nordeste brasileiro, não existe uma classificação especíHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Coeficientes de variação de algumas características do meloeiro: uma proposta de classificação
Tabela 1. Teste de Shapiro-Wilk (SW) e estatísticas descritivas dos coeficientes de variação obtidos em trabalhos com a cultura do melão
(Cucumis melo L.). Mossoró, 2001.
AT: Açucares totais; FP: Firmeza da polpa; TSS: Teor de sólidos solúveis; PROD: Produtividade; Peso do fruto; Número de frutos; ATT:
Acidez total titulável
1 Tamanho da amostra
2 Não significativo a 5% de probabilidade
fica. Assim sendo, este trabalho teve
como objetivo classificar os coeficientes de variação de experimentos com
essa cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
Os valores de CVs foram obtidos de
98 trabalhos com a cultura do meloeiro,
em sua maioria, em teses e monografias
defendidas na ESAM, além de periódicos nacionais e internacionais. As características avaliadas foram aquelas
relacionadas à produção (produtividade, peso do fruto e número de frutos) e
à qualidade de frutos (teor de sólidos
solúveis, firmeza da polpa, açúcar total
e acidez total titulável). Inicialmente,
testou-se o ajuste dos dados à distribuição normal pelo teste de Shapiro-Wilk
(Shapiro e Wilk, 1965). Foram obtidas
estimativas de medidas descritivas como
média geral, desvio-padrão, valores
máximos e mínimos, coeficientes de
assimetria e curtose, e coeficiente de
variação. A classificação foi feita de
acordo com as propostas de Garcia
(1989) e dos Quantis Amostrais.
A metodologia de Garcia (1989) utiliza a relação entre a média (m) e o desvio padrão (DP) dos valores do CV de
diversos experimentos, envolvendo a
mesma variável, classificando-os da seguinte maneira: baixo [(CV ≤(m – 1 DP)];
médio [(m – 1 DP) < CV < (m + 1 DP)];
alto [(m + 1 DP) < CV ≤ (m + 2 DP)] e
muito alto [CV > (m + 2 DP)].
No método dos Quantis Amostrais os
dados foram organizados em ordem cresHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
cente de grandeza e encontrados os valores 15,87%; 84,13% e 97,72% que,
analogamente ao critério de Garcia (1989),
foram utilizados como estimativas das
faixas de avaliação dos CVs dos experimentos (Spiegel, 1996; Judice 2000).
Foram construídas tabelas de freqüências dos CVs segundo a classificação proposta pelos métodos de Garcia
(1989), dos Quantis Amostrais e pela
classificação de Pimentel Gomes
(1985), a partir dos dados obtidos na literatura consultada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados para as estatísticas descritivas e teste de normalidade de
Shapiro- Wilk estão apresentados na Tabela 1. Observou-se que o teste de
Shapiro-Wilk não foi significativo para
as características estudadas, evidenciando que o conjunto de dados dos coeficientes de variação extraídos da literatura tiveram distribuição normal. O fato das
estimativas dos coeficientes de assimetria
e curtose não serem significativos, indica que a distribuição dos dados é simétrica e mesocúrtica, características da
curva de Gauss (Triola, 1998).
De um modo geral, constata-se uma
tendência das características medidas
em laboratório (SST, ATT, Açucares e
Firmeza) terem menores CVs em relação àquelas determinadas em campo
(Produtividade e Número de frutos).
Entretanto, o peso do fruto foi o segundo menor coeficiente de variação (Tabela 1). Amaral et al. (1997), trabalhan-
do com citros, também observaram que
as características medidas em laboratório, com exceção da acidez, possuíam
maiores estimativas de CV em relação
às de campo. Segundo esses autores, as
características determinadas em laboratório têm menores valores em decorrência, talvez, da maior precisão com que
este tipo de análise é conduzida, como
maior controle dos fatores ambientais e
o uso de instrumentos precisos.
Ocorreu ampla variação entre os
CVs dentro de cada característica, nos
valores máximo e mínimo e nos coeficientes de variação dos dados. A variação dos coeficientes de variação entre
experimentos é função das condições
distintas nas quais foram realizados os
experimentos. Em razão dessa variabilidade, é necessária a classificação específica dos CVs de cada característica.
Assim sendo, para cada variável foi
elaborada uma faixa específica de valores de coeficientes de variação específica, conforme os critérios de Garcia
(1989) e dos Quantis Amostrais (Tabela
2). Observou-se que os resultados obtidos são bastante semelhantes nos dois
métodos, que foram recomendados por
Judice (2000) para classificação de CVs
em experimentos zootécnicos porque
consideram a real distribuição dos dados.
As freqüências observadas e esperadas, segundo as metodologias de
Garcia (1989), dos Quantis Amostrais
e a classificação proposta por Pimentel
Gomes (1985), estão na Tabela 3. As
freqüências esperadas foram estimadas considerando-se que os coeficien15
L. L. Lima et al.
Tabela 2. Intervalos dos coeficientes de variação construídos pelos critérios de Garcia (G) (1989) e dos Quantis Amostrais (QA) a partir dos
dados obtidos em trabalhos com a cultura do melão (Cucumis melo L.). Mossoró, 2001.
AT: Açucares totais; FP: Firmeza da polpa; TSS: Teor de sólidos solúveis; PROD: Produtividade; Peso do fruto; Número de frutos; ATT:
Acidez total titulável
Tabela 3. Freqüências observadas e esperadas (%) dos coeficientes de variação segundo os critérios de Garcia (1989) (G), dos Quantis
Amostrais (QA) e Pimentel Gomes (1985) (PG) a partir dos dados obtidos em trabalhos com a cultura do melão (Cucumis melo L.).
Mossoró, 2001.
AT: Açucares totais; FP: Firmeza da polpa; TSS: Teor de sólidos solúveis; PROD: Produtividade; Peso do fruto; Número de frutos; ATT:
Acidez total titulável.
1 Freqüência esperada
2 Freqüência observada
tes de variação obtidos na experimentação com melão tenham distribuição
normal ou aproximadamente normal.
Portanto, espera-se que, sob a hipótese de normalidade, a maioria dos coeficientes de variação estejam próximos
16
da média e que coeficientes de variação muito baixos ou muito elevados
sejam pouco freqüentes.
Houve concordância para as freqüências observadas nos critérios de Garcia
(1989) e de Quantis Amostrais, em todas
as variáveis. Por outro lado, verificou-se
discordância entre as duas metodologias
propostas neste trabalho e aquela proposta por Pimentel Gomes (1985) para as
características açúcares totais, teor de
sólidos solúveis e peso do fruto.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Coeficientes de variação de algumas características do meloeiro: uma proposta de classificação
Para o teor de sólidos solúveis e peso
do fruto, conforme Pimentel Gomes
(1985), nenhum dos dados seria classificado como alto ou muito alto (Tabela
3), enquanto que, para a acidez total não
houve CV classificado como muito alto.
Com relação à produtividade e número de frutos observaram-se diferenças quanto aos limites médio alto e muito alto (Tabela 3). Para produtividade,
não houve CV classificado como muito
alto, conforme Pimentel Gomes (1985).
Para a característica acidez total
titulável, constataram-se reduzidas diferenças quanto aos limites baixo, médio e alto para os três métodos. Contudo, segundo a classificação de Pimentel
Gomes (1985), nenhum dos dados seria
classificado como muito alto.
Apenas para a característica firmeza da polpa, houve alta concordância
entre as metodologias de Garcia (1985)
e dos Quantis Amostrais e a de Pimentel
Gomes (1985).
Trabalhando com milho, Scapim et
al. (1995) verificaram concordância
entre as metodologias de Garcia (1989)
e de Pimentel Gomes (1985) para peso
de espigas, número de espigas, peso de
grãos e prolificidade. Com efeito, a classificação de Pimentel Gomes (1985)
pode ser adequada para determinadas
características.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
A aplicação dos métodos de Garcia
(1985) e dos Quantis Amostrais permitiu a classificação mais adequada dos
coeficientes de variação para o melão,
confirmando a necessidade de uma abordagem específica dessa medida de variação, em função da natureza dos dados,
isto é, da característica em estudo, e da
própria cultura. Esse fato foi verificado
em outros trabalhos (Scapim et al.,
1985; Amaral et al., 1997; Judice, 2000).
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Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a
matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola
Virgínia L.F. Soares1; Fernando L. Finger2; Paulo R. Mosquim2
1
UESC, 45650-000 Ilhéus-BA; 2UFV, 36571-000 Viçosa-MG; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a influência do genótipo e do estádio de maturação
da planta de cebola, na colheita, sobre o tamanho e qualidade, e
subseqüente perda de matéria fresca na cura dos bulbos de ‘Granex’,
‘Baia Periforme’ e ‘Jubileu’. A antecipação ou retardamento da colheita em 15 dias, em relação ao estalo da planta, não influenciou a
matéria fresca total e o teor de açúcares solúveis totais dos bulbos,
sendo estas características função do genótipo utilizado. A colheita
antecipada dos bulbos em 15 dias reduziu significativamente o teor
de sólidos solúveis na cultivar Baia Periforme. Os bulbos dos
genótipos analisados apresentaram concentrações insignificantes de
amido, inferiores a 0,16 % da matéria fresca. A média geral da concentração de açúcares solúveis totais foi de 6,8% da matéria fresca
para o híbrido precoce ‘Granex’, 11,5% para a cultivar de ciclo médio Baia Periforme e 10,8% em bulbos da tardia ‘Jubileu’. A colheita dos bulbos 15 dias após o tombamento do pseudocaule permitiu
acúmulo significativo de compostos fenólicos solúveis na casca das
cultivares Baia Periforme e Jubileu, de coloração amarelada. Durante a cura dos bulbos houve maior taxa de perda de matéria fresca
naquelas plantas colhidas 15 dias antes do colapso do pseudocaule,
independente do genótipo testado.
Influence of genotype and maturity stage at harvest on fresh
weight, quality and cure of onion
Palavras-chave: Allium cepa, sólidos solúveis, açúcares solúveis,
amido, fenóis, perda de massa.
Keywords: Allium cepa, soluble solids, soluble sugars, starch,
phenolics, weight loss.
The influence of cultivar and maturity stage at harvest over the
weight, quality and weight loss through cure of onions was evaluated
for cultivars Granex, Baia Periforme and Jubileu. Harvesting 15 days
before the drop of tops did not affect the total bulb fresh weight or
total soluble content, which were function of the genotype tested.
Earlier harvesting, 15 days before maturation, significantly reduced
the total soluble solids for ‘Baia Periforme’. The bulbs presented
small amount of starch, bellow 0.16% of the fresh weight. The general
average for total soluble sugars was 6.8%; 11.5% and 10.8% of bulb’s
fresh weight, for the early hybrid ‘Granex’, the middle season cultivar
Baia Periforme and late season cultivar Jubileu, respectively.
Hharvesting bulbs in 15 days after the tops tall over, induced
significant increase in the total soluble phenolic compounds in the
skin of the bulb for ‘Baia Periforme’ and ‘Jubileu’, known as yellow
dark skin cultivars. During the cure of the bulbs, harvesting 15 days
before the top tall over, a higher rate of fresh weight loss was
observed, irrespective of the genotype tested.
(Recebido para publicação em 07 de abril de 2002 e aceito em 10 de maio de 2003)
A
aparência externa e o tamanho dos
bulbos são importantes componentes da qualidade da cebola. Para consumo in natura há preferência por bulbos
de tamanho médio, forma periforme,
casca intacta e amarelo-escura. Segundo Rubatzky e Yamaguchi (1997) o estádio de desenvolvimento da planta na
colheita afeta diretamente o tamanho, e
possivelmente a qualidade e o potencial
de armazenamento dos bulbos. No entanto, na revisão do assunto, os autores
não mencionam quais características de
qualidade dos bulbos seriam afetadas
pela colheita em estádio não adequado.
Tradicionalmente a colheita da cebola é realizada quando as plantas estão
estaladas ou com o colo completamente amolecido. Brewster (1994) recomenda que os bulbos devam ser colhidos
quando o campo apresenta entre 50% e
80% das plantas com o pescoço amole18
cido e a folhagem iniciando a tombar
sobre o solo. Porém, não há menção se
podem existir diferenças entre genótipos
ou mesmo possíveis influências das condições edafo-climáticas locais, quanto
ao momento ideal para a colheita.
O padrão de crescimento da cebola
mostra que a planta tem baixas taxas de
acúmulo de matéria seca durante as fases iniciais do desenvolvimento, seguido de rápido crescimento e finalmente
por uma fase estacionária cuja extensão
varia em função da cultivar, sanidade da
planta e condições climáticas (Brewster,
1994; Tei et al., 1996). Em um estudo
realizado com cultivares precoces, os
bulbos foram colhidos quando 20% ou
80% de plantas haviam estalado, e mais
três colheitas subseqüentes, após 5; 10
e 15 dias. Nas condições experimentais
do trabalho verificou-se que as colheitas tardias causaram redução da firme-
za dos bulbos e aumentaram a incidência de doenças no armazenamento, porém permitiu a colheita de cebolas maiores (Wall e Corgan, 1994). O conteúdo
de matéria seca acumulada nos bulbos
é outro importante fator de qualidade,
em especial para a indústria de
processamento, devido à quantidade de
energia requerida para a remoção da
água durante o processo de desidratação. O conteúdo de matéria seca do bulbo tem estreita correlação com a concentração de sólidos solúveis, em especial com o acúmulo de açúcares solúveis denominados de frutanas (Sinclair
et al., 1995).
O presente trabalho avaliou a influência do estádio de maturação da
planta na colheita sobre o acúmulo de
massa, qualidade e a perda de matéria
fresca na cura dos bulbos de cebola de
três genótipos.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola
MATERIAL E MÉTODOS
O híbrido Granex e as cultivares Baia
Periforme e Jubileu, que são cebolas de
ciclo curto, médio e tardio, respectivamente, foram semeadas na primeira quinzena de abril e transplantadas com cindo
a sete folhas definitivas para o campo de
produção da UFV. Foi utilizado o
espaçamento de 7-10 cm entre plantas e
25-30 cm entre linhas, em canteiros com
1,2 m de largura e 10 m de comprimento. O experimento foi instalado em uma
área com topografia e fertilidade uniformes, em solo Podzólico Vermelho-Amarelo Câmbico, fase terraço. Os tratos culturais seguiram as recomendações usuais
para a cultura de cebolas na Zona da Mata
de Minas Gerais.
A colheita dos bulbos foi realizada
nos meses de outubro e novembro em
três épocas: aos 15 dias antes do estalo
ou plantas com bulbos completamente
formados e coloração ainda verde, com
o pseudocaule amolecido e limbo das
folhas verdes; plantas recém estaladas,
com limbo das folhas verdes; 15 dias
após o estalo ou com pseudocaule completamente murcho e folhas secas.
O aspecto da lavoura por ocasião das
colheitas foi de 80%, 50% e 10% de
plantas estaladas para ‘Granex’, ‘Baia
Periforme’ e ‘Jubileu’, respectivamente. Imediatamente após a colheita determinou-se a matéria fresca dos bulbos e
procedeu-se às análises químicas dos
bulbos. Outra parcela das plantas colhidas foi transportada para um galpão arejado e acondicionadas em estrados de
madeira para completar a cura por 15
dias. A perda de matéria fresca das plantas foi avaliada em intervalos de três
dias, a partir da colheita, e a perda de
massa durante a cura foi expressa em
percentagem de matéria fresca acumulada perdida.
O teor de sólidos solúveis foi determinado em amostras homogeneizadas
de todo o bulbo descascado, em
refratômetro de mesa Atago 3T, ajustado para a temperatura de 25oC.
Amostras homogêneas de todo o
bulbo foram imersas em 80% etanol fervente para a quantificação dos açúcares
solúveis e do amido. Os açúcares solúveis foram extraídos três vezes conseHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
cutivas com 80% etanol quente intercalados por centrifugações a 2000´g por
10 minutos. Os sobrenadantes das
centrifugações foram combinados, e
após clarificação do extrato com clorofórmio, seguido da eliminação do etanol,
este foi utilizado na determinação dos
açúcares solúveis totais pelo método de
antrona descrito por McMready et al.
(1950), em espectrofotômetro a 620 nm.
O amido foi determinado a partir do resíduo da extração dos açúcares, pela
adição de 5,8 ml de 30% ácido
perclórico com agitação ocasional por
20 minutos. Em seguida foram adicionados 10 ml de água destilada, seguida
de centrifugação a 2000´g por 10 minutos. O procedimento foi repetido por três
vezes e a quantificação do amido foi
realizada pelo método de antrona.
Glicose foi utilizada como padrão na
quantificação dos açúcares e do amido.
O conteúdo de compostos fenólicos
totais da casca dos bulbos foi avaliado
pelo método de Folin-Denis, descrito
por Kubota (1995), com modificações.
Cerca de 1,0 g de casca foi macerada
em nitrogênio líquido, misturada com
15 ml de água destilada fervente e fervida por 20 minutos. O homogenato foi
filtrado em papel de filtro e as amostras
do filtrado foram misturadas com 5 ml
do reagente de Folin-Denis, + 5 ml de
10% NaCO3 (anidro), seguido de agitação. Após 1 hora de repouso a amostra
foi filtrada e a absorbância lida a 700
nm, com utilização de D-catequina
como padrão.
O delineamento experimental foi em
blocos ao acaso com quatro blocos, no
esquema fatorial de três épocas de colheita e três genótipos. Foram utilizados cinco bulbos por parcela para se
obter os dados, a fim de se proceder à
análise de variância ANOVA e aplicar o
teste Tukey para separação das médias,
adotando-se o nível de significância de
5% de probabilidade. Para a análise dos
dados da perda de matéria fresca das
plantas durante a cura, utilizou-se análise de regressão, pelo teste-t a 1% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A antecipação ou retardamento em
15 dias da colheita em relação ao estalo
das plantas, não resultou em aumento
significativo na matéria fresca total dos
bulbos dos três genótipos avaliados com
média por bulbo de 96,3 g para
‘Granex’, 150,0 g para ‘Baia Periforme’
e 142,3 g para ‘Jubileu’. Sargent et al.
(2001) observaram que a antecipação
em 30 dias (menos que 5% de plantas
estaladas) na colheita do híbrido Granex
causou redução da matéria fresca dos
bulbos, enquanto que o retardamento em
oito dias resultou em aumento do tamanho dos bulbos. No entanto, os autores
não mencionaram qual foi a porcentagem de plantas estaladas na última colheita. Para outras cultivares de dias
curtos NuMex BR1, NuMex Sunlite,
NuMex Starlite e Buffalo o ponto ideal
de colheita foi obtido quando 80% das
plantas haviam estalado (Wall e Corgan,
1994). Nas condições deste experimento, as porcentagens de plantas estaladas
da lavoura foram adequadas para a colheita com o máximo de 15 dias antes
do estalo, considerando-se somente a
massa fresca total dos bulbos para os três
genótipos estudados.
O estádio de maturação na colheita
não afetou o teor de sólidos solúveis para
a ‘Granex’ e ‘Jubileu’, porém a antecipação em 15 dias da colheita em relação ao estalo reduziu a concentração de
sólidos solúveis dos bulbos da ‘Baia
Periforme’ (Figura 1). Portanto para esta
cultivar, a colheita 15 dias antes do estalo não é recomendada visto que ainda
há significativa translocação de assimilados das folhas para o bulbo, resultando em maior teor de sólidos solúveis no
estádio de pleno estalo da parte aérea.
Não há relatos na literatura sobre o teor
máximo de sólidos solúveis presentes
nos bulbos para as cultivares Baia
Periforme e Jubileu por ocasião da colheita. Para o híbrido Granex o teor
médio de sólidos solúveis de 6,3%, apresenta-se inferior aos dos genótipos de
ciclo médio e tardio (Figura 1). Kopsell
e Randle (1997) avaliaram oito
genótipos quanto à qualidade dos bulbos, e encontraram teores de sólidos
solúveis de 7,6 para ‘Granex’, de 8%
para cultivares americanas de ciclo médio e de 10,9% para aquelas de ciclo
tardio no momento ideal de colheita, ou
seja, quando 50% de plantas estavam
com pescoço amolecido, valores estes
semelhantes aos 10% acumulados pela
19
V. L. F. Soares et al.
Figura 1. Teor de sólidos solúveis totais (TSS) e amido em bulbos de cebola colhidos 15
dias antes do estalo, no estalo e 15 dias após o estalo do pseudocaule. Viçosa, UFV, 2001.
Baia Periforme e 9,5% para Jubileu em
plantas recém estaladas (Figura 1).
A maior componente da matéria acumulada nos bulbos foi composta por
açúcares solúveis, com teores de 6,8%
da matéria fresca para a cebola precoce
‘Granex’, 11,5% para a cultivar de ciclo médio Baia Periforme e 10,8% em
bulbos da tardia ‘Jubileu’. Os teores de
açúcares solúveis totais não foram in20
fluenciados pela idade da planta na colheita em nenhum dos genótipos avaliados. Segundo Jaime et al. (2000) as
frutanas correspondem por cerca de 50%
dos carboidratos não-estruturais dos
bulbos, seguido da glicose, sacarose e
frutose, representando entre 60% e 80%
da matéria seca. As frutanas são
oligossacarídeos de frutose derivados da
sacarose, e são armazenadas principal-
mente no vacúolo das células (Brewster,
1994). Cultivares de cebolas com elevado teor de matéria seca nos bulbos acumulam frutanas durante todo o período de
bulbificação, enquanto que as cultivares
com baixo teor de matéria seca atingem
máximo acúmulo nos estádios iniciais da
bulbificação (Kahane et al., 2001).
O amido esteve presente com teores
muito inferiores ao dos açúcares solúveis, em média menos de 0,16% da
matéria fresca do bulbo (Figura 1). Para
‘Granex’ e ‘Jubileu’ houve redução significativa dos teores de amido nos bulbos colhidos no estalo das plantas, porém não é possível especular se esta redução tem significado fisiológico, visto
que o amido não se apresenta como uma
forma importante de armazenamento de
energia em cebola.
A casca ou películas externas da cebola define a aparência dos bulbos, influencia na manutenção da dormência,
previne a perda excessiva de água para
o ambiente e dificulta a infecção dos
mesmos
por
microrganismos
patogênicos durante o armazenamento.
Embora a casca afete a qualidade e a fisiologia pós-colheita da cebola, pouco
é conhecido sobre as alterações bioquímicas ocorridas nas películas por ocasião da colheita. Sabe-se que a cor externa dos bulbos é determinada pelo
acúmulo de substâncias fenólicas ou
flavonóides próximo ao período de colheita (Brewster, 1994; Fossen et al.,
1998). Além disso, o conteúdo e a composição destas substâncias variam em
função da espécie do gênero Allium, do
estádio de desenvolvimento e órgão da
planta e genótipo (Brewster, 1994;
Fossen et al., 1996).
O estádio de maturação da planta na
colheita influenciou a concentração de
compostos fenólicos das películas externas dos bulbos nas cultivares Baia
Periforme e Jubileu (Figura 2). Nestes
genótipos, a colheita dos bulbos no estalo ou 15 dias após o estalo resultou na
elevação do conteúdo de compostos
fenólicos, proporcionando a obtenção de
bulbos com casca mais escura. Para a
Granex, o atraso na colheita não alterou
a concentração de compostos fenólicos
da casca, provavelmente por se tratar de
um genótipo de bulbos com películas
tipicamente amarelo-claras.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola
Tabela 1. Equações da estimativa da perda de massa fresca durante a cura de bulbos de cebola de Granex, Baia Periforme e Jubileu, colhidos
15 dias antes do estalo, no estalo e 15 dias após o estalo do pseudocaule. Viçosa, UFV, 2001.
**t significativo em 1% de probabilidade
A perda de matéria fresca durante a
cura, em condições de sombra, foi influenciada pelo genótipo e pelo estádio
de maturação das plantas na colheita
(Tabela 1). A antecipação da colheita em
15 dias resultou na elevação da taxa de
perda de massa durante a cura para os
três genótipos avaliados, quando comparadas à taxa dos demais estádios de
maturação (Tabela 1). Para esta colheita, a ‘Granex’ apresentou a menor taxa
de perda de massa (0,70%/dia), seguido da ‘Jubileu’ (1,04%/dia) e ‘Baia
Periforme’ (1,34%/dia). Para os bulbos
colhidos no momento do estalo as taxas
de perdas de matéria fresca por dia foram de 0,55%, 0,32% e 0,61%, respectivamente. A colheita 15 dias após o estalo não afetou a taxa de perda de matéria fresca para a ‘Granex’ (0,53%/dia)
em relação à taxa observada para a colheita no estalo das plantas. Porém para
‘Baia Periforme’ houve elevação
(0,57%/dia) e para a ‘Jubileu’ ocorreu
redução da perda (0,32%/dia). Este comportamento distinto entre os genótipos
e colheita pode estar associado à taxa
de transferência de vapor de água do
interior do bulbo para o ambiente, ao
fechamento do colo do bulbo, umidade
do pseudocaule ou ao tamanho e forma
da cebola.
A colheita da cebola 15 dias antes
do estalo da planta não afetou o acúmulo
de matéria fresca total dos bulbos para
os genótipos Granex, Baia Periforme e
Jubileu, porém reduziu a concentração
de sólidos solúveis totais na cultivar
Baia Periforme. A concentração de compostos fenólicos nas películas externas
dos bulbos nas cultivares Baia Periforme
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 2. Teor de compostos fenólicos solúveis na casca de bulbos de cebola colhidos 15
dias antes do estalo, no estalo e 15 dias após o estalo do pseudocaule. Viçosa, UFV, 2001.
e Jubileu aumentou significativamente
com o retardamento da colheita em 15
dias após o estalo, intensificando a presença da cor amarela da casca. A antecipação da colheita em 15 dias antes do
estalo resultou na elevação da taxa de
perda de massa fresca durante a cura dos
bulbos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG
pelo apoio financeiro ao trabalho.
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Produção do melão rendilhado em função da concentração de potássio
na solução nutritiva e do número de frutos por planta
Caciana C. Costa; Arthur Bernardes Cecílio Filho; Rodrigo Luiz Cavarianni; José Carlos Barbosa
UNESP-FCAV, Depto. Produção Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900 Jaboticabal-SP; E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O experimento foi conduzido em hidroponia (NFT), de junho a
novembro de 2001, na UNESP, em Jaboticabal. A cultivar Bônus n0
2 foi cultivada sob blocos casualizados, em esquema de parcelas
subdivididas, com seis repetições. Foram avaliados o número de frutos por planta (2; 3; 4 e fixação livre) e a concentração de potássio
na solução nutritiva (66; 115,5; 165 e 247,5 mg L-1 de K). Nas colheitas ocorridas entre 105 e 133 dias após o transplantio (DAT),
foram obtidos 2,0; 2,5; 2,7 e 2,3 frutos por planta, enquanto que aos
85 DAT, o número de frutos fixados tinha sido, respectivamente, 2;
3; 4 e 6,2 frutos por planta. O incremento da concentração de potássio na solução nutritiva aumentou, inicialmente, o número de frutos
fixados, e contribuiu, posteriormente, para a redução do abortamento
dos frutos. Também, promoveu aumento no peso médio do segundo
fruto. A produção e o peso médio dos frutos não foram influenciados pelo emprego de soluções nutritivas com concentração de potássio acima de 66 mg L-1. Entretanto, o número de frutos por planta
afetou a produção e o peso médio dos frutos, promovendo respectivamente, aumento e redução à medida que maior foi o número de
frutos por planta.
Net melon yield as affected by potassium concentration in
nutrient solution and number of fruits per plant
Palavras-chave: Cucumis melo var. reticulatus, fixação de frutos,
nutrição, cultivo sem solo.
The experiment was carried out using hidroponic solution (NFT)
from June to November-2001, in Jaboticabal, São Paulo State, Brazil.
The ‘Bonus n0 2’ was cultivated in randomized blocks design, with
split-plot scheme and six replications. Fruit number per plant (2; 3;
4 and free) and potassium concentration in the nutrient solution (66;
115.5; 165 e 247.5 mg L-1) were the studied factors. At harvests [105
to 133 days after transplant (DAT)], 2.0; 2.5; 2.7 and 2.3 fruits per
plant were obtained, whereas at 85 DAT, 2; 3; 4 and 6.2 fruits had
been set, respectively. Increasing potassium concentration in the
nutrient solution improved initially fruit set and contributed later to
reduce the fruit aborting in plants. Also the potassium promoted
increase in second fruit weight. Yield and fruit weight were not
influenced by potassium concentration in the nutrient solution over
66 mg L-1. The number of fruits per plant affected yield and fruit
weight promoting, respectively, increase and decrease in proportion
to the higher number of fruits per plant.
Keywords: Cucumis melo var. reticulatus, fruit set, nutrition, soilless
culture.
(Recebido para publicação em 30 de abril de 2002 e aceito em 03 de novembro de 2003)
A
tualmente, no estado de São Pau
lo, tem crescido o interesse no cultivo de melão do grupo rendilhado
(Reticulatus), devido aos frutos apresentarem maior valor de mercado e por
possuírem melhores características
organolépticas. Entretanto, na região
sudeste, o oferecimento do melão
rendilhado implica necessariamente no
cultivo em casa de vegetação para serem obtidos frutos com excelente aspecto visual, sabor e boa lucratividade
(Brandão Filho e Callegari, 1999).
Em casa de vegetação, o cultivo de
hortaliças no solo, tem apresentado dificuldades de manejo, tais como a
salinização do solo (Fontes e Guimarães,
1999), resultante do uso intensivo da
mesma área e inadequada fertilização;
e a ocorrência de plantas daninhas,
patógenos do solo e pragas que dificultam a condução das culturas (Picanço e
Marquini, 1999).
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Como alternativa tem-se o cultivo
sem solo. Dentre as opções, há a
hidroponia que é uma tecnologia para o
cultivo de plantas em solução nutritiva,
com ou sem o uso de substrato alternativo ao solo (Jensen, 1997) e que permite o plantio da mesma espécie o ano
todo, sem a necessidade de rotação de
culturas e ainda com maior eficiência
do uso de água, de fertilizantes e de defensivos (Alberoni, 1998; Faquin e
Furlani, 1999).
O cultivo comercial de hortaliças em
hidroponia é recente no Brasil, sobretudo para hortaliças de frutos, das quais o
tomate é a cultura mais estudada. Na literatura encontram-se recomendações
de soluções nutritivas para o meloeiro;
contudo, são baseadas em cultivos realizados em outros continentes, com
grandes diferenças quanto a cultivares
e ambiente de cultivo.
Para o cultivo em solução nutritiva,
um dos nutrientes com expressivo efeito na produção e na qualidade dos frutos é o potássio. Participa direta e indiretamente de inúmeros processos
bioquímicos envolvidos com o metabolismo dos carboidratos, como a
fotossíntese e respiração. De acordo
com Faquin (1994), além da função do
potássio como ativador de grande número de enzimas relacionadas com os
processos de assimilação de CO2 e de
nitrogênio, ele tem ação na translocação
e armazenamento de carboidratos.
Em cultivo no solo, Buzetti et al.
(1993) não observaram aumento no número, no diâmetro e na produção de frutos de melão em função do aumento na
dose de potássio. Ao contrário, Faria et
al. (1994), Rao e Srinivas (1990),
Prabhakar et al. (1985) e Hassan et al.
(1984), verificaram efeito positivo da
aplicação deste nutriente sobre a produ23
C. C. Costa et al.
ção de frutos. Nerson et al. (1997) constataram que a deficiência de P e K, em
hidroponia, inibiu o crescimento
vegetativo, diminuiu a fixação e o tamanho dos frutos, com reflexos negativos na produção. Pardossi et al. (1994),
também em hidroponia, avaliaram o
efeito de doses de potássio na solução
nutritiva, não encontrando diferenças na
produção de frutos quando usaram as
concentrações de 340 a 680 mg L-1, na
primavera, e entre 200 e 400 mg L-1, no
cultivo de verão.
Diante do exposto, percebe-se a necessidade do aprimoramento da solução
nutritiva para o cultivo do meloeiro, especialmente quanto ao ambiente e sistema de cultivo das cultivares regionais
utilizadas,
e
características
mercadológicas desejadas. Entre as particularidades do mercado, o tamanho do
fruto recebe hoje atenção de produtores
e pesquisadores, uma vez que a tendência mundial é produzir frutos de tamanho menor, acompanhando o número de
membros de uma família (Gusmão,
2001). O mercado de hortaliças tem se
preocupado em oferecer aos consumidores, produtos de menor tamanho aos
consumidores, o que também contribui
para o menor preço do produto na prateleira, com possibilidade de aumento
de consumo.
Frutos menores podem ser obtidos
mediante o aumento do número de frutos fixados pela planta, determinando
assim, maior competição entre os mesmos. Contudo, a qualidade dos mesmos
deve ser assegurada. Monteiro e Mexia
(1988) verificaram que o aumento no
número de frutos por planta das cultivares MacDimon e Harvest King, determinou a redução no seu peso. Outra
forma de reduzir o tamanho é através
da utilização de espaçamentos menores,
permitindo intensa competição entre as
plantas, as quais produzem maior número de frutos por área, de menor tamanho (Faria et al., 2000).
De acordo com observações pessoais
e segundo Monteiro e Mexia (1988) e
Martins et al. (1998), a planta de meloeiro rendilhado apresenta alto índice de
abortamento de frutos fixados. Com
base em informações disponíveis na literatura acredita-se que o incremento na
concentração de potássio na solução
24
nutritiva possa, além de atuar no tamanho e na qualidade dos frutos, aumentar também a fixação de frutos conforme observado por Nerson et al. (1997),
ao aumentarem a concentração deste
nutriente na solução nutritiva de 20 para
400 mg L-1.
No presente trabalho avaliou-se o
efeito da concentração de potássio na
solução nutritiva e o número de frutos
por planta sobre a produção do melão
rendilhado, cultivado em hidroponia.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido de 01
de junho a 04 de novembro de 2001, em
casa de vegetação, na UNESP em
Jaboticabal, situada a 21o15’ 22’’ latitude Sul, 48o18’58’’ longitude Oeste, e
altitude de 575 metros. Durante o período compreendido entre o início da
frutificação e a primeira colheita, a média das temperaturas mínimas foi de
15,3oC (amplitude de 7,4 a 25,7oC) e das
máximas de 31oC (amplitude de 23,1 a
36oC).
O delineamento experimental foi de
blocos casualizados, em esquema de
parcelas subdivididas sendo, a concentração de potássio, nas parcelas e o número de frutos, nas subparcelas, com
seis repetições. Os fatores avaliados foram número de frutos deixados por planta: 2; 3; 4 e fixação livre (sem raleio) e
concentração de potássio na solução
nutritiva: 66; 115,5; 165 e 247,5 mg L-1
correspondendo, respectivamente a 40;
70; 100 e 150% da concentração de potássio recomendada por Castellane e
Araújo (1994) para o cultivo de hortaliças em NFT (Nutrient Film Technique).
A unidade experimental foi constituída
por nove plantas, sendo consideradas
úteis para a coleta dos dados as oito plantas seqüenciais à primeira, de cada unidade experimental as quais ocuparam a
área de 2,7 m2.
O experimento foi instalado em casa
de vegetação do tipo arco com lanternim
e pé- direito de 3 m, sem fechamento
lateral e frontal, coberta com filme de
polietileno de baixa densidade aditivado
anti-U.V., de 150 mm de espessura. Foi
instalada uma tela de sombreamento de
30%, móvel, à altura do pé-direito, a
qual era estendida sobre a cultura, quan-
do a temperatura interna da casa de vegetação era superior a 30oC.
O sistema hidropônico utilizado foi
do tipo NFT. A estrutura foi composta
por quatro reservatórios de fibra de vidro, de 1500 L, contendo as quatros soluções nutritivas em avaliação. Os canais de cultivo constituíram-se, por tubos de polipropileno semicirculares com
15 cm de diâmetro e 4% de declividade,
a fim de permitir o retorno da solução
por gravidade para os reservatórios. Os
canais apresentavam aberturas circulares de 5 cm de diâmetro na sua parte
superior, para a colocação das mudas.
As soluções nutritivas utilizadas no
experimento foram baseadas na proposta de Castelane e Araújo (1994) para
hortaliças em NFT, contendo em mg L-1:
200 (N); 40 (P); 150 (Ca); 133 (Mg);
100 (S); 0,3 (B); 2,2 (Fe); 0,6 (Mn); 0,3
(Zn); 0,05 (Cu) e 0,05 (Mo). Para a obtenção das soluções nutritivas com diferentes concentrações de K foram utilizados os fertilizantes nitrato de cálcio,
nitrato de potássio, sulfato de potássio,
sulfato de magnésio, fosfato
monoamônio, cloreto de potássio e
magnitra (nitrato de magnésio), ácido
bórico, sulfato de zinco, sulfato de
manganês, sulfato de cobre, molibdato
de sódio e cloreto férrico. As
condutividades elétricas das soluções
K1, K2, K3 e K4 foram, respectivamente, 2,42; 2,60; 2,62 e 2,96 dS m-1. O pH
das soluções foi mantido entre 5,5 e 6,5,
com emprego de ácido sulfúrico. A circulação intermitente das soluções nutritivas foi controlada por um
temporizador, sendo que no período das
7 às 10 horas era mantido ligado durante 10 minutos e desligado durante 20
minutos. No período subsequente até 18
h e 30 min., o período em que era mantido ligado e desligado foi de 10 minutos. À noite, foram feitas duas circulações da solução nutritiva com duração
de 10 minutos, às 21h e 1 hora. A vazão
dos canais de distribuição da solução era
de aproximadamente 3 L min-1.
O híbrido Bônus no 2 foi semeado
em espuma fenólica com dimensões de
5,0 x 5,0 x 3,8 cm, sendo as mudas transplantadas aos 21 dias após a semeadura. O espaçamento utilizado foi de 1,00
m entre canais de cultivo por 0,30 m
entre plantas no canal. As plantas foram
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Produção do melão rendilhado em função da concentração de potássio na solução nutritiva e do número de frutos por planta
conduzidas em haste única, tutoradas
verticalmente até a altura de 1,80 m.
Foram deixados frutos nos ramos secundários a partir do 11o nó caulinar, procedendo-se o raleio dos frutos excedentes
ao número pré-estabelecido em cada tratamento, quando encontravam-se com
3 cm diâmetro, sendo amarrados ao arame por meio de fitilhos. A haste principal foi podada quando apresentava 25
nós. As hastes secundárias mantidas por
ocasião do fruto fixado, foram podadas
duas folhas após o fruto. A polinização
foi feita por abelhas Appis mellifera,
colocadas próximo à casa de vegetação
no período de floração.
Foram avaliados o número de frutos
aos 85 dias após o transplantio e, na
colheita, o peso médio do primeiro, segundo e terceiro fruto colhido por planta, a produção total por planta e o peso
médio de frutos.
A colheita teve início aos 105 dias
após o transplantio, sendo realizadas dez
colheitas durante o período de 28 dias.
Os frutos foram colhidos quando verificado o fechamento completo do
rendilhamento e o fendilhamento próximo ao pedúnculo. A cultura teve o ciclo completado em 154 dias.
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância (Banzato e
Kronka, 1995), aplicando-se o teste de
médias de Tukey para o fator número
de frutos por planta; e para o fator concentração de potássio na solução nutritiva, realizou-se a análise de regressão
polinomial, sendo selecionado, o modelo significativo de maior ordem, que tenha apresentado o maior coeficiente de
determinação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se grande capacidade inicial de fixação de frutos pela planta com
fixação livre de frutos, 6,2 frutos. O
número de frutos fixados pelo meloeiro, aos 85 dias após o transplantio, foi
influenciado, significativamente, pela
concentração de potássio na solução
nutritiva (Figura 1).
No final da colheita, o número de
frutos colhidos foi avaliado e observouse influência significativa da concentração de potássio e do número de frutos
por planta, isoladamente, sem haver
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Número de frutos fixados aos 85 dias após o transplantio (NF85) e número de
frutos na colheita (NFC) em plantas de melão, em função de concentração de potássio na
solução nutritiva. Jaboticabal, UNESP, 2002.
interação dos mesmos. Notou-se acréscimo linear na fixação de frutos com
aumento na concentração de potássio na
solução nutritiva (Figura 1).
O número de frutos por planta na
colheita (Tabela 1) retrata o abortamento
elevado ocorrido, principalmente, nos
tratamentos que tinham inicialmente
maior número de frutos fixados. Em
plantas com 4 frutos e com fixação livre de frutos a porcentagem de
abortamento foi, respectivamente, de 31
e 63%. O abortamento não foi observado em plantas conduzidas com 2 frutos,
sendo de 15% o abortamento no tratamento com 3 frutos por planta. Durante
o período de cultivo ocorreram elevadas temperaturas, o que pode ter contribuído para o abortamento de frutos. De
acordo com Brandão Filho e Vasconcelos (1998), as temperaturas ideais durante o dia e a noite devem estar em torno de 25 a 300C e 14 a 200C, respectivamente. Também, o meloeiro é reconhecidamente uma hortaliça com baixo número de frutos por planta. Monteiro e
Mexia (1988) constataram alto índice de
abortamento de frutos, obtendo-se média de fixação de 2,6 frutos por planta
onde estavam previstos fixação e condução de cinco frutos por planta.
Gusmão (2001) encontrou 1,5 a 2,2 frutos por planta no verão, como a amplitude de fixação de frutos nas cultivares
que avaliou em cultivo no solo, em casa
de vegetação, onde não foi realizado
controle de número de frutos fixados.
O autor atribuiu às elevadas temperaturas o diferencial de frutos fixados por
planta nesta época em comparação ao
obtido no inverno (2,8 a 3 frutos por
planta).
Não obstante, ao efeito das altas temperaturas como promotoras de
abortamento de frutos, o rápido crescimento do fruto do meloeiro, cerca de 15
dias após a fecundação, e a coincidência
de vários frutos fixados na planta desenvolvendo-se concomitantemente, certamente elevaram substancialmente a demanda por fotoassimilados, provocando
o abortamento de frutos. McGlasson e
Pratt (1963) e Monteiro e Mexia (1988)
atribuem ao intenso crescimento que
ocorre no período entre o 50 e o 100 dia
após a antese, período em que os frutos
atingem 80% do seu diâmetro final, como
a condição determinante para o
abortamento dos frutos.
O número de frutos por planta não
influenciou o peso do primeiro e do terceiro fruto. O peso do segundo fruto, em
plantas com dois frutos, foi de 705,69
g, o qual não diferiu da planta com três
frutos. À medida que maior número de
frutos por planta foi fixado verificou-se
menor peso médio (Tabela 1). A concentração de potássio também afetou
significativamente o peso médio do segundo fruto. A concentração avaliada de
115,5 mg L-1 promoveu um incremento
de aproximadamente 20% ao peso do
melão em relação à concentração de 66
mg L-1 (Figura 2).
O número de frutos deixados por
planta teve efeito significativo sobre a
produção (Tabela 1), sendo que plantas
com quatro frutos apresentaram a maior
25
C. C. Costa et al.
Tabela 1. Número de frutos por planta na colheita, (NFC), peso médio do segundo fruto função do número de frutos por planta (NFP).
Jaboticabal, UNESP, 2002.
* Médias na mesma coluna, seguidas por letras iguais, não diferem significativamente ao nível de 5 % de probabilidade pelo Teste de Tukey.
Figura 2. Peso do segundo fruto colhido (PMSF), em plantas de melão, em função de concentração de potássio na solução nutritiva. Jaboticabal, UNESP, 2002.
produção (2.323 g planta-1) e a menor
produção foi obtida em plantas com 2
frutos (1.343 g planta-1). Portanto, o número de frutos por planta foi
determinante na produção do meloeiro.
A melhor produção obtida neste trabalho, com quatro frutos por planta, encontra-se próxima à observada por
Cecílio Filho e May (2000), em plantas
conduzidas com dois frutos (2.453 g
planta-1), e superior às verificadas por
Gusmão (2001) de 680 a 770 g por planta no verão, em cultivo no solo, e superior às obtidas por Pádua (2001), de
1.650 g planta-1 e peso médio de 700
gramas aproximadamente, e ao observado por Villela Júnior (2001), 1.700 g
planta-1. Em área, a produção obtida
corresponde a 7.670 g m-2, sendo superior às produtividades de Cecílio Filho
e May (2000), Pádua (2001) e Villela
Júnior (2001), respectivamente em 25;
72 e 125%, resultado da maior densidade de plantio (3,33 plantas m-2) utilizada neste experimento, enquanto que os
demais autores adotaram 1 x 0,4; 1,2 x
0,3 e 1 x 0,5 m, perfazendo densidades
de 2,5; 2,7 e 2,0 plantas por m-2. Gusmão
(2001) obteve 8.740 g m-2 em cultivo
26
no solo utilizando o espaçamento de 0,8
x 0,6 x 0,3 m (4,76 plantas m-2).
Se por um lado o adensamento adotado neste trabalho favoreceu alta produção por área, parece ter sido também
o responsável por frutos de menores dimensões, uma vez que aumenta o autosombreamento e, consequentemente,
diminui-se o potencial fotossintético da
planta; pois, de acordo com Larcher et
al. (2000), a intensidade do trabalho
fotossintético diminui proporcionalmente à redução da intensidade luminosa.
Conforme Andriolo (1999), as folhas
superiores recebem a maior parte da radiação incidente, e aquelas situadas no
interior da cobertura recebem uma quantidade de radiação que decresce de forma exponencial com a acumulação da
área foliar. Com o adensamento, as plantas atingem mais rapidamente o índice
de área foliar ótimo, a partir do qual a
assimilação líquida da cultura passa a
diminuir, pois há consumo de energia
para suprir as folhas que estão abaixo
do ponto de compensação.
O menor peso médio de frutos
(580,70 g) foi obtido em plantas com
quatro frutos, diferindo estatisticamen-
te de plantas com 2 frutos (Tabela 1).
Segundo Bangerth e Ho (1984) um dos
fatores determinantes do tamanho final
de um fruto é a competição pelos assimilados durante o seu desenvolvimento. Quando a demanda por assimilados
é muito alta, o que pode ser conseguido
com o aumento do número de frutos por
planta, instala-se uma forte competição
por assimilados entre os frutos
(Andriolo, 1999).
Segundo Heuvelink citado por
Andriolo (1999) a massa seca alocada
para os frutos aumenta com o número
destes e estabiliza quando o suprimento
de assimilados pelas fontes passa a ser
limitante, portanto, a redução do peso
dos frutos observada em plantas com
quatro frutos pode ter sido acarretada
pela menor relação área foliar (fonte)
por fruto (dreno) que foi de 3.248 cm2
por fruto em plantas conduzidas com 4
frutos e de 3.735 cm2 por fruto nas plantas com dois frutos.
Os resultados concordam com
Monteiro e Mexia (1988) os quais verificaram redução no peso médio de frutos à medida que cresceu o número de
frutos colhidos por planta, sendo de
aproximadamente 50% a menos em
peso, quando aumentou de 1 fruto (2.060
g) para 2,5 frutos colhidos por planta
(1.141 g), atribuindo à menor relação
área foliar disponível por fruto.
Incrementos não foram constatados
na produção de frutos por planta e peso
médio de frutos, quando elevou-se a
concentração de potássio na solução
nutritiva de 66 para 247,5 mg L-1; recomendando-se portanto, a solução nutritiva mais diluída do nutriente. Atribuise à ausência de efeito favorável do potássio sobre a produção e peso médio
de frutos do meloeiro ao sistema de condução adotado. As intervenções praticadas na planta por meio de podas de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Produção do melão rendilhado em função da concentração de potássio na solução nutritiva e do número de frutos por planta
ramos laterais frutíferos e da haste principal e, sobretudo, devido à elevada densidade de plantio, que resultou em maior
auto-sombreamento; muito provavelmente, não permitiram que os efeitos do
potássio no metabolismo celular, descritos por Faquin (1994), fossem traduzidas
em maior dossel fotossintético (força da
fonte), o qual é relatado por Hurbbard
et al. (1990) como fator fortemente
atuante sobre o acúmulo de carboidratos pelas plantas.
Os resultados observados discordam
dos obtidos por Prabhakar et al. (1985)
que verificaram acréscimo no peso dos
frutos em plantas de melão, em conseqüência da atuação deste nutriente na
translocação de carboidratos. Porém,
Buzetti et al. (1993) e Pardossi et al.
(1994) não verificaram incrementos na
produção do meloeiro com aumento das
doses de potássio.
Portanto, com base nos resultados
observados, o produtor que se encontrar
em região climaticamente semelhante à
de Jaboticabal, pode adotar o sistema de
cultivo de melão com quatro frutos por
planta, em solução nutritiva com 66 mg
L-1 de potássio, o qual possibilitou colher frutos comerciais com peso médio
de 0,6 a 0,7 kg e produtividade de 7,67
kg m-2.
AGRADECIMENTOS
Aos Profs. Drs. Jairo Osvaldo
Cazetta, Leila Trevizan Braz e Odair
Aparecido Fernandes, aos funcionários
Srs. João, Inauro e Cláudio e a estagiária Gerciane Cabral da Silva. Ao CNPq
pela concessão da bolsa de estudo e à
FAPESP pelo financiamento do projeto
de pesquisa, processo 2000/01799-2.
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manejar o plantio de hortaliças dispensando o uso
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produção de alface em dois solos sob ambiente protegido. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p.28-34, jan-mar 2004.
Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em
dois solos sob ambiente protegido
Roberto L. Villas Bôas; Júlio Cesar Passos; Dirceu Maximino Fernandes; Leonardo Theodoro Büll;
Vicente Rodolfo S. Cezar; Rumy Goto
UNESP, FCA, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o efeito de três doses de composto orgânico de três
composições distintas, aplicados em dois solos [Latossolo Vermelho Escuro, textura arenosa (LE) e Areia Quartzoza (AQ)], na produção e absorção de nutrientes pela planta de alface. Conduziu-se
de 02/07 a 27/08/1997 um experimento dentro de túnel plástico,
pertencente à UNESP, em Botucatu, em vaso plástico, contendo
quatro quilos de solo. Os solos foram corrigidos para atingirem saturação por base de 80% e todos os vasos receberam adubação
fosfatada (150 mg de P kg-1 de solo), potássica (100 mg de K kg-1 de
solo) e micronutrientes. Os compostos foram misturados aos solos
nas quantidades de 60; 120 e 240 g de composto por vaso. Os três
compostos foram originados a partir de casca de eucalipto, serragem de madeira e palhada de feijão, misturados com esterco de aves.
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente
casualizado, em três repetições, com vinte tratamentos em esquema
fatorial (3 doses x 3 compostos x 2 solos) mais um tratamento testemunha para cada solo (ausência de composto orgânico). O composto de palhada de feijão aumentou a biomassa fresca da parte aérea e
a quantidade de N, K, Ca, Mg, B, Cu, Fe e Zn nas plantas de alface.
Para o P e Mn o composto de palhada de feijão diferiu significativamente apenas em relação ao composto de casca de eucalipto. Em
todas as características avaliadas no LE houve melhores respostas
da cultura em relação ao AQ. Quanto às dosagens utilizadas, as diferenças foram observadas somente nos tratamentos com palhada de
feijão, onde as maiores dosagens propiciaram o aumento de biomassa
fresca e seca da parte aérea, e nas quantidades de macro e
micronutrientes.
Effects of dosage and types of organic composts in the
production of lettuce in two soils under protected environment
Palavras-chave: Lactuca sativa L., fertilizante orgânico, nutrição,
extração de nutrientes.
The effects of three doses of organic composts of three different
origins, applied to two soil types, were evaluated on production and
absorption of nutrients by lettuce. The experiment was conducted
under plastic tunnel, at the Faculdade de Ciências Agronômicas, in
Botucatu, Brazil, in plastic vase each with 4 liters of soil. The soils
[Oxisol (Dark Red Latosoil) (LE), sandy phase, and an Inceptisol
(AQ)] were corrected to reach 80% of base saturation and all the
vases received 150 mg.kg-1 of P, 100 mg.kg-1 of K and micronutrients.
The composts were mixed to the soils in amounts of 60; 120 and
240 g vase-1. The composts, originated from a mixture of eucalyptus
bark, wood sawdust and bean straw, were mixed with chicken
manure. The experiment was accomplished following a randomized
design, with 18 treatments and 3 replicates (3 doses x 2 soils x 3
composts) plus a control. The bean straw compost increased the fresh
weight of the aerial part and the amount of N, K, Ca, Mg, B, Cu, Fe
and Zn in the lettuce plants, but differed for P and Mn only in relation
to eucalyptus bark compost. In all the characteristics evaluated in
the LE the best results were obtained in relation to AQ. Larger doses
of bean straw promoted increase in fresh weight of aerial part, and
in the amount of N, K, Ca, Mg, S, Fe and Zn.
Keywords: Lactuca sativa L., mineral nutrition, organic fertilizer.
(Recebido para publicação em 7 de agosto de 2002 e aceito em 15 de dezembro de 2003)
A
alface, desde sua domesticação a
partir de espécies silvestres, tornouse a principal folhosa consumida pelo homem, tendo sido comercializados pela
CEAGESP 14.101 toneladas em 1999
(FNP Consultoria e Comércio, 2000).
É a hortaliça tradicionalmente cultivada por pequenos produtores, o que lhe
confere grande importância econômica
e social, sendo significativo fator de
agregação do homem do campo. Aliado
a isso, a grande necessidade de adubação orgânica da cultura (Nakagawa et
al., 1993), faz dessa hortaliça um importante componente no enfoque
holístico da agricultura orgânica.
28
As fontes de adubos orgânicos podem apresentar características bastante
distintas, podendo ser agrupados em fertilizante orgânico e fertilizante composto. O fertilizante orgânico é o “fertilizante de origem vegetal ou animal contendo um ou mais nutrientes das plantas” e o fertilizante composto ou simplesmente composto é o “fertilizante
obtido por processo bioquímico, natural ou controlado com mistura de resíduos de origem vegetal ou animal”. As
terminologias utilizadas neste texto seguirão essas definições.
A adubação orgânica tem grande
importância no cultivo de hortaliças,
principalmente em solos de clima tropical, onde a queima de matéria orgânica se realiza intensamente, e onde seu
efeito é bastante conhecido nas propriedades físicas, químicas e biológicas do
solo (Allison, 1973; Senesi, 1989; Swift
e Woomer, 1993).
A grande maioria dos trabalhos encontrados na literatura diz respeito ao
uso de estercos, resíduos líquidos e restos vegetais, reportando seu efeito como
melhoradores do solo e fornecedores de
nutrientes. Embora parte dessa informação possa ser extrapolada e assumida
como válida no que diz respeito ao uso
de compostos, estes têm uma dinâmica
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido
no solo bastante diversa dos materiais
em estado cru, por ser uma matéria orgânica decomposta e estabilizada
(Kiehl, 1985).
As condições fisiológicas inerentes
à alface, tais como a eficiência de utilização de nitrogênio sempre menor que
50% (Alexander, 1965) e a absorção de
aproximadamente 80% de N total extraído nas últimas quatro semanas do
ciclo (Katayama, 1993), explicam o interesse no uso de fertilizantes de
solubilização lenta (Pereira et al., 1989).
Nesse sentido o adubo orgânico adicionado ao solo tem efeito imediato e ainda residual por meio de um processo
mais lento de decomposição e liberação
de nutrientes. Além disso, a matéria orgânica melhora as condições químicas,
físicas e biológicas do solo, o que reforça o interesse de sua utilização como
fonte de nitrogênio para a cultura da alface (Vidigal et al., 1995).
As características do composto orgânico podem ter significado importante
na estabilização do húmus ou adubo orgânico formado (Peixoto, 2000). Um
composto estabilizado deverá ter a relação C/N igual ou menor que 18. Entretanto, se o composto apresentar relação C/N acima de 30, os microorganismos irão utilizar o nitrogênio do solo
competindo com as plantas. Isto ocorre
com resíduos ricos em celulose, que
necessitam de grande população de microorganismos específicos para a decomposição (Kiehl,1998).
As recomendações de doses variam
com o tipo de composto orgânico aplicado, com o solo, a cultura e as condições ambientais. Em geral, as taxas de
aplicação estão entre 10 a 100 t ha-1,
porém níveis mais elevados não são
incomuns. Aumentos lineares no peso
de “cabeça” de alface foram obtidos com
doses de até 10,8 kg m-2 de esterco de
curral, além de propiciar incrementos
nos teores de nitrogênio e fósforo das
plantas (Schneider, 1983).
Com relação ao tipo de adubo orgânico, Ricci et al. (1994) obtiveram maior
produtividade para aplicação de 10 t ha-1
de húmus de minhoca em relação à mesma quantidade do composto orgânico.
Koga e Seno (1997) observaram que
composto orgânico de casca de eucalipto
+ esterco de galinha proporcionou maior
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
produção total e comercial de plantas de
alface e pepino em relação ao de bagaço de cana e de casca de amendoim misturada a esterco de galinha. Apesar do
uso de adubo orgânico no solo ser uma
prática bastante antiga, existe pouca informação sobre os efeitos no rendimento e qualidade da alface quando submetida à aplicação de diferentes compostos orgânicos (Ricci et al., 1994) ou a
diferentes tipos de solo.
Considerando que a alface é adubada com quantidades elevadas de fertilizantes, principalmente nitrogenados,
desenvolveu-se este trabalho com objetivo de avaliar o efeito de tipos (em relação ao material de origem) e doses de
diferentes compostos orgânicos, em dois
solos, sobre a nutrição e produção de
alface em ambiente protegido.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido de 02/
07 a 27/08/1997 em ambiente protegido com estrutura metálica coberta com
polietileno, pertencente à UNESP em
Botucatu. Os solos utilizados foram
Latossolo Vermelho Escuro textura arenosa (LE) e Areia Quartzoza (AQ). A
análise química do (LE) indicou: pH em
CaCl2= 4,0; M.O.= 23 g dm-3; P resina= 2
g dm-3; H++Al3+= 72 mmolcdm-3; K+= 0,5
mmolcdm-3; Ca2+= 1 mmolcdm-3; Mg2+= 1
mmolcdm-3; SB= 2,5 mmolcdm-3; CTC=
74 mmolcdm-3 e V%= 3. Para o (AQ) as
características químicas foram pH, em
CaCl2= 4,7; M.O.= 8 g dm-3; P resina= 3 g
dm-3; H++Al3+= 14 mmolcdm-3; K+= 0,6
mmolcdm-3; Ca2+= 5 mmolcdm-3; Mg2+= 2
mmolcdm-3; SB= 7,6 mmolcdm-3; CTC=
22 mmolcdm-3 e V%= 36.
Os solos foram corrigidos de modo
a atingirem a saturação por bases de
80%, segundo recomendação de Raij et
al. (1997). Como adubação básica todos os tratamentos receberam 150 mg
de P kg-1 de solo (superfosfato triplo),
100 mg de K kg-1 de solo (cloreto de
potássio) e 1 g de FTE-BR-8 por vaso
(7% Zn; 2,5% B; 1% Cu; 5% Fe; 10%
Mn e 0,1% Mo).
Os materiais utilizados na
compostagem foram casca de eucalipto,
serragem de madeira e palhada de feijão, sendo cada um misturado ao esterco de galinha. A casca de eucalipto foi
obtida junto à DURATEX S/A; a serragem, mistura de pó e maravalha proveniente de cerne de madeira de lei, obtida junto à madeireira MURBA Ltda.; e
a palhada de feijão, resíduo da operação de beneficiamento das plantas com
trilhadeira estacionário, foi coletada junto à FCA/UNESP. A proporção das misturas, palhas/esterco, foi tal que se aproximou da relação de 30/1 antes da
compostagem, conforme sugerido por
Kiehl (1985).
Após a compostagem, as análises
químicas dos compostos orgânicos, segundo Lanarv (1988), revelaram (em
gkg-1): Composto orgânico 1 (mistura de
esterco de aves + casca de eucalipto) N
(12,8); P2O5 (12,2); K2O (8,0); M.O.
(534,6); C (304,2); Ca2+ (22,9); Mg2+
(2,0); S (2,4); pH em CaCl2 (8,1) e relação C/N (23/1). Composto orgânico 2
(mistura de esterco de aves + serragem
de madeira) N (9,4); P2O5 (16,5); K2O
(1,5); M.O. (429,3); C (239,3); Ca2+
(26,2); Mg2+ (1,9); S (1,7); pH em CaCl2
(7,1) e relação C/N (26/1). Composto
orgânico 3 (mistura de esterco de aves
+ palhada de feijão) N (21,5); P2O5 (9,2);
K2O (5,8); M.O. (395,6); C (219,8); Ca2+
(8,1); Mg2+ (4,3); S (3,4); pH em CaCl2
(7,0) e relação C/N (10/1).
Os compostos foram secos em estufa
(600C), passados em peneira de malha 4
mm e misturados aos solos em quantidades equivalentes a 1,5; 3,0 e 6,0%, com
base em massa, o que correspondeu às
quantidades de 60, 120 e 240 gramas de
cada composto seco, por vaso de quatro
quilos de capacidade.
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado,
em três repetições, com vinte tratamentos em esquema fatorial (3 doses x 3
compostos x 2 solos) mais uma testemunha para cada solo (ausência de composto orgânico), totalizando 60 vasos.
Utilizou-se a cultivar Elisa, cujas
mudas foram produzidas em bandejas
de poliestireno expandido, utilizando-se
substrato comercial. Durante o ciclo da
cultura foram avaliados o número de
folhas (usou-se como referência o tamanho, sendo contadas somente folhas
maiores que 4 cm) e a medida indireta
de clorofila (com medidor portátil de
clorofila da marca SPAD-502, apresentando os resultados em unidades
29
R. L. Villas Bôas et al.
Tabela 1. Características avaliadas em plantas de alface cultivar Elisa na colheita, aos 56 dias após o transplante das mudas. Botucatu,
UNESP, 1997.
1
Biomassa fresca após 24 horas conservada em laboratório a T ambiente (média de 15oC). 2Unidades dadas pelo aparelho marca Minolta,
modelo SPAD 502.
Letras minúsculas comparam médias das doses dentro de cada composto e médias de solos. Letras maiúsculas comparam médias entre os
compostos. Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade.
SPAD.), semanalmente e, ao final do
ciclo das plantas, antes da colheita, foram realizadas determinações do número de folhas e do teor de clorofila.
As plantas foram colhidas 56 dias após
o transplante, determinada a biomassa
fresca e em seguida, colocadas em laboratório à temperatura ambiente (média de
15oC), sobre uma bancada, onde permaneceram por 24 horas. A seguir foi determinada novamente a biomassa, sendo as
plantas posteriormente colocadas a secar
em estufa de circulação de ar forçada a
65oC, até massa constante. O material foi
moído e analisado quimicamente quanto
aos teores de macro e micronutrientes, seguindo metodologia citada por Malavolta
et al. (1997).
As análises estatísticas foram executadas por meio de programa de com30
putador Estat, conforme método descrito
por Banzato e Kronka (1989).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para biomassa fresca (Tabela 1) houve efeito distinto em função do tipo de
composto. Para os compostos obtidos a
partir de casca de eucalipto e de serragem de madeira, não houve diferenças
entre as dosagens e as plantas mantiveram massas semelhantes às obtidas na
testemunha. No entanto, para o composto com palhada de feijão, a dose mais
elevada promoveu resultado estatisticamente superior, duplicando a biomassa
fresca da alface em relação à testemunha. Pode-se considerar portanto que
não ocorreu resposta para doses de compostos orgânicos provenientes de casca
de eucalipto e serragem de madeira,
porém para palhada de feijão a alface
respondeu de forma crescente até 240 g
do composto por vaso. A biomassa fresca obtida no tratamento com 240 g vaso-1
de composto proveniente de palhada de
feijão foi de 194 g/planta, quando considerada a média dos dois solos, porém chegou a 241 gramas no LE. Por
essa e outras diferenças observadas, a
biomassa fresca da planta de alface foi
estatisticamente superior no LE em relação ao AQ. Vidigal et al. (1997), avaliando o efeito de diferentes compostos
orgânicos, atribuíram as menores produtividades de alface, cv. Carolina, a
compostos orgânicos que não haviam
mineralizado o suficiente para nutrir as
plantas, como por exemplo o bagaço de
cana-de-açúcar, quando comparado à
palha de café. Juang e Chang (1992)
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido
Tabela 2. Quantidade de macronutrientes em plantas de alface cultivar Elisa na colheita, aos 56 dias após transplante. Botucatu, UNESP, 1997.
Letras minúsculas comparam médias das doses dentro de cada composto e médias de solos. Letras maiúsculas comparam médias entre os
compostos para uma mesma dose. Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey à 5% de
probabilidade.
obtiveram resultados semelhantes para
cultura de arroz e milho. No entanto,
Nakagawa et al. (1992) cultivando alface Brasil-48, concluíram que a utilização de 150 g de composto orgânico
de diferentes resíduos agrícolas não produziu diferença significativa para
biomassa fresca de folhas e caules.
Para biomassa fresca, determinada
um dia após a colheita, observou-se resultados semelhantes aos discutidos anteriormente, sendo que a perda de água
das plantas foi em média de 14,5% para
os três tipos de compostos, sugerindo
que os tratamentos não influenciaram a
desidratação das plantas, um dia após a
colheita.
Para a biomassa seca foram observadas diferenças significativas entre as
doses apenas para o composto de
palhada de feijão. Este apresentou resultados superiores ao de casca de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
eucalipto. Houve também diferença significativa entre os solos, sendo os valores médios de biomassa seca da planta
de alface de 10,6 e 8,0 g, respectivamente para o LE e AQ. Nota-se que tanto o
composto de casca de eucalipto quanto
o de serragem não influenciaram a
biomassa seca de alface e, os resultados
obtidos foram semelhantes ao encontrado na testemunha (8,9 g por planta),
sugerindo que esses dois compostos não
disponibilizaram nutrientes para o desenvolvimento da parte aérea da planta.
O número de folhas determinado
semanalmente, somente apresentou diferença entre tratamentos nas avaliações
realizadas aos 49 e 56 dias após o transplante (dat). Na Tabela 1 são apresentados somente os resultados obtidos na
colheita (56 dat), pois aos 49 dat, as
médias dos tratamentos apresentaram as
mesmas diferenças ocorridas aos 56 dat.
O número de folhas da alface variou
com as doses apenas no emprego do
composto de palhada de feijão, sendo
encontrado maior número de folhas com
a aplicação de 240 g vaso-1 e, entre os
solos, no LE. As diferenças observadas
aos 56 dat coincidem com o período de
máxima demanda de nutrientes pela
planta de alface (Garcia et al. 1982), que
ocorre nas últimas semanas do ciclo.
Esse aspecto reforça a idéia de que o
composto obtido de palhada de feijão
disponibilizou mais nutrientes, o que
não ocorreu para os demais compostos.
A medida indireta da clorofila (unidade SPAD), determinada através do
clorofilômetro nas folhas de alface,
mostrou diferença significativa entre os
tipos de compostos orgânicos, sendo que
o de casca de eucalipto proporcionou
menor valor em relação à palhada de
feijão e, ambos, não diferiram da serra31
R. L. Villas Bôas et al.
Tabela 3. Quantidade de micronutrientes em plantas de alface cultivar Elisa na colheita, aos 56 dias após o transplante. Botucatu, UNESP, 1997.
Letras minúsculas comparam médias das doses dentro de cada composto e médias de solos. Letras maiúsculas comparam médias entre os
compostos para uma mesma dose. Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey à 5% de
probabilidade.
gem de madeira (Tabela 1). As plantas
desenvolvidas com composto de
palhada de feijão apresentaram coloração verde mais intensa, o que reflete
melhor o estado nutricional, principalmente, quanto ao nitrogênio.
O uso de palhada de feijão na maior
dose, aos 35 dat (resultados não apresentados) revelou o valor de 33 unidades SPAD, e aos 56 dat revelou 23 unidades SPAD. Portanto houve decréscimo dos teores de clorofila na planta, o
que significa que o composto de palhada
de feijão não conseguiu manter o mesmo conteúdo nutricional ao longo do
ciclo.
As quantidades de macronutrientes
na planta de alface em função dos tratamentos, revelaram diferença significativa entre os tipos de compostos orgânicos, sendo que valores estatisticamente
superiores foram obtidos com aplicação
32
do composto de palhada de feijão para
todos os macronutrientes, exceto o fósforo. Para esse mesmo composto, notou-se também que a quantidade de nutrientes na planta foi diretamente proporcional à dose aplicada.
Houve interação significativa para
doses x tipo de composto, sendo que esta
ocorreu a partir da dose de 120 g vaso-1.
Na testemunha, a quantidade de N planta-1 foi de 153 mg (média dos dois solos), valor semelhante ao obtido para
doses de 60 gramas dos compostos de
casca de eucalipto e serragem, sugerindo que estes compostos não contribuíram para o fornecimento de nitrogênio
e também não diminuíram a quantidade
de N disponível para as plantas, isto é,
não houve imobilização de nitrogênio,
provavelmente, devido à menor relação
C/N do composto obtido com palhada
de feijão.
Na comparação dos tipos de composto x solos, as plantas apresentaram
valores de 242 e 121 mg de N planta-1
para LE e AQ, respectivamente. No solo
AQ esse resultado pode ser relacionado
ao baixo conteúdo natural de nutrientes, bem como à menor capacidade de
retenção de água.
Para o fósforo, o tratamento com
palhada de feijão foi significativamente superior ao de casca de eucalipto e
semelhante ao de serragem. Diferentemente do ocorrido para N, não foi observada interação significativa para os
tratamentos avaliados, ou seja, foram
observadas diferenças significativas na
quantidade de P na planta apenas entre
os compostos mas não entre os solos.
A quantidade de K na planta variou
significativamente em função dos tipos
de compostos orgânicos, sendo maior no
tratamento com palha de feijão. Houve
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido
interação significativa entre composto
x doses e também entre solo x doses.
Nesse último caso, nota-se que para AQ
as quantidades de K foram significativamente menores apesar de ambos os
solos apresentarem inicialmente teores
semelhantes de K. Provavelmente, a
menor retenção de água no solo AQ
(maior
macroporosidade),
disponibilizou também menor quantidade de água para a planta e, conseqüentemente, menor desenvolvimento e por
ser o potássio absorvido por difusão e
fluxo de massa (Malavolta et al. 1997),
também menor extração desse nutriente pela planta.
Para Ca, Mg e S ocorreram diferenças estatísticas entre os compostos orgânicos utilizados, sendo obtido aumento na quantidade destes nutrientes na
planta, com o uso de palhada de feijão.
Este aumento foi diretamente proporcional ao incremento na dose do composto. Houve também interação significativa entre as dosagens e os compostos.
Quanto aos micronutrientes, ocorreram diferenças estatísticas entre os compostos, sendo que o de palhada de feijão apresentou sempre valores mais elevados (Tabela 3), ocorrendo incrementos significativos com o aumento da
dosagem aplicada. Interações entre doses e tipos de compostos ocorreram para
a quantidade de Fe, Cu e Zn na planta.
Algumas hipóteses podem ser consideradas para explicar os resultados
obtidos. As relações C/N entre os compostos são diferentes principalmente se
considerarmos casca de eucalipto e serragem de madeira em relação à palhada
de feijão. Para esse último composto,
com menor relação C/N (10/1), a liberação de nutrientes é mais rápida para
as plantas de alface em relação aos outros dois compostos. Esta inferência
pode ser reforçada pelo fato que alguns
compostos apresentam estruturas de difícil decomposição pela população
microbiana do solo, como a celulose e
lignina presentes nos compostos de casca de eucalipto e serragem de madeira.
Além disso, Inoko (1982) cita que na
decomposição de materiais provenientes de madeira, são liberados para o meio
resinas, terpenóides e substâncias
fenólicas, dentre outros compostos, que
podem causar injúrias nas plantas. OuHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
tra característica intrínseca do composto que poderia estar influenciando nos
resultados é a concentração de nutrientes. Nota-se que a relação [Ca + Mg]/K
é bastante elevada para o composto de
serragem de madeira em relação aos
outros dois compostos, o mesmo ocorrendo para relação K/Mg para o composto de casca de eucalipto.
O tipo de composto orgânico pode
ter influenciado a retenção de umidade
do solo, uma vez que esse efeito é tanto
maior quanto mais decomposto está o
material (Mays et al., 1973; Hornick,
1988; Tester, 1990). Considerando que
o composto de palha de feijão apresentou relação C/N mais baixa, possivelmente tenha favorecido a retenção de
água em relação aos outros tratamentos.
O composto de palhada de feijão
promoveu incremento na biomassa fresca, seca e nas quantidades de macro e
micronutrientes extraído pelas plantas
de alface, bem como respondeu até a
quantidade de 240 g vaso-1, podendo
inferir que este composto apresenta-se
como melhor fornecedor de nutrientes,
o que não foi observado para o composto de casca de eucalipto e serragem de
madeira, durante o ciclo da alface (56
dias). Os tratamentos tiveram maior
efeito no Latossolo Vermelho Escuro
que na Areia Quartzoza.
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
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Efeito do retardamento da colheita, na qualidade e na vida útil do melão
Orange Flesh
Fábio Vinícius de S. Mendonça; Josivan B. Menezes; Vilson A. de Gois; Adriana A. Guimarães; Glauber
Henrique de S. Nunes; Cledionor Francisco de Mendonça Júnior1
ESAM, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; E-mail: [email protected]; 1/ Estudante graduando em Eng. Agronômica
RESUMO
ABSTRACT
O efeito do retardamento da colheita na qualidade e na vida útil
dos frutos do meloeiro foi avaliado. Os frutos, tipo Honey Dew
Orange Flesh, foram colhidos no dia adotado pelos produtores como
maturidade comercial, um, dois, três e quatro dias após e, foram
armazenados a 7 ± 1ºC e UR de 90 ± 5%. O experimento foi conduzido obedecendo delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 5 x 5, com cinco repetições, cinco tempos de retardamento (0; 1; 2; 3 e 4 dias após o adotado para a colheita) e cinco
tempos de armazenamento (0; 7; 14; 21 e 28 dias) após a colheita.
Foram avaliado a aparência externa e interna, firmeza de polpa, conteúdo de sólidos solúveis e incidência de rachadura no pedúnculo.
Foi observada perda gradativa de firmeza da polpa para todos os
retardamentos durante o armazenamento. Ao final do experimento
os frutos ainda apresentavam aparência própria à comercialização.
O conteúdo de sólidos solúveis ficou entre 9 e 12% e a incidência
de rachaduras foi menor para os frutos colhidos aos 59; 60 e 61 dias
após o plantio.
Effect of the harvest delay on the quality and post-harvest
shelf-life Of orange Flesh melons
Palavras-chave: Cucumis melo L., pós-colheita, vida útil, armazenamento.
Keywords: Cucumis melo L., postharvest, shelf-life, storage.
The effect of harvesting delay on quality and postharvest shelflife of Honey Dew Orange Flesh melons was examined. Fruits were
harvested at the stage of commercial maturity and, one, two, three
and four days after this period. Fruits were kept at 7 ± 1ºC and 90 ±
5% relative humidity. A 5 x 5 factorial scheme in a completely
randomized design with five replications was used, with five
harvesting dates (0; 1; 2; 3 and 4 days after the stage of commercial
harvest) and five storage periods (0; 7; 14; 21 and 28 days). During
this period we evaluated the external and internal appearances, flesh
firmness, soluble solid content and crack incidence of the peduncle.
There occurred reduction of the flesh firmness for all harvest delaying
dates. Fruits presented appropriate marketing appearance until the
end of the experiment. The soluble solids content varied from 9 to
12%, and the cracking incidence was smaller on fruits harvested at
59; 60 and 61 days after planting date.
(Recebido para publicação em 27 de julho de 2002 e aceito em 17 de outubro de 2003)
O
Rio Grande do Norte possui condições edafoclimáticas que favorecem a cultura do meloeiro, e a cada ciclo que passa vem aumentando a área
plantada com o Orange Flesh, devido
às suas características apreciadas tanto
pelo produtor, como a produtividade,
valor comercial do fruto, boa vida póscolheita, e pelo mercado consumidor,
por ter um agradável flavor, coloração
atrativa de casca e polpa e sabor característico.
O melão em 2000 contribuiu com
6,77% (US$ 25 milhões) do total arrecadado com as exportações de frutos no
Brasil (SECEX/MDIC, 2001). A região
Nordeste em 1998 respondeu por 95%
(169 milhões de frutos) da produção total de melão do Brasil (Agrianual, 2001).
Com o advento da irrigação, o estado
do Rio Grande do Norte vem se constituindo em um dos principais polos exportadores de frutas tropicais, em especial o melão, sendo o principal produHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
tor brasileiro com 64,98% (116 milhões
de frutos) da produção em 1998
(Agrianual, 2001).
Não tem sido documentados a firmeza de polpa média, o teor de sólidos
solúveis totais e a aparência necessária
para a colheita do melão Orange Flesh.
A determinação de padrões é de suma
importância e visa estabelecer critérios
físico-químicos que possam viabilizar
um sistema de controle de qualidade
pós-colheita. O estabelecimento desses
padrões de qualidade permitirá decisões
no sentido de prever o comportamento
pós-colheita desses frutos, o que pode
ajudar os produtores. A qualidade dos
frutos para o mercado Europeu está ligada diretamente ao teor de sólidos solúveis e aparência do fruto (Ena, 1997).
Para que os frutos atinjam os requisitos
necessários de exportação, devem ser
colhidos na época certa, afim de que
desenvolvam todas as características
apreciadas e ainda apresentem uma fir-
meza de polpa que suporte o transporte
até o mercado consumidor (Menezes et
al., 1995). Para Filgueiras et al. (2000),
a colheita é o momento mais importante do processo produtivo e independe do
melão plantado. Portanto, devem ser
avaliados o teor de sólidos solúveis totais, a cor, aspecto da casca e a firmeza
da polpa. Para Gomes Junior et al.
(2001) as principais variáveis na determinação da qualidade pós-colheita de
melão são o teor de sólidos solúveis, firmeza da polpa, perda de peso e aparências externa e interna: a firmeza da polpa fornece indicação sobre a vida útil
pós-colheita e as outras características
estão diretamente ligadas à aparência do
produto, e conseqüentemente sua aceitação pelo consumidor.
Em melões, o conteúdo de açúcares
é diretamente relacionado ao tempo que
os frutos permanecem ligados à planta;
por outro lado, o estádio de maturação
é inversamente proporcional ao tempo
35
F. V. S. Mendonça et al.
de conservação pós-colheita (Welles e
Buitelaar, 1988). Portanto, para manter
a boa qualidade, é necessário colher frutos em estádio de maturação que possibilite maior tempo de prateleira. Conhecendo-se o tempo que o fruto pode ser
mantido no campo sem perda da qualidade ou firmeza, os produtores podem
trabalhar com boa margem de segurança contra imprevistos na colheita, distribuição e comercialização.
Os melões Honey Dew sob temperatura de 10oC e umidade relativa de 85
a 90%, alcançam vida máxima de transito de 20 a 28 dias (Vallespir, 1997).
Fernandes (1996) observou que os melões Honey Dew Orange Flesh, armazenados em temperaturas de 6oC, após
14 dias apresentavam sintomas que se
assemelhavam a injúria pelo frio.
Vallespir (1997) também informa que a
temperatura para a conservação de melões do grupo inodorus, como é o caso
do Orange Flesh, deve estar entre 7 e
10oC.
No presente trabalho propôs-se avaliar a vida útil do melão Orange Flesh
submetido ao retardamento na sua colheita, e ao armazenamento refrigerado.
MATERIAL E MÉTODOS
Frutos da cultivar AF-1749, recomendados para o mercado externo, foram obtidos de um plantio experimental (Fazenda São João em Mossoró/
Assu), produzidos de acordo com as
práticas culturais usuais da região, com
sistema de irrigação localizada. O solo
da área é um Latossolo Vermelho-Amarelo. O clima da região é quente e seco,
com precipitação pluviométrica anual de
423 mm e temperatura média mensal
31ºC.
A cultivar AF-1749, comercializada
pela Agroflora-Sakata, caracteriza-se
pela boa aparência dos frutos de coloração de polpa salmão, casca creme, flavor
peculiar, peso médio de 1,5 a 1,8 kg,
formato arredondado, pequena cavidade de sementes, conteúdo de sólidos
solúveis entre 11 e 13%, polpa macia e
firme.
O experimento foi conduzido em
delineamento inteiramente casualizado,
em cinco repetições, no esquema fatorial
5 X 5, onde foram avaliados cinco tem36
pos de retardamento da colheita [59; 60;
61; 62 e 63 dias após o plantio, equivalendo ao dia indicado pelo produtor (dia
0; 1; 2; 3 e 4, respectivamente)] e cinco
datas de análise (0; 7; 14; 21 e 28 dias
de armazenamento), totalizando 25 tratamentos, com 3 frutos por repetição em
duplicata. A colheita aos 59 dias após o
plantio foi considerada como tratamento testemunha. A determinação do ponto de colheita é feita com base nos dias
após o plantio, na coloração da casca,
na amostragem do teor de sólidos solúveis e na observação do destacamento
do pedúnculo. Os frutos foram conduzidos ao laboratório de pós-colheita da
ESAM, onde foram selecionados, pesados e refrigerados imediatamente a 7 ±
1ºC e umidade relativa de 95 + 5%. Dois
dias antes de cada análise os frutos foram retirados das câmaras frias para simular as condições do mercado consumidor, onde o fruto permanece nas
gôndolas por cerca de dois dias antes
de ser comprado.
As avaliações de aparência externa
(depressões, murcha ou lesões fúngicas)
e aparência interna (colapso interno,
sementes soltas ou presença de líquido)
foram feitas segundo a classificação utilizada por Gomes Júnior et al. (2000)
(1=fruto extremamente marcado pelos
defeitos anteriormente destacados;
2=severo; 3=médio; 4=leve; 5=ausência dos defeitos). Frutos com nota ≤ 3,0,
foram considerados indesejáveis para o
consumo e eliminados das análises. A
firmeza da polpa foi obtida por duas leituras na parte mediana, em cada metade do fruto, com penetrômetro
McCormick, modelo FT 327 com
plunger de 8 mm de diâmetro, sendo os
resultados obtidos em libras (lbf) e transformados para Newton (N). O teor de
sólidos solúveis (SS) foi obtido com
refratômetro digital, modelo PR–100
Palette, com correção automática de
temperatura, utilizando-se suco filtrado
e anotando-se em porcentagem, conforme Kramer (1973). A incidência de rachadura no pedúnculo foi obtida por observação visual dos frutos armazenados
e daqueles separados para análise (foram
contados a cada dia de análise anotandose a porcentagem em relação ao total de
frutos armazenados), e esse valor foi cumulativo para os demais tempos.
Os resultados foram submetidos à
análise de variância através do software
SAS (Statistical Analisys Systen). Obtendo-se interação significativa, procedeu-se a análise de regressão por meio
dos procedimentos PROC GLM e
PROC REG.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para aparência externa e interna não
foram verificadas interações significativas mas sim, constância nas médias das
avaliações. Os frutos de todos os tratamentos apresentaram média superior a
4, indicando condições adequadas para
a comercialização (Figura 1). São considerados principais fatores de perda de
qualidade na aparência externa o
murchamento, surgimento de manchas
escuras e amarelecimento da casca que
se torna mais aparente no final do período experimental. Para a aparência interna, a perda de qualidade, caracteriza-se pela presença de colapso interno
na polpa do fruto, aparecimento de sementes soltas e desintegração da placenta onde se encontram as sementes. Mendonça et al. (2002) trabalhando com a
mesma cultivar colhida em diferentes
cortes, verificou comportamento semelhante tanto para aparência externa
como interna, tendo ao final de 28 dias
de armazenamento, valores médios para
ambas as características superior a três.
O decréscimo gradual na aparência durante o tempo de armazenamento é normal e já foi verificado por vários autores estudando o melão amarelo ‘Gold
Mine’ (Menezes et al., 1995; Dantas,
2000) e com os melões ‘AF–646’ e ‘Rochedo’ (Gomes Júnior, 2000).
Houve interação significativa para
firmeza de polpa, onde se verificou um
decréscimo gradativo com o decorrer do
período de armazenagem. Verificou-se
que ao final de 21 dias de armazenamento, apenas os tratamentos colhidos aos
59; 60 e 61 dias após o plantio obtiveram valores médios para firmeza igual
ou superiores a 30 N (Figura 2). Acredita-se que o amolecimento da polpa do
melão pode estar relacionado com a perda de membranas das células do mesocarpo, diminuindo a atividade da
pectinametilesterase durante o armazenamento (Menezes et al., 1995). FernanHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Efeito do retardamento da colheita, na qualidade e na vida útil do melão Orange Flesh
des (1996), avaliando o melão Orange
Flesh verificou decréscimo gradual na
firmeza da polpa durante o tempo de
armazenamento. Mendonça et al. (2001)
trabalhando com melão Orange Flesh,
verificou também decréscimo gradativo
em função do tempo, de 39,35 N para
21,87 N, respectivamente do início aos
28 dias de armazenamento. Gomes
Júnior (2000), trabalhando com os
genótipos ‘AF–646’ e ‘Rochedo’ sob
armazenamento refrigerado também
verificou a queda gradativa nos valores
de firmeza de polpa.
Não foi verificada variação significativa no teor de sólidos solúveis, para
a interação entre os tratamentos. Observou-se constância nos seus valores médios até o 14º dia, e a partir daí uma tendência de diminuir (Figura 3), com valores entre 9 e 12%, ideais para a
comercialização no mercado externo
(Gayet, 1994). Menezes et al. (1998)
reportam que são desejáveis valores superiores a 9%, em virtude dos SS serem
uma importante característica de qualidade do ponto de vista comercial. Durante o armazenamento observou-se
variação decrescente na curva, provavelmente pela heterogeneidade dos frutos. Mesmo apresentando decréscimo,
as médias foram mantidas dentro do intervalo descrito por Gayet (1994). Em
geral não se verifica variações consideráveis no teor de SS durante o armazenamento de melões devido à inexistência de amido para a conversão em açúcares solúveis (Tucker, 1993). O decréscimo no teor de SS pode ser atribuído
ao consumo de carboidratos pela respiração. O armazenamento refrigerado
diminui a perda de massa pela respiração pelo menor metabolismo do fruto,
mas a perda excessiva de água, devido
a baixas umidades, pode afetar a respiração aumentando a perda de massa e
conseqüentemente o consumo de carboidratos. Menezes et al. (1995) tiveram
como resultados do armazenamento de
melão ‘AF–646’ a uma temperatura de ±
25°C, um decréscimo de 10,07 (0 dia) a
8,10 (49 dias), que foi considerado relativamente constante.
Verificou-se que os tratamentos colhidos dos 59 aos 61 dias após o plantio
não apresentaram rachaduras até o 14º
dia de armazenamento. Frutos colhidos
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Valores médios de aparência externa (A) e interna (B) do melão Orange Flesh
‘AF-1749’, colhido em cinco datas após o plantio: 59; 60; 61; 62 e 63. Armazenados à
temperatura de 7 ± 1ºC e umidade relativa de 90 ± 5%. Mossoró, ESAM, 2001.
Figura 2. Valores médios da firmeza de polpa do melão Orange Flesh ‘AF-1749’, colhido
em cinco datas após o plantio: 59; 60; 61; 62 e 63. Armazenados à temperatura de 7 ± 1ºC e
umidade relativa de 90 + 5%. Mossoró, ESAM, 2001.
37
F. V. S. Mendonça et al.
Figura 3. Valores médios do teor de sólidos solúveis do melão Orange Flesh ‘AF-1749’,
colhido em cinco datas após o plantio, durante o tempo armazenamento à temperatura de 7
± 1ºC e umidade relativa de 90 ± 5%. Mossoró, ESAM, 2001.
aos 62 e 63 dias já apresentavam incidência de rachaduras no pedúnculo, do
7º ao 140 dia de armazenamento, no entanto, não comprometendo sua qualidade visual. Mendonça et al. (2001), trabalhando com melão Orange Flesh, verificaram que os frutos maduros armazenados imediatamente após a colheita
a 7oC, ao final de 28 dias atingiram 5,5%
de frutos com incidência de rachadura.
Mesmo colhendo aos 62 e 63 dias após
o plantio, a quantidade de frutos com
rachadura no pedúnculo não influenciou
a aparência externa ou interna dos frutos, possibilitando sua comercialização.
Com base nos resultados obtidos,
pode-se considerar que os frutos de
melão Honey Dew Orange Flesh podem
ser armazenados por até 28 dias, podendo nesse intervalo ser comercializados
sem nenhum problema de aparência,
possibilitando a sua exportação principalmente para o mercado europeu. A firmeza da polpa aos 21 dias de
armazamento foi superior para os tratamentos colhidos dos 59 aos 61 dias após
o plantio, não impossibilitando a
comercialização dos frutos colhidos aos
62 e 63 dias após o plantio. Associan-
38
do-se as características avaliadas, pôdese observar que frutos colhidos
tardiament não apresentaram diferenças
no teor de SS aparências externa e interna até os 21 dias de armazenamento,
possibilitando sua comercialização em
boas condições. Essa constatação permite ao produtor trabalhar com uma
margem maior de segurança na colheita dos frutos de até 4 dias.
AGRADECIMENTOS
Ao convênio ESAM/VALEFRUTAS/CNPq –
PADFIN, pelos recursos financeiros. À Fazenda
São João S.A, pelos frutos cedidos.
LITERATURA CITADA
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Crescimento de singônio com diferentes tutores e substratos à base de
mesocarpo de coco
Nádia A. de Souza; Janie Jasmim
UENF, Av. Alberto Lamego 2000, 28013-602 Campos dos Goytacazes–RJ; E-mail: [email protected]; [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Diferentes tutores e substratos foram utilizados para avaliar o
cultivo de singônio (Syngonium angustatum Schott) em experimento instalado sob delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial (2 x 2), com seis repetições, três vasos por parcela e duas
plantas por vaso. Os tratamentos avaliados foram (1) substrato comercial (SC), com tutor de xaxim (X); (2) substrato comercial, com
tutor de mesocarpo de coco triturado (MCT); (3) substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (SC+MCT) (1:1), com tutor de
xaxim; (4) substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (1:1),
utilizando tutor de MCT. A altura ou comprimento da planta, diâmetro do caule, número de nós, número de folhas, área foliar, volume
de raízes subterrâneas e teor de nutrientes foram avaliados. Os melhores resultados para as características morfológicas foram observados nas plantas cultivadas com tutores de MCT e substrato
SC+MCT. Entretanto, o maior teor de nitrogênio foliar foi observado nas plantas cultivadas com tutor MCT e substrato SC. O tratamento com tutor xaxim e substrato SC+MCT foi o menos adequado
para o cultivo de singônio e apresentou os menores valores para
todas as características avaliadas.
Growth of arrowhead plants with different supporting sticks
and potting media
Palavras-chave: Syngonium angustatum, casca de coco, xaxim.
Keywords: Syngonium angustatum, fern tree, plant supporting sticks.
Two different supporting sticks and potting media were used to
evaluate the growth of arrowhead plant (Syngonium angustatum
Schott), in a completely randomized block design, in a factorial
scheme (2 x 2) with six replicates, and three pots per plot. There
were evaluated the (1) commercial substrate (SC) as potting medium,
with fern tree supporting sticks (X); (2) commercial substrate as
potting medium (SC), with coconut mesocarp supporting sticks
(MCT); (3) commercial substrate and coconut mesocarp (SC+MCT)
(1:1) as potting medium, with fern tree supporting sticks (X); (4)
commercial substrate and coconut mesocarp (1:1) as potting medium
(SC+MCT), using coconut mesocarp supporting sticks (MCT). Plant
height or length, stem diameter, number of nodes and of leaves, leaf
area, subterranean root volume and nutrient contents were evaluated.
The best results for the morphological characteristics were observed
in plants grown under MCT supporting sticks and the SC+MCT
potting medium; nevertheless the highest leaf N content was observed
in plants grown under MCT supporting sticks and SC potting
medium. The treatment with fern tree supporting sticks and SC+MCT
potting medium was the least adequate one for growing Syngonium
angustatum and presented the lowest values for all variables studied.
(Recebido para publicação em 12 de julho de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003)
A
propagação e cultivo de plantas ornamentais requer a utilização de
substratos que devem ter boa estrutura e
porosidade, conseqüentemente boa
aeração e retenção de água, baixa densidade, facilitando o manuseio e transporte, estando livre de patógenos e pragas
(Hartmann e Kester, 1975; Kämpf, 2000).
Entre os substratos mais empregados no cultivo de ornamentais, merece
destaque o xaxim, oriundo da espécie
Dicksonia sellowiana que ocorre em
meio às florestas da América Central e
do Sul. O processo de produção do
xaxim se inicia na extração ou corte das
plantas, no interior do ecossistema florestal, com transporte aos locais de manufatura dos produtos a partir do tronco. A extração do xaxim nas florestas
paranaenses e sua exploração econômica pela indústria artesanal e pelo comércio atacadista e varejista têm mantido
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
uma curva de crescimento constante.
Floricultores, paisagistas, urbanistas e,
em maior número as donas-de-casa, são
os principais consumidores dos artefatos do xaxim. A escassez da matéria-prima ainda não é sentida no varejo. Mas a
indústria, para manter e até ampliar o
volume de produção, tem arcado com
custos de transporte cada vez maiores,
uma vez que as florestas situadas em sua
proximidade já não possuem mais estoques suficientes (Santos et al., 2000). O
Paraná tem atendido boa parte da demanda de estados que não produzem
xaxim e daqueles que já proibiram sua
extração e comercialização, como é o
caso de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul. Aproximadamente um milhão
de vasos e mais uma quantidade não
dimensionada de estacas, placas e pó
de xaxim saem das fábricas e são distribuídos, pelos atacadistas, pratica-
mente em todos os estados brasileiros
(Santos et al., 2000).
Com lucratividade econômica elevada e mercado em contínua expansão, a
exploração comercial do xaxim tem
crescido e se fortalecido. A tendência é
que, à medida que diminui a disponibilidade de matéria prima, o negócio torne-se ainda mais rentável, representando um ciclo que somente deixará de
existir caso venha ocorrer a total
extinção do xaxim das florestas do
Paraná (Santos et al., 2000). Estudos
com blocos de casca de coco fabricados
especialmente para o uso como substrato
de orquídeas epífitas, demonstraram que,
do ponto de vista de retenção e perda de
água, esse material, puro ou em mistura,
pode substituir o xaxim (Demattê e
Demattê, 1996). Parâmetros agronômicos têm indicado superioridade, ou no
mínimo, igualdade de desempenho da
39
N. A. Souza e J. Jasmim
fibra do mesocarpo do coco em relação
a outros materiais (Merrow, 1994).
O singônio (Syngonium angustatum
Schott) é planta semi-hebácea ascendente, de clima tropical, muito cultivada em
vasos com tutores, para decorar ambientes internos ou como forração à meia
sombra em jardins. Quando jovem, as
folhas são simples e quando adultas passam a ter divisões no limbo. Seu maior
atrativo comercial são as folhas que formam uma massa verde bem fechada.
Sua facilidade de cultivo se deve ao fato
da multiplicação ser feita por estacas
herbáceas, durante todo o ano (Lorenzi
e Souza, 2001), a única limitação é que
a espécie não suporta temperaturas abaixo de 15ºC, podendo causar danos e
levá-la a morte (Houseplant, 2002).
Nesse trabalho, avaliou-se o crescimento de singônio com tutores e,
substrato à base de mesocarpo de coco,
comparados aos materiais tradicionais
(xaxim e substrato comercial).
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na área experimental da Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro, localizada no município de Campos dos
Goytacazes, estado do Rio de Janeiro,
situado a 21º44’47’’S, 41º18’24’’W e
altitude de aproximadamente 11 m em
relação ao nível do mar.
Para o preparo do substrato e tutores de mesocarpo de coco triturado, as
cascas de coco verde foram coletadas
em pontos de venda de água de coco, na
cidade de Campos dos Goytacazes. Os
cocos foram descascados, retirando-se
o epicarpo do fruto e em seguida, a parte fibrosa (mesocarpo) foi cortada e passada por uma máquina forrageira, e seca
ao ar para uso como substrato. Para a
confecção dos tutores, o mesocarpo de
coco triturado foi colocado em uma fôrma feita de chapa de aço galvanizada, e
prensado utilizando-se uma prensa hidráulica manual a 15.000 kgf por 5 minutos. Os tutores prontos foram colocados em estufa, com ventilação forçada,
a 70ºC durante 48 horas. Em seguida,
realizou-se a imersão em solução na
concentração de 50 g kg-1 de resina à
base de formol e uréia, e secagem em
estufa por mais 48 horas. Os tutores fo40
ram submetidos à irrigação em vaso
contendo substrato comercial por 21
dias. Aqueles que não se deformaram
nem curvaram foram utilizados para o
experimento com plantas.
Os tutores foram utilizados no cultivo de singônio (Syngonium
angustatum Schott), em vasos plásticos
de cor preta com capacidade para cinco
litros e cultivados em casa de vegetação do tipo túnel, coberto com plástico
leitoso 100 µm e tela de sombreamento
de 30%, com abertura lateral
(sombreamento de 70%). O experimento foi montado sob delineamento inteiramente casualizado, em esquema
fatorial 2 x 2, com 6 repetições e 3 vasos por parcela, compondo os tratamentos (1) substrato comercial (SC), com
tutor de xaxim (X); (2) substrato comercial, com tutor de mesocarpo de coco
triturado (MCT); (3) substrato comercial e mesocarpo de coco triturado
(SC+MCT) (1:1), com tutor de xaxim;
(4) substrato comercial e mesocarpo de
coco triturado (1:1) e tutor de mesocarpo de coco triturado.
As mudas de singônio foram padronizadas, utilizando-se duas mudas de 25
cm (5 cm enterrados) de altura por vaso,
com duas ou três folhas cada.
As plantas foram cultivadas durante
150 dias, de 20/02 (plantio) a 20/07/
2001 (final do experimento). Foram avaliados a cada trinta dias a altura da planta
(com o auxílio de trena); diâmetro do
caule [a 10 cm de altura, com
paquímetro digital (Electronic Digital
Caliper)]; número de nós; número de
folhas e área foliar [com uso de medidor de área foliar portátil (LI-300A
Portable Area Meter-LI-COR Inc)]. No
plantio e no final do experimento avaliou-se o estado nutricional das plantas.
As raízes subterrâneas foram cuidadosamente lavadas em água corrente para remoção dos substratos e a área superficial
foi determinada pela multiplicação da
estimativa da área transversal, medida em
medidor de área foliar (LI-3100, LI-COR
Inc), pelo valor π no final do experimento (Rossiello et al., 1995).
Foram analisados os teores de nutrientes do substrato comercial, do mesocarpo de coco triturado, das folhas de
singônio, do tutor de xaxim, do tutor de
MCT e também do substrato xaxim a
título de comparação com o MCT, antes do plantio do experimento e no final. Todos os materiais foram submetidos às digestões úmidas (sulfúrica e
nitroperclórica), separadamente
(Malavolta et al., 1989; Jones et al.,
1991). O pH e a condutividade elétrica
(CE) foram determinados em água,
como para solos (Tedesco et al., 1985).
O nitrogênio (N-org) foi determinado pelo método de Nessler (Jackson,
1965), o fósforo (P) pela redução do
complexo fosfo-molíbdico pela vitamina C (Braga e Defelipo, 1974); para o
nitrato (NO3-) utilizou a metodologia
descrita por Cataldo et al. (1975). O cloro (Cl) foi determinado por titulometria
(Malavolta et al., 1989). Os teores de
potássio (K) e de sódio (Na) foram determinados por espectrofotometria de
absorção atômica. O carbono total foi
determinado no SC, X e MCT de acordo com a metodologia descrita por
Anderson e Ingram (1996).
A temperatura média mínima, média máxima e umidade relativa do ar,
durante o período de cultivo foram, respectivamente, de 22,5ºC, 30,2ºC e 76,4%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para o substrato MCT os valores de
nutrientes foram: N-org. 3,77 g kg-1,
NO3- 0,85 g kg-1; P 0,78 g kg-1; K 11,66
g kg-1; Cl 7,053 g kg-1 e Na 3122 mg kg-1;
para o substrato comercial SC foram: Norg. 12,28 g kg-1; NO3- 0,197 g kg-1; P
4,08 g kg-1; K 5,16 g kg-1; Cl 2,63 g kg-1 e
Na 162 mg kg-1 e para o substrato xaxim
foram: N-org. 7,36 g kg-1; NO3- 0,05 g
kg-1; P 0,46 g kg-1; K 5,43 g kg-1; Cl 1,32
g kg-1 e Na 55 mg kg-1. Os valores de
pH foram: para o substrato MCT 4,52;
para o substrato SC 5,40 e para o
substrato X 4,74. Os valores de
condutividade elétrica (mS cm-1) foram:
para o substrato MCT 6,44; para o
substrato comercial SC 6,82 e para o
substrato xaxim foi de 0,83.
Os valores iniciais do pH dos
substratos MCT e xaxim, foram menores do que o pH do substrato SC, entretanto situaram-se dentro da faixa ideal
recomendada (Conover, 1967) para
substratos utilizados nos cultivos de
plantas ornamentais, que, segundo
Kämpf (1999), valores menores de pH
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Crescimento de singônio com diferentes tutores e substratos à base de mesocarpo de coco
Tabela 1. Teor de nutriente na matéria seca do substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (SC+MCT) e substrato comercial (SC),
aos 150 dias após o plantio de singônio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam
médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato.
X: tutor de xaxim; MCT: tutor de mesocarpo de coco triturado.
*
podem alterar a disponibilidade de nutrientes e induzir sintomas de deficiência de N, K, Ca e Mg. Os valores de pH
dos tratamentos que continham o mesocarpo de coco triturado como
substrato ou em forma de tutores, não
prejudicaram o crescimento das plantas
de singônio. De maneira geral, os valores de pH estão de acordo com os valores citados por Demattê e Vitti (1997) e
um pouco abaixo dos valores encontrados por Konduru et al. (1999). As folhagens são plantas mais tolerantes, sendo capazes de se adaptarem a essas condições (Kämpf, 1995).
Em relação à condutividade elétrica
os valores elevados nos substratos SC e
MCT se justificam pelo conteúdo de sais
encontrados no SC podendo estar relacionado à adição de fertilizante na composição do substrato comercial. No
MCT a condutividade elétrica reflete os
níveis de K, Cl, e Na encontrados na sua
composição. Esses resultados foram
superiores aos obtidos por Handreck
(1993) e Konduru et al. (1999).
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Os altos teores de Cl e Na encontrados no MCT no início do experimento,
não interferiram negativamente no crescimento das plantas, apesar dos teores
foliares dos mesmos, aos 150 dias após
o plantio (ponto de comercialização),
encontrarem-se altos (Tabela 3), quando comparados ao nível crítico citado
por Jones et al. (1991), indicando terem
sido absorvidos sem ocasionar danos nas
folhas e/ou raízes.
Os teores de nutrientes na casca de
coco, bem como no xaxim, são muito
variáveis, pois dependem da origem do
material, afetada pelas condições de
cultivo (estado nutricional, condições de
clima e solo, luminosidades, idade da
planta etc). Sendo assim, análises dos
teores de Na e Cl, principalmente, devem ser feitas antes de seu uso, pois esses elementos podem estar presentes
acima do nível aceitável, prejudicando
o efeito positivo deste resíduo na confecção de substratos. Prasad (1997) cita
que o íon Cl pode ser prejudicial a culturas que são mais sensíveis à salinidade.
Devem ser conhecidas as necessidades
das plantas que serão cultivadas, principalmente em relação aos íons Cl e Na
(Röber, 1999). Evans et al. (1996), obtiveram teores de K, Cl e Na elevados
no mesocarpo de coco, possivelmente
devido aos produtores utilizarem os fertilizantes KCl e NaCl no cultivo do coco.
Os teores de nitrogênio encontrados
nos substratos aos 150 dias após o plantio (Tabela 1) mostraram que os maiores valores estavam presentes no
substrato SC dos vasos que continham
tutores MCT. Esses tutores MCT tinham
uréia em sua composição (Tabela 2) e
esta pode ter contribuído para elevar os
teores de N encontrados naquele tratamento.
Os valores de nitrogênio encontrados no substrato SC encontram-se próximos àqueles citados por Rizzo et al.
(1999). Para o MCT, os teores estão condizentes aos citados por Demattê e Vitti
(1997), que analisaram o coxim.
O teor de N-org nas folhas de
singônio aos 150 dias após o plantio foi
41
N. A. Souza e J. Jasmim
Tabela 2. Teor de nutrientes na matéria seca dos tutores de mesocarpo de coco triturado (MCT) e xaxim (X), aos 150 dias após o plantio de
singônio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001.
*
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam
médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato.
SC: substrato comercial; SC+MCT: substrato comercial e mesocarpo de coco triturado.
Tabela 3. Teor de nutrientes na matéria seca das folhas de singônio, aos 150 dias após o plantio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam
médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato.
SC: substrato comercial; SC+MCT: substrato comercial e mesocarpo de coco triturado; MCT: tutor de mesocarpo de coco triturado e X:
tutor de xaxim.
*
42
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Crescimento de singônio com diferentes tutores e substratos à base de mesocarpo de coco
Tabela 4. Altura, diâmetro, número de nós, número de folhas e área foliar de plantas de singônio, cultivadas em vasos em função do
substrato comercial (SC), substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (SC+MCT) e do tutor de xaxim e mesocarpo de coco triturado
(MCT) utilizado, aos 150 dias após o plantio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam
médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato.
*
maior nos tratamentos com tutores de
MCT (Tabela 3) independentemente do
substrato, em decorrência do teor de Norg nos tutores (Tabela 2). Embora no
substrato SC+MCT houvesse uma quantidade considerável de N-org (Tabela 1),
as plantas nele cultivadas com tutor de
xaxim mostraram-se amareladas por
deficiência de N (Tabela 3), provavelmente devido à alta relação C:N no
MCT, que foi de 164. Nesse caso, poderia estar ocorrendo utilização do N para
decomposição do MCT, já que não foi
feita suplementação de N. Conforme
Röber (1999), o uso de cascas não decompostas, “verdes”, e a não adição de
nitrogênio leva a fixação do N do
substrato e, conseqüentemente, deficiência de N nas plantas, por causa da alta
relação C:N.
As mudas produzidas no substrato
SC+MCT e tutor de MCT alcançaram
maiores valores de altura, diâmetro,
número de nós e número de folhas (Tabela 4), o que pode estar relacionado à
melhoria das características físicas do
SC pela adição de MCT (baixa densidade do substrato, alta porosidade) e ao
maior teor de N no tutor oriundo da reHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
sina à base de uréia na sua composição.
As plantas do tratamento SC+MCT e
tutor de xaxim tiveram desempenho inferior em relação aos demais tratamentos, corroborando os resultados de teor
foliar e sintomas visuais de deficiência
de N (Tabela 3).
A área foliar das plantas no tratamento SC com tutor MCT foi maior (Tabela
4), com maior massa verde em relação
aos demais tratamentos; podendo-se dizer que ele foi superior quanto ao padrão de qualidade, característica desejável para comercialização das plantas,
já que o singônio é comercializado como
folhagem ornamental. O segundo melhor tratamento em termos de qualidade de planta foi o SC+MCT com tutor
de MCT. O tradicionalmente utilizado
pelos produtores que é o SC com tutor
de xaxim foi o terceiro e, por último, o
SC+MCT com tutor de xaxim que apresentou o menor desenvolvimento de
massa verde, possivelmente em virtude
da restrição de N para o crescimento.
Portanto, o tutor de MCT poderia substituir o de xaxim desde que fossem utilizados o SC ou SC+MCT como
substrato.
A área superficial de raízes das plantas de singônio aos 150 dias de cultivo
com substrato composto pela mistura de
SC+MCT e com tutor de MCT foi 653,3
e com tutor de X foi de 650,5. As plantas cultivadas em substrato SC e com
tutor de MCT foi 181,9 e com o tutor de
X foi de 304,5. A incorporação de
substrato de MCT ao substrato comercial SC, favoreceu o crescimento das
raízes subterrâneas das plantas de
singônio, que apresentaram volumes
superiores àqueles observados nas plantas cultivadas em substrato comercial
SC, evidenciando a influência benéfica
da mistura do MCT ao SC na textura do
substrato, o que, segundo Morgado
(1998), é um fator determinante do crescimento e desenvolvimento das raízes.
Assim, conclui-se que para o crescimento das plantas de singônio, o tutor
de MCT forneceu os nutrientes necessários durante todo o período de produção não havendo a necessidade de adubação até atingirem o ponto de
comercialização e que o MCT pode ser
utilizado em mistura com o SC reduzindo os gastos com substrato comercial,
sem prejudicar o crescimento das plan43
N. A. Souza e J. Jasmim
tas de singônio desde que sejam utilizados tutores de MCT.
AGRADECIMENTOS
À FAPERJ, UENF/LAMAV/LFIT,
Setor de Nutrição Mineral de Plantas,
Alba Química S. A., Tropiflora e Sr. José
Accácio da Silva (TNS LFIT/CCTA/
UENF).
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Enxertia em plantas de pimentão no controle da murcha de fitóftora em
ambiente protegido
Haydée S. Santos ; Rumy Goto
UNESP-FCA, Departo. Produção Vegetal, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a viabilidade de utilização da enxertia em plantas de
pimentão (Capsicum annuum, L.), visando o controle da murcha de
fitóftora. A pesquisa foi conduzida de setembro de 2000 a julho de
2001, na UNESP, Botucatu, em ambiente protegido. Adotou-se o
delineamento experimental de blocos ao acaso, com 4 repetições e 5
plantas por parcela. Foram utilizados dois porta-enxertos resistentes
a Phytophthora capsici, híbridos F1 de Capsicum annuum, e três
híbridos comerciais suscetíveis (Elisa, Margarita e Magali-R). A
enxertia foi realizada quando porta-enxertos e enxertos apresentavam respectivamente sete e três folhas verdadeiras, pelo método de
garfagem fenda simples. Aos 14 dias após o transplante das mudas
foi feita a inoculação do fungo, utilizando sementes de trigo infestadas pelo patógeno, depositadas ao redor do colo da planta. Quatro
dias após a inoculação, e a partir daí a cada 15 dias, foram feitas
avaliações que confirmaram a resistência dos porta-enxertos e a
suscetibilidade das plantas não enxertadas. Observou-se bom nível
de compatibilidade de enxertia em todas as combinações, precocidade de florescimento das plantas não enxertadas, manutenção de
resistência à doença pelas plantas enxertadas durante todo o período
e variações na altura das plantas em algumas combinações. Com
relação à produção, verificou-se que os frutos mantiveram as características fenotípicas de cada híbrido, revelando que não houve interferência dos porta-enxertos neste aspecto. Concluiu-se haver viabilidade técnica de utilização da enxertia no controle da murcha de
fitóftora em ambiente protegido.
Sweet pepper grafting to control phytophthora blight under
protected cultivation
The viability of grafting was evaluated in sweet pepper
(Capsicum annuum, L) plants to control phytophthora blight. The
research was carried out during the period of September 2000 to
July 2001, in Botucatu (Brazil), under protected cultivation. The
experimental design was of randomized blocks with four replication
and five plants per plot. Rootstocks resistant to P. capsici, F1 hybrids
of C. annuum and three susceptible commercial hybrids (Elisa,
Margarita and Magali R) were used. The cleft grafting was realized
when rootstocks and grafts showed seven and three true leaves,
respectively. The inoculation was done 14 days after transplanting
the seedlings by depositing wheat seeds infested with the fungus,
around the stem of each plant. Evaluations were done each 15 days
starting four days after the inoculations. A good level of grafting
compatibility in all the combinations, flowering precocity of non
grafted plants, maintenance of the resistance to the disease in grafted
plants and variations in height of the plants in some combinations
were observed. The physiological characteristics of the hybrids were
not influenced by the plants used as rootstocks. Grafting could be
used as alternative to control phytophthora blight under protect
cultivation.
Palavras-chave: Solanaceae, Capsicum annuum, L., Phytophthora
capsici, Leonian, cultivo protegido.
Keywords: Solanaceae, Capsicum annuum, L., Phytophthora
capsici, Leonian.
(Recebido para publicação em 09 de agosto de 2002 e aceito em 03 de novembro de 2003)
A
enxertia em hortaliças iniciou-se
no Japão e na Coréia no final da
década de 1920, em melancia (Citrullus
lanatus) como medida preventiva contra
patógenos de solo (Lee, 1994). Entretanto, somente a partir de 1955 começou a
ser praticada mais efetivamente em berinjela, buscando evitar a murcha-defusário (Fusarium oxysporium)
(Yamakawa, 1982). No Brasil, acreditase que a enxertia em hortaliças começou
a ser realizada comercialmente na década de 80, em cultivo de pepino no estado
de São Paulo, visando o controle de
nematóides e obtenção de frutos livres
de cera (Goto, 2001). Existem relatos de
que na Amazônia, em pequenas culturas,
a enxertia de tomateiro em jurubeba é
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
uma prática utilizada há muito tempo,
para controle da murcha-bacteriana causada por Ralstonia solanacearum.
A cultura do pimentão tem na murcha, causada pelo fungo Phytophthora
capsici Leonian, um de seus maiores
problemas fitossanitários. Este fungo foi
descrito inicialmente no Novo México
em 1922 (Leonian, 1922). No Brasil,
esta doença foi observada pela primeira
vez, em Ribeirão Preto em 1951, dizimando um cultivo dessa solanácea
(Amaral, 1952). Atualmente, a doença
encontra-se distribuída em quase todos
os continentes, em regiões de clima temperado ou tropical. Apenas no continente
Australiano ainda não foi relatada sua
ocorrência (Irwin et al., 1995).
Os sintomas típicos da doença causada por P. capsici em pimentão são a
murcha repentina, necrose de coloração
marrom-escura no colo e morte da planta. O sistema radicular fica necrosado e
apodrecido (Matsuoka e Ansani, 1984).
Diversas medidas de controle têm sido
adotadas a fim de impedir que a doença
se estabeleça: rotação de culturas,
mulching, solarização, manejo da irrigação, controle biológico, através do uso de
microorganismos antagônicos, controle
genético, com a utilização de cultivares e
híbridos resistentes e o controle químico.
No entanto, cada um desses métodos tem
apresentado limitações, e a busca de alternativas tecnicamente viáveis tem sido
constante (Hwang e Kim, 1995).
45
H. S. Santos e R. Goto
Em ambiente protegido, os patógenos de solo representam um desafio
ainda maior ao cultivo do pimentão, pois
são muito mais agressivos sob condições
de alta umidade e temperatura. Sua ocorrência é comum em solos de estufa com
problemas de salinização, conduzidos
geralmente com manejo inadequado
(Vida et al., 1998).
Considerando os fatores acima citados, a enxertia pode ser uma boa alternativa para o controle da murcha de
fitóftora em ambiente protegido. A
maior dificuldade de adotar a técnica da
enxertia em pimentão até agora, era a
inexistência de porta-enxertos adequados, que, além de não apresentarem bom
nível de compatibilidade, conferiam
pouco vigor ao enxerto e transmitiam
pungência aos frutos, por serem provenientes de pimentas (Miguel, 1997).
Entretanto, este problema está sendo
solucionado com a obtenção de híbridos como porta-enxerto, conforme
Kobori (1999).
Avaliou-se nesse trabalho dois dos
porta-enxertos resistentes à murcha-defitóftora obtidos por Kobori (1999) enxertando-os com três híbridos comerciais suscetíveis, verificando assim o nível de compatibilidade da enxertia e o
desempenho produtivo das plantas enxertadas, a resistência dos porta-enxertos e a evolução dos sintomas da doença nas plantas não enxertadas.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida na UNESP
em Botucatu, São Paulo, de setembro
de 2000 a julho de 2001. As plantas foram conduzidas em ambiente protegido, numa estrutura tipo arco, de 7,0 m
de largura por 40,0 m de comprimento,
3,0 m de pé direito, coberta com filme
de polietileno de 100 µm de espessura,
e sem controle das condições
ambientais.
O delineamento experimental foi de
blocos ao acaso, com 9 tratamentos e 4
repetições. Os tratamentos resultaram da
combinação de dois porta-enxertos, híbridos de Capsicum annuum: AF-2638
(linhagem SCM-334 x linhagem AF1947) e AF-2640 (linhagem SCM-334
x linhagem AF1949) (Sakata Seed
Sudamérica) enxertados com 3 híbridos
46
comerciais suscetíveis à Phytophthora
capsici: ‘Margarita’ (Rogers Syngenta
Seeds), ‘Elisa’ (Rogers Syngenta Seeds)
e ‘Magali-R’ (Sakata Seed Sudamérica).
Os híbridos suscetíveis foram utilizados
também como pés-francos. Cada parcela
experimental foi constituída de cinco
plantas, espaçadas de 1,4 x 0,4 m, sendo utilizadas nas avaliações as três plantas centrais. Foram realizadas 9 colheitas dos frutos, com no mínimo 50% de
maturação.
A enxertia foi de garfagem fenda
simples (Yamakawa, 1982), realizada
quando porta-enxertos e enxertos apresentavam, respectivamente, sete e três
folhas verdadeiras expandidas. O ponto
de enxertia foi na altura da terceira folha verdadeira do porta-enxerto, quando o caule estava com aproximadamente 3 mm de diâmetro. A operação de
enxertia foi realizada aos 51 dias após a
semeadura dos porta-enxertos e 41 dias
após a dos enxertos. Constou de um corte transversal do caule do porta-enxerto, seguido da abertura de uma fenda
atingindo ¾ do seu diâmetro a uma profundidade de aproximadamente 1,5 cm.
As mudas do enxerto, apresentando três
folhas verdadeiras foram cortadas em
bisel abaixo das folhas cotiledonares,
sendo encaixadas então na fenda do porta-enxerto.
O transplante das mudas ocorreu aos
21 dias após a enxertia. A irrigação foi
por gotejamento, com um gotejador por
linha de cultura. As plantas foram
tutoradas em espaldeira simples, com
condução livre em número de hastes.
Não se eliminou a primeira flor, e os
demais tratos culturais foram feitos conforme as necessidades da cultura.
Aos 35 dias após a enxertia, quando
as plantas estavam com nove folhas verdadeiras, foi feita a inoculação do fungo, em todos os tratamentos. O inóculo
utilizado foi produzido na UNESP em
Botucatu, de acordo com o protocolo
citado por Marque et al. (1999). Utilizou-se um isolado de P. capsici (PI 15)
do grupo A2, proveniente de Bragança
Paulista, São Paulo. Foi preparado um
substrato orgânico com 50 sementes de
trigo em dois frascos Schott Reagent de
500 ml com 100 ml de água destilada
que receberam duas autoclavagens a
120ºC por 30 minutos com um interva-
lo de três dias. A seguir foram transferidos para a superfície das sementes três
discos de meio ágar-água de 5,0 mm de
diâmetro com crescimento ativo de P.
capsici. O patógeno foi incubado durante 15 dias a 24ºC no escuro, agitando-se
periodicamente os frascos para facilitar
a infestação total das sementes.
A metodologia de inoculação consistiu na deposição de 3 a 5 sementes
contaminadas ao redor do colo da planta, saturando-se em seguida o solo com
água. Os resultados obtidos com este
método são semelhantes aos alcançados
quando se utiliza suspensão de
zoósporos na concentração de 10 4
zoósporos/ml (Marque et al., 1999).
Para comparar a evolução dos sintomas da doença nos híbridos não enxertados, foram avaliados três modelos
matemáticos que possibilitam estabelecer uma relação entre proporção da
doença e tempo (Bergamin Filho, 1995).
Dentre eles o modelo monomolecular
foi o que melhor se ajustou, sendo então utilizado para esta análise.
Aos quatro dias após a inoculação e
a partir daí a cada 15 dias, foram feitas
as avaliações, nas quais verificou-se a
manifestação dos sintomas e severidade da doença, por meio de uma escala
de notas assim estipulada: 1- planta sem
sintomas; 2- escurecimento do caule; 3planta murcha; 4- planta morta.
Foram também avaliadas a precocidade de florescimento, expressa pelo
número de dias entre a semeadura e a
antese, a altura das plantas aos 36; 56;
101; 136 e 167 dias após a enxertia e o
número de frutos totais e
comercializáveis produzidos pelas plantas enxertadas. Foram também analisados o diâmetro, comprimento e espessura da parede dos frutos colhidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O nível de compatibilidade inicial
(pegamento da enxertia) é muito importante para que se tenha sucesso na produção de mudas enxertadas. Neste trabalho, obteve-se 93%, equivalente ao
que foi alcançado em pimentão por Choe
(1989).
As plantas enxertadas mantiveramse sem sintomas da doença durante todo
o período de condução do experimento.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Enxertia em plantas de pimentão no controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido
As não enxertadas manifestaram os sintomas de maneira diferenciada (Figura
1). Na comparação dos híbridos, verificou-se que ‘Magali-R’ apresentou menor proporção de plantas doentes aos
quatro dias após a inoculação (DAI),
enquanto ‘Margarita’ e ‘Elisa’ estiveram
com proporções muito próximas. Aos 41
DAI, houve uma acentuada evolução
dos sintomas nas plantas do híbrido
Elisa, que manteve esta tendência até o
final das avaliações. Foi possível a partir daí observar que cada híbrido tem um
comportamento próprio quanto à evolução da doença, no entanto, como esperado, todos a desenvolveram.
A precocidade de florescimento foi
verificada, por ser um dos métodos utilizados para classificar o pimentão em
precoce ou tardio, conforme Melo
(1997). Esta análise não objetivou uma
comparação entre os híbridos, visto que
cada um possui características próprias,
mas observar se os porta-enxertos, nas
diferentes combinações, induziriam
mudanças significativas nesse aspecto,
o que não ocorreu (Tabela 1). Observouse apenas que o híbrido Elisa tendeu a
uma precocidade de florescimento quando enxertado em AF-2640. Quanto aos
pés francos, chegaram à antese da primeira flor cerca de 12 dias antes das
plantas enxertadas. Este comportamento foi também observado em plantas de
pepino (Cañizares, 1997), e é previsto
tendo em vista o estresse de enxertia que
as plantas sofreram. Rachow-Brandt e
Kolmann (1992) observaram que somente cinco a sete dias após a enxertia
iniciou-se o transporte de assimilados,
o que vem atrasar a fase de desenvolvimento vegetativo que deve existir antes
do início do florescimento.
Observou-se variações significativas
na altura das plantas, dependendo do
porta-enxerto utilizado (Tabela 2). Observa-se que nas combinações de ‘Magali-R’ com os dois porta-enxertos, a
partir dos 136 DAE o porta-enxerto AF2638 conferiu maior altura às plantas,
entretanto não diferiu significativamente
de AF-2640. O híbrido Elisa durante o
período de 36 aos 101 dias apresentou
plantas de maior altura quando enxertado em AF-2640 e aos 136 e 167 dias
manteve esta tendência. O híbrido
Margarita não mostrou diferença signiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Evolução dos sintomas da doença nos híbridos x tempo em dias após a inoculação.
São Manuel, UNESP, 2000.
Tabela 1. Médias do número de dias da semeadura até a antese. São Manuel, UNESP, 2000.
Dados originais (média de 5 plantas em 4 repetições); 2Colunas seguidas pelas mesmas
letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%; 3Porta-enxerto; 4Pé
franco
1
ficativa com a variação do porta-enxerto. Kobori (1999) relatou que o híbrido
‘Magali-R’ não apresentou diferença em
altura quando enxertado nos mesmos
porta-enxertos usados neste trabalho,
entretanto observou que as plantas enxertadas ficaram menores em relação
aos pés-francos. Esta comparação não
foi feita neste caso, pois as plantas não
enxertadas morreram após a contaminação do fungo. É possível que a menor
altura das plantas tenha sido influencia-
da pelos porta-enxertos, por terem a linhagem Serrano Criollo de Morellos334 como um de seus progenitores, ou
por alguma exigência não conhecida no
manejo das irrigações e fertilizações. A
questão nutricional das plantas de pimentão enxertadas deverá ser objeto de
novos estudos, visto que a enxertia pode
produzir alterações na absorção e transporte de nutrientes, o que está diretamente correlacionado com o crescimento da planta.
47
H. S. Santos e R. Goto
Tabela 2. Médias das alturas das plantas de pimentão em centímetros1 , aos 36; 56; 101; 136 e 167 dias após a enxertia (DAE). São Manuel,
UNESP, 2000.
1
Dados originais (média de três plantas em quatro repetições); 2Colunas seguidas pelas mesmas letras não diferem estatisticamente entre si
pelo teste de Tukey a 5%
Tabela 3. Médias do número e peso dos frutos totais (FT), comercializáveis (FC), diâmetro (D), comprimento (CO) e espessura da parede
(EP) de frutos de pimentão obtidos em nove colheitas (95, 121, 134, 141, 148, 204, 218, 231, 247 DAE). São Manuel, UNESP, 2001.
1
Dados originais (média da produção de 3 plantas em 4 repetições e 9 colheitas); 2Colunas seguidas pelas mesmas letras não diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%
Verificou-se uma diferença significativa na média do peso dos frutos
comercializáveis para a combinação AF2640 x ‘Elisa’, que foram os de maior
peso (Tabela 3). O híbrido Margarita não
apresentou diferença em número e peso
dos frutos com a variação dos porta-enxertos, e ‘Magali-R’ tendeu a produzir
frutos comerciáveis de menor peso em
combinação com AF-2638. Pode-se notar que em todas as combinações em que
se utilizou o porta-enxerto AF-2640, observou-se uma tendência de produção de
frutos comercializáveis de maior peso.
Observando-se o número e o peso
médio de frutos por planta pode-se concluir que os porta-enxertos não reduziram o vigor dos híbridos enxertados, um
dos maiores problemas apresentados
48
pelos porta-enxertos usados em pimentão na Europa até o presente momento
(Miguel, 1997). Por outro lado, estudos
realizados com estes híbridos em condições de ambiente protegido, sem
enxertia, apresentaram produções equivalentes às que foram obtidas neste trabalho (Melo, 1997; Kobori, 1999; Cunha et al., 2001).
Conclui-se que existe viabilidade
técnica de utilização da enxertia em
plantas de pimentão conduzidas em
ambiente protegido, como alternativa de
controle da murcha causada por P.
capsici. Foi comprovada também a tolerância destes mesmos porta-enxertos
a Meloidogyne incognita, Raça 2 (Santos et al., 2002), o que torna sua utilização ainda mais interessante. O presente
estudo não se deteve na questão econômica, no entanto, considerando a facilidade de produção das mudas enxertadas, que não requereram nenhum investimento a mais em instalações, treinamento especial do enxertador, além de
terem apresentado alto índice de
pegamento da enxertia, acredita-se que
a relação custo-benefício seja positiva
na decisão por adotar esta forma de controle dos patógenos de solo citados.
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Efeitos de inundações temporárias do solo em plantas de ervilha1
Jocelito S. de Sá2; Décio Eugênio Cruciani3; Keigo Minami4
ESALQ/USP, Av. Pádua Dias, 11, C. Postal 09, 13418-900 Piracicaba-SP; 2Doutorando em Irrigação e Drenagem; E-mail:
[email protected]; ³ Depto. Eng. Rural, E-mail: [email protected]; 4Depto. Produção Vegetal, E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A cultura de ervilha é uma possível opção para a utilização dos
solos de várzea durante o inverno. Porém, esta cultura não está adaptada a condições extremas de falta ou de excesso de água no solo.
Nos solos hidromórficos, freqüentemente ocorrem inundações temporárias ou contínuas, afetando diretamente o desenvolvimento da
planta. Neste trabalho avaliou-se o efeito da velocidade de rebaixamento do nível freático no desenvolvimento e na produtividade de
plantas de ervilha, cv. Axé e determinou-se o estádio de desenvolvimento da cultura com maior sensibilidade ao excesso de água no
solo. As análises dos resultados indicam que os efeitos provocados
pela inundação do solo e subsequente rebaixamento do nível freático
foram proporcionais à duração dos tratamentos, principalmente no
estádio vegetativo. A maior suscetibilidade das plantas de ervilha à
inundação do solo foi verificada no estádio reprodutivo, com reduções significativas da produtividade em todos os tratamentos. No
estádio vegetativo, os rebaixamentos do nível freático em profundidades superiores a 20 cm por dia ocasionaram reduções da produtividade de aproximadamente 20%.
Effects of temporary waterlogging in pea plants
Pea crop is a feasible option for agriculture in low lands during
winter season. However, this crop is not adapted to extreme
conditions of water deficit or excess. In hidromorfic soils, temporary
waterlogging or flooding conditions often occur affecting directly
plant growth. The effect of water level drawdown on the growth and
yield of pea, cv Axe, and the most sensitive growing stage of the
crop to soil water excess were estimated. The effects of waterlogging
and water table drawdown were proportional to flooding time,
especially when waterlogging occurred at the vegetative stage. The
major susceptibility of the pea plants to waterlogging was in
reproductive stage, with significant yield reduction in all treatments.
On the other hand, we observed that drawdown velocity had no effect
on results, but on vegetative stage when a water level lowering in
depths of more than 20 cm per day caused crop yield reductions of
nearly 20%.
Palavras chave: Pisum sativum L., drenagem, sensibilidade à inundação, deficiência de oxigênio.
Keywords: Pisum sativum L., drainage, waterlogging sensibility;
oxygen deficiency
(Recebido para publicação em 8 de outubro de 2002 e aceito em 18 de setembro de 2003)
O
cultivo de arroz irrigado é a prin
cipal forma de exploração dos solos de várzea da região sul do Brasil. O
plantio continuado desta cultura tem
como conseqüência o aumento da
infestação de invasoras, como o arroz
vermelho e o arroz preto, o que pode
impossibilitar o uso consecutivo da área.
Normalmente, o método adotado para
reduzir a infestação de invasoras é a
ocupação da área por 2 a 3 anos com a
pecuária de corte. Esta prática tem sido
adotada com sucesso por muitas décadas, mas atualmente é considerada
economicamente inviável, devido ao
baixo rendimento dado a sub-utilização
da área e da infra-estrutura. Neste contexto, situa-se como uma alternativa viável o plantio de culturas como aveia,
batata, ervilha, feijão, milho, trigo e soja
em rotação e, ou, em sucessão ao arroz
irrigado. No entanto, estas culturas não
estão adaptadas a variações extremas de
umidade, provocadas por freqüentes
inundações temporárias ou contínuas,
ocasionadas principalmente por precipitações excessivas e pela deficiente
drenagem natural. Nestas condições, o
excesso de umidade interfere na aeração
do solo, diminuindo a disponibilidade
de oxigênio para a planta.
A redução de O2 no solo causa distúrbios funcionais em toda a planta afetando principalmente, a absorção de
água e de nutrientes pelas raízes (Glinski
e Stepniewski, 1986). A deficiência de
O2 nos solos inundados, especialmente
nos solos ácidos, pode ocasionar toxidez
às plantas, principalmente pelo excesso
de Fe e Mn e pelo acúmulo de substâncias fitotóxicas como dióxido de carbono e etileno (Silva, 1986; Rodrigues et
al., 1993). Em estudo realizado com
milho, Cruciani (1985) constatou que
após 2 horas de inundação, a concentração de CO2 elevou-se de 1 para 35,5%
e em 216 horas a concentração de CO2
no solo aumentou para 64%.
Em resposta à redução de O2 e do
aumento da concentração de gases tóxicos no solo, a planta apresenta sintomas
como murchamento, clorose das folhas,
hipertrofia do caule, alterações morfoanatômicas, diminuição do crescimento
e da produtividade e morte das raízes
(Bradford e Yang, 1981; Kramer, 1983).
As culturas apresentam diferentes
tolerâncias ao excesso de umidade do
solo. Espécies hidrófitas, como o arroz
e algumas gramíneas, se desenvolvem
normalmente em solos inundados. Por
outro lado, as culturas mesófitas apresentam um comportamento variável em
relação à falta de oxigênio. A tolerância
à inundação do solo, apresentada por
algumas culturas, pode estar relaciona-
1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor, Depto. Eng. Rural, ESALQ/USP
50
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Efeitos de inundações temporárias do solo em plantas de ervilha
da com a capacidade das plantas em desenvolverem sistemas de raízes adventícias, aerênquimas e espaços
intracelulares maiores (Sena Gomes e
Kozlowski, 1980; Kawase 1981). Estas
modificações morfo-anatômicas permitem a difusão do oxigênio da parte aérea da planta para as raízes, mantendo
temporariamente o processo de respiração aeróbia.
Diferente de outras culturas mais
tolerantes à inundação como milho e
soja, a ervilha falha na produção de
raízes adventícias (Jackson e
Kowalewska, 1983). Testes de tolerância à inundações do solo durante o desenvolvimento de plantas de ervilha,
indicaram elevada sensibilidade dessa
cultura à inundação do solo por mais de
24 horas (Cannell et al., 1979). Ainda,
foi constatado o surgimento de doenças
como a podridão de raízes, causada por
Fusarium solani f. pisi, Phytophthora
spp, Rhizoctonia solani, Sclerotinia
sclerotiorum e outros (McDonald e
Dean, 1996). Cultivando ervilha em solo
infestado com Fusarium oxysporum e
Fusarium solani, Tu (1994) concluiu
que a inundação dos solos pode ser um
método efetivo para o controle do
Fusarium.
Segundo observações de Carvalho et
al. (1980) e Ferreira e Garrido (1980), a
ervilha pode ser uma opção para o aproveitamento de áreas de várzea no inverno. Contudo, ainda são poucas as informações a respeito do efeito do
encharcamento do solo em leguminosas
na literatura, ao contrário do que se conhece sobre o efeito do déficit hídrico.
Neste trabalho avaliou-se o efeito da
velocidade de rebaixamento do nível
freático no desenvolvimento e na produtividade de plantas de ervilha, cv. Axé
e o estádio de desenvolvimento da cultura com maior sensibilidade ao excesso de umidade no solo, dentro das condições experimentais propostas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
casa de vegetação do tipo arco com 8,0
m de largura, 20,0 m de comprimento e
pé direito de 4,0 m, pertencente à
ESALQ em Piracicaba (SP). As unidades experimentais foram constituídas
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
por tubos de concreto impermeabilizados com 0,4 m de diâmetro interno e 1,2
m de altura, adaptados especialmente
para o experimento. Os mesmos foram
preenchidos com solo classificado como
Latossolo Vermelho, fase arenosa, série
Sertãozinho, com 22% de argila, 8% de
silte e 70% de areia. O solo foi retirado
do seu perfil natural, na profundidade
de 0 a 20 cm, previamente peneirado e
homogeneizado.
Para o cultivo da ervilha, cv. Axé,
cada unidade experimental recebeu 16
kg de N; 100 kg de P2O5; 40 kg de K2O
e 4 kg de boro e zinco por hectare, divididos em 4 aplicações: no plantio, após
a emergência e em intervalos de 10 dias.
A cultivar Axé (Embrapa Hortaliças)
apresenta ciclo de desenvolvimento curto (80 dias), porte ereto e é mediamente
resistente ao oídio. Antes da semeadura
as sementes foram tratadas com uma
mistura de fungicidas na dose de 4,0 g/
kg de sementes e foram inoculadas com
inoculante turfoso na proporção de 0,4
kg/20 kg de sementes.
Foram semeadas seis sementes por
unidade experimental, na profundidade
de 3 cm aproximadamente com o solo
previamente umedecido. A semeadura
ocorreu em 28/05/01 e o desbaste foi
realizado vinte dias após a emergência
(DAE), deixando-se três plantas por
umidade. Para o controle do oídio e de
pragas como tripes, pulgão da ervilha e
lagarta falsa medideira, foram realizadas aplicações de defensivos agrícolas
segundo as recomendações de Giordano
(1997). A colheita foi realizada a partir
de 80 DAE, quando as vagens apresentaram coloração verde clara.
O efeito causado pelas diferentes
velocidades de rebaixamento do nível
freático (NF) foi obtido pela
metodologia anteriormente utilizada por
Cruciani (1985) com modificações. Os
tratamentos consistiram na inundação
do solo no estádio vegetativo (V) e
reprodutivo (R) da cultura, seguido do
rebaixamento progressivo do NF efetuado em 10; 20; 30; 40 e 60 cm por dia. O
delineamento experimental adotado foi
o inteiramente casualizado, arranjado
em esquema fatorial (2x5) com 4 repetições, além do tratamento controle.
As plantas foram submetidas ao
estresse hídrico uma vez no momento
em que atingiam o estádio fenológico
estabelecido. A inundação das unidades
no estádio vegetativo ocorreu aproximadamente aos 44 DAE, quando as plantas apresentavam as características do
estágio IV descrito por Makasheva
(1973) e no estádio reprodutivo quando
as plantas apresentavam as características do estágio X, o que ocorreu aos 65
DAE.
No momento da inundação, manteve-se uma lâmina de água de aproximadamente 2,0 cm acima da superfície do
solo, durante 6 horas, com exceção do
tratamento controle, que era somente
irrigado. Para promover a inundação,
reservatórios cilíndricos de PVC com
0,30 m de diâmetro, providos com chave bóia, foram instalados em suportes
metálicos fixados por parafusos em
caibros de madeira localizados ao lado
de cada unidade. O manejo do NF era
realizado por intermédio do rebaixamento do reservatório cilíndrico a cada
6 horas até a profundidade de 90 cm.
Após, realizava-se a drenagem total do
lisímetro.
O controle da irrigação foi realizado por tensiômetros, instalados em uma
das repetições de cada tratamento, na
profundidade de 20 cm. O manejo da
irrigação foi fundamentado em um turno de rega de 3 em 3 dias até o 15 DAE,
aplicando-se em cada irrigação uma lâmina líquida de 6 mm. Posteriormente,
a partir do 15 DAE, efetuou-se a irrigação somente quando o valor médio das
leituras dos tensiômetros atingia o valor de –35 kPa (Marouelli et al., 1987).
A temperatura do ar, a umidade relativa e a lâmina de água evaporada foram registradas utilizando-se aparelhos
instalados em um abrigo meteorológico, localizado no interior da casa
de vegetação. A evaporação da água foi
medida diariamente com um atmômetro de cápsula de porcelana porosa
de 100 mm de diâmetro. As variações
da temperatura do ambiente e do solo
foram registradas em um termohigrômetro digital. A temperatura do
solo foi obtida por meio de um sensor
instalado na profundidade de 10 cm em
uma das unidades experimentais. Durante os tratamentos, a temperatura do
solo era obtida por meio de geotermômetros instalados na profundidade
51
J. S. Sá et al.
Tabela 1. Valores médios dos parâmetros biométricos obtidos de plantas de ervilha submetidas
à inundação do solo no estádio vegetativo e reprodutivo da cultura de ervilha. Piracicaba, ESALQ,
2001.
Médias seguidas por letras distintas diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade. **
significativo pelo teste F a 1% de probabilidade; ns = não significativo.
Figura 1. Efeito dos rebaixamentos do NF na densidade de raízes. Piracicaba, ESALQ, 2001.
** significativo ao nível de 1% de probabilidade.
de 10 cm, em duas repetições de cada
tratamento.
Os parâmetros produtivos analisados
foram altura da planta (distância do solo
até a borda superior da última folha estendida do ramo principal), massa seca
da parte aérea da planta (pesagem de
folhas, caule e ramos, após secagem
complementar em estufa com circulação forçada de ar a 60-65oC até peso
constante), densidade de raízes por planta (coleta de amostras no centro de cada
unidade experimental na profundidade
de 0-30 cm com auxílio de tubo metálico com diâmetro de 100 mm e 50 cm de
comprimento), número de grãos produzidos e massa total de grãos por planta.
Posteriormente, as amostras foram acondicionadas em recipiente juntamente
com solução de 10% de álcool para a
conservação das raízes. Para a separação das raízes utilizou-se o método de
52
Gottingen (Bohn, 1979). Após a separação, as raízes foram secas em estufa a
60oC e pesadas em balança de precisão
de 0,1 mg.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o desenvolvimento das
plantas a temperatura do ar no interior
da casa de vegetação apresentou variações extremas de 4,8 a 37oC, sendo a
temperatura média do ar, nesse período, de 22oC. Durante os tratamentos as
temperaturas médias foram de 22,4 e
23 oC, no estádio vegetativo e
reprodutivo respectivamente, abaixo do
limite de 27oC, onde a produção de grãos
é muito prejudicada pela queda de flores e de vagens (Giordano, 1997). Quanto à temperatura do solo, verificaramse variações semelhantes à temperatura
do ar, porém com menor amplitude. A
temperatura máxima e mínima observadas no solo foram de 33 e 7oC respectivamente, e a temperatura média de 20oC.
A temperatura máxima do ar ocorria às
12 horas, enquanto no solo a máxima
era registrada às 16 horas.
Durante os tratamentos a temperatura no solo mantinha-se 2 a 4oC menor
do que a registrada nas unidades não
inundadas. Segundo Silva (1986), a temperatura dos solos inundados tende a ser
mais estável, em relação aos solos secos. Esse comportamento também foi
observado em feijão (Silva, 1982) e
milho (Cruciani, 1985). Em solos inundados, temperaturas elevadas favorecem
o aumento da atividade microbiológica
do solo reduzindo ainda mais a concentração de O2 disponível para a planta e
aumentando as concentrações de elementos tóxicos como CO2 e etileno.
Em condições atmosféricas favoráveis à transpiração, o murchamento das
folhas é o primeiro indício da deficiência de O2 no solo apresentado pelas plantas (Levitt, 1980), porém, quando as
plantas foram submetidas ao
encharcamento do solo no estádio
vegetativo, não apresentaram sinais característicos da deficiência de O2, ao
contrário do que observado quando os
tratamentos ocorreram no estádio
reprodutivo. Neste estádio as plantas
submetidas ao excesso de água no solo
apresentaram
murchamento,
amarelecimento e senescência prematura das folhas mais velhas, principalmente nas localizadas na ramificação principal. Estes sintomas, também foram
observados por Cannell et al. (1979) em
ervilhas submetidas à inundação total do
solo por 24 horas, após o florescimento.
Observou-se maior suscetibilidade
das plantas ao excesso de umidade no
solo no estádio reprodutivo do que no
estádio vegetativo. Neste caso, os efeitos da inundação na absorção de água e
de nutrientes foram mais severos nas
plantas após o florescimento. Segundo
Belford et al. (1980) os efeitos da inundação são mais drásticos nas plantas velhas do que em plantas novas devido ao
comprometimento do sistema radicular.
No entanto, verificaram-se que os danos
nas raízes foram significativamente
maiores quando a hipoxia ocorreu no estádio vegetativo da cultura (Tabela 1).
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Efeitos de inundações temporárias do solo em plantas de ervilha
Observou-se evidência significativa
do efeito negativo da inundação do solo
na densidade de raízes em todos os tratamentos quando comparadas com as
plantas controle, demostrando certa sensibilidade da cultura mesmo quando
submetida a curtos períodos de hipoxia.
Em plantas de algodão e soja a interrupção do crescimento e a morte do ápice radicular ocorreram quando submetidas a períodos de inundação de 3 e 5
horas, respectivamente (Huck, 1970).
A densidade de raízes variou linearmente com o período de submersão do
sistema radicular da cultura (Figura 1).
Os rebaixamentos do nível freático em
10 e 20 cm por dia apresentaram as
menores densidades de raízes diferindo
significativamente dos demais níveis.
A inundação do solo não afetou significativamente o crescimento das plantas, independente do estádio de desenvolvimento das mesmas (Tabela 1). Porém as plantas submetidas aos tratamentos no estádio reprodutivo apresentaram
uma estatura inferior à observada nos
tratamentos aplicados no estádio
vegetativo. A altura média das plantas
variou de 61 a 65 cm com o rebaixamento do NF em 10 e 60 cm por dia,
respectivamente.
Os períodos de deficiência de O2
impostos em estádios de desenvolvimento da cultura de ervilha afetaram
significativamente a produção de massa seca da parte aérea das plantas (Tabela 1), principalmente quando o
estresse ocorreu após o florescimento.
Neste estádio a massa seca acumulada
foi 15% inferior à observada nas plantas controle. Já as plantas submetidas aos
tratamentos no estádio vegetativo apresentaram uma redução de 7,5%.
As menores produções de massa
seca foram verificadas nas plantas submetidas ao rebaixamento do nível
freático em 10 e 20 cm por dia, diferindo dos demais níveis. Assim como na
densidade de raízes, a massa seca da
parte aérea das plantas variou linearmente com os níveis de rebaixamento do NF,
como apresentado na Figura 2.
No estádio reprodutivo, o
murchamento, amarelecimento e
senescência prematura das folhas, ocasionados provavelmente pela aeração
deficiente e pelo aumento da concentraHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 2. Efeito de níveis de rebaixamento do NF sobre a massa seca da parte aérea das
plantas de ervilha. Piracicaba, ESALQ, 2001.
** significativo ao nível de 1% de probabilidade.
Figura 3. Efeito do rebaixamento do NF na produtividade das plantas de ervilha submetidas à
inundação do solo no estádio vegetativo () e no reprodutivo (z).Piracicaba, ESALQ, 2001.
** significativo ao nível de 1% de probabilidade.
ção de substâncias tóxicas no solo, contribuíram para a redução substancial da
massa seca da parte aérea das plantas.
Resultados semelhantes foram observados em ervilha (Belford et al., 1980),
em soja (Sallam e Scott, 1987; Sorte et
al.,1995) e também em feijão (Singh et
al., 1991).
A inundação completa do sistema
radicular das plantas por seis horas foi
suficiente para afetar a produtividade da
cultura, principalmente quando a
hipoxia ocorreu após o florescimento
(Tabela 1). Neste estádio, a redução da
produtividade foi superior a 50% em
relação à produtividade média verificada
nas plantas não inundadas. No estádio
vegetativo a produtividade variou de 48
a 87% da obtida nas plantas controle,
sendo as maiores reduções verificadas
nos tratamentos V10 e V20. O manejo
do nível freático não minimizou as reduções de produtividade quando a inundação do solo ocorreu no estádio
reprodutivo; entretanto, no estádio
vegetativo, os rebaixamentos do nível
freático em profundidades superiores a
20 cm por dia ocasionaram perdas de
20%. Em ambos estádios, a produtividade variou linearmente em relação aos
53
J. S. Sá et al.
níveis de rebaixamento do NF, como
apresentado na Figura 3.
Os resultados indicam que os efeitos dos tratamentos na produtividade
foram proporcionais ao tempo de permanência do sistema radicular submerso
e variaram de acordo com o estádio de
desenvolvimento da cultura, corroborando com afirmações de Kawase
(1981) e Kramer (1983). A drástica redução da produtividade no estádio
reprodutivo está relacionada com as alterações verificadas nas plantas principalmente com a redução da área
fotossinteticamente ativa da planta ocasionada pelo amarelecimento e
senescência das folhas (Wolfe, 1988).
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Divergência genética entre acessos de taro
Francisco Hevilásio F. Pereira1; Mário Puiatti1; Glauco V. Miranda1; Derly José H. da Silva1; Fernando
Luiz Finger1
UFV, Depto. Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; E-mail: [email protected]
1/
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a variabilidade existente entre 36 acessos de taro do
Banco de Germoplasma de Hortaliças da Universidade Federal de
Viçosa em componentes do rendimento, visando a identificação de
acessos produtivos e divergentes para serem utilizados em programas de melhoramento. O experimento foi conduzido na horta de
pesquisas da UFV, de 19/09/2000 a 13/06/2001. Utilizou-se o delineamento experimental blocos casualizados, com cinco repetições.
A parcela foi composta de quatro fileiras de 4 m de comprimento,
espaçadas por 1,0 m e, entre plantas, 0,5 m, totalizando 32 plantas.
Avaliou-se a produtividade de rizomas comerciáveis/planta; peso
médio de rizomas comerciáveis; número de rizomas comerciáveis/
planta; produtividades de rizomas-mãe, filho grande, filho médio,
filho pequeno e refugo/planta. Os dados foram submetidos às análises por variáveis canônicas e de agrupamento pelo método de Tocher,
adotando a distância generalizada de Mahalanobis (D2) como estimativa da similaridade genética. Os acessos foram separados em
seis grupos, sendo que 80,56% dos mesmos constituíram um único
grupo. Os acessos BGH 5916, BGH 6137 e BGH 6298 destacaramse pelo elevado potencial agronômico e pela divergência genética, o
que os qualifica como promissores para serem utilizados em programas de melhoramento. As características com maior contribuição
relativa para a divergência genética foram produtividade de rizomas
filho grande/planta (42,50%), produtividade de rizomas filho pequeno/planta (24,67%) e produtividade de rizomas comerciáveis/
planta (16,95%).
Palavras-chave: Colocasia esculenta, germoplasma, melhoramento, análise multivariada, produção.
Genetic diversity in taro accessions
The genetic similarity among 36 accessions of taro from the
Horticultural Germplasm Bank of the Federal University of Viçosa,
Brazil, was evaluated. The experiment was conduced from 09/19/
2000 to 06/13/2001. The experimental design was a randomized
block with five replicates and each plot consisted of four rows spaced
1.0 m apart with four meters in length and 0.5 m between plants
within the row. Parameters such as yield of commercial rhizomes/
plant; yield of mother rhizomes; large, medium and small lateral
rhizomes and non-commercial rhizomes/plant were measured. Data
were analyzed using canonical variable and grouped by Tocher’s
method, adopting general distance of Mahalanobis(D 2). The
accessions formed six groups. A total of 80.56% of the accessions
formed one single group. Accessions BGH 5916, BGH 6137 and
BGH 6298 showed good agronomic potential and high genetic
diversity compared to other accessions, being indicated for breeding
progenitors. Yield of large lateral rhizomes/plant (42.50%), small
rhizomes/plant (24.67%) and of commercial rhizomes/plant (16.85%)
contributed to increase genetic diversity.
Keywords: Colocasia esculenta, germplasm, breeding, multivariate
analysis, yield.
(Recebido para publicação em 24 de outubro de 2002 e aceito em 10 de outubro de 2003)
O
taro, Colocasia esculenta (L.)
Schott, também conhecido como
inhame no centro-sul do Brasil, é a principal hortaliça da família Araceae
(Pedralli et al., 2002). É originário da
Ásia, mais precisamente da Índia,
Bangladesh e Myanma (ex-Burma). A
diversificação ocorreu para os demais
países Asiáticos, ilhas do Pacífico, continente Africano e, finalmente, para as
regiões tropicais das Américas
(Plucknett, 1983; Puiatti, 2002). O taro
constitui-se em alimento básico para diversas populações distribuídas pelo mundo, especialmente nas regiões tropicais e
subtropicais úmidas (Wang, 1983;
Rubatsky e Yamaguchi, 1997). Seus
rizomas, além de apresentarem boa conservação pós-colheita, são fontes de carHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
boidratos, minerais e vitaminas (Hashad
et al., 1956; Sunell e Arditti, 1983; Puiatti
et al., 1990; 1992). Devido às características de rusticidade de cultivo e valor
nutricional, o taro tem sido sugerido pela
FAO (Food and Agriculture
Organization), juntamente com outras
espécies produtoras de tubérculos e raízes
tuberosas, como cultura alternativa para
aumentar a base alimentar em países em
desenvolvimento (Puiatti, 2002). Dentre
as plantas tropicais produtoras de raízes,
tubérculos e rizomas, o taro ocupa o 4º
lugar em volume produzido no mundo,
com uma área plantada de 1.494 mil ha,
produção de 8.976 mil toneladas e produtividade de 6.008 kg/ha (FAO, 2002).
O amido é o principal componente
do rizoma de taro, conhecido por apre-
sentar grânulos relativamente pequenos,
quando comparado ao de outras
amiláceas, o que o torna rica fonte
nutricional para humanos e animais,
bem como suprimento comercial para
muitas aplicações industriais (Nip,
1990). A digestibilidade dos rizomas do
taro é elevada (97%), proporcionando
eficiente liberação dos componentes
durante a digestão e absorção desse alimento (Standal, 1983).
O pouco conhecimento da floração
do taro tem restringido o melhoramento genético da cultura aos métodos de
coleta e de avaliação de clones existentes. Todavia, a exploração intensiva de
taro nos recentes anos tem demandado
cultivares mais produtivas. A hibridação
interespecífica é a principal fonte de
55
F. H. F. Pereira et al.
ampliação de variabilidade nos programas de melhoramento tradicional. Entretanto, em taro, os principais fatores
que limitam a hibridação são as irregularidades do florescimento e as anormalidades de estruturas florais, que se intensificam com a aplicação de indutores
de florescimento (Ivancic, 1995). Apesar destas dificuldades, existem híbridos interespecíficos de taro asiáticos de
ocorrência natural (Ochiai et al., 2001).
A divergência genética entre um grupo de genitores tem sido avaliada com
o objetivo de identificar as combinações
híbridas que possam ter maior efeito
heterótico e maior heterozigose, de tal
forma que, em suas gerações
segregantes, se tenha maior possibilidade de identificar genótipos superiores
(Cruz e Regazzi, 2001). No entanto,
quando se dispõe de um número elevado de genótipos para avaliação (Oliveira et al., 1999), como comumente ocorre em bancos de germoplasma, ou houver dificuldades nas práticas de
hibridação artificial, como é o caso do
taro (Ivancic, 1995), estas combinações
são difíceis. Dessa forma, a utilização
de técnicas multivariadas é uma ferramenta que pode ser utilizada para
minimizar
essas
dificuldades
operacionais, com a vantagem destas
permitirem combinar as múltiplas informações contidas na unidade experimental, possibilitando a caracterização dos
genótipos com base em um conjunto de
variáveis (Cruz e Regazzi, 2001), principalmente se o objetivo é o melhoramento de características quantitativas,
como produção (Oliveira et al., 1999).
O trabalho teve por objetivo avaliar
a variabilidade existente entre 36 acessos de taro do Banco de Germoplasma
de Hortaliças da Universidade Federal
de Viçosa (BGH/UFV), em componentes de rendimento, visando a identificação de acessos produtivos e divergentes
para serem utilizados em programas de
melhoramento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido em
campo, na UFV, de 19/09/2000 a 13/06/
2001. A área experimental apresenta topografia suave com ligeira inclinação e
o solo classificado como Podzólico Ver56
melho-Amarelo Câmbico, fase terraço.
As análises químicas e granulométricas
de amostras de solo revelaram: pH
(H2O) = 5,9; H + Al = 2,3, Ca = 1,7 e
Mg = 0,7 cmolc dm-3; Na = 4, K = 125 e
P = 59 mg dm-3; areia grossa = 29, areia
fina = 15, silte = 17 e argila = 39 dag kg-1.
O preparo do solo constou de aração e
gradagem, sulcamento em linhas, espaçadas de 1,0 m, com profundidade de
aproximadamente 0,12 m. A parcela foi
composta de quatro fileiras espaçadas
de 1,0 m, com quatro metros de comprimento, com as plantas espaçadas a
0,5 m, totalizando 32 plantas e a área de
16,0 m2. Foram consideradas como área
útil as duas fileiras centrais, excluindose 0,5 m das extremidades. As parcelas
foram distanciadas, uma das outras, de
1,0 m nas extremidades e de 2,0 m nas
laterais. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com
36 tratamentos e cinco repetições. Os
tratamentos foram constituídos de 36
acessos de taro do Banco de
Germoplasma de Hortaliças/UFV (Tabela 1). Não foram realizadas adubações
de plantio nem de cobertura e nenhum
tipo de controle químico. As irrigações,
quando necessárias, foram realizadas semanalmente, por aspersão, e a lâmina de
água aplicada, em cada irrigação, de 40
mm, considerada satisfatória para atender às necessidades da cultura de taro
(Soares, 1991). Foram realizadas, durante
o ciclo de cultivo, quatro capinas com
auxílio de enxada nas linhas e de
cultivador de enxadas de tração animal,
nas entrelinhas, aos 40; 75; 130 e 215 dias
após o plantio, respectivamente.
A colheita foi realizada aos nove
meses após o plantio, quando as plantas
estavam com a parte aérea seca. Os
rizomas-mãe, foram separados, e os
rizomas-filho, após classificados, foram
contados e pesados. Os rizomas-filho
foram classificados, com base no diâmetro transversal, de acordo com Puiatti
et al. (1990), nas classes filho grande
(>47 mm), filho médio (40-47 mm), filho pequeno (33-40 mm) e refugo (<33
mm). Considerou-se como comerciáveis
o somatório das classes de rizomas-filho grande, médio e pequeno. A produção total consistiu do somatório das produções de rizomas-mãe e de todas as
classes de rizomas-filho.
Avaliou-se a produtividade de
rizomas comerciáveis por planta, peso
médio de rizomas comerciáveis, número de rizomas comerciáveis por planta e
produtividade de rizomas em classes:
filho grande, médio, pequeno e refugo.
A análise da divergência genética foi
feita por meio das técnicas de variáveis
canônicas e de agrupamento. Na análise de variáveis canônicas utilizaram-se
as matrizes de covariância residual e
fenotípica entre as características avaliadas. Quando se utiliza este procedimento, é comum a transformação das variáveis originais em variáveis padronizadas e não correlacionadas, de modo que
a matriz de dispersão se iguala à identidade (Miranda et al., 1999; Cruz e
Regazzi, 2001). A técnica consiste em
transformar as variáveis avaliadas em
um novo conjunto de variáveis, que são
funções lineares das médias das características avaliadas nos acessos. O número de variáveis canônicas é igual ou
menor ao valor mínimo entre o número
de características e o número de graus
de liberdade de tratamentos. Um valor
numérico (escore) de cada variável é
calculado para cada um dos acessos.
Com estes escores, constrói-se um gráfico de dispersão, que permite a avaliação da divergência genética (Miranda et
al., 1999; Cruz e Regazzi, 2001).
Para a análise de agrupamento utilizou-se o método de otimização de
Tocher, adotando-se o critério de que a
média das medidas de divergência dentro de cada grupo deve ser menor que
as distâncias médias entre quaisquer
grupos (Cruz e Regazzi, 2001).
A contribuição relativa de cada característica para a diversidade entre os
acessos foi avaliada pela metodologia
descrita por Singh (1981), a qual se baseia na partição do total das estimativas
das distâncias D2 de Mahalanobis, considerando todos os possíveis pares de
genótipos, para as partes devidas a cada
característica. Esta contribuição foi avaliada pelo valor de Sj.
As análises de variância, bem como
os cálculos das variáveis canônicas,
agrupamento e contribuição relativa de
cada característica para a divergência
entre os acessos, foram realizadas utilizando-se o programa computacional
GENES (Cruz, 2001).
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Divergência genética entre acessos de taro
Tabela 1. Dados de passaporte dos acessos de taro pertencentes ao Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFV. Viçosa, UFV, 2000-01.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os efeitos dos acessos foram significativos (P<0,05) pelo teste F para todas as características avaliadas (Tabela 2).
Esses resultados indicam a existência de
variabilidade genética e, conseqüentemente, a possibilidade de se obterem
ganhos genéticos para as características
em avaliação.
De acordo com a distância D2 de
Mahalanobis, considerando as oito características avaliadas, os acessos BGH
5928 e BGH 6088 apresentaram a menor (0,30) e os acessos BGH 5914 e
BGH 5927 a maior distância genética
(77,94). A maior distância média em
relação ao conjunto de acessos foi obtida pelo acesso BGH 5927 com D2 médio (44,29) superior à média das distâncias considerando todos os pares de
acessos (18,83).
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
A análise de agrupamento, utilizando o método de otimização de Tocher,
com base nas distâncias D 2 de
Mahalanobis, dividiu os acessos em seis
grupos divergentes (Tabela 3), destacando-se o grupo I com 29 acessos (80,56%
do total de acessos) e os demais sete
acessos distribuídos nos grupos II, III,
IV, V e VI (Tabela 3). A concentração
de indivíduos em um grupo e dispersão
dos demais em grupos diversos torna
evidente a ampla diversidade dos
genótipos.
Embora a variabilidade dentro do
grupo seja minimizada pela técnica de
agrupamento, existem distâncias estimadas de elevada magnitude entre pares de
genótipos do grupo que apresentou 29
acessos, como entre os acessos BGH
5914 e BGH 6092 (D2 = 40,93). Este
comportamento indica que existe acentuada variabilidade dentro deste grupo, e
que, justifica-se o reagrupamento. Deste
modo, procedeu-se à redistribuição dos
acessos do grande grupo, estabelecendose 12 subgrupos, onde se destacaram seis,
constituídos por apenas um genótipo cada
(Tabela 3). Pandey e Dobhal (1997), também em taro, encontraram valores de D2
intragrupos que variaram de 9,1 a 27,4,
não justificando, portanto, no trabalho
desses autores um reagrupamento dos
mesmos, apesar de alguns grupos apresentarem alta concentração de genótipos.
Para complementar a análise de
agrupamento, procedeu-se à dispersão
dos genótipos em coordenadas
cartesianas, de modo que a posição relativa dos acessos possa ser visualizada.
As duas primeiras variáveis canônicas
representaram 71,85% da variação total. Cruz e Regazzi (2001) recomendam
que no caso das duas primeiras variáveis não representarem o mínimo de
80% da variação total, torna-se necessário complementar a análise com a dispersão gráfica em relação à terceira ou
até mesmo, a quarta variável canônica.
57
F. H. F. Pereira et al.
Tabela 2. Produtividade de rizomas comerciáveis por planta (PC), Peso médio de rizomas comerciáveis (PMRC), número de rizomas
comerciáveis por planta (NRCP), produtividade de rizomas-mãe (PRM), filho grande (PRFG), filho médio (PRFM), filho pequeno (PRFP)
e refugo (PREF) de acessos de taro do BGH/UFV. Viçosa, UFV, 2000-01.
CA - código dos acessos, J - japonês e C - chinês (acessos plantados comercialmente).
Neste trabalho, como as três primeiras
variáveis canônicas representaram
82,57% da variação total, os resultados
de dispersão gráfica foram avaliados em
relação às variáveis canônicas VC1,
VC2 e VC3 (Figura 1).
58
Na Figura 1, observa-se que existe
ampla distribuição dos acessos no espaço tridimensional. Assim, os acessos
mais distantes em relação ao conjunto
foram 11 (BGH 5927), 15 (BGH 6086)
e 31 (BGH 6315). Por outro lado, os
demais acessos formam conjuntos mais
homogêneos no que diz respeito à diversidade genética. Desta forma, são
indicados os cruzamentos entre acessos
que possuem altas médias para produtividade de rizomas comerciáveis por
planta e estejam mais distantes no espaço tridimensional.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Divergência genética entre acessos de taro
Figura 1. Gráfico de dispersão das três primeiras variáveis canônicas [VC1 (x1), VC2 (x2)
e VC3 (x3)] em relação aos 36 acessos de taro, de acordo com o código da Tabela 2. Viçosa,
UFV, 2000-01.
Tabela 3. Agrupamento dos 36 acessos de
taro obtido pelo método de otimização de
Tocher utilizando a distância generalizada
de Mahalanobis. Viçosa, UFV, 2000-01.
Observou-se concordância entre a
análise de variáveis canônicas e o método de otimização de Tocher (Figura 1
e Tabela 3). Todos os acessos que se
mostraram dispersos no espaço
tridimensional da Figura 1 apresentaram-se nos grupos divergentes de II, III,
V e VI no método de Tocher. Estes resultados evidenciam que as variáveis
canônicas devem representar um míniHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
mo de 80% da variação total, para que
seja viável o estudo da divergência genética por meio das distâncias geométricas entre genitores em gráficos de dispersão, cujas coordenadas são escores
relativos às primeiras variáveis
canônicas (Cruz e Regazzi, 2001). No
entanto, no presente trabalho o agrupamento de Tocher mostrou-se de mais
fácil interpretação, devido ao grande
número de acessos.
Além de permitir o estudo da divergência genética por meio das distâncias
geométricas entre genitores em gráficos
de dispersão, a análise das variáveis
canônicas permite o descarte daquelas
características que contribuíram pouco
para a variabilidade genética apresentada entre os acessos, possibilitando economia de tempo, mão-de-obra e recursos financeiros em futuros estudos. Dessa forma, são descartadas aquelas características que apresentaram o maior coeficiente de ponderação nas variáveis
canônicas menos importantes, ou seja,
nas últimas variáveis. De acordo com
essa premissa, a variável produtividade
de rizomas filho médio/planta pode ser
descartada.
Com base no critério proposto por
Singh (1981), as variáveis que menos
contribuíram para divergência entre os
acessos, além da produtividade de
rizomas-filho médio/planta (2,16%) foram produtividade de rizomas refugo/
planta (2,73%), peso médio de rizomas
comerciáveis (3,46%), produtividade de
rizomas-mãe/planta (3,48%) e número
de rizomas comerciáveis/planta
(4,05%). As variáveis produtividades de
rizomas comerciáveis, filho grande e
filho pequeno/planta contribuíram com
84,12% da variabilidade genética entre
os acessos. A baixa contribuição para a
divergência genética da produtividade
de rizomas-filho médio/planta e alta nas
produtividades de rizomas-filho grande
e pequeno/planta, pode ser explicada
pelo fato de que estas últimas representam os extremos na classificação de
rizomas comerciáveis de taro. Desta forma, a produtividade de rizomas-filho
médio/planta, por ser uma classe intermediária, a produtividade desse tipo de
rizoma apresenta comportamento homogêneo entre os acessos.
Em programas de hibridação devese considerar, para boa estratégia de escolha, não apenas a diversidade genética mas também o desempenho agronômico de cada genótipo. Esse comportamento foi verificado nos acessos BGH
5916, BGH 6137 e BGH 6298 que se
destacaram pela diversidade em relação
aos demais acessos e pelo elevado potencial agronômico, o que os qualifica
como promissores para serem utilizados
em programas de melhoramento. Por
outro lado, cruzamentos visando aumento em produtividade, entre acessos de
um mesmo grupo, devem ser evitados
devido à elevada similaridade expressada entre os mesmos. Esse raciocínio
também é válido para as seguintes características: produtividade por planta
das classes de rizomas-filho médio, mãe
e refugo, peso médio de rizomas
comerciáveis e número de rizomas
comerciáveis/planta, em razão da pequena variação expressada entre os
genótipos quanto a essas características,
apesar de algumas delas, como por
exemplo o número de rizomas
comerciáveis/planta, serem características desejáveis quando o objetivo é
obtenção de materiais com elevado potencial produtivo.
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plantio. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p.61-65, jan-mar 2004.
Crescimento e produção de cúrcuma (Curcuma longa L.) em função de
adubação mineral e densidade de plantio1
Natan Fontoura da Silva; Peter Ernst Sonnenberg; Jácomo Divino Borges
UFG, C. Postal 131, 74001-970 Goiânia-GO; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o crescimento e a produção de cúrcuma em função
de adubação mineral e população de plantas em dois experimentos
na Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO). No primeiro, realizado de janeiro a agosto/98, estudaram-se, numa matriz baconiana,
doses de uréia, superfosfato triplo e cloreto de potássio (0; 40; 80;
120; 160 e 200 kg/ha de N; 0; 50; 100; 150; 250 e 400 kg/ha de P2O5
e 0; 40; 80; 120; 200; 280 kg/ha de K2O, densidades de plantio
(55.556; 41.667 e 33.333 plantas/ha, no espaçamento de 0,60 m entre linhas e 71.428; 47.619 e 35.714 plantas/ha no espaçamento de
0,70 m entre linhas) e parcelamentos da adubação nitrogenada [toda
no plantio, 1/2 no plantio e 1/2 aos três meses após o plantio (AP), 1/
3 no plantio, 1/3 aos dois meses e 1/3 aos quatro meses AP, 1/4 no
plantio, 1/4 a um mês e meio, 1/4 aos 3 meses e 1/4 aos quatro
meses e meio AP. No segundo experimento, realizado de dezembro/
99 a setembro/00, estudaram-se, num fatorial de 2 x 4, dois
espaçamentos entre linhas (0,60 e 0,80 m) e seis espaçamentos entre
plantas na linha (0,05; 0,10; 0,15; 0,20; 0,30 e 0,40 m). O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições. A
produtividade de rizomas frescos aumentou, em função do N, de
12.130 kg/ha, com a dose zero, até o máximo de 16.124 kg/ha, com
a dose de 130 kg/ha; e em função do P, de 12.799 kg/ha, com a dose
zero, até o máximo de 15.763 kg/ha com a dose de 177 kg/ha de
P2O5. O K e o parcelamento de N não influenciaram a altura das
plantas e a produção de rizomas. A produtividade decresceu de 25 t/
ha, obtida com o espaçamento de 5 cm entre plantas, para 18 t/ha
com o espaçamento de 40 cm. Os ganhos de produtividade obtidos
em espaçamentos menores que 10 cm não superaram as diferenças
de gastos de rizomas para os respectivos plantios.
Growth and production of turmeric as a result of mineral
fertilizer and planting density
Palavras-chave: Curcuma longa, açafrão, população de plantas, adubação, plantas medicinais.
Turmeric growth and production as a result of mineral fertilizer
and planting density were evaluated through two experiments carried
out at the Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brazil. The first
experiment was carried out from January to August 1998. Doses of
urea, triple superphosphate and potassium chloride were the
treatments (0; 40; 80; 120; 160 and 200 kg/ha of N; 0; 50; 100; 150;
250 and 400 kg/ha of P2O5 and 0; 40; 80; 120; 200 and 280 kg/ha of
K2O), planting densities (55,556; 41,667 and 33,333 plants/ha, spaced
0.60 m between rows and 71,428; 47,619 and 35,714 plants/ha spaced
0.70 m between rows) and N splitting on side dressing applications
[all at planting date (PD); 1/2 at PD and 1/2 three months later; 1/3
at PD, 1/3 two months and 1/3 four months later; 1/4 at PD, 1/4 a
month and a half later, 1/4 three months and 1/4 four months and a
half later]. The second experiment was carried out from December
1999 to September 2000. and the treatments tested were two row
spacings (0.60 and 0.80 m) and six within-row spacings (0.05; 0.10;
0.15; 0.20; 0.30 and 0.40 m), displayed in a factorial 2 x 4. The
experimental design was a complete randomized block with four
replicates. The yield of fresh rhizomes increased as a result of N
application from 12,130 kg/ha with dose zero, to 16,124 kg/ha with
the dose of 130 kg/ha, and as a function of P application from 12,799
kg/ha, with dose zero, to 15,763 kg/ha with the dose of 177 kg/ha of
P2O5. K and the splitting of N did not affect plant height and the
production of rhizomes. The yield decreased from 25 t/ha in the
0.05 m within-row spacing to 18 t/ha in 0.40 m spacing. Productivity
increase obtained in within-row spacing smaller than 0.10 m did not
overcome the higher expenses with rhizomes for the respective
plantings.
Keywords: Curcuma longa, turmeric, plant population, mineral
fertilizer, medicinal plants.
(Recebido para publicação em 30 de outubro de 2002 e aceito em 10 de outubro de 2003)
A
crescente utilização da cúrcuma
(Curcuma longa L.) na indústria de
alimentos tem despertado interesse na
expansão dessa cultura e obtenção de
produto de melhor qualidade e mais
competitivo no mercado. No município de Mara Rosa (GO), essa cultura
tem sido conduzida por pequenos produtores e, normalmente, empregando
mão-de-obra familiar, constituindo im-
portante fonte de renda para a população. Seu cultivo tem sido feito de forma empírica, somente com experiências de produtores. Na literatura poucos trabalhos têm sido desenvolvidos,
não somente nas condições locais,
como também no Brasil.
Com relação ao espaçamento de
plantio, Carvalho et al. (2001), em Lavras (MG), estudando distâncias entre
linhas e entre plantas, encontraram
maior produtividade de rizomas no
espaçamento de 0,20 m entre plantas,
mas não houve influência do
espaçamento entre linhas. Cecílio Filho
(1996), estudando épocas de plantio e
espaçamentos entre plantas, encontrou
interação entre estes fatores, com curva
quadrática de resposta de produção de
rizomas por área nos plantios de outubro
1 Trabalho financiado pelo CNPq.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
61
N. F. Silva et al.
e novembro, e curva linear decrescente
nos plantios de dezembro e janeiro.
Outros fatores que têm contribuído
para o aumento de produtividade são os
níveis de adubação química e/ou orgânica. Segundo Peter (1998), na Índia as
recomendações de adubação ficam em
torno de 280; 155 e 325 kg/ha de N, P e
K, respectivamente. Estas quantidades
incluem nutrientes da adubação orgânica e mineral e resultam em produtividade média de 10,7 t/ha; já Sadanadan
(1994) aponta como ótimas as aplicações de 60; 30 e 90 kg/ha de N, P e K,
respectivamente, para essa cultura.
Rama-Rao e Reddy (1977), utilizando
a cultivar CL 326, obtiveram respostas
de produção para N até 375 kg/ha, para
P até 175 kg/ha de P2O5 e para K até
237,5 kg/ha de K2O, com produtividade média variando de 24,73 a 39,88 t/ha
de rizomas frescos. Porém, Saha (1988),
utilizando a cutivar CL 328, comparando ausência de fertilizantes, adubação
orgânica com 50 t/ha de esterco bovino,
adubação mineral com 90 kg/ha de N,
60 kg/ha de P2O5 e 90 kg/ha de K2O e
associação da adubação orgânica com
mineral, obteve resposta de produção
com produtividade média variando de
4,67 t/ha, sem fertilizantes, a 11,73 t/ha
com adubação orgânica isolada.
No Brasil, Goto (1993), estudando
épocas de plantio e adubação, relata que
em solo com 42 mg/cm3 de P, a resposta
de produção de rizomas pelo efeito de
adubação fosfatada foi baixa, inferindo
que em solos com teores semelhantes, a
cultura responde pouco ao P aplicado ao
solo. Goto e Castellane (1996), estudando adubação nitrogenada, obtiveram
resposta positiva com 30 kg/ha de N,
mas não com 60 kg/ha.
Silva et al. (2001), cultivando
cúrcuma em Latossolo Vermelho Amarelo de fertilidade média, relataram que
a irrigação aumentou a produção de
rizomas e pó de cúrcuma, mas as doses
de adubo mineral NPK no plantio (até
1.000 kg/ha de 4-14-8) não influíram no
crescimento das plantas e na produção
de cúrcuma.
Os solos mais utilizados para o cultivo de cúrcuma em Mara Rosa são de
boa fertilidade natural, chamados de
“terra de cultura”. Como os trabalhos
citados anteriormente foram realizados
62
em condições de clima e solo diferentes
das ocorrentes nesta região, surgiu a
necessidade de se estudar os fatores adubação e população de plantas de
cúrcuma nas condições edafoclimáticas
do estado de Goiás, de modo a contribuir para o aprimoramento das recomendações técnicas para a cultura de
cúrcuma.
O objetivo deste trabalho foi avaliar
o crescimento e a produção da cúrcuma,
em função da adubação nitrogenada,
fosfatada e potássica, da densidade de
plantio e do parcelamento da adubação
nitrogenada.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram conduzidos dois experimentos em condições de campo, na Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. O
primeiro realizado de janeiro a agosto/
98, estudando os fatores (a) doses de N
(0; 40; 80; 120; 160 e 200 kg/ha); (b)
doses de P2O5 (0; 50; 100; 150; 250 e
400 kg/ha); (c) doses de K2O (0; 40; 80;
120; 200; 280 kg/ha); (d) densidades de
plantio (55.556; 41.667 e 33.333 plantas/ha, no espaçamento de 0,60 m entre
linhas e 71.428; 47.619 e 35.714 plantas/ha no espaçamento de 0,70 m entre
linhas) e (e) parcelamento da adubação
nitrogenada [toda no plantio; 1/2 no
plantio e 1/2 aos três meses após o plantio (AP); 1/3 no plantio, 1/3 aos dois
meses e 1/3 aos quatro meses AP; 1/4
no plantio, 1/4 a um mês e meio, 1/4
aos 3 meses e 1/4 aos quatro meses e
meio AP.
Os tratamentos, em número de 24,
foram arranjados em uma matriz experimental do tipo Baconiana, como relatado por Vieira e Lima (1987) e dispostos no delineamento de blocos
casualizados com quatro repetições. A
parcela experimental foi constituída de
quatro linhas de plantas com quatro
metros de comprimento, sendo consideradas úteis as duas linhas centrais excluindo-se 0,5 m das extremidades de
cada linha.
As respostas às doses de N, P e K
foram analisadas por meio de regressão,
enquanto as respostas aos tratamentos
de densidades de plantio e épocas de
adubação através da comparação de
médias pelo teste de Tukey. Foram uti-
lizados uréia, superfosfato triplo e
cloreto de potássio como fontes de nitrogênio, fósforo e potássio, respectivamente. Foram aplicados 50 kg/ha de
FTE BR-12, em toda a área experimental. De acordo com os tratamentos, a
adubação de plantio foi distribuída e
incorporada no sulco imediatamente
antes do plantio e a de cobertura, de
acordo com o parcelamento de N, foram feitas aplicando-se as respectivas
quantidades do adubo entre as linhas de
plantas.
Os resultados das análises de fertilidade, de amostras do solo do primeiro
experimento coletadas na profundidade
de 0 a 20 cm, no local experimental, são:
4,2% de M.O.; 6,5% de pH em água;
21,3 mg/dm3 de P e teores de 4,0; 4,1;
2,0; 2,4 e 12,5 cmolc/dm3 de K, Ca, Mg;
H+Al e CTC, respectivamente. A análise física mostrou teores de 61, 10 e 29%
de areia, silte e argila, respectivamente,
indicando tratar-se de solo franco argilo
arenoso.
O segundo experimento foi conduzido de dezembro/99 a setembro/00,
estudando-se dois espaçamentos entre
linhas (0,60 e 0,80 m) e seis
espaçamentos entre plantas na linha
(0,05; 0,10; 0,15; 0,20; 0,30 e 0,40 m)
arranjados em fatorial de 2 x 4 com quatro repetições, no delineamento de blocos casualizados, com parcelas de quatro linhas de plantas com quatro metros
de comprimento. Foram consideradas
úteis as plantas dos três metros centrais
das duas linhas internas.
O plantio foi feito na profundidade
média de 5,0 cm e utilizando-se rizomas
secundários, com peso médio de 13 g
no primeiro experimento e 15 g no segundo.
Foram estudados o gasto de rizomas
para plantio, altura de plantas aos 100
dias no primeiro experimento e aos 60
e aos 100 dias no segundo experimento
e produção de rizomas frescos após a
colheita e produção de rizomas secos
após secagem em estufa a 60oC até peso
constante, nos dois experimentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No primeiro experimento, a altura
das plantas foi influenciada apenas pelas doses de N, ocorrendo aumento de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Crescimento e produção de cúrcuma (Curcuma longa L.) em função de adubação mineral e densidade de plantio
acordo com as doses segundo a equação
com R2 = 0,71,
sendo a maior altura (71 cm), obtida com
a dose de 200 kg/ha de N. Segundo
Marschner (1995), esse crescimento da
parte aérea pode retardar e até reduzir o
armazenamento de fotoassimilados em
raízes, tubérculos e rizomas.
As doses de N aumentaram, num
efeito quadrático, a produção de rizomas
frescos, até atingir o máximo estimado
de 16.124 kg/ha com a dose média de
130 kg/ha, correspondendo a 33% de
aumento na produção em relação à sua
ausência. Porém, esse efeito não foi observado na produção de rizomas secos
que é a forma comercializada (Figura 1).
A maior produção de rizomas frescos,
em função do N foi, em parte, devido
ao teor de umidade dos rizomas estimado pela equação
com R2 = 0,88, que cresceu de 77,87%
na dose zero de N até 79,59% na dose
de 200 kg/ha. Apesar do crescimento da
parte aérea em altura e dos rizomas em
peso fresco, devido ao N, não se constatou diferenças de peso seco nos
rizomas. Esse crescimento dos rizomas
em peso fresco foi em função do maior
teor de umidade. Marschner (1995) afirma que a adubação nitrogenada em algumas culturas rizomatosas nem sempre resulta em maior crescimento de
matéria seca no rizoma. Em algumas
culturas tuberosas, a produção de
rizomas e raízes nem sempre acompanha o crescimento vegetativo devido a
adubações nitrogenadas (Raij, 1991).
A produção de rizomas frescos, em
função das doses de P, foi melhor ajustada ao modelo raiz quadrático, crescendo de 12.799 kg/ha na dose zero, até
atingir o ponto máximo de 15.763 kg/
ha na dose de 177 kg/ha, correspondendo a um aumento de 23% (Figura 2).
O solo utilizado nesse ensaio apresentava teores médios de P contribuindo para
esse aumento na produção. De modo
semelhante ao nitrogênio, o fósforo não
influenciou a produção de rizomas secos, porém esse mesmo nutriente não
influenciou significativamente o teor de
umidade dos rizomas colhidos. Goto
(1993), também encontrou pequeno efeito de adubação fosfatada no desenvolvimento de cúrcuma, sugerindo que a cultura seja pouco exigente em fósforo.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Produtividade de matéria fresca e seca de rizomas de cúrcuma (Curcuma longa
L.), em função de doses de N. Goiânia, UFG, 1998.
Figura 2. Produtividade de matéria fresca e seca de rizomas de cúrcuma (Curcuma longa
L.), em função de doses de P2O5. Goiânia, UFG, 1998.
Não foram observados efeitos significativos das doses de K e do
parcelamento de N nas características
avaliadas. O solo utilizado nesse ensaio
apresentava teores altos de K, o que contribuiu para a ausência de efeito significativo das doses de K nas características
avaliadas. Nas condições da Índia, com
baixos teores de K no solo, como relatado por Sadanadan (1994) e Peter (1998),
esse elemento parece ser um dos mais
importantes na adubação dessa cultura.
De modo geral, a cultura de cúrcuma
tem mostrado fracas respostas de produção de rizomas à aplicação de fertili-
zantes minerais (Goto, 1993; Silva et al.,
2001); uma das possíveis causas pode
ser o fato de que a cultura, sendo propagada por via vegetativa, tenha acumulado doenças viróticas e outras sem sintomas claros, que limitam o potencial
produtivo, à semelhança do que ocorre
com a cultura de batata (Câmara e
Filgueira, 1986). A cultura de ápices
caulinares “in vitro” pode originar material propagativo com melhor qualidade fitossanitária que apresente melhores respostas à adubação.
No segundo experimento o efeito
sobre a altura das plantas (Figura 3), foi
63
N. F. Silva et al.
Figura 3. Altura de planta de cúrcuma (Curcuma longa L.), aos 60 dias após o plantio, em
função do espaçamento entre plantas na linha. Goiânia, UFG, 2000.
Figura 4. Gasto de rizomas “semente” no plantio e produção de rizomas na colheita de
cúrcuma (Curcuma longa L.), em função do espaçamento entre plantas na linha. Goiânia,
UFG, 2000.
melhor explicado pelo modelo raiz
quadrático, que apontou decréscimo,
partindo de 38 cm no espaçamento de
0,05 m para o ponto mínimo de 32 cm
no espaçamento de 0,20 m, provavelmente devido ao efeito de concorrência
pela luz entre as plantas, também decrescente com o aumento do espaçamento.
A partir do espaçamento de 0,20 m até
0,40 m, as plantas mostraram tendência
de crescimento em altura em função da
maior disponibilidade de espaço para as
plantas, nesse caso talvez devido à maior
64
disponibilidade de luz e de outros fatores. Nesse experimento, a altura das
plantas, avaliada aos 100 dias, não foi
influenciada pelas densidades de plantio. É possível que o perfilhamento das
plantas, não avaliado nesses experimentos, que normalmente ocorre entre 60 a
100 dias após o plantio, seja um fator
que compense em parte espaçamentos
de plantio maiores.
No segundo experimento, a produtividade de rizomas frescos foi significativamente influenciada apenas pelo
fator espaçamento entre plantas, decrescendo com o aumento dos espaçamentos
de plantio, segundo a função potencial
apresentada na Figura 4. Os dados mostraram uma tendência de estabilização
da produtividade de rizomas entre os
espaçamentos de 0,15 a 0,40 m. É possível que nessa faixa de espaçamento o
perfilhamento das plantas tenha compensado os espaçamentos maiores.
Cecílio Filho (1996), estudando diferentes densidades de plantio de cúrcuma,
observou que a produção de rizomas
dependeu da época de plantio e que o
peso de matéria seca do rizoma, nos
plantios realizados em dezembro e janeiro, não variou com as densidades de
plantio de 62.500; 35.714 e 25.000 plantas ha-1, concordando com os resultados
encontrados neste trabalho.
Na Figura 4 também é apresentada
a estimativa de gasto de rizomas em função dos espaçamentos de plantio. Verificou-se que o ganho de produção pela
redução do espaçamento de 0,10 m para
0,05 m na linha de plantio não superou,
significativamente, os gastos de rizomas
no plantio. Considerando ainda o transporte e a mão-de-obra para plantar maior
quantidade de rizomas em espaçamentos
menores, os ganhos de produção podem,
às vezes, não ser compensadores. Assim, parecem mais adequados
espaçamentos de plantio entre plantas
na linha não menores que 10 centímetros, que resultam em gastos de rizomas
(peso médio de 15 g) em torno de 2,5 t/
ha. Govinden e Cheong (1995), estudando tipos e quantidade de rizomas para o
plantio de cúrcuma, encontraram, como
ótimo, 3 t/ha, independente do tipo de
rizoma.
Nas condições dos experimentos relatados, concluiu-se que o nitrogênio
aumenta até 33% e o fósforo em até
23%, a produtividade de rizomas frescos, mas não influenciaram a produtividade de rizomas secos. O potássio e o
parcelamento de N não influenciam, significativamente, a altura das plantas e a
produção de rizomas. Espaçamentos de
plantio menores que 0,15 m entre plantas resultam em maior produtividade,
mas os ganhos de produtividade não
compensam os gastos com rizomas no
plantio, em espaçamentos menores que
0,10 m entre plantas. Os espaçamentos
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Crescimento e produção de cúrcuma (Curcuma longa L.) em função de adubação mineral e densidade de plantio
entre linhas estudados não influenciam
significativamente a produção de
rizomas.
LITERATURA CITADA
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Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de
Jaboticabal
Eduardo B. de Figueiredo1; Euclides B. Malheiros1; Leila T. Braz2
UNESP,1Depto. Ciências Exatas, 2Depto. Produção Vegetal, 14884-900 Jaboticabal-SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Estudou-se a interação genótipo x ambiente de doze cultivares
de alface, sendo quatro do grupo lisa (Babá de Verão, Karla, Nacional e Elisa), quatro do grupo crespa (Simpson, Hortência, Verônica
e Grand Rapids) e quatro do grupo americana (Laidy, Tainá, Lucy
Brown e Raider). Os tratamentos foram constituídos pelo cultivo da
alface em dez ambientes (casa de vegetação, túnel baixo de cultivo,
túnel baixo com sombrite, agrotêxtil e campo, na presença e ausência de mulching). Foram utilizados dois períodos de cultivo, agosto
a novembro de 2001 e março a junho de 2002 em Jaboticabal. Cada
experimento (ambiente de cultivo) foi conduzido utilizando-se o delineamento de blocos casualizados, com doze cultivares e três repetições. A análise de variância conjunta demonstrou valores de F significativos (p<0,01) para a interação genótipo x ambiente. Para o
cultivo de agosto a novembro/2001, as melhores respostas foram
obtidas para as cultivares do Grupo Lisa, nos ambientes casa de vegetação com mulching, túnel baixo de cultivo sem mulching e campo sem mulching. Todas as cultivares apresentaram piores desempenhos nos ambientes túnel com sombrite sem mulching, agrotêxtil
com e sem mulching. No cultivo de março a junho/2002, houve maior
variabilidade quanto ao comportamento das cultivares avaliadas nos
ambientes estudados. Na análise multivariada de agrupamento, a superioridade das cultivares do grupo lisa parece ter sido influenciada
pelo número de folhas, tanto para a época 1, quanto para a época 2.
Ressalta-se que, apesar das cultivares do grupo americana apresentarem pior desempenho, as mesmas tiveram os maiores valores de
massa seca da parte aérea. Quando se tem como objetivo uma maior
produção de alface visando massa seca da parte aérea ou massa fresca da parte aérea, deve-se optar por cultivares do grupo americana,
que apresentaram as maiores médias para esta característica. As cultivares do grupo crespa apresentaram as maiores médias para volume de plantas.
Interaction genotype x environment of lettuce cultivars in
Jaboticabal, Brazil
Palavras-chave: Lactuca sativa L., sistema de cultivo.
Keywords: Lactuca sativa, growth system, cultivars.
We evaluated the interaction genotype x environment of twelve
genotypes of lettuce (Babá de Verão, Karla, Nacional, Elisa, Simpson,
Hortência, Verônica, Grand Rapids, Laidy, Tainá, Lucy Brown and
Raider), cultivated under greenhouse, low tunnel, low tunnel covered
with black plastic screen, floating row cover (light-weight woven)
and open field. All these treatments were conducted with and without
mulching with ten treatments in total. The experiments were
conducted in two different periods (August to November, 2001 and
March to June, 2002). Each experiment (growth environment) was
conducted using randomized blocks and three replicates. The
measured variables were dry matter, volume and number of leaves.
The value of F was significant (p<0,01) for the interaction genotype
x environment. For the planting period from August to November/
2001, the best results were obtained with the butterhead cultivars
(Babá de Verão, Karla, Nacional, Elisa), cultivated under greenhouse
with mulching, low tunnel without mulching and field without
mulching. All cultivars had the worst performance when cultivated
under tunnel with black plastic screen with or without mulching and
floating row cover with or without mulching. For the planting period
from March to June/2002, occurred a higher variability for all
cultivars under studied environments. In this period, the cultivars of
the butterhead group showed the best performance; the worst
performance was observed for cultivars of crisphead group, in all
environments. As observed for the planting period from August to
November/2001, the superiority of butterhead cultivars group could
be influenced by the number of leaves. Crisphead cultivars showed
the worst results. However, these cultivars obtained the highest values
of dry matter. When the goal of production is to obtain dry or fresh
matter, the best option are the cultivars Laidy, Tainá, Lucy Brown
and Raider, which showed the highest medias. When the final goal
is the production of plants with bigger volume, the cultivars Simpson,
Hortência, Verônica and Grand Rapids are the more adequate.
(Recebido para publicação em 25 de novembro de 2002 e aceito em 3 de dezembro de 2003)
A
alface (Lactuca sativa L.) é consi
derada a hortaliça folhosa mais importante na alimentação do brasileiro, o
que assegura à cultura expressiva importância econômica. Nos últimos anos, a
cultura da alface tem experimentado mudanças significativas, tanto em relação às
cultivares utilizadas, quanto aos sistemas
de
produção
e
formas
de
comercialização.
O
volume
comercializado na CEAGESP em 2001
66
foi de 17.315 t (Agrianual, 2002), bem
abaixo do volume comercializado no ano
anterior (21.915 t), demonstrando as
transformações que a cultura sofreu em
sua forma de comercialização. Os produtores estão preferindo comercializar
seus produtos diretamente com as redes
de supermercados e feiras livres, de maneira mais ágil, moderna e lucrativa.
O sistema de cultivo protegido, além
de propiciar alta qualidade ao produto,
permite antecipação da colheita, menor
consumo de água e fertilizantes, produção fora de época, melhor preço, maior
produtividade e preservação do meio
ambiente (Jensen e Collins, 1983;
Castellane e Araújo, 1994; Resh, 1997).
O cultivo da alface em ambiente protegido reduz significativamente o efeito
ambiental provocado por alguns fatores
climáticos, como geada, vento, frio, granizo, insolação e chuva demasiada. ApeHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal
sar das mudanças micrometeorológicas
que ocorrem em condições de cultivo
protegido serem responsáveis pelo bom
desempenho das culturas (Farias, 1991),
nem todas as cultivares se adaptam a esta
modalidade. Assim, a escassez de cultivares selecionadas ou melhoradas especificamente para estes ambientes, aliada às temperaturas elevadas durante os
meses de verão, têm dificultado a difusão do cultivo protegido entre os
olericultores.
Ao contrário do que ocorre com outras culturas como batata, milho e feijão, para a cultura da alface não existe
uma rede de ensaios de competição de
cultivares abrangendo vários locais,
anos e épocas de plantio. Os produtores
têm utilizado cultivares recomendadas
pelas empresas produtoras de sementes,
que nem sempre se adaptam a uma ampla faixa de ambientes (Gualberto,
2000). A adaptação de uma cultivar em
ampla extensão de ambientes é considerada de interesse para o produtor,
quando se propõe incrementar cultivos.
Dificuldades surgem quando cultivares
interagem com ambientes, dificultando
a interpretação dos resultados. Considerando as diferentes estações climáticas
nas quais a alface é cultivada (mesmo
em ambiente protegido), é de se esperar
a ocorrência de uma elevada interação
genótipo x ambiente (Gualberto, 2000).
Com o objetivo de estudar a
interação genótipo x ambiente de doze
cultivares de alface em dez ambientes
de cultivo em duas épocas, na região de
Jaboticabal, desenvolveu-se o presente
trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na
UNESP, Campus de Jaboticabal, cujas
coordenadas são 21° 15’ 22” S, 48° 18’
58” W e altitude média de 595 m. O clima da região é subtropical, com chuvas
no verão e inverno relativamente seco,
apresentando precipitação anual média
de 1.440 mm, com temperatura média
do mês mais quente superior a 22°C.
As cultivares estudadas foram do
grupo lisa (Babá de Verão, Karla, Nacional e Elisa); do grupo crespa (Simpson,
Hortência, Verônica e Grand Rapids);
do grupo americana (Laidy, Tainá, Lucy
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Brown e Raider). As cultivares foram
avaliadas em casa de vegetação, túnel
baixo, túnel baixo com sombrite,
agrotêxtil e em campo, com e sem o uso
de mulching, totalizando dez ambientes.
A casa de vegetação utilizada foi do
modelo capela com 48x7 m, altura do
pé direito de 3,5 m, com as faces laterais e frontais fechadas por tela de
sombreamento, com 30% de
interceptação de luz. Os túneis baixos
de cultivo foram construídos com arcos
de ferro galvanizado cobertos com
conduíte plástico, com dimensões de
1,50 m de altura, 1,20 m de base e 25 m
de comprimento, com cobertura de
polietileno transparente de baixa densidade, 100 mm de espessura e aditivado
anti-UV (ultravioleta). Os túneis cobertos com tela de sombreamento foram
construídos com arcos com as dimensões de 1,50 m de altura, 1,20 m de base
e 25 m de comprimento, com capacidade de 30% de atenuação da radiação
solar. Nos tratamentos com agrotêxtil:
as coberturas foram colocadas diretamente sobre as plantas e fixadas por estacas
nas laterais, utilizando o agrotêxtil (“tecido não tecido”) com gramatura de 30%,
aditivado com filme anti-UV. O cultivo
em campo foi feito sem nenhum tipo de
cobertura. O plantio das mudas nos tratamentos acima descritos foi feito com e
sem o uso de cobertura plástica do solo
(mulching). Nos tratamentos com
mulching utilizou-se filme de polietileno
preto com 25 mm de espessura.
O experimento foi conduzido em
duas épocas: (1) de agosto a novembro
de 2001, caracterizada pela média mensal das temperaturas máximas diárias de
agosto, setembro, outubro e novembro
de 28,9ºC; 29,7ºC; 30,4ºC; e 30,7ºC,
respectivamente; média mensal das temperaturas mínimas diárias de 14ºC;
16,4ºC; 17,8ºC e 19,8ºC, e precipitação
acumulada de 61 mm; 27,3 mm, 149,3
mm e 222,7 mm. (2) de março a junho
de 2002, caracterizada pela média mensal das temperaturas máximas diárias
dos meses de março, abril, maio e junho de 31,8ºC; 32,0ºC; 28,2ºC e 29,1ºC,
respectivamente; média mensal das temperaturas mínimas diárias 19,8ºC;
18,2ºC; 15,7ºC e 14,5ºC, e precipitação
acumulada de 146 mm; 5 mm; 45,8 mm
e 0 mm.
O experimento foi conduzido no
delineamento em blocos casualizados,
com doze cultivares e três repetições. O
fator bloco foi considerado com efeito
aleatório e os demais fatores com efeitos fixos. Cada unidade experimental foi
constituída de quatro linhas de 1,8 m,
espaçadas de 0,3 m. Foram utilizadas
seis plantas por linha, totalizando 24
plantas por parcela.
Para os ambientes em campo, o preparo do solo foi realizado com uma
aração na profundidade de 0,35 m, seguida de uma gradagem niveladora.
Posteriormente, foi realizado o preparo
dos canteiros com rotoencanteirador, nas
dimensões de 1,2x25 m, distanciados de
0,4 m, orientados no sentido leste-oeste. Para os ambientes de cultivo protegido, o preparo do solo foi realizado utilizando-se enxada rotativa, e os canteiros, nas mesmas dimensões usadas nos
ambientes anteriores, foram preparados
manualmente. A calagem e adubação de
plantio foram realizadas obedecendo às
recomendações de Trani et al. (1996)
para alface no estado de São Paulo. As
mudas foram produzidas em bandejas
de poliestireno expandido com 288 células, contendo substrato comercial recomendado para hortaliças folhosas. O
transplante ocorreu quando as mudas
atingiram quatro ou cinco folhas definitivas, cerca de 28 a 35 dias, de acordo
com a época de cultivo.
Foi utilizado o sistema de irrigação
por gotejamento com uma linha de tubos gotejadores para cada linha de plantio. O espaçamento entre gotejadores foi
de 0,3 m. A freqüência e o volume de
água aplicados em cada experimento
foram determinados através de critérios
visuais diversos, tais como fase de desenvolvimento das plantas e condições
climáticas.
As colheitas foram efetuadas de
acordo com as características de cada
grupo de cultivares, em função da idade da planta e época de plantio. Nos grupos de experimentos realizados na primeira época, as cultivares dos grupos
crespa e lisa foram colhidas aos 71 dias
após a semeadura, e as cultivares do grupo americana aos 78 dias após a semeadura. Nos grupos de experimentos realizados na segunda época, as alfaces dos
grupos crespa e lisa foram colhidas aos
67
E. B. Figueiredo et al.
Tabela 1. Grupos de ambientes, em cultivares de alface, na região de Jaboticabal, obtidos pelos índices de dissimilaridade, por caráter
avaliado, em duas épocas. Jaboticabal, UNESP, 2001.
1
MSPA - Massa seca da parte aérea; VOL – Volume de planta; NF - Número de folhas. 2: 1 e 2 - casa de vegetação com e sem mulching, 3
e 4 - túnel baixo de cultivo com e sem mulching, 5 e 6 - túnel baixo com sombrite com e sem mulching, 7 e 8 - agrotêxtil com e sem
mulching, 9 e 10 - campo com e sem mulching. 3: 1- agosto a novembro de 2001; 2- março a junho de 2002).
78 dias após a semeadura e as do grupo
americana aos 85 dias após a semeadura.
Avaliou-se (a) massa fresca da parte
aérea (g/planta) (MFPA), obtida a partir de cinco plantas por parcela e colhidas pela manhã; (b) massa seca da parte
aérea (g/planta) (MSPA), obtida a partir de duas plantas secas em estufa com
circulação forçada de ar a 65ºC até atingirem peso constante; (c) diâmetro médio e altura de planta (cm) (DM e ALT),
sendo que para obtenção do diâmetro
médio, feito um dia antes da colheita
foram coletados os dados referentes ao
diâmetro maior (d1), diâmetro menor
(d2) e altura (h) de duas plantas por parcela, utilizando-se régua graduada; e (d)
volume de plantas (cm3/planta) (VOL),
sendo que a partir dos diâmetros e altura, obteve-se a estimativa do volume da
planta utilizando-se a fórmula da metade do volume de uma elipsóide de diâmetros d1 e d2 e altura h, ou seja: V = 4/
3 p (d1/2)(d2/2)h; e) número de folhas por
planta (NF). Nesta contagem, foram consideradas apenas as folhas que atingiram
o comprimento mínimo de 1,5 cm.
Para avaliar a existência de variabilidade genética entre as cultivares estudadas, a precisão relativa de cada experimento e a homogeneidade das
variâncias, realizou-se a análise
univariada, por ambiente e época. A análise de variância conjunta foi realizada
considerando os 10 ambientes e as duas
épocas, sendo, efeito aleatório para blocos e para as demais fontes de variação.
A seguir foi realizada a análise de
68
variância conjunta, considerando os 10
ambientes, em cada época.
Utilizou-se o método de agrupamento de ambientes com base no algoritmo
de Lin (1982), citado por Cruz e Regazzi
(2001), que consiste em estimar a soma
de quadrados para a interação entre cultivares e agrupar aqueles ambientes cuja
interação é não significativa.
Para agrupar cultivares e ambientes
similares, utilizou-se análise de agrupamento multivariada (Análise de
“Cluster”), utilizando-se o programa
SAS (Statistics Analysis System). Como
coeficiente de dissimilaridade foi utilizada a distância Euclidiana, e como estratégia de agrupamento utilizou-se o
método de agrupamento não ponderado
aos pares.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelos valores dos coeficientes de
correlação, as características MSPA e
MFPA foram correlacionadas (r³0,70 e
p<0,01), bem como VOL com DM e
ALT. Portanto, apenas MSPA, VOL e
NF foram abordadas neste estudo.
As análises de variância individuais
para MSPA, VOL e NF, dentro de cada
ambiente, em cada época, tiveram como
principal objetivo estimar a variância
residual de cada ensaio, para verificar
os ambientes que poderiam ser considerados homogêneos, segundo os critérios sugeridos por Cruz e Regazzi
(2001), permitindo a realização da análise conjunta com todos os ambientes.
Os resultados da análise de variância
conjunta (Tabela 1), envolvendo cultivares, ambientes e épocas, para MSPA,
VOL e NF, demonstraram valores de F
significativos (p<0,01) para todas as
interações envolvendo o fator época
(ExC, AxC, ExA, ExAxC). Na Figura 1
pode-se observar para NF que, apesar
da interação, existe uma destacada superioridade das cultivares do grupo lisa
sobre as outras cultivares, independentemente da época, para a grande maioria dos ambientes.
Considerando-se as cultivares dos
grupos crespa e americana, observa-se
uma certa superioridade do número de
folhas das cultivares do grupo americana sobre as do grupo crespa, para a segunda época, o que não acontece para a
primeira época (Figura 1). Streck et al.
(1994), em Santa Maria (RS), verificaram maiores valores no número de folhas para duas cultivares de alface (lisa
White Boston e crespa Hampson), sob
túnel baixo no inverno e na primavera,
comparadas ao cultivo em ambiente
externo. Segovia (1991), durante o inverno de Santa Maria, comparou três
cultivares de alface em ambiente natural e sob estufa plástica, verificando
aumento significativo no número de folhas ao longo de todo o período avaliado para o cultivo em estufa, e caracterizando uma maior atividade metabólica,
com menor intervalo de dias para emissão de novas folhas.
Para MSPA observa-se de maneira
geral, independente do ambiente e da
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal
Tabela 2. Análise multivariada do agrupamento de cultivares de alface e ambientes, considerando-se simultaneamente massa seca da parte
aérea (MSPA), volume de planta (VOL) e número de folhas (NF), em duas Épocas [(1) agosto a novembro de 2001; (2)março a junho de
2002], na região de Jaboticabal. Jaboticabal, UNESP, 2001.
Cultivares (1-Babá de Verão, 2-Karla, 3-Nacional, 4-Elisa, 5-Simpson, 6-Hortência, 7-Verônica, 8-Grand Rapids, 9-Laidy, 10-Tainá, 11Lucy Brown e 12-Raider); ambientes: 1 e 2 - casa de vegetação com e sem mulching, 3 e 4 - túnel baixo de cultivo com e sem mulching,
5 e 6 - túnel baixo com sombrite com e sem mulching, 7 e 8 - agrotêxtil com e sem mulching, 9 e 10 - campo com e sem mulching.
época, que as cultivares do grupo americana apresentam os maiores valores
comparados com os demais grupos e que
as cultivares do grupo lisa apresentam
os menores valores.
Para VOL, observa-se que, independente do ambiente e da época estudada,
as cultivares do grupo crespa apresentam maiores volumes que as demais
cultivares, e as que apresentam menores volumes são as do grupo americana.
Com estes resultados fica evidente que
as vantagens de algumas cultivares sobre outras dependem da característica
considerada. Devido ao alto nível de
significância das interações de cultivares e ambientes com o fator época
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
(p<0,01), apresenta-se o estudo da
interação genótipo x ambiente dentro de
cada época (Tabela 2).
Observa-se interação significativa
(p<0,01), entre genótipo x ambiente,
para os três caracteres estudados, nas
duas épocas (Tabela 2).
Para identificar se existem, entre os
ambientes estudados, padrões de similaridade de respostas de cultivares, realizou-se o agrupamento de ambientes
pelo método de Lin (1982), que consiste em estimar a soma de quadrados para
a interação entre genótipos e pares de
ambientes e, posteriormente, agrupar
aqueles ambientes cuja interação é não
significativa. O método prossegue com
a estimativa da soma de quadrados entre genótipos e grupos de três ambientes, quatro, e assim por diante, até obter
os grupos com mesmo padrão de similaridade.
Os grupos de ambientes, obtidos
pelos índices de dissimilaridade, por
variável e por época, são apresentados
na Tabela 1. Observou-se que, para
MSPA, os ambientes casa de vegetação
com mulching, túnel baixo com sombrite
e com mulching e túnel com sombrite
sem mulching, apresentaram similaridade para todas as épocas estudadas. O
mesmo foi observado para o grupo de
ambientes onde se utilizou o túnel baixo de cultivo sem mulching e agrotêxtil
69
E. B. Figueiredo et al.
Figura 1.Representação da massa seca da parte aérea (MSPA), volume (VOL) e número de
folhas (NF) para as cultivares (1-Babá de Verão, 2-Karla, 3-Nacional, 4-Elisa, 5-Simpson,
6-Hortência, 7-Verônica, 8-Grand Rapids, 9-Laidy, 10-Tainá, 11-Lucy Brown e 12-Raider),
nos ambientes: 1 e 2 (casa de vegetação com e sem mulching), 3 e 4 (túnel baixo de cultivo
com e sem mulching), 5 e 6 (túnel baixo com sombrite com e sem mulching), 7 e 8 (agrotêxtil
com e sem mulching), 9 e 10 (campo com e sem mulching), nas épocas (1- agosto a novembro de 2001; 2- março a junho de 2002). Jaboticabal, UNESP, 2001.
com mulching e para o grupo de ambientes campo com mulching e campo
sem mulching. Os ambientes em casa
de vegetação sem mulching e túnel baixo de cultivo com mulching apresentam
similaridade com alguns ambientes em
uma das épocas estudadas e com outros
na outra época. Ressalta-se que o ambiente com agrotêxtil sem mulching não
apresentou similaridade com qualquer
outro ambiente na primeira época.
Para a variável VOL, observou-se
que os ambientes casa de vegetação sem
mulching, túnel baixo com sombrite
com mulching, túnel baixo com sombrite
sem mulching, agrotêxtil com mulching,
agrotêxtil sem mulching e campo com
mulching apresentaram-se similares nas
duas épocas estudadas. O ambiente cam70
po sem mulching apresenta similaridade com alguns ambientes na primeira
época e não apresenta qualquer similaridade com outros ambientes na segunda época. Os ambientes casa de vegetação com mulching, túnel baixo com
mulching e túnel baixo sem mulching
não apresentam similaridade com outros
ambientes nas épocas estudadas.
Para a variável NF, observou-se que
os ambientes casa de vegetação com
mulching, casa de vegetação sem
mulching, túnel baixo sem mulching e
agrotêxtil sem mulching apresentam similaridade nas duas épocas estudadas;
bem como o grupo de ambientes túnel
baixo com sombrite com mulching, túnel baixo com sombrite sem mulching e
campo sem mulching; e o grupo túnel
baixo com mulching e campo com
mulching. O ambiente agrotêxtil com
mulching apresentou similaridade com
alguns ambientes na primeira época e
não apresentou similaridade na segunda época.
Destaca-se que, entre os ambientes
estudados, apenas os ambientes túnel
baixo com sombrite com mulching e
túnel baixo com sombrite sem mulching
apresentam-se similares para todas as
características estudadas em todas as
épocas.
Tendo em vista a variabilidade de
grupos similares por variável, realizouse a análise multivariada de agrupamento, considerando-se simultaneamente as
três características e as duas épocas. Os
resultados da análise de agrupamento
(Tabela 2), mostraram que, para a primeira época, os melhores grupos de cultivares concentram-se nos ambientes casa de
vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel baixo sem
mulching, túnel baixo com sombrite com
mulching e campo sem mulching; os piores nos ambientes, túnel baixo com
sombrite sem mulching, agrotêxtil com
mulching e agrotêxtil sem mulching e,
para o ambiente campo com mulching,
as cultivares apresentam uma grande variação no desempenho.
As melhores respostas, para a primeira época, foram obtidas pelas cultivares Babá de Verão, Karla, Nacional e
Elisa, nos ambientes casa de vegetação
com mulching, túnel baixo sem
mulching e campo sem mulching e as
cultivares Karla, Nacional e Elisa no
ambiente casa de vegetação sem
mulching e as cultivares Babá de Verão
e Karla no ambiente túnel baixo com
sombrite com mulching, seguidas pelas
cultivares Simpson, Hortência, Verônica
e Grand Rapids nos ambientes casa de
vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel com
mulching, túnel baixo sem mulching e
túnel baixo com sombrite com
mulching.
Todas as cultivares apresentaram
pior desempenho nos ambientes túnel
baixo com sombrite sem mulching,
agrotêxtil com mulching e agrotêxtil
sem mulching com exceção das cultivares Hortência e Lucy Brown, que
apresentaram um desempenho intermeHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal
diário nos ambientes agrotêxtil sem
mulching e túnel baixo com sombrite
sem mulching, respectivamente.
Ressalta-se que as cultivares do grupo lisa apresentaram-se entre as melhores em todos os ambientes, com exceção
para os ambientes túnel baixo com
mulching, túnel baixo com sombrite com
mulching e campo com mulching. Pelas
análises univariadas apresentadas anteriormente, esta vantagem parece ser influenciada pelo maior número de folhas
destas cultivares, quando comparadas às
demais, em todos os ambientes.
O bom desempenho das cultivares
Simpson, Hortência, Verônica e Grand
Rapids nos ambientes casa de vegetação com mulching, casa de vegetação
sem mulching, túnel baixo com
mulching, túnel baixo sem mulching e
túnel baixo com sombrite com
mulching; parece ser influenciado pelo
volume, o que pode ser observado na
Figura 1.
Para a segunda época, houve maior
variabilidade quanto ao desempenho das
cultivares dos três grupos, nos ambientes estudados. Nessa época, as cultivares do grupo lisa apresentaram os melhores desempenhos; as do grupo crespa, apresentaram um desempenho intermediário, e as do grupo americana apresentaram, pior desempenho, para todos
os ambientes estudados, considerandose os três caracteres avaliados.
Da mesma forma que para a primeira época, na segunda época, a superioridade das cultivares do grupo lisa parece ter sido influenciada pelo caráter
NF. Ressalta-se que, apesar das cultivares do grupo americana apresentarem
pior desempenho, verifica-se nas análises univariadas (Figura 1), que são as
cultivares que apresentam os maiores
valores de MSPA.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Podemos destacar que, para a escolha de uma determinada cultivar para
plantio, deve-se observar o mercado e o
modo de comercialização de cada região. Quando se tem como objetivo
maior produção de alface baseada na
MFPA (ou MSPA), deve-se optar por
cultivares do grupo americana, que apresentaram maiores valores de MSPA em
relação às demais, com exceção da cultivar Karla, nos ambientes casa de vegetação, com e sem mulching, túnel baixo de cultivo, com e sem mulching, e
campo aberto, com e sem mulching, (primeira época). Para a segunda época, todas as cultivares do grupo americana
foram superiores às demais, em todos
os ambientes estudados, apresentando as
maiores médias e demonstrando não
haver necessidade de maiores investimentos em ambientes modificados.
Quando o objetivo final da produção é a obtenção de plantas com maior
volume, visando a comercialização direta com redes de supermercados ou feiras livres, onde se considera o volume
de plantas para se preparar os maços,
devemos observar que as cultivares do
grupo crespa (Figura 1), apresentam as
maiores médias para a primeira época,
nos ambientes casa de vegetação com
mulching, casa de vegetação sem
mulching, túnel baixo com mulching,
túnel baixo sem mulching e túnel baixo
com sombrite com mulching, demonstrando que os túneis baixos de cultivo
podem ser utilizados, com menor custo
e resultados equivalentes. Para a segunda época, as maiores médias foram obtidas pelas cultivares Simpson,
Hortência, Verônica e Grand Rapids, nos
ambientes casa de vegetação com
mulching, casa de vegetação sem
mulching, túnel baixo com mulching,
túnel baixo sem mulching, túnel baixo
com sombrite com mulching, túnel bai-
xo com sombrite sem mulching,
agrotêxtil com mulching e agrotêxtil
sem mulching; demonstrando uma melhor resposta das cultivares aos ambientes modificados, em relação ao campo aberto.
Contudo, a escolha de cultivares do
grupo lisa devem ser de acordo com as exigências de mercado, quanto a qualidade e
preferência do tipo de planta ou folha.
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71
ROSSI, C.E.; MONTALDI, P.T. Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e patogenicidade. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 22, n.
1, p. 72-75, jan-mar 2004.
Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e
patogenicidade.
Carlos Eduardo Rossi; Pollyanna T. Montaldi
Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Sanidade Vegetal, C. Postal 70, 13001-970 Campinas–SP. E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Pesquisaram-se as reações de 11 cultivares de rabanete a
Meloidogyne javanica e sua patogenicidade a uma dessas cultivares. No estudo de reações, os tratamentos/cultivares foram ‘Comprido Branco’, ‘Crimson Gigante’, ‘Ponta Branca’, ‘Comprido Vermelho’, ‘Serrano’, ‘Gigante Wurzburgo’, ‘Saxa’, ‘Redondo Vermelho’, ‘Redondo Gigante’, ‘Cometo’ e ‘Akamaru Hatsuka’. Determinaram-se os índices de galhas (IG) e de massas de ovos (IMO), o
número de nematóides no sistema radicular (NSR) e por grama de
raiz (NGR) e o fator de reprodução (FR) 53 dias após a inoculação
artificial com 2.000 ovos do parasito. Em outro experimento, avaliaram-se os efeitos de três densidades populacionais do nematóide [0,
500 (nível populacional baixo) e 10.000 (nível populacional alto)
ovos/planta] sobre as massas frescas e secas de túberas e de parte
aérea da cultivar ‘Redondo Gigante’, 39 dias após a inoculação. Os
resultados mostraram que todas as cultivares permitiram a reprodução de M. javanica, sendo portanto consideradas suscetíveis. Valores de IG e IMO foram maiores ou iguais a 2,5 e os de FR, maiores
do que 8,0 para todas as cultivares estudadas. O parasito causou
diminuição significativa nas massas frescas e secas de túberas e de
partes aéreas nos dois níveis populacionais estudados comparados
com o controle não inoculado. As médias dos tratamentos contendo
níveis populacionais baixo e alto do nematóide também diferiram
estatisticamente entre si, comprovando-se, assim, a sua ação
patogênica sobre a cultivar avaliada.
Palavras-chave: Meloidogyne javanica, Raphanus sativus,
patogenicidade, reação de cultivares.
Root-knot nematode: cultivars reaction and damage to radish
Experiments were conducted under greenhouse conditions to
determine the reaction of eleven radish (Raphanus sativus) cultivars
to Meloidogyne javanica and the pathogenicity of this nematode to
a previously selected cultivar. The cultivars tested were ‘Comprido
Branco’, ‘Crimson Gigante’, ‘Ponta Branca’, ‘Comprido Vermelho’,
‘Serrano’, ‘Gigante Wurzburgo’, ‘Saxa’, ‘Redondo Vermelho’,
‘Redondo Gigante’, ‘Cometo’ and ‘Akamaru Hatsuka’. Radish plants
were inoculated with 2,000 eggs, and the [root-gall (IG) and eggmass (IMO) indexes and reproduction factor (FR)] were determined
53 days after inoculation. In the other experiment, three populational
levels (0, 500 (low level) and 10,000 (high level) nematode eggs)
were individually inoculated in ‘Redondo Vermelho’ radish cultivar.
The results showed values of IG and IMO superior or equal to 2.5
and FR superior to 8.0 and, according tp these data, all tested cultivars
were classified as susceptible. Meloidogyne javanica caused plant
growth supression as measured by the values of fresh and dry weight
of roots and the foliage of the plants, 39 days after inoculations. The
average treatments containing low and high populational levels were
satisfically different among themselves, thus proving its patogenic
action on the cultivars evaluated.
Keywords: Meloidogyne javanica, Raphanus sativus, pathogenicity,
cultivar reaction.
(Recebido para publicação em 25 de novembro de 2002 e aceito em 3 de novembro de 2003)
O
s nematóides de galha
(Meloidogyne spp.) são parasitos
importantes para as hortaliças, causando-lhes sérios prejuízos. Meloidogyne
javanica é uma espécie-chave por ser
polífaga e muito bem adaptada aos agroecossistemas tropicais (Netscher e
Sikora, 1990).
Hortaliças, como o rabanete
(Raphanus sativus L.), de ciclo produtivo inferior ao do parasito, onde é comum
a colheita de túberas após 20 a 30 dias da
emergência (Camargo, 1984), podem ser
manejadas de diferentes formas visando
diminuir níveis populacionais do
nematóide no solo (Brody e Laughlin,
1977; Gardner e Caswell-Chen, 1994;
Johnson, 1998; Cuadra et al., 2000).
72
Segundo dados de literatura, o rabanete é considerado hospedeiro suscetível ao nematóide. Sasser (1954) verificou que R. sativus ‘Early Scarlet Globe’
foi passível de altas infecções, podendo
apresentar abundante número de fêmeas
e massas de ovos de M. arenaria, M.
incognita e M. javanica. Trabalhos de
Ahuja e Muchopadhyaya (1985),
Paruthi et al. (1986), Kanwar et al.
(1995), McSorley e Frederick (1995) e
Carneiro et al. (2000) também corroboram essas observações. Entretanto, resultados divergentes foram encontrados
por outros autores, demonstrando a resistência ou reduzida eficiência como
hospedeira de algumas cultivares
(Calinga e Ballon, 1974; Castillo e
Bulag, 1974; Reyes e Villanueva,
1981).
No Brasil, há citações nesta espécie
vegetal da ocorrência de Meloidogyne
incognita no Rio Grande do Norte (Ponte et al., 1977) e em São Paulo (Silveira
et al., 1986).
Em vista da escassez de trabalhos
publicados na área de nematologia
em rabanete e procurando, preliminarmente, adequar a planta na estratégia de cultura armadilha de
nematóides, estudaram-se as reações
das principais cultivares disponíveis
no mercado a Meloidogyne javanica
e a sua patogenicidade a uma dessas
cultivares.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e patogenicidade.
Tabela 1. Índice de galhas (IG) e de massa de ovos (IMO), nematóides no sistema radicular (NSR) e por grama de raiz (NGR) e fator de
reprodução (FR) de Meloidogyne javanica e respectiva reação a cultivares de rabanete. Campinas, Instituto Biológico, 2001.
Baseado em proposta de Taylor & Sasser (1978);
Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Stderr & Pdiff a 5%;
3
Baseado em proposta de Oostenbrink (1966);
4
S = suscetibilidade.
1
2
MATERIAL E MÉTODOS
Reação de Cultivares
Instalou-se o experimento em casa
de vegetação provida de controle de
temperatura, em delineamento inteiramente casualizado, com 6 repetições.
Cada parcela constituiu-se num copo
plástico com capacidade para 535 ml
preenchido com 500 ml de substrato
(solo e areia, 1:1) previamente
desinfestado com brometo de metila
(150 ml/m) e contendo uma planta. Os
tratamentos (cultivares com respectivas
empresas fornecedoras entre parêntesis)
testados foram: ‘Comprido Branco’
(Horticeres), ‘Crimson Gigante’ (Ferti
Seed), ‘Ponta Branca’ (Cal Seed), ‘Comprido Vermelho’ (Cal Seed), ‘Serrano’
(Feltrin), ‘Gigante Wurzburgo’ (Isla),
‘Saxa’ (Feltrin), ‘Redondo Vermelho’
(Horticeres), ‘Redondo Gigante’
(Feltrin), ‘Cometo’ (Topseed) e
‘Akamaru Hatsuka’ (Sakata). Utilizaram-se tomateiros ‘Rutgers’ para confirmação da viabilidade do inóculo.
Nove dias após a semeadura e seis do
desbaste, inocularam-se, individualmente, 2.000 ovos do parasito (Pi) extraídos
de raízes de tomateiros ‘Rutgers’ cultivados em substrato artificialmente infestado, seguindo metodologia proposHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
ta por Hussey e Barker (1973) modificada por Boneti e Ferraz (1981). As
plantas foram irrigadas diariamente e
adubadas quinzenalmente com 20 ml/
planta de fertilizante líquido (6-6-8) diluído 1:250. Controlou-se a temperatura da casa de vegetação para não exceder 30ºC.
Cinquenta e três dias após as
inoculações, desenvasaram-se as plantas e, com auxílio de uma tesoura, separaram-se os prolongamentos da raiz
principal das túberas; esses prolongamentos de raízes foram lavados sob água
corrente e deixados para secar por 30
minutos à sombra, determinando-se os
valores de massa fresca. Para evidenciar as massas de ovos externas foram
feitas colorações com ‘phloxine B’, determinando-se também os números de
galhas e de massas de ovos, obtendo-se
os índices de galhas (IG) e os de massas
de ovos (IMO), conforme escala de 0 a
5, sendo 0 = 0 galhas ou massas de ovos;
1 = 1-2; 2 = 3-10; 3 = 11-30; 4 = 31-100
e 5 = > 100 (Taylor e Sasser, 1978).
Para determinar o número de
nematóides (ovos + juvenis de segundo
estádio) no sistema radicular (NSR ou
Pf) e por grama de raiz (NGR), processaram-se os sistemas radiculares pela
técnica de Boneti e Ferraz (1981), estimando-se tais parâmetros em alíquotas
de 1 ml colocadas em lâmina de Peters
e examinadas ao microscópio óptico.
Analisaram-se estatisticamente os dados
de NSR e NGR, aplicando-se o teste F
na análise da variância e o teste de Stderr
e Pdiff a 5% para comparação de médias. Calculou-se o fator de reprodução
(FR) pela razão: Pi/Pf (Oostenbrink,
1966), e determinando-se a reação das
cultivares.
Patogenicidade
Como descrito para o anterior, esse
experimento também foi instalado em
casa de vegetação, em delineamento inteiramente casualizado, com seis repetições. Somente a parcela foi constituída de um recipiente plástico com capacidade para 2 L contendo 1,8 L do mesmo substrato e uma planta da cultivar
‘Redondo Vermelho’, selecionada com
base em resultados do experimento anterior. Plântulas com um dia de idade
foram inoculadas, separadamente no
momento do transplantio, com três densidades populacionais do nematóide 0,
500 e 10.000 ovos/planta. Esses valores numéricos foram qualificados como
controle não inoculado e níveis
populacionais baixo e alto, respectivamente. Tomateiros ‘Rutgers’ foram inoculados com 5.000 ovos para verificação da viabilidade do inóculo. Trinta e
nove dias após a inoculação,
73
C. E. Rossi e P. T. Montaldi
Tabela 2. Efeito de Meloidogyne javanica nas massas frescas e secas de parte aérea (MFPA e MSPA) e túbera (MFT e MSPA) de rabanete
‘Redondo Gigante’. Campinas, Instituto Biológico, 2001.
¹Nível de inóculo inicial;
² Médias seguidas por letras distintas em cada coluna diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (Médias de 6
repetições. Valores transformados em raiz quadrada de x).
desenvasaram-se as plantas e separaram-se os sistemas radiculares (prolongamentos da raiz principal e túberas) das
partes aéreas com auxílio de uma tesoura; as raízes foram lavadas em água corrente e deixadas para secar por 30 minutos à sombra, determinando-se os valores de massa fresca dos sistemas
radiculares e das partes aéreas. Tanto os
sistemas radiculares como os órgãos
aéreos de cada planta foram colocados
em sacos especiais de papel e postos
para secar em estufa a 68–70ºC, anotando-se os respectivos valores de massa seca.
Para estimar a quantidade de
nematóides remanescentes, uma muda
de tomate ‘Rutgers’ foi transplantada
para cada parcela, de onde tinham sido
retiradas as plantas de rabanete. Vinte e
quatro dias após o transplante, avaliaram-se os índices de galhas, segundo
Taylor e Sasser (1978).
Os valores referentes às massas frescas e secas foram analisados estatisticamente, aplicando-se o teste F na análise da variância e o teste de Tukey a
5%, no caso de ter ocorrido diferenças
significativas entre médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Reação de Cultivares
Meloidogyne javanica se reproduziu
em todas as cultivares estudadas, verificando-se para todas elas IG e IMO
maiores ou iguais a 2,5, o que as caracteriza como suscetíveis segundo proposta de Canto-Saénz (1983) modificada
por Sasser et al. (1984) (Tabela 1). Os
valores de IG e IMO variaram de 2,5–
3,3 para ‘Cometo’ e 2,5–3,5 para ‘Comprido Branco’ a 4,0-5,0 para ‘Akamaru
Hatsuka’. As galhas, não muito conspí74
cuas, projetavam-se pelo prolongamento
da raiz principal e nas raízes secundárias. Parece que essa característica é comum em Brassicaceae, pois Ferraz e
Rossi (1999) já o haviam observado em
raízes de canola. Não se verificou reação hiperplástica nas túberas. Fato semelhante foi observado por Brody e
Laughlin (1977) para M. hapla. Não se
verificaram diferenças estatísticas entre
as cultivares para NSR. Porém, para
NGR, a cultivar Saxa diferiu estatisticamente de todas as outras, com exceção de ‘Akamaru Hatsuka’ e ‘Crimson
Gigante’, apresentando a maior média
(13.081,7). Entretanto, todas as cultivares mostraram-se com FR maior do que
oito, o que evidencia mais uma vez a
sua alta suscetibilidade ao nematóide.
Resultados semelhantes foram obtidos por Gardner e Caswell-Chen (1994),
que demonstraram a suscetibilidade de
sete cultivares de Raphanus sativus var.
oleifera e por McSorley e Frederick
(1995) que avaliaram a reação da cultivar Cherry Belle a M. javanica, entre
outros nematóides, e também puderam
demonstrar sua suscetibilidade. Carneiro et al. (2000), trabalhando com as cultivares Crison Gigante (provavelmente
a mesma cultivar aqui estudada com o
nome de ‘Crimson Gigante’) e Scarlet
Globe, obtiveram valores de FR pouco
maiores do que um, ou seja, relativamente menores do que os desse experimento, classificando-as como moderadamente suscetíveis. As diferenças observadas podem ser atribuídas às diferenças na metodologia de avaliação, já
que os autores trabalharam com 5.000
ovos contra 2.000 desse experimento e
período de avaliação de 3 meses contra
39 dias do presente trabalho.
Discordantemente, estudos realizados nas Filipinas com outra espécie de
nematóide de galha (M. incognita), demonstraram que as cultivares Early
Scarlet Globe, Ramgo e outra não mencionada foram resistentes a esse parasito (Calinga e Ballon, 1974; Castillo e
Bulag, 1974; Reyes e Villanueva, 1981).
Fato ainda mais curioso foi descrito por
Paruthi et al. (1986) que não observaram nenhuma massa de ovos nas raízes
da cultivar H.R.I. após 90 dias da
inoculação com seis níveis
populacionais de M. javanica (0 a
10.000 juvenis/vaso).
Patogenicidade
O parasito causou diminuição significativa nas massas frescas e secas de
túbera e de parte aérea do rabanete ‘Redondo Vermelho’, nos dois níveis
populacionais estudados (500 e 10.000)
comparados com o tratamento que não
recebeu inóculo (Tabela 2). As médias
dos
tratamentos
dos
níveis
populacionais baixo e alto também diferiram significativamente entre si para
todas as variáveis. Isso demonstra que,
mesmo em pequena quantidade, o
nematóide ocasiona dano ao rabanete,
embora esse dano se intensifique com o
aumento da sua população. Uma evidência adicional a esse fato são os altos IG
observados: 3,5 para o nível baixo e 4,8,
para o alto (Tabela 2). Para o caso dos
níveis populacionais altos, cinco das seis
repetições apresentavam-se com os sistemas radiculares contendo aglomerados de galhas e fortemente atrofiados,
sendo portanto caracterizadas como nota
5. Paruthi et al. (1986) verificaram reduções nos valores de algumas variáveis
testadas sob diferentes níveis de inóculo
de M. javanica. A partir de 100 juvenis
houve reduções significativas nas masHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e patogenicidade.
sas frescas de parte aérea, mas somente
acima de 2.000 juvenis/planta ocorreram reduções na massa de túberas.
Pesquisando a reação dessa hortaliça
a M. incognita, Ahuja e Muchopadhyaya
(1985) verificaram crescimento irregular e intensa redução no porte de plantas, com Pi variando de 5.000 a 10.000
juvenis de segundo estádio por planta.
Ainda no presente experimento, resultados de bio-ensaio com o tomateiro
‘Rutgers’, demonstraram que altas populações do nematóide também permanecem no substrato após a retirada das
plantas, pelos valores de IG obtidos (4,7
e 4,3 para níveis baixo e alto, respectivamente). Assim, a sugestão de Brody
e Laughlin (1977) que o rabanete poderia servir como planta armadilha para
M. hapla deve ser melhor estudada para
M. javanica. Mesmo assim, Cuadra et
al. (2000) verificaram diminuições de
50% na população de M. incognita raça
2 no solo e incremento de 10 a 20% na
produção de tomate, pepino e feijão
caupi após uso da estratégia de cultura
armadilha. Recomenda-se como práticas complementares a retirada e destruição de plantas cujas túberas não se desenvolveram adequadamente, portanto
não tendo sido comercializadas, para
evitar aumento da população do
nematóide.
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75
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RX20094, sob temperatura ambiente. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1 p. 76-79, jan-mar 2004.
Armazenamento de melão amarelo, híbrido RX 20094, sob temperatura
ambiente
Fábio Vinícius de S. Mendonça1; Josivan B. Menezes; Adriana A. Guimarães2; Pahlevi A. De Souza3;
Adriano do N. Simões1; Georgiana L.F.M. Souza2
ESAM, NEP, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; E-mail: [email protected]; 1Estudante mestrado em Fisiol. Vegetal, UFV,
36570-000 Viçosa-MG; 2Estudante mestrado em Tecnol. Alimentos, UFV; 3Estudante doutorado em Fitotecnia, UFV
RESUMO
ABSTRACT
A vida útil pós-colheita do melão amarelo híbrido RX 20094 foi
avaliada, estudando-se características visuais, físicas e físico-químicas dos frutos em pós-colheita em ensaio conduzido no laboratório da Escola Superior de Agricultura de Mossoró. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos, referentes
aos períodos de armazenamento (0; 5; 10; 15; 20; e 25 dias) e 5
repetições, com dois frutos por parcela. Os frutos foram mantidos à
temperatura de 30±1ºC e UR de 50±5%. Foram feitas avaliações em
intervalos de 5 dias, avaliando-se a firmeza da polpa, perda de massa, aparências externa e interna e conteúdo de sólidos solúveis (SS).
Observou-se efeito do tempo de armazenamento para todas as características avaliadas. A firmeza da polpa e as aparências externa e
interna foram os principais fatores responsáveis pela perda de qualidade do melão. A vida útil do híbrido RX-20094 foi estimada em até
no mínimo 25 dias de armazenamento sob temperatura ambiente.
Yellow melon, RX 20094 hybrid, stored at room temperature
The postharvest shelflife of yellow melon RX20094 hybrid was
obtained through visual, physical, and physical-chemical evaluations
in two experiments carried out at Escola Superior de Agricultura de
Mossoró, Rio Grande do Norte State, Brasil. A completely
randomized design with six treatments, consisting of storage days
(0; 5; 10; 15; 20; and 25) and five replications, with 2 fruits per plot,
was utilized. The fruits were kept at the temperature of 30±1ºC and
50±5% of relative humidity. Evaluations were made at five-day
intervals with the determination of flesh firmness, weight loss,
external and internal appearances and soluble solids content (SS).
The storage days had effect on all characteristics. Yellow melons
RX20094 hybrid maintained good quality characteristics for up to a
storage period of 25 days at room temperature.
Palavras-chave: Cucumis melo L., pós-colheita, qualidade, armazenamento.
Keywords: Cucumis melo L., postharvest, quality, shelf life.
(Recebido para publicação em 17 de dezembro de 2002 e aceito em 02 de novembro de 2003)
O
Agropolo Mossoró-Assu é respon
sável pela maior concentração de
empreendimentos com frutos tropicais,
onde o melão assume uma proporção privilegiada. As regiões do Baixo Assu e
Chapada do Apodi no RN, e Baixo
Jaguaribe no CE, são responsáveis pelas
maiores áreas produtoras de melão no
Semi-Árido do Nordeste (Dias et
al.,1998). O RN vem se destacando nos
últimos anos como principal Estado produtor e exportador de melão do Brasil, por
possuir condições edafoclimáticas que
favorecem a cultura do meloeiro, como
por exemplo, a alta luminosidade, os baixos índices pluviométricos, com exceção
do período de janeiro a maio, e a baixa
umidade relativa do ar, permitem uma produção durante quase todo o ano.
Apesar das grandes empresas produtoras de melão do Agropolo MossoróAssu dominarem tecnologia necessária
à obtenção de um “produto” de boa qualidade, como, por exemplo, utilização
de câmaras frias, existem ainda na região pequenos produtores que não têm
76
condições de adotar uma estrutura de
cadeia de frio. Assim, são obrigados a
armazenar seus frutos em condições
ambientes por períodos relativamente
prolongados até a comercialização. Por
isso, as variedades preferencialmente
cultivadas do grupo inodorus, representado pelo melão “amarelo” com excelente conservação pós-colheita
(Cocozza, 1997), comparado às cultivares dos grupos reticulatus e cantaloupe
(Souza et al., 1994), que não alcançam
14 dias de vida útil pós-colheita sob temperatura ambiente.
Diversos genótipos estão sendo cultivados no RN, dentre eles, o ‘Gold
Mine’, ‘AF-646’, e ‘Piel del Sapo’, todos pertencentes ao grupo inodorus. A
cada ano verifica-se a introdução de
novos genótipos (comumente referidos
como híbridos) com o objetivo de diversificar e melhorar a qualidade do produto a ser oferecido aos mercados interno e externo., Porém, o conhecimento do comportamento pós-colheita desses novos materiais ainda é muito limi-
tado (Morais,1998). Para melão o termo qualidade tem sido relacionado com
diferentes características como conteúdo de sólidos solúveis, firmeza da polpa, perda de massa e aparências externa
e interna (Menezes et al., 2001), indicando a aceitabilidade direta do produto pelo consumidor final. Os teores de
açúcares em frutos, normalmente, constituem 65 a 85% do conteúdo de sólidos
solúveis (Chitarra e Chitarra, 1990).
Portanto é de fundamental importância
conhecer o comportamento pós-colheita de novos híbridos para sua introdução em plantios comerciais, tendo em
vista que os principais mercados consumidores (Região Sudeste do Brasil e
a comunidade Européia) necessitam
produto com bom potencial de conservação pós-colheita além de características de qualidade e vida de prateleira
(Gonçalves et al.,1996; Brasil et
al.,1998). O presente trabalho objetivou
avaliar a qualidade e a vida útil pós-colheita do melão amarelo, híbrido
RX20094 sob temperatura ambiente.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Armazenamento do melão amarelo, híbrido RX20094, sob temperatura ambiente
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos foram obtidos de plantio
comercial localizado no Agropólo
Mossoró–Assu, produzidos de acordo
com as práticas culturais usuais na região, utilizando-se sistema de irrigação
localizada, em LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO. O clima é quente e
seco, com precipitação pluviométrica
anual de 423 mm, temperatura média
mensal máxima e mínima de 33 e 29ºC,
respectivamente. O peso médio dos frutos variou de 1,5 a 1,8 kg, o que permite
a classificação como tipo 6 (6 frutos por
caixa), colhidos no estádio de maturação
comercial. Após a colheita, os frutos
foram conduzidos ao Laboratório de
Pós-colheita da ESAM, onde foram pesados, selecionados (eliminando-se os
frutos portadores de imperfeições) e armazenados num intervalo de temperatura de 30±1ºC e umidade relativa de
50±5% por até 25 dias. As avaliações
foram feitas em intervalos regulares de
cinco dias. A perda de massa foi calculada em relação à massa inicial dos frutos no dia da colheita e aquela obtida,
em cada intervalo de armazenamento,
sendo os resultados expressos em percentagem (%). As avaliações de aparência externa (depressões, murcha ou lesões fúngicas) e aparência interna (colapso interno, sementes soltas ou presença de líquido) foram feitas, utilizando-se uma escala visual e subjetiva, segundo a classificação utilizada por Gomes Júnior, et al. (2000), considerandose a ausência ou presença de defeitos
(1= fruto que se apresenta extremamente
marcado pelos defeitos destacados; 2=
severo; 3= médio; 4= leve; 5= ausência
dos defeitos). Quando a nota obtida foi
£3,0 o fruto foi considerado indesejável
para o consumo. Para a avaliação da firmeza da polpa, o fruto foi dividido longitudinalmente, sendo que, em cada uma
das metades procedeu-se duas leituras
(em regiões opostas) com penetrômetro
de marca McCormick modelo FT 327
com plunger de 8 mm de diâmetro, sendo os resultados obtidos em libras (lbf)
e transformados para newton (N) utilizando-se o fator de conversão 4,45. O
conteúdo de sólidos solúveis (SS) foi
determinado por refratometria, utilizando-se um refratômetro digital modelo PR
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Perda de massa de melão amarelo, genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%). Mossoró, ESAM, 2000.
Figura 2. Firmeza de polpa de melão amarelo, genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%). Mossoró, ESAM, 2000.
-100 Palette, com correção automática de
temperatura e os resultados expressos em
percentagem, conforme metodologia proposta por Kramer (1973).
O experimento foi conduzido em
delineamento inteiramente casualizado
com seis tratamentos, referentes a períodos de armazenamento (0; 5; 10; 15; 20;
e 25 dias), e cinco repetições. Cada parcela foi composta por 2 frutos,
totalizando 60 frutos no experimento. Os
resultados foram submetidos à análise
de variância através do software
SPSSPC (Norusis, 1990) e, detectado
efeito significativo, procedeu-se à regressão polinomial através do software
Table Curve (Jandel Scientific, 1991).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para todas as variáveis analisadas
houve efeito significativo do híbrido RX
20094 em relação ao tempo de armazenamento.
A modificação na perda de massa dos
frutos estudados foi caracterizada por um
acréscimo ao longo do armazenamento
variando de 1,7% no início para 4,2% ao
77
F. V. S. Mendonça et al.
Figura 3. Avaliação subjetiva da aparência interna (AI) e externa (AE) de melão amarelo,
genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%).
Mossoró, ESAM, 2000.
Figura 4. Conteúdo de sólidos solúveis de melão amarelo, genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%). Mossoró, ESAM, 2000.
final do experimento (Figura 1). A perda
de massa pode ser atribuída, principalmente, à perda de umidade e de material
de reserva, pela transpiração e respiração respectivamente, sendo um dos principais fatores limitantes da vida útil póscolheita de melões, sofrendo influencia
de inúmeros fatores, como os da cultivar, dos tratamentos pós-colheita, das
condições e duração do armazenamento
entre outros (Mayberry e Hartz, 1992;
78
Menezes, 1996). A perda de umidade
pode ser uma das principais causas de
deterioração, pois resulta não apenas em
perda quantitativa, mas também provoca perdas qualitativas ocasionando
murchamento do fruto (Menezes, 1996).
Gomes Júnior (2000), trabalhando com
duas cultivares de melão da variedade
Inodorus (AF 646 e Rochedo) em quatro temperaturas de armazenagem (6ºC;
8ºC; 10ºC; 12ºC) verificou aos 35 dias
de armazenamento uma variação de 2,37
a 2,94% para ‘AF 646’ e 0,94 a 2,04%
para ‘Rochedo’.
A firmeza de polpa decresceu durante o armazenamento, com uma média
no inicio do experimento (0 dia) de 34
N e ao final (25 dias) de 17 N (Figura
2), verificando-se uma perda de firmeza de 52% durante o tempo transcorrido. Menezes et al. (1995) estudaram a
caracterização pós-colheita do melão
amarelo ‘Agroflora 646’, e verificaram
valores iniciais de firmeza de polpa variando de 83,63 N ao início e 33,07 N
ao final, com uma redução em torno de
60%. O amolecimento da polpa do melão pode estar relacionado ao aumento
da atividade de hidrolases tais como a
poligalacturonase
(PG)
e
pectinametilesterase (PME) durante o
armazenamento do fruto (Menezes et
al., 1995). Gomes Júnior (2000), trabalhando com melões amarelos, do grupo
inodorus, genótipos ‘AF 646’ e ‘Rochedo’ sob armazenamento refrigerado,
também verificou redução gradativa nos
valores de firmeza de polpa. A firmeza
da polpa é uma característica que varia
com a variedade. Para melões do grupo
inodorus existem grandes diferenças da
firmeza da polpa no momento da colheita. Segundo Filgueiras et al. (2000) as
cultivares AF 646, TSX 32046 e Gold
Mine apresentam por ocasião da colheita
24, 35 e 40 N respectivamente.
Observou-se decréscimo para as
aparências externa e interna durante o
período de armazenamento (Figura 3).
A aceitabilidade dos frutos no mercado
interno e externo é determinada, principalmente, pela sua qualidade visual.
Frutos com nota inferior a 3 são indesejáveis para o consumo. O melão RX
20094, apresentou aos 25 dias, nota 3,7
para a aparência externa e 4,0 para a
interna,
possibilitando
sua
comercialização (Figura 3). Resultados
semelhantes foram obtidos com o melão ‘Agroflora 646’ no agropolo
Mossoró-Assu, que apresentou nota
superior a 3 tanto externa como internamente aos 25 dias de armazenamento a 25±2ºC (Menezes et al.,1995). Já
o melão amarelo ‘Yellow King’ teve
vida útil pós-colheita de 45 dias, sendo que, até os 40 dias estava com aparência superior a três, com boas condiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Armazenamento do melão amarelo, híbrido RX20094, sob temperatura ambiente
ções de comercialização (Carvalho et
al., 1995).
Observou-se decréscimo gradual
para os valores de sólidos solúveis ao
longo do tempo de armazenamento (Figura 4), porém esses valores foram superiores a 9%, para os 25 dias de armazenamento, considerados ideais para a
comercialização no mercado externo
(Gayet, 1994). Ao contrario de frutos
climatéricos como banana e maçã, que
armazenam apreciáveis quantidades de
amido para a conversão em açúcares
durante o armazenamento (Brady e
Young, 1987), o tecido mesocárpico do
melão não contém essa reserva. O teor
de açucares, que compõe ±90% dos SS,
é determinado pelo tempo que o fruto
fica preso à planta (Kroen et al., 1991),
não aumentando após a colheita. Carvalho et al. (1995) verificaram, que os
teores de sólidos solúveis não variaram
significativamente, em melão amarelo
‘Yellow King’, armazenado a temperatura ambiente. No entanto, Menezes et
al. (1995), verificaram decréscimo de
10,07 (0 dia) a 8,10% (49 dias) em melão ‘AF–646’ à temperatura de ±25°C.
Com base nos resultados apresentados neste trabalho e considerando
que a firmeza da polpa e as aparências
externa e interna são o principal fator
responsável pela perda na qualidade em
melão, pode-se concluir que a vida útil
pós-colheita do híbrido RX 20094 foi
estimada em até no mínimo 25 dias de
armazenamento sob condições ambiente, em virtude dessas características não
terem provocado uma perda na qualidade dos frutos ao nível de consumidor.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
AGRADECIMENTOS
Os recursos desta pesquisa foram
oriundos do convênio ESAM/
VALEFRUTAS/CNPq – PADFIN.
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Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate
para processamento industrial no Brasil
Alice Maria Quezado-Duval1; Luis Eduardo A. Camargo2
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected]; 2USP-ESALQ, C. Postal 09, 13418-900
Piracicaba-SP; E-mail: [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
A grande diversidade genética dos agentes causadores da mancha-bacteriana dificulta sobremaneira o desenvolvimento de variedades de pimentão e tomate com resistência durável. Setenta e dois
isolados de Xanthomonas spp. provenientes de campos comerciais
de tomate para processamento industrial dos estados de Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia foram classificados em raças com
base nas reações de genótipos diferenciais de tomateiro (Walter,
Hawaii 7998 e NIL 216) e de Capsicum (ECW [Early Calwonder],
ECW-10R, ECW-20R, ECW-30R e PI235047). As plantas foram
inoculadas no estádio de três a cinco folhas verdadeiras por infiltração de suspensão bacteriana (5 ´ 108 UFC/ml) na superfície abaxial
da folha. Em seguida, foram mantidas em câmara de crescimento
em fotoperíodo de 12 h/12 h (luz/escuro) a 28oC. A reação de
hipersensibilidade foi observada até 36 horas após a inoculação, dependendo do genótipo da hospedeira. Foram identificadas as raças
T1P2, T1P8 e T3 em X. axonopodis pv. vesicatoria; a raça T2 em X.
vesicatoria; e as raças T2P7 e T2P8 em X. gardneri. A presença dos
genes avrRxv e avrXv3 nos isolados que causaram reação de
hipersensibilidade em ‘Hawaii 7998’ (raça T1) e ‘NIL 216’ (raça
T3), respectivamente, foi confirmada por reação em cadeia da
polimerase (PCR) usando iniciadores específicos. Este é o primeiro
relato da ocorrência no Brasil das raças T3, T1P8, T2P7 e T2P8.
Races of Xanthomonas spp. associated to bacterial spot in
processing tomatoes in Brazil
The great genetic diversity of the causal agents of bacterial spot
is the main problem to the development of tomato and pepper varieties
with durable resistance. Seventy two strains of Xanthomonas spp.
collected from commercial fields of processing tomatoes in the states
of Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, and Bahia were classified in
races according to their reactions on differential genotypes of tomato
(Walter, Hawaii 7998 and NIL 216) and Capsicum [ECW (Early
Calwonder), ECW-10R, ECW-20R, ECW-30R and PI 235047].
Bacterial suspensions (5 ´ 108 UFC/ml) were infiltrated in the abaxial
leaf face of the plants at the three to five true-leaf stage. The plants
were then kept in a growth chamber at 28oC and a 12-h light/dark
photoperiod. The response reactions were observed up to 36 hours
after inoculation, depending on the genotype. Races T1P2, T1P8
and T3 were identified in X. axonopodis pv. vesicatoria; race T2 in
X. vesicatoria; and races T2P7 e T2P8 in ‘X. gardneri’. The presence
of genes avrRxv and avrXv3 was confirmed by polymerase chain
reaction (PCR) with specific primers in strains that produced
hypersensitive reaction on ‘Hawaii 7998’ (races T1) and ‘NIL 216’
(race T3), respectively. This is the first report of races T3, T1P8,
T2P7 and T2P8 in Brazil.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, Xanthomonas
campestris pv. vesicatoria, X. axonopodis pv. vesicatoria, X.
vesicatoria, X. gardneri, resistência genética.
Keywords: Lycopersicon esculentum, Xanthomonas campestris pv.
vesicatoria, X. axonopodis pv. vesicatoria, X. vesicatoria, X.
gardneri, genetic resistance.
(Recebido para publicação em 23 de dezembro e aceito em 8 de outubro de 2003)
A
resistência varietal é uma impor
tante ferramenta para o controle de
doenças de plantas, notadamente as causadas por bactérias fitopatogênicas onde
o controle químico é muitas vezes ineficaz (Lopes e Quezado-Soares, 1997).
A eficiência e durabilidade da resistência depende, entre outros fatores, da variabilidade genética do patógeno. Variações em patogenicidade expressas em
termos de raças fisiológicas ocorrem em
diversos patógenos, evoluindo
freqüentemente nas populações em resposta à introdução de genes de resistência dominantes de efeito qualitativo
(Crute e Pink, 1996).
No complexo etiológico da manchabacteriana das solanáceas causado por
espécies de Xanthomonas (Jones et al.,
80
2000), já foram identificadas três raças
em relação ao gênero Lycopersicon (raças T) (Wang et al., 1990; Jones et al.,
1995) e onze em relação a Capsicum
(raças P) (Kousik e Ritchie, 1995;
Ritchie et al., 1998; Sahin e Miller,
1995). Diferentes combinações entre as
raças T e P também foram observadas
em isolados que infectam as duas hospedeiras (Bouzar et al., 1994; Jones et
al., 1995; Jones et al., 1998).
As raças são definidas com base em
reações de um grupo definido de
genótipos das hospedeiras (Leach e
White, 1996). Algumas das interações
observadas entre as espécies de
Xanthomonas associadas à manchabacteriana e as hospedeiras Lycopersicon
e Capsicum seguem o modelo gene-a-
gene proposto por Flor na década de 40
(Astua-Monge et al., 2000a; Romero et
al., 2002). No modelo, genes de
avirulência (avr) do patógeno interagem
com genes de resistência da hospedeira,
resultando em uma reação de incompatibilidade, ou seja, de resistência (Leach e
White, 1996).
Como exemplos que seguem o modelo no patossistema em questão citase: a) a interação entre os genes Bs1, Bs2
e Bs3, presentes em genótipos de
Capsicum, e os respectivos genes
avrBs1, avrBs2 e avrBs3 (Stall, 1997);
b) entre o gene Xv3 encontrado nos
genótipos Hawaii 7981 (L. esculentum),
PI 128216 e PI 126932 (ambos L.
pimpinellifolium) e o gene avrXv3; c)
entre o gene Xv4 de ‘LA716’ (L.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil
pennellii) e o gene avrXv4, ambos presentes na raça T3 (Astua-Monge et al.,
2000a; Astua-Monge et al., 2000b) e d)
avrBs4 (=avrBsP sensu Canteros et al.,
1991 e avrBs3-2 sensu Bonas et al.,
1993), que induz incompatibilidade em
acessos de tomate portando o gene Bs4
(Ballvora, et al., 2001).
Existem ainda algumas interações
cujos genes ainda não foram identificados (gene de avirulência e/ou de resistência) e outras que envolvem mais de um
gene de resistência. No primeiro caso temse o gene avrBsT, que induz incompatibilidade em Capsicum (Minsavage et al.,
1990) e os genes envolvidos na interação
entre C. pubescens e certas raças P (Sahin
e Miller, 1998). No segundo caso, cita-se
a interação entre o gene avrRxv da raça
T1 (Whalen et al., 1988; Whalen et al.,
1993) com pelo menos três genes de resistência não-dominantes (rx1, rx2 e rx3)
do genótipo ‘Hawaii 7998’ (Wang et al.,
1994; Yu et al., 1995) que resulta em reação de hipersensibilidade (Jones e Scott,
1986). Por outro lado, para a raça T2 não
existem fontes conhecidas de resistência
qualitativa (Scott et al., 1997; Wang et al.,
1990).
Isolados da raça T1 têm sido agrupados no grupo fenotípico “A” (= X.
axonopodis pv. vesicatoria sensu
Vauterin et al., 1995); da raça T2 no grupo “B” (= X. vesicatoria sensu Vauterin
et al., 1995) ou no grupo “D” (= X.
gardneri de acordo com Jones et al.,
2000) e da raça T3, no grupo “C” (=
subgrupo de X. axonopodis pv.
vesicatoria conforme Jones et al., 2000).
No relato de Bouzar et al. (1994), isolados brasileiros foram identificados como
raças T1P0, T1P2, T2, T2P1 e T2P3.
Este trabalho teve como objetivo determinar as raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em relação
a genótipos diferenciais de Lycopersicon
esculentum e de Capsicum spp. presentes
em amostras de isolados provenientes de
campos de tomateiro destinados ao
processamento industrial no Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Obtenção, manutenção e identificação dos isolados
Foram analisados 72 isolados de
Xanthomonas spp. coletados a partir de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
1995 em 31 campos comerciais de tomate para processamento industrial localizados nos estados de Goiás, Minas
Gerais, Pernambuco e Bahia (Tabela 1).
Os isolados foram previamente classificados em X. axonopodis pv.
vesicatoria (37 do grupo PFGE “A” e
15 do grupo PFGE “C” sensu Jones et
al., 2000), X. vesicatoria (9 do grupo
PFGE “B”) ou X. gardneri (11 do grupo PFGE “D”) por meio de análise de
perfis genômicos através da eletroforese
de campo pulsado, testes de
patogenicidade, atividades amidolíticas
e pectolíticas e utilização de fontes de
carbono (Quezado-Duval, 2003).
Identificação das raças
Foram utilizados os genótipos diferenciais de tomateiro Walter, Hawaii
7998 e NIL 216 (linha quase isogênica
ao genótipo suscetível Fla. 7060 com
gene de resistência derivado do genótipo
PI 128216 [Astua-Monge et al., 2000a]),
e de Capsicum annum ECW (Early
Calwonder), ECW-10R, ECW-20R,
ECW-30R e C. pubescens PI 235047.
As sementes foram obtidas dos bancos
de germoplasma de tomateiro e de pimentas/pimentão da Embrapa Hortaliças, Brasília. O semeio foi em bandejas
de poliestireno de 128 células preenchidas com substrato agrícola Plantmax®
(Eucatex). O transplante para sacos de
plástico preto com capacidade de 1,5 L,
preenchidos com solo esterilizado, foi
feito quando as plantas apresentavam de
duas a três folhas verdadeiras.
Para a obtenção das culturas
bacterianas, os isolados armazenados
em tampão fosfato pH 7,0 foram recuperados em meio Ágar-Nutriente após
incubação no escuro em câmara com
temperatura controlada a 28oC por 5
dias. Uma massa bacteriana foi então
transferida com o auxílio de uma alça
de platina para tubos de plástico de fundo cônico com capacidade para 50 ml
contendo 15 ml de meio Caldo-Nutriente (Sigma Chemical Co., St. Louis, MO,
EUA) e homogeneizada em agitador
de tubos. O meio foi colocado em incubadora refrigerada MA 830 com
agitador orbital (Marconi, Piracicaba,
SP) a 148 rotações por minuto a 28oC
por cerca de 16 horas. As suspensões
obtidas após o período de incubação
foram então centrifugadas em centrífu-
ga Beckman GS-6 (Palo Alto, CA,
EUA), rotor GH3.8, a 2.800 × g por 20
minutos e o sedimentado resultante resuspendido em água destilada a uma
concentração de 5×108 UFC/ml segundo,
leitura
(A 600=0,3),
em
espectrofotômetro Ultrospec® 3100 pro
(Amersham Pharmacia Biotech,
Uppsala, Sweden). As plantas foram
inoculadas no estádio de seis a sete folhas verdadeiras (cerca de 7 a 8 semanas após o semeio de pimentão e de tomate, respectivamente), através da infiltração de suspensão bacteriana (5 ´ 108
UFC/ml) na superfície abaxial da folha.
Durante esse período, as plantas foram
mantidas em câmara de crescimento em
fotoperíodo de 12h/12h (luz/escuro) a
28oC. A reação de hipersensibilidade foi
caracterizada pela necrose dos tecidos
em até 36 horas após a inoculação, dependendo do genótipo da hospedeira (612 horas para ECW-10R; 12-24 horas
para ECW-20R; 24-36 horas para ECW30R e aproximadamente 24 horas para
PI 235047, ‘Hawaii 7998’ e ‘NIL 216’
[Jones et al., 1995; Sahin e Miller, 1998;
Stall, 1997]).
Presença dos genes avrRxv e
avrXv3
A presença dos genes avrRxv e
avrXv3 foi confirmada pela reação em
cadeia da polimerase (PCR) em todos
os isolados que provocaram resposta de
hipersensibilidade nos genótipos diferenciais Hawaii 7998 e NIL 216, respectivamente. DNA genômico total foi
isolado pelo método de purificação
CTAB (brometo de amôniohexadeciltrimetil) (Wilson, 1999). Para
a amplificação do fragmento de 680-pb
contendo o gene avrRxv , a reação da
PCR, em um volume final de 50 mL,
foi composta por 100 ng do DNA molde, 5 mL de tampão de amplificação
(Promega Life Science, Madison, WI,
EUA), 1,5 mM de MgCl2, 1,25 U de Taq
DNA polimerase (Promega), 100 mM
de cada deoxinucleosídeo trifosfato
(dNTPs) e 0,5 mM dos iniciadores
RST27
(5’AGTCGCGCGGACATTTAGCCCCGC
C)
e
RST28
(5’CGTCGATGGTGCGCCTGGAATGCGC)
(Bouzar et al., 1993). O programa de
amplificação constou de 30 ciclos, realizados em um termociclador PTC-100
81
A. M. Quezado-Duval e L. E. A. Camargo
Figura 1. Fragmentos de DNA genômico de Xanthomonas spp. associadas à mancha
bacteriana do tomateiro de 680 pb, contendo o gene avrRxv (à direita do marcador M), e de
654 pb, contendo o gene avrXv3 (à esquerda do marcador M). Poços 1 a 3, isolados CNPH215
(raça T1P2), CNPH513 (T1P8) e CNPH517 (T1P2); Poço M, marcador molecular 1kb
(Promega Corporation, Madison, WI, USA); poços 4 a 6, isolados raça T3, CNPH429,
CNPH440 e CNPH520. Piracicaba, ESALQ, 2002.
MJ Research Inc. (Watertown, MA,
EUA), nas seguintes condições:
desnaturação a 95oC por 30 segundos,
hibridização a 64oC por 30 segundos e
extensão a 72oC por 45 segundos. O último passo de extensão a 72oC foi de 5
minutos. Já para a amplificação do fragmento de 654-pb contendo o gene
avrXv3, a reação da PCR foi composta
por 100 ng do DNA molde, 5 mL de tampão de amplificação (Promega Life
Science, Madison, WI, EUA), 1,5 mM
de MgCl 2 , 1,25 U de Taq DNA
polimerase (Promega), 100 mM de cada
deoxinucleosídeo trifosfato (dNTPs) e
1,0 mM dos iniciadores RST88 (5’CCGCTCGAGATGACAAGTAGTATCA
ATC)
e
RST89
(5’CCGCTCGAGCTACTTAACGAGATTTGTTAC)
(Astua-Monge et al., 2000a), em um
volume final de 50 ml. Para esse par de
iniciadores, empregou-se um ciclo inicial de desnaturação a 95oC por 30 segundos, hibridização a 48oC por 30 segundos e extensão a 72oC por 1 minuto,
seguido de 30 ciclos onde a temperatura de hibridização foi elevada a 56oC e
as demais mantidas. O último passo de
extensão foi de 5 minutos a 72oC. Para
ambos os genes, os produtos da PCR
foram detectados por eletroforese em gel
de 1% de agarose em tampão de corrida
TBE 0,5X a 5 V/cm de gel. Os géis foram corados com brometo de etídio (0,5
82
mg/ml) e fotodocumentados com aparelho Image Master® VDS (Pharmacia
Biotech, San Francisco, EUA).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Respostas de hipersensibilidade foram observadas nos genótipos ‘Hawaii
7998’ e ‘NIL 216’, bem como nas linhas
quase isogênicas de pimentão ECW portadoras dos genes de resistência Bs1, Bs2
e Bs3. A partir de 48 horas foi possível
visualizar o colapso dos tecidos (reação
de suscetibilidade) nas variedades suscetíveis Walter e Early Calwonder, bem
como nas demais variedades desafiadas
com isolados compatíveis.
Em relação à localidade, constatouse a ocorrência das raças T1P8 e T3 apenas no nordeste, ao passo que as raças
T2, T2P7 e T2P8 foram detectadas apenas no centro-sudeste do país (Tabela 2).
A raça T1P2 ocorreu em ambas regiões.
Nos quatro campos em Abaré e em um
campo em Petrolina, em 1996, foi possível observar a ocorrência
concomitante de duas raças distintas
(Tabela 2). Nos demais campos, apenas
uma raça foi detectada. Os prováveis
genes de avirulência presentes nos isolados analisados foram compilados de
acordo com as reações de resposta de
cada hospedeira diferencial (Tabela 3).
A amplificação do fragmento de
680-pb contendo o gene avrRxv ocorreu nos 38 isolados que provocaram resposta de hipersensibilidade no genótipo
‘Hawaii 7998’ (Figura 1). DNA de isolados representantes das raças T2, T2P7/8 e
T3 foram utilizados com os mesmos iniciadores (RST27 e RST28) mas nenhum
produto foi amplificado. Já o fragmento
de 654-pb contendo o gene avrXv3 foi
amplificado apenas nos 15 isolados que
causaram reação de hipersensibilidade em
‘NIL 216’ (Figura 1).
O presente trabalho relata a ocorrência, pela primeira vez, de algumas raças
de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana do tomate para
processamento industrial no Brasil.
Maior destaque deve ser dado à detecção
da raça T3 na Região Nordeste, uma vez
que a ocorrência dessa raça havia sido
descrita somente no estado da Flórida
nos EUA, na Tailândia e no México
(Bouzar et al., 1996; Jones et al., 1998).
No nordeste, onde a gama de variedades de tomate plantadas é bem mais restrita comparativamente ao centro-sudeste do país, a utilização de variedades
contendo o gene de resistência Xv3 poderia resultar em um controle da doença (Astua-Monge et al., 2000a). Alternativamente, o gene Xv4, de L. pennelli
poderia ser utilizado, caso fosse constatado que os isolados da raça T3 no Brasil, a exemplo dos isolados da Flórida,
também portam o gene avrRv4 (AstuaMonge et al., 2000b). A estabilidade da
resistência conferida por esses genes, no
entanto, ainda está por ser avaliada.
Outro fator interessante em relação a
raça T3 é que ela tem se mostrado mais
agressiva do que a raça T1, e hoje predomina no estado da Flórida (Jones et
al., 1998).
Em relação às espécies/grupos
PFGE, isolados de X. axonopodis pv.
vesicatoria (grupo PFGE “A” sensu
Jones et al., 2000) foram classificados
em raças T1P2 e T1P8; de X. vesicatoria
(“B”) em raça T2; de X. gardneri ( “D”)
e raças T2P7 e T2P8 e os 15 isolados
pertencentes ao grupo PFGE 3, em raça
T3. A distribuição das raças de acordo
com as espécies apontadas neste estudo
concorda com a existência de uma correlação entre raças T e grupos
fenotípicos/espécies (Bouzar et al.,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil
Tabela 1. Local, ano e número de isolados de Xanthomonas spp. coletados em campos comerciais de tomate para processamento industrial
no Brasil. Piracicaba, ESALQ, 2002.
1994; Bouzar et al., 1996; Bouzar et al.,
1999; Louws et al., 1995). Dessa maneira, isolados T1 apresentam certas
características fenotípicas e genotípicas
que os classificam como pertencentes à
espécie X. axonopodis pv. vesicatoria (=
grupo fenotípico “A”, sensu Stall et al.,
1994; PFGE “A” sensu Jones et al.,
2000); isolados T3 têm sido classificados como um subgrupo dentro dessa
espécie (Jones et al., 2000); e isolados
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
T2 estavam associados a X. vesicatoria
(grupo “B” sensu Stall et al., 1994;
PFGE “B” sensu Jones et al., 2000)
(Bouzar et al., 1994).
Já para o gênero Capsicum, assim
como relatado por Bouzar et al. (1999)
e Louws et al. (1995) que utilizaram perfis gerados por rep-PCR para caracterizar isolados de Xanthomonas associadas à mancha-bacteriana, perfis de
PFGE não se correlacionaram com as
características de patogenicidade. Esse
resultado não é surpreendente, uma vez
que essas características estão relacionadas com a presença de certos genes
de avirulência na bactéria, em geral localizados em plasmídeos, não detectados pela técnica e passíveis de transferência lateral.
Como também analisado por Sahin
(1997), a raça T1 parece ter maior habilidade em adaptar-se às plantas de
83
A. M. Quezado-Duval e L. E. A. Camargo
Tabela 2. Raças de Xanthomonas spp. detectadas em campos comerciais de tomate para processamento industrial em municípios do centroSudeste e nordeste, no período de 1995 a 2000. Piracicaba, ESALQ, 2002.
1. Números entre parênteses referem-se ao número de isolados.
Capsicum uma vez que também é
patógeno dessa hospedeira. Essa adaptação talvez possa ter ocorrido pela perda do gene avrBsT que resulta em
hipersensibilidade em genótipos de
Capsicum (Minsavage et al., 1990). No
entanto, os fatores evolutivos envolvidos não são conhecidos. A raça T2, por
sua vez, era considerada mais especializada para infectar Lycopersicon
(Bouzar et al., 1994; Sahin, 1997); porém, em X. gardneri, tem se mostrado
patogênica às duas hospedeiras. Já a raça
T3 ainda é aparentemente mais adaptada ao tomateiro.
A presença do gene avrBsT nas raças T2 de X. vesicatoria e T3 pode ser
confirmada através de detecção por
PCR, já que sua seqüência é conhecida
(Ciesiolka et al., 1999), a exemplo do
que foi feito neste trabalho para os genes
avrRxv e avrXv3. Para isso, no entanto,
seria necessário o desenvolvimento de
iniciadores específicos. Da mesma forma, seria interessante confirmar a pre84
sença do gene avrBs2. Sua presença foi
inferida com base nos testes de
hipersensibilidade aqui apresentados em
todos os isolados que também foram
patogênicos a Capsicum. De fato, uma
alta freqüência desse gene tem sido observada, inclusive de seus homólogos
em Xanthomonas de outras hospedeiras
(Kearney e Staskawicz, 1990). Um papel importante na patogenicidade tem
sido apontado como a causa dessa ampla distribuição (Kearney e Staskawicz,
1990). Em virtude disso, a possibilidade do uso do gene de resistência Bs2 do
pimentão em plantas transgênicas de
tomate está sendo analisada (Tai et al.,
1999).
Em relação a X. gardneri, por ser
aparentemente de ocorrência pouco freqüente, apenas o isolado-tipo XG101 e
isolados da Costa Rica haviam sido classificados quanto à raça, sendo agrupados, respectivamente, em T2P1 e P1
(Bouzar et al., 1994; Bouzar et al.,
1999). Os isolados de X. gardneri ana-
lisados neste estudo, por sua vez, foram
classificados em raças distintas (T2P7
ou T2P8). No entanto, convém ressaltar que, com a inclusão do genótipo de
C. pubescens PI 235047, raças anteriormente classificadas como P1 e P3 podem passar a ser designadas P7 e P8,
respectivamente, de acordo com a reação de resposta desse genótipo (Ritchie
et al., 1998; Sahin e Miller, 1998).
O número de isolados analisados por
campo em cada município foi baixo para
que se viabilizasse uma análise apropriada do grau de diversidade de raças por
campo. Porém, vale notar que, dos 31
campos avaliados, em apenas três campos em Abaré e um em Petrolina, foi
possível detectar duas raças distintas em
relação a Capsicum (T1P2 e T1P8). A
conversão da raça P2 em raça P8 (exP3) poderia ser possível no próprio campo através da perda do gene avrBs1, localizado em plasmídeo (Minsavage et
al., 1990) ou inserção de um elemento
genético móvel do tipo IS476 que inatiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil
Tabela 3. Reações de hospedeiras diferenciais de Lycopersicon e Capsicum e prováveis genes de avirulência presentes nos isolados de
Xanthomonas spp. analisados. Piracicaba, ESALQ, 2002.
1. Genes de avirulência descritos na literatura.
va o gene avrBs1 (Kearney e Staskawicz,
1990). Mudanças de raças P têm sido
observadas tanto in vitro, como em campo (Dahlbeck e Stall, 1979; Pohoronezny
et al., 1992). Kousik e Ritchie (1996)
registraram a conversão de populações
de raças P1 (avrBs3) e P2 (avrBs1), em
populações P3, em dois campos, respectivamente, cultivados com pimentão resistentes ECW-30R (Bs3) e ECW-10R
(Bs1) no mesmo ciclo de cultivo. Para o
primeiro caso, confirmou-se a perda do
plasmídeo contendo o gene avrBs3 e para
o segundo, a mutação do gene avrBs1
pela inserção do elemento IS476. Outra
hipótese para a presença das raças P2 e
P8, mencionadas anteriormente no presente trabalho, seria a de que as duas raças foram introduzidas simultaneamente ou em eventos distintos via sementes
infectadas.
Considerando que, no Brasil, tanto
as variedades de tomate para indústria
como as de mesa e de pimentão não
possuem nenhum gene de resistência
caracterizado, sugere-se que a composição racial das populações aqui relatadas não seja um resultado de pressão de
seleção exercida pela hospedeira e sim
de eventos de introdução ocorridos ao
acaso nos campos (efeito fundador) seguidos de adaptação ao ambiente.
O conhecimento da diversidade
patogênica das populações bacterianas é
de extrema importância para direcionar os
programas de melhoramento e utilização
de genes de resistência. À medida que o
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
conhecimento sobre os genes de
avirulência se acumula, torna-se possível
avaliar as populações bacterianas locais
e, desse modo, lançar mão daqueles genes
de resistência que reconheçam os genes
complementares de avirulência predominantes. O emprego da PCR pode auxiliar
no processo de designação das raças e
monitoramento das populações quanto à
presença dos genes de avirulência.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Luiz Cláudio Rodrigues (Olé Alimentos), Rafael
Sant’ana (Arisco) e Leonardo Costa da
Fonte (Vanden Bergh Alimentos) pelo
auxílio nas coletas dos isolados do centro-sudeste, a pesquisadora Mirtes
Freitas Lima (Embrapa Semi-Árido)
pela coleta das amostras de plantas do
nordeste do país. Este trabalho foi em
parte financiado pelo CNPq e FAPESP.
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Resposta do coentro à adubação fosfatada em solo com baixo nível de fósforo
Ademar P. de Oliveira; Luciana R. de Araújo; Jussara Ellen M. F. Mendes; Ovídio R. Dantas Júnior;
Marcelo S. da Silva
UFPB, CCA, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O coentro, hortaliça arbustiva anual utilizada em muitos pratos
regionais do Norte e Nordeste, é cultivado no estado da Paraíba por
pequenos agricultores, sendo verificados baixos rendimentos, devido principalmente à nutrição mineral desequilibrada. O objetivo do
trabalho foi avaliar o efeito de doses de P2O5 no rendimento do
coentro, cultivar Verdão, em experimento conduzido na Universidade Federal da Paraíba, em Areia, no delineamento de blocos
casualizados, com quatro repetições, sendo os tratamentos constituídos pelas doses de 00; 50; 100; 150 e 200 kg ha-1 de P2O5 As plantas, espaçadas em 25 x 5 cm, foram estabelecidas em parcelas de
2,0 m2. De acordo com os resultados, a altura máxima das plantas
(63 cm) e o rendimento máximo estimado de massa verde (51 t ha-1),
foram obtidos, respectivamente, com a aplicação das doses de 93
kg ha-1 e 112 kg ha-1 de P2O5. A dose de máxima eficiência econômica foi a de 110 kg ha-1 de P2O5, cuja aplicação proporcionou uma
produtividade de 50,55 t ha-1, significando um incremento de 15,1 t
ha-1 na produção de massa verde.
Effect of phosphorus fertilization on the yield of coriander
in soil with low levels of phosphorus
Palavras-chave: Coriandrum sativum L., nutrição mineral, rendimento.
Coriander (Coriandrum sativum L.) is an arbustive vegetable
utilized as spice in regional foods in North and Northeast Brazil. In
the Paraiba State it is cultivated by small farmers and the yield of the
crop is low mainly due to not well balanced mineral nutrition
fertilization. The work was conducted at the Universidade Federal
da Paraíba, in Areia, Brazil, from June to August 2002, to evaluate
the effect of levels of P2O5 on the yield of coriander, cv. Verdão. The
experimental design was randomized blocks with five treatments
(0; 50; 100; 150 and 200 kg ha-1 of P2O5) and four replications.
Coriander plants were spaced 25 x 5 cm and sown in plots of 2,0 m2.
The applications of 93 kg ha-1 and 112 kg ha-1 of P2O5 resulted, in
maximum plant height (63 cm) and in the higher production of green
mass (51 t ha-1), respectively. The level of 110 kg ha-1 of P2O5 was
economically the most efficient and provided a green mass yield of
50,55 t ha-1 with an increase of 15,1 t ha-1.
Keywords: Coriandrum sativum L., mineral fertilization, yield.
(Recebido para publicação em 6 de janeiro de 2003 e aceito em 8 de outubro de 2003)
O
coentro é uma hortaliça anual de
grande importância econômica e
social para o Nordeste brasileiro. Esta
espécie pertencente à família Apiaceae
sendo originária da região mediterrânea.
No Brasil, as folhas são a parte da planta mais utilizada na alimentação humana, participando de muitos pratos regionais, especialmente nas regiões Norte e
Nordeste (Marques e Lorencetti, 1999).
No estado da Paraíba, é cultivado em
quase todas as micro-regiões por pequenos agricultores, sem nenhuma orientação técnica, o que tem proporcionado
baixa produtividade.
Apesar de absorverem relativamente pequenas quantidades de nutrientes,
quando comparadas com outras culturas, as hortaliças folhosas são consideradas exigentes em nutrientes, em função de seus ciclos relativamente curtos.
Quanto ao fósforo especificamente, as
quantidades exigidas são geralmente
baixas, principalmente quando comparadas com o nitrogênio e o potássio.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Entretanto, apesar dessa baixa exigência, a resposta às doses de fertilizantes
é geralmente alta, devido à baixa disponibilidade natural de fósforo nos solos
brasileiros (Novais e Smyth, 1999).
Mesmo em solos já adubados anteriormente, a deficiência de fósforo pode
ocorrer, principalmente em locais onde
o solo apresenta alta taxa de fixação deste elemento. O seu suprimento adequado, desde o início do desenvolvimento
vegetal, é importante para a formação dos
primórdios das partes reprodutivas, estimula o desenvolvimento radicular, é essencial para a boa formação de frutos e
sementes e incrementa a precocidade da
produção. A resposta a fósforo é variável de cultura para cultura, ou mesmo
entre cultivares da mesma espécie, sendo umas mais eficientes que outras na sua
absorção (Raij, 1991).
Mesmo sendo o fósforo, um dos nutrientes que o coentro mais responde
(Filgueira, 2000), pouco se conhece a respeito dos níveis ideais deste elemento a
serem aplicados no solo, visando a obtenção de rendimentos satisfatórios. As recomendações encontradas na literatura
indicam uma grande variação nos níveis
de P2O5 recomendados para esta cultura.
Filgueira (1982) e Pedrosa et al. (1984),
recomendam 5 g m-2 e 700 kg ha-1 de
superfosfato simples em adubação de
plantio, respectivamente. Segundo
Filgueira (2000), para se obter rendimento satisfatório de massa verde no coentro
em solos com teor baixo a médio de fósforo, deve ser fornecido à cultura de 100 a
180 kg/ha P2O5, na adubação de plantio.
O objetivo do presente trabalho foi
avaliar o comportamento do coentro
submetido a diferentes doses de P2O5,
uma vez que os custos da adubação desta
hortaliça pode representar 20 a 30% do
custo de produção.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
campo experimental da UFPB, em
87
A. P. Oliveira et al.
Figura 1. Altura de plantas de coentro cultivar Verdão aos 50 dias, em função de doses de
P2O5. Areia, UFPB, 2002.
através da medição de 40 plantas por
parcela e do rendimento de massa verde, por meio da pesagem de talo e folhas verdes de todas as plantas úteis das
parcelas.
Os resultados foram submetidos à
análise de variância e de regressão, sendo selecionado para expressar o comportamento das doses de P2O5 sobre as características avaliadas, o modelo significativo que apresentou maior coeficiente
de determinação. Nas significâncias das
análises de variância e de regressão foi
considerado o nível de probabilidade de
5% pelo teste F. O teste “t” foi utilizado
para testar os coeficientes da regressão
no mesmo nível de probabilidade.
A dose de máxima eficiência econômica de P205 foi calculada igualando-se a derivada primeira da equação
de regressão à relação entre preços do
insumo (R$ /kg de P2O5 ) e do produto
(R$/1000/t de massa verde) (Raij, 1991;
Natale et al., 1996), sendo os vigentes
em Areia-PB em outubro de 2002, de
R$ 4,00/kg de P2O5 e R$ 1000/t de massa verde.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2. Rendimento de massa verde de coentro cultivar Verdão aos 50 dias, em função de
doses de P2O5. Areia, UFPB, 2002.
Areia, no período de junho a agosto/
2002, em NEOSSOLO REGOLITO
Psamítico típico, textura franca, utilizando-se as doses 00; 50; 100; 150 e 200
kg ha-1 de P2O5, tendo como fonte o
superfosfato simples, distribuídas em
blocos casualizados com quatro repetições. A análise do solo antes da aplicação das doses de P2O5 indicou a seguinte composição: pH H2O = 6,26; P disponível = 11,06 mg/dm3; K disponível
= 9,13 mg/dm3; Na+ = 0,03 cmolc/dm3;
H+ + Al+3 = 1,07; Al+3 = 0,00 cmolc/dm3;
Ca+2 = 2,40 cmolc/dm3; Mg+2 = 0,20; SB
= 2,65 cmolc/dm3; CTC = 3,72 cmolc/
dm3 e matéria orgânica = 16,07 g/dm3.
A adubação seguiu recomendações
do Laboratório de Química e Fertilidade
de Solos da UFPB e constou da aplicação 5,0 kg m-2 de esterco bovino curtido
e seco, 15,0 g m-2 de cloreto de potássio
e das doses de fósforo definidas anteriormente, aplicadas cinco dias antes da se88
meadura, e de 10 g m2 de N, fonte sulfato de amônio, aplicado em adubação de
cobertura, parcelado 50% aos 20 e 50%
aos 40 dias após a semeadura.
O preparo do solo constou de confecções de canteiros. As parcelas mediram 2,0 m2, e utilizou-se a cultivar
Verdão, a partir das sementes produzidas pela Hortivale. As sementes foram
distribuídas em sulcos longitudinais,
distanciados de 25 cm a uma profundidade de 3,0 cm, realizando-se o desbaste vinte dias depois, deixando-se uma
planta a cada 5,0 cm.
Realizaram-se os tratos culturais
normais para a cultura, incluindo irrigação por aspersão e capinas manuais.
Dispensou-se o emprego de defensivos
agrícolas, devido à ausência de pragas
e doenças.
Foram obtidos dados de altura de
plantas aos 50 dias após a semeadura,
A aplicação de P2O5 influenciou significativamente a altura das plantas e o
rendimento de massa verde do coentro
(Figuras 1 e 2). As médias para a altura
de plantas em função das doses de P2O5
ajustaram-se a modelo quadrático de
regressão (Figura 1), onde pela derivada da equação calculou-se a dose de 93
kg ha-1 como aquela responsável pela
altura máxima das plantas (63 cm).
A exemplo do ocorrido para altura
de plantas, as médias do rendimento da
massa verde no coentro também ajustaram-se a modelo quadrático de regressão, calculando-se a dose de 112 kg ha1
como a responsável pelo rendimento
máximo estimado de massa verde de 51
t ha-1 (Figura 2).
A fórmula obtida para a dose de
máxima eficiência econômica foi:
Dose de
onde Y é a relação entre os preços
do insumo e do produto. Dessa forma, a
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Resposta do coentro à adubação fosfatada em solo com baixo nível de fósforo
dose mais econômica de P2O5 foi de 110
kg ha-1, para Y = 0,004, com produção
de 50,55 t ha-1 de massa verde, o que
representa um incremento de 15,06 t ha-1
de massa verde.
A dose de máxima eficiência econômica de P2O5 foi muito próxima daquela responsável pela produtividade
máxima de massa verde. Sob o ponto
de vista do rendimento, o resultado obtido em função da dose de P2O5 responsável pela produtividade máxima de
massa verde, superou aqueles obtidos
por produtores de coentro do estado de
Pernambuco (40 t ha-1), em cultivo convencional (Hortivale, 1987) e por produtores da região Norte (Pimentel,
1985), com rendimento em torno de 50
t ha-1 de massa verde, indicando os benefícios do seu emprego na produção de
massa verde no coentro. Outro efeito
positivo da aplicação foi possivelmente
o suplemento de nutrientes de forma
equilibrada. O fósforo, fornecido em
quantidade adequada, desde o início do
desenvolvimento nas culturas, em geral, estimula o desenvolvimento
radicular e incrementa a sua produção
(Raij, 1991).
Embora o excesso de fósforo possa
não parecer um problema sério para as
plantas, já que o “consumo de luxo” é
transferido para polifosfato e outros
fosfatos, sem afetar o crescimento (Raij,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
1991), doses acima de 112 kg ha-1 de
P2O5, proporcionaram queda na altura
das plantas e no rendimento de massa
verde, o que pode indicar que esta
hortaliça é sensível a doses excessivas
desse elemento. Alguns autores verificaram queda no rendimento em hortaliças em função de doses elevadas de fósforo (Yamanishi e Castellane, 1987; Silva et al., 1996; Fontes et al., 1997; Vieira
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Variabilidade genética de Diadegma sp., parasitóide da traça-dascrucíferas, através de RAPD-PCR
Rose Monnerat1; Soraya Leal-Bertioli1; David Bertioli2; Tariq Butt3; Dominique Bordat4
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, C. Postal 02372, 70770-900 Brasilia-DF; E-mail: [email protected];
Universidade Católica de Brasília, 70790-160 Brasília-DF; 3University of Wales Swansea, Singleton Park, Swansea, SA2 8PP, Wales,
UK; 4CIRAD-AMIS, BP 5035, 34032 Montpellier Cedex 1, France.
1
2
RESUMO
ABSTRACT
O gênero Diadegma compreende espécies que são parasitóides
de larvas da traça-das-crucíferas Plutella xylostella, uma das mais
importantes pragas das plantas da família Brassicacea. Este gênero
possui distribuição mundial. Neste trabalho, três populações de
Diadegma spp. oriundas de diferentes países (Brasil, Ilha da Reunião e Malásia) foram caracterizadas geneticamente por meio da
técnica de RAPD-PCR. Não foi constatada variabilidade intrapopulacional, no entanto o alto coeficiente de similaridade entre
populações sugeriram que esses insetos poderiam pertencer a espécies diferentes.
Genetic variability of Diadegma sp., parasitoid of
diamondback moth using RAPD-PCR
The genus Diadegma has species that are parasitoids of larvae
of diamondback moth, Plutella xylostella, one of the most important
pests of Brassicacea. This genus has a worldwide distribution.
Representative samples of three Diadegma populations from Brazil,
Reunion Island and Malaysia were characterized by RAPD-PCR.
No intra-population variability was found. However, the high
coefficient of genetic similarity between the populations suggests
that they could belong to different species.
Palavras-chave: Plutella xylostella, inimigo natural, controle biológico, populações, marcadores moleculares.
Keywords: Plutella xylostella, natural enemy, biological control,
population, molecular marker.
(Recebido para publicação em 06 de janeiro de 2003 e aceito em 10 de dezembro de 2003)
O
gênero Diadegma (Hymenoptera:
Ichneumonidae) compreende espécies que são parasitóides de larvas de
insetos de pequeno e médio tamanho e
são consideradas muito eficientes para
o controle da traça-das-crucíferas
Plutella xylostella, uma das mais importantes pragas das plantas da família
Brassicacea
(Lepidoptera:
Yponomeutidae) (Talekar e Shelton,
1993; Monnerat e Bordat, 1998;
Monnerat et al., 2002; Guilloux et al.,
2003). Este gênero possui distribuição
mundial. Na região do Distrito Federal
foi constatado que este inseto pode
parasitar naturalmente 40% das larvas
da traça-das-crucíferas, sendo portanto
uma importante ferramenta para o controle biológico em olericultura
(Monnerat, 1995; Guilloux et al., 2003).
Mais de 200 espécies já foram descritas, entretanto a até bem pouco tempo havia muitas dúvidas quanto à identificação segura destes insetos, pois a
mesma se baseava em aspectos
morfológicos, que não eram suficientes
para separar as espécies. Assim, espécies morfologicamente idênticas podiam apresentar diferenças no comportamento, biologia e hospedeiros (Noyes,
90
1994). Ainda, a existência de híbridos
entre espécies reconhecidamente diferentes como D. semiclausum (Hellen) e
D. fenestrale (Holmgren) (Hardy, 1938)
dificulta a sua identificação.
A fim de controlar P. xylostella,
muitas introduções de populações de
Diadegma foram realizadas em diferentes regiões do mundo (Oatman, 1978;
Ooi, 1992; Talekar e Yang, 1991). Em
muitos casos, as introduções foram feitas de forma desordenada, tornando extremamente difícil saber se uma certa
espécie era endêmica ou introduzida.
Nesta última década, ferramentas de
biologia molecular têm sido empregadas para caracterização de material biológico em diversas áreas. Dentre essas,
merece ser destacada a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR)
(Steffan e Atlas, 1991). Esta técnica tem
permitido estudos de polimorfismo em
diferentes populações de insetos
(Haymer, 1994; Lima et al., 2000).
Este trabalho teve como objetivo
comparar três populações de Diadegma
sp. morfologicamente semelhantes, de
espécies não determinadas, coletadas
em diferentes partes do mundo, por meio
da técnica de RAPD-PCR.
MATERIAL E MÉTODOS
Insetos
Os insetos analisados foram
coletados na Ilha da Reunião (sudeste
da África), Brasil e Malásia, criados em
laboratório e estocados a -80°C até serem utilizados. Os insetos coletados na
Malásia foram identificados como D.
semiclausum.
Dez indivíduos adultos de cada população foram utilizados para os testes
intra-específicos. Dez grupos de dez
adultos de cada população foram utilizados para os testes inter-específicos.
Extração e amplificação do DNA
Para a obtenção do DNA foram avaliados os protocolos de extração descritos por
Black et al. (1992), Langridge et al. (1991)
e Möller et al. (1992). O método descrito
pelo primeiro autor foi utilizado para todos os testes. O protocolo consistiu em
(1) macerar os insetos em tampão TES
(100mM TRIS, pH 8,0, 10 mM EDTA,
2%SDS), (2) deixar o macerado em repouso por 5 minutos, (3) incubar com
proteinase K a 37°C por 15 minutos, (4)
adicionar 100 µl de água e incubar por
mais 15 minutos a 37°C, (5) incubar a
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Variabilidade genética de Diadegma sp., parasitóide da traça-das-crucíferas, através de RAPD-PCR
Tabela 1. Matriz do coeficiente de similaridade genética de três populações de Diadegma
sp., baseado na porcentagem de bandas co-migrantes em gel de eletroforese. Harpenden
(UK), Rothamsted, 1994.
Figura 1. Perfil de RAPD-PCR da população
de Diadegma sp. oriunda do Brasil, usando o
oligonucleotídeo OPK-02. Números 1 a 10:
indivíduos; m: marcador molecular 123 bp
ladder. Harpenden (UK), Rothamsted, 1994.
Figura 2. Perfil de RAPD-PCR das três populações de Diadegma sp. oriundas da Ilha
da Reunião (R 1,2,3), do Brasil (B 4,5,6) e
da Malásia (M 7,8 9) usando o
oligonucleotídeo OPK-09. m: marcador
molecular 123 bp ladder. Harpenden (UK),
Rothamsted, 1994.
94°C por 5 minutos, (6) centrifugar por 5
minutos a 13.000 rpm, (7) coletar o
sobrenadante, (8) estocar a –80°C.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Um volume de 1 µl da solução contendo o DNA do inseto foi misturado
com os componentes: 2,5 µl de tampão
de reação, 1,5 µl do oligonucleotídeo (50
ng/µl), 0,25 µl dNTPs a 20 mM, 0,2 µl
de DNA Taq Polimerase (5U/µl,
Northumbria Biologicals), 19,55 µl de
água bidestilada estéril.
Quinze oligonucleotídeos (kit
Operon, UK) foram utilizados neste estudo (OPA7, OPB16, OPE6, OPE16,
OPF13, OPK1, OPK2, OPK5, OPK7,
OPK9, OPK10, OPK11, OPK15,
OPK17 e OPK18). As amplificações
foram realizadas em termociclador
(Hybaid) programado da seguinte forma: (1) desnaturação inicial de 5 minutos a 94°C, (2) 42 ciclos de desnaturação
de 1 minuto a 92°C, hibridação de 1
minuto a 35°C e alongamento de 1 minuto a 72°C, (3) alongamento final de 1
minuto a 72°C.
Os produtos foram analisados em gel
de agarose 0,8% em tampão TBE
(45mM TRIS, 45mM de ácido bórico,
1mM EDTA pH 8,0) e as bandas
visualizadas em luz ultravioleta.
Análise das bandas
Os perfis eletroforéticos foram analisados por meio do programa estatístico Genstat (Payne et al., 1987) e a matriz de similaridade genética foi calculada pelo coeficiente de similaridade de
Jaccard (Sneath e Sokal, 1973).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Três métodos de extração de DNA
foram avaliados, pois não havia nenhum
método descrito especificamente para
parasitóides. Dentre estes, o método de
Black et al. (1992), descrito para extração de DNA de afídeos, foi selecionado
para a realização do trabalho, pois foi o
único que proporcionou uma boa extração de DNA. Os outros métodos, des-
critos para a extração de DNA de plantas (Langridge et al., 1991) e de fungos
filamentosos (Möller et al., 1992), não
foram apropriados por não resultarem
em um DNA de boa qualidade.
Nenhuma variabilidade genética
intra-populacional foi detectada usando
os 15 oligonucleotídeos mencionados
(100% de similaridade), sugerindo que
cada uma das populações são geneticamente homogêneas (Figura 1).
O RAPD-PCR entre as diferentes
populações (Figura 2) apresentou 55
produtos diferentes. Houve grande variabilidade genética entre as populações
analisadas (23,6 a 47,3%) (Tabela 1). A
alta variabilidade genética entre as populações, revelada por RAPD-PCR neste trabalho, sugeriu que as mesmas pertenciam a espécies diferentes. De fato,
estudos posteriores baseados nos critérios sugeridos por Azidah et al. (2000)
confirmaram que a população isolada do
Brasil era D. leontiniae e a população
isolada da Ilha da Reunião era D.
mollipla.
Os resultados preliminares obtidos
com essas três espécies de Diadegma,
morfologicamente idênticas, mostraram
que esta técnica molecular tem potencial para auxiliar nos trabalhos de
taxonomia, incluindo estudos de genética populacional, fluxo gênico e outros.
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Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide
Leilson Costa Grangeiro; Arthur Bernardes Cecílio Filho
UNESP-FCAV, Depto. Produção Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14.884-900 Jaboticabal-SP; E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O objetivo do presente trabalho foi determinar o acúmulo e exportação de macronutrientes pela cultura da melancia, híbrido Tide.
O experimento foi conduzido no município de Borborema – SP. As
amostragens de plantas foram realizadas aos 15, 30, 45, 60 e 75 dias
após transplantio (DAT), para determinação da massa seca e do
acúmulo e exportação dos nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S). O acúmulo
de massa seca foi lento até os 30 DAT, intensificando-se a partir
deste período e atingindo, no final do ciclo, a contribuição média da
parte vegetativa de 31% e dos frutos de 69%. Até 30 DAT, o acúmulo
de nutrientes também foi pequeno, não ultrapassando 2% do total.
Com a frutificação, houve forte incremento na quantidade de nutrientes acumulados. O período de maior demanda para N, Ca e Mg
foi de 45 a 60 DAT e para P, K e S de 60 a 75 DAT. Do total acumulado, a parte vegetativa foi responsável por 29,6% e os frutos com
70,4%. A ordem decrescente dos nutrientes acumulados pela cultura
foi: K>N>Ca>Mg>P>S. Para a produtividade alcançada de 40 t ha-1
observou-se a seguinte exportação de nutrientes pelos frutos: 106,4
kg ha-1 de N, 11,1 kg ha-1 de P, 118,0 kg ha-1 de K, 4,3 kg ha-1 de Ca,
6,8 kg ha-1 de Mg e 6,0 kg ha-1 de S.
Accumulation and exportation of macronutrients by
watermelon Tide hybrid
Palavras-chave: Citrullus lanatus (Thunb.), nutrição de plantas,
crescimento.
The objective of this research was to determine under field
condition the accumulation and exportation of macronutrients by
watermelon plant. The experiment was carried out in the Borborema
region, State of São Paulo. The samples were taken at the 15, 30,
45, 60 and 75 days after transplanting (DAT), for dry mass
determination and accumulation and exportation of N, P, K, Ca, Mg
and S. The dry mass accumulation was slow until 30 DAT,
intensifying later with the beginning of the frutification. At the end
of the cycle, the average contribution of the vegetative part was of
about 31% and of fruits 69%. The accumulation of the nutrients
followed the curve of dry mass accumulation. The period of larger
demand for the nutrients N, Ca and Mg occured from 45 to 60 DAT
and for P, K and S from 60 to 75 DAT. The vegetative part was
responsible for 29,6% of the total accumulated and the fruits for
70,4%. The nutrients in decreasing order of accumulation were:
K>N>Ca>Mg>P>S. To yield of 40 t ha-1 the exported of nutrients
by fruits were: 106.4 kg ha-1 of N, 11.1 kg ha-1 of P, 118.0 kg ha-1 of
K, 4.3 kg ha-1 of Ca, 6.8 kg ha-1 of Mg and 6.0 kg ha-1 of S.
Keywords: Citrullus lanatus (Thunb.), plant nutrition, growth.
(Recebido para publicação em 12 de fevereiro de 2003 e aceito em 09 de outubro de 2003)
A
marcha de absorção de nutrientes,
fornece informação sobre a exigência nutricional das plantas em seus diferentes estádios fenológicos, sinalizando as épocas mais propícias à adição dos
nutrientes.
Entretanto, a quantidade e a
proporcionalidade dos nutrientes absorvidos pelas plantas são funções de características intrínsecas do vegetal,
como, também, dos fatores externos que
condicionam o processo. Numa espécie,
a capacidade em retirar os nutrientes do
solo e as quantidades requeridas variam
não só com a cultivar, mas também com
o grau de competição existente. Variações nos fatores ambientais como temperatura e umidade do solo podem afetar o conteúdo de nutrientes minerais nas
folhas consideravelmente. Esses fatores
influenciam tanto a disponibilidade dos
nutrientes como a absorção destes pelas raízes e, conseqüentemente, o cresHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
cimento da parte aérea. Por outro lado,
o acúmulo e a distribuição dos nutrientes minerais na planta dependem de seu
estádio de desenvolvimento (Marschner,
1995; Goto et al. 2001).
As curvas de absorção de nutrientes
determinadas para algumas espécies de
cucurbitáceas têm mostrado comportamento bem semelhante, onde o acúmulo
de nutrientes segue o mesmo padrão da
curva de acúmulo de massa seca, geralmente apresentando três fases distintas: na primeira fase a absorção é lenta,
seguida de intensa absorção até atingir
o ponto máximo, a partir do qual ocorre
um pequeno declínio (Tyler e Lorenz,
1964; Prata, 1999; Araújo et al., 2001;
Lima, 2001).
Na literatura brasileira, foi encontrado apenas um artigo científico (Nascimento et al. 1991) relatando a marcha
de absorção de nutrientes pela melancia, utilizando-se a cultivar Fairfax.
Entretanto, o mesmo apresenta informações parciais, com o período de avaliação realizado até o início de frutificação.
Os autores citam que o acúmulo de massa pela cultivar Fairfax foi crescente até
66 dias após a emergência, época essa
em que iniciou-se a frutificação.
Com relação ao acúmulo de nutrientes, nas diferentes partes vegetativas da
planta, Nascimento et al. (1991) constataram que o N, P, K e Mg apresentaram maior acúmulo na folha, aos 37 dias
após a emergência, enquanto que no
caule e nas raízes esses nutrientes tiveram acúmulo crescente até os 66 dias. A
extração de nutrientes pela cultura aos
66 dias foi da ordem de 23; 3; 34; 46 e 8
kg ha-1 de N, P, K, Ca e Mg, respectivamente.
Zhu et al. (1996), verificaram que a
taxa de absorção de nutrientes na cultura da melancia acompanha a taxa de produção de massa seca, atingindo o máxi93
L. C. Grangeiro e A. B. Cecílio Filho
de plantas foram realizadas aos 15, 30,
45, 60 e 75 dias após o transplantio. Nas
duas primeiras coletas foram amostradas
16 plantas competitivas e nas demais
avaliações foram coletadas 8 plantas.
Após cada coleta, as plantas foram
fracionadas em caule + folha e frutos,
lavadas e colocadas em estufa com circulação forçada de ar à temperatura de
65 ºC. Após a secagem, o material foi
moído, para determinação dos teores dos
nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S conforme metodologias descritas por Bataglia
et al. (1983).
Os dados de massa seca e do
acúmulo de macronutrientes foram submetidos a análise de regressão, para determinação das equações.
Figura 1. Acúmulo de massa seca na parte vegetativa (Y1), frutos (Y2) e total (Y3) em
planta de melancia híbrido Tide. Borborema – SP, 2001.
mo na época do desenvolvimento dos
frutos, quando, então, começa a diminuir. Lopez-Cantarero et al. (1992) verificaram diferença entre cultivares de
melancia para quantidade e teores de
nutrientes na folha, sendo observadas
diferenças de aproximadamente 100%
nos teores entre as cultivares.
Diante do exposto, e objetivando
obter informações sobre as quantidades
de macronutrientes requeridos pela
melancieira, bem como as épocas de
suas maiores demandas desenvolveu-se
o presente trabalho para determinar o
acúmulo e a exportação de nutrientes
pela cultura da melancia, híbrido Tide,
um dos mais cultivados na região de
Borborema-SP.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
área comercial, localizada no município
de Borborema – SP, no período de outubro a dezembro de 2001. O solo é classificado como Argissolo VermelhoAmarelo distrófico textura média
(Embrapa, 1999). Da área experimental foram retiradas amostras de solo, cuja
análise química revelou os seguintes
resultados: pH (CaCl2) = 4,2; M.O.= 11
g dm-3; P (resina) = 2,0 mg dm-3; K =
1,1 mmolc dm-3; Ca = 7,0 mmolc dm-3;
94
Mg = 3,0 mmol c dm -3 ; SB = 11,1
mmolcdm-3 T = 39,1 e V = 28%.
O preparo do solo constou de aração
seguida de gradagem, onde foi distribuído 2,1 t ha-1 de calcário dolomítico, sendo sua incorporação feita por gradagem,
45 dias antes do transplantio. Aplicouse, como adubação de plantio, 680 kg
ha-1 da formulação 04-30-10. A adubação de cobertura foi realizada com 330
kg ha-1 da formulação 20-00-20, parcelada aos 10, 21 e 35 dias após
transplantio.
A partir dos 20 dias após
transplantio, foram aplicados semanalmente, junto com os defensivos, os seguintes adubos foliares (por 100 L de
água): 200 mL do produto comercial
contendo Mg (6%); 200 mL da formulação 8% Ca e 0,5% B e 200 mL da formulação comercial composto por: 3%
S; Zn 3%; 2% Mn; 0,5% B e 0,1% Mo.
A pluviometria ocorrida durante o ciclo
da cultura foi de 436 mm, não havendo
complementação com irrigação.
A semeadura foi realizada em bandejas de poliestireno expandido para 200
mudas em 03/09/2001, utilizando-se
substrato comercial. O transplantio foi
realizado aos 30 dias após a semeadura,
quando as mudas apresentavam 2 folhas
definitivas, no espaçamento 3,0 x 1,7 m.
Utilizou-se o híbrido Tide. As coletas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O aparecimento das flores ocorreu
entre 25 e 30 dias após o transplantio e
o início de frutificação entre 35 e 40
dias. A produtividade verificada foi de
40 t ha-1, bem superior a média no Estado de São Paulo no ano de 2000 (27t ha-1)
(Camargo Filho e Mazzei, 2002), sendo
que as condições climáticas e
fitossanitárias durante o ciclo de cultivo favoreceram o bom rendimento da
cultura.
O crescimento da planta de melancia, expresso pelo acúmulo de massa
seca ao longo do ciclo, foi lento até 30
dias após transplantio (DAT), intensificando-se a partir deste. A parte
vegetativa, representada pelas folhas e
caule, teve maior participação na massa
seca total até cerca de 63 dias, quando
correspondeu a 52% (Figura 1).
No período compreendido entre 40
e 60 DAT, a taxa de incremento de massa seca da parte aérea foi de 17,2 g planta-1 dia-1, superior aos 5,5 g planta-1 dia-1
observados no período seguinte (60 a 75
DAT) e também maior que os 13,8 g
planta-1 dia-1 obtidos no período de 30 a
40 DAT.
Após 63 dias do transplantio, verificou-se tendência de estabilização de
acúmulo de massa seca da parte aérea e
forte elevação da taxa de acúmulo de
massa seca de frutos, que atingiu cerca
de 42 g planta-1 dia-1 no período final de
crescimento dos mesmos. Esta alteração
de força de drenos na planta, acontecida
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide
com o ingresso da mesma no processo
reprodutivo, proporciona maior
translocação de carboidratos e outros
compostos das folhas para os frutos,
como decorrência da predominância da
fase reprodutiva sobre a fase vegetativa
(Marschner, 1995). Neste experimento,
no final do ciclo, a participação da parte vegetativa foi de 31% e a dos frutos
de 69% da massa seca total acumulada
pela melancieira.
Outros experimentos realizados com
meloeiro, mostraram padrão de crescimento similar ao verificado neste trabalho com melancia. Lima (2001) estudando diversos híbridos de melão, verificou que a parte vegetativa (folha +
caule) contribuía no final do ciclo com
25 a 40% da massa seca total da planta,
enquanto os frutos com 60 a 75%.
Sanchez et al. (1998), também, obtiveram resultados semelhantes, tendo a
parte vegetativa do meloeiro participado com 27,5% e os frutos com 72,5%
da massa seca total.
A taxa de absorção dos nutrientes
pelas plantas de melancia foi baixa nos
primeiros 30 DAT, coincidindo com o
período de menor acúmulo de massa seca
(Figura 2). Maior incremento na absorção aconteceu após a frutificação, sendo
que a cultura da melancia acumulou nos
últimos 30 dias de ciclo 88, 76, 82, 77,
78 e 87% do total acumulado de N, P, K,
Ca, Mg e S, respectivamente.
Embora as espécies apresentem diferenças com relação à demanda e épocas de maiores exigências por nutrientes, trabalhos realizados com melão por
Belfort (1986), Prata (1999) e Lima
(2001), conduzidos em diferentes locais,
cultivares e sistemas de produção, mostraram uma curva padrão de acúmulo de
massa seca e de nutrientes, mais lento nos
primeiros 30 dias do ciclo e com maiores demandas após o início da
frutificação. Ainda que a seqüência de
exigência nutricional não tenha sido a
mesma entre os trabalhos anteriormente
citados, o cálcio foi bastante exigido pelas plantas estudadas. Resultados similares foram obtidos em pepino (Solis et
al., 1982) e abobrinha (Araújo, et al.
2001).
A partir dos 60 DAT, verificou-se
uma redução nos acúmulos de N, P e K
e uma estabilização nos acúmulos de Ca,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 2. Acúmulo de nitrogênio (A), fósforo (B), potássio (C), cálcio (D), magnésio (E) e
enxofre (F), na parte vegetativa (Y1), frutos (Y2) e total (Y3) em melancia, híbrido Tide.
Borborema-SP, 2001.
Mg e S na parte vegetativa (Figura 2).
Devido ao elevado acúmulo de massa
seca pelos frutos, estabelecendo uma
correspondente demanda por nutrientes,
pode-se inferir, a partir das curvas de
acúmulo (Figura 2) que houve forte
translocação de N, P e K das folhas para
os frutos. Resultados semelhantes foram
verificados por Del Rio et al. (1994),
em diversas cultivares de melancia,
quando observaram redução dos teores
de N, P e K nas folhas com o desenvolvimento dos frutos; de modo semelhante Araújo et al. (2001) verificaram redução no acúmulo de P, K, Ca e Mg na
parte vegetativa de abobrinha durante a
frutificação.
O potássio foi o nutriente mais absorvido pelo híbrido de melancia Tide,
com acúmulo máximo de 155,5 kg ha-1,
tendo a maior demanda deste elemento
ocorrido no período de 60 a 75 DAT
(Figura 2). Este resultado concorda é
similar ao de vários outros trabalhos, os
quais versam sobre exigência
nutricional em cucurbitáceas. Vários trabalhos mostram incrementos significativos na produtividade e qualidade dos
frutos de melancia obtidos com adubação potássica (Sundstrom e Carter,
1983; Deswal e Patil, 1984; Zeng e
Jiang, 1989; Simonne et al., 1992). O
potássio, embora não faça parte de nenhum composto orgânico, desempenha
95
L. C. Grangeiro e A. B. Cecílio Filho
importantes funções na planta como na
fotossíntesse, ativação enzimática, síntese de proteínas e transporte de carboidratos entre outros e portanto, é fundamental ao crescimento e produção da planta
(Marschner, 1995; Taiz e Zeiger, 1998).
O nitrogênio foi o segundo nutriente mais absorvido, apresentando maior
demanda no período de 45 a 60 DAT
(Figura 2), época que coincidiu com o
grande desenvolvimento da parte aérea;
o seu acúmulo máximo foi de 138,8 kg
ha-1. Em melão, também, a absorção
máxima de nitrogênio coincidiu com a
fase de maior acúmulo de massa seca
(Belfort, 1986).
O cálcio, terceiro nutriente mais absorvido pela planta, mas neste caso,
atingindo o acúmulo máximo de 25,3 kg
ha-1 no final do ciclo. A maior demanda
ocorreu no período de 45 a 60 DAT (Figura 2). Diferentemente dos nutrientes
citados anteriormente, entretanto, a parte
vegetativa acumulou maior quantidade
de cálcio, sendo responsável por 83%,
enquanto os frutos por apenas 17% do
total acumulado. Este padrão de distribuição do Ca em favor das folhas é,
portanto, resultado de ser transportado
quase que exclusivamente pelo xilema
e conduzido principalmente pela corrente transpiratória. De acordo com HO et
al. (1987) e HO (1989), menos de 15%
da água para enchimento do fruto é proveniente do xilema e, deste forma, o
aporte de Ca para o fruto é muito pequeno. Outro fator que pode agravar
essa situação é a competição entre K e
Ca que se faz também, dentro da planta
(Malavolta et al. 1997). O maior fluxo
de potássio para o fruto de melancia
concorre para diminuir a presença de
cálcio. Resultado semelhante foi verificado em outras hortaliças como tomate
(Gargantini e Blanco, 1963), morango (
Souza, 1976) e melão (Sanchez et al.,
1998). Segundo Trani et al. (1993), o
cálcio é um dos mais importante nutrientes para as cucurbitáceas, estando o
mesmo associado com a formação de
flores perfeitas, a qualidade do fruto e a
produtividade. Outro aspecto também
bastante estudado é a relação do cálcio
com a incidência de podridão apical (ou
fundo preto), comum nessa família,
principalmente em melancia (Cirulli e
Ciccarese, 1981).
96
Os macronutrientes absorvidos em
menores quantidades pelas plantas de
melancia foram Mg, P e S, com acúmulos
de 16,6; 13,5 e 9,1 kg ha-1, respectivamente. As maiores demandas para Mg
ocorreram no período de 45 a 60 DAT e
para P e S nos 60 a 75 DAT (Figura 2).
O magnésio, semelhante ao ocorrido com o cálcio, apresentou maior
acúmulo nas folhas; muito provavelmente, por fazer parte da molécula de
clorofila. De acordo com Marschner
(1995) dependendo do “status” de Mg
na planta, de 6 a 25% do magnésio total
pode estar ligado à molécula de clorofila, enquanto, outros 5 a 10% ligados à
pectatos na parede celular ou depositado como sal solúvel no vacúolo.
No momento da colheita, 75 dias após
o transplantio, os frutos correspondiam a
69% da massa seca da planta. Do total dos
nutrientes acumulados pela melancieira,
os frutos participaram com 77% do N,
82% do P, 76% do K, 17% do Ca, 41% do
Mg e 65% do S. Os nutrientes N, P, K e S
portanto, acumulam-se preferencialmente nos frutos, enquanto Ca e Mg na parte
vegetativa. As quantidades totais de N, P,
K, Ca, Mg e S exportadas pelos frutos foram 106,4; 11,1; 118,0; 4,3; 6,8 e 6,0 kg
ha-1, respectivamente.
As quantidades de macronutrientes
exportadas pelos frutos, portanto, representam importante componente de perdas de nutrientes do solo, que deverão
ser restituídos, enquanto os nutrientes
contidos na parte aérea podem ser incorporados ao solo dentro de um programa
de reaproveitamento de restos culturais.
AGRADECIMENTOS
À FAPESP pelo auxílio financeiro
concedido, processo nº 2000/01797-0,
para a realização deste trabalho e a
Syngenta Seeds Ltda. na pessoa do Eng.
Agro. Aparecido Alecio Schiavon Júnior.
LITERATURA CITADA
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Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 98-100, jan-mar 2004.
Qualidade do melão exportado pelo porto de Natal
Rui Sales Júnior.1; Silvana Patrícia F. Soares; Joaquim Amaro Filho; Glauber Henrique S. Nunes; Vicente
S. Miranda
ESAM, Depto. Fitossanidade, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a qualidade pós-colheita dos melões exportados pelo
Porto de Natal (RN), identificando características desfavoráveis ao
mercado que venham desencadear problemas ao melão exportado.
Foram analisados 2.218 frutos de setembro a dezembro de 2001 com
amostragem mediante norma de fiscalização da Delegacia da Agricultura e do Abastecimento (DFA/SSV). O trabalho foi desenvolvido no Porto de Natal, na unidade do Vigiagro/SSV/MA. A avaliação
dos frutos foi feita de maneira sistemática, seguindo o preenchimento
de uma “Ficha de Controle de Qualidade do Melão Exportado” onde
foram determinados o teor de sólidos solúveis e a textura ou firmeza
de polpa. Concluiu-se que dos frutos analisados 62,58% destes foram do tipo Amarelo, 15,1% tipo Orange Flesh, 9,29% tipo Pele de
Sapo, 5,77% tipo Gália, 5,09% tipo Cantaloupe e 2,17% tipo
Charentais. Desses, apenas o melão tipo Amarelo apresentou índice
médio aceitável de sólidos solúveis para a exportação; o melão tipo
Pele de Sapo foi o que apresentou menor índice de firmeza de polpa.
Palavras-chave: Cucumis melo, sólidos solúveis, firmeza de polpa.
Quality of melon exported through the port of Natal, Brazil
We evaluated the post harvest quality of melons exported through
the port of Natal, identifying the unfavorable characteristics for the
market that could be prejudicial to the exportation. A total of 2.218
fruits was analyzed from September to Dezember 2001. Sampling
procedures were done following norms of the Delegacia da
Agricultura e do Abastecimento. The work was carried out in the
port of Natal. Solid soluble content and fruit firmness were the
parameters used to evaluate fruit quality. Nearly 62.58% of the fruits
were of the Yellow type; 15.1% Orange Flesh type; 9.29% Piel de
Sapo (Frog Skin) type; 5.77% Gália type; 5.09% Cantaloupe type
and 2.17% were of the Charentais type. Only the Yellow type melon
presented more than 50% of its fruits with soluble solid content
superior to 100 Brix, and the Frog Skin was the only type with low
index for pulp firmness.
Keywords: Cucumis melo, solid soluble, pulp firmness.
(Recebido para publicação em 13 de fevereiro de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003)
E
m 2001 exportou-se pelo Porto de
Natal (RN) 79 mil toneladas de
melão gerando uma renda free on board
(FOB) ao redor de US$ 29,5 milhões.
Atualmente o RN é responsável por 92%
da exportação nacional, sendo estes frutos produzidos nos agropólos MossoróAssú (RN) e Baixo Jaguaribe (CE). A
área de produção desta olerícola no Brasil no ano de 2001 foi de aproximadamente 12.000 ha dos quais estimou-se
uma produção de 150.000 T (FAO, 2001).
Não obstante, apesar do enorme potencial que a cultura do melão (Cucumis
melo L.) apresenta para a balança comercial do estado do Rio Grande do
Norte, existem problemas de ordem estrutural e organizacional que exigem
soluções urgentes para que haja a garantia de competição no mercado
globalizado. Considerando a tendência
mundial de incremento das barreiras não
tarifárias para proteger a produção interna, os produtores e exportadores bra-
sileiros necessitam manter-se
atualizados com relação às mudanças
das exigências de mercado para desenvolverem ações para reduzir impactos
nas exportações.
Uma das características mais estudadas em melão é o teor de sólidos solúveis (SS) (Protade, 1995), fator tradicionalmente utilizado para assegurar sua
qualidade. A textura ou firmeza da polpa é outra variável importante na qualidade do fruto, pois indica resistência ao
transporte e possibilidade de maior vida
de prateleira, estando relacionado com
o “flavor”, que é perceptível pelo paladar (Menezes et al., 1998).
As condições de cultivo afetam diretamente as características relacionadas com a qualidade dos frutos. Os sólidos solúveis aumentam com a maior
salinidade no solo e diminuem com a
maior densidade de plantio (Mendlinger,
1994). O momento da colheita é decisivo na concentração de açúcar dos me-
lões comercializáveis, não devendo ser
menor que 10% (10 °Brix) (Vallespir,
1999). Analisando as exigências do
mercado, Souza et al. (1994) verificaram que os melões cultivados para exportação devem ser colhidos com teor
de SS entre 9 e 11% enquanto que para
o mercado interno, devem possuir teor
de 12 a 14%.
Tendo em vista a importância econômica do melão, tanto para o mercado
interno quanto para exportação, investigações devem ser desenvolvidas para
aumentar a eficiência do sistema produtivo e a qualidade do produto final.
Dessa forma, este trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade do melão exportado pelo Porto de Natal.
MATERIAL E MÉTODOS
A quantidade de melão exportado
pelo Porto de Natal, de 11 de setembro
a 7 de novembro de 2001 foi de 19,7
1 É a unidade Internacional para expressar a grandeza física força numa superfície de penetração.
98
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Qualidade do melão exportado pelo porto de Natal
mil toneladas. Nesta, foram analisados
2.218 melões de diferentes tipos (Amarelo, Pele de Sapo, Charentais,
Cantaloupe, Orange Flesh e Gália), provenientes do Rio Grande do Norte e do
Ceará, conforme o procedimento de rotina do laboratório de Vigilância
Agropecuária
da
DFA/RN
(VIGIAGRO) e coletados de 23 empresas exportadoras. Os frutos eram
amostrados semanalmente, em um total
de duas caixas obtidas aleatoriamente,
por embarque/tipo de melão/empresa.
Destes foram avaliadas duas variáveis:
sólidos solúveis e firmeza de polpa. O
valor dos sólidos solúveis foi obtido
mediante o uso de refratômetro ótico
ATAGO N-1E (0-32%), avaliando o
suco obtido de cada fruto. O valor da
firmeza de polpa foi obtido através de
um penetrômetro marca McCormick
modelo FT 327 com plunger de ponta
cônica de 8 mm de diâmetro; os resultados obtidos em libras foram convertidos para Newton (N), multiplicando-o
pelo fator de conversão 4,45 (Gomes
Junior et al., 2001). Em cada fruto era
realizado um corte longitudinal, efetuando-se duas leituras eqüidistantes em
cada uma das metades equatoriais do
fruto.
Figura 1. Tipos de melões (%) exportados pelo Porto de Natal de 11 de setembro a 7 de
novembro de 2001. Mossoró, ESAM, 2001.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de realização deste estudo, 62,58% do melão exportado pelo
porto de Natal pertence ao tipo Amarelo. O melão tipo Orange Flesh representou aproximadamente 15,1% das exportações e o tipo Pele de Sapo 9,29%. Os
demais tipos Galia, Cantaloupe e
Charentais apresentaram apenas 5,77%;
5,09% e 2,17%, respectivamente (Figura
1). O volume de melão exportado neste
período foi de 19.696,930 kg e a
amostragem representou 0,02% deste
volume.
Observou-se que o melão tipo Amarelo foi aquele que apresentou o maior
percentual de frutos (52,0%), com valores de SS acima do mínimo exigido
(10°Brix). Ao contrario, o melão tipo
Charentais apresentou 100,0% dos frutos analisados com valor de SS inferior
ao mínimo aceitável pelo mercado internacional (13°Brix) (Alves et al.
2000). Os demais tipos de frutos, Galia,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 2. Sólidos solúveis (SS) médios dos frutos exportados pelo Porto de Natal, de 11 de
setembro a 7 de novembro de 2001. Mossoró, ESAM, 2001.
Figura 3. Textura média dos frutos exportados pelo Porto de Natal, de 11 de setembro a 7 de
novembro de 2001. Mossoró, ESAM, 2001.
Pele de Sapo, Cantaloupe e Orange
Flesh apresentaram 81,35%; 70,00%;
62,62% e 50,00% respectivamente, de
SS inferior ao mínimo exigido pelo
mercado internacional: 12, 11, 10 e
10°Brix, respectivamente, segundo
Alves et al. 2000 (Figura 2). O índice
de maturidade dos frutos apresenta-se
de forma diferente para cada tipo e em
alguns casos por variedade. Segundo
99
R. Sales Júnior et al.
Alvarado (1994) e Gomes Jr. et al.
(2001) em melões das variedades
Reticulatus e Cantaloupensis o melhor
indicativo para colheita é o grau de separação entre o fruto e o pedúnculo; no
caso da separação completa, o fruto está
com o máximo desenvolvimento das condições organolépticas (SS, firmeza de
polpa e aroma). No caso de melões da
variedade Inodorus, obtém-se o índice de
colheita pela análise dos SS, implicando
na
destruição
do
fruto
e,
consequentemente não havendo um
indicativo do ponto de colheita.
Giambanco de Ena (1997a) recomenda
os índices de 12 a 14ºBrix para os melões tipo Amarelo e Gália, sendo o valor
de SS para o melão tipo Amarelo superior ao recomendado por Alves et al.
(2000). É possível que os valores atribuídos por Giambanco de Ena (1997b) sejam atribuídos para o mercado interno
espanhol ou para mercados de curta distância. No caso do melão brasileiro que
necessita pelo menos 15-20 dias para estar na mesa do consumidor europeu, este
valor deve estar ao redor de 10ºBrix pois
o estágio de maturação é inversamente
proporcional ao tempo de conservação
pós-colheita (Mutton et al., 1981; Welles
e Buitelaar, 1988). Para melões tipo Pele
de Sapo e Cantaloupe, Giambanco de Ena
(1997a) recomendam valores superiores
a 12 e 10ºBrix, respectivamente, sendo
esses valores bastante superiores no caso
do melão tipo Charentais (13 a 15ºBrix).
100
O melão tipo Orange Flesh apresentou o maior percentual de frutos com
firmeza superior ao mínimo exigido
(90,33%), seguido dos melões tipo
Amarelo (85,00%), Gália (63,89%),
Charentais (63,33%) e Cantaloupe
(53,45%), sendo os valores mínimos exigidos de 30, 24, 30 e 35 N, respectivamente. O melão tipo Pele de Sapo apresentou o maior percentual de frutos com
valor de firmeza inferior ao mínimo exigido (70,00%), que segundo Alves et al.
(2000) é de 32 N1 (Figura 3).
Vale ressaltar que este é o primeiro
trabalho realizado com dados de qualidade de todas as empresas (23 no total)
exportadoras de melão do Rio Grande
do Norte e Ceará.
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Mapa de preferência de couve minimamente processada
Maria Inês S. Dantas; Valéria P.R. Minim; Rolf Puschmann; João D.S. Carneiro; Rogério L. Barbosa
Universidade Federal de Viçosa, 36570-000 Viçosa-MG; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Determinou-se por meio da técnica de mapa de preferência, a
aceitabilidade de diferentes cortes de couve minimamente processada. A separação espacial das amostras de couve sugeriu a existência
de três grupos, de acordo com a aceitação das mesmas. As amostras
de couve minimamente processada que obtiveram aceitação por um
maior número de consumidores foram as de 1 e 2 mm de largura.
Palavras-chave: Brassica oleraceae cv. acephala, processamento
mínimo, aceitação sensorial.
Preference mapping of fresh-cut collard
The acceptability of fresh-cut collard leaves chopped in different
widths was determined by employing the preference mapping
technique. Spatial separation of samples suggested the existence of
three groups, according to their acceptability. Fresh-cut samples
showing acceptability by a large number of consumers where 1 and
2 mm wide.
Keywords: Brassica oleraceae cv. acephala, fresh-cut collard, sensorial acceptance.
(Recebido para publicação em 24 de março de 2002 e aceito em 22 de setembro de 2003)
O
s produtos minimamente processa
dos, conhecidos como fresh cut,
têm-se destacado no mercado, pois seguem a tendência mundial de consumo
de alimentos saudáveis, frescos e de alta
qualidade. O propósito do seu fornecimento é o de disponibilizar um produto
pronto para usar, que não requeira nenhuma preparação posterior significativa por parte do consumidor, em termos
de seleção, limpeza, lavagem ou cortes.
Outra grande vantagem desses itens é a
redução praticamente total dos desperdícios (Junqueira e Luengo, 2000). A diminuição do tempo disponível para o
preparo das refeições, o aumento do
poder de compra e a conscientização do
consumidor em relação à saúde, são fatores que, combinados, contribuem para
aumentar de forma significativa a demanda desses alimentos (Baldwin et al.,
1995). O termo minimamente processado tornou-se comum na indústria de
alimentos e entre os consumidores nos
anos 90 (Mertens e Knorr, 1992) e, de
acordo com a International Fresh Cut
Produce Association (1999), pode ser
definido como qualquer alteração física em frutas e hortaliças, mas que mantém o estado fresco do produto.
A determinação da aceitação pelo
consumidor é parte crucial no processo
de desenvolvimento ou melhoramento
de produtos. Os testes de aceitação ou
afetivos requerem equipe com grande
número de participantes que represenHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
tem a população de consumidores atuais
ou potenciais do produto. Entre os métodos mais empregados para medida da
aceitação de produtos está a Escala
Hedônica, onde o consumidor expressa
sua aceitação pelo produto, seguindo
uma escala previamente estabelecida
que varia gradativamente com base nos
termos gosta e desgosta. (Chaves e
Sproesser, 1993).
Os resultados de testes afetivos (testes com consumidores) vêm, tradicionalmente, sendo avaliados por análise
de variância univariada (ANOVA) e testes de comparação de médias, comparando-se a aceitação média entre produtos.
Segundo Polignano et al. (1999) esta
análise global, considerando conjuntamente as avaliações de todos os consumidores, implica em assumir que todos
apresentam o mesmo comportamento,
desconsiderando suas individualidades.
Cita ainda que os dados podem não estar sendo bem visualizados, a ponto de
se perder informações interessantes sobre diferentes segmentos de mercado.
A técnica de Mapa de Preferência pode
solucionar este problema e também permitir a associação da impressão que os
consumidores têm de um produto com
suas características sensoriais.
Com a finalidade de analisar os dados afetivos, levando-se em consideração a resposta individual de cada consumidor, e não somente a média do gru-
po de consumidores que avaliaram os
produtos, foi desenvolvida a técnica
intitulada Mapa de Preferência que tem
sido largamente utilizada por cientistas
da área de análise sensorial (Behrens et.
al., 1999).
Tendo em vista estas considerações,
este estudo objetivou avaliar a aceitação de diferentes cortes de couve minimamente processada, aplicando a técnica Mapa de Preferência.
MATERIAL E MÉTODOS
Folhas de couve (Brassica oleraceae
var. acephala) foram colhidas na horta
da Universidade Federal de Viçosa, no
estágio de desenvolvimento correspondente à colheita comercial, e pré-resfriadas antes de serem submetidas ao
processamento.
As folhas foram selecionadas, lavadas em água corrente, tiveram seus
pecíolos retirados e posteriormente foram submetidas à sanitização. O processo de sanitização consistiu na imersão
das folhas em água resfriada a 5°C, contendo 150 ppm de cloro ativo, por 10
minutos (Simons e Sanguansri, 1997).
Na etapa seguinte, as folhas foram
fatiadas em processador de alimentos
industrial equipado com lâminas para
diferentes larguras (1; 2; 5 e 10 mm) e,
em seguida, submetidas ao enxágüe em
água resfriada a 5°C contendo 3 ppm
de cloro ativo.
101
M. I. S. Dantas et al.
Quadro 1. Ficha de avaliação utilizada para o teste de aceitação. Viçosa, UFV, 2001.
Tabela 1. Freqüências das notas atribuídas, em cada um dos termos hedônicos, às quatro amostras de couve minimamente processadas.
Viçosa, UFV, 2001.
A couve minimamente processada
foi centrifugada por 10 minutos, utilizando-se uma centrífuga doméstica,
com velocidade constante equivalente
a 800 g, com o objetivo de retirar o excesso de água e os exsudados celulares
provenientes das etapas de corte,
sanitização e enxágüe. Acondicionaramse 150 g de couve minimamente processada, em embalagens de poliolefina
multicamadas.
A aceitabilidade sensorial da aparência das quatro amostras de couve, com
1,2; 5 e 10 mm, foi avaliada por 100
consumidores, em dois estabelecimentos comerciais da cidade de Viçosa, utilizando uma Escala Hedônica de nove
pontos para as avaliações, sendo os extremos de valor 1 atribuído ao termo
102
hedônico “desgostei extremamente” e
de valor 9 atribuído ao termo “gostei
extremamente” (Figura 1).
Para obtenção do Mapa de Preferência Interno ou Análise de Preferência
Multidimensional (MDPREF), os dados
de aceitação (teste de consumidor) foram
organizados numa matriz de amostras (em
linhas) e consumidores (em colunas), e
esta submetida à Análise de Componentes Principais (ACP) (Carneiro, 2001).
Os resultados foram expressos em
um gráfico de dispersão das amostras
(tratamentos) em relação aos dois primeiros componentes principais e em
outro representando os “loadings” (cargas) da ACP (correlações dos dados de
cada consumidor com os dois primeiros componentes principais).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da avaliação da
aceitabilidade sensorial das quatro
amostras de couve minimamente processada estão apresentados na Tabela 1.
As amostras com 1 e 2 mm foram classificadas por 91 e 94 consumidores, respectivamente, entre os termos hedônicos
“gostei extremamente” e “gostei ligeiramente”, indicando assim que foram
bem aceitas pela maioria dos consumidores. A distribuição das notas atribuídas para a amostra com 5 mm de largura
foi a mais homogênea entre os 9 termos
hedônicos, mas 53 consumidores fizeram
a classificação entre os termos hedônicos
“desgostei ligeiramente” e “desgostei
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Mapa de preferência de couve minimamente processada
extremamente” indicando que rejeitaram
o produto. A amostra com 10 mm foi rejeitada por 67 consumidores.
Com os dados obtidos no teste de
aceitação das quatro amostras de couve
minimamente processadas foi realizada
a análise do Mapa de Preferência Interno (Figuras 1 e 2). O primeiro componente principal (PC) explicou 89% e o
segundo 8%, totalizando, portanto, 97%
da variância entre as amostras quanto à
sua aceitação.
A separação espacial das amostras
de couve minimamente processada sugere a existência de três grupos de acordo com a aceitação das mesmas, sendo
um grupo formado pelas amostras de
couve de 1 e 2 mm de largura e os outros pelas amostras de 5 mm e de 10 mm
(Figura 1).
Na Figura 2, cada ponto representa
as correlações entre os dados de aceitação de um consumidor e os dois primeiros componentes principais. Os consumidores mais próximos do centro do
gráfico não estão correlacionados com
nenhum dos dois componentes principais e contribuem pouco para a discriminação das amostras, ou seja, são consumidores que consideram as amostras
com aceitação semelhante. Este grupo
é formado por um número pequeno de
consumidores. Por outro lado, consumidores correlacionados com pelo menos
um dos componentes, consideram diferença na aceitação das amostras. Para a
grande maioria dos consumidores houve
correlação positiva com o primeiro componente principal, indicando que atribuíram notas mais elevadas para as amostras de couve minimamente processadas
com 1 e 2 mm de largura (amostras mais
à direita no gráfico, Figura 1).
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afetivos e técnica multivariada de mapa de preferência interno. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.19. n.2, mai./ago. 1999.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Dispersão das amostras de couve minimamente processada em relação à aceitação pelos consumidores. Viçosa, UFV, 2001.
Figura 2. “Loadings” (Cargas) – Correlações entre os dados de aceitação de cada consumidor e os dois primeiros componentes principais. Viçosa, UFV, 2001.
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Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 104–108, jan-mar 2004.
Relações alométricas para estimativa da fitomassa aérea em pupunheira
Fernando Vinicio A. Vega; Marilene L. A. Bovi; Sandra Heiden Spiering; Gentil Godoy Júnior
Instituto Agronômico, C. Postal 28, 13001-970 Campinas–SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A estimativa da fitomassa aérea da pupunheira (Bactris gasipaes
Kunth) por meio de relações alométricas tem aplicação teórica e
prática, sendo essencial em estudos de fisiologia de crescimento,
bem como para identificar respostas e predizer a produção. No presente trabalho foram avaliadas diferentes equações buscando o melhor ajuste alométrico representativo da fitomassa da pupunheira
cultivada para a produção de palmito. Foram utilizadas palmeiras
inermes, da raça Putumayo, em diferentes estádios de desenvolvimento, cultivadas em Ubatuba (SP) no espaçamento de 2 x 1 m.
Selecionaram-se 117 plantas, com alturas entre 0,22 e 5,04 m e diâmetros entre 2,23 e 27,06 cm. Medidas diretas, relacionadas ao crescimento, foram realizadas antes do corte. Em seguida as plantas foram separadas em diferentes partes estruturais, sendo medidas, pesadas e secas, obtendo-se a massa da matéria seca. Os dados foram
submetidos à análise de regressão e ajuste de equações, tendo como
variáveis independentes os caracteres facilmente mensuráveis e não
destrutivos. A fitomassa da pupunheira pode ser estimada de forma
precisa a partir de equações simples, valendo-se de relações
alométricas. A altura da haste principal, medida do solo até a inserção da folha +1, foi o caráter preditório indireto ideal para estimar a
fitomassa de pupunheiras em cultivo comercial. Identificou-se também que, do estádio de implantação ao início de colheita de palmito,
a contribuição dos perfilhos para a fitomassa aérea total é pequena e
pode ser desprezada.
Peach palm biomass estimates based on allometric
relationships
Palavras-chave: Bactris gasipaes, biomassa, crescimento, perfilhos,
pupunha.
Keywords: Bactris gasipaes, growth, heart-of-palm, pejibaye,
offshoot.
Biomass estimates based on allometric relationships have
theoretical and practical application. These data are useful tools in
growth analysis experiments and yield prediction. Several equations
were studied to define the best allometric fit to peach palm grown
for heart-of-palm purpose. Spineless peach palms (Bactris gasipaes
Kunth), from Putumayo landrace, were utilized. The experiment, in
a 2 x 1 m planting density, was conducted at Ubatuba, São Paulo
State, Brazil. Where 117 plants were selected, ranging from 0.22 to
5.04 m of main stem height, and from 2.23 to 27.06 cm of main stem
diameter. Direct growth measurements were taken before plant
harvesting. Harvested material was separated in different structural
components and weighted before and after drying. Regression
analyses were performed and different equations were applied to
data, having as independent variables the traits easily measured.
Peach palm biomass can be precisely estimated by allometric
relationships. Main stem height, measured from ground level until
first leaf insertion, was the ideal trait to indirectly estimate biomass
in peach palm commercial cultivation. The contribution of the
affshots biomass to the total above ground biomass, from planting
to first harvesting is very low and can be neglected.
(Recebido para publicação em 11 de março de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003)
A
pupunheira (Bactris gasipaes
Kunth), palmeira nativa da América tropical, apresenta características de
precocidade,
rusticidade
e
perfilhamento, como atributos ideais
para a produção de palmito (Bovi,
1998a). Produto de largo consumo, o
palmito é constituído basicamente pelo
meristema apical e um número variável
de folhas internas, ainda não plenamente desenvolvidas e imbricadas, sendo
envolto e protegido pela bainha das folhas adultas mais externas (Ferreira et
al., 1976; Bovi, 1998a). Portanto, um
desenvolvimento foliar adequado é a
condição principal para obter resultado
satisfatório na produção de palmito.
Pelas características próprias do cultivo, com colheitas freqüentes e
escalonadas em função do desenvolvimento das hastes, as plantas apresentam104
se em permanente estádio vegetativo
(Clement, 1995) e a velocidade com que
a fitomassa inicial se acumula e é reposta novamente após cada colheita,
torna-se um indicador da produtividade
e da vida econômica da cultura (Clement
e Bovi, 2000). Por esse motivo, a
pupunheira vem sendo alvo de vários
estudos na área de fisiologia do crescimento e da produção, bem como de suas
inter-relações com as condições climáticas e, principalmente, com a nutrição
mineral e orgânica.
A análise de crescimento permite
conhecer as diferenças funcionais e estruturais entre plantas e estimar o
acúmulo de fitomassa, de forma a identificar respostas à aplicação de diferentes tratamentos, assim como prever a
produção. Em plantas anuais, a análise
de crescimento é feita, geralmente, por
meio do método direto, usando-se amostras destrutivas, colhidas ao longo do
ciclo da planta (Benincasa, 1988). Por
meio da obtenção da massa total da planta, ou de seus diversos componentes,
estima-se o acúmulo de fitomassa ao
longo do tempo. Já em plantas perenes,
principalmente em plantios comerciais
ou em estudos com plantas de grande
valor econômico, o método indireto, ou
não destrutivo, é o mais indicado, devido principalmente às dificuldades
logísticas da obtenção de dados
(Benincasa, 1988; Ares e Fownes,
2000). Esse método consiste na aplicação de análise dimensional, também conhecida como alometria (Kira e Shidei,
1967). A base do método é o estabelecimento de parâmetros que indiquem ou
expressem, em forma alométrica, o estado atual de uma planta. Para isso alHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Relações alométricas para estimativa da fitomassa aérea em pupunheira
guns autores propõem um número variado de equações baseado em medidas
diretas como altura, diâmetro, comprimento e número de estruturas (perfilhos,
ramificações, entre outros) que possam
estimar, com suficiente precisão, a massa ou o desenvolvimento da planta como
um todo. Não obstante, deve ser ressaltado que para o estabelecimento dessas
relações alométricas há necessidade de
serem efetuadas análises destrutivas. No
entanto, essas são feitas em amostragem,
de preferência em algumas plantas do
próprio experimento, ou pelo menos em
plantas da mesma origem genética, em
estádios ontogenéticos semelhantes, e
cultivadas nas mesmas condições
agrobioclimáticas.
Equações que visam estimar a
fitomassa da planta inteira ou de seus
componentes foram desenvolvidas por
alguns autores para a pupunheira, mas,
invariavelmente, se referem ao estado
adulto da planta, visto que anteriormente
essa espécie era apenas usada para a
produção de frutos (Clement et al.,
1990; Szott et al., 1993). Estimativas envolvendo plantas mais jovens foram
publicadas por Jongschaap (1993) e
Clement (1995), representando o período de formação de mudas e a fase inicial de implantação a campo. Apenas recentemente foi desenvolvido estudo
com plantas destinadas a palmito (Ares
et al., 2002b), mas, mesmo assim, o
genótipo utilizado foi da raça UtilisTucurrique, material com espinhos, bastante diferente do que vem sendo cultivado no Brasil desde 1990 (Bovi,
1998b). Embora os trabalhos anteriores
forneçam informações valiosas sobre as
relações alométricas em pupunheira, reconhece-se também que são de aplicação limitada. De acordo com Clement e
Bovi (2000), relações alométricas precisam ser validadas para cada germoplasma
e ambiente (latitude, altitude, solo, adubação, irrigação, densidade, etc), pois a
fitomassa possui plasticidade e baixa
herdabilidade (Clement, 1995; Lucchesi,
1987).
Este trabalho teve como objetivo
avaliar diferentes tipos de equações, tentando encontrar o melhor ajuste alométrico para a estimativa da fitomassa aérea da pupunheira quando cultivada para
a produção de palmito.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas pupunheiras
(Bactris gasipaes Kunth) inermes, da
raça Putumayo, em diferentes estádios
de desenvolvimento. As plantas foram
cultivadas no espaçamento de 2 x 1 m
(5000 plantas ha-1), densidade recomendada para a produção de palmito (Bovi,
1998a). O cultivo foi realizado na E.E.
do Instituto Agronômico de Campinas,
localizada em Ubatuba (23 o 27’S,
45o04’W e 6 m de altitude). O clima da
região é “Cfa”, pela classificação de
Köppen, tropical, quente e úmido, com
pluviosidade anual normal de 2841 mm,
evapotranspiração potencial normal de
992 mm, excedente normal de 1849 mm,
temperatura média anual de 20,8oC e
déficit hídrico nulo. O solo da área do
cultivo é arenoso, classificado como
Aluvial álico (Udifluvent), com boa drenagem. Detalhes da composição
granulométrica e química do solo encontram-se em Vega (2003).
Foram selecionadas 117 plantas,
sendo 82 hastes principais (planta mãe)
e 35 perfilhos, abrangendo todos os estádios de crescimento representativos
tanto de lavoura bem manejada para a
produção de palmito, quanto daquela
onde o corte não é freqüente ou são deixadas algumas plantas matrizes para
produção de frutos. Seguindo os procedimentos e recomendações fornecidos
por Benincasa (1988) e Clement e Bovi
(2000), foram realizadas as seguintes
medidas na haste principal: altura até a
inserção da folha +1 (m), perímetro à
altura do colo da planta (m) e número
de folhas. Após essas medidas, as hastes foram cortadas na base (rente ao
solo), separando-se as diferentes partes
estruturais da planta para serem pesadas e medidas individualmente. O material vegetal foi colocado em estufa a
60oC até obtenção de peso constante,
pesando-se novamente todas as amostras. A área foliar (m2) foi estimada pelo
método de uso de áreas conhecidas de
lâminas foliares, descrito por Benincasa
(1988).
Foi feita análise preliminar dos dados visando caracterizar a população
amostrada para cada caráter estudado.
Além da média, calculou-se o desvio
padrão, o coeficiente e a amplitude de
variação e o intervalo de confiança da
média a 5% de probabilidade (Steel e
Torrie, 1980). Foi realizada ainda, análise de regressão e ajuste de equações,
tendo como variável dependente os
caracteres de natureza destrutiva e como
independente os facilmente mensuráveis
e não destrutivos (Hyams, 1997). As
equações foram selecionadas levandose em conta o alto grau de correlação
entre variáveis (coeficiente de determinação), a comparação 1:1 dos dados estimados na equação com os dados reais
das plantas, e o significado biológico.
Visando identificar a contribuição
dos perfilhos para a fitomassa total durante a primeira fase da cultura (plantio
até a primeira colheita de palmito) foram contadas e medidas todas as hastes
principais, bem como todos os perfilhos
de plantas de um experimento situado
no mesmo local com 12 meses a campo. A fitomassa de ambos (haste principal e perfilhos) foi estimada usando-se
as equações mais adequadas, definidas
na etapa anterior.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A população em estudo foi composta por 82 plantas-mãe com altura da haste principal variando de 0,22 a 5,04 m
(média de 1,75 m, desvio padrão (DP)
de 0,94 m, coeficiente de variação (CV)
de 53,72% e intervalo de confiança (IC)
de 0,21 m), e de 0,07 e 0,85 m de perímetro (média de 0,38 m, DP de 0,14 m,
CV de 37,50% e IC de 0,03 m), o que
corresponde a diâmetros de 2,23 a 27,06
cm, respectivamente. Da mesma forma,
para os 35 perfilhos amostrados, as alturas variaram entre 0,05 e 0,58 m (média de 0,25 m, DP de 0,16 m, CV de
63,52% e IC de 0,06 m), e os perímetros entre 0,06 e 0,26 m (média 0,14 m,
DP de 0,06 m, CV de 43,39% e IC de
0,21 m), equivalentes a 1,91-8,28 cm de
diâmetro, respectivamente. O número de
folhas verdes da haste principal variou
de 3 a 18 (média de 7,17, DP de 2,78,
CV de 98,66% e IC de 0,62), enquanto
a área foliar estimada dessa mesma haste
esteve entre 0,69 e 100,09 m2, com média de 14,32 m2 e CV de 98,66%.
O CV variou entre 37,50% (para o
perímetro da haste principal) e 98,66%
105
F. V. A. Vega et al.
Figura 1. Ajustes de curva para estimativa da fitomassa da pupunheira (kg planta-1), com
base em matéria seca, em função da área foliar estimada (m2), número de folhas, altura até a
inserção da folha +1 (m) e perímetro da planta na região do colo (m). Ubatuba, IAC, 2002.
(correspondente à estimativa da área
foliar total da haste principal). Esses resultados indicam que além da variabilidade amostral, tomada exatamente para
representar o desenvolvimento da palmeira desde a implantação no campo até
plantas próximas do estádio de reprodução, há ainda a grande variabilidade
genética do material atualmente disponível ao agricultor. Em experimentos
conduzidos a campo, observa-se que o
coeficiente de variação foi sempre elevado para os diferentes caracteres avaliados, estando entre 21 e 81%, mesmo
para plantas da mesma origem e idades
(Chalá, 1993; Ares, et al. 2002a).
As etapas de pesagem para a obtenção da fitomassa com base em matéria
seca tornaram evidente que o teor de
água da planta como um todo e de seus
diferentes componentes é altíssimo, variando de 67,3% para as folhas a 91,4%
para o estipe e o palmito, com média
geral de 79,3% de umidade. Há uma
pequena variação no teor de umidade da
planta em função do tamanho da mesma. Plantas menores têm maior teor de
água nas folhas que plantas maiores
(69,9% para plantas <1,5 m e 65,5%
para plantas >1,5 m). Não obstante,
106
quando se compara o teor total de umidade na planta, nota-se que a umidade é
maior em plantas mais altas (78,1% para
plantas <1,5 m e 80,1% para plantas
>1,5 m). Isso ocorre devido a maior contribuição do palmito e do estipe macio
ao longo do tempo.
Foram testadas diferentes equações
para o cálculo da estimativa de fitomassa
da pupunheira em relação à área foliar,
número de folhas, altura e perímetro,
observando-se que a variável com pior
ajuste foi sempre o número de folhas. O
melhor ajuste, expresso comparativamente na figura 1 para todas as variáveis, foi obtido quando do uso da área
foliar, com coeficiente de determinação
elevado (R2= 0,98). Resultados semelhantes foram obtidos por Szott et al.
(1993) ao estimar a biomassa de
pupunheira adulta. No entanto, a estimativa da área foliar é obtida de forma
indireta, demandando análises
destrutivas a campo e trabalho considerável, posteriormente executado em laboratório. Estimativas do índice de área
foliar, e conseqüentemente da área
foliar, mais diretas e sem necessidade
de análises destrutivas, têm sido obtidas por meio da transmitância da radia-
ção a vários ângulos, usando-se equipamento apropriado (Lamade, 1997; Hicks
e Lascano, 1995; Weles e Norman,
1991). Não obstante, há necessidade de
validação do procedimento usando-se
métodos tradicionais, de natureza
destrutiva, ainda que seja em amostras
pequenas (Welles, 1990; Eschenbach e
Kappen, 1996).
Considerando as variáveis de mais
fácil mensuração, concluiu-se que a altura foi a que apresentou melhor correlação com a fitomassa. A estimativa da
fitomassa área das plantas-mãe com
base na altura variou de 0,02 a 21,20 kg,
(média de 2,44 kg, DP de 2,91 kg, CV
de 118,88%, IC de 0,64 kg), e esteve
entre 0,01 a 0,08 kg (média de 0,02 kg,
DP de 0,02 kg, IC de 0,01 kg) para os
perfilhos. Os coeficientes de determinação da fitomassa aérea, tendo a altura
como variável independente, mostraram
sempre maior magnitude do que a mesma estimativa obtida por meio do perímetro. A maior utilidade da variável altura, em comparação à variável diâmetro ou perímetro, para expressar respostas de crescimento e produção da
pupunheira visando a produção de palmito, já tinha sido anteriormente reportada por Bovi et al. (1993a) utilizando
pupunheiras adultas da mesma raça
(Yurimaguas) aqui estudada.
Dentre todas as equações testadas
que utilizam a altura para a estimativa
da fitomassa, a descrita na figura 1
(R2=0,89) foi a que apresentou menor
número de parâmetros (a e b) e, quando
comparada com o perímetro (R2=0,76),
melhor distribuição dos dados na curva. Tais resultados são discordantes dos
reportados recentemente por Ares et al.
(2002a), para os quais o uso do diâmetro da planta foi a variável que melhor
se ajustou para calcular a biomassa de
pupunheiras com 1,9 a 21 anos em cultivo na Costa Rica. Não obstante, os
autores reconhecem que a melhor equação (y= a*xb, R2 = 0,85), por eles reportada, superestimou a biomassa total (e
dos componentes desta) em plantas
compreendidas entre a fase do estabelecimento a campo e a fase de rápido
crescimento. A experiência mostra que
a superestimativa pode ser devido a uma
série de fatores, dentre eles, as dificuldades de se medir o diâmetro na altura
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Relações alométricas para estimativa da fitomassa aérea em pupunheira
convencionada no estudo supracitado (5
cm); diferentes profundidades de plantio; variação da medida em função da
senescência das folhas; e erros na tomada da medida, visto que a haste da
pupunheira não é perfeitamente cilíndrica. Já a altura pode ser medida com
maior precisão, desde que se utilizem
os critérios reportados por Clement e
Bovi (2000).
Estabelecida uma comparação gráfica 1:1 dos dados observados com os
calculados das equações anteriormente
mencionadas (gráficos não apresentados), observa-se que, de uma forma geral, as equações que utilizam a altura
como variável independente são as que
têm melhor aproximação aos dados reais
(R2= 0,91), especialmente para as alturas até 3,0 m, tamanho máximo para o
corte econômico do palmito. Quando a
variável independente é o perímetro da
planta, os dados observados e os estimados encontram-se muito dispersos.
Por sua vez, quando do uso da área foliar como variável independente para se
estimar a fitomassa observa-se um grau
de determinação bastante elevado (R2=
0,99), o que sugere a grande precisão
do uso da área foliar para esse cálculo.
No entanto, como discutido anteriormente, esse ainda é um parâmetro de difícil medição, tornando pouco prática,
e bastante demorada, a sua obtenção
rotineira. Devido ao alto ajuste obtido
quando do uso da altura da haste principal (em comparação com o perímetro),
essa seria a medida direta mais rápida
de ser obtida e mais adequada a ser empregada em trabalhos relacionados ao
cultivo da pupunheira para produção
comercial de palmito.
A contribuição dos perfilhos para a
fitomassa total durante a primeira fase
da cultura (plantio até a primeira colheita de palmito) é bastante pequena, como
pode ser visualizada na figura 2. Plantas com 12 meses a campo possuíam
altura da haste principal variando de 0,14
a 2,16 m, fitomassa aérea estimada da
haste principal entre 0,25 a 2,88 kg e
fitomassa aérea dos perfilhos entre 0 e
0,07 kg. A fitomassa aérea total (haste
principal e perfilhos) variou de 0,25 a
2,95 kg por planta, correspondente a 1,20
a 14,25 kg por planta de massa fresca.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 2. Comparação gráfica entre a fitomassa (kg planta–1) da haste principal (planta
mãe) e dos perfilhos, em função da altura (do solo até a inserção da folha +1) de pupunheiras
com 12 meses a campo. Ubatuba, IAC, 2002.
A grande dispersão dos dados mostra a variabilidade genética ainda presente no material disponível ao agricultor e o nível acentuado de resposta aos
tratamentos impostos apresentados pela
pupunheira. A contribuição dos perfilhos
para a fitomassa aérea total, ainda que
bastante pequena e desuniforme (considerando plantas individuais), vai aumentando à medida que a planta cresce.
No experimento em estudo, foi observado que em plantas com até 50 cm de
altura da haste principal, a fitomassa dos
perfilhos representava apenas 0,48% da
fitomassa total. No intervalo entre 51 e
100 cm de altura observou-se uma contribuição de 0,76%, passando para
1,17% no intervalo 101 a 150 cm.
Pupunheiras nas quais a haste principal
media de 151 a 216 cm de altura, e que
correspondem à faixa de plantas com
hastes aptas para colheita de palmito,
apresentaram fitomassa dos perfilhos
estimada em apenas 2,03% da fitomassa
total. Tal fato sugere que a dominância
da planta-mãe é muito grande até esse
estádio de desenvolvimento e indica
que, em plantas com até 2,16 metros de
altura, estimando-se a fitomassa aérea
apenas da haste principal, obtém-se uma
precisão adequada da fitomassa aérea
total da touceira.
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Desidratação de sementes de quatro lotes de pupunheira: efeitos sobre a
germinação e o vigor
Marilene L.A. Bovi1; Cibele Chalita Martins2; Sandra Heiden Spiering1
IAC, Centro de Horticultura, C. Postal 28, 13001-970 Campinas–SP; E-mail: [email protected]; 2FCA/UNESP, Produção Vegetal,
C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP
1
RESUMO
ABSTRACT
Com o objetivo de verificar o efeito da desidratação sobre a germinação e o vigor de sementes de pupunheira inerme (Bactris
gasipaes Kunth), quatro lotes de sementes, colhidos nas localidades
de Yurimaguas, Peru; Camamu e Piraí do Norte, BA e Pindorama,
SP, foram submetidos à secagem em câmara seca a partir das testemunhas não desidratadas, retirando-se amostras a cada 24 horas. O
efeito da desidratação sobre a qualidade das sementes foi avaliado
por meio de teste de germinação (184 dias da semeadura, em
vermiculita, 20-30oC), primeira contagem de germinação (36 dias),
velocidade de germinação e teor de água das sementes. Comprovou-se que sementes dessa espécie são sensíveis à desidratação, com
germinação inicial alta (59 a 84%) quando não desidratadas (47 a
38% de umidade inicial). Teores de água abaixo da faixa de 28 a
23% reduziram significativamente a germinação e o vigor. Todas as
sementes com teores de umidade abaixo de 15% (lotes 2 e 4) e 13%
(lotes 1 e 3) morreram.
Dehydration effects on germination and vigor of four pejibaye
seed lots
The dessication tolerance of four seed lots of spineless pejibaye
(Bactris gasipaes Kunth) harvested at Yurimaguas (Peru); Camamu
and Piraí do Norte (Bahia State, Brazil) and Pindorama (São Paulo
State, Brazil) was identified. The seeds were dried in a drying
chamber starting with undried controls. Samples were drawn every
24 hours. Dessication effects were evaluated by means of germination
test (until 184 days, vermiculite, 20-30oC), germination first counting
(36 days), germination speed and seed water content. It was verified
that seeds from that species are susceptible to dehydration, with
higher initial germination percentage (59 to 84%) when undried (47
to 38% of water content). Water contents lower than 28 to 23%
reduced significantly seed germination and vigor. All seeds died when
the seed water content was lower than 15% (seed lots 2 and 4) and
13% (seed lots 1 and 3).
Palavras chave: Bactris gasipaes, deterioração da semente, recalcitrante, teor de água crítico, teor de água letal.
Keywords: Bactris gasipaes, peach palm, seed deterioration,
recalcitrance, critical water content, lethal water content.
(Recebido para publicação em 09 de abril de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003)
A
pupunheira (Bactris gasipaes) é espécie produtora de palmito,
hortaliça não convencional, largamente
cultivada no Brasil e em vários países
da América Latina. A expansão da área
de cultivo, realizada a partir da década
de 90, fez crescer a procura por sementes e mudas dessa palmeira, particularmente sobre ecótipos inermes, que por
não apresentarem espinhos, facilitam os
tratos culturais. No entanto, os conhecimentos sobre a fisiologia da germinação dessa espécie são ainda limitados,
sendo essenciais para o desenvolvimento de tecnologias favoráveis à produção
e à conservação de suas sementes.
Sementes de Bactris gasipaes foram
classificadas como recalcitrantes
(Ferreira e Santos, 1992). As sementes
recalcitrantes apresentam teores de água
definidos como críticos, abaixo dos
quais a viabilidade é reduzida. Apresentam também, teores de água letais, relacionados à perda total da viabilidade
(Probert e Longley, 1989; Hong e Ellis,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
1992). O conhecimento dos teores de
água crítico e letal de uma espécie é indispensável para o planejamento e a
execução da secagem e do armazenamento das sementes, pois o teor de água
é um fator determinante do comportamento das sementes recalcitrantes. Nessas sementes, a água sub-celular está
fortemente associada às superfícies
macromoleculares assegurando, em parte, a estabilidade de membranas e
macromoléculas. A perda de água estrutural durante o processo de secagem
causaria a alteração de sistemas metabólicos e de membranas, resultando no
início do processo de deterioração
(Farrant et al., 1988).
Em estudos com lotes de sementes
provenientes de diferentes locais ou de
ecótipos de uma mesma espécie é considerada a existência de uma faixa, e não
de um valor único, para teores de água
crítico e letal. Isso ocorre devido a sensibilidades diferenciadas na tolerância
à perda de água observadas dentro de
uma mesma espécie (Ellis et al., 1991;
Martins et al., 1999 abc), de acordo com
o habitat de origem, condições
agrobioclimáticas de cultivo e a diversidade genética (Farrant et al., 1988;
Martins et al., 1999 abc).
O objetivo do estudo foi verificar o
efeito da desidratação de sementes de
pupunheiras inermes sobre a germinação e o vigor.
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos foram colhidos em
Yurimaguas, Peru; Camamu e Piraí do
Norte, BA e Pindorama, SP, em plantas
matrizes selecionadas para vigor e ausência de espinhos. Tão logo colhidos,
os frutos foram despolpados, e as sementes lavadas e enviadas para Campinas. Cada lote de sementes foi dividido
em nove sub-lotes, de peso similar. Um
dos sub-lotes foi mantido sem secagem,
constituindo o tratamento testemunha e
os demais sub-lotes foram colocados em
109
M. L. A. Bovi et al.
Figura 1. Curvas de secagem dos quatro lotes de pupunheira. L1 – Yurimaguas, Peru; L2 –
Camamu, BA; L3 – Piraí do Norte, BA; L4 – Pindorama, SP. Campinas, IAC, 2001.
36 dias após a semeadura) e o índice de
velocidade
de
germinação,
contabilizando-se, semanalmente, até
184 dias da semeadura, as plântulas
emersas e adaptando-se o critério estabelecido por Maguire (1962).
Na avaliação, foi considerado como
teor de água crítico aquele a partir do
qual houve redução significativa na porcentagem de germinação. Considerouse como teor de água letal, aquele a partir do qual não houve germinação das
sementes (Hong e Ellis, 1992).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com
os tratamentos em quatro repetições. Foi
efetuada a análise de variância, aplicando-se o teste F e comparando-se médias
dos tratamentos pelo teste Tukey (5%).
A análise conjunta dos dados relativos
dos quatro lotes foi realizada via regressão e ajuste de curva, utilizando-se o
modelo sigmoidal de Boltzman.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2. Germinação média relativa de quatro lotes de pupunheira em função da redução
média do teor de água das sementes. Campinas, IAC, 2001.
bandejas dentro de câmara seca, retirando-se um sub-lote a cada 24 horas de
secagem. Nesse ambiente, a temperatura e a umidade relativa do ar foram
28,5±2,5oC e 40±10%, respectivamente. A determinação do teor de água das
sementes foi realizada antes e após os
diversos períodos de secagem, utilizando-se o método da estufa a 105 ± 3oC
por 24 horas, e três subamostras de três
110
sementes inteiras. O efeito da desidratação foi avaliado por meio de teste de
germinação, utilizando-se quatro
subamostras de 20 sementes por tratamento, em vermiculita, a 20-30°C e luz
(78 µmol s -1m -2 por 8 horas),
contabilizando-se as plântulas normais
emersas 184 dias após a semeadura.
Como medidas do vigor, foi utilizada a primeira contagem (efetuada aos
A Figura 1 mostra a relação entre o
teor de água das sementes e o tempo de
secagem, obtida pelo método utilizado.
O processo de secagem adotado pode
ser classificado como lento (Pammenter
et al., 1998), pois demandou 192 horas
para que o teor de água inicial das sementes (47 a 38%) baixasse para 14 a
8%. A desidratação progressiva intensificou o processo de deterioração, como
verificado na porcentagem média relativa de germinação (Figura 2) e também
na análise, por lotes, da distribuição da
germinação ao longo do tempo e do índice de velocidade de germinação (Tabela 1), confirmando o comportamento
recalcitrante das sementes de Bactris
gasipaes, anteriormente reportado por
Ferreira e Santos (1992) para o ecótipo
mesocarpa com espinhos. Para cada lote
de sementes estudado, observa-se que
antes mesmo de ser atingido o teor de
água crítico, quanto menor o teor de
água das sementes, maior o tempo necessário para a germinação (Tabela 1).
A deterioração causada pela desidratação das sementes de palmeiras, como
Euterpe edulis, E. espiritosantensis e E.
oleracea (Martins et al., 1999 abc) e
Chrysalidocarpus lutescens (Becwar et
al., 1982) afeta, também, o vigor, daniHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Desidratação de sementes de quatro lotes de pupunheira: efeitos sobre a germinação e o vigor
Tabela 1. Médias dos parâmetros utilizados na avaliação dos teores crítico e letal de água de quatro lotes de sementes de Bactris gasipaes.
Campinas, IAC, 2001.
Médias do mesmo lote, seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Lote 1 – Yurimaguas, Peru; Lote
2 – Camamu, BA; Lote 3 – Piraí do Norte, BA; Lote 4 – Pindorama, SP.
ficando as membranas celulares, tornando a germinação mais lenta e diminuindo o crescimento das estruturas das
plântulas (Becwar et al., 1982; Martins
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
et al., 1999 abc). Isso faz com que sementes e plântulas fiquem mais vulneráveis e sujeitas, por mais tempo, às
condições adversas do meio.
Em sementes recalcitrantes, a água
sub-celular está fortemente associada às
superfícies macromoleculares, assegurando em parte, a estabilidade de
111
M. L. A. Bovi et al.
membranas e macromoléculas. Farrant et
al. (1988) esclarecem que a perda de água
estrutural durante o processo de secagem
de sementes recalcitrantes pode causar
severas alterações dos sistemas metabólicos e de membranas, dando início ao processo de deterioração dessas sementes.
Os lotes estudados apresentaram
qualidades fisiológicas distintas, com
diferenças significativas de teor de água
inicial, germinação e índice de velocidade de germinação. Considerando esses fatores, a Tabela 1 mostra que para
as sementes não desidratadas, o lote 2,
com maior teor de água (46,6%), foi o
que apresentou menor porcentagem final de germinação (59,2%) e o lote 3,
com menor teor de água (38,3%), foi o
que apresentou maior porcentagem final de germinação. Os lotes 1 e 4, por
sua vez, mantiveram-se numa categoria
intermediária quanto ao teor de água
(43,4 e 43,9%, respectivamente) e germinação inicial (65,0 e 66,7%, respectivamente). Porcentagem final de germinação entre 95 e 40% foi reportado
anteriormente para 373 lotes de
pupunheiras inermes da mesma localidade (Bovi et al., 1994). Para sementes provenientes de germoplasma com espinhos
alguns autores relataram porcentagem
final de germinação variando de 64,4 a
86,3% (Coates-Beckford e Chung, 1987;
Carvalho e Müller, 1998).
Para todos os lotes, a secagem das
sementes até teores de água inferiores a
valores entre 23 a 28% reduziu significativamente a porcentagem de germinação e o vigor, caracterizando uma faixa
de teor de água crítico para a espécie
(Tabela 1). A mortalidade total das sementes foi observada com a desidratação até teores de água abaixo de 13 a
15%, dependendo do lote, caracterizando a faixa de teor de água letal para a
pupunheira.
A faixa de teor de água crítico obtida no presente trabalho apresenta valores inferiores aos observados por
Ferreira e Santos (1992) e Carvalho e
112
Müller (1998) para sementes da mesma
espécie.
Por sua vez a faixa de teor letal é
superior à descrita por Carvalho e
Müller (1998) e inferior à relatada por
Ferreira e Santos (1992).
Há provavelmente, sensibilidade diferenciada na tolerância à perda de água
entre ecótipos de origem diferente dentro de uma mesma espécie (Farrant et
al., 1988; Ellis et al., 1991; Martins et
al., 1999ab). No presente trabalho foram utilizadas sementes do ecotipo inerme proveniente originalmente de
Yurimaguas, material genético responsável atualmente por acima de 95% da
pupunha cultivada no Brasil (Bovi,
1998). Por sua vez, as sementes utilizadas por Ferreira e Santos (1992) e também por Carvalho e Müller (1998) foram provenientes de material genético
com espinho, originário do Pará e de
Manaus, respectivamente.
A análise conjunta dos dados relativos dos quatro lotes (Figura 2) permitiu
estimar a que redução de água os valores crítico e letal correspondem. Dessa
forma, o teor de água crítico foi atingido quando houve perda igual ou superior a 40% do teor de água inicial das
sementes. Perdas iguais ou acima de
70% do teor de água inicial das sementes levaram à letalidade.
Comprovou-se que sementes de
pupunheira são recalcitrantes, com germinação inicial alta (59 a 84%) quando não sujeitas à desidratação (47 a
38% de umidade inicial). Reduções significativas na germinação e vigor iniciam-se a partir de teores de umidade
entre 28 e 23%. Houve diferenças entre lotes em relação à germinação e ao
vigor das sementes, e em relação à sensibilidade à desidratação, indicando
que essas características são influenciadas pela colheita e manuseio das sementes, pelas condições agrobioclimáticas de cultivo e, possivelmente, componente genético.
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
BLANK, A.F.; CARVALHO FILHO, J.L.S.; SANTOS NETO, A.L.; ALVES, P.B.; ARRIGONI-BLANK, M.F.; SILVA-MANN, R.; MENDONÇA, M.C.
Caracterização morfológica e agronômica de acessos de manjericão e alfavaca. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 113-116, jan-mar 2004.
Caracterização morfológica e agronômica de acessos de manjericão e
alfavaca
Arie F. Blank; José L.S. de Carvalho Filho; Antônio L. dos Santos Neto; Péricles B. Alves; Maria de
Fátima Arrigoni-Blank; Renata Silva-Mann; Marcelo da C. Mendonça
UFS, Av. Marechal Rondon s/n, Bairro Jardim Rosa Elze, 49100-000 São Cristóvão-SE; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O manjericão (Ocimum basilicum L.) pode ser considerado cultura anual ou perene, conforme o local de cultivo. Existem diversas
finalidades para seu uso na culinária, como planta ornamental, medicinal e aromática, sendo o seu oleo essencial valorizado no mercado internacional pelo teor de linalol. Caracterizou-se morfológica e
agronômicamente, acessos de Ocimum sp. visando a seleção de
genótipos com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. O
delineamento experimental foi de blocos casualizados, com duas
repetições, avaliando 55 genótipos do Banco de Germoplasma de
Ocimum da UFS. Avaliou-se a altura de plantas, peso da matéria
seca da parte aérea, teor e rendimento de óleo essencial. Observouse grande diversidade entre os genótipos para todas as variáveis
morfológicas e agronômicas avaliadas. Houve grande amplitude entre
os genótipos quanto ao teor de óleo essencial, variando de 0,202 a
2,536 ml/100g e para o rendimento de óleo essencial, variando de
1,103 a 21,817 l/ha. Avaliando as variáveis teor e rendimento de
óleo essencial de O. basilicum pode-se selecionar os genótipos
NSL6421, PI197442, PI358464, PI414194, PI531396 e ‘Fino Verde’ para o programa de melhoramento genético que visa a obtenção
de novas cultivares de manjericão com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol.
Morphologic and agronomic characterization of basil
accessions
Palavras-chave: Ocimum sp., germoplasma, diversidade, óleo essencial.
The sweet basil (Ocimum basilicum L.), can be an annual or a
perennial plant depending on the place where it is grown. This plant
has several culinary, ornamental, medicinal and aromatic uses. The
value of its essential oil in the international market depends on the
percentage of linalool. We characterized the morphologic and
agronomic qualities of the Ocimum accessions, to select genotypes
with higher yield of essential oil rich in linalool. Experiment design
consisted of randomized blocks with two replications, evaluating 55
genotypes of the Germplasm Bank of Ocimum from the Universidade
Federal do Sergipe, Brazil. The plant height, dry matter of the aerial
plant parts, essential oil content and yield were evaluated. A wide
diversity among the genotypes was observed for all morphological
and agronomical traits evaluated. A large amplitude occurred among
genotypes regarding the content of essential oil from 0,202 to 2,536
ml/100g. For the essential oil yield an amplitude from 1,103 to 21,817
l/ha was observed. Evaluating the traits content and yield of O.
basilicum essential oil the genotypes NSL6421, PI197442, PI358464,
PI414194, PI531396 and ‘Fino Verde’ can be selected for breeding
programs to obtain cultivars with a high yield of essential oil rich in
linalool.
Keywords: Ocimum sp., germplasm, diversity, essential oil.
(Recebido para publicação em 21 de março de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003)
O
manjericão (Ocimum basilicum L.,
Lamiaceae) é planta anual ou perene, dependendo do local em que é cultivado. Nos Estados Unidos da América o cultivo é de média escala e para
fins culinários, ornamentais e extração
de óleo essencial. Essa espécie é comercialmente cultivada para utilização de
suas folhas verdes e aromáticas, usadas
frescas ou secas como aromatizante ou
tempero. De acordo com Lawrence
(1993), a produção mundial de óleo essencial de manjericão em 1992 foi de
43 toneladas, equivalendo a 2,8 milhões
de dólares. Só os EUA importaram em
1988, 1.806 toneladas de manjericão
(folhas secas e óleo essencial), equivalente a 2,5 milhões de dólares (Simon,
1990). Esse valor aumentou para 4.195
toneladas de matéria seca em 1996,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
equivalente a 5,5 milhões de dólares
(USDA, 1998).
A nomenclatura botânica correta para
as espécies e variedades do gênero Ocimum
da família Lamiaceae, da qual o manjericão comercial está incluído, é de grande
interesse, uma vez que mais de 60 espécies
e formas têm sido relatadas, sendo
questionável a verdadeira identidade botânica do manjericão citado em algumas literaturas. A dificuldade em classificar mais
de 60 variedades de Ocimum basilicum L.
provavelmente se deve à ocorrencia de
polinização cruzada facilitando
hibridações, resultando em grande número de subespécies, variedades e formas.
De acordo com o aroma os manjericões podem ser classificados em doce, limão, cinamato ou canela, cânfora, anis e
cravo. Porém, para as características
morfológicas da planta o manjericão pode
receber uma nomenclatura dependendo do
porte, formato da copa, tamanho e coloração da folhagem (Simon, 1995; Perry,
1997). O conteúdo dos óleos essenciais
pode caracterizar os manjericões em tipo
Europeu, Francês ou Doce; Egípcio, Reunião ou Comoro; Bulgário, Java ou
Cinamato de Metila, e Eugenol sendo o
primeiro tipo o que contém principalmente
linalol e metil-cavicol. O óleo essencial
pode ser extraído das folhas e ápices com
inflorescências através de hidrodestilações
(Simon, 1985; Charles e Simon, 1990),
sendo o óleo mais valorizado no mercado
o de manjericão tipo Europeu (Simon et
al., 1990), cujos principais constituintes
são linalol (40,5 a 48,2%) e metil-cavicol
(estragol) (28,9 a 31,6%) (Fleisher, 1981;
Charles e Simon, 1990). O preço do óleo
113
A. F. Blank et al.
essencial de manjericão doce no mercado
internacional atinge valor próximo a US$
110,00/litro. Esse valor sugere que a implantação da cultura do manjericão doce
para obtenção de óleo essencial pode ser
promissora e uma atividade alternativa
para os produtores da região Nordeste.
Os vários tipos de manjericão relatados apresentam diferentes composições químicas.
Para se obter sabor e teor adequados
dos princípios que compões os óleos essenciais, plantios de vários tipos de
manjericão são realizados na mesma
área. Isso resulta em colheita de mistura de sementes(Simon, 1985). Através
de um programa de melhoramento genético poderiam ser obtidas cultivares
uniformes e padronizadas na composição do óleo essencial. Assim poderiam
ser obtidas cultivares adaptadas a determinada região, com alto rendimento de
óleo essencial rico em linalol. Uma das
fases mais importantes em programas de
melhoramento genético é a seleção de
genótipos com características desejadas.
Assim,
o
conhecimento
do
germoplasma disponível é essencial.
O presente trabalho objetivou caracterizar morfológica e agronômicamente
acessos de Ocimum sp. para seleção de
indivíduos, uso no programa de melhoramento da UFS e seleção de cultivares
adaptadas à região Nordeste do Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
Campus Rural da Universidade Federal
de Sergipe. Utilizou-se o delineamento
experimental de blocos casualizados, com
duas repetições, avaliando 55 genótipos
do Banco de Germoplasma de Ocimum
da UFS, sendo 39 acessos fornecidos pela
North Central Regional PI Station, Iowa
State University, EUA, 13 cultivares comerciais doadas pelas empresas Topseed
e Johnny’s Selected Seeds e três acessos
coletados em São Cristóvão-SE (Tabela
1). Cada repetição foi constituída por uma
fileira de 2,5 m com espaçamento de 0,5
m entre plantas e 0,8 m entre linhas.
Os genótipos em avaliação foram
costituídos em sua maior parte pela espécie O. basilicum, com excessão dos
genótipos PI 211715; PI 500952 e Alfavaca cravo (O. gratissimum) e do
genótipo Holy (O. sanctum).
114
As mudas foram produzidas em
ambiente protegido com tela sombrite
50%, em bandejas de isopor com 128
alvéolos com volume 30 ml de substrato
por alvéolo, e realizou-se duas irrigações diárias. A mistura de substrato utilizada foi composta de pó-de-coco, esterco bovino, e casca de arroz carbonizada nas proporções 1:1:1, sendo escolhida em ensaios preliminares de composições de substrato. Após sete dias da
semeadura ocorreu a emergência de
90% dos acessos, sendo que trinta dias
após à semeadura as mudas foram transplantadas para o campo. Para a preparação do solo realizou-se limpeza e posterior calagem com calcário dolomítico
para atingir saturação de bases de 60%,
dois meses antes da implantação do experimento. Como fonte de nutrientes
empregou-se esterco de galinha na proporção de 27,5 m3/ha. Após o primeiro
corte efetuou-se nova suplementação na
mesma proporção. Os tratos culturais
incluiram capinas e irrigação por
gotejamento.
As avaliações morfológicas foram
realizadas aproximadamente dois meses
após o plantio e em plena floração de pelo
menos 50% das plantas de cada acesso.
Foram avaliadas (a) largura da copa
(maior largura da copa, utilizando-se a
média para representar a parcela); (b) diâmetro do caule (com o auxílio de
paquímetro, na base do caule das plantas
anotando-se a média para representar a
parcela); (c) comprimento e largura das
lâminas foliares (obtidas aleatoriamente
duas folhas totalmente expandidas de
cada planta das parcelas úteis; anotou-se
as médias para representarem a parcela);
(d) relação comprimento/largura das lâminas foliares (calculada dividindo-se o
comprimento médio pela largura média
das folhas amostradas de cada parcela
útil); (e) hábito de crescimento (atribuiuse notas de 1 a 5 para as plantas da parcela útil, onde 1=planta ereta, nenhum
galho toca o solo; 2=planta com 25% dos
galhos baixeiros tocando o solo; 3=planta com 50% dos galhos baixeiros tocando o solo; 4=planta com 75% dos galhos
baixeiros tocando o solo; 5=planta com
100% dos galhos baixeiros tocando o
solo); (f) formato da copa (classificação
em arredondado, forma de taça, irregular, outros); (g) cor das folhas e nervuras
(de acordo com observações em campo);
(h) cor das sépalas e pétalas (determinadas por ocasião da abertura das flores);
(i) altura das plantas (obtida com o auxílio de fita métrica, utilizando-se a média
para representar a parcela); (j) peso da
matéria seca da parte aérea (corte das
plantas a 20 cm do solo, entre 14:00 e
16:00 horas. Secagem em estufa com fluxo de ar forçado a 40oC até peso constante); (k) teor de óleo essencial
[hidrodestilação com 50 g de biomassa
seca com destilador tipo Clevenger
(Guenther, 1972); teor expresso em ml/
100g de biomassa seca); (l) rendimento
de óleo essencial expresso em l/ha.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A grande maioria dos genótipos avaliados apresentou plantas eretas, com exceção dos genótipos Ames 1700; PI
170581; PI 358468; PI 368697; OCI-030;
OCI-032 e OCI-033 com 25% dos galhos
baixeiros tocando o solo. Em relação à
coloração das folhas, foram verdes, fazendo exceção o PI 174285; PI 182246; Red
Rubin; Osmin Purple (folhas roxas) e
OCI-030 com folhas verde+amarela. Para
coloração de nervura encontrou-se a maior
parte verde, com exceção de PI 174285;
PI 182246; Holy; Red Rubin; Osmin
purple (nervura roxa) e PI 174284 com
nervura verde+roxa.
Observou-se grande diversidade
para as variáveis largura de copa, diâmetro do caule, comprimento de folha,
largura de folha e relação comprimento/largura de folha de Ocimum sp. (Tabela 1). Quanto ao diâmetro do caule
notou-se que 52,94% dos acessos de O.
basilicum apresentaram diâmetro do
caule superior ou igual a 1,0 cm. Para a
espécie O. gratissimum, os acessos PI
211715 e Alfavaca Cravo foram superiores com médias de 1,72 e 1,30 cm, enquanto a espécie O. sanctum apresentou diâmetro de 1,19 cm (Tabela 1). Para
comprimento (C) e largura (L) e relação C/L de folha verificou-se grande
variabilidade (Tabela 1).
Não se obteve relação direta entre
altura de planta e peso de matéria seca
da parte aérea (Tabela 1). Suchorska e
Osinsk (2001), avaliando cinco acessos
de manjericão, observaram variação
genotípica na determinação das características da planta; assim o acesso da Alemanha apresentou plantas mais baixas e
o menor número de inflorescências, enquanto o egípcio apresentou as plantas
mais altas e obteve um maior número de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Caracterização morfológica e agronômica de acessos de manjericão e alfavaca
Tabela 1. Características de genótipos de Ocimum sp. Do Banco de Germoplasma da UFS. São Cristóvão (SE), UFS, 2002.
*Valores com letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p£0,05)
1/
Rel. C/L = Relação entre comprimento da folha/largura da folha
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
115
A. F. Blank et al.
Tabela 1. Características de genótipos de Ocimum sp. Do Banco de Germoplasma da UFS. São Cristóvão (SE), UFS, 2002. (Continuação)
*Valores com letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p£0,05)
1/
Rel. C/L = Relação entre comprimento da folha/largura da folha
inflorescências. Observou-se que a planta
com maior altura não resultou no maior
peso de matéria seca da parte aérea. Isso,
provavelmente, é devido à interação do
diâmetro da copa, do espaçamento entre-nós, do tamanho de folhas e do número de folhas por plantas.
Os acessos que se destacaram quanto ao peso de matéria seca da parte aérea por planta foram OCI-33, PI211715
e PI414194 com pesos de 92,95, 77,49
e 67,00 g/planta, respectivamente. Dentro das cultivares comerciais de O.
basilicum o Italian Large Leaf e o Fino
Verde destacaram-se significativamente com pesos de 63,05 e 52,10 g/planta.
Quanto à espécie O. basilicum, os
genótipos PI197442 e PI358472 apresentaram os maiores teores de óleo essencial com 2,536 e 1,957 ml/100 g, enquanto que o OCI-33 e PI197442 apresentaram os maiores rendimentos com 30,081
e 21,817 l/ha (Tabela 3). O acesso de O.
gratissimum mais produtivo foi PI211715
com teor de óleo essencial de 1,350 ml/
100g e produtividade de 26,295 l/ha.
Observou-se que 30% dos acessos apresentaram rendimento de óleo essencial
acima de 6 l/ha (Tabela 1). Em trabalho
realizado por Suchorska e Osinsk (2001)
foi observada variação de 0,1 a 0,55%
de óleo essencial.
Os genótipos de O. basilicum que se
mostraram mais promissores quanto ao
teor, rendimento e linalol (dados não apresentados) no óleo essencial foram
NSL6421 (81,40% de linalol), PI358464
(79,38% de linalol), PI531396 (78,30%
de linalol), PI414194 (71,62% de linalol),
116
PI197442 (61,57% de linalol) e ‘Fino Verde’ (77,04% de linalol). Estes poderão ser
usados em programa de melhoramento
genético visando a obtenção de novas cultivares com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. Esta grande variação no rendimento de óleo essencial para
as diferentes cultivares, também foi relatada por Charles e Simon (1990), Simon
(1995) e Morales e Simon (1997). O acesso PI211715 (72,42% de linalol) também
apresentou resultados promissores quanto às variáveis acima citadas e poderá ser
usado para desenvolver uma cultivar de
O. gratissimum rica em linalol. Suchorska
& Osinsk (2001), estudando cinco acessos de manjericão doce, observaram que
o óleo essencial do acesso do Egito, tipo
egípcio, foi diferente dos demais países
(Alemanha, Romênia e Hungria), que
apresentaram acessos com óleo essencial
tipo Europeu.
Avaliando teor e rendimento de óleo
essencial de O. basilicum pode-se selecionar os genótipos NSL6421,
PI197442, PI358464, PI414194,
PI531396, e ‘Fino Verde’ para o programa de melhoramento genético que visa
a obtenção de novas cultivares de manjericão com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. Esses seis
genótipos provavelmente apresentam
um conjunto de genes que poderão ser
utilizados para compor uma cultivar de
O. basilicum promissora.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao ETENE/
FUNDECI/BN pelo financiamento desta pesquisa e ao CNPq pela concessão
da bolsa de produtividade ao coordenador do programa de melhoramento de
manjericão Prof. Arie F. Blank.
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
RESENDE, G.M.; FLORI, J.E. Rendimento e qualidade de cultivares de pepino para processamento em função do espaçamento de plantio. Horticultura
Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 117-120, jan-mar 2004.
Rendimento e qualidade de cultivares de pepino para processamento em
função do espaçamento de plantio
Geraldo M. de Resende; José Egidio Flori
Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56300-000 Petrolina-PE; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o rendimento e a qualidade de cultivares de pepino
para processamento em diferentes espaçamentos de plantio, em
experimento em Petrolina (PE), de abril a julho/99. O delineamento
experimental utilizado foi de blocos casualizados sendo os
tratamentos dispostos no esquema fatorial 5 x 3, compreendendo
cinco cultivares (Calypso, Eureka, Supremo, Vlaspik e Vlasset) e
três espaçamentos entre plantas (0,20; 0,30 e 0,50 m) com três
repetições. A parcela experimental foi composta de quatro linhas de
3,0 m espaçadas de 1,00 m, com duas plantas por cova, sendo as
duas linhas centrais consideradas como área útil. Verificou-se efeitos
lineares negativos na produtividade com o incremento do
espaçamento entre plantas para as cultivares Vlaspik, Vlasset e
Eureka, e efeitos quadráticos com pontos de mínima e máxima
produtividade para as cultivares Calypso e Supremo. As maiores
massas frescas de frutos foram observadas nas cultivares Vlaspik
(35,44 g/fruto) e Vlasset (35,07 g/fruto) que não apresentaram
diferenças entre si. Observou-se efeito linear positivo com o aumento
do espaçamento entre plantas no número de frutos por planta para as
cultivares Vlaspik, Vlasset e Supremo. Para as cultivares Calypso e
Eureka constataram-se efeitos quadráticos com pontos de máximo
número de frutos por planta. Na classificação de frutos comerciais
não verificou-se efeitos significativos dos tratamentos.
Effect of plant spacing on the yield and quality of pickling
cucumber cultivars
Palavras-chave: Cucumis sativus, classificação, produtividade,
densidade.
Keywords: Cucumis sativus, grading, yield, density.
The yield and quality of pickling cucumber cultivars was
evaluated in Petrolina, Pernambuco State, Brazil, from April to June
of 1999. The experimental design was a complete randomized block,
with three replications in a 5 x 3 factorial scheme, with five cultivars
(Calypso, Eureka, Supremo, Vlaspik and Vlasset), and three planting
spaces (0.20; 0.30 and 0.50 m). Experimental plots consisted of four
rows spaced 1.00 m apart, with three meters in length and two plants
per hole. The main plot was comprised of the two central rows.
Negative linear effect on yield was observed with the increase of the
interplant spacing (inside the row) for the cultivars Vlaspik, Vlasset
and Eureka and the cultivars Supremo and Calypso showing quadratic
effects points of minimum and maximum. The greatest fresh mass
of fruits was found on the cultivars Vlaspik (35.44 g/fruit) and Vlasset
(35.07 g/fruit) with no statistical differences between them. Positive
linear effect for the number of fruits per plant was observed with
increasing interplant spacing for the cultivars Vlaspik, Vlasset and
Supremo. Quadratic effect was observed in ‘Calypso’ and ‘Eureka’
with maximum points of the number of fruits per plant. No significant
effect of the treatments was observed for the commercial fruit
production.
(Recebido para publicação em 4 de abril de 2003 e aceito em 22 de outubro de 2003)
A
evolução observada na olericultura
brasileira nos últimos anos mostra
tendência ao aumento do consumo de produtos processados com maior valor agregado. Dentre as hortaliças consumidas em
conserva, o pepino é uma das mais importantes (Costa, 2000). A cultura do pepino para processamento ocupa posição
de destaque na região Sul do Brasil, tendo
o estado de Santa Catarina como principal produtor nacional (Silva et al., 1992).
Nesta região, o cultivo desta olerácea para
produção de frutos destinados à industrialização é realizado, empregando-se híbridos ginóicos com elevado potencial de
rendimento de frutos (Espinola, 2000).
Contudo, sendo o pepino uma cultura que
requer grande intensidade de luz e longo
período de temperatura elevada, tendo
pouca resistência ao frio (Whitaker e
Davis, 1962; Knott, 1966), o período de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
entressafra no inverno das regiões Sul e
Sudeste é uma realidade que ocasiona
queda na produção e ociosidade da indústria (Nadal et al., 1986). Neste contexto,
os perímetros irrigados da região Nordeste e do Norte de Minas Gerais, emergem
com grande potencial de produção durante todo o ano, em função de suas condições climáticas.
A população ideal de plantas a ser
empregada é aquela suficiente para atingir o índice de área foliar (IAF) ótimo a
fim de interceptar o máximo de radiação
solar útil à fotossíntese e ao mesmo tempo maximizar a fração da matéria seca
alocada para os frutos. A população de
plantas afeta a penetração da radiação
solar no dossel e o equilíbrio entre o crescimento das partes vegetativas e dos frutos. Modificações na eficiência das fontes, através de uma alteração na popula-
ção de plantas ou do aumento da disponibilidade de radiação, afetam indiretamente a distribuição da matéria seca entre os órgãos da planta. Esse efeito ocorre de forma indireta, mediante alterações
no número de frutos em crescimento, os
quais modificam a capacidade de dreno
da planta (Marcelis, 1993; Hao e
Papadopoulos, 1999).
O manejo da cultura do pepino para
conserva tem como objetivo principal
maximizar o rendimento de frutos. Entretanto, a produção de frutos depende
diretamente do compartimento
vegetativo da planta, que é responsável
pela produção dos assimilados. Para
maximizar a produção de frutos é necessário, portanto, atingir a produção
potencial de assimilados em nível da
planta inteira e em seguida alocar para
os frutos a maior fração possível desses
117
G. M. Resende e J. E. Flori
assimilados. Uma das formas de manejo
da produção e da distribuição dos assimilados é através da população de plantas e da poda (Schvambach et al., 2002).
Hughes et al. (1974) citam que o
espaçamento mais comum para colheitas manuais é de 1,00 m entre fileiras e
0,15 a 0,20 m entre plantas, o que
corresponde a populações de 50.000 a
66.666 plantas/ha. Resende (1999) na
densidade de 66.666 plantas/ha (1,00 x
0,30 m com duas plantas por cova), destacou como mais produtivas as cultivares Indaial (29,72 t/ha), Score (26,46 t/
ha), Colônia (26,43 t/ha) e Ginga AG77 (26,12 t/ha). A cultivar Pérola foi a
que apresentou a produtividade significativamente mais baixa (13,91 t/ha). A
massa fresca do fruto e o número de frutos por planta variaram de 49,2 g
(‘PrimepaK’) a 67,4 (‘Pérola’) e 3,2
(‘Pérola’) a 7,7 frutos/planta (‘Indaial’),
respectivamente.
No trabalho de Resende e Flori
(2003) a produtividade comercial de frutos variou de 21,43 a 34,54 t/ha, enquanto a maior massa fresca de frutos foi
obtida pela cultivar Francipak (37,79 g/
fruto), não diferindo estatisticamente
das cultivares Flurry, Vlaspik, Vlasstar,
Eureka, Ginga AG-77, Supremo e
Navigator (34,05 a 36,24 g/fruto). A
cultivar Eureka apresentou maior número de frutos por planta (14,81 frutos/
planta), sem diferir estatisticamente das
cultivares Calypso, Primepak, Vlasset,
Fancipak, Imperial, Ginga AG-77,
Flurry e Panorama. Para classificação
de frutos comerciais, verificou-se uma
maior proporção de frutos tipo 1, tendo
todas as cultivares apresentado valores
superiores a 85%.
Estudando diferentes espaçamentos
entre plantas (0,75 m x 0,20; 0,30 e 0,40
m), Gebologlu e Sagllam (2002), verificaram maiores produtividades no
espaçamento com 0,20 m entre plantas,
enquanto Peil e Lopez-Galvez (2002)
observaram um decréscimo no número
e na biomassa dos frutos com o aumento da densidade de plantio. O efeito da
densidade de plantio foi maior em termos de matéria seca do que na matéria
fresca do fruto.
Não há muitas informações sobre o
plantio de pepino para processamento
nas condições do Vale do são Francisco
118
e neste contexto, o presente trabalho
objetivou determinar o efeito da população de plantas sobre cultivares de pepino para processamento, visando maior
rendimento e qualidade de frutos, como
uma nova alternativa agroindustrial para
a região.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
Campo Experimental de Bebedouro,
Embrapa Semi-Árido, Petrolina, de abril
a julho de 1999, cujas coordenadas geográficas são 9o 9' de latitude Sul e 40o
29' de longitude Oeste e altitude de
365,5 m em Latossolo Vermelho Amarelo com as seguintes características: pH
(H2O) = 6,4; Ca2+ = 2,4 cmolc/dm3; Mg2+
= 0,7 cmolc/dm3; Na+ = 0,04 cmolc/dm3;
K+ = 0,35 cmolc/dm3; Al3 = 0,04 cmolc/
dm3 e P/Mehlich = 24,78 mg/L. O delineamento experimental utilizado foi de
blocos casualizados sendo os tratamentos dispostos em esquema fatorial 5 x 3
compreendendo cinco cultivares
(Calypso, Eureka, Supremo, Vlaspik e
Vlasset) e três espaçamentos entre plantas (0,20; 0,30 e 0,50 m) em três repetições. As parcelas experimentais constaram de quatro linhas de 3,0 m espaçadas de 1,00 m, com duas plantas por
cova, sendo as duas linhas centrais consideradas como área útil.
Na adubação de plantio, feita com
base na análise de solo, utilizou-se 150
kg/ha de sulfato de amônio, 220 kg/ha
de superfosfato simples e 65 kg/ha de
cloreto de potássio. Também foram realizadas duas adubações em cobertura
com 150 kg/ha de sulfato de amônio,
fazendo-se a primeira aos 21 dias após
a semeadura (após o desbaste) e a segunda 15 dias após esta.
Foram realizadas irrigações por aspersão, três vezes por semana, sendo a
cultura mantida no limpo através de capinas manuais e conduzida sob sistema
rasteiro. Para controle de pragas foram
utilizados deltametrina e pirimicarb,
quando necessários, e para controle de
doenças semanalmente foram utilizados
preventivamente mancozeb e benomil,
pulverizados somente até o início da
floração (30 dias após a semeadura).
Após este período, foram utilizados somente produtos à base de enxofre e de-
tergente neutro, pulverizados semanalmente até o fim da colheita.
As colheitas foram feitas três vezes
por semana, iniciando-se aos 34 dias
após a semeadura e estendendo-se por
um período de 30 dias. Foram avaliadas a produtividade comercial estimada (t/ha), massa fresca de fruto (g), e
número de frutos por planta e classificação de frutos comerciais em percentagem. Foram considerados frutos comerciais os não deformados, retilíneos,
sem manchas e sem lesões e estes foram classificados em classe 1(frutos
com 6 a 9 cm de comprimento) e classe
2 (frutos com 9 a 12 cm de comprimento) (Resende, 1999). Os dados foram
submetidos à análise de variância e as
médias comparadas pelo teste de Tukey
para cultivares e regressão polinomial
para espaçamentos, com base no modelo quadrático, ao nível de 5% de probabilidade. Os dados originais de porcentagem foram transformados em arcopara a análise estatística,
seno
sendo apresentados nos resultados as
médias originais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito significativo para a
interação entre as cultivares e
espaçamentos entre plantas para as diferentes características avaliadas. Verificou-se que a maior produtividade comercial foi obtida no menor
espaçamento entre plantas (0,20 m) para
todas as cultivares avaliadas, onde
‘Vlaspik’ destacou-se com a maior produtividade média (29,06 t/ha), seguida
pela ‘Vlasset’ com 22,74 t/ha (Tabela 1).
Utilizando a mesma densidade de plantio, Resende (1999), avaliando diferentes cultivares encontrou resultados semelhantes em termos de produtividade
comercial de frutos. Para as cultivares
avaliadas no presente experimento, no
espaçamento de 1,00 x 0,30 m, Resende
et al. (2001) verificaram produtividade
superior variando de 30,97 a 39,78 t/ha;
no entanto, em plantio realizado de setembro a novembro, sob condições de
temperatura mais alta, favorável à cultura conforme relata Whitaker e Davis
(1962). Estes resultados são similares às
afirmações de Hughes et al. (1974) que
citam ser o espaçamento de 1,00 m enHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Rendimento e qualidade de cultivares de pepino para processamento em função do espaçamento de plantio
Tabela 1. Produtividade comercial, número de frutos por planta e por metro quadrado, massa fresca e classificação de frutos de cultivares de
pepino em função de espaçamentos de plantio. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1999.
Médias seguidas de mesma letra minúscula e maiúscula nas colunas não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
tre fileiras e 0,15 a 0,20 m entre plantas
o mais comum para colheitas manuais e
com Gebologlu e Sagllam (2002), que
avaliando diferentes espaçamentos entre plantas (0,20; 0,30 e 0,40 m), verificaram maiores produtividades no
espaçamento com 0,20 m entre plantas.
Verifica-se pela Tabela 1, com o aumento do espaçamento entre plantas,
maior número de frutos por planta em
todas as cultivares. As cultivares Vlaspik
e Vlasset sobressaíram-se com maior
número médio de frutos por planta
(12,92 e 10,98 respectivamente).
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Resende et al. (2001) encontraram valores oscilando entre 10,68 a 13,90 frutos/planta para as cultivares avaliadas
no espaçamento de 1,00 x 0,30 m, enquanto Resende e Flori (2003) obtiveram de 9,90 a 14,81 frutos/planta.
Verificou-se uma redução no número de frutos por metro quadrado com o
incremento do espaçamento entre plantas, sendo as cultivares Vlaspik e Vlasset
as que se destacaram com maiores produções médias de frutos (82,14 e 67,67
frutos/m2, respectivamente) (Tabela 1).
Estes resultados são concordantes com
Peil e Lopez-Galvez (2002) que observaram um decréscimo no número e na
biomassa dos frutos com o aumento da
densidade de plantio. Em cucurbitáceas,
de forma geral, altas densidades produzem grande número de frutos por área,
mas com tamanho, peso e número de
frutos por planta reduzidos. Esse fato,
segundo Robinson e Walters (1997), tem
sido atribuído principalmente às pressões de competição inter e intraplantas.
Nas baixas densidades, tem sido verificado o inverso, ou seja, produção total
menor com maior número de frutos por
119
G. M. Resende e J. E. Flori
planta, de tamanho e peso mais elevado. As pressões exercidas pela população de plantas afetam de modo marcante
o seu desenvolvimento. Quando a densidade de plantas aumenta por unidade
de área, atinge-se um ponto no qual as
plantas competem por fatores essenciais de crescimento, como nutrientes, luz
e água (Janick, 1968).
Não foram observadas diferenças
significativas entre os tratamentos, para
massa fresca do fruto (Tabela 1). No
entanto, verificou-se que as maiores
massas frescas de frutos foram apresentadas pelas cultivares Vlaspik (35,44 g/
fruto) e Vlasset (35,07 g/fruto). Resultados semelhantes são relatados por
Resende e Flori (2003).
Não se verificou efeitos significativos dos tratamentos na produção de frutos classe 1 (variação de 91,92 a 93,81%
entre as cultivares) e classe 2 (variação
de 6,18 a 8,07% entre as cultivares).
Resende e Flori (2003), utilizando o
espaçamento de 1,00 x 0,30 m, também
verificaram maior proporção de frutos
classe 1, nas mesmas cultivares estudadas, com variações de 85,83 a 92,21%.
Em função dos resultados obtidos,
verificou-se que o espaçamento de 0,20
m entre plantas é o mais indicado para
o cultivo de pepino para processamento
no Vale do São Francisco para todas as
120
cultivares avaliadas e que as cultivares
Vlaspik e Vlasset se destacaram com as
maiores produtividades.
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Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1metilciclopropreno
Maria Auxiliadora C. de Lima1; Ricardo E. Alves2; Clóvis Isberto Biscegli3; Heloísa A.C. Filgueiras2;
Fábio del M. Cocozza2
Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56300-970 Petrolina-PE; E-mail: [email protected]; 2Embrapa Agroindústria Tropical, C.
Postal 3761, 60511-110 Fortaleza-CE; E-mail: [email protected]; [email protected]; 3Embrapa Instrumentação
Agropecuária, 13560-970 São Carlos-SP; E-mail: [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o efeito de concentrações de 1-metilciclopropeno (1MCP) sobre o amaciamento da polpa (através da firmeza e de
tomografia de ressonância magnética), o desenvolvimento da região
de abscisão do pedúnculo, o comportamento respiratório e a qualidade pós-colheita de melão Galia ‘Solar King’, em temperatura
ambiente. Os frutos, provenientes do Polo Agrícola Mossoró-Assú
(RN), foram colhidos com a região do pedúnculo ainda íntegra e
tratados com solução contendo o fungicida Imazalil e a cera Megh
Wash, ambos na concentração de 20 ml 10 L-1. Os frutos foram submetidos a tratamento com 1-MCP, nas concentrações 0; 100; 300 e
900 nl L-1, e ao armazenamento sob temperatura ambiente (24,5 ±
0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR), durante 0; 4; 8; 12; 16 e 20 dias. Utilizouse o delineamento experimental inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4x6, com quatro repetições. O 1-MCP reduziu a atividade respiratória, atrasou o pico de produção de etileno e retardou
a evolução do amaciamento da polpa e o desenvolvimento da região
de abscisão do pedúnculo. Não foram verificados efeitos das concentrações testadas sobre a perda de massa, a acidez total titulável, o
pH, o teor de sólidos solúveis totais, o teor de açúcares solúveis
totais e a aparência externa. Contudo, a aparência interna dos frutos
tratados foi melhor, principalmente naqueles expostos a 300 nl L-1.
Esta concentração possibilitou, ainda, atividade respiratória mais baixa, frutos mais firmes e com menor desenvolvimento da região de
abscisão peduncular.
Postharvest storage of Galia ‘Solar King’ muskmelon treated
with 1-methylcyclopropene
The effect of 1-methylcyclopropene (doses of 1-MCP) on pulp
softening (through firmness and magnetic resonance imaging),
development of the stalk abscission layer, respiratory behavior and
postharvest quality of Galia ‘Solar King’ muskmelon was evaluated.
Fruits from the Mossoró-Assú Agricultural Region in Rio Grande
do Norte State, Brazil, were harvested when the stalk area was intact
and treated with a solution of Imazalil fungicide and the Megh Wash
wax, both at a concentration of 20 ml 10 L-1. The fruits were treated
with 1-MCP at concentrations of 0; 100; 300 and 900 nl L-1, and
stored at 24.5 ± 0.9ºC and 86.4 ± 7.9% RH for 0; 4; 8; 12; 16 and 20
days. The experiment used a completely randomized design in a
4x6 factorial arrangement with four replicates. 1-MCP reduced the
respiratory rate of fruits and delayed the peak in ethylene production,
pulp softening and the development of the stalk abscission layer.
There were no effects of 1-MCP on mass loss, total tititrable acidity,
pH, total soluble solids content, total soluble sugars content and
external appearance. However, the internal appearance of 1-MCP
treated fruits was better, particularly those exposed to 300 nl L-1.
This concentration also resulted in a lower respiratory rate, firmer
fruits and a slower development of the stalk abscission layer.
Palavras-chave: Cucumis melo var cantaloupensis, etileno, firmeza, tomografia, respiração, 1-MCP.
Keywords: Cucumis melo var cantaloupensis, ethylene, firmness,
NMR imaging, respiratory rate, 1-MCP.
(Recebido para publicação em 16 de abril de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003)
N
o principal agropolo produtor de
melão do Brasil, a região de
Mossoró-Assú, RN, o tipo Galia destaca-se como um dos mais cultivados
(Menezes et al., 1998a). Este tipo inclui
melões aromáticos reticulados de origem israelense, que se caracterizam pela
forma arredondada, casca verde que
muda para amarelo quando o fruto amadurece, polpa branca ou brancoesverdeada, pouca reticulação e massa
média entre 0,7 e 1,3 kg (Menezes et al.,
2000). Esse melão é bastante apreciado
pelo consumidor europeu, mas, segundo
Lester & Stein (1993), tem vida útil póscolheita de aproximadamente 14 dias.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Sua exportação depende, portanto, da utilização eficiente de técnicas de conservação.
Recentemente, o inibidor de etileno
1-MCP tem sido testado com eficiência
em alguns frutos com o objetivo de retardar o amadurecimento (Fan et al.,
2000; Argenta et al., 2001; Dong et al.,
2002; Watkins et al., 2002). O composto é um gás inodoro nas concentrações
necessárias para proteger as plantas, que
compete com o etileno pelos sítios de
ligação nos receptores das membranas
celulares (Sisler & Serek, 1997). Uma
vez ligado a estes sítios, o 1-MCP atrasa ou inibe aqueles eventos do amadu-
recimento que são dependentes de
etileno.
Resultados experimentais têm relatado efeitos do 1-MCP sobre a atividade respiratória, a produção de etileno, a
firmeza e a evolução da cor (Golding et
al., 1998; Fan et al., 1999, 2000;
Watkins et al., 2000; Argenta et al.,
2001; Dong et al., 2002; Jeong et al.,
2002). No caso de melões do tipo Galia,
cujas mudanças após a colheita envolvem essencialmente perda de firmeza,
respostas daquele tipo favoreceriam a
exploração de mercados mais distantes
com maior elasticidade de distribuição
e competitividade.
121
M. A. C. Lima et al.
Neste trabalho, avaliou-se o efeito
de diferentes concentrações de 1-MCP
no amaciamento da polpa, no desenvolvimento da região de abscisão do
pedúnculo, no comportamento respiratório e na qualidade pós-colheita de
melão Galia ‘Solar King’, em temperatura ambiente.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se melões Galia ‘Solar
King’ oriundos de plantio comercial da
Empresa Nolem Com. Imp. e Exportadora Ltda., localizado em Mossoró. Os
frutos foram colhidos quando a região
em torno do pedúnculo ainda apresentava-se sem sinais de abertura, seguindo critérios para exportação para o mercado europeu. Após a colheita, os frutos foram tratados, por meio do
pincelamento ao redor do pedúnculo,
com solução contendo o fungicida
Imazalil e a cera Megh Wash, ambos na
concentração de 20 ml 10 L-1, e transportados para o laboratório da Embrapa
Agroindústria Tropical, em Fortaleza.
Após seleção para descarte de frutos que exibissem danos decorrentes do
transporte, procederam-se os tratamentos com 1-MCP (SmartFresh, 3,3%
i.a.), nas concentrações 0; 100; 300 e
900 nl L-1. Os tratamentos foram realizados em câmaras herméticas com capacidade para 0,186 m3. Neste ambiente, o produto comercial foi dissolvido
em água a 50ºC, liberando o gás 1-MCP.
Os frutos foram mantidos expostos ao
1-MCP por 12 horas, sob temperatura
ambiente (aproximadamente 25ºC).
Após este período, foram armazenados
a 24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR, durante 0; 4; 8; 12; 16 e 20 dias.
O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado, em esquema
fatorial 4 x 6 (concentrações de 1-MCP
x tempo de armazenamento), com quatro repetições constituídas de um fruto
cada uma. Estudou-se: Atividade respiratória [(mg kg-1 h-1) em cromatógrafo a
gás CG modelo DANI 86.10 através de
detector de condutividade térmica
(150ºC), em coluna PORAPAK – N (4
m x 3,2 mm)]; Produção de etileno [(ml
kg-1 h-1) em cromatógrafo a gás CG modelo DANI 86.10 através de detector de
ionização de chama (200ºC), com as
características descritas anteriormente];
Perda de massa [(%) através da massa
122
individual do fruto no dia da colheita e
na data da avaliação, com balança semianalítica]; Firmeza da polpa [(N) pela
resistência da polpa à penetração, utilizando penetrômetro manual modelo FT
327, com ponteira de 8 mm de diâmetro]; Acidez total titulável [(ATT, % de
ácido cítrico) por titulação com solução
de NaOH 0,1 M]; pH [com
potenciômetro digital com eletrodo de
membrana de vidro]; Sólidos solúveis
totais [(SST, ºBrix) pela leitura em
refratômetro digital ATAGO PR 101,
escala de 0 a 45ºBrix, com compensação automática de temperatura]; Açúcares solúveis totais [(AST, %) extraídos
em água e determinado com reagente
antrona, conforme Yemn e Willis (1954)];
Aparência externa (notas de 0-5 onde 5=
ausência de depressões, manchas ou ataque de microrganismos; 4= traços de depressões e/ou manchas; 3= depressões e/
ou manchas leves; 2= depressões e/ou
manchas com média intensidade; 1= depressões e/ou manchas com intensidade
severa ou ataque de microrganismos e 0=
depressões e/ou manchas com intensidade muito severa ou ataque generalizado
de microrganismos); Aparência interna
(escala subjetiva de notas, de 5-0 onde
5= ausência de colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade;
4= traços de colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade;
3= colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade com intensidade leve; 2= colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade
com média intensidade; 1= colapso na
polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido
na cavidade com intensidade severa e 0=
colapso na polpa e/ou sementes soltas e/
ou líquido na cavidade com intensidade
muito severa); Abscisão do pedúnculo
(escala subjetiva de notas onde 4= ausência; 3= presença em menos de 25%
da região em torno do pedúnculo; 2= presença em mais de 25% e menos de 50%
da região; 1= presença em mais de 50%
e menos de 75% da região e 0= abscisão
de mais de 75% da região).
O amaciamento da polpa também foi
acompanhado por imagens de
tomografia de ressonância magnética
(RM), realizada aos 9 e 14 dias após a
colheita, em frutos tratados com 1-MCP
e previamente separados para este fim.
As imagens foram obtidas em
tomógrafo de ressonância magnética
nuclear Varian Inova de 2 Tesla, dispon-
do de uma bobina de radiofreqüência do
tipo gaiola com diâmetro interno de 14
cm e operando na freqüência de 85,53
MHz. O princípio de obtenção das imagens baseia-se na detecção dos prótons
de hidrogênio (H+), presentes essencialmente nas moléculas de água. As imagens bidimensionais foram geradas em
matrizes de 256 x 256 pixels, em 256
tons de cinza, em fatias de 2 mm de espessura e analisadas com relação à localização e textura dos graus de cinza.
Estes indicam o estado da água na polpa do fruto: mais móvel (livre) ou mais
ligada aos tecidos.
A atividade respiratória e a produção
de etileno foram avaliadas a intervalos
de tempo mais freqüentes que as demais
variáveis a fim de se caracterizar melhor
o padrão respiratório do fruto. As referidas variáveis não apresentaram
homocedasticidade das variâncias, conforme teste de Bartlett, não sendo, portanto, submetidas à análise de variância.
Optou-se, em ambos os casos, por apresentar as médias de cada concentração
de 1-MCP em cada tempo.
Para as demais variáveis, procedeuse às análises de variância e, para os
casos em que o tempo de armazenamento ou as concentrações de 1-MCP foram
significativos, às análises de regressão
polinomial. Quando houve efeito significativo da interação entre os fatores,
realizou-se o desdobramento das concentrações de 1-MCP em cada tempo de
armazenamento através de análise de
regressão polinomial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atividade respiratória e produção
de etileno
Os tratamentos com 1-MCP reduziram progressivamente a atividade respiratória até o décimo segundo dia após
a colheita (Figura 1A) e atrasaram o pico
de produção de etileno em três dias (Figura 1B). Até a ocorrência do pico, a
produção de etileno dos tratamentos
com 1-MCP também foi reduzida, observando-se os menores valores naqueles frutos tratados com 300 e 900 nl L-1.
Da mesma forma que para a atividade
respiratória, a partir do décimo segundo dia, os frutos submetidos à aplicação de 1-MCP exibiam produção de
etileno mais alta que os do controle. Já
aos 16 dias após a colheita, a irregulariHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1-metilciclopropreno
dade na taxa de produção de etileno sugere senescência dos frutos. Vários estudos têm demonstrado que o 1-MCP
reduz consideravelmente a atividade
respiratória e atrasa o climatério
(Golding et al., 1998; Fan et al., 2000;
Argenta et al., 2001; Dong et al., 2002).
Segundo Golding et al. (1998), a redução na atividade respiratória promovida pelo 1-MCP pode resultar de um efeito no metabolismo dos carboidratos.
Da mesma forma, os efeitos do composto na redução da produção de etileno
e no atraso na ocorrência do pico concordam com observações de Fan et al.
(2000), Watkins et al. (2000) e Dong et
al. (2002). A resposta permite estender
o período de conservação dos frutos uma
vez que está relacionada a atrasos em
eventos do amadurecimento, como
amaciamento da polpa, variações da
acidez total titulável e mudanças de cor
(Fan et al., 2000).
Perda de massa
Não se verificou efeito das concentrações de 1-MCP sobre a perda de massa, que aumentou apenas em relação ao
período de armazenamento (dados não
apresentados). Aos 20 dias após a colheita, o valor médio registrado foi de
4,34%, não se verificando sinal de murcha dos frutos. Menezes et al. (1998b)
observaram que o murchamento era uma
das principais características que conferiam perda de qualidade externa em
melão Galia, híbrido Nun 1380. Segundo os autores, com o uso de refrigeração, o problema se manifesta após 35
dias de armazenamento. A maioria dos
estudos realizados com 1-MCP não tem
avaliado seu efeito sobre a perda de
massa. As poucas observações
registradas não são concordantes. Em
laranja ‘Shamouti’, Porat et al. (1999)
registraram que o 1-MCP não afetou a
perda de massa. Por outro lado, Jeong
et al. (2002) obtiveram redução da perda de massa, até o oitavo dia de armazenamento a 20ºC, em abacates tratados com 1-MCP.
Amaciamento da polpa
A firmeza da polpa sofreu efeito da
interação entre os fatores estudados de
forma que os frutos que receberam 1MCP foram mais firmes até o final do
período (Figura 2A). A resposta foi dependente da concentração aplicada, senHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Atividade respiratória (A) e produção de etileno (B) de melão Galia ‘Solar King’
submetido a tratamento pós-colheita com 1-MCP e armazenado sob temperatura ambiente
(24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR). Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001.
do que 300 e 900 nl L-1 tiveram efeitos
praticamente idênticos, superando, até
o décimo sexto dia após a colheita, os
valores observados nos frutos tratados
com 100 nl L-1. A retenção da firmeza é
um dos efeitos mais relatados nos estudos com 1-MCP (Fan et al., 2000;
Argenta et al., 2001; Dong et al., 2002;
Jeong et al., 2002). O fato destaca a viabilidade da tecnologia já que a manutenção da firmeza representa um dos
fatores críticos que definem o período
de conservação dos frutos (Yoshioka et
al., 1994).
As imagens obtidas por tomografia
de RM (Figura 3) revelam que aos 9 dias
após a colheita, os frutos tratados com
1-MCP caracterizavam-se por menor
presença de água livre em volta das sementes (indicada pela textura mais clara). Os frutos do controle apresentavam
polpa suculenta mas ainda firme, com
presença de bastante água livre em volta das sementes, que estavam praticamente soltas. A polpa dos frutos que receberam tratamento com 100 nl L-1 de
1-MCP estava firme, menos suculenta
que a do controle e com menor concentração de água livre mas com sementes
praticamente soltas. Os frutos tratados
com 300 nl L-1, por sua vez, apresentavam polpa firme, o que é demonstrado
pela cor cinza escuro nas imagens e caracteriza água ligada. As sementes es123
M. A. C. Lima et al.
Figura 2. Firmeza da polpa (A) e abscisão do pedúnculo (B) de melão Galia ‘Solar King’
submetido a tratamento pós-colheita com 1-MCP e armazenado sob temperatura ambiente
(24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR). Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001.
tavam presas uma vez que havia pouca
água livre em volta delas. Da mesma
forma, os frutos que receberam 900 nl
L-1 exibiram polpa firme mas com sementes mais livres que o tratamento
anterior, conforme se verifica através da
textura mais clara.
Aos 14 dias após a colheita, observou-se presença generalizada de água
livre em todo o fruto e em volta das sementes, nos tratamentos controle e 100
nl L-1. Este último exibia regiões claras
e escuras com textura turva, indicando
a existência intercelular de líquidos livres. Neste caso, o fruto já se apresentava em degradação, com polpa totalmente macia. Por outro lado, os frutos
que receberam 300 e 900 nl L-1 apre124
sentavam-se com polpa firme e suculenta, com sementes praticamente soltas.
Esta resposta concorda com as observações da firmeza da polpa obtidas por
penetrômetro.
Ainda, em todos os tratamentos, aos 14
dias após a colheita, foi possível observar
áreas brancas e escuras, como regiões de
vascularização na polpa do fruto.
Acidez total titulável e pH
O 1-MCP não foi efetivo em alterar
a evolução normal, após a colheita, da
ATT e do pH do melão Galia ‘Solar
King’ (dados não apresentados). Os valores variaram apenas em função do
tempo de armazenamento. A ATT variou
entre os limites 0,06 e 0,10% de ácido
cítrico enquanto a variação do pH só foi
expressiva até o quarto dia após a colheita, com redução de 6,6 para 6,2. Ao
contrário do que foi obtido neste estudo, alguns autores encontraram que a
redução na evolução da ATT era uma
resposta à aplicação de 1-MCP (Fan et
al., 2000; Argenta et al., 2001; Watkins
et al., 2000; Dong et al., 2002). No entanto, além do efeito ser dependente de
fatores como espécie, cultivar (Watkins
et al., 2000) e estádio de maturação (Fan
et al., 2000), os melões não apresentam
variações acentuadas nesse e em outros
componentes químicos da qualidade interna. Menezes et al. (1998a) consideram que as variações na ATT de melão
não têm importância comercial devido
à baixa concentração.
Sólidos e açúcares solúveis totais
Também não houve efeito do 1-MCP
sobre os teores de SST e AST (dados
não apresentados). O primeiro variou
apenas como conseqüência do tempo de
armazenamento, diminuindo de 12,9 para
9,7ºBrix. Para o teor de AST, não houve
diferença significativa nem mesmo em
função do tempo, observando-se valor
médio de 8,1%. Esta resposta contradiz
a suposição de Golding et al. (1998) de
que o 1-MCP reduz a atividade respiratória através de efeito no metabolismo
dos carboidratos. É possível que a explicação não se aplique ao metabolismo de
alguns frutos já que outros estudos têm
confirmado a tendência obtida com o
melão Galia ‘Solar King’ (Fan et al.,
1999; Watkins et al., 2000).
Aparência
A aparência externa e a interna se
mantiveram em níveis aceitáveis para a
comercialização até aproximadamente
o décimo sexto dia (Figura 4A), sendo
que para a última foi observado efeito
das concentrações de 1-MCP (Figura
4B). Apesar de não se ter registrado incremento na vida útil pós-colheita com
o uso do inibidor de etileno, os frutos
tratados com 100; 300 e 900 nl L-1 tiveram melhor aparência interna, com notas, respectivamente, 7,05; 8,06 e 3,78%
superiores às do controle. A concentração mais eficiente foi 300 nl L-1 que
manteve a aparência interna dos melões
em melhores condições que as demais
(Figura 4B), associado a uma atividade
respiratória mais baixa (Figura 1A).
Abscisão do pedúnculo
O 1-MCP atrasou os eventos relacionados com a abscisão do pedúnculo nos
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1-metilciclopropreno
Figura 3. Imagens tomográficas de melão Galia ‘Solar King’ submetido a tratamento pós-colheita com 1-MCP e armazenado sob temperatura ambiente (24,5±0,9ºC e 86,4±7,9% UR). Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
125
M. A. C. Lima et al.
Figura 4. Aparência de melão Galia ‘Solar King’ durante o armazenamento sob temperatura
ambiente (24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR) (A) e submetido a tratamento pós-colheita com 1MCP (B). Os valores representados são médios das concentrações de 1-MCP aplicadas (A) e
do tempo de armazenamento (B). A linha paralela ao eixo das abscissas indica o limite de
aceitação do fruto para comercialização de forma que frutos com valores abaixo dela possuem
aparência inadequada para o mercado. Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001.
frutos tratados (Figura 2B) provavelmente como conseqüência do seu efeito sobre a produção de etileno. A associação pode ser bastante significativa
uma vez que o etileno está envolvido na
indução de enzimas que degradam compostos da parede das células localizadas naquela região (Lannetta et al.,
2000).
Aos oito dias após a colheita, o controle já apresentava mais de 75% da região com rachadura. Nos frutos que receberam 100 nl L-1, o mesmo foi obtido
somente aos 16 dias e naqueles tratados
com 300 e 900 nl L-1, aos 20 dias após a
colheita. Considerando-se a concentração mais econômica, recomenda-se 300
nl L-1 para fins de aplicação comercial
uma vez que, além do atraso na evolução da abscisão do pedúnculo, as duas
126
concentrações foram igualmente efetivas em atrasar o amaciamento da polpa
e apenas ligeiramente superior a 900 nl
L-1 quanto à preservação da aparência
interna.
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Efeito de composto orgânico sobre a produção e características comerciais de alface americana
Jony E. Yuri1; Geraldo M. de Resende2; Juarez C. Rodrigues Júnior3; José Hortêncio Mota1; Rovilson J.
de Souza1
UFLA, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; E-mail: [email protected]; 2Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56300-000 Petrolina–
PE; 3Agromax, R. Tiradentes, 12, 37750-000 Machado-MG
1
RESUMO
ABSTRACT
Doses de composto orgânico foram avaliadas na produtividade
e qualidade da alface americana em um ensaio em Três Pontas, de
08/07 a 30/08/02. O delineamento utilizado foi em blocos
casualizados com quatro repetições, sendo os tratamentos constituídos por cinco doses de composto orgânico (0,0; 20,0; 40,0; 60,0 e
80,0 t ha-1). A massa fresca total evidenciou um efeito quadrático, na
qual a produtividade máxima de 914,2 g planta-1, foi obtida com a
dose de 59,4 t ha-1 do composto orgânico. Para massa fresca comercial, a máxima produtividade (634,3 g planta-1), foi obtida com a
dose de 56,1 t ha-1. A maior circunferência da cabeça comercial (41,4
cm), foi obtida com a dose de 53,7 t ha-1. A dose de 42,7 t ha-1 proporcionou um comprimento de caule máximo de 3,9 cm. Diante
desses resultados, pode-se concluir que o uso de 56,0 t ha-1 de composto orgânico aplicado em pré-plantio, proporciona aumento de rendimento e qualidade comercial da alface americana.
Effect of organic compost on crisp head lettuce production
and commercial characteristics
Palavras-chave: Lactuca sativa L., produtividade, circunferência
da cabeça, comprimento do caule, adubo orgânico.
Doses of organic compost were evaluated on crisp head lettuce
production and quality in an experiment conduced in Três Pontas,
Brazil, from July 8th to August 30th. The experimental design was in
randomized complete blocks with four replicates, the treatments
being constituted by five doses of organic compost (0.0; 20.0; 40.0;
60.0 and 80.0 t ha-1). Total fresh matter showed a quadratic effect, in
which the maximum yield of 914.2 g plant-1 was obtained with the
dose of 59.4 t ha-1 of organic compost. For commercial fresh matter,
the maximum yield (634.3 g plant-1) was obtained with the dose of
56.1 t ha-1. The greatest commercial head circumference (41.4 cm)
was obtained with the dose of 53.7 t ha-1. The dose of 42.7 t ha-1
caused a maximum stem length of 3.9 cm. These results permit to
conclude that the use of 56.0 t ha-1 of organic compost applied in pre
plant provides an increase in yield and commercial quality of crisp
head lettuce.
Keywords: Lactuca sativa L., yield, head circumference, stem
length, organic manure.
(Recebido para publicação em 5 de maio de 2003 e aceito em 28 de novembro de 2003)
A
tualmente, com o aumento do número de redes de lanchonetes do
tipo “fast-foods”, vem se destacando um
grupo de alface denominada “crisp head
lettuce” ou tipo “americana” (Maluf,
2000). Esse destaque se deve, principalmente, às características apresentadas
por este grupo. A alface americana se
diferencia dos demais grupos por apresentar folhas externas de coloração verde-escura, folhas internas de coloração
amarela ou branca, imbricadas, semelhantes ao repolho e crocantes (Yuri et
al., 2002). Apresenta também maior
vida pós-colheita, possibilitando o transporte a longas distâncias (Decoteau et
al., 1995).
Em relação à alface americana destinada a uma rede de lanchonetes, temse observado que, produtores do sul de
Minas Gerais realizam a produção baseada, principalmente, no uso excessivo de fertilizantes minerais. Uma das
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
alternativas para contornar esse tipo de
problema estaria no uso de compostos
orgânicos. Tendo em vista o fato de o
sul de Minas Gerais ser grande produtor de café e leite, forneceria com facilidade matérias primas para a confecção de compostos orgânicos de qualidade, tais como casca de grão de café,
esterco de curral e capineiras. As altas
produtividades alcançadas por uso intensivo de adubos minerais e
agrotóxicos têm sido questionados nos
últimos anos, não só pelas contradições
econômicas e ecológicas, mas também
por desprezar aspectos qualitativos importantes da produção (Santos et. al.,
1994). Considerando-se este aspecto, e
também em virtude do alto custo de fertilizantes minerais, tem-se cultivado
hortaliças com adubos orgânicos de varias origens, visando melhorar as propriedades físicas e químicas do solo
(Costa, 1994).
O uso de composto orgânico permite melhora na fertilidade, além de ser
excelente condicionador de solo, melhorando suas características físicas, químicas e biológicas, como retenção de
água, agregação, porosidade, aumento
na capacidade de troca de cátions, aumento da fertilidade e aumento da vida
microbiana do solo, entretanto, o valor
fertilizante do composto depende do
material utilizado como matéria prima
(Miyasaka et al., 1997).
Diversos autores relatam a aplicação
de adubos orgânicos proporcionando
aumentos na produtividade e qualidade
da alface. Aumentos lineares no peso da
cabeça foram obtidos com doses de até
10,8 kg m -2 de esterco de curral
(Schneider, 1983). A aplicação de esterco de cama de aviário aumentou o rendimento de matéria seca em plantas de
alface, sendo os rendimentos mais elevados obtidos com as doses de 24 e 36 t
127
J. E. Yuri et al.
ha-1 (Nicoulaud et al., 1990). Aplicando
cinco doses de composto orgânico em
alface, Santos et al. (1994), verificaram
que a máxima produção de matéria fresca (321,69 g planta-1) foi obtida com a
dose de 65,69 t ha-1 de composto orgânico (MS), ocorrendo decréscimos com
o incremento das doses. Ricci et al.
(1994) estudando doses de composto
orgânico e vermicomposto, verificaram
produtividades iguais à testemunha, com
adubação mineral, sendo que com a utilização do vermicomposto obteve-se um
adicional de 3,4 t ha-1, em relação ao
composto orgânico. Estudando níveis de
composto orgânico, Vidigal et al. (1995)
verificaram produtividades lineares, tendo a dose de 2000 m3 ha-1 resultando em
produtividade de matéria fresca de
67,20 t ha-1 e seca de 36,95 t ha-1, sendo
verificados também efeito linear para
diâmetro da planta. Heredia. et al.
(1996), verificaram incrementos significativos no cultivo de alface (54,61%)
em relação à testemunha quando na incorporação de 14 t ha-1 de cama de galinha. Castro e Ferraz Jr. (1998) não verificaram diferenças estatísticas entre a
adubação com uréia, sulfato de amônio
e esterco de galinha na produção de
matéria verde e seca da alface cultivar
Aurélia. O composto orgânico, na presença da adubação mineral e na dose de
72,99 t ha-1, proporcionou uma produtividade de 51,62 t ha-1 de alface, sendo
que na ausência e com a dose de 95,67 t
ha-1 alcançou uma produtividade de
51,59 t ha-1 (Silva et al., 1998). Trani et
al. (2000), encontraram aumento linear
da produtividade quando se utilizou esterco de curral como adubo orgânico. De
acordo com Fontanetti et al (2002), o
uso de 40 t ha-1 de húmus de minhoca
seguido de adubação mineral, proporcionou melhores resultados na produção
de alface americana.
O presente trabalho tem como objetivo avaliar doses de composto orgânico na produtividade e qualidade da alface americana cultivada nas condições
do sul de Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
município de Três Pontas (MG), à altitude de 850 m, situado a 21º05’15’’ de
128
latitude Sul e 45º34’00’’ de longitude
Oeste. O clima da região é do tipo Cwa
com características de Cwb, apresentando duas estações definidas: seca (abril a
setembro) e chuvosa (outubro a março),
segundo a classificação climática de
Köppen. O tipo de solo predominante
na área é classificado como Latossolo
Vermelho Distroférrico.
O delineamento utilizado foi em blocos casualizados com quatro repetições,
sendo os tratamentos constituídos por
cinco doses de composto orgânico (0,0;
20,0; 40,0; 60,0 e 80,0 t.ha-1).
O composto orgânico utilizado foi
obtido seguindo as recomendações de
Mendonça (1998). Confeccionando-se
uma pilha de aproximadamente 1,5 m
de altura, com camadas alternadas de
casca do grão de café, esterco de curral
e palha triturada de Crotalaria sp. As
irrigações foram efetuadas de acordo
com a necessidade, baseadas em
monitoramentos semanais de umidade,
realizadas visualmente. O revolvimento
da pilha foi realizado três vezes durante
o processo de cura, que se encerrou após,
aproximadamente, 100 dias. A análise do
material, realizada no laboratório da
ESALQ revelou: umidade 46,19%; pH
(CaCl2) = 7,4; Matéria Orgânica = 191 g
kg-1; N = 1,0 dag kg-1; P2O5 = 0,48 dag
kg-1; K2O = 0,66 dag kg-1; Ca = 0,46 dag
kg-1; Mg = 0,2 dag kg-1; S = 0,11 dag kg-1;
Cu = 22 mg kg-1; Mn = 74 mg kg-1; Zn =
40 mg kg-1; Fe = 22862 mg kg-1; B = 2
mg kg-1; Na = 1511 mg kg-1; C/N = 11/1.
Com 30 dias de antecedência, efetuou-se a amostragem de solo para análise, cujos resultados foram: pH (CaCl2)
= 5,3; P (Mehlich) = 1 mg dm-3; K
(Mehlich) = 51 mg dm-3; Ca = 2,0 cmolc
dm-3; Mg = 1,0 cmolc dm-3; H+Al = 2,9
cmolc dm-3; Matéria Orgânica = 3,4 dag
kg-1; Zn = 0,5 mg dm-3; B = 0,2 mg dm-3;
SO-4 = 5,8 mg dm-3; T = 6,0 cmolc dm-3;
V = 51,7%. De acordo com os resultados, essa área foi previamente corrigida
com calcário dolomítico, elevando a saturação por bases para 70% (Ribeiro et
al., 1999). Três dias antes do transplantio
das mudas, efetuou-se nos canteiros, a
adubação de base com 65 kg ha-1de N,
600 kg ha-1 de P2O5 e 260 kg ha-1de K2O,
utilizando como fontes o adubo formulado 04-30-16 e superfosfato simples,
juntamente com as doses do composto
orgânico.
A área experimental foi demarcada
nos canteiros centrais da área de produção. As parcelas foram padronizadas
com 2,1 m de comprimento, onde se
possibilitou o plantio de 28 mudas, espaçadas a cada 0,30 m, entre plantas e
0,35 m entre linhas. Definiu-se como
área útil, as duas linhas centrais, onde
foram retiradas seis plantas para análises, descartando-se as duas plantas de
cada linha nas extremidades de cada
parcela.
O transplante das mudas de alface, cultivar Raider, foi realizado em 08/07/02.
Após essa operação, irrigou-se a área por
aspersão, diariamente, durante sete dias,
até o pegamento uniforme das plantas.
A partir do oitavo dia, até a colheita, a
irrigação foi realizada, também diariamente, por gotejamento. Juntamente
com a irrigação, realizaram-se as adubações de cobertura (fertirrigação),
totalizando 40 kg ha-1de N e 85 kg ha-1de
K2O, utilizando-se como fontes uréia e
cloreto de potássio.
Para evitar a ocorrência de lagartas
e míldio (Bremia sp.), comuns nesta
época do ano, foram efetuadas pulverizações semanais com produtos à base
de oxicloreto de cobre e piretróides. A
colheita foi efetuada em 30/08/02, quando se observou o máximo desenvolvimento vegetativo, apresentando cabeças comerciais compactas. Para a avaliação da
massa fresca total, as plantas foram cortadas rente ao solo e pesadas em balança,
modelo US.15/5 da marca Urano, com
precisão de 5 g. Para a massa fresca comercial, foram pesadas somente as cabeças comerciais, retirando-se as folhas externas. Na seqüência, efetuou-se a medida da circunferência da cabeça comercial,
passando a fita métrica ao redor da cabeça. Em relação ao comprimento de caule,
cortou-se a cabeça da alface longitudinalmente, assim, possibilitando a exposição
do caule, onde se efetuou a medição, com
uso de uma régua.
As análises de regressão foram realizadas seguindo esquema sugerido por
Pimentel Gomes (1990).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todas as características avaliadas
foram influenciadas pelas doses do composto orgânico utilizado. A massa fresHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Efeito de composto orgânico sobre a produção e características comerciais de alface americana
ca total evidenciou efeito quadrático, na
qual a produtividade máxima de 914,2
g planta-1, foi obtida com a dose de 59,4
t ha-1 do composto orgânico (Figura 1).
Estes resultados são superiores aos obtidos por Fontanetti et al. (2002), que
avaliaram a mesma cultivar, nas condições de Lavras e obtiveram a melhor
resposta, em termos de rendimento, com
a dose de 40,0 t ha-1. Já Santos et al.
(1994), verificaram que a máxima produção de matéria fresca (321,69 g planta-1) foi obtida com a dose de 65,69 t ha-1
de composto orgânico, com base na
matéria seca, ocorrendo decréscimos
com o incremento das doses.
Resultados similares foram observados para massa fresca comercial, sendo
a máxima produtividade (634,3 g planta-1), obtida com a dose de 56,1 t ha-1 do
composto orgânico (Figura 1). Para a
indústria, alface americana com elevados peso e tamanho de cabeça comercial
são desejáveis, pois estão diretamente
relacionadas ao rendimento no momento do processamento. O uso de 56,1 t ha-1
de composto orgânico, neste trabalho,
permitiu incremento de 21% no rendimento comercial, quando comparado
com a testemunha. Heredia et al. (1996),
verificaram incrementos significativos no
cultivo de alface (54,61%) em relação à
testemunha quando na incorporação de
14 t ha-1 de cama de galinha. Diversos
autores relatam a aplicação de adubos
orgânicos proporcionando aumentos significativos na produtividade da alface
(Schneider,1983; Nicoulaud et al., 1990;
Ricci et al., 1994; Vidigal et al., 1995;
Trani et al., 2000).
Para a circunferência de cabeça comercial, a maior medida, 41,4 cm, foi
obtida com a dose de 53,7 t ha-1 (Figura
2). Essa dose possibilitou incremento de
21% na circunferência da cabeça comercial em relação à testemunha. Efeitos
positivos no incremento da circunferência da planta são também relatados por
Vidigal et al. (1995).
O comprimento de caule é característica importante para a indústria, pois
está diretamente relacionado ao rendimento da matéria prima. O caule é descartado no momento do processamento,
sendo assim, caules muito compridos,
acima de 7 cm, representam perda de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Massa fresca total (MFT) e comercial (MFC) de alface americana, cultivar Raider,
em função de doses de composto orgânico. Santana da Vargem (MG), UFLA, 2002.
Figura 2. Circunferência de cabeça comercial e comprimento de caule de alface americana, cultivar Raider, em função de doses de composto orgânico. Santana da Vargem (MG),
UFLA, 2002.
material e, conseqüentemente, diminuição no rendimento. Neste experimento,
houve efeito significativo entre os tratamentos para o comprimento de caule.
A dose de 42,7 t ha-1 proporcionou comprimento máximo de 3,9 cm (Figura 2).
Esta medida está dentro de valores aceitáveis pela indústria. Em termos de comprimento de caule, para a cultivar
Raider, Yuri (2000), obteve valores de
3,6 e 4,5 cm, nas condições de Santo
Antônio do Amparo (MG) e, 2,7 e 3,2
cm, em Boa Esperança, em função de
épocas de plantio.
Nas condições em que foi realizado
o experimento e para o tipo de composto
orgânico utilizado, conclui-se que o uso
de 56,0 t ha-1 aplicado em pré-plantio,
proporciona melhor rendimento e qualidade comercial da alface americana.
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Aplicação de biossólido na implantação da cultura da pupunheira
Fernando Vinicio A. Vega; Marilene L.A. Bovi; Ronaldo Severiano Berton; Gentil Godoy Junior;
Matheus de A.R. Cembranelli
Instituto Agronômico, C. Postal 28, 13001-970 Campinas–SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliaram-se os efeitos de doses de biossólido aplicadas no sulco de plantio sobre a produção de fitomassa aérea de pupunheiras
durante o primeiro ano do cultivo. O experimento foi instalado em
Ubatuba (SP), tendo sido estudado quatro doses de lodo de esgoto
(equivalentes a 0; 100; 200 e 400 kg ha-1 de N), em esquema de
blocos ao acaso, com seis repetições e quatro tratamentos. Foram
utilizadas mudas com 10 meses de idade e densidade de plantio de
5.000 plantas ha-1. As respostas da planta às doses de biossólido foram avaliadas mensalmente, por meio de alguns caracteres diretamente relacionados ao crescimento e à produção de palmito. Com
base na altura da planta foi estimado o acúmulo periódico da
fitomassa aérea fresca da haste principal, ao longo do tempo. Houve
diferença estatística a partir do 5o mês de plantio para as diferentes
doses, tempo em que a planta se adaptou ao campo e em que os
nutrientes do biossólido começaram a ser assimilados. A resposta
positiva no acúmulo de fitomassa aérea da pupunheira ao aumento
de doses de biossólido antecipou o tempo para a primeira colheita
na dose mais elevada, com 15% de plantas prontas para corte já aos
12 meses após a implantação da cultura. Houve também aumento
no número de perfilhos por planta e na porcentagem de plantas
perfilhadas em função das doses. Um ano após a aplicação de
biossólido, pupunheiras da maior dose tinham, em média, cerca de
27 t ha-1 de fitomassa aérea total (base fresca), 3,3 perfilhos por planta
e 77% de plantas perfilhadas.
Sewage sludge application on peach palm (Bactris gasipaes
Kunth)
Palavras-chave: Bactris gasipaes, lodo de esgoto, crescimento,
palmito, pupunha.
Keywords: Bactris gasipaes, aboveground biomass, growth,
offshoots, palmito, pejibaye.
The effects of four doses of sewage sludge, applied in the planting
furrow, on the aboveground biomass production of peach palm during
the first year were evaluated. The experiment was carried out in
Ubatuba, São Paulo State, Brazil, in field conditions. Four doses of
biosolid (equivalent to 0; 100; 200 and 400 kg ha-1 of N) were studied
in a complete block experimental design, with six replications. Tenmonth old seedlings from Putumayo landrace were utilized, in a
planting density of 5,000 plants ha-1. Plant responses to biosolid doses
were evaluated every month, by means of some traits directly
correlated to peach palm growth and yield. Aboveground biomass
(fresh weight base) accumulation was estimated, based on plant
height. Statistical differences among doses were detected five months
after planting, probably due to plant acclimation and nutrient
assimilation. Anticipation of heart-of-palm harvesting could be
detected, with 15% of plants ready to be harvested when treated
with the dose of 400 kg ha-1 of N. An increase occurred in the number
of offshoots per plant and in the percentage of suckered plants per
plot as a function of biosolid doses. One year after sludge application,
in the maximum response treatment (400 kg ha-1 of N), was obtained
27 ton ha-1 of aboveground biomass, 3.3 offshoots per plant and 77%
of palms with offshoots were obtained.
(Recebido para publicação em 06 de maio de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003)
O
cultivo da pupunheira (Bactris
gasipaes Kunth.) para produção de
palmito vem se expandindo no Brasil
desde 1990, devido a uma série de vantagens quando comparado ao das espécies tradicionalmente utilizadas para
essa atividade. A pupunheira é a mais
precoce de todas as palmeiras atualmente em uso para a produção de palmito. A
formação de mudas é simples e rápida
(6 a 8 meses), levando em torno de 18 a
24 meses do plantio no campo à primeira
colheita (Bovi, 1998).
Um crescimento acelerado é fundamental para o uso da pupunheira para a
produção de palmito. Pelas características
próprias do cultivo, com colheitas freqüentes e escalonadas em função do desenvolvimento das hastes, as plantas apresentamse em permanente estádio vegetativo, e a
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
velocidade com que a fitomassa inicial se
acumula e é reposta novamente após cada
colheita, torna-se um indicador da produtividade e da vida econômica do cultivo (Clement e Bovi, 2000).
No entanto, a pupunheira é exigente
em propriedades físicas do solo (Jorge
e Bovi, 1994) e extrai grande quantidade de nutrientes do mesmo (Bovi e
Cantarella, 1996; Falcão et al., 1998;
Ares et al., 2002). A máxima produtividade é obtida somente com uso adequado de adubação (Bovi et al., 2002;
Schroth et al., 2002).
Embora precoce em relação a outras
palmeiras, reconhece-se que o crescimento e o desenvolvimento da
pupunheira dependem basicamente das
condições hídricas da área de cultivo
(Bassoi et al., 1999; Ramos, 2002; Ra-
mos et al., 2002) e das características
físicas e da fertilidade do solo. Dessa
forma, uma boa adubação inicial, feita
ainda no sulco de plantio, é determinante
para o crescimento da planta, contribuindo também para abreviar o tempo necessário para a primeira colheita (Bovi
et al., 2000).
Várias fontes de matéria orgânica
vêm sendo usadas na agricultura, como
esterco de curral, composto de lixo, resíduos vegetais, entre outros. Ultimamente, atenção tem sido dada ao uso
agrícola do biossólido. Resultados de
pesquisa com biossólido em agricultura indicam que ele possui todos os nutrientes exigidos pelas plantas, e que seu
emprego é altamente recomendável em
milho, café, cana-de-açúcar, citros, espécies florestais e outras plantas pere131
F. V. A. Vega et al.
nes, devido aos altos teores de matéria
orgânica (40–60%), nitrogênio (4%),
fósforo (2%), e micronutrientes em geral. Atua também como condicionador
do solo, melhorando as características
físicas, agindo ainda em processos químicos e biológicos (Silva et al., 1998;
Melo e Marques, 2000; Oliveira, 2000).
Este trabalho teve como objetivo
avaliar os efeitos de quatro doses crescentes de biossólido, aplicadas no sulco
de plantio, sobre a produção de
fitomassa aérea de pupunheiras durante
o primeiro ano do cultivo.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado a campo, em Ubatuba (SP) (23 o 27’S,
45o04’W, a 6 m de altitude). O clima da
região é “Cfa”, pela classificação de
Köppen, tropical quente e úmido, com
pluviosidade anual normal de 2841 mm,
evapotranspiração potencial normal de
992 mm, excedente normal de 1849 mm,
temperatura média anual de 20,8oC e
déficit hídrico nulo.
O solo, próprio da área agricultável
da região, é classificado como Aluvial
álico (Udifluvent), com boa drenagem.
É arenoso, com a composição
granulométrica na profundidade de 015 cm: 100 g kg-1 de argila, 140 g kg-1
de silte, 130 g kg-1 de areia fina e 630 g
kg-1 de areia grossa. A maiores profundidades há progressiva diminuição na
porcentagem de areia grossa e aumento
da areia fina. A porosidade total na profundidade de 0-20 cm é de 49,97%, sendo constituída por 29,65% de
macroporos e 20,32% de microporos. A
densidade global do solo está em torno
de 1,05 g cm-3 (Vega, 2003).
Devido à baixa saturação por bases
(21,3%) do solo foi feita aplicação de
calcário dolomítico (7 t ha-1) de forma a
elevar a saturação teórica por bases a
60%. Após calagem, o solo apresentou
as características químicas: pH CaCl2 5,4;
MO 22,18 g dm-3; Presina 7,94 mg dm-3;
1,60; 19,85; 8,88; 36,44 mmolc dm-3,
respectivamente de K, Ca, Mg e H+Al;
27,15; 1,46; 0,25; 0,24; 0,17; 0,03; 0,03
e 0,11 mg dm-3 respectivamente de Fe,
Mn, Cu, Zn, B, Cd, Cr e Ni; V 47,5%.
Foram avaliadas quatro doses de
biossólido, em esquema de blocos ao
132
acaso, com seis repetições (blocos), quatro tratamentos, 36 plantas por unidade
experimental, sendo as 16 centrais as
plantas úteis. Foram utilizadas
bordaduras duplas ao redor de toda a área
experimental. Utilizaram-se plantas de
pupunheiras sem espinhos (inermes) da
raça Putumayo, com 10 meses de idade.
Adotou-se a densidade de plantio de
5.000 plantas ha-1, a uma distância de 1
m entre plantas e 2 m entre linhas.
As doses empregadas foram calculadas levando-se em consideração as recomendações médias para o cultivo (200
kg N ha-1), preconizadas pelo IAC (Bovi
e Cantarella, 1996), a composição química média do lodo da Estação de Tratamento de Esgoto de Bertioga (com 40,1
g kg-1 de Nkj, 4,60 g kg-1 de NNH4 e 48,9
mg kg-1 de NNO3+NO2 na matéria seca) e
fórmulas descritas por Tsutiya (2001).
Dessa forma, resultaram em 0; 38; 76 e
152 t ha-1 de biossólido fresco (79,7% de
umidade), equivalentes a 0; 100; 200 e
400 kg de N por hectare.
Os tratamentos foram aplicados de
uma única vez no sulco de plantio, adicionando-se 15 g por planta de cloreto
de potássio como fonte de K2O. Foram
feitas adubações complementares com
15 g de cloreto de potássio e 2,4 de bórax
por planta, em três datas (3 e 9 meses
após plantio), com o objetivo de corrigir deficiências. Maiores informações
sobre o cálculo de doses e instalação do
experimento podem ser encontradas em
Vega (2003).
As respostas da planta às doses de
biossólido foram avaliadas mensalmente, por meio da altura da haste principal, medida do solo até a inserção da
folha+1. Com base nessa variável foi
estimado o acúmulo periódico da
fitomassa aérea fresca da haste principal, ao longo do tempo. Isso foi feito
por meio de equação y= axb cujos
parâmetros foram estimados por Vega
(2003). Como a produção de palmito é
avaliada pela massa fresca, optou-se por
calcular as respostas às doses de
biossólido na mesma base.
As medidas foram complementadas
com a avaliação do número e da altura
dos perfilhos por planta útil, realizada
aos 12 meses após o plantio, e com o
índice de área foliar (LAI) avaliado em
datas diferentes. Esse índice foi estima-
do utilizando o equipamento LI-COR
LAI 2000 (Li-Cor Incorporated,
Lincoln, NE, USA), segundo o método
descrito por Welles e Norman (1991) e
Lamade (1997). Foram feitas medidas
aos 3; 6; 9 e 12 meses de plantio.
Os dados obtidos para cada tratamento foram submetidos à análise de
variância, com comparação entre médias de tratamentos e do crescimento no
tempo (meses após o plantio) realizada
pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. Foi aplicada análise de regressão e ajuste de equações para modelar a
resposta das doses crescentes do
biossólido ao acúmulo da fitomassa,
com base na média dos tratamentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na evolução do desenvolvimento da
fitomassa aérea fresca da pupunheira
durante os 12 meses, observou-se que o
acúmulo inicial foi pequeno, sem haver
diferenças entre as doses até quatro
meses após a instalação do experimento (Figura 1). Diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos começaram a ser detectadas a partir do 5o mês
de plantio, quando os resultados encontrados para a dose 400 kg N ha-1 foram
significativamente maiores (média de
0,17 kg planta-1) que os dos demais. A
taxa de acúmulo da fitomassa foi aumentando, particularmente a partir do
sétimo mês, começando então a haver
diferenças estatísticas entre as doses de
biossólido e o tratamento testemunha.
A partir dessa data houve maior acréscimo na taxa de crescimento absoluto
em fitomassa, a qual perdurou até o décimo mês de plantio.
Entre o décimo e o décimo primeiro
mês ocorreu déficit hídrico acentuado
que causou menor taxa de crescimento
das plantas nesse período. Sintomas típicos de estresse hídrico puderam ser
visualizados nessa época. As chuvas
ocorridas após esse período restabeleceram a reserva hídrica do solo, com
conseqüente retomada do crescimento.
Observou-se que doses crescentes de
biossólido aumentaram de forma representativa a fitomassa total da pupunheira
ao longo do tempo, devido provavelmente à liberação gradual dos nutrientes disponíveis para as plantas (OliveiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Aplicação de biossólido na implantação da cultura da pupunheira
ra, 2000; Vega, 2003). Não houve efeito negativo, não ocorrendo diminuição
da produção de fitomassa mesmo na
dosagem maior, de 152 t ha-1 de lodo
fresco (400 kg ha-1 de N), correspondente a aproximadamente 32 t ha-1 de lodo
seco na dose máxima. Efeitos
fitotóxicos de doses elevadas de
biossólido foram reportados para algumas culturas. Tsutiya (2001) observou
em eucalipto (Eucalyptus grandis), que
doses maiores que 35 t ha-1 de biossólido
na base seca (biossólido da ETE
Barueri) a partir dos 22 meses de plantio causaram decréscimo no volume cilíndrico da planta (m3 ha-1).
Doze meses após a aplicação de
biossólido, as plantas que receberam a
dose máxima tinham mais que o dobro
da fitomassa aérea da testemunha (5,04
e 2,11 kg planta-1, respectivamente). Foi
elaborada equação geral de resposta do
acúmulo de fitomassa aos 12 meses em
função da aplicação de doses crescentes de biossólido no plantio. A equação
de melhor ajuste foi a quadrática:
y=a+bx+cx 2, com valores para a =
2,3318, b = 8,3738e-3 e c = -2,0477e-6, e
alto coeficiente de determinação (R2=
0,96). O coeficiente de variação do experimento esteve entre 24,27 e 47,27%
ao longo do período, valor elevado para
cultivos tradicionais, mas esperado para
a pupunheira devido à alta variabilidade genética, própria da espécie (Bovi et
al., 1993a, 1993b).
Resultados do índice de área foliar
(LAI) ao longo do tempo (Figura 2) corroboram os de fitomassa, visto que se
detectou alto coeficiente de determinação (R2= 0,99) do LAI tanto com a produção da fitomassa fresca quanto com a
do palmito (Vega, 2003). Observou-se
que a dose maior (400 kg N ha-1) apresentou diferença estatística para a área
foliar já a partir do sexto mês, terminando no 12o mês com uma diferença significativa em comparação às demais
(2,12 m2). Por sua vez, as doses 200 e
100 não diferiram entre si também aos
12 meses (1,62 m2 e 1,56 m2, respectivamente), mas foram estatisticamente
superiores à dose 0 (1,18 m2).
As respostas da pupunheira em função de doses crescentes de biossólido
não foram só em termos de área foliar e
fitomassa da haste principal, mas tamHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Figura 1. Fitomassa aérea fresca de pupunheira em função de diferentes doses de N. Ubatuba,
IAC, 2002.
Médias seguidas da mesma letra, em cada período, não diferem entre si pelo teste de Duncan
a 5%. Ns = não significativo.
Figura 2. Índice de área foliar (LAI) de pupunheira em função de diferentes doses de N.
Ubatuba, IAC, 2002.
Médias seguidas de mesma letra, em cada período, não diferem entre si pelo teste de Duncan
a 5%. Ns = não significativo.
bém no número médio de perfilhos por
planta e na porcentagem de plantas
perfilhadas por parcela. Doze meses
após a aplicação do biossólido, observou-se que o número total de perfilhos
na dose 400 (3,3 perfilhos por planta)
133
F. V. A. Vega et al.
diferiu estatisticamente da dose 0 (1,7
por planta), mas não das doses 100 e
200. Estas foram estatisticamente iguais
entre si, com 2,4 e 2,3 perfilhos por planta, respectivamente. Da mesma forma,
a porcentagem de plantas perfilhadas
aos doze meses chegou a 77,1% na dose
400, enquanto as doses 200 e 100 tiveram 67,7 e 64,6% de plantas perfilhadas,
respectivamente. Por sua vez a dose 0
apresentou apenas 56,3% das suas plantas perfilhadas aos 12 meses no campo.
Esses valores são superiores aos encontrados por Bovi et al. (2002) com doses
similares de nitrogênio aplicado periodicamente como fertilizante químico.
Nesse caso, a porcentagem máxima de
plantas perfilhadas foi 40%, com um
perfilho por planta em média, para a
dose maior (400) aos 12 meses de plantio. Da mesma forma, Bovi et al. (2000)
em outro experimento com progênies
provenientes de Yurimaguas, e testando
doses crescentes de matéria orgânica
(composto de lixo), fósforo e magnésio,
encontraram efeito linear positivo do
acréscimo de matéria orgânica sobre
esses dois caracteres, reportando 75%
de plantas perfilhadas e 3,5 perfilhos por
planta na dose de 40 t ha-1 de composto
de lixo.
No cálculo da fitomassa aérea total
da pupunheira submetida a doses crescentes de biossólido observou-se que, a
fitomassa dos perfilhos representou, em
média, de 3,6 (dose 0) a 6,4% (dose 400)
do total da fitomassa. Devido à baixa
contribuição dos perfilhos, considera-se
a estimativa da fitomassa da planta mãe,
ou haste principal, como representativa
para o cálculo da fitomassa total da
touceira para esse estádio do cultivo. Há
uma relação direta entre ambas, com
coeficiente de determinação bastante
elevado (R2= 0,99), representada pela
equação linear y = 0,01269 + 1,01997x,
onde y é a fitomassa aérea total e x é a
fitomassa aérea apenas da haste principal.
Extrapolando os resultados para um
cultivo comercial em espaçamento 2x1
m (5.000 plantas ha-1), obtém-se um
acúmulo bastante significativo de
fitomassa fresca para a dose maior (400)
de biossólido, ao redor de 27 t ha-1. Produção similar foi anteriormente reportada por Clement (1995), no Hawaii, em
plantio com 1,3 anos e densidade similar à do presente estudo. No entanto,
ambos resultados, são quase 50% maio134
res que os obtidos por Ares et al. (2002)
em diferentes solos da Costa Rica em
densidades maiores que 4.200 plantas ha-1.
Nas doses 200 e 100 observou-se cerca
de 18 t ha-1, contra apenas 11 t ha-1 na
ausência de biossólido no sulco de plantio. Observou-se também uma média
geral de 22% em massa de matéria seca
com relação à massa fresca total, estimando em média 78% de umidade na planta.
A pupunheira apresentou diferença
estatística a partir do 5o mês de plantio
para as diferentes doses, tempo em que
a planta se adaptou ao campo e em que
os nutrientes do biossólido começaram
a ser assimilados. Houve resposta positiva no acúmulo de fitomassa aérea da
pupunheira ao aumento das doses de
biossólido, antecipando o tempo para a
primeira colheita. A dose 400 apresentou aos 12 meses de plantio 15% de
plantas aptas para o corte, sugerindo
precocidade na época de início do corte
de palmito, considerando que segundo
a literatura, normalmente este se dá ao
redor dos 18–24 meses após plantio
(Villachica, 1996; Bovi, 1998; Burneo,
2000). Doses crescentes de biossólido
aplicadas durante o plantio resultaram
também em resposta significativa no
número de perfilhos e na porcentagem
de plantas perfilhadas, duas características responsáveis pela sustentabilidade
do cultivo.
Conclui-se portanto, que a aplicação
de biossólido no sulco de plantio supriu
as exigências nutricionais da pupunheira
nos primeiros doze meses, exceto para
potássio e boro. A ausência de
fitotoxidade nas doses maiores, a resposta quase linear da fitomassa aérea em
relação às quantidades de biossólido
aplicado, o aumento de perfilhamento e
a antecipação do ponto de corte para
palmito na dose 400, indicam a
potencialidade do uso de lodo de esgoto na implantação dessa cultura. No entanto, sugere-se estudos adicionais, visto
que, junto com nutrientes essenciais ao
cultivo, o biossólido apresenta também
metais pesados, que podem a longo prazo entrar na cadeia alimentar.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à SABESP
pelo financiamento parcial do projeto de
pesquisa e à FundAg pela concessão de
bolsa durante o período final de
mestrado do primeiro autor.
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Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção
de palmito da palmeira real australiana
Roberta Pierry Uzzo1; Marilene L.A. Bovi; Sandra Heiden Spiering; Luís Alberto Sáes
Instituto Agronômico, C. Postal. 28, 13001-970 Campinas-SP;1 bolsista mestrado da FAPESP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A determinação do coeficiente de caminhamento é bastante útil
no melhoramento genético de plantas perenes. No presente estudo
foram estimados os efeitos diretos e indiretos de cinco caracteres
vegetativos da planta, relacionados ao crescimento, sobre os principais componentes da produção de palmito da palmeira real australiana (Archontophoenix alexandrae Wendl. & Drude), por meio do
coeficiente de caminhamento. Para tanto, foram utilizados dados
obtidos por ocasião da colheita realizada em 238 plantas de um experimento, com três de anos de campo, conduzido em PariqueraAçu, SP. Desdobraram-se as correlações lineares simples existentes
entre as variáveis padronizadas (dependentes e independentes), estabelecendo-se posteriormente um diagrama causal e identificandose as inter-relações entre as variáveis envolvidas. Concluiu-se que o
comprimento da folha flecha apresentou efeitos diretos e indiretos
negativos e de baixa magnitude, evidenciando pouca influência na
seleção de genótipos superiores, mas permitindo estabelecer, na prática, ponto adequado de colheita para maior retorno econômico. A
maior magnitude dos coeficientes foi encontrada para a altura da
planta, com efeitos diretos e indiretos elevados, positivos e significativos, explicando 85% da produção total. O diâmetro da planta, o
número de folhas e o comprimento da quarta folha apresentaram
efeitos diretos de baixa magnitude, porém positivos, podendo ser
levados em consideração quando do estabelecimento de índices de
seleção.
Path coefficient analysis between vegetative and heart-ofpalm yield traits in Australian King palm
Palavras-chave: Archontophoenix alexandrae, caracteres agronômicos, coeficiente de trilha, melhoramento genético.
Keywords: Archontophoenix alexandrae, agronomic characters,
genetic improvement, path coefficient.
Path coefficient is a useful technique in perennial plant breeding.
Direct and indirect effects of five growth related vegetative traits,
over the main heart-of-palm yield components from King palm
(Archontophoenix alexandrae Wendl. & Drude) were estimated by
path analysis. Harvesting data from 238 (three-year old) plants
cultivated in an experiment carried out at Pariquera-Açu, São Paulo
State, Brazil, were utilized. A casual diagram was established, and
linear and simple standardized correlations were estimated in order
to identify the interrelations between dependent and independent
variables. Spear length showed small and negative direct and indirect
effects, with low contribution to superior genotypes selection,
although of practical importance to determine adequate harvesting
timing for maximal economical value in this palm. The highest
magnitude was found for plant height, with positive and significant
direct and indirect effects, explaining 85% of the total yield. Plant
diameter, leaf number and leaf size presented direct effects of low
magnitude, although positive, should be considered only for selection
indices establishment.
(Recebido para publicação em 1 de julho de 2003 e aceito em 19 de dezembro de 2003)
A
palmeira real australiana
(Archontophoenix spp.), conhecida também como Seafortia devido ao
antigo nome do gênero, vem ganhando
a atenção de pesquisadores e produtores para a produção de palmito. O gênero Archontophoenix, originário do leste
da Austrália, é amplamente utilizado em
praças e jardins ao redor do mundo
como planta ornamental. Além da alta
germinação, da resistência às principais
doenças que ocorrem em viveiro e do
rápido crescimento das plantas, chama
a atenção a qualidade do palmito produzido por palmeiras desse gênero.
Pesquisas recentes mostraram que a
palmeira real australiana possui elevado potencial para produção de palmito
de qualidade e atestam a viabilidade de
136
seu cultivo em nosso meio (Ramos et
al., 1997; Bovi, 1998; Berbari et al.,
2003; Bovi et al., 2003). A produção de
palmito nas espécies do gênero pode ser
feita já a partir de 22 meses de campo,
desde que cultivadas em regiões aptas e
com adubação apropriada (Bovi et al.,
2001; Chaimsohn, 2001).
Não obstante a importância da palmeira real australiana, tanto como ornamental quanto como produtora de
palmito de qualidade, a revisão de literatura revelou que são escassos os trabalhos científicos com esse gênero. No
período de 1990 a 2003 foram encontrados apenas 25 trabalhos indexados, a
maioria deles simples relatos de ocorrência de doenças. Na verdade, há carência de estudos com palmeiras em to-
das as áreas de conhecimento, provavelmente devido às dificuldades logísticas
existentes por serem plantas perenes, de
ciclo longo e grande altura.
Dada a ausência de estudos com
Archontophoenix, reconhece-se que o
melhoramento do gênero poderia em
muito contribuir para aumentar o potencial de uso das espécies. Um dos
parâmetros indispensáveis para o melhoramento de qualquer espécie é o conhecimento de correlações entre
caracteres de interesse, por permitir subsídios para a seleção ou descarte de
materiais genéticos (Goldenberg, 1968;
Simmonds, 1979). No entanto, a correlação entre caracteres agronômicos, ainda que seja de grande utilidade na determinação dos componentes de um caHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana
ráter complexo, como o palmito, não dá
a exata importância relativa das influências diretas e indiretas desses caracteres
na produção.
O coeficiente de trilha ou de
caminhamento (“path coefficient”), proposto originalmente por Wright (1921),
permite desdobrar o coeficiente de correlação em efeitos diretos e indiretos e
estudar a ação de componentes específicos que produzem uma certa relação
entre variáveis correlacionadas. Dewey
e Lu (1959) foram os primeiros autores
a demonstrar o uso desse coeficiente em
estudos de inter-relacionamento de
caracteres agronômicos desejáveis.
Embora estabelecido há tantos anos, ainda hoje em dia o uso dessa análise vem
sendo de grande utilidade no melhoramento de plantas, especialmente em
palmeiras, como atestam os relatos de
Moreira (1998) e Oliveira et al. (2000)
em açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.);
Bhagavan e Nair (1989) em areca (Areca
catechu L.); Prabhakaran et al. (1991) e
Sindhumole e Ibrahim (2002) em coqueiro (Cocos nucifera L.); Taniputra e
Manurung (1988), Oboh e Fakorede
(1990), Ataga (1995) e Oboh e Fakorede
(1999) em dendezeiro (Elaeis
guineensis Jacq.).
A correta aplicação do coeficiente de
caminhamento é dependente do conjunto de caracteres estudados e da confecção de um diagrama de trilha adequado, inter-relacionando esses caracteres.
Para tanto, é essencial a experiência do
pesquisador na espécie em estudo, bem
como na definição e avaliação dos possíveis caracteres diretos e indiretos de
importância para o material em uso
(Dewey e Lu, 1959). Segundo esses autores, a análise de trilha, nos casos em
que se considera um único modelo causal, é simplesmente uma análise de regressão parcial padronizada, sendo útil
no desdobramento dos coeficientes de
correlação em efeitos diretos e indiretos. No entanto, como alertado por Cruz
e Regazzi (1994), é comum o uso de
vários diagramas causais, especialmente em programas de melhoramento, visto que sempre é possível desdobrar as
variáveis em componentes primários e
secundários da produção. Esse tipo de
análise, conhecida como análise de trilha com diagramas em cadeia, é uma
expansão da regressão múltipla, visto
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
que estão envolvidas inter-relações
complexas.
O objetivo deste trabalho foi estimar,
por meio de análise de trilha com diagrama em cadeia, os efeitos diretos e
indiretos de caracteres relacionados ao
crescimento (secundários) sobre
caracteres componentes da produção de
palmito (primários), de forma a obter
subsídios para o melhoramento genético de palmeiras da espécie
Archontophoenix alexandrae.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas 238 plantas
selecionadas ao acaso dentro de população de palmeira real australiana
(Archontophoenix alexandrae Wendl e
Drude), com 36 meses, em cultivo em
Pariquera-Açu (24o43’S, 47o53’W, e 25
m anm), SP. O clima da região é
mesotérmico, tropical, quente e úmido,
com temperatura média anual de 21,8oC,
precipitação pluviométrica anual de
1.587 mm e evapotranspiração de 1.140
mm (Lepsch et al., 1990). O solo da área
experimental é um Cambissolo Háplico
Distrófico, moderadamente ácido, com
teores de Ca e K baixos, mas com Mg
relativamente alto, profundo, com drenagem moderada, relevo quase plano e
saturação por bases entre 20 e 40%
(Sáes, 1995).
O espaçamento adotado na cultura
foi de 2 x 0,75 m, sendo o plantio efetuado com mudas com seis meses de idade, formadas em tubetes de 150 ml com
substrato comercial. Durante o plantio
foi colocado 100 g/cova de superfosfato
simples. A adubação mineral foi iniciada a partir do sexto mês de plantio, empregando 50 g/planta da fórmula NPK
20:5:20, aplicada em cobertura e em
faixas, a cada três meses.
Antes da colheita, realizada aos 36
meses após o plantio, os seguintes
caracteres vegetativos foram medidos,
de acordo com o estabelecido por
Clement e Bovi (2000): diâmetro da
planta (cm) a 10 cm acima da superfície do solo; altura da planta (cm), medida do solo até o ponto de inserção entre
a flecha e a folha mais nova; número de
folhas verdes completamente expandidas; comprimento (cm) da ráquis foliar
da quarta folha (folha +4), medido do
ponto de emissão dos folíolos até a bifurcação deles no ápice; comprimento
(cm) da folha flecha (folha 0), medido
do ponto de emissão da folha 0 na haste
até o ápice da folha.
Os caracteres acima foram selecionados pela facilidade de mensuração, e
muitos deles, por ter apresentado boa
correlação com o palmito de palmeiras
de outros gêneros botânicos (Bovi et al.,
1990; 1991; 1993a; Fantini et al., 1997;
Reis et al., 1999).
Após as mensurações, executou-se
o corte da porção apical da palmeira
(capitel) no local da amostragem, levando-se as plantas etiquetadas ao laboratório, onde se realizou a seguinte avaliação, de acordo com o estabelecido por
Clement e Bovi (2000): peso (massa) do
palmito basal (g), também conhecido
como coração ou resíduo basal, e constituído pela porção macia do estipe localizada logo abaixo do meristema e que
é bastante tenro para ser consumido in
natura; diâmetro do palmito (mm), avaliado como o diâmetro médio dos n
toletes de palmito tipo exportação; comprimento do palmito (cm) do tipo exportação, avaliado com o número de
toletes inteiros de palmito multiplicados
por 9 cm (tamanho padrão); peso (massa) do palmito (g) exclusivamente do
tipo exportação; peso (massa) do palmito apical (g), também conhecido
como banda, correspondendo à porção
apical, ainda macia, mas não envolta por
bainha foliar; peso (massa) total (g),
somatório de palmito basal, exportação
e apical.
Efetuou-se a padronização das variáveis avaliadas, dividindo-se o desvio de
cada observação em relação à média
pelo desvio-padrão da amostra, de forma a poder comparar efeitos de
caracteres mensuráveis em diferentes
escalas. Correlações lineares simples
foram obtidas pelo método de Pearson
(Steel e Torrie, 1980), usando-se as variáveis padronizadas. A estimativa dos
coeficientes de trilha (efeitos diretos e
indiretos) foi feita considerando-se uma
variável básica Y (produto total), a ação
de três variáveis principais explicativas,
componentes diretas da produção (palmito basal, exportação e apical) e cinco
variáveis secundárias explicativas, referentes ao crescimento da planta (diâme137
R. P. Uzzo et al.
metro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento da folha flecha) e os diferentes componentes primários da produção (palmito basal, tipo exportação e apical). Visando elucidar as relações entre alguns
caracteres referentes ao crescimento da
planta e o diâmetro e o comprimento do
palmito exportação, equações complementares, envolvendo essas variáveis,
foram desenvolvidas. Todas as análises
foram efetuadas com o auxílio do programa SAEG (SAEG-UFV, 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1. Diagrama causal, em cadeia, dos efeitos diretos e indiretos dos componentes
secundários (diâmetro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento da folha flecha) sobre os componentes primários (palmito basal - P1, palmito tipo
exportação - P2, palmito apical - P3) da produção total de palmito (Y) da palmeira real
australiana. Campinas, IAC, 2001.
tro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento
da folha flecha). Foi estabelecido um
diagrama causal em cadeia, mostrando
as inter-relações entre as variáveis envolvidas (Figura 1). O diagrama foi
construído com base no método descrito por Cruz e Regazzi (1994) e levando-se em consideração a relação lógica,
aditiva, entre as variáveis. No diagrama, as setas unidirecionais indicam a
influência direta de cada uma das variáveis explicativas, medidas pelo coeficiente de caminhamento (pjy). As setas
bidirecionais mostram a interdependência dos componentes, cuja magnitude e direção são dadas pelo coeficiente
de correlação simples (rij). Nessa mesma figura, E1, E2 e E3 são as variáveis
residuais referentes aos caracteres principais: peso do palmito basal (P1), peso
do palmito tipo exportação (P2) e peso
do palmito apical (P3), respectivamente, o que permite a completa determinação de todos os efeitos.
Seguindo o diagrama causal, as correlações fenotípicas padronizadas foram
partilhadas em componentes de efeitos
diretos (pjy) e componentes de efeitos
indiretos (rij.pjy), de acordo com o modelo de caracteres primários e secundários que explicam a variação em Y (produto total); onde rij é o coeficiente de
138
correlação do caráter i com j; e pjy é o
efeito direto (ou coeficiente de
caminhamento) do caráter j sobre o produto final, Y.
As equações seguintes expressam as
relações básicas entre coeficientes de
correlação e de caminhamento para o
modelo explicativo envolvendo apenas
os efeitos dos caracteres primários (P1,
P2 e P3) sobre a produção total (Y):
r1y = p1y + r12p2y + r13p3y
r2y = r21p1y + p2y + r23p3y
r3y = r31p1y + r32p2y + p3y
A resolução do sistema de equações
acima foi efetuada por cálculo matricial,
conforme proposto por Cruz e Regazzi
(1994).
Por meio dos efeitos diretos e indiretos, inclusive do efeito residual total
(E4y = E1 + E2 + E3), obteve-se a equação
de determinação total de magnitude
igual a 1. A relação entre o efeito residual (E4y) e o coeficiente de determinação da análise de caminhamento
(R2y(1,2,3)) é dada pela expressão:
E4y = [ 1 - R2 y(1,2,3) ]1/2
Seguindo o mesmo raciocínio, foram
estabelecidas, separadamente, as relações entre os caracteres secundários (diâ-
Os componentes diretos da produção de palmito de palmeiras são: o palmito basal, também conhecido como
resíduo basal ou coração e que se caracteriza pela porção macia do estipe; o
palmito tipo exportação que
corresponde ao palmito propriamente
dito, sendo composto por toletes completos e perfeitos; e o palmito apical,
conhecido como banda, que é a porção
apical do palmito, sendo constituída pela
parte macia, mas desprovida de bainha
externa protetora (Ferreira et al., 1982a;
Clement e Bovi, 2000). Esses componentes apresentam valores econômicos
diferenciados no mercado, com o palmito tipo exportação (em toletes) valendo, normalmente, o dobro das porções
basal e apical.
Em algumas espécies de crescimento lento, tais como as do gênero Euterpe,
é pequena a contribuição do palmito
basal para a produção total (Ferreira et
al., 1982a). Já em espécies de rápido
crescimento, como as do gênero Bactris,
essa porção é bastante significativa
(Ferreira et al., 1982b; Bovi et al., 1992;
Mora-Urpí et al., 1997). Nota-se, pela
tabela 1, que o mesmo acontece com a
espécie Archontophoenix alexandrae.
A soma dos efeitos direto e indireto
do palmito basal foi superior à do palmito exportação (0,92 e 0,82, respectivamente), indicando que a contribuição
da porção macia do estipe para a produção total comercial é significativa, sendo superior às demais partes. Os efeitos
direto (0,20) e indiretos do palmito
apical (variando de 0,03 a 0,08) são pequenos e negligíveis, podendo-se aventar que a avaliação desse componente
pouco contribui para a produção total.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana
Tabela 1. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos de três componentes primários da produção (palmito basal, tipo exportação e apical)
sobre a massa total de palmito de palmeira real australiana. Campinas, IAC, 2001.
Tabela 2. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos dos caracteres vegetativos diâmetro, altura, número de folhas, comprimento da quarta
folha e comprimento da folha flecha sobre a massa total de palmito basal, palmito tipo exportação, palmito apical e palmito total
(basal+exportação+apical) de palmeira real australiana. Campinas, IAC, 2001.
As estimativas dos efeitos diretos e
indiretos dos cinco caracteres relacionados ao crescimento da planta sobre o
palmito basal encontram-se na tabela 2.
Observa-se que a característica que mais
afeta o rendimento desse componente é
a altura da planta, com efeitos direto e
indiretos positivos e de magnitude razoável quando comparada aos efeitos
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
das demais. Os resultados indicam que
altura da planta por ocasião da colheita
de palmito é responsável por cerca de
74% da variação da massa do palmito
basal. Resultados semelhantes podem
ser observados quando se avalia os efeitos diretos e indiretos dos caracteres da
planta sobre a massa de palmito tipo exportação (tabela 2). Nota-se que, dentre
os cinco caracteres, a altura da planta
proporcionou efeitos diretos e indiretos
de boa magnitude, superiores aos obtidos quando da avaliação do palmito
basal. É marcante seu efeito indireto
sobre todos os caracteres vegetativos
avaliados, especialmente sobre o diâmetro da planta. A altura da planta foi responsável por 76% da variação encon139
R. P. Uzzo et al.
Tabela 3. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos dos caracteres vegetativos diâmetro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e
comprimento da folha flecha sobre o diâmetro e o comprimento do palmito tipo exportação de palmeira real australiana. Campinas, IAC, 2001.
trada na massa do palmito exportação,
revelando-se um caráter adequado para
a avaliação indireta da produção de palmito em Archontophoenix, bem como
para a seleção de plantas superiores para
essa atividade agrícola. Para outras palmeiras, como areca e coqueiro, a altura
também mostrou ser de utilidade para a
seleção de plantas, por apresentar efeitos diretos positivos e altamente significativos sobre a produção, tanto de frutos (Bhagavan e Nair, 1989), quanto de
óleo (Sindhumole e Ibrahim, 2002).
Embora o palmito apical tenha contribuído pouco para a produção total de
palmito (apenas 20%, considerando o
efeito direto), a análise da partição dos
efeitos dos caracteres vegetativos sobre
ele mostra resultados interessantes (tabela 2). Não obstante a baixa magnitude de todos os coeficientes, evidenciase que a altura teve sempre efeitos negativos, tanto direto como indiretos,
sobre a massa final de palmito apical.
Deduz-se portanto que, na amostragem
utilizada (n = 238), com plantas com
altura até a inserção da folha flecha variando de 0,28 a 3,20 m, quanto maior a
altura da palmeira maior a produção de
palmito tipo exportação, com conseqüente diminuição de produção de palmito apical, considerado sempre como
porção de menor valor econômico. Por
outro lado, foram positivos e comparativamente elevados, os efeitos direto
(0,37) e indiretos (0,23 a 0,33) do diâ140
metro da planta sobre esse componente
da produção. É também especialmente
notória a influência direta (0,38) e indireta (0,17 a 0,25) do comprimento da
folha flecha sobre esse caráter. Não
obstante, observa-se que o comprimento da flecha é responsável apenas por
51% da variação apresentada pelo palmito apical, enquanto para os demais
valores entre 40 e 47% foram obtidos,
indicando que a produção de palmito
apical é influenciada por outros fatores
não mensurados no presente estudo. No
entanto, parece existir uma relação significativa e positiva entre comprimento
da folha flecha (folha bandeira) e produção de palmito apical. Como a colheita de palmito é sempre escalonada e
periódica, realizada com base no desenvolvimento vegetativo da planta (Bovi,
1998; Bovi et al., 2001), pode-se inferir
que, na prática, para uma mesma altura
de planta, deve-se dar preferência à colheita aquelas que apresentam menor
comprimento da folha flecha por ocasião do corte.
Quando se avaliam os efeitos dos
caracteres vegetativos sobre a produção
total (tabela 2), nota-se que a influência
da altura da planta é superior à do diâmetro, com efeitos direto e indiretos explicando 85% da variação em massa total. O
efeito direto da altura foi 2,5 vezes superior ao efeito direto do diâmetro da planta. Isso indica a grande validade desse caráter para avaliação indireta da produção
total, bem como para seleção de plantaselite para a produção de sementes, visando a produção de palmito. A importância
da variável altura para a determinação do
ponto de corte, bem como para a seleção
de plantas-elite já foi reportada anteriormente por alguns autores para palmeiras
produtoras de palmito (Bovi et al., 1992;
Bovi et al., 1993a,b; Clement, 1995;
Mora-Urpí et al., 1997), assim como para
aquelas produtoras de fruto e de óleo
(Bhagavan e Nair, 1989; Sindhumole e
Ibrahim, 2002).
A produção de palmito tipo exportação é função do número (comprimento) e do diâmetro dos toletes (Ferreira
et al., 1982a). Seguindo o mesmo esquema de partição, foi verificada a relação entre os caracteres vegetativos
relacionados ao crescimento da palmeira
e essas duas características (diagrama
não apresentado). Observa-se na tabela
3, que o diâmetro da planta por ocasião
do corte é a variável que mais interfere
no diâmetro do palmito, com efeitos direto e indiretos de magnitude elevada,
quando comparados aos efeitos das demais. Cerca de 73% da variação em diâmetro do palmito tipo exportação é
explicada pelo diâmetro da planta por ocasião da colheita. O efeito direto do diâmetro da planta sobre o diâmetro do palmito
foi 3,6 vezes superior ao efeito direto da
altura sobre esse mesmo caráter.
Por outro lado, a altura da planta é a
variável que maior influência direta tem
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana
sobre o comprimento total do palmito (tabela 3), com efeito direto (0,68) superior
ao obtido em todas as análises anteriormente efetuadas (tabelas 1 e 2). Seus efeitos indiretos também foram de alta magnitude, quando comparados aos demais,
variando de 0,45 a 0,60. Fato interessante
pode ser observado, ainda na tabela 3, com
relação aos efeitos do comprimento da
folha flecha sobre o comprimento do palmito tipo exportação. Nota-se aqui efeitos negativos direto e indiretos dessa variável sobre o caráter em questão. A análise conjunta das tabelas 2 e 3, evidencia
que quanto maior o tamanho da folha flecha, menor o comprimento do palmito tipo
exportação e conseqüentemente sua massa, e maior é a produção de palmito apical.
Como o palmito tipo exportação tem um
valor econômico superior sobre o palmito apical, e este representa em média apenas 9% da produção total, conclui-se que,
independentemente da altura e do diâmetro da planta, deve-se fazer a colheita quando a folha flecha estiver pouco expandida. Dessa forma, o rendimento em palmito tipo exportação será maior. O conjunto
das duas variáveis (altura e flecha) é de
interesse prático, pois ambas podem ser
visualmente estimadas com precisão suficiente pelo colhedor de palmito, auxiliando na determinação do ponto adequado
de colheita da palmeira real australiana.
Os resultados indicam que além da
altura, as variáveis correlacionadas diâmetro da planta, número de folhas e o
comprimento da quarta folha podem ser
usadas para aumentar as chances de seleção de plantas superiores. Em palmeiras de outras espécies, o número e o
comprimento das folhas, bem como o
número de folíolos nelas presentes, vêm
sendo utilizados, separadamente ou em
conjunto, como critério para seleção de
plantas-elite e predição de produção de
frutos (Taniputra e Manurung, 1998;
Oboh e Fakorede, 1990; Prabhakaran et
al., 1991). No entanto, o presente relato
mostrou que a contribuição da quantidade e do comprimento de folhas é pequena, não valendo o esforço da medida. Recomenda-se utilizá-las apenas na
construção de índices de seleção.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo pela concessão
de bolsa de mestrado ao primeiro autor.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
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Crescimento e absorção de nutrientes pelo Lisianthus (Eustoma
grandiflorum) cultivado em solo
Mônica S. de Camargo1*; Luciano K. Shimizu1; Marcelo Akira Saito2; Cesar H. Kameoka2; Simone da C.
Mello3; Quirino Augusto de C. Carmello1
USP/ESALQ, C. Postal 9, 13418-900 Piracicaba-SP; E-mail: [email protected]; 2Flora Takeshi Saito, Estrada do Salto, km 3, C.
Postal 15, 18150-970 Ibiúna-SP; 3Rua das Magnólias, 135, Jd. Novo Mundo, 13211-610 Jundiaí-SP
1
RESUMO
ABSTRACT
O lisianthus (Eustoma grandiflorum) é uma planta ornamental
com grande procura pelo mercado consumidor, mas há poucas informações sobre sua nutrição em condições edafo-climáticas tropicais. Neste trabalho avaliou-se o crescimento e a absorção de nutrientes pelo lisianthus (var. Echo) em estufa comercial. Plântulas
de lisianthus foram transplantadas para canteiros aos 60 dias após a
semeadura, em outubro de 1999. As amostragens do material vegetal foram feitas aos 8; 22; 36; 50; 64; 78; 92; 106 e 120 dias após o
transplantio. O crescimento em altura e a produção de matéria seca
da parte aérea foram lentos até os 36 dias e atingiram altura de 90,5
cm e produção de matéria seca de 28,4 g por planta no final do ciclo.
A absorção de nutrientes (kg ha-1) pela parte aérea do lisianthus aos
120 dias foi: 238,8 de N, 157,1 de K, 33,9 de S, 17,5 de Mg, 14,9 de
P, 10,6 de Ca e para os micronutrientes (g ha-1): 1281,3 de Fe, 294,4
de B, 127,1 de Mn, 121,1 de Zn e 35,8 de Cu.
Growing and nutrients absorption by lisianthus (Eustoma
grandiflorum) cultivated in soil
Palavras-chave: nutrição, floricultura, ornamental.
Lisianthus is a cut flower crop that has been intensively studied
around the world. However, there is not enough information about
its nutrition under tropical conditions. In this work the growth and
nutrient absorption of lisianthus (var. Echo) cultivated in soil was
evaluated. Seedlings were transplanted 60 days after sowing in
October 99. Plant samples were taken at 8; 22; 36; 50; 64; 78; 92;
106 and 120 days after transplanting. Plant growth and dry matter
production were slow in the beginning but plants reached 90.5 cm in
height and 28.4 of dry weight at the end of cycle. Nutrient uptake
(kg ha-1) at 120 days was: 238.8 of N, 157.1 of K, 33.9 of S, 17.5 of
Mg, 14.9 of P, 10.6 of Ca and micronutrients (g ha-1): 1281.3 of Fe,
294.4 of B, 127.1 of Mn, 121.1 of Zn and 35.8 of Cu.
Keywords: nutrition, floriculture, ornamental.
(Recebido para publicação em 09 de outubro de 2002 e aceito em 28 de agosto de 2003)
O
lisianthus (Eustoma grandiflorum)
é uma espécie que começou a se
destacar economicamente no Brasil na
década de 90. É planta ornamental da
família das Gentianaceas, originária da
América do Norte, sendo cultivada
como flor-de-corte ou em vasos. Sua
produção e popularidade têm crescido
e pode ser considerada uma das dez mais
vendidas no sistema de leilão holandês
(Kameoka, 1998).
Pode apresentar três cores básicas:
azul, rosa e branca (Halevy e Kofranek,
1984). Há diferenças de preferência entre os mercados consumidores: o europeu prefere o azul-escuro, enquanto o
japonês e o brasileiro preferem o branco com bordas azuis. As cultivares são
divididas em flores simples e dobradas,
sendo que o mercado europeu e o japonês preferem as primeiras, já o americano e o brasileiro, as flores dobradas.
A cultivar Echo é a mais comum no Brasil (Corr e Katz, 1997).
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Embora com grande potencial de
produção e de mercado no Brasil, o
lisianthus é uma planta pouco estudada
em condições de clima tropical, diferentemente do que acontece no Japão, onde
seu estudo tem sido feito há mais de 30
anos (Corr e Katz, 1997). O conhecimento da nutrição e as adubações recomendadas no Brasil, fatores de alto impacto na produção e na qualidade das
hastes florais (Kampf et al., 1990), têm
se apoiado, geralmente, no empirismo
ou em recomendações de outros países,
resultando na aplicação de quantidade
insuficiente ou excessiva de adubos e,
portanto, numa nutrição desbalanceada
(Nell et al., 1997). A utilização de curvas de absorção, obtidas nas condições
brasileiras, permitirá uma aplicação
mais adequada de fertilizantes, de acordo com o estádio fisiológico de máxima absorção, possibilitando a planta
adquirir a quantidade total de nutrientes requeridos para sua máxima produ-
ção (Pedrosa, 1998). Isso implica em
menores perdas de adubo e riscos de
toxicidade provocados por concentrações salinas exageradas.
Considerando-se as poucas referências sobre o assunto no Brasil, neste trabalho avaliou-se o crescimento, a produção de matéria seca e a absorção de
nutrientes pelo lisianthus durante o seu
ciclo, na época do ano com maior potencial de produção (verão).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em estufa comercial da Flora Takeshi Saito
em Ibiúna, região de temperaturas amenas e umidade relativa baixa, clima com
condições ótimas para o desenvolvimento da cultura. Foi utilizada a cultivar
Echo (flores dobradas brancas com bordas azuis), muito apreciada pelo mercado consumidor brasileiro.
143
M. S. Camargo et al.
Tabela 1. Crescimento e matéria seca da parte aérea do Lisianthus var. Echo durante seu ciclo. Piracicaba, ESALQ, 2001.
O solo da área experimental era um
Luvissolo crômico (Embrapa, 1999)
Typic Hapludult (Soil Survey Staff,
1994). A análise química inicial do solo
revelou a seguinte composição mineral:
MO=59 g dm-3; P=208 mg dm-3; CTC=
67,1, pH CaCl2=6,7 e V%= 82.
A semeadura foi feita em bandejas,
contendo substrato comercial da
Eucatex com composição média (dag
kg-1): de 63,2 de MO, 0,60 de N, 0,77
de P2O5, 0,36 de K2O, 2,44 de Ca, 2 de
Mg, 1,14 de S e 1,1 de Fe; e de
micronutrientes (mg dm-3): 176 de Mn,
35 de Cu, 135 de Zn; 340 de B e 15 de
Mo. As bandejas foram colocadas em
estufas climatizadas com temperatura
diurna até 25oC e noturna não inferior a
15oC. O ciclo de produção de mudas foi
de 60 dias, sendo a densidade
populacional de 1728 plantas por m2 (6
bandejas com 288 plântulas cada). A
fertirrigação das mudas foi feita diariamente e a concentração eletrolítica da
solução de nutrientes (C.E.) aplicada foi
mantida a 0,9 mS cm-1. Na fase de mudas foram utilizados (kg ha-1): 38,5 de
N; 1,7 de P; 31,6 de K; 15,5 de Ca; 0,06
de Mg; 2,7 de S. Os micronutrientes (g
ha-1) foram aplicados na dose de: 44,8
de B; 14,4 de Cu; 32,8 de Mn; 32,8 de
Mo; 3,0 de Zn. Na fase de crescimento
foram usadas as seguintes doses para
macronutrientes (kg ha -1) e
micronutrientes (g ha-1): 222,6 de N; 5,5
de P; 172,8 de K; 114,3 de Ca; 1,0 de
Mg; 13,4 de S; 67,9 de Cu; 196,9 de Mn;
195,7 de Mo e 45,6 de Zn. E na fase do
florescimento foram utilizados(kg ha-1):
114,1 de N; 4,1 de P; 106,4 de K; 80,1
de Ca; 0,3 de Mg; 8,6 de S e
144
micronutrientes (g ha-1) nas doses de:
38,1 de Cu; 187,9 de Mn; 177,2 de Mo
e 57,6 de Zn.
Após as operações de preparo do
solo, foi feita a instalação dos sistemas
de irrigação por gotejamento, de aquecimento superficial do solo e de
tutoramento em suportes com malhas de
0,15 x 0,15 m na área de transplantio
das mudas.O transplantio das mudas de
lisianthus para os canteiros foi feito
quando estas apresentavam dois pares
de folhas, aproximadamente aos 60 dias
após a semeadura, (outubro 99). A densidade populacional de plantio foi 64
plantas por m2 (0,125 x 0,125 m).
A fertirrigação foi feita na fase de
crescimento (78 dias) e de florescimento
(47 dias) de 4/10 a 31/12/99, mantendo-se em ambas as fases a condutividade
elétrica (CE) de 0,9 mS cm-1.
A área experimental foi representada por quatro canteiros de 1,2 x 25,0 m
(9 linhas de 25 m por canteiro), separados por 0,40 m nas duas direções
(54.926 m de linhas por ha, com oito
plantas por m), sendo que as avaliações
foram feitas nas plantas situadas nos
dois canteiros centrais, divididos em
quatro blocos. As amostragens das plantas foram feitas inteiramente ao acaso
nos quatro blocos aos 8; 22; 36; 50; 64;
78; 92; 106 e 120 dias após o
transplantio. O número de plantas em
cada fase foi variável, para a obtenção
de material vegetal suficiente para as
análises, não sendo nunca inferior a duas
plantas por parcela em cada amostra,
mas as quantidades de nutrientes acumulados foram divididos pelo número
de plantas amostrados em cada fase.
As características avaliadas em cada
amostragem foram produção de matéria seca, teor e acúmulo de nutrientes,
comprimento das hastes florais e número de folhas produzidos pela parte aérea
do lisianthus. A avaliação do número de
folhas totalmente expandidas foi feita a
partir dos 50 dias, período correspondente ao crescimento em altura mais
acentuado da planta. Após essa avaliação, foram realizadas a secagem e a
moagem, sendo as análises químicas dos
nutrientes feitas em extratos minerais
segundo técnicas recomendadas por
Malavolta et al., 1987.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Crescimento e desenvolvimento
As hastes florais apresentaram inicialmente um crescimento lento, com
incremento mais acentuado dos 36 aos
50 dias (5 a a 7 a semana) após o
transplantio. Aos 78 dias, quando já havia atingido 50% do comprimento final
da haste, houve redução no incremento
em altura (Tabela 1). O comprimento
final das hastes, observado aos 120 dias,
foi de 90,5 cm, considerado adequado
segundo Kameoka (1998) que obteve,
para a mesma cultivar Echo, hastes de
70 a 80 cm na mesma região estudada.
As hastes muito curtas, provenientes de
rebrotas ou de problemas nutricionais,
devem ser classificadas como de 2a categoria (Kameoka, 1998), acarretando
prejuízos para a comercialização.
Aliado ao comprimento das hastes
florais, o número de folhas nas hastes
de lisianthus é importante, tanto pelo
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Crescimento e absorção de nutrientes pelo Lisianthus (Eustoma grandiflorum) cultivado em solo
Tabela 2.Teores de nutrientes na parte aérea do Lisianthus var. Echo durante seu ciclo. Piracicaba, ESALQ, 2001.
Tabela 3. Acúmulo de nutrientes na parte aérea do Lisianthus var. Echo durante seu ciclo. Piracicaba, ESALQ, 2001.
aspecto visual, quanto pela contribuição
ao peso de matéria seca das hastes. Aos
120 dias, o número médio de folhas por
haste floral foi de 76 folhas (Tabela 1).
A produção de matéria seca apresentou pequenos incrementos, tendo sido
mais acentuada na fase de crescimento,
dos 50 aos 64 dias, de forma semelhante ao que se observou em termos de comprimento das hastes florais (Tabela 1).
Aos 92 dias, período inicial de
florescimento, observou-se forte redução do incremento da matéria seca (não
acumulado), provavelmente, resultante
da mobilização das reservas para a formação da flor. Aos 100 dias, observouse novamente redução no incremento
em produção de matéria seca pela parte
aérea do lisianthus. Isso está de acordo
com a idéia de que a energia absorvida
no final do ciclo deve ser utilizada preferencialmente para a abertura das flores, uma vez que, para o lisianthus, as
hastes somente são colhidas após a aberHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
tura das flores (Kameoka, 1998).
A produção acumulada de matéria
seca durante o ciclo da planta seguiu o
ritmo de crescimento da planta, tendo
aos 78 dias, período correspondente ao
início do florescimento, acumulado
mais de 50% da matéria seca total. Na
colheita, a parte aérea atingiu 28,4 g de
matéria seca, quantidade considerada
baixa, se comparada a outras como da
rainha-margarida que chega a 129,5 g
aos 77 dias (Fernandes et al., 1989) e a
da gypsophila que chega a 120 g aos 135
dias (Pedrosa, 1998), mas superior ao
do crisântemo que atinge apenas a 27,42
g aos 130 dias (Lima e Haag, 1989).
Embora seja pequena a quantidade de
matéria seca produzida quando comparada à de outras espécies, pode-se
considerá-la adequada em relação às
produções geralmente obtidas pelos produtores. Se for considerado o teor de
umidade, essa produção de matéria seca
(28,4 g por planta) é grande comparada
a outras espécies, correspondendo a 17
hastes por maço, com cerca de 700 g de
peso de matéria fresca, que é a quantidade comercializada. Além da quantidade de matéria fresca, o número de flores também é importante, devendo conter em cada maço 20 a 25 flores abertas.
Absorção de nutrientes
As concentrações dos nutrientes na
parte aérea do lisianthus (Tabela 2) durante o ciclo foram menores que as obtidas por Frett et al. (1988), Harbaugh e
Woltz (1991) e Kameoka (1998), provavelmente em função das diferenças
entre as cultivares utilizadas, clima e o
tipo de substrato.
No caso de Frett et al. (1988) e
Harbaugh e Woltz (1991) as produções
foram avaliadas em plantas cultivadas
em solução nutritiva, tendo o ciclo de
produção sido menor que o do presente
trabalho que, consequentemente eram
menores e apresentavam maiores concentrações de nutrientes. Embora
145
M. S. Camargo et al.
Kameoka (1998) tenha cultivado em
solo, sob estufa, e sob conduções semelhantes ao presente experimento, as condições de clima, época do ano e adubação eram diferentes. Além disso, devese salientar, que, Kameoka (1998) coletou amostras de folhas do 8o ao 10o par
de folhas, contadas a partir do ápice,
enquanto no presente trabalho foi avaliada toda a parte aérea (haste, folha e
flor). Provavelmente ocorreu um efeito
de diluição de alguns nutrientes em comparação com a análise somente das folhas. Apesar das variações encontradas,
o importante é que a produção de matéria seca (número de hastes/maço) foi
satisfatória no presente ensaio.
Os macronutrientes apresentaram
forte incremento até os 64 dias na fase
de crescimento. Já na fase de
florescimento, observou-se novo surto
de aquisição de nutrientes dos 92 aos
106 dias, época em que estava ocorrendo a formação de botões florais. Foram
portanto verificados dois períodos de
grande demanda de macronutrientes: o
primeiro dos 36 aos 64 dias e o segundo
dos 92 aos 106 dias. O S foi o único mais
requerido no final do ciclo.
No caso dos micronutrientes observou-se um pico aos 64 dias, exceto para
o Cu que ocorreu aos 50 dias e para o B
que ocorreu aos 78 dias na fase de crescimento. Na fase de florescimento, o
pico ocorreu dos 92 aos 106 dias para o
Fe, B e Cu enquanto para o Zn e o Mn
dos 106 aos 120 dias, o que pode estar
relacionado com a abertura floral.
No final do período de crescimento
vegetativo e no início do período de
florescimento (aos 78 dias), as plantas
146
já haviam absorvido cerca de 50% dos
nutrientes necessários, exceto o Fe. Essa
fase corresponde ao incremento quinzenal mais exigente dos nutrientes, devendo os fertilizantes ser aplicados antes da
fase de indução ao florescimento (78
dias). O conhecimento das fases de
maior absorção permite quantificar as
exigências nutricionais da planta e ajustar a aplicação do fertilizante de modo
que eles estejam em quantidades adequadas exatamente na época de maior
demanda de nutrientes.
O acúmulo dos nutrientes (Tabela 3)
acompanhou a tendência do crescimento em altura e da produção de matéria
seca (Tabela 1), tendo sido progressivamente crescente durante o ciclo de produção. Do ponto de vista prático, os resultados indicam que, para 439.404
plantas ha-1, o sistema remove (kg ha-1):
238,8 de N; 157,1 de K; 33,9 de S; 17,5
de Mg; 14,9 de P; 10,6 de Ca; 1281,32
de Fe; 294,4 de B; 127,1 de Mn; 121,1
de Zn; 35,82 de Cu, devendo-se portanto, aplicar adubação que contemple
tal quantidade de nutrientes durante o
ciclo da cultura. Pelo menos 50% da
quantidade total de adubo deveria ser
aplicada antes do período de
florescimento, quando ocorre a mais
acentuada absorção de nutrientes.
LITERATURA CITADA
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
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minimamente processada e armazenada sob refrigeração. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 147-150, jan-mar 2004.
Modificações sensoriais em cenoura minimamente processada e armazenada sob refrigeração
Josane Maria Resende1; Ana Flávia S. Coelho2; Elton C. de Castro2; Orivaldo José Saggin Júnior3*;
Thiago do Nascimento2; Benedito Carlos Benedetti2
UFLA, DCA, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; E-mail: [email protected]; 2UNICAMP, FEAGRI, C. Postal 6011,
13083-970 Campinas-SP; 3Embrapa Agrobiologia, C. Postal 74.505, 23851-970 Seropédica-RJ *Autor para correspondência
1
RESUMO
ABSTRACT
Foram avaliadas as modificações sensoriais em cenoura minimamente processada em dois tipos de cortes durante o armazenamento
sob refrigeração. Semanalmente avaliou-se a aparência, a cor, o aroma, o sabor e a textura de cenouras cv. Nantes, minimamente processadas, acondicionadas em potes de polietileno tereftalato (PET) e armazenadas a 7ºC, por 14 dias. Para definir a freqüência de consumo e
preferência pelo tipo de corte, amostras do produto foram apresentadas ao público e os resultados foram anotados em porcentagem em
relação ao número total de pessoas consultadas. Com o decorrer do
armazenamento houve redução nos escores para a aparência e a cor,
enquanto que o sabor e a textura melhoraram em ambos os cortes.
Cenouras raladas apresentaram melhor cor e aparência em relação à
cenoura cortada em rodelas, entretanto o sabor e a textura foram melhores para cenouras em rodelas. As cenouras raladas são as mais
indicadas para o consumo uma vez que a aparência é o atributo que
mais causa impacto na escolha pelo consumidor e dentro desta a cor é
a característica mais relevante. A freqüência de consumo deste tipo de
produto esta aumentando gradativamente e em relação à preferência
pelo tipo de corte, o consumidor optou pela cenoura ralada pela sua
maior praticidade e versatilidade de uso.
Sensory modifications of fresh cut carrots stored under
refrigeration
Palavras-chave: Daucus carota, minimamente processado, qualidade, fatiamento, conservação.
Keywords: Daucus carota, quality, slicing, storage-life.
Sensory modifications were evaluated in carrots cv Nantes lightly
processed in two kinds of cut (grated and sliced) during the storage
under refrigeration. Fresh cut carrots were packed in polyethylene
tereftalato (PET) boxes and stored at 7ºC for 14 days. The carrot’s
appearance, color, aroma, flavor and texture were evaluated weekly.
To obtain the frequency of consumption and preference of kind of
cut, samples were offered to people to try. During the storage of
both kinds of cut, a reduction in scores for appearance and color
occurred, while flavor and texture scores were improved. Fresh cut
carrots in the grated form presented better color and appearance than
the fresh cut in the sliced form. However, flavor and texture were
better in carrots cut in the sliced form. The grated carrots are the
most indicated for consumption because appearance is the attribute
that causes most impact to consumers, besides the color. The
frequency of consumption of fresh cut carrots is increasing gradually
and, regarding people’s preference for kind of cut, the consumers
opted for grated carrot because of the larger practicability and
versatility in use.
(Recebido para publicação em 30 de outubro de 2002 e aceito em 10 de outubro de 2003)
D
as hortaliças minimamente proces
sadas, a cenoura é uma das mais
populares, pela sua versatilidade de uso
e formas de apresentação ao consumidor, podendo ser ralada em diversos tamanhos ou cortada na forma de fatias,
cubos, palitos, e ainda apresentada na
forma de mini-cenoura “baby-carrot”
(Lana, 2000). Em função do
processamento tornam-se suscetíveis a
várias mudanças fisiológicas e
microbiológicas que depreciam a sua
qualidade sensorial e limitam sua vidade-prateleira.
Vários autores têm investigado a influencia do tipo de processamento e das
condições de armazenamento sobre a
percepção da qualidade em produtos
minimamente processados (SolivaFortuny e Martín-Belloso, 2003;
Jacxsens et al., 2003; Freire Júnior et
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
al., 2002; Gorny et al., 2000). A vidade-prateleira destes produtos muitas
vezes é inadequada induzindo à perda
da firmeza e da cor, sintetizando compostos fenólicos responsáveis pelo sabor amargo, ácido e adstringente
(Fortuny e Martín-Belloso, 2003;
Talcott et al., 2001; Talcott e Howard,
1999; Li e Barth, 1998)
Não só o metabolismo próprio do
tecido vegetal, mas também os microrganismos, são responsáveis pela presença de odores e sabores desagradáveis
durante o armazenamento de hortaliças
minimamente
processadas.
Kakiomenou et al. (1996) isolaram
Leuconostoc mesenteroides, como principal bactéria láctica contaminante de
cenoura ralada. A contaminação é caracterizada pela presença de sabor e aroma ácido devido à produção de
metabólitos como ácido láctico e ou
acético acompanhado da produção de
“limo” e perda de textura (Jacxsens et
al., 1999; Carlin et al., 1989). A alta
contaminação com este tipo de bactéria
está associada à sanitização ruim das
máquinas de corte, abuso de temperatura ou ainda ao período de armazenamento muito longo (Dijk et al., 1999).
Jacxsens et al. (2003) estudaram a
relação entre qualidade microbiologica,
produção de metabólitos e qualidade
sensorial de alguns produtos minimamente processados. Constataram uma
relação entre o crescimento de microrganismos contaminantes, as propriedades sensoriais e a produção de
metabólitos onde bactérias lácticas e
leveduras formam a microflora
contaminante dominante. As propriedades sensoriais foram o fator limitante no
147
J. M. Resende et al.
Tabela 1. Escores médios para a aparência, cor, aroma, sabor e textura de cenouras minimamente processadas, armazenadas em diferentes tempos, a 7ºC. Campinas, UNICAMP, 2001.
Médias com a mesma letra maiúscula na linha, dentro do mesmo período de armazenamento e
minúscula na coluna dentro do mesmo corte não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%.
consumo destes produtos, em geral minimamente processados; foram rejeitados com base na cor, antes mesmo do
sabor, do aroma e da contaminação
microbiana tornar-se um problema. Estes autores salientam ainda que a vidade-prateleira de hortaliças minimamente processadas não deve ser avaliada
somente sobre a contagem bacteriana
mas também sobre atributos de qualidade sensorial.
A análise sensorial é uma forma adicional, rápida e criteriosa para avaliar a
vida-de-prateleira de produtos minimamente processados, pois baseia-se principalmente no paladar, olfato e tato para
avaliação de atributos físicos e químicos (Matthheis e Fellman, 1999;
Meilgaard et al., 1991; Moraes, 1988;
Chaves, 1980).
Avaliou-se alterações nos principais
atributos sensoriais de cenoura minimamente processada em dois tipos de cortes durante o armazenamento.
MATERIAL E MÉTODOS
Raízes de cenouras da cultivar Nantes
foram adquiridas no comércio varejista
de Campinas (SP), levadas ao laborató148
rio de pós-colheita da UNICAMP e
selecionadas quanto à ausência de defeitos e uniformidade no tamanho das raízes.
Após, foram lavadas em água corrente e
colocadas para drenar o excesso de água
em bancada sanitizada.
Quinze kg de cenoura foram
descascadas manualmente retirando o
topo e a ponta das raízes com faca afiada e separadas em dois lotes para a realização dos cortes. No primeiro lote as
cenouras foram raladas e no segundo,
fatiadas em rodelas; ambos os cortes
foram feitos mecanicamente, com auxílio de um multiprocessador Arno,
mudando-se apenas o disco de corte.
Os cortes foram sanificados separadamente em água contendo 100 ppm de
cloro por 5 minutos, drenados, colocados em sacos de náilon e centrifugados
por 5 min. Os cortes em rodelas e ralados foram embalados, separadamente,
em potes de polietileno tereftalato (PET)
com tampas e armazenados a 7ºC ± 3ºC,
por 14 dias.
Utilizou-se o delineamento inteiramente casualisado em esquema fatorial
2x3 (dois níveis do fator corte: ralado e
em rodelas; e três níveis do fator tempo: 0; 7 e 14 dias de armazenamento),
com três repetições, sendo a unidade
experimental composta de um pote de
polietileno tereftalato (PET) contendo
200 g de cenoura minimamente processada. Semanalmente foram retiradas
amostras para análise sensorial da aparência geral, cor característica de cenoura fresca (recém cortada), aroma característico, sabor (doçura) e textura
(crocância).
Para obter a freqüência de consumo
e a preferência pelo tipo de corte, amostras do produto processado nas mesmas
condições foram acondicionadas no
mesmo tipo de embalagem e apresentadas no mesmo dia ao público, em diferentes pontos do campus da UNICAMP,
simulando o ponto de venda. Os resultados foram anotados como porcentagem em relação ao número total de pessoas consultadas.
A análise sensorial foi feita por uma
equipe de 21 provadores não treinados,
onde cada um recebeu durante três semanas seis amostras codificadas, que
correspondiam aos dois tipos de cortes,
em três repetições. As amostras foram
retiradas da câmara fria e deixadas sobre a bancada até atingirem a temperatura ambiente e, em seguida foram
acondicionadas em recipientes adequados para prova e servidas aos provadores
em cabines individuais. Os resultados das
análises individuais de aparência, cor,
aroma, sabor e textura foram registrados
em escala não estruturada de 9 cm em
que o lado esquerdo corresponde à menor intensidade (valor 0) e o lado direito
à maior intensidade (valor 9). As variáveis avaliadas foram submetidas à análise de variância e as médias comparadas
pelo teste de Duncan em nível de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análise sensorial
Não houve interação significativa
entre os tipos de corte e o tempo de armazenamento nas condições do experimento. O efeito isolado de cada fator
sobre algumas variáveis que caracterizam a qualidade sensorial e a vida-deprateleira de cenouras minimamente
processadas será discutido a seguir.
O armazenamento e os tipos de corte afetaram a qualidade das cenouras
quando se estabeleceu uma escala de
escores de 0 a 9, onde 0-3 é ruim; 4-6 é
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Modificações sensoriais em cenoura minimamente processada e armazenada sob refrigeração
boa e 7-9 é excelente. As cenouras processadas na forma de rodelas apresentaram melhor textura, sabor e aroma e,
a ralada teve melhor aparência e cor aos
14 dias de armazenamento.
O armazenamento influenciou significativamente a aparência e a cor das
cenouras (Tabela 1). Ambos os cortes
apresentaram redução nos escores para
aparência e cor com o decorrer do armazenamento. Embora não tenham sido
detectadas diferenças significativas entre os cortes, a aparência e a cor foram
superiores para cenoura ralada ao final
do armazenamento. Este resultado era
esperado, uma vez que a cor está diretamente relacionada à aparência. As cenouras raladas, conservaram melhor a
aparência e a cor em função dos pedaços menores ficarem mais agregados
mantendo a umidade mais elevada no
interior da embalagem além da maior
capacidade de retenção da superfície de
corte lisa, homogênea e hidratada em
comparação à superfície áspera, quebradiça e desidratada da cenoura em rodelas (observação pessoal).
A perda da aparência satisfatória em
cenouras minimamente processadas é
geralmente atribuída a fatores que contribuem para o desenvolvimento de uma
superfície ”esbranquiçada”. Este fenômeno provavelmente é atribuído à desidratação externa da superfície do corte,
e poderá ser acompanhado por síntese
de lignina. Ambos podem estar diretamente relacionados com a extensão da
superfície exposta ao dano (Barry-Ryan
e O’Beirne, 1998).
A aparência é o atributo que mais
causa impacto na escolha por parte do
consumidor e dentro desta, a cor é a característica mais relevante. Isto porque
a cor caracteriza sobremaneira o produto, constituindo-se no primeiro critério
para sua aceitação ou rejeição. A aparência geral e a cor estão relacionadas
com a qualidade, índice de maturação e
deterioração do produto. O consumidor
espera uma determinada cor para cada
alimento e qualquer alteração nesta,
pode diminuir sua aceitabilidade (Modesta, 1994; Deliza, 2000).
Para o aroma não houve diferença
significativa entre tipos de corte no decorrer do armazenamento (Tabela 1). Os
resultados mostraram que o aroma se
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
manteve constante durante o armazenamento, variando de 7,2 a 6,7 para cenoura em rodelas e de 6,6 a 6,5 para
cenoura ralada aos 0 e 14 dias de armazenamento respectivamente. O resultado já era esperado, uma vez que a maioria dos compostos voláteis das cenouras são perdidos durante as operações
de pré-processamento e processamento
(Howard et al., 1996).
Para sabor e textura houve diferenças significativas, tanto para o tempo de
armazenamento quanto para o tipo de
corte (Tabela 1). Houve diferença significativa para o sabor entre o 7º e 14º dia
de armazenamento para o corte em rodelas. No 14º dia o escore atribuído (6,1)
foi maior em relação ao 7º dia (4,1). Para
cenoura ralada não houve diferença significativa. A textura teve comportamento semelhante para ambos os cortes. Houve diferença significativa entre os 7 e 14
dias de armazenamento quando os escores atribuídos foram respectivamente de
6,1 e 7,5 para cenoura em rodela e 4,6 e
6,3 para cenoura ralada (Tabela 1). O tempo de armazenamento teve efeito positivo sobre o sabor e a textura.
Os tipos de cortes influenciaram significativamente o sabor e a textura da
cenoura. O corte em rodelas mostrouse superior para ambos os atributos sensoriais. Em cenouras processadas na
forma de rodelas os tecidos internos sofreram menor ruptura das células e produção de exudatos, que contribuíram
para uma menor degradação dos compostos não voláteis responsáveis pelo
manutenção do sabor. Em cenouras processadas o sabor tem sido caracterizado
pelo uso das sensações básicas do gosto
(doce, ácido ou amargo), efetivas para
descrever os principais constituintes não
voláteis, pois os valáteis são reduzidos
durante as operações de préprocessamento (Talcott et al., 2001).
A maior textura dos cortes em rodelas se deve provavelmente à perda de
umidade durante o armazenamento, promovendo maior crocância. A perda de
matéria fresca da cenoura minimamente processada é o somatório da perda de
carbono por meio da respiração que
ocorre durante todo o tempo de armazenamento (Izumi et al., 1996).
O armazenamento e o tipo de corte
afetaram a qualidade sensorial e vida-
de-prateleira da cenoura. A aparência e
a cor foram afetadas negativamente,
enquanto que o sabor e a textura melhoraram com o decorrer do armazenamento para ambos os tipos de cortes. A aparência e a cor foram consideradas melhores para cenouras raladas e o sabor e
a textura foram melhores para cenouras
processadas em rodelas. A aparência é
o principal atributo para aquisição de um
produto, e dentro desta a cor. Assim conclui-se que para as cenouras minimamente processadas a forma ralada é a mais
indicada para o consumo.
Freqüência de consumo e teste de
preferência
Constatou-se que 59% dos entrevistados consome freqüentemente o produto, menos de 40% o consome ocasionalmente e uma porcentagem muito baixa não o consome. Embora seja relativamente recente a introdução de produtos minimamente processados no mercado brasileiro, o seu consumo tem aumentado rapidamente. A redução nos
núcleos familiares e o crescente ingresso da mulher no mercado de trabalho,
com conseqüente redução de tempo disponível para o preparo de frutas e hortaliças de forma tradicional, têm levado
os consumidores a demandarem cada
vez mais produtos que recebem algum
tipo de preparo. Na escolha de hortaliças pré-processadas os consumidores
optam por fatores como praticidade, facilidade de preparo, higiene, aparência,
sabor e qualidade nutricional. Com seu
elevado valor nutricional a cenoura participa como fonte importante de βcaroteno (pró-vitamina A), minerais e
possui baixa caloria.
Sempre que possível, produtos processados, devem ser submetidos ao teste de preferência para se conhecer a reação do consumidor e observar se a forma, a embalagem ou aparência são adequados.
No presente ensaio as cenouras minimamente processadas por dois tipos
de cortes foram apresentadas ao público para determinar o corte de maior preferência. Possivelmente, pela versatilidade e praticidade no uso, 64% das pessoas preferiram a cenoura ralada. A
praticidade é o predicado que a maioria
dos consumidores leva em consideração
na hora da escolha dos pré-processados.
149
J. M. Resende et al.
AGRADECIMENTOS
À FAPESP e PRODETAB/
Embrapa, pelo auxílio financeiro.
LITERATURA CITADA
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
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cultivares de cebola. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 151-153, jan-mar 2004.
Intensidade de ataque de tripes, de alternaria e da queima-das-pontas
em cultivares de cebola
Germano L.D. Leite*; Marília Cristina dos Santos; Silma L. Rocha; Cândido A. da Costa; Chrystian I.
Maia e Almeida
Universidade Federal de Minas Gerais, NCA, Fitotecnia, C. Postal 135, 39404-006 Montes Claros-MG; E-mail: [email protected];
*Autor Correspondente
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou–se a intensidade de ataque de Thrips tabaci Lind., a incidência de Alternaria porri (Ellis) e Botrytis squamosa J.C. Walker em
nove cultivares de cebola [Aurora, Primavera, CNPH 6400, Crioula
Alto-Vale, Vale–Ouro (IPA 11), Franciscana (IPA-16), Piraouro, Conquista e Serrana], num experimento no delineamento em blocos
casualizados com cinco repetições. Foram feitas avaliações semanais,
do transplantio até a colheita, em dez plantas/parcela do número de T.
tabaci presente na bainha das folhas bem como da percentagem de
área foliar danificada pelo mesmo a partir da primeira folha expandida e também da presença ou da ausência de lesões causadas por A.
porri e B. squamosa. A cv. Franciscana mostrou-se mais resistente em
relação às demais ao ataque de T. tabaci. Não houve diferença significativa de plantas afetadas por A. porri e B. squamosa. T. tabaci e A.
porri foram ambos afetados positiva e negativamente pela temperatura e pela umidade relativa do ambiente, respectivamente.
Intensity of attacks of thrips, purple blotch and gray mold
on onion cultivars
Palavras-chave: Thrips tabaci, Alternaria porri, Botrytis squamosa,
Allium cepa.
The intensity of attack of T. tabaci and incidence of Alternaria
porri (Ellis) Cif and Botrytis squamosa J.C. Walker in nine onion
cultivars [Aurora, Primavera, CNPH 6400, Crioula Alto-Vale, Vale–
Ouro (IPA 11), Franciscana (IPA-16), Piraouro, Conquista and
Serrana] was evaluated, in an experiment in randomized blocks
design, with five replications. Weekly evaluations were done from
the transplanting until harvesting date, in ten plants/parcel of the
number of T. tabaci on the leaves, the percentage of damaged foliar
area from the first expanded leaf up and the presence or absence of
injuries caused by A. porri and B. squamosa. The cv. Franciscana
was more resistant to the attack of T. tabaci in comparison to the
other onion cultivars. There was no significant difference between
cvs for A. porri and Botrytis squamosa resistance. T. tabaci and A.
porri were influenced positively and negatively by temperature and
relative humidity, respectively.
Keywords: Thrips tabaci, Alternaria porri, Botrytis squamosa,
Allium cepa.
(Recebido para publicação em 17 de fevereiro de 2003 e aceito em 28 de novembro de 2003)
A
cebola (Allium cepa) L., de origem asiática, foi trazida ao Brasil
pelos portugueses, sendo cultivada em
quase todo o país, principalmente nas
regiões Sul e Sudeste (Filgueira, 2000).
O Norte de Minas Gerais, mais precisamente, o vale do São Francisco, é importante produtor dessa espécie. Esta
região, de transição para o clima semiárido (quente e seco), que favorece a
maturação do bulbo (Filgueira, 2000). A
cultura é afetada por pragas como tripes
[Thrips tabaci Lind (Thysanoptera:
Thripidae)] (Gallo et al., 2002) e doenças, destacando-se alternaria [Alternaria
porri (Ellis)] (Zambolim et al., 2000) e
queima-das-pontas (Botrytis squamosa
J.C. Walker) (Agrios, 1988; Kimati et al.,
1997). O ataque dessa praga e doenças
causam grandes perdas na produção e
podem inviabilizar a cebolicultura, sendo importante identificar cultivares mais
resistente.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Este trabalho teve como objetivo
avaliar a resistência de nove cultivares
de cebola a tripes, alternaria e queimadas-pontas, sob sistema convencional de
cultivo no Norte de Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido de
04/06 a 30/08/02 na UFMG, em Montes Claros, longitude de 43º 53' W, latitude de 16º43’S e altitude: 650 m. Segundo a classificação de Köppen, o clima é o Aw: tropical de savana, inverno
seco e verão chuvoso.
O delineamento foi em blocos
casualizados com cinco repetições, onde
cada parcela consistiu de cinco fileiras
de plantas com 3 m de comprimento e 1
m de largura (unidade experimental de
3 m2), totalizando 135 m2 de área total.
A área útil do experimento foi de 0,60
m2 por parcela, constituída pela fileira
central. Os tratamentos constituíram–se
de nove cultivares de cebola [Aurora,
Primavera, CNPH 6400, Crioula AltoVale, Vale–Ouro (IPA 11), Franciscana
(IPA-16), Piraouro, Conquista e Serrana]. O transplantio das mudas foi realizado 45 dias após a semeadura em
espaçamento de 20x7 cm, irrigadas por
micro-aspersão e, sendo a partir desse
período iniciadas as avaliações.
Avaliou–se, semanalmente, do
transplantio até a colheita, por meio de
contagem direta, o número de tripes presentes na bainha das folhas bem como a
percentagem de área foliar danificada
pelo mesmo a partir da primeira folha
expandida em dez plantas/parcela, adaptando as metodologias de Gonçalves
(1997), Edelson et al. (1986), Shelton
et al. (1987) e de Domiciano et al.
(1993). Nessas mesmas amostras foram
também avaliada a presença ou ausência de lesões causadas por alternaria e
por queima das pontas. Os dados foram
151
G. L. D. Leite et al.
Tabela 1. Número e percentagem de área foliar de nove cultivares de cebola afetadas por Thrips tabaci. Montes Claros, UFMG, 2002.
Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem, entre si, pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade.
Tabela 2. Número médio/planta e de percentagem de área foliar de cebola danificada por Thrips tabaci, percentagem de plantas de cebola
danificadas por Alternaria porri e Botrytis squamosa. Montes Claros, UFMG, 2002.
Médias seguidas pela mesma letra nas linhas não diferem, entre si, pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade.
submetidos à análise de variância, teste
de média de Scott Knott e à correlação
de Pearson a 5% de significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou–se maior número de tripes
na cultivar Crioula Alto–Vale em relação
152
às demais (Tabela 1). Contudo, a maior
percentagem de área foliar danificada foi
detectada nas cultivares Conquista, CNPH
6400 e Serrana, seguidas por Primavera,
Aurora e Crioula Alto–Vale e por Vale–
Ouro (IPA 11), Piraouro e Franciscana
(IPA-16) (Tabela 1). Esse fato, possivelmente, se deve à maior suscetibilidade ao
ataque de tripes das cultivares CNPH
6400, Conquista e Serrana em relação às
demais, propiciando maior número de lesões nas folhas. Já a cultivar Franciscana
(IPA-16) apresentou menor número de
tripes/planta e menor percentagem de área
foliar danificada, mostrando–se mais resistentes ao ataque desse inseto.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Intensidade de ataque de tripes, de alternaria e da queima-das-pontas em cultivares de cebola
Observou-se aumento populacional
de tripes em todas as cultivares a partir
de julho (Tabela 2), possivelmente em
função das relações entre umidade relativa (UR) e da temperatura (T) do ar
observadas no meses de cultivo [(Junho:
T=20,73°C; UR = 58,47%), (Julho:
T=21,38°C; UR = 56,47%), (Agosto:
T=22,79°C; UR = 44,88%)], já que o
aumento da temperatura (r=0,99) (Lall
& Singh, 1968; Gonçalvez 1997) e a
redução da umidade relativa (r=- 0,99)
(Lall e Singh, 1968) aceleram o ciclo
biológico do T. tabaci, favorecendo o
seu incremento populacional. O número máximo de tripes/planta foi observado na cv. Crioula Alto-Vale (10,07±1,74)
no mês de agosto, mas ficando abaixo
do nível de controle (15 tripes/planta)
(Gonçalves, 1997).
As lesões ocasionadas por tripes
podem também favorecer a ocorrência
de alternaria e da queima-das-pontas
(Zambolim et al., 2000). Porém, não se
detectou diferença estatística significativa entre as cultivares de cebola quanto a
percentagem de plantas afetadas por alternaria (20,00±1,00) e queima-das-pontas (35,00±1,00). Observou-se maior percentagem de plantas afetadas por alternaria a partir de julho, fato não observado para a queima-das-pontas (Tabela 2),
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
possivelmente devido ao aumento de
temperatura e da redução da umidade
relativa. A incidência de alternaria é
melhor favorecido em altas temperaturas (r=0,95), porém sob baixa umidade
relativa do ar (r=-0,98), a doença não se
desenvolve podendo surgir manchas
brancas estéreis (Zambolim et al., 2000).
Temperaturas relativamente baixas e
alta umidade relativa são fatores que
predispõem a queima-das-pontas
(Zambolim et al., 2000). Contudo, neste trabalho, não se detectou correlação
significativa desses elementos climáticos sobre queima-das-pontas.
A cv. Franciscana foi a mais resistente
ao ataque do tripes, pois apresentou menor número de tripes/planta e menor percentagem de lesões foliares. O Norte de
Minas Gerais é um promissor produtor
de cebola já que o clima quente e seco
não favorece o estabelecimento de alternaria e de queima-das-pontas.
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153
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Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90
Paulo César T. de Melo1; Nirlene J. Vilela2
1
ESALQ, C. Postal 09, 13418-900 Piracicaba-SP; E-mail: [email protected]; 2Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970
Brasília-DF; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Analisou-se o desempenho da cadeia agroindustrial do tomate
na década de 90. Esta cadeia apresenta elevada importância
socioeconômica no contexto do agronegócio, principalmente, por
sua elevada capacidade de geração de emprego e renda em todos os
setores da economia. Só o mercado de derivados de tomate para
processamento industrial gerou US$ 300 milhões em 1990 e fechou a década em US$ 500 milhões. O volume de tomate para
processamento industrial produzido nos últimos cinco anos, em
média, alcançou cerca de um milhão de toneladas. Observou-se
que no ano 2000, comparado a 1990, apesar da redução de 45% na
área plantada, a produtividade incrementou em mais de 93%. Diversos fatores contribuíram para elevação da produtividade, entre
esses, a concentração da produção em áreas de Cerrado (GO e MG)
favorecidas pelo solo e clima; adoção de tecnologias avançadas
substituindo cultivares de polinização aberta por híbridos de alto
potencial produtivo. Adicionalmente, foram introduzidos novos métodos de manejo na cultura, incluindo técnicas mais eficientes de
irrigação associadas a novas fórmulas para nutrição de plantas. Outro
fator favorável foi a melhor integração entre os setores agrícola e
industrial. As importações reduziram significativamente em 1999,
cedendo maior espaço para a produção interna. As indústrias inovaram-se com o lançamento de embalagens mais práticas e novos
produtos menos concentrados e de maior valor agregado, como
molhos e outros.
Performance of the Brazilian agrindustrial chain of tomato
on the 90’s
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, agroindústria, mudanças, nova tecnologia, polpa de tomate.
Keyword: Lycopersicon esculentum, agrindustry, new technology,
tomato pulp.
The performance of the Brazilian tomato agroindustrial chain in
the 90’s was analysed. This was done taking into account the great
socio-economic importance of this chain, principally its capacity to
generate employment and create income in all sectors of the economy.
The industrial processing of tomatoes alone generated $ 300 million
in 1990 and ended the decade with US$ 500 million. Tomato
processing averaged one million tons in the last five years. However,
comparing the production of 2000 in relation to 1990, in spite of the
reduction of 45% of cultivated area (year 2000), the yield increased
more than 93%. Several factors contributed to the increase in
productivity, as the concentration of the production in Savannah areas
which are favored by the soil and climate; adoption of advanced
technologies where open pollination cultivars were substituted for
high yielding hybrids. In addition, new technologies of production
were introduced in the tomato production process, including more
efficient irrigation techniques associated to new formulations of plant
nutrition. Another favorable factor was the more efficient interaction
between the production process and industrial sectors. The
importation of tomato paste was significantly reduced in 1999, giving
space to the internal production. The industries innovated with the
release of more practical packages and less concentrated products
with greater added value, such as sauces.
(Recebido para publicação em 13 de março de 2003 e aceito em 10 de dezembro de 2003)
A
cadeia agroindustrial do tomate
posiciona-se entre as mais importantes no contexto do agronegócio. À
montante do setor produtivo, a cultura do
tomate para processamento industrial
movimenta as indústrias paralelas de
insumos, embalagens, máquinas agrícolas e equipamentos de irrigação. Como
matéria-prima para as indústrias
processadoras de derivados, o tomate
para processamento representa a atividade principal geradora de renda para um
grande número de produtores, tornandose significativa fonte de renda regional.
Apesar de originalmente ser indústria do tipo “caseira”, o processamento
154
do tomate para fins industriais iniciouse no Sul da Itália e nos Estados Unidos
há mais de um século. Nos últimos 30
anos esta atividade experimentou notável crescimento na produção agrícola e
industrial, em particular na década de
90 (Brandão e Lopes, 2001).
Na década de 90, com a consolidação
do Mercosul e a globalização de mercados, as atividades relacionadas ao tomate
para processamento industrial iniciaram
intenso processo de reconversão: intensificou-se a aplicação de tecnologia de produção avançada e de sistema integrado de
produção. Para maior competitividade, adotou-se processos racionais de produção,
incluindo tecnologia avançada associada à
melhor especialização da mão-de-obra.
Neste trabalho avaliou-se o desempenho da cadeia agroindustrial do tomate na década de 1990.
MATERIAL E MÉTODOS
As informações que serviram de
base para elaboração deste trabalho foram obtidas de fontes oficiais, tais como
AMITON, FAO e SECEX além das obtidas por indústrias processadoras e em
publicações.
Utilizou-se modelos de análise tabular simples para gerar as informações
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90
necessárias para descrição de perfil.
Adicionalmente, utilizou-se o modelo de
Hoffmann (1992) para análise de desempenho de variáveis em determinado período de tempo, obtendo desta forma as
taxas geométricas de crescimento
(TGC) da produção, área e produtividade na década de 1990.
O critério de Hoffmann para
quantificação de desempenho é da forma:
onde Q é a variável a
ser quantificada (produção, área ou produtividade) x é o tempo, r é a taxa de
crescimento por unidade da variável
quantificada, ε é o erro multiplicativo e
θ é o intercepto da função.
Aplicando logaritmos a esse método não-linear, obtemos:
Fazendo
e
o modelo por
anamorfose assume a forma:
Como β =
, segue-se que:
Se b é a estimativa de mínimos quadrados de β, a estimativa da taxa de crescimento de Q é dada por:
~
y = antilog (b)- 1
As informações sobre mercado internacional e nacional foram obtidas das
respectivas análises das informações
fornecidas pelo Secex e outras fontes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produção de tomate para
processamento em 2001, comparativamente ao ano anterior, apresenta
declínio de 14%, em nível mundial. Em
2000 já havia sido registrada a queda de
produção de 9% em relação a 1999. As
23,7 milhões de toneladas produzidas
em 2001 não foram suficientes para
atender a demanda mundial. Isso reflete os ajustes que foram implementados
nas principais áreas de produção em
busca da redução dos níveis de estoques
de pasta e de outros derivados semi-industrializados de tomate, depois da safra recorde de 1999. No estoque mundial de matéria-prima, em 2001, os países integrantes da AMITOM e do
NAFTA foram responsáveis por 42 e
37%, respectivamente. A Califórnia sozinha manteve o status de líder mundial
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
com 33% do volume produzido, não
obstante tenha registrado significativa
queda de produção (16%) em relação a
2000.
As cotas de produção estabelecidas
pela União Européia (UE) foram cumpridas com pequena discrepância observada em alguns países. Aparentemente,
eventuais incrementos da produção de
matéria-prima poderiam contribuir para
aumentar ainda mais os efeitos negativos dos preços da pasta e de outros produtos semi-industrializados de tomate
no mercado internacional. Ademais, o
consumo per capita de pasta de tomate
exibiu insignificante crescimento na
maioria dos países durante os anos 90.
Alguns países da UE experimentaram
decréscimo de consumo, enquanto nos
Estados Unidos o consumo per capita
mostrou-se estabilizado (Lucier et al.,
2000).
O Brasil é o principal produtor da
América do Sul, seguido pelo Chile e
Argentina. A produção brasileira de tomate para processamento industrial, no
último quinqüênio, foi de aprox. 1 milhão de t/ano, com a marca recorde de
1,3 milhão de toneladas na safra de
1999. No início da década de 90, a área
plantada
com
tomate
para
processamento industrial foi de 27 mil
hectares. Desse total, o Nordeste (PE e
BA) participou com 46%, São Paulo
com 30% e o Cerrado (GO e MG) com
24%. Em 2000, a área plantada reduziu-se para 14,8 mil hectares e o Cerrado transformou-se na mais importante
zona de produção de tomate industrial
do País, com 77% da área plantada, seguido de São Paulo com 14% e do Nordeste com apenas 9%.
Em 1990, o rendimento médio da
cultura era em torno de 35 t/ha evoluindo para, aproximadamente, 67 t/ha na
safra de 2000. A safra 2001 aponta uma
concentração ainda maior da produção
no Cerrado, com área colhida de 12.100
ha, equivalente a 80% do total nacional
(Tabela 1). As condições edafo-climáticas dessa região mostraram-se altamente
favoráveis à expansão da cultura, propiciando o uso de técnicas de manejo
voltadas para alto rendimento e conseqüente redução de custos (Barbosa,
1997). Foi também favorável a expansão do uso de cultivares híbridas e a
maior integração entre os setores agrícola e industrial, permitindo maior
eficiência na adoção, difusão e a transferência de tecnologia. A política de incentivos fiscais, especialmente do governo do estado de Goiás, foi também
decisiva na implantação de novas fábricas na região (Argerich et al.,1999;
Vilela, 2001).
Na década de 90, a área e a produção reduziram à taxa média anual de
11,7 e 12,0% em PE e BA, respectivamente. No estado de São Paulo a área e
produção reduziram respectivamente
12,2 e 7,2%. No Cerrado mineiro e em
Goiás, ocorreu crescimento médio anual
da área (7,3 %) e da produção (15,9%).
No Brasil, as áreas de tomate industrial
reduziram-se à taxa média anual de
1,8%. Apesar disso, a produção continuou crescendo a uma taxa média anual
de 3,8% ao ano, sustentada pelos ganhos de produtividade.
Todos os segmentos da cadeia
agroindustrial brasileira de tomate foram afetados pelas transformações
verificadas na década de 90. No segmento produtivo, a introdução de novas
tecnologias de manejo, especialmente
no Cerrado mineiro e goiano, desempenhou papel decisivo para a duplicação
do rendimento em uma década. Embora já tivesse sido introduzida em pequena escala desde o início da década de
90, a colheita mecanizada do tomate
industrial passou a ser largamente praticada a partir da safra 1997 na zona de
produção do Cerrado. Nessa região, a
tomaticultura industrial está baseada em
grandes produtores e a topografia predominante é muito favorável à mecanização da colheita (Barbosa, 1997). Em
vista disso, nos dois últimos anos a colheita mecanizada mostrou expressivo
crescimento, concentrando-se na região
de Patos de Minas, e nas zonas de produção de Goiás onde estão localizadas
as fábricas da Gessy Lever/Van den
Bergh (Cica), Arisco e de outras empresas processadoras.
A escassez de mão-de-obra contribuiu decisivamente na expansão da colheita mecanizada em áreas do Cerrado. Com o incentivo das indústrias, especialmente da Gessy Lever/Van den
Bergh, na safra 1999, 27 máquinas
automotrizes da marca ítalo-americana
155
P. C. T. Melo e N. J. Vilela
Sandei/FMC, modelo SL150T, estavam
em operação na região. A capacidade
máxima de colheita dessa máquina é de
20 t/hora, chegando a colher até três
hectares por dia. A ocorrência de chuva
que costuma ocorrer da metade até o final da colheita, limita a colheita mecanizada no Cerrado. Deve ser mencionado que a colheita mecanizada foi responsável por mudanças importantes no
cultivo do tomate industrial, como a
mecanização de operações culturais e a
escolha de cultivares adequadas ao
processamento.
Ao longo da década de 90, cultivares de polinização aberta foram paulatinamente substituídas por híbridos de
alto potencial produtivo, com características agronômicas e industriais que
atendem aos requisitos dos
processadores (Melo, 2001; Vilela,
2001). Desse modo, em curto prazo as
variedades de polinização aberta deixaram praticamente de ser plantadas (menos de 15% da área contratada por indústrias, em 2000).
O uso de cultivares híbridas começou a se expandir a partir da safra 1997,
quando a área plantada era de 3 mil hectares, representando apenas 15% da área
cultivada com tomate industrial. Em
1998 e 1999, passou para 46 e 83%, respectivamente. Em comparação com variedades comuns, os híbridos apresentam as vantagens de alto potencial de
produção; maturação concentrada (fundamental para a colheita mecanizada);
alta capacidade de armazenamento na
planta e resistência múltipla a doenças.
Os principais híbridos plantados atualmente são: Heinz 9992, APT 533, Heinz
9665, APT 529, Heinz 9553, Hypeel
108, Hycolor 312 e RTP 1095. A expansão do uso de híbridos impôs profunda
mudança no cultivo do tomate para
processamento industrial. A semeadura
direta que chegava a gastar de 1-2 kg de
sementes/ha, foi substituída pelo
transplantio por mudas. Foram instaladas empresas viveiristas para a produção de mudas em larga escala que investiram em tecnologia e rigoroso controle fitossanitário. Como conseqüência,
o uso de sementes híbridas tornou-se
viável, empregando-se 1 kg na produção de mudas para 8 hectares. O
milheiro de mudas, na safra 2001, foi
156
negociado no valor de US$ 4,50, sem
incluir o preço da semente.
Para o transplantio de mudas em
grandes áreas estão sendo utilizadas
máquinas transplantadeiras. O modelo
atualmente utilizado, importado da Itália, tem capacidade para transplantar
cerca de 120 mil mudas por dia,
correspondendo ao plantio de quatro
hectares de lavoura (Giordano et al.;
2001). O transplantio de mudas direto
na palha foi introduzido na região de Rio
Verde, (GO) com resultados promissores. Este sistema propicia melhor conservação do solo e menor uso de máquinas. O maior aproveitamento da produção devido a menores perdas por podridão, além da bonificação recebida
pela alta qualidade da matéria-prima têm
incentivado o uso dessa técnica.
É predominante a irrigação por aspersão (portátil, permanente, pivô central) nas três regiões de cultivo de tomate industrial do país. O sistema de
sulcos de infiltração está restrito a algumas áreas do submédio São Francisco em solos de topografia e textura favoráveis. A irrigação por aspersão com
pivô central tem sido questionada por
favorecer a incidência de doenças
bacterianas e fúngicas da parte foliar e
do solo (mofo-branco) de difícil controle. O sistema de gotejamento vem sendo adotado em pequena escala, especialmente no Cerrado, como alternativa aos
pivôs. O grande interesse por
gotejamento na tomaticultura industrial foi despertado, principalmente, pela
economia de água e energia, aliados ao
substancial aumento de produtividade e
melhoria da qualidade da matéria-prima (Barbosa, 1997). Entretanto, o alto
custo de implantação e a necessidade de
melhor conhecimento da técnica tornam-se limitantes na adoção dessa nova
tecnologia. Ademais, para que o
gotejamento possa ser consolidado
como alternativa viável, é imperativo
que os teores de sólidos solúveis (Brix)
da matéria-prima não sejam negativamente afetados.
Estrutura do mercado interno
No início da década de 90, o valor
global do mercado brasileiro de derivados de tomate foi avaliado em US$ 300
milhões e, em 2000, alcançou um
faturamento de US$ 500 milhões, repre-
sentando incremento de 66,6% no período de dez anos (Melo, 1993; Agrianual,
2001).
O mercado de derivados de tomate
no Brasil é altamente concentrado estando em poder, praticamente, de quatro empresas de capital estrangeiro:
Unilever Bestfoods, com 50% do mercado, Parmalat (19%), Cirio, (8%) e
Sófruta/IANSA (5%) (Brasil Alimentos,
2001). Os 18% restantes estão nas mãos
de empresas nacionais de pequeno e
médio portes. No total, foram
comercializados em 2000 cerca de 350
mil toneladas de produtos atomatados,
sendo 41% de extrato simples concentrado (18 a 23 Brix), 30% de molhos
prontos, 15% de catchup e 14% de polpa de tomate. (Brasil Alimentos, 2001).
Em 1993 foram comercializadas 270 mil
toneladas de derivados (extrato simples
concentrado 52,3%, purê e polpa,
24,5%, molhos prontos, 21,1%, e outros
molhos, 2,1%) segundo estimativa da
Associação Brasileira da Indústria de
Alimentos (ABIA), citada por Nuevo,
1994. Portanto, houve aumento de aproximadamente 30% no volume total dos
derivados de tomate comercializados no
País entre o início e o término da década de 90. No período considerado, o segmento de molhos prontos apresentou
mais do dobro da produção (estimativas de 46,2 mil toneladas em 1990; 54,9
mil toneladas em 1995, e 105 mil toneladas, em 2000) (Argerich et al., 1996,
1997; Brasil Alimentos, 2001).
A substituição de bases concentradas, como extrato de tomate, por molhos tradicionais e especiais, polpas e
purês por outros produtos formulados
como o catchup, está relacionada a mudanças no estilo de vida e a novos hábitos alimentares adotados pela população
brasileira (Fernandes, 2000). A propósito, pesquisas de mercado realizadas
por empresas do setor, têm apontado que
os consumidores brasileiros buscam
produtos práticos que economizem tempo e que sejam fáceis de utilizar (Brasil
Alimentos, 2001). As pesquisas também
indicam que os consumidores preferem
que os produtos sejam acondicionados
em embalagens igualmente práticas e
higiênicas, a exemplo das caixinhas
cartonadas longa vida (Tetra Pakâ). De
outro lado, à expansão das redes de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90
Tabela 1. Área cultivada e produção brasileira de tomate industrial,1990-2001.
1
Adicionar mais 66 mil t entregues às indústrias, sem contrato (Total Brasil = 1.059.500 t). 2 Estimativa das indústrias.
fastfood (pizza, hamburguer, cachorroquente), ao longo da década de 90, pode
ser creditado o acentuado crescimento
do consumo de produtos à base de tomate, com destaque para catchup.
Embora o mercado consumidor tenha mostrado crescimento oscilante nos
últimos anos, o setor industrial vem investindo em diversificação de linhas de
produto, na modernização de processos
de fabricação, embalagens e na ampliação e construção de novas fábricas. Na
década passada, o setor agroindustrial
passou a ser controlado por grandes grupos transnacionais (Unilever Bestfoods,
Parmalat, Cirio e Iansa). O segmento, que
já era considerado altamente
oligopolizado, tornou-se ainda mais concentrado com a recente aquisição da
Arisco pela Unilever Bestfoods. O complexo empresarial anglo-holandês
Unilever, através de sua subsidiária brasileira Indústrias Gessy Lever Ltda., Divisão Alimentos Van den Bergh, adquiriu, em 1993, do grupo italiano Cragnotti
e Partners, a Cia. Industrial de Conservas Alimentícias, proprietária da marca
líder Cica. Com a adição da Arisco ao
seu portfólio da linha de atomatados, a
Unilever Bestfoods consolidou a posição
de líder do mercado brasileiro no setor
de produtos à base de tomate.
Em 1997, a empresa paulista Sófruta
foi adquirida pelas Empresas Iansa S.A.,
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
conglomerado chileno do setor
agroalimentar. No início de 1998, a
Cragnotti e Partners, através de sua
holding Bombril-Cirio, voltou ao mercado brasileiro com a aquisição da Indústrias Alimentícias Carlos de Britto,
proprietária da tradicional marca Peixe.
Com planos de conquistar fatia significativa de mercado em curto prazo, lançou a marca Cirio, uma das mais antigas e populares da Itália. Ainda em 1998,
a Parmalat adquiriu o controle acionário
da Etti, do grupo Fenícia. Seguindo o
exemplo de sua concorrente italiana,
decidiu manter separadas no mercado
suas linhas de derivados de tomate das
marcas Etti e Parmalat.
O primeiro grande reflexo da transferência do controle acionário de empresas brasileiras para grupos
transnacionais foi a radical
reestruturação em suas operações de
primeiro e segundo processamentos, resultando no fechamento de várias unidades fabris, e ampliação e modernização de outras. As principais mudanças
ocorreram no polo Petrolina (PE)Juazeiro (BA), em vista da perda de
competitividade do setor produtivo que
não mostrou condições de abastecer, em
volume e qualidade, a demanda de matéria-prima de tomate das agroindústrias
da região (Melo, 2000). Desse modo, em
setembro de 1998, a Bombril-Cirio de-
cidiu encerrar as operações da Fábrica
Peixe, localizada em Pesqueira (PE),
fundada há mais de um século e pioneira no processamento de tomate industrial na América Latina. As fábricas da
Palmeiron, instaladas em Belo Jardim e
Petrolina, ambas em Pernambuco, adquiridas pela Arisco, também foram
desativadas. Do mesmo modo, a Costa
Pinto Indústria de Alimentos Ltda, de
Petrolina, que havia sido arrendada à
Nestlé, teve suas operações paralisadas
há alguns anos atrás. Mais recentemente, a Gessy Lever e a Parmalat, também
decidiram fechar suas fábricas instaladas em Juazeiro e Petrolina.
Apesar da desativação quase total do
polo agro-industrial de tomate no Nordeste, as empresas processadoras, na
verdade, redirecionaram seus investimentos para as novas fronteiras localizadas no Centro-Oeste e Triângulo Mineiro, em vista das vantagens competitivas anteriormente mencionadas. Essa estratégia trouxe efeito negativo também
para o estado de São Paulo onde na década de 90 houve fechamento das fábricas da Cica em Presidente Prudente,
Monte Alto e Jundiaí. Em fins de 1999, a
Bombril-Cirio fechou a segunda Fábrica
Peixe, localizada em Taquaritinga (SP),
centralizando suas operações agro-industriais na fábrica de Itapaci (GO), adquirida da MS Alimentos.
157
P. C. T. Melo e N. J. Vilela
Tabela 2. Empresas processadoras de tomate, suas respectivas marcas, localização de suas fábricas e volume de matéria-prima processada em 2001.
*Empresas produzem polpa concentrada (28o a 30o Brix) e produtos acabados, exceto 13 e 18.
**Produz, atualmente, apenas produto acabado a partir da polpa industrial importada.
Fonte: Indústrias processadoras
Tabela 3. Importações brasileiras de derivados de tomate, 1996-2000
Fonte: Secex/Decex
No início da década de 90 a capacidade total de processamento industrial
instalada das indústrias brasileiras era
estimada em 13.000 t/dia. O Nordeste
(PE/BA) detinha a maior concentração
de indústrias processadoras de tomate e
158
respondia por 49,2% da capacidade industrial do país. As fábricas em operação no Sudeste respondiam por 39,2%
e o Centro-Oeste com 11,5% (Melo,
1993). Com as mudanças ocorridas ao
longo da década, o Nordeste perdeu
competitividade para o Cerrado culminando com o fechamento de, praticamente, todo o parque industrial nordestino. Hoje, a capacidade total de
processamento de tomate é estimada em
cerca de 15.000 t/dia e a maioria das
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90
Tabela 4. Importações brasileiras de tomate por tipo de produto, 1996-2000.
Fonte: Secex/Decex
plantas industriais localiza-se nos estados de Goiás e de Minas Gerais. Na safra 2001, estas fábricas processaram 962
mil toneladas de matéria-prima de tomate correspondendo a 84,4% do volume total brasileiro. O restante da produção foi processado no Sudeste
(10,7%) e no Nordeste (Tabela 2).
As empresas investiram na modernização de suas plantas industriais, visando a melhoria da eficiência dos processos tecnológicos, obtendo produtos
finais de melhor qualidade a um custo
mais baixo. Em função do crescimento
do segmento de molhos prontos, as empresas instalaram equipamentos de última geração para a obtenção de tomate
cubeteado. Outra inovação recente, na
área de tecnologia industrial diz respeito
ao enchimento asséptico (asseptic filling)
de pasta e de tomate em cubo em sacos
aluminizados acondicionados em tambores de 55 galões (210 kg) ou em caixas
de madeira com capacidade de armazenar até 300 galões (sistemas bag-in-drum
e bag-in-box) (Fernandes, 2000).
Quanto aos produtos básicos como o
extrato de tomate, há uma tendência de
transferência na comercialização para as
grandes redes de supermercado que têm
suas marcas próprias. As empresas vêm
dando cada vez mais atenção ao mercado
institucional, que mostra perspectivas de
crescimento no país. Com efeito, o mercado de refeições coletivas serve, atualmente, cerca de 8,5 milhões de refeições/
dia consumindo mais de 1,2 milhão de
toneladas de alimentos/ano, incluindo derivados de tomate (Fernandes, 2000).
Mercado externo de produtos derivados de tomate
A maior parte das importações de
polpa concentrada (28 a 32° Brix) e de
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
outros derivados realiza-se durante o
primeiro semestre, depois da safra brasileira ter sido encerrada e inteiramente
processada, o que ocorre entre os meses de outubro e novembro. As indústrias importam esses produtos para suplementar a produção nacional que não
tem sido suficiente para atender a demanda do mercado interno (Tabela 3).
Entre os principais derivados de tomate
importados destaca-se a polpa concentrada, seguida pelos tomates preparados/
cozidos (Tabela 4).
As aquisições externas são estrategicamente importantes para o setor reduzir o custo de manutenção de estoque
de polpa concentrada durante a
entressafra que se estende de novembro
a junho. Além disso, o setor industrial
do País planeja a próxima safra depois
que os níveis de estoque mundial já foram consolidados e divulgados. Não
obstante, a decisão dos volumes a serem importados depende também de situações circunstanciais da economia do
País, tais como juros elevados para o
custeio da produção e manutenção de
estoque, mudanças cambiais e de tarifas alfandegárias e das condições de juros e prazos que são oferecidas pelos
exportadores. Esses fatores explicam a
oscilação na importação de derivados de
tomate ao longo da década de 90 e não
caracterizam falta de competitividade do
produto nacional. A desvalorização do
real frente ao dólar foi um fator que, de
certa forma, também contribuiu para a
significativa queda das importações dos
derivados de tomate nos últimos dois
anos. Em vista dessa conjuntura, as
empresas do setor passaram a substituir
grande parte das importações pela produção nacional.
As indústrias importaram em maior
volume polpa concentrada ou pasta de
tomate, utilizada como matéria-prima
semi-industrializada reprocessada, destinados aos mercados varejista e
institucional (Fernandes, 2001).
Em 1995, o Brasil importou 60,5 t
de derivados de tomate; no ano 2000,
as importações reduziram-se para 23,0
t, sendo em maior parte de polpa concentrada procedente do Chile (73%), Itália (20%) e Estados Unidos (3%). As
importações de derivados de tomate
cresceram de 1991 (27,8 mil t) até 1997
(78,1 mil t). Nos anos subsequentes,
observam-se reduções progressivas de
importações, chegando a 23 mil t no ano
2000. Na década de 90, o preço médio
(FOB) pago pelos importadores brasileiros por tonelada do produto flutuaram entre o limite máximo US$ 1000
em 1998 e o limite mínimo de US$ 530
no ano 2000.
O alvo principal das exportações
brasileiras de derivados de tomate tem
sido os países membros do Mercosul.
Como exportador, a participação do Brasil no mercado internacional foi pouco
relevante, entre 1996 e 1998. Nesse período as exportações apresentaram pequenas variações entre 16,2 a 16,6 mil
t/ano. A partir de 1999, favorecido pela
desvalorização do real, verifica-se um
impulso de 46% nas exportações, que
alcançaram 23,6 mil t/ano, em 2000.
A cadeia brasileira agroindustrial do
tomate tem se mostrado eficiente e competitiva, de acordo com análises econômicas conduzidas por Brandão e Lopes,
2001 e Vilela, 2001. Entretanto, o mercado internacional é altamente competitivo, caracterizando-se por margens
estreitas, produção volátil e com poten159
P. C. T. Melo e N. J. Vilela
cial à acumulação de níveis elevados de
estoques. Caracterizados como
commodities, os derivados do tomate
estão sujeitos a ampla variação de preço em função dos níveis de estoques, de
quebra de produção devido a fatores climáticos adversos, de ocorrência de pragas e doenças nas zonas de produção e
da demanda no mercado mundial. Embora tenham ocorrido consideráveis
avanços na cadeia agroindustrial do tomate no decorrer dos anos 90, concluise que, tanto o setor produtivo quanto o
de processamento, necessariamente têm
que incorporar tecnologias capazes de
reduzir custos, elevar a produtividade e
melhorar a qualidade da matéria-prima
e dos produtos acabados em bases sustentáveis, assegurando uma margem de
lucro compensadora para todos os agentes envolvidos no agronegócio do tomate para processamento.
LITERATURA CITADA
AGRIANUAL 2001-Fnp consultoria & comércio
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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
comunicação
In memoriam
Prof. Dr. João Tessarioli Neto
“Onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teu coração” (Mt 6,21)
Sócio da Sociedade de Olericultura
do Brasil desde 1975, faleceu aos 53
anos, em 18/12/2003, deixando esposa
(Sra. Giselda) e três filhos (João Guilherme, Carlos Eduardo e Graziela).
Soube suportar, com autêntica conformidade cristã, os incômodos da doença, que nos privou do seu convívio.
Membro de uma família afetuosa e
culta, de oito filhos, nasceu em Campinas, interior de São Paulo, em 09/06/
1950. O trabalho árduo era o lema da
família. Nas horas vagas da adolescência ajudava nos trabalhos da pequena
fábrica de vassoura dos pais (Luiz e
Yolanda). Sempre revelou-se como uma
pessoa disciplinada, religiosa,
carismática e de inteligência incomum.
Foi aluno de dois famosos colégios
campineiros, o “Carlos Gomes” e o
“Culto à Ciência”. Graduou-se em Engenharia Agronômica em 19/07/1973,
na Escola Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz” (ESALQ), Piracicaba (SP),
como primeiro aluno da turma, recebendo diversas distinções. Durante o período acadêmico freqüentou o Curso de
Introdução à Energia Nuclear na Agricultura, do Centro de Energia Nuclear
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
na Agricultura, e foi bolsista da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
Ainda na ESALQ, titulou-se em
1983 como mestre em genética e melhoramento de plantas, em 1993 como
doutor em fitotecnia e em 2001 como
livre-docente em olericultura.
Iniciou a sua carreira profissional na
Casa da Agricultura de Jarinu, da
Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI), em dezembro de 1973.
Em junho de 1975 ingressou na antiga
Seção de Hortaliças de Frutos, do Instituto Agronômico de Campinas. Em janeiro de 1979 retornou à CATI, desta vez
no Centro de Orientação Técnica. Em
março de 1988 foi admitido na ESALQ,
como professor assistente de horticultura
e olericultura. Toda a sua vasta vivência,
fruto da plena atuação em ensino, pesquisa, extensão rural e assistência técnica, podiam ser sentidas nas aulas, palestras e cursos, que ministrava. Seu legado
à olericultura compreende 143 trabalhos
publicados em revistas científicas e periódicos especializados, congressos e reuniões científicas, bem como em outros
tipos de produção bibliográfica, além de
um vídeo-curso. Participou ativamente da
orientação a nível de graduação e pósgraduação, de comissões editoriais e técnico-científicas, e da administração do
departamento de horticultura e de órgãos
colegiados da ESALQ. Foi representante da ESALQ na câmara setorial de
olericultura da Secretaria da Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo e na comissão estadual de sementes e
mudas de hortaliças. Foi delegado da
Sociedade de Olericultura do Brasil, para
o Estado de São Paulo. Realizou viagens
de estudo a diversos países do mercosul.
Além do brilhantismo profissional,
uma característica que o distinguia, era
a nobreza de caráter, simplicidade e
atenção que dava a todos que conviviam
com ele. Era o amigo de todas as horas.
Tinha sempre uma palavra de estímulo
e reconhecimento. Assim, deixou em
todos um sentimento de admiração e
uma recordação cheia de afeto e saudades. Em nome da Sociedade de
Olericultura do Brasil, reverenciamos a
memória do nobre colega e amigo, Prof.
Dr. João Tessarioli Neto.
(Francisco Antonio Passos,
pesquisador IAC, E-mail:
[email protected])
161
Agradecimento aos revisores ad hoc que colaboraram com a revista no ano de 2003
O sucesso da Horticultura Brasileira depende da qualidade dos manuscritos submetidos pelos autores e do cuidado e
competência com que eles são revisados. Como parte da política da Comissão Editorial, cada manuscrito é analisado e acompanhado por um Editor Associado e revisado por, pelo menos, dois especialistas de elevada qualificação na área. Além da
Equipe Editorial (Comissão Editorial e Editores Associados), os colegas listados abaixo contribuíram na revisão dos manuscritos submetidos à publicação na Horticultura Brasileira em 2003. Nossos agradecimento.
Ademar Pereira de Oliveira .................................. UFPB-PB
Adolfo Henrique Müller ....................................... UFPA-PA
Adonai Gimenes Calbo .................. Embrapa Hortaliças-DF
Adriana Antonieta do N. Rizzo .......................... UNESP-SP
Ailton Reis ...................................... Embrapa Hortaliças-DF
Alcides Antônio Doretto Cintra .......................... UNESP-SP
Alexandre Couto Rodrigues ................................. UFPel-RS
Aloisio Costa Sampaio ....................................... UNESP-SP
Amauri Rosenthal .... Embrapa Agroindústria de Alimentos-RJ
Ana Cristina P.P. Carvalho Embrapa Agroindústria Tropical-CE
Ana Maria Montragio P. de Camargo ....................... IEA-SP
André Luiz Lourenção .............................................. IAC-SP
Ângelo Pedro Jacomino ...................................... ESALQ-SP
Anna Maria Bittencourt ...... Embrapa Agroind.de Alimentos-RJ
Antônio Américo Cardoso ..................................... UFV-MG
Antonio Carlos Baião de Oliveira .................. EPAMIG-MG
Antonio Carlos Gomes ..................... Embrapa Cerrados-DF
Antônio Carlos Torres .................... Embrapa Hortaliças-DF
Antonio Evaldo Klar .......................................... UNESP-SP
Antônio Francisco de Souza ........... Embrapa Hortaliças-DF
Antônio Ismael Inácio Cardoso .......................... UNESP-SP
Arione da Silva Pereira ....... Embrapa Clima Temperado-RS
Arlete Marchi Tavares de Melo ................................ IAC-SP
Armando Takatsu ................................................... UFU-MG
Arthur Bernardes Cecilio Filho .......................... UNESP-SP
Auri Brackmam ................................................... UFMS-RS
Barbara Janet Teruel de Medeiros ................ UNICAMP-SP
Beatriz Marti Emygdio ........................... Embrapa Trigo-RS
Bergamin Filho ................................................... ESALQ-SP
Bernard A. L. Niconlaud ................................... UFRGS-RS
Bernardo Ueno........................................................ UnB-DF
Braulio Santos ...................................................... UFPR-PR
Carlos Alberto B. Medeiros Embrapa Clima Temperado-RS
Carlos Alberto Scapim ........................................... UEM-PR
Carlos Alberto Simões do Carmo .................. INCAPER-ES
Carlos Machado dos Santos .................................. UFU-MG
Carlos Roberto Bueno .......................................... INPA-AM
Carlos W. P. Carvalho ... Embrapa Agroind.de Alimentos-RJ
Carmen Ilse Pinheiro Jobim ......................... FEPAGRO-RS
Cassandro Vidal Talamini do Amarante ............ UDESC-SC
Cecília Helena Silvino Prata Ritzinger ... Embrapa Mandioca e
Fruticultura-BA
Celma Domingos de Azevedo ...................... Seropédica–RJ
Cesar de Castro ......................................... Embrapa Soja-PR
Cesar Vilmar Rombaldi ........................................ UFPel-RS
Chukichi Kurozawa ............................................ UNESP-SP
Cirino Corrêa Júnior ....................................... EMATER-PR
162
Cláudia Antonia Vieira Rossetto ......................... UFRRJ-RJ
Cláudio Brondani..................... Embrapa Arroz e Feijão-GO
Cláudio José da Silva Freire ..... Embrapa Clima Temperado-RS
Davi Teodoro Junghans . Embrapa Mandioca e Fruticultura-BA
Demóstenes M. P. de Azevedo .......... Embrapa Algodão-PB
Denise Vianis Caser .................................................. IEA-SP
Derly J. H. da Silva ............................................... UFV-MG
Djalma Rogério Guimarães ............................... CEASA-SC
Domingos Fornasier Filho .................................. UNESP-SP
Elton Vacaro ............................ Agroeste Sementes Ldta-SC
Ernani L. Agnes ..................................................... UFV-MG
Felix Humberto França ................... Embrapa Hortaliças-DF
Fernanda Londero Backes ..................................... UFV-MG
Fernando Antônio Aragão .............. Embrapa Hortaliças-DF
Fernando Campos Mendonça ................................ UFU-MG
Fernando Cezar Juliatti .......................................... UFU-MG
Fernando Luiz Finger ............................................ UFV-MG
Fernando Mesquita Lara ..................................... UNESP-SP
Francisco L. A. Câmara ...................................... UNESP-SP
Francisco Vilela Resende ............... Embrapa Hortaliças-DF
Francisco Xavier .................................................... UFV-MG
Geni L. Villas Boas......................... Embrapa Hortaliças-DF
Geraldo Milanez de Resende ........ Embrapa Semi-Árido-PE
Gerson Renan de Lucas Fortes . Embrapa Clima Temperado-RS
Gilberto Gomes Cordeiro ............. Embrapa Semi-Árido-PE
Gilberto Martins ..................................................... UEL-PR
Gilmar Paulo Henz ......................... Embrapa Hortaliças-DF
Haydeé Siqueira Santos ...................................... UNESP-SP
Hélio Grassi Filho .............................................. UNESP-SP
Heloísa Filgueiras ....... Embrapa Agroindústria Tropical-CE
Herminia E. Prieto Martinez ................................. UFV-MG
Humberto Silva Santos .......................................... UEM-PR
Iniberto Hamerschmidt ...................................EMATER–PR
Ivo Ribeiro da Silva ............................................... UFV-MG
Jairo Augusto Campos Araújo ............................ UNESP-SP
Jairo Vidal Vieira ............................ Embrapa Hortaliças-DF
Jean Kleber Mattos ................................................. UnB-DF
Jeronimo Araújo Gomes ........................................ UFG-GO
Jerônimo Luiz Andriolo....................................... UFMS-RS
João Bosco Carvalho da Silva ........ Embrapa Hortaliças-DF
João Tessarioli Neto ........................................... ESALQ-SP
Joaquim Gonçalves de Pádua ......................... EPAMIG-MG
Joaquim José Martins Guilhoto .......................... ESALQ-SP
Joel Augusto Muniz ............................................ UFLA-MG
Jorge Luiz Martins ................................................ UFPel-RS
José Cambraia ........................................................ UFV-MG
José de Barros de França Neto ................. Embrapa Soja-PR
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
José Djair Vendramim ........................................ ESALQ-SP
José Fernando Durigan ....................................... UNESP-SP
José Francismar de Medeiros ............................. ESAM-RN
José Geraldo Baumgartner ................................. UNESP-SP
José Maria Pinto ........................... Embrapa Semi-Árido-PE
José Roberto de Oliveira ....................................... UFV-MG
José Ronaldo Magalhães .........Embrapa Gado de Leite-MG
José Tadeu Jorge ........................................... UNICAMP-SP
José Viggiano ....................................................... Betim-MG
Jose Wellington Santos .........Embrapa Campina Grande-PB
Josivam Barbosa Menezes .................................. ESAM-RN
Josué F. Pedrosa .................................................. ESAM-RN
Jozeneida Lúcia Pimenta de Aguiar . Embrapa Cerrados-DF
Juarez Patrício de Oliveira Jr ................................. UFG-GO
Kaoru Yuyama ...................................................... INPA-AM
Leilson Costa Grangeiro ..................................... UNESP-SP
Leonardo Collier ............................................. UNITINS-TO
Leonardo de Britto Giordano ......... Embrapa Hortaliças-DF
Lilian Amorim .................................................... ESALQ-SP
Luiz Antônio Biasi ................................................ UFPR-PR
Luiz Augusto Barbosa Cortez ....................... UNICAMP-SP
Luiz Carlos Prezotti ....................................... INCAPER-ES
Luiz Carlos Santos Caetano ......................... PESAGRO-RS
Luiz Henrique Bassoi ................... Embrapa Semi-Árido-PE
Luiz S. Poltronieri ............ Embrapa Amazônia Oriental-PA
Luiz Vitor S. do Sacramento .............................. UNESP-SP
Magno A. Patto Ramalho ................................... UFLA-MG
Manoel Teixeira de Castro Neto .............. Embrapa Mandioca e
Fruticultura-BA
Manoel Vicente de Mesquita Filho ... Embrapa Hortaliças-DF
Manoel Xavier dos Santos ...... Embrapa Milho e Sorgo-MG
Manuel G. C. Churata Masca ................................. UFG-GO
Marcelo Coutinho Picanço .................................... UFV-MG
Marcelo Murad Magalhães ................................. UFLA-MG
Márcio Antônio Vilas Boas ......................... UNIOESTE-PR
Marcos David Ferreira.................................. UNICAMP-SP
Maria Aico Watanabe ............. Embrapa Meio Ambiente-SP
Maria Alice de Medeiros ................ Embrapa Hortaliças-DF
Maria Amelia Gava Ferrão ............................ INCAPER-ES
Maria de Fátima Arrigoni Blank ............................. UFS-SE
Maria Helena T. Mascarenhas ........................ EPAMIG-MG
Maria Izabel F. Chitarra .... Embrapa Agroindústria Tropical-CE
Mariane Carvalho Vidal ................. Embrapa Hortaliças-DF
Marie Reghin Yamamoto ...................................... UEPG-PR
Marilene Leão Alves Bovi ........................................ IAC-SP
Mário Cesar Lopes ............................ Marechal Rondon–PR
Mario Puiatti .......................................................... UFV-MG
Marley Marico Utumi ...................... Embrapa Rondônia-RO
Maurício Ventura .................................................... UEL-PR
Max José de A. Faria Jr. ..................................... UNESP-SP
Moacil Alves de Souza .......................................... UFV-MG
Manoel Evaristo Ferreira .................................... UNESP-SP
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
Nand Kumar Fageria ............... Embrapa Arroz e Feijão-GO
Natan Fontoura da Silva ........................................ UFG-GO
Nei Peixoto .................................................... EMATER-GO
Nelcimar Reis Souza .... Embrapa Amazônia Ocidental-AM
Nilson Borlina Maia ................................................. IAC-SP
Nirlene Junqueira Vilela ................. Embrapa Hortaliças-DF
Og de Souza ........................................................... UFV-MG
Orivaldo José Saggin Jr. ..... Embrapa Microbiologia do Solo-RJ
Osmar Alves Carrijo ....................... Embrapa Hortaliças-DF
Osmar Alves Lameira ....... Embrapa Amazônia Oriental-PA
Otávio Nakano .................................................... ESALQ-SP
Paulo A. S. Gonçalves ...................................... EPAGRI-SC
Paulo César Costa ............................................... UNESP-SP
Paulo Espíndola Trani .............................................. IAC-SP
Paulo Sérgio Koch ................................ Sementes Sakata-SP
Paulo Sérgio Rabelo de Oliveira .................... UNIMAR-SP
Paulo T. Della Vecchia ..........................Sementes Sakata-SP
Pedro Boff ........................................................ EPAGRI-SC
Pedro Milanez de Resende ................................. UFLA-MG
Peter E. Sonnenberg ......................................... Goiânia–GO
Regina Célia de M. Pires .......................................... IAC-SP
Regina Celia Della Modesta . Embrapa Agroind.de Alimentos-RJ
Regina Maria Quintão Lana .................................. UFU-MG
Ricardo Alfredo Kluge ....................................... ESALQ-SP
Roberto Ferreira da Silva ..................................... UENF-RJ
Rogério Lopes Vieites ........................................ UNESP-SP
Ronan Gualberto ............................................. UNIMAR-SP
Ronessa Bartolomeu de Souza ....... Embrapa Hortaliças-DF
Rosana Fernandes Otto ......................................... UEPG-PR
Rosana Rodrigues ................................................. UENF-RJ
Rovilson J. de Souza .......................................... UFLA-MG
Rui Pereira Leite Jr. .............................................IAPAR-PR
Rumy Goto ......................................................... UNESP-SP
Ruy Resende Fontes ....................... Embrapa Hortaliças-DF
Sebastião Alberto de Oliveira ................................. UnB-DF
Sérgio Augusto Morais Carbonell ............................ IAC-SP
Shizuo Seno ........................................................ UNESP-SP
Sieglinde Brune .............................. Embrapa Hortaliças-DF
Silvio Luiz Honorio ...................................... UNICAMP-SP
Simon Swen Cheng .......... Embrapa Amazônia Oriental-PA
Solange G. Canniati Brazaca .............................. ESALQ-SP
Tarcízio Nascimento ..................... Embrapa Semi-Árido-PE
Teresinha Maria Castro Della Lúcia ...................... UFV-MG
Tereza Cristina O. Saminêz ............ Embrapa Hortaliças-DF
Valdenir Queiroz Ribeiro................Embrapa Meio Norte-PI
Valesca Pandolfi ................................................. ESALQ-SP
Vera Lucia Bobrowski .......................................... UFPel-RS
Waldelice Oliveira Paiva ... Embrapa Agroindústria Tropical-CE
Waldemar Pires de Camargo Filho ........................... IEA-SP
Waldir Aparecido Marouelli ........... Embrapa Hortaliças-DF
Walkyria Bueno Scivittaro . Embrapa Clima Temperado-RS
Walter Rodrigues da Silva .................................. ESALQ-SP
163
normas
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
Tipos de trabalho
O periódico Horticultura Brasileira (HB) é a revista oficial
da Sociedade de Olericultura do Brasil. HB destina-se à publicação de artigos técnico-científicos que descrevem trabalhos originais sobre hortaliças, plantas medicinais e ornamentais que venham contribuir, significativamente, para o desenvolvimento destes setores.
A Comissão Editorial necessita da anuência de todos autores do(s) trabalho(s), que devem assinar a carta de encaminhamento ou a primeira página do trabalho original. Caso um
ou mais autores não possa(m) assinar, a razão deve ser mencionada na carta de encaminhamento. Neste caso, o autor correspondente deverá se responsabilizar pela anuência do(s)
faltante(s). Os artigos submetidos são revisados por dois consultores ad hocs, sendo ainda analisados pelo Editor Associado especializado da área a que se refere o artigo. Cabe à Comissão Editorial tomar a decisão final de aceite, alteração ou
rejeição do trabalho. Alterações só serão realizadas com a
anuência do(s) autor(es). O autor correspondente receberá a
versão gráfica do trabalho para análise e eventual correção.
Nesta fase não serão aceitas modificações de conteúdo ou
estilo. A HB não adota política de distribuição de separatas.
O periódico Horticultura Brasileira aceita artigos técnico-científicos escritos em português, inglês ou espanhol. É
composto das seguintes seções: 1. Artigo Convidado; 1, Carta ao Editor; 3. Pesquisa; 4. Economia e Extensão Rural; 5.
Página do Horticultor; 6. Insumos e Cultivares em Teste; 7.
Nova Cultivar; e 8. Comunicações.
1. ARTIGO CONVIDADO: tópico de interesse atual,
a convite da Comissão Editorial;
2. CARTA AO EDITOR: assunto de interesse geral.
Será publicada a critério da Comissão Editorial;
3. PESQUISA: artigo relatando um trabalho original, referente a resultados de pesquisa cuja reprodução é claramente demonstrada;
4. ECONOMIA E EXTENSÃO RURAL: trabalho na
área de economia aplicada ou extensão rural;
5. PÁGINA DO HORTICULTOR: comunicação ou
nota científica contendo dados e/ou informações passíveis de
utilização imediata pelo horticultor;
6. INSUMOS E CULTIVARES EM TESTE: comunicação ou nota científica relatando ensaio com agrotóxicos,
fertilizantes ou cultivares;
7. NOVA CULTIVAR: manuscrito relatando o registro
de novas cultivares e germoplasma, sua descrição e disponibilidade, com dados comparativos;
8. COMUNICAÇÕES: seção destinada à comunicação
entre leitores e a Comissão Editorial e vice-versa, na forma
de breves avisos, sugestões e críticas. O texto não deve exceder 300 palavras, ou 1.200 caracteres, e deve ser enviado em
duas cópias devidamente assinadas, acompanhadas de
disquete e indicação de que o texto se destina à seção Comunicações. Por questões de espaço, nem todas as comunicações recebidas poderão ser publicadas e algumas poderão ser
publicadas apenas parcialmente.
164
GUIDELINES FOR THE PREPARATION AND
SUBMISSION OF MANUSCRIPTS
Subject Matter
Horticultura Brasileira (HB) is the official journal
published quarterly by the Brazilian Society for Horticultural
Science. HB publishes original papers which contribute to
the scientific and technologic development of horticultural
crops. The journal covers basic and applied researches on
vegetable crops, medicinal herbs and ornamental plants.
The Editorial Board requires the signature of all authors
on the first page of the original paper or on the submission
letter. If one or more authors could not sign, the submission
letter must contain the reason(s). In this case, the
corresponding author will take the responsibility for the
submitted paper. The manuscripts are examined by two
reviewers of the specific research area. The Editorial Board
makes the final decision on acceptance, changes or rejection.
No changes will be made without the approval of the author(s).
The corresponding author will receive the galley proof which
should be corrected and returned to the publisher; changes in
content and style should not be made. No offprint will be
supplied.
Horticultura Brasileira (HB) is dedicated to publishing
technical and scientific articles written in Portuguese, English
or Spanish. HB has the following sections: 1. Invited Article;
2. Letter to the Editor; 3. Research; 4. Economy and Rural
Extension; 5. Grower’s Page; 6. Pesticides and Fertilizers in
Test; 7. New Cultivar; and 8. Communications.
1. INVITED ARTICLE: deals with topics that arouse
interest. Only invited articles are accepted in this section;
2. LETTER TO THE EDITOR: a subject of general
interest. It will be accepted for publication after being
submitted to a preliminary evaluation by the Editorial Board;
3. RESEARCH: manuscript describing a complete and
original study in which the replication of the results has clearly
been established;
4. ECONOMY AND RURAL EXTENSION:
manuscript dealing with applied economy and rural extension;
5. GROWER’S PAGE: communications or short notes
with information that could be quickly usable by farmers;
6. PESTICIDES AND FERTILIZERS IN TEST:
communications or scientific notes describing tests with
pesticides, fertilizers and cultivars;
7. NEW CULTIVAR: this section contains recent
releases of new cultivars and germplasm and includes
information on origin, description, avaliability, and
comparative data;
8. COMMUNICATIONS: these have the objective of
promoting communication among readers and the Editorial
Board as short communications, suggestions and criticism,
in a more informal way. They should be concise, not
exceeding 300 words or 1,200 characters. These should be
signed by author(s) and submitted in duplicate (original
and one copy), along with a diskette that contains a copy
of the text.
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
O periódico HB é publicado a cada três meses, de acordo
com a quantidade de trabalhos aceitos.
Os trabalhos enviados para a HB devem ser originais, ainda
não relatados ou submetidos simultaneamente à publicação em
outro periódico ou veículo de divulgação. Está também implícito que, no desenvolvimento do trabalho, os aspectos éticos e
respeito à legislação vigente do copyright foram também observados. Manuscritos submetidos em desacordo com as normas
não serão considerados. Após aceitação do manuscrito para publicação, a HB adquire o direito exclusivo de copyright para
todas as línguas e países. Não é permitida a reprodução parcial
ou total dos trabalhos publicados sem a devida autorização por
escrito da Comissão Editorial da Horticultura Brasileira.
Para publicar na HB, é necessário que o primeiro autor do
trabalho seja membro da Sociedade de Olericultura do Brasil
e esteja em dia com o pagamento da anuidade. Cada artigo
submetido deverá ser acompanhado da anuência à publicação de todos os autores, e será avaliado pela Comissão Editorial, Editores Associados e/ou Assessores ad hoc, de acordo
com a seção a que se destina.
Submissão dos trabalhos
Os originais deverão ser submetidos em três vias, em programa Word 6.0 ou versão superior, em espaço dois, fonte
arial tamanho doze. O disquete contendo o arquivo deverá
ser incluído. Todas as fotos deverão ser enviadas no original.
Figuras e/ou quadros deverão ser de boa qualidade.
Devido aos altos custos de impressão gráfica da revista,
solicita-se aos autores que sejam sucintos na redação, utilizando o mínimo de tabelas, figuras, quadros e citações bibliográficas. O resumo deverá ter no máximo 250 palavras.
Os artigos serão iniciados com o título do trabalho, que
não deve incluir nomes científicos, a menos que não haja nome
comum no idioma em que foi redigido. Ao título deve seguir
o nome, endereço postal e eletrônico completo dos autores
(veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos volumes da Horticultura Brasileira).
A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro: 1. Resumo em Português ou Espanhol com palavras-chave ao final.
As palavras-chave devem ser sempre iniciadas com o(s) nome(s)
científico(s) da(s) espécie(s) em questão e nunca devem repetir
termos para indexação que já estejam no título; 2. Abstract, em
Inglês, acompanhado de título e keywords. O abstract, o título
em Inglês e keywords devem ser versões perfeitas de seus similares em Português ou Espanhol; 3. Introdução; 4. Material e
Métodos; 5. Resultados e Discussão; 6. Agradecimentos; 7. Literatura Citada; 8. Figuras e Tabelas. Este roteiro deverá ser utilizado para a seção Pesquisa. Para as demais seções veja padrão
de apresentação nos artigos publicados nos últimos volumes
da Horticultura Brasileira. Para maior detalhamento consultar a home page da SOB: www.horticiencia.com.br ou
www.sobhortalica.com.br
As citações de artigos no texto deverão ser feitas conforme os exemplos: Esaú & Hoeffert (1970) ou (Esaú & Hoeffert,
1970). Quando houver mais de dois autores, utilize a expressão latina et alli, de forma abreviada (et al.), sempre em itálico,
como segue: De Duve et al. (1951) ou (De Duve et al., 1951).
Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es),
no mesmo ano, indicar por uma letra minúscula, logo após a
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
The journal HB is issued every three months, depending
on the amount of material accepted for publication.
HB publishes original manuscripts that have not been
submitted elsewhere. With the acceptance of a manuscript
for publication, the publishers acquire full and exclusive
copyright for all languages and countries. Unless special
permission has been granted by the publishers, no
photographic reproductions, microform and other
reproduction of a similar nature may be made of the journal,
of individual contributions contained therein or of extracts
therefrom.
Membership in the Sociedade de Olericultura do Brasil
is required for publication. For the paper to be eligible for
publication the first author must be a Society member and
the manuscripts should be accompanied by the agreement
for publication signed by the authors. All manuscripts will be
evaluated by the Editorial Board, Associated Editors and/or
ad hoc consultants in accordance with their respective
sections.
Manuscript submission
Manuscripts should be submitted in triplicate (original
and two copies) typed double-spaced (everything must be
double spaced) and printed. Use of the “Arial” font, size 12,
is required. Include a copy of the manuscript on computer
diskette at submission. The Editorial Board will only accept
3.5 inch diskette which have the files copied on them using
the program Word 6.0 or superior.
It is recommended that the authors observe the following
format: 15 to 20 typed pages, including up to 30 bibliographic
references, four figures, graphics or tables.
The title page should include: title of the paper (scientific
names should be avoided); name(s) of author(s) and
address(es). Please refer to a recent issue of HB for format.
The structure of the manuscript should include: 1.
Abstract and Keywords. Keywords should start with
scientific names and it should not repeat words that are
already in the title; 2. Summary in Portuguese (a
translation of the abstract will be provided by the Journal
for non-Portuguese-speaking authors) and Keywords (Palavras-chave). 3.Introduction; 4. Material and Methods;
5. Results and Discussion; 6.Acknowledgements; 7. Cited
Literature and 8. Figures and Tables. This structure will
be used for the Research section. For other sections please
refer to a recent issue of HB for format. You can also
visit Hoticultura .Brasileira home page in the following
addresses:
www.horticiencia.com.br
or
www.sobhortalica.com.br.
Bibliographic references within the text should have the
following format: Esaú & Hoeffert (1970) or (Esaú & Hoeffert,
1970). When there are more than two authors, use a reduced
form, like the following: De Duve et al. (1951) or (De Duve
et al., 1951). References to studies done by the same author
in the same year should be noted in the text and in the list of
the Cited Literature by the letters a, b, c, etc., as follows: 1997a,
1997b.
165
data de publicação do trabalho, como segue: 1997a, 1997b.
Na seção de Literatura Citada deverão ser listados apenas os
trabalhos mencionados no texto, em ordem alfabética do sobrenome, pelo primeiro autor. Trabalhos com dois ou mais autores
devem ser listados na ordem cronológica, depois de todos os
trabalhos do primeiro autor. As referências bibliográficas deverão obedecer as normas da ABNT (NBR 6023, de 2002)
Exemplos:
a) Periódico:
BERG, L. VAN DER; LENTZ, C.P. Respiratory heat
production of vegetables during refrigerated storage. Journal
of the American Society for Horticulture Science, v. 97, n. 3,
p. 431-432, Mar.1972.
b) Livro:
ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New
York: John Willey, 1979. 632 p.
c) Capítulo de livro:
ULLSTRUP, A.J. Diseases of corn. In: SPRAGUE, G.F. (Ed.).
Corn and corn improvement. New York: Academic Press,
1955. cap.3, p. 465-536.
d) Tese:
SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora
em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 f. (Tese mestrado) USP, ESALQ, Piracicaba.
e) Trabalhos apresentados em congressos (quando não
incluídos em periódicos):
HIROCE, R.; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.;
FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO,
J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977,
Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.
f) Trabalhos apresentados em congresso, publicados
em revista/CD-ROM:
REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três
modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20,
n.2, jul. 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002.
g) Trabalhos apresentados em meio eletrônico:
g1) Periódico:
KELLY, R. Eletronic publishing at APS: Its not just online
journalism. APS News Online, Los Angeles, Nov. 1996. Disponível em: <http://www.hps.org/hpsnews/19065.html>.
Acesso em 25 nov. 1998.
g2) Trabalhos apresentados em congresso:
SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do
paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em:
<http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso
em 21 jan. 1997.
Uma cópia da prova tipográfica do manuscrito será enviada
eletronicamente para o autor principal, que deverá fazer as
possíveis e necessárias correções e devolvê-la em 48 horas.
Correções extensivas do texto do manuscrito, cujo formato e
conteúdo já foram aprovados para publicação, não são aceitáveis. Alterações, adições, deleções e edições implicarão novo
exame do manuscrito pela Comissão Editorial. Erros e omissões presentes no texto da prova tipográfica corrigido e de166
In the Cited Literature, references from the text should be
listed in alphabetical order by last name, without numbering
them. Papers that have two or more authors should be listed
in chronological order, following all the papers of the first
author, second author and so on. Please refer to a recent issue
of HB for more details. The bibliographic references should
be done accordingly to the ABNT norms (NBR 6023, from
2002).
a) Journal:
BERG, L. VAN DER; LENTZ, C.P. Respiratory heat
production of vegetables during refrigerated storage. Journal
of the American Society for Horticultural Science, v. 97, n. 3,
p. 431-432, Mar. 1972.
b) Book:
ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New
York: John Willey, 1979. 632 p.
c) Chapter:
ULLSTRUP, A.J. Disease of corn. In: SPRAGUE, G.J., (Ed.).
Corn and corn improvement. New York: Academic Press,
1955. p. 465-536.
d) Thesis:
SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora
em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 f. (Master thesis) USP, ESALQ, Piracicaba.
e) Articles from Scientific Events (when not published
in journals):
HIROCE, R; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.;
FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO,
J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977,
Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.
f) Articles from scientific events, published in referred
jornals:
REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três
modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20,
n.2, jul. 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002.
g) Articles publised by electronic means:
g1) Journal:
KELLY, R. Eletronic publishing at APS: Its not just online
journalism. APS News Online, Los Angeles, Nov. 1996. Disponível em: <http://www.hps.org/hpsnews/19065.html>.
Acesso em 25 nov. 1998.
g2) Articles from scientific events:
SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do
paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em:
<http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso
em 21 jan. 1997.
A copy of the galley proof of the manuscript will be sent to
the first author who should make any necessary corrections
and send it back within 48 hours. Extensive corrections of the
text of the manuscript, whose format and content have already
been approved for publication, will not be accepted. Alterations,
additions, deletions and editing implies that a new examination
Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004
volvido à Comissão Editorial são de inteira responsabilidade
do(s) autor(es).
Em caso de dúvidas, consulte a Comissão Editorial ou
verifique os padrões de publicação dos últimos volumes da
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Os originais devem ser enviados para:
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C. Postal 190
70.359-970 Brasília – DF
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Fax: (0xx61) 556 5744
E-mail: [email protected]
Assuntos relacionados a mudanças de endereço, filiação
à Sociedade de Olericultura do Brasil, pagamento de anuidade, devem ser encaminhados à Diretoria da Sociedade de
Olericultura, no seguinte endereço:
Sociedade de Olericultura do Brasil
UNESP – FCA
C. Postal 237
18.603-970 Botucatu – SP
Tel.: (0xx14) 3811 7172 / 3811 7104
Fax: (0xx14) 3811 7104 / 3811 3438
E-mail: [email protected]
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of the manuscript must be made by the Editorial Board. Errors
and omissions which are present in the text of the corrected
galley proof that has been returned to the Editorial Board are
entirely the responsability of the author.
Orientation about any situations not foreseen in this list
will be given by the Editorial Board or refer to a recent issue
of Horticultura Brasileira.
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Fax: (0xx61) 556 5744
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Cebola doce
A cebola (Allium cepa L.) e espécies relacionadas, como o alho,
alho-porró, cebolinha verde e outras, são produzidas e consumidas
em praticamente todos os países.
A cebola de bulbos é uma das três
hortaliças mais importantes e
mais amplamente cultivadas no
mundo, sendo anualmente produzidas cerca de 52 milhões de toneladas com um valor econômico estimado de US$ 6 bilhões. No
Brasil, a cebola de bulbos representa valor bruto anual de cerca
de US$ 200 milhões, equivalente
a 8% do valor bruto das hortaliças. A produção média anual de 1
milhão de toneladas atende apenas o mercado interno.
O consumo per capita de cebola no
mundo tem variado muito pouco
nos últimos 50 anos. No Brasil, o
consumo anual por habitante é de
6 kg e tem se mantido o mesmo nos
últimos 20 anos. É um consumo
baixo e atribuído, em parte, à
pungência de moderada a alta das
cultivares brasileiras, resultado do
tipo de cebola plantado, do solo e
do manejo da lavoura.
Os compostos responsáveis pelo
sabor e aroma e pela pungência
característicos da cebola são formados pela decomposição
enzimática de precursores sem
odor, os quais contêm enxofre nas
suas estruturas. Bulbos de cebola
intactos têm apenas leve aroma.
A ação do sistema enzimático
ocorre quando o tecido da cebola
é injuriado, colocando a enzima
alinase, compartimentalizada no
vacúolo da célula, em contato
com os precursores localizados no
citoplasma, produzindo o fator
lacrimatório e os vários compostos causadores do sabor e aroma
e pungência. Diferenças na intensidade do sabor e aroma entre cultivares são devidas a diferenças
na concentração e proporção dos
precursores sintetizados e a concentração e atividade da alinase.
Quanto mais alta a concentração
dos precursores, mais alto o sabor e aroma e a pungência. Como
o ácido pirúvico e os compostos
pungentes são formados em concentrações equimolares pela ação
da alinase, a concentração de ácido pirúvico é usada como estimativa da pungência em cebola.
O tipo de cebola preferido varia
com o mercado e preferência do
consumidor. Em muitos países
desenvolvidos, a indústria de hortaliças e os consumidores dividem
as cultivares de cebola em dois
grandes grupos: curadas para armazenamento e de consumo fresco. As cebolas curadas são geralmente menores, mais firmes e
pungentes e resistem a vários
meses de armazenamento. Devido ao seu menor tamanho e sabor
forte, as cebolas curadas são usadas principalmente para dar sabor
a alimentos cozidos. As cebolas
de consumo fresco são maiores,
mais macias, mais doces e de sabor suave. Possuem período de
comercialização curto devido ao
período de colheita e de vida póscolheita curtos. Pelas suas características, são preferidas para serem consumidas em saladas. De
modo geral, cebolas suaves e doces são aquelas que possuem menos que 4 µmol de ácido pirúvico/
g de massa fresca e pelo menos
6% de açúcar. No Brasil, embora
as cebolas cultivadas difiram
substancialmente quanto às suas
qualidades organolépticas, não há
segmentação do mercado varejista, como ocorre em outros países,
que tratam de maneira diferenciada as cebolas destinadas ao
consumo fresco e as cebolas curadas mais pungentes.
Ênfase sobre o benefício do consumo de cebola para a saúde humana associado à segmentação do
mercado, tem ajudado a aumentar o consumo de cebola em países desenvolvidos. O sucesso da
cebola doce nos Estados Unidos
e em países da Europa indica a
possibilidade de desenvolvimen-
to de uma indústria de cebola
doce no Brasil, que tem potencial
para atender o mercado interno e
externo. Existe potencial para
exportação de cebola doce de regiões tropicais para mercados localizados em regiões temperadas
do hemisfério norte durante os
meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Para garantir abastecimento contínuo de cebola suave
e doce no período de entressafra,
os Estados Unidos vêm importando cebola tipo “Grano” e
“Granex” de países como México, Peru, Chile, Uruguai, Austrália e países da América Central.
O nível máximo de pungência é
controlado geneticamente, mas
níveis abaixo do máximo são a
resposta às condições ambientais
em que as cebolas crescem. Uma
cultivar pungente pode ser mais
suave se cultivada sob condições
que favoreçam um mínimo de
sabor e aroma e pungência. Por
sua vez, uma cultivar com potencial para ser suave pode ser pungente se cultivada em condições
para máxima expressão do sabor
e aroma. O potencial de uma cultivar absorver
e sintetizar os precursores do sabor e aroma, é que determina em grande
parte como será a intensidade do
sabor e aroma e da pungência de
uma cebola. Excessiva fertilização com
temperaturas
muito altas durante o crescimento e condições de crescimento em
solo mais seco contribuem para
aumentar a intensidade da
pungência em cebola. Evidências mostram que pungência varia
menos com as condições de cultivo para algumas cultivares do
que para outras.
Cultivares de cebola de dias longos são, em geral, mais pungentes que cultivares de dias curtos,
mas entre as cultivares de dias
curtos existe grande variação. A
cor da cebola tem muito pouco a
ver com o nível de pungência.
Cebolas de películas roxas, amarelas e brancas podem ser desde
suaves a muito pungentes. Já as
cebolas brancas destinadas à industrialização são sempre pungentes a muito pungentes.
Praticamente todas as cultivares
dos grupos “Grano” (Texas Early
Grano 502, Texas Early Grano
502 PRR, Texas Grano 502, Texas
Grano 502 PRR, entre outras) e
“Granex” (Granex 33, Granex
429, entre outras), tradicionalmente plantadas no Brasil podem
ser suaves e doces. Estrategicamente para o Brasil, contudo, é
importante que instituições nacionais de pesquisa desenvolvam
programas de melhoramento específicos para a obtenção de cultivares que naturalmente produzem bulbos com sabor suave e
adaptadas para as várias condições edafoclimáticas predominantes nas regiões brasileiras produtoras de cebola. Constitui-se,
portanto, em desafio e oportunidade de pesquisa para o melhoramento genético de cebola e se insere nas estratégias para aumentar a sustentabilidade do
agronegócio de cebola no Brasil.
A cv. São Paulo, lançada pela
Embrapa Hortaliças em 1991, é
uma cebola do grupo das claras
precoces suaves.
Para viabilizar a produção de cebolas suaves e doces no Brasil, é
preciso definir os locais e épocas
para a produção, bem como, o
manejo cultural e de pós-colheita
mais adequados para se obter rendimento, qualidade e retorno econômico satisfatórios. É necessário selecionar ambientes que propiciem intensidades baixas de sabor e aroma e de pungência, ou
seja, solos com disponibilidade
baixa de
e um programa
de fertilização que resulte em bulbos grandes e com pungência baixa. Outro aspecto, consiste na definição de um regime hídrico adequado para a cultura, que possibilite um suprimento abundante
de água no solo durante o crescimento das plantas e resulte em
cebolas suculentas, menos pungentes e doces. Como os consumidores tendem a ser conservadores nas suas preferências e
freqüentemente rejeitam tipos de
bulbos não familiares, estratégias
de marketing com inovações na
forma de apresentação do produto e informação à população sobre as qualidades nutracêuticas da
cebola são necessárias.
(Valter Rodrigues Oliveira,
Embrapa
Hortaliças,
[email protected]).
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