Volume 22 número 1 janeiro-março 2004 SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL Journal of the Brazilian Society for Vegetable Science UNESP – FCA C. Postal 237 - 18603-970 Botucatu – SP Tel.: (0xx14) 3811 7172 / 3811 7104 Fax: (0xx14) 3811 7104 / 3811 3438 E-mail: [email protected] Presidente/President Rumy Goto UNESP-Botucatu Vice-Presidente/Vice-President Carlos Alberto Simões do Carmo INCAPER - Venda Nova dos Imigrantes 1º Secretário / 1st Secretary Arlete Marchi T. de Melo IAC - Campinas 2º Secretário / 2nd Secretary Ingrid B. I. Barros UFRGS-Porto Alegre 1º Tesoureiro / 1st Treasurer Marcelo Pavan UNESP-Botucatu 2º Tesoureiro / 2nd Treasurer Osmar Alves Carrijo Embrapa Hortaliças - Brasília COMISSÃO EDITORIAL DA HORTICULTURA BRASILEIRA Editorial Committee C. Postal 190 - 70359-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 385 9088 / 385 9051 / 385 9073 / 385 9000 Fax: (0xx61) 556 5744 E-mail: [email protected] Presidente / President Leonardo de Britto Giordano Embrapa Hortaliças Coordenação Executiva e Editorial / Executive and Editorial Coordination Sieglinde Brune Embrapa Hortaliças Editores / Editors Ana Maria Montragio Pires de Camargo IEA André Luiz Lourenção IAC Antônio Evaldo Klar UNESP - Botucatu Antônio T. Amaral Jr. UENF Arthur Bernardes Cecilio Filho UNESP - Jaboticabal Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 ISSN 0102-0536 Braulio Santos UFPR Carlos Alberto Lopes Embrapa Hortaliças Celso Luiz Moretti Embrapa Hortaliças César Augusto B. P. Pinto UFLA Cláudio Brondani Embrapa Arroz e Feijão Cláudio José da S. Freire Embrapa Clima Temperado Clementino Marcos Batista de Farias Embrapa Semi-Árido Daniel J.Cantliffe University of Florida Djalma Rogério Guimarães Instituto CEPA Eduardo S. G. Mizubuti UFV Eunice Oliveira Calvete UFP Francisco Bezerra Neto ESAM Francisco Murilo Zerbini Junior UFV Jerônimo Luiz Andriolo UFSM José Magno Q. Luz UFU Luiz Henrique Bassoi Embrapa Semi-Árido Marcelo Mancuso da Cunha IICA-MI Maria Aparecida N. Sediyama EPAMIG Maria do Carmo Vieira UFMS Marie Yamamoto Reghin UEPG Marilene L. A. Bovi IAC Paulo César R. Fontes UFV Paulo César Tavares de Melo ESALQ Paulo Espíndola Trani IAC Renato Fernando Amabile Embrapa Cerrados Ricardo Alfredo Kluge ESALQ A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo CAB, AGROBASE, AGRIS/FAO e TROPAG. Scientific Eletronic Library Online: http://www.scielo.br/hb www.hortciencia.com.br www.sobhortalica.com.br Programa de apoio a publicações científicas Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983 Trimestral Títulos anteriores: V. V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura. 1-3, 1961-1963, Olericultura. Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969. Periodicidade até 1981: Anual. de 1982 a 1998: Semestral de 1999 a 2001: Quadrimestral a partir de 2002: Trimestral ISSN 0102-0536 1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Sociedade de Olericultura do Brasil. CDD 635.05 Tiragem: 1.000 exemplares 2 Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Volume 22 número 1 janeiro-março 2004 ISSN 0102-0536 SUMÁRIO/CONTENT PESQUISA / RESEARCH Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação Tomato crop production under different substrates and greenhouse models O. A. Carrijo; M. C. Vidal; N. V. B. Reis; R. B. Souza; N. Makishima Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos Vegetative propagation of the wild basil using different types of cuttings and substrata P. A. D. Ehlert; J. M. Q. Luz; R. Innecco Coeficientes de variação de algumas características do meloeiro: uma proposta de classificação Coefficients of variation of some melon yield components and fruit quality traits: a proposal for classification L. L. Lima; G. H. S. Nunes; F. Bezerra Neto Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola Influence of genotype and maturity stage at harvest on fresh weight, quality and cure of onion V. L. F. Soares; F. L. Finger; P. R. Mosquim Produção do melão rendilhado em função da concentração de potássio na solução nutritiva e do número de frutos por planta Net melon yield as affected by potassium concentration in nutrient solution and number of fruits per plant C. C. Costa; A. B. Cecílio Filho; R. L. Cavarianni; J. C. Barbosa Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido Effects of dosage and types of organic composts in the production of lettuce in two soils under protected environment R. L. Villas Bôas; J. C. Passos; D. M. Fernandes; L. T. Büll; V. R. S. Cezar; R. Goto Efeito do retardamento da colheita, na qualidade e na vida útil do melão Orange Flesh Effect of the harvest delay on the quality and post-harvest shelf-life of Orange Flesh melons F. V. S. Mendonça; J. B. Menezes; V. A. Gois; A. A. Guimarães; G. H. S. Nunes; C. F. Mendonça Júnior Crescimento de singônio com diferentes tutores e substratos à base de mesocarpo de coco Growth of arrowhead plants with different supporting sticks and potting media N. A. Souza; J. Jasmim Enxertia em plantas de pimentão no controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido Sweet pepper grafting to control phytophthora blight under protected cultivation H. S. Santos ; R. Goto Efeitos de inundações temporárias do solo em plantas de ervilha Effects of temporary waterlogging in pea plants J. S. Sá; D. E. Cruciani; K. Minami Divergência genética entre acessos de taro Genetic diversity in taro accessions F. H. F. Pereira; M. Puiatti; G. V. Miranda; D. J. H. Silva; F. L. Finger Crescimento e produção de cúrcuma (Curcuma longa L.) em função de adubação mineral e densidade de plantio Growth and production of turmeric as a result of mineral fertilizer and planting density N. F. Silva; P. E. Sonnenberg; J. D. Borges Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal Interaction genotype x environment of lettuce cultivars in Jaboticabal, Brazil E. B. Figueiredo; E. B. Malheiros; L. T. Braz Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e patogenicidade Root-knot nematode: cultivars reaction and damage to radish C. E. Rossi; P. T. Montaldi Armazenamento de melão amarelo, híbrido RX 20094, sob temperatura ambiente Yellow melon, RX 20094 hybrid, stored at room temperature F. V. S. Mendonça; J. B. Menezes; A. A. Guimarães; P. A. Souza; A. N. Simões; G. L.F.M. Souza Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil Races of Xanthomonas spp. associated to bacterial spot in processing tomatoes in Brazil A. M. Quezado-Duval; L. E. A. Camargo Resposta do coentro à adubação fosfatada em solo com baixo nível de fósforo Effect of phosphorus fertilization on the yield of coriander in soil with low levels of phosphorus A. P. Oliveira; L. R. Araújo; J. E. M. F. Mendes; O. R. Dantas Júnior; M. S. Silva Variabilidade genética de Diadegma sp., parasitóide da traça-das-crucíferas, através de RAPD-PCR Genetic variability of Diadegma sp., parasitoid of diamondback moth using RAPD-PCR R. Monnerat; S. Leal-Bertioli; D. Bertioli; T. Butt; D. Bordat Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 5 10 14 18 23 28 35 39 45 50 55 61 66 72 76 80 87 90 Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide Accumulation and exportation of macronutrients by watermelon Tide hybrid L. C. Grangeiro; A. B. Cecílio Filho Qualidade do melão exportado pelo porto de Natal Quality of melon exported through the port of Natal, Brazil R. Sales Júnior.; S. P. F. Soares; J. Amaro Filho; G. H. S. Nunes; V. S. Miranda Mapa de preferência de couve minimamente processada Preference mapping of fresh-cut collard M. I. S. Dantas; V. P. R. Minim; R. Puschmann; J. D. S. Carneiro; R. L. Barbosa Relações alométricas para estimativa da fitomassa aérea em pupunheira Peach palm biomass estimates based on allometric relationships F. V. A. Vega; M. L. A. Bovi; S. H. Spiering; G. Godoy Júnior Desidratação de sementes de quatro lotes de pupunheira: efeitos sobre a germinação e o vigor Dehydration effects on germination and vigor of four pejibaye seedlots M. L. A. Bovi; C. C. Martins; S. H. Spiering Caracterização morfológica e agronômica de acessos de manjericão e alfavaca Morphologic and agronomic characterization of basil accessions A. F. Blank; J. L.S. Carvalho Filho; A. L. Santos Neto; P. B. Alves; M. F. Arrigoni-Blank; R. Silva-Mann; M. C. Mendonça Rendimento e qualidade de cultivares de pepino para processamento em função do espaçamento de plantio Effect of plant spacing on the yield and quality of pickling cucumber cultivars G. M. Resende; J. E. Flori Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1-metilciclopropreno Postharvest storage of Galia ‘Solar King’ muskmelon under 1-methylcyclopropene M. A. C. Lima; R. E. Alves; C. I. Biscegli; H. A.C. Filgueiras; F. M. Cocozza Efeito de composto orgânico sobre a produção e características comerciais de alface americana Effect of organic compost on crisp head lettuce production and commercial characteristics J. E. Yuri; G. M. Resende; J. C. Rodrigues Júnior; J. H. Mota; R. J. Souza Aplicação de biossólido na implantação da cultura da pupunheira Sewage sludge application on peach palm (Bactris gasipaes Kunth) F. V. A. Vega; M. L.A. Bovi; R. S. Berton; G. Godoy Júnior; M. A.R. Cembranelli Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana Path coefficient analysis between vegetative and heart-of-palm yield traits in Australian King palm R. P. Uzzo; M. L.A. Bovi; S. H.Spiering; L. A. Sáes 93 98 101 104 109 113 117 121 127 131 136 PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE Crescimento e absorção de nutrientes pelo Lisianthus (Eustoma grandiflorum) cultivado em solo Growing and nutrients absorption by lisianthus (Eustoma grandiflorum) cultivated in soil M. S. Camargo; L. K. Shimizu; M. A. Saito; C. H. Kameoka; S. C. Mello; Q. A. C. Carmello Modificações sensoriais em cenoura minimamente processada e armazenada sob refrigeração Sensory modifications of fresh cut carrots stored under refrigeration J. M. Resende; A. F. S. Coelho; E. C. Castro; O. J. Saggin Júnior; T. Nascimento; B. C. Benedetti Intensidade de ataque de tripes, de alternaria e da queima-das-pontas em cultivares de cebola Intensity of attacks of thrips, purple blotch and gray mold on onion cultivars G. L. D. Leite; M. C. Santos; S. L. Rocha; C. A. Costa; C. I. M. Almeida 143 147 151 EEONOMIA E EXTENSÃO RURAL / ECONOMY AND RURAL EXTENSION Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90 Performance of the Brazilian agrindustrial chain of tomato in the 90’s P. C. T. Melo; N. J. Vilela 154 COMUNICAÇÃO 162 AGRADECIMENTO / 162 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS 164 Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 pesquisa CARRIJO, O.A.; VIDAL, M.C.; REIS, N.V.B.; SOUZA, R.B.; MAKISHIMA, N. Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p.05-09, jan-mar 2004. Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação Osmar A. Carrijo; Mariane C. Vidal; Neville V.B. dos Reis; Ronessa B. de Souza; Nozomu Makishima Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Um experimento com a cultura do tomate, foi instalado na Embrapa Hortaliças em Brasília, durante os anos de 2000 e 2001, para avaliar a produção do tomateiro em diferentes substratos e casas de vegetação. Os substratos utilizados foram casca de arroz, casca de arroz parcialmente carbonizada, fibra de coco verde, lã de rocha, maravalha, serragem e substrato para produção de mudas utilizado na Embrapa Hortaliças (150 L de terra de subsolo, 50 L de casca de arroz parcialmente carbonizada e 17 L de esterco de galinha). Os modelos de casas de vegetação utilizados foram teto em arco, arco com teto convectivo e capela. Não foi verificada diferença estatística significativa quanto a produção de frutos comerciais entre os substratos fibra de coco (10,4 kg m-2), serragem (9,3 kg m-2), casca de arroz carbonizada (9,3 kg m-2) e maravalha (9,0 kg m-2). A menor produção foi obtida com o substrato lã de rocha (6,4 kg m-2). Houve redução da produção entre os anos de cultivo, em torno de 33%, em decorrência de um intenso ataque de traça do tomateiro (Tuta absoluta) em todas as casas de vegetação, prejudicando a produtividade. O maior peso médio dos frutos foi obtido sobre a fibra de coco (128 g m-2) e casca de arroz carbonizada (123 g m-2), independente do modelo de casa de vegetação utilizado. Tomato crop production under different substrates and greenhouse models The trial was carried out at Embrapa Hortaliças, in Brasilia, Brazil, to evaluate the performance of tomato crop production during two years (2000 and 2001), under three greenhouse models and different types of substrates. The greenhouse models were arch roof; even span and an arch roof with upper convective aperture. The substrates were rice husk, carbonized rice husk, coconut fiber, sawdust, coarsed sawdust, rockwool and a substrate for seedling production used at Embrapa Hortaliças. No significant statistical difference was verified for tomatoes cultivated in coconut fiber (10,4 kg m-2), sawdust (9,9 kg m-2), carbonized rice husk (9,3 kg m-2) and coarse sawdust (9,0 kg m-2). On the other hand, the smallest production was obtained for tomatoes cultivated in rockwool (6,4 kg m-2 ). There was a yield reduction between cultivation years due to the South American tomato moth (Tuta absoluta) in all greenhouses. Coconut fiber and carbonized rice husk yielded the heaviest fruits, 128 g and 123 g respectively. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, fertirrigação, cultivo sem solo, solução nutritiva. Keywords: Lycopersicon esculentum, fertigation, nutrient solution, soilless culture. (Recebido para publicação em 7 de maio de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003) A crescente demanda por hortaliças de alta qualidade e ofertadas durante o ano todo tem contribuído para o investimento em novos sistemas de cultivo que permitam produção adaptada a diferentes regiões e condições adversas do ambiente. No Brasil, o cultivo de hortaliças em ambiente protegido, vem ganhando espaço entre os produtores, devido principalmente, à relativa facilidade em manejar as condições de cultivo quando comparado ao sistema convencional em campo aberto. A utilização do plástico na olericultura tem sido bastante empregada no Brasil, desde a década de 70, inicialmente com a cultura do morango (Goto, 1997). Com o incremento desta prática, houve necessidade do desenvolvimento de tecnologias para cultivo de hortaliças sob estruturas de proteção o que vem sendo realizado sempre busHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 cando aliar produtividade a custos reduzidos de produção. No que se refere às estruturas de proteção, as casas de vegetação permitem alterar o microclima de um determinado ambiente, viabilizando o cultivo de hortaliças em épocas desfavoráveis do ano (Martins et al., 1994), bem como ampliar o período de produção (Makishima e Carrijo, 1998), proporcionando maior produtividade e melhor qualidade de frutos (Loures et al., 1998). A busca de práticas que concentrem a produção sob estruturas de proteção na entressafra é importante para regularizar o abastecimento e obter preços mais elevados (Streck et al., 1998). Cultivos em substratos demonstram grande avanço frente aos sistemas de cultivo no solo, pois oferecem vantagens como o manejo mais adequado da água, o fornecimento de nutrientes em doses e épocas apropriadas, a redução do risco de salinização do meio radicular e a redução da ocorrência de problemas fitossanitários, que se traduzem em benefícios diretos no rendimento e qualidade dos produtos colhidos (Andriolo et al., 1999). O substrato deve apresentar algumas propriedades físicas e químicas intrínsecas importantes para sua utilização como, boa capacidade de retenção de água, na faixa de 1 a 5 kPa, alta disponibilização de oxigênio para as raízes, capacidade de manutenção da proporção correta entre fase sólida e líquida, alta capacidade de troca catiônica (CTC), baixa relação C/N entre outras (Martinez, 2002; Fernandez e Gomes, 1999; Martinez e Barbosa, 1999). A necessidade de se caracterizar produtos encontrados nas diferentes regiões do país e torná-los disponíveis como substrato agrícola é fundamental para 5 Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação reduzir os custos da produção (Andriolo et al., 1999). Além disso, a questão ambiental deve ser considerada na escolha dessas matérias primas para produção de substratos. Na Europa, por exemplo, existe a preocupação em se desenvolver novos substratos a fim de substituir a utilização da turfa, pois é um recurso natural não renovável (Baumgarten, 2002). É importante desenvolver substratos de baixo custo, de fácil utilização, de longa durabilidade e recicláveis, ou ainda, desenvolver métodos para reaproveitá-los no cultivo convencional e na melhoria das condições químicas e físicas do solo (Sassaki, 1997). Nesse sentido, uma boa oportunidade seria desenvolver meios para utilização da casca do coco verde, cuja água é bastante consumida hoje no Brasil, não só na região litorânea mas em todo o território nacional. Após o consumo da água de coco, a casca é descartada provocando problemas nas cidades, pois ocupam um grande volume e apresentam decomposição lenta (Carrijo et al., 2002). Nunes (2000) relatou que o pó de coco é um excelente material orgânico para formulação de substratos devido às suas propriedades de retenção de umidade, aeração do meio de cultivo e estimulador de enraizamento. Silveira et al. (2002) verificaram que a utilização de pó de coco verde como substrato reduziu o custo da produção de mudas de tomateiro em torno de 47%, além de constituir um subproduto abundante da agroindústria do coco, de ampla disponibilidade e de baixo valor no mercado. Bezerra e Rosa (2002) verificaram que o uso do pó de coco verde como substrato para enraizamento de estacas de crisântemo possibilita formação de raízes com maior volume e espessura e alta percentagem de enraizamento. Contudo, outros estudos são necessários para avaliar características de desenvolvimento das plantas nesses substratos, importantes para seu estabelecimento e produção final. Este trabalho objetivou avaliar a eficiência de diferentes substratos para o cultivo do tomateiro em três modelos de casa de vegetação, a partir de produtos facilmente disponíveis na região do Distrito Federal e considerando a necessidade de se desenvolver técnicas que 6 possibilitem regularizar as ofertas de produtos durante todo o ano. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos na Embrapa Hortaliças, em Brasília (latitude: 15º 56’, longitude: 48º 08’, altitude: 997,6 m) nos anos de 2000 (época seca) e 2001 (época chuvosa). Foram utilizados os tomates cultivar TX no ano de 2000 e Larissa em 2001. As casas de vegetação utilizadas foram do tipo capela, tipo arco e tipo arco com teto convectivo, todas com 50 m de comprimento, 8 m de largura e pé direito de 2,5 m, cobertas com polietileno de baixa densidade (PEBD) de 150 mm. Os substratos utilizados para o cultivo foram casca de arroz, casca de arroz parcialmente carbonizada, fibra de coco verde, lã de rocha, maravalha, serragem e uma adaptação do substrato para produção de mudas utilizado na Embrapa Hortaliças. A fibra de coco verde foi obtida conforme metodologia descrita por Carrijo et al. (2002). A maravalha constituiu-se em raspas de madeira obtidas a partir do aparelhamento da madeira. O substrato Embrapa Hortaliças utilizado para produção de mudas foi constituído de 150 L de terra de subsolo, 50 L de casca de arroz parcialmente carbonizada e 17 L de esterco de galinha. Para cada 50 L da mistura adicionou-se 100 g da formulação 4–30–16 de N, P2O5, K 2O, 100 g de calcário dolomítico e 40 g de termofosfato com boro e zinco (0,1% de B e 0,55% de Zn). Para caracterização dos substratos foram determinados a capacidade de aeração (CapAr), que é a porosidade após cessado o processo de drenagem; a água facilmente disponível (AFD), que é a umidade entre 1 e 5 kPa e a água de reserva (ARes), que é o teor de umidade entre as tensões de 5 e 10 kPa. Os teores de nutrientes totais, pH e condutividade elétrica de cada substrato foram determinados antes de cada plantio. Para determinação da curva de retenção de umidade foram utilizadas células de pressão com cilindro médio de 5,37 cm de diâmetro por 2,98 cm de altura e controle de pressão por manômetro de água. Os substratos foram colocados em cilindros, saturados, e deixados em repouso por 24 horas. Após esse período, foram novamente saturados e submetidos à pressão de trabalho. Todos os pontos da curva foram determinados com a mesma amostra antes do plantio e ajustados pelo modelo de Van Genutchten (1980). Os substratos foram acondicionados em contentores plásticos tipo bisnagas (“slabs”) de 1,05 m de comprimento por 0,30 m de diâmetro. Foram colocadas 3 bisnagas por parcela na posição horizontal, e em cada uma foram transplantadas 3 mudas no espaçamento de 0,35 m entre plantas e 1,0 m entre fileiras. Todos os nutrientes foram aplicados via fertirrigação, utilizando a solução nutritiva de Hochmuth (1995). O tutoramento feito na vertical com uma haste por planta e os demais tratos culturais foram os recomendados para a cultura do tomateiro. A irrigação foi por gotejamento com um gotejador de múltiplas saídas (uma por planta), para manter drenagem de 30% do total aplicado, que foi avaliado diariamente e a partir do qual a irrigação foi ajustada, segundo os estádios de desenvolvimento da planta. Foram avaliados o peso médio dos frutos e a produção de frutos comerciais ao final do ciclo de cultivo (120 dias em 2000 e 150 dias em 2001). O delineamento experimental utilizado foi hierarquizado (nested design) em blocos casualizados com quatro repetições. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e teste de Tukey a 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação aos diferentes tipos de casa de vegetação utilizados, não houve diferença estatística significativa para a produção de frutos comerciais de tomate (Tabela 1). A produção média obtida foi de 9,13 kg m-2 na casa do tipo arco, 8,99 kg m-2 na casa tipo arco com teto convectivo e de 8,54 kg m-2 na casa do tipo capela. Esses resultados podem estar relacionados com alguns fatores importantes que devem ser considerados quando se trabalha em casa de vegetação, tais como radiação solar incidente, temperatura, direção e velocidade dos ventos, entre outros (Walker e Duncan, 1971; Makishima e Carrijo, Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 O. A. Carrijo et al. Tabela 1. Produção comercial (kg m-2), peso médio (g) e número de frutos de tomate com podridão apical (m-2) em diferentes substratos sob cultivo protegido, média de dois anos. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000/2001. Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. – não significativo. NS Tabela 2. Valores médios da capacidade de aeração (CapAr), água facilmente disponível (AFD) e água de reserva (ARes) dos substratos avaliados. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2003. 2000). No primeiro ano de cultivo, a temperatura média da casa do tipo capela (26,5ºC) foi a mais alta atingida durante o período experimental, comparado as demais casas (25ºC tipo arco e 24ºC tipo arco com teto convectivo). Martins et al. (1994) verificaram que a casa de vegetação tipo capela, comparada a outras casas de vegetação, proporciona menor produção, que pode estar relacionada à menor radiação solar incidente neste tipo de casa de vegetação, que reduz a taxa assimilatória, diminuindo conseqüentemente a alocação de reservas para formação dos frutos. No segundo ano de cultivo (2001) a produção total obtida foi cerca de 33% inferior a do primeiro ano de cultivo (2000). Essa redução foi atribuída a um severo ataque de traça do tomateiro (Tuta absoluta) no final do ciclo da cultura, igualmente distribuído por toda a cultura, nas três casas de vegetação, o que causou morte dos ponteiros, reduzindo o período de colheita e a produtiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 vidade. Em 2000, a produção do tomateiro cultivado em fibra de coco foi de 12,5 kg m-2, em casca de arroz carbonizada (11,6 kg m-2), serragem (11,3 kg m-2 ) e maravalha (10,6 kg m-2 ). No ano de 2001, o substrato fibra de coco proporcionou produção de 8,3 kg m-2, serragem 8,5 kg m-2, substrato da Embrapa Hortaliças 7,7 kg m-2, maravalha 7,5 kg m-2, casca de arroz carbonizada 7,0 kg m-2, casca de arroz 6,0 kg m-2 e lã de rocha 4,6 kg m-2. Carrijo et al. (2002) obtiveram produtividade de tomate cultivado em fibra de coco verde de até 18,9 kg m-2 em casa de vegetação. Com relação ao peso médio dos frutos (Tabela 1), os substratos fibra de coco verde e casca de arroz carbonizada proporcionaram os maiores pesos médios, 128,2 g e 123,3 g, respectivamente. Os menores pesos médios foram obtidos nos cultivos sob lã de rocha (107,4 g) e casca de arroz (110,7 g). Esses resultados podem estar relacionados à capacidade de disponibilização de nutrientes e água de cada substrato. Para que haja um desenvolvimento harmônico, é essencial que cada um dos órgãos ou tecidos receba a quantidade necessária de assimilados e que esse abastecimento seja efetuado no tempo correto. Dessa forma, é possível suprir uma região de franco crescimento e evitar que outro órgão de menor atividade seja abastecido (Larcher, 2000). Se ocorrer algum distúrbio durante essas mudanças de prioridade no vegetal, sejam elas ambientais ou endógenas, todo o desenvolvimento pode ser prejudicado. As maiores perdas durante a produção foram detectadas em frutos devidas à podridão apical (Tabela 1). Os maiores índices ocorreram no substrato casca de arroz parcialmente carbonizada (15,5 frutos m-2) que diferiu significativamente apenas de serragem (8,8 frutos m-2) e lã de rocha (8,3 frutos m-2). É possível que as perdas estejam relacionadas à deficiência hídrica, pois os substratos que apresentaram menor incidência de podridão, serragem e lã de rocha, são aqueles que retém mais água na faixa de 1 a 5 kPa (água facilmente disponível) (Tabela 2). A umidade de reserva da lã de rocha é extremamente baixa, o que acarretou déficit hídricos em períodos de alta evapotranspiração (Figura 1). Nos substratos constituídos por casca de arroz, a água disponível diminui rapidamente exigindo irrigações muito freqüentes (Andriolo et al., 1999). Segundo Passos (1999), além da deficiência hídrica, a podridão apical pode ser decorrente de distúrbios 7 Produtividade do tomateiro em diferentes substratos e modelos de casas de vegetação Tabela 3. Características químicas em sete substratos em plantios sucessivos de tomateiro. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2003. nd – não determinado nutricionais relacionados principalmente com a deficiência de cálcio. Esse elemento, é um importante constituinte da lamela média da membrana celulósica e sua deficiência causa má formação da parede celular, podendo ser responsável pela rachadura dos frutos. Embora com alta demanda evapotranspiratória no interior das casas de vegetação, no período experimental, a quantidade de Ca absorvida pelas plantas não foi suficiente para evitar a podridão apical nos diferentes substratos. Sob algumas condições, como baixa umidade relativa contínua, mesmo com alta disponibilidade de cálcio no solo, a maior parte da água absorvida é dirigida para as folhas maduras para manter a hidratação do vegetal. Desta forma, muito pouco cálcio chega aos pontos de crescimento e frutos, e eles se tornam deficientes (Adams, 1986).Os frutos apresentam relativamente baixa capacidade transpiratória e o cálcio é um elemento de baixa mobilidade no floema, assim, seu movimento para os frutos se dá predominantemente por fluxo de massa via xilema 8 Figura 1. Curva de retenção de água ajustada pelo modelo de Van Genuchten (1980) dos substratos utilizados para cultivo de tomate. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000/2001. impulsionados pela pressão radicular, processo que normalmente ocorre à noite quando a umidade relativa aumenta. Neste caso, para evitar ou minimizar a incidência da podridão estilar faz-se necessário realizar pulverizações semanais com este nutriente direcionadas para os frutos. Para um bom substrato a água facilmente disponível, deve estar entre 20 a 30% de umidade volumétrica, a água de reserva entre 4 e 10% e a capacidade de aeração entre 20 e 30% (Abad e Noguera, 2000). Somente a serragem apresentou valores dentro dos intervaHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 O. A. Carrijo et al. los recomendáveis (Tabela 2). No substrato Embrapa Hortaliças a capacidade de aeração foi menor que o mínimo recomendável o que causou problemas na cultura em períodos de baixa demanda evaporativa. O cultivo sucessivo nos substratos aumentou a concentração de nutrientes. O teor de Fe foi excessivo indicando a necessidade de ajustes na solução nutritiva (Tabela 3). A relação C/N muita alta no material inicial de serragem, maravalha e fibra de coco verde indica a necessidade de enriquecimento com N para o melhor desenvolvimento inicial das plantas. Espera-se que em cultivos subsequentes todos os materiais, com exceção da lã de rocha, apresentem redução da relação C/N. Com apenas dois cultivos, a relação C/N dos substratos fibra de coco verde, maravalha e serragem já diminuiu consideravelmente. Segundo Abad e Noguera (1998) relação C/N entre 20 e 40 indica um substrato constituído por material orgânico maduro e estável, condição alcançada na fibra de coco verde, casca de arroz carbonizada e substrato Embrapa Hortaliças. A relação C/N da lã de rocha, material inerte, deve-se à presença de raízes dos cultivos. Os dados apresentados sugerem que a fibra de coco verde pode constituir um excelente substrato para o cultivo de tomate em ambiente protegido possibilitando obter-se alta produtividade com qualidade. LITERATURA CITADA ABAD, M.B.; NOGUERA, P.M. Sustratos para el cultivo sin suelo y fertirrigation. In: CADANHA, C. (ed.) Fertirrigation: cultivos hortícolas y ornamentales: Madrid: Mundi-Prensa, 1998 p.289-342. ABAD, M.B.; NOGUERA, P.M. Los substratos en los cultivos sin suelo. In: GAVILÁN, M.U. ed. Manual de cultivo sin suelo. 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Neste contexto utilizou-se estacas de alfavaca-cravo de 15 cm para apicais e 25 cm para as medianas, sendo estas com e sem folhas. As estacas foram plantadas em bandejas de isopor de 72 células, utilizando-se 10 substratos. Após 35 dias, as estacas foram retiradas com cuidado, sendo as partes aéreas e radiculares separadas e acondicionadas em saco de papel e mantidas em estufa a 70°C por 48 h para posterior avaliação da matéria seca. Analisou-se a percentagem de enraizamento, número de folhas na estaca, peso de matéria seca de folha e de raiz. Não houve interação significativa entre os diferentes tipos de substrato e estaca para percentagem de enraizamento, sendo que os substratos de modo geral diferiram pouco entre si. Entre os tipos de estaca destacaram-se para esta variável a mediana sem folha e a apical com folha. Para as demais variáveis houve interação significativa entre o tipo de estaca e o substrato. A melhor estaca foi a mediana sem folhas plantadas em substrato arisco + esterco + húmus e vermiculita nas seguintes proporções: 20%:40%:40%; 40%:20%:40% e 40%:40%. Vegetative propagation of the wild basil using different types of cuttings and substrata Palavras-chave: Ocimum gratissimum L., mudas, planta medicinal. Keywords: Ocimum gratissimum L., seedlings, medicinal plant. The vegetative propagation is an important tool for the improvement of woody and herbaceous species and could be an important tool to improve and to maintain varieties of economic and medicinal importance. In this experiment cuttings 15 cm long of the apical portion and also 25 cm long cuttings of the medial portion of the stems, were used both with and without leaves. The cuttings were planted on styrofoam trays with 72 cells, using 10 different substrata. After 35 days, cuttings were carefully removed, the aerial portion being separated from the roots and conditioned in paper bags and maintained in a stove at 70°C for 48 h, for the dry weight evaluation. There were analyzed the percentage of rooting, number of leaves per cutting and leaf and root dry weight. There was no interaction among substrata and cuttings for the percentage of rooting. Were no significant differences in the rooting among the different substrata used in the experiment there. Better rooting was observed on cuttings from the medial portion of the stem without leaves and from the apical portion with leaves. For the other variables there was significant interaction between the cuttings and the substrata. The cutting that presented best results were those from the medial portion without leaves in the substrata with A+E sandy soil + humus + vermiculite in the following proportions: (20%: 40%:40%); (40%:20%:40%) and (40%:40%:20%) respectively. (Recebido para publicação em 29 de novembro de 2002 e aceito em 18 de setembro de 2003) A alfavaca-cravo (Ocimum gratissimum L.) pertence à família Labiatae, originária da Ásia e África (Correa Júnior, 1994; Matos, 1998), apresentando-se como perene nessas regiões; em regiões frias é anual. É planta alógama e seu melhoramento pode ser difícil devido ao tamanho da flor e de suas características reprodutivas. A propagação vegetativa pode ser a solução para a manutenção e multiplicação dessa espécie. Hibrida-se facilmente, apresentando grande número de subespécies e variedades (Correia Júnior, 1994). Muitas espécies de plantas cultivadas, tanto lenhosas como herbáceas, são altamente heterozigotas; portanto, a propagação vegetativa é ferramenta importante para o melhoramento dessas culturas, devido à eficiência e rapidez na fixação de genótipos com características desejáveis e formação de clones superiores (Hartmann et al., 1990). Estudos promovidos no Brasil e no exterior demonstraram que a utilização, no plantio, de estacas herbáceas, semilenhosas e lenhosas, com folha presente ou ausente, assim como a época de coleta delas, influenciam consideravelmente no enraizamento (Bezerra e Lederman, 1995). Browse (1979) rela- ta que estacas semilenhosas são mais espessas e possuem melhores condições de sobrevivência que as herbáceas, por apresentarem elevadas quantidades de assimilados e, por isso podem produzir raízes sob condições de fraca luminosidade. Morales (1990), trabalhando com enraizamento de citrus, verificou que a presença de folhas nas estacas elevou a percentagem de estacas enraizadas. Zancan (1989), utilizou estaca semilenhosa de ameixeira para plantio. Verificou elevada percentagem de enraizamento nas estacas retiradas da porção apical dos ramos devido ser a região de síntese de auxina. Outro im- ¹Parte da dissertação apresentada à Universidade Federal do Ceará pela primeira autora, para obtenção do título de mestre em agronomia, área de concentração em fitotecnia. 10 Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos Tabela 1. Percentagem média de enraizamento de diferentes tipos de estacas de alfavaca-cravo (O. gratissimum L.), em diferentes combinações de substrato. Pentecoste (CE), UFC-FEVC, 1999. /A+E = arisco + esterco; H= húmus; V= vermiculita; 2/EDMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca apical com folha; EASF=estaca apical sem folha. */**Médias seguidas por letras minúsculas distintas na vertical e maiúscula na horizontal diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probalidade. 1 portante fator para um bom enraizamento é o substrato. Segundo Couvillon (1988), o substrato pode ser determinante para o sucesso do enraizamento de estacas, embora para algumas espécies vegetais, e mesmo cultivares, não haja efeito de substrato (Pokorny e Austin, 1982). No que se refere ao uso de estaquia com plantas medicinais pouco se sabe. Mendonça (1997), trabalhando com alecrim-pimenta (Lippia sidoides Cham.) sob sombrite constatou que o melhor tipo de estaca foi a herbácea com a presença de folhas. Neste trabalho procurou-se determinar o melhor tipo de estaca e substrato para a propagação vegetativa da alfavaca-cravo. MATERIAL E MÉTODOS Estacas semilenhosas de plantas de alfavaca-cravo (O. gratissimum L.) cultivadas no horto de plantas medicinal da Fazenda Experimental Vale do Curu foram retiradas de plantas propagadas sexualmente, com aproximadamente 2,5 anos de idade. Obteve-se estacas das porções apical (com 15 cm) e mediana (com 25 cm), sem folhas e com um par de folhas alternadas. Estas foram plantadas em bandejas de isopor de 72 células, utilizando-se três substratos (esterHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 co bovino curtido, húmus e vermiculita) em diferentes concentrações, complementadas para 100% com arisco (que corresponde ao terriço na região sudeste) num total de 10 combinações (tabela 1) O delineamento foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial (10x4), em três repetições com seis estacas por parcela, num total de 720 estacas. Posteriormente foram levadas para sombrite com 50% de cobertura e com nebulização intermitente. Aos 35 dias após a instalação do experimento, as estacas foram cuidadosamente retiradas das bandejas para evitar danos da parte aérea e sistema radicular. Em seguida, separaram-se as partes aéreas do sistema radicular, que foram acondicionadas separadamente em sacos de papel e levadas para estufa à temperatura de 70°C por 48 horas. Avaliou-se a percentagem de enraizamento; número de folhas nas estacas (realizadas logo após as estacas serem retiradas das bandejas); peso da matéria seca de folha e peso da matéria seca de raiz. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se elevada taxa de sobrevivência das estacas, apesar de nem todas apresentarem raiz. Não houve interação significativa entre os diferentes substratos e tipos de estaca. O substrato que continha 100% de arisco + esterco foi o que proporcionou menor enraizamento, com percentagem média de 67,8% (Tabela 1). Com relação aos tipos de estacas, as mais altas porcentagens de enraizamentos ocorreram nas medianas sem folhas e nas apicais com folhas (99,7% e 98,6%, respectivamente). Trabalhando com citrus, Morales (1990) verificou maior enraizamento quando utilizou estacas com folhas. A não diferença significativa entre estacas medianas sem folhas e estacas apicais com folhas, contraria o encontrado por Zancan (1989), que pesquisando sobre ameixeira, obteve melhores respostas com estacas da porção apical dos ramos, sendo provável que as diferenças encontradas sejam devido às diferenças existentes entre as espécies trabalhadas. Para o número de folhas nas estacas, peso de matéria seca de folhas e de raiz verificou-se que houve interação significativa entre tipo de estaca e substrato. Para a primeira característica, de maneira geral, a estaca mediana sem folha destacou-se, pois foi a única que apresentou superioridade em relação às outras estacas, dentro de todas as combinações dos substratos (Tabela 2). Por outro lado, com relação aos substratos, a estaca mediana sem folha apresentou as maiores variações do número de folhas e o substrato que se 11 P. A. D. Ehlert et al. Tabela 2. Número de folhas em diferentes tipos de estacas de alfavaca-cravo (O.gratissimum L.), em diferentes combinações de substrato. Pentecoste, (CE), UFC-FEVC, 1999. 1 /A+E = arisco + esterco; H = húmus; V = vermiculita; 2/EMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca apical com folha; EASF=estaca apical sem folha. Médias seguidas por letras distintas minúsculas na vertical e maiúscula na horizontal, diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Tabela 3. Médias do peso de matéria seca (g) de folha em diferentes tipos de estacas de alfavaca-cravo (O. gratissimum L.), em diferentes combinações de substrato. Pentecoste, (CE), UFC-FEVC, 1999. /A+E = arisco + esterco; H = húmus; V = vermiculita; 2/EMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca apical com folha; EASF=estaca apical sem folha. Médias seguidas por letras distintas minúsculas na vertical e maiúscula na horizontal, diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. 1 destacou foi o que tinha 20% de arisco + esterco, 40% de vermiculita e 40% de húmus, porém não diferiu significativamente das combinações com arisco + esterco 40% + húmus 20% + vermiculita 40% e arisco + esterco 40% +húmus 40% + vermiculita 20% (Tabela 2). As menores variações das combinações de substrato ocorreram na estaca mediana com folhas e apical sem folha. Considerando o peso da matéria seca de folhas os resultados foram bem semelhantes aos encontradas para o número de folhas. A estaca mediana sem folha novamente foi a única que apre12 sentou os maiores valores dentro de todas as combinações dos substratos, ao contrário do que ocorreu para estaca apical sem folha (Tabela 3). Porém, considerando os valores obtidos dentro do fator estaca, pelas diferentes combinações de substratos, verificou-se que as maiores variações ocorreram nas estacas medianas. Por outro lado, na estaca apical sem folha não ocorreu nenhuma variação para a característica em questão (Tabela 3). Para o peso de matéria seca de raiz, novamente verificou-se superioridade da estaca mediana sem folha dentro de todas as combinações, porém não diferiu muito das estacas mediana e apical com folhas (Tabela 4). Os resultados estão de acordo com Browse (1979) que relata que estacas semilenhosas possuem maiores condições de sobrevivência, apesar de serem mais suscetíveis à perda d’água quando as folhas estão presentes; além disso, elas apresentam elevadas quantidades de assimilados e, por isto, podem produzir raízes sob condições de fraca luminosidade. Ao contrário das duas últimas características avaliadas, os substratos não variaram dentro dos diferentes tipos de estacas. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos Tabela 4- Médias do peso de matéria seca (grama) de raiz em estacas de alfavaca-cravo (O. gratissimum L.), para os diferentes substratos. Pentecoste, (CE), UFC-FEVC, 1999. /A+E = arisco + esterco; H = húmus; V = vermiculita; 2/EMCF=estaca mediana com folha; EMSF=estaca mediana sem folha; EACF=estaca apical com folha; EASF=estaca apical sem folha. Médias seguidas por letras distintas minúsculas na vertical e maiúscula na horizontal, diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste Tukey. 1 Pelo exposto, de acordo com as características avaliadas, observou-se resposta negativa da estaca apical sem folha, em comparação com os demais tipos de estacas. Este resultado diverge do encontrado por Zancan (1989) que utilizando estaca semilenhosa de ameixeira constatou elevada percentagem de enraizamento nas estacas retiradas da porção apical dos ramos. Diante dos resultados, constatou-se neste trabalho ser possível a propagação vegetativa da alfavaca–cravo por estaquia, sendo a melhor estaca, a mediana sem folhas, de 25 cm, plantadas em substrato que contenha arisco + esterco a 40% ou 20% acrescido de 20% ou 40% de húmus, respectivamente e mais 40% de vermiculita. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 LITERATURA CITADA BEZERRA, J.E.F.; LEDDERMAN, I.E. Propagação vegetativa por estaquia da aceroleira. In: São José, A.R.; Alves, R.E. Acerola no Brasil, produção e mercado. Vitória da Conquista: UESB, 1995 p.32-40. BROWSE, P.M. A propagação das plantas. Lisboa: Europa - América, 1979, 228 p. CORRÊA JÚNIOR, C.; MING, L.C.; SCHEFFER, M.C. Cultivo de Plantas Medicinais, Condimentares e Aromáticas, Jaboticabal-SP, 1994, 151 p. COUVILLON, G.A. Rooting response to different treaments. Acta Horticulturae, v.227, p.187-196, 1988. HARTMANN, H.T.; KESTER, D.E.; DAVIES JR., F.T. Source selection and management in vegetative propagation. 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Houve discordância nas freqüências observadas entre as duas metodologias propostas neste trabalho e a de Pimentel Gomes (1985) para as características açúcar total, teor de sólidos solúveis, peso do fruto, produtividade e número de frutos. Para a acidez total titulável, observaram-se reduzidas diferenças quanto aos limites baixo, médio e alto, porém, segundo a classificação de Pimentel Gomes (1985), nenhum dos dados foi classificado como muito alto. Apenas para a característica firmeza da polpa houve alta concordância entre as metodologias de Garcia (1985) e dos Quantis Amostrais e a de Pimentel Gomes (1985). Os métodos de Garcia (1985) e dos Quantis Amostrais permitiram a classificação mais adequada dos coeficientes de variação para o meloeiro. Coefficients of variation of some melon yield components and fruit quality traits: a proposal for classification Palavras-chave: Cucumis melo, precisão experimental, análise de variância. Keywords: Cucumis melo, experimental precision, analysis of variance. A proposal for classifying the coefficients of variation of melon yield, fruit weight, fruit number, soluble solids content, pulp firmness, total sugars, pH and total titrable acidity was established in data from melon experiments carried out in Mossoró, Brazil. The CV values came from 98 works, mostly from theses and monographs submitted to the faculty of Mossoró. The variation coefficients (CV) were classified according to Garcia’s (1989) proposal and sample quantiles. A disagreement in the observed frequencies between these two methodologies proposed in this paper and that of Pimentel Gomes (1985) for total sugars, soluble solids content, fruit weight, pH, yield and number of fruits was observed. Small differences were observed in the low, medium and high CV bands for total titrable acidity. However, very high CV band for any assessed characteristic, based on the Pimentel Gomes (1985) classification was not observed. A very good agreement between the classifications proposed by Garcia (1989) and sample quantiles, and that of Pimentel Gomes (1985) for pulp firmness was observed. In general, the classifications proposed by Garcia (1989) and sample quantiles were more appropriate to evaluate the melon yield and quality traits than that of Pimentel Gomes (1985). (Recebido para publicação em 17 de dezembro de 2002 e aceito em 10 de novembro de 2003) E m experimentação agrícola a preocupação com a precisão dos ensaios é constante por parte dos pesquisadores. Os ensaios com baixa precisão podem fazer com que se obtenham conclusões incorretas dos resultados, aumentando-se a probabilidade de ocorrência de erro tipo II, ou seja, apontar igualdade entre tratamentos quando realmente existe diferença. Com efeito, a decisão errada prejudica a adoção de novas tecnologias por não permitir a indicação do melhor tratamento para o produtor (Judice, 2000). O coeficiente de variação (CV), definido como o desvio-padrão expresso em porcentagem de média, é a medida mais utilizada para medir a instabilidade relativa de uma característica ou variável (Sampaio, 1998). Considera-se que quanto menor o CV, maior será a 14 homogeneidade dos dados e menor a variação do acaso (Garcia, 1989). Na experimentação agrícola, o CV tem a vantagem de possibilitar a comparação da precisão entre experimentos, envolvendo a mesma variável-resposta, permitindo que o pesquisador possa quantificar a precisão de sua investigação (Steel e Torrie, 1980; Sampaio, 1998). Contudo, deve-se tomar cuidado, com resultados de experimentos distintos que são obtidos em condições diferentes (Scapim et al., 1995). Pimentel Gomes (1985) fez uma classificação para o coeficiente de variação. No entanto, essa classificação, mesmo sendo extensivamente utilizada, é abrangente e não considera a natureza do ensaio quanto à cultura estudada e, principalmente, quanto à variável utilizada, o que pode ser importante para interpre- tação das magnitudes dessa medida, conforme comentou Garcia (1989). Existe a necessidade de classificação dos coeficientes de variação para a realidade inerente a cada cultura, a fim de que se possa ter um referencial na comparação da precisão de experimentos distintos. Alguns trabalhos neste sentido foram realizados com milho (Scapim et al., 1995), citros (Amaral et al., 1997), soja e trigo (Lúcio, 1997), arroz (Costa et al., 2002), espécies forrageiras (Ambrosano e Schamas, 1994; Clemente e Muniz, 2002), espécies florestais (Garcia, 1995) e diversas culturas agrícolas (Estefanel et al., 1987). Na área animal, também há trabalhos que visam a classificação de coeficientes de variação (Judice et al., 1999). Para melão, uma das principais hortaliças cultivadas no Nordeste brasileiro, não existe uma classificação especíHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Coeficientes de variação de algumas características do meloeiro: uma proposta de classificação Tabela 1. Teste de Shapiro-Wilk (SW) e estatísticas descritivas dos coeficientes de variação obtidos em trabalhos com a cultura do melão (Cucumis melo L.). Mossoró, 2001. AT: Açucares totais; FP: Firmeza da polpa; TSS: Teor de sólidos solúveis; PROD: Produtividade; Peso do fruto; Número de frutos; ATT: Acidez total titulável 1 Tamanho da amostra 2 Não significativo a 5% de probabilidade fica. Assim sendo, este trabalho teve como objetivo classificar os coeficientes de variação de experimentos com essa cultura. MATERIAL E MÉTODOS Os valores de CVs foram obtidos de 98 trabalhos com a cultura do meloeiro, em sua maioria, em teses e monografias defendidas na ESAM, além de periódicos nacionais e internacionais. As características avaliadas foram aquelas relacionadas à produção (produtividade, peso do fruto e número de frutos) e à qualidade de frutos (teor de sólidos solúveis, firmeza da polpa, açúcar total e acidez total titulável). Inicialmente, testou-se o ajuste dos dados à distribuição normal pelo teste de Shapiro-Wilk (Shapiro e Wilk, 1965). Foram obtidas estimativas de medidas descritivas como média geral, desvio-padrão, valores máximos e mínimos, coeficientes de assimetria e curtose, e coeficiente de variação. A classificação foi feita de acordo com as propostas de Garcia (1989) e dos Quantis Amostrais. A metodologia de Garcia (1989) utiliza a relação entre a média (m) e o desvio padrão (DP) dos valores do CV de diversos experimentos, envolvendo a mesma variável, classificando-os da seguinte maneira: baixo [(CV ≤(m – 1 DP)]; médio [(m – 1 DP) < CV < (m + 1 DP)]; alto [(m + 1 DP) < CV ≤ (m + 2 DP)] e muito alto [CV > (m + 2 DP)]. No método dos Quantis Amostrais os dados foram organizados em ordem cresHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 cente de grandeza e encontrados os valores 15,87%; 84,13% e 97,72% que, analogamente ao critério de Garcia (1989), foram utilizados como estimativas das faixas de avaliação dos CVs dos experimentos (Spiegel, 1996; Judice 2000). Foram construídas tabelas de freqüências dos CVs segundo a classificação proposta pelos métodos de Garcia (1989), dos Quantis Amostrais e pela classificação de Pimentel Gomes (1985), a partir dos dados obtidos na literatura consultada. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados para as estatísticas descritivas e teste de normalidade de Shapiro- Wilk estão apresentados na Tabela 1. Observou-se que o teste de Shapiro-Wilk não foi significativo para as características estudadas, evidenciando que o conjunto de dados dos coeficientes de variação extraídos da literatura tiveram distribuição normal. O fato das estimativas dos coeficientes de assimetria e curtose não serem significativos, indica que a distribuição dos dados é simétrica e mesocúrtica, características da curva de Gauss (Triola, 1998). De um modo geral, constata-se uma tendência das características medidas em laboratório (SST, ATT, Açucares e Firmeza) terem menores CVs em relação àquelas determinadas em campo (Produtividade e Número de frutos). Entretanto, o peso do fruto foi o segundo menor coeficiente de variação (Tabela 1). Amaral et al. (1997), trabalhan- do com citros, também observaram que as características medidas em laboratório, com exceção da acidez, possuíam maiores estimativas de CV em relação às de campo. Segundo esses autores, as características determinadas em laboratório têm menores valores em decorrência, talvez, da maior precisão com que este tipo de análise é conduzida, como maior controle dos fatores ambientais e o uso de instrumentos precisos. Ocorreu ampla variação entre os CVs dentro de cada característica, nos valores máximo e mínimo e nos coeficientes de variação dos dados. A variação dos coeficientes de variação entre experimentos é função das condições distintas nas quais foram realizados os experimentos. Em razão dessa variabilidade, é necessária a classificação específica dos CVs de cada característica. Assim sendo, para cada variável foi elaborada uma faixa específica de valores de coeficientes de variação específica, conforme os critérios de Garcia (1989) e dos Quantis Amostrais (Tabela 2). Observou-se que os resultados obtidos são bastante semelhantes nos dois métodos, que foram recomendados por Judice (2000) para classificação de CVs em experimentos zootécnicos porque consideram a real distribuição dos dados. As freqüências observadas e esperadas, segundo as metodologias de Garcia (1989), dos Quantis Amostrais e a classificação proposta por Pimentel Gomes (1985), estão na Tabela 3. As freqüências esperadas foram estimadas considerando-se que os coeficien15 L. L. Lima et al. Tabela 2. Intervalos dos coeficientes de variação construídos pelos critérios de Garcia (G) (1989) e dos Quantis Amostrais (QA) a partir dos dados obtidos em trabalhos com a cultura do melão (Cucumis melo L.). Mossoró, 2001. AT: Açucares totais; FP: Firmeza da polpa; TSS: Teor de sólidos solúveis; PROD: Produtividade; Peso do fruto; Número de frutos; ATT: Acidez total titulável Tabela 3. Freqüências observadas e esperadas (%) dos coeficientes de variação segundo os critérios de Garcia (1989) (G), dos Quantis Amostrais (QA) e Pimentel Gomes (1985) (PG) a partir dos dados obtidos em trabalhos com a cultura do melão (Cucumis melo L.). Mossoró, 2001. AT: Açucares totais; FP: Firmeza da polpa; TSS: Teor de sólidos solúveis; PROD: Produtividade; Peso do fruto; Número de frutos; ATT: Acidez total titulável. 1 Freqüência esperada 2 Freqüência observada tes de variação obtidos na experimentação com melão tenham distribuição normal ou aproximadamente normal. Portanto, espera-se que, sob a hipótese de normalidade, a maioria dos coeficientes de variação estejam próximos 16 da média e que coeficientes de variação muito baixos ou muito elevados sejam pouco freqüentes. Houve concordância para as freqüências observadas nos critérios de Garcia (1989) e de Quantis Amostrais, em todas as variáveis. Por outro lado, verificou-se discordância entre as duas metodologias propostas neste trabalho e aquela proposta por Pimentel Gomes (1985) para as características açúcares totais, teor de sólidos solúveis e peso do fruto. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Coeficientes de variação de algumas características do meloeiro: uma proposta de classificação Para o teor de sólidos solúveis e peso do fruto, conforme Pimentel Gomes (1985), nenhum dos dados seria classificado como alto ou muito alto (Tabela 3), enquanto que, para a acidez total não houve CV classificado como muito alto. Com relação à produtividade e número de frutos observaram-se diferenças quanto aos limites médio alto e muito alto (Tabela 3). Para produtividade, não houve CV classificado como muito alto, conforme Pimentel Gomes (1985). Para a característica acidez total titulável, constataram-se reduzidas diferenças quanto aos limites baixo, médio e alto para os três métodos. Contudo, segundo a classificação de Pimentel Gomes (1985), nenhum dos dados seria classificado como muito alto. Apenas para a característica firmeza da polpa, houve alta concordância entre as metodologias de Garcia (1985) e dos Quantis Amostrais e a de Pimentel Gomes (1985). Trabalhando com milho, Scapim et al. (1995) verificaram concordância entre as metodologias de Garcia (1989) e de Pimentel Gomes (1985) para peso de espigas, número de espigas, peso de grãos e prolificidade. Com efeito, a classificação de Pimentel Gomes (1985) pode ser adequada para determinadas características. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 A aplicação dos métodos de Garcia (1985) e dos Quantis Amostrais permitiu a classificação mais adequada dos coeficientes de variação para o melão, confirmando a necessidade de uma abordagem específica dessa medida de variação, em função da natureza dos dados, isto é, da característica em estudo, e da própria cultura. Esse fato foi verificado em outros trabalhos (Scapim et al., 1985; Amaral et al., 1997; Judice, 2000). LITERATURA CITADA AMARAL, A.M.; MUNIZ, J.A.; SOUZA, M. 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Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola Virgínia L.F. Soares1; Fernando L. Finger2; Paulo R. Mosquim2 1 UESC, 45650-000 Ilhéus-BA; 2UFV, 36571-000 Viçosa-MG; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se a influência do genótipo e do estádio de maturação da planta de cebola, na colheita, sobre o tamanho e qualidade, e subseqüente perda de matéria fresca na cura dos bulbos de ‘Granex’, ‘Baia Periforme’ e ‘Jubileu’. A antecipação ou retardamento da colheita em 15 dias, em relação ao estalo da planta, não influenciou a matéria fresca total e o teor de açúcares solúveis totais dos bulbos, sendo estas características função do genótipo utilizado. A colheita antecipada dos bulbos em 15 dias reduziu significativamente o teor de sólidos solúveis na cultivar Baia Periforme. Os bulbos dos genótipos analisados apresentaram concentrações insignificantes de amido, inferiores a 0,16 % da matéria fresca. A média geral da concentração de açúcares solúveis totais foi de 6,8% da matéria fresca para o híbrido precoce ‘Granex’, 11,5% para a cultivar de ciclo médio Baia Periforme e 10,8% em bulbos da tardia ‘Jubileu’. A colheita dos bulbos 15 dias após o tombamento do pseudocaule permitiu acúmulo significativo de compostos fenólicos solúveis na casca das cultivares Baia Periforme e Jubileu, de coloração amarelada. Durante a cura dos bulbos houve maior taxa de perda de matéria fresca naquelas plantas colhidas 15 dias antes do colapso do pseudocaule, independente do genótipo testado. Influence of genotype and maturity stage at harvest on fresh weight, quality and cure of onion Palavras-chave: Allium cepa, sólidos solúveis, açúcares solúveis, amido, fenóis, perda de massa. Keywords: Allium cepa, soluble solids, soluble sugars, starch, phenolics, weight loss. The influence of cultivar and maturity stage at harvest over the weight, quality and weight loss through cure of onions was evaluated for cultivars Granex, Baia Periforme and Jubileu. Harvesting 15 days before the drop of tops did not affect the total bulb fresh weight or total soluble content, which were function of the genotype tested. Earlier harvesting, 15 days before maturation, significantly reduced the total soluble solids for ‘Baia Periforme’. The bulbs presented small amount of starch, bellow 0.16% of the fresh weight. The general average for total soluble sugars was 6.8%; 11.5% and 10.8% of bulb’s fresh weight, for the early hybrid ‘Granex’, the middle season cultivar Baia Periforme and late season cultivar Jubileu, respectively. Hharvesting bulbs in 15 days after the tops tall over, induced significant increase in the total soluble phenolic compounds in the skin of the bulb for ‘Baia Periforme’ and ‘Jubileu’, known as yellow dark skin cultivars. During the cure of the bulbs, harvesting 15 days before the top tall over, a higher rate of fresh weight loss was observed, irrespective of the genotype tested. (Recebido para publicação em 07 de abril de 2002 e aceito em 10 de maio de 2003) A aparência externa e o tamanho dos bulbos são importantes componentes da qualidade da cebola. Para consumo in natura há preferência por bulbos de tamanho médio, forma periforme, casca intacta e amarelo-escura. Segundo Rubatzky e Yamaguchi (1997) o estádio de desenvolvimento da planta na colheita afeta diretamente o tamanho, e possivelmente a qualidade e o potencial de armazenamento dos bulbos. No entanto, na revisão do assunto, os autores não mencionam quais características de qualidade dos bulbos seriam afetadas pela colheita em estádio não adequado. Tradicionalmente a colheita da cebola é realizada quando as plantas estão estaladas ou com o colo completamente amolecido. Brewster (1994) recomenda que os bulbos devam ser colhidos quando o campo apresenta entre 50% e 80% das plantas com o pescoço amole18 cido e a folhagem iniciando a tombar sobre o solo. Porém, não há menção se podem existir diferenças entre genótipos ou mesmo possíveis influências das condições edafo-climáticas locais, quanto ao momento ideal para a colheita. O padrão de crescimento da cebola mostra que a planta tem baixas taxas de acúmulo de matéria seca durante as fases iniciais do desenvolvimento, seguido de rápido crescimento e finalmente por uma fase estacionária cuja extensão varia em função da cultivar, sanidade da planta e condições climáticas (Brewster, 1994; Tei et al., 1996). Em um estudo realizado com cultivares precoces, os bulbos foram colhidos quando 20% ou 80% de plantas haviam estalado, e mais três colheitas subseqüentes, após 5; 10 e 15 dias. Nas condições experimentais do trabalho verificou-se que as colheitas tardias causaram redução da firme- za dos bulbos e aumentaram a incidência de doenças no armazenamento, porém permitiu a colheita de cebolas maiores (Wall e Corgan, 1994). O conteúdo de matéria seca acumulada nos bulbos é outro importante fator de qualidade, em especial para a indústria de processamento, devido à quantidade de energia requerida para a remoção da água durante o processo de desidratação. O conteúdo de matéria seca do bulbo tem estreita correlação com a concentração de sólidos solúveis, em especial com o acúmulo de açúcares solúveis denominados de frutanas (Sinclair et al., 1995). O presente trabalho avaliou a influência do estádio de maturação da planta na colheita sobre o acúmulo de massa, qualidade e a perda de matéria fresca na cura dos bulbos de cebola de três genótipos. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola MATERIAL E MÉTODOS O híbrido Granex e as cultivares Baia Periforme e Jubileu, que são cebolas de ciclo curto, médio e tardio, respectivamente, foram semeadas na primeira quinzena de abril e transplantadas com cindo a sete folhas definitivas para o campo de produção da UFV. Foi utilizado o espaçamento de 7-10 cm entre plantas e 25-30 cm entre linhas, em canteiros com 1,2 m de largura e 10 m de comprimento. O experimento foi instalado em uma área com topografia e fertilidade uniformes, em solo Podzólico Vermelho-Amarelo Câmbico, fase terraço. Os tratos culturais seguiram as recomendações usuais para a cultura de cebolas na Zona da Mata de Minas Gerais. A colheita dos bulbos foi realizada nos meses de outubro e novembro em três épocas: aos 15 dias antes do estalo ou plantas com bulbos completamente formados e coloração ainda verde, com o pseudocaule amolecido e limbo das folhas verdes; plantas recém estaladas, com limbo das folhas verdes; 15 dias após o estalo ou com pseudocaule completamente murcho e folhas secas. O aspecto da lavoura por ocasião das colheitas foi de 80%, 50% e 10% de plantas estaladas para ‘Granex’, ‘Baia Periforme’ e ‘Jubileu’, respectivamente. Imediatamente após a colheita determinou-se a matéria fresca dos bulbos e procedeu-se às análises químicas dos bulbos. Outra parcela das plantas colhidas foi transportada para um galpão arejado e acondicionadas em estrados de madeira para completar a cura por 15 dias. A perda de matéria fresca das plantas foi avaliada em intervalos de três dias, a partir da colheita, e a perda de massa durante a cura foi expressa em percentagem de matéria fresca acumulada perdida. O teor de sólidos solúveis foi determinado em amostras homogeneizadas de todo o bulbo descascado, em refratômetro de mesa Atago 3T, ajustado para a temperatura de 25oC. Amostras homogêneas de todo o bulbo foram imersas em 80% etanol fervente para a quantificação dos açúcares solúveis e do amido. Os açúcares solúveis foram extraídos três vezes conseHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 cutivas com 80% etanol quente intercalados por centrifugações a 2000´g por 10 minutos. Os sobrenadantes das centrifugações foram combinados, e após clarificação do extrato com clorofórmio, seguido da eliminação do etanol, este foi utilizado na determinação dos açúcares solúveis totais pelo método de antrona descrito por McMready et al. (1950), em espectrofotômetro a 620 nm. O amido foi determinado a partir do resíduo da extração dos açúcares, pela adição de 5,8 ml de 30% ácido perclórico com agitação ocasional por 20 minutos. Em seguida foram adicionados 10 ml de água destilada, seguida de centrifugação a 2000´g por 10 minutos. O procedimento foi repetido por três vezes e a quantificação do amido foi realizada pelo método de antrona. Glicose foi utilizada como padrão na quantificação dos açúcares e do amido. O conteúdo de compostos fenólicos totais da casca dos bulbos foi avaliado pelo método de Folin-Denis, descrito por Kubota (1995), com modificações. Cerca de 1,0 g de casca foi macerada em nitrogênio líquido, misturada com 15 ml de água destilada fervente e fervida por 20 minutos. O homogenato foi filtrado em papel de filtro e as amostras do filtrado foram misturadas com 5 ml do reagente de Folin-Denis, + 5 ml de 10% NaCO3 (anidro), seguido de agitação. Após 1 hora de repouso a amostra foi filtrada e a absorbância lida a 700 nm, com utilização de D-catequina como padrão. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com quatro blocos, no esquema fatorial de três épocas de colheita e três genótipos. Foram utilizados cinco bulbos por parcela para se obter os dados, a fim de se proceder à análise de variância ANOVA e aplicar o teste Tukey para separação das médias, adotando-se o nível de significância de 5% de probabilidade. Para a análise dos dados da perda de matéria fresca das plantas durante a cura, utilizou-se análise de regressão, pelo teste-t a 1% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO A antecipação ou retardamento em 15 dias da colheita em relação ao estalo das plantas, não resultou em aumento significativo na matéria fresca total dos bulbos dos três genótipos avaliados com média por bulbo de 96,3 g para ‘Granex’, 150,0 g para ‘Baia Periforme’ e 142,3 g para ‘Jubileu’. Sargent et al. (2001) observaram que a antecipação em 30 dias (menos que 5% de plantas estaladas) na colheita do híbrido Granex causou redução da matéria fresca dos bulbos, enquanto que o retardamento em oito dias resultou em aumento do tamanho dos bulbos. No entanto, os autores não mencionaram qual foi a porcentagem de plantas estaladas na última colheita. Para outras cultivares de dias curtos NuMex BR1, NuMex Sunlite, NuMex Starlite e Buffalo o ponto ideal de colheita foi obtido quando 80% das plantas haviam estalado (Wall e Corgan, 1994). Nas condições deste experimento, as porcentagens de plantas estaladas da lavoura foram adequadas para a colheita com o máximo de 15 dias antes do estalo, considerando-se somente a massa fresca total dos bulbos para os três genótipos estudados. O estádio de maturação na colheita não afetou o teor de sólidos solúveis para a ‘Granex’ e ‘Jubileu’, porém a antecipação em 15 dias da colheita em relação ao estalo reduziu a concentração de sólidos solúveis dos bulbos da ‘Baia Periforme’ (Figura 1). Portanto para esta cultivar, a colheita 15 dias antes do estalo não é recomendada visto que ainda há significativa translocação de assimilados das folhas para o bulbo, resultando em maior teor de sólidos solúveis no estádio de pleno estalo da parte aérea. Não há relatos na literatura sobre o teor máximo de sólidos solúveis presentes nos bulbos para as cultivares Baia Periforme e Jubileu por ocasião da colheita. Para o híbrido Granex o teor médio de sólidos solúveis de 6,3%, apresenta-se inferior aos dos genótipos de ciclo médio e tardio (Figura 1). Kopsell e Randle (1997) avaliaram oito genótipos quanto à qualidade dos bulbos, e encontraram teores de sólidos solúveis de 7,6 para ‘Granex’, de 8% para cultivares americanas de ciclo médio e de 10,9% para aquelas de ciclo tardio no momento ideal de colheita, ou seja, quando 50% de plantas estavam com pescoço amolecido, valores estes semelhantes aos 10% acumulados pela 19 V. L. F. Soares et al. Figura 1. Teor de sólidos solúveis totais (TSS) e amido em bulbos de cebola colhidos 15 dias antes do estalo, no estalo e 15 dias após o estalo do pseudocaule. Viçosa, UFV, 2001. Baia Periforme e 9,5% para Jubileu em plantas recém estaladas (Figura 1). A maior componente da matéria acumulada nos bulbos foi composta por açúcares solúveis, com teores de 6,8% da matéria fresca para a cebola precoce ‘Granex’, 11,5% para a cultivar de ciclo médio Baia Periforme e 10,8% em bulbos da tardia ‘Jubileu’. Os teores de açúcares solúveis totais não foram in20 fluenciados pela idade da planta na colheita em nenhum dos genótipos avaliados. Segundo Jaime et al. (2000) as frutanas correspondem por cerca de 50% dos carboidratos não-estruturais dos bulbos, seguido da glicose, sacarose e frutose, representando entre 60% e 80% da matéria seca. As frutanas são oligossacarídeos de frutose derivados da sacarose, e são armazenadas principal- mente no vacúolo das células (Brewster, 1994). Cultivares de cebolas com elevado teor de matéria seca nos bulbos acumulam frutanas durante todo o período de bulbificação, enquanto que as cultivares com baixo teor de matéria seca atingem máximo acúmulo nos estádios iniciais da bulbificação (Kahane et al., 2001). O amido esteve presente com teores muito inferiores ao dos açúcares solúveis, em média menos de 0,16% da matéria fresca do bulbo (Figura 1). Para ‘Granex’ e ‘Jubileu’ houve redução significativa dos teores de amido nos bulbos colhidos no estalo das plantas, porém não é possível especular se esta redução tem significado fisiológico, visto que o amido não se apresenta como uma forma importante de armazenamento de energia em cebola. A casca ou películas externas da cebola define a aparência dos bulbos, influencia na manutenção da dormência, previne a perda excessiva de água para o ambiente e dificulta a infecção dos mesmos por microrganismos patogênicos durante o armazenamento. Embora a casca afete a qualidade e a fisiologia pós-colheita da cebola, pouco é conhecido sobre as alterações bioquímicas ocorridas nas películas por ocasião da colheita. Sabe-se que a cor externa dos bulbos é determinada pelo acúmulo de substâncias fenólicas ou flavonóides próximo ao período de colheita (Brewster, 1994; Fossen et al., 1998). Além disso, o conteúdo e a composição destas substâncias variam em função da espécie do gênero Allium, do estádio de desenvolvimento e órgão da planta e genótipo (Brewster, 1994; Fossen et al., 1996). O estádio de maturação da planta na colheita influenciou a concentração de compostos fenólicos das películas externas dos bulbos nas cultivares Baia Periforme e Jubileu (Figura 2). Nestes genótipos, a colheita dos bulbos no estalo ou 15 dias após o estalo resultou na elevação do conteúdo de compostos fenólicos, proporcionando a obtenção de bulbos com casca mais escura. Para a Granex, o atraso na colheita não alterou a concentração de compostos fenólicos da casca, provavelmente por se tratar de um genótipo de bulbos com películas tipicamente amarelo-claras. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Influência do genótipo e do estádio de maturação na colheita sobre a matéria fresca, qualidade e cura dos bulbos de cebola Tabela 1. Equações da estimativa da perda de massa fresca durante a cura de bulbos de cebola de Granex, Baia Periforme e Jubileu, colhidos 15 dias antes do estalo, no estalo e 15 dias após o estalo do pseudocaule. Viçosa, UFV, 2001. **t significativo em 1% de probabilidade A perda de matéria fresca durante a cura, em condições de sombra, foi influenciada pelo genótipo e pelo estádio de maturação das plantas na colheita (Tabela 1). A antecipação da colheita em 15 dias resultou na elevação da taxa de perda de massa durante a cura para os três genótipos avaliados, quando comparadas à taxa dos demais estádios de maturação (Tabela 1). Para esta colheita, a ‘Granex’ apresentou a menor taxa de perda de massa (0,70%/dia), seguido da ‘Jubileu’ (1,04%/dia) e ‘Baia Periforme’ (1,34%/dia). Para os bulbos colhidos no momento do estalo as taxas de perdas de matéria fresca por dia foram de 0,55%, 0,32% e 0,61%, respectivamente. A colheita 15 dias após o estalo não afetou a taxa de perda de matéria fresca para a ‘Granex’ (0,53%/dia) em relação à taxa observada para a colheita no estalo das plantas. Porém para ‘Baia Periforme’ houve elevação (0,57%/dia) e para a ‘Jubileu’ ocorreu redução da perda (0,32%/dia). Este comportamento distinto entre os genótipos e colheita pode estar associado à taxa de transferência de vapor de água do interior do bulbo para o ambiente, ao fechamento do colo do bulbo, umidade do pseudocaule ou ao tamanho e forma da cebola. A colheita da cebola 15 dias antes do estalo da planta não afetou o acúmulo de matéria fresca total dos bulbos para os genótipos Granex, Baia Periforme e Jubileu, porém reduziu a concentração de sólidos solúveis totais na cultivar Baia Periforme. A concentração de compostos fenólicos nas películas externas dos bulbos nas cultivares Baia Periforme Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 2. Teor de compostos fenólicos solúveis na casca de bulbos de cebola colhidos 15 dias antes do estalo, no estalo e 15 dias após o estalo do pseudocaule. Viçosa, UFV, 2001. e Jubileu aumentou significativamente com o retardamento da colheita em 15 dias após o estalo, intensificando a presença da cor amarela da casca. A antecipação da colheita em 15 dias antes do estalo resultou na elevação da taxa de perda de massa fresca durante a cura dos bulbos. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPEMIG pelo apoio financeiro ao trabalho. LITERATURA CITADA BREWSTER, J.L. 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Produção Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900 Jaboticabal-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT O experimento foi conduzido em hidroponia (NFT), de junho a novembro de 2001, na UNESP, em Jaboticabal. A cultivar Bônus n0 2 foi cultivada sob blocos casualizados, em esquema de parcelas subdivididas, com seis repetições. Foram avaliados o número de frutos por planta (2; 3; 4 e fixação livre) e a concentração de potássio na solução nutritiva (66; 115,5; 165 e 247,5 mg L-1 de K). Nas colheitas ocorridas entre 105 e 133 dias após o transplantio (DAT), foram obtidos 2,0; 2,5; 2,7 e 2,3 frutos por planta, enquanto que aos 85 DAT, o número de frutos fixados tinha sido, respectivamente, 2; 3; 4 e 6,2 frutos por planta. O incremento da concentração de potássio na solução nutritiva aumentou, inicialmente, o número de frutos fixados, e contribuiu, posteriormente, para a redução do abortamento dos frutos. Também, promoveu aumento no peso médio do segundo fruto. A produção e o peso médio dos frutos não foram influenciados pelo emprego de soluções nutritivas com concentração de potássio acima de 66 mg L-1. Entretanto, o número de frutos por planta afetou a produção e o peso médio dos frutos, promovendo respectivamente, aumento e redução à medida que maior foi o número de frutos por planta. Net melon yield as affected by potassium concentration in nutrient solution and number of fruits per plant Palavras-chave: Cucumis melo var. reticulatus, fixação de frutos, nutrição, cultivo sem solo. The experiment was carried out using hidroponic solution (NFT) from June to November-2001, in Jaboticabal, São Paulo State, Brazil. The ‘Bonus n0 2’ was cultivated in randomized blocks design, with split-plot scheme and six replications. Fruit number per plant (2; 3; 4 and free) and potassium concentration in the nutrient solution (66; 115.5; 165 e 247.5 mg L-1) were the studied factors. At harvests [105 to 133 days after transplant (DAT)], 2.0; 2.5; 2.7 and 2.3 fruits per plant were obtained, whereas at 85 DAT, 2; 3; 4 and 6.2 fruits had been set, respectively. Increasing potassium concentration in the nutrient solution improved initially fruit set and contributed later to reduce the fruit aborting in plants. Also the potassium promoted increase in second fruit weight. Yield and fruit weight were not influenced by potassium concentration in the nutrient solution over 66 mg L-1. The number of fruits per plant affected yield and fruit weight promoting, respectively, increase and decrease in proportion to the higher number of fruits per plant. Keywords: Cucumis melo var. reticulatus, fruit set, nutrition, soilless culture. (Recebido para publicação em 30 de abril de 2002 e aceito em 03 de novembro de 2003) A tualmente, no estado de São Pau lo, tem crescido o interesse no cultivo de melão do grupo rendilhado (Reticulatus), devido aos frutos apresentarem maior valor de mercado e por possuírem melhores características organolépticas. Entretanto, na região sudeste, o oferecimento do melão rendilhado implica necessariamente no cultivo em casa de vegetação para serem obtidos frutos com excelente aspecto visual, sabor e boa lucratividade (Brandão Filho e Callegari, 1999). Em casa de vegetação, o cultivo de hortaliças no solo, tem apresentado dificuldades de manejo, tais como a salinização do solo (Fontes e Guimarães, 1999), resultante do uso intensivo da mesma área e inadequada fertilização; e a ocorrência de plantas daninhas, patógenos do solo e pragas que dificultam a condução das culturas (Picanço e Marquini, 1999). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Como alternativa tem-se o cultivo sem solo. Dentre as opções, há a hidroponia que é uma tecnologia para o cultivo de plantas em solução nutritiva, com ou sem o uso de substrato alternativo ao solo (Jensen, 1997) e que permite o plantio da mesma espécie o ano todo, sem a necessidade de rotação de culturas e ainda com maior eficiência do uso de água, de fertilizantes e de defensivos (Alberoni, 1998; Faquin e Furlani, 1999). O cultivo comercial de hortaliças em hidroponia é recente no Brasil, sobretudo para hortaliças de frutos, das quais o tomate é a cultura mais estudada. Na literatura encontram-se recomendações de soluções nutritivas para o meloeiro; contudo, são baseadas em cultivos realizados em outros continentes, com grandes diferenças quanto a cultivares e ambiente de cultivo. Para o cultivo em solução nutritiva, um dos nutrientes com expressivo efeito na produção e na qualidade dos frutos é o potássio. Participa direta e indiretamente de inúmeros processos bioquímicos envolvidos com o metabolismo dos carboidratos, como a fotossíntese e respiração. De acordo com Faquin (1994), além da função do potássio como ativador de grande número de enzimas relacionadas com os processos de assimilação de CO2 e de nitrogênio, ele tem ação na translocação e armazenamento de carboidratos. Em cultivo no solo, Buzetti et al. (1993) não observaram aumento no número, no diâmetro e na produção de frutos de melão em função do aumento na dose de potássio. Ao contrário, Faria et al. (1994), Rao e Srinivas (1990), Prabhakar et al. (1985) e Hassan et al. (1984), verificaram efeito positivo da aplicação deste nutriente sobre a produ23 C. C. Costa et al. ção de frutos. Nerson et al. (1997) constataram que a deficiência de P e K, em hidroponia, inibiu o crescimento vegetativo, diminuiu a fixação e o tamanho dos frutos, com reflexos negativos na produção. Pardossi et al. (1994), também em hidroponia, avaliaram o efeito de doses de potássio na solução nutritiva, não encontrando diferenças na produção de frutos quando usaram as concentrações de 340 a 680 mg L-1, na primavera, e entre 200 e 400 mg L-1, no cultivo de verão. Diante do exposto, percebe-se a necessidade do aprimoramento da solução nutritiva para o cultivo do meloeiro, especialmente quanto ao ambiente e sistema de cultivo das cultivares regionais utilizadas, e características mercadológicas desejadas. Entre as particularidades do mercado, o tamanho do fruto recebe hoje atenção de produtores e pesquisadores, uma vez que a tendência mundial é produzir frutos de tamanho menor, acompanhando o número de membros de uma família (Gusmão, 2001). O mercado de hortaliças tem se preocupado em oferecer aos consumidores, produtos de menor tamanho aos consumidores, o que também contribui para o menor preço do produto na prateleira, com possibilidade de aumento de consumo. Frutos menores podem ser obtidos mediante o aumento do número de frutos fixados pela planta, determinando assim, maior competição entre os mesmos. Contudo, a qualidade dos mesmos deve ser assegurada. Monteiro e Mexia (1988) verificaram que o aumento no número de frutos por planta das cultivares MacDimon e Harvest King, determinou a redução no seu peso. Outra forma de reduzir o tamanho é através da utilização de espaçamentos menores, permitindo intensa competição entre as plantas, as quais produzem maior número de frutos por área, de menor tamanho (Faria et al., 2000). De acordo com observações pessoais e segundo Monteiro e Mexia (1988) e Martins et al. (1998), a planta de meloeiro rendilhado apresenta alto índice de abortamento de frutos fixados. Com base em informações disponíveis na literatura acredita-se que o incremento na concentração de potássio na solução 24 nutritiva possa, além de atuar no tamanho e na qualidade dos frutos, aumentar também a fixação de frutos conforme observado por Nerson et al. (1997), ao aumentarem a concentração deste nutriente na solução nutritiva de 20 para 400 mg L-1. No presente trabalho avaliou-se o efeito da concentração de potássio na solução nutritiva e o número de frutos por planta sobre a produção do melão rendilhado, cultivado em hidroponia. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido de 01 de junho a 04 de novembro de 2001, em casa de vegetação, na UNESP em Jaboticabal, situada a 21o15’ 22’’ latitude Sul, 48o18’58’’ longitude Oeste, e altitude de 575 metros. Durante o período compreendido entre o início da frutificação e a primeira colheita, a média das temperaturas mínimas foi de 15,3oC (amplitude de 7,4 a 25,7oC) e das máximas de 31oC (amplitude de 23,1 a 36oC). O delineamento experimental foi de blocos casualizados, em esquema de parcelas subdivididas sendo, a concentração de potássio, nas parcelas e o número de frutos, nas subparcelas, com seis repetições. Os fatores avaliados foram número de frutos deixados por planta: 2; 3; 4 e fixação livre (sem raleio) e concentração de potássio na solução nutritiva: 66; 115,5; 165 e 247,5 mg L-1 correspondendo, respectivamente a 40; 70; 100 e 150% da concentração de potássio recomendada por Castellane e Araújo (1994) para o cultivo de hortaliças em NFT (Nutrient Film Technique). A unidade experimental foi constituída por nove plantas, sendo consideradas úteis para a coleta dos dados as oito plantas seqüenciais à primeira, de cada unidade experimental as quais ocuparam a área de 2,7 m2. O experimento foi instalado em casa de vegetação do tipo arco com lanternim e pé- direito de 3 m, sem fechamento lateral e frontal, coberta com filme de polietileno de baixa densidade aditivado anti-U.V., de 150 mm de espessura. Foi instalada uma tela de sombreamento de 30%, móvel, à altura do pé-direito, a qual era estendida sobre a cultura, quan- do a temperatura interna da casa de vegetação era superior a 30oC. O sistema hidropônico utilizado foi do tipo NFT. A estrutura foi composta por quatro reservatórios de fibra de vidro, de 1500 L, contendo as quatros soluções nutritivas em avaliação. Os canais de cultivo constituíram-se, por tubos de polipropileno semicirculares com 15 cm de diâmetro e 4% de declividade, a fim de permitir o retorno da solução por gravidade para os reservatórios. Os canais apresentavam aberturas circulares de 5 cm de diâmetro na sua parte superior, para a colocação das mudas. As soluções nutritivas utilizadas no experimento foram baseadas na proposta de Castelane e Araújo (1994) para hortaliças em NFT, contendo em mg L-1: 200 (N); 40 (P); 150 (Ca); 133 (Mg); 100 (S); 0,3 (B); 2,2 (Fe); 0,6 (Mn); 0,3 (Zn); 0,05 (Cu) e 0,05 (Mo). Para a obtenção das soluções nutritivas com diferentes concentrações de K foram utilizados os fertilizantes nitrato de cálcio, nitrato de potássio, sulfato de potássio, sulfato de magnésio, fosfato monoamônio, cloreto de potássio e magnitra (nitrato de magnésio), ácido bórico, sulfato de zinco, sulfato de manganês, sulfato de cobre, molibdato de sódio e cloreto férrico. As condutividades elétricas das soluções K1, K2, K3 e K4 foram, respectivamente, 2,42; 2,60; 2,62 e 2,96 dS m-1. O pH das soluções foi mantido entre 5,5 e 6,5, com emprego de ácido sulfúrico. A circulação intermitente das soluções nutritivas foi controlada por um temporizador, sendo que no período das 7 às 10 horas era mantido ligado durante 10 minutos e desligado durante 20 minutos. No período subsequente até 18 h e 30 min., o período em que era mantido ligado e desligado foi de 10 minutos. À noite, foram feitas duas circulações da solução nutritiva com duração de 10 minutos, às 21h e 1 hora. A vazão dos canais de distribuição da solução era de aproximadamente 3 L min-1. O híbrido Bônus no 2 foi semeado em espuma fenólica com dimensões de 5,0 x 5,0 x 3,8 cm, sendo as mudas transplantadas aos 21 dias após a semeadura. O espaçamento utilizado foi de 1,00 m entre canais de cultivo por 0,30 m entre plantas no canal. As plantas foram Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Produção do melão rendilhado em função da concentração de potássio na solução nutritiva e do número de frutos por planta conduzidas em haste única, tutoradas verticalmente até a altura de 1,80 m. Foram deixados frutos nos ramos secundários a partir do 11o nó caulinar, procedendo-se o raleio dos frutos excedentes ao número pré-estabelecido em cada tratamento, quando encontravam-se com 3 cm diâmetro, sendo amarrados ao arame por meio de fitilhos. A haste principal foi podada quando apresentava 25 nós. As hastes secundárias mantidas por ocasião do fruto fixado, foram podadas duas folhas após o fruto. A polinização foi feita por abelhas Appis mellifera, colocadas próximo à casa de vegetação no período de floração. Foram avaliados o número de frutos aos 85 dias após o transplantio e, na colheita, o peso médio do primeiro, segundo e terceiro fruto colhido por planta, a produção total por planta e o peso médio de frutos. A colheita teve início aos 105 dias após o transplantio, sendo realizadas dez colheitas durante o período de 28 dias. Os frutos foram colhidos quando verificado o fechamento completo do rendilhamento e o fendilhamento próximo ao pedúnculo. A cultura teve o ciclo completado em 154 dias. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (Banzato e Kronka, 1995), aplicando-se o teste de médias de Tukey para o fator número de frutos por planta; e para o fator concentração de potássio na solução nutritiva, realizou-se a análise de regressão polinomial, sendo selecionado, o modelo significativo de maior ordem, que tenha apresentado o maior coeficiente de determinação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se grande capacidade inicial de fixação de frutos pela planta com fixação livre de frutos, 6,2 frutos. O número de frutos fixados pelo meloeiro, aos 85 dias após o transplantio, foi influenciado, significativamente, pela concentração de potássio na solução nutritiva (Figura 1). No final da colheita, o número de frutos colhidos foi avaliado e observouse influência significativa da concentração de potássio e do número de frutos por planta, isoladamente, sem haver Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Número de frutos fixados aos 85 dias após o transplantio (NF85) e número de frutos na colheita (NFC) em plantas de melão, em função de concentração de potássio na solução nutritiva. Jaboticabal, UNESP, 2002. interação dos mesmos. Notou-se acréscimo linear na fixação de frutos com aumento na concentração de potássio na solução nutritiva (Figura 1). O número de frutos por planta na colheita (Tabela 1) retrata o abortamento elevado ocorrido, principalmente, nos tratamentos que tinham inicialmente maior número de frutos fixados. Em plantas com 4 frutos e com fixação livre de frutos a porcentagem de abortamento foi, respectivamente, de 31 e 63%. O abortamento não foi observado em plantas conduzidas com 2 frutos, sendo de 15% o abortamento no tratamento com 3 frutos por planta. Durante o período de cultivo ocorreram elevadas temperaturas, o que pode ter contribuído para o abortamento de frutos. De acordo com Brandão Filho e Vasconcelos (1998), as temperaturas ideais durante o dia e a noite devem estar em torno de 25 a 300C e 14 a 200C, respectivamente. Também, o meloeiro é reconhecidamente uma hortaliça com baixo número de frutos por planta. Monteiro e Mexia (1988) constataram alto índice de abortamento de frutos, obtendo-se média de fixação de 2,6 frutos por planta onde estavam previstos fixação e condução de cinco frutos por planta. Gusmão (2001) encontrou 1,5 a 2,2 frutos por planta no verão, como a amplitude de fixação de frutos nas cultivares que avaliou em cultivo no solo, em casa de vegetação, onde não foi realizado controle de número de frutos fixados. O autor atribuiu às elevadas temperaturas o diferencial de frutos fixados por planta nesta época em comparação ao obtido no inverno (2,8 a 3 frutos por planta). Não obstante, ao efeito das altas temperaturas como promotoras de abortamento de frutos, o rápido crescimento do fruto do meloeiro, cerca de 15 dias após a fecundação, e a coincidência de vários frutos fixados na planta desenvolvendo-se concomitantemente, certamente elevaram substancialmente a demanda por fotoassimilados, provocando o abortamento de frutos. McGlasson e Pratt (1963) e Monteiro e Mexia (1988) atribuem ao intenso crescimento que ocorre no período entre o 50 e o 100 dia após a antese, período em que os frutos atingem 80% do seu diâmetro final, como a condição determinante para o abortamento dos frutos. O número de frutos por planta não influenciou o peso do primeiro e do terceiro fruto. O peso do segundo fruto, em plantas com dois frutos, foi de 705,69 g, o qual não diferiu da planta com três frutos. À medida que maior número de frutos por planta foi fixado verificou-se menor peso médio (Tabela 1). A concentração de potássio também afetou significativamente o peso médio do segundo fruto. A concentração avaliada de 115,5 mg L-1 promoveu um incremento de aproximadamente 20% ao peso do melão em relação à concentração de 66 mg L-1 (Figura 2). O número de frutos deixados por planta teve efeito significativo sobre a produção (Tabela 1), sendo que plantas com quatro frutos apresentaram a maior 25 C. C. Costa et al. Tabela 1. Número de frutos por planta na colheita, (NFC), peso médio do segundo fruto função do número de frutos por planta (NFP). Jaboticabal, UNESP, 2002. * Médias na mesma coluna, seguidas por letras iguais, não diferem significativamente ao nível de 5 % de probabilidade pelo Teste de Tukey. Figura 2. Peso do segundo fruto colhido (PMSF), em plantas de melão, em função de concentração de potássio na solução nutritiva. Jaboticabal, UNESP, 2002. produção (2.323 g planta-1) e a menor produção foi obtida em plantas com 2 frutos (1.343 g planta-1). Portanto, o número de frutos por planta foi determinante na produção do meloeiro. A melhor produção obtida neste trabalho, com quatro frutos por planta, encontra-se próxima à observada por Cecílio Filho e May (2000), em plantas conduzidas com dois frutos (2.453 g planta-1), e superior às verificadas por Gusmão (2001) de 680 a 770 g por planta no verão, em cultivo no solo, e superior às obtidas por Pádua (2001), de 1.650 g planta-1 e peso médio de 700 gramas aproximadamente, e ao observado por Villela Júnior (2001), 1.700 g planta-1. Em área, a produção obtida corresponde a 7.670 g m-2, sendo superior às produtividades de Cecílio Filho e May (2000), Pádua (2001) e Villela Júnior (2001), respectivamente em 25; 72 e 125%, resultado da maior densidade de plantio (3,33 plantas m-2) utilizada neste experimento, enquanto que os demais autores adotaram 1 x 0,4; 1,2 x 0,3 e 1 x 0,5 m, perfazendo densidades de 2,5; 2,7 e 2,0 plantas por m-2. Gusmão (2001) obteve 8.740 g m-2 em cultivo 26 no solo utilizando o espaçamento de 0,8 x 0,6 x 0,3 m (4,76 plantas m-2). Se por um lado o adensamento adotado neste trabalho favoreceu alta produção por área, parece ter sido também o responsável por frutos de menores dimensões, uma vez que aumenta o autosombreamento e, consequentemente, diminui-se o potencial fotossintético da planta; pois, de acordo com Larcher et al. (2000), a intensidade do trabalho fotossintético diminui proporcionalmente à redução da intensidade luminosa. Conforme Andriolo (1999), as folhas superiores recebem a maior parte da radiação incidente, e aquelas situadas no interior da cobertura recebem uma quantidade de radiação que decresce de forma exponencial com a acumulação da área foliar. Com o adensamento, as plantas atingem mais rapidamente o índice de área foliar ótimo, a partir do qual a assimilação líquida da cultura passa a diminuir, pois há consumo de energia para suprir as folhas que estão abaixo do ponto de compensação. O menor peso médio de frutos (580,70 g) foi obtido em plantas com quatro frutos, diferindo estatisticamen- te de plantas com 2 frutos (Tabela 1). Segundo Bangerth e Ho (1984) um dos fatores determinantes do tamanho final de um fruto é a competição pelos assimilados durante o seu desenvolvimento. Quando a demanda por assimilados é muito alta, o que pode ser conseguido com o aumento do número de frutos por planta, instala-se uma forte competição por assimilados entre os frutos (Andriolo, 1999). Segundo Heuvelink citado por Andriolo (1999) a massa seca alocada para os frutos aumenta com o número destes e estabiliza quando o suprimento de assimilados pelas fontes passa a ser limitante, portanto, a redução do peso dos frutos observada em plantas com quatro frutos pode ter sido acarretada pela menor relação área foliar (fonte) por fruto (dreno) que foi de 3.248 cm2 por fruto em plantas conduzidas com 4 frutos e de 3.735 cm2 por fruto nas plantas com dois frutos. Os resultados concordam com Monteiro e Mexia (1988) os quais verificaram redução no peso médio de frutos à medida que cresceu o número de frutos colhidos por planta, sendo de aproximadamente 50% a menos em peso, quando aumentou de 1 fruto (2.060 g) para 2,5 frutos colhidos por planta (1.141 g), atribuindo à menor relação área foliar disponível por fruto. Incrementos não foram constatados na produção de frutos por planta e peso médio de frutos, quando elevou-se a concentração de potássio na solução nutritiva de 66 para 247,5 mg L-1; recomendando-se portanto, a solução nutritiva mais diluída do nutriente. Atribuise à ausência de efeito favorável do potássio sobre a produção e peso médio de frutos do meloeiro ao sistema de condução adotado. As intervenções praticadas na planta por meio de podas de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Produção do melão rendilhado em função da concentração de potássio na solução nutritiva e do número de frutos por planta ramos laterais frutíferos e da haste principal e, sobretudo, devido à elevada densidade de plantio, que resultou em maior auto-sombreamento; muito provavelmente, não permitiram que os efeitos do potássio no metabolismo celular, descritos por Faquin (1994), fossem traduzidas em maior dossel fotossintético (força da fonte), o qual é relatado por Hurbbard et al. (1990) como fator fortemente atuante sobre o acúmulo de carboidratos pelas plantas. Os resultados observados discordam dos obtidos por Prabhakar et al. (1985) que verificaram acréscimo no peso dos frutos em plantas de melão, em conseqüência da atuação deste nutriente na translocação de carboidratos. Porém, Buzetti et al. (1993) e Pardossi et al. (1994) não verificaram incrementos na produção do meloeiro com aumento das doses de potássio. Portanto, com base nos resultados observados, o produtor que se encontrar em região climaticamente semelhante à de Jaboticabal, pode adotar o sistema de cultivo de melão com quatro frutos por planta, em solução nutritiva com 66 mg L-1 de potássio, o qual possibilitou colher frutos comerciais com peso médio de 0,6 a 0,7 kg e produtividade de 7,67 kg m-2. AGRADECIMENTOS Aos Profs. Drs. Jairo Osvaldo Cazetta, Leila Trevizan Braz e Odair Aparecido Fernandes, aos funcionários Srs. João, Inauro e Cláudio e a estagiária Gerciane Cabral da Silva. Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudo e à FAPESP pelo financiamento do projeto de pesquisa, processo 2000/01799-2. LITERATURA CITADA ALBERONI, R.B. Hidroponia: como instalar e manejar o plantio de hortaliças dispensando o uso do solo. São Paulo: Nobel, 1998. 102 p. ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas protegidas. Santa Maria: UFSM. 1999. 142 p. BANGERTH, F.; HO, L.C. Fruit position and fruit sequence in tress as factors determining final size of tomato fruits. Annals of Botany Company, v.53. p.315-319, 1984. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 BANZATTO, D.A.; KRONKA, S.N. Experimentação agrícola. 3. ed. Jaboticabal: FUNEP, 1995, 142 p. BRANDÃO FILHO, J.U.T.; CALLEGARI, O. Cultivo de hortaliças de frutos em solo em ambiente protegido. In: OLIVEIRA, V.R.; SEDIYAMA, M.A.N. Cultivo protegido de hortaliças em solo e hidroponia. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.200-201, p.1266-133, 1999. BRANDÃO FILHO, J.U.T.; VASCONCELLOS, M.A.S. A cultura do meloeiro. 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Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido Roberto L. Villas Bôas; Júlio Cesar Passos; Dirceu Maximino Fernandes; Leonardo Theodoro Büll; Vicente Rodolfo S. Cezar; Rumy Goto UNESP, FCA, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se o efeito de três doses de composto orgânico de três composições distintas, aplicados em dois solos [Latossolo Vermelho Escuro, textura arenosa (LE) e Areia Quartzoza (AQ)], na produção e absorção de nutrientes pela planta de alface. Conduziu-se de 02/07 a 27/08/1997 um experimento dentro de túnel plástico, pertencente à UNESP, em Botucatu, em vaso plástico, contendo quatro quilos de solo. Os solos foram corrigidos para atingirem saturação por base de 80% e todos os vasos receberam adubação fosfatada (150 mg de P kg-1 de solo), potássica (100 mg de K kg-1 de solo) e micronutrientes. Os compostos foram misturados aos solos nas quantidades de 60; 120 e 240 g de composto por vaso. Os três compostos foram originados a partir de casca de eucalipto, serragem de madeira e palhada de feijão, misturados com esterco de aves. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, em três repetições, com vinte tratamentos em esquema fatorial (3 doses x 3 compostos x 2 solos) mais um tratamento testemunha para cada solo (ausência de composto orgânico). O composto de palhada de feijão aumentou a biomassa fresca da parte aérea e a quantidade de N, K, Ca, Mg, B, Cu, Fe e Zn nas plantas de alface. Para o P e Mn o composto de palhada de feijão diferiu significativamente apenas em relação ao composto de casca de eucalipto. Em todas as características avaliadas no LE houve melhores respostas da cultura em relação ao AQ. Quanto às dosagens utilizadas, as diferenças foram observadas somente nos tratamentos com palhada de feijão, onde as maiores dosagens propiciaram o aumento de biomassa fresca e seca da parte aérea, e nas quantidades de macro e micronutrientes. Effects of dosage and types of organic composts in the production of lettuce in two soils under protected environment Palavras-chave: Lactuca sativa L., fertilizante orgânico, nutrição, extração de nutrientes. The effects of three doses of organic composts of three different origins, applied to two soil types, were evaluated on production and absorption of nutrients by lettuce. The experiment was conducted under plastic tunnel, at the Faculdade de Ciências Agronômicas, in Botucatu, Brazil, in plastic vase each with 4 liters of soil. The soils [Oxisol (Dark Red Latosoil) (LE), sandy phase, and an Inceptisol (AQ)] were corrected to reach 80% of base saturation and all the vases received 150 mg.kg-1 of P, 100 mg.kg-1 of K and micronutrients. The composts were mixed to the soils in amounts of 60; 120 and 240 g vase-1. The composts, originated from a mixture of eucalyptus bark, wood sawdust and bean straw, were mixed with chicken manure. The experiment was accomplished following a randomized design, with 18 treatments and 3 replicates (3 doses x 2 soils x 3 composts) plus a control. The bean straw compost increased the fresh weight of the aerial part and the amount of N, K, Ca, Mg, B, Cu, Fe and Zn in the lettuce plants, but differed for P and Mn only in relation to eucalyptus bark compost. In all the characteristics evaluated in the LE the best results were obtained in relation to AQ. Larger doses of bean straw promoted increase in fresh weight of aerial part, and in the amount of N, K, Ca, Mg, S, Fe and Zn. Keywords: Lactuca sativa L., mineral nutrition, organic fertilizer. (Recebido para publicação em 7 de agosto de 2002 e aceito em 15 de dezembro de 2003) A alface, desde sua domesticação a partir de espécies silvestres, tornouse a principal folhosa consumida pelo homem, tendo sido comercializados pela CEAGESP 14.101 toneladas em 1999 (FNP Consultoria e Comércio, 2000). É a hortaliça tradicionalmente cultivada por pequenos produtores, o que lhe confere grande importância econômica e social, sendo significativo fator de agregação do homem do campo. Aliado a isso, a grande necessidade de adubação orgânica da cultura (Nakagawa et al., 1993), faz dessa hortaliça um importante componente no enfoque holístico da agricultura orgânica. 28 As fontes de adubos orgânicos podem apresentar características bastante distintas, podendo ser agrupados em fertilizante orgânico e fertilizante composto. O fertilizante orgânico é o “fertilizante de origem vegetal ou animal contendo um ou mais nutrientes das plantas” e o fertilizante composto ou simplesmente composto é o “fertilizante obtido por processo bioquímico, natural ou controlado com mistura de resíduos de origem vegetal ou animal”. As terminologias utilizadas neste texto seguirão essas definições. A adubação orgânica tem grande importância no cultivo de hortaliças, principalmente em solos de clima tropical, onde a queima de matéria orgânica se realiza intensamente, e onde seu efeito é bastante conhecido nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (Allison, 1973; Senesi, 1989; Swift e Woomer, 1993). A grande maioria dos trabalhos encontrados na literatura diz respeito ao uso de estercos, resíduos líquidos e restos vegetais, reportando seu efeito como melhoradores do solo e fornecedores de nutrientes. Embora parte dessa informação possa ser extrapolada e assumida como válida no que diz respeito ao uso de compostos, estes têm uma dinâmica Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido no solo bastante diversa dos materiais em estado cru, por ser uma matéria orgânica decomposta e estabilizada (Kiehl, 1985). As condições fisiológicas inerentes à alface, tais como a eficiência de utilização de nitrogênio sempre menor que 50% (Alexander, 1965) e a absorção de aproximadamente 80% de N total extraído nas últimas quatro semanas do ciclo (Katayama, 1993), explicam o interesse no uso de fertilizantes de solubilização lenta (Pereira et al., 1989). Nesse sentido o adubo orgânico adicionado ao solo tem efeito imediato e ainda residual por meio de um processo mais lento de decomposição e liberação de nutrientes. Além disso, a matéria orgânica melhora as condições químicas, físicas e biológicas do solo, o que reforça o interesse de sua utilização como fonte de nitrogênio para a cultura da alface (Vidigal et al., 1995). As características do composto orgânico podem ter significado importante na estabilização do húmus ou adubo orgânico formado (Peixoto, 2000). Um composto estabilizado deverá ter a relação C/N igual ou menor que 18. Entretanto, se o composto apresentar relação C/N acima de 30, os microorganismos irão utilizar o nitrogênio do solo competindo com as plantas. Isto ocorre com resíduos ricos em celulose, que necessitam de grande população de microorganismos específicos para a decomposição (Kiehl,1998). As recomendações de doses variam com o tipo de composto orgânico aplicado, com o solo, a cultura e as condições ambientais. Em geral, as taxas de aplicação estão entre 10 a 100 t ha-1, porém níveis mais elevados não são incomuns. Aumentos lineares no peso de “cabeça” de alface foram obtidos com doses de até 10,8 kg m-2 de esterco de curral, além de propiciar incrementos nos teores de nitrogênio e fósforo das plantas (Schneider, 1983). Com relação ao tipo de adubo orgânico, Ricci et al. (1994) obtiveram maior produtividade para aplicação de 10 t ha-1 de húmus de minhoca em relação à mesma quantidade do composto orgânico. Koga e Seno (1997) observaram que composto orgânico de casca de eucalipto + esterco de galinha proporcionou maior Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 produção total e comercial de plantas de alface e pepino em relação ao de bagaço de cana e de casca de amendoim misturada a esterco de galinha. Apesar do uso de adubo orgânico no solo ser uma prática bastante antiga, existe pouca informação sobre os efeitos no rendimento e qualidade da alface quando submetida à aplicação de diferentes compostos orgânicos (Ricci et al., 1994) ou a diferentes tipos de solo. Considerando que a alface é adubada com quantidades elevadas de fertilizantes, principalmente nitrogenados, desenvolveu-se este trabalho com objetivo de avaliar o efeito de tipos (em relação ao material de origem) e doses de diferentes compostos orgânicos, em dois solos, sobre a nutrição e produção de alface em ambiente protegido. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido de 02/ 07 a 27/08/1997 em ambiente protegido com estrutura metálica coberta com polietileno, pertencente à UNESP em Botucatu. Os solos utilizados foram Latossolo Vermelho Escuro textura arenosa (LE) e Areia Quartzoza (AQ). A análise química do (LE) indicou: pH em CaCl2= 4,0; M.O.= 23 g dm-3; P resina= 2 g dm-3; H++Al3+= 72 mmolcdm-3; K+= 0,5 mmolcdm-3; Ca2+= 1 mmolcdm-3; Mg2+= 1 mmolcdm-3; SB= 2,5 mmolcdm-3; CTC= 74 mmolcdm-3 e V%= 3. Para o (AQ) as características químicas foram pH, em CaCl2= 4,7; M.O.= 8 g dm-3; P resina= 3 g dm-3; H++Al3+= 14 mmolcdm-3; K+= 0,6 mmolcdm-3; Ca2+= 5 mmolcdm-3; Mg2+= 2 mmolcdm-3; SB= 7,6 mmolcdm-3; CTC= 22 mmolcdm-3 e V%= 36. Os solos foram corrigidos de modo a atingirem a saturação por bases de 80%, segundo recomendação de Raij et al. (1997). Como adubação básica todos os tratamentos receberam 150 mg de P kg-1 de solo (superfosfato triplo), 100 mg de K kg-1 de solo (cloreto de potássio) e 1 g de FTE-BR-8 por vaso (7% Zn; 2,5% B; 1% Cu; 5% Fe; 10% Mn e 0,1% Mo). Os materiais utilizados na compostagem foram casca de eucalipto, serragem de madeira e palhada de feijão, sendo cada um misturado ao esterco de galinha. A casca de eucalipto foi obtida junto à DURATEX S/A; a serragem, mistura de pó e maravalha proveniente de cerne de madeira de lei, obtida junto à madeireira MURBA Ltda.; e a palhada de feijão, resíduo da operação de beneficiamento das plantas com trilhadeira estacionário, foi coletada junto à FCA/UNESP. A proporção das misturas, palhas/esterco, foi tal que se aproximou da relação de 30/1 antes da compostagem, conforme sugerido por Kiehl (1985). Após a compostagem, as análises químicas dos compostos orgânicos, segundo Lanarv (1988), revelaram (em gkg-1): Composto orgânico 1 (mistura de esterco de aves + casca de eucalipto) N (12,8); P2O5 (12,2); K2O (8,0); M.O. (534,6); C (304,2); Ca2+ (22,9); Mg2+ (2,0); S (2,4); pH em CaCl2 (8,1) e relação C/N (23/1). Composto orgânico 2 (mistura de esterco de aves + serragem de madeira) N (9,4); P2O5 (16,5); K2O (1,5); M.O. (429,3); C (239,3); Ca2+ (26,2); Mg2+ (1,9); S (1,7); pH em CaCl2 (7,1) e relação C/N (26/1). Composto orgânico 3 (mistura de esterco de aves + palhada de feijão) N (21,5); P2O5 (9,2); K2O (5,8); M.O. (395,6); C (219,8); Ca2+ (8,1); Mg2+ (4,3); S (3,4); pH em CaCl2 (7,0) e relação C/N (10/1). Os compostos foram secos em estufa (600C), passados em peneira de malha 4 mm e misturados aos solos em quantidades equivalentes a 1,5; 3,0 e 6,0%, com base em massa, o que correspondeu às quantidades de 60, 120 e 240 gramas de cada composto seco, por vaso de quatro quilos de capacidade. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, em três repetições, com vinte tratamentos em esquema fatorial (3 doses x 3 compostos x 2 solos) mais uma testemunha para cada solo (ausência de composto orgânico), totalizando 60 vasos. Utilizou-se a cultivar Elisa, cujas mudas foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido, utilizando-se substrato comercial. Durante o ciclo da cultura foram avaliados o número de folhas (usou-se como referência o tamanho, sendo contadas somente folhas maiores que 4 cm) e a medida indireta de clorofila (com medidor portátil de clorofila da marca SPAD-502, apresentando os resultados em unidades 29 R. L. Villas Bôas et al. Tabela 1. Características avaliadas em plantas de alface cultivar Elisa na colheita, aos 56 dias após o transplante das mudas. Botucatu, UNESP, 1997. 1 Biomassa fresca após 24 horas conservada em laboratório a T ambiente (média de 15oC). 2Unidades dadas pelo aparelho marca Minolta, modelo SPAD 502. Letras minúsculas comparam médias das doses dentro de cada composto e médias de solos. Letras maiúsculas comparam médias entre os compostos. Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade. SPAD.), semanalmente e, ao final do ciclo das plantas, antes da colheita, foram realizadas determinações do número de folhas e do teor de clorofila. As plantas foram colhidas 56 dias após o transplante, determinada a biomassa fresca e em seguida, colocadas em laboratório à temperatura ambiente (média de 15oC), sobre uma bancada, onde permaneceram por 24 horas. A seguir foi determinada novamente a biomassa, sendo as plantas posteriormente colocadas a secar em estufa de circulação de ar forçada a 65oC, até massa constante. O material foi moído e analisado quimicamente quanto aos teores de macro e micronutrientes, seguindo metodologia citada por Malavolta et al. (1997). As análises estatísticas foram executadas por meio de programa de com30 putador Estat, conforme método descrito por Banzato e Kronka (1989). RESULTADOS E DISCUSSÃO Para biomassa fresca (Tabela 1) houve efeito distinto em função do tipo de composto. Para os compostos obtidos a partir de casca de eucalipto e de serragem de madeira, não houve diferenças entre as dosagens e as plantas mantiveram massas semelhantes às obtidas na testemunha. No entanto, para o composto com palhada de feijão, a dose mais elevada promoveu resultado estatisticamente superior, duplicando a biomassa fresca da alface em relação à testemunha. Pode-se considerar portanto que não ocorreu resposta para doses de compostos orgânicos provenientes de casca de eucalipto e serragem de madeira, porém para palhada de feijão a alface respondeu de forma crescente até 240 g do composto por vaso. A biomassa fresca obtida no tratamento com 240 g vaso-1 de composto proveniente de palhada de feijão foi de 194 g/planta, quando considerada a média dos dois solos, porém chegou a 241 gramas no LE. Por essa e outras diferenças observadas, a biomassa fresca da planta de alface foi estatisticamente superior no LE em relação ao AQ. Vidigal et al. (1997), avaliando o efeito de diferentes compostos orgânicos, atribuíram as menores produtividades de alface, cv. Carolina, a compostos orgânicos que não haviam mineralizado o suficiente para nutrir as plantas, como por exemplo o bagaço de cana-de-açúcar, quando comparado à palha de café. Juang e Chang (1992) Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido Tabela 2. Quantidade de macronutrientes em plantas de alface cultivar Elisa na colheita, aos 56 dias após transplante. Botucatu, UNESP, 1997. Letras minúsculas comparam médias das doses dentro de cada composto e médias de solos. Letras maiúsculas comparam médias entre os compostos para uma mesma dose. Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade. obtiveram resultados semelhantes para cultura de arroz e milho. No entanto, Nakagawa et al. (1992) cultivando alface Brasil-48, concluíram que a utilização de 150 g de composto orgânico de diferentes resíduos agrícolas não produziu diferença significativa para biomassa fresca de folhas e caules. Para biomassa fresca, determinada um dia após a colheita, observou-se resultados semelhantes aos discutidos anteriormente, sendo que a perda de água das plantas foi em média de 14,5% para os três tipos de compostos, sugerindo que os tratamentos não influenciaram a desidratação das plantas, um dia após a colheita. Para a biomassa seca foram observadas diferenças significativas entre as doses apenas para o composto de palhada de feijão. Este apresentou resultados superiores ao de casca de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 eucalipto. Houve também diferença significativa entre os solos, sendo os valores médios de biomassa seca da planta de alface de 10,6 e 8,0 g, respectivamente para o LE e AQ. Nota-se que tanto o composto de casca de eucalipto quanto o de serragem não influenciaram a biomassa seca de alface e, os resultados obtidos foram semelhantes ao encontrado na testemunha (8,9 g por planta), sugerindo que esses dois compostos não disponibilizaram nutrientes para o desenvolvimento da parte aérea da planta. O número de folhas determinado semanalmente, somente apresentou diferença entre tratamentos nas avaliações realizadas aos 49 e 56 dias após o transplante (dat). Na Tabela 1 são apresentados somente os resultados obtidos na colheita (56 dat), pois aos 49 dat, as médias dos tratamentos apresentaram as mesmas diferenças ocorridas aos 56 dat. O número de folhas da alface variou com as doses apenas no emprego do composto de palhada de feijão, sendo encontrado maior número de folhas com a aplicação de 240 g vaso-1 e, entre os solos, no LE. As diferenças observadas aos 56 dat coincidem com o período de máxima demanda de nutrientes pela planta de alface (Garcia et al. 1982), que ocorre nas últimas semanas do ciclo. Esse aspecto reforça a idéia de que o composto obtido de palhada de feijão disponibilizou mais nutrientes, o que não ocorreu para os demais compostos. A medida indireta da clorofila (unidade SPAD), determinada através do clorofilômetro nas folhas de alface, mostrou diferença significativa entre os tipos de compostos orgânicos, sendo que o de casca de eucalipto proporcionou menor valor em relação à palhada de feijão e, ambos, não diferiram da serra31 R. L. Villas Bôas et al. Tabela 3. Quantidade de micronutrientes em plantas de alface cultivar Elisa na colheita, aos 56 dias após o transplante. Botucatu, UNESP, 1997. Letras minúsculas comparam médias das doses dentro de cada composto e médias de solos. Letras maiúsculas comparam médias entre os compostos para uma mesma dose. Médias seguidas das mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey à 5% de probabilidade. gem de madeira (Tabela 1). As plantas desenvolvidas com composto de palhada de feijão apresentaram coloração verde mais intensa, o que reflete melhor o estado nutricional, principalmente, quanto ao nitrogênio. O uso de palhada de feijão na maior dose, aos 35 dat (resultados não apresentados) revelou o valor de 33 unidades SPAD, e aos 56 dat revelou 23 unidades SPAD. Portanto houve decréscimo dos teores de clorofila na planta, o que significa que o composto de palhada de feijão não conseguiu manter o mesmo conteúdo nutricional ao longo do ciclo. As quantidades de macronutrientes na planta de alface em função dos tratamentos, revelaram diferença significativa entre os tipos de compostos orgânicos, sendo que valores estatisticamente superiores foram obtidos com aplicação 32 do composto de palhada de feijão para todos os macronutrientes, exceto o fósforo. Para esse mesmo composto, notou-se também que a quantidade de nutrientes na planta foi diretamente proporcional à dose aplicada. Houve interação significativa para doses x tipo de composto, sendo que esta ocorreu a partir da dose de 120 g vaso-1. Na testemunha, a quantidade de N planta-1 foi de 153 mg (média dos dois solos), valor semelhante ao obtido para doses de 60 gramas dos compostos de casca de eucalipto e serragem, sugerindo que estes compostos não contribuíram para o fornecimento de nitrogênio e também não diminuíram a quantidade de N disponível para as plantas, isto é, não houve imobilização de nitrogênio, provavelmente, devido à menor relação C/N do composto obtido com palhada de feijão. Na comparação dos tipos de composto x solos, as plantas apresentaram valores de 242 e 121 mg de N planta-1 para LE e AQ, respectivamente. No solo AQ esse resultado pode ser relacionado ao baixo conteúdo natural de nutrientes, bem como à menor capacidade de retenção de água. Para o fósforo, o tratamento com palhada de feijão foi significativamente superior ao de casca de eucalipto e semelhante ao de serragem. Diferentemente do ocorrido para N, não foi observada interação significativa para os tratamentos avaliados, ou seja, foram observadas diferenças significativas na quantidade de P na planta apenas entre os compostos mas não entre os solos. A quantidade de K na planta variou significativamente em função dos tipos de compostos orgânicos, sendo maior no tratamento com palha de feijão. Houve Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Efeito de doses e tipos de compostos orgânicos na produção de alface em dois solos sob ambiente protegido interação significativa entre composto x doses e também entre solo x doses. Nesse último caso, nota-se que para AQ as quantidades de K foram significativamente menores apesar de ambos os solos apresentarem inicialmente teores semelhantes de K. Provavelmente, a menor retenção de água no solo AQ (maior macroporosidade), disponibilizou também menor quantidade de água para a planta e, conseqüentemente, menor desenvolvimento e por ser o potássio absorvido por difusão e fluxo de massa (Malavolta et al. 1997), também menor extração desse nutriente pela planta. Para Ca, Mg e S ocorreram diferenças estatísticas entre os compostos orgânicos utilizados, sendo obtido aumento na quantidade destes nutrientes na planta, com o uso de palhada de feijão. Este aumento foi diretamente proporcional ao incremento na dose do composto. Houve também interação significativa entre as dosagens e os compostos. Quanto aos micronutrientes, ocorreram diferenças estatísticas entre os compostos, sendo que o de palhada de feijão apresentou sempre valores mais elevados (Tabela 3), ocorrendo incrementos significativos com o aumento da dosagem aplicada. Interações entre doses e tipos de compostos ocorreram para a quantidade de Fe, Cu e Zn na planta. Algumas hipóteses podem ser consideradas para explicar os resultados obtidos. As relações C/N entre os compostos são diferentes principalmente se considerarmos casca de eucalipto e serragem de madeira em relação à palhada de feijão. Para esse último composto, com menor relação C/N (10/1), a liberação de nutrientes é mais rápida para as plantas de alface em relação aos outros dois compostos. Esta inferência pode ser reforçada pelo fato que alguns compostos apresentam estruturas de difícil decomposição pela população microbiana do solo, como a celulose e lignina presentes nos compostos de casca de eucalipto e serragem de madeira. Além disso, Inoko (1982) cita que na decomposição de materiais provenientes de madeira, são liberados para o meio resinas, terpenóides e substâncias fenólicas, dentre outros compostos, que podem causar injúrias nas plantas. OuHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 tra característica intrínseca do composto que poderia estar influenciando nos resultados é a concentração de nutrientes. Nota-se que a relação [Ca + Mg]/K é bastante elevada para o composto de serragem de madeira em relação aos outros dois compostos, o mesmo ocorrendo para relação K/Mg para o composto de casca de eucalipto. O tipo de composto orgânico pode ter influenciado a retenção de umidade do solo, uma vez que esse efeito é tanto maior quanto mais decomposto está o material (Mays et al., 1973; Hornick, 1988; Tester, 1990). Considerando que o composto de palha de feijão apresentou relação C/N mais baixa, possivelmente tenha favorecido a retenção de água em relação aos outros tratamentos. O composto de palhada de feijão promoveu incremento na biomassa fresca, seca e nas quantidades de macro e micronutrientes extraído pelas plantas de alface, bem como respondeu até a quantidade de 240 g vaso-1, podendo inferir que este composto apresenta-se como melhor fornecedor de nutrientes, o que não foi observado para o composto de casca de eucalipto e serragem de madeira, durante o ciclo da alface (56 dias). Os tratamentos tiveram maior efeito no Latossolo Vermelho Escuro que na Areia Quartzoza. LITERATURA CITADA ALEXANDER, M. Nitrification. In: BARTHOLOMEN, W.V.; CLARK, F.E.; eds. Soil Nitrogen. Madison: American Society of Agronomy, 1965. p.307-343. ALLISON, F.E. Soil organic matter and its role in crop production. London: Elsevier Scientific Publishing Co., 1973. 637 p. BANZATO, D.A.; KRONKA, S.N. Experimentação agrícola. Jaboticabal: Funep, 1989. 247 p. BRASIL, Ministério da Agricultura. Divisão de Corretivos e Fertilizantes. 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Os frutos, tipo Honey Dew Orange Flesh, foram colhidos no dia adotado pelos produtores como maturidade comercial, um, dois, três e quatro dias após e, foram armazenados a 7 ± 1ºC e UR de 90 ± 5%. O experimento foi conduzido obedecendo delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 5 x 5, com cinco repetições, cinco tempos de retardamento (0; 1; 2; 3 e 4 dias após o adotado para a colheita) e cinco tempos de armazenamento (0; 7; 14; 21 e 28 dias) após a colheita. Foram avaliado a aparência externa e interna, firmeza de polpa, conteúdo de sólidos solúveis e incidência de rachadura no pedúnculo. Foi observada perda gradativa de firmeza da polpa para todos os retardamentos durante o armazenamento. Ao final do experimento os frutos ainda apresentavam aparência própria à comercialização. O conteúdo de sólidos solúveis ficou entre 9 e 12% e a incidência de rachaduras foi menor para os frutos colhidos aos 59; 60 e 61 dias após o plantio. Effect of the harvest delay on the quality and post-harvest shelf-life Of orange Flesh melons Palavras-chave: Cucumis melo L., pós-colheita, vida útil, armazenamento. Keywords: Cucumis melo L., postharvest, shelf-life, storage. The effect of harvesting delay on quality and postharvest shelflife of Honey Dew Orange Flesh melons was examined. Fruits were harvested at the stage of commercial maturity and, one, two, three and four days after this period. Fruits were kept at 7 ± 1ºC and 90 ± 5% relative humidity. A 5 x 5 factorial scheme in a completely randomized design with five replications was used, with five harvesting dates (0; 1; 2; 3 and 4 days after the stage of commercial harvest) and five storage periods (0; 7; 14; 21 and 28 days). During this period we evaluated the external and internal appearances, flesh firmness, soluble solid content and crack incidence of the peduncle. There occurred reduction of the flesh firmness for all harvest delaying dates. Fruits presented appropriate marketing appearance until the end of the experiment. The soluble solids content varied from 9 to 12%, and the cracking incidence was smaller on fruits harvested at 59; 60 and 61 days after planting date. (Recebido para publicação em 27 de julho de 2002 e aceito em 17 de outubro de 2003) O Rio Grande do Norte possui condições edafoclimáticas que favorecem a cultura do meloeiro, e a cada ciclo que passa vem aumentando a área plantada com o Orange Flesh, devido às suas características apreciadas tanto pelo produtor, como a produtividade, valor comercial do fruto, boa vida póscolheita, e pelo mercado consumidor, por ter um agradável flavor, coloração atrativa de casca e polpa e sabor característico. O melão em 2000 contribuiu com 6,77% (US$ 25 milhões) do total arrecadado com as exportações de frutos no Brasil (SECEX/MDIC, 2001). A região Nordeste em 1998 respondeu por 95% (169 milhões de frutos) da produção total de melão do Brasil (Agrianual, 2001). Com o advento da irrigação, o estado do Rio Grande do Norte vem se constituindo em um dos principais polos exportadores de frutas tropicais, em especial o melão, sendo o principal produHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 tor brasileiro com 64,98% (116 milhões de frutos) da produção em 1998 (Agrianual, 2001). Não tem sido documentados a firmeza de polpa média, o teor de sólidos solúveis totais e a aparência necessária para a colheita do melão Orange Flesh. A determinação de padrões é de suma importância e visa estabelecer critérios físico-químicos que possam viabilizar um sistema de controle de qualidade pós-colheita. O estabelecimento desses padrões de qualidade permitirá decisões no sentido de prever o comportamento pós-colheita desses frutos, o que pode ajudar os produtores. A qualidade dos frutos para o mercado Europeu está ligada diretamente ao teor de sólidos solúveis e aparência do fruto (Ena, 1997). Para que os frutos atinjam os requisitos necessários de exportação, devem ser colhidos na época certa, afim de que desenvolvam todas as características apreciadas e ainda apresentem uma fir- meza de polpa que suporte o transporte até o mercado consumidor (Menezes et al., 1995). Para Filgueiras et al. (2000), a colheita é o momento mais importante do processo produtivo e independe do melão plantado. Portanto, devem ser avaliados o teor de sólidos solúveis totais, a cor, aspecto da casca e a firmeza da polpa. Para Gomes Junior et al. (2001) as principais variáveis na determinação da qualidade pós-colheita de melão são o teor de sólidos solúveis, firmeza da polpa, perda de peso e aparências externa e interna: a firmeza da polpa fornece indicação sobre a vida útil pós-colheita e as outras características estão diretamente ligadas à aparência do produto, e conseqüentemente sua aceitação pelo consumidor. Em melões, o conteúdo de açúcares é diretamente relacionado ao tempo que os frutos permanecem ligados à planta; por outro lado, o estádio de maturação é inversamente proporcional ao tempo 35 F. V. S. Mendonça et al. de conservação pós-colheita (Welles e Buitelaar, 1988). Portanto, para manter a boa qualidade, é necessário colher frutos em estádio de maturação que possibilite maior tempo de prateleira. Conhecendo-se o tempo que o fruto pode ser mantido no campo sem perda da qualidade ou firmeza, os produtores podem trabalhar com boa margem de segurança contra imprevistos na colheita, distribuição e comercialização. Os melões Honey Dew sob temperatura de 10oC e umidade relativa de 85 a 90%, alcançam vida máxima de transito de 20 a 28 dias (Vallespir, 1997). Fernandes (1996) observou que os melões Honey Dew Orange Flesh, armazenados em temperaturas de 6oC, após 14 dias apresentavam sintomas que se assemelhavam a injúria pelo frio. Vallespir (1997) também informa que a temperatura para a conservação de melões do grupo inodorus, como é o caso do Orange Flesh, deve estar entre 7 e 10oC. No presente trabalho propôs-se avaliar a vida útil do melão Orange Flesh submetido ao retardamento na sua colheita, e ao armazenamento refrigerado. MATERIAL E MÉTODOS Frutos da cultivar AF-1749, recomendados para o mercado externo, foram obtidos de um plantio experimental (Fazenda São João em Mossoró/ Assu), produzidos de acordo com as práticas culturais usuais da região, com sistema de irrigação localizada. O solo da área é um Latossolo Vermelho-Amarelo. O clima da região é quente e seco, com precipitação pluviométrica anual de 423 mm e temperatura média mensal 31ºC. A cultivar AF-1749, comercializada pela Agroflora-Sakata, caracteriza-se pela boa aparência dos frutos de coloração de polpa salmão, casca creme, flavor peculiar, peso médio de 1,5 a 1,8 kg, formato arredondado, pequena cavidade de sementes, conteúdo de sólidos solúveis entre 11 e 13%, polpa macia e firme. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado, em cinco repetições, no esquema fatorial 5 X 5, onde foram avaliados cinco tem36 pos de retardamento da colheita [59; 60; 61; 62 e 63 dias após o plantio, equivalendo ao dia indicado pelo produtor (dia 0; 1; 2; 3 e 4, respectivamente)] e cinco datas de análise (0; 7; 14; 21 e 28 dias de armazenamento), totalizando 25 tratamentos, com 3 frutos por repetição em duplicata. A colheita aos 59 dias após o plantio foi considerada como tratamento testemunha. A determinação do ponto de colheita é feita com base nos dias após o plantio, na coloração da casca, na amostragem do teor de sólidos solúveis e na observação do destacamento do pedúnculo. Os frutos foram conduzidos ao laboratório de pós-colheita da ESAM, onde foram selecionados, pesados e refrigerados imediatamente a 7 ± 1ºC e umidade relativa de 95 + 5%. Dois dias antes de cada análise os frutos foram retirados das câmaras frias para simular as condições do mercado consumidor, onde o fruto permanece nas gôndolas por cerca de dois dias antes de ser comprado. As avaliações de aparência externa (depressões, murcha ou lesões fúngicas) e aparência interna (colapso interno, sementes soltas ou presença de líquido) foram feitas segundo a classificação utilizada por Gomes Júnior et al. (2000) (1=fruto extremamente marcado pelos defeitos anteriormente destacados; 2=severo; 3=médio; 4=leve; 5=ausência dos defeitos). Frutos com nota ≤ 3,0, foram considerados indesejáveis para o consumo e eliminados das análises. A firmeza da polpa foi obtida por duas leituras na parte mediana, em cada metade do fruto, com penetrômetro McCormick, modelo FT 327 com plunger de 8 mm de diâmetro, sendo os resultados obtidos em libras (lbf) e transformados para Newton (N). O teor de sólidos solúveis (SS) foi obtido com refratômetro digital, modelo PR–100 Palette, com correção automática de temperatura, utilizando-se suco filtrado e anotando-se em porcentagem, conforme Kramer (1973). A incidência de rachadura no pedúnculo foi obtida por observação visual dos frutos armazenados e daqueles separados para análise (foram contados a cada dia de análise anotandose a porcentagem em relação ao total de frutos armazenados), e esse valor foi cumulativo para os demais tempos. Os resultados foram submetidos à análise de variância através do software SAS (Statistical Analisys Systen). Obtendo-se interação significativa, procedeu-se a análise de regressão por meio dos procedimentos PROC GLM e PROC REG. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para aparência externa e interna não foram verificadas interações significativas mas sim, constância nas médias das avaliações. Os frutos de todos os tratamentos apresentaram média superior a 4, indicando condições adequadas para a comercialização (Figura 1). São considerados principais fatores de perda de qualidade na aparência externa o murchamento, surgimento de manchas escuras e amarelecimento da casca que se torna mais aparente no final do período experimental. Para a aparência interna, a perda de qualidade, caracteriza-se pela presença de colapso interno na polpa do fruto, aparecimento de sementes soltas e desintegração da placenta onde se encontram as sementes. Mendonça et al. (2002) trabalhando com a mesma cultivar colhida em diferentes cortes, verificou comportamento semelhante tanto para aparência externa como interna, tendo ao final de 28 dias de armazenamento, valores médios para ambas as características superior a três. O decréscimo gradual na aparência durante o tempo de armazenamento é normal e já foi verificado por vários autores estudando o melão amarelo ‘Gold Mine’ (Menezes et al., 1995; Dantas, 2000) e com os melões ‘AF–646’ e ‘Rochedo’ (Gomes Júnior, 2000). Houve interação significativa para firmeza de polpa, onde se verificou um decréscimo gradativo com o decorrer do período de armazenagem. Verificou-se que ao final de 21 dias de armazenamento, apenas os tratamentos colhidos aos 59; 60 e 61 dias após o plantio obtiveram valores médios para firmeza igual ou superiores a 30 N (Figura 2). Acredita-se que o amolecimento da polpa do melão pode estar relacionado com a perda de membranas das células do mesocarpo, diminuindo a atividade da pectinametilesterase durante o armazenamento (Menezes et al., 1995). FernanHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Efeito do retardamento da colheita, na qualidade e na vida útil do melão Orange Flesh des (1996), avaliando o melão Orange Flesh verificou decréscimo gradual na firmeza da polpa durante o tempo de armazenamento. Mendonça et al. (2001) trabalhando com melão Orange Flesh, verificou também decréscimo gradativo em função do tempo, de 39,35 N para 21,87 N, respectivamente do início aos 28 dias de armazenamento. Gomes Júnior (2000), trabalhando com os genótipos ‘AF–646’ e ‘Rochedo’ sob armazenamento refrigerado também verificou a queda gradativa nos valores de firmeza de polpa. Não foi verificada variação significativa no teor de sólidos solúveis, para a interação entre os tratamentos. Observou-se constância nos seus valores médios até o 14º dia, e a partir daí uma tendência de diminuir (Figura 3), com valores entre 9 e 12%, ideais para a comercialização no mercado externo (Gayet, 1994). Menezes et al. (1998) reportam que são desejáveis valores superiores a 9%, em virtude dos SS serem uma importante característica de qualidade do ponto de vista comercial. Durante o armazenamento observou-se variação decrescente na curva, provavelmente pela heterogeneidade dos frutos. Mesmo apresentando decréscimo, as médias foram mantidas dentro do intervalo descrito por Gayet (1994). Em geral não se verifica variações consideráveis no teor de SS durante o armazenamento de melões devido à inexistência de amido para a conversão em açúcares solúveis (Tucker, 1993). O decréscimo no teor de SS pode ser atribuído ao consumo de carboidratos pela respiração. O armazenamento refrigerado diminui a perda de massa pela respiração pelo menor metabolismo do fruto, mas a perda excessiva de água, devido a baixas umidades, pode afetar a respiração aumentando a perda de massa e conseqüentemente o consumo de carboidratos. Menezes et al. (1995) tiveram como resultados do armazenamento de melão ‘AF–646’ a uma temperatura de ± 25°C, um decréscimo de 10,07 (0 dia) a 8,10 (49 dias), que foi considerado relativamente constante. Verificou-se que os tratamentos colhidos dos 59 aos 61 dias após o plantio não apresentaram rachaduras até o 14º dia de armazenamento. Frutos colhidos Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Valores médios de aparência externa (A) e interna (B) do melão Orange Flesh ‘AF-1749’, colhido em cinco datas após o plantio: 59; 60; 61; 62 e 63. Armazenados à temperatura de 7 ± 1ºC e umidade relativa de 90 ± 5%. Mossoró, ESAM, 2001. Figura 2. Valores médios da firmeza de polpa do melão Orange Flesh ‘AF-1749’, colhido em cinco datas após o plantio: 59; 60; 61; 62 e 63. Armazenados à temperatura de 7 ± 1ºC e umidade relativa de 90 + 5%. Mossoró, ESAM, 2001. 37 F. V. S. Mendonça et al. Figura 3. Valores médios do teor de sólidos solúveis do melão Orange Flesh ‘AF-1749’, colhido em cinco datas após o plantio, durante o tempo armazenamento à temperatura de 7 ± 1ºC e umidade relativa de 90 ± 5%. Mossoró, ESAM, 2001. aos 62 e 63 dias já apresentavam incidência de rachaduras no pedúnculo, do 7º ao 140 dia de armazenamento, no entanto, não comprometendo sua qualidade visual. Mendonça et al. (2001), trabalhando com melão Orange Flesh, verificaram que os frutos maduros armazenados imediatamente após a colheita a 7oC, ao final de 28 dias atingiram 5,5% de frutos com incidência de rachadura. Mesmo colhendo aos 62 e 63 dias após o plantio, a quantidade de frutos com rachadura no pedúnculo não influenciou a aparência externa ou interna dos frutos, possibilitando sua comercialização. Com base nos resultados obtidos, pode-se considerar que os frutos de melão Honey Dew Orange Flesh podem ser armazenados por até 28 dias, podendo nesse intervalo ser comercializados sem nenhum problema de aparência, possibilitando a sua exportação principalmente para o mercado europeu. A firmeza da polpa aos 21 dias de armazamento foi superior para os tratamentos colhidos dos 59 aos 61 dias após o plantio, não impossibilitando a comercialização dos frutos colhidos aos 62 e 63 dias após o plantio. Associan- 38 do-se as características avaliadas, pôdese observar que frutos colhidos tardiament não apresentaram diferenças no teor de SS aparências externa e interna até os 21 dias de armazenamento, possibilitando sua comercialização em boas condições. Essa constatação permite ao produtor trabalhar com uma margem maior de segurança na colheita dos frutos de até 4 dias. AGRADECIMENTOS Ao convênio ESAM/VALEFRUTAS/CNPq – PADFIN, pelos recursos financeiros. À Fazenda São João S.A, pelos frutos cedidos. LITERATURA CITADA AGRIANUAL. Anuário da agricultura brasileira. FNP Consultoria & Comércio, 2001. 545 p. DANTAS, V.A. Qualidade pós-colheita de melão ‘Gold Mine’produzido com adubação orgânica. 2000. 35 p. (Monografía graduação), ESAM, Mossoró. ENA, H.G. Manejo poscosecha del melón. In: VALLESPIR, A.N. (Org). Melones. Reus, Ediciones de Horticultura. Febrero 1997, p.165-174. FERNANDES, P.M.G.C. Armazenamento ambiente e refrigerado de melão, híbrido Orange Flesh, submetido à aplicação pós-colheita de cloreto de cálcio. 1996. 68 p. (Tese mestrado), UFLA, Lavras. FILGUEIRAS, H.A.C.; MENEZES, J.B.; ALVES, R.E.; COSTA, F.V.; PEREIRA, L.S.E.; GOMES JUNIOR, J. Colheita e manuseio póscolheita. In: ALVES, R.E. (Org.). Melão pós-colheita. 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Alberto Lamego 2000, 28013-602 Campos dos Goytacazes–RJ; E-mail: [email protected]; [email protected] RESUMO ABSTRACT Diferentes tutores e substratos foram utilizados para avaliar o cultivo de singônio (Syngonium angustatum Schott) em experimento instalado sob delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial (2 x 2), com seis repetições, três vasos por parcela e duas plantas por vaso. Os tratamentos avaliados foram (1) substrato comercial (SC), com tutor de xaxim (X); (2) substrato comercial, com tutor de mesocarpo de coco triturado (MCT); (3) substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (SC+MCT) (1:1), com tutor de xaxim; (4) substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (1:1), utilizando tutor de MCT. A altura ou comprimento da planta, diâmetro do caule, número de nós, número de folhas, área foliar, volume de raízes subterrâneas e teor de nutrientes foram avaliados. Os melhores resultados para as características morfológicas foram observados nas plantas cultivadas com tutores de MCT e substrato SC+MCT. Entretanto, o maior teor de nitrogênio foliar foi observado nas plantas cultivadas com tutor MCT e substrato SC. O tratamento com tutor xaxim e substrato SC+MCT foi o menos adequado para o cultivo de singônio e apresentou os menores valores para todas as características avaliadas. Growth of arrowhead plants with different supporting sticks and potting media Palavras-chave: Syngonium angustatum, casca de coco, xaxim. Keywords: Syngonium angustatum, fern tree, plant supporting sticks. Two different supporting sticks and potting media were used to evaluate the growth of arrowhead plant (Syngonium angustatum Schott), in a completely randomized block design, in a factorial scheme (2 x 2) with six replicates, and three pots per plot. There were evaluated the (1) commercial substrate (SC) as potting medium, with fern tree supporting sticks (X); (2) commercial substrate as potting medium (SC), with coconut mesocarp supporting sticks (MCT); (3) commercial substrate and coconut mesocarp (SC+MCT) (1:1) as potting medium, with fern tree supporting sticks (X); (4) commercial substrate and coconut mesocarp (1:1) as potting medium (SC+MCT), using coconut mesocarp supporting sticks (MCT). Plant height or length, stem diameter, number of nodes and of leaves, leaf area, subterranean root volume and nutrient contents were evaluated. The best results for the morphological characteristics were observed in plants grown under MCT supporting sticks and the SC+MCT potting medium; nevertheless the highest leaf N content was observed in plants grown under MCT supporting sticks and SC potting medium. The treatment with fern tree supporting sticks and SC+MCT potting medium was the least adequate one for growing Syngonium angustatum and presented the lowest values for all variables studied. (Recebido para publicação em 12 de julho de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003) A propagação e cultivo de plantas ornamentais requer a utilização de substratos que devem ter boa estrutura e porosidade, conseqüentemente boa aeração e retenção de água, baixa densidade, facilitando o manuseio e transporte, estando livre de patógenos e pragas (Hartmann e Kester, 1975; Kämpf, 2000). Entre os substratos mais empregados no cultivo de ornamentais, merece destaque o xaxim, oriundo da espécie Dicksonia sellowiana que ocorre em meio às florestas da América Central e do Sul. O processo de produção do xaxim se inicia na extração ou corte das plantas, no interior do ecossistema florestal, com transporte aos locais de manufatura dos produtos a partir do tronco. A extração do xaxim nas florestas paranaenses e sua exploração econômica pela indústria artesanal e pelo comércio atacadista e varejista têm mantido Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 uma curva de crescimento constante. Floricultores, paisagistas, urbanistas e, em maior número as donas-de-casa, são os principais consumidores dos artefatos do xaxim. A escassez da matéria-prima ainda não é sentida no varejo. Mas a indústria, para manter e até ampliar o volume de produção, tem arcado com custos de transporte cada vez maiores, uma vez que as florestas situadas em sua proximidade já não possuem mais estoques suficientes (Santos et al., 2000). O Paraná tem atendido boa parte da demanda de estados que não produzem xaxim e daqueles que já proibiram sua extração e comercialização, como é o caso de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Aproximadamente um milhão de vasos e mais uma quantidade não dimensionada de estacas, placas e pó de xaxim saem das fábricas e são distribuídos, pelos atacadistas, pratica- mente em todos os estados brasileiros (Santos et al., 2000). Com lucratividade econômica elevada e mercado em contínua expansão, a exploração comercial do xaxim tem crescido e se fortalecido. A tendência é que, à medida que diminui a disponibilidade de matéria prima, o negócio torne-se ainda mais rentável, representando um ciclo que somente deixará de existir caso venha ocorrer a total extinção do xaxim das florestas do Paraná (Santos et al., 2000). Estudos com blocos de casca de coco fabricados especialmente para o uso como substrato de orquídeas epífitas, demonstraram que, do ponto de vista de retenção e perda de água, esse material, puro ou em mistura, pode substituir o xaxim (Demattê e Demattê, 1996). Parâmetros agronômicos têm indicado superioridade, ou no mínimo, igualdade de desempenho da 39 N. A. Souza e J. Jasmim fibra do mesocarpo do coco em relação a outros materiais (Merrow, 1994). O singônio (Syngonium angustatum Schott) é planta semi-hebácea ascendente, de clima tropical, muito cultivada em vasos com tutores, para decorar ambientes internos ou como forração à meia sombra em jardins. Quando jovem, as folhas são simples e quando adultas passam a ter divisões no limbo. Seu maior atrativo comercial são as folhas que formam uma massa verde bem fechada. Sua facilidade de cultivo se deve ao fato da multiplicação ser feita por estacas herbáceas, durante todo o ano (Lorenzi e Souza, 2001), a única limitação é que a espécie não suporta temperaturas abaixo de 15ºC, podendo causar danos e levá-la a morte (Houseplant, 2002). Nesse trabalho, avaliou-se o crescimento de singônio com tutores e, substrato à base de mesocarpo de coco, comparados aos materiais tradicionais (xaxim e substrato comercial). MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na área experimental da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, localizada no município de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, situado a 21º44’47’’S, 41º18’24’’W e altitude de aproximadamente 11 m em relação ao nível do mar. Para o preparo do substrato e tutores de mesocarpo de coco triturado, as cascas de coco verde foram coletadas em pontos de venda de água de coco, na cidade de Campos dos Goytacazes. Os cocos foram descascados, retirando-se o epicarpo do fruto e em seguida, a parte fibrosa (mesocarpo) foi cortada e passada por uma máquina forrageira, e seca ao ar para uso como substrato. Para a confecção dos tutores, o mesocarpo de coco triturado foi colocado em uma fôrma feita de chapa de aço galvanizada, e prensado utilizando-se uma prensa hidráulica manual a 15.000 kgf por 5 minutos. Os tutores prontos foram colocados em estufa, com ventilação forçada, a 70ºC durante 48 horas. Em seguida, realizou-se a imersão em solução na concentração de 50 g kg-1 de resina à base de formol e uréia, e secagem em estufa por mais 48 horas. Os tutores fo40 ram submetidos à irrigação em vaso contendo substrato comercial por 21 dias. Aqueles que não se deformaram nem curvaram foram utilizados para o experimento com plantas. Os tutores foram utilizados no cultivo de singônio (Syngonium angustatum Schott), em vasos plásticos de cor preta com capacidade para cinco litros e cultivados em casa de vegetação do tipo túnel, coberto com plástico leitoso 100 µm e tela de sombreamento de 30%, com abertura lateral (sombreamento de 70%). O experimento foi montado sob delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2 x 2, com 6 repetições e 3 vasos por parcela, compondo os tratamentos (1) substrato comercial (SC), com tutor de xaxim (X); (2) substrato comercial, com tutor de mesocarpo de coco triturado (MCT); (3) substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (SC+MCT) (1:1), com tutor de xaxim; (4) substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (1:1) e tutor de mesocarpo de coco triturado. As mudas de singônio foram padronizadas, utilizando-se duas mudas de 25 cm (5 cm enterrados) de altura por vaso, com duas ou três folhas cada. As plantas foram cultivadas durante 150 dias, de 20/02 (plantio) a 20/07/ 2001 (final do experimento). Foram avaliados a cada trinta dias a altura da planta (com o auxílio de trena); diâmetro do caule [a 10 cm de altura, com paquímetro digital (Electronic Digital Caliper)]; número de nós; número de folhas e área foliar [com uso de medidor de área foliar portátil (LI-300A Portable Area Meter-LI-COR Inc)]. No plantio e no final do experimento avaliou-se o estado nutricional das plantas. As raízes subterrâneas foram cuidadosamente lavadas em água corrente para remoção dos substratos e a área superficial foi determinada pela multiplicação da estimativa da área transversal, medida em medidor de área foliar (LI-3100, LI-COR Inc), pelo valor π no final do experimento (Rossiello et al., 1995). Foram analisados os teores de nutrientes do substrato comercial, do mesocarpo de coco triturado, das folhas de singônio, do tutor de xaxim, do tutor de MCT e também do substrato xaxim a título de comparação com o MCT, antes do plantio do experimento e no final. Todos os materiais foram submetidos às digestões úmidas (sulfúrica e nitroperclórica), separadamente (Malavolta et al., 1989; Jones et al., 1991). O pH e a condutividade elétrica (CE) foram determinados em água, como para solos (Tedesco et al., 1985). O nitrogênio (N-org) foi determinado pelo método de Nessler (Jackson, 1965), o fósforo (P) pela redução do complexo fosfo-molíbdico pela vitamina C (Braga e Defelipo, 1974); para o nitrato (NO3-) utilizou a metodologia descrita por Cataldo et al. (1975). O cloro (Cl) foi determinado por titulometria (Malavolta et al., 1989). Os teores de potássio (K) e de sódio (Na) foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica. O carbono total foi determinado no SC, X e MCT de acordo com a metodologia descrita por Anderson e Ingram (1996). A temperatura média mínima, média máxima e umidade relativa do ar, durante o período de cultivo foram, respectivamente, de 22,5ºC, 30,2ºC e 76,4%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para o substrato MCT os valores de nutrientes foram: N-org. 3,77 g kg-1, NO3- 0,85 g kg-1; P 0,78 g kg-1; K 11,66 g kg-1; Cl 7,053 g kg-1 e Na 3122 mg kg-1; para o substrato comercial SC foram: Norg. 12,28 g kg-1; NO3- 0,197 g kg-1; P 4,08 g kg-1; K 5,16 g kg-1; Cl 2,63 g kg-1 e Na 162 mg kg-1 e para o substrato xaxim foram: N-org. 7,36 g kg-1; NO3- 0,05 g kg-1; P 0,46 g kg-1; K 5,43 g kg-1; Cl 1,32 g kg-1 e Na 55 mg kg-1. Os valores de pH foram: para o substrato MCT 4,52; para o substrato SC 5,40 e para o substrato X 4,74. Os valores de condutividade elétrica (mS cm-1) foram: para o substrato MCT 6,44; para o substrato comercial SC 6,82 e para o substrato xaxim foi de 0,83. Os valores iniciais do pH dos substratos MCT e xaxim, foram menores do que o pH do substrato SC, entretanto situaram-se dentro da faixa ideal recomendada (Conover, 1967) para substratos utilizados nos cultivos de plantas ornamentais, que, segundo Kämpf (1999), valores menores de pH Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Crescimento de singônio com diferentes tutores e substratos à base de mesocarpo de coco Tabela 1. Teor de nutriente na matéria seca do substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (SC+MCT) e substrato comercial (SC), aos 150 dias após o plantio de singônio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato. X: tutor de xaxim; MCT: tutor de mesocarpo de coco triturado. * podem alterar a disponibilidade de nutrientes e induzir sintomas de deficiência de N, K, Ca e Mg. Os valores de pH dos tratamentos que continham o mesocarpo de coco triturado como substrato ou em forma de tutores, não prejudicaram o crescimento das plantas de singônio. De maneira geral, os valores de pH estão de acordo com os valores citados por Demattê e Vitti (1997) e um pouco abaixo dos valores encontrados por Konduru et al. (1999). As folhagens são plantas mais tolerantes, sendo capazes de se adaptarem a essas condições (Kämpf, 1995). Em relação à condutividade elétrica os valores elevados nos substratos SC e MCT se justificam pelo conteúdo de sais encontrados no SC podendo estar relacionado à adição de fertilizante na composição do substrato comercial. No MCT a condutividade elétrica reflete os níveis de K, Cl, e Na encontrados na sua composição. Esses resultados foram superiores aos obtidos por Handreck (1993) e Konduru et al. (1999). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Os altos teores de Cl e Na encontrados no MCT no início do experimento, não interferiram negativamente no crescimento das plantas, apesar dos teores foliares dos mesmos, aos 150 dias após o plantio (ponto de comercialização), encontrarem-se altos (Tabela 3), quando comparados ao nível crítico citado por Jones et al. (1991), indicando terem sido absorvidos sem ocasionar danos nas folhas e/ou raízes. Os teores de nutrientes na casca de coco, bem como no xaxim, são muito variáveis, pois dependem da origem do material, afetada pelas condições de cultivo (estado nutricional, condições de clima e solo, luminosidades, idade da planta etc). Sendo assim, análises dos teores de Na e Cl, principalmente, devem ser feitas antes de seu uso, pois esses elementos podem estar presentes acima do nível aceitável, prejudicando o efeito positivo deste resíduo na confecção de substratos. Prasad (1997) cita que o íon Cl pode ser prejudicial a culturas que são mais sensíveis à salinidade. Devem ser conhecidas as necessidades das plantas que serão cultivadas, principalmente em relação aos íons Cl e Na (Röber, 1999). Evans et al. (1996), obtiveram teores de K, Cl e Na elevados no mesocarpo de coco, possivelmente devido aos produtores utilizarem os fertilizantes KCl e NaCl no cultivo do coco. Os teores de nitrogênio encontrados nos substratos aos 150 dias após o plantio (Tabela 1) mostraram que os maiores valores estavam presentes no substrato SC dos vasos que continham tutores MCT. Esses tutores MCT tinham uréia em sua composição (Tabela 2) e esta pode ter contribuído para elevar os teores de N encontrados naquele tratamento. Os valores de nitrogênio encontrados no substrato SC encontram-se próximos àqueles citados por Rizzo et al. (1999). Para o MCT, os teores estão condizentes aos citados por Demattê e Vitti (1997), que analisaram o coxim. O teor de N-org nas folhas de singônio aos 150 dias após o plantio foi 41 N. A. Souza e J. Jasmim Tabela 2. Teor de nutrientes na matéria seca dos tutores de mesocarpo de coco triturado (MCT) e xaxim (X), aos 150 dias após o plantio de singônio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001. * Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato. SC: substrato comercial; SC+MCT: substrato comercial e mesocarpo de coco triturado. Tabela 3. Teor de nutrientes na matéria seca das folhas de singônio, aos 150 dias após o plantio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato. SC: substrato comercial; SC+MCT: substrato comercial e mesocarpo de coco triturado; MCT: tutor de mesocarpo de coco triturado e X: tutor de xaxim. * 42 Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Crescimento de singônio com diferentes tutores e substratos à base de mesocarpo de coco Tabela 4. Altura, diâmetro, número de nós, número de folhas e área foliar de plantas de singônio, cultivadas em vasos em função do substrato comercial (SC), substrato comercial e mesocarpo de coco triturado (SC+MCT) e do tutor de xaxim e mesocarpo de coco triturado (MCT) utilizado, aos 150 dias após o plantio. Campos dos Goytacazes, UENF, 2001. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey: a e b na coluna comparam médias de substratos dentro do fator tutor; A e B na linha comparam médias de tutores dentro do fator substrato. * maior nos tratamentos com tutores de MCT (Tabela 3) independentemente do substrato, em decorrência do teor de Norg nos tutores (Tabela 2). Embora no substrato SC+MCT houvesse uma quantidade considerável de N-org (Tabela 1), as plantas nele cultivadas com tutor de xaxim mostraram-se amareladas por deficiência de N (Tabela 3), provavelmente devido à alta relação C:N no MCT, que foi de 164. Nesse caso, poderia estar ocorrendo utilização do N para decomposição do MCT, já que não foi feita suplementação de N. Conforme Röber (1999), o uso de cascas não decompostas, “verdes”, e a não adição de nitrogênio leva a fixação do N do substrato e, conseqüentemente, deficiência de N nas plantas, por causa da alta relação C:N. As mudas produzidas no substrato SC+MCT e tutor de MCT alcançaram maiores valores de altura, diâmetro, número de nós e número de folhas (Tabela 4), o que pode estar relacionado à melhoria das características físicas do SC pela adição de MCT (baixa densidade do substrato, alta porosidade) e ao maior teor de N no tutor oriundo da reHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 sina à base de uréia na sua composição. As plantas do tratamento SC+MCT e tutor de xaxim tiveram desempenho inferior em relação aos demais tratamentos, corroborando os resultados de teor foliar e sintomas visuais de deficiência de N (Tabela 3). A área foliar das plantas no tratamento SC com tutor MCT foi maior (Tabela 4), com maior massa verde em relação aos demais tratamentos; podendo-se dizer que ele foi superior quanto ao padrão de qualidade, característica desejável para comercialização das plantas, já que o singônio é comercializado como folhagem ornamental. O segundo melhor tratamento em termos de qualidade de planta foi o SC+MCT com tutor de MCT. O tradicionalmente utilizado pelos produtores que é o SC com tutor de xaxim foi o terceiro e, por último, o SC+MCT com tutor de xaxim que apresentou o menor desenvolvimento de massa verde, possivelmente em virtude da restrição de N para o crescimento. Portanto, o tutor de MCT poderia substituir o de xaxim desde que fossem utilizados o SC ou SC+MCT como substrato. A área superficial de raízes das plantas de singônio aos 150 dias de cultivo com substrato composto pela mistura de SC+MCT e com tutor de MCT foi 653,3 e com tutor de X foi de 650,5. As plantas cultivadas em substrato SC e com tutor de MCT foi 181,9 e com o tutor de X foi de 304,5. A incorporação de substrato de MCT ao substrato comercial SC, favoreceu o crescimento das raízes subterrâneas das plantas de singônio, que apresentaram volumes superiores àqueles observados nas plantas cultivadas em substrato comercial SC, evidenciando a influência benéfica da mistura do MCT ao SC na textura do substrato, o que, segundo Morgado (1998), é um fator determinante do crescimento e desenvolvimento das raízes. Assim, conclui-se que para o crescimento das plantas de singônio, o tutor de MCT forneceu os nutrientes necessários durante todo o período de produção não havendo a necessidade de adubação até atingirem o ponto de comercialização e que o MCT pode ser utilizado em mistura com o SC reduzindo os gastos com substrato comercial, sem prejudicar o crescimento das plan43 N. A. Souza e J. Jasmim tas de singônio desde que sejam utilizados tutores de MCT. AGRADECIMENTOS À FAPERJ, UENF/LAMAV/LFIT, Setor de Nutrição Mineral de Plantas, Alba Química S. A., Tropiflora e Sr. José Accácio da Silva (TNS LFIT/CCTA/ UENF). LITERATURA CITADA ANDERSON, J.D.; INGRAM, J.S.I. Tropical soil biology and fertility: a handbook of methods. 2. ed. Wallingford: UK CAB International, 1996. 171 p. BRAGA, J.M.; DEFELIPO, B.V. Determinação espectrofotométrica de fósforo em extratos de solos e material vegetal. Revista Ceres, Viçosa, v.21, p.73-85, 1974. CATALDO, D.A.; HAROON, M.; SCHADER, L.E.; YOUNG, U.L. Rapid colorimetric determination of nitrate in plant tissue by nitration of salicylic acid. Communications in Soil Science Plant Analysis, v.6, p.71-80, 1975. CONOVER, C.A. Soil amendment for pot and field grow flowers. Florida Flowers Grower, v.4, n.4, p.1-4, 1967. DEMATTÊ, J.B.I.; DEMATTÊ, M.E.S.P. Estudos hídricos com substratos vegetais para cultivo de orquídeas epífitas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.31, p.803–813, 1996. DEMATTÊ, M.E.S.P.; VITTI, G.C. 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Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 45-49, jan-mar 2004. Enxertia em plantas de pimentão no controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido Haydée S. Santos ; Rumy Goto UNESP-FCA, Departo. Produção Vegetal, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se a viabilidade de utilização da enxertia em plantas de pimentão (Capsicum annuum, L.), visando o controle da murcha de fitóftora. A pesquisa foi conduzida de setembro de 2000 a julho de 2001, na UNESP, Botucatu, em ambiente protegido. Adotou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com 4 repetições e 5 plantas por parcela. Foram utilizados dois porta-enxertos resistentes a Phytophthora capsici, híbridos F1 de Capsicum annuum, e três híbridos comerciais suscetíveis (Elisa, Margarita e Magali-R). A enxertia foi realizada quando porta-enxertos e enxertos apresentavam respectivamente sete e três folhas verdadeiras, pelo método de garfagem fenda simples. Aos 14 dias após o transplante das mudas foi feita a inoculação do fungo, utilizando sementes de trigo infestadas pelo patógeno, depositadas ao redor do colo da planta. Quatro dias após a inoculação, e a partir daí a cada 15 dias, foram feitas avaliações que confirmaram a resistência dos porta-enxertos e a suscetibilidade das plantas não enxertadas. Observou-se bom nível de compatibilidade de enxertia em todas as combinações, precocidade de florescimento das plantas não enxertadas, manutenção de resistência à doença pelas plantas enxertadas durante todo o período e variações na altura das plantas em algumas combinações. Com relação à produção, verificou-se que os frutos mantiveram as características fenotípicas de cada híbrido, revelando que não houve interferência dos porta-enxertos neste aspecto. Concluiu-se haver viabilidade técnica de utilização da enxertia no controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido. Sweet pepper grafting to control phytophthora blight under protected cultivation The viability of grafting was evaluated in sweet pepper (Capsicum annuum, L) plants to control phytophthora blight. The research was carried out during the period of September 2000 to July 2001, in Botucatu (Brazil), under protected cultivation. The experimental design was of randomized blocks with four replication and five plants per plot. Rootstocks resistant to P. capsici, F1 hybrids of C. annuum and three susceptible commercial hybrids (Elisa, Margarita and Magali R) were used. The cleft grafting was realized when rootstocks and grafts showed seven and three true leaves, respectively. The inoculation was done 14 days after transplanting the seedlings by depositing wheat seeds infested with the fungus, around the stem of each plant. Evaluations were done each 15 days starting four days after the inoculations. A good level of grafting compatibility in all the combinations, flowering precocity of non grafted plants, maintenance of the resistance to the disease in grafted plants and variations in height of the plants in some combinations were observed. The physiological characteristics of the hybrids were not influenced by the plants used as rootstocks. Grafting could be used as alternative to control phytophthora blight under protect cultivation. Palavras-chave: Solanaceae, Capsicum annuum, L., Phytophthora capsici, Leonian, cultivo protegido. Keywords: Solanaceae, Capsicum annuum, L., Phytophthora capsici, Leonian. (Recebido para publicação em 09 de agosto de 2002 e aceito em 03 de novembro de 2003) A enxertia em hortaliças iniciou-se no Japão e na Coréia no final da década de 1920, em melancia (Citrullus lanatus) como medida preventiva contra patógenos de solo (Lee, 1994). Entretanto, somente a partir de 1955 começou a ser praticada mais efetivamente em berinjela, buscando evitar a murcha-defusário (Fusarium oxysporium) (Yamakawa, 1982). No Brasil, acreditase que a enxertia em hortaliças começou a ser realizada comercialmente na década de 80, em cultivo de pepino no estado de São Paulo, visando o controle de nematóides e obtenção de frutos livres de cera (Goto, 2001). Existem relatos de que na Amazônia, em pequenas culturas, a enxertia de tomateiro em jurubeba é Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 uma prática utilizada há muito tempo, para controle da murcha-bacteriana causada por Ralstonia solanacearum. A cultura do pimentão tem na murcha, causada pelo fungo Phytophthora capsici Leonian, um de seus maiores problemas fitossanitários. Este fungo foi descrito inicialmente no Novo México em 1922 (Leonian, 1922). No Brasil, esta doença foi observada pela primeira vez, em Ribeirão Preto em 1951, dizimando um cultivo dessa solanácea (Amaral, 1952). Atualmente, a doença encontra-se distribuída em quase todos os continentes, em regiões de clima temperado ou tropical. Apenas no continente Australiano ainda não foi relatada sua ocorrência (Irwin et al., 1995). Os sintomas típicos da doença causada por P. capsici em pimentão são a murcha repentina, necrose de coloração marrom-escura no colo e morte da planta. O sistema radicular fica necrosado e apodrecido (Matsuoka e Ansani, 1984). Diversas medidas de controle têm sido adotadas a fim de impedir que a doença se estabeleça: rotação de culturas, mulching, solarização, manejo da irrigação, controle biológico, através do uso de microorganismos antagônicos, controle genético, com a utilização de cultivares e híbridos resistentes e o controle químico. No entanto, cada um desses métodos tem apresentado limitações, e a busca de alternativas tecnicamente viáveis tem sido constante (Hwang e Kim, 1995). 45 H. S. Santos e R. Goto Em ambiente protegido, os patógenos de solo representam um desafio ainda maior ao cultivo do pimentão, pois são muito mais agressivos sob condições de alta umidade e temperatura. Sua ocorrência é comum em solos de estufa com problemas de salinização, conduzidos geralmente com manejo inadequado (Vida et al., 1998). Considerando os fatores acima citados, a enxertia pode ser uma boa alternativa para o controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido. A maior dificuldade de adotar a técnica da enxertia em pimentão até agora, era a inexistência de porta-enxertos adequados, que, além de não apresentarem bom nível de compatibilidade, conferiam pouco vigor ao enxerto e transmitiam pungência aos frutos, por serem provenientes de pimentas (Miguel, 1997). Entretanto, este problema está sendo solucionado com a obtenção de híbridos como porta-enxerto, conforme Kobori (1999). Avaliou-se nesse trabalho dois dos porta-enxertos resistentes à murcha-defitóftora obtidos por Kobori (1999) enxertando-os com três híbridos comerciais suscetíveis, verificando assim o nível de compatibilidade da enxertia e o desempenho produtivo das plantas enxertadas, a resistência dos porta-enxertos e a evolução dos sintomas da doença nas plantas não enxertadas. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi conduzida na UNESP em Botucatu, São Paulo, de setembro de 2000 a julho de 2001. As plantas foram conduzidas em ambiente protegido, numa estrutura tipo arco, de 7,0 m de largura por 40,0 m de comprimento, 3,0 m de pé direito, coberta com filme de polietileno de 100 µm de espessura, e sem controle das condições ambientais. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com 9 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos resultaram da combinação de dois porta-enxertos, híbridos de Capsicum annuum: AF-2638 (linhagem SCM-334 x linhagem AF1947) e AF-2640 (linhagem SCM-334 x linhagem AF1949) (Sakata Seed Sudamérica) enxertados com 3 híbridos 46 comerciais suscetíveis à Phytophthora capsici: ‘Margarita’ (Rogers Syngenta Seeds), ‘Elisa’ (Rogers Syngenta Seeds) e ‘Magali-R’ (Sakata Seed Sudamérica). Os híbridos suscetíveis foram utilizados também como pés-francos. Cada parcela experimental foi constituída de cinco plantas, espaçadas de 1,4 x 0,4 m, sendo utilizadas nas avaliações as três plantas centrais. Foram realizadas 9 colheitas dos frutos, com no mínimo 50% de maturação. A enxertia foi de garfagem fenda simples (Yamakawa, 1982), realizada quando porta-enxertos e enxertos apresentavam, respectivamente, sete e três folhas verdadeiras expandidas. O ponto de enxertia foi na altura da terceira folha verdadeira do porta-enxerto, quando o caule estava com aproximadamente 3 mm de diâmetro. A operação de enxertia foi realizada aos 51 dias após a semeadura dos porta-enxertos e 41 dias após a dos enxertos. Constou de um corte transversal do caule do porta-enxerto, seguido da abertura de uma fenda atingindo ¾ do seu diâmetro a uma profundidade de aproximadamente 1,5 cm. As mudas do enxerto, apresentando três folhas verdadeiras foram cortadas em bisel abaixo das folhas cotiledonares, sendo encaixadas então na fenda do porta-enxerto. O transplante das mudas ocorreu aos 21 dias após a enxertia. A irrigação foi por gotejamento, com um gotejador por linha de cultura. As plantas foram tutoradas em espaldeira simples, com condução livre em número de hastes. Não se eliminou a primeira flor, e os demais tratos culturais foram feitos conforme as necessidades da cultura. Aos 35 dias após a enxertia, quando as plantas estavam com nove folhas verdadeiras, foi feita a inoculação do fungo, em todos os tratamentos. O inóculo utilizado foi produzido na UNESP em Botucatu, de acordo com o protocolo citado por Marque et al. (1999). Utilizou-se um isolado de P. capsici (PI 15) do grupo A2, proveniente de Bragança Paulista, São Paulo. Foi preparado um substrato orgânico com 50 sementes de trigo em dois frascos Schott Reagent de 500 ml com 100 ml de água destilada que receberam duas autoclavagens a 120ºC por 30 minutos com um interva- lo de três dias. A seguir foram transferidos para a superfície das sementes três discos de meio ágar-água de 5,0 mm de diâmetro com crescimento ativo de P. capsici. O patógeno foi incubado durante 15 dias a 24ºC no escuro, agitando-se periodicamente os frascos para facilitar a infestação total das sementes. A metodologia de inoculação consistiu na deposição de 3 a 5 sementes contaminadas ao redor do colo da planta, saturando-se em seguida o solo com água. Os resultados obtidos com este método são semelhantes aos alcançados quando se utiliza suspensão de zoósporos na concentração de 10 4 zoósporos/ml (Marque et al., 1999). Para comparar a evolução dos sintomas da doença nos híbridos não enxertados, foram avaliados três modelos matemáticos que possibilitam estabelecer uma relação entre proporção da doença e tempo (Bergamin Filho, 1995). Dentre eles o modelo monomolecular foi o que melhor se ajustou, sendo então utilizado para esta análise. Aos quatro dias após a inoculação e a partir daí a cada 15 dias, foram feitas as avaliações, nas quais verificou-se a manifestação dos sintomas e severidade da doença, por meio de uma escala de notas assim estipulada: 1- planta sem sintomas; 2- escurecimento do caule; 3planta murcha; 4- planta morta. Foram também avaliadas a precocidade de florescimento, expressa pelo número de dias entre a semeadura e a antese, a altura das plantas aos 36; 56; 101; 136 e 167 dias após a enxertia e o número de frutos totais e comercializáveis produzidos pelas plantas enxertadas. Foram também analisados o diâmetro, comprimento e espessura da parede dos frutos colhidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO O nível de compatibilidade inicial (pegamento da enxertia) é muito importante para que se tenha sucesso na produção de mudas enxertadas. Neste trabalho, obteve-se 93%, equivalente ao que foi alcançado em pimentão por Choe (1989). As plantas enxertadas mantiveramse sem sintomas da doença durante todo o período de condução do experimento. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Enxertia em plantas de pimentão no controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido As não enxertadas manifestaram os sintomas de maneira diferenciada (Figura 1). Na comparação dos híbridos, verificou-se que ‘Magali-R’ apresentou menor proporção de plantas doentes aos quatro dias após a inoculação (DAI), enquanto ‘Margarita’ e ‘Elisa’ estiveram com proporções muito próximas. Aos 41 DAI, houve uma acentuada evolução dos sintomas nas plantas do híbrido Elisa, que manteve esta tendência até o final das avaliações. Foi possível a partir daí observar que cada híbrido tem um comportamento próprio quanto à evolução da doença, no entanto, como esperado, todos a desenvolveram. A precocidade de florescimento foi verificada, por ser um dos métodos utilizados para classificar o pimentão em precoce ou tardio, conforme Melo (1997). Esta análise não objetivou uma comparação entre os híbridos, visto que cada um possui características próprias, mas observar se os porta-enxertos, nas diferentes combinações, induziriam mudanças significativas nesse aspecto, o que não ocorreu (Tabela 1). Observouse apenas que o híbrido Elisa tendeu a uma precocidade de florescimento quando enxertado em AF-2640. Quanto aos pés francos, chegaram à antese da primeira flor cerca de 12 dias antes das plantas enxertadas. Este comportamento foi também observado em plantas de pepino (Cañizares, 1997), e é previsto tendo em vista o estresse de enxertia que as plantas sofreram. Rachow-Brandt e Kolmann (1992) observaram que somente cinco a sete dias após a enxertia iniciou-se o transporte de assimilados, o que vem atrasar a fase de desenvolvimento vegetativo que deve existir antes do início do florescimento. Observou-se variações significativas na altura das plantas, dependendo do porta-enxerto utilizado (Tabela 2). Observa-se que nas combinações de ‘Magali-R’ com os dois porta-enxertos, a partir dos 136 DAE o porta-enxerto AF2638 conferiu maior altura às plantas, entretanto não diferiu significativamente de AF-2640. O híbrido Elisa durante o período de 36 aos 101 dias apresentou plantas de maior altura quando enxertado em AF-2640 e aos 136 e 167 dias manteve esta tendência. O híbrido Margarita não mostrou diferença signiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Evolução dos sintomas da doença nos híbridos x tempo em dias após a inoculação. São Manuel, UNESP, 2000. Tabela 1. Médias do número de dias da semeadura até a antese. São Manuel, UNESP, 2000. Dados originais (média de 5 plantas em 4 repetições); 2Colunas seguidas pelas mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%; 3Porta-enxerto; 4Pé franco 1 ficativa com a variação do porta-enxerto. Kobori (1999) relatou que o híbrido ‘Magali-R’ não apresentou diferença em altura quando enxertado nos mesmos porta-enxertos usados neste trabalho, entretanto observou que as plantas enxertadas ficaram menores em relação aos pés-francos. Esta comparação não foi feita neste caso, pois as plantas não enxertadas morreram após a contaminação do fungo. É possível que a menor altura das plantas tenha sido influencia- da pelos porta-enxertos, por terem a linhagem Serrano Criollo de Morellos334 como um de seus progenitores, ou por alguma exigência não conhecida no manejo das irrigações e fertilizações. A questão nutricional das plantas de pimentão enxertadas deverá ser objeto de novos estudos, visto que a enxertia pode produzir alterações na absorção e transporte de nutrientes, o que está diretamente correlacionado com o crescimento da planta. 47 H. S. Santos e R. Goto Tabela 2. Médias das alturas das plantas de pimentão em centímetros1 , aos 36; 56; 101; 136 e 167 dias após a enxertia (DAE). São Manuel, UNESP, 2000. 1 Dados originais (média de três plantas em quatro repetições); 2Colunas seguidas pelas mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% Tabela 3. Médias do número e peso dos frutos totais (FT), comercializáveis (FC), diâmetro (D), comprimento (CO) e espessura da parede (EP) de frutos de pimentão obtidos em nove colheitas (95, 121, 134, 141, 148, 204, 218, 231, 247 DAE). São Manuel, UNESP, 2001. 1 Dados originais (média da produção de 3 plantas em 4 repetições e 9 colheitas); 2Colunas seguidas pelas mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% Verificou-se uma diferença significativa na média do peso dos frutos comercializáveis para a combinação AF2640 x ‘Elisa’, que foram os de maior peso (Tabela 3). O híbrido Margarita não apresentou diferença em número e peso dos frutos com a variação dos porta-enxertos, e ‘Magali-R’ tendeu a produzir frutos comerciáveis de menor peso em combinação com AF-2638. Pode-se notar que em todas as combinações em que se utilizou o porta-enxerto AF-2640, observou-se uma tendência de produção de frutos comercializáveis de maior peso. Observando-se o número e o peso médio de frutos por planta pode-se concluir que os porta-enxertos não reduziram o vigor dos híbridos enxertados, um dos maiores problemas apresentados 48 pelos porta-enxertos usados em pimentão na Europa até o presente momento (Miguel, 1997). Por outro lado, estudos realizados com estes híbridos em condições de ambiente protegido, sem enxertia, apresentaram produções equivalentes às que foram obtidas neste trabalho (Melo, 1997; Kobori, 1999; Cunha et al., 2001). Conclui-se que existe viabilidade técnica de utilização da enxertia em plantas de pimentão conduzidas em ambiente protegido, como alternativa de controle da murcha causada por P. capsici. Foi comprovada também a tolerância destes mesmos porta-enxertos a Meloidogyne incognita, Raça 2 (Santos et al., 2002), o que torna sua utilização ainda mais interessante. O presente estudo não se deteve na questão econômica, no entanto, considerando a facilidade de produção das mudas enxertadas, que não requereram nenhum investimento a mais em instalações, treinamento especial do enxertador, além de terem apresentado alto índice de pegamento da enxertia, acredita-se que a relação custo-benefício seja positiva na decisão por adotar esta forma de controle dos patógenos de solo citados. LITERATURA CITADA AMARAL, J.F. Requeima do pimentão. O Biológico, São Paulo, n.18, p.160-161, 1952. BERGAMIN FILHO, A. Curvas de progresso da doença. In: BERGAMIN FILHO, A. KIMATI, H. AMORIM L. (Ed). Manual de fitopatologia. 3.ed. São Paulo. Agronômica Ceres, 1995, p.602-26. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Enxertia em plantas de pimentão no controle da murcha de fitóftora em ambiente protegido CAÑIZARES, K.A.L. Efeito da enxertia de dois híbridos de pepino (Cucumis sativus) e dois híbridos de abóbora (Cucurbita sp) sob ambiente protegido. 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Postal 09, 13418-900 Piracicaba-SP; 2Doutorando em Irrigação e Drenagem; E-mail: [email protected]; ³ Depto. Eng. Rural, E-mail: [email protected]; 4Depto. Produção Vegetal, E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT A cultura de ervilha é uma possível opção para a utilização dos solos de várzea durante o inverno. Porém, esta cultura não está adaptada a condições extremas de falta ou de excesso de água no solo. Nos solos hidromórficos, freqüentemente ocorrem inundações temporárias ou contínuas, afetando diretamente o desenvolvimento da planta. Neste trabalho avaliou-se o efeito da velocidade de rebaixamento do nível freático no desenvolvimento e na produtividade de plantas de ervilha, cv. Axé e determinou-se o estádio de desenvolvimento da cultura com maior sensibilidade ao excesso de água no solo. As análises dos resultados indicam que os efeitos provocados pela inundação do solo e subsequente rebaixamento do nível freático foram proporcionais à duração dos tratamentos, principalmente no estádio vegetativo. A maior suscetibilidade das plantas de ervilha à inundação do solo foi verificada no estádio reprodutivo, com reduções significativas da produtividade em todos os tratamentos. No estádio vegetativo, os rebaixamentos do nível freático em profundidades superiores a 20 cm por dia ocasionaram reduções da produtividade de aproximadamente 20%. Effects of temporary waterlogging in pea plants Pea crop is a feasible option for agriculture in low lands during winter season. However, this crop is not adapted to extreme conditions of water deficit or excess. In hidromorfic soils, temporary waterlogging or flooding conditions often occur affecting directly plant growth. The effect of water level drawdown on the growth and yield of pea, cv Axe, and the most sensitive growing stage of the crop to soil water excess were estimated. The effects of waterlogging and water table drawdown were proportional to flooding time, especially when waterlogging occurred at the vegetative stage. The major susceptibility of the pea plants to waterlogging was in reproductive stage, with significant yield reduction in all treatments. On the other hand, we observed that drawdown velocity had no effect on results, but on vegetative stage when a water level lowering in depths of more than 20 cm per day caused crop yield reductions of nearly 20%. Palavras chave: Pisum sativum L., drenagem, sensibilidade à inundação, deficiência de oxigênio. Keywords: Pisum sativum L., drainage, waterlogging sensibility; oxygen deficiency (Recebido para publicação em 8 de outubro de 2002 e aceito em 18 de setembro de 2003) O cultivo de arroz irrigado é a prin cipal forma de exploração dos solos de várzea da região sul do Brasil. O plantio continuado desta cultura tem como conseqüência o aumento da infestação de invasoras, como o arroz vermelho e o arroz preto, o que pode impossibilitar o uso consecutivo da área. Normalmente, o método adotado para reduzir a infestação de invasoras é a ocupação da área por 2 a 3 anos com a pecuária de corte. Esta prática tem sido adotada com sucesso por muitas décadas, mas atualmente é considerada economicamente inviável, devido ao baixo rendimento dado a sub-utilização da área e da infra-estrutura. Neste contexto, situa-se como uma alternativa viável o plantio de culturas como aveia, batata, ervilha, feijão, milho, trigo e soja em rotação e, ou, em sucessão ao arroz irrigado. No entanto, estas culturas não estão adaptadas a variações extremas de umidade, provocadas por freqüentes inundações temporárias ou contínuas, ocasionadas principalmente por precipitações excessivas e pela deficiente drenagem natural. Nestas condições, o excesso de umidade interfere na aeração do solo, diminuindo a disponibilidade de oxigênio para a planta. A redução de O2 no solo causa distúrbios funcionais em toda a planta afetando principalmente, a absorção de água e de nutrientes pelas raízes (Glinski e Stepniewski, 1986). A deficiência de O2 nos solos inundados, especialmente nos solos ácidos, pode ocasionar toxidez às plantas, principalmente pelo excesso de Fe e Mn e pelo acúmulo de substâncias fitotóxicas como dióxido de carbono e etileno (Silva, 1986; Rodrigues et al., 1993). Em estudo realizado com milho, Cruciani (1985) constatou que após 2 horas de inundação, a concentração de CO2 elevou-se de 1 para 35,5% e em 216 horas a concentração de CO2 no solo aumentou para 64%. Em resposta à redução de O2 e do aumento da concentração de gases tóxicos no solo, a planta apresenta sintomas como murchamento, clorose das folhas, hipertrofia do caule, alterações morfoanatômicas, diminuição do crescimento e da produtividade e morte das raízes (Bradford e Yang, 1981; Kramer, 1983). As culturas apresentam diferentes tolerâncias ao excesso de umidade do solo. Espécies hidrófitas, como o arroz e algumas gramíneas, se desenvolvem normalmente em solos inundados. Por outro lado, as culturas mesófitas apresentam um comportamento variável em relação à falta de oxigênio. A tolerância à inundação do solo, apresentada por algumas culturas, pode estar relaciona- 1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor, Depto. Eng. Rural, ESALQ/USP 50 Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Efeitos de inundações temporárias do solo em plantas de ervilha da com a capacidade das plantas em desenvolverem sistemas de raízes adventícias, aerênquimas e espaços intracelulares maiores (Sena Gomes e Kozlowski, 1980; Kawase 1981). Estas modificações morfo-anatômicas permitem a difusão do oxigênio da parte aérea da planta para as raízes, mantendo temporariamente o processo de respiração aeróbia. Diferente de outras culturas mais tolerantes à inundação como milho e soja, a ervilha falha na produção de raízes adventícias (Jackson e Kowalewska, 1983). Testes de tolerância à inundações do solo durante o desenvolvimento de plantas de ervilha, indicaram elevada sensibilidade dessa cultura à inundação do solo por mais de 24 horas (Cannell et al., 1979). Ainda, foi constatado o surgimento de doenças como a podridão de raízes, causada por Fusarium solani f. pisi, Phytophthora spp, Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum e outros (McDonald e Dean, 1996). Cultivando ervilha em solo infestado com Fusarium oxysporum e Fusarium solani, Tu (1994) concluiu que a inundação dos solos pode ser um método efetivo para o controle do Fusarium. Segundo observações de Carvalho et al. (1980) e Ferreira e Garrido (1980), a ervilha pode ser uma opção para o aproveitamento de áreas de várzea no inverno. Contudo, ainda são poucas as informações a respeito do efeito do encharcamento do solo em leguminosas na literatura, ao contrário do que se conhece sobre o efeito do déficit hídrico. Neste trabalho avaliou-se o efeito da velocidade de rebaixamento do nível freático no desenvolvimento e na produtividade de plantas de ervilha, cv. Axé e o estádio de desenvolvimento da cultura com maior sensibilidade ao excesso de umidade no solo, dentro das condições experimentais propostas. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação do tipo arco com 8,0 m de largura, 20,0 m de comprimento e pé direito de 4,0 m, pertencente à ESALQ em Piracicaba (SP). As unidades experimentais foram constituídas Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 por tubos de concreto impermeabilizados com 0,4 m de diâmetro interno e 1,2 m de altura, adaptados especialmente para o experimento. Os mesmos foram preenchidos com solo classificado como Latossolo Vermelho, fase arenosa, série Sertãozinho, com 22% de argila, 8% de silte e 70% de areia. O solo foi retirado do seu perfil natural, na profundidade de 0 a 20 cm, previamente peneirado e homogeneizado. Para o cultivo da ervilha, cv. Axé, cada unidade experimental recebeu 16 kg de N; 100 kg de P2O5; 40 kg de K2O e 4 kg de boro e zinco por hectare, divididos em 4 aplicações: no plantio, após a emergência e em intervalos de 10 dias. A cultivar Axé (Embrapa Hortaliças) apresenta ciclo de desenvolvimento curto (80 dias), porte ereto e é mediamente resistente ao oídio. Antes da semeadura as sementes foram tratadas com uma mistura de fungicidas na dose de 4,0 g/ kg de sementes e foram inoculadas com inoculante turfoso na proporção de 0,4 kg/20 kg de sementes. Foram semeadas seis sementes por unidade experimental, na profundidade de 3 cm aproximadamente com o solo previamente umedecido. A semeadura ocorreu em 28/05/01 e o desbaste foi realizado vinte dias após a emergência (DAE), deixando-se três plantas por umidade. Para o controle do oídio e de pragas como tripes, pulgão da ervilha e lagarta falsa medideira, foram realizadas aplicações de defensivos agrícolas segundo as recomendações de Giordano (1997). A colheita foi realizada a partir de 80 DAE, quando as vagens apresentaram coloração verde clara. O efeito causado pelas diferentes velocidades de rebaixamento do nível freático (NF) foi obtido pela metodologia anteriormente utilizada por Cruciani (1985) com modificações. Os tratamentos consistiram na inundação do solo no estádio vegetativo (V) e reprodutivo (R) da cultura, seguido do rebaixamento progressivo do NF efetuado em 10; 20; 30; 40 e 60 cm por dia. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, arranjado em esquema fatorial (2x5) com 4 repetições, além do tratamento controle. As plantas foram submetidas ao estresse hídrico uma vez no momento em que atingiam o estádio fenológico estabelecido. A inundação das unidades no estádio vegetativo ocorreu aproximadamente aos 44 DAE, quando as plantas apresentavam as características do estágio IV descrito por Makasheva (1973) e no estádio reprodutivo quando as plantas apresentavam as características do estágio X, o que ocorreu aos 65 DAE. No momento da inundação, manteve-se uma lâmina de água de aproximadamente 2,0 cm acima da superfície do solo, durante 6 horas, com exceção do tratamento controle, que era somente irrigado. Para promover a inundação, reservatórios cilíndricos de PVC com 0,30 m de diâmetro, providos com chave bóia, foram instalados em suportes metálicos fixados por parafusos em caibros de madeira localizados ao lado de cada unidade. O manejo do NF era realizado por intermédio do rebaixamento do reservatório cilíndrico a cada 6 horas até a profundidade de 90 cm. Após, realizava-se a drenagem total do lisímetro. O controle da irrigação foi realizado por tensiômetros, instalados em uma das repetições de cada tratamento, na profundidade de 20 cm. O manejo da irrigação foi fundamentado em um turno de rega de 3 em 3 dias até o 15 DAE, aplicando-se em cada irrigação uma lâmina líquida de 6 mm. Posteriormente, a partir do 15 DAE, efetuou-se a irrigação somente quando o valor médio das leituras dos tensiômetros atingia o valor de –35 kPa (Marouelli et al., 1987). A temperatura do ar, a umidade relativa e a lâmina de água evaporada foram registradas utilizando-se aparelhos instalados em um abrigo meteorológico, localizado no interior da casa de vegetação. A evaporação da água foi medida diariamente com um atmômetro de cápsula de porcelana porosa de 100 mm de diâmetro. As variações da temperatura do ambiente e do solo foram registradas em um termohigrômetro digital. A temperatura do solo foi obtida por meio de um sensor instalado na profundidade de 10 cm em uma das unidades experimentais. Durante os tratamentos, a temperatura do solo era obtida por meio de geotermômetros instalados na profundidade 51 J. S. Sá et al. Tabela 1. Valores médios dos parâmetros biométricos obtidos de plantas de ervilha submetidas à inundação do solo no estádio vegetativo e reprodutivo da cultura de ervilha. Piracicaba, ESALQ, 2001. Médias seguidas por letras distintas diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade. ** significativo pelo teste F a 1% de probabilidade; ns = não significativo. Figura 1. Efeito dos rebaixamentos do NF na densidade de raízes. Piracicaba, ESALQ, 2001. ** significativo ao nível de 1% de probabilidade. de 10 cm, em duas repetições de cada tratamento. Os parâmetros produtivos analisados foram altura da planta (distância do solo até a borda superior da última folha estendida do ramo principal), massa seca da parte aérea da planta (pesagem de folhas, caule e ramos, após secagem complementar em estufa com circulação forçada de ar a 60-65oC até peso constante), densidade de raízes por planta (coleta de amostras no centro de cada unidade experimental na profundidade de 0-30 cm com auxílio de tubo metálico com diâmetro de 100 mm e 50 cm de comprimento), número de grãos produzidos e massa total de grãos por planta. Posteriormente, as amostras foram acondicionadas em recipiente juntamente com solução de 10% de álcool para a conservação das raízes. Para a separação das raízes utilizou-se o método de 52 Gottingen (Bohn, 1979). Após a separação, as raízes foram secas em estufa a 60oC e pesadas em balança de precisão de 0,1 mg. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o desenvolvimento das plantas a temperatura do ar no interior da casa de vegetação apresentou variações extremas de 4,8 a 37oC, sendo a temperatura média do ar, nesse período, de 22oC. Durante os tratamentos as temperaturas médias foram de 22,4 e 23 oC, no estádio vegetativo e reprodutivo respectivamente, abaixo do limite de 27oC, onde a produção de grãos é muito prejudicada pela queda de flores e de vagens (Giordano, 1997). Quanto à temperatura do solo, verificaramse variações semelhantes à temperatura do ar, porém com menor amplitude. A temperatura máxima e mínima observadas no solo foram de 33 e 7oC respectivamente, e a temperatura média de 20oC. A temperatura máxima do ar ocorria às 12 horas, enquanto no solo a máxima era registrada às 16 horas. Durante os tratamentos a temperatura no solo mantinha-se 2 a 4oC menor do que a registrada nas unidades não inundadas. Segundo Silva (1986), a temperatura dos solos inundados tende a ser mais estável, em relação aos solos secos. Esse comportamento também foi observado em feijão (Silva, 1982) e milho (Cruciani, 1985). Em solos inundados, temperaturas elevadas favorecem o aumento da atividade microbiológica do solo reduzindo ainda mais a concentração de O2 disponível para a planta e aumentando as concentrações de elementos tóxicos como CO2 e etileno. Em condições atmosféricas favoráveis à transpiração, o murchamento das folhas é o primeiro indício da deficiência de O2 no solo apresentado pelas plantas (Levitt, 1980), porém, quando as plantas foram submetidas ao encharcamento do solo no estádio vegetativo, não apresentaram sinais característicos da deficiência de O2, ao contrário do que observado quando os tratamentos ocorreram no estádio reprodutivo. Neste estádio as plantas submetidas ao excesso de água no solo apresentaram murchamento, amarelecimento e senescência prematura das folhas mais velhas, principalmente nas localizadas na ramificação principal. Estes sintomas, também foram observados por Cannell et al. (1979) em ervilhas submetidas à inundação total do solo por 24 horas, após o florescimento. Observou-se maior suscetibilidade das plantas ao excesso de umidade no solo no estádio reprodutivo do que no estádio vegetativo. Neste caso, os efeitos da inundação na absorção de água e de nutrientes foram mais severos nas plantas após o florescimento. Segundo Belford et al. (1980) os efeitos da inundação são mais drásticos nas plantas velhas do que em plantas novas devido ao comprometimento do sistema radicular. No entanto, verificaram-se que os danos nas raízes foram significativamente maiores quando a hipoxia ocorreu no estádio vegetativo da cultura (Tabela 1). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Efeitos de inundações temporárias do solo em plantas de ervilha Observou-se evidência significativa do efeito negativo da inundação do solo na densidade de raízes em todos os tratamentos quando comparadas com as plantas controle, demostrando certa sensibilidade da cultura mesmo quando submetida a curtos períodos de hipoxia. Em plantas de algodão e soja a interrupção do crescimento e a morte do ápice radicular ocorreram quando submetidas a períodos de inundação de 3 e 5 horas, respectivamente (Huck, 1970). A densidade de raízes variou linearmente com o período de submersão do sistema radicular da cultura (Figura 1). Os rebaixamentos do nível freático em 10 e 20 cm por dia apresentaram as menores densidades de raízes diferindo significativamente dos demais níveis. A inundação do solo não afetou significativamente o crescimento das plantas, independente do estádio de desenvolvimento das mesmas (Tabela 1). Porém as plantas submetidas aos tratamentos no estádio reprodutivo apresentaram uma estatura inferior à observada nos tratamentos aplicados no estádio vegetativo. A altura média das plantas variou de 61 a 65 cm com o rebaixamento do NF em 10 e 60 cm por dia, respectivamente. Os períodos de deficiência de O2 impostos em estádios de desenvolvimento da cultura de ervilha afetaram significativamente a produção de massa seca da parte aérea das plantas (Tabela 1), principalmente quando o estresse ocorreu após o florescimento. Neste estádio a massa seca acumulada foi 15% inferior à observada nas plantas controle. Já as plantas submetidas aos tratamentos no estádio vegetativo apresentaram uma redução de 7,5%. As menores produções de massa seca foram verificadas nas plantas submetidas ao rebaixamento do nível freático em 10 e 20 cm por dia, diferindo dos demais níveis. Assim como na densidade de raízes, a massa seca da parte aérea das plantas variou linearmente com os níveis de rebaixamento do NF, como apresentado na Figura 2. No estádio reprodutivo, o murchamento, amarelecimento e senescência prematura das folhas, ocasionados provavelmente pela aeração deficiente e pelo aumento da concentraHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 2. Efeito de níveis de rebaixamento do NF sobre a massa seca da parte aérea das plantas de ervilha. Piracicaba, ESALQ, 2001. ** significativo ao nível de 1% de probabilidade. Figura 3. Efeito do rebaixamento do NF na produtividade das plantas de ervilha submetidas à inundação do solo no estádio vegetativo () e no reprodutivo (z).Piracicaba, ESALQ, 2001. ** significativo ao nível de 1% de probabilidade. ção de substâncias tóxicas no solo, contribuíram para a redução substancial da massa seca da parte aérea das plantas. Resultados semelhantes foram observados em ervilha (Belford et al., 1980), em soja (Sallam e Scott, 1987; Sorte et al.,1995) e também em feijão (Singh et al., 1991). A inundação completa do sistema radicular das plantas por seis horas foi suficiente para afetar a produtividade da cultura, principalmente quando a hipoxia ocorreu após o florescimento (Tabela 1). Neste estádio, a redução da produtividade foi superior a 50% em relação à produtividade média verificada nas plantas não inundadas. No estádio vegetativo a produtividade variou de 48 a 87% da obtida nas plantas controle, sendo as maiores reduções verificadas nos tratamentos V10 e V20. O manejo do nível freático não minimizou as reduções de produtividade quando a inundação do solo ocorreu no estádio reprodutivo; entretanto, no estádio vegetativo, os rebaixamentos do nível freático em profundidades superiores a 20 cm por dia ocasionaram perdas de 20%. Em ambos estádios, a produtividade variou linearmente em relação aos 53 J. S. Sá et al. níveis de rebaixamento do NF, como apresentado na Figura 3. Os resultados indicam que os efeitos dos tratamentos na produtividade foram proporcionais ao tempo de permanência do sistema radicular submerso e variaram de acordo com o estádio de desenvolvimento da cultura, corroborando com afirmações de Kawase (1981) e Kramer (1983). A drástica redução da produtividade no estádio reprodutivo está relacionada com as alterações verificadas nas plantas principalmente com a redução da área fotossinteticamente ativa da planta ocasionada pelo amarelecimento e senescência das folhas (Wolfe, 1988). LITERATURA CITADA BELFORD, R.K.; CANNELL, R.Q.; THOMSON, R.J.; DENNIS, C.W. Effects of waterlogging at different stages of development on the growth and yield of peas (Pisum sativum L.) Journal of the Science of Food and Agriculture, v.31, p.857-869, 1980. BOHN, W. Methods of studing root systems. Berlin: Springer-Verlag, 189 p. 1979. BRADFORD, K.J.; YANG, S.F. 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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 PEREIRA, F.H.F.; PUIATTI, M.; MIRANDA, G.V.; SILVA, D.J.H.; FINGER, F.L. Divergência genética entre acessos de taro. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 55-60, jan-mar 2004. Divergência genética entre acessos de taro Francisco Hevilásio F. Pereira1; Mário Puiatti1; Glauco V. Miranda1; Derly José H. da Silva1; Fernando Luiz Finger1 UFV, Depto. Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; E-mail: [email protected] 1/ RESUMO ABSTRACT Avaliou-se a variabilidade existente entre 36 acessos de taro do Banco de Germoplasma de Hortaliças da Universidade Federal de Viçosa em componentes do rendimento, visando a identificação de acessos produtivos e divergentes para serem utilizados em programas de melhoramento. O experimento foi conduzido na horta de pesquisas da UFV, de 19/09/2000 a 13/06/2001. Utilizou-se o delineamento experimental blocos casualizados, com cinco repetições. A parcela foi composta de quatro fileiras de 4 m de comprimento, espaçadas por 1,0 m e, entre plantas, 0,5 m, totalizando 32 plantas. Avaliou-se a produtividade de rizomas comerciáveis/planta; peso médio de rizomas comerciáveis; número de rizomas comerciáveis/ planta; produtividades de rizomas-mãe, filho grande, filho médio, filho pequeno e refugo/planta. Os dados foram submetidos às análises por variáveis canônicas e de agrupamento pelo método de Tocher, adotando a distância generalizada de Mahalanobis (D2) como estimativa da similaridade genética. Os acessos foram separados em seis grupos, sendo que 80,56% dos mesmos constituíram um único grupo. Os acessos BGH 5916, BGH 6137 e BGH 6298 destacaramse pelo elevado potencial agronômico e pela divergência genética, o que os qualifica como promissores para serem utilizados em programas de melhoramento. As características com maior contribuição relativa para a divergência genética foram produtividade de rizomas filho grande/planta (42,50%), produtividade de rizomas filho pequeno/planta (24,67%) e produtividade de rizomas comerciáveis/ planta (16,95%). Palavras-chave: Colocasia esculenta, germoplasma, melhoramento, análise multivariada, produção. Genetic diversity in taro accessions The genetic similarity among 36 accessions of taro from the Horticultural Germplasm Bank of the Federal University of Viçosa, Brazil, was evaluated. The experiment was conduced from 09/19/ 2000 to 06/13/2001. The experimental design was a randomized block with five replicates and each plot consisted of four rows spaced 1.0 m apart with four meters in length and 0.5 m between plants within the row. Parameters such as yield of commercial rhizomes/ plant; yield of mother rhizomes; large, medium and small lateral rhizomes and non-commercial rhizomes/plant were measured. Data were analyzed using canonical variable and grouped by Tocher’s method, adopting general distance of Mahalanobis(D 2). The accessions formed six groups. A total of 80.56% of the accessions formed one single group. Accessions BGH 5916, BGH 6137 and BGH 6298 showed good agronomic potential and high genetic diversity compared to other accessions, being indicated for breeding progenitors. Yield of large lateral rhizomes/plant (42.50%), small rhizomes/plant (24.67%) and of commercial rhizomes/plant (16.85%) contributed to increase genetic diversity. Keywords: Colocasia esculenta, germplasm, breeding, multivariate analysis, yield. (Recebido para publicação em 24 de outubro de 2002 e aceito em 10 de outubro de 2003) O taro, Colocasia esculenta (L.) Schott, também conhecido como inhame no centro-sul do Brasil, é a principal hortaliça da família Araceae (Pedralli et al., 2002). É originário da Ásia, mais precisamente da Índia, Bangladesh e Myanma (ex-Burma). A diversificação ocorreu para os demais países Asiáticos, ilhas do Pacífico, continente Africano e, finalmente, para as regiões tropicais das Américas (Plucknett, 1983; Puiatti, 2002). O taro constitui-se em alimento básico para diversas populações distribuídas pelo mundo, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais úmidas (Wang, 1983; Rubatsky e Yamaguchi, 1997). Seus rizomas, além de apresentarem boa conservação pós-colheita, são fontes de carHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 boidratos, minerais e vitaminas (Hashad et al., 1956; Sunell e Arditti, 1983; Puiatti et al., 1990; 1992). Devido às características de rusticidade de cultivo e valor nutricional, o taro tem sido sugerido pela FAO (Food and Agriculture Organization), juntamente com outras espécies produtoras de tubérculos e raízes tuberosas, como cultura alternativa para aumentar a base alimentar em países em desenvolvimento (Puiatti, 2002). Dentre as plantas tropicais produtoras de raízes, tubérculos e rizomas, o taro ocupa o 4º lugar em volume produzido no mundo, com uma área plantada de 1.494 mil ha, produção de 8.976 mil toneladas e produtividade de 6.008 kg/ha (FAO, 2002). O amido é o principal componente do rizoma de taro, conhecido por apre- sentar grânulos relativamente pequenos, quando comparado ao de outras amiláceas, o que o torna rica fonte nutricional para humanos e animais, bem como suprimento comercial para muitas aplicações industriais (Nip, 1990). A digestibilidade dos rizomas do taro é elevada (97%), proporcionando eficiente liberação dos componentes durante a digestão e absorção desse alimento (Standal, 1983). O pouco conhecimento da floração do taro tem restringido o melhoramento genético da cultura aos métodos de coleta e de avaliação de clones existentes. Todavia, a exploração intensiva de taro nos recentes anos tem demandado cultivares mais produtivas. A hibridação interespecífica é a principal fonte de 55 F. H. F. Pereira et al. ampliação de variabilidade nos programas de melhoramento tradicional. Entretanto, em taro, os principais fatores que limitam a hibridação são as irregularidades do florescimento e as anormalidades de estruturas florais, que se intensificam com a aplicação de indutores de florescimento (Ivancic, 1995). Apesar destas dificuldades, existem híbridos interespecíficos de taro asiáticos de ocorrência natural (Ochiai et al., 2001). A divergência genética entre um grupo de genitores tem sido avaliada com o objetivo de identificar as combinações híbridas que possam ter maior efeito heterótico e maior heterozigose, de tal forma que, em suas gerações segregantes, se tenha maior possibilidade de identificar genótipos superiores (Cruz e Regazzi, 2001). No entanto, quando se dispõe de um número elevado de genótipos para avaliação (Oliveira et al., 1999), como comumente ocorre em bancos de germoplasma, ou houver dificuldades nas práticas de hibridação artificial, como é o caso do taro (Ivancic, 1995), estas combinações são difíceis. Dessa forma, a utilização de técnicas multivariadas é uma ferramenta que pode ser utilizada para minimizar essas dificuldades operacionais, com a vantagem destas permitirem combinar as múltiplas informações contidas na unidade experimental, possibilitando a caracterização dos genótipos com base em um conjunto de variáveis (Cruz e Regazzi, 2001), principalmente se o objetivo é o melhoramento de características quantitativas, como produção (Oliveira et al., 1999). O trabalho teve por objetivo avaliar a variabilidade existente entre 36 acessos de taro do Banco de Germoplasma de Hortaliças da Universidade Federal de Viçosa (BGH/UFV), em componentes de rendimento, visando a identificação de acessos produtivos e divergentes para serem utilizados em programas de melhoramento. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido em campo, na UFV, de 19/09/2000 a 13/06/ 2001. A área experimental apresenta topografia suave com ligeira inclinação e o solo classificado como Podzólico Ver56 melho-Amarelo Câmbico, fase terraço. As análises químicas e granulométricas de amostras de solo revelaram: pH (H2O) = 5,9; H + Al = 2,3, Ca = 1,7 e Mg = 0,7 cmolc dm-3; Na = 4, K = 125 e P = 59 mg dm-3; areia grossa = 29, areia fina = 15, silte = 17 e argila = 39 dag kg-1. O preparo do solo constou de aração e gradagem, sulcamento em linhas, espaçadas de 1,0 m, com profundidade de aproximadamente 0,12 m. A parcela foi composta de quatro fileiras espaçadas de 1,0 m, com quatro metros de comprimento, com as plantas espaçadas a 0,5 m, totalizando 32 plantas e a área de 16,0 m2. Foram consideradas como área útil as duas fileiras centrais, excluindose 0,5 m das extremidades. As parcelas foram distanciadas, uma das outras, de 1,0 m nas extremidades e de 2,0 m nas laterais. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com 36 tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos foram constituídos de 36 acessos de taro do Banco de Germoplasma de Hortaliças/UFV (Tabela 1). Não foram realizadas adubações de plantio nem de cobertura e nenhum tipo de controle químico. As irrigações, quando necessárias, foram realizadas semanalmente, por aspersão, e a lâmina de água aplicada, em cada irrigação, de 40 mm, considerada satisfatória para atender às necessidades da cultura de taro (Soares, 1991). Foram realizadas, durante o ciclo de cultivo, quatro capinas com auxílio de enxada nas linhas e de cultivador de enxadas de tração animal, nas entrelinhas, aos 40; 75; 130 e 215 dias após o plantio, respectivamente. A colheita foi realizada aos nove meses após o plantio, quando as plantas estavam com a parte aérea seca. Os rizomas-mãe, foram separados, e os rizomas-filho, após classificados, foram contados e pesados. Os rizomas-filho foram classificados, com base no diâmetro transversal, de acordo com Puiatti et al. (1990), nas classes filho grande (>47 mm), filho médio (40-47 mm), filho pequeno (33-40 mm) e refugo (<33 mm). Considerou-se como comerciáveis o somatório das classes de rizomas-filho grande, médio e pequeno. A produção total consistiu do somatório das produções de rizomas-mãe e de todas as classes de rizomas-filho. Avaliou-se a produtividade de rizomas comerciáveis por planta, peso médio de rizomas comerciáveis, número de rizomas comerciáveis por planta e produtividade de rizomas em classes: filho grande, médio, pequeno e refugo. A análise da divergência genética foi feita por meio das técnicas de variáveis canônicas e de agrupamento. Na análise de variáveis canônicas utilizaram-se as matrizes de covariância residual e fenotípica entre as características avaliadas. Quando se utiliza este procedimento, é comum a transformação das variáveis originais em variáveis padronizadas e não correlacionadas, de modo que a matriz de dispersão se iguala à identidade (Miranda et al., 1999; Cruz e Regazzi, 2001). A técnica consiste em transformar as variáveis avaliadas em um novo conjunto de variáveis, que são funções lineares das médias das características avaliadas nos acessos. O número de variáveis canônicas é igual ou menor ao valor mínimo entre o número de características e o número de graus de liberdade de tratamentos. Um valor numérico (escore) de cada variável é calculado para cada um dos acessos. Com estes escores, constrói-se um gráfico de dispersão, que permite a avaliação da divergência genética (Miranda et al., 1999; Cruz e Regazzi, 2001). Para a análise de agrupamento utilizou-se o método de otimização de Tocher, adotando-se o critério de que a média das medidas de divergência dentro de cada grupo deve ser menor que as distâncias médias entre quaisquer grupos (Cruz e Regazzi, 2001). A contribuição relativa de cada característica para a diversidade entre os acessos foi avaliada pela metodologia descrita por Singh (1981), a qual se baseia na partição do total das estimativas das distâncias D2 de Mahalanobis, considerando todos os possíveis pares de genótipos, para as partes devidas a cada característica. Esta contribuição foi avaliada pelo valor de Sj. As análises de variância, bem como os cálculos das variáveis canônicas, agrupamento e contribuição relativa de cada característica para a divergência entre os acessos, foram realizadas utilizando-se o programa computacional GENES (Cruz, 2001). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Divergência genética entre acessos de taro Tabela 1. Dados de passaporte dos acessos de taro pertencentes ao Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFV. Viçosa, UFV, 2000-01. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os efeitos dos acessos foram significativos (P<0,05) pelo teste F para todas as características avaliadas (Tabela 2). Esses resultados indicam a existência de variabilidade genética e, conseqüentemente, a possibilidade de se obterem ganhos genéticos para as características em avaliação. De acordo com a distância D2 de Mahalanobis, considerando as oito características avaliadas, os acessos BGH 5928 e BGH 6088 apresentaram a menor (0,30) e os acessos BGH 5914 e BGH 5927 a maior distância genética (77,94). A maior distância média em relação ao conjunto de acessos foi obtida pelo acesso BGH 5927 com D2 médio (44,29) superior à média das distâncias considerando todos os pares de acessos (18,83). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 A análise de agrupamento, utilizando o método de otimização de Tocher, com base nas distâncias D 2 de Mahalanobis, dividiu os acessos em seis grupos divergentes (Tabela 3), destacando-se o grupo I com 29 acessos (80,56% do total de acessos) e os demais sete acessos distribuídos nos grupos II, III, IV, V e VI (Tabela 3). A concentração de indivíduos em um grupo e dispersão dos demais em grupos diversos torna evidente a ampla diversidade dos genótipos. Embora a variabilidade dentro do grupo seja minimizada pela técnica de agrupamento, existem distâncias estimadas de elevada magnitude entre pares de genótipos do grupo que apresentou 29 acessos, como entre os acessos BGH 5914 e BGH 6092 (D2 = 40,93). Este comportamento indica que existe acentuada variabilidade dentro deste grupo, e que, justifica-se o reagrupamento. Deste modo, procedeu-se à redistribuição dos acessos do grande grupo, estabelecendose 12 subgrupos, onde se destacaram seis, constituídos por apenas um genótipo cada (Tabela 3). Pandey e Dobhal (1997), também em taro, encontraram valores de D2 intragrupos que variaram de 9,1 a 27,4, não justificando, portanto, no trabalho desses autores um reagrupamento dos mesmos, apesar de alguns grupos apresentarem alta concentração de genótipos. Para complementar a análise de agrupamento, procedeu-se à dispersão dos genótipos em coordenadas cartesianas, de modo que a posição relativa dos acessos possa ser visualizada. As duas primeiras variáveis canônicas representaram 71,85% da variação total. Cruz e Regazzi (2001) recomendam que no caso das duas primeiras variáveis não representarem o mínimo de 80% da variação total, torna-se necessário complementar a análise com a dispersão gráfica em relação à terceira ou até mesmo, a quarta variável canônica. 57 F. H. F. Pereira et al. Tabela 2. Produtividade de rizomas comerciáveis por planta (PC), Peso médio de rizomas comerciáveis (PMRC), número de rizomas comerciáveis por planta (NRCP), produtividade de rizomas-mãe (PRM), filho grande (PRFG), filho médio (PRFM), filho pequeno (PRFP) e refugo (PREF) de acessos de taro do BGH/UFV. Viçosa, UFV, 2000-01. CA - código dos acessos, J - japonês e C - chinês (acessos plantados comercialmente). Neste trabalho, como as três primeiras variáveis canônicas representaram 82,57% da variação total, os resultados de dispersão gráfica foram avaliados em relação às variáveis canônicas VC1, VC2 e VC3 (Figura 1). 58 Na Figura 1, observa-se que existe ampla distribuição dos acessos no espaço tridimensional. Assim, os acessos mais distantes em relação ao conjunto foram 11 (BGH 5927), 15 (BGH 6086) e 31 (BGH 6315). Por outro lado, os demais acessos formam conjuntos mais homogêneos no que diz respeito à diversidade genética. Desta forma, são indicados os cruzamentos entre acessos que possuem altas médias para produtividade de rizomas comerciáveis por planta e estejam mais distantes no espaço tridimensional. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Divergência genética entre acessos de taro Figura 1. Gráfico de dispersão das três primeiras variáveis canônicas [VC1 (x1), VC2 (x2) e VC3 (x3)] em relação aos 36 acessos de taro, de acordo com o código da Tabela 2. Viçosa, UFV, 2000-01. Tabela 3. Agrupamento dos 36 acessos de taro obtido pelo método de otimização de Tocher utilizando a distância generalizada de Mahalanobis. Viçosa, UFV, 2000-01. Observou-se concordância entre a análise de variáveis canônicas e o método de otimização de Tocher (Figura 1 e Tabela 3). Todos os acessos que se mostraram dispersos no espaço tridimensional da Figura 1 apresentaram-se nos grupos divergentes de II, III, V e VI no método de Tocher. Estes resultados evidenciam que as variáveis canônicas devem representar um míniHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 mo de 80% da variação total, para que seja viável o estudo da divergência genética por meio das distâncias geométricas entre genitores em gráficos de dispersão, cujas coordenadas são escores relativos às primeiras variáveis canônicas (Cruz e Regazzi, 2001). No entanto, no presente trabalho o agrupamento de Tocher mostrou-se de mais fácil interpretação, devido ao grande número de acessos. Além de permitir o estudo da divergência genética por meio das distâncias geométricas entre genitores em gráficos de dispersão, a análise das variáveis canônicas permite o descarte daquelas características que contribuíram pouco para a variabilidade genética apresentada entre os acessos, possibilitando economia de tempo, mão-de-obra e recursos financeiros em futuros estudos. Dessa forma, são descartadas aquelas características que apresentaram o maior coeficiente de ponderação nas variáveis canônicas menos importantes, ou seja, nas últimas variáveis. De acordo com essa premissa, a variável produtividade de rizomas filho médio/planta pode ser descartada. Com base no critério proposto por Singh (1981), as variáveis que menos contribuíram para divergência entre os acessos, além da produtividade de rizomas-filho médio/planta (2,16%) foram produtividade de rizomas refugo/ planta (2,73%), peso médio de rizomas comerciáveis (3,46%), produtividade de rizomas-mãe/planta (3,48%) e número de rizomas comerciáveis/planta (4,05%). As variáveis produtividades de rizomas comerciáveis, filho grande e filho pequeno/planta contribuíram com 84,12% da variabilidade genética entre os acessos. A baixa contribuição para a divergência genética da produtividade de rizomas-filho médio/planta e alta nas produtividades de rizomas-filho grande e pequeno/planta, pode ser explicada pelo fato de que estas últimas representam os extremos na classificação de rizomas comerciáveis de taro. Desta forma, a produtividade de rizomas-filho médio/planta, por ser uma classe intermediária, a produtividade desse tipo de rizoma apresenta comportamento homogêneo entre os acessos. Em programas de hibridação devese considerar, para boa estratégia de escolha, não apenas a diversidade genética mas também o desempenho agronômico de cada genótipo. Esse comportamento foi verificado nos acessos BGH 5916, BGH 6137 e BGH 6298 que se destacaram pela diversidade em relação aos demais acessos e pelo elevado potencial agronômico, o que os qualifica como promissores para serem utilizados em programas de melhoramento. Por outro lado, cruzamentos visando aumento em produtividade, entre acessos de um mesmo grupo, devem ser evitados devido à elevada similaridade expressada entre os mesmos. Esse raciocínio também é válido para as seguintes características: produtividade por planta das classes de rizomas-filho médio, mãe e refugo, peso médio de rizomas comerciáveis e número de rizomas comerciáveis/planta, em razão da pequena variação expressada entre os genótipos quanto a essas características, apesar de algumas delas, como por exemplo o número de rizomas comerciáveis/planta, serem características desejáveis quando o objetivo é obtenção de materiais com elevado potencial produtivo. LITERATURA CITADA CRUZ, C.D. Aplicativo computacional em genética e estatística, Viçosa: UFV, 2001, 648 p. CRUZ, C.D.; REGAZZI, A.J. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. 2 ed. Viçosa: Imprensa Universitária, 2001. 390 p. 59 F. H. F. Pereira et al. FAO. FAO statistical database. Disponível em <http//www.fao.org>. Acesso em 24/07/2002. HASHAD, M.N.; STINO, K.R.; EL-HINNAMY, S.I. Transformation and translocation of carboidrates in taro plants during growth. 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No primeiro, realizado de janeiro a agosto/98, estudaram-se, numa matriz baconiana, doses de uréia, superfosfato triplo e cloreto de potássio (0; 40; 80; 120; 160 e 200 kg/ha de N; 0; 50; 100; 150; 250 e 400 kg/ha de P2O5 e 0; 40; 80; 120; 200; 280 kg/ha de K2O, densidades de plantio (55.556; 41.667 e 33.333 plantas/ha, no espaçamento de 0,60 m entre linhas e 71.428; 47.619 e 35.714 plantas/ha no espaçamento de 0,70 m entre linhas) e parcelamentos da adubação nitrogenada [toda no plantio, 1/2 no plantio e 1/2 aos três meses após o plantio (AP), 1/ 3 no plantio, 1/3 aos dois meses e 1/3 aos quatro meses AP, 1/4 no plantio, 1/4 a um mês e meio, 1/4 aos 3 meses e 1/4 aos quatro meses e meio AP. No segundo experimento, realizado de dezembro/ 99 a setembro/00, estudaram-se, num fatorial de 2 x 4, dois espaçamentos entre linhas (0,60 e 0,80 m) e seis espaçamentos entre plantas na linha (0,05; 0,10; 0,15; 0,20; 0,30 e 0,40 m). O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições. A produtividade de rizomas frescos aumentou, em função do N, de 12.130 kg/ha, com a dose zero, até o máximo de 16.124 kg/ha, com a dose de 130 kg/ha; e em função do P, de 12.799 kg/ha, com a dose zero, até o máximo de 15.763 kg/ha com a dose de 177 kg/ha de P2O5. O K e o parcelamento de N não influenciaram a altura das plantas e a produção de rizomas. A produtividade decresceu de 25 t/ ha, obtida com o espaçamento de 5 cm entre plantas, para 18 t/ha com o espaçamento de 40 cm. Os ganhos de produtividade obtidos em espaçamentos menores que 10 cm não superaram as diferenças de gastos de rizomas para os respectivos plantios. Growth and production of turmeric as a result of mineral fertilizer and planting density Palavras-chave: Curcuma longa, açafrão, população de plantas, adubação, plantas medicinais. Turmeric growth and production as a result of mineral fertilizer and planting density were evaluated through two experiments carried out at the Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brazil. The first experiment was carried out from January to August 1998. Doses of urea, triple superphosphate and potassium chloride were the treatments (0; 40; 80; 120; 160 and 200 kg/ha of N; 0; 50; 100; 150; 250 and 400 kg/ha of P2O5 and 0; 40; 80; 120; 200 and 280 kg/ha of K2O), planting densities (55,556; 41,667 and 33,333 plants/ha, spaced 0.60 m between rows and 71,428; 47,619 and 35,714 plants/ha spaced 0.70 m between rows) and N splitting on side dressing applications [all at planting date (PD); 1/2 at PD and 1/2 three months later; 1/3 at PD, 1/3 two months and 1/3 four months later; 1/4 at PD, 1/4 a month and a half later, 1/4 three months and 1/4 four months and a half later]. The second experiment was carried out from December 1999 to September 2000. and the treatments tested were two row spacings (0.60 and 0.80 m) and six within-row spacings (0.05; 0.10; 0.15; 0.20; 0.30 and 0.40 m), displayed in a factorial 2 x 4. The experimental design was a complete randomized block with four replicates. The yield of fresh rhizomes increased as a result of N application from 12,130 kg/ha with dose zero, to 16,124 kg/ha with the dose of 130 kg/ha, and as a function of P application from 12,799 kg/ha, with dose zero, to 15,763 kg/ha with the dose of 177 kg/ha of P2O5. K and the splitting of N did not affect plant height and the production of rhizomes. The yield decreased from 25 t/ha in the 0.05 m within-row spacing to 18 t/ha in 0.40 m spacing. Productivity increase obtained in within-row spacing smaller than 0.10 m did not overcome the higher expenses with rhizomes for the respective plantings. Keywords: Curcuma longa, turmeric, plant population, mineral fertilizer, medicinal plants. (Recebido para publicação em 30 de outubro de 2002 e aceito em 10 de outubro de 2003) A crescente utilização da cúrcuma (Curcuma longa L.) na indústria de alimentos tem despertado interesse na expansão dessa cultura e obtenção de produto de melhor qualidade e mais competitivo no mercado. No município de Mara Rosa (GO), essa cultura tem sido conduzida por pequenos produtores e, normalmente, empregando mão-de-obra familiar, constituindo im- portante fonte de renda para a população. Seu cultivo tem sido feito de forma empírica, somente com experiências de produtores. Na literatura poucos trabalhos têm sido desenvolvidos, não somente nas condições locais, como também no Brasil. Com relação ao espaçamento de plantio, Carvalho et al. (2001), em Lavras (MG), estudando distâncias entre linhas e entre plantas, encontraram maior produtividade de rizomas no espaçamento de 0,20 m entre plantas, mas não houve influência do espaçamento entre linhas. Cecílio Filho (1996), estudando épocas de plantio e espaçamentos entre plantas, encontrou interação entre estes fatores, com curva quadrática de resposta de produção de rizomas por área nos plantios de outubro 1 Trabalho financiado pelo CNPq. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 61 N. F. Silva et al. e novembro, e curva linear decrescente nos plantios de dezembro e janeiro. Outros fatores que têm contribuído para o aumento de produtividade são os níveis de adubação química e/ou orgânica. Segundo Peter (1998), na Índia as recomendações de adubação ficam em torno de 280; 155 e 325 kg/ha de N, P e K, respectivamente. Estas quantidades incluem nutrientes da adubação orgânica e mineral e resultam em produtividade média de 10,7 t/ha; já Sadanadan (1994) aponta como ótimas as aplicações de 60; 30 e 90 kg/ha de N, P e K, respectivamente, para essa cultura. Rama-Rao e Reddy (1977), utilizando a cultivar CL 326, obtiveram respostas de produção para N até 375 kg/ha, para P até 175 kg/ha de P2O5 e para K até 237,5 kg/ha de K2O, com produtividade média variando de 24,73 a 39,88 t/ha de rizomas frescos. Porém, Saha (1988), utilizando a cutivar CL 328, comparando ausência de fertilizantes, adubação orgânica com 50 t/ha de esterco bovino, adubação mineral com 90 kg/ha de N, 60 kg/ha de P2O5 e 90 kg/ha de K2O e associação da adubação orgânica com mineral, obteve resposta de produção com produtividade média variando de 4,67 t/ha, sem fertilizantes, a 11,73 t/ha com adubação orgânica isolada. No Brasil, Goto (1993), estudando épocas de plantio e adubação, relata que em solo com 42 mg/cm3 de P, a resposta de produção de rizomas pelo efeito de adubação fosfatada foi baixa, inferindo que em solos com teores semelhantes, a cultura responde pouco ao P aplicado ao solo. Goto e Castellane (1996), estudando adubação nitrogenada, obtiveram resposta positiva com 30 kg/ha de N, mas não com 60 kg/ha. Silva et al. (2001), cultivando cúrcuma em Latossolo Vermelho Amarelo de fertilidade média, relataram que a irrigação aumentou a produção de rizomas e pó de cúrcuma, mas as doses de adubo mineral NPK no plantio (até 1.000 kg/ha de 4-14-8) não influíram no crescimento das plantas e na produção de cúrcuma. Os solos mais utilizados para o cultivo de cúrcuma em Mara Rosa são de boa fertilidade natural, chamados de “terra de cultura”. Como os trabalhos citados anteriormente foram realizados 62 em condições de clima e solo diferentes das ocorrentes nesta região, surgiu a necessidade de se estudar os fatores adubação e população de plantas de cúrcuma nas condições edafoclimáticas do estado de Goiás, de modo a contribuir para o aprimoramento das recomendações técnicas para a cultura de cúrcuma. O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento e a produção da cúrcuma, em função da adubação nitrogenada, fosfatada e potássica, da densidade de plantio e do parcelamento da adubação nitrogenada. MATERIAL E MÉTODOS Foram conduzidos dois experimentos em condições de campo, na Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. O primeiro realizado de janeiro a agosto/ 98, estudando os fatores (a) doses de N (0; 40; 80; 120; 160 e 200 kg/ha); (b) doses de P2O5 (0; 50; 100; 150; 250 e 400 kg/ha); (c) doses de K2O (0; 40; 80; 120; 200; 280 kg/ha); (d) densidades de plantio (55.556; 41.667 e 33.333 plantas/ha, no espaçamento de 0,60 m entre linhas e 71.428; 47.619 e 35.714 plantas/ha no espaçamento de 0,70 m entre linhas) e (e) parcelamento da adubação nitrogenada [toda no plantio; 1/2 no plantio e 1/2 aos três meses após o plantio (AP); 1/3 no plantio, 1/3 aos dois meses e 1/3 aos quatro meses AP; 1/4 no plantio, 1/4 a um mês e meio, 1/4 aos 3 meses e 1/4 aos quatro meses e meio AP. Os tratamentos, em número de 24, foram arranjados em uma matriz experimental do tipo Baconiana, como relatado por Vieira e Lima (1987) e dispostos no delineamento de blocos casualizados com quatro repetições. A parcela experimental foi constituída de quatro linhas de plantas com quatro metros de comprimento, sendo consideradas úteis as duas linhas centrais excluindo-se 0,5 m das extremidades de cada linha. As respostas às doses de N, P e K foram analisadas por meio de regressão, enquanto as respostas aos tratamentos de densidades de plantio e épocas de adubação através da comparação de médias pelo teste de Tukey. Foram uti- lizados uréia, superfosfato triplo e cloreto de potássio como fontes de nitrogênio, fósforo e potássio, respectivamente. Foram aplicados 50 kg/ha de FTE BR-12, em toda a área experimental. De acordo com os tratamentos, a adubação de plantio foi distribuída e incorporada no sulco imediatamente antes do plantio e a de cobertura, de acordo com o parcelamento de N, foram feitas aplicando-se as respectivas quantidades do adubo entre as linhas de plantas. Os resultados das análises de fertilidade, de amostras do solo do primeiro experimento coletadas na profundidade de 0 a 20 cm, no local experimental, são: 4,2% de M.O.; 6,5% de pH em água; 21,3 mg/dm3 de P e teores de 4,0; 4,1; 2,0; 2,4 e 12,5 cmolc/dm3 de K, Ca, Mg; H+Al e CTC, respectivamente. A análise física mostrou teores de 61, 10 e 29% de areia, silte e argila, respectivamente, indicando tratar-se de solo franco argilo arenoso. O segundo experimento foi conduzido de dezembro/99 a setembro/00, estudando-se dois espaçamentos entre linhas (0,60 e 0,80 m) e seis espaçamentos entre plantas na linha (0,05; 0,10; 0,15; 0,20; 0,30 e 0,40 m) arranjados em fatorial de 2 x 4 com quatro repetições, no delineamento de blocos casualizados, com parcelas de quatro linhas de plantas com quatro metros de comprimento. Foram consideradas úteis as plantas dos três metros centrais das duas linhas internas. O plantio foi feito na profundidade média de 5,0 cm e utilizando-se rizomas secundários, com peso médio de 13 g no primeiro experimento e 15 g no segundo. Foram estudados o gasto de rizomas para plantio, altura de plantas aos 100 dias no primeiro experimento e aos 60 e aos 100 dias no segundo experimento e produção de rizomas frescos após a colheita e produção de rizomas secos após secagem em estufa a 60oC até peso constante, nos dois experimentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO No primeiro experimento, a altura das plantas foi influenciada apenas pelas doses de N, ocorrendo aumento de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Crescimento e produção de cúrcuma (Curcuma longa L.) em função de adubação mineral e densidade de plantio acordo com as doses segundo a equação com R2 = 0,71, sendo a maior altura (71 cm), obtida com a dose de 200 kg/ha de N. Segundo Marschner (1995), esse crescimento da parte aérea pode retardar e até reduzir o armazenamento de fotoassimilados em raízes, tubérculos e rizomas. As doses de N aumentaram, num efeito quadrático, a produção de rizomas frescos, até atingir o máximo estimado de 16.124 kg/ha com a dose média de 130 kg/ha, correspondendo a 33% de aumento na produção em relação à sua ausência. Porém, esse efeito não foi observado na produção de rizomas secos que é a forma comercializada (Figura 1). A maior produção de rizomas frescos, em função do N foi, em parte, devido ao teor de umidade dos rizomas estimado pela equação com R2 = 0,88, que cresceu de 77,87% na dose zero de N até 79,59% na dose de 200 kg/ha. Apesar do crescimento da parte aérea em altura e dos rizomas em peso fresco, devido ao N, não se constatou diferenças de peso seco nos rizomas. Esse crescimento dos rizomas em peso fresco foi em função do maior teor de umidade. Marschner (1995) afirma que a adubação nitrogenada em algumas culturas rizomatosas nem sempre resulta em maior crescimento de matéria seca no rizoma. Em algumas culturas tuberosas, a produção de rizomas e raízes nem sempre acompanha o crescimento vegetativo devido a adubações nitrogenadas (Raij, 1991). A produção de rizomas frescos, em função das doses de P, foi melhor ajustada ao modelo raiz quadrático, crescendo de 12.799 kg/ha na dose zero, até atingir o ponto máximo de 15.763 kg/ ha na dose de 177 kg/ha, correspondendo a um aumento de 23% (Figura 2). O solo utilizado nesse ensaio apresentava teores médios de P contribuindo para esse aumento na produção. De modo semelhante ao nitrogênio, o fósforo não influenciou a produção de rizomas secos, porém esse mesmo nutriente não influenciou significativamente o teor de umidade dos rizomas colhidos. Goto (1993), também encontrou pequeno efeito de adubação fosfatada no desenvolvimento de cúrcuma, sugerindo que a cultura seja pouco exigente em fósforo. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Produtividade de matéria fresca e seca de rizomas de cúrcuma (Curcuma longa L.), em função de doses de N. Goiânia, UFG, 1998. Figura 2. Produtividade de matéria fresca e seca de rizomas de cúrcuma (Curcuma longa L.), em função de doses de P2O5. Goiânia, UFG, 1998. Não foram observados efeitos significativos das doses de K e do parcelamento de N nas características avaliadas. O solo utilizado nesse ensaio apresentava teores altos de K, o que contribuiu para a ausência de efeito significativo das doses de K nas características avaliadas. Nas condições da Índia, com baixos teores de K no solo, como relatado por Sadanadan (1994) e Peter (1998), esse elemento parece ser um dos mais importantes na adubação dessa cultura. De modo geral, a cultura de cúrcuma tem mostrado fracas respostas de produção de rizomas à aplicação de fertili- zantes minerais (Goto, 1993; Silva et al., 2001); uma das possíveis causas pode ser o fato de que a cultura, sendo propagada por via vegetativa, tenha acumulado doenças viróticas e outras sem sintomas claros, que limitam o potencial produtivo, à semelhança do que ocorre com a cultura de batata (Câmara e Filgueira, 1986). A cultura de ápices caulinares “in vitro” pode originar material propagativo com melhor qualidade fitossanitária que apresente melhores respostas à adubação. No segundo experimento o efeito sobre a altura das plantas (Figura 3), foi 63 N. F. Silva et al. Figura 3. Altura de planta de cúrcuma (Curcuma longa L.), aos 60 dias após o plantio, em função do espaçamento entre plantas na linha. Goiânia, UFG, 2000. Figura 4. Gasto de rizomas “semente” no plantio e produção de rizomas na colheita de cúrcuma (Curcuma longa L.), em função do espaçamento entre plantas na linha. Goiânia, UFG, 2000. melhor explicado pelo modelo raiz quadrático, que apontou decréscimo, partindo de 38 cm no espaçamento de 0,05 m para o ponto mínimo de 32 cm no espaçamento de 0,20 m, provavelmente devido ao efeito de concorrência pela luz entre as plantas, também decrescente com o aumento do espaçamento. A partir do espaçamento de 0,20 m até 0,40 m, as plantas mostraram tendência de crescimento em altura em função da maior disponibilidade de espaço para as plantas, nesse caso talvez devido à maior 64 disponibilidade de luz e de outros fatores. Nesse experimento, a altura das plantas, avaliada aos 100 dias, não foi influenciada pelas densidades de plantio. É possível que o perfilhamento das plantas, não avaliado nesses experimentos, que normalmente ocorre entre 60 a 100 dias após o plantio, seja um fator que compense em parte espaçamentos de plantio maiores. No segundo experimento, a produtividade de rizomas frescos foi significativamente influenciada apenas pelo fator espaçamento entre plantas, decrescendo com o aumento dos espaçamentos de plantio, segundo a função potencial apresentada na Figura 4. Os dados mostraram uma tendência de estabilização da produtividade de rizomas entre os espaçamentos de 0,15 a 0,40 m. É possível que nessa faixa de espaçamento o perfilhamento das plantas tenha compensado os espaçamentos maiores. Cecílio Filho (1996), estudando diferentes densidades de plantio de cúrcuma, observou que a produção de rizomas dependeu da época de plantio e que o peso de matéria seca do rizoma, nos plantios realizados em dezembro e janeiro, não variou com as densidades de plantio de 62.500; 35.714 e 25.000 plantas ha-1, concordando com os resultados encontrados neste trabalho. Na Figura 4 também é apresentada a estimativa de gasto de rizomas em função dos espaçamentos de plantio. Verificou-se que o ganho de produção pela redução do espaçamento de 0,10 m para 0,05 m na linha de plantio não superou, significativamente, os gastos de rizomas no plantio. Considerando ainda o transporte e a mão-de-obra para plantar maior quantidade de rizomas em espaçamentos menores, os ganhos de produção podem, às vezes, não ser compensadores. Assim, parecem mais adequados espaçamentos de plantio entre plantas na linha não menores que 10 centímetros, que resultam em gastos de rizomas (peso médio de 15 g) em torno de 2,5 t/ ha. Govinden e Cheong (1995), estudando tipos e quantidade de rizomas para o plantio de cúrcuma, encontraram, como ótimo, 3 t/ha, independente do tipo de rizoma. Nas condições dos experimentos relatados, concluiu-se que o nitrogênio aumenta até 33% e o fósforo em até 23%, a produtividade de rizomas frescos, mas não influenciaram a produtividade de rizomas secos. O potássio e o parcelamento de N não influenciam, significativamente, a altura das plantas e a produção de rizomas. Espaçamentos de plantio menores que 0,15 m entre plantas resultam em maior produtividade, mas os ganhos de produtividade não compensam os gastos com rizomas no plantio, em espaçamentos menores que 0,10 m entre plantas. Os espaçamentos Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Crescimento e produção de cúrcuma (Curcuma longa L.) em função de adubação mineral e densidade de plantio entre linhas estudados não influenciam significativamente a produção de rizomas. LITERATURA CITADA CÂMARA, F.A.; FILGUEIRA, F.A.R. Comportamento de cultivares européias de batata em gerações sucessivas. Horticultura Brasileira, Brasília, v.4, n.1, p.7-9, 1986. CARVALHO, C.M.; SOUZA, R.J.; CECÍLIO FILHO, A.B. Produtividade da cúrcuma (Curcuma longa L.) cultivada em diferentes densidades de plantio. Ciência e Agrotecnologia, n.25, v.2, p.330335, 2001. CECÍLIO FILHO, A.B. Época e densidade de plantio sobre a fenologia e o rendimento da cúrcuma (Curcuma longa L.). Lavras: Faculdade de Engenharia Agrícola. 1996. 100 p. (Tese doutorado) GOTO, R. Épocas de plantio, adubação fosfatada e unidades térmicas em cultura de açafrão (Curcuma longa L.). Jaboticabal: Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 1993. 93 p. (Tese doutorado). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 GOTO, R.; CASTELLANE, P.D. Sistema de cultivo e adubação nitrogenada em cobertura na cultura de açafrão (Curcuma longa L.). In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE RAIZES TROPICAIS, 1., CONGRESSO BRASILEIRO DE MANDIOCA, 9., 1996, São Pedro, SP. Anais... 1996. p. 156. GOVINDEN, N.; CHEONG, K.W.Y. Matériel de plantation et taux optimum de semences du curcuma. Revue Agricole et Sucriere de l´Ile Maurice. v.74, n.3, p.1-8,1995. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2. ed. London: Academic Press, 1995. 889 p. PETER, K.V. Spices research in India. Indian Journal of Agricultural Sciences, v.68, n.8, p.527532, 1998. RAMA-RAO, M.; REDDY, V.R. Effect of different levels of nitrogen, phosphorus, and potassium on yield of turmeric (Curcuma longa L.). Journal of Plantation Crops, v.5, n.1, p.6062, 1977. SADANADAN, A.K. Doubling our production of spices aiming through infrastructure spread and research: AICRP Spices. 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Ciências Exatas, 2Depto. Produção Vegetal, 14884-900 Jaboticabal-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Estudou-se a interação genótipo x ambiente de doze cultivares de alface, sendo quatro do grupo lisa (Babá de Verão, Karla, Nacional e Elisa), quatro do grupo crespa (Simpson, Hortência, Verônica e Grand Rapids) e quatro do grupo americana (Laidy, Tainá, Lucy Brown e Raider). Os tratamentos foram constituídos pelo cultivo da alface em dez ambientes (casa de vegetação, túnel baixo de cultivo, túnel baixo com sombrite, agrotêxtil e campo, na presença e ausência de mulching). Foram utilizados dois períodos de cultivo, agosto a novembro de 2001 e março a junho de 2002 em Jaboticabal. Cada experimento (ambiente de cultivo) foi conduzido utilizando-se o delineamento de blocos casualizados, com doze cultivares e três repetições. A análise de variância conjunta demonstrou valores de F significativos (p<0,01) para a interação genótipo x ambiente. Para o cultivo de agosto a novembro/2001, as melhores respostas foram obtidas para as cultivares do Grupo Lisa, nos ambientes casa de vegetação com mulching, túnel baixo de cultivo sem mulching e campo sem mulching. Todas as cultivares apresentaram piores desempenhos nos ambientes túnel com sombrite sem mulching, agrotêxtil com e sem mulching. No cultivo de março a junho/2002, houve maior variabilidade quanto ao comportamento das cultivares avaliadas nos ambientes estudados. Na análise multivariada de agrupamento, a superioridade das cultivares do grupo lisa parece ter sido influenciada pelo número de folhas, tanto para a época 1, quanto para a época 2. Ressalta-se que, apesar das cultivares do grupo americana apresentarem pior desempenho, as mesmas tiveram os maiores valores de massa seca da parte aérea. Quando se tem como objetivo uma maior produção de alface visando massa seca da parte aérea ou massa fresca da parte aérea, deve-se optar por cultivares do grupo americana, que apresentaram as maiores médias para esta característica. As cultivares do grupo crespa apresentaram as maiores médias para volume de plantas. Interaction genotype x environment of lettuce cultivars in Jaboticabal, Brazil Palavras-chave: Lactuca sativa L., sistema de cultivo. Keywords: Lactuca sativa, growth system, cultivars. We evaluated the interaction genotype x environment of twelve genotypes of lettuce (Babá de Verão, Karla, Nacional, Elisa, Simpson, Hortência, Verônica, Grand Rapids, Laidy, Tainá, Lucy Brown and Raider), cultivated under greenhouse, low tunnel, low tunnel covered with black plastic screen, floating row cover (light-weight woven) and open field. All these treatments were conducted with and without mulching with ten treatments in total. The experiments were conducted in two different periods (August to November, 2001 and March to June, 2002). Each experiment (growth environment) was conducted using randomized blocks and three replicates. The measured variables were dry matter, volume and number of leaves. The value of F was significant (p<0,01) for the interaction genotype x environment. For the planting period from August to November/ 2001, the best results were obtained with the butterhead cultivars (Babá de Verão, Karla, Nacional, Elisa), cultivated under greenhouse with mulching, low tunnel without mulching and field without mulching. All cultivars had the worst performance when cultivated under tunnel with black plastic screen with or without mulching and floating row cover with or without mulching. For the planting period from March to June/2002, occurred a higher variability for all cultivars under studied environments. In this period, the cultivars of the butterhead group showed the best performance; the worst performance was observed for cultivars of crisphead group, in all environments. As observed for the planting period from August to November/2001, the superiority of butterhead cultivars group could be influenced by the number of leaves. Crisphead cultivars showed the worst results. However, these cultivars obtained the highest values of dry matter. When the goal of production is to obtain dry or fresh matter, the best option are the cultivars Laidy, Tainá, Lucy Brown and Raider, which showed the highest medias. When the final goal is the production of plants with bigger volume, the cultivars Simpson, Hortência, Verônica and Grand Rapids are the more adequate. (Recebido para publicação em 25 de novembro de 2002 e aceito em 3 de dezembro de 2003) A alface (Lactuca sativa L.) é consi derada a hortaliça folhosa mais importante na alimentação do brasileiro, o que assegura à cultura expressiva importância econômica. Nos últimos anos, a cultura da alface tem experimentado mudanças significativas, tanto em relação às cultivares utilizadas, quanto aos sistemas de produção e formas de comercialização. O volume comercializado na CEAGESP em 2001 66 foi de 17.315 t (Agrianual, 2002), bem abaixo do volume comercializado no ano anterior (21.915 t), demonstrando as transformações que a cultura sofreu em sua forma de comercialização. Os produtores estão preferindo comercializar seus produtos diretamente com as redes de supermercados e feiras livres, de maneira mais ágil, moderna e lucrativa. O sistema de cultivo protegido, além de propiciar alta qualidade ao produto, permite antecipação da colheita, menor consumo de água e fertilizantes, produção fora de época, melhor preço, maior produtividade e preservação do meio ambiente (Jensen e Collins, 1983; Castellane e Araújo, 1994; Resh, 1997). O cultivo da alface em ambiente protegido reduz significativamente o efeito ambiental provocado por alguns fatores climáticos, como geada, vento, frio, granizo, insolação e chuva demasiada. ApeHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal sar das mudanças micrometeorológicas que ocorrem em condições de cultivo protegido serem responsáveis pelo bom desempenho das culturas (Farias, 1991), nem todas as cultivares se adaptam a esta modalidade. Assim, a escassez de cultivares selecionadas ou melhoradas especificamente para estes ambientes, aliada às temperaturas elevadas durante os meses de verão, têm dificultado a difusão do cultivo protegido entre os olericultores. Ao contrário do que ocorre com outras culturas como batata, milho e feijão, para a cultura da alface não existe uma rede de ensaios de competição de cultivares abrangendo vários locais, anos e épocas de plantio. Os produtores têm utilizado cultivares recomendadas pelas empresas produtoras de sementes, que nem sempre se adaptam a uma ampla faixa de ambientes (Gualberto, 2000). A adaptação de uma cultivar em ampla extensão de ambientes é considerada de interesse para o produtor, quando se propõe incrementar cultivos. Dificuldades surgem quando cultivares interagem com ambientes, dificultando a interpretação dos resultados. Considerando as diferentes estações climáticas nas quais a alface é cultivada (mesmo em ambiente protegido), é de se esperar a ocorrência de uma elevada interação genótipo x ambiente (Gualberto, 2000). Com o objetivo de estudar a interação genótipo x ambiente de doze cultivares de alface em dez ambientes de cultivo em duas épocas, na região de Jaboticabal, desenvolveu-se o presente trabalho. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido na UNESP, Campus de Jaboticabal, cujas coordenadas são 21° 15’ 22” S, 48° 18’ 58” W e altitude média de 595 m. O clima da região é subtropical, com chuvas no verão e inverno relativamente seco, apresentando precipitação anual média de 1.440 mm, com temperatura média do mês mais quente superior a 22°C. As cultivares estudadas foram do grupo lisa (Babá de Verão, Karla, Nacional e Elisa); do grupo crespa (Simpson, Hortência, Verônica e Grand Rapids); do grupo americana (Laidy, Tainá, Lucy Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Brown e Raider). As cultivares foram avaliadas em casa de vegetação, túnel baixo, túnel baixo com sombrite, agrotêxtil e em campo, com e sem o uso de mulching, totalizando dez ambientes. A casa de vegetação utilizada foi do modelo capela com 48x7 m, altura do pé direito de 3,5 m, com as faces laterais e frontais fechadas por tela de sombreamento, com 30% de interceptação de luz. Os túneis baixos de cultivo foram construídos com arcos de ferro galvanizado cobertos com conduíte plástico, com dimensões de 1,50 m de altura, 1,20 m de base e 25 m de comprimento, com cobertura de polietileno transparente de baixa densidade, 100 mm de espessura e aditivado anti-UV (ultravioleta). Os túneis cobertos com tela de sombreamento foram construídos com arcos com as dimensões de 1,50 m de altura, 1,20 m de base e 25 m de comprimento, com capacidade de 30% de atenuação da radiação solar. Nos tratamentos com agrotêxtil: as coberturas foram colocadas diretamente sobre as plantas e fixadas por estacas nas laterais, utilizando o agrotêxtil (“tecido não tecido”) com gramatura de 30%, aditivado com filme anti-UV. O cultivo em campo foi feito sem nenhum tipo de cobertura. O plantio das mudas nos tratamentos acima descritos foi feito com e sem o uso de cobertura plástica do solo (mulching). Nos tratamentos com mulching utilizou-se filme de polietileno preto com 25 mm de espessura. O experimento foi conduzido em duas épocas: (1) de agosto a novembro de 2001, caracterizada pela média mensal das temperaturas máximas diárias de agosto, setembro, outubro e novembro de 28,9ºC; 29,7ºC; 30,4ºC; e 30,7ºC, respectivamente; média mensal das temperaturas mínimas diárias de 14ºC; 16,4ºC; 17,8ºC e 19,8ºC, e precipitação acumulada de 61 mm; 27,3 mm, 149,3 mm e 222,7 mm. (2) de março a junho de 2002, caracterizada pela média mensal das temperaturas máximas diárias dos meses de março, abril, maio e junho de 31,8ºC; 32,0ºC; 28,2ºC e 29,1ºC, respectivamente; média mensal das temperaturas mínimas diárias 19,8ºC; 18,2ºC; 15,7ºC e 14,5ºC, e precipitação acumulada de 146 mm; 5 mm; 45,8 mm e 0 mm. O experimento foi conduzido no delineamento em blocos casualizados, com doze cultivares e três repetições. O fator bloco foi considerado com efeito aleatório e os demais fatores com efeitos fixos. Cada unidade experimental foi constituída de quatro linhas de 1,8 m, espaçadas de 0,3 m. Foram utilizadas seis plantas por linha, totalizando 24 plantas por parcela. Para os ambientes em campo, o preparo do solo foi realizado com uma aração na profundidade de 0,35 m, seguida de uma gradagem niveladora. Posteriormente, foi realizado o preparo dos canteiros com rotoencanteirador, nas dimensões de 1,2x25 m, distanciados de 0,4 m, orientados no sentido leste-oeste. Para os ambientes de cultivo protegido, o preparo do solo foi realizado utilizando-se enxada rotativa, e os canteiros, nas mesmas dimensões usadas nos ambientes anteriores, foram preparados manualmente. A calagem e adubação de plantio foram realizadas obedecendo às recomendações de Trani et al. (1996) para alface no estado de São Paulo. As mudas foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido com 288 células, contendo substrato comercial recomendado para hortaliças folhosas. O transplante ocorreu quando as mudas atingiram quatro ou cinco folhas definitivas, cerca de 28 a 35 dias, de acordo com a época de cultivo. Foi utilizado o sistema de irrigação por gotejamento com uma linha de tubos gotejadores para cada linha de plantio. O espaçamento entre gotejadores foi de 0,3 m. A freqüência e o volume de água aplicados em cada experimento foram determinados através de critérios visuais diversos, tais como fase de desenvolvimento das plantas e condições climáticas. As colheitas foram efetuadas de acordo com as características de cada grupo de cultivares, em função da idade da planta e época de plantio. Nos grupos de experimentos realizados na primeira época, as cultivares dos grupos crespa e lisa foram colhidas aos 71 dias após a semeadura, e as cultivares do grupo americana aos 78 dias após a semeadura. Nos grupos de experimentos realizados na segunda época, as alfaces dos grupos crespa e lisa foram colhidas aos 67 E. B. Figueiredo et al. Tabela 1. Grupos de ambientes, em cultivares de alface, na região de Jaboticabal, obtidos pelos índices de dissimilaridade, por caráter avaliado, em duas épocas. Jaboticabal, UNESP, 2001. 1 MSPA - Massa seca da parte aérea; VOL – Volume de planta; NF - Número de folhas. 2: 1 e 2 - casa de vegetação com e sem mulching, 3 e 4 - túnel baixo de cultivo com e sem mulching, 5 e 6 - túnel baixo com sombrite com e sem mulching, 7 e 8 - agrotêxtil com e sem mulching, 9 e 10 - campo com e sem mulching. 3: 1- agosto a novembro de 2001; 2- março a junho de 2002). 78 dias após a semeadura e as do grupo americana aos 85 dias após a semeadura. Avaliou-se (a) massa fresca da parte aérea (g/planta) (MFPA), obtida a partir de cinco plantas por parcela e colhidas pela manhã; (b) massa seca da parte aérea (g/planta) (MSPA), obtida a partir de duas plantas secas em estufa com circulação forçada de ar a 65ºC até atingirem peso constante; (c) diâmetro médio e altura de planta (cm) (DM e ALT), sendo que para obtenção do diâmetro médio, feito um dia antes da colheita foram coletados os dados referentes ao diâmetro maior (d1), diâmetro menor (d2) e altura (h) de duas plantas por parcela, utilizando-se régua graduada; e (d) volume de plantas (cm3/planta) (VOL), sendo que a partir dos diâmetros e altura, obteve-se a estimativa do volume da planta utilizando-se a fórmula da metade do volume de uma elipsóide de diâmetros d1 e d2 e altura h, ou seja: V = 4/ 3 p (d1/2)(d2/2)h; e) número de folhas por planta (NF). Nesta contagem, foram consideradas apenas as folhas que atingiram o comprimento mínimo de 1,5 cm. Para avaliar a existência de variabilidade genética entre as cultivares estudadas, a precisão relativa de cada experimento e a homogeneidade das variâncias, realizou-se a análise univariada, por ambiente e época. A análise de variância conjunta foi realizada considerando os 10 ambientes e as duas épocas, sendo, efeito aleatório para blocos e para as demais fontes de variação. A seguir foi realizada a análise de 68 variância conjunta, considerando os 10 ambientes, em cada época. Utilizou-se o método de agrupamento de ambientes com base no algoritmo de Lin (1982), citado por Cruz e Regazzi (2001), que consiste em estimar a soma de quadrados para a interação entre cultivares e agrupar aqueles ambientes cuja interação é não significativa. Para agrupar cultivares e ambientes similares, utilizou-se análise de agrupamento multivariada (Análise de “Cluster”), utilizando-se o programa SAS (Statistics Analysis System). Como coeficiente de dissimilaridade foi utilizada a distância Euclidiana, e como estratégia de agrupamento utilizou-se o método de agrupamento não ponderado aos pares. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelos valores dos coeficientes de correlação, as características MSPA e MFPA foram correlacionadas (r³0,70 e p<0,01), bem como VOL com DM e ALT. Portanto, apenas MSPA, VOL e NF foram abordadas neste estudo. As análises de variância individuais para MSPA, VOL e NF, dentro de cada ambiente, em cada época, tiveram como principal objetivo estimar a variância residual de cada ensaio, para verificar os ambientes que poderiam ser considerados homogêneos, segundo os critérios sugeridos por Cruz e Regazzi (2001), permitindo a realização da análise conjunta com todos os ambientes. Os resultados da análise de variância conjunta (Tabela 1), envolvendo cultivares, ambientes e épocas, para MSPA, VOL e NF, demonstraram valores de F significativos (p<0,01) para todas as interações envolvendo o fator época (ExC, AxC, ExA, ExAxC). Na Figura 1 pode-se observar para NF que, apesar da interação, existe uma destacada superioridade das cultivares do grupo lisa sobre as outras cultivares, independentemente da época, para a grande maioria dos ambientes. Considerando-se as cultivares dos grupos crespa e americana, observa-se uma certa superioridade do número de folhas das cultivares do grupo americana sobre as do grupo crespa, para a segunda época, o que não acontece para a primeira época (Figura 1). Streck et al. (1994), em Santa Maria (RS), verificaram maiores valores no número de folhas para duas cultivares de alface (lisa White Boston e crespa Hampson), sob túnel baixo no inverno e na primavera, comparadas ao cultivo em ambiente externo. Segovia (1991), durante o inverno de Santa Maria, comparou três cultivares de alface em ambiente natural e sob estufa plástica, verificando aumento significativo no número de folhas ao longo de todo o período avaliado para o cultivo em estufa, e caracterizando uma maior atividade metabólica, com menor intervalo de dias para emissão de novas folhas. Para MSPA observa-se de maneira geral, independente do ambiente e da Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal Tabela 2. Análise multivariada do agrupamento de cultivares de alface e ambientes, considerando-se simultaneamente massa seca da parte aérea (MSPA), volume de planta (VOL) e número de folhas (NF), em duas Épocas [(1) agosto a novembro de 2001; (2)março a junho de 2002], na região de Jaboticabal. Jaboticabal, UNESP, 2001. Cultivares (1-Babá de Verão, 2-Karla, 3-Nacional, 4-Elisa, 5-Simpson, 6-Hortência, 7-Verônica, 8-Grand Rapids, 9-Laidy, 10-Tainá, 11Lucy Brown e 12-Raider); ambientes: 1 e 2 - casa de vegetação com e sem mulching, 3 e 4 - túnel baixo de cultivo com e sem mulching, 5 e 6 - túnel baixo com sombrite com e sem mulching, 7 e 8 - agrotêxtil com e sem mulching, 9 e 10 - campo com e sem mulching. época, que as cultivares do grupo americana apresentam os maiores valores comparados com os demais grupos e que as cultivares do grupo lisa apresentam os menores valores. Para VOL, observa-se que, independente do ambiente e da época estudada, as cultivares do grupo crespa apresentam maiores volumes que as demais cultivares, e as que apresentam menores volumes são as do grupo americana. Com estes resultados fica evidente que as vantagens de algumas cultivares sobre outras dependem da característica considerada. Devido ao alto nível de significância das interações de cultivares e ambientes com o fator época Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 (p<0,01), apresenta-se o estudo da interação genótipo x ambiente dentro de cada época (Tabela 2). Observa-se interação significativa (p<0,01), entre genótipo x ambiente, para os três caracteres estudados, nas duas épocas (Tabela 2). Para identificar se existem, entre os ambientes estudados, padrões de similaridade de respostas de cultivares, realizou-se o agrupamento de ambientes pelo método de Lin (1982), que consiste em estimar a soma de quadrados para a interação entre genótipos e pares de ambientes e, posteriormente, agrupar aqueles ambientes cuja interação é não significativa. O método prossegue com a estimativa da soma de quadrados entre genótipos e grupos de três ambientes, quatro, e assim por diante, até obter os grupos com mesmo padrão de similaridade. Os grupos de ambientes, obtidos pelos índices de dissimilaridade, por variável e por época, são apresentados na Tabela 1. Observou-se que, para MSPA, os ambientes casa de vegetação com mulching, túnel baixo com sombrite e com mulching e túnel com sombrite sem mulching, apresentaram similaridade para todas as épocas estudadas. O mesmo foi observado para o grupo de ambientes onde se utilizou o túnel baixo de cultivo sem mulching e agrotêxtil 69 E. B. Figueiredo et al. Figura 1.Representação da massa seca da parte aérea (MSPA), volume (VOL) e número de folhas (NF) para as cultivares (1-Babá de Verão, 2-Karla, 3-Nacional, 4-Elisa, 5-Simpson, 6-Hortência, 7-Verônica, 8-Grand Rapids, 9-Laidy, 10-Tainá, 11-Lucy Brown e 12-Raider), nos ambientes: 1 e 2 (casa de vegetação com e sem mulching), 3 e 4 (túnel baixo de cultivo com e sem mulching), 5 e 6 (túnel baixo com sombrite com e sem mulching), 7 e 8 (agrotêxtil com e sem mulching), 9 e 10 (campo com e sem mulching), nas épocas (1- agosto a novembro de 2001; 2- março a junho de 2002). Jaboticabal, UNESP, 2001. com mulching e para o grupo de ambientes campo com mulching e campo sem mulching. Os ambientes em casa de vegetação sem mulching e túnel baixo de cultivo com mulching apresentam similaridade com alguns ambientes em uma das épocas estudadas e com outros na outra época. Ressalta-se que o ambiente com agrotêxtil sem mulching não apresentou similaridade com qualquer outro ambiente na primeira época. Para a variável VOL, observou-se que os ambientes casa de vegetação sem mulching, túnel baixo com sombrite com mulching, túnel baixo com sombrite sem mulching, agrotêxtil com mulching, agrotêxtil sem mulching e campo com mulching apresentaram-se similares nas duas épocas estudadas. O ambiente cam70 po sem mulching apresenta similaridade com alguns ambientes na primeira época e não apresenta qualquer similaridade com outros ambientes na segunda época. Os ambientes casa de vegetação com mulching, túnel baixo com mulching e túnel baixo sem mulching não apresentam similaridade com outros ambientes nas épocas estudadas. Para a variável NF, observou-se que os ambientes casa de vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel baixo sem mulching e agrotêxtil sem mulching apresentam similaridade nas duas épocas estudadas; bem como o grupo de ambientes túnel baixo com sombrite com mulching, túnel baixo com sombrite sem mulching e campo sem mulching; e o grupo túnel baixo com mulching e campo com mulching. O ambiente agrotêxtil com mulching apresentou similaridade com alguns ambientes na primeira época e não apresentou similaridade na segunda época. Destaca-se que, entre os ambientes estudados, apenas os ambientes túnel baixo com sombrite com mulching e túnel baixo com sombrite sem mulching apresentam-se similares para todas as características estudadas em todas as épocas. Tendo em vista a variabilidade de grupos similares por variável, realizouse a análise multivariada de agrupamento, considerando-se simultaneamente as três características e as duas épocas. Os resultados da análise de agrupamento (Tabela 2), mostraram que, para a primeira época, os melhores grupos de cultivares concentram-se nos ambientes casa de vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel baixo sem mulching, túnel baixo com sombrite com mulching e campo sem mulching; os piores nos ambientes, túnel baixo com sombrite sem mulching, agrotêxtil com mulching e agrotêxtil sem mulching e, para o ambiente campo com mulching, as cultivares apresentam uma grande variação no desempenho. As melhores respostas, para a primeira época, foram obtidas pelas cultivares Babá de Verão, Karla, Nacional e Elisa, nos ambientes casa de vegetação com mulching, túnel baixo sem mulching e campo sem mulching e as cultivares Karla, Nacional e Elisa no ambiente casa de vegetação sem mulching e as cultivares Babá de Verão e Karla no ambiente túnel baixo com sombrite com mulching, seguidas pelas cultivares Simpson, Hortência, Verônica e Grand Rapids nos ambientes casa de vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel com mulching, túnel baixo sem mulching e túnel baixo com sombrite com mulching. Todas as cultivares apresentaram pior desempenho nos ambientes túnel baixo com sombrite sem mulching, agrotêxtil com mulching e agrotêxtil sem mulching com exceção das cultivares Hortência e Lucy Brown, que apresentaram um desempenho intermeHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Interação genótipo x ambiente em cultivares de alface na região de Jaboticabal diário nos ambientes agrotêxtil sem mulching e túnel baixo com sombrite sem mulching, respectivamente. Ressalta-se que as cultivares do grupo lisa apresentaram-se entre as melhores em todos os ambientes, com exceção para os ambientes túnel baixo com mulching, túnel baixo com sombrite com mulching e campo com mulching. Pelas análises univariadas apresentadas anteriormente, esta vantagem parece ser influenciada pelo maior número de folhas destas cultivares, quando comparadas às demais, em todos os ambientes. O bom desempenho das cultivares Simpson, Hortência, Verônica e Grand Rapids nos ambientes casa de vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel baixo com mulching, túnel baixo sem mulching e túnel baixo com sombrite com mulching; parece ser influenciado pelo volume, o que pode ser observado na Figura 1. Para a segunda época, houve maior variabilidade quanto ao desempenho das cultivares dos três grupos, nos ambientes estudados. Nessa época, as cultivares do grupo lisa apresentaram os melhores desempenhos; as do grupo crespa, apresentaram um desempenho intermediário, e as do grupo americana apresentaram, pior desempenho, para todos os ambientes estudados, considerandose os três caracteres avaliados. Da mesma forma que para a primeira época, na segunda época, a superioridade das cultivares do grupo lisa parece ter sido influenciada pelo caráter NF. Ressalta-se que, apesar das cultivares do grupo americana apresentarem pior desempenho, verifica-se nas análises univariadas (Figura 1), que são as cultivares que apresentam os maiores valores de MSPA. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Podemos destacar que, para a escolha de uma determinada cultivar para plantio, deve-se observar o mercado e o modo de comercialização de cada região. Quando se tem como objetivo maior produção de alface baseada na MFPA (ou MSPA), deve-se optar por cultivares do grupo americana, que apresentaram maiores valores de MSPA em relação às demais, com exceção da cultivar Karla, nos ambientes casa de vegetação, com e sem mulching, túnel baixo de cultivo, com e sem mulching, e campo aberto, com e sem mulching, (primeira época). Para a segunda época, todas as cultivares do grupo americana foram superiores às demais, em todos os ambientes estudados, apresentando as maiores médias e demonstrando não haver necessidade de maiores investimentos em ambientes modificados. Quando o objetivo final da produção é a obtenção de plantas com maior volume, visando a comercialização direta com redes de supermercados ou feiras livres, onde se considera o volume de plantas para se preparar os maços, devemos observar que as cultivares do grupo crespa (Figura 1), apresentam as maiores médias para a primeira época, nos ambientes casa de vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel baixo com mulching, túnel baixo sem mulching e túnel baixo com sombrite com mulching, demonstrando que os túneis baixos de cultivo podem ser utilizados, com menor custo e resultados equivalentes. Para a segunda época, as maiores médias foram obtidas pelas cultivares Simpson, Hortência, Verônica e Grand Rapids, nos ambientes casa de vegetação com mulching, casa de vegetação sem mulching, túnel baixo com mulching, túnel baixo sem mulching, túnel baixo com sombrite com mulching, túnel bai- xo com sombrite sem mulching, agrotêxtil com mulching e agrotêxtil sem mulching; demonstrando uma melhor resposta das cultivares aos ambientes modificados, em relação ao campo aberto. Contudo, a escolha de cultivares do grupo lisa devem ser de acordo com as exigências de mercado, quanto a qualidade e preferência do tipo de planta ou folha. LITERATURA CITADA AGRIANUAL. São Paulo: FNP, 2002. p.161-162. CASTELLANE, P.D.; ARAÚJO, J.A.C. Cultivo sem solo: hidroponia. Jaboticabal: FUNEP/ UNESP, 1994. 43 p. CRUZ, C.D.; REGAZZI, A.J. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. Viçosa: Imprensa Universitária, 2001. 390 p. FARIAS, J.R.B. 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No estudo de reações, os tratamentos/cultivares foram ‘Comprido Branco’, ‘Crimson Gigante’, ‘Ponta Branca’, ‘Comprido Vermelho’, ‘Serrano’, ‘Gigante Wurzburgo’, ‘Saxa’, ‘Redondo Vermelho’, ‘Redondo Gigante’, ‘Cometo’ e ‘Akamaru Hatsuka’. Determinaram-se os índices de galhas (IG) e de massas de ovos (IMO), o número de nematóides no sistema radicular (NSR) e por grama de raiz (NGR) e o fator de reprodução (FR) 53 dias após a inoculação artificial com 2.000 ovos do parasito. Em outro experimento, avaliaram-se os efeitos de três densidades populacionais do nematóide [0, 500 (nível populacional baixo) e 10.000 (nível populacional alto) ovos/planta] sobre as massas frescas e secas de túberas e de parte aérea da cultivar ‘Redondo Gigante’, 39 dias após a inoculação. Os resultados mostraram que todas as cultivares permitiram a reprodução de M. javanica, sendo portanto consideradas suscetíveis. Valores de IG e IMO foram maiores ou iguais a 2,5 e os de FR, maiores do que 8,0 para todas as cultivares estudadas. O parasito causou diminuição significativa nas massas frescas e secas de túberas e de partes aéreas nos dois níveis populacionais estudados comparados com o controle não inoculado. As médias dos tratamentos contendo níveis populacionais baixo e alto do nematóide também diferiram estatisticamente entre si, comprovando-se, assim, a sua ação patogênica sobre a cultivar avaliada. Palavras-chave: Meloidogyne javanica, Raphanus sativus, patogenicidade, reação de cultivares. Root-knot nematode: cultivars reaction and damage to radish Experiments were conducted under greenhouse conditions to determine the reaction of eleven radish (Raphanus sativus) cultivars to Meloidogyne javanica and the pathogenicity of this nematode to a previously selected cultivar. The cultivars tested were ‘Comprido Branco’, ‘Crimson Gigante’, ‘Ponta Branca’, ‘Comprido Vermelho’, ‘Serrano’, ‘Gigante Wurzburgo’, ‘Saxa’, ‘Redondo Vermelho’, ‘Redondo Gigante’, ‘Cometo’ and ‘Akamaru Hatsuka’. Radish plants were inoculated with 2,000 eggs, and the [root-gall (IG) and eggmass (IMO) indexes and reproduction factor (FR)] were determined 53 days after inoculation. In the other experiment, three populational levels (0, 500 (low level) and 10,000 (high level) nematode eggs) were individually inoculated in ‘Redondo Vermelho’ radish cultivar. The results showed values of IG and IMO superior or equal to 2.5 and FR superior to 8.0 and, according tp these data, all tested cultivars were classified as susceptible. Meloidogyne javanica caused plant growth supression as measured by the values of fresh and dry weight of roots and the foliage of the plants, 39 days after inoculations. The average treatments containing low and high populational levels were satisfically different among themselves, thus proving its patogenic action on the cultivars evaluated. Keywords: Meloidogyne javanica, Raphanus sativus, pathogenicity, cultivar reaction. (Recebido para publicação em 25 de novembro de 2002 e aceito em 3 de novembro de 2003) O s nematóides de galha (Meloidogyne spp.) são parasitos importantes para as hortaliças, causando-lhes sérios prejuízos. Meloidogyne javanica é uma espécie-chave por ser polífaga e muito bem adaptada aos agroecossistemas tropicais (Netscher e Sikora, 1990). Hortaliças, como o rabanete (Raphanus sativus L.), de ciclo produtivo inferior ao do parasito, onde é comum a colheita de túberas após 20 a 30 dias da emergência (Camargo, 1984), podem ser manejadas de diferentes formas visando diminuir níveis populacionais do nematóide no solo (Brody e Laughlin, 1977; Gardner e Caswell-Chen, 1994; Johnson, 1998; Cuadra et al., 2000). 72 Segundo dados de literatura, o rabanete é considerado hospedeiro suscetível ao nematóide. Sasser (1954) verificou que R. sativus ‘Early Scarlet Globe’ foi passível de altas infecções, podendo apresentar abundante número de fêmeas e massas de ovos de M. arenaria, M. incognita e M. javanica. Trabalhos de Ahuja e Muchopadhyaya (1985), Paruthi et al. (1986), Kanwar et al. (1995), McSorley e Frederick (1995) e Carneiro et al. (2000) também corroboram essas observações. Entretanto, resultados divergentes foram encontrados por outros autores, demonstrando a resistência ou reduzida eficiência como hospedeira de algumas cultivares (Calinga e Ballon, 1974; Castillo e Bulag, 1974; Reyes e Villanueva, 1981). No Brasil, há citações nesta espécie vegetal da ocorrência de Meloidogyne incognita no Rio Grande do Norte (Ponte et al., 1977) e em São Paulo (Silveira et al., 1986). Em vista da escassez de trabalhos publicados na área de nematologia em rabanete e procurando, preliminarmente, adequar a planta na estratégia de cultura armadilha de nematóides, estudaram-se as reações das principais cultivares disponíveis no mercado a Meloidogyne javanica e a sua patogenicidade a uma dessas cultivares. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e patogenicidade. Tabela 1. Índice de galhas (IG) e de massa de ovos (IMO), nematóides no sistema radicular (NSR) e por grama de raiz (NGR) e fator de reprodução (FR) de Meloidogyne javanica e respectiva reação a cultivares de rabanete. Campinas, Instituto Biológico, 2001. Baseado em proposta de Taylor & Sasser (1978); Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Stderr & Pdiff a 5%; 3 Baseado em proposta de Oostenbrink (1966); 4 S = suscetibilidade. 1 2 MATERIAL E MÉTODOS Reação de Cultivares Instalou-se o experimento em casa de vegetação provida de controle de temperatura, em delineamento inteiramente casualizado, com 6 repetições. Cada parcela constituiu-se num copo plástico com capacidade para 535 ml preenchido com 500 ml de substrato (solo e areia, 1:1) previamente desinfestado com brometo de metila (150 ml/m) e contendo uma planta. Os tratamentos (cultivares com respectivas empresas fornecedoras entre parêntesis) testados foram: ‘Comprido Branco’ (Horticeres), ‘Crimson Gigante’ (Ferti Seed), ‘Ponta Branca’ (Cal Seed), ‘Comprido Vermelho’ (Cal Seed), ‘Serrano’ (Feltrin), ‘Gigante Wurzburgo’ (Isla), ‘Saxa’ (Feltrin), ‘Redondo Vermelho’ (Horticeres), ‘Redondo Gigante’ (Feltrin), ‘Cometo’ (Topseed) e ‘Akamaru Hatsuka’ (Sakata). Utilizaram-se tomateiros ‘Rutgers’ para confirmação da viabilidade do inóculo. Nove dias após a semeadura e seis do desbaste, inocularam-se, individualmente, 2.000 ovos do parasito (Pi) extraídos de raízes de tomateiros ‘Rutgers’ cultivados em substrato artificialmente infestado, seguindo metodologia proposHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 ta por Hussey e Barker (1973) modificada por Boneti e Ferraz (1981). As plantas foram irrigadas diariamente e adubadas quinzenalmente com 20 ml/ planta de fertilizante líquido (6-6-8) diluído 1:250. Controlou-se a temperatura da casa de vegetação para não exceder 30ºC. Cinquenta e três dias após as inoculações, desenvasaram-se as plantas e, com auxílio de uma tesoura, separaram-se os prolongamentos da raiz principal das túberas; esses prolongamentos de raízes foram lavados sob água corrente e deixados para secar por 30 minutos à sombra, determinando-se os valores de massa fresca. Para evidenciar as massas de ovos externas foram feitas colorações com ‘phloxine B’, determinando-se também os números de galhas e de massas de ovos, obtendo-se os índices de galhas (IG) e os de massas de ovos (IMO), conforme escala de 0 a 5, sendo 0 = 0 galhas ou massas de ovos; 1 = 1-2; 2 = 3-10; 3 = 11-30; 4 = 31-100 e 5 = > 100 (Taylor e Sasser, 1978). Para determinar o número de nematóides (ovos + juvenis de segundo estádio) no sistema radicular (NSR ou Pf) e por grama de raiz (NGR), processaram-se os sistemas radiculares pela técnica de Boneti e Ferraz (1981), estimando-se tais parâmetros em alíquotas de 1 ml colocadas em lâmina de Peters e examinadas ao microscópio óptico. Analisaram-se estatisticamente os dados de NSR e NGR, aplicando-se o teste F na análise da variância e o teste de Stderr e Pdiff a 5% para comparação de médias. Calculou-se o fator de reprodução (FR) pela razão: Pi/Pf (Oostenbrink, 1966), e determinando-se a reação das cultivares. Patogenicidade Como descrito para o anterior, esse experimento também foi instalado em casa de vegetação, em delineamento inteiramente casualizado, com seis repetições. Somente a parcela foi constituída de um recipiente plástico com capacidade para 2 L contendo 1,8 L do mesmo substrato e uma planta da cultivar ‘Redondo Vermelho’, selecionada com base em resultados do experimento anterior. Plântulas com um dia de idade foram inoculadas, separadamente no momento do transplantio, com três densidades populacionais do nematóide 0, 500 e 10.000 ovos/planta. Esses valores numéricos foram qualificados como controle não inoculado e níveis populacionais baixo e alto, respectivamente. Tomateiros ‘Rutgers’ foram inoculados com 5.000 ovos para verificação da viabilidade do inóculo. Trinta e nove dias após a inoculação, 73 C. E. Rossi e P. T. Montaldi Tabela 2. Efeito de Meloidogyne javanica nas massas frescas e secas de parte aérea (MFPA e MSPA) e túbera (MFT e MSPA) de rabanete ‘Redondo Gigante’. Campinas, Instituto Biológico, 2001. ¹Nível de inóculo inicial; ² Médias seguidas por letras distintas em cada coluna diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (Médias de 6 repetições. Valores transformados em raiz quadrada de x). desenvasaram-se as plantas e separaram-se os sistemas radiculares (prolongamentos da raiz principal e túberas) das partes aéreas com auxílio de uma tesoura; as raízes foram lavadas em água corrente e deixadas para secar por 30 minutos à sombra, determinando-se os valores de massa fresca dos sistemas radiculares e das partes aéreas. Tanto os sistemas radiculares como os órgãos aéreos de cada planta foram colocados em sacos especiais de papel e postos para secar em estufa a 68–70ºC, anotando-se os respectivos valores de massa seca. Para estimar a quantidade de nematóides remanescentes, uma muda de tomate ‘Rutgers’ foi transplantada para cada parcela, de onde tinham sido retiradas as plantas de rabanete. Vinte e quatro dias após o transplante, avaliaram-se os índices de galhas, segundo Taylor e Sasser (1978). Os valores referentes às massas frescas e secas foram analisados estatisticamente, aplicando-se o teste F na análise da variância e o teste de Tukey a 5%, no caso de ter ocorrido diferenças significativas entre médias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Reação de Cultivares Meloidogyne javanica se reproduziu em todas as cultivares estudadas, verificando-se para todas elas IG e IMO maiores ou iguais a 2,5, o que as caracteriza como suscetíveis segundo proposta de Canto-Saénz (1983) modificada por Sasser et al. (1984) (Tabela 1). Os valores de IG e IMO variaram de 2,5– 3,3 para ‘Cometo’ e 2,5–3,5 para ‘Comprido Branco’ a 4,0-5,0 para ‘Akamaru Hatsuka’. As galhas, não muito conspí74 cuas, projetavam-se pelo prolongamento da raiz principal e nas raízes secundárias. Parece que essa característica é comum em Brassicaceae, pois Ferraz e Rossi (1999) já o haviam observado em raízes de canola. Não se verificou reação hiperplástica nas túberas. Fato semelhante foi observado por Brody e Laughlin (1977) para M. hapla. Não se verificaram diferenças estatísticas entre as cultivares para NSR. Porém, para NGR, a cultivar Saxa diferiu estatisticamente de todas as outras, com exceção de ‘Akamaru Hatsuka’ e ‘Crimson Gigante’, apresentando a maior média (13.081,7). Entretanto, todas as cultivares mostraram-se com FR maior do que oito, o que evidencia mais uma vez a sua alta suscetibilidade ao nematóide. Resultados semelhantes foram obtidos por Gardner e Caswell-Chen (1994), que demonstraram a suscetibilidade de sete cultivares de Raphanus sativus var. oleifera e por McSorley e Frederick (1995) que avaliaram a reação da cultivar Cherry Belle a M. javanica, entre outros nematóides, e também puderam demonstrar sua suscetibilidade. Carneiro et al. (2000), trabalhando com as cultivares Crison Gigante (provavelmente a mesma cultivar aqui estudada com o nome de ‘Crimson Gigante’) e Scarlet Globe, obtiveram valores de FR pouco maiores do que um, ou seja, relativamente menores do que os desse experimento, classificando-as como moderadamente suscetíveis. As diferenças observadas podem ser atribuídas às diferenças na metodologia de avaliação, já que os autores trabalharam com 5.000 ovos contra 2.000 desse experimento e período de avaliação de 3 meses contra 39 dias do presente trabalho. Discordantemente, estudos realizados nas Filipinas com outra espécie de nematóide de galha (M. incognita), demonstraram que as cultivares Early Scarlet Globe, Ramgo e outra não mencionada foram resistentes a esse parasito (Calinga e Ballon, 1974; Castillo e Bulag, 1974; Reyes e Villanueva, 1981). Fato ainda mais curioso foi descrito por Paruthi et al. (1986) que não observaram nenhuma massa de ovos nas raízes da cultivar H.R.I. após 90 dias da inoculação com seis níveis populacionais de M. javanica (0 a 10.000 juvenis/vaso). Patogenicidade O parasito causou diminuição significativa nas massas frescas e secas de túbera e de parte aérea do rabanete ‘Redondo Vermelho’, nos dois níveis populacionais estudados (500 e 10.000) comparados com o tratamento que não recebeu inóculo (Tabela 2). As médias dos tratamentos dos níveis populacionais baixo e alto também diferiram significativamente entre si para todas as variáveis. Isso demonstra que, mesmo em pequena quantidade, o nematóide ocasiona dano ao rabanete, embora esse dano se intensifique com o aumento da sua população. Uma evidência adicional a esse fato são os altos IG observados: 3,5 para o nível baixo e 4,8, para o alto (Tabela 2). Para o caso dos níveis populacionais altos, cinco das seis repetições apresentavam-se com os sistemas radiculares contendo aglomerados de galhas e fortemente atrofiados, sendo portanto caracterizadas como nota 5. Paruthi et al. (1986) verificaram reduções nos valores de algumas variáveis testadas sob diferentes níveis de inóculo de M. javanica. A partir de 100 juvenis houve reduções significativas nas masHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Nematóide de galha em rabanete: suscetibilidade de cultivares e patogenicidade. sas frescas de parte aérea, mas somente acima de 2.000 juvenis/planta ocorreram reduções na massa de túberas. Pesquisando a reação dessa hortaliça a M. incognita, Ahuja e Muchopadhyaya (1985) verificaram crescimento irregular e intensa redução no porte de plantas, com Pi variando de 5.000 a 10.000 juvenis de segundo estádio por planta. Ainda no presente experimento, resultados de bio-ensaio com o tomateiro ‘Rutgers’, demonstraram que altas populações do nematóide também permanecem no substrato após a retirada das plantas, pelos valores de IG obtidos (4,7 e 4,3 para níveis baixo e alto, respectivamente). Assim, a sugestão de Brody e Laughlin (1977) que o rabanete poderia servir como planta armadilha para M. hapla deve ser melhor estudada para M. javanica. Mesmo assim, Cuadra et al. (2000) verificaram diminuições de 50% na população de M. incognita raça 2 no solo e incremento de 10 a 20% na produção de tomate, pepino e feijão caupi após uso da estratégia de cultura armadilha. Recomenda-se como práticas complementares a retirada e destruição de plantas cujas túberas não se desenvolveram adequadamente, portanto não tendo sido comercializadas, para evitar aumento da população do nematóide. LITERATURA CITADA AHUJA, S.; MUCHOPADHYAYA, M.C. 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Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos, referentes aos períodos de armazenamento (0; 5; 10; 15; 20; e 25 dias) e 5 repetições, com dois frutos por parcela. Os frutos foram mantidos à temperatura de 30±1ºC e UR de 50±5%. Foram feitas avaliações em intervalos de 5 dias, avaliando-se a firmeza da polpa, perda de massa, aparências externa e interna e conteúdo de sólidos solúveis (SS). Observou-se efeito do tempo de armazenamento para todas as características avaliadas. A firmeza da polpa e as aparências externa e interna foram os principais fatores responsáveis pela perda de qualidade do melão. A vida útil do híbrido RX-20094 foi estimada em até no mínimo 25 dias de armazenamento sob temperatura ambiente. Yellow melon, RX 20094 hybrid, stored at room temperature The postharvest shelflife of yellow melon RX20094 hybrid was obtained through visual, physical, and physical-chemical evaluations in two experiments carried out at Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Rio Grande do Norte State, Brasil. A completely randomized design with six treatments, consisting of storage days (0; 5; 10; 15; 20; and 25) and five replications, with 2 fruits per plot, was utilized. The fruits were kept at the temperature of 30±1ºC and 50±5% of relative humidity. Evaluations were made at five-day intervals with the determination of flesh firmness, weight loss, external and internal appearances and soluble solids content (SS). The storage days had effect on all characteristics. Yellow melons RX20094 hybrid maintained good quality characteristics for up to a storage period of 25 days at room temperature. Palavras-chave: Cucumis melo L., pós-colheita, qualidade, armazenamento. Keywords: Cucumis melo L., postharvest, quality, shelf life. (Recebido para publicação em 17 de dezembro de 2002 e aceito em 02 de novembro de 2003) O Agropolo Mossoró-Assu é respon sável pela maior concentração de empreendimentos com frutos tropicais, onde o melão assume uma proporção privilegiada. As regiões do Baixo Assu e Chapada do Apodi no RN, e Baixo Jaguaribe no CE, são responsáveis pelas maiores áreas produtoras de melão no Semi-Árido do Nordeste (Dias et al.,1998). O RN vem se destacando nos últimos anos como principal Estado produtor e exportador de melão do Brasil, por possuir condições edafoclimáticas que favorecem a cultura do meloeiro, como por exemplo, a alta luminosidade, os baixos índices pluviométricos, com exceção do período de janeiro a maio, e a baixa umidade relativa do ar, permitem uma produção durante quase todo o ano. Apesar das grandes empresas produtoras de melão do Agropolo MossoróAssu dominarem tecnologia necessária à obtenção de um “produto” de boa qualidade, como, por exemplo, utilização de câmaras frias, existem ainda na região pequenos produtores que não têm 76 condições de adotar uma estrutura de cadeia de frio. Assim, são obrigados a armazenar seus frutos em condições ambientes por períodos relativamente prolongados até a comercialização. Por isso, as variedades preferencialmente cultivadas do grupo inodorus, representado pelo melão “amarelo” com excelente conservação pós-colheita (Cocozza, 1997), comparado às cultivares dos grupos reticulatus e cantaloupe (Souza et al., 1994), que não alcançam 14 dias de vida útil pós-colheita sob temperatura ambiente. Diversos genótipos estão sendo cultivados no RN, dentre eles, o ‘Gold Mine’, ‘AF-646’, e ‘Piel del Sapo’, todos pertencentes ao grupo inodorus. A cada ano verifica-se a introdução de novos genótipos (comumente referidos como híbridos) com o objetivo de diversificar e melhorar a qualidade do produto a ser oferecido aos mercados interno e externo., Porém, o conhecimento do comportamento pós-colheita desses novos materiais ainda é muito limi- tado (Morais,1998). Para melão o termo qualidade tem sido relacionado com diferentes características como conteúdo de sólidos solúveis, firmeza da polpa, perda de massa e aparências externa e interna (Menezes et al., 2001), indicando a aceitabilidade direta do produto pelo consumidor final. Os teores de açúcares em frutos, normalmente, constituem 65 a 85% do conteúdo de sólidos solúveis (Chitarra e Chitarra, 1990). Portanto é de fundamental importância conhecer o comportamento pós-colheita de novos híbridos para sua introdução em plantios comerciais, tendo em vista que os principais mercados consumidores (Região Sudeste do Brasil e a comunidade Européia) necessitam produto com bom potencial de conservação pós-colheita além de características de qualidade e vida de prateleira (Gonçalves et al.,1996; Brasil et al.,1998). O presente trabalho objetivou avaliar a qualidade e a vida útil pós-colheita do melão amarelo, híbrido RX20094 sob temperatura ambiente. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Armazenamento do melão amarelo, híbrido RX20094, sob temperatura ambiente MATERIAL E MÉTODOS Os frutos foram obtidos de plantio comercial localizado no Agropólo Mossoró–Assu, produzidos de acordo com as práticas culturais usuais na região, utilizando-se sistema de irrigação localizada, em LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO. O clima é quente e seco, com precipitação pluviométrica anual de 423 mm, temperatura média mensal máxima e mínima de 33 e 29ºC, respectivamente. O peso médio dos frutos variou de 1,5 a 1,8 kg, o que permite a classificação como tipo 6 (6 frutos por caixa), colhidos no estádio de maturação comercial. Após a colheita, os frutos foram conduzidos ao Laboratório de Pós-colheita da ESAM, onde foram pesados, selecionados (eliminando-se os frutos portadores de imperfeições) e armazenados num intervalo de temperatura de 30±1ºC e umidade relativa de 50±5% por até 25 dias. As avaliações foram feitas em intervalos regulares de cinco dias. A perda de massa foi calculada em relação à massa inicial dos frutos no dia da colheita e aquela obtida, em cada intervalo de armazenamento, sendo os resultados expressos em percentagem (%). As avaliações de aparência externa (depressões, murcha ou lesões fúngicas) e aparência interna (colapso interno, sementes soltas ou presença de líquido) foram feitas, utilizando-se uma escala visual e subjetiva, segundo a classificação utilizada por Gomes Júnior, et al. (2000), considerandose a ausência ou presença de defeitos (1= fruto que se apresenta extremamente marcado pelos defeitos destacados; 2= severo; 3= médio; 4= leve; 5= ausência dos defeitos). Quando a nota obtida foi £3,0 o fruto foi considerado indesejável para o consumo. Para a avaliação da firmeza da polpa, o fruto foi dividido longitudinalmente, sendo que, em cada uma das metades procedeu-se duas leituras (em regiões opostas) com penetrômetro de marca McCormick modelo FT 327 com plunger de 8 mm de diâmetro, sendo os resultados obtidos em libras (lbf) e transformados para newton (N) utilizando-se o fator de conversão 4,45. O conteúdo de sólidos solúveis (SS) foi determinado por refratometria, utilizando-se um refratômetro digital modelo PR Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Perda de massa de melão amarelo, genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%). Mossoró, ESAM, 2000. Figura 2. Firmeza de polpa de melão amarelo, genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%). Mossoró, ESAM, 2000. -100 Palette, com correção automática de temperatura e os resultados expressos em percentagem, conforme metodologia proposta por Kramer (1973). O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos, referentes a períodos de armazenamento (0; 5; 10; 15; 20; e 25 dias), e cinco repetições. Cada parcela foi composta por 2 frutos, totalizando 60 frutos no experimento. Os resultados foram submetidos à análise de variância através do software SPSSPC (Norusis, 1990) e, detectado efeito significativo, procedeu-se à regressão polinomial através do software Table Curve (Jandel Scientific, 1991). RESULTADOS E DISCUSSÃO Para todas as variáveis analisadas houve efeito significativo do híbrido RX 20094 em relação ao tempo de armazenamento. A modificação na perda de massa dos frutos estudados foi caracterizada por um acréscimo ao longo do armazenamento variando de 1,7% no início para 4,2% ao 77 F. V. S. Mendonça et al. Figura 3. Avaliação subjetiva da aparência interna (AI) e externa (AE) de melão amarelo, genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%). Mossoró, ESAM, 2000. Figura 4. Conteúdo de sólidos solúveis de melão amarelo, genótipo RX-20094, armazenados a temperatura ambiente (30ºC±1ºC e UR de 50±5%). Mossoró, ESAM, 2000. final do experimento (Figura 1). A perda de massa pode ser atribuída, principalmente, à perda de umidade e de material de reserva, pela transpiração e respiração respectivamente, sendo um dos principais fatores limitantes da vida útil póscolheita de melões, sofrendo influencia de inúmeros fatores, como os da cultivar, dos tratamentos pós-colheita, das condições e duração do armazenamento entre outros (Mayberry e Hartz, 1992; 78 Menezes, 1996). A perda de umidade pode ser uma das principais causas de deterioração, pois resulta não apenas em perda quantitativa, mas também provoca perdas qualitativas ocasionando murchamento do fruto (Menezes, 1996). Gomes Júnior (2000), trabalhando com duas cultivares de melão da variedade Inodorus (AF 646 e Rochedo) em quatro temperaturas de armazenagem (6ºC; 8ºC; 10ºC; 12ºC) verificou aos 35 dias de armazenamento uma variação de 2,37 a 2,94% para ‘AF 646’ e 0,94 a 2,04% para ‘Rochedo’. A firmeza de polpa decresceu durante o armazenamento, com uma média no inicio do experimento (0 dia) de 34 N e ao final (25 dias) de 17 N (Figura 2), verificando-se uma perda de firmeza de 52% durante o tempo transcorrido. Menezes et al. (1995) estudaram a caracterização pós-colheita do melão amarelo ‘Agroflora 646’, e verificaram valores iniciais de firmeza de polpa variando de 83,63 N ao início e 33,07 N ao final, com uma redução em torno de 60%. O amolecimento da polpa do melão pode estar relacionado ao aumento da atividade de hidrolases tais como a poligalacturonase (PG) e pectinametilesterase (PME) durante o armazenamento do fruto (Menezes et al., 1995). Gomes Júnior (2000), trabalhando com melões amarelos, do grupo inodorus, genótipos ‘AF 646’ e ‘Rochedo’ sob armazenamento refrigerado, também verificou redução gradativa nos valores de firmeza de polpa. A firmeza da polpa é uma característica que varia com a variedade. Para melões do grupo inodorus existem grandes diferenças da firmeza da polpa no momento da colheita. Segundo Filgueiras et al. (2000) as cultivares AF 646, TSX 32046 e Gold Mine apresentam por ocasião da colheita 24, 35 e 40 N respectivamente. Observou-se decréscimo para as aparências externa e interna durante o período de armazenamento (Figura 3). A aceitabilidade dos frutos no mercado interno e externo é determinada, principalmente, pela sua qualidade visual. Frutos com nota inferior a 3 são indesejáveis para o consumo. O melão RX 20094, apresentou aos 25 dias, nota 3,7 para a aparência externa e 4,0 para a interna, possibilitando sua comercialização (Figura 3). Resultados semelhantes foram obtidos com o melão ‘Agroflora 646’ no agropolo Mossoró-Assu, que apresentou nota superior a 3 tanto externa como internamente aos 25 dias de armazenamento a 25±2ºC (Menezes et al.,1995). Já o melão amarelo ‘Yellow King’ teve vida útil pós-colheita de 45 dias, sendo que, até os 40 dias estava com aparência superior a três, com boas condiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Armazenamento do melão amarelo, híbrido RX20094, sob temperatura ambiente ções de comercialização (Carvalho et al., 1995). Observou-se decréscimo gradual para os valores de sólidos solúveis ao longo do tempo de armazenamento (Figura 4), porém esses valores foram superiores a 9%, para os 25 dias de armazenamento, considerados ideais para a comercialização no mercado externo (Gayet, 1994). Ao contrario de frutos climatéricos como banana e maçã, que armazenam apreciáveis quantidades de amido para a conversão em açúcares durante o armazenamento (Brady e Young, 1987), o tecido mesocárpico do melão não contém essa reserva. O teor de açucares, que compõe ±90% dos SS, é determinado pelo tempo que o fruto fica preso à planta (Kroen et al., 1991), não aumentando após a colheita. Carvalho et al. (1995) verificaram, que os teores de sólidos solúveis não variaram significativamente, em melão amarelo ‘Yellow King’, armazenado a temperatura ambiente. No entanto, Menezes et al. (1995), verificaram decréscimo de 10,07 (0 dia) a 8,10% (49 dias) em melão ‘AF–646’ à temperatura de ±25°C. Com base nos resultados apresentados neste trabalho e considerando que a firmeza da polpa e as aparências externa e interna são o principal fator responsável pela perda na qualidade em melão, pode-se concluir que a vida útil pós-colheita do híbrido RX 20094 foi estimada em até no mínimo 25 dias de armazenamento sob condições ambiente, em virtude dessas características não terem provocado uma perda na qualidade dos frutos ao nível de consumidor. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 AGRADECIMENTOS Os recursos desta pesquisa foram oriundos do convênio ESAM/ VALEFRUTAS/CNPq – PADFIN. LITERATURA CITADA BRADY, C.J.; YOUNG, R.E. Annual Review of Plant Physiology, Palo Alto, v.38, p.155–178, 1987. 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Camargo2 Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected]; 2USP-ESALQ, C. Postal 09, 13418-900 Piracicaba-SP; E-mail: [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT A grande diversidade genética dos agentes causadores da mancha-bacteriana dificulta sobremaneira o desenvolvimento de variedades de pimentão e tomate com resistência durável. Setenta e dois isolados de Xanthomonas spp. provenientes de campos comerciais de tomate para processamento industrial dos estados de Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia foram classificados em raças com base nas reações de genótipos diferenciais de tomateiro (Walter, Hawaii 7998 e NIL 216) e de Capsicum (ECW [Early Calwonder], ECW-10R, ECW-20R, ECW-30R e PI235047). As plantas foram inoculadas no estádio de três a cinco folhas verdadeiras por infiltração de suspensão bacteriana (5 ´ 108 UFC/ml) na superfície abaxial da folha. Em seguida, foram mantidas em câmara de crescimento em fotoperíodo de 12 h/12 h (luz/escuro) a 28oC. A reação de hipersensibilidade foi observada até 36 horas após a inoculação, dependendo do genótipo da hospedeira. Foram identificadas as raças T1P2, T1P8 e T3 em X. axonopodis pv. vesicatoria; a raça T2 em X. vesicatoria; e as raças T2P7 e T2P8 em X. gardneri. A presença dos genes avrRxv e avrXv3 nos isolados que causaram reação de hipersensibilidade em ‘Hawaii 7998’ (raça T1) e ‘NIL 216’ (raça T3), respectivamente, foi confirmada por reação em cadeia da polimerase (PCR) usando iniciadores específicos. Este é o primeiro relato da ocorrência no Brasil das raças T3, T1P8, T2P7 e T2P8. Races of Xanthomonas spp. associated to bacterial spot in processing tomatoes in Brazil The great genetic diversity of the causal agents of bacterial spot is the main problem to the development of tomato and pepper varieties with durable resistance. Seventy two strains of Xanthomonas spp. collected from commercial fields of processing tomatoes in the states of Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, and Bahia were classified in races according to their reactions on differential genotypes of tomato (Walter, Hawaii 7998 and NIL 216) and Capsicum [ECW (Early Calwonder), ECW-10R, ECW-20R, ECW-30R and PI 235047]. Bacterial suspensions (5 ´ 108 UFC/ml) were infiltrated in the abaxial leaf face of the plants at the three to five true-leaf stage. The plants were then kept in a growth chamber at 28oC and a 12-h light/dark photoperiod. The response reactions were observed up to 36 hours after inoculation, depending on the genotype. Races T1P2, T1P8 and T3 were identified in X. axonopodis pv. vesicatoria; race T2 in X. vesicatoria; and races T2P7 e T2P8 in ‘X. gardneri’. The presence of genes avrRxv and avrXv3 was confirmed by polymerase chain reaction (PCR) with specific primers in strains that produced hypersensitive reaction on ‘Hawaii 7998’ (races T1) and ‘NIL 216’ (race T3), respectively. This is the first report of races T3, T1P8, T2P7 and T2P8 in Brazil. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, Xanthomonas campestris pv. vesicatoria, X. axonopodis pv. vesicatoria, X. vesicatoria, X. gardneri, resistência genética. Keywords: Lycopersicon esculentum, Xanthomonas campestris pv. vesicatoria, X. axonopodis pv. vesicatoria, X. vesicatoria, X. gardneri, genetic resistance. (Recebido para publicação em 23 de dezembro e aceito em 8 de outubro de 2003) A resistência varietal é uma impor tante ferramenta para o controle de doenças de plantas, notadamente as causadas por bactérias fitopatogênicas onde o controle químico é muitas vezes ineficaz (Lopes e Quezado-Soares, 1997). A eficiência e durabilidade da resistência depende, entre outros fatores, da variabilidade genética do patógeno. Variações em patogenicidade expressas em termos de raças fisiológicas ocorrem em diversos patógenos, evoluindo freqüentemente nas populações em resposta à introdução de genes de resistência dominantes de efeito qualitativo (Crute e Pink, 1996). No complexo etiológico da manchabacteriana das solanáceas causado por espécies de Xanthomonas (Jones et al., 80 2000), já foram identificadas três raças em relação ao gênero Lycopersicon (raças T) (Wang et al., 1990; Jones et al., 1995) e onze em relação a Capsicum (raças P) (Kousik e Ritchie, 1995; Ritchie et al., 1998; Sahin e Miller, 1995). Diferentes combinações entre as raças T e P também foram observadas em isolados que infectam as duas hospedeiras (Bouzar et al., 1994; Jones et al., 1995; Jones et al., 1998). As raças são definidas com base em reações de um grupo definido de genótipos das hospedeiras (Leach e White, 1996). Algumas das interações observadas entre as espécies de Xanthomonas associadas à manchabacteriana e as hospedeiras Lycopersicon e Capsicum seguem o modelo gene-a- gene proposto por Flor na década de 40 (Astua-Monge et al., 2000a; Romero et al., 2002). No modelo, genes de avirulência (avr) do patógeno interagem com genes de resistência da hospedeira, resultando em uma reação de incompatibilidade, ou seja, de resistência (Leach e White, 1996). Como exemplos que seguem o modelo no patossistema em questão citase: a) a interação entre os genes Bs1, Bs2 e Bs3, presentes em genótipos de Capsicum, e os respectivos genes avrBs1, avrBs2 e avrBs3 (Stall, 1997); b) entre o gene Xv3 encontrado nos genótipos Hawaii 7981 (L. esculentum), PI 128216 e PI 126932 (ambos L. pimpinellifolium) e o gene avrXv3; c) entre o gene Xv4 de ‘LA716’ (L. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil pennellii) e o gene avrXv4, ambos presentes na raça T3 (Astua-Monge et al., 2000a; Astua-Monge et al., 2000b) e d) avrBs4 (=avrBsP sensu Canteros et al., 1991 e avrBs3-2 sensu Bonas et al., 1993), que induz incompatibilidade em acessos de tomate portando o gene Bs4 (Ballvora, et al., 2001). Existem ainda algumas interações cujos genes ainda não foram identificados (gene de avirulência e/ou de resistência) e outras que envolvem mais de um gene de resistência. No primeiro caso temse o gene avrBsT, que induz incompatibilidade em Capsicum (Minsavage et al., 1990) e os genes envolvidos na interação entre C. pubescens e certas raças P (Sahin e Miller, 1998). No segundo caso, cita-se a interação entre o gene avrRxv da raça T1 (Whalen et al., 1988; Whalen et al., 1993) com pelo menos três genes de resistência não-dominantes (rx1, rx2 e rx3) do genótipo ‘Hawaii 7998’ (Wang et al., 1994; Yu et al., 1995) que resulta em reação de hipersensibilidade (Jones e Scott, 1986). Por outro lado, para a raça T2 não existem fontes conhecidas de resistência qualitativa (Scott et al., 1997; Wang et al., 1990). Isolados da raça T1 têm sido agrupados no grupo fenotípico “A” (= X. axonopodis pv. vesicatoria sensu Vauterin et al., 1995); da raça T2 no grupo “B” (= X. vesicatoria sensu Vauterin et al., 1995) ou no grupo “D” (= X. gardneri de acordo com Jones et al., 2000) e da raça T3, no grupo “C” (= subgrupo de X. axonopodis pv. vesicatoria conforme Jones et al., 2000). No relato de Bouzar et al. (1994), isolados brasileiros foram identificados como raças T1P0, T1P2, T2, T2P1 e T2P3. Este trabalho teve como objetivo determinar as raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em relação a genótipos diferenciais de Lycopersicon esculentum e de Capsicum spp. presentes em amostras de isolados provenientes de campos de tomateiro destinados ao processamento industrial no Brasil. MATERIAL E MÉTODOS Obtenção, manutenção e identificação dos isolados Foram analisados 72 isolados de Xanthomonas spp. coletados a partir de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 1995 em 31 campos comerciais de tomate para processamento industrial localizados nos estados de Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia (Tabela 1). Os isolados foram previamente classificados em X. axonopodis pv. vesicatoria (37 do grupo PFGE “A” e 15 do grupo PFGE “C” sensu Jones et al., 2000), X. vesicatoria (9 do grupo PFGE “B”) ou X. gardneri (11 do grupo PFGE “D”) por meio de análise de perfis genômicos através da eletroforese de campo pulsado, testes de patogenicidade, atividades amidolíticas e pectolíticas e utilização de fontes de carbono (Quezado-Duval, 2003). Identificação das raças Foram utilizados os genótipos diferenciais de tomateiro Walter, Hawaii 7998 e NIL 216 (linha quase isogênica ao genótipo suscetível Fla. 7060 com gene de resistência derivado do genótipo PI 128216 [Astua-Monge et al., 2000a]), e de Capsicum annum ECW (Early Calwonder), ECW-10R, ECW-20R, ECW-30R e C. pubescens PI 235047. As sementes foram obtidas dos bancos de germoplasma de tomateiro e de pimentas/pimentão da Embrapa Hortaliças, Brasília. O semeio foi em bandejas de poliestireno de 128 células preenchidas com substrato agrícola Plantmax® (Eucatex). O transplante para sacos de plástico preto com capacidade de 1,5 L, preenchidos com solo esterilizado, foi feito quando as plantas apresentavam de duas a três folhas verdadeiras. Para a obtenção das culturas bacterianas, os isolados armazenados em tampão fosfato pH 7,0 foram recuperados em meio Ágar-Nutriente após incubação no escuro em câmara com temperatura controlada a 28oC por 5 dias. Uma massa bacteriana foi então transferida com o auxílio de uma alça de platina para tubos de plástico de fundo cônico com capacidade para 50 ml contendo 15 ml de meio Caldo-Nutriente (Sigma Chemical Co., St. Louis, MO, EUA) e homogeneizada em agitador de tubos. O meio foi colocado em incubadora refrigerada MA 830 com agitador orbital (Marconi, Piracicaba, SP) a 148 rotações por minuto a 28oC por cerca de 16 horas. As suspensões obtidas após o período de incubação foram então centrifugadas em centrífu- ga Beckman GS-6 (Palo Alto, CA, EUA), rotor GH3.8, a 2.800 × g por 20 minutos e o sedimentado resultante resuspendido em água destilada a uma concentração de 5×108 UFC/ml segundo, leitura (A 600=0,3), em espectrofotômetro Ultrospec® 3100 pro (Amersham Pharmacia Biotech, Uppsala, Sweden). As plantas foram inoculadas no estádio de seis a sete folhas verdadeiras (cerca de 7 a 8 semanas após o semeio de pimentão e de tomate, respectivamente), através da infiltração de suspensão bacteriana (5 ´ 108 UFC/ml) na superfície abaxial da folha. Durante esse período, as plantas foram mantidas em câmara de crescimento em fotoperíodo de 12h/12h (luz/escuro) a 28oC. A reação de hipersensibilidade foi caracterizada pela necrose dos tecidos em até 36 horas após a inoculação, dependendo do genótipo da hospedeira (612 horas para ECW-10R; 12-24 horas para ECW-20R; 24-36 horas para ECW30R e aproximadamente 24 horas para PI 235047, ‘Hawaii 7998’ e ‘NIL 216’ [Jones et al., 1995; Sahin e Miller, 1998; Stall, 1997]). Presença dos genes avrRxv e avrXv3 A presença dos genes avrRxv e avrXv3 foi confirmada pela reação em cadeia da polimerase (PCR) em todos os isolados que provocaram resposta de hipersensibilidade nos genótipos diferenciais Hawaii 7998 e NIL 216, respectivamente. DNA genômico total foi isolado pelo método de purificação CTAB (brometo de amôniohexadeciltrimetil) (Wilson, 1999). Para a amplificação do fragmento de 680-pb contendo o gene avrRxv , a reação da PCR, em um volume final de 50 mL, foi composta por 100 ng do DNA molde, 5 mL de tampão de amplificação (Promega Life Science, Madison, WI, EUA), 1,5 mM de MgCl2, 1,25 U de Taq DNA polimerase (Promega), 100 mM de cada deoxinucleosídeo trifosfato (dNTPs) e 0,5 mM dos iniciadores RST27 (5’AGTCGCGCGGACATTTAGCCCCGC C) e RST28 (5’CGTCGATGGTGCGCCTGGAATGCGC) (Bouzar et al., 1993). O programa de amplificação constou de 30 ciclos, realizados em um termociclador PTC-100 81 A. M. Quezado-Duval e L. E. A. Camargo Figura 1. Fragmentos de DNA genômico de Xanthomonas spp. associadas à mancha bacteriana do tomateiro de 680 pb, contendo o gene avrRxv (à direita do marcador M), e de 654 pb, contendo o gene avrXv3 (à esquerda do marcador M). Poços 1 a 3, isolados CNPH215 (raça T1P2), CNPH513 (T1P8) e CNPH517 (T1P2); Poço M, marcador molecular 1kb (Promega Corporation, Madison, WI, USA); poços 4 a 6, isolados raça T3, CNPH429, CNPH440 e CNPH520. Piracicaba, ESALQ, 2002. MJ Research Inc. (Watertown, MA, EUA), nas seguintes condições: desnaturação a 95oC por 30 segundos, hibridização a 64oC por 30 segundos e extensão a 72oC por 45 segundos. O último passo de extensão a 72oC foi de 5 minutos. Já para a amplificação do fragmento de 654-pb contendo o gene avrXv3, a reação da PCR foi composta por 100 ng do DNA molde, 5 mL de tampão de amplificação (Promega Life Science, Madison, WI, EUA), 1,5 mM de MgCl 2 , 1,25 U de Taq DNA polimerase (Promega), 100 mM de cada deoxinucleosídeo trifosfato (dNTPs) e 1,0 mM dos iniciadores RST88 (5’CCGCTCGAGATGACAAGTAGTATCA ATC) e RST89 (5’CCGCTCGAGCTACTTAACGAGATTTGTTAC) (Astua-Monge et al., 2000a), em um volume final de 50 ml. Para esse par de iniciadores, empregou-se um ciclo inicial de desnaturação a 95oC por 30 segundos, hibridização a 48oC por 30 segundos e extensão a 72oC por 1 minuto, seguido de 30 ciclos onde a temperatura de hibridização foi elevada a 56oC e as demais mantidas. O último passo de extensão foi de 5 minutos a 72oC. Para ambos os genes, os produtos da PCR foram detectados por eletroforese em gel de 1% de agarose em tampão de corrida TBE 0,5X a 5 V/cm de gel. Os géis foram corados com brometo de etídio (0,5 82 mg/ml) e fotodocumentados com aparelho Image Master® VDS (Pharmacia Biotech, San Francisco, EUA). RESULTADOS E DISCUSSÃO Respostas de hipersensibilidade foram observadas nos genótipos ‘Hawaii 7998’ e ‘NIL 216’, bem como nas linhas quase isogênicas de pimentão ECW portadoras dos genes de resistência Bs1, Bs2 e Bs3. A partir de 48 horas foi possível visualizar o colapso dos tecidos (reação de suscetibilidade) nas variedades suscetíveis Walter e Early Calwonder, bem como nas demais variedades desafiadas com isolados compatíveis. Em relação à localidade, constatouse a ocorrência das raças T1P8 e T3 apenas no nordeste, ao passo que as raças T2, T2P7 e T2P8 foram detectadas apenas no centro-sudeste do país (Tabela 2). A raça T1P2 ocorreu em ambas regiões. Nos quatro campos em Abaré e em um campo em Petrolina, em 1996, foi possível observar a ocorrência concomitante de duas raças distintas (Tabela 2). Nos demais campos, apenas uma raça foi detectada. Os prováveis genes de avirulência presentes nos isolados analisados foram compilados de acordo com as reações de resposta de cada hospedeira diferencial (Tabela 3). A amplificação do fragmento de 680-pb contendo o gene avrRxv ocorreu nos 38 isolados que provocaram resposta de hipersensibilidade no genótipo ‘Hawaii 7998’ (Figura 1). DNA de isolados representantes das raças T2, T2P7/8 e T3 foram utilizados com os mesmos iniciadores (RST27 e RST28) mas nenhum produto foi amplificado. Já o fragmento de 654-pb contendo o gene avrXv3 foi amplificado apenas nos 15 isolados que causaram reação de hipersensibilidade em ‘NIL 216’ (Figura 1). O presente trabalho relata a ocorrência, pela primeira vez, de algumas raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana do tomate para processamento industrial no Brasil. Maior destaque deve ser dado à detecção da raça T3 na Região Nordeste, uma vez que a ocorrência dessa raça havia sido descrita somente no estado da Flórida nos EUA, na Tailândia e no México (Bouzar et al., 1996; Jones et al., 1998). No nordeste, onde a gama de variedades de tomate plantadas é bem mais restrita comparativamente ao centro-sudeste do país, a utilização de variedades contendo o gene de resistência Xv3 poderia resultar em um controle da doença (Astua-Monge et al., 2000a). Alternativamente, o gene Xv4, de L. pennelli poderia ser utilizado, caso fosse constatado que os isolados da raça T3 no Brasil, a exemplo dos isolados da Flórida, também portam o gene avrRv4 (AstuaMonge et al., 2000b). A estabilidade da resistência conferida por esses genes, no entanto, ainda está por ser avaliada. Outro fator interessante em relação a raça T3 é que ela tem se mostrado mais agressiva do que a raça T1, e hoje predomina no estado da Flórida (Jones et al., 1998). Em relação às espécies/grupos PFGE, isolados de X. axonopodis pv. vesicatoria (grupo PFGE “A” sensu Jones et al., 2000) foram classificados em raças T1P2 e T1P8; de X. vesicatoria (“B”) em raça T2; de X. gardneri ( “D”) e raças T2P7 e T2P8 e os 15 isolados pertencentes ao grupo PFGE 3, em raça T3. A distribuição das raças de acordo com as espécies apontadas neste estudo concorda com a existência de uma correlação entre raças T e grupos fenotípicos/espécies (Bouzar et al., Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil Tabela 1. Local, ano e número de isolados de Xanthomonas spp. coletados em campos comerciais de tomate para processamento industrial no Brasil. Piracicaba, ESALQ, 2002. 1994; Bouzar et al., 1996; Bouzar et al., 1999; Louws et al., 1995). Dessa maneira, isolados T1 apresentam certas características fenotípicas e genotípicas que os classificam como pertencentes à espécie X. axonopodis pv. vesicatoria (= grupo fenotípico “A”, sensu Stall et al., 1994; PFGE “A” sensu Jones et al., 2000); isolados T3 têm sido classificados como um subgrupo dentro dessa espécie (Jones et al., 2000); e isolados Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 T2 estavam associados a X. vesicatoria (grupo “B” sensu Stall et al., 1994; PFGE “B” sensu Jones et al., 2000) (Bouzar et al., 1994). Já para o gênero Capsicum, assim como relatado por Bouzar et al. (1999) e Louws et al. (1995) que utilizaram perfis gerados por rep-PCR para caracterizar isolados de Xanthomonas associadas à mancha-bacteriana, perfis de PFGE não se correlacionaram com as características de patogenicidade. Esse resultado não é surpreendente, uma vez que essas características estão relacionadas com a presença de certos genes de avirulência na bactéria, em geral localizados em plasmídeos, não detectados pela técnica e passíveis de transferência lateral. Como também analisado por Sahin (1997), a raça T1 parece ter maior habilidade em adaptar-se às plantas de 83 A. M. Quezado-Duval e L. E. A. Camargo Tabela 2. Raças de Xanthomonas spp. detectadas em campos comerciais de tomate para processamento industrial em municípios do centroSudeste e nordeste, no período de 1995 a 2000. Piracicaba, ESALQ, 2002. 1. Números entre parênteses referem-se ao número de isolados. Capsicum uma vez que também é patógeno dessa hospedeira. Essa adaptação talvez possa ter ocorrido pela perda do gene avrBsT que resulta em hipersensibilidade em genótipos de Capsicum (Minsavage et al., 1990). No entanto, os fatores evolutivos envolvidos não são conhecidos. A raça T2, por sua vez, era considerada mais especializada para infectar Lycopersicon (Bouzar et al., 1994; Sahin, 1997); porém, em X. gardneri, tem se mostrado patogênica às duas hospedeiras. Já a raça T3 ainda é aparentemente mais adaptada ao tomateiro. A presença do gene avrBsT nas raças T2 de X. vesicatoria e T3 pode ser confirmada através de detecção por PCR, já que sua seqüência é conhecida (Ciesiolka et al., 1999), a exemplo do que foi feito neste trabalho para os genes avrRxv e avrXv3. Para isso, no entanto, seria necessário o desenvolvimento de iniciadores específicos. Da mesma forma, seria interessante confirmar a pre84 sença do gene avrBs2. Sua presença foi inferida com base nos testes de hipersensibilidade aqui apresentados em todos os isolados que também foram patogênicos a Capsicum. De fato, uma alta freqüência desse gene tem sido observada, inclusive de seus homólogos em Xanthomonas de outras hospedeiras (Kearney e Staskawicz, 1990). Um papel importante na patogenicidade tem sido apontado como a causa dessa ampla distribuição (Kearney e Staskawicz, 1990). Em virtude disso, a possibilidade do uso do gene de resistência Bs2 do pimentão em plantas transgênicas de tomate está sendo analisada (Tai et al., 1999). Em relação a X. gardneri, por ser aparentemente de ocorrência pouco freqüente, apenas o isolado-tipo XG101 e isolados da Costa Rica haviam sido classificados quanto à raça, sendo agrupados, respectivamente, em T2P1 e P1 (Bouzar et al., 1994; Bouzar et al., 1999). Os isolados de X. gardneri ana- lisados neste estudo, por sua vez, foram classificados em raças distintas (T2P7 ou T2P8). No entanto, convém ressaltar que, com a inclusão do genótipo de C. pubescens PI 235047, raças anteriormente classificadas como P1 e P3 podem passar a ser designadas P7 e P8, respectivamente, de acordo com a reação de resposta desse genótipo (Ritchie et al., 1998; Sahin e Miller, 1998). O número de isolados analisados por campo em cada município foi baixo para que se viabilizasse uma análise apropriada do grau de diversidade de raças por campo. Porém, vale notar que, dos 31 campos avaliados, em apenas três campos em Abaré e um em Petrolina, foi possível detectar duas raças distintas em relação a Capsicum (T1P2 e T1P8). A conversão da raça P2 em raça P8 (exP3) poderia ser possível no próprio campo através da perda do gene avrBs1, localizado em plasmídeo (Minsavage et al., 1990) ou inserção de um elemento genético móvel do tipo IS476 que inatiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Raças de Xanthomonas spp. associadas à mancha-bacteriana em tomate para processamento industrial no Brasil Tabela 3. Reações de hospedeiras diferenciais de Lycopersicon e Capsicum e prováveis genes de avirulência presentes nos isolados de Xanthomonas spp. analisados. Piracicaba, ESALQ, 2002. 1. Genes de avirulência descritos na literatura. va o gene avrBs1 (Kearney e Staskawicz, 1990). Mudanças de raças P têm sido observadas tanto in vitro, como em campo (Dahlbeck e Stall, 1979; Pohoronezny et al., 1992). Kousik e Ritchie (1996) registraram a conversão de populações de raças P1 (avrBs3) e P2 (avrBs1), em populações P3, em dois campos, respectivamente, cultivados com pimentão resistentes ECW-30R (Bs3) e ECW-10R (Bs1) no mesmo ciclo de cultivo. Para o primeiro caso, confirmou-se a perda do plasmídeo contendo o gene avrBs3 e para o segundo, a mutação do gene avrBs1 pela inserção do elemento IS476. Outra hipótese para a presença das raças P2 e P8, mencionadas anteriormente no presente trabalho, seria a de que as duas raças foram introduzidas simultaneamente ou em eventos distintos via sementes infectadas. Considerando que, no Brasil, tanto as variedades de tomate para indústria como as de mesa e de pimentão não possuem nenhum gene de resistência caracterizado, sugere-se que a composição racial das populações aqui relatadas não seja um resultado de pressão de seleção exercida pela hospedeira e sim de eventos de introdução ocorridos ao acaso nos campos (efeito fundador) seguidos de adaptação ao ambiente. O conhecimento da diversidade patogênica das populações bacterianas é de extrema importância para direcionar os programas de melhoramento e utilização de genes de resistência. À medida que o Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 conhecimento sobre os genes de avirulência se acumula, torna-se possível avaliar as populações bacterianas locais e, desse modo, lançar mão daqueles genes de resistência que reconheçam os genes complementares de avirulência predominantes. O emprego da PCR pode auxiliar no processo de designação das raças e monitoramento das populações quanto à presença dos genes de avirulência. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Luiz Cláudio Rodrigues (Olé Alimentos), Rafael Sant’ana (Arisco) e Leonardo Costa da Fonte (Vanden Bergh Alimentos) pelo auxílio nas coletas dos isolados do centro-sudeste, a pesquisadora Mirtes Freitas Lima (Embrapa Semi-Árido) pela coleta das amostras de plantas do nordeste do país. Este trabalho foi em parte financiado pelo CNPq e FAPESP. LITERATURA CITADA ASTUA-MONGE, G.; MINSAVAGE, G.V.; STALL, R.E.; DAVIS, M.J.; BONAS, U.; JONES, J.B. Resistance of tomato and pepper to T3 strains of Xanthomonas campestris pv. vesicatoria is specified by a plant-inducible avirulence gene. Molecular Plant-Microbe Interactions, v.13, n.9, p.911-921, 2000a. ASTUA-MONGE, G.; MINSAVAGE, G.V.; STALL, R.E.; VALLEJOS, C.E.; DAVIS, M.J.; JONES, J.B. 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Postal 02, 58397-000 Areia-PB; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT O coentro, hortaliça arbustiva anual utilizada em muitos pratos regionais do Norte e Nordeste, é cultivado no estado da Paraíba por pequenos agricultores, sendo verificados baixos rendimentos, devido principalmente à nutrição mineral desequilibrada. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de doses de P2O5 no rendimento do coentro, cultivar Verdão, em experimento conduzido na Universidade Federal da Paraíba, em Areia, no delineamento de blocos casualizados, com quatro repetições, sendo os tratamentos constituídos pelas doses de 00; 50; 100; 150 e 200 kg ha-1 de P2O5 As plantas, espaçadas em 25 x 5 cm, foram estabelecidas em parcelas de 2,0 m2. De acordo com os resultados, a altura máxima das plantas (63 cm) e o rendimento máximo estimado de massa verde (51 t ha-1), foram obtidos, respectivamente, com a aplicação das doses de 93 kg ha-1 e 112 kg ha-1 de P2O5. A dose de máxima eficiência econômica foi a de 110 kg ha-1 de P2O5, cuja aplicação proporcionou uma produtividade de 50,55 t ha-1, significando um incremento de 15,1 t ha-1 na produção de massa verde. Effect of phosphorus fertilization on the yield of coriander in soil with low levels of phosphorus Palavras-chave: Coriandrum sativum L., nutrição mineral, rendimento. Coriander (Coriandrum sativum L.) is an arbustive vegetable utilized as spice in regional foods in North and Northeast Brazil. In the Paraiba State it is cultivated by small farmers and the yield of the crop is low mainly due to not well balanced mineral nutrition fertilization. The work was conducted at the Universidade Federal da Paraíba, in Areia, Brazil, from June to August 2002, to evaluate the effect of levels of P2O5 on the yield of coriander, cv. Verdão. The experimental design was randomized blocks with five treatments (0; 50; 100; 150 and 200 kg ha-1 of P2O5) and four replications. Coriander plants were spaced 25 x 5 cm and sown in plots of 2,0 m2. The applications of 93 kg ha-1 and 112 kg ha-1 of P2O5 resulted, in maximum plant height (63 cm) and in the higher production of green mass (51 t ha-1), respectively. The level of 110 kg ha-1 of P2O5 was economically the most efficient and provided a green mass yield of 50,55 t ha-1 with an increase of 15,1 t ha-1. Keywords: Coriandrum sativum L., mineral fertilization, yield. (Recebido para publicação em 6 de janeiro de 2003 e aceito em 8 de outubro de 2003) O coentro é uma hortaliça anual de grande importância econômica e social para o Nordeste brasileiro. Esta espécie pertencente à família Apiaceae sendo originária da região mediterrânea. No Brasil, as folhas são a parte da planta mais utilizada na alimentação humana, participando de muitos pratos regionais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste (Marques e Lorencetti, 1999). No estado da Paraíba, é cultivado em quase todas as micro-regiões por pequenos agricultores, sem nenhuma orientação técnica, o que tem proporcionado baixa produtividade. Apesar de absorverem relativamente pequenas quantidades de nutrientes, quando comparadas com outras culturas, as hortaliças folhosas são consideradas exigentes em nutrientes, em função de seus ciclos relativamente curtos. Quanto ao fósforo especificamente, as quantidades exigidas são geralmente baixas, principalmente quando comparadas com o nitrogênio e o potássio. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Entretanto, apesar dessa baixa exigência, a resposta às doses de fertilizantes é geralmente alta, devido à baixa disponibilidade natural de fósforo nos solos brasileiros (Novais e Smyth, 1999). Mesmo em solos já adubados anteriormente, a deficiência de fósforo pode ocorrer, principalmente em locais onde o solo apresenta alta taxa de fixação deste elemento. O seu suprimento adequado, desde o início do desenvolvimento vegetal, é importante para a formação dos primórdios das partes reprodutivas, estimula o desenvolvimento radicular, é essencial para a boa formação de frutos e sementes e incrementa a precocidade da produção. A resposta a fósforo é variável de cultura para cultura, ou mesmo entre cultivares da mesma espécie, sendo umas mais eficientes que outras na sua absorção (Raij, 1991). Mesmo sendo o fósforo, um dos nutrientes que o coentro mais responde (Filgueira, 2000), pouco se conhece a respeito dos níveis ideais deste elemento a serem aplicados no solo, visando a obtenção de rendimentos satisfatórios. As recomendações encontradas na literatura indicam uma grande variação nos níveis de P2O5 recomendados para esta cultura. Filgueira (1982) e Pedrosa et al. (1984), recomendam 5 g m-2 e 700 kg ha-1 de superfosfato simples em adubação de plantio, respectivamente. Segundo Filgueira (2000), para se obter rendimento satisfatório de massa verde no coentro em solos com teor baixo a médio de fósforo, deve ser fornecido à cultura de 100 a 180 kg/ha P2O5, na adubação de plantio. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento do coentro submetido a diferentes doses de P2O5, uma vez que os custos da adubação desta hortaliça pode representar 20 a 30% do custo de produção. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em campo experimental da UFPB, em 87 A. P. Oliveira et al. Figura 1. Altura de plantas de coentro cultivar Verdão aos 50 dias, em função de doses de P2O5. Areia, UFPB, 2002. através da medição de 40 plantas por parcela e do rendimento de massa verde, por meio da pesagem de talo e folhas verdes de todas as plantas úteis das parcelas. Os resultados foram submetidos à análise de variância e de regressão, sendo selecionado para expressar o comportamento das doses de P2O5 sobre as características avaliadas, o modelo significativo que apresentou maior coeficiente de determinação. Nas significâncias das análises de variância e de regressão foi considerado o nível de probabilidade de 5% pelo teste F. O teste “t” foi utilizado para testar os coeficientes da regressão no mesmo nível de probabilidade. A dose de máxima eficiência econômica de P205 foi calculada igualando-se a derivada primeira da equação de regressão à relação entre preços do insumo (R$ /kg de P2O5 ) e do produto (R$/1000/t de massa verde) (Raij, 1991; Natale et al., 1996), sendo os vigentes em Areia-PB em outubro de 2002, de R$ 4,00/kg de P2O5 e R$ 1000/t de massa verde. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 2. Rendimento de massa verde de coentro cultivar Verdão aos 50 dias, em função de doses de P2O5. Areia, UFPB, 2002. Areia, no período de junho a agosto/ 2002, em NEOSSOLO REGOLITO Psamítico típico, textura franca, utilizando-se as doses 00; 50; 100; 150 e 200 kg ha-1 de P2O5, tendo como fonte o superfosfato simples, distribuídas em blocos casualizados com quatro repetições. A análise do solo antes da aplicação das doses de P2O5 indicou a seguinte composição: pH H2O = 6,26; P disponível = 11,06 mg/dm3; K disponível = 9,13 mg/dm3; Na+ = 0,03 cmolc/dm3; H+ + Al+3 = 1,07; Al+3 = 0,00 cmolc/dm3; Ca+2 = 2,40 cmolc/dm3; Mg+2 = 0,20; SB = 2,65 cmolc/dm3; CTC = 3,72 cmolc/ dm3 e matéria orgânica = 16,07 g/dm3. A adubação seguiu recomendações do Laboratório de Química e Fertilidade de Solos da UFPB e constou da aplicação 5,0 kg m-2 de esterco bovino curtido e seco, 15,0 g m-2 de cloreto de potássio e das doses de fósforo definidas anteriormente, aplicadas cinco dias antes da se88 meadura, e de 10 g m2 de N, fonte sulfato de amônio, aplicado em adubação de cobertura, parcelado 50% aos 20 e 50% aos 40 dias após a semeadura. O preparo do solo constou de confecções de canteiros. As parcelas mediram 2,0 m2, e utilizou-se a cultivar Verdão, a partir das sementes produzidas pela Hortivale. As sementes foram distribuídas em sulcos longitudinais, distanciados de 25 cm a uma profundidade de 3,0 cm, realizando-se o desbaste vinte dias depois, deixando-se uma planta a cada 5,0 cm. Realizaram-se os tratos culturais normais para a cultura, incluindo irrigação por aspersão e capinas manuais. Dispensou-se o emprego de defensivos agrícolas, devido à ausência de pragas e doenças. Foram obtidos dados de altura de plantas aos 50 dias após a semeadura, A aplicação de P2O5 influenciou significativamente a altura das plantas e o rendimento de massa verde do coentro (Figuras 1 e 2). As médias para a altura de plantas em função das doses de P2O5 ajustaram-se a modelo quadrático de regressão (Figura 1), onde pela derivada da equação calculou-se a dose de 93 kg ha-1 como aquela responsável pela altura máxima das plantas (63 cm). A exemplo do ocorrido para altura de plantas, as médias do rendimento da massa verde no coentro também ajustaram-se a modelo quadrático de regressão, calculando-se a dose de 112 kg ha1 como a responsável pelo rendimento máximo estimado de massa verde de 51 t ha-1 (Figura 2). A fórmula obtida para a dose de máxima eficiência econômica foi: Dose de onde Y é a relação entre os preços do insumo e do produto. Dessa forma, a Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Resposta do coentro à adubação fosfatada em solo com baixo nível de fósforo dose mais econômica de P2O5 foi de 110 kg ha-1, para Y = 0,004, com produção de 50,55 t ha-1 de massa verde, o que representa um incremento de 15,06 t ha-1 de massa verde. A dose de máxima eficiência econômica de P2O5 foi muito próxima daquela responsável pela produtividade máxima de massa verde. Sob o ponto de vista do rendimento, o resultado obtido em função da dose de P2O5 responsável pela produtividade máxima de massa verde, superou aqueles obtidos por produtores de coentro do estado de Pernambuco (40 t ha-1), em cultivo convencional (Hortivale, 1987) e por produtores da região Norte (Pimentel, 1985), com rendimento em torno de 50 t ha-1 de massa verde, indicando os benefícios do seu emprego na produção de massa verde no coentro. Outro efeito positivo da aplicação foi possivelmente o suplemento de nutrientes de forma equilibrada. O fósforo, fornecido em quantidade adequada, desde o início do desenvolvimento nas culturas, em geral, estimula o desenvolvimento radicular e incrementa a sua produção (Raij, 1991). Embora o excesso de fósforo possa não parecer um problema sério para as plantas, já que o “consumo de luxo” é transferido para polifosfato e outros fosfatos, sem afetar o crescimento (Raij, Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 1991), doses acima de 112 kg ha-1 de P2O5, proporcionaram queda na altura das plantas e no rendimento de massa verde, o que pode indicar que esta hortaliça é sensível a doses excessivas desse elemento. Alguns autores verificaram queda no rendimento em hortaliças em função de doses elevadas de fósforo (Yamanishi e Castellane, 1987; Silva et al., 1996; Fontes et al., 1997; Vieira et al., 1998; Silva et al., 2001). LITERATURA CITADA FILGUEIRA, F.A.R. Manual de olericultura: cultura e comercialização de hortaliças. 2o ed., São Paulo: Agronômica Ceres, 1982, v.1, 338 p. 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Postal 02372, 70770-900 Brasilia-DF; E-mail: [email protected]; Universidade Católica de Brasília, 70790-160 Brasília-DF; 3University of Wales Swansea, Singleton Park, Swansea, SA2 8PP, Wales, UK; 4CIRAD-AMIS, BP 5035, 34032 Montpellier Cedex 1, France. 1 2 RESUMO ABSTRACT O gênero Diadegma compreende espécies que são parasitóides de larvas da traça-das-crucíferas Plutella xylostella, uma das mais importantes pragas das plantas da família Brassicacea. Este gênero possui distribuição mundial. Neste trabalho, três populações de Diadegma spp. oriundas de diferentes países (Brasil, Ilha da Reunião e Malásia) foram caracterizadas geneticamente por meio da técnica de RAPD-PCR. Não foi constatada variabilidade intrapopulacional, no entanto o alto coeficiente de similaridade entre populações sugeriram que esses insetos poderiam pertencer a espécies diferentes. Genetic variability of Diadegma sp., parasitoid of diamondback moth using RAPD-PCR The genus Diadegma has species that are parasitoids of larvae of diamondback moth, Plutella xylostella, one of the most important pests of Brassicacea. This genus has a worldwide distribution. Representative samples of three Diadegma populations from Brazil, Reunion Island and Malaysia were characterized by RAPD-PCR. No intra-population variability was found. However, the high coefficient of genetic similarity between the populations suggests that they could belong to different species. Palavras-chave: Plutella xylostella, inimigo natural, controle biológico, populações, marcadores moleculares. Keywords: Plutella xylostella, natural enemy, biological control, population, molecular marker. (Recebido para publicação em 06 de janeiro de 2003 e aceito em 10 de dezembro de 2003) O gênero Diadegma (Hymenoptera: Ichneumonidae) compreende espécies que são parasitóides de larvas de insetos de pequeno e médio tamanho e são consideradas muito eficientes para o controle da traça-das-crucíferas Plutella xylostella, uma das mais importantes pragas das plantas da família Brassicacea (Lepidoptera: Yponomeutidae) (Talekar e Shelton, 1993; Monnerat e Bordat, 1998; Monnerat et al., 2002; Guilloux et al., 2003). Este gênero possui distribuição mundial. Na região do Distrito Federal foi constatado que este inseto pode parasitar naturalmente 40% das larvas da traça-das-crucíferas, sendo portanto uma importante ferramenta para o controle biológico em olericultura (Monnerat, 1995; Guilloux et al., 2003). Mais de 200 espécies já foram descritas, entretanto a até bem pouco tempo havia muitas dúvidas quanto à identificação segura destes insetos, pois a mesma se baseava em aspectos morfológicos, que não eram suficientes para separar as espécies. Assim, espécies morfologicamente idênticas podiam apresentar diferenças no comportamento, biologia e hospedeiros (Noyes, 90 1994). Ainda, a existência de híbridos entre espécies reconhecidamente diferentes como D. semiclausum (Hellen) e D. fenestrale (Holmgren) (Hardy, 1938) dificulta a sua identificação. A fim de controlar P. xylostella, muitas introduções de populações de Diadegma foram realizadas em diferentes regiões do mundo (Oatman, 1978; Ooi, 1992; Talekar e Yang, 1991). Em muitos casos, as introduções foram feitas de forma desordenada, tornando extremamente difícil saber se uma certa espécie era endêmica ou introduzida. Nesta última década, ferramentas de biologia molecular têm sido empregadas para caracterização de material biológico em diversas áreas. Dentre essas, merece ser destacada a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) (Steffan e Atlas, 1991). Esta técnica tem permitido estudos de polimorfismo em diferentes populações de insetos (Haymer, 1994; Lima et al., 2000). Este trabalho teve como objetivo comparar três populações de Diadegma sp. morfologicamente semelhantes, de espécies não determinadas, coletadas em diferentes partes do mundo, por meio da técnica de RAPD-PCR. MATERIAL E MÉTODOS Insetos Os insetos analisados foram coletados na Ilha da Reunião (sudeste da África), Brasil e Malásia, criados em laboratório e estocados a -80°C até serem utilizados. Os insetos coletados na Malásia foram identificados como D. semiclausum. Dez indivíduos adultos de cada população foram utilizados para os testes intra-específicos. Dez grupos de dez adultos de cada população foram utilizados para os testes inter-específicos. Extração e amplificação do DNA Para a obtenção do DNA foram avaliados os protocolos de extração descritos por Black et al. (1992), Langridge et al. (1991) e Möller et al. (1992). O método descrito pelo primeiro autor foi utilizado para todos os testes. O protocolo consistiu em (1) macerar os insetos em tampão TES (100mM TRIS, pH 8,0, 10 mM EDTA, 2%SDS), (2) deixar o macerado em repouso por 5 minutos, (3) incubar com proteinase K a 37°C por 15 minutos, (4) adicionar 100 µl de água e incubar por mais 15 minutos a 37°C, (5) incubar a Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Variabilidade genética de Diadegma sp., parasitóide da traça-das-crucíferas, através de RAPD-PCR Tabela 1. Matriz do coeficiente de similaridade genética de três populações de Diadegma sp., baseado na porcentagem de bandas co-migrantes em gel de eletroforese. Harpenden (UK), Rothamsted, 1994. Figura 1. Perfil de RAPD-PCR da população de Diadegma sp. oriunda do Brasil, usando o oligonucleotídeo OPK-02. Números 1 a 10: indivíduos; m: marcador molecular 123 bp ladder. Harpenden (UK), Rothamsted, 1994. Figura 2. Perfil de RAPD-PCR das três populações de Diadegma sp. oriundas da Ilha da Reunião (R 1,2,3), do Brasil (B 4,5,6) e da Malásia (M 7,8 9) usando o oligonucleotídeo OPK-09. m: marcador molecular 123 bp ladder. Harpenden (UK), Rothamsted, 1994. 94°C por 5 minutos, (6) centrifugar por 5 minutos a 13.000 rpm, (7) coletar o sobrenadante, (8) estocar a –80°C. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Um volume de 1 µl da solução contendo o DNA do inseto foi misturado com os componentes: 2,5 µl de tampão de reação, 1,5 µl do oligonucleotídeo (50 ng/µl), 0,25 µl dNTPs a 20 mM, 0,2 µl de DNA Taq Polimerase (5U/µl, Northumbria Biologicals), 19,55 µl de água bidestilada estéril. Quinze oligonucleotídeos (kit Operon, UK) foram utilizados neste estudo (OPA7, OPB16, OPE6, OPE16, OPF13, OPK1, OPK2, OPK5, OPK7, OPK9, OPK10, OPK11, OPK15, OPK17 e OPK18). As amplificações foram realizadas em termociclador (Hybaid) programado da seguinte forma: (1) desnaturação inicial de 5 minutos a 94°C, (2) 42 ciclos de desnaturação de 1 minuto a 92°C, hibridação de 1 minuto a 35°C e alongamento de 1 minuto a 72°C, (3) alongamento final de 1 minuto a 72°C. Os produtos foram analisados em gel de agarose 0,8% em tampão TBE (45mM TRIS, 45mM de ácido bórico, 1mM EDTA pH 8,0) e as bandas visualizadas em luz ultravioleta. Análise das bandas Os perfis eletroforéticos foram analisados por meio do programa estatístico Genstat (Payne et al., 1987) e a matriz de similaridade genética foi calculada pelo coeficiente de similaridade de Jaccard (Sneath e Sokal, 1973). RESULTADOS E DISCUSSÃO Três métodos de extração de DNA foram avaliados, pois não havia nenhum método descrito especificamente para parasitóides. Dentre estes, o método de Black et al. (1992), descrito para extração de DNA de afídeos, foi selecionado para a realização do trabalho, pois foi o único que proporcionou uma boa extração de DNA. Os outros métodos, des- critos para a extração de DNA de plantas (Langridge et al., 1991) e de fungos filamentosos (Möller et al., 1992), não foram apropriados por não resultarem em um DNA de boa qualidade. Nenhuma variabilidade genética intra-populacional foi detectada usando os 15 oligonucleotídeos mencionados (100% de similaridade), sugerindo que cada uma das populações são geneticamente homogêneas (Figura 1). O RAPD-PCR entre as diferentes populações (Figura 2) apresentou 55 produtos diferentes. Houve grande variabilidade genética entre as populações analisadas (23,6 a 47,3%) (Tabela 1). A alta variabilidade genética entre as populações, revelada por RAPD-PCR neste trabalho, sugeriu que as mesmas pertenciam a espécies diferentes. De fato, estudos posteriores baseados nos critérios sugeridos por Azidah et al. (2000) confirmaram que a população isolada do Brasil era D. leontiniae e a população isolada da Ilha da Reunião era D. mollipla. Os resultados preliminares obtidos com essas três espécies de Diadegma, morfologicamente idênticas, mostraram que esta técnica molecular tem potencial para auxiliar nos trabalhos de taxonomia, incluindo estudos de genética populacional, fluxo gênico e outros. LITERATURA CITADA AZIDAH, A.A.; FITTON, M.; QUICKE, D.J.J. Identification of the Diadegma species (Hymenoptera: Ichneumonidae, Campopleginae) attaking the diamondback moth, Plutella xylostella (Lepidoptera: Plutellidae). Bulletin of Entomological Research, v.90, n.5, p.375-389. 2000. BLACK IV, W.C.; DU TEAU, N.M.; PUTERKA, G.J.; NECHOLS, J.R.; PETTORINI, J.M. 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Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide Leilson Costa Grangeiro; Arthur Bernardes Cecílio Filho UNESP-FCAV, Depto. Produção Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14.884-900 Jaboticabal-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT O objetivo do presente trabalho foi determinar o acúmulo e exportação de macronutrientes pela cultura da melancia, híbrido Tide. O experimento foi conduzido no município de Borborema – SP. As amostragens de plantas foram realizadas aos 15, 30, 45, 60 e 75 dias após transplantio (DAT), para determinação da massa seca e do acúmulo e exportação dos nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S). O acúmulo de massa seca foi lento até os 30 DAT, intensificando-se a partir deste período e atingindo, no final do ciclo, a contribuição média da parte vegetativa de 31% e dos frutos de 69%. Até 30 DAT, o acúmulo de nutrientes também foi pequeno, não ultrapassando 2% do total. Com a frutificação, houve forte incremento na quantidade de nutrientes acumulados. O período de maior demanda para N, Ca e Mg foi de 45 a 60 DAT e para P, K e S de 60 a 75 DAT. Do total acumulado, a parte vegetativa foi responsável por 29,6% e os frutos com 70,4%. A ordem decrescente dos nutrientes acumulados pela cultura foi: K>N>Ca>Mg>P>S. Para a produtividade alcançada de 40 t ha-1 observou-se a seguinte exportação de nutrientes pelos frutos: 106,4 kg ha-1 de N, 11,1 kg ha-1 de P, 118,0 kg ha-1 de K, 4,3 kg ha-1 de Ca, 6,8 kg ha-1 de Mg e 6,0 kg ha-1 de S. Accumulation and exportation of macronutrients by watermelon Tide hybrid Palavras-chave: Citrullus lanatus (Thunb.), nutrição de plantas, crescimento. The objective of this research was to determine under field condition the accumulation and exportation of macronutrients by watermelon plant. The experiment was carried out in the Borborema region, State of São Paulo. The samples were taken at the 15, 30, 45, 60 and 75 days after transplanting (DAT), for dry mass determination and accumulation and exportation of N, P, K, Ca, Mg and S. The dry mass accumulation was slow until 30 DAT, intensifying later with the beginning of the frutification. At the end of the cycle, the average contribution of the vegetative part was of about 31% and of fruits 69%. The accumulation of the nutrients followed the curve of dry mass accumulation. The period of larger demand for the nutrients N, Ca and Mg occured from 45 to 60 DAT and for P, K and S from 60 to 75 DAT. The vegetative part was responsible for 29,6% of the total accumulated and the fruits for 70,4%. The nutrients in decreasing order of accumulation were: K>N>Ca>Mg>P>S. To yield of 40 t ha-1 the exported of nutrients by fruits were: 106.4 kg ha-1 of N, 11.1 kg ha-1 of P, 118.0 kg ha-1 of K, 4.3 kg ha-1 of Ca, 6.8 kg ha-1 of Mg and 6.0 kg ha-1 of S. Keywords: Citrullus lanatus (Thunb.), plant nutrition, growth. (Recebido para publicação em 12 de fevereiro de 2003 e aceito em 09 de outubro de 2003) A marcha de absorção de nutrientes, fornece informação sobre a exigência nutricional das plantas em seus diferentes estádios fenológicos, sinalizando as épocas mais propícias à adição dos nutrientes. Entretanto, a quantidade e a proporcionalidade dos nutrientes absorvidos pelas plantas são funções de características intrínsecas do vegetal, como, também, dos fatores externos que condicionam o processo. Numa espécie, a capacidade em retirar os nutrientes do solo e as quantidades requeridas variam não só com a cultivar, mas também com o grau de competição existente. Variações nos fatores ambientais como temperatura e umidade do solo podem afetar o conteúdo de nutrientes minerais nas folhas consideravelmente. Esses fatores influenciam tanto a disponibilidade dos nutrientes como a absorção destes pelas raízes e, conseqüentemente, o cresHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 cimento da parte aérea. Por outro lado, o acúmulo e a distribuição dos nutrientes minerais na planta dependem de seu estádio de desenvolvimento (Marschner, 1995; Goto et al. 2001). As curvas de absorção de nutrientes determinadas para algumas espécies de cucurbitáceas têm mostrado comportamento bem semelhante, onde o acúmulo de nutrientes segue o mesmo padrão da curva de acúmulo de massa seca, geralmente apresentando três fases distintas: na primeira fase a absorção é lenta, seguida de intensa absorção até atingir o ponto máximo, a partir do qual ocorre um pequeno declínio (Tyler e Lorenz, 1964; Prata, 1999; Araújo et al., 2001; Lima, 2001). Na literatura brasileira, foi encontrado apenas um artigo científico (Nascimento et al. 1991) relatando a marcha de absorção de nutrientes pela melancia, utilizando-se a cultivar Fairfax. Entretanto, o mesmo apresenta informações parciais, com o período de avaliação realizado até o início de frutificação. Os autores citam que o acúmulo de massa pela cultivar Fairfax foi crescente até 66 dias após a emergência, época essa em que iniciou-se a frutificação. Com relação ao acúmulo de nutrientes, nas diferentes partes vegetativas da planta, Nascimento et al. (1991) constataram que o N, P, K e Mg apresentaram maior acúmulo na folha, aos 37 dias após a emergência, enquanto que no caule e nas raízes esses nutrientes tiveram acúmulo crescente até os 66 dias. A extração de nutrientes pela cultura aos 66 dias foi da ordem de 23; 3; 34; 46 e 8 kg ha-1 de N, P, K, Ca e Mg, respectivamente. Zhu et al. (1996), verificaram que a taxa de absorção de nutrientes na cultura da melancia acompanha a taxa de produção de massa seca, atingindo o máxi93 L. C. Grangeiro e A. B. Cecílio Filho de plantas foram realizadas aos 15, 30, 45, 60 e 75 dias após o transplantio. Nas duas primeiras coletas foram amostradas 16 plantas competitivas e nas demais avaliações foram coletadas 8 plantas. Após cada coleta, as plantas foram fracionadas em caule + folha e frutos, lavadas e colocadas em estufa com circulação forçada de ar à temperatura de 65 ºC. Após a secagem, o material foi moído, para determinação dos teores dos nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S conforme metodologias descritas por Bataglia et al. (1983). Os dados de massa seca e do acúmulo de macronutrientes foram submetidos a análise de regressão, para determinação das equações. Figura 1. Acúmulo de massa seca na parte vegetativa (Y1), frutos (Y2) e total (Y3) em planta de melancia híbrido Tide. Borborema – SP, 2001. mo na época do desenvolvimento dos frutos, quando, então, começa a diminuir. Lopez-Cantarero et al. (1992) verificaram diferença entre cultivares de melancia para quantidade e teores de nutrientes na folha, sendo observadas diferenças de aproximadamente 100% nos teores entre as cultivares. Diante do exposto, e objetivando obter informações sobre as quantidades de macronutrientes requeridos pela melancieira, bem como as épocas de suas maiores demandas desenvolveu-se o presente trabalho para determinar o acúmulo e a exportação de nutrientes pela cultura da melancia, híbrido Tide, um dos mais cultivados na região de Borborema-SP. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em área comercial, localizada no município de Borborema – SP, no período de outubro a dezembro de 2001. O solo é classificado como Argissolo VermelhoAmarelo distrófico textura média (Embrapa, 1999). Da área experimental foram retiradas amostras de solo, cuja análise química revelou os seguintes resultados: pH (CaCl2) = 4,2; M.O.= 11 g dm-3; P (resina) = 2,0 mg dm-3; K = 1,1 mmolc dm-3; Ca = 7,0 mmolc dm-3; 94 Mg = 3,0 mmol c dm -3 ; SB = 11,1 mmolcdm-3 T = 39,1 e V = 28%. O preparo do solo constou de aração seguida de gradagem, onde foi distribuído 2,1 t ha-1 de calcário dolomítico, sendo sua incorporação feita por gradagem, 45 dias antes do transplantio. Aplicouse, como adubação de plantio, 680 kg ha-1 da formulação 04-30-10. A adubação de cobertura foi realizada com 330 kg ha-1 da formulação 20-00-20, parcelada aos 10, 21 e 35 dias após transplantio. A partir dos 20 dias após transplantio, foram aplicados semanalmente, junto com os defensivos, os seguintes adubos foliares (por 100 L de água): 200 mL do produto comercial contendo Mg (6%); 200 mL da formulação 8% Ca e 0,5% B e 200 mL da formulação comercial composto por: 3% S; Zn 3%; 2% Mn; 0,5% B e 0,1% Mo. A pluviometria ocorrida durante o ciclo da cultura foi de 436 mm, não havendo complementação com irrigação. A semeadura foi realizada em bandejas de poliestireno expandido para 200 mudas em 03/09/2001, utilizando-se substrato comercial. O transplantio foi realizado aos 30 dias após a semeadura, quando as mudas apresentavam 2 folhas definitivas, no espaçamento 3,0 x 1,7 m. Utilizou-se o híbrido Tide. As coletas RESULTADOS E DISCUSSÃO O aparecimento das flores ocorreu entre 25 e 30 dias após o transplantio e o início de frutificação entre 35 e 40 dias. A produtividade verificada foi de 40 t ha-1, bem superior a média no Estado de São Paulo no ano de 2000 (27t ha-1) (Camargo Filho e Mazzei, 2002), sendo que as condições climáticas e fitossanitárias durante o ciclo de cultivo favoreceram o bom rendimento da cultura. O crescimento da planta de melancia, expresso pelo acúmulo de massa seca ao longo do ciclo, foi lento até 30 dias após transplantio (DAT), intensificando-se a partir deste. A parte vegetativa, representada pelas folhas e caule, teve maior participação na massa seca total até cerca de 63 dias, quando correspondeu a 52% (Figura 1). No período compreendido entre 40 e 60 DAT, a taxa de incremento de massa seca da parte aérea foi de 17,2 g planta-1 dia-1, superior aos 5,5 g planta-1 dia-1 observados no período seguinte (60 a 75 DAT) e também maior que os 13,8 g planta-1 dia-1 obtidos no período de 30 a 40 DAT. Após 63 dias do transplantio, verificou-se tendência de estabilização de acúmulo de massa seca da parte aérea e forte elevação da taxa de acúmulo de massa seca de frutos, que atingiu cerca de 42 g planta-1 dia-1 no período final de crescimento dos mesmos. Esta alteração de força de drenos na planta, acontecida Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide com o ingresso da mesma no processo reprodutivo, proporciona maior translocação de carboidratos e outros compostos das folhas para os frutos, como decorrência da predominância da fase reprodutiva sobre a fase vegetativa (Marschner, 1995). Neste experimento, no final do ciclo, a participação da parte vegetativa foi de 31% e a dos frutos de 69% da massa seca total acumulada pela melancieira. Outros experimentos realizados com meloeiro, mostraram padrão de crescimento similar ao verificado neste trabalho com melancia. Lima (2001) estudando diversos híbridos de melão, verificou que a parte vegetativa (folha + caule) contribuía no final do ciclo com 25 a 40% da massa seca total da planta, enquanto os frutos com 60 a 75%. Sanchez et al. (1998), também, obtiveram resultados semelhantes, tendo a parte vegetativa do meloeiro participado com 27,5% e os frutos com 72,5% da massa seca total. A taxa de absorção dos nutrientes pelas plantas de melancia foi baixa nos primeiros 30 DAT, coincidindo com o período de menor acúmulo de massa seca (Figura 2). Maior incremento na absorção aconteceu após a frutificação, sendo que a cultura da melancia acumulou nos últimos 30 dias de ciclo 88, 76, 82, 77, 78 e 87% do total acumulado de N, P, K, Ca, Mg e S, respectivamente. Embora as espécies apresentem diferenças com relação à demanda e épocas de maiores exigências por nutrientes, trabalhos realizados com melão por Belfort (1986), Prata (1999) e Lima (2001), conduzidos em diferentes locais, cultivares e sistemas de produção, mostraram uma curva padrão de acúmulo de massa seca e de nutrientes, mais lento nos primeiros 30 dias do ciclo e com maiores demandas após o início da frutificação. Ainda que a seqüência de exigência nutricional não tenha sido a mesma entre os trabalhos anteriormente citados, o cálcio foi bastante exigido pelas plantas estudadas. Resultados similares foram obtidos em pepino (Solis et al., 1982) e abobrinha (Araújo, et al. 2001). A partir dos 60 DAT, verificou-se uma redução nos acúmulos de N, P e K e uma estabilização nos acúmulos de Ca, Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 2. Acúmulo de nitrogênio (A), fósforo (B), potássio (C), cálcio (D), magnésio (E) e enxofre (F), na parte vegetativa (Y1), frutos (Y2) e total (Y3) em melancia, híbrido Tide. Borborema-SP, 2001. Mg e S na parte vegetativa (Figura 2). Devido ao elevado acúmulo de massa seca pelos frutos, estabelecendo uma correspondente demanda por nutrientes, pode-se inferir, a partir das curvas de acúmulo (Figura 2) que houve forte translocação de N, P e K das folhas para os frutos. Resultados semelhantes foram verificados por Del Rio et al. (1994), em diversas cultivares de melancia, quando observaram redução dos teores de N, P e K nas folhas com o desenvolvimento dos frutos; de modo semelhante Araújo et al. (2001) verificaram redução no acúmulo de P, K, Ca e Mg na parte vegetativa de abobrinha durante a frutificação. O potássio foi o nutriente mais absorvido pelo híbrido de melancia Tide, com acúmulo máximo de 155,5 kg ha-1, tendo a maior demanda deste elemento ocorrido no período de 60 a 75 DAT (Figura 2). Este resultado concorda é similar ao de vários outros trabalhos, os quais versam sobre exigência nutricional em cucurbitáceas. Vários trabalhos mostram incrementos significativos na produtividade e qualidade dos frutos de melancia obtidos com adubação potássica (Sundstrom e Carter, 1983; Deswal e Patil, 1984; Zeng e Jiang, 1989; Simonne et al., 1992). O potássio, embora não faça parte de nenhum composto orgânico, desempenha 95 L. C. Grangeiro e A. B. Cecílio Filho importantes funções na planta como na fotossíntesse, ativação enzimática, síntese de proteínas e transporte de carboidratos entre outros e portanto, é fundamental ao crescimento e produção da planta (Marschner, 1995; Taiz e Zeiger, 1998). O nitrogênio foi o segundo nutriente mais absorvido, apresentando maior demanda no período de 45 a 60 DAT (Figura 2), época que coincidiu com o grande desenvolvimento da parte aérea; o seu acúmulo máximo foi de 138,8 kg ha-1. Em melão, também, a absorção máxima de nitrogênio coincidiu com a fase de maior acúmulo de massa seca (Belfort, 1986). O cálcio, terceiro nutriente mais absorvido pela planta, mas neste caso, atingindo o acúmulo máximo de 25,3 kg ha-1 no final do ciclo. A maior demanda ocorreu no período de 45 a 60 DAT (Figura 2). Diferentemente dos nutrientes citados anteriormente, entretanto, a parte vegetativa acumulou maior quantidade de cálcio, sendo responsável por 83%, enquanto os frutos por apenas 17% do total acumulado. Este padrão de distribuição do Ca em favor das folhas é, portanto, resultado de ser transportado quase que exclusivamente pelo xilema e conduzido principalmente pela corrente transpiratória. De acordo com HO et al. (1987) e HO (1989), menos de 15% da água para enchimento do fruto é proveniente do xilema e, deste forma, o aporte de Ca para o fruto é muito pequeno. Outro fator que pode agravar essa situação é a competição entre K e Ca que se faz também, dentro da planta (Malavolta et al. 1997). O maior fluxo de potássio para o fruto de melancia concorre para diminuir a presença de cálcio. Resultado semelhante foi verificado em outras hortaliças como tomate (Gargantini e Blanco, 1963), morango ( Souza, 1976) e melão (Sanchez et al., 1998). Segundo Trani et al. (1993), o cálcio é um dos mais importante nutrientes para as cucurbitáceas, estando o mesmo associado com a formação de flores perfeitas, a qualidade do fruto e a produtividade. Outro aspecto também bastante estudado é a relação do cálcio com a incidência de podridão apical (ou fundo preto), comum nessa família, principalmente em melancia (Cirulli e Ciccarese, 1981). 96 Os macronutrientes absorvidos em menores quantidades pelas plantas de melancia foram Mg, P e S, com acúmulos de 16,6; 13,5 e 9,1 kg ha-1, respectivamente. As maiores demandas para Mg ocorreram no período de 45 a 60 DAT e para P e S nos 60 a 75 DAT (Figura 2). O magnésio, semelhante ao ocorrido com o cálcio, apresentou maior acúmulo nas folhas; muito provavelmente, por fazer parte da molécula de clorofila. De acordo com Marschner (1995) dependendo do “status” de Mg na planta, de 6 a 25% do magnésio total pode estar ligado à molécula de clorofila, enquanto, outros 5 a 10% ligados à pectatos na parede celular ou depositado como sal solúvel no vacúolo. No momento da colheita, 75 dias após o transplantio, os frutos correspondiam a 69% da massa seca da planta. Do total dos nutrientes acumulados pela melancieira, os frutos participaram com 77% do N, 82% do P, 76% do K, 17% do Ca, 41% do Mg e 65% do S. Os nutrientes N, P, K e S portanto, acumulam-se preferencialmente nos frutos, enquanto Ca e Mg na parte vegetativa. As quantidades totais de N, P, K, Ca, Mg e S exportadas pelos frutos foram 106,4; 11,1; 118,0; 4,3; 6,8 e 6,0 kg ha-1, respectivamente. As quantidades de macronutrientes exportadas pelos frutos, portanto, representam importante componente de perdas de nutrientes do solo, que deverão ser restituídos, enquanto os nutrientes contidos na parte aérea podem ser incorporados ao solo dentro de um programa de reaproveitamento de restos culturais. AGRADECIMENTOS À FAPESP pelo auxílio financeiro concedido, processo nº 2000/01797-0, para a realização deste trabalho e a Syngenta Seeds Ltda. na pessoa do Eng. Agro. Aparecido Alecio Schiavon Júnior. LITERATURA CITADA ARAÚJO, W.F.; BOTREL, T.A.; CARMELLO, Q.A. de C.; SAMPAIO, R.A.; VASCONCELOS, M.R.B. Marcha de absorção de nutrientes pela cultura da abobrinha conduzida sob fertirrigação. In: FOLEGATTI, M.V.; CASARINI, E.; BLANCO, F.F.; BRASIL, R.P.C. do; RESENDE, R.S. (Cood.) Fertirrigação: flores, frutas e hortaliças. Guaíba: Agropecuária, 2001, v.1, p.67 – 77. BATAGLIA, O. C.; FURLANI, A. M. C.; TEIXEIRA, J. P. F.; FURLANI, P. R.; GALLO, J. R. Métodos de análise química de plantas. Campinas: IAC, 1983. 48p. BELFORT, C.C. Crescimento e recrutamento de nutrientes em melão (Cucumis melo L.) cultivado em Latossolo Vermelho amarelo em Presidente Venceslau-SP. 1985, 72p. Tese (Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba ,1985. CAMARGO FILHO, W.P.de; MAZZEI, A.R. O mercado de melancia no mercosul. Informações Econômicas, São Paulo, v.32, n.2, 2002. CIRULLI, M.; CICCARESE, F. 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Foram analisados 2.218 frutos de setembro a dezembro de 2001 com amostragem mediante norma de fiscalização da Delegacia da Agricultura e do Abastecimento (DFA/SSV). O trabalho foi desenvolvido no Porto de Natal, na unidade do Vigiagro/SSV/MA. A avaliação dos frutos foi feita de maneira sistemática, seguindo o preenchimento de uma “Ficha de Controle de Qualidade do Melão Exportado” onde foram determinados o teor de sólidos solúveis e a textura ou firmeza de polpa. Concluiu-se que dos frutos analisados 62,58% destes foram do tipo Amarelo, 15,1% tipo Orange Flesh, 9,29% tipo Pele de Sapo, 5,77% tipo Gália, 5,09% tipo Cantaloupe e 2,17% tipo Charentais. Desses, apenas o melão tipo Amarelo apresentou índice médio aceitável de sólidos solúveis para a exportação; o melão tipo Pele de Sapo foi o que apresentou menor índice de firmeza de polpa. Palavras-chave: Cucumis melo, sólidos solúveis, firmeza de polpa. Quality of melon exported through the port of Natal, Brazil We evaluated the post harvest quality of melons exported through the port of Natal, identifying the unfavorable characteristics for the market that could be prejudicial to the exportation. A total of 2.218 fruits was analyzed from September to Dezember 2001. Sampling procedures were done following norms of the Delegacia da Agricultura e do Abastecimento. The work was carried out in the port of Natal. Solid soluble content and fruit firmness were the parameters used to evaluate fruit quality. Nearly 62.58% of the fruits were of the Yellow type; 15.1% Orange Flesh type; 9.29% Piel de Sapo (Frog Skin) type; 5.77% Gália type; 5.09% Cantaloupe type and 2.17% were of the Charentais type. Only the Yellow type melon presented more than 50% of its fruits with soluble solid content superior to 100 Brix, and the Frog Skin was the only type with low index for pulp firmness. Keywords: Cucumis melo, solid soluble, pulp firmness. (Recebido para publicação em 13 de fevereiro de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003) E m 2001 exportou-se pelo Porto de Natal (RN) 79 mil toneladas de melão gerando uma renda free on board (FOB) ao redor de US$ 29,5 milhões. Atualmente o RN é responsável por 92% da exportação nacional, sendo estes frutos produzidos nos agropólos MossoróAssú (RN) e Baixo Jaguaribe (CE). A área de produção desta olerícola no Brasil no ano de 2001 foi de aproximadamente 12.000 ha dos quais estimou-se uma produção de 150.000 T (FAO, 2001). Não obstante, apesar do enorme potencial que a cultura do melão (Cucumis melo L.) apresenta para a balança comercial do estado do Rio Grande do Norte, existem problemas de ordem estrutural e organizacional que exigem soluções urgentes para que haja a garantia de competição no mercado globalizado. Considerando a tendência mundial de incremento das barreiras não tarifárias para proteger a produção interna, os produtores e exportadores bra- sileiros necessitam manter-se atualizados com relação às mudanças das exigências de mercado para desenvolverem ações para reduzir impactos nas exportações. Uma das características mais estudadas em melão é o teor de sólidos solúveis (SS) (Protade, 1995), fator tradicionalmente utilizado para assegurar sua qualidade. A textura ou firmeza da polpa é outra variável importante na qualidade do fruto, pois indica resistência ao transporte e possibilidade de maior vida de prateleira, estando relacionado com o “flavor”, que é perceptível pelo paladar (Menezes et al., 1998). As condições de cultivo afetam diretamente as características relacionadas com a qualidade dos frutos. Os sólidos solúveis aumentam com a maior salinidade no solo e diminuem com a maior densidade de plantio (Mendlinger, 1994). O momento da colheita é decisivo na concentração de açúcar dos me- lões comercializáveis, não devendo ser menor que 10% (10 °Brix) (Vallespir, 1999). Analisando as exigências do mercado, Souza et al. (1994) verificaram que os melões cultivados para exportação devem ser colhidos com teor de SS entre 9 e 11% enquanto que para o mercado interno, devem possuir teor de 12 a 14%. Tendo em vista a importância econômica do melão, tanto para o mercado interno quanto para exportação, investigações devem ser desenvolvidas para aumentar a eficiência do sistema produtivo e a qualidade do produto final. Dessa forma, este trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade do melão exportado pelo Porto de Natal. MATERIAL E MÉTODOS A quantidade de melão exportado pelo Porto de Natal, de 11 de setembro a 7 de novembro de 2001 foi de 19,7 1 É a unidade Internacional para expressar a grandeza física força numa superfície de penetração. 98 Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Qualidade do melão exportado pelo porto de Natal mil toneladas. Nesta, foram analisados 2.218 melões de diferentes tipos (Amarelo, Pele de Sapo, Charentais, Cantaloupe, Orange Flesh e Gália), provenientes do Rio Grande do Norte e do Ceará, conforme o procedimento de rotina do laboratório de Vigilância Agropecuária da DFA/RN (VIGIAGRO) e coletados de 23 empresas exportadoras. Os frutos eram amostrados semanalmente, em um total de duas caixas obtidas aleatoriamente, por embarque/tipo de melão/empresa. Destes foram avaliadas duas variáveis: sólidos solúveis e firmeza de polpa. O valor dos sólidos solúveis foi obtido mediante o uso de refratômetro ótico ATAGO N-1E (0-32%), avaliando o suco obtido de cada fruto. O valor da firmeza de polpa foi obtido através de um penetrômetro marca McCormick modelo FT 327 com plunger de ponta cônica de 8 mm de diâmetro; os resultados obtidos em libras foram convertidos para Newton (N), multiplicando-o pelo fator de conversão 4,45 (Gomes Junior et al., 2001). Em cada fruto era realizado um corte longitudinal, efetuando-se duas leituras eqüidistantes em cada uma das metades equatoriais do fruto. Figura 1. Tipos de melões (%) exportados pelo Porto de Natal de 11 de setembro a 7 de novembro de 2001. Mossoró, ESAM, 2001. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período de realização deste estudo, 62,58% do melão exportado pelo porto de Natal pertence ao tipo Amarelo. O melão tipo Orange Flesh representou aproximadamente 15,1% das exportações e o tipo Pele de Sapo 9,29%. Os demais tipos Galia, Cantaloupe e Charentais apresentaram apenas 5,77%; 5,09% e 2,17%, respectivamente (Figura 1). O volume de melão exportado neste período foi de 19.696,930 kg e a amostragem representou 0,02% deste volume. Observou-se que o melão tipo Amarelo foi aquele que apresentou o maior percentual de frutos (52,0%), com valores de SS acima do mínimo exigido (10°Brix). Ao contrario, o melão tipo Charentais apresentou 100,0% dos frutos analisados com valor de SS inferior ao mínimo aceitável pelo mercado internacional (13°Brix) (Alves et al. 2000). Os demais tipos de frutos, Galia, Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 2. Sólidos solúveis (SS) médios dos frutos exportados pelo Porto de Natal, de 11 de setembro a 7 de novembro de 2001. Mossoró, ESAM, 2001. Figura 3. Textura média dos frutos exportados pelo Porto de Natal, de 11 de setembro a 7 de novembro de 2001. Mossoró, ESAM, 2001. Pele de Sapo, Cantaloupe e Orange Flesh apresentaram 81,35%; 70,00%; 62,62% e 50,00% respectivamente, de SS inferior ao mínimo exigido pelo mercado internacional: 12, 11, 10 e 10°Brix, respectivamente, segundo Alves et al. 2000 (Figura 2). O índice de maturidade dos frutos apresenta-se de forma diferente para cada tipo e em alguns casos por variedade. Segundo 99 R. Sales Júnior et al. Alvarado (1994) e Gomes Jr. et al. (2001) em melões das variedades Reticulatus e Cantaloupensis o melhor indicativo para colheita é o grau de separação entre o fruto e o pedúnculo; no caso da separação completa, o fruto está com o máximo desenvolvimento das condições organolépticas (SS, firmeza de polpa e aroma). No caso de melões da variedade Inodorus, obtém-se o índice de colheita pela análise dos SS, implicando na destruição do fruto e, consequentemente não havendo um indicativo do ponto de colheita. Giambanco de Ena (1997a) recomenda os índices de 12 a 14ºBrix para os melões tipo Amarelo e Gália, sendo o valor de SS para o melão tipo Amarelo superior ao recomendado por Alves et al. (2000). É possível que os valores atribuídos por Giambanco de Ena (1997b) sejam atribuídos para o mercado interno espanhol ou para mercados de curta distância. No caso do melão brasileiro que necessita pelo menos 15-20 dias para estar na mesa do consumidor europeu, este valor deve estar ao redor de 10ºBrix pois o estágio de maturação é inversamente proporcional ao tempo de conservação pós-colheita (Mutton et al., 1981; Welles e Buitelaar, 1988). Para melões tipo Pele de Sapo e Cantaloupe, Giambanco de Ena (1997a) recomendam valores superiores a 12 e 10ºBrix, respectivamente, sendo esses valores bastante superiores no caso do melão tipo Charentais (13 a 15ºBrix). 100 O melão tipo Orange Flesh apresentou o maior percentual de frutos com firmeza superior ao mínimo exigido (90,33%), seguido dos melões tipo Amarelo (85,00%), Gália (63,89%), Charentais (63,33%) e Cantaloupe (53,45%), sendo os valores mínimos exigidos de 30, 24, 30 e 35 N, respectivamente. O melão tipo Pele de Sapo apresentou o maior percentual de frutos com valor de firmeza inferior ao mínimo exigido (70,00%), que segundo Alves et al. (2000) é de 32 N1 (Figura 3). Vale ressaltar que este é o primeiro trabalho realizado com dados de qualidade de todas as empresas (23 no total) exportadoras de melão do Rio Grande do Norte e Ceará. LITERATURA CITADA ALVARADO, P. Factores de producción y manejo de poscosecha determinantes en la calidad de melones. 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As amostras de couve minimamente processada que obtiveram aceitação por um maior número de consumidores foram as de 1 e 2 mm de largura. Palavras-chave: Brassica oleraceae cv. acephala, processamento mínimo, aceitação sensorial. Preference mapping of fresh-cut collard The acceptability of fresh-cut collard leaves chopped in different widths was determined by employing the preference mapping technique. Spatial separation of samples suggested the existence of three groups, according to their acceptability. Fresh-cut samples showing acceptability by a large number of consumers where 1 and 2 mm wide. Keywords: Brassica oleraceae cv. acephala, fresh-cut collard, sensorial acceptance. (Recebido para publicação em 24 de março de 2002 e aceito em 22 de setembro de 2003) O s produtos minimamente processa dos, conhecidos como fresh cut, têm-se destacado no mercado, pois seguem a tendência mundial de consumo de alimentos saudáveis, frescos e de alta qualidade. O propósito do seu fornecimento é o de disponibilizar um produto pronto para usar, que não requeira nenhuma preparação posterior significativa por parte do consumidor, em termos de seleção, limpeza, lavagem ou cortes. Outra grande vantagem desses itens é a redução praticamente total dos desperdícios (Junqueira e Luengo, 2000). A diminuição do tempo disponível para o preparo das refeições, o aumento do poder de compra e a conscientização do consumidor em relação à saúde, são fatores que, combinados, contribuem para aumentar de forma significativa a demanda desses alimentos (Baldwin et al., 1995). O termo minimamente processado tornou-se comum na indústria de alimentos e entre os consumidores nos anos 90 (Mertens e Knorr, 1992) e, de acordo com a International Fresh Cut Produce Association (1999), pode ser definido como qualquer alteração física em frutas e hortaliças, mas que mantém o estado fresco do produto. A determinação da aceitação pelo consumidor é parte crucial no processo de desenvolvimento ou melhoramento de produtos. Os testes de aceitação ou afetivos requerem equipe com grande número de participantes que represenHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 tem a população de consumidores atuais ou potenciais do produto. Entre os métodos mais empregados para medida da aceitação de produtos está a Escala Hedônica, onde o consumidor expressa sua aceitação pelo produto, seguindo uma escala previamente estabelecida que varia gradativamente com base nos termos gosta e desgosta. (Chaves e Sproesser, 1993). Os resultados de testes afetivos (testes com consumidores) vêm, tradicionalmente, sendo avaliados por análise de variância univariada (ANOVA) e testes de comparação de médias, comparando-se a aceitação média entre produtos. Segundo Polignano et al. (1999) esta análise global, considerando conjuntamente as avaliações de todos os consumidores, implica em assumir que todos apresentam o mesmo comportamento, desconsiderando suas individualidades. Cita ainda que os dados podem não estar sendo bem visualizados, a ponto de se perder informações interessantes sobre diferentes segmentos de mercado. A técnica de Mapa de Preferência pode solucionar este problema e também permitir a associação da impressão que os consumidores têm de um produto com suas características sensoriais. Com a finalidade de analisar os dados afetivos, levando-se em consideração a resposta individual de cada consumidor, e não somente a média do gru- po de consumidores que avaliaram os produtos, foi desenvolvida a técnica intitulada Mapa de Preferência que tem sido largamente utilizada por cientistas da área de análise sensorial (Behrens et. al., 1999). Tendo em vista estas considerações, este estudo objetivou avaliar a aceitação de diferentes cortes de couve minimamente processada, aplicando a técnica Mapa de Preferência. MATERIAL E MÉTODOS Folhas de couve (Brassica oleraceae var. acephala) foram colhidas na horta da Universidade Federal de Viçosa, no estágio de desenvolvimento correspondente à colheita comercial, e pré-resfriadas antes de serem submetidas ao processamento. As folhas foram selecionadas, lavadas em água corrente, tiveram seus pecíolos retirados e posteriormente foram submetidas à sanitização. O processo de sanitização consistiu na imersão das folhas em água resfriada a 5°C, contendo 150 ppm de cloro ativo, por 10 minutos (Simons e Sanguansri, 1997). Na etapa seguinte, as folhas foram fatiadas em processador de alimentos industrial equipado com lâminas para diferentes larguras (1; 2; 5 e 10 mm) e, em seguida, submetidas ao enxágüe em água resfriada a 5°C contendo 3 ppm de cloro ativo. 101 M. I. S. Dantas et al. Quadro 1. Ficha de avaliação utilizada para o teste de aceitação. Viçosa, UFV, 2001. Tabela 1. Freqüências das notas atribuídas, em cada um dos termos hedônicos, às quatro amostras de couve minimamente processadas. Viçosa, UFV, 2001. A couve minimamente processada foi centrifugada por 10 minutos, utilizando-se uma centrífuga doméstica, com velocidade constante equivalente a 800 g, com o objetivo de retirar o excesso de água e os exsudados celulares provenientes das etapas de corte, sanitização e enxágüe. Acondicionaramse 150 g de couve minimamente processada, em embalagens de poliolefina multicamadas. A aceitabilidade sensorial da aparência das quatro amostras de couve, com 1,2; 5 e 10 mm, foi avaliada por 100 consumidores, em dois estabelecimentos comerciais da cidade de Viçosa, utilizando uma Escala Hedônica de nove pontos para as avaliações, sendo os extremos de valor 1 atribuído ao termo 102 hedônico “desgostei extremamente” e de valor 9 atribuído ao termo “gostei extremamente” (Figura 1). Para obtenção do Mapa de Preferência Interno ou Análise de Preferência Multidimensional (MDPREF), os dados de aceitação (teste de consumidor) foram organizados numa matriz de amostras (em linhas) e consumidores (em colunas), e esta submetida à Análise de Componentes Principais (ACP) (Carneiro, 2001). Os resultados foram expressos em um gráfico de dispersão das amostras (tratamentos) em relação aos dois primeiros componentes principais e em outro representando os “loadings” (cargas) da ACP (correlações dos dados de cada consumidor com os dois primeiros componentes principais). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da avaliação da aceitabilidade sensorial das quatro amostras de couve minimamente processada estão apresentados na Tabela 1. As amostras com 1 e 2 mm foram classificadas por 91 e 94 consumidores, respectivamente, entre os termos hedônicos “gostei extremamente” e “gostei ligeiramente”, indicando assim que foram bem aceitas pela maioria dos consumidores. A distribuição das notas atribuídas para a amostra com 5 mm de largura foi a mais homogênea entre os 9 termos hedônicos, mas 53 consumidores fizeram a classificação entre os termos hedônicos “desgostei ligeiramente” e “desgostei Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Mapa de preferência de couve minimamente processada extremamente” indicando que rejeitaram o produto. A amostra com 10 mm foi rejeitada por 67 consumidores. Com os dados obtidos no teste de aceitação das quatro amostras de couve minimamente processadas foi realizada a análise do Mapa de Preferência Interno (Figuras 1 e 2). O primeiro componente principal (PC) explicou 89% e o segundo 8%, totalizando, portanto, 97% da variância entre as amostras quanto à sua aceitação. A separação espacial das amostras de couve minimamente processada sugere a existência de três grupos de acordo com a aceitação das mesmas, sendo um grupo formado pelas amostras de couve de 1 e 2 mm de largura e os outros pelas amostras de 5 mm e de 10 mm (Figura 1). Na Figura 2, cada ponto representa as correlações entre os dados de aceitação de um consumidor e os dois primeiros componentes principais. Os consumidores mais próximos do centro do gráfico não estão correlacionados com nenhum dos dois componentes principais e contribuem pouco para a discriminação das amostras, ou seja, são consumidores que consideram as amostras com aceitação semelhante. Este grupo é formado por um número pequeno de consumidores. Por outro lado, consumidores correlacionados com pelo menos um dos componentes, consideram diferença na aceitação das amostras. Para a grande maioria dos consumidores houve correlação positiva com o primeiro componente principal, indicando que atribuíram notas mais elevadas para as amostras de couve minimamente processadas com 1 e 2 mm de largura (amostras mais à direita no gráfico, Figura 1). LITERATURA CITADA BALDWIN, E.A.; NISPEROS-CARRIEDO, M.O.; BAKER, R.A. Edible coatings for lightly processed fruits and vegetables. HortScience, v.30, n.1, p.35-38, 1995 BEHRENS, J.H.; SILVA, M.A.A.P.; WAKELING, I.N. Avaliação da aceitação de vinhos brancos varietais brasileiros através de testes sensoriais afetivos e técnica multivariada de mapa de preferência interno. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.19. n.2, mai./ago. 1999. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Dispersão das amostras de couve minimamente processada em relação à aceitação pelos consumidores. Viçosa, UFV, 2001. Figura 2. “Loadings” (Cargas) – Correlações entre os dados de aceitação de cada consumidor e os dois primeiros componentes principais. Viçosa, UFV, 2001. CARNEIRO, J.C.S. Processamento Industrial de Feijão, Avaliação Sensorial Descritiva e Mapa de Preferência. 2001. 90 f. (Tese mestrado), UFV, Viçosa. CHAVES, J.B.P.; SPROESSER, R.L. Práticas de laboratório de análise sensorial de alimentos e bebidas. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1993, 81 p. INTERNATIONAL FRESH CUT PRODUCE ASSOCIATION. Fresh-cut produce handling guidelines. 3. ed. Produce Marketing, 1999. 39 p JUNQUEIRA, A.H.; LUENGO, R.F.A. Mercado diferenciados de hortaliças. Horticultura Brasileira, Brasília, v.18, n.2, 2000. MERTENS, B.; KNORR, D. Developments of nonthermal processes for food preservation. Food Technology, v.43, n.5, p.124-133, 1992. POLIGNANO, L.A.C.; DRUMOND, F.B.; CHENG, L.C. Mapa de preferência: Uma ponte entre marketing e P&D. 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No presente trabalho foram avaliadas diferentes equações buscando o melhor ajuste alométrico representativo da fitomassa da pupunheira cultivada para a produção de palmito. Foram utilizadas palmeiras inermes, da raça Putumayo, em diferentes estádios de desenvolvimento, cultivadas em Ubatuba (SP) no espaçamento de 2 x 1 m. Selecionaram-se 117 plantas, com alturas entre 0,22 e 5,04 m e diâmetros entre 2,23 e 27,06 cm. Medidas diretas, relacionadas ao crescimento, foram realizadas antes do corte. Em seguida as plantas foram separadas em diferentes partes estruturais, sendo medidas, pesadas e secas, obtendo-se a massa da matéria seca. Os dados foram submetidos à análise de regressão e ajuste de equações, tendo como variáveis independentes os caracteres facilmente mensuráveis e não destrutivos. A fitomassa da pupunheira pode ser estimada de forma precisa a partir de equações simples, valendo-se de relações alométricas. A altura da haste principal, medida do solo até a inserção da folha +1, foi o caráter preditório indireto ideal para estimar a fitomassa de pupunheiras em cultivo comercial. Identificou-se também que, do estádio de implantação ao início de colheita de palmito, a contribuição dos perfilhos para a fitomassa aérea total é pequena e pode ser desprezada. Peach palm biomass estimates based on allometric relationships Palavras-chave: Bactris gasipaes, biomassa, crescimento, perfilhos, pupunha. Keywords: Bactris gasipaes, growth, heart-of-palm, pejibaye, offshoot. Biomass estimates based on allometric relationships have theoretical and practical application. These data are useful tools in growth analysis experiments and yield prediction. Several equations were studied to define the best allometric fit to peach palm grown for heart-of-palm purpose. Spineless peach palms (Bactris gasipaes Kunth), from Putumayo landrace, were utilized. The experiment, in a 2 x 1 m planting density, was conducted at Ubatuba, São Paulo State, Brazil. Where 117 plants were selected, ranging from 0.22 to 5.04 m of main stem height, and from 2.23 to 27.06 cm of main stem diameter. Direct growth measurements were taken before plant harvesting. Harvested material was separated in different structural components and weighted before and after drying. Regression analyses were performed and different equations were applied to data, having as independent variables the traits easily measured. Peach palm biomass can be precisely estimated by allometric relationships. Main stem height, measured from ground level until first leaf insertion, was the ideal trait to indirectly estimate biomass in peach palm commercial cultivation. The contribution of the affshots biomass to the total above ground biomass, from planting to first harvesting is very low and can be neglected. (Recebido para publicação em 11 de março de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003) A pupunheira (Bactris gasipaes Kunth), palmeira nativa da América tropical, apresenta características de precocidade, rusticidade e perfilhamento, como atributos ideais para a produção de palmito (Bovi, 1998a). Produto de largo consumo, o palmito é constituído basicamente pelo meristema apical e um número variável de folhas internas, ainda não plenamente desenvolvidas e imbricadas, sendo envolto e protegido pela bainha das folhas adultas mais externas (Ferreira et al., 1976; Bovi, 1998a). Portanto, um desenvolvimento foliar adequado é a condição principal para obter resultado satisfatório na produção de palmito. Pelas características próprias do cultivo, com colheitas freqüentes e escalonadas em função do desenvolvimento das hastes, as plantas apresentam104 se em permanente estádio vegetativo (Clement, 1995) e a velocidade com que a fitomassa inicial se acumula e é reposta novamente após cada colheita, torna-se um indicador da produtividade e da vida econômica da cultura (Clement e Bovi, 2000). Por esse motivo, a pupunheira vem sendo alvo de vários estudos na área de fisiologia do crescimento e da produção, bem como de suas inter-relações com as condições climáticas e, principalmente, com a nutrição mineral e orgânica. A análise de crescimento permite conhecer as diferenças funcionais e estruturais entre plantas e estimar o acúmulo de fitomassa, de forma a identificar respostas à aplicação de diferentes tratamentos, assim como prever a produção. Em plantas anuais, a análise de crescimento é feita, geralmente, por meio do método direto, usando-se amostras destrutivas, colhidas ao longo do ciclo da planta (Benincasa, 1988). Por meio da obtenção da massa total da planta, ou de seus diversos componentes, estima-se o acúmulo de fitomassa ao longo do tempo. Já em plantas perenes, principalmente em plantios comerciais ou em estudos com plantas de grande valor econômico, o método indireto, ou não destrutivo, é o mais indicado, devido principalmente às dificuldades logísticas da obtenção de dados (Benincasa, 1988; Ares e Fownes, 2000). Esse método consiste na aplicação de análise dimensional, também conhecida como alometria (Kira e Shidei, 1967). A base do método é o estabelecimento de parâmetros que indiquem ou expressem, em forma alométrica, o estado atual de uma planta. Para isso alHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Relações alométricas para estimativa da fitomassa aérea em pupunheira guns autores propõem um número variado de equações baseado em medidas diretas como altura, diâmetro, comprimento e número de estruturas (perfilhos, ramificações, entre outros) que possam estimar, com suficiente precisão, a massa ou o desenvolvimento da planta como um todo. Não obstante, deve ser ressaltado que para o estabelecimento dessas relações alométricas há necessidade de serem efetuadas análises destrutivas. No entanto, essas são feitas em amostragem, de preferência em algumas plantas do próprio experimento, ou pelo menos em plantas da mesma origem genética, em estádios ontogenéticos semelhantes, e cultivadas nas mesmas condições agrobioclimáticas. Equações que visam estimar a fitomassa da planta inteira ou de seus componentes foram desenvolvidas por alguns autores para a pupunheira, mas, invariavelmente, se referem ao estado adulto da planta, visto que anteriormente essa espécie era apenas usada para a produção de frutos (Clement et al., 1990; Szott et al., 1993). Estimativas envolvendo plantas mais jovens foram publicadas por Jongschaap (1993) e Clement (1995), representando o período de formação de mudas e a fase inicial de implantação a campo. Apenas recentemente foi desenvolvido estudo com plantas destinadas a palmito (Ares et al., 2002b), mas, mesmo assim, o genótipo utilizado foi da raça UtilisTucurrique, material com espinhos, bastante diferente do que vem sendo cultivado no Brasil desde 1990 (Bovi, 1998b). Embora os trabalhos anteriores forneçam informações valiosas sobre as relações alométricas em pupunheira, reconhece-se também que são de aplicação limitada. De acordo com Clement e Bovi (2000), relações alométricas precisam ser validadas para cada germoplasma e ambiente (latitude, altitude, solo, adubação, irrigação, densidade, etc), pois a fitomassa possui plasticidade e baixa herdabilidade (Clement, 1995; Lucchesi, 1987). Este trabalho teve como objetivo avaliar diferentes tipos de equações, tentando encontrar o melhor ajuste alométrico para a estimativa da fitomassa aérea da pupunheira quando cultivada para a produção de palmito. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas pupunheiras (Bactris gasipaes Kunth) inermes, da raça Putumayo, em diferentes estádios de desenvolvimento. As plantas foram cultivadas no espaçamento de 2 x 1 m (5000 plantas ha-1), densidade recomendada para a produção de palmito (Bovi, 1998a). O cultivo foi realizado na E.E. do Instituto Agronômico de Campinas, localizada em Ubatuba (23 o 27’S, 45o04’W e 6 m de altitude). O clima da região é “Cfa”, pela classificação de Köppen, tropical, quente e úmido, com pluviosidade anual normal de 2841 mm, evapotranspiração potencial normal de 992 mm, excedente normal de 1849 mm, temperatura média anual de 20,8oC e déficit hídrico nulo. O solo da área do cultivo é arenoso, classificado como Aluvial álico (Udifluvent), com boa drenagem. Detalhes da composição granulométrica e química do solo encontram-se em Vega (2003). Foram selecionadas 117 plantas, sendo 82 hastes principais (planta mãe) e 35 perfilhos, abrangendo todos os estádios de crescimento representativos tanto de lavoura bem manejada para a produção de palmito, quanto daquela onde o corte não é freqüente ou são deixadas algumas plantas matrizes para produção de frutos. Seguindo os procedimentos e recomendações fornecidos por Benincasa (1988) e Clement e Bovi (2000), foram realizadas as seguintes medidas na haste principal: altura até a inserção da folha +1 (m), perímetro à altura do colo da planta (m) e número de folhas. Após essas medidas, as hastes foram cortadas na base (rente ao solo), separando-se as diferentes partes estruturais da planta para serem pesadas e medidas individualmente. O material vegetal foi colocado em estufa a 60oC até obtenção de peso constante, pesando-se novamente todas as amostras. A área foliar (m2) foi estimada pelo método de uso de áreas conhecidas de lâminas foliares, descrito por Benincasa (1988). Foi feita análise preliminar dos dados visando caracterizar a população amostrada para cada caráter estudado. Além da média, calculou-se o desvio padrão, o coeficiente e a amplitude de variação e o intervalo de confiança da média a 5% de probabilidade (Steel e Torrie, 1980). Foi realizada ainda, análise de regressão e ajuste de equações, tendo como variável dependente os caracteres de natureza destrutiva e como independente os facilmente mensuráveis e não destrutivos (Hyams, 1997). As equações foram selecionadas levandose em conta o alto grau de correlação entre variáveis (coeficiente de determinação), a comparação 1:1 dos dados estimados na equação com os dados reais das plantas, e o significado biológico. Visando identificar a contribuição dos perfilhos para a fitomassa total durante a primeira fase da cultura (plantio até a primeira colheita de palmito) foram contadas e medidas todas as hastes principais, bem como todos os perfilhos de plantas de um experimento situado no mesmo local com 12 meses a campo. A fitomassa de ambos (haste principal e perfilhos) foi estimada usando-se as equações mais adequadas, definidas na etapa anterior. RESULTADOS E DISCUSSÃO A população em estudo foi composta por 82 plantas-mãe com altura da haste principal variando de 0,22 a 5,04 m (média de 1,75 m, desvio padrão (DP) de 0,94 m, coeficiente de variação (CV) de 53,72% e intervalo de confiança (IC) de 0,21 m), e de 0,07 e 0,85 m de perímetro (média de 0,38 m, DP de 0,14 m, CV de 37,50% e IC de 0,03 m), o que corresponde a diâmetros de 2,23 a 27,06 cm, respectivamente. Da mesma forma, para os 35 perfilhos amostrados, as alturas variaram entre 0,05 e 0,58 m (média de 0,25 m, DP de 0,16 m, CV de 63,52% e IC de 0,06 m), e os perímetros entre 0,06 e 0,26 m (média 0,14 m, DP de 0,06 m, CV de 43,39% e IC de 0,21 m), equivalentes a 1,91-8,28 cm de diâmetro, respectivamente. O número de folhas verdes da haste principal variou de 3 a 18 (média de 7,17, DP de 2,78, CV de 98,66% e IC de 0,62), enquanto a área foliar estimada dessa mesma haste esteve entre 0,69 e 100,09 m2, com média de 14,32 m2 e CV de 98,66%. O CV variou entre 37,50% (para o perímetro da haste principal) e 98,66% 105 F. V. A. Vega et al. Figura 1. Ajustes de curva para estimativa da fitomassa da pupunheira (kg planta-1), com base em matéria seca, em função da área foliar estimada (m2), número de folhas, altura até a inserção da folha +1 (m) e perímetro da planta na região do colo (m). Ubatuba, IAC, 2002. (correspondente à estimativa da área foliar total da haste principal). Esses resultados indicam que além da variabilidade amostral, tomada exatamente para representar o desenvolvimento da palmeira desde a implantação no campo até plantas próximas do estádio de reprodução, há ainda a grande variabilidade genética do material atualmente disponível ao agricultor. Em experimentos conduzidos a campo, observa-se que o coeficiente de variação foi sempre elevado para os diferentes caracteres avaliados, estando entre 21 e 81%, mesmo para plantas da mesma origem e idades (Chalá, 1993; Ares, et al. 2002a). As etapas de pesagem para a obtenção da fitomassa com base em matéria seca tornaram evidente que o teor de água da planta como um todo e de seus diferentes componentes é altíssimo, variando de 67,3% para as folhas a 91,4% para o estipe e o palmito, com média geral de 79,3% de umidade. Há uma pequena variação no teor de umidade da planta em função do tamanho da mesma. Plantas menores têm maior teor de água nas folhas que plantas maiores (69,9% para plantas <1,5 m e 65,5% para plantas >1,5 m). Não obstante, 106 quando se compara o teor total de umidade na planta, nota-se que a umidade é maior em plantas mais altas (78,1% para plantas <1,5 m e 80,1% para plantas >1,5 m). Isso ocorre devido a maior contribuição do palmito e do estipe macio ao longo do tempo. Foram testadas diferentes equações para o cálculo da estimativa de fitomassa da pupunheira em relação à área foliar, número de folhas, altura e perímetro, observando-se que a variável com pior ajuste foi sempre o número de folhas. O melhor ajuste, expresso comparativamente na figura 1 para todas as variáveis, foi obtido quando do uso da área foliar, com coeficiente de determinação elevado (R2= 0,98). Resultados semelhantes foram obtidos por Szott et al. (1993) ao estimar a biomassa de pupunheira adulta. No entanto, a estimativa da área foliar é obtida de forma indireta, demandando análises destrutivas a campo e trabalho considerável, posteriormente executado em laboratório. Estimativas do índice de área foliar, e conseqüentemente da área foliar, mais diretas e sem necessidade de análises destrutivas, têm sido obtidas por meio da transmitância da radia- ção a vários ângulos, usando-se equipamento apropriado (Lamade, 1997; Hicks e Lascano, 1995; Weles e Norman, 1991). Não obstante, há necessidade de validação do procedimento usando-se métodos tradicionais, de natureza destrutiva, ainda que seja em amostras pequenas (Welles, 1990; Eschenbach e Kappen, 1996). Considerando as variáveis de mais fácil mensuração, concluiu-se que a altura foi a que apresentou melhor correlação com a fitomassa. A estimativa da fitomassa área das plantas-mãe com base na altura variou de 0,02 a 21,20 kg, (média de 2,44 kg, DP de 2,91 kg, CV de 118,88%, IC de 0,64 kg), e esteve entre 0,01 a 0,08 kg (média de 0,02 kg, DP de 0,02 kg, IC de 0,01 kg) para os perfilhos. Os coeficientes de determinação da fitomassa aérea, tendo a altura como variável independente, mostraram sempre maior magnitude do que a mesma estimativa obtida por meio do perímetro. A maior utilidade da variável altura, em comparação à variável diâmetro ou perímetro, para expressar respostas de crescimento e produção da pupunheira visando a produção de palmito, já tinha sido anteriormente reportada por Bovi et al. (1993a) utilizando pupunheiras adultas da mesma raça (Yurimaguas) aqui estudada. Dentre todas as equações testadas que utilizam a altura para a estimativa da fitomassa, a descrita na figura 1 (R2=0,89) foi a que apresentou menor número de parâmetros (a e b) e, quando comparada com o perímetro (R2=0,76), melhor distribuição dos dados na curva. Tais resultados são discordantes dos reportados recentemente por Ares et al. (2002a), para os quais o uso do diâmetro da planta foi a variável que melhor se ajustou para calcular a biomassa de pupunheiras com 1,9 a 21 anos em cultivo na Costa Rica. Não obstante, os autores reconhecem que a melhor equação (y= a*xb, R2 = 0,85), por eles reportada, superestimou a biomassa total (e dos componentes desta) em plantas compreendidas entre a fase do estabelecimento a campo e a fase de rápido crescimento. A experiência mostra que a superestimativa pode ser devido a uma série de fatores, dentre eles, as dificuldades de se medir o diâmetro na altura Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Relações alométricas para estimativa da fitomassa aérea em pupunheira convencionada no estudo supracitado (5 cm); diferentes profundidades de plantio; variação da medida em função da senescência das folhas; e erros na tomada da medida, visto que a haste da pupunheira não é perfeitamente cilíndrica. Já a altura pode ser medida com maior precisão, desde que se utilizem os critérios reportados por Clement e Bovi (2000). Estabelecida uma comparação gráfica 1:1 dos dados observados com os calculados das equações anteriormente mencionadas (gráficos não apresentados), observa-se que, de uma forma geral, as equações que utilizam a altura como variável independente são as que têm melhor aproximação aos dados reais (R2= 0,91), especialmente para as alturas até 3,0 m, tamanho máximo para o corte econômico do palmito. Quando a variável independente é o perímetro da planta, os dados observados e os estimados encontram-se muito dispersos. Por sua vez, quando do uso da área foliar como variável independente para se estimar a fitomassa observa-se um grau de determinação bastante elevado (R2= 0,99), o que sugere a grande precisão do uso da área foliar para esse cálculo. No entanto, como discutido anteriormente, esse ainda é um parâmetro de difícil medição, tornando pouco prática, e bastante demorada, a sua obtenção rotineira. Devido ao alto ajuste obtido quando do uso da altura da haste principal (em comparação com o perímetro), essa seria a medida direta mais rápida de ser obtida e mais adequada a ser empregada em trabalhos relacionados ao cultivo da pupunheira para produção comercial de palmito. A contribuição dos perfilhos para a fitomassa total durante a primeira fase da cultura (plantio até a primeira colheita de palmito) é bastante pequena, como pode ser visualizada na figura 2. Plantas com 12 meses a campo possuíam altura da haste principal variando de 0,14 a 2,16 m, fitomassa aérea estimada da haste principal entre 0,25 a 2,88 kg e fitomassa aérea dos perfilhos entre 0 e 0,07 kg. A fitomassa aérea total (haste principal e perfilhos) variou de 0,25 a 2,95 kg por planta, correspondente a 1,20 a 14,25 kg por planta de massa fresca. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 2. Comparação gráfica entre a fitomassa (kg planta–1) da haste principal (planta mãe) e dos perfilhos, em função da altura (do solo até a inserção da folha +1) de pupunheiras com 12 meses a campo. Ubatuba, IAC, 2002. A grande dispersão dos dados mostra a variabilidade genética ainda presente no material disponível ao agricultor e o nível acentuado de resposta aos tratamentos impostos apresentados pela pupunheira. A contribuição dos perfilhos para a fitomassa aérea total, ainda que bastante pequena e desuniforme (considerando plantas individuais), vai aumentando à medida que a planta cresce. No experimento em estudo, foi observado que em plantas com até 50 cm de altura da haste principal, a fitomassa dos perfilhos representava apenas 0,48% da fitomassa total. No intervalo entre 51 e 100 cm de altura observou-se uma contribuição de 0,76%, passando para 1,17% no intervalo 101 a 150 cm. Pupunheiras nas quais a haste principal media de 151 a 216 cm de altura, e que correspondem à faixa de plantas com hastes aptas para colheita de palmito, apresentaram fitomassa dos perfilhos estimada em apenas 2,03% da fitomassa total. Tal fato sugere que a dominância da planta-mãe é muito grande até esse estádio de desenvolvimento e indica que, em plantas com até 2,16 metros de altura, estimando-se a fitomassa aérea apenas da haste principal, obtém-se uma precisão adequada da fitomassa aérea total da touceira. LITERATURA CITADA ARES, A.; FOWNES, J.H. Productivity, nutrient and water-use efficiency of Eucalyptus saligna and Toona ciliata in Hawaii. Forest Ecology and Management, v.139, n.2, p.227-236, 2000. ARES, A.; BONICHES, J.; MOLINA, E.; YOST, R.S. Bactris gasipaes agroecosystems for heart-ofpalm production in Costa Rica: change in biomass, nutrient and carbon pools with stand age and plant density. Field Crops, v.74, n.1, p.13-22, 2002a. 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Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP 1 RESUMO ABSTRACT Com o objetivo de verificar o efeito da desidratação sobre a germinação e o vigor de sementes de pupunheira inerme (Bactris gasipaes Kunth), quatro lotes de sementes, colhidos nas localidades de Yurimaguas, Peru; Camamu e Piraí do Norte, BA e Pindorama, SP, foram submetidos à secagem em câmara seca a partir das testemunhas não desidratadas, retirando-se amostras a cada 24 horas. O efeito da desidratação sobre a qualidade das sementes foi avaliado por meio de teste de germinação (184 dias da semeadura, em vermiculita, 20-30oC), primeira contagem de germinação (36 dias), velocidade de germinação e teor de água das sementes. Comprovou-se que sementes dessa espécie são sensíveis à desidratação, com germinação inicial alta (59 a 84%) quando não desidratadas (47 a 38% de umidade inicial). Teores de água abaixo da faixa de 28 a 23% reduziram significativamente a germinação e o vigor. Todas as sementes com teores de umidade abaixo de 15% (lotes 2 e 4) e 13% (lotes 1 e 3) morreram. Dehydration effects on germination and vigor of four pejibaye seed lots The dessication tolerance of four seed lots of spineless pejibaye (Bactris gasipaes Kunth) harvested at Yurimaguas (Peru); Camamu and Piraí do Norte (Bahia State, Brazil) and Pindorama (São Paulo State, Brazil) was identified. The seeds were dried in a drying chamber starting with undried controls. Samples were drawn every 24 hours. Dessication effects were evaluated by means of germination test (until 184 days, vermiculite, 20-30oC), germination first counting (36 days), germination speed and seed water content. It was verified that seeds from that species are susceptible to dehydration, with higher initial germination percentage (59 to 84%) when undried (47 to 38% of water content). Water contents lower than 28 to 23% reduced significantly seed germination and vigor. All seeds died when the seed water content was lower than 15% (seed lots 2 and 4) and 13% (seed lots 1 and 3). Palavras chave: Bactris gasipaes, deterioração da semente, recalcitrante, teor de água crítico, teor de água letal. Keywords: Bactris gasipaes, peach palm, seed deterioration, recalcitrance, critical water content, lethal water content. (Recebido para publicação em 09 de abril de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003) A pupunheira (Bactris gasipaes) é espécie produtora de palmito, hortaliça não convencional, largamente cultivada no Brasil e em vários países da América Latina. A expansão da área de cultivo, realizada a partir da década de 90, fez crescer a procura por sementes e mudas dessa palmeira, particularmente sobre ecótipos inermes, que por não apresentarem espinhos, facilitam os tratos culturais. No entanto, os conhecimentos sobre a fisiologia da germinação dessa espécie são ainda limitados, sendo essenciais para o desenvolvimento de tecnologias favoráveis à produção e à conservação de suas sementes. Sementes de Bactris gasipaes foram classificadas como recalcitrantes (Ferreira e Santos, 1992). As sementes recalcitrantes apresentam teores de água definidos como críticos, abaixo dos quais a viabilidade é reduzida. Apresentam também, teores de água letais, relacionados à perda total da viabilidade (Probert e Longley, 1989; Hong e Ellis, Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 1992). O conhecimento dos teores de água crítico e letal de uma espécie é indispensável para o planejamento e a execução da secagem e do armazenamento das sementes, pois o teor de água é um fator determinante do comportamento das sementes recalcitrantes. Nessas sementes, a água sub-celular está fortemente associada às superfícies macromoleculares assegurando, em parte, a estabilidade de membranas e macromoléculas. A perda de água estrutural durante o processo de secagem causaria a alteração de sistemas metabólicos e de membranas, resultando no início do processo de deterioração (Farrant et al., 1988). Em estudos com lotes de sementes provenientes de diferentes locais ou de ecótipos de uma mesma espécie é considerada a existência de uma faixa, e não de um valor único, para teores de água crítico e letal. Isso ocorre devido a sensibilidades diferenciadas na tolerância à perda de água observadas dentro de uma mesma espécie (Ellis et al., 1991; Martins et al., 1999 abc), de acordo com o habitat de origem, condições agrobioclimáticas de cultivo e a diversidade genética (Farrant et al., 1988; Martins et al., 1999 abc). O objetivo do estudo foi verificar o efeito da desidratação de sementes de pupunheiras inermes sobre a germinação e o vigor. MATERIAL E MÉTODOS Os frutos foram colhidos em Yurimaguas, Peru; Camamu e Piraí do Norte, BA e Pindorama, SP, em plantas matrizes selecionadas para vigor e ausência de espinhos. Tão logo colhidos, os frutos foram despolpados, e as sementes lavadas e enviadas para Campinas. Cada lote de sementes foi dividido em nove sub-lotes, de peso similar. Um dos sub-lotes foi mantido sem secagem, constituindo o tratamento testemunha e os demais sub-lotes foram colocados em 109 M. L. A. Bovi et al. Figura 1. Curvas de secagem dos quatro lotes de pupunheira. L1 – Yurimaguas, Peru; L2 – Camamu, BA; L3 – Piraí do Norte, BA; L4 – Pindorama, SP. Campinas, IAC, 2001. 36 dias após a semeadura) e o índice de velocidade de germinação, contabilizando-se, semanalmente, até 184 dias da semeadura, as plântulas emersas e adaptando-se o critério estabelecido por Maguire (1962). Na avaliação, foi considerado como teor de água crítico aquele a partir do qual houve redução significativa na porcentagem de germinação. Considerouse como teor de água letal, aquele a partir do qual não houve germinação das sementes (Hong e Ellis, 1992). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com os tratamentos em quatro repetições. Foi efetuada a análise de variância, aplicando-se o teste F e comparando-se médias dos tratamentos pelo teste Tukey (5%). A análise conjunta dos dados relativos dos quatro lotes foi realizada via regressão e ajuste de curva, utilizando-se o modelo sigmoidal de Boltzman. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 2. Germinação média relativa de quatro lotes de pupunheira em função da redução média do teor de água das sementes. Campinas, IAC, 2001. bandejas dentro de câmara seca, retirando-se um sub-lote a cada 24 horas de secagem. Nesse ambiente, a temperatura e a umidade relativa do ar foram 28,5±2,5oC e 40±10%, respectivamente. A determinação do teor de água das sementes foi realizada antes e após os diversos períodos de secagem, utilizando-se o método da estufa a 105 ± 3oC por 24 horas, e três subamostras de três 110 sementes inteiras. O efeito da desidratação foi avaliado por meio de teste de germinação, utilizando-se quatro subamostras de 20 sementes por tratamento, em vermiculita, a 20-30°C e luz (78 µmol s -1m -2 por 8 horas), contabilizando-se as plântulas normais emersas 184 dias após a semeadura. Como medidas do vigor, foi utilizada a primeira contagem (efetuada aos A Figura 1 mostra a relação entre o teor de água das sementes e o tempo de secagem, obtida pelo método utilizado. O processo de secagem adotado pode ser classificado como lento (Pammenter et al., 1998), pois demandou 192 horas para que o teor de água inicial das sementes (47 a 38%) baixasse para 14 a 8%. A desidratação progressiva intensificou o processo de deterioração, como verificado na porcentagem média relativa de germinação (Figura 2) e também na análise, por lotes, da distribuição da germinação ao longo do tempo e do índice de velocidade de germinação (Tabela 1), confirmando o comportamento recalcitrante das sementes de Bactris gasipaes, anteriormente reportado por Ferreira e Santos (1992) para o ecótipo mesocarpa com espinhos. Para cada lote de sementes estudado, observa-se que antes mesmo de ser atingido o teor de água crítico, quanto menor o teor de água das sementes, maior o tempo necessário para a germinação (Tabela 1). A deterioração causada pela desidratação das sementes de palmeiras, como Euterpe edulis, E. espiritosantensis e E. oleracea (Martins et al., 1999 abc) e Chrysalidocarpus lutescens (Becwar et al., 1982) afeta, também, o vigor, daniHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Desidratação de sementes de quatro lotes de pupunheira: efeitos sobre a germinação e o vigor Tabela 1. Médias dos parâmetros utilizados na avaliação dos teores crítico e letal de água de quatro lotes de sementes de Bactris gasipaes. Campinas, IAC, 2001. Médias do mesmo lote, seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Lote 1 – Yurimaguas, Peru; Lote 2 – Camamu, BA; Lote 3 – Piraí do Norte, BA; Lote 4 – Pindorama, SP. ficando as membranas celulares, tornando a germinação mais lenta e diminuindo o crescimento das estruturas das plântulas (Becwar et al., 1982; Martins Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 et al., 1999 abc). Isso faz com que sementes e plântulas fiquem mais vulneráveis e sujeitas, por mais tempo, às condições adversas do meio. Em sementes recalcitrantes, a água sub-celular está fortemente associada às superfícies macromoleculares, assegurando em parte, a estabilidade de 111 M. L. A. Bovi et al. membranas e macromoléculas. Farrant et al. (1988) esclarecem que a perda de água estrutural durante o processo de secagem de sementes recalcitrantes pode causar severas alterações dos sistemas metabólicos e de membranas, dando início ao processo de deterioração dessas sementes. Os lotes estudados apresentaram qualidades fisiológicas distintas, com diferenças significativas de teor de água inicial, germinação e índice de velocidade de germinação. Considerando esses fatores, a Tabela 1 mostra que para as sementes não desidratadas, o lote 2, com maior teor de água (46,6%), foi o que apresentou menor porcentagem final de germinação (59,2%) e o lote 3, com menor teor de água (38,3%), foi o que apresentou maior porcentagem final de germinação. Os lotes 1 e 4, por sua vez, mantiveram-se numa categoria intermediária quanto ao teor de água (43,4 e 43,9%, respectivamente) e germinação inicial (65,0 e 66,7%, respectivamente). Porcentagem final de germinação entre 95 e 40% foi reportado anteriormente para 373 lotes de pupunheiras inermes da mesma localidade (Bovi et al., 1994). Para sementes provenientes de germoplasma com espinhos alguns autores relataram porcentagem final de germinação variando de 64,4 a 86,3% (Coates-Beckford e Chung, 1987; Carvalho e Müller, 1998). Para todos os lotes, a secagem das sementes até teores de água inferiores a valores entre 23 a 28% reduziu significativamente a porcentagem de germinação e o vigor, caracterizando uma faixa de teor de água crítico para a espécie (Tabela 1). A mortalidade total das sementes foi observada com a desidratação até teores de água abaixo de 13 a 15%, dependendo do lote, caracterizando a faixa de teor de água letal para a pupunheira. A faixa de teor de água crítico obtida no presente trabalho apresenta valores inferiores aos observados por Ferreira e Santos (1992) e Carvalho e 112 Müller (1998) para sementes da mesma espécie. Por sua vez a faixa de teor letal é superior à descrita por Carvalho e Müller (1998) e inferior à relatada por Ferreira e Santos (1992). Há provavelmente, sensibilidade diferenciada na tolerância à perda de água entre ecótipos de origem diferente dentro de uma mesma espécie (Farrant et al., 1988; Ellis et al., 1991; Martins et al., 1999ab). No presente trabalho foram utilizadas sementes do ecotipo inerme proveniente originalmente de Yurimaguas, material genético responsável atualmente por acima de 95% da pupunha cultivada no Brasil (Bovi, 1998). Por sua vez, as sementes utilizadas por Ferreira e Santos (1992) e também por Carvalho e Müller (1998) foram provenientes de material genético com espinho, originário do Pará e de Manaus, respectivamente. A análise conjunta dos dados relativos dos quatro lotes (Figura 2) permitiu estimar a que redução de água os valores crítico e letal correspondem. Dessa forma, o teor de água crítico foi atingido quando houve perda igual ou superior a 40% do teor de água inicial das sementes. Perdas iguais ou acima de 70% do teor de água inicial das sementes levaram à letalidade. Comprovou-se que sementes de pupunheira são recalcitrantes, com germinação inicial alta (59 a 84%) quando não sujeitas à desidratação (47 a 38% de umidade inicial). Reduções significativas na germinação e vigor iniciam-se a partir de teores de umidade entre 28 e 23%. Houve diferenças entre lotes em relação à germinação e ao vigor das sementes, e em relação à sensibilidade à desidratação, indicando que essas características são influenciadas pela colheita e manuseio das sementes, pelas condições agrobioclimáticas de cultivo e, possivelmente, componente genético. LITERATURA CITADA BECWAR, M.R.; STANWOOD, P.C.; ROSS, E.E. Dehydration effects imbibitional leakage from dessiccation sensitive seeds. Plant Physiology, v.69, n.4, p.1132-1135, 1982. BOVI, M.L.A. Palmito pupunha: informações básicas para cultivo. Campinas, Instituto Agronômico, 1998. 50 p. (Boletim Técnico 173). BOVI, M.L.A.; CHAVES FLORES, W.B.; SPIERING, S.H.; MARTINS, A.L.M.; PIZZINATTO, M.A.; LOURENÇÃO, A.L. Seed germination of progenies of Bactris gasipaes: porcentage, speed and duration. Acta Horticulturae, v.360, n.8, p.157-165, 1994. CARVALHO, J.E.U.; MÜLLER, C.H. 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Existem diversas finalidades para seu uso na culinária, como planta ornamental, medicinal e aromática, sendo o seu oleo essencial valorizado no mercado internacional pelo teor de linalol. Caracterizou-se morfológica e agronômicamente, acessos de Ocimum sp. visando a seleção de genótipos com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. O delineamento experimental foi de blocos casualizados, com duas repetições, avaliando 55 genótipos do Banco de Germoplasma de Ocimum da UFS. Avaliou-se a altura de plantas, peso da matéria seca da parte aérea, teor e rendimento de óleo essencial. Observouse grande diversidade entre os genótipos para todas as variáveis morfológicas e agronômicas avaliadas. Houve grande amplitude entre os genótipos quanto ao teor de óleo essencial, variando de 0,202 a 2,536 ml/100g e para o rendimento de óleo essencial, variando de 1,103 a 21,817 l/ha. Avaliando as variáveis teor e rendimento de óleo essencial de O. basilicum pode-se selecionar os genótipos NSL6421, PI197442, PI358464, PI414194, PI531396 e ‘Fino Verde’ para o programa de melhoramento genético que visa a obtenção de novas cultivares de manjericão com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. Morphologic and agronomic characterization of basil accessions Palavras-chave: Ocimum sp., germoplasma, diversidade, óleo essencial. The sweet basil (Ocimum basilicum L.), can be an annual or a perennial plant depending on the place where it is grown. This plant has several culinary, ornamental, medicinal and aromatic uses. The value of its essential oil in the international market depends on the percentage of linalool. We characterized the morphologic and agronomic qualities of the Ocimum accessions, to select genotypes with higher yield of essential oil rich in linalool. Experiment design consisted of randomized blocks with two replications, evaluating 55 genotypes of the Germplasm Bank of Ocimum from the Universidade Federal do Sergipe, Brazil. The plant height, dry matter of the aerial plant parts, essential oil content and yield were evaluated. A wide diversity among the genotypes was observed for all morphological and agronomical traits evaluated. A large amplitude occurred among genotypes regarding the content of essential oil from 0,202 to 2,536 ml/100g. For the essential oil yield an amplitude from 1,103 to 21,817 l/ha was observed. Evaluating the traits content and yield of O. basilicum essential oil the genotypes NSL6421, PI197442, PI358464, PI414194, PI531396 and ‘Fino Verde’ can be selected for breeding programs to obtain cultivars with a high yield of essential oil rich in linalool. Keywords: Ocimum sp., germplasm, diversity, essential oil. (Recebido para publicação em 21 de março de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003) O manjericão (Ocimum basilicum L., Lamiaceae) é planta anual ou perene, dependendo do local em que é cultivado. Nos Estados Unidos da América o cultivo é de média escala e para fins culinários, ornamentais e extração de óleo essencial. Essa espécie é comercialmente cultivada para utilização de suas folhas verdes e aromáticas, usadas frescas ou secas como aromatizante ou tempero. De acordo com Lawrence (1993), a produção mundial de óleo essencial de manjericão em 1992 foi de 43 toneladas, equivalendo a 2,8 milhões de dólares. Só os EUA importaram em 1988, 1.806 toneladas de manjericão (folhas secas e óleo essencial), equivalente a 2,5 milhões de dólares (Simon, 1990). Esse valor aumentou para 4.195 toneladas de matéria seca em 1996, Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 equivalente a 5,5 milhões de dólares (USDA, 1998). A nomenclatura botânica correta para as espécies e variedades do gênero Ocimum da família Lamiaceae, da qual o manjericão comercial está incluído, é de grande interesse, uma vez que mais de 60 espécies e formas têm sido relatadas, sendo questionável a verdadeira identidade botânica do manjericão citado em algumas literaturas. A dificuldade em classificar mais de 60 variedades de Ocimum basilicum L. provavelmente se deve à ocorrencia de polinização cruzada facilitando hibridações, resultando em grande número de subespécies, variedades e formas. De acordo com o aroma os manjericões podem ser classificados em doce, limão, cinamato ou canela, cânfora, anis e cravo. Porém, para as características morfológicas da planta o manjericão pode receber uma nomenclatura dependendo do porte, formato da copa, tamanho e coloração da folhagem (Simon, 1995; Perry, 1997). O conteúdo dos óleos essenciais pode caracterizar os manjericões em tipo Europeu, Francês ou Doce; Egípcio, Reunião ou Comoro; Bulgário, Java ou Cinamato de Metila, e Eugenol sendo o primeiro tipo o que contém principalmente linalol e metil-cavicol. O óleo essencial pode ser extraído das folhas e ápices com inflorescências através de hidrodestilações (Simon, 1985; Charles e Simon, 1990), sendo o óleo mais valorizado no mercado o de manjericão tipo Europeu (Simon et al., 1990), cujos principais constituintes são linalol (40,5 a 48,2%) e metil-cavicol (estragol) (28,9 a 31,6%) (Fleisher, 1981; Charles e Simon, 1990). O preço do óleo 113 A. F. Blank et al. essencial de manjericão doce no mercado internacional atinge valor próximo a US$ 110,00/litro. Esse valor sugere que a implantação da cultura do manjericão doce para obtenção de óleo essencial pode ser promissora e uma atividade alternativa para os produtores da região Nordeste. Os vários tipos de manjericão relatados apresentam diferentes composições químicas. Para se obter sabor e teor adequados dos princípios que compões os óleos essenciais, plantios de vários tipos de manjericão são realizados na mesma área. Isso resulta em colheita de mistura de sementes(Simon, 1985). Através de um programa de melhoramento genético poderiam ser obtidas cultivares uniformes e padronizadas na composição do óleo essencial. Assim poderiam ser obtidas cultivares adaptadas a determinada região, com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. Uma das fases mais importantes em programas de melhoramento genético é a seleção de genótipos com características desejadas. Assim, o conhecimento do germoplasma disponível é essencial. O presente trabalho objetivou caracterizar morfológica e agronômicamente acessos de Ocimum sp. para seleção de indivíduos, uso no programa de melhoramento da UFS e seleção de cultivares adaptadas à região Nordeste do Brasil. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Campus Rural da Universidade Federal de Sergipe. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com duas repetições, avaliando 55 genótipos do Banco de Germoplasma de Ocimum da UFS, sendo 39 acessos fornecidos pela North Central Regional PI Station, Iowa State University, EUA, 13 cultivares comerciais doadas pelas empresas Topseed e Johnny’s Selected Seeds e três acessos coletados em São Cristóvão-SE (Tabela 1). Cada repetição foi constituída por uma fileira de 2,5 m com espaçamento de 0,5 m entre plantas e 0,8 m entre linhas. Os genótipos em avaliação foram costituídos em sua maior parte pela espécie O. basilicum, com excessão dos genótipos PI 211715; PI 500952 e Alfavaca cravo (O. gratissimum) e do genótipo Holy (O. sanctum). 114 As mudas foram produzidas em ambiente protegido com tela sombrite 50%, em bandejas de isopor com 128 alvéolos com volume 30 ml de substrato por alvéolo, e realizou-se duas irrigações diárias. A mistura de substrato utilizada foi composta de pó-de-coco, esterco bovino, e casca de arroz carbonizada nas proporções 1:1:1, sendo escolhida em ensaios preliminares de composições de substrato. Após sete dias da semeadura ocorreu a emergência de 90% dos acessos, sendo que trinta dias após à semeadura as mudas foram transplantadas para o campo. Para a preparação do solo realizou-se limpeza e posterior calagem com calcário dolomítico para atingir saturação de bases de 60%, dois meses antes da implantação do experimento. Como fonte de nutrientes empregou-se esterco de galinha na proporção de 27,5 m3/ha. Após o primeiro corte efetuou-se nova suplementação na mesma proporção. Os tratos culturais incluiram capinas e irrigação por gotejamento. As avaliações morfológicas foram realizadas aproximadamente dois meses após o plantio e em plena floração de pelo menos 50% das plantas de cada acesso. Foram avaliadas (a) largura da copa (maior largura da copa, utilizando-se a média para representar a parcela); (b) diâmetro do caule (com o auxílio de paquímetro, na base do caule das plantas anotando-se a média para representar a parcela); (c) comprimento e largura das lâminas foliares (obtidas aleatoriamente duas folhas totalmente expandidas de cada planta das parcelas úteis; anotou-se as médias para representarem a parcela); (d) relação comprimento/largura das lâminas foliares (calculada dividindo-se o comprimento médio pela largura média das folhas amostradas de cada parcela útil); (e) hábito de crescimento (atribuiuse notas de 1 a 5 para as plantas da parcela útil, onde 1=planta ereta, nenhum galho toca o solo; 2=planta com 25% dos galhos baixeiros tocando o solo; 3=planta com 50% dos galhos baixeiros tocando o solo; 4=planta com 75% dos galhos baixeiros tocando o solo; 5=planta com 100% dos galhos baixeiros tocando o solo); (f) formato da copa (classificação em arredondado, forma de taça, irregular, outros); (g) cor das folhas e nervuras (de acordo com observações em campo); (h) cor das sépalas e pétalas (determinadas por ocasião da abertura das flores); (i) altura das plantas (obtida com o auxílio de fita métrica, utilizando-se a média para representar a parcela); (j) peso da matéria seca da parte aérea (corte das plantas a 20 cm do solo, entre 14:00 e 16:00 horas. Secagem em estufa com fluxo de ar forçado a 40oC até peso constante); (k) teor de óleo essencial [hidrodestilação com 50 g de biomassa seca com destilador tipo Clevenger (Guenther, 1972); teor expresso em ml/ 100g de biomassa seca); (l) rendimento de óleo essencial expresso em l/ha. RESULTADOS E DISCUSSÃO A grande maioria dos genótipos avaliados apresentou plantas eretas, com exceção dos genótipos Ames 1700; PI 170581; PI 358468; PI 368697; OCI-030; OCI-032 e OCI-033 com 25% dos galhos baixeiros tocando o solo. Em relação à coloração das folhas, foram verdes, fazendo exceção o PI 174285; PI 182246; Red Rubin; Osmin Purple (folhas roxas) e OCI-030 com folhas verde+amarela. Para coloração de nervura encontrou-se a maior parte verde, com exceção de PI 174285; PI 182246; Holy; Red Rubin; Osmin purple (nervura roxa) e PI 174284 com nervura verde+roxa. Observou-se grande diversidade para as variáveis largura de copa, diâmetro do caule, comprimento de folha, largura de folha e relação comprimento/largura de folha de Ocimum sp. (Tabela 1). Quanto ao diâmetro do caule notou-se que 52,94% dos acessos de O. basilicum apresentaram diâmetro do caule superior ou igual a 1,0 cm. Para a espécie O. gratissimum, os acessos PI 211715 e Alfavaca Cravo foram superiores com médias de 1,72 e 1,30 cm, enquanto a espécie O. sanctum apresentou diâmetro de 1,19 cm (Tabela 1). Para comprimento (C) e largura (L) e relação C/L de folha verificou-se grande variabilidade (Tabela 1). Não se obteve relação direta entre altura de planta e peso de matéria seca da parte aérea (Tabela 1). Suchorska e Osinsk (2001), avaliando cinco acessos de manjericão, observaram variação genotípica na determinação das características da planta; assim o acesso da Alemanha apresentou plantas mais baixas e o menor número de inflorescências, enquanto o egípcio apresentou as plantas mais altas e obteve um maior número de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Caracterização morfológica e agronômica de acessos de manjericão e alfavaca Tabela 1. Características de genótipos de Ocimum sp. Do Banco de Germoplasma da UFS. São Cristóvão (SE), UFS, 2002. *Valores com letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p£0,05) 1/ Rel. C/L = Relação entre comprimento da folha/largura da folha Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 115 A. F. Blank et al. Tabela 1. Características de genótipos de Ocimum sp. Do Banco de Germoplasma da UFS. São Cristóvão (SE), UFS, 2002. (Continuação) *Valores com letras iguais, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p£0,05) 1/ Rel. C/L = Relação entre comprimento da folha/largura da folha inflorescências. Observou-se que a planta com maior altura não resultou no maior peso de matéria seca da parte aérea. Isso, provavelmente, é devido à interação do diâmetro da copa, do espaçamento entre-nós, do tamanho de folhas e do número de folhas por plantas. Os acessos que se destacaram quanto ao peso de matéria seca da parte aérea por planta foram OCI-33, PI211715 e PI414194 com pesos de 92,95, 77,49 e 67,00 g/planta, respectivamente. Dentro das cultivares comerciais de O. basilicum o Italian Large Leaf e o Fino Verde destacaram-se significativamente com pesos de 63,05 e 52,10 g/planta. Quanto à espécie O. basilicum, os genótipos PI197442 e PI358472 apresentaram os maiores teores de óleo essencial com 2,536 e 1,957 ml/100 g, enquanto que o OCI-33 e PI197442 apresentaram os maiores rendimentos com 30,081 e 21,817 l/ha (Tabela 3). O acesso de O. gratissimum mais produtivo foi PI211715 com teor de óleo essencial de 1,350 ml/ 100g e produtividade de 26,295 l/ha. Observou-se que 30% dos acessos apresentaram rendimento de óleo essencial acima de 6 l/ha (Tabela 1). Em trabalho realizado por Suchorska e Osinsk (2001) foi observada variação de 0,1 a 0,55% de óleo essencial. Os genótipos de O. basilicum que se mostraram mais promissores quanto ao teor, rendimento e linalol (dados não apresentados) no óleo essencial foram NSL6421 (81,40% de linalol), PI358464 (79,38% de linalol), PI531396 (78,30% de linalol), PI414194 (71,62% de linalol), 116 PI197442 (61,57% de linalol) e ‘Fino Verde’ (77,04% de linalol). Estes poderão ser usados em programa de melhoramento genético visando a obtenção de novas cultivares com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. Esta grande variação no rendimento de óleo essencial para as diferentes cultivares, também foi relatada por Charles e Simon (1990), Simon (1995) e Morales e Simon (1997). O acesso PI211715 (72,42% de linalol) também apresentou resultados promissores quanto às variáveis acima citadas e poderá ser usado para desenvolver uma cultivar de O. gratissimum rica em linalol. Suchorska & Osinsk (2001), estudando cinco acessos de manjericão doce, observaram que o óleo essencial do acesso do Egito, tipo egípcio, foi diferente dos demais países (Alemanha, Romênia e Hungria), que apresentaram acessos com óleo essencial tipo Europeu. Avaliando teor e rendimento de óleo essencial de O. basilicum pode-se selecionar os genótipos NSL6421, PI197442, PI358464, PI414194, PI531396, e ‘Fino Verde’ para o programa de melhoramento genético que visa a obtenção de novas cultivares de manjericão com alto rendimento de óleo essencial rico em linalol. Esses seis genótipos provavelmente apresentam um conjunto de genes que poderão ser utilizados para compor uma cultivar de O. basilicum promissora. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao ETENE/ FUNDECI/BN pelo financiamento desta pesquisa e ao CNPq pela concessão da bolsa de produtividade ao coordenador do programa de melhoramento de manjericão Prof. Arie F. Blank. LITERATURA CITADA CHARLES, D.J.; SIMON, J.E. Comparison of extraction methods for the rapid determination of essential oil content and composition of basil (Ocimum spp.). Journal of the American Society for Horticultural Science, v.115, n.3, p.458-462, 1990. FLEISHER, A. 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Postal 23, 56300-000 Petrolina-PE; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se o rendimento e a qualidade de cultivares de pepino para processamento em diferentes espaçamentos de plantio, em experimento em Petrolina (PE), de abril a julho/99. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados sendo os tratamentos dispostos no esquema fatorial 5 x 3, compreendendo cinco cultivares (Calypso, Eureka, Supremo, Vlaspik e Vlasset) e três espaçamentos entre plantas (0,20; 0,30 e 0,50 m) com três repetições. A parcela experimental foi composta de quatro linhas de 3,0 m espaçadas de 1,00 m, com duas plantas por cova, sendo as duas linhas centrais consideradas como área útil. Verificou-se efeitos lineares negativos na produtividade com o incremento do espaçamento entre plantas para as cultivares Vlaspik, Vlasset e Eureka, e efeitos quadráticos com pontos de mínima e máxima produtividade para as cultivares Calypso e Supremo. As maiores massas frescas de frutos foram observadas nas cultivares Vlaspik (35,44 g/fruto) e Vlasset (35,07 g/fruto) que não apresentaram diferenças entre si. Observou-se efeito linear positivo com o aumento do espaçamento entre plantas no número de frutos por planta para as cultivares Vlaspik, Vlasset e Supremo. Para as cultivares Calypso e Eureka constataram-se efeitos quadráticos com pontos de máximo número de frutos por planta. Na classificação de frutos comerciais não verificou-se efeitos significativos dos tratamentos. Effect of plant spacing on the yield and quality of pickling cucumber cultivars Palavras-chave: Cucumis sativus, classificação, produtividade, densidade. Keywords: Cucumis sativus, grading, yield, density. The yield and quality of pickling cucumber cultivars was evaluated in Petrolina, Pernambuco State, Brazil, from April to June of 1999. The experimental design was a complete randomized block, with three replications in a 5 x 3 factorial scheme, with five cultivars (Calypso, Eureka, Supremo, Vlaspik and Vlasset), and three planting spaces (0.20; 0.30 and 0.50 m). Experimental plots consisted of four rows spaced 1.00 m apart, with three meters in length and two plants per hole. The main plot was comprised of the two central rows. Negative linear effect on yield was observed with the increase of the interplant spacing (inside the row) for the cultivars Vlaspik, Vlasset and Eureka and the cultivars Supremo and Calypso showing quadratic effects points of minimum and maximum. The greatest fresh mass of fruits was found on the cultivars Vlaspik (35.44 g/fruit) and Vlasset (35.07 g/fruit) with no statistical differences between them. Positive linear effect for the number of fruits per plant was observed with increasing interplant spacing for the cultivars Vlaspik, Vlasset and Supremo. Quadratic effect was observed in ‘Calypso’ and ‘Eureka’ with maximum points of the number of fruits per plant. No significant effect of the treatments was observed for the commercial fruit production. (Recebido para publicação em 4 de abril de 2003 e aceito em 22 de outubro de 2003) A evolução observada na olericultura brasileira nos últimos anos mostra tendência ao aumento do consumo de produtos processados com maior valor agregado. Dentre as hortaliças consumidas em conserva, o pepino é uma das mais importantes (Costa, 2000). A cultura do pepino para processamento ocupa posição de destaque na região Sul do Brasil, tendo o estado de Santa Catarina como principal produtor nacional (Silva et al., 1992). Nesta região, o cultivo desta olerácea para produção de frutos destinados à industrialização é realizado, empregando-se híbridos ginóicos com elevado potencial de rendimento de frutos (Espinola, 2000). Contudo, sendo o pepino uma cultura que requer grande intensidade de luz e longo período de temperatura elevada, tendo pouca resistência ao frio (Whitaker e Davis, 1962; Knott, 1966), o período de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 entressafra no inverno das regiões Sul e Sudeste é uma realidade que ocasiona queda na produção e ociosidade da indústria (Nadal et al., 1986). Neste contexto, os perímetros irrigados da região Nordeste e do Norte de Minas Gerais, emergem com grande potencial de produção durante todo o ano, em função de suas condições climáticas. A população ideal de plantas a ser empregada é aquela suficiente para atingir o índice de área foliar (IAF) ótimo a fim de interceptar o máximo de radiação solar útil à fotossíntese e ao mesmo tempo maximizar a fração da matéria seca alocada para os frutos. A população de plantas afeta a penetração da radiação solar no dossel e o equilíbrio entre o crescimento das partes vegetativas e dos frutos. Modificações na eficiência das fontes, através de uma alteração na popula- ção de plantas ou do aumento da disponibilidade de radiação, afetam indiretamente a distribuição da matéria seca entre os órgãos da planta. Esse efeito ocorre de forma indireta, mediante alterações no número de frutos em crescimento, os quais modificam a capacidade de dreno da planta (Marcelis, 1993; Hao e Papadopoulos, 1999). O manejo da cultura do pepino para conserva tem como objetivo principal maximizar o rendimento de frutos. Entretanto, a produção de frutos depende diretamente do compartimento vegetativo da planta, que é responsável pela produção dos assimilados. Para maximizar a produção de frutos é necessário, portanto, atingir a produção potencial de assimilados em nível da planta inteira e em seguida alocar para os frutos a maior fração possível desses 117 G. M. Resende e J. E. Flori assimilados. Uma das formas de manejo da produção e da distribuição dos assimilados é através da população de plantas e da poda (Schvambach et al., 2002). Hughes et al. (1974) citam que o espaçamento mais comum para colheitas manuais é de 1,00 m entre fileiras e 0,15 a 0,20 m entre plantas, o que corresponde a populações de 50.000 a 66.666 plantas/ha. Resende (1999) na densidade de 66.666 plantas/ha (1,00 x 0,30 m com duas plantas por cova), destacou como mais produtivas as cultivares Indaial (29,72 t/ha), Score (26,46 t/ ha), Colônia (26,43 t/ha) e Ginga AG77 (26,12 t/ha). A cultivar Pérola foi a que apresentou a produtividade significativamente mais baixa (13,91 t/ha). A massa fresca do fruto e o número de frutos por planta variaram de 49,2 g (‘PrimepaK’) a 67,4 (‘Pérola’) e 3,2 (‘Pérola’) a 7,7 frutos/planta (‘Indaial’), respectivamente. No trabalho de Resende e Flori (2003) a produtividade comercial de frutos variou de 21,43 a 34,54 t/ha, enquanto a maior massa fresca de frutos foi obtida pela cultivar Francipak (37,79 g/ fruto), não diferindo estatisticamente das cultivares Flurry, Vlaspik, Vlasstar, Eureka, Ginga AG-77, Supremo e Navigator (34,05 a 36,24 g/fruto). A cultivar Eureka apresentou maior número de frutos por planta (14,81 frutos/ planta), sem diferir estatisticamente das cultivares Calypso, Primepak, Vlasset, Fancipak, Imperial, Ginga AG-77, Flurry e Panorama. Para classificação de frutos comerciais, verificou-se uma maior proporção de frutos tipo 1, tendo todas as cultivares apresentado valores superiores a 85%. Estudando diferentes espaçamentos entre plantas (0,75 m x 0,20; 0,30 e 0,40 m), Gebologlu e Sagllam (2002), verificaram maiores produtividades no espaçamento com 0,20 m entre plantas, enquanto Peil e Lopez-Galvez (2002) observaram um decréscimo no número e na biomassa dos frutos com o aumento da densidade de plantio. O efeito da densidade de plantio foi maior em termos de matéria seca do que na matéria fresca do fruto. Não há muitas informações sobre o plantio de pepino para processamento nas condições do Vale do são Francisco 118 e neste contexto, o presente trabalho objetivou determinar o efeito da população de plantas sobre cultivares de pepino para processamento, visando maior rendimento e qualidade de frutos, como uma nova alternativa agroindustrial para a região. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Campo Experimental de Bebedouro, Embrapa Semi-Árido, Petrolina, de abril a julho de 1999, cujas coordenadas geográficas são 9o 9' de latitude Sul e 40o 29' de longitude Oeste e altitude de 365,5 m em Latossolo Vermelho Amarelo com as seguintes características: pH (H2O) = 6,4; Ca2+ = 2,4 cmolc/dm3; Mg2+ = 0,7 cmolc/dm3; Na+ = 0,04 cmolc/dm3; K+ = 0,35 cmolc/dm3; Al3 = 0,04 cmolc/ dm3 e P/Mehlich = 24,78 mg/L. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados sendo os tratamentos dispostos em esquema fatorial 5 x 3 compreendendo cinco cultivares (Calypso, Eureka, Supremo, Vlaspik e Vlasset) e três espaçamentos entre plantas (0,20; 0,30 e 0,50 m) em três repetições. As parcelas experimentais constaram de quatro linhas de 3,0 m espaçadas de 1,00 m, com duas plantas por cova, sendo as duas linhas centrais consideradas como área útil. Na adubação de plantio, feita com base na análise de solo, utilizou-se 150 kg/ha de sulfato de amônio, 220 kg/ha de superfosfato simples e 65 kg/ha de cloreto de potássio. Também foram realizadas duas adubações em cobertura com 150 kg/ha de sulfato de amônio, fazendo-se a primeira aos 21 dias após a semeadura (após o desbaste) e a segunda 15 dias após esta. Foram realizadas irrigações por aspersão, três vezes por semana, sendo a cultura mantida no limpo através de capinas manuais e conduzida sob sistema rasteiro. Para controle de pragas foram utilizados deltametrina e pirimicarb, quando necessários, e para controle de doenças semanalmente foram utilizados preventivamente mancozeb e benomil, pulverizados somente até o início da floração (30 dias após a semeadura). Após este período, foram utilizados somente produtos à base de enxofre e de- tergente neutro, pulverizados semanalmente até o fim da colheita. As colheitas foram feitas três vezes por semana, iniciando-se aos 34 dias após a semeadura e estendendo-se por um período de 30 dias. Foram avaliadas a produtividade comercial estimada (t/ha), massa fresca de fruto (g), e número de frutos por planta e classificação de frutos comerciais em percentagem. Foram considerados frutos comerciais os não deformados, retilíneos, sem manchas e sem lesões e estes foram classificados em classe 1(frutos com 6 a 9 cm de comprimento) e classe 2 (frutos com 9 a 12 cm de comprimento) (Resende, 1999). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey para cultivares e regressão polinomial para espaçamentos, com base no modelo quadrático, ao nível de 5% de probabilidade. Os dados originais de porcentagem foram transformados em arcopara a análise estatística, seno sendo apresentados nos resultados as médias originais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve efeito significativo para a interação entre as cultivares e espaçamentos entre plantas para as diferentes características avaliadas. Verificou-se que a maior produtividade comercial foi obtida no menor espaçamento entre plantas (0,20 m) para todas as cultivares avaliadas, onde ‘Vlaspik’ destacou-se com a maior produtividade média (29,06 t/ha), seguida pela ‘Vlasset’ com 22,74 t/ha (Tabela 1). Utilizando a mesma densidade de plantio, Resende (1999), avaliando diferentes cultivares encontrou resultados semelhantes em termos de produtividade comercial de frutos. Para as cultivares avaliadas no presente experimento, no espaçamento de 1,00 x 0,30 m, Resende et al. (2001) verificaram produtividade superior variando de 30,97 a 39,78 t/ha; no entanto, em plantio realizado de setembro a novembro, sob condições de temperatura mais alta, favorável à cultura conforme relata Whitaker e Davis (1962). Estes resultados são similares às afirmações de Hughes et al. (1974) que citam ser o espaçamento de 1,00 m enHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Rendimento e qualidade de cultivares de pepino para processamento em função do espaçamento de plantio Tabela 1. Produtividade comercial, número de frutos por planta e por metro quadrado, massa fresca e classificação de frutos de cultivares de pepino em função de espaçamentos de plantio. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1999. Médias seguidas de mesma letra minúscula e maiúscula nas colunas não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. tre fileiras e 0,15 a 0,20 m entre plantas o mais comum para colheitas manuais e com Gebologlu e Sagllam (2002), que avaliando diferentes espaçamentos entre plantas (0,20; 0,30 e 0,40 m), verificaram maiores produtividades no espaçamento com 0,20 m entre plantas. Verifica-se pela Tabela 1, com o aumento do espaçamento entre plantas, maior número de frutos por planta em todas as cultivares. As cultivares Vlaspik e Vlasset sobressaíram-se com maior número médio de frutos por planta (12,92 e 10,98 respectivamente). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Resende et al. (2001) encontraram valores oscilando entre 10,68 a 13,90 frutos/planta para as cultivares avaliadas no espaçamento de 1,00 x 0,30 m, enquanto Resende e Flori (2003) obtiveram de 9,90 a 14,81 frutos/planta. Verificou-se uma redução no número de frutos por metro quadrado com o incremento do espaçamento entre plantas, sendo as cultivares Vlaspik e Vlasset as que se destacaram com maiores produções médias de frutos (82,14 e 67,67 frutos/m2, respectivamente) (Tabela 1). Estes resultados são concordantes com Peil e Lopez-Galvez (2002) que observaram um decréscimo no número e na biomassa dos frutos com o aumento da densidade de plantio. Em cucurbitáceas, de forma geral, altas densidades produzem grande número de frutos por área, mas com tamanho, peso e número de frutos por planta reduzidos. Esse fato, segundo Robinson e Walters (1997), tem sido atribuído principalmente às pressões de competição inter e intraplantas. Nas baixas densidades, tem sido verificado o inverso, ou seja, produção total menor com maior número de frutos por 119 G. M. Resende e J. E. Flori planta, de tamanho e peso mais elevado. As pressões exercidas pela população de plantas afetam de modo marcante o seu desenvolvimento. Quando a densidade de plantas aumenta por unidade de área, atinge-se um ponto no qual as plantas competem por fatores essenciais de crescimento, como nutrientes, luz e água (Janick, 1968). Não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos, para massa fresca do fruto (Tabela 1). No entanto, verificou-se que as maiores massas frescas de frutos foram apresentadas pelas cultivares Vlaspik (35,44 g/ fruto) e Vlasset (35,07 g/fruto). Resultados semelhantes são relatados por Resende e Flori (2003). Não se verificou efeitos significativos dos tratamentos na produção de frutos classe 1 (variação de 91,92 a 93,81% entre as cultivares) e classe 2 (variação de 6,18 a 8,07% entre as cultivares). Resende e Flori (2003), utilizando o espaçamento de 1,00 x 0,30 m, também verificaram maior proporção de frutos classe 1, nas mesmas cultivares estudadas, com variações de 85,83 a 92,21%. Em função dos resultados obtidos, verificou-se que o espaçamento de 0,20 m entre plantas é o mais indicado para o cultivo de pepino para processamento no Vale do São Francisco para todas as 120 cultivares avaliadas e que as cultivares Vlaspik e Vlasset se destacaram com as maiores produtividades. LITERATURA CITADA COSTA, C.P. Olericultura Brasileira: passado, presente e futuro. Horticultura Brasileira, Brasília, v.18, Suplemento, p.7-11, 2000. Conferência apresentada no 40° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2000. ESPINOLA, H.N.R. 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Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1metilciclopropreno Maria Auxiliadora C. de Lima1; Ricardo E. Alves2; Clóvis Isberto Biscegli3; Heloísa A.C. Filgueiras2; Fábio del M. Cocozza2 Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56300-970 Petrolina-PE; E-mail: [email protected]; 2Embrapa Agroindústria Tropical, C. Postal 3761, 60511-110 Fortaleza-CE; E-mail: [email protected]; [email protected]; 3Embrapa Instrumentação Agropecuária, 13560-970 São Carlos-SP; E-mail: [email protected] 1 RESUMO ABSTRACT Avaliou-se o efeito de concentrações de 1-metilciclopropeno (1MCP) sobre o amaciamento da polpa (através da firmeza e de tomografia de ressonância magnética), o desenvolvimento da região de abscisão do pedúnculo, o comportamento respiratório e a qualidade pós-colheita de melão Galia ‘Solar King’, em temperatura ambiente. Os frutos, provenientes do Polo Agrícola Mossoró-Assú (RN), foram colhidos com a região do pedúnculo ainda íntegra e tratados com solução contendo o fungicida Imazalil e a cera Megh Wash, ambos na concentração de 20 ml 10 L-1. Os frutos foram submetidos a tratamento com 1-MCP, nas concentrações 0; 100; 300 e 900 nl L-1, e ao armazenamento sob temperatura ambiente (24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR), durante 0; 4; 8; 12; 16 e 20 dias. Utilizouse o delineamento experimental inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4x6, com quatro repetições. O 1-MCP reduziu a atividade respiratória, atrasou o pico de produção de etileno e retardou a evolução do amaciamento da polpa e o desenvolvimento da região de abscisão do pedúnculo. Não foram verificados efeitos das concentrações testadas sobre a perda de massa, a acidez total titulável, o pH, o teor de sólidos solúveis totais, o teor de açúcares solúveis totais e a aparência externa. Contudo, a aparência interna dos frutos tratados foi melhor, principalmente naqueles expostos a 300 nl L-1. Esta concentração possibilitou, ainda, atividade respiratória mais baixa, frutos mais firmes e com menor desenvolvimento da região de abscisão peduncular. Postharvest storage of Galia ‘Solar King’ muskmelon treated with 1-methylcyclopropene The effect of 1-methylcyclopropene (doses of 1-MCP) on pulp softening (through firmness and magnetic resonance imaging), development of the stalk abscission layer, respiratory behavior and postharvest quality of Galia ‘Solar King’ muskmelon was evaluated. Fruits from the Mossoró-Assú Agricultural Region in Rio Grande do Norte State, Brazil, were harvested when the stalk area was intact and treated with a solution of Imazalil fungicide and the Megh Wash wax, both at a concentration of 20 ml 10 L-1. The fruits were treated with 1-MCP at concentrations of 0; 100; 300 and 900 nl L-1, and stored at 24.5 ± 0.9ºC and 86.4 ± 7.9% RH for 0; 4; 8; 12; 16 and 20 days. The experiment used a completely randomized design in a 4x6 factorial arrangement with four replicates. 1-MCP reduced the respiratory rate of fruits and delayed the peak in ethylene production, pulp softening and the development of the stalk abscission layer. There were no effects of 1-MCP on mass loss, total tititrable acidity, pH, total soluble solids content, total soluble sugars content and external appearance. However, the internal appearance of 1-MCP treated fruits was better, particularly those exposed to 300 nl L-1. This concentration also resulted in a lower respiratory rate, firmer fruits and a slower development of the stalk abscission layer. Palavras-chave: Cucumis melo var cantaloupensis, etileno, firmeza, tomografia, respiração, 1-MCP. Keywords: Cucumis melo var cantaloupensis, ethylene, firmness, NMR imaging, respiratory rate, 1-MCP. (Recebido para publicação em 16 de abril de 2003 e aceito em 10 de outubro de 2003) N o principal agropolo produtor de melão do Brasil, a região de Mossoró-Assú, RN, o tipo Galia destaca-se como um dos mais cultivados (Menezes et al., 1998a). Este tipo inclui melões aromáticos reticulados de origem israelense, que se caracterizam pela forma arredondada, casca verde que muda para amarelo quando o fruto amadurece, polpa branca ou brancoesverdeada, pouca reticulação e massa média entre 0,7 e 1,3 kg (Menezes et al., 2000). Esse melão é bastante apreciado pelo consumidor europeu, mas, segundo Lester & Stein (1993), tem vida útil póscolheita de aproximadamente 14 dias. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Sua exportação depende, portanto, da utilização eficiente de técnicas de conservação. Recentemente, o inibidor de etileno 1-MCP tem sido testado com eficiência em alguns frutos com o objetivo de retardar o amadurecimento (Fan et al., 2000; Argenta et al., 2001; Dong et al., 2002; Watkins et al., 2002). O composto é um gás inodoro nas concentrações necessárias para proteger as plantas, que compete com o etileno pelos sítios de ligação nos receptores das membranas celulares (Sisler & Serek, 1997). Uma vez ligado a estes sítios, o 1-MCP atrasa ou inibe aqueles eventos do amadu- recimento que são dependentes de etileno. Resultados experimentais têm relatado efeitos do 1-MCP sobre a atividade respiratória, a produção de etileno, a firmeza e a evolução da cor (Golding et al., 1998; Fan et al., 1999, 2000; Watkins et al., 2000; Argenta et al., 2001; Dong et al., 2002; Jeong et al., 2002). No caso de melões do tipo Galia, cujas mudanças após a colheita envolvem essencialmente perda de firmeza, respostas daquele tipo favoreceriam a exploração de mercados mais distantes com maior elasticidade de distribuição e competitividade. 121 M. A. C. Lima et al. Neste trabalho, avaliou-se o efeito de diferentes concentrações de 1-MCP no amaciamento da polpa, no desenvolvimento da região de abscisão do pedúnculo, no comportamento respiratório e na qualidade pós-colheita de melão Galia ‘Solar King’, em temperatura ambiente. MATERIAL E MÉTODOS Utilizou-se melões Galia ‘Solar King’ oriundos de plantio comercial da Empresa Nolem Com. Imp. e Exportadora Ltda., localizado em Mossoró. Os frutos foram colhidos quando a região em torno do pedúnculo ainda apresentava-se sem sinais de abertura, seguindo critérios para exportação para o mercado europeu. Após a colheita, os frutos foram tratados, por meio do pincelamento ao redor do pedúnculo, com solução contendo o fungicida Imazalil e a cera Megh Wash, ambos na concentração de 20 ml 10 L-1, e transportados para o laboratório da Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza. Após seleção para descarte de frutos que exibissem danos decorrentes do transporte, procederam-se os tratamentos com 1-MCP (SmartFresh, 3,3% i.a.), nas concentrações 0; 100; 300 e 900 nl L-1. Os tratamentos foram realizados em câmaras herméticas com capacidade para 0,186 m3. Neste ambiente, o produto comercial foi dissolvido em água a 50ºC, liberando o gás 1-MCP. Os frutos foram mantidos expostos ao 1-MCP por 12 horas, sob temperatura ambiente (aproximadamente 25ºC). Após este período, foram armazenados a 24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR, durante 0; 4; 8; 12; 16 e 20 dias. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4 x 6 (concentrações de 1-MCP x tempo de armazenamento), com quatro repetições constituídas de um fruto cada uma. Estudou-se: Atividade respiratória [(mg kg-1 h-1) em cromatógrafo a gás CG modelo DANI 86.10 através de detector de condutividade térmica (150ºC), em coluna PORAPAK – N (4 m x 3,2 mm)]; Produção de etileno [(ml kg-1 h-1) em cromatógrafo a gás CG modelo DANI 86.10 através de detector de ionização de chama (200ºC), com as características descritas anteriormente]; Perda de massa [(%) através da massa 122 individual do fruto no dia da colheita e na data da avaliação, com balança semianalítica]; Firmeza da polpa [(N) pela resistência da polpa à penetração, utilizando penetrômetro manual modelo FT 327, com ponteira de 8 mm de diâmetro]; Acidez total titulável [(ATT, % de ácido cítrico) por titulação com solução de NaOH 0,1 M]; pH [com potenciômetro digital com eletrodo de membrana de vidro]; Sólidos solúveis totais [(SST, ºBrix) pela leitura em refratômetro digital ATAGO PR 101, escala de 0 a 45ºBrix, com compensação automática de temperatura]; Açúcares solúveis totais [(AST, %) extraídos em água e determinado com reagente antrona, conforme Yemn e Willis (1954)]; Aparência externa (notas de 0-5 onde 5= ausência de depressões, manchas ou ataque de microrganismos; 4= traços de depressões e/ou manchas; 3= depressões e/ ou manchas leves; 2= depressões e/ou manchas com média intensidade; 1= depressões e/ou manchas com intensidade severa ou ataque de microrganismos e 0= depressões e/ou manchas com intensidade muito severa ou ataque generalizado de microrganismos); Aparência interna (escala subjetiva de notas, de 5-0 onde 5= ausência de colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade; 4= traços de colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade; 3= colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade com intensidade leve; 2= colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade com média intensidade; 1= colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ou líquido na cavidade com intensidade severa e 0= colapso na polpa e/ou sementes soltas e/ ou líquido na cavidade com intensidade muito severa); Abscisão do pedúnculo (escala subjetiva de notas onde 4= ausência; 3= presença em menos de 25% da região em torno do pedúnculo; 2= presença em mais de 25% e menos de 50% da região; 1= presença em mais de 50% e menos de 75% da região e 0= abscisão de mais de 75% da região). O amaciamento da polpa também foi acompanhado por imagens de tomografia de ressonância magnética (RM), realizada aos 9 e 14 dias após a colheita, em frutos tratados com 1-MCP e previamente separados para este fim. As imagens foram obtidas em tomógrafo de ressonância magnética nuclear Varian Inova de 2 Tesla, dispon- do de uma bobina de radiofreqüência do tipo gaiola com diâmetro interno de 14 cm e operando na freqüência de 85,53 MHz. O princípio de obtenção das imagens baseia-se na detecção dos prótons de hidrogênio (H+), presentes essencialmente nas moléculas de água. As imagens bidimensionais foram geradas em matrizes de 256 x 256 pixels, em 256 tons de cinza, em fatias de 2 mm de espessura e analisadas com relação à localização e textura dos graus de cinza. Estes indicam o estado da água na polpa do fruto: mais móvel (livre) ou mais ligada aos tecidos. A atividade respiratória e a produção de etileno foram avaliadas a intervalos de tempo mais freqüentes que as demais variáveis a fim de se caracterizar melhor o padrão respiratório do fruto. As referidas variáveis não apresentaram homocedasticidade das variâncias, conforme teste de Bartlett, não sendo, portanto, submetidas à análise de variância. Optou-se, em ambos os casos, por apresentar as médias de cada concentração de 1-MCP em cada tempo. Para as demais variáveis, procedeuse às análises de variância e, para os casos em que o tempo de armazenamento ou as concentrações de 1-MCP foram significativos, às análises de regressão polinomial. Quando houve efeito significativo da interação entre os fatores, realizou-se o desdobramento das concentrações de 1-MCP em cada tempo de armazenamento através de análise de regressão polinomial. RESULTADOS E DISCUSSÃO Atividade respiratória e produção de etileno Os tratamentos com 1-MCP reduziram progressivamente a atividade respiratória até o décimo segundo dia após a colheita (Figura 1A) e atrasaram o pico de produção de etileno em três dias (Figura 1B). Até a ocorrência do pico, a produção de etileno dos tratamentos com 1-MCP também foi reduzida, observando-se os menores valores naqueles frutos tratados com 300 e 900 nl L-1. Da mesma forma que para a atividade respiratória, a partir do décimo segundo dia, os frutos submetidos à aplicação de 1-MCP exibiam produção de etileno mais alta que os do controle. Já aos 16 dias após a colheita, a irregulariHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1-metilciclopropreno dade na taxa de produção de etileno sugere senescência dos frutos. Vários estudos têm demonstrado que o 1-MCP reduz consideravelmente a atividade respiratória e atrasa o climatério (Golding et al., 1998; Fan et al., 2000; Argenta et al., 2001; Dong et al., 2002). Segundo Golding et al. (1998), a redução na atividade respiratória promovida pelo 1-MCP pode resultar de um efeito no metabolismo dos carboidratos. Da mesma forma, os efeitos do composto na redução da produção de etileno e no atraso na ocorrência do pico concordam com observações de Fan et al. (2000), Watkins et al. (2000) e Dong et al. (2002). A resposta permite estender o período de conservação dos frutos uma vez que está relacionada a atrasos em eventos do amadurecimento, como amaciamento da polpa, variações da acidez total titulável e mudanças de cor (Fan et al., 2000). Perda de massa Não se verificou efeito das concentrações de 1-MCP sobre a perda de massa, que aumentou apenas em relação ao período de armazenamento (dados não apresentados). Aos 20 dias após a colheita, o valor médio registrado foi de 4,34%, não se verificando sinal de murcha dos frutos. Menezes et al. (1998b) observaram que o murchamento era uma das principais características que conferiam perda de qualidade externa em melão Galia, híbrido Nun 1380. Segundo os autores, com o uso de refrigeração, o problema se manifesta após 35 dias de armazenamento. A maioria dos estudos realizados com 1-MCP não tem avaliado seu efeito sobre a perda de massa. As poucas observações registradas não são concordantes. Em laranja ‘Shamouti’, Porat et al. (1999) registraram que o 1-MCP não afetou a perda de massa. Por outro lado, Jeong et al. (2002) obtiveram redução da perda de massa, até o oitavo dia de armazenamento a 20ºC, em abacates tratados com 1-MCP. Amaciamento da polpa A firmeza da polpa sofreu efeito da interação entre os fatores estudados de forma que os frutos que receberam 1MCP foram mais firmes até o final do período (Figura 2A). A resposta foi dependente da concentração aplicada, senHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Atividade respiratória (A) e produção de etileno (B) de melão Galia ‘Solar King’ submetido a tratamento pós-colheita com 1-MCP e armazenado sob temperatura ambiente (24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR). Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001. do que 300 e 900 nl L-1 tiveram efeitos praticamente idênticos, superando, até o décimo sexto dia após a colheita, os valores observados nos frutos tratados com 100 nl L-1. A retenção da firmeza é um dos efeitos mais relatados nos estudos com 1-MCP (Fan et al., 2000; Argenta et al., 2001; Dong et al., 2002; Jeong et al., 2002). O fato destaca a viabilidade da tecnologia já que a manutenção da firmeza representa um dos fatores críticos que definem o período de conservação dos frutos (Yoshioka et al., 1994). As imagens obtidas por tomografia de RM (Figura 3) revelam que aos 9 dias após a colheita, os frutos tratados com 1-MCP caracterizavam-se por menor presença de água livre em volta das sementes (indicada pela textura mais clara). Os frutos do controle apresentavam polpa suculenta mas ainda firme, com presença de bastante água livre em volta das sementes, que estavam praticamente soltas. A polpa dos frutos que receberam tratamento com 100 nl L-1 de 1-MCP estava firme, menos suculenta que a do controle e com menor concentração de água livre mas com sementes praticamente soltas. Os frutos tratados com 300 nl L-1, por sua vez, apresentavam polpa firme, o que é demonstrado pela cor cinza escuro nas imagens e caracteriza água ligada. As sementes es123 M. A. C. Lima et al. Figura 2. Firmeza da polpa (A) e abscisão do pedúnculo (B) de melão Galia ‘Solar King’ submetido a tratamento pós-colheita com 1-MCP e armazenado sob temperatura ambiente (24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR). Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001. tavam presas uma vez que havia pouca água livre em volta delas. Da mesma forma, os frutos que receberam 900 nl L-1 exibiram polpa firme mas com sementes mais livres que o tratamento anterior, conforme se verifica através da textura mais clara. Aos 14 dias após a colheita, observou-se presença generalizada de água livre em todo o fruto e em volta das sementes, nos tratamentos controle e 100 nl L-1. Este último exibia regiões claras e escuras com textura turva, indicando a existência intercelular de líquidos livres. Neste caso, o fruto já se apresentava em degradação, com polpa totalmente macia. Por outro lado, os frutos que receberam 300 e 900 nl L-1 apre124 sentavam-se com polpa firme e suculenta, com sementes praticamente soltas. Esta resposta concorda com as observações da firmeza da polpa obtidas por penetrômetro. Ainda, em todos os tratamentos, aos 14 dias após a colheita, foi possível observar áreas brancas e escuras, como regiões de vascularização na polpa do fruto. Acidez total titulável e pH O 1-MCP não foi efetivo em alterar a evolução normal, após a colheita, da ATT e do pH do melão Galia ‘Solar King’ (dados não apresentados). Os valores variaram apenas em função do tempo de armazenamento. A ATT variou entre os limites 0,06 e 0,10% de ácido cítrico enquanto a variação do pH só foi expressiva até o quarto dia após a colheita, com redução de 6,6 para 6,2. Ao contrário do que foi obtido neste estudo, alguns autores encontraram que a redução na evolução da ATT era uma resposta à aplicação de 1-MCP (Fan et al., 2000; Argenta et al., 2001; Watkins et al., 2000; Dong et al., 2002). No entanto, além do efeito ser dependente de fatores como espécie, cultivar (Watkins et al., 2000) e estádio de maturação (Fan et al., 2000), os melões não apresentam variações acentuadas nesse e em outros componentes químicos da qualidade interna. Menezes et al. (1998a) consideram que as variações na ATT de melão não têm importância comercial devido à baixa concentração. Sólidos e açúcares solúveis totais Também não houve efeito do 1-MCP sobre os teores de SST e AST (dados não apresentados). O primeiro variou apenas como conseqüência do tempo de armazenamento, diminuindo de 12,9 para 9,7ºBrix. Para o teor de AST, não houve diferença significativa nem mesmo em função do tempo, observando-se valor médio de 8,1%. Esta resposta contradiz a suposição de Golding et al. (1998) de que o 1-MCP reduz a atividade respiratória através de efeito no metabolismo dos carboidratos. É possível que a explicação não se aplique ao metabolismo de alguns frutos já que outros estudos têm confirmado a tendência obtida com o melão Galia ‘Solar King’ (Fan et al., 1999; Watkins et al., 2000). Aparência A aparência externa e a interna se mantiveram em níveis aceitáveis para a comercialização até aproximadamente o décimo sexto dia (Figura 4A), sendo que para a última foi observado efeito das concentrações de 1-MCP (Figura 4B). Apesar de não se ter registrado incremento na vida útil pós-colheita com o uso do inibidor de etileno, os frutos tratados com 100; 300 e 900 nl L-1 tiveram melhor aparência interna, com notas, respectivamente, 7,05; 8,06 e 3,78% superiores às do controle. A concentração mais eficiente foi 300 nl L-1 que manteve a aparência interna dos melões em melhores condições que as demais (Figura 4B), associado a uma atividade respiratória mais baixa (Figura 1A). Abscisão do pedúnculo O 1-MCP atrasou os eventos relacionados com a abscisão do pedúnculo nos Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Conservação pós-colheita de melões Galia ‘Solar King’ tratados com 1-metilciclopropreno Figura 3. Imagens tomográficas de melão Galia ‘Solar King’ submetido a tratamento pós-colheita com 1-MCP e armazenado sob temperatura ambiente (24,5±0,9ºC e 86,4±7,9% UR). Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 125 M. A. C. Lima et al. Figura 4. Aparência de melão Galia ‘Solar King’ durante o armazenamento sob temperatura ambiente (24,5 ± 0,9ºC e 86,4 ± 7,9% UR) (A) e submetido a tratamento pós-colheita com 1MCP (B). Os valores representados são médios das concentrações de 1-MCP aplicadas (A) e do tempo de armazenamento (B). A linha paralela ao eixo das abscissas indica o limite de aceitação do fruto para comercialização de forma que frutos com valores abaixo dela possuem aparência inadequada para o mercado. Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001. frutos tratados (Figura 2B) provavelmente como conseqüência do seu efeito sobre a produção de etileno. A associação pode ser bastante significativa uma vez que o etileno está envolvido na indução de enzimas que degradam compostos da parede das células localizadas naquela região (Lannetta et al., 2000). Aos oito dias após a colheita, o controle já apresentava mais de 75% da região com rachadura. Nos frutos que receberam 100 nl L-1, o mesmo foi obtido somente aos 16 dias e naqueles tratados com 300 e 900 nl L-1, aos 20 dias após a colheita. Considerando-se a concentração mais econômica, recomenda-se 300 nl L-1 para fins de aplicação comercial uma vez que, além do atraso na evolução da abscisão do pedúnculo, as duas 126 concentrações foram igualmente efetivas em atrasar o amaciamento da polpa e apenas ligeiramente superior a 900 nl L-1 quanto à preservação da aparência interna. LITERATURA CITADA ARGENTA, L.C; MATTHEIS, J.; FAN, X. 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Efeito de composto orgânico sobre a produção e características comerciais de alface americana Jony E. Yuri1; Geraldo M. de Resende2; Juarez C. Rodrigues Júnior3; José Hortêncio Mota1; Rovilson J. de Souza1 UFLA, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; E-mail: [email protected]; 2Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56300-000 Petrolina– PE; 3Agromax, R. Tiradentes, 12, 37750-000 Machado-MG 1 RESUMO ABSTRACT Doses de composto orgânico foram avaliadas na produtividade e qualidade da alface americana em um ensaio em Três Pontas, de 08/07 a 30/08/02. O delineamento utilizado foi em blocos casualizados com quatro repetições, sendo os tratamentos constituídos por cinco doses de composto orgânico (0,0; 20,0; 40,0; 60,0 e 80,0 t ha-1). A massa fresca total evidenciou um efeito quadrático, na qual a produtividade máxima de 914,2 g planta-1, foi obtida com a dose de 59,4 t ha-1 do composto orgânico. Para massa fresca comercial, a máxima produtividade (634,3 g planta-1), foi obtida com a dose de 56,1 t ha-1. A maior circunferência da cabeça comercial (41,4 cm), foi obtida com a dose de 53,7 t ha-1. A dose de 42,7 t ha-1 proporcionou um comprimento de caule máximo de 3,9 cm. Diante desses resultados, pode-se concluir que o uso de 56,0 t ha-1 de composto orgânico aplicado em pré-plantio, proporciona aumento de rendimento e qualidade comercial da alface americana. Effect of organic compost on crisp head lettuce production and commercial characteristics Palavras-chave: Lactuca sativa L., produtividade, circunferência da cabeça, comprimento do caule, adubo orgânico. Doses of organic compost were evaluated on crisp head lettuce production and quality in an experiment conduced in Três Pontas, Brazil, from July 8th to August 30th. The experimental design was in randomized complete blocks with four replicates, the treatments being constituted by five doses of organic compost (0.0; 20.0; 40.0; 60.0 and 80.0 t ha-1). Total fresh matter showed a quadratic effect, in which the maximum yield of 914.2 g plant-1 was obtained with the dose of 59.4 t ha-1 of organic compost. For commercial fresh matter, the maximum yield (634.3 g plant-1) was obtained with the dose of 56.1 t ha-1. The greatest commercial head circumference (41.4 cm) was obtained with the dose of 53.7 t ha-1. The dose of 42.7 t ha-1 caused a maximum stem length of 3.9 cm. These results permit to conclude that the use of 56.0 t ha-1 of organic compost applied in pre plant provides an increase in yield and commercial quality of crisp head lettuce. Keywords: Lactuca sativa L., yield, head circumference, stem length, organic manure. (Recebido para publicação em 5 de maio de 2003 e aceito em 28 de novembro de 2003) A tualmente, com o aumento do número de redes de lanchonetes do tipo “fast-foods”, vem se destacando um grupo de alface denominada “crisp head lettuce” ou tipo “americana” (Maluf, 2000). Esse destaque se deve, principalmente, às características apresentadas por este grupo. A alface americana se diferencia dos demais grupos por apresentar folhas externas de coloração verde-escura, folhas internas de coloração amarela ou branca, imbricadas, semelhantes ao repolho e crocantes (Yuri et al., 2002). Apresenta também maior vida pós-colheita, possibilitando o transporte a longas distâncias (Decoteau et al., 1995). Em relação à alface americana destinada a uma rede de lanchonetes, temse observado que, produtores do sul de Minas Gerais realizam a produção baseada, principalmente, no uso excessivo de fertilizantes minerais. Uma das Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 alternativas para contornar esse tipo de problema estaria no uso de compostos orgânicos. Tendo em vista o fato de o sul de Minas Gerais ser grande produtor de café e leite, forneceria com facilidade matérias primas para a confecção de compostos orgânicos de qualidade, tais como casca de grão de café, esterco de curral e capineiras. As altas produtividades alcançadas por uso intensivo de adubos minerais e agrotóxicos têm sido questionados nos últimos anos, não só pelas contradições econômicas e ecológicas, mas também por desprezar aspectos qualitativos importantes da produção (Santos et. al., 1994). Considerando-se este aspecto, e também em virtude do alto custo de fertilizantes minerais, tem-se cultivado hortaliças com adubos orgânicos de varias origens, visando melhorar as propriedades físicas e químicas do solo (Costa, 1994). O uso de composto orgânico permite melhora na fertilidade, além de ser excelente condicionador de solo, melhorando suas características físicas, químicas e biológicas, como retenção de água, agregação, porosidade, aumento na capacidade de troca de cátions, aumento da fertilidade e aumento da vida microbiana do solo, entretanto, o valor fertilizante do composto depende do material utilizado como matéria prima (Miyasaka et al., 1997). Diversos autores relatam a aplicação de adubos orgânicos proporcionando aumentos na produtividade e qualidade da alface. Aumentos lineares no peso da cabeça foram obtidos com doses de até 10,8 kg m -2 de esterco de curral (Schneider, 1983). A aplicação de esterco de cama de aviário aumentou o rendimento de matéria seca em plantas de alface, sendo os rendimentos mais elevados obtidos com as doses de 24 e 36 t 127 J. E. Yuri et al. ha-1 (Nicoulaud et al., 1990). Aplicando cinco doses de composto orgânico em alface, Santos et al. (1994), verificaram que a máxima produção de matéria fresca (321,69 g planta-1) foi obtida com a dose de 65,69 t ha-1 de composto orgânico (MS), ocorrendo decréscimos com o incremento das doses. Ricci et al. (1994) estudando doses de composto orgânico e vermicomposto, verificaram produtividades iguais à testemunha, com adubação mineral, sendo que com a utilização do vermicomposto obteve-se um adicional de 3,4 t ha-1, em relação ao composto orgânico. Estudando níveis de composto orgânico, Vidigal et al. (1995) verificaram produtividades lineares, tendo a dose de 2000 m3 ha-1 resultando em produtividade de matéria fresca de 67,20 t ha-1 e seca de 36,95 t ha-1, sendo verificados também efeito linear para diâmetro da planta. Heredia. et al. (1996), verificaram incrementos significativos no cultivo de alface (54,61%) em relação à testemunha quando na incorporação de 14 t ha-1 de cama de galinha. Castro e Ferraz Jr. (1998) não verificaram diferenças estatísticas entre a adubação com uréia, sulfato de amônio e esterco de galinha na produção de matéria verde e seca da alface cultivar Aurélia. O composto orgânico, na presença da adubação mineral e na dose de 72,99 t ha-1, proporcionou uma produtividade de 51,62 t ha-1 de alface, sendo que na ausência e com a dose de 95,67 t ha-1 alcançou uma produtividade de 51,59 t ha-1 (Silva et al., 1998). Trani et al. (2000), encontraram aumento linear da produtividade quando se utilizou esterco de curral como adubo orgânico. De acordo com Fontanetti et al (2002), o uso de 40 t ha-1 de húmus de minhoca seguido de adubação mineral, proporcionou melhores resultados na produção de alface americana. O presente trabalho tem como objetivo avaliar doses de composto orgânico na produtividade e qualidade da alface americana cultivada nas condições do sul de Minas Gerais. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no município de Três Pontas (MG), à altitude de 850 m, situado a 21º05’15’’ de 128 latitude Sul e 45º34’00’’ de longitude Oeste. O clima da região é do tipo Cwa com características de Cwb, apresentando duas estações definidas: seca (abril a setembro) e chuvosa (outubro a março), segundo a classificação climática de Köppen. O tipo de solo predominante na área é classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico. O delineamento utilizado foi em blocos casualizados com quatro repetições, sendo os tratamentos constituídos por cinco doses de composto orgânico (0,0; 20,0; 40,0; 60,0 e 80,0 t.ha-1). O composto orgânico utilizado foi obtido seguindo as recomendações de Mendonça (1998). Confeccionando-se uma pilha de aproximadamente 1,5 m de altura, com camadas alternadas de casca do grão de café, esterco de curral e palha triturada de Crotalaria sp. As irrigações foram efetuadas de acordo com a necessidade, baseadas em monitoramentos semanais de umidade, realizadas visualmente. O revolvimento da pilha foi realizado três vezes durante o processo de cura, que se encerrou após, aproximadamente, 100 dias. A análise do material, realizada no laboratório da ESALQ revelou: umidade 46,19%; pH (CaCl2) = 7,4; Matéria Orgânica = 191 g kg-1; N = 1,0 dag kg-1; P2O5 = 0,48 dag kg-1; K2O = 0,66 dag kg-1; Ca = 0,46 dag kg-1; Mg = 0,2 dag kg-1; S = 0,11 dag kg-1; Cu = 22 mg kg-1; Mn = 74 mg kg-1; Zn = 40 mg kg-1; Fe = 22862 mg kg-1; B = 2 mg kg-1; Na = 1511 mg kg-1; C/N = 11/1. Com 30 dias de antecedência, efetuou-se a amostragem de solo para análise, cujos resultados foram: pH (CaCl2) = 5,3; P (Mehlich) = 1 mg dm-3; K (Mehlich) = 51 mg dm-3; Ca = 2,0 cmolc dm-3; Mg = 1,0 cmolc dm-3; H+Al = 2,9 cmolc dm-3; Matéria Orgânica = 3,4 dag kg-1; Zn = 0,5 mg dm-3; B = 0,2 mg dm-3; SO-4 = 5,8 mg dm-3; T = 6,0 cmolc dm-3; V = 51,7%. De acordo com os resultados, essa área foi previamente corrigida com calcário dolomítico, elevando a saturação por bases para 70% (Ribeiro et al., 1999). Três dias antes do transplantio das mudas, efetuou-se nos canteiros, a adubação de base com 65 kg ha-1de N, 600 kg ha-1 de P2O5 e 260 kg ha-1de K2O, utilizando como fontes o adubo formulado 04-30-16 e superfosfato simples, juntamente com as doses do composto orgânico. A área experimental foi demarcada nos canteiros centrais da área de produção. As parcelas foram padronizadas com 2,1 m de comprimento, onde se possibilitou o plantio de 28 mudas, espaçadas a cada 0,30 m, entre plantas e 0,35 m entre linhas. Definiu-se como área útil, as duas linhas centrais, onde foram retiradas seis plantas para análises, descartando-se as duas plantas de cada linha nas extremidades de cada parcela. O transplante das mudas de alface, cultivar Raider, foi realizado em 08/07/02. Após essa operação, irrigou-se a área por aspersão, diariamente, durante sete dias, até o pegamento uniforme das plantas. A partir do oitavo dia, até a colheita, a irrigação foi realizada, também diariamente, por gotejamento. Juntamente com a irrigação, realizaram-se as adubações de cobertura (fertirrigação), totalizando 40 kg ha-1de N e 85 kg ha-1de K2O, utilizando-se como fontes uréia e cloreto de potássio. Para evitar a ocorrência de lagartas e míldio (Bremia sp.), comuns nesta época do ano, foram efetuadas pulverizações semanais com produtos à base de oxicloreto de cobre e piretróides. A colheita foi efetuada em 30/08/02, quando se observou o máximo desenvolvimento vegetativo, apresentando cabeças comerciais compactas. Para a avaliação da massa fresca total, as plantas foram cortadas rente ao solo e pesadas em balança, modelo US.15/5 da marca Urano, com precisão de 5 g. Para a massa fresca comercial, foram pesadas somente as cabeças comerciais, retirando-se as folhas externas. Na seqüência, efetuou-se a medida da circunferência da cabeça comercial, passando a fita métrica ao redor da cabeça. Em relação ao comprimento de caule, cortou-se a cabeça da alface longitudinalmente, assim, possibilitando a exposição do caule, onde se efetuou a medição, com uso de uma régua. As análises de regressão foram realizadas seguindo esquema sugerido por Pimentel Gomes (1990). RESULTADOS E DISCUSSÃO Todas as características avaliadas foram influenciadas pelas doses do composto orgânico utilizado. A massa fresHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Efeito de composto orgânico sobre a produção e características comerciais de alface americana ca total evidenciou efeito quadrático, na qual a produtividade máxima de 914,2 g planta-1, foi obtida com a dose de 59,4 t ha-1 do composto orgânico (Figura 1). Estes resultados são superiores aos obtidos por Fontanetti et al. (2002), que avaliaram a mesma cultivar, nas condições de Lavras e obtiveram a melhor resposta, em termos de rendimento, com a dose de 40,0 t ha-1. Já Santos et al. (1994), verificaram que a máxima produção de matéria fresca (321,69 g planta-1) foi obtida com a dose de 65,69 t ha-1 de composto orgânico, com base na matéria seca, ocorrendo decréscimos com o incremento das doses. Resultados similares foram observados para massa fresca comercial, sendo a máxima produtividade (634,3 g planta-1), obtida com a dose de 56,1 t ha-1 do composto orgânico (Figura 1). Para a indústria, alface americana com elevados peso e tamanho de cabeça comercial são desejáveis, pois estão diretamente relacionadas ao rendimento no momento do processamento. O uso de 56,1 t ha-1 de composto orgânico, neste trabalho, permitiu incremento de 21% no rendimento comercial, quando comparado com a testemunha. Heredia et al. (1996), verificaram incrementos significativos no cultivo de alface (54,61%) em relação à testemunha quando na incorporação de 14 t ha-1 de cama de galinha. Diversos autores relatam a aplicação de adubos orgânicos proporcionando aumentos significativos na produtividade da alface (Schneider,1983; Nicoulaud et al., 1990; Ricci et al., 1994; Vidigal et al., 1995; Trani et al., 2000). Para a circunferência de cabeça comercial, a maior medida, 41,4 cm, foi obtida com a dose de 53,7 t ha-1 (Figura 2). Essa dose possibilitou incremento de 21% na circunferência da cabeça comercial em relação à testemunha. Efeitos positivos no incremento da circunferência da planta são também relatados por Vidigal et al. (1995). O comprimento de caule é característica importante para a indústria, pois está diretamente relacionado ao rendimento da matéria prima. O caule é descartado no momento do processamento, sendo assim, caules muito compridos, acima de 7 cm, representam perda de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Massa fresca total (MFT) e comercial (MFC) de alface americana, cultivar Raider, em função de doses de composto orgânico. Santana da Vargem (MG), UFLA, 2002. Figura 2. Circunferência de cabeça comercial e comprimento de caule de alface americana, cultivar Raider, em função de doses de composto orgânico. Santana da Vargem (MG), UFLA, 2002. material e, conseqüentemente, diminuição no rendimento. Neste experimento, houve efeito significativo entre os tratamentos para o comprimento de caule. A dose de 42,7 t ha-1 proporcionou comprimento máximo de 3,9 cm (Figura 2). Esta medida está dentro de valores aceitáveis pela indústria. Em termos de comprimento de caule, para a cultivar Raider, Yuri (2000), obteve valores de 3,6 e 4,5 cm, nas condições de Santo Antônio do Amparo (MG) e, 2,7 e 3,2 cm, em Boa Esperança, em função de épocas de plantio. Nas condições em que foi realizado o experimento e para o tipo de composto orgânico utilizado, conclui-se que o uso de 56,0 t ha-1 aplicado em pré-plantio, proporciona melhor rendimento e qualidade comercial da alface americana. LITERATURA CITADA CASTRO, R.P.; FERRAZ JR, A.S.L. Teores de nitrato nas folhas e produção da alface cultivada com diferentes fontes de nitrogênio. Horticultura Brasileira, Brasília, v.16, n.1, p.65-68, 1998. COSTA, C.A. Crescimento e teores de sódio e de metais pesados na alface e na cenoura adubadas com composto orgânico de lixo urbano. 1994. 89 p. (Tese mestrado), UFV, Viçosa. DECOTEAU D.R.; RANWALA, D.; McMAHON M.J.; WILSON, S.B. The lettuce growing handbook: botany, field procedures, growing problems, and postharvest handling. Illinois: Oak Brook, 1995. 60 p. 129 J. E. Yuri et al. FONTANETTI, A.; ALMEIDA, K.; SOUZA, A.V.; CARVALHO, G.J. Adubação orgânica e química com e sem aplicação de resíduo siderúrgico, na produção de alface americana. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20, n.2, Suplemento 2, 2002. (CD-ROM). HEREDIA Z., N.A.; VIEIRA, M.C.; CABEÇAS Jr., O. Influência de cama de aviário semi-decomposta em cobertura e incorporada sobre a produção de alface ‘Grand Rapids’ em Dourados-MS. Horticultura Brasileira, Brasília, v.14, n.1, p.89, 1996. (Resumo). MALUF, W.R. Melhoramento genético de hortaliças. Lavras. UFLA, 2000. 183 p. Apostila. MENDONÇA, E.S. Características e propriedades da matéria orgânica e a produção de composto convencional, vermicomposto e super magro. In: ENCONTRO MINEIRO SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS, 1, 1998, Viçosa. Anais... Viçosa: UFV, 1998. p.56-77. MIYASAKA, S.; NAKAMURA, Y.; OKAMOTO, H. Agricultura natural. 2. ed. Cuiabá: SEBRAE/MT, 1997. 73 p. 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Foram utilizadas mudas com 10 meses de idade e densidade de plantio de 5.000 plantas ha-1. As respostas da planta às doses de biossólido foram avaliadas mensalmente, por meio de alguns caracteres diretamente relacionados ao crescimento e à produção de palmito. Com base na altura da planta foi estimado o acúmulo periódico da fitomassa aérea fresca da haste principal, ao longo do tempo. Houve diferença estatística a partir do 5o mês de plantio para as diferentes doses, tempo em que a planta se adaptou ao campo e em que os nutrientes do biossólido começaram a ser assimilados. A resposta positiva no acúmulo de fitomassa aérea da pupunheira ao aumento de doses de biossólido antecipou o tempo para a primeira colheita na dose mais elevada, com 15% de plantas prontas para corte já aos 12 meses após a implantação da cultura. Houve também aumento no número de perfilhos por planta e na porcentagem de plantas perfilhadas em função das doses. Um ano após a aplicação de biossólido, pupunheiras da maior dose tinham, em média, cerca de 27 t ha-1 de fitomassa aérea total (base fresca), 3,3 perfilhos por planta e 77% de plantas perfilhadas. Sewage sludge application on peach palm (Bactris gasipaes Kunth) Palavras-chave: Bactris gasipaes, lodo de esgoto, crescimento, palmito, pupunha. Keywords: Bactris gasipaes, aboveground biomass, growth, offshoots, palmito, pejibaye. The effects of four doses of sewage sludge, applied in the planting furrow, on the aboveground biomass production of peach palm during the first year were evaluated. The experiment was carried out in Ubatuba, São Paulo State, Brazil, in field conditions. Four doses of biosolid (equivalent to 0; 100; 200 and 400 kg ha-1 of N) were studied in a complete block experimental design, with six replications. Tenmonth old seedlings from Putumayo landrace were utilized, in a planting density of 5,000 plants ha-1. Plant responses to biosolid doses were evaluated every month, by means of some traits directly correlated to peach palm growth and yield. Aboveground biomass (fresh weight base) accumulation was estimated, based on plant height. Statistical differences among doses were detected five months after planting, probably due to plant acclimation and nutrient assimilation. Anticipation of heart-of-palm harvesting could be detected, with 15% of plants ready to be harvested when treated with the dose of 400 kg ha-1 of N. An increase occurred in the number of offshoots per plant and in the percentage of suckered plants per plot as a function of biosolid doses. One year after sludge application, in the maximum response treatment (400 kg ha-1 of N), was obtained 27 ton ha-1 of aboveground biomass, 3.3 offshoots per plant and 77% of palms with offshoots were obtained. (Recebido para publicação em 06 de maio de 2003 e aceito em 17 de novembro de 2003) O cultivo da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth.) para produção de palmito vem se expandindo no Brasil desde 1990, devido a uma série de vantagens quando comparado ao das espécies tradicionalmente utilizadas para essa atividade. A pupunheira é a mais precoce de todas as palmeiras atualmente em uso para a produção de palmito. A formação de mudas é simples e rápida (6 a 8 meses), levando em torno de 18 a 24 meses do plantio no campo à primeira colheita (Bovi, 1998). Um crescimento acelerado é fundamental para o uso da pupunheira para a produção de palmito. Pelas características próprias do cultivo, com colheitas freqüentes e escalonadas em função do desenvolvimento das hastes, as plantas apresentamse em permanente estádio vegetativo, e a Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 velocidade com que a fitomassa inicial se acumula e é reposta novamente após cada colheita, torna-se um indicador da produtividade e da vida econômica do cultivo (Clement e Bovi, 2000). No entanto, a pupunheira é exigente em propriedades físicas do solo (Jorge e Bovi, 1994) e extrai grande quantidade de nutrientes do mesmo (Bovi e Cantarella, 1996; Falcão et al., 1998; Ares et al., 2002). A máxima produtividade é obtida somente com uso adequado de adubação (Bovi et al., 2002; Schroth et al., 2002). Embora precoce em relação a outras palmeiras, reconhece-se que o crescimento e o desenvolvimento da pupunheira dependem basicamente das condições hídricas da área de cultivo (Bassoi et al., 1999; Ramos, 2002; Ra- mos et al., 2002) e das características físicas e da fertilidade do solo. Dessa forma, uma boa adubação inicial, feita ainda no sulco de plantio, é determinante para o crescimento da planta, contribuindo também para abreviar o tempo necessário para a primeira colheita (Bovi et al., 2000). Várias fontes de matéria orgânica vêm sendo usadas na agricultura, como esterco de curral, composto de lixo, resíduos vegetais, entre outros. Ultimamente, atenção tem sido dada ao uso agrícola do biossólido. Resultados de pesquisa com biossólido em agricultura indicam que ele possui todos os nutrientes exigidos pelas plantas, e que seu emprego é altamente recomendável em milho, café, cana-de-açúcar, citros, espécies florestais e outras plantas pere131 F. V. A. Vega et al. nes, devido aos altos teores de matéria orgânica (40–60%), nitrogênio (4%), fósforo (2%), e micronutrientes em geral. Atua também como condicionador do solo, melhorando as características físicas, agindo ainda em processos químicos e biológicos (Silva et al., 1998; Melo e Marques, 2000; Oliveira, 2000). Este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de quatro doses crescentes de biossólido, aplicadas no sulco de plantio, sobre a produção de fitomassa aérea de pupunheiras durante o primeiro ano do cultivo. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado a campo, em Ubatuba (SP) (23 o 27’S, 45o04’W, a 6 m de altitude). O clima da região é “Cfa”, pela classificação de Köppen, tropical quente e úmido, com pluviosidade anual normal de 2841 mm, evapotranspiração potencial normal de 992 mm, excedente normal de 1849 mm, temperatura média anual de 20,8oC e déficit hídrico nulo. O solo, próprio da área agricultável da região, é classificado como Aluvial álico (Udifluvent), com boa drenagem. É arenoso, com a composição granulométrica na profundidade de 015 cm: 100 g kg-1 de argila, 140 g kg-1 de silte, 130 g kg-1 de areia fina e 630 g kg-1 de areia grossa. A maiores profundidades há progressiva diminuição na porcentagem de areia grossa e aumento da areia fina. A porosidade total na profundidade de 0-20 cm é de 49,97%, sendo constituída por 29,65% de macroporos e 20,32% de microporos. A densidade global do solo está em torno de 1,05 g cm-3 (Vega, 2003). Devido à baixa saturação por bases (21,3%) do solo foi feita aplicação de calcário dolomítico (7 t ha-1) de forma a elevar a saturação teórica por bases a 60%. Após calagem, o solo apresentou as características químicas: pH CaCl2 5,4; MO 22,18 g dm-3; Presina 7,94 mg dm-3; 1,60; 19,85; 8,88; 36,44 mmolc dm-3, respectivamente de K, Ca, Mg e H+Al; 27,15; 1,46; 0,25; 0,24; 0,17; 0,03; 0,03 e 0,11 mg dm-3 respectivamente de Fe, Mn, Cu, Zn, B, Cd, Cr e Ni; V 47,5%. Foram avaliadas quatro doses de biossólido, em esquema de blocos ao 132 acaso, com seis repetições (blocos), quatro tratamentos, 36 plantas por unidade experimental, sendo as 16 centrais as plantas úteis. Foram utilizadas bordaduras duplas ao redor de toda a área experimental. Utilizaram-se plantas de pupunheiras sem espinhos (inermes) da raça Putumayo, com 10 meses de idade. Adotou-se a densidade de plantio de 5.000 plantas ha-1, a uma distância de 1 m entre plantas e 2 m entre linhas. As doses empregadas foram calculadas levando-se em consideração as recomendações médias para o cultivo (200 kg N ha-1), preconizadas pelo IAC (Bovi e Cantarella, 1996), a composição química média do lodo da Estação de Tratamento de Esgoto de Bertioga (com 40,1 g kg-1 de Nkj, 4,60 g kg-1 de NNH4 e 48,9 mg kg-1 de NNO3+NO2 na matéria seca) e fórmulas descritas por Tsutiya (2001). Dessa forma, resultaram em 0; 38; 76 e 152 t ha-1 de biossólido fresco (79,7% de umidade), equivalentes a 0; 100; 200 e 400 kg de N por hectare. Os tratamentos foram aplicados de uma única vez no sulco de plantio, adicionando-se 15 g por planta de cloreto de potássio como fonte de K2O. Foram feitas adubações complementares com 15 g de cloreto de potássio e 2,4 de bórax por planta, em três datas (3 e 9 meses após plantio), com o objetivo de corrigir deficiências. Maiores informações sobre o cálculo de doses e instalação do experimento podem ser encontradas em Vega (2003). As respostas da planta às doses de biossólido foram avaliadas mensalmente, por meio da altura da haste principal, medida do solo até a inserção da folha+1. Com base nessa variável foi estimado o acúmulo periódico da fitomassa aérea fresca da haste principal, ao longo do tempo. Isso foi feito por meio de equação y= axb cujos parâmetros foram estimados por Vega (2003). Como a produção de palmito é avaliada pela massa fresca, optou-se por calcular as respostas às doses de biossólido na mesma base. As medidas foram complementadas com a avaliação do número e da altura dos perfilhos por planta útil, realizada aos 12 meses após o plantio, e com o índice de área foliar (LAI) avaliado em datas diferentes. Esse índice foi estima- do utilizando o equipamento LI-COR LAI 2000 (Li-Cor Incorporated, Lincoln, NE, USA), segundo o método descrito por Welles e Norman (1991) e Lamade (1997). Foram feitas medidas aos 3; 6; 9 e 12 meses de plantio. Os dados obtidos para cada tratamento foram submetidos à análise de variância, com comparação entre médias de tratamentos e do crescimento no tempo (meses após o plantio) realizada pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. Foi aplicada análise de regressão e ajuste de equações para modelar a resposta das doses crescentes do biossólido ao acúmulo da fitomassa, com base na média dos tratamentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na evolução do desenvolvimento da fitomassa aérea fresca da pupunheira durante os 12 meses, observou-se que o acúmulo inicial foi pequeno, sem haver diferenças entre as doses até quatro meses após a instalação do experimento (Figura 1). Diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos começaram a ser detectadas a partir do 5o mês de plantio, quando os resultados encontrados para a dose 400 kg N ha-1 foram significativamente maiores (média de 0,17 kg planta-1) que os dos demais. A taxa de acúmulo da fitomassa foi aumentando, particularmente a partir do sétimo mês, começando então a haver diferenças estatísticas entre as doses de biossólido e o tratamento testemunha. A partir dessa data houve maior acréscimo na taxa de crescimento absoluto em fitomassa, a qual perdurou até o décimo mês de plantio. Entre o décimo e o décimo primeiro mês ocorreu déficit hídrico acentuado que causou menor taxa de crescimento das plantas nesse período. Sintomas típicos de estresse hídrico puderam ser visualizados nessa época. As chuvas ocorridas após esse período restabeleceram a reserva hídrica do solo, com conseqüente retomada do crescimento. Observou-se que doses crescentes de biossólido aumentaram de forma representativa a fitomassa total da pupunheira ao longo do tempo, devido provavelmente à liberação gradual dos nutrientes disponíveis para as plantas (OliveiHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Aplicação de biossólido na implantação da cultura da pupunheira ra, 2000; Vega, 2003). Não houve efeito negativo, não ocorrendo diminuição da produção de fitomassa mesmo na dosagem maior, de 152 t ha-1 de lodo fresco (400 kg ha-1 de N), correspondente a aproximadamente 32 t ha-1 de lodo seco na dose máxima. Efeitos fitotóxicos de doses elevadas de biossólido foram reportados para algumas culturas. Tsutiya (2001) observou em eucalipto (Eucalyptus grandis), que doses maiores que 35 t ha-1 de biossólido na base seca (biossólido da ETE Barueri) a partir dos 22 meses de plantio causaram decréscimo no volume cilíndrico da planta (m3 ha-1). Doze meses após a aplicação de biossólido, as plantas que receberam a dose máxima tinham mais que o dobro da fitomassa aérea da testemunha (5,04 e 2,11 kg planta-1, respectivamente). Foi elaborada equação geral de resposta do acúmulo de fitomassa aos 12 meses em função da aplicação de doses crescentes de biossólido no plantio. A equação de melhor ajuste foi a quadrática: y=a+bx+cx 2, com valores para a = 2,3318, b = 8,3738e-3 e c = -2,0477e-6, e alto coeficiente de determinação (R2= 0,96). O coeficiente de variação do experimento esteve entre 24,27 e 47,27% ao longo do período, valor elevado para cultivos tradicionais, mas esperado para a pupunheira devido à alta variabilidade genética, própria da espécie (Bovi et al., 1993a, 1993b). Resultados do índice de área foliar (LAI) ao longo do tempo (Figura 2) corroboram os de fitomassa, visto que se detectou alto coeficiente de determinação (R2= 0,99) do LAI tanto com a produção da fitomassa fresca quanto com a do palmito (Vega, 2003). Observou-se que a dose maior (400 kg N ha-1) apresentou diferença estatística para a área foliar já a partir do sexto mês, terminando no 12o mês com uma diferença significativa em comparação às demais (2,12 m2). Por sua vez, as doses 200 e 100 não diferiram entre si também aos 12 meses (1,62 m2 e 1,56 m2, respectivamente), mas foram estatisticamente superiores à dose 0 (1,18 m2). As respostas da pupunheira em função de doses crescentes de biossólido não foram só em termos de área foliar e fitomassa da haste principal, mas tamHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Figura 1. Fitomassa aérea fresca de pupunheira em função de diferentes doses de N. Ubatuba, IAC, 2002. Médias seguidas da mesma letra, em cada período, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. Ns = não significativo. Figura 2. Índice de área foliar (LAI) de pupunheira em função de diferentes doses de N. Ubatuba, IAC, 2002. Médias seguidas de mesma letra, em cada período, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. Ns = não significativo. bém no número médio de perfilhos por planta e na porcentagem de plantas perfilhadas por parcela. Doze meses após a aplicação do biossólido, observou-se que o número total de perfilhos na dose 400 (3,3 perfilhos por planta) 133 F. V. A. Vega et al. diferiu estatisticamente da dose 0 (1,7 por planta), mas não das doses 100 e 200. Estas foram estatisticamente iguais entre si, com 2,4 e 2,3 perfilhos por planta, respectivamente. Da mesma forma, a porcentagem de plantas perfilhadas aos doze meses chegou a 77,1% na dose 400, enquanto as doses 200 e 100 tiveram 67,7 e 64,6% de plantas perfilhadas, respectivamente. Por sua vez a dose 0 apresentou apenas 56,3% das suas plantas perfilhadas aos 12 meses no campo. Esses valores são superiores aos encontrados por Bovi et al. (2002) com doses similares de nitrogênio aplicado periodicamente como fertilizante químico. Nesse caso, a porcentagem máxima de plantas perfilhadas foi 40%, com um perfilho por planta em média, para a dose maior (400) aos 12 meses de plantio. Da mesma forma, Bovi et al. (2000) em outro experimento com progênies provenientes de Yurimaguas, e testando doses crescentes de matéria orgânica (composto de lixo), fósforo e magnésio, encontraram efeito linear positivo do acréscimo de matéria orgânica sobre esses dois caracteres, reportando 75% de plantas perfilhadas e 3,5 perfilhos por planta na dose de 40 t ha-1 de composto de lixo. No cálculo da fitomassa aérea total da pupunheira submetida a doses crescentes de biossólido observou-se que, a fitomassa dos perfilhos representou, em média, de 3,6 (dose 0) a 6,4% (dose 400) do total da fitomassa. Devido à baixa contribuição dos perfilhos, considera-se a estimativa da fitomassa da planta mãe, ou haste principal, como representativa para o cálculo da fitomassa total da touceira para esse estádio do cultivo. Há uma relação direta entre ambas, com coeficiente de determinação bastante elevado (R2= 0,99), representada pela equação linear y = 0,01269 + 1,01997x, onde y é a fitomassa aérea total e x é a fitomassa aérea apenas da haste principal. Extrapolando os resultados para um cultivo comercial em espaçamento 2x1 m (5.000 plantas ha-1), obtém-se um acúmulo bastante significativo de fitomassa fresca para a dose maior (400) de biossólido, ao redor de 27 t ha-1. Produção similar foi anteriormente reportada por Clement (1995), no Hawaii, em plantio com 1,3 anos e densidade similar à do presente estudo. No entanto, ambos resultados, são quase 50% maio134 res que os obtidos por Ares et al. (2002) em diferentes solos da Costa Rica em densidades maiores que 4.200 plantas ha-1. Nas doses 200 e 100 observou-se cerca de 18 t ha-1, contra apenas 11 t ha-1 na ausência de biossólido no sulco de plantio. Observou-se também uma média geral de 22% em massa de matéria seca com relação à massa fresca total, estimando em média 78% de umidade na planta. A pupunheira apresentou diferença estatística a partir do 5o mês de plantio para as diferentes doses, tempo em que a planta se adaptou ao campo e em que os nutrientes do biossólido começaram a ser assimilados. Houve resposta positiva no acúmulo de fitomassa aérea da pupunheira ao aumento das doses de biossólido, antecipando o tempo para a primeira colheita. A dose 400 apresentou aos 12 meses de plantio 15% de plantas aptas para o corte, sugerindo precocidade na época de início do corte de palmito, considerando que segundo a literatura, normalmente este se dá ao redor dos 18–24 meses após plantio (Villachica, 1996; Bovi, 1998; Burneo, 2000). Doses crescentes de biossólido aplicadas durante o plantio resultaram também em resposta significativa no número de perfilhos e na porcentagem de plantas perfilhadas, duas características responsáveis pela sustentabilidade do cultivo. Conclui-se portanto, que a aplicação de biossólido no sulco de plantio supriu as exigências nutricionais da pupunheira nos primeiros doze meses, exceto para potássio e boro. A ausência de fitotoxidade nas doses maiores, a resposta quase linear da fitomassa aérea em relação às quantidades de biossólido aplicado, o aumento de perfilhamento e a antecipação do ponto de corte para palmito na dose 400, indicam a potencialidade do uso de lodo de esgoto na implantação dessa cultura. No entanto, sugere-se estudos adicionais, visto que, junto com nutrientes essenciais ao cultivo, o biossólido apresenta também metais pesados, que podem a longo prazo entrar na cadeia alimentar. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à SABESP pelo financiamento parcial do projeto de pesquisa e à FundAg pela concessão de bolsa durante o período final de mestrado do primeiro autor. LITERATURA CITADA ARES, A.; BONICHE, J.; MOLINA, E.; YOST, R.S. Bactris gasipaes agroecosystem for heart-ofpalm production in Costa Rica: changes in biomass, nutrient and carbon pools with stand age and plant density. Field Crops Research, v.74, n.1, p.13-22, 2002. BASSOI, L.H.; FLORI, J.E.; ALENCAR, C.M.; SILVA, J.A.M.; RAMOS, C.M.C. Distribuição espacial do sistema radicular da pupunheira em solos irrigados no vale do São Francisco. Engenharia Agrícola, v.19, n.2, p.163-176, 1999. BOVI, M.L.A. Palmito pupunha informações básicas para cultivo. Campinas, IAC – Boletim Técnico 173, 1998. 50 p. BOVI, M.L.A.; CANTARELLA, H. Pupunha para extração de palmito. In: RAIJ, B.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C. (Eds.). Recomendações de adubação para algumas culturas do estado de São Paulo. 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Postal. 28, 13001-970 Campinas-SP;1 bolsista mestrado da FAPESP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT A determinação do coeficiente de caminhamento é bastante útil no melhoramento genético de plantas perenes. No presente estudo foram estimados os efeitos diretos e indiretos de cinco caracteres vegetativos da planta, relacionados ao crescimento, sobre os principais componentes da produção de palmito da palmeira real australiana (Archontophoenix alexandrae Wendl. & Drude), por meio do coeficiente de caminhamento. Para tanto, foram utilizados dados obtidos por ocasião da colheita realizada em 238 plantas de um experimento, com três de anos de campo, conduzido em PariqueraAçu, SP. Desdobraram-se as correlações lineares simples existentes entre as variáveis padronizadas (dependentes e independentes), estabelecendo-se posteriormente um diagrama causal e identificandose as inter-relações entre as variáveis envolvidas. Concluiu-se que o comprimento da folha flecha apresentou efeitos diretos e indiretos negativos e de baixa magnitude, evidenciando pouca influência na seleção de genótipos superiores, mas permitindo estabelecer, na prática, ponto adequado de colheita para maior retorno econômico. A maior magnitude dos coeficientes foi encontrada para a altura da planta, com efeitos diretos e indiretos elevados, positivos e significativos, explicando 85% da produção total. O diâmetro da planta, o número de folhas e o comprimento da quarta folha apresentaram efeitos diretos de baixa magnitude, porém positivos, podendo ser levados em consideração quando do estabelecimento de índices de seleção. Path coefficient analysis between vegetative and heart-ofpalm yield traits in Australian King palm Palavras-chave: Archontophoenix alexandrae, caracteres agronômicos, coeficiente de trilha, melhoramento genético. Keywords: Archontophoenix alexandrae, agronomic characters, genetic improvement, path coefficient. Path coefficient is a useful technique in perennial plant breeding. Direct and indirect effects of five growth related vegetative traits, over the main heart-of-palm yield components from King palm (Archontophoenix alexandrae Wendl. & Drude) were estimated by path analysis. Harvesting data from 238 (three-year old) plants cultivated in an experiment carried out at Pariquera-Açu, São Paulo State, Brazil, were utilized. A casual diagram was established, and linear and simple standardized correlations were estimated in order to identify the interrelations between dependent and independent variables. Spear length showed small and negative direct and indirect effects, with low contribution to superior genotypes selection, although of practical importance to determine adequate harvesting timing for maximal economical value in this palm. The highest magnitude was found for plant height, with positive and significant direct and indirect effects, explaining 85% of the total yield. Plant diameter, leaf number and leaf size presented direct effects of low magnitude, although positive, should be considered only for selection indices establishment. (Recebido para publicação em 1 de julho de 2003 e aceito em 19 de dezembro de 2003) A palmeira real australiana (Archontophoenix spp.), conhecida também como Seafortia devido ao antigo nome do gênero, vem ganhando a atenção de pesquisadores e produtores para a produção de palmito. O gênero Archontophoenix, originário do leste da Austrália, é amplamente utilizado em praças e jardins ao redor do mundo como planta ornamental. Além da alta germinação, da resistência às principais doenças que ocorrem em viveiro e do rápido crescimento das plantas, chama a atenção a qualidade do palmito produzido por palmeiras desse gênero. Pesquisas recentes mostraram que a palmeira real australiana possui elevado potencial para produção de palmito de qualidade e atestam a viabilidade de 136 seu cultivo em nosso meio (Ramos et al., 1997; Bovi, 1998; Berbari et al., 2003; Bovi et al., 2003). A produção de palmito nas espécies do gênero pode ser feita já a partir de 22 meses de campo, desde que cultivadas em regiões aptas e com adubação apropriada (Bovi et al., 2001; Chaimsohn, 2001). Não obstante a importância da palmeira real australiana, tanto como ornamental quanto como produtora de palmito de qualidade, a revisão de literatura revelou que são escassos os trabalhos científicos com esse gênero. No período de 1990 a 2003 foram encontrados apenas 25 trabalhos indexados, a maioria deles simples relatos de ocorrência de doenças. Na verdade, há carência de estudos com palmeiras em to- das as áreas de conhecimento, provavelmente devido às dificuldades logísticas existentes por serem plantas perenes, de ciclo longo e grande altura. Dada a ausência de estudos com Archontophoenix, reconhece-se que o melhoramento do gênero poderia em muito contribuir para aumentar o potencial de uso das espécies. Um dos parâmetros indispensáveis para o melhoramento de qualquer espécie é o conhecimento de correlações entre caracteres de interesse, por permitir subsídios para a seleção ou descarte de materiais genéticos (Goldenberg, 1968; Simmonds, 1979). No entanto, a correlação entre caracteres agronômicos, ainda que seja de grande utilidade na determinação dos componentes de um caHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana ráter complexo, como o palmito, não dá a exata importância relativa das influências diretas e indiretas desses caracteres na produção. O coeficiente de trilha ou de caminhamento (“path coefficient”), proposto originalmente por Wright (1921), permite desdobrar o coeficiente de correlação em efeitos diretos e indiretos e estudar a ação de componentes específicos que produzem uma certa relação entre variáveis correlacionadas. Dewey e Lu (1959) foram os primeiros autores a demonstrar o uso desse coeficiente em estudos de inter-relacionamento de caracteres agronômicos desejáveis. Embora estabelecido há tantos anos, ainda hoje em dia o uso dessa análise vem sendo de grande utilidade no melhoramento de plantas, especialmente em palmeiras, como atestam os relatos de Moreira (1998) e Oliveira et al. (2000) em açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.); Bhagavan e Nair (1989) em areca (Areca catechu L.); Prabhakaran et al. (1991) e Sindhumole e Ibrahim (2002) em coqueiro (Cocos nucifera L.); Taniputra e Manurung (1988), Oboh e Fakorede (1990), Ataga (1995) e Oboh e Fakorede (1999) em dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.). A correta aplicação do coeficiente de caminhamento é dependente do conjunto de caracteres estudados e da confecção de um diagrama de trilha adequado, inter-relacionando esses caracteres. Para tanto, é essencial a experiência do pesquisador na espécie em estudo, bem como na definição e avaliação dos possíveis caracteres diretos e indiretos de importância para o material em uso (Dewey e Lu, 1959). Segundo esses autores, a análise de trilha, nos casos em que se considera um único modelo causal, é simplesmente uma análise de regressão parcial padronizada, sendo útil no desdobramento dos coeficientes de correlação em efeitos diretos e indiretos. No entanto, como alertado por Cruz e Regazzi (1994), é comum o uso de vários diagramas causais, especialmente em programas de melhoramento, visto que sempre é possível desdobrar as variáveis em componentes primários e secundários da produção. Esse tipo de análise, conhecida como análise de trilha com diagramas em cadeia, é uma expansão da regressão múltipla, visto Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 que estão envolvidas inter-relações complexas. O objetivo deste trabalho foi estimar, por meio de análise de trilha com diagrama em cadeia, os efeitos diretos e indiretos de caracteres relacionados ao crescimento (secundários) sobre caracteres componentes da produção de palmito (primários), de forma a obter subsídios para o melhoramento genético de palmeiras da espécie Archontophoenix alexandrae. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas 238 plantas selecionadas ao acaso dentro de população de palmeira real australiana (Archontophoenix alexandrae Wendl e Drude), com 36 meses, em cultivo em Pariquera-Açu (24o43’S, 47o53’W, e 25 m anm), SP. O clima da região é mesotérmico, tropical, quente e úmido, com temperatura média anual de 21,8oC, precipitação pluviométrica anual de 1.587 mm e evapotranspiração de 1.140 mm (Lepsch et al., 1990). O solo da área experimental é um Cambissolo Háplico Distrófico, moderadamente ácido, com teores de Ca e K baixos, mas com Mg relativamente alto, profundo, com drenagem moderada, relevo quase plano e saturação por bases entre 20 e 40% (Sáes, 1995). O espaçamento adotado na cultura foi de 2 x 0,75 m, sendo o plantio efetuado com mudas com seis meses de idade, formadas em tubetes de 150 ml com substrato comercial. Durante o plantio foi colocado 100 g/cova de superfosfato simples. A adubação mineral foi iniciada a partir do sexto mês de plantio, empregando 50 g/planta da fórmula NPK 20:5:20, aplicada em cobertura e em faixas, a cada três meses. Antes da colheita, realizada aos 36 meses após o plantio, os seguintes caracteres vegetativos foram medidos, de acordo com o estabelecido por Clement e Bovi (2000): diâmetro da planta (cm) a 10 cm acima da superfície do solo; altura da planta (cm), medida do solo até o ponto de inserção entre a flecha e a folha mais nova; número de folhas verdes completamente expandidas; comprimento (cm) da ráquis foliar da quarta folha (folha +4), medido do ponto de emissão dos folíolos até a bifurcação deles no ápice; comprimento (cm) da folha flecha (folha 0), medido do ponto de emissão da folha 0 na haste até o ápice da folha. Os caracteres acima foram selecionados pela facilidade de mensuração, e muitos deles, por ter apresentado boa correlação com o palmito de palmeiras de outros gêneros botânicos (Bovi et al., 1990; 1991; 1993a; Fantini et al., 1997; Reis et al., 1999). Após as mensurações, executou-se o corte da porção apical da palmeira (capitel) no local da amostragem, levando-se as plantas etiquetadas ao laboratório, onde se realizou a seguinte avaliação, de acordo com o estabelecido por Clement e Bovi (2000): peso (massa) do palmito basal (g), também conhecido como coração ou resíduo basal, e constituído pela porção macia do estipe localizada logo abaixo do meristema e que é bastante tenro para ser consumido in natura; diâmetro do palmito (mm), avaliado como o diâmetro médio dos n toletes de palmito tipo exportação; comprimento do palmito (cm) do tipo exportação, avaliado com o número de toletes inteiros de palmito multiplicados por 9 cm (tamanho padrão); peso (massa) do palmito (g) exclusivamente do tipo exportação; peso (massa) do palmito apical (g), também conhecido como banda, correspondendo à porção apical, ainda macia, mas não envolta por bainha foliar; peso (massa) total (g), somatório de palmito basal, exportação e apical. Efetuou-se a padronização das variáveis avaliadas, dividindo-se o desvio de cada observação em relação à média pelo desvio-padrão da amostra, de forma a poder comparar efeitos de caracteres mensuráveis em diferentes escalas. Correlações lineares simples foram obtidas pelo método de Pearson (Steel e Torrie, 1980), usando-se as variáveis padronizadas. A estimativa dos coeficientes de trilha (efeitos diretos e indiretos) foi feita considerando-se uma variável básica Y (produto total), a ação de três variáveis principais explicativas, componentes diretas da produção (palmito basal, exportação e apical) e cinco variáveis secundárias explicativas, referentes ao crescimento da planta (diâme137 R. P. Uzzo et al. metro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento da folha flecha) e os diferentes componentes primários da produção (palmito basal, tipo exportação e apical). Visando elucidar as relações entre alguns caracteres referentes ao crescimento da planta e o diâmetro e o comprimento do palmito exportação, equações complementares, envolvendo essas variáveis, foram desenvolvidas. Todas as análises foram efetuadas com o auxílio do programa SAEG (SAEG-UFV, 1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 1. Diagrama causal, em cadeia, dos efeitos diretos e indiretos dos componentes secundários (diâmetro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento da folha flecha) sobre os componentes primários (palmito basal - P1, palmito tipo exportação - P2, palmito apical - P3) da produção total de palmito (Y) da palmeira real australiana. Campinas, IAC, 2001. tro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento da folha flecha). Foi estabelecido um diagrama causal em cadeia, mostrando as inter-relações entre as variáveis envolvidas (Figura 1). O diagrama foi construído com base no método descrito por Cruz e Regazzi (1994) e levando-se em consideração a relação lógica, aditiva, entre as variáveis. No diagrama, as setas unidirecionais indicam a influência direta de cada uma das variáveis explicativas, medidas pelo coeficiente de caminhamento (pjy). As setas bidirecionais mostram a interdependência dos componentes, cuja magnitude e direção são dadas pelo coeficiente de correlação simples (rij). Nessa mesma figura, E1, E2 e E3 são as variáveis residuais referentes aos caracteres principais: peso do palmito basal (P1), peso do palmito tipo exportação (P2) e peso do palmito apical (P3), respectivamente, o que permite a completa determinação de todos os efeitos. Seguindo o diagrama causal, as correlações fenotípicas padronizadas foram partilhadas em componentes de efeitos diretos (pjy) e componentes de efeitos indiretos (rij.pjy), de acordo com o modelo de caracteres primários e secundários que explicam a variação em Y (produto total); onde rij é o coeficiente de 138 correlação do caráter i com j; e pjy é o efeito direto (ou coeficiente de caminhamento) do caráter j sobre o produto final, Y. As equações seguintes expressam as relações básicas entre coeficientes de correlação e de caminhamento para o modelo explicativo envolvendo apenas os efeitos dos caracteres primários (P1, P2 e P3) sobre a produção total (Y): r1y = p1y + r12p2y + r13p3y r2y = r21p1y + p2y + r23p3y r3y = r31p1y + r32p2y + p3y A resolução do sistema de equações acima foi efetuada por cálculo matricial, conforme proposto por Cruz e Regazzi (1994). Por meio dos efeitos diretos e indiretos, inclusive do efeito residual total (E4y = E1 + E2 + E3), obteve-se a equação de determinação total de magnitude igual a 1. A relação entre o efeito residual (E4y) e o coeficiente de determinação da análise de caminhamento (R2y(1,2,3)) é dada pela expressão: E4y = [ 1 - R2 y(1,2,3) ]1/2 Seguindo o mesmo raciocínio, foram estabelecidas, separadamente, as relações entre os caracteres secundários (diâ- Os componentes diretos da produção de palmito de palmeiras são: o palmito basal, também conhecido como resíduo basal ou coração e que se caracteriza pela porção macia do estipe; o palmito tipo exportação que corresponde ao palmito propriamente dito, sendo composto por toletes completos e perfeitos; e o palmito apical, conhecido como banda, que é a porção apical do palmito, sendo constituída pela parte macia, mas desprovida de bainha externa protetora (Ferreira et al., 1982a; Clement e Bovi, 2000). Esses componentes apresentam valores econômicos diferenciados no mercado, com o palmito tipo exportação (em toletes) valendo, normalmente, o dobro das porções basal e apical. Em algumas espécies de crescimento lento, tais como as do gênero Euterpe, é pequena a contribuição do palmito basal para a produção total (Ferreira et al., 1982a). Já em espécies de rápido crescimento, como as do gênero Bactris, essa porção é bastante significativa (Ferreira et al., 1982b; Bovi et al., 1992; Mora-Urpí et al., 1997). Nota-se, pela tabela 1, que o mesmo acontece com a espécie Archontophoenix alexandrae. A soma dos efeitos direto e indireto do palmito basal foi superior à do palmito exportação (0,92 e 0,82, respectivamente), indicando que a contribuição da porção macia do estipe para a produção total comercial é significativa, sendo superior às demais partes. Os efeitos direto (0,20) e indiretos do palmito apical (variando de 0,03 a 0,08) são pequenos e negligíveis, podendo-se aventar que a avaliação desse componente pouco contribui para a produção total. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana Tabela 1. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos de três componentes primários da produção (palmito basal, tipo exportação e apical) sobre a massa total de palmito de palmeira real australiana. Campinas, IAC, 2001. Tabela 2. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos dos caracteres vegetativos diâmetro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento da folha flecha sobre a massa total de palmito basal, palmito tipo exportação, palmito apical e palmito total (basal+exportação+apical) de palmeira real australiana. Campinas, IAC, 2001. As estimativas dos efeitos diretos e indiretos dos cinco caracteres relacionados ao crescimento da planta sobre o palmito basal encontram-se na tabela 2. Observa-se que a característica que mais afeta o rendimento desse componente é a altura da planta, com efeitos direto e indiretos positivos e de magnitude razoável quando comparada aos efeitos Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 das demais. Os resultados indicam que altura da planta por ocasião da colheita de palmito é responsável por cerca de 74% da variação da massa do palmito basal. Resultados semelhantes podem ser observados quando se avalia os efeitos diretos e indiretos dos caracteres da planta sobre a massa de palmito tipo exportação (tabela 2). Nota-se que, dentre os cinco caracteres, a altura da planta proporcionou efeitos diretos e indiretos de boa magnitude, superiores aos obtidos quando da avaliação do palmito basal. É marcante seu efeito indireto sobre todos os caracteres vegetativos avaliados, especialmente sobre o diâmetro da planta. A altura da planta foi responsável por 76% da variação encon139 R. P. Uzzo et al. Tabela 3. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos dos caracteres vegetativos diâmetro, altura, número de folhas, comprimento da quarta folha e comprimento da folha flecha sobre o diâmetro e o comprimento do palmito tipo exportação de palmeira real australiana. Campinas, IAC, 2001. trada na massa do palmito exportação, revelando-se um caráter adequado para a avaliação indireta da produção de palmito em Archontophoenix, bem como para a seleção de plantas superiores para essa atividade agrícola. Para outras palmeiras, como areca e coqueiro, a altura também mostrou ser de utilidade para a seleção de plantas, por apresentar efeitos diretos positivos e altamente significativos sobre a produção, tanto de frutos (Bhagavan e Nair, 1989), quanto de óleo (Sindhumole e Ibrahim, 2002). Embora o palmito apical tenha contribuído pouco para a produção total de palmito (apenas 20%, considerando o efeito direto), a análise da partição dos efeitos dos caracteres vegetativos sobre ele mostra resultados interessantes (tabela 2). Não obstante a baixa magnitude de todos os coeficientes, evidenciase que a altura teve sempre efeitos negativos, tanto direto como indiretos, sobre a massa final de palmito apical. Deduz-se portanto que, na amostragem utilizada (n = 238), com plantas com altura até a inserção da folha flecha variando de 0,28 a 3,20 m, quanto maior a altura da palmeira maior a produção de palmito tipo exportação, com conseqüente diminuição de produção de palmito apical, considerado sempre como porção de menor valor econômico. Por outro lado, foram positivos e comparativamente elevados, os efeitos direto (0,37) e indiretos (0,23 a 0,33) do diâ140 metro da planta sobre esse componente da produção. É também especialmente notória a influência direta (0,38) e indireta (0,17 a 0,25) do comprimento da folha flecha sobre esse caráter. Não obstante, observa-se que o comprimento da flecha é responsável apenas por 51% da variação apresentada pelo palmito apical, enquanto para os demais valores entre 40 e 47% foram obtidos, indicando que a produção de palmito apical é influenciada por outros fatores não mensurados no presente estudo. No entanto, parece existir uma relação significativa e positiva entre comprimento da folha flecha (folha bandeira) e produção de palmito apical. Como a colheita de palmito é sempre escalonada e periódica, realizada com base no desenvolvimento vegetativo da planta (Bovi, 1998; Bovi et al., 2001), pode-se inferir que, na prática, para uma mesma altura de planta, deve-se dar preferência à colheita aquelas que apresentam menor comprimento da folha flecha por ocasião do corte. Quando se avaliam os efeitos dos caracteres vegetativos sobre a produção total (tabela 2), nota-se que a influência da altura da planta é superior à do diâmetro, com efeitos direto e indiretos explicando 85% da variação em massa total. O efeito direto da altura foi 2,5 vezes superior ao efeito direto do diâmetro da planta. Isso indica a grande validade desse caráter para avaliação indireta da produção total, bem como para seleção de plantaselite para a produção de sementes, visando a produção de palmito. A importância da variável altura para a determinação do ponto de corte, bem como para a seleção de plantas-elite já foi reportada anteriormente por alguns autores para palmeiras produtoras de palmito (Bovi et al., 1992; Bovi et al., 1993a,b; Clement, 1995; Mora-Urpí et al., 1997), assim como para aquelas produtoras de fruto e de óleo (Bhagavan e Nair, 1989; Sindhumole e Ibrahim, 2002). A produção de palmito tipo exportação é função do número (comprimento) e do diâmetro dos toletes (Ferreira et al., 1982a). Seguindo o mesmo esquema de partição, foi verificada a relação entre os caracteres vegetativos relacionados ao crescimento da palmeira e essas duas características (diagrama não apresentado). Observa-se na tabela 3, que o diâmetro da planta por ocasião do corte é a variável que mais interfere no diâmetro do palmito, com efeitos direto e indiretos de magnitude elevada, quando comparados aos efeitos das demais. Cerca de 73% da variação em diâmetro do palmito tipo exportação é explicada pelo diâmetro da planta por ocasião da colheita. O efeito direto do diâmetro da planta sobre o diâmetro do palmito foi 3,6 vezes superior ao efeito direto da altura sobre esse mesmo caráter. Por outro lado, a altura da planta é a variável que maior influência direta tem Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Coeficiente de caminhamento entre caracteres vegetativos e de produção de palmito da palmeira real australiana sobre o comprimento total do palmito (tabela 3), com efeito direto (0,68) superior ao obtido em todas as análises anteriormente efetuadas (tabelas 1 e 2). Seus efeitos indiretos também foram de alta magnitude, quando comparados aos demais, variando de 0,45 a 0,60. Fato interessante pode ser observado, ainda na tabela 3, com relação aos efeitos do comprimento da folha flecha sobre o comprimento do palmito tipo exportação. Nota-se aqui efeitos negativos direto e indiretos dessa variável sobre o caráter em questão. A análise conjunta das tabelas 2 e 3, evidencia que quanto maior o tamanho da folha flecha, menor o comprimento do palmito tipo exportação e conseqüentemente sua massa, e maior é a produção de palmito apical. Como o palmito tipo exportação tem um valor econômico superior sobre o palmito apical, e este representa em média apenas 9% da produção total, conclui-se que, independentemente da altura e do diâmetro da planta, deve-se fazer a colheita quando a folha flecha estiver pouco expandida. Dessa forma, o rendimento em palmito tipo exportação será maior. O conjunto das duas variáveis (altura e flecha) é de interesse prático, pois ambas podem ser visualmente estimadas com precisão suficiente pelo colhedor de palmito, auxiliando na determinação do ponto adequado de colheita da palmeira real australiana. Os resultados indicam que além da altura, as variáveis correlacionadas diâmetro da planta, número de folhas e o comprimento da quarta folha podem ser usadas para aumentar as chances de seleção de plantas superiores. Em palmeiras de outras espécies, o número e o comprimento das folhas, bem como o número de folíolos nelas presentes, vêm sendo utilizados, separadamente ou em conjunto, como critério para seleção de plantas-elite e predição de produção de frutos (Taniputra e Manurung, 1998; Oboh e Fakorede, 1990; Prabhakaran et al., 1991). No entanto, o presente relato mostrou que a contribuição da quantidade e do comprimento de folhas é pequena, não valendo o esforço da medida. Recomenda-se utilizá-las apenas na construção de índices de seleção. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 LITERATURA CITADA ATAGA, C.D. Character interrelationships and path coefficient analysis for oil yield in the oil palm. Annals of Applied Biology, v.127, n.1, p.157162, 1995. BHAGAVAN, S.; NAIR, B.P. Vigour index as an additional parameter in identifying elite palms in arecanut. 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Neste trabalho avaliou-se o crescimento e a absorção de nutrientes pelo lisianthus (var. Echo) em estufa comercial. Plântulas de lisianthus foram transplantadas para canteiros aos 60 dias após a semeadura, em outubro de 1999. As amostragens do material vegetal foram feitas aos 8; 22; 36; 50; 64; 78; 92; 106 e 120 dias após o transplantio. O crescimento em altura e a produção de matéria seca da parte aérea foram lentos até os 36 dias e atingiram altura de 90,5 cm e produção de matéria seca de 28,4 g por planta no final do ciclo. A absorção de nutrientes (kg ha-1) pela parte aérea do lisianthus aos 120 dias foi: 238,8 de N, 157,1 de K, 33,9 de S, 17,5 de Mg, 14,9 de P, 10,6 de Ca e para os micronutrientes (g ha-1): 1281,3 de Fe, 294,4 de B, 127,1 de Mn, 121,1 de Zn e 35,8 de Cu. Growing and nutrients absorption by lisianthus (Eustoma grandiflorum) cultivated in soil Palavras-chave: nutrição, floricultura, ornamental. Lisianthus is a cut flower crop that has been intensively studied around the world. However, there is not enough information about its nutrition under tropical conditions. In this work the growth and nutrient absorption of lisianthus (var. Echo) cultivated in soil was evaluated. Seedlings were transplanted 60 days after sowing in October 99. Plant samples were taken at 8; 22; 36; 50; 64; 78; 92; 106 and 120 days after transplanting. Plant growth and dry matter production were slow in the beginning but plants reached 90.5 cm in height and 28.4 of dry weight at the end of cycle. Nutrient uptake (kg ha-1) at 120 days was: 238.8 of N, 157.1 of K, 33.9 of S, 17.5 of Mg, 14.9 of P, 10.6 of Ca and micronutrients (g ha-1): 1281.3 of Fe, 294.4 of B, 127.1 of Mn, 121.1 of Zn and 35.8 of Cu. Keywords: nutrition, floriculture, ornamental. (Recebido para publicação em 09 de outubro de 2002 e aceito em 28 de agosto de 2003) O lisianthus (Eustoma grandiflorum) é uma espécie que começou a se destacar economicamente no Brasil na década de 90. É planta ornamental da família das Gentianaceas, originária da América do Norte, sendo cultivada como flor-de-corte ou em vasos. Sua produção e popularidade têm crescido e pode ser considerada uma das dez mais vendidas no sistema de leilão holandês (Kameoka, 1998). Pode apresentar três cores básicas: azul, rosa e branca (Halevy e Kofranek, 1984). Há diferenças de preferência entre os mercados consumidores: o europeu prefere o azul-escuro, enquanto o japonês e o brasileiro preferem o branco com bordas azuis. As cultivares são divididas em flores simples e dobradas, sendo que o mercado europeu e o japonês preferem as primeiras, já o americano e o brasileiro, as flores dobradas. A cultivar Echo é a mais comum no Brasil (Corr e Katz, 1997). Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Embora com grande potencial de produção e de mercado no Brasil, o lisianthus é uma planta pouco estudada em condições de clima tropical, diferentemente do que acontece no Japão, onde seu estudo tem sido feito há mais de 30 anos (Corr e Katz, 1997). O conhecimento da nutrição e as adubações recomendadas no Brasil, fatores de alto impacto na produção e na qualidade das hastes florais (Kampf et al., 1990), têm se apoiado, geralmente, no empirismo ou em recomendações de outros países, resultando na aplicação de quantidade insuficiente ou excessiva de adubos e, portanto, numa nutrição desbalanceada (Nell et al., 1997). A utilização de curvas de absorção, obtidas nas condições brasileiras, permitirá uma aplicação mais adequada de fertilizantes, de acordo com o estádio fisiológico de máxima absorção, possibilitando a planta adquirir a quantidade total de nutrientes requeridos para sua máxima produ- ção (Pedrosa, 1998). Isso implica em menores perdas de adubo e riscos de toxicidade provocados por concentrações salinas exageradas. Considerando-se as poucas referências sobre o assunto no Brasil, neste trabalho avaliou-se o crescimento, a produção de matéria seca e a absorção de nutrientes pelo lisianthus durante o seu ciclo, na época do ano com maior potencial de produção (verão). MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em estufa comercial da Flora Takeshi Saito em Ibiúna, região de temperaturas amenas e umidade relativa baixa, clima com condições ótimas para o desenvolvimento da cultura. Foi utilizada a cultivar Echo (flores dobradas brancas com bordas azuis), muito apreciada pelo mercado consumidor brasileiro. 143 M. S. Camargo et al. Tabela 1. Crescimento e matéria seca da parte aérea do Lisianthus var. Echo durante seu ciclo. Piracicaba, ESALQ, 2001. O solo da área experimental era um Luvissolo crômico (Embrapa, 1999) Typic Hapludult (Soil Survey Staff, 1994). A análise química inicial do solo revelou a seguinte composição mineral: MO=59 g dm-3; P=208 mg dm-3; CTC= 67,1, pH CaCl2=6,7 e V%= 82. A semeadura foi feita em bandejas, contendo substrato comercial da Eucatex com composição média (dag kg-1): de 63,2 de MO, 0,60 de N, 0,77 de P2O5, 0,36 de K2O, 2,44 de Ca, 2 de Mg, 1,14 de S e 1,1 de Fe; e de micronutrientes (mg dm-3): 176 de Mn, 35 de Cu, 135 de Zn; 340 de B e 15 de Mo. As bandejas foram colocadas em estufas climatizadas com temperatura diurna até 25oC e noturna não inferior a 15oC. O ciclo de produção de mudas foi de 60 dias, sendo a densidade populacional de 1728 plantas por m2 (6 bandejas com 288 plântulas cada). A fertirrigação das mudas foi feita diariamente e a concentração eletrolítica da solução de nutrientes (C.E.) aplicada foi mantida a 0,9 mS cm-1. Na fase de mudas foram utilizados (kg ha-1): 38,5 de N; 1,7 de P; 31,6 de K; 15,5 de Ca; 0,06 de Mg; 2,7 de S. Os micronutrientes (g ha-1) foram aplicados na dose de: 44,8 de B; 14,4 de Cu; 32,8 de Mn; 32,8 de Mo; 3,0 de Zn. Na fase de crescimento foram usadas as seguintes doses para macronutrientes (kg ha -1) e micronutrientes (g ha-1): 222,6 de N; 5,5 de P; 172,8 de K; 114,3 de Ca; 1,0 de Mg; 13,4 de S; 67,9 de Cu; 196,9 de Mn; 195,7 de Mo e 45,6 de Zn. E na fase do florescimento foram utilizados(kg ha-1): 114,1 de N; 4,1 de P; 106,4 de K; 80,1 de Ca; 0,3 de Mg; 8,6 de S e 144 micronutrientes (g ha-1) nas doses de: 38,1 de Cu; 187,9 de Mn; 177,2 de Mo e 57,6 de Zn. Após as operações de preparo do solo, foi feita a instalação dos sistemas de irrigação por gotejamento, de aquecimento superficial do solo e de tutoramento em suportes com malhas de 0,15 x 0,15 m na área de transplantio das mudas.O transplantio das mudas de lisianthus para os canteiros foi feito quando estas apresentavam dois pares de folhas, aproximadamente aos 60 dias após a semeadura, (outubro 99). A densidade populacional de plantio foi 64 plantas por m2 (0,125 x 0,125 m). A fertirrigação foi feita na fase de crescimento (78 dias) e de florescimento (47 dias) de 4/10 a 31/12/99, mantendo-se em ambas as fases a condutividade elétrica (CE) de 0,9 mS cm-1. A área experimental foi representada por quatro canteiros de 1,2 x 25,0 m (9 linhas de 25 m por canteiro), separados por 0,40 m nas duas direções (54.926 m de linhas por ha, com oito plantas por m), sendo que as avaliações foram feitas nas plantas situadas nos dois canteiros centrais, divididos em quatro blocos. As amostragens das plantas foram feitas inteiramente ao acaso nos quatro blocos aos 8; 22; 36; 50; 64; 78; 92; 106 e 120 dias após o transplantio. O número de plantas em cada fase foi variável, para a obtenção de material vegetal suficiente para as análises, não sendo nunca inferior a duas plantas por parcela em cada amostra, mas as quantidades de nutrientes acumulados foram divididos pelo número de plantas amostrados em cada fase. As características avaliadas em cada amostragem foram produção de matéria seca, teor e acúmulo de nutrientes, comprimento das hastes florais e número de folhas produzidos pela parte aérea do lisianthus. A avaliação do número de folhas totalmente expandidas foi feita a partir dos 50 dias, período correspondente ao crescimento em altura mais acentuado da planta. Após essa avaliação, foram realizadas a secagem e a moagem, sendo as análises químicas dos nutrientes feitas em extratos minerais segundo técnicas recomendadas por Malavolta et al., 1987. RESULTADOS E DISCUSSÃO Crescimento e desenvolvimento As hastes florais apresentaram inicialmente um crescimento lento, com incremento mais acentuado dos 36 aos 50 dias (5 a a 7 a semana) após o transplantio. Aos 78 dias, quando já havia atingido 50% do comprimento final da haste, houve redução no incremento em altura (Tabela 1). O comprimento final das hastes, observado aos 120 dias, foi de 90,5 cm, considerado adequado segundo Kameoka (1998) que obteve, para a mesma cultivar Echo, hastes de 70 a 80 cm na mesma região estudada. As hastes muito curtas, provenientes de rebrotas ou de problemas nutricionais, devem ser classificadas como de 2a categoria (Kameoka, 1998), acarretando prejuízos para a comercialização. Aliado ao comprimento das hastes florais, o número de folhas nas hastes de lisianthus é importante, tanto pelo Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Crescimento e absorção de nutrientes pelo Lisianthus (Eustoma grandiflorum) cultivado em solo Tabela 2.Teores de nutrientes na parte aérea do Lisianthus var. Echo durante seu ciclo. Piracicaba, ESALQ, 2001. Tabela 3. Acúmulo de nutrientes na parte aérea do Lisianthus var. Echo durante seu ciclo. Piracicaba, ESALQ, 2001. aspecto visual, quanto pela contribuição ao peso de matéria seca das hastes. Aos 120 dias, o número médio de folhas por haste floral foi de 76 folhas (Tabela 1). A produção de matéria seca apresentou pequenos incrementos, tendo sido mais acentuada na fase de crescimento, dos 50 aos 64 dias, de forma semelhante ao que se observou em termos de comprimento das hastes florais (Tabela 1). Aos 92 dias, período inicial de florescimento, observou-se forte redução do incremento da matéria seca (não acumulado), provavelmente, resultante da mobilização das reservas para a formação da flor. Aos 100 dias, observouse novamente redução no incremento em produção de matéria seca pela parte aérea do lisianthus. Isso está de acordo com a idéia de que a energia absorvida no final do ciclo deve ser utilizada preferencialmente para a abertura das flores, uma vez que, para o lisianthus, as hastes somente são colhidas após a aberHortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 tura das flores (Kameoka, 1998). A produção acumulada de matéria seca durante o ciclo da planta seguiu o ritmo de crescimento da planta, tendo aos 78 dias, período correspondente ao início do florescimento, acumulado mais de 50% da matéria seca total. Na colheita, a parte aérea atingiu 28,4 g de matéria seca, quantidade considerada baixa, se comparada a outras como da rainha-margarida que chega a 129,5 g aos 77 dias (Fernandes et al., 1989) e a da gypsophila que chega a 120 g aos 135 dias (Pedrosa, 1998), mas superior ao do crisântemo que atinge apenas a 27,42 g aos 130 dias (Lima e Haag, 1989). Embora seja pequena a quantidade de matéria seca produzida quando comparada à de outras espécies, pode-se considerá-la adequada em relação às produções geralmente obtidas pelos produtores. Se for considerado o teor de umidade, essa produção de matéria seca (28,4 g por planta) é grande comparada a outras espécies, correspondendo a 17 hastes por maço, com cerca de 700 g de peso de matéria fresca, que é a quantidade comercializada. Além da quantidade de matéria fresca, o número de flores também é importante, devendo conter em cada maço 20 a 25 flores abertas. Absorção de nutrientes As concentrações dos nutrientes na parte aérea do lisianthus (Tabela 2) durante o ciclo foram menores que as obtidas por Frett et al. (1988), Harbaugh e Woltz (1991) e Kameoka (1998), provavelmente em função das diferenças entre as cultivares utilizadas, clima e o tipo de substrato. No caso de Frett et al. (1988) e Harbaugh e Woltz (1991) as produções foram avaliadas em plantas cultivadas em solução nutritiva, tendo o ciclo de produção sido menor que o do presente trabalho que, consequentemente eram menores e apresentavam maiores concentrações de nutrientes. Embora 145 M. S. Camargo et al. Kameoka (1998) tenha cultivado em solo, sob estufa, e sob conduções semelhantes ao presente experimento, as condições de clima, época do ano e adubação eram diferentes. Além disso, devese salientar, que, Kameoka (1998) coletou amostras de folhas do 8o ao 10o par de folhas, contadas a partir do ápice, enquanto no presente trabalho foi avaliada toda a parte aérea (haste, folha e flor). Provavelmente ocorreu um efeito de diluição de alguns nutrientes em comparação com a análise somente das folhas. Apesar das variações encontradas, o importante é que a produção de matéria seca (número de hastes/maço) foi satisfatória no presente ensaio. Os macronutrientes apresentaram forte incremento até os 64 dias na fase de crescimento. Já na fase de florescimento, observou-se novo surto de aquisição de nutrientes dos 92 aos 106 dias, época em que estava ocorrendo a formação de botões florais. Foram portanto verificados dois períodos de grande demanda de macronutrientes: o primeiro dos 36 aos 64 dias e o segundo dos 92 aos 106 dias. O S foi o único mais requerido no final do ciclo. No caso dos micronutrientes observou-se um pico aos 64 dias, exceto para o Cu que ocorreu aos 50 dias e para o B que ocorreu aos 78 dias na fase de crescimento. Na fase de florescimento, o pico ocorreu dos 92 aos 106 dias para o Fe, B e Cu enquanto para o Zn e o Mn dos 106 aos 120 dias, o que pode estar relacionado com a abertura floral. No final do período de crescimento vegetativo e no início do período de florescimento (aos 78 dias), as plantas 146 já haviam absorvido cerca de 50% dos nutrientes necessários, exceto o Fe. Essa fase corresponde ao incremento quinzenal mais exigente dos nutrientes, devendo os fertilizantes ser aplicados antes da fase de indução ao florescimento (78 dias). O conhecimento das fases de maior absorção permite quantificar as exigências nutricionais da planta e ajustar a aplicação do fertilizante de modo que eles estejam em quantidades adequadas exatamente na época de maior demanda de nutrientes. O acúmulo dos nutrientes (Tabela 3) acompanhou a tendência do crescimento em altura e da produção de matéria seca (Tabela 1), tendo sido progressivamente crescente durante o ciclo de produção. Do ponto de vista prático, os resultados indicam que, para 439.404 plantas ha-1, o sistema remove (kg ha-1): 238,8 de N; 157,1 de K; 33,9 de S; 17,5 de Mg; 14,9 de P; 10,6 de Ca; 1281,32 de Fe; 294,4 de B; 127,1 de Mn; 121,1 de Zn; 35,82 de Cu, devendo-se portanto, aplicar adubação que contemple tal quantidade de nutrientes durante o ciclo da cultura. Pelo menos 50% da quantidade total de adubo deveria ser aplicada antes do período de florescimento, quando ocorre a mais acentuada absorção de nutrientes. LITERATURA CITADA CORR, B.; KATZ, P. A grower’s guide to lisianthus production. Floraculture International, v. 7, p. 16-20, 1997. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 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Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 RESENDE, J.M.; COELHO, A.F.S.; CASTRO, E.C.; SAGGIN JÚNIOR, O.J.; NASCIMENTO, T.; BENEDETTI, B.C. Modificações sensoriais em cenoura minimamente processada e armazenada sob refrigeração. Horticultura Brasileira, Brasília, v.22, n.1, p. 147-150, jan-mar 2004. Modificações sensoriais em cenoura minimamente processada e armazenada sob refrigeração Josane Maria Resende1; Ana Flávia S. Coelho2; Elton C. de Castro2; Orivaldo José Saggin Júnior3*; Thiago do Nascimento2; Benedito Carlos Benedetti2 UFLA, DCA, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; E-mail: [email protected]; 2UNICAMP, FEAGRI, C. Postal 6011, 13083-970 Campinas-SP; 3Embrapa Agrobiologia, C. Postal 74.505, 23851-970 Seropédica-RJ *Autor para correspondência 1 RESUMO ABSTRACT Foram avaliadas as modificações sensoriais em cenoura minimamente processada em dois tipos de cortes durante o armazenamento sob refrigeração. Semanalmente avaliou-se a aparência, a cor, o aroma, o sabor e a textura de cenouras cv. Nantes, minimamente processadas, acondicionadas em potes de polietileno tereftalato (PET) e armazenadas a 7ºC, por 14 dias. Para definir a freqüência de consumo e preferência pelo tipo de corte, amostras do produto foram apresentadas ao público e os resultados foram anotados em porcentagem em relação ao número total de pessoas consultadas. Com o decorrer do armazenamento houve redução nos escores para a aparência e a cor, enquanto que o sabor e a textura melhoraram em ambos os cortes. Cenouras raladas apresentaram melhor cor e aparência em relação à cenoura cortada em rodelas, entretanto o sabor e a textura foram melhores para cenouras em rodelas. As cenouras raladas são as mais indicadas para o consumo uma vez que a aparência é o atributo que mais causa impacto na escolha pelo consumidor e dentro desta a cor é a característica mais relevante. A freqüência de consumo deste tipo de produto esta aumentando gradativamente e em relação à preferência pelo tipo de corte, o consumidor optou pela cenoura ralada pela sua maior praticidade e versatilidade de uso. Sensory modifications of fresh cut carrots stored under refrigeration Palavras-chave: Daucus carota, minimamente processado, qualidade, fatiamento, conservação. Keywords: Daucus carota, quality, slicing, storage-life. Sensory modifications were evaluated in carrots cv Nantes lightly processed in two kinds of cut (grated and sliced) during the storage under refrigeration. Fresh cut carrots were packed in polyethylene tereftalato (PET) boxes and stored at 7ºC for 14 days. The carrot’s appearance, color, aroma, flavor and texture were evaluated weekly. To obtain the frequency of consumption and preference of kind of cut, samples were offered to people to try. During the storage of both kinds of cut, a reduction in scores for appearance and color occurred, while flavor and texture scores were improved. Fresh cut carrots in the grated form presented better color and appearance than the fresh cut in the sliced form. However, flavor and texture were better in carrots cut in the sliced form. The grated carrots are the most indicated for consumption because appearance is the attribute that causes most impact to consumers, besides the color. The frequency of consumption of fresh cut carrots is increasing gradually and, regarding people’s preference for kind of cut, the consumers opted for grated carrot because of the larger practicability and versatility in use. (Recebido para publicação em 30 de outubro de 2002 e aceito em 10 de outubro de 2003) D as hortaliças minimamente proces sadas, a cenoura é uma das mais populares, pela sua versatilidade de uso e formas de apresentação ao consumidor, podendo ser ralada em diversos tamanhos ou cortada na forma de fatias, cubos, palitos, e ainda apresentada na forma de mini-cenoura “baby-carrot” (Lana, 2000). Em função do processamento tornam-se suscetíveis a várias mudanças fisiológicas e microbiológicas que depreciam a sua qualidade sensorial e limitam sua vidade-prateleira. Vários autores têm investigado a influencia do tipo de processamento e das condições de armazenamento sobre a percepção da qualidade em produtos minimamente processados (SolivaFortuny e Martín-Belloso, 2003; Jacxsens et al., 2003; Freire Júnior et Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 al., 2002; Gorny et al., 2000). A vidade-prateleira destes produtos muitas vezes é inadequada induzindo à perda da firmeza e da cor, sintetizando compostos fenólicos responsáveis pelo sabor amargo, ácido e adstringente (Fortuny e Martín-Belloso, 2003; Talcott et al., 2001; Talcott e Howard, 1999; Li e Barth, 1998) Não só o metabolismo próprio do tecido vegetal, mas também os microrganismos, são responsáveis pela presença de odores e sabores desagradáveis durante o armazenamento de hortaliças minimamente processadas. Kakiomenou et al. (1996) isolaram Leuconostoc mesenteroides, como principal bactéria láctica contaminante de cenoura ralada. A contaminação é caracterizada pela presença de sabor e aroma ácido devido à produção de metabólitos como ácido láctico e ou acético acompanhado da produção de “limo” e perda de textura (Jacxsens et al., 1999; Carlin et al., 1989). A alta contaminação com este tipo de bactéria está associada à sanitização ruim das máquinas de corte, abuso de temperatura ou ainda ao período de armazenamento muito longo (Dijk et al., 1999). Jacxsens et al. (2003) estudaram a relação entre qualidade microbiologica, produção de metabólitos e qualidade sensorial de alguns produtos minimamente processados. Constataram uma relação entre o crescimento de microrganismos contaminantes, as propriedades sensoriais e a produção de metabólitos onde bactérias lácticas e leveduras formam a microflora contaminante dominante. As propriedades sensoriais foram o fator limitante no 147 J. M. Resende et al. Tabela 1. Escores médios para a aparência, cor, aroma, sabor e textura de cenouras minimamente processadas, armazenadas em diferentes tempos, a 7ºC. Campinas, UNICAMP, 2001. Médias com a mesma letra maiúscula na linha, dentro do mesmo período de armazenamento e minúscula na coluna dentro do mesmo corte não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. consumo destes produtos, em geral minimamente processados; foram rejeitados com base na cor, antes mesmo do sabor, do aroma e da contaminação microbiana tornar-se um problema. Estes autores salientam ainda que a vidade-prateleira de hortaliças minimamente processadas não deve ser avaliada somente sobre a contagem bacteriana mas também sobre atributos de qualidade sensorial. A análise sensorial é uma forma adicional, rápida e criteriosa para avaliar a vida-de-prateleira de produtos minimamente processados, pois baseia-se principalmente no paladar, olfato e tato para avaliação de atributos físicos e químicos (Matthheis e Fellman, 1999; Meilgaard et al., 1991; Moraes, 1988; Chaves, 1980). Avaliou-se alterações nos principais atributos sensoriais de cenoura minimamente processada em dois tipos de cortes durante o armazenamento. MATERIAL E MÉTODOS Raízes de cenouras da cultivar Nantes foram adquiridas no comércio varejista de Campinas (SP), levadas ao laborató148 rio de pós-colheita da UNICAMP e selecionadas quanto à ausência de defeitos e uniformidade no tamanho das raízes. Após, foram lavadas em água corrente e colocadas para drenar o excesso de água em bancada sanitizada. Quinze kg de cenoura foram descascadas manualmente retirando o topo e a ponta das raízes com faca afiada e separadas em dois lotes para a realização dos cortes. No primeiro lote as cenouras foram raladas e no segundo, fatiadas em rodelas; ambos os cortes foram feitos mecanicamente, com auxílio de um multiprocessador Arno, mudando-se apenas o disco de corte. Os cortes foram sanificados separadamente em água contendo 100 ppm de cloro por 5 minutos, drenados, colocados em sacos de náilon e centrifugados por 5 min. Os cortes em rodelas e ralados foram embalados, separadamente, em potes de polietileno tereftalato (PET) com tampas e armazenados a 7ºC ± 3ºC, por 14 dias. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualisado em esquema fatorial 2x3 (dois níveis do fator corte: ralado e em rodelas; e três níveis do fator tempo: 0; 7 e 14 dias de armazenamento), com três repetições, sendo a unidade experimental composta de um pote de polietileno tereftalato (PET) contendo 200 g de cenoura minimamente processada. Semanalmente foram retiradas amostras para análise sensorial da aparência geral, cor característica de cenoura fresca (recém cortada), aroma característico, sabor (doçura) e textura (crocância). Para obter a freqüência de consumo e a preferência pelo tipo de corte, amostras do produto processado nas mesmas condições foram acondicionadas no mesmo tipo de embalagem e apresentadas no mesmo dia ao público, em diferentes pontos do campus da UNICAMP, simulando o ponto de venda. Os resultados foram anotados como porcentagem em relação ao número total de pessoas consultadas. A análise sensorial foi feita por uma equipe de 21 provadores não treinados, onde cada um recebeu durante três semanas seis amostras codificadas, que correspondiam aos dois tipos de cortes, em três repetições. As amostras foram retiradas da câmara fria e deixadas sobre a bancada até atingirem a temperatura ambiente e, em seguida foram acondicionadas em recipientes adequados para prova e servidas aos provadores em cabines individuais. Os resultados das análises individuais de aparência, cor, aroma, sabor e textura foram registrados em escala não estruturada de 9 cm em que o lado esquerdo corresponde à menor intensidade (valor 0) e o lado direito à maior intensidade (valor 9). As variáveis avaliadas foram submetidas à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan em nível de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise sensorial Não houve interação significativa entre os tipos de corte e o tempo de armazenamento nas condições do experimento. O efeito isolado de cada fator sobre algumas variáveis que caracterizam a qualidade sensorial e a vida-deprateleira de cenouras minimamente processadas será discutido a seguir. O armazenamento e os tipos de corte afetaram a qualidade das cenouras quando se estabeleceu uma escala de escores de 0 a 9, onde 0-3 é ruim; 4-6 é Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Modificações sensoriais em cenoura minimamente processada e armazenada sob refrigeração boa e 7-9 é excelente. As cenouras processadas na forma de rodelas apresentaram melhor textura, sabor e aroma e, a ralada teve melhor aparência e cor aos 14 dias de armazenamento. O armazenamento influenciou significativamente a aparência e a cor das cenouras (Tabela 1). Ambos os cortes apresentaram redução nos escores para aparência e cor com o decorrer do armazenamento. Embora não tenham sido detectadas diferenças significativas entre os cortes, a aparência e a cor foram superiores para cenoura ralada ao final do armazenamento. Este resultado era esperado, uma vez que a cor está diretamente relacionada à aparência. As cenouras raladas, conservaram melhor a aparência e a cor em função dos pedaços menores ficarem mais agregados mantendo a umidade mais elevada no interior da embalagem além da maior capacidade de retenção da superfície de corte lisa, homogênea e hidratada em comparação à superfície áspera, quebradiça e desidratada da cenoura em rodelas (observação pessoal). A perda da aparência satisfatória em cenouras minimamente processadas é geralmente atribuída a fatores que contribuem para o desenvolvimento de uma superfície ”esbranquiçada”. Este fenômeno provavelmente é atribuído à desidratação externa da superfície do corte, e poderá ser acompanhado por síntese de lignina. Ambos podem estar diretamente relacionados com a extensão da superfície exposta ao dano (Barry-Ryan e O’Beirne, 1998). A aparência é o atributo que mais causa impacto na escolha por parte do consumidor e dentro desta, a cor é a característica mais relevante. Isto porque a cor caracteriza sobremaneira o produto, constituindo-se no primeiro critério para sua aceitação ou rejeição. A aparência geral e a cor estão relacionadas com a qualidade, índice de maturação e deterioração do produto. O consumidor espera uma determinada cor para cada alimento e qualquer alteração nesta, pode diminuir sua aceitabilidade (Modesta, 1994; Deliza, 2000). Para o aroma não houve diferença significativa entre tipos de corte no decorrer do armazenamento (Tabela 1). Os resultados mostraram que o aroma se Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 manteve constante durante o armazenamento, variando de 7,2 a 6,7 para cenoura em rodelas e de 6,6 a 6,5 para cenoura ralada aos 0 e 14 dias de armazenamento respectivamente. O resultado já era esperado, uma vez que a maioria dos compostos voláteis das cenouras são perdidos durante as operações de pré-processamento e processamento (Howard et al., 1996). Para sabor e textura houve diferenças significativas, tanto para o tempo de armazenamento quanto para o tipo de corte (Tabela 1). Houve diferença significativa para o sabor entre o 7º e 14º dia de armazenamento para o corte em rodelas. No 14º dia o escore atribuído (6,1) foi maior em relação ao 7º dia (4,1). Para cenoura ralada não houve diferença significativa. A textura teve comportamento semelhante para ambos os cortes. Houve diferença significativa entre os 7 e 14 dias de armazenamento quando os escores atribuídos foram respectivamente de 6,1 e 7,5 para cenoura em rodela e 4,6 e 6,3 para cenoura ralada (Tabela 1). O tempo de armazenamento teve efeito positivo sobre o sabor e a textura. Os tipos de cortes influenciaram significativamente o sabor e a textura da cenoura. O corte em rodelas mostrouse superior para ambos os atributos sensoriais. Em cenouras processadas na forma de rodelas os tecidos internos sofreram menor ruptura das células e produção de exudatos, que contribuíram para uma menor degradação dos compostos não voláteis responsáveis pelo manutenção do sabor. Em cenouras processadas o sabor tem sido caracterizado pelo uso das sensações básicas do gosto (doce, ácido ou amargo), efetivas para descrever os principais constituintes não voláteis, pois os valáteis são reduzidos durante as operações de préprocessamento (Talcott et al., 2001). A maior textura dos cortes em rodelas se deve provavelmente à perda de umidade durante o armazenamento, promovendo maior crocância. A perda de matéria fresca da cenoura minimamente processada é o somatório da perda de carbono por meio da respiração que ocorre durante todo o tempo de armazenamento (Izumi et al., 1996). O armazenamento e o tipo de corte afetaram a qualidade sensorial e vida- de-prateleira da cenoura. A aparência e a cor foram afetadas negativamente, enquanto que o sabor e a textura melhoraram com o decorrer do armazenamento para ambos os tipos de cortes. A aparência e a cor foram consideradas melhores para cenouras raladas e o sabor e a textura foram melhores para cenouras processadas em rodelas. A aparência é o principal atributo para aquisição de um produto, e dentro desta a cor. Assim conclui-se que para as cenouras minimamente processadas a forma ralada é a mais indicada para o consumo. Freqüência de consumo e teste de preferência Constatou-se que 59% dos entrevistados consome freqüentemente o produto, menos de 40% o consome ocasionalmente e uma porcentagem muito baixa não o consome. Embora seja relativamente recente a introdução de produtos minimamente processados no mercado brasileiro, o seu consumo tem aumentado rapidamente. A redução nos núcleos familiares e o crescente ingresso da mulher no mercado de trabalho, com conseqüente redução de tempo disponível para o preparo de frutas e hortaliças de forma tradicional, têm levado os consumidores a demandarem cada vez mais produtos que recebem algum tipo de preparo. Na escolha de hortaliças pré-processadas os consumidores optam por fatores como praticidade, facilidade de preparo, higiene, aparência, sabor e qualidade nutricional. Com seu elevado valor nutricional a cenoura participa como fonte importante de βcaroteno (pró-vitamina A), minerais e possui baixa caloria. Sempre que possível, produtos processados, devem ser submetidos ao teste de preferência para se conhecer a reação do consumidor e observar se a forma, a embalagem ou aparência são adequados. No presente ensaio as cenouras minimamente processadas por dois tipos de cortes foram apresentadas ao público para determinar o corte de maior preferência. Possivelmente, pela versatilidade e praticidade no uso, 64% das pessoas preferiram a cenoura ralada. A praticidade é o predicado que a maioria dos consumidores leva em consideração na hora da escolha dos pré-processados. 149 J. M. Resende et al. AGRADECIMENTOS À FAPESP e PRODETAB/ Embrapa, pelo auxílio financeiro. LITERATURA CITADA BARRY-RYAN, C.; O’BEIRNE, D. Quality and shelf-life of fresh cut carrot slices as affected by slicing method. Journal of Food Science, v.63, n.5, p.851-856, 1998. CARLIN, F.; NGUYEN-THE, C.; CUDENNEC, P.; REICH, M. Microbiological spoilage of fresh ready-to-use carrots. Science Aliments, v.9, p.371386, 1989. CHAVES, J.B.P. Avaliação sensorial de alimentos (Métodos de Análises). Viçosa: UFV, 1980. 69 p. DELIZA, R. Importância da qualidade sensorial em produtos minimamente processados. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE PROCESSAMENTO MÍNIMO DE FRUTAS E HORTALIÇAS, 2. 2000, Viçosa, MG. Palestras... Viçosa: UFV, 2000. p.73-74. 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Postal 135, 39404-006 Montes Claros-MG; E-mail: [email protected]; *Autor Correspondente RESUMO ABSTRACT Avaliou–se a intensidade de ataque de Thrips tabaci Lind., a incidência de Alternaria porri (Ellis) e Botrytis squamosa J.C. Walker em nove cultivares de cebola [Aurora, Primavera, CNPH 6400, Crioula Alto-Vale, Vale–Ouro (IPA 11), Franciscana (IPA-16), Piraouro, Conquista e Serrana], num experimento no delineamento em blocos casualizados com cinco repetições. Foram feitas avaliações semanais, do transplantio até a colheita, em dez plantas/parcela do número de T. tabaci presente na bainha das folhas bem como da percentagem de área foliar danificada pelo mesmo a partir da primeira folha expandida e também da presença ou da ausência de lesões causadas por A. porri e B. squamosa. A cv. Franciscana mostrou-se mais resistente em relação às demais ao ataque de T. tabaci. Não houve diferença significativa de plantas afetadas por A. porri e B. squamosa. T. tabaci e A. porri foram ambos afetados positiva e negativamente pela temperatura e pela umidade relativa do ambiente, respectivamente. Intensity of attacks of thrips, purple blotch and gray mold on onion cultivars Palavras-chave: Thrips tabaci, Alternaria porri, Botrytis squamosa, Allium cepa. The intensity of attack of T. tabaci and incidence of Alternaria porri (Ellis) Cif and Botrytis squamosa J.C. Walker in nine onion cultivars [Aurora, Primavera, CNPH 6400, Crioula Alto-Vale, Vale– Ouro (IPA 11), Franciscana (IPA-16), Piraouro, Conquista and Serrana] was evaluated, in an experiment in randomized blocks design, with five replications. Weekly evaluations were done from the transplanting until harvesting date, in ten plants/parcel of the number of T. tabaci on the leaves, the percentage of damaged foliar area from the first expanded leaf up and the presence or absence of injuries caused by A. porri and B. squamosa. The cv. Franciscana was more resistant to the attack of T. tabaci in comparison to the other onion cultivars. There was no significant difference between cvs for A. porri and Botrytis squamosa resistance. T. tabaci and A. porri were influenced positively and negatively by temperature and relative humidity, respectively. Keywords: Thrips tabaci, Alternaria porri, Botrytis squamosa, Allium cepa. (Recebido para publicação em 17 de fevereiro de 2003 e aceito em 28 de novembro de 2003) A cebola (Allium cepa) L., de origem asiática, foi trazida ao Brasil pelos portugueses, sendo cultivada em quase todo o país, principalmente nas regiões Sul e Sudeste (Filgueira, 2000). O Norte de Minas Gerais, mais precisamente, o vale do São Francisco, é importante produtor dessa espécie. Esta região, de transição para o clima semiárido (quente e seco), que favorece a maturação do bulbo (Filgueira, 2000). A cultura é afetada por pragas como tripes [Thrips tabaci Lind (Thysanoptera: Thripidae)] (Gallo et al., 2002) e doenças, destacando-se alternaria [Alternaria porri (Ellis)] (Zambolim et al., 2000) e queima-das-pontas (Botrytis squamosa J.C. Walker) (Agrios, 1988; Kimati et al., 1997). O ataque dessa praga e doenças causam grandes perdas na produção e podem inviabilizar a cebolicultura, sendo importante identificar cultivares mais resistente. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Este trabalho teve como objetivo avaliar a resistência de nove cultivares de cebola a tripes, alternaria e queimadas-pontas, sob sistema convencional de cultivo no Norte de Minas Gerais. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido de 04/06 a 30/08/02 na UFMG, em Montes Claros, longitude de 43º 53' W, latitude de 16º43’S e altitude: 650 m. Segundo a classificação de Köppen, o clima é o Aw: tropical de savana, inverno seco e verão chuvoso. O delineamento foi em blocos casualizados com cinco repetições, onde cada parcela consistiu de cinco fileiras de plantas com 3 m de comprimento e 1 m de largura (unidade experimental de 3 m2), totalizando 135 m2 de área total. A área útil do experimento foi de 0,60 m2 por parcela, constituída pela fileira central. Os tratamentos constituíram–se de nove cultivares de cebola [Aurora, Primavera, CNPH 6400, Crioula AltoVale, Vale–Ouro (IPA 11), Franciscana (IPA-16), Piraouro, Conquista e Serrana]. O transplantio das mudas foi realizado 45 dias após a semeadura em espaçamento de 20x7 cm, irrigadas por micro-aspersão e, sendo a partir desse período iniciadas as avaliações. Avaliou–se, semanalmente, do transplantio até a colheita, por meio de contagem direta, o número de tripes presentes na bainha das folhas bem como a percentagem de área foliar danificada pelo mesmo a partir da primeira folha expandida em dez plantas/parcela, adaptando as metodologias de Gonçalves (1997), Edelson et al. (1986), Shelton et al. (1987) e de Domiciano et al. (1993). Nessas mesmas amostras foram também avaliada a presença ou ausência de lesões causadas por alternaria e por queima das pontas. Os dados foram 151 G. L. D. Leite et al. Tabela 1. Número e percentagem de área foliar de nove cultivares de cebola afetadas por Thrips tabaci. Montes Claros, UFMG, 2002. Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem, entre si, pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. Tabela 2. Número médio/planta e de percentagem de área foliar de cebola danificada por Thrips tabaci, percentagem de plantas de cebola danificadas por Alternaria porri e Botrytis squamosa. Montes Claros, UFMG, 2002. Médias seguidas pela mesma letra nas linhas não diferem, entre si, pelo teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. submetidos à análise de variância, teste de média de Scott Knott e à correlação de Pearson a 5% de significância. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou–se maior número de tripes na cultivar Crioula Alto–Vale em relação 152 às demais (Tabela 1). Contudo, a maior percentagem de área foliar danificada foi detectada nas cultivares Conquista, CNPH 6400 e Serrana, seguidas por Primavera, Aurora e Crioula Alto–Vale e por Vale– Ouro (IPA 11), Piraouro e Franciscana (IPA-16) (Tabela 1). Esse fato, possivelmente, se deve à maior suscetibilidade ao ataque de tripes das cultivares CNPH 6400, Conquista e Serrana em relação às demais, propiciando maior número de lesões nas folhas. Já a cultivar Franciscana (IPA-16) apresentou menor número de tripes/planta e menor percentagem de área foliar danificada, mostrando–se mais resistentes ao ataque desse inseto. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Intensidade de ataque de tripes, de alternaria e da queima-das-pontas em cultivares de cebola Observou-se aumento populacional de tripes em todas as cultivares a partir de julho (Tabela 2), possivelmente em função das relações entre umidade relativa (UR) e da temperatura (T) do ar observadas no meses de cultivo [(Junho: T=20,73°C; UR = 58,47%), (Julho: T=21,38°C; UR = 56,47%), (Agosto: T=22,79°C; UR = 44,88%)], já que o aumento da temperatura (r=0,99) (Lall & Singh, 1968; Gonçalvez 1997) e a redução da umidade relativa (r=- 0,99) (Lall e Singh, 1968) aceleram o ciclo biológico do T. tabaci, favorecendo o seu incremento populacional. O número máximo de tripes/planta foi observado na cv. Crioula Alto-Vale (10,07±1,74) no mês de agosto, mas ficando abaixo do nível de controle (15 tripes/planta) (Gonçalves, 1997). As lesões ocasionadas por tripes podem também favorecer a ocorrência de alternaria e da queima-das-pontas (Zambolim et al., 2000). Porém, não se detectou diferença estatística significativa entre as cultivares de cebola quanto a percentagem de plantas afetadas por alternaria (20,00±1,00) e queima-das-pontas (35,00±1,00). Observou-se maior percentagem de plantas afetadas por alternaria a partir de julho, fato não observado para a queima-das-pontas (Tabela 2), Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 possivelmente devido ao aumento de temperatura e da redução da umidade relativa. A incidência de alternaria é melhor favorecido em altas temperaturas (r=0,95), porém sob baixa umidade relativa do ar (r=-0,98), a doença não se desenvolve podendo surgir manchas brancas estéreis (Zambolim et al., 2000). Temperaturas relativamente baixas e alta umidade relativa são fatores que predispõem a queima-das-pontas (Zambolim et al., 2000). Contudo, neste trabalho, não se detectou correlação significativa desses elementos climáticos sobre queima-das-pontas. A cv. Franciscana foi a mais resistente ao ataque do tripes, pois apresentou menor número de tripes/planta e menor percentagem de lesões foliares. O Norte de Minas Gerais é um promissor produtor de cebola já que o clima quente e seco não favorece o estabelecimento de alternaria e de queima-das-pontas. LITERATURA CITADA AGRIOS, G.N. Plant Pathology. 3rd ed. San Diego: Academic Press, Inc., 1988. 803 p. DOMICIANO, N.L.; OTA, A.Y.; TEDARDI, C.R. Momento adequado para controle químico de tripes, Thrips tabaci Lindeman, 1888 em cebola, Allium cepa L. Anais da Sociedade Entomológica do Brasi, Londrina, v. 22, p. 71-76, 1993. EDELSON, J.V.; CARTWRIGHT, B; ROYER, T.A. Distribution and impact of Thrips tabaci (Thysanoptera: Thripidae) on onion. Journal Economic Entomology, v.79, p.502-505, 1986. FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura; Agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 20 ed. Viçosa: UFV, 2000. 402 p. 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Só o mercado de derivados de tomate para processamento industrial gerou US$ 300 milhões em 1990 e fechou a década em US$ 500 milhões. O volume de tomate para processamento industrial produzido nos últimos cinco anos, em média, alcançou cerca de um milhão de toneladas. Observou-se que no ano 2000, comparado a 1990, apesar da redução de 45% na área plantada, a produtividade incrementou em mais de 93%. Diversos fatores contribuíram para elevação da produtividade, entre esses, a concentração da produção em áreas de Cerrado (GO e MG) favorecidas pelo solo e clima; adoção de tecnologias avançadas substituindo cultivares de polinização aberta por híbridos de alto potencial produtivo. Adicionalmente, foram introduzidos novos métodos de manejo na cultura, incluindo técnicas mais eficientes de irrigação associadas a novas fórmulas para nutrição de plantas. Outro fator favorável foi a melhor integração entre os setores agrícola e industrial. As importações reduziram significativamente em 1999, cedendo maior espaço para a produção interna. As indústrias inovaram-se com o lançamento de embalagens mais práticas e novos produtos menos concentrados e de maior valor agregado, como molhos e outros. Performance of the Brazilian agrindustrial chain of tomato on the 90’s Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, agroindústria, mudanças, nova tecnologia, polpa de tomate. Keyword: Lycopersicon esculentum, agrindustry, new technology, tomato pulp. The performance of the Brazilian tomato agroindustrial chain in the 90’s was analysed. This was done taking into account the great socio-economic importance of this chain, principally its capacity to generate employment and create income in all sectors of the economy. The industrial processing of tomatoes alone generated $ 300 million in 1990 and ended the decade with US$ 500 million. Tomato processing averaged one million tons in the last five years. However, comparing the production of 2000 in relation to 1990, in spite of the reduction of 45% of cultivated area (year 2000), the yield increased more than 93%. Several factors contributed to the increase in productivity, as the concentration of the production in Savannah areas which are favored by the soil and climate; adoption of advanced technologies where open pollination cultivars were substituted for high yielding hybrids. In addition, new technologies of production were introduced in the tomato production process, including more efficient irrigation techniques associated to new formulations of plant nutrition. Another favorable factor was the more efficient interaction between the production process and industrial sectors. The importation of tomato paste was significantly reduced in 1999, giving space to the internal production. The industries innovated with the release of more practical packages and less concentrated products with greater added value, such as sauces. (Recebido para publicação em 13 de março de 2003 e aceito em 10 de dezembro de 2003) A cadeia agroindustrial do tomate posiciona-se entre as mais importantes no contexto do agronegócio. À montante do setor produtivo, a cultura do tomate para processamento industrial movimenta as indústrias paralelas de insumos, embalagens, máquinas agrícolas e equipamentos de irrigação. Como matéria-prima para as indústrias processadoras de derivados, o tomate para processamento representa a atividade principal geradora de renda para um grande número de produtores, tornandose significativa fonte de renda regional. Apesar de originalmente ser indústria do tipo “caseira”, o processamento 154 do tomate para fins industriais iniciouse no Sul da Itália e nos Estados Unidos há mais de um século. Nos últimos 30 anos esta atividade experimentou notável crescimento na produção agrícola e industrial, em particular na década de 90 (Brandão e Lopes, 2001). Na década de 90, com a consolidação do Mercosul e a globalização de mercados, as atividades relacionadas ao tomate para processamento industrial iniciaram intenso processo de reconversão: intensificou-se a aplicação de tecnologia de produção avançada e de sistema integrado de produção. Para maior competitividade, adotou-se processos racionais de produção, incluindo tecnologia avançada associada à melhor especialização da mão-de-obra. Neste trabalho avaliou-se o desempenho da cadeia agroindustrial do tomate na década de 1990. MATERIAL E MÉTODOS As informações que serviram de base para elaboração deste trabalho foram obtidas de fontes oficiais, tais como AMITON, FAO e SECEX além das obtidas por indústrias processadoras e em publicações. Utilizou-se modelos de análise tabular simples para gerar as informações Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90 necessárias para descrição de perfil. Adicionalmente, utilizou-se o modelo de Hoffmann (1992) para análise de desempenho de variáveis em determinado período de tempo, obtendo desta forma as taxas geométricas de crescimento (TGC) da produção, área e produtividade na década de 1990. O critério de Hoffmann para quantificação de desempenho é da forma: onde Q é a variável a ser quantificada (produção, área ou produtividade) x é o tempo, r é a taxa de crescimento por unidade da variável quantificada, ε é o erro multiplicativo e θ é o intercepto da função. Aplicando logaritmos a esse método não-linear, obtemos: Fazendo e o modelo por anamorfose assume a forma: Como β = , segue-se que: Se b é a estimativa de mínimos quadrados de β, a estimativa da taxa de crescimento de Q é dada por: ~ y = antilog (b)- 1 As informações sobre mercado internacional e nacional foram obtidas das respectivas análises das informações fornecidas pelo Secex e outras fontes. RESULTADOS E DISCUSSÃO A produção de tomate para processamento em 2001, comparativamente ao ano anterior, apresenta declínio de 14%, em nível mundial. Em 2000 já havia sido registrada a queda de produção de 9% em relação a 1999. As 23,7 milhões de toneladas produzidas em 2001 não foram suficientes para atender a demanda mundial. Isso reflete os ajustes que foram implementados nas principais áreas de produção em busca da redução dos níveis de estoques de pasta e de outros derivados semi-industrializados de tomate, depois da safra recorde de 1999. No estoque mundial de matéria-prima, em 2001, os países integrantes da AMITOM e do NAFTA foram responsáveis por 42 e 37%, respectivamente. A Califórnia sozinha manteve o status de líder mundial Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 com 33% do volume produzido, não obstante tenha registrado significativa queda de produção (16%) em relação a 2000. As cotas de produção estabelecidas pela União Européia (UE) foram cumpridas com pequena discrepância observada em alguns países. Aparentemente, eventuais incrementos da produção de matéria-prima poderiam contribuir para aumentar ainda mais os efeitos negativos dos preços da pasta e de outros produtos semi-industrializados de tomate no mercado internacional. Ademais, o consumo per capita de pasta de tomate exibiu insignificante crescimento na maioria dos países durante os anos 90. Alguns países da UE experimentaram decréscimo de consumo, enquanto nos Estados Unidos o consumo per capita mostrou-se estabilizado (Lucier et al., 2000). O Brasil é o principal produtor da América do Sul, seguido pelo Chile e Argentina. A produção brasileira de tomate para processamento industrial, no último quinqüênio, foi de aprox. 1 milhão de t/ano, com a marca recorde de 1,3 milhão de toneladas na safra de 1999. No início da década de 90, a área plantada com tomate para processamento industrial foi de 27 mil hectares. Desse total, o Nordeste (PE e BA) participou com 46%, São Paulo com 30% e o Cerrado (GO e MG) com 24%. Em 2000, a área plantada reduziu-se para 14,8 mil hectares e o Cerrado transformou-se na mais importante zona de produção de tomate industrial do País, com 77% da área plantada, seguido de São Paulo com 14% e do Nordeste com apenas 9%. Em 1990, o rendimento médio da cultura era em torno de 35 t/ha evoluindo para, aproximadamente, 67 t/ha na safra de 2000. A safra 2001 aponta uma concentração ainda maior da produção no Cerrado, com área colhida de 12.100 ha, equivalente a 80% do total nacional (Tabela 1). As condições edafo-climáticas dessa região mostraram-se altamente favoráveis à expansão da cultura, propiciando o uso de técnicas de manejo voltadas para alto rendimento e conseqüente redução de custos (Barbosa, 1997). Foi também favorável a expansão do uso de cultivares híbridas e a maior integração entre os setores agrícola e industrial, permitindo maior eficiência na adoção, difusão e a transferência de tecnologia. A política de incentivos fiscais, especialmente do governo do estado de Goiás, foi também decisiva na implantação de novas fábricas na região (Argerich et al.,1999; Vilela, 2001). Na década de 90, a área e a produção reduziram à taxa média anual de 11,7 e 12,0% em PE e BA, respectivamente. No estado de São Paulo a área e produção reduziram respectivamente 12,2 e 7,2%. No Cerrado mineiro e em Goiás, ocorreu crescimento médio anual da área (7,3 %) e da produção (15,9%). No Brasil, as áreas de tomate industrial reduziram-se à taxa média anual de 1,8%. Apesar disso, a produção continuou crescendo a uma taxa média anual de 3,8% ao ano, sustentada pelos ganhos de produtividade. Todos os segmentos da cadeia agroindustrial brasileira de tomate foram afetados pelas transformações verificadas na década de 90. No segmento produtivo, a introdução de novas tecnologias de manejo, especialmente no Cerrado mineiro e goiano, desempenhou papel decisivo para a duplicação do rendimento em uma década. Embora já tivesse sido introduzida em pequena escala desde o início da década de 90, a colheita mecanizada do tomate industrial passou a ser largamente praticada a partir da safra 1997 na zona de produção do Cerrado. Nessa região, a tomaticultura industrial está baseada em grandes produtores e a topografia predominante é muito favorável à mecanização da colheita (Barbosa, 1997). Em vista disso, nos dois últimos anos a colheita mecanizada mostrou expressivo crescimento, concentrando-se na região de Patos de Minas, e nas zonas de produção de Goiás onde estão localizadas as fábricas da Gessy Lever/Van den Bergh (Cica), Arisco e de outras empresas processadoras. A escassez de mão-de-obra contribuiu decisivamente na expansão da colheita mecanizada em áreas do Cerrado. Com o incentivo das indústrias, especialmente da Gessy Lever/Van den Bergh, na safra 1999, 27 máquinas automotrizes da marca ítalo-americana 155 P. C. T. Melo e N. J. Vilela Sandei/FMC, modelo SL150T, estavam em operação na região. A capacidade máxima de colheita dessa máquina é de 20 t/hora, chegando a colher até três hectares por dia. A ocorrência de chuva que costuma ocorrer da metade até o final da colheita, limita a colheita mecanizada no Cerrado. Deve ser mencionado que a colheita mecanizada foi responsável por mudanças importantes no cultivo do tomate industrial, como a mecanização de operações culturais e a escolha de cultivares adequadas ao processamento. Ao longo da década de 90, cultivares de polinização aberta foram paulatinamente substituídas por híbridos de alto potencial produtivo, com características agronômicas e industriais que atendem aos requisitos dos processadores (Melo, 2001; Vilela, 2001). Desse modo, em curto prazo as variedades de polinização aberta deixaram praticamente de ser plantadas (menos de 15% da área contratada por indústrias, em 2000). O uso de cultivares híbridas começou a se expandir a partir da safra 1997, quando a área plantada era de 3 mil hectares, representando apenas 15% da área cultivada com tomate industrial. Em 1998 e 1999, passou para 46 e 83%, respectivamente. Em comparação com variedades comuns, os híbridos apresentam as vantagens de alto potencial de produção; maturação concentrada (fundamental para a colheita mecanizada); alta capacidade de armazenamento na planta e resistência múltipla a doenças. Os principais híbridos plantados atualmente são: Heinz 9992, APT 533, Heinz 9665, APT 529, Heinz 9553, Hypeel 108, Hycolor 312 e RTP 1095. A expansão do uso de híbridos impôs profunda mudança no cultivo do tomate para processamento industrial. A semeadura direta que chegava a gastar de 1-2 kg de sementes/ha, foi substituída pelo transplantio por mudas. Foram instaladas empresas viveiristas para a produção de mudas em larga escala que investiram em tecnologia e rigoroso controle fitossanitário. Como conseqüência, o uso de sementes híbridas tornou-se viável, empregando-se 1 kg na produção de mudas para 8 hectares. O milheiro de mudas, na safra 2001, foi 156 negociado no valor de US$ 4,50, sem incluir o preço da semente. Para o transplantio de mudas em grandes áreas estão sendo utilizadas máquinas transplantadeiras. O modelo atualmente utilizado, importado da Itália, tem capacidade para transplantar cerca de 120 mil mudas por dia, correspondendo ao plantio de quatro hectares de lavoura (Giordano et al.; 2001). O transplantio de mudas direto na palha foi introduzido na região de Rio Verde, (GO) com resultados promissores. Este sistema propicia melhor conservação do solo e menor uso de máquinas. O maior aproveitamento da produção devido a menores perdas por podridão, além da bonificação recebida pela alta qualidade da matéria-prima têm incentivado o uso dessa técnica. É predominante a irrigação por aspersão (portátil, permanente, pivô central) nas três regiões de cultivo de tomate industrial do país. O sistema de sulcos de infiltração está restrito a algumas áreas do submédio São Francisco em solos de topografia e textura favoráveis. A irrigação por aspersão com pivô central tem sido questionada por favorecer a incidência de doenças bacterianas e fúngicas da parte foliar e do solo (mofo-branco) de difícil controle. O sistema de gotejamento vem sendo adotado em pequena escala, especialmente no Cerrado, como alternativa aos pivôs. O grande interesse por gotejamento na tomaticultura industrial foi despertado, principalmente, pela economia de água e energia, aliados ao substancial aumento de produtividade e melhoria da qualidade da matéria-prima (Barbosa, 1997). Entretanto, o alto custo de implantação e a necessidade de melhor conhecimento da técnica tornam-se limitantes na adoção dessa nova tecnologia. Ademais, para que o gotejamento possa ser consolidado como alternativa viável, é imperativo que os teores de sólidos solúveis (Brix) da matéria-prima não sejam negativamente afetados. Estrutura do mercado interno No início da década de 90, o valor global do mercado brasileiro de derivados de tomate foi avaliado em US$ 300 milhões e, em 2000, alcançou um faturamento de US$ 500 milhões, repre- sentando incremento de 66,6% no período de dez anos (Melo, 1993; Agrianual, 2001). O mercado de derivados de tomate no Brasil é altamente concentrado estando em poder, praticamente, de quatro empresas de capital estrangeiro: Unilever Bestfoods, com 50% do mercado, Parmalat (19%), Cirio, (8%) e Sófruta/IANSA (5%) (Brasil Alimentos, 2001). Os 18% restantes estão nas mãos de empresas nacionais de pequeno e médio portes. No total, foram comercializados em 2000 cerca de 350 mil toneladas de produtos atomatados, sendo 41% de extrato simples concentrado (18 a 23 Brix), 30% de molhos prontos, 15% de catchup e 14% de polpa de tomate. (Brasil Alimentos, 2001). Em 1993 foram comercializadas 270 mil toneladas de derivados (extrato simples concentrado 52,3%, purê e polpa, 24,5%, molhos prontos, 21,1%, e outros molhos, 2,1%) segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), citada por Nuevo, 1994. Portanto, houve aumento de aproximadamente 30% no volume total dos derivados de tomate comercializados no País entre o início e o término da década de 90. No período considerado, o segmento de molhos prontos apresentou mais do dobro da produção (estimativas de 46,2 mil toneladas em 1990; 54,9 mil toneladas em 1995, e 105 mil toneladas, em 2000) (Argerich et al., 1996, 1997; Brasil Alimentos, 2001). A substituição de bases concentradas, como extrato de tomate, por molhos tradicionais e especiais, polpas e purês por outros produtos formulados como o catchup, está relacionada a mudanças no estilo de vida e a novos hábitos alimentares adotados pela população brasileira (Fernandes, 2000). A propósito, pesquisas de mercado realizadas por empresas do setor, têm apontado que os consumidores brasileiros buscam produtos práticos que economizem tempo e que sejam fáceis de utilizar (Brasil Alimentos, 2001). As pesquisas também indicam que os consumidores preferem que os produtos sejam acondicionados em embalagens igualmente práticas e higiênicas, a exemplo das caixinhas cartonadas longa vida (Tetra Pakâ). De outro lado, à expansão das redes de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90 Tabela 1. Área cultivada e produção brasileira de tomate industrial,1990-2001. 1 Adicionar mais 66 mil t entregues às indústrias, sem contrato (Total Brasil = 1.059.500 t). 2 Estimativa das indústrias. fastfood (pizza, hamburguer, cachorroquente), ao longo da década de 90, pode ser creditado o acentuado crescimento do consumo de produtos à base de tomate, com destaque para catchup. Embora o mercado consumidor tenha mostrado crescimento oscilante nos últimos anos, o setor industrial vem investindo em diversificação de linhas de produto, na modernização de processos de fabricação, embalagens e na ampliação e construção de novas fábricas. Na década passada, o setor agroindustrial passou a ser controlado por grandes grupos transnacionais (Unilever Bestfoods, Parmalat, Cirio e Iansa). O segmento, que já era considerado altamente oligopolizado, tornou-se ainda mais concentrado com a recente aquisição da Arisco pela Unilever Bestfoods. O complexo empresarial anglo-holandês Unilever, através de sua subsidiária brasileira Indústrias Gessy Lever Ltda., Divisão Alimentos Van den Bergh, adquiriu, em 1993, do grupo italiano Cragnotti e Partners, a Cia. Industrial de Conservas Alimentícias, proprietária da marca líder Cica. Com a adição da Arisco ao seu portfólio da linha de atomatados, a Unilever Bestfoods consolidou a posição de líder do mercado brasileiro no setor de produtos à base de tomate. Em 1997, a empresa paulista Sófruta foi adquirida pelas Empresas Iansa S.A., Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 conglomerado chileno do setor agroalimentar. No início de 1998, a Cragnotti e Partners, através de sua holding Bombril-Cirio, voltou ao mercado brasileiro com a aquisição da Indústrias Alimentícias Carlos de Britto, proprietária da tradicional marca Peixe. Com planos de conquistar fatia significativa de mercado em curto prazo, lançou a marca Cirio, uma das mais antigas e populares da Itália. Ainda em 1998, a Parmalat adquiriu o controle acionário da Etti, do grupo Fenícia. Seguindo o exemplo de sua concorrente italiana, decidiu manter separadas no mercado suas linhas de derivados de tomate das marcas Etti e Parmalat. O primeiro grande reflexo da transferência do controle acionário de empresas brasileiras para grupos transnacionais foi a radical reestruturação em suas operações de primeiro e segundo processamentos, resultando no fechamento de várias unidades fabris, e ampliação e modernização de outras. As principais mudanças ocorreram no polo Petrolina (PE)Juazeiro (BA), em vista da perda de competitividade do setor produtivo que não mostrou condições de abastecer, em volume e qualidade, a demanda de matéria-prima de tomate das agroindústrias da região (Melo, 2000). Desse modo, em setembro de 1998, a Bombril-Cirio de- cidiu encerrar as operações da Fábrica Peixe, localizada em Pesqueira (PE), fundada há mais de um século e pioneira no processamento de tomate industrial na América Latina. As fábricas da Palmeiron, instaladas em Belo Jardim e Petrolina, ambas em Pernambuco, adquiridas pela Arisco, também foram desativadas. Do mesmo modo, a Costa Pinto Indústria de Alimentos Ltda, de Petrolina, que havia sido arrendada à Nestlé, teve suas operações paralisadas há alguns anos atrás. Mais recentemente, a Gessy Lever e a Parmalat, também decidiram fechar suas fábricas instaladas em Juazeiro e Petrolina. Apesar da desativação quase total do polo agro-industrial de tomate no Nordeste, as empresas processadoras, na verdade, redirecionaram seus investimentos para as novas fronteiras localizadas no Centro-Oeste e Triângulo Mineiro, em vista das vantagens competitivas anteriormente mencionadas. Essa estratégia trouxe efeito negativo também para o estado de São Paulo onde na década de 90 houve fechamento das fábricas da Cica em Presidente Prudente, Monte Alto e Jundiaí. Em fins de 1999, a Bombril-Cirio fechou a segunda Fábrica Peixe, localizada em Taquaritinga (SP), centralizando suas operações agro-industriais na fábrica de Itapaci (GO), adquirida da MS Alimentos. 157 P. C. T. Melo e N. J. Vilela Tabela 2. Empresas processadoras de tomate, suas respectivas marcas, localização de suas fábricas e volume de matéria-prima processada em 2001. *Empresas produzem polpa concentrada (28o a 30o Brix) e produtos acabados, exceto 13 e 18. **Produz, atualmente, apenas produto acabado a partir da polpa industrial importada. Fonte: Indústrias processadoras Tabela 3. Importações brasileiras de derivados de tomate, 1996-2000 Fonte: Secex/Decex No início da década de 90 a capacidade total de processamento industrial instalada das indústrias brasileiras era estimada em 13.000 t/dia. O Nordeste (PE/BA) detinha a maior concentração de indústrias processadoras de tomate e 158 respondia por 49,2% da capacidade industrial do país. As fábricas em operação no Sudeste respondiam por 39,2% e o Centro-Oeste com 11,5% (Melo, 1993). Com as mudanças ocorridas ao longo da década, o Nordeste perdeu competitividade para o Cerrado culminando com o fechamento de, praticamente, todo o parque industrial nordestino. Hoje, a capacidade total de processamento de tomate é estimada em cerca de 15.000 t/dia e a maioria das Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Desempenho da cadeia agroindustrial brasileira do tomate na década de 90 Tabela 4. Importações brasileiras de tomate por tipo de produto, 1996-2000. Fonte: Secex/Decex plantas industriais localiza-se nos estados de Goiás e de Minas Gerais. Na safra 2001, estas fábricas processaram 962 mil toneladas de matéria-prima de tomate correspondendo a 84,4% do volume total brasileiro. O restante da produção foi processado no Sudeste (10,7%) e no Nordeste (Tabela 2). As empresas investiram na modernização de suas plantas industriais, visando a melhoria da eficiência dos processos tecnológicos, obtendo produtos finais de melhor qualidade a um custo mais baixo. Em função do crescimento do segmento de molhos prontos, as empresas instalaram equipamentos de última geração para a obtenção de tomate cubeteado. Outra inovação recente, na área de tecnologia industrial diz respeito ao enchimento asséptico (asseptic filling) de pasta e de tomate em cubo em sacos aluminizados acondicionados em tambores de 55 galões (210 kg) ou em caixas de madeira com capacidade de armazenar até 300 galões (sistemas bag-in-drum e bag-in-box) (Fernandes, 2000). Quanto aos produtos básicos como o extrato de tomate, há uma tendência de transferência na comercialização para as grandes redes de supermercado que têm suas marcas próprias. As empresas vêm dando cada vez mais atenção ao mercado institucional, que mostra perspectivas de crescimento no país. Com efeito, o mercado de refeições coletivas serve, atualmente, cerca de 8,5 milhões de refeições/ dia consumindo mais de 1,2 milhão de toneladas de alimentos/ano, incluindo derivados de tomate (Fernandes, 2000). Mercado externo de produtos derivados de tomate A maior parte das importações de polpa concentrada (28 a 32° Brix) e de Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 outros derivados realiza-se durante o primeiro semestre, depois da safra brasileira ter sido encerrada e inteiramente processada, o que ocorre entre os meses de outubro e novembro. As indústrias importam esses produtos para suplementar a produção nacional que não tem sido suficiente para atender a demanda do mercado interno (Tabela 3). Entre os principais derivados de tomate importados destaca-se a polpa concentrada, seguida pelos tomates preparados/ cozidos (Tabela 4). As aquisições externas são estrategicamente importantes para o setor reduzir o custo de manutenção de estoque de polpa concentrada durante a entressafra que se estende de novembro a junho. Além disso, o setor industrial do País planeja a próxima safra depois que os níveis de estoque mundial já foram consolidados e divulgados. Não obstante, a decisão dos volumes a serem importados depende também de situações circunstanciais da economia do País, tais como juros elevados para o custeio da produção e manutenção de estoque, mudanças cambiais e de tarifas alfandegárias e das condições de juros e prazos que são oferecidas pelos exportadores. Esses fatores explicam a oscilação na importação de derivados de tomate ao longo da década de 90 e não caracterizam falta de competitividade do produto nacional. A desvalorização do real frente ao dólar foi um fator que, de certa forma, também contribuiu para a significativa queda das importações dos derivados de tomate nos últimos dois anos. Em vista dessa conjuntura, as empresas do setor passaram a substituir grande parte das importações pela produção nacional. As indústrias importaram em maior volume polpa concentrada ou pasta de tomate, utilizada como matéria-prima semi-industrializada reprocessada, destinados aos mercados varejista e institucional (Fernandes, 2001). Em 1995, o Brasil importou 60,5 t de derivados de tomate; no ano 2000, as importações reduziram-se para 23,0 t, sendo em maior parte de polpa concentrada procedente do Chile (73%), Itália (20%) e Estados Unidos (3%). As importações de derivados de tomate cresceram de 1991 (27,8 mil t) até 1997 (78,1 mil t). Nos anos subsequentes, observam-se reduções progressivas de importações, chegando a 23 mil t no ano 2000. Na década de 90, o preço médio (FOB) pago pelos importadores brasileiros por tonelada do produto flutuaram entre o limite máximo US$ 1000 em 1998 e o limite mínimo de US$ 530 no ano 2000. O alvo principal das exportações brasileiras de derivados de tomate tem sido os países membros do Mercosul. Como exportador, a participação do Brasil no mercado internacional foi pouco relevante, entre 1996 e 1998. Nesse período as exportações apresentaram pequenas variações entre 16,2 a 16,6 mil t/ano. A partir de 1999, favorecido pela desvalorização do real, verifica-se um impulso de 46% nas exportações, que alcançaram 23,6 mil t/ano, em 2000. A cadeia brasileira agroindustrial do tomate tem se mostrado eficiente e competitiva, de acordo com análises econômicas conduzidas por Brandão e Lopes, 2001 e Vilela, 2001. Entretanto, o mercado internacional é altamente competitivo, caracterizando-se por margens estreitas, produção volátil e com poten159 P. C. T. Melo e N. J. Vilela cial à acumulação de níveis elevados de estoques. Caracterizados como commodities, os derivados do tomate estão sujeitos a ampla variação de preço em função dos níveis de estoques, de quebra de produção devido a fatores climáticos adversos, de ocorrência de pragas e doenças nas zonas de produção e da demanda no mercado mundial. Embora tenham ocorrido consideráveis avanços na cadeia agroindustrial do tomate no decorrer dos anos 90, concluise que, tanto o setor produtivo quanto o de processamento, necessariamente têm que incorporar tecnologias capazes de reduzir custos, elevar a produtividade e melhorar a qualidade da matéria-prima e dos produtos acabados em bases sustentáveis, assegurando uma margem de lucro compensadora para todos os agentes envolvidos no agronegócio do tomate para processamento. LITERATURA CITADA AGRIANUAL 2001-Fnp consultoria & comércio Ltda. São Paulo: Argos, 2000. AMITOM. Preliminary results of the 2001 season. 2001. Disponível em <http://www.tomatonews.com/TomatoNewsExpress/article.html>. Acesso em 22/12/2001. 160 ARGERICH, C.A.; MELO, P.C.T.; VALDERRAMA, C.A. The agro-industrial situation of tomato in South America. Tomato News, v.3, p.13-21, 1994. ARGERICH, C.A.; MELO, P.C.T.; VALDERRAMA, L.A. Update on the agroindustry situation of processing tomatoes in South American countries. 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Giselda) e três filhos (João Guilherme, Carlos Eduardo e Graziela). Soube suportar, com autêntica conformidade cristã, os incômodos da doença, que nos privou do seu convívio. Membro de uma família afetuosa e culta, de oito filhos, nasceu em Campinas, interior de São Paulo, em 09/06/ 1950. O trabalho árduo era o lema da família. Nas horas vagas da adolescência ajudava nos trabalhos da pequena fábrica de vassoura dos pais (Luiz e Yolanda). Sempre revelou-se como uma pessoa disciplinada, religiosa, carismática e de inteligência incomum. Foi aluno de dois famosos colégios campineiros, o “Carlos Gomes” e o “Culto à Ciência”. Graduou-se em Engenharia Agronômica em 19/07/1973, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), Piracicaba (SP), como primeiro aluno da turma, recebendo diversas distinções. Durante o período acadêmico freqüentou o Curso de Introdução à Energia Nuclear na Agricultura, do Centro de Energia Nuclear Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 na Agricultura, e foi bolsista da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Ainda na ESALQ, titulou-se em 1983 como mestre em genética e melhoramento de plantas, em 1993 como doutor em fitotecnia e em 2001 como livre-docente em olericultura. Iniciou a sua carreira profissional na Casa da Agricultura de Jarinu, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), em dezembro de 1973. Em junho de 1975 ingressou na antiga Seção de Hortaliças de Frutos, do Instituto Agronômico de Campinas. Em janeiro de 1979 retornou à CATI, desta vez no Centro de Orientação Técnica. Em março de 1988 foi admitido na ESALQ, como professor assistente de horticultura e olericultura. Toda a sua vasta vivência, fruto da plena atuação em ensino, pesquisa, extensão rural e assistência técnica, podiam ser sentidas nas aulas, palestras e cursos, que ministrava. Seu legado à olericultura compreende 143 trabalhos publicados em revistas científicas e periódicos especializados, congressos e reuniões científicas, bem como em outros tipos de produção bibliográfica, além de um vídeo-curso. Participou ativamente da orientação a nível de graduação e pósgraduação, de comissões editoriais e técnico-científicas, e da administração do departamento de horticultura e de órgãos colegiados da ESALQ. Foi representante da ESALQ na câmara setorial de olericultura da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e na comissão estadual de sementes e mudas de hortaliças. Foi delegado da Sociedade de Olericultura do Brasil, para o Estado de São Paulo. Realizou viagens de estudo a diversos países do mercosul. Além do brilhantismo profissional, uma característica que o distinguia, era a nobreza de caráter, simplicidade e atenção que dava a todos que conviviam com ele. Era o amigo de todas as horas. Tinha sempre uma palavra de estímulo e reconhecimento. Assim, deixou em todos um sentimento de admiração e uma recordação cheia de afeto e saudades. Em nome da Sociedade de Olericultura do Brasil, reverenciamos a memória do nobre colega e amigo, Prof. Dr. João Tessarioli Neto. (Francisco Antonio Passos, pesquisador IAC, E-mail: [email protected]) 161 Agradecimento aos revisores ad hoc que colaboraram com a revista no ano de 2003 O sucesso da Horticultura Brasileira depende da qualidade dos manuscritos submetidos pelos autores e do cuidado e competência com que eles são revisados. Como parte da política da Comissão Editorial, cada manuscrito é analisado e acompanhado por um Editor Associado e revisado por, pelo menos, dois especialistas de elevada qualificação na área. Além da Equipe Editorial (Comissão Editorial e Editores Associados), os colegas listados abaixo contribuíram na revisão dos manuscritos submetidos à publicação na Horticultura Brasileira em 2003. Nossos agradecimento. Ademar Pereira de Oliveira .................................. UFPB-PB Adolfo Henrique Müller ....................................... UFPA-PA Adonai Gimenes Calbo .................. Embrapa Hortaliças-DF Adriana Antonieta do N. Rizzo .......................... UNESP-SP Ailton Reis ...................................... Embrapa Hortaliças-DF Alcides Antônio Doretto Cintra .......................... UNESP-SP Alexandre Couto Rodrigues ................................. UFPel-RS Aloisio Costa Sampaio ....................................... UNESP-SP Amauri Rosenthal .... Embrapa Agroindústria de Alimentos-RJ Ana Cristina P.P. Carvalho Embrapa Agroindústria Tropical-CE Ana Maria Montragio P. de Camargo ....................... IEA-SP André Luiz Lourenção .............................................. IAC-SP Ângelo Pedro Jacomino ...................................... ESALQ-SP Anna Maria Bittencourt ...... Embrapa Agroind.de Alimentos-RJ Antônio Américo Cardoso ..................................... UFV-MG Antonio Carlos Baião de Oliveira .................. EPAMIG-MG Antonio Carlos Gomes ..................... Embrapa Cerrados-DF Antônio Carlos Torres .................... Embrapa Hortaliças-DF Antonio Evaldo Klar .......................................... UNESP-SP Antônio Francisco de Souza ........... Embrapa Hortaliças-DF Antônio Ismael Inácio Cardoso .......................... UNESP-SP Arione da Silva Pereira ....... Embrapa Clima Temperado-RS Arlete Marchi Tavares de Melo ................................ IAC-SP Armando Takatsu ................................................... UFU-MG Arthur Bernardes Cecilio Filho .......................... UNESP-SP Auri Brackmam ................................................... UFMS-RS Barbara Janet Teruel de Medeiros ................ UNICAMP-SP Beatriz Marti Emygdio ........................... Embrapa Trigo-RS Bergamin Filho ................................................... ESALQ-SP Bernard A. L. Niconlaud ................................... UFRGS-RS Bernardo Ueno........................................................ UnB-DF Braulio Santos ...................................................... UFPR-PR Carlos Alberto B. Medeiros Embrapa Clima Temperado-RS Carlos Alberto Scapim ........................................... UEM-PR Carlos Alberto Simões do Carmo .................. INCAPER-ES Carlos Machado dos Santos .................................. UFU-MG Carlos Roberto Bueno .......................................... INPA-AM Carlos W. P. Carvalho ... Embrapa Agroind.de Alimentos-RJ Carmen Ilse Pinheiro Jobim ......................... FEPAGRO-RS Cassandro Vidal Talamini do Amarante ............ UDESC-SC Cecília Helena Silvino Prata Ritzinger ... Embrapa Mandioca e Fruticultura-BA Celma Domingos de Azevedo ...................... Seropédica–RJ Cesar de Castro ......................................... Embrapa Soja-PR Cesar Vilmar Rombaldi ........................................ UFPel-RS Chukichi Kurozawa ............................................ UNESP-SP Cirino Corrêa Júnior ....................................... EMATER-PR 162 Cláudia Antonia Vieira Rossetto ......................... UFRRJ-RJ Cláudio Brondani..................... Embrapa Arroz e Feijão-GO Cláudio José da Silva Freire ..... Embrapa Clima Temperado-RS Davi Teodoro Junghans . Embrapa Mandioca e Fruticultura-BA Demóstenes M. P. de Azevedo .......... Embrapa Algodão-PB Denise Vianis Caser .................................................. IEA-SP Derly J. H. da Silva ............................................... UFV-MG Djalma Rogério Guimarães ............................... CEASA-SC Domingos Fornasier Filho .................................. UNESP-SP Elton Vacaro ............................ Agroeste Sementes Ldta-SC Ernani L. Agnes ..................................................... UFV-MG Felix Humberto França ................... Embrapa Hortaliças-DF Fernanda Londero Backes ..................................... UFV-MG Fernando Antônio Aragão .............. Embrapa Hortaliças-DF Fernando Campos Mendonça ................................ UFU-MG Fernando Cezar Juliatti .......................................... UFU-MG Fernando Luiz Finger ............................................ UFV-MG Fernando Mesquita Lara ..................................... UNESP-SP Francisco L. A. Câmara ...................................... UNESP-SP Francisco Vilela Resende ............... Embrapa Hortaliças-DF Francisco Xavier .................................................... UFV-MG Geni L. Villas Boas......................... Embrapa Hortaliças-DF Geraldo Milanez de Resende ........ Embrapa Semi-Árido-PE Gerson Renan de Lucas Fortes . Embrapa Clima Temperado-RS Gilberto Gomes Cordeiro ............. Embrapa Semi-Árido-PE Gilberto Martins ..................................................... UEL-PR Gilmar Paulo Henz ......................... Embrapa Hortaliças-DF Haydeé Siqueira Santos ...................................... UNESP-SP Hélio Grassi Filho .............................................. UNESP-SP Heloísa Filgueiras ....... Embrapa Agroindústria Tropical-CE Herminia E. Prieto Martinez ................................. UFV-MG Humberto Silva Santos .......................................... UEM-PR Iniberto Hamerschmidt ...................................EMATER–PR Ivo Ribeiro da Silva ............................................... UFV-MG Jairo Augusto Campos Araújo ............................ UNESP-SP Jairo Vidal Vieira ............................ Embrapa Hortaliças-DF Jean Kleber Mattos ................................................. UnB-DF Jeronimo Araújo Gomes ........................................ UFG-GO Jerônimo Luiz Andriolo....................................... UFMS-RS João Bosco Carvalho da Silva ........ Embrapa Hortaliças-DF João Tessarioli Neto ........................................... ESALQ-SP Joaquim Gonçalves de Pádua ......................... EPAMIG-MG Joaquim José Martins Guilhoto .......................... ESALQ-SP Joel Augusto Muniz ............................................ UFLA-MG Jorge Luiz Martins ................................................ UFPel-RS José Cambraia ........................................................ UFV-MG José de Barros de França Neto ................. Embrapa Soja-PR Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 José Djair Vendramim ........................................ ESALQ-SP José Fernando Durigan ....................................... UNESP-SP José Francismar de Medeiros ............................. ESAM-RN José Geraldo Baumgartner ................................. UNESP-SP José Maria Pinto ........................... Embrapa Semi-Árido-PE José Roberto de Oliveira ....................................... UFV-MG José Ronaldo Magalhães .........Embrapa Gado de Leite-MG José Tadeu Jorge ........................................... UNICAMP-SP José Viggiano ....................................................... Betim-MG Jose Wellington Santos .........Embrapa Campina Grande-PB Josivam Barbosa Menezes .................................. ESAM-RN Josué F. Pedrosa .................................................. ESAM-RN Jozeneida Lúcia Pimenta de Aguiar . Embrapa Cerrados-DF Juarez Patrício de Oliveira Jr ................................. UFG-GO Kaoru Yuyama ...................................................... INPA-AM Leilson Costa Grangeiro ..................................... UNESP-SP Leonardo Collier ............................................. UNITINS-TO Leonardo de Britto Giordano ......... Embrapa Hortaliças-DF Lilian Amorim .................................................... ESALQ-SP Luiz Antônio Biasi ................................................ UFPR-PR Luiz Augusto Barbosa Cortez ....................... UNICAMP-SP Luiz Carlos Prezotti ....................................... INCAPER-ES Luiz Carlos Santos Caetano ......................... PESAGRO-RS Luiz Henrique Bassoi ................... Embrapa Semi-Árido-PE Luiz S. Poltronieri ............ Embrapa Amazônia Oriental-PA Luiz Vitor S. do Sacramento .............................. UNESP-SP Magno A. Patto Ramalho ................................... UFLA-MG Manoel Teixeira de Castro Neto .............. Embrapa Mandioca e Fruticultura-BA Manoel Vicente de Mesquita Filho ... Embrapa Hortaliças-DF Manoel Xavier dos Santos ...... Embrapa Milho e Sorgo-MG Manuel G. C. Churata Masca ................................. UFG-GO Marcelo Coutinho Picanço .................................... UFV-MG Marcelo Murad Magalhães ................................. UFLA-MG Márcio Antônio Vilas Boas ......................... UNIOESTE-PR Marcos David Ferreira.................................. UNICAMP-SP Maria Aico Watanabe ............. Embrapa Meio Ambiente-SP Maria Alice de Medeiros ................ Embrapa Hortaliças-DF Maria Amelia Gava Ferrão ............................ INCAPER-ES Maria de Fátima Arrigoni Blank ............................. UFS-SE Maria Helena T. Mascarenhas ........................ EPAMIG-MG Maria Izabel F. Chitarra .... Embrapa Agroindústria Tropical-CE Mariane Carvalho Vidal ................. Embrapa Hortaliças-DF Marie Reghin Yamamoto ...................................... UEPG-PR Marilene Leão Alves Bovi ........................................ IAC-SP Mário Cesar Lopes ............................ Marechal Rondon–PR Mario Puiatti .......................................................... UFV-MG Marley Marico Utumi ...................... Embrapa Rondônia-RO Maurício Ventura .................................................... UEL-PR Max José de A. Faria Jr. ..................................... UNESP-SP Moacil Alves de Souza .......................................... UFV-MG Manoel Evaristo Ferreira .................................... UNESP-SP Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 Nand Kumar Fageria ............... Embrapa Arroz e Feijão-GO Natan Fontoura da Silva ........................................ UFG-GO Nei Peixoto .................................................... EMATER-GO Nelcimar Reis Souza .... Embrapa Amazônia Ocidental-AM Nilson Borlina Maia ................................................. IAC-SP Nirlene Junqueira Vilela ................. Embrapa Hortaliças-DF Og de Souza ........................................................... UFV-MG Orivaldo José Saggin Jr. ..... Embrapa Microbiologia do Solo-RJ Osmar Alves Carrijo ....................... Embrapa Hortaliças-DF Osmar Alves Lameira ....... Embrapa Amazônia Oriental-PA Otávio Nakano .................................................... ESALQ-SP Paulo A. S. Gonçalves ...................................... EPAGRI-SC Paulo César Costa ............................................... UNESP-SP Paulo Espíndola Trani .............................................. IAC-SP Paulo Sérgio Koch ................................ Sementes Sakata-SP Paulo Sérgio Rabelo de Oliveira .................... UNIMAR-SP Paulo T. Della Vecchia ..........................Sementes Sakata-SP Pedro Boff ........................................................ EPAGRI-SC Pedro Milanez de Resende ................................. UFLA-MG Peter E. Sonnenberg ......................................... Goiânia–GO Regina Célia de M. Pires .......................................... IAC-SP Regina Celia Della Modesta . Embrapa Agroind.de Alimentos-RJ Regina Maria Quintão Lana .................................. UFU-MG Ricardo Alfredo Kluge ....................................... ESALQ-SP Roberto Ferreira da Silva ..................................... UENF-RJ Rogério Lopes Vieites ........................................ UNESP-SP Ronan Gualberto ............................................. UNIMAR-SP Ronessa Bartolomeu de Souza ....... Embrapa Hortaliças-DF Rosana Fernandes Otto ......................................... UEPG-PR Rosana Rodrigues ................................................. UENF-RJ Rovilson J. de Souza .......................................... UFLA-MG Rui Pereira Leite Jr. .............................................IAPAR-PR Rumy Goto ......................................................... UNESP-SP Ruy Resende Fontes ....................... Embrapa Hortaliças-DF Sebastião Alberto de Oliveira ................................. UnB-DF Sérgio Augusto Morais Carbonell ............................ IAC-SP Shizuo Seno ........................................................ UNESP-SP Sieglinde Brune .............................. Embrapa Hortaliças-DF Silvio Luiz Honorio ...................................... UNICAMP-SP Simon Swen Cheng .......... Embrapa Amazônia Oriental-PA Solange G. Canniati Brazaca .............................. ESALQ-SP Tarcízio Nascimento ..................... Embrapa Semi-Árido-PE Teresinha Maria Castro Della Lúcia ...................... UFV-MG Tereza Cristina O. Saminêz ............ Embrapa Hortaliças-DF Valdenir Queiroz Ribeiro................Embrapa Meio Norte-PI Valesca Pandolfi ................................................. ESALQ-SP Vera Lucia Bobrowski .......................................... UFPel-RS Waldelice Oliveira Paiva ... Embrapa Agroindústria Tropical-CE Waldemar Pires de Camargo Filho ........................... IEA-SP Waldir Aparecido Marouelli ........... Embrapa Hortaliças-DF Walkyria Bueno Scivittaro . Embrapa Clima Temperado-RS Walter Rodrigues da Silva .................................. ESALQ-SP 163 normas NORMAS PARA PUBLICAÇÃO Tipos de trabalho O periódico Horticultura Brasileira (HB) é a revista oficial da Sociedade de Olericultura do Brasil. HB destina-se à publicação de artigos técnico-científicos que descrevem trabalhos originais sobre hortaliças, plantas medicinais e ornamentais que venham contribuir, significativamente, para o desenvolvimento destes setores. A Comissão Editorial necessita da anuência de todos autores do(s) trabalho(s), que devem assinar a carta de encaminhamento ou a primeira página do trabalho original. Caso um ou mais autores não possa(m) assinar, a razão deve ser mencionada na carta de encaminhamento. Neste caso, o autor correspondente deverá se responsabilizar pela anuência do(s) faltante(s). Os artigos submetidos são revisados por dois consultores ad hocs, sendo ainda analisados pelo Editor Associado especializado da área a que se refere o artigo. Cabe à Comissão Editorial tomar a decisão final de aceite, alteração ou rejeição do trabalho. Alterações só serão realizadas com a anuência do(s) autor(es). O autor correspondente receberá a versão gráfica do trabalho para análise e eventual correção. Nesta fase não serão aceitas modificações de conteúdo ou estilo. A HB não adota política de distribuição de separatas. O periódico Horticultura Brasileira aceita artigos técnico-científicos escritos em português, inglês ou espanhol. É composto das seguintes seções: 1. Artigo Convidado; 1, Carta ao Editor; 3. Pesquisa; 4. Economia e Extensão Rural; 5. Página do Horticultor; 6. Insumos e Cultivares em Teste; 7. Nova Cultivar; e 8. Comunicações. 1. ARTIGO CONVIDADO: tópico de interesse atual, a convite da Comissão Editorial; 2. CARTA AO EDITOR: assunto de interesse geral. Será publicada a critério da Comissão Editorial; 3. PESQUISA: artigo relatando um trabalho original, referente a resultados de pesquisa cuja reprodução é claramente demonstrada; 4. ECONOMIA E EXTENSÃO RURAL: trabalho na área de economia aplicada ou extensão rural; 5. PÁGINA DO HORTICULTOR: comunicação ou nota científica contendo dados e/ou informações passíveis de utilização imediata pelo horticultor; 6. INSUMOS E CULTIVARES EM TESTE: comunicação ou nota científica relatando ensaio com agrotóxicos, fertilizantes ou cultivares; 7. NOVA CULTIVAR: manuscrito relatando o registro de novas cultivares e germoplasma, sua descrição e disponibilidade, com dados comparativos; 8. COMUNICAÇÕES: seção destinada à comunicação entre leitores e a Comissão Editorial e vice-versa, na forma de breves avisos, sugestões e críticas. O texto não deve exceder 300 palavras, ou 1.200 caracteres, e deve ser enviado em duas cópias devidamente assinadas, acompanhadas de disquete e indicação de que o texto se destina à seção Comunicações. Por questões de espaço, nem todas as comunicações recebidas poderão ser publicadas e algumas poderão ser publicadas apenas parcialmente. 164 GUIDELINES FOR THE PREPARATION AND SUBMISSION OF MANUSCRIPTS Subject Matter Horticultura Brasileira (HB) is the official journal published quarterly by the Brazilian Society for Horticultural Science. HB publishes original papers which contribute to the scientific and technologic development of horticultural crops. The journal covers basic and applied researches on vegetable crops, medicinal herbs and ornamental plants. The Editorial Board requires the signature of all authors on the first page of the original paper or on the submission letter. If one or more authors could not sign, the submission letter must contain the reason(s). In this case, the corresponding author will take the responsibility for the submitted paper. The manuscripts are examined by two reviewers of the specific research area. The Editorial Board makes the final decision on acceptance, changes or rejection. No changes will be made without the approval of the author(s). The corresponding author will receive the galley proof which should be corrected and returned to the publisher; changes in content and style should not be made. No offprint will be supplied. Horticultura Brasileira (HB) is dedicated to publishing technical and scientific articles written in Portuguese, English or Spanish. HB has the following sections: 1. Invited Article; 2. Letter to the Editor; 3. Research; 4. Economy and Rural Extension; 5. Grower’s Page; 6. Pesticides and Fertilizers in Test; 7. New Cultivar; and 8. Communications. 1. INVITED ARTICLE: deals with topics that arouse interest. Only invited articles are accepted in this section; 2. LETTER TO THE EDITOR: a subject of general interest. It will be accepted for publication after being submitted to a preliminary evaluation by the Editorial Board; 3. RESEARCH: manuscript describing a complete and original study in which the replication of the results has clearly been established; 4. ECONOMY AND RURAL EXTENSION: manuscript dealing with applied economy and rural extension; 5. GROWER’S PAGE: communications or short notes with information that could be quickly usable by farmers; 6. PESTICIDES AND FERTILIZERS IN TEST: communications or scientific notes describing tests with pesticides, fertilizers and cultivars; 7. NEW CULTIVAR: this section contains recent releases of new cultivars and germplasm and includes information on origin, description, avaliability, and comparative data; 8. COMMUNICATIONS: these have the objective of promoting communication among readers and the Editorial Board as short communications, suggestions and criticism, in a more informal way. They should be concise, not exceeding 300 words or 1,200 characters. These should be signed by author(s) and submitted in duplicate (original and one copy), along with a diskette that contains a copy of the text. Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 O periódico HB é publicado a cada três meses, de acordo com a quantidade de trabalhos aceitos. Os trabalhos enviados para a HB devem ser originais, ainda não relatados ou submetidos simultaneamente à publicação em outro periódico ou veículo de divulgação. Está também implícito que, no desenvolvimento do trabalho, os aspectos éticos e respeito à legislação vigente do copyright foram também observados. Manuscritos submetidos em desacordo com as normas não serão considerados. Após aceitação do manuscrito para publicação, a HB adquire o direito exclusivo de copyright para todas as línguas e países. Não é permitida a reprodução parcial ou total dos trabalhos publicados sem a devida autorização por escrito da Comissão Editorial da Horticultura Brasileira. Para publicar na HB, é necessário que o primeiro autor do trabalho seja membro da Sociedade de Olericultura do Brasil e esteja em dia com o pagamento da anuidade. Cada artigo submetido deverá ser acompanhado da anuência à publicação de todos os autores, e será avaliado pela Comissão Editorial, Editores Associados e/ou Assessores ad hoc, de acordo com a seção a que se destina. Submissão dos trabalhos Os originais deverão ser submetidos em três vias, em programa Word 6.0 ou versão superior, em espaço dois, fonte arial tamanho doze. O disquete contendo o arquivo deverá ser incluído. Todas as fotos deverão ser enviadas no original. Figuras e/ou quadros deverão ser de boa qualidade. Devido aos altos custos de impressão gráfica da revista, solicita-se aos autores que sejam sucintos na redação, utilizando o mínimo de tabelas, figuras, quadros e citações bibliográficas. O resumo deverá ter no máximo 250 palavras. Os artigos serão iniciados com o título do trabalho, que não deve incluir nomes científicos, a menos que não haja nome comum no idioma em que foi redigido. Ao título deve seguir o nome, endereço postal e eletrônico completo dos autores (veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos volumes da Horticultura Brasileira). A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro: 1. Resumo em Português ou Espanhol com palavras-chave ao final. As palavras-chave devem ser sempre iniciadas com o(s) nome(s) científico(s) da(s) espécie(s) em questão e nunca devem repetir termos para indexação que já estejam no título; 2. Abstract, em Inglês, acompanhado de título e keywords. O abstract, o título em Inglês e keywords devem ser versões perfeitas de seus similares em Português ou Espanhol; 3. Introdução; 4. Material e Métodos; 5. Resultados e Discussão; 6. Agradecimentos; 7. Literatura Citada; 8. Figuras e Tabelas. Este roteiro deverá ser utilizado para a seção Pesquisa. Para as demais seções veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos volumes da Horticultura Brasileira. Para maior detalhamento consultar a home page da SOB: www.horticiencia.com.br ou www.sobhortalica.com.br As citações de artigos no texto deverão ser feitas conforme os exemplos: Esaú & Hoeffert (1970) ou (Esaú & Hoeffert, 1970). Quando houver mais de dois autores, utilize a expressão latina et alli, de forma abreviada (et al.), sempre em itálico, como segue: De Duve et al. (1951) ou (De Duve et al., 1951). Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es), no mesmo ano, indicar por uma letra minúscula, logo após a Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 The journal HB is issued every three months, depending on the amount of material accepted for publication. HB publishes original manuscripts that have not been submitted elsewhere. With the acceptance of a manuscript for publication, the publishers acquire full and exclusive copyright for all languages and countries. Unless special permission has been granted by the publishers, no photographic reproductions, microform and other reproduction of a similar nature may be made of the journal, of individual contributions contained therein or of extracts therefrom. Membership in the Sociedade de Olericultura do Brasil is required for publication. For the paper to be eligible for publication the first author must be a Society member and the manuscripts should be accompanied by the agreement for publication signed by the authors. All manuscripts will be evaluated by the Editorial Board, Associated Editors and/or ad hoc consultants in accordance with their respective sections. Manuscript submission Manuscripts should be submitted in triplicate (original and two copies) typed double-spaced (everything must be double spaced) and printed. Use of the “Arial” font, size 12, is required. Include a copy of the manuscript on computer diskette at submission. The Editorial Board will only accept 3.5 inch diskette which have the files copied on them using the program Word 6.0 or superior. It is recommended that the authors observe the following format: 15 to 20 typed pages, including up to 30 bibliographic references, four figures, graphics or tables. The title page should include: title of the paper (scientific names should be avoided); name(s) of author(s) and address(es). Please refer to a recent issue of HB for format. The structure of the manuscript should include: 1. Abstract and Keywords. Keywords should start with scientific names and it should not repeat words that are already in the title; 2. Summary in Portuguese (a translation of the abstract will be provided by the Journal for non-Portuguese-speaking authors) and Keywords (Palavras-chave). 3.Introduction; 4. Material and Methods; 5. Results and Discussion; 6.Acknowledgements; 7. Cited Literature and 8. Figures and Tables. This structure will be used for the Research section. For other sections please refer to a recent issue of HB for format. You can also visit Hoticultura .Brasileira home page in the following addresses: www.horticiencia.com.br or www.sobhortalica.com.br. Bibliographic references within the text should have the following format: Esaú & Hoeffert (1970) or (Esaú & Hoeffert, 1970). When there are more than two authors, use a reduced form, like the following: De Duve et al. (1951) or (De Duve et al., 1951). References to studies done by the same author in the same year should be noted in the text and in the list of the Cited Literature by the letters a, b, c, etc., as follows: 1997a, 1997b. 165 data de publicação do trabalho, como segue: 1997a, 1997b. Na seção de Literatura Citada deverão ser listados apenas os trabalhos mencionados no texto, em ordem alfabética do sobrenome, pelo primeiro autor. Trabalhos com dois ou mais autores devem ser listados na ordem cronológica, depois de todos os trabalhos do primeiro autor. As referências bibliográficas deverão obedecer as normas da ABNT (NBR 6023, de 2002) Exemplos: a) Periódico: BERG, L. VAN DER; LENTZ, C.P. Respiratory heat production of vegetables during refrigerated storage. Journal of the American Society for Horticulture Science, v. 97, n. 3, p. 431-432, Mar.1972. b) Livro: ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New York: John Willey, 1979. 632 p. c) Capítulo de livro: ULLSTRUP, A.J. Diseases of corn. In: SPRAGUE, G.F. (Ed.). Corn and corn improvement. New York: Academic Press, 1955. cap.3, p. 465-536. d) Tese: SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 f. (Tese mestrado) USP, ESALQ, Piracicaba. e) Trabalhos apresentados em congressos (quando não incluídos em periódicos): HIROCE, R.; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.; FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO, J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977, Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364. f) Trabalhos apresentados em congresso, publicados em revista/CD-ROM: REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20, n.2, jul. 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002. g) Trabalhos apresentados em meio eletrônico: g1) Periódico: KELLY, R. Eletronic publishing at APS: Its not just online journalism. APS News Online, Los Angeles, Nov. 1996. Disponível em: <http://www.hps.org/hpsnews/19065.html>. Acesso em 25 nov. 1998. g2) Trabalhos apresentados em congresso: SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em: <http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso em 21 jan. 1997. Uma cópia da prova tipográfica do manuscrito será enviada eletronicamente para o autor principal, que deverá fazer as possíveis e necessárias correções e devolvê-la em 48 horas. Correções extensivas do texto do manuscrito, cujo formato e conteúdo já foram aprovados para publicação, não são aceitáveis. Alterações, adições, deleções e edições implicarão novo exame do manuscrito pela Comissão Editorial. Erros e omissões presentes no texto da prova tipográfica corrigido e de166 In the Cited Literature, references from the text should be listed in alphabetical order by last name, without numbering them. Papers that have two or more authors should be listed in chronological order, following all the papers of the first author, second author and so on. Please refer to a recent issue of HB for more details. The bibliographic references should be done accordingly to the ABNT norms (NBR 6023, from 2002). a) Journal: BERG, L. VAN DER; LENTZ, C.P. Respiratory heat production of vegetables during refrigerated storage. Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 97, n. 3, p. 431-432, Mar. 1972. b) Book: ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New York: John Willey, 1979. 632 p. c) Chapter: ULLSTRUP, A.J. Disease of corn. In: SPRAGUE, G.J., (Ed.). Corn and corn improvement. New York: Academic Press, 1955. p. 465-536. d) Thesis: SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 f. (Master thesis) USP, ESALQ, Piracicaba. e) Articles from Scientific Events (when not published in journals): HIROCE, R; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.; FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO, J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977, Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364. f) Articles from scientific events, published in referred jornals: REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20, n.2, jul. 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002. g) Articles publised by electronic means: g1) Journal: KELLY, R. Eletronic publishing at APS: Its not just online journalism. APS News Online, Los Angeles, Nov. 1996. Disponível em: <http://www.hps.org/hpsnews/19065.html>. Acesso em 25 nov. 1998. g2) Articles from scientific events: SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em: <http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso em 21 jan. 1997. A copy of the galley proof of the manuscript will be sent to the first author who should make any necessary corrections and send it back within 48 hours. Extensive corrections of the text of the manuscript, whose format and content have already been approved for publication, will not be accepted. Alterations, additions, deletions and editing implies that a new examination Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 volvido à Comissão Editorial são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). Em caso de dúvidas, consulte a Comissão Editorial ou verifique os padrões de publicação dos últimos volumes da Horticultura Brasileira. Os originais devem ser enviados para: Horticultura Brasileira C. Postal 190 70.359-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 385 9051 / 385 9073 / 385 9088 Fax: (0xx61) 556 5744 E-mail: [email protected] Assuntos relacionados a mudanças de endereço, filiação à Sociedade de Olericultura do Brasil, pagamento de anuidade, devem ser encaminhados à Diretoria da Sociedade de Olericultura, no seguinte endereço: Sociedade de Olericultura do Brasil UNESP – FCA C. Postal 237 18.603-970 Botucatu – SP Tel.: (0xx14) 3811 7172 / 3811 7104 Fax: (0xx14) 3811 7104 / 3811 3438 E-mail: [email protected] Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 of the manuscript must be made by the Editorial Board. Errors and omissions which are present in the text of the corrected galley proof that has been returned to the Editorial Board are entirely the responsability of the author. Orientation about any situations not foreseen in this list will be given by the Editorial Board or refer to a recent issue of Horticultura Brasileira. Manuscripts should be addressed to: Horticultura Brasileira C. Postal 190 70.359-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 385 9051 / 385 9073 / 385 9088 Fax: (0xx61) 556 5744 E-mail: [email protected] Change in address, membership in the Society and payment of fees should be addressed to: Sociedade de Olericultura do Brasil UNESP – FCA C. Postal 237 18.603-970 Botucatu – SP Tel.: (0xx14) 3811 7172 / 3811 7104 Fax: (0xx14) 3811 7104 / 3811 3438 E-mail: [email protected] 167 Cebola doce A cebola (Allium cepa L.) e espécies relacionadas, como o alho, alho-porró, cebolinha verde e outras, são produzidas e consumidas em praticamente todos os países. A cebola de bulbos é uma das três hortaliças mais importantes e mais amplamente cultivadas no mundo, sendo anualmente produzidas cerca de 52 milhões de toneladas com um valor econômico estimado de US$ 6 bilhões. No Brasil, a cebola de bulbos representa valor bruto anual de cerca de US$ 200 milhões, equivalente a 8% do valor bruto das hortaliças. A produção média anual de 1 milhão de toneladas atende apenas o mercado interno. O consumo per capita de cebola no mundo tem variado muito pouco nos últimos 50 anos. No Brasil, o consumo anual por habitante é de 6 kg e tem se mantido o mesmo nos últimos 20 anos. É um consumo baixo e atribuído, em parte, à pungência de moderada a alta das cultivares brasileiras, resultado do tipo de cebola plantado, do solo e do manejo da lavoura. Os compostos responsáveis pelo sabor e aroma e pela pungência característicos da cebola são formados pela decomposição enzimática de precursores sem odor, os quais contêm enxofre nas suas estruturas. Bulbos de cebola intactos têm apenas leve aroma. A ação do sistema enzimático ocorre quando o tecido da cebola é injuriado, colocando a enzima alinase, compartimentalizada no vacúolo da célula, em contato com os precursores localizados no citoplasma, produzindo o fator lacrimatório e os vários compostos causadores do sabor e aroma e pungência. Diferenças na intensidade do sabor e aroma entre cultivares são devidas a diferenças na concentração e proporção dos precursores sintetizados e a concentração e atividade da alinase. Quanto mais alta a concentração dos precursores, mais alto o sabor e aroma e a pungência. Como o ácido pirúvico e os compostos pungentes são formados em concentrações equimolares pela ação da alinase, a concentração de ácido pirúvico é usada como estimativa da pungência em cebola. O tipo de cebola preferido varia com o mercado e preferência do consumidor. Em muitos países desenvolvidos, a indústria de hortaliças e os consumidores dividem as cultivares de cebola em dois grandes grupos: curadas para armazenamento e de consumo fresco. As cebolas curadas são geralmente menores, mais firmes e pungentes e resistem a vários meses de armazenamento. Devido ao seu menor tamanho e sabor forte, as cebolas curadas são usadas principalmente para dar sabor a alimentos cozidos. As cebolas de consumo fresco são maiores, mais macias, mais doces e de sabor suave. Possuem período de comercialização curto devido ao período de colheita e de vida póscolheita curtos. Pelas suas características, são preferidas para serem consumidas em saladas. De modo geral, cebolas suaves e doces são aquelas que possuem menos que 4 µmol de ácido pirúvico/ g de massa fresca e pelo menos 6% de açúcar. No Brasil, embora as cebolas cultivadas difiram substancialmente quanto às suas qualidades organolépticas, não há segmentação do mercado varejista, como ocorre em outros países, que tratam de maneira diferenciada as cebolas destinadas ao consumo fresco e as cebolas curadas mais pungentes. Ênfase sobre o benefício do consumo de cebola para a saúde humana associado à segmentação do mercado, tem ajudado a aumentar o consumo de cebola em países desenvolvidos. O sucesso da cebola doce nos Estados Unidos e em países da Europa indica a possibilidade de desenvolvimen- to de uma indústria de cebola doce no Brasil, que tem potencial para atender o mercado interno e externo. Existe potencial para exportação de cebola doce de regiões tropicais para mercados localizados em regiões temperadas do hemisfério norte durante os meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Para garantir abastecimento contínuo de cebola suave e doce no período de entressafra, os Estados Unidos vêm importando cebola tipo “Grano” e “Granex” de países como México, Peru, Chile, Uruguai, Austrália e países da América Central. O nível máximo de pungência é controlado geneticamente, mas níveis abaixo do máximo são a resposta às condições ambientais em que as cebolas crescem. Uma cultivar pungente pode ser mais suave se cultivada sob condições que favoreçam um mínimo de sabor e aroma e pungência. Por sua vez, uma cultivar com potencial para ser suave pode ser pungente se cultivada em condições para máxima expressão do sabor e aroma. O potencial de uma cultivar absorver e sintetizar os precursores do sabor e aroma, é que determina em grande parte como será a intensidade do sabor e aroma e da pungência de uma cebola. Excessiva fertilização com temperaturas muito altas durante o crescimento e condições de crescimento em solo mais seco contribuem para aumentar a intensidade da pungência em cebola. Evidências mostram que pungência varia menos com as condições de cultivo para algumas cultivares do que para outras. Cultivares de cebola de dias longos são, em geral, mais pungentes que cultivares de dias curtos, mas entre as cultivares de dias curtos existe grande variação. A cor da cebola tem muito pouco a ver com o nível de pungência. Cebolas de películas roxas, amarelas e brancas podem ser desde suaves a muito pungentes. Já as cebolas brancas destinadas à industrialização são sempre pungentes a muito pungentes. Praticamente todas as cultivares dos grupos “Grano” (Texas Early Grano 502, Texas Early Grano 502 PRR, Texas Grano 502, Texas Grano 502 PRR, entre outras) e “Granex” (Granex 33, Granex 429, entre outras), tradicionalmente plantadas no Brasil podem ser suaves e doces. Estrategicamente para o Brasil, contudo, é importante que instituições nacionais de pesquisa desenvolvam programas de melhoramento específicos para a obtenção de cultivares que naturalmente produzem bulbos com sabor suave e adaptadas para as várias condições edafoclimáticas predominantes nas regiões brasileiras produtoras de cebola. Constitui-se, portanto, em desafio e oportunidade de pesquisa para o melhoramento genético de cebola e se insere nas estratégias para aumentar a sustentabilidade do agronegócio de cebola no Brasil. A cv. São Paulo, lançada pela Embrapa Hortaliças em 1991, é uma cebola do grupo das claras precoces suaves. Para viabilizar a produção de cebolas suaves e doces no Brasil, é preciso definir os locais e épocas para a produção, bem como, o manejo cultural e de pós-colheita mais adequados para se obter rendimento, qualidade e retorno econômico satisfatórios. É necessário selecionar ambientes que propiciem intensidades baixas de sabor e aroma e de pungência, ou seja, solos com disponibilidade baixa de e um programa de fertilização que resulte em bulbos grandes e com pungência baixa. Outro aspecto, consiste na definição de um regime hídrico adequado para a cultura, que possibilite um suprimento abundante de água no solo durante o crescimento das plantas e resulte em cebolas suculentas, menos pungentes e doces. Como os consumidores tendem a ser conservadores nas suas preferências e freqüentemente rejeitam tipos de bulbos não familiares, estratégias de marketing com inovações na forma de apresentação do produto e informação à população sobre as qualidades nutracêuticas da cebola são necessárias. (Valter Rodrigues Oliveira, Embrapa Hortaliças, [email protected]).