Variação de preposições na Imprensa Negra paulista:

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Variação de preposições na Imprensa Negra paulista:
uma análise de fatores semânticos.
Letícia Cordeiro de Oliveira Bueno
(UNESP/G – Universidade Estadual Paulista – [email protected])
1. Introdução
O presente estudo propôs-se a descrever a variação das preposições em
complementos de predicadores de direção, de movimento com transferência e de
transferência (material e verbal/perceptual), em textos publicitários e em notas sociais
publicados nos jornais da Imprensa Negra paulista durante as três primeiras décadas do
século XX. A expressão “Imprensa Negra” refere-se ao conjunto de uma produção que
tem início no período pós-abolição, produzida “por negros e para negros” (Domingues,
2006), compreendendo os seguintes jornais: O Baluarte (1903), O Menelick (1915), A
Rua e O Xauter (1916), O Alfinete (1918), O Bandeirante e A Liberdade (1919), A
Sentinela (1920), O Kosmos (1922), Getulino (1923), O Clarim d’Alvorada, O Clarim e
Elite (1924), O Patrocínio e Auriverde (1928).
Para alcançar esse objetivo geral, definimos como objetivos específicos: (i)
determinar qual ou quais são as preposições que introduzem o complemento dos
predicadores selecionados e como se distribuem em termos de freqüência; (ii)
identificar que fatores de natureza lingüística e extralingüística explicam essa
distribuição; e (iii) determinar em que medida essa distribuição revela padrões
diferentes de uso em relação à norma vigente.
Tivemos como propósito inicial, então, a análise da variação entre as
preposições selecionadas (a, até, em e para), em textos publicitários e notas sócias de
jornais da Imprensa Negra, gêneros textuais que se acredita ser bastante permeáveis à
utilização de formas próprias da oralidade, o que pode evidenciar a existência de novas
variantes (Pessoa, 2001). Devemos ressaltar que estamos cientes da necessidade de se
levar em conta a diferença quanto ao tipo de texto de onde provém o dado (anúncio ou
nota), já que essa pode determinar diferenças no uso. Selecionamos para esta primeira
parte do estudo o material encontrado nos jornais O Getulino (1923) e O Alfinete
(1918).
2. Sobre a Imprensa Negra – uma contextualização histórica
Como dito anteriormente, a expressão “Imprensa Negra” refere-se ao conjunto
de uma produção que tem início no período pós-abolição, produzida “por negros e para
negros” (Domingues, 2006). O seu estudo é de extrema importância para que se
resgatem as múltiplas tentativas, por parte dos jornalistas negros, de construção de uma
cidadania negra a partir dos instrumentos legais e de acordo com o projeto das elites
paulistas. (GARCIA, 1997).
As produções selecionadas para o estudo datam do início do século XX, e o
enfoque nesse período se deve ao fato de ele condensar fatos significativos no
desenvolvimento das relações sociais, políticas, econômicas e culturais na cidade e no
estado de São Paulo. Neste período, a cidade de São Paulo passava por um momento
conturbado e bastante agitado, em que a estrutura social havia se alterado radicalmente
devido à libertação dos negros da escravidão e à instauração da Primeira República.
São Paulo viveu, então, grandes mudanças – liberação da mão-de-obra escrava,
expansão da cafeicultura, dinamização da indústria, proximidade das fontes de matériasprimas, criação de infra-estrutura urbana, desenvolvimento do setor terciário e
financeiro, etc. –, sobressaindo-se em relação aos outros centros urbanos do país. Além
disso, a Constituição Federal de 1891, que vigorou durante toda a Primeira República,
estabeleceu uma relação delicada entre os negros e o restante da população, devido à
tentativa de assegurarem a integração social destes – dos negros. Isso acontece porque
ainda existiam resquícios de uma mentalidade escravagista, que limitavam, então, essas
possibilidades de integração dos negros recém-libertos ao mercado de trabalho.
A cidade de São Paulo, apesar de todo o desenvolvimento econômico, vivenciou
uma grande incompatibilidade entre a economia e a sociedade, já que o seu crescimento
econômico e urbano não foi acompanhado por mudanças proporcionais no padrão de
vida de seus habitantes pobres. Isso gerou, conseqüentemente, uma reafirmação do
preconceito e das desigualdades étnicas no interior das camadas pobres.
Diante disso e do início das publicações dos jornais da Imprensa Negra, inicia-se
a história da liberdade republicana para os negros e seus descendentes. Pode-se dizer,
ainda, que a Imprensa Negra representa os modos de vida, os valores e anseios adotados
pelos afro-brasileiros – descendentes de africanos – depois da Abolição e da
Proclamação da República. Por isso,
é importante mostrar que essa fonte possibilitou identificar a figura
do negro, desfilando nas notícias em uma outra perspectiva. Desse
modo, percebe-se nos periódicos o lugar do negro e a sua
participação social nos principais processos e momentos de
mudanças pelas quais passou o país durante a República Velha.
(GARCIA, 1997, p.13).
Considerando que são escassos os estudos sobre os negros após o período da
Abolição - os afro-brasileiros, enquanto grupo específico, desaparecem da cena dos
principais fatos políticos, econômicos e sociais da história –, é somente após a
Proclamação da República que eles se tornam uma figura emergente da realidade
histórico-social. Dessa forma, a Imprensa Negra é de extrema importância, pois é tida
como um importante documento da ação negra no processo histórico paulista e
brasileiro.
A presença marcante dos afro-brasileiros no período da Primeira República
pressupõe uma tentativa de sobrevivência no combate ao acirramento do preconceito de
cor desencadeado por setores significativos da sociedade, tais como as elites, sempre
ligadas a valores sociais, econômicos e políticos tradicionais. Embora fosse idealizado
um desenvolvimento social que correspondesse a toda a sociedade, não foi possível de
imediato consolidar, por parte dos setores sociais hegemônicos do período, um projeto
político democrático que oferecesse uma vida melhor aos cidadãos pobres, entre eles os
negros e seus descendentes.
Roger Bastide aponta, como condição para o entrave do processo de
modernização da sociedade, a discriminação nas relações sociais, pois o branco não
conseguia superar a idéia de que o negro era sua propriedade e, assim sendo, não
conseguia assimilar a idéia de que o negro era seu “concidadão” (BASTIDE apud
GARCIA, 1997, p.28).
Segundo Miriam Ferrara,
Na origem desses jornais estão as reivindicações por integração,
participação e ascensão na sociedade brasileira, a fim de que o
negro conquiste a posição de cidadão brasileiro, isto através da
conscientização e da educação e da luta contra o preconceito.
(FERRARA apud GARCIA, 1997, p.28).
Entretanto, a autora ressalta que essa imprensa fez-se com a participação de um
grupo considerado como minoritário. Os ativistas-jornalistas negros que, diante da
situação de discriminação, organizaram-se para combater as desigualdades sociais são
tidos como poucos se comparados ao todo da sociedade negra. E isso acontece porque a
heterogeneidade persistiu entre os negros mesmo após a abolição. De acordo com a
autora, essas desigualdades davam-se, sobretudo, pela estratificação sócio-econômica:
havia uma camada alta, uma camada intermediária, o proletariado e o subproletariado.
O preconceito de cor impede que os negros tenham acesso tanto a
ocupações quanto a instituições, o que vai determinar a criação de
entidades negras independentes – grupos específicos – como clubes
de lazer, cooperativas, escolas de samba, órgãos culturais, etc. [...]
Essa tendência do negro a se organizar não surge por acaso. Os
grupos que se identificam na sociedade de classes por um estigma
que essa sociedade lhes impôs podem, ao invés de procurarem fugir
a essa marca, transformá-la em herança positiva, organizar-se
através de um ethos criado a partir da tomada de consciência da
diferença que as camadas privilegiadas em uma sociedade
etnicamente diferenciada estabeleceram. É a revalorização da
própria etnia do grupo que o faz ver-se como um componente
específico dentro da sociedade que o discrimina. Esses valores
podem ser a reelaboração de um passado ou reivindicações mais
atualizadas. (FERRARA apud GARCIA, 1997, p.30).
A possibilidade dos negros se organizarem em um grupo social ou como um
grupo social é dada devido ao uso do fator “raça”, elemento que os unia naquele
momento. Assim, a importância da existência de órgãos de imprensa é absoluta, já que é
através desses meios que montavam estratégias de combate, defesa e orientação. A
análise do conteúdo e dos discursos apresentados nas reportagens desta imprensa mostra
o desejo que os negros tinham em ver aquela “raça” unida em torno de um objetivo
coletivo na evolução política, econômica e social do que eles entendiam por classe.
Entretanto, a Imprensa Negra era composta por intelectuais, e daí surge uma
distinção entre eles e o restante da sociedade: eram alfabetizados. A educação não se
desenvolvia como um direito universal, e isso fazia com que esses negros letrados
constituíssem uma “elite”. Assim, por serem portadores do conhecimento das letras,
tomavam para si a responsabilidade de manter em funcionamento as diversas entidades
mantenedoras de um trabalho social, político e de conscientização sobre o que
significavam esses valores da educação para o desenvolvimento do negro numa cidade
burguesa. Os intelectuais negros se viam no direito de lutar pelos mesmos ideais que os
intelectuais brancos e, portanto, consideravam-se fundamentais no processo de
modernização da cidade. E, nesse sentido, a Constituição cumpria com o seu papel,
garantindo a eles o direito de cidadão universal.
Nota-se, então, que o advento da integração era uma necessidade para o
desenvolvimento conjunto da idéia de progresso e industrialização. Por isso, havia uma
grande pressão social em relação ao comportamento moral e ético dos negros, pois
existia ali o medo constante de não conseguirem acompanhar as novas mudanças sociais
ocorridas. Isso acontece porque a liberdade chegou para os afro-brasileiros sem que
houvesse a menor infra-estrutura que lhes permitisse seguir um caminho rumo à
cidadania plena. Segundo Marinalda Garcia, “ao invés de reafirmar a cultura original
africana, o que se observa na dinâmica da evolução da sociedade é que os afrobrasileiros buscaram a construção de uma cultura possível, adaptada à realidade.”
(GARCIA, 1997, p.34).
Dessa forma, foi com o fim dos privilégios individuais, abolidos pela Magna
Carta, que a Imprensa Negra procurou colocar em prática o seu projeto de inserção dos
afro-brasileiros à sociedade de classes da “democracia racial”, que tinha como princípio
básico a ausência de preconceito e de discriminação racial. Assim, a Imprensa Negra
deu continuidade ao projeto de cidadania já proposto pelos movimentos abolicionistas,
ainda no período imperial. Buscava-se, então, a igualdade, que agora podia ser vista
como direito garantido, pelo menos do ponto de vista legal.
Nesse aspecto, as desigualdades sociais encontravam forte resistência dos
intelectuais da Imprensa Negra. Esses, através dos jornais, congregações, clubes, bailes
e associações mantinham um esquema de divulgação dos problemas e soluções da
classe. Assim, apesar de todas as dificuldades enfrentadas e vividas, a Imprensa Negra
teve um papel importante na disseminação dos valores defendidos pela identidade
negra. Diante disso, é de extrema importância levar em consideração a batalha
enfrentada pela Imprensa Negra, e quais eram os seus reais pressupostos e objetivos.
3. A variação lingüística e o uso de preposições
Estudos lingüísticos voltados para a análise dos aspectos sociais da língua têm
mostrado que não existe uma língua homogênea, sendo toda e qualquer língua um
conjunto heterogêneo de variedades. Associado a isso, constata-se que as línguas
humanas não podem ser tomadas como objetos estáticos, pois mudanças, apesar de
lentas e graduais, ocorrem constantemente, demonstrando sua dinamicidade. Os
processos de variação e mudança pelos quais as línguas passam e a correlação entre tais
processos e as diferentes situações de uso da língua constituem o foco de interesse da
Lingüística Histórica e da Sociolingüística (Weinreich, Labov, Herzog 1968; Labov
1972, 1994, 2001).
Diante disso e com base na teoria lingüística apreendida, podemos afirmar que,
desde o início da formação da língua portuguesa (e das demais línguas românicas), as
preposições têm se mostrado uma classe propensa à variação. Isso decorre do fato de que,
com a ampliação do uso desse tipo de elemento relacional no latim vulgar e nas línguas
românicas, criaram-se novos significados para preposições já existentes, além de
surgirem novas preposições. Além disso, vários estudos têm constatado que esses
elementos estão sujeitos a processos de variação e mudança, que podem chegar ao
apagamento, à substituição de preposições que veiculam basicamente os mesmos valores,
ou à especialização de sentidos.
Um bom exemplo de tais processos é o que observamos com as preposições a,
até, em e para – que estudos como os de Berlinck (2000, 2007, Gomes (2003) e
Guedes & Berlinck (2003), Torres-Morais & Berlinck (2006) mostraram constituírem
variantes em contexto de complementação verbal no português brasileiro. Os estudos
de Berlinck, Guedes & Berlinck e Torres-Morais & Berlinck observaram o emprego das
preposições em documentos quinhentistas e em textos do século XIX e XX (peças de
teatro, amostras de língua falada). A análise do uso de preposições em documentos
quinhentistas e oitocentistas mostrou que a variação entre preposições que veiculam
(aparentemente) as mesmas noções semânticas não é um fenômeno recente: já estava
presente (latente) na variedade de português trazida pelos primeiros colonizadores e
apresenta-se bastante acentuada nos documentos do século XIX.
Por outro lado, estudos sobre o emprego de preposições na língua falada atual
(Mollica 1996; Berlinck 1997; Gomes 2003) revelaram que o uso da preposição a, em
geral, soa pouco usual no português falado coloquial, tendendo a ficar restrito a
registros formais ou à língua escrita. Esses constituem um dos “nichos de resistência”
da preposição conservadora. Paralelamente, tanto na modalidade coloquial, como em
um padrão real, a preferência recai sobre as chamadas preposições fortes: para, até e
em.
É com base nos estudos realizados até então que se encontra um dos objetivos
desta pesquisa: verificar a possível incorporação da variação de preposições em textos
escritos, o que indicaria sua gradual aceitação pela norma padrão. Ao falarmos sobre
norma, faz-se necessário que seja estabelecida uma distinção entre os dois possíveis
significados que podem abranger este termo.
Primeiramente, norma pode fazer referência àquilo que é tido como normal,
comum, sendo definida no “ sentido matemático de freqüência real dos comportamentos
observados.” (ALÉONG, 2001, p.148). Já o outro sentido traduz norma como sendo
algo que é considerado normativo, ou seja, “um ideal definido por juízos de valor e pela
presença de um elemento de reflexão consciente da parte das pessoas concernidas.”
(ALÉONG, 2001, p.148). De acordo com esse segundo sentido, a norma lingüística
pode ser entendida como o uso regrado da língua, como a modalidade “sabida” por
alguns, mas não por outros.
É importante ainda ressaltar que apesar dessas distinções, normal e normativo
são noções relativas, pois ambas estão ligadas diretamente ao social, - ao uso e bom uso
da língua, respectivamente - sendo definidas por meio do grupo em que se manifestam.
Assim,
“[...] a partir do momento em que uma sociedade não é um todo
homogêneo mas conhece divisões e distinções de caráter social e
econômico, o normativo e o normal são suscetíveis de variar de um
grupo de indivíduos para outro. De igual modo, o desvio ou
afastamento ao normativo é suscetível de adquirir significações
muito diferentes conforme a natureza do grupo.” (ALÉONG, 2001,
p. 149).
Compreendendo-se, então, a relação entre as propriedades lingüísticas e os
parâmetros sociais, fica claro que essa compreensão se faz em duas direções: na direção
da língua para a realidade social e na direção desta para a língua. Assim, de um lado, é
possível entender que a língua pode sustentar a identidade de uma sociedade e frear sua
fragmentação; a norma gramatical serve, assim, de freio às mudanças, e, principalmente,
à sua percepção e aceitação. Por outro lado, pode-se entender que a diversidade social
há de configurar uma língua não monolítica, a serviço da diversidade, sem se
estabelecer uma relação necessária com a fragmentação.
Diante dos valores estabelecidos, é imprescindível reafirmar que todo falante
está aberto a novas variantes de uma mesma língua, língua essa encarada como fato
social e, por isso, aberta à mudança. Assim, diante dos resultados a serem obtidos e da
percepção de uma alternância de preposição, somos remetidos aos estudos em
sociolingüística – área que estuda e analisa os fenômenos de variação lingüística em
correlação com diferentes situações de uso – encontrando então, a motivação para a
alternância de tais preposições.
4. Preposições em variação: o papel de fatores semânticos
Assim como explicitado anteriormente, este trabalho tem como um de seus
primeiros objetivos determinar qual ou quais são as preposições que introduzem o
complemento dos predicadores selecionados e como se distribuem em termos de
freqüência. Para a coleta de dados, foram utilizadas cópias digitalizadas a partir de
microfilmes dos jornais da Imprensa Negra disponíveis no Arquivo Edgard Leuenroth
(AEL / IFCH / UNICAMP). Os textos foram transcritos para permitir a utilização de
programas de busca e de edição de texto.
A partir das versões transcritas dos jornais, foram coletadas todas as ocorrências
de complementos preposicionados dos predicadores selecionados nos textos
publicitários e nas notas sociais publicados em Getulino e O Alfinete. Esses dados
foram posteriormente analisados, levando-se em conta: i) a natureza semântica do
predicador, se de direção ou de transferência e, nesse último caso, o tipo de
transferência significada; (ii) a natureza semântica do complemento (se denota um
lugar, um ser animado (e, em especial, humano), ou uma outra entidade que não se
enquadre nessas características) - noção abstrata e (iii) o grau de concretude da situação
descrita.
Foram analisados 132 casos, do quais 100 apresentam a preposição a, e apenas
32 as demais. Assim, temos uma porcentagem de 76% referente aos 100 casos de
preposição a, 17% referente aos casos de preposição para, 7% referente aos casos de
preposição em, e nenhum caso em que ocorra a preposição até foi encontrado.
Levando-se em conta os dados já apresentados, e visando estabelecer uma maior
relação com os fatores aqui selecionados – tipos de verbo, natureza do complemento,
concretude da situação e tipos de texto –, realizamos uma análise mais específica e
minuciosa, que passamos a apresentar.
Ao observarmos a distribuição em termos de freqüência da preposição a em
relação aos tipos de verbo selecionados, podemos notar a predominância desta, como
vemos na figura 1.
Preposição A
Outras preposições
Direção
63%
37%
Movimento com transferência
63%
37%
Transferência material
88%
12%
Transferência verbal/perceptual
88%
12%
Tipo de verbo
Tabela 1. Uso de preposições segundo o tipo de verbo
Entretanto, esses valores são maiores (88%) quando relacionados com os verbos
de transferência material e transferência verbal. Ao tratarmos dos verbos de direção e
de movimento encontramos uma menor porcentagem (63%), indicando que esses verbos
são mais permeáveis à variação.
Além dos quatro tipos de verbos acima destacados, foram levados em
consideração também os chamados verbos leves. São assim denominados os verbos
“com conteúdo mais gramatical que semântico, cuja função primordial é a de formar
predicados complexos, associando propriedades verbais (como tempo, por exemplo) a
seu complemento” (CYRINO, NUNES, PAGOTTO, no prelo). Têm-se como exemplos
desse tipo de verbo os seguintes casos, que não foram, porém, computados em nosso
estudo devido ao pequeno número de dados encontrado:
(1) Folgamos em registrar essa nova, por vermos resurgir a conceituada
aggremiação que muito relevo vem dar ao nosso meio esportivo. (Getulino,
1923)
(2) O que, entretanto, ao está muito certo é o barulho e vozerio que reina no
recinto do salão, dando má impressão ás familias que por ali passam. (Alfinete,
1918)
(3) Aberta a sessão que teve a presença de todas as associações locaes, o Sr.
Paulo dos Santos deu a palavra ao Sr. Luis Teixeira do B. Junior, que pelo
longo espaço de 45 minutos prendeu a attenção da assistência, numa graciosa
dissertação. (Getulino, 1923)
De acordo com o levantamento estatístico dos dados, podemos afirmar que há,
na correlação entre a natureza do complemento e o tipo de verbo, uma predominância
do uso da preposição a, assim como já era suposto. Ao examinarmos detalhadamente o
complemento de lugar, notamos que a maior parte dos dados está concentrada nos
verbos de direção, enquanto que, com os outros tipos de verbos, não há um número
significativo de dados, que foram, por isso, desconsiderados nesta análise. São
exemplos de verbos de direção os casos de (4) a (6).
(4) Com certas moças morrenas que vão na feira do largo do Arouche as 11
horas cavar laranjas. (Alfinete, 1918)
(5) O Ervaristo, com parte de tocar no cinema, sae cedo de sua casa e vai se
entocar no porão do n.o 34 da Avenida Cantareira, la com a Snr. Zayda. E
quando volta para casa é lá p’ras tantas, e reclamando ‘malvado cinema’ mas a
fita foi so para os dois verem. (Alfinete, 1918)
(6) A mai della é viúva sem encosto, e so vive das verduras que vende, e isso
pouco mesmo é para vestir e educar a filha. Mas esta em vez de estudar,
aproveita a occasião enquanto a velha vai ao mercado em compras de verduras
e fructas para tornar a vender, isto as 5 horas da manha a menina levanta-se e
vem ao portão para esperar o ‘Caio’. (Alfinete, 1918)
Observando os complementos que se referem a seres animados, notamos que há
também uma grande prevalência da preposição a, sendo seus valores quase que
categóricos. Entretanto, nenhum caso foi encontrado com os verbos de direção 1. É o
que se observa na tabela 2.
Preposição A
Outras preposições
Transferência material
96%
4%
Transferência verbal/perceptual
88%
12%
Tipo de verbo
Tabela 2. Uso de preposições com complementos [seres animados],
segundo o tipo de verbo.
Levando-se em conta, por fim, o complemento que exprime uma noção abstrata,
tem-se também uma maior quantidade de casos em que é utilizada a preposição a. Ou
seja, só houve casos de variação
complemento
com complementos concretos . São exemplos de
[noção abstrata] os casos (7) e (8), em que o complemento difere
claramente de um lugar ou um ser animado.
(7) A grande rivalidade entre brancos e negros nos Estados Unidos leva os
pretos a essas despezas, sendo de notar que os brancos nem ao menos querem
tomar parte nas obras. (Getulino, 1923)
(8) A monotonia daquella noite trazia desasocego em minha alma, não estva
acostumada a ver o cahir da noite na roça, aquelle espetaculo me enchia a alma
de tristeza, quanto saudade o meu coração occultava, (...). (Getulino, 1923).
1
Apresentamos nas tabelas resultados referentes aos fatores que mostraram um número estatisticamente
significativo de dados. Julgamos que fatores com menos de 10 ocorrências não permitem avaliações
conclusivas.
Quando levamos em conta o grau de concretude da situação e o tipo de verbo
podemos notar, como já esperado, a prevalência do uso da preposição a, sendo que em
alguns casos o seu uso se deu de forma quase que categórica. Nas situações concretas,
temos um total de 75% de dados referentes à preposição a, enquanto que nas situações
não-concretas, esse total é de 90%, tal como se observa na tabela 3.
Preposição A
Outras Preposições
Situação concreta
75%
25%
Situação não-concreta
90%
10%
Concretude da situação
Tabela 3 – Uso da preposição segundo o grau de concretude da situação
Nota-se com isso que, em situações concretas, o uso da preposição a diminui,
enquanto que as situações não-concretas apresentam um uso relativamente maior dessa
preposição. É importante dizer ainda que quase todas as ocorrências referentes às
situações não-concretas fazem uso da preposição a; entretanto, devido ao pequeno
número de dados encontrados, não realizamos o cruzamento entre esse fator e o tipo de
verbo.
Por estar nas situações concretas a maior concentração dos dados, cabe aqui
dizer que os verbos de direção, de transferência material e de transferência verbal são
os que apresentam os resultados mais significativos e expressivos. Seus valores,
referentes ao uso da preposição a, são, respectivamente, 63%, 86% e 88%, assim como
observado na tabela 4.
Preposição A
Outras Preposições
Tipo de verbo
Direção
63%
37%
Transferência material
86%
14%
Transferência verball
88%
12%
Tabela 4 – O uso de preposições segundo o tipo de verbo em situações concretas
Embora os verbos de movimento com transferência sejam os que possuem o
menor número de dados dentro desse cruzamento, é apenas com esse tipo de verbo em
situação não-concreta que encontramos o único caso em que a preposição a não é
utilizada, assim como vemos em (9).
(9) “A monotonia daquella noite trazia desasocego em minha alma, não estava
acostumada a ver o cahir da noite na roça, aquelle espetaculo me enchia a alma
de tristeza, quanto saudade o meu coração occultava, (...)”. (Getulino, 1923)
Ao analisar o grau de concretude da situação e
a natureza semântica do
complemento do verbo, temos, mais uma vez, como resultado o uso predominante da
preposição a. Em situações concretas e com o complemento lugar temos 60% de casos
em que essa preposição é utilizada; com o complemento animado, temos 93% dos casos
(cf. tabela 5). Não foi encontrado, porém, nenhum caso com complementos noção
abstrata.
Preposição A
Outras Preposições
60%
93%
40%
7%
Complemento do verbo
Lugar
Ser animado
Tabela 5 – O uso da preposição segundo o complemento do verbo em situações concretas
Já a situação não-concreta, quando relacionada com os complementos lugar e
animado, não apresentou nenhum caso em que são usadas as preposições até, em ou
para. São exemplos de situações não-concretas os casos de (10) a (13), sendo que o
primeiro mostra o complemento lugar e, os outros, o complemento animado.
(10) (...) visto que alem de tudo ainda taes arrucaceiros vão ao extremo de nos
ameaçarem, tentando, assim abafar a voz da nossa folha na publicacação do
triste acontecimento com que quizeram macular o nome de cidade culta tão
merecidamente dado a nossa terra. (Getulino, 1923)
(11) Que a Senhorita M. das D. V. da rua dos Bandeirantes n.o 26 que dedicava
grande amor a uma praça da F.P., de origem italiana, mas...o policia que não
estava por isso, deu-lhe o fora. (Getulino – 1923)
(12) Tome cuidado Sr. Vilalba, que que qualquer dia tomarás uma corrida que...
nunca mais quererás dedicar amores ás senhoritas da villa. O prego. (Alfinete,
1919)
(13) O “Alfinete” que é amigo de todos os homens pretos, em defesa destes,
acha de bom aviso que haja certa distincção, por parte da Directoria, no ingresso
de algumas damas que, além de serem alegres de mais, trazem más
consequencias á sociedade e ás pessoas que alli vão!). (Alfinete, 1921)
Nota-se, entretanto, que, quando relacionamos a situação não-concreta com o
complemento noção abstrata, um único caso é encontrado no qual outra preposição
diferente da a foi utilizada. Esse caso é o mesmo que citado em (9), o que nos mostra,
então, uma relação existente entre o tipo de verbo e seu complemento – movimento com
transferência e noção abstrata, respectivamente –, quando o fator comum é a
concretude da situação.
Diante disso, é possível estabelecer, também, uma outra relação desse tipo, agora
entre o tipo de verbo direção e o complemento lugar. Essa relação nos é mostrada
através das semelhantes porcentagens de cada um desses casos, já que o verbo de
direção, ao implicar um destino concreto (63% de preposição a), se refere a um lugar
também concreto (60% de preposição a).
Ao analisarmos o cruzamento feito entre os tipos de texto e os tipos de verbo,
encontramos também o uso predominante da preposição a, sendo que é nas notas
sociais que esses valores apresentam maior variação. A relação entre os anúncios e os
tipos de verbo nos revela o uso absoluto da preposição a, quando cruzada com os verbos
de direção e de transferência verbal. Nenhum caso foi encontrado com os verbos de
movimento com transferência e com verbos leves. O único caso em que os valores
mostram-se um pouco mais distribuídos ocorre com os verbos de transferência
material, em que 67% dos casos correspondem ao uso da preposição a. Isso acontece
devido ao baixo número de dados, estatisticamente não significativos para serem
levados em consideração.
Já as notas sociais, devido ao maior número de casos identificados, apresentam
um resultado de certa forma mais equilibrado, em que tanto a preposição a quanto as
outras são utilizadas, mesmo que o uso preferencial ainda seja daquela preposição. É
nos verbos de transferência material que encontramos a maior porcentagem (90%)
referente ao uso da preposição a. Seguem-no os verbos de transferência verbal e, logo
mais, os de direção, com 88% e 62%, respectivamente, tal como apresenta a tabela 6.
Preposição A
Outras Preposições
62%
90%
88%
38%
10%
13%
Tipo de verbo
Direção
Transferência material
Transferência verbal
Tabela 6 – O uso de preposições segundo o tipo de verbo e o tipo de texto
Por fim, as relações estabelecidas entre o “tipo de texto e natureza do
complemento” e “tipo de texto e o grau de concretude da situação” apresentaram
resultados de baixa significância, com um pequeno número de casos, principalmente no
que diz respeito aos anúncios. Essa é a justificativa então atribuída a esses resultados, já
que foi a baixa quantidade de dados encontrados nos anúncios dos jornais da Imprensa
Negra que impossibilitou a realização de uma análise mais profunda, quando o fator tipo
de texto está em evidência. Para tanto, como já mencionado anteriormente, adicionamos
ao estudo as notas sociais, que contribuíram, assim, para um estudo mais específico e
completo acerca das preposições selecionadas.
5. Conclusão
Diante de todos os dados aqui apresentados e levando em conta os objetivos
propostos no início deste trabalho, podemos concluir que os resultados obtidos estão de
acordo com as nossas primeiras expectativas.
Ficou evidente que, dentre as quatro preposições estudadas – a, até, em e para –
, foi a preposição a que apresentou maior freqüência de uso. Entretanto, foram
encontrados também casos em que as outras três preposições funcionam como
introdutoras de complemento dos predicadores selecionados,
embora em números
menores.
Levando-se em conta os fatores de natureza lingüística que explicam essa
distribuição, podemos afirmar que todos os fatores aqui selecionados – tipo de verbo,
natureza semântica do complemento, concretude da situação e tipo de texto – revelam o
uso predominante da preposição a, sendo que, entre eles, algumas especificidades
podem ser encontradas. Isso acontece, por exemplo, com o fator “concretude da
situação”, em que situações não-concretas revelam um maior uso desta preposição.
Dentre os tipos de complemento, é o animado que apresenta o maior número de casos
de preposição a.
Quanto aos fatores extralingüísticos, é possível atribuir o uso extremo da
preposição a ao fato de os negros tentarem aproximar sua fala da fala dos brancos,
aproximando-se, com isso, de uma língua mais padrão ou formal, imposta pelas
condições da época. Assim, podemos afirmar previamente que, apesar de constituírem
um grupo social diversificado daquele considerado como o de prestígio – composto por
brancos –, os negros e “produtores” deste tipo de jornal procuram fazer uso da norma
gramatical. Há, então, em suas produções fortes indícios de normatividade, empregados
talvez pela tentativa, por parte dos negros, de se equipararem aos brancos, conseguindo
assim uma posição de maior destaque e reconhecimento na sociedade.
Essa norma, ou padrão lingüístico, seguida pelos “jornalistas” da Imprensa
Negra é comprovada através do uso predominante da preposição a, aproximando-os,
então, daquilo que é mais formal e mais correto, assim como o estabelecido pelas
Gramáticas Tradicionais. Entretanto, apesar da prevalência desta preposição, há
também, principalmente nas notas sociais, o uso das outras preposições aqui estudadas
(até, em e para), o que mostra de certa forma um distanciamento da norma
estabelecida. Fica claro, assim, que apesar do uso freqüente daquilo que é tido como
“mais correto”, tem-se aqui o início de uma alternância, mesmo que isso implique na
criação de uma nova norma.
Quanto a isso, podemos empregar o conceito de norma social, que segundo
Alain Rey, “é objeto de conhecimento e de memória, recuperável nas variantes de um
mesmo esquema lingüístico.” (REY, 2001). Seu uso é definido como uma noção de
algum modo intermediária entre as de língua e de fala, como uma espécie de norma
secundária, permitida pelo sistema abstrato e superior da língua. Dessa forma, a língua é
composta por uma norma primária pertinente ao sistema, partindo dela uma norma
secundária, referente ao seu uso.
Assim, concluímos que a alternância no emprego das preposições, apesar de
ainda pequena, está presente nos textos dos jornais da Imprensa Negra, indicando a
possibilidade de substituição da preposição fraca – a – pelas preposições fortes – até,
em e para. Isso comprova a hipótese inicial de que há nesses textos um indício de
variação, porém, ainda em confronto com norma vigente na época.
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