Gabinete do Ensino Superior da Madeira O TÉCNICO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO Natureza do Trabalho Aos técnicos de conservação e restauro compete preservar a integridade física do património cultural, salvaguardando a sua autenticidade e o seu valor histórico e artístico. O objectivo do seu trabalho não é embelezar as peças ou obras em que estão a trabalhar, mas sim serem o mais fiéis possível ao autor e à sua obra, pelo que evitam proceder a alterações ou acrescentos e procuram sempre respeitar as características originais dessas peças ou obras (materiais, estilo, época, etc.). Procuram ainda que o restauro seja bastante duradouro. O seu trabalho envolve três actividades complementares: o exame técnico, a conservação e o restauro. Aquando do exame técnico, examinam as peças ou obras de arte por observação directa e/ou pela utilização de produtos químicos e aparelhos ópticos ou electrónicos. Elaboram simultaneamente uma ficha técnica com os elementos observados. A finalidade do exame técnico das peças ou obras é definir o seu significado histórico, a sua estrutura e componentes originais, a extensão e causas da sua deterioração, e ainda, as técnicas e materiais a utilizar de acordo com as suas características e estado de conservação. Na conservação das peças ou obras, procuram prevenir a sua maior deterioração através do controle das condições ambientais em que se encontram (grau de humidade, luminosidade, temperatura, etc.). Na execução do restauro, propriamente dito, começam por remover as tintas, vernizes, massas ou outros elementos que alterem o aspecto estético original dos objectos e procedem ao seu conserto, aplicando os materiais mais indicados e utilizando as técnicas e instrumentos adequados (microscópios, lupas, esfregões, pequenas escovas, ferramentas de carpintaria, etc.), a fim de lhes restituir o aspecto mais próximo do original. Ao longo do trabalho elaboram um relatório que regista o desenrolar de todo o processo e que pode incluir para além de registos escritos, fotografias e filmes. Para além de desempenharem estas funções, podem também ser responsáveis por desenvolver programas de conservação e restauro, prestar aconselhamento e assistência técnica aos proprietários de peças ou obras consideradas património cultural, produzir relatórios técnicos sobre esse património referindo o seu valor histórico, artístico e cultural, ou ainda coordenar projectos de investigação relacionados com a conservação e restauro. Estes profissionais podem reparar diversos tipos de peças e obras com valor histórico, artístico e cultural, tais como pinturas, pinturas murais, esculturas, monumentos, documentos gráficos (ex.: gravuras), têxteis, mobiliário, talha, cerâmica (ex.: azulejos, faiança, porcelana), vitrais ou objectos arqueológicos e etnográficos. Normalmente especializam-se na conservação e restauro de um determinado tipo de peça ou obra de arte. A utilização das novas tecnologias tem sido fundamental no desenvolvimento do trabalho destes profissionais, permitindo a aplicação de novas técnicas de detecção e análise de problemas nas peças ou obras. De facto, hoje em dia já não se concebe fazer o estudo de uma peça ou obra sem o auxílio das várias tecnologias disponíveis. Por exemplo, no caso da análise de uma pintura pode utilizar-se a luz rasante tangencial (para detectar o traço do artista e os problemas que a obra apresenta), a fluorescência no ultravioleta (para detectar intervenções posteriores), a luz monocromática de sódio (para identificar zonas de grande contraste ou indefinição), a reflectografia no infravermelho (para analisar as camadas mais próximas à superfície) ou ainda a radiografia (para averiguar o estado do suporte e a existência de mais do que uma pintura). Noutros casos, como por exemplo no restauro de pergaminhos, utilizam-se outras tecnologias como os raios laser. Na utilização de todas estas tecnologias, existe sempre a preocupação de detectar e evitar os seus possíveis efeitos secundários sobre os objectos. A aplicação das novas tecnologias implica conhecimentos que os técnicos de conservação e restauro podem não dominar, pelo que, normalmente, colaboram com os técnicos de laboratório e com os técnicos de fotografia e radiografia. Por outro lado, no decorrer da investigação sobre uma dada peça ou obra, por vezes, precisam de utilizar conhecimentos especializados de áreas, como por exemplo história da arte, desenho, física, química ou biologia, pelo que têm a necessidade de colaborar com especialistas dessas áreas. Actualmente, a tendência é para que o seu trabalho seja desenvolvido no âmbito de equipas multidisciplinares. Dadas as suas características, esta profissão exige uma grande capacidade de concentração e organização, bem como destreza manual. É também necessário possuir uma boa visão, pois é muito importante conseguir fazer uma boa distinção cromática quando se efectua o restauro. Fundamental é ser-se paciente, pois esta é uma actividade em que os resultados não são imediatos e, por vezes, pode-se estar anos a trabalhar na mesma peça ou obra. Emprego As oportunidades de trabalho dos técnicos de conservação e restauro concentram-se, sobretudo, na área da investigação, área em que se inclui a conservação e o restauro. Podem também trabalhar na área da coordenação/orientação de projectos de grande dimensão (como por exemplo, a recuperação de um monumento de grande envergadura), bem como na área de assessoria técnica a instituições ou a particulares. A arqueologia é outra das áreas que pode proporcionar algumas hipóteses de trabalho. Se até a alguns anos atrás a maioria destes profissionais trabalhava no sector público, integrados em organismos ou institutos da área da conservação e restauro, em bibliotecas ou em museus, actualmente isso já não se verifica. Esta situação explica-se pelo facto de nos últimos anos a admissão de pessoal neste sector ter sido diminuta. Hoje em dia, é o sector privado que cada vez mais emprega estes profissionais, sobretudo as pequenas empresas de restauro. Por outro lado, muitos dos técnicos que acabam a sua formação optam por abrir pequenos ateliers de conservação e restauro, juntamente com outros colegas. De um modo geral, o mercado de trabalho actual apresenta boas perspectivas de emprego para estes técnicos, já que a procura de mão-de-obra é superior à oferta. Tal facto deve-se principalmente a duas razões: por um lado, não existem ainda muitos profissionais formados nesta área, e por outro lado, continua a existir muito património que necessita de ser recuperado. Esta situação leva a que muitos destes profissionais estejam frequentemente sobrecarregados de trabalho, acumulando muitas vezes a situação de trabalhadores por conta de outrem e por conta própria. 1 Gabinete do Ensino Superior da Madeira A procura destes técnicos situa-se, maioritariamente, em Lisboa e no Porto. No entanto, existe necessidade destes profissionais um pouco por todo o país, com especial incidência nas regiões norte e centro, em grande parte devido à existência de "património religioso" (igrejas, mosteiros, capelas, etc.). Formação e Evolução na Carreira Inicialmente, os profissionais que enveredavam por esta área possuíam um curso de formação profissional, que abrangia a conservação e o restauro no seu todo ou numa área específica (ex.: pintura, escultura, têxteis, cerâmica, etc.). Actualmente, e paralelamente à existência de cursos de formação profissional ministrados por escolas profissionais, por serviços dependentes do Ministério da Cultura, por museus ou outras instituições, já existem bacharelatos para quem estiver interessado em seguir esta profissão, designadamente os seguintes: Ensino Público Bacharelatos Estabelecimentos Conservação e Restauro Fac. Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa Tecnologia em Conservação e Restauro Esc. Sup. de Tecnologia do Inst. Politéc. de Tomar Fonte: Guia da Candidatura de 1997 Para uma formação correcta nesta área estes bacharelatos devem abranger as componentes artística, técnica e científica da conservação e restauro. Por outro lado, devem incluir uma vertente prática para o desenvolvimento da sensibilidade e da habilidade manual, em paralelo com a aquisição de conhecimentos teóricos. A formação teórica poderá compreender matérias como história da arte e das civilizações, métodos de pesquisa e de documentação, materiais, teoria e ética da conservação, história e tecnologia da conservação e restauro, química, biologia e física dos processos de deterioração e dos métodos de conservação. É aconselhável que ao longo da vida profissional se frequente seminários, conferências ou cursos de especialização com o intuito de actualizar conhecimentos. Relativamente à evolução profissional dos técnicos de conservação e restauro, aqueles que trabalham no sector público estão integrados numa carreira própria e seguem a progressão na carreira que está prevista na lei. Após um estágio inicial de dois anos ingressam na categoria de técnico de conservação e restauro de 2ª classe, posteriormente podem passar para a categoria de técnico de conservação e restauro de 1ª classe e atingir, em topo de carreira, a categoria de técnico de conservação e restauro principal. Esta evolução processa-se de acordo com o mérito evidenciado, o tempo mínimo de serviço na categoria e a abertura de vagas. A evolução profissional no sector privado varia consoante as normas da entidade empregadora, sendo que no caso dos pequenos ateliers não existe propriamente uma carreira estruturada. Condições de Trabalho Os técnicos de conservação e restauro efectuam a maior parte do seu trabalho em laboratórios e oficinas, locais normalmente limpos, bem iluminados e arejados. Por vezes, têm de se deslocar ao local onde se encontra o objecto a recuperar, como é o caso da recuperação de fachadas de monumentos, estátuas ou pinturas murais, pelo que têm de trabalhar ao ar livre, sujeitos às mais diversas condições climatéricas. Em alguns casos, necessitam de estar muito tempo na mesma posição enquanto trabalham, o que pode originar alguns incómodos e até dores físicas. Habitualmente, estes técnicos não estão submetidos a situações de perigo para a saúde, porém, pode acontecer terem de trabalhar com produtos químicos que são inflamáveis ou tóxicos, pelo que recorrem, por exemplo, à utilização de máscaras e mangas de aspiração. O horário semanal habitual para aqueles que trabalham no sector público é de 35 horas. Os que trabalham no sector privado, têm o horário condicionado pelo volume de trabalho que existe na altura e pelos prazos a cumprir, podendo variar bastante. Perspectivas Assiste-se, actualmente, a uma crescente preocupação com a conservação e recuperação do património cultural por parte do sector público, nomeadamente por parte de algumas autarquias que apostam no turismo cultural como meio para o desenvolvimento local. Esta situação deixa antever a continuação de uma boa inserção destes técnicos no mercado de trabalho durante os anos mais próximos. A situação no mercado de trabalho para estes profissionais poderá ainda melhorar, tendo em conta dois factores: a possível abertura de vagas no sector público e um maior investimento financeiro na conservação e restauro por parte do sector privado. Algumas áreas de trabalho apresentam melhores perspectivas do que outras, havendo inclusivamente áreas em que se verifica, presentemente, um défice destes profissionais, como é o caso do restauro de talha ou de têxteis. Uma das áreas que provavelmente irá ter maior procura é a da conservação preventiva, pois começa-se agora a assistir a uma crescente preocupação com as condições ambientais em que a peça se encontra e que são a base da sua conservação. Contactos para Informações Adicionais Existem várias entidades que podem fornecer informações adicionais sobre esta profissão, nomeadamente: Instituto José de Figueiredo, R. das Janelas Verdes, 37, 1200 Lisboa, Tlf. 213929070. 2 Gabinete do Ensino Superior da Madeira 3