O MILAGRE JAPONÊS Por Diogo Azeredo da Silva Curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras do Porto História do Mundo Contemporâneo Prof. Armando Malheiro “O Milagres Japonês” Trabalho realizado por Diogo Azeredo da Silva, Turma 2 2 Índice Índice Introdução Contexto Pós-Guerra Conjuntura Favorável A Guerra Fria e a Ajuda Americana A Mentalidade Japonesa O seu Modelo Capitalista O “Boom” Económico Primeira Fase Plano Ikeda Segunda Fase O vigor do “milagre japonês” face à Crise Petrolífera O Antes e o Depois Conclusão Referências Bibliográficas 3 4 5 8 12 15 21 22 23 24 26 28 31 32 3 Introdução 1945 No final da Segunda Guerra Mundial, o Japão é um país militarmente vencido, politicamente submetido à ocupação americana e economicamente arrasado pela perda do vasto império colonial, destruição da marinha mercante e ruina do sector produtivo. 1970 O Japão é já a terceira economia mundial, em consequência de 20 anos de crescimento económico a uma taxa média anual de 15%. Como se explica que o Japão, 25 anos após a guerra, ocupasse o terceiro lugar no pódio da economia mundial, juntamente com os EUA e a URSS, e que, nos anos 90, ascendesse ao segundo lugar com o desmembramento da União Soviética? 4 Contexto Pós-Guerra A recuperação económica do Japão após a Segunda Guerra Mundial ficou conhecida como o “Milagre Japonês” dada as condições de partida acentuadamente desfavoráveis: • A Setembro de 1945, quando o imperador japonês anunciou a capitulação, as populações das cidade de Horishima e Nagasaki tinham sido arrasadas pela bomba atómica e o restante território, embora em menor escala, também sofrera a destruição da guerra. A frota mercantil, que era a terceira no mundo, tinha sido afundada; • No seguimento desta situação, em 1948, a produção agrícola diminuiu 60%, o consumo 55% e a produção industrial 65%, em relação aos anos antecedentes à Segunda Guerra Mundial; O ministro do exterior do Japão Mamoru Shigemitsu assina o original da rendição japonesa, no navio USS Missouride, a 2 de Setembro 1945. • Tornou-se impossível controlar a inflação e verificou-se a expansão dos mercados negros; 5 Contexto Pós-Guerra • Apesar de ter perdido 700 mil civis e cerca de 2 milhões de soldados durante a guerra, o Japão teve de suportar a pressão demográfica resultante do acolhimento de 6 milhões de japoneses repatriados da Manchúria, da Coreia e da Formosa (Taiwan) e pelo “babyboom” provocado pelo regresso dos soldados a casa. • Como resultado dos factos referidos anteriormente, a miséria e o desemprego aumentaram e o iene, a moeda nacional, deixou de ser cotado no mercado internacional, acrescido ainda o facto de que o Japão teve de pagar indemnizações de guerra, ficando, então, à mercê dos vencedores. • O Japão perdeu a soberania, ficando sob a autoridade dos EUA; • Sendo um país pobre em recursos naturais, o Japão tinha de importar quase a totalidade de carvão, petróleo e gás para a indústria; • A área cultivável do Japão era reduzida o que resultava em falta de géneros alimentares (ex: cereais); • O sistema social era rigidamente hierarquizado, submetido ao imperador e à nobreza. 6 Contexto Pós-Guerra O Japão do Pós-Guerra Privado das suas colónias e territórios dependentes fortemente destruídos (1/4 das cidades destruídas, 4/5 da frota afundada, 1/3 das máquinas inutilizáveis), obrigado a pagar pesadas indemnizações, tendo além disso de acolher 6 milhões de repatriados da Manchúria, Coreia e Formosa, o Japão conheceu, como a Alemanha e a Itália, o desemprego maciço, a penúria de mercadorias essenciais, a inflação e o mercado negro. No inverno de 1945-1946, a vida nas cidades foi muito difícil e, em 1948, o consumo apenas atingiu 55% do seu nível antes da guerra. M. Pacaut e P. Bouju, “O Mundo Contemporâneo”, p.417. A cidade de Nagasaki antes, à esquerda, e depois, à direita, do ataque com a bomba atómica, por parte dos Estados Unidos. 7 Conjuntura Favorável 1. GUERRA FRIA E A AJUDA AMERICANA O ambiente de Guerra Fria foi favorável ao desenvolvimento do Japão. Interessava aos EUA construir um Japão forte, com capacidade para resistir ao avanço do comunismo no Sudeste asiático. Por isso, a reconstrução económica do Japão constituiu uma preocupação imediata durante a ocupação americana sob a direcção do general MacArthur que: • Coordenou o Plano Dodge, um plano de ajudas financeiras e técnicas criado por Joseph Dodge, à semelhança do que aconteceu na Europa com o Plano Marshall; • Promoveu a democratização do país, através do restabelecimento das liberdades públicas e da aprovação de uma constituição que estabelecia o regime parlamentar em prejuízo da tradicional autoridade Imperial. Retirou competências ao imperador, transformando-o num cargo com funções sobretudo simbólicas. • Impôs uma reforma agrária, que passou pela expropriação das grandes propriedades senhorias e sua distribuição por antigos camponeses que se transformaram em novos e activos proprietários; 8 Conjuntura Favorável • Desmantelou as antigas indústrias bélicas, no seguimento da política de desarmamento e desmilitarização, e o potencial humano e técnico foi canalizado para o sector produtivo de bens de consumo. • Proibiu monopólios económicos que levou ao desmantelamento dos “zaibatsu” – conglomerados industriais e/ou financeiros do Império do Japão – em nome da “livre concorrência”. A eclosão da Guerra da Coreia, em 1950, provocou o reforço das preocupações com o crescimento do Japão por parte dos EUA, empenhados em constituir um forte aliado contra a China que se afirmava como nova potência socialista. Alguns sectores da indústria bélica são reactivados e passa a dar-se grande importância ao sector siderúrgico e metalomecânico, tendo em vista a economia de guerra imposta pelo conflito. Deste modo, com o fim da guerra da Coreia, em 1953, o Japão, de novo no exercício pleno da sua soberania como Estado, é já o grande fornecedor da reconstrução económica da Coreia do Sul. 9 Conjuntura Favorável Ainda no contexto da Guerra Fria, durante a Guerra do Vietname, uma grande parcela dos produtos consumidos pelas tropas norte-americanas foi fabricada no Japão. Isto impulsionou o crescimento industrial e económico, de forma praticamente ininterrupta durante duas décadas. Na segunda metade do século XX, o Japão tornou-se fornecedor de veículos e materiais bélicos para os Estados Unidos, que passaram a financiar a economia japonesa e a transferir tecnologia para o Japão, ao mesmo tempo que abriam sua economia às exportações japonesas. 10 Conjuntura Favorável Uma constituição moderna Nós, o Povo Japonês, através dos nossos representantes devidamente eleitos para a Assembleia Nacional, determinados a assegurar, para nós e para as gerações vindouras, os benefícios da cooperação pacífica com todas as nações e as bênçãos da liberdade e resolvidos a nunca mais viver os horrores da guerra em resultado de um acto do Governo, proclamamos que o poder soberano reside no povo e estabelecemos, firmemente, esta Constituição. […] Imperador Hirohito e General Douglas MacArthur numa foto tirada na Embaixada Americana no Japão, a 29 de Setembro de 1945. Capítulo I: O IMPERADOR […] Art.4: O Imperador praticará apenas os actos de Estado que lhe estão reservados pela Constituição e não interferirá nos actos do Governo. […] Capítulo II: RENÚNCIA À GUERRA Art.9: Aspirando sinceramente à paz internacional baseada na ordem e na justiça, o Povo Japonês renuncia, para todo o sempre, à guerra como um direito soberano da nação e à ameaça ou ao uso da força como meios de resolução de disputas internacionais. Para que este propósito seja cumprido não mais serão mantidas forças militares terrestres, navais ou aéreas. O direito de beligerância do Estado não será reconhecido. Constituição do Japão, aprovada a 3 de Novembro de 1946. 11 Conjuntura Favorável 2. A MENTALIDADE JAPONESA A originalidade da mentalidade da sua população, muito diferente da ocidental, foi também um importante factor de crescimento: • O elevado nível de educação – uma reforma educativa marcada pelos elevados níveis de exigência na formação de quadros e de trabalhadores altamente qualificados; • A mentalidade tradicional – marcada pela disciplina, obediência quase servil aos patrões e por um sentido de empresa único no mundo, caracterizado por um elevado espírito de dedicação, cumprimento de horários intensos, mesmo com sacrifício de interesses pessoais em detrimento dos interesses da empresa. Dinâmicos e austeros, completamente devotados à causa da reconstrução nacional e ao seu trabalho em particular, empresários e trabalhadores cooperam estreitamente na realização de objectivos comuns. Os lucros foram reinventados continuamente e, nos primeiros anos, os trabalhadores chegavam a doar à empresa os seus pequenos aumentos de salário para promover a renovação tecnológica. 12 Conjuntura Favorável Esta ligação afectiva entronca na tradição da japonesa no trabalho vitalício que transforma o patrão no protector dos seus funcionários, os quais, por sua vez, dedicam uma incondicional lealdade à empresa. Tais sentimentos foram incrementados pelos empresários nipónicos através de remunerações com base na antiguidade, da organização de tempos de lazer colectivos e de rituais diários em que o hino e símbolo da empresa assumem um lugar de destaque, como se pode observar no slide seguinte. Este sistema permitiu não só o aumento da produtividade e dos horários de trabalho (na década de 60, o japonês trabalhava, em média, mais 400 horas por ano que o europeu), como a manutenção de salários baixos e das reivindicações sindicais a um nível muito modesto. Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente e altamente competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de se formar na primeira sociedade de consumo da Ásia. 13 Conjuntura Favorável O Funcionário e a Empresa “De facto, é difícil no Japão abandonar o universo da empresa, mesmo fora das horas de trabalho. O empregado de uma grande firma habita normalmente num apartamento da empresa. Ao meio dia, almoça na cantina da empresa. E, à noite, depois das horas extraordinárias, não é raro ir tomar um copo com os seus colegas de trabalho. […] E quanto aos lazeres? É a empresa que os toma a cargo. Há clubes de xadrez, de passeios a pé, de golfe e, para as senhoras, cursos de cerimonial de chá ou de arranjos florais. […] Em relação às férias não existem problemas: é a empresa que as organiza. […] Mesmo o casamento de um funcionário é, de certo modo, apadrinhado pela empresa. A pessoa que arranja o casamento e preside à cerimónia é muitas vezes o chefe de serviço ou o director do funcionário e a maior parte dos convidados são colegas de escritório ou de oficina. Em tais circunstâncias, como admirarmo-nos que o funcionário tenha um forte sentido de lealdade para com a sua empresa?” Em “Cahiers du Japon”, 1981, Japan Echo/Ed.Sully. Ginástica matinal numa empresa de electrónica. Mais do que promover a saúde, este tipo de actividade visa aumentar a coesão do grupo e o seu empenho no trabalho. 14 Conjuntura Favorável 3. O SEU MODELO CAPITALISTA Para além das ajudas financeiras e técnicas disponibilizadas pelos Estados Unidos, os japoneses souberam também criar as condições necessárias à sua prosperidade: • Um sistema político excecionalmente estável (o Partido Liberal-Democrata manteve-se ininterruptamente no Governo após 1955) permitiu a atuação concertada entre o Governo e os grandes grupos económicos. • A intervenção inteligente e eficaz do Estado no incentivo das actividades económicas através de um regime fiscal favorável ao investimento e à entrada de capitais estrangeiros canalizados para a indústria moderna e para as novas tecnologias, sob iniciativa privada; • Importação de tecnologias estrangeiras, que eram aperfeiçoadas e adaptadas a uma indústria de ponta em grande desenvolvimento. Desta forma investiu-se menos tempo e recursos com a pesquisa e desenvolvimento - Engenharia Reversa dos Produtos Ocidentais. • Manutenção dos sectores económicos tradicionais – agricultura e artesanato onde o recurso à mão-de-obra abundante e mal paga superava as dificuldades da modernização; 15 Conjuntura Favorável • Coexistência de grandes e pequenas empresas: as primeiras ligadas às indústrias mais avançadas, procuram alcançar uma elevada produtividade, atraindo os melhores quadros profissionais; as segundas conseguiam ser competitivas devido à grande oferta de mãode-obra que se contentava com baixos salários. • Criação do MITI, Ministério de Indústria e Comércio Internacional, principal articulador da produção e cuja função era determinar os objetivos que deveriam ser atingidos pelas empresas japonesas, estabelecendo regulamentações e aplicando medidas protecionistas num progresso de “orientação administrativa”. Informava as empresas sobre as inovações existentes e as necessidades de mercado, fomentava a cooperação empresarial e reestruturava as empresas em dificuldades. O Estado interveio ativamente na regulação do investimento, na concessão de créditos, na proteção das empresas e do mercado nacional. Para além disso, canalizou a maior parte dos investimentos públicos para o setor produtivo e absteve-se em matéria de legislação social, libertando os empresários nipónicos de encargos com a Previdência. O fato de os acordos políticos de 1952 forçarem o Japão à contenção das despesas militares em 1% do PNB contribuiu igualmente para libertar recursos financeiros que foram aplicados no fomento económico. 16 Conjuntura Favorável Para além da intervenção do estado, a própria filosofia orgânica da produção industrial do seu modelo capitalista era uma originalidade japonesa. O “genuíno modelo japonês”, como é denominado, é composto por quatro grandes dimensões: • O sistema de emprego adotado pelas grandes empresas constituído por: a) O chamado emprego “vitalício”. Na realidade, não existe nenhum contrato “formal” sobre uma estabilidade permanente no emprego mas ela existe de facto, até à reforma aos 55 anos de idade. b) A promoção por tempo de serviço, onde o critério da antiguidade é central na remuneração dos trabalhadores. c) A admissão do trabalhador não é realizada para um posto de trabalho, mas para a empresa, num determinado cargo, ao qual corresponde um salário. • O sistema de organização do trabalho e produção – “Toyotismo”: ao contrário do modelo Fordista, que produzia muito e guardava em stock o excesso, só se produzia o necessário e, geralmente, por encomenda. 17 Conjuntura Favorável a) “Just-in-time”- produzir no tempo certo, na quantidade exacta, com uma quantidade de trabalho certa; b) “Kanban” – sistema de informações dos vários estágios de produção e de stocks. c) “Qualidade Total” – envolvimento dos trabalhadores para a melhoria da produção, inclusive participando com propostas de mudanças no processo de fabricação, a fim de obter melhor produtividade, redução de custos e melhor qualidade durante todos os momentos da produção. d) “Trabalho em Equipa” – a organização do trabalho está baseada em grupos de trabalhadores polivalentes que desempenham múltiplas funções, inclusive adotando como um dos critérios de avaliação para promoções e/ou aumentos salariais o rendimento da equipa a que pertence o trabalhador avaliado. • O sistema de representação sindical: sindicatos por empresa são integrados à política de gestão do trabalho; os cargos assumidos na empresa coincidem com o do sindicato. Desta forma, não são exactamente sindicatos de trabalhadores mas sindicatos de empresa e, portanto, não existem enquanto forma de organização e resistência ao oposição dos trabalhadores às práticas gerenciais. 18 Conjuntura Favorável • O sistema de relações interempresas: são relações muito hierarquizadas entre as grandes empresas e as pequenas e médias. Há uma posição de subordinação destas últimas que é institucionalizada por um “estatuto de dependência e fidelidade”, por níveis salariais diferentes. Esta forma de organização industrial baseado na forma Keiretsu, conjunto de empresas com relações comerciais e negócios interligados, articulados em redor de grandes bancos, permite que estes suportem as pressões do mercado global altamente competitivo e tenham sido um importante fator no crescimento da economia japonesa. 19 Conjuntura Favorável As bases do poderio económico japonês 20 O “Boom” Económico O autêntico milagre económico vivido pelo Japão, a partir da segunda metade dos anos 50, ficou patente, numa primeira fase, na rápida reconstrução urbana, na fundação de grandes complexos siderúrgicos e petroquímicos, na construção da maior frota de petroleiros do mundo e, numa segunda fase, na formação de novas e poderosas empresas de indústria automóvel e eletrónica, onde a produção era levada a efeito segundo os mais modernos processos de automatização e robotização. A sedução dos produtos da indústria japonesa. Com a sua intensa produção, conseguida a preços altamente competitivos, conquistaram os mercados asiáticos e inundaram a Europa e os EUA com os seus sofisticados produtos de alta tecnologia. 21 O “Boom” Económico PRIMEIRA FASE O primeiro “boom” da economia japonesa decorreu entre 1955 e 1961. Neste curto período, a produção industrial praticamente triplicou. Os investimentos do setor privado aumentaram quase 600% (de 317 para 2185 milhares de milhões de ienes) e os empresários entraram num autêntico frenesim de inovação. Os setores que, neste período, adquirem maior dinamismo são os da indústria pesada (construção naval, máquinas-ferramentas, química) e dos bens de consumo duradouros (televisores, rádios, frigoríficos, etc.). O comércio externo acompanha esta expansão: as exportações duplicam, assim como as importações necessárias ao abastecimento em matérias primas dos novos setores industriais. 22 O “Boom” Económico O Plano Ikeda Em 1960, o primeiro-ministro Hayato Ikeda, descrito por historiadores como a figura mais importante do rápido crescimento do Japão, apresentou o "Plano de Ikeda." Este plano esboçou a ambiciosa meta de dobrar a riqueza do país em dez anos e de um crescimento de 7,2% da economia nipónica, igualmente numa década. Ele detalhou uma série de passos concretos para alcançar esse fim: o investimento na educação e nas infraestruturas, foco nas exportações e a preferência pelas principais indústrias pesadas. Os economistas fora do Japão elogiaram os detalhes de Ikeda, mas afirmaram que nenhuma nação podia dobrar a sua riqueza em apenas dez anos. No entanto, a meta do Plano Ikeda foi atingido em apenas sete anos e, na segunda metade da década de 60, o crescimento da economia japonesa foi de 11,6%. Em 1948, Hayato Ikeda, futuro impulsionador da economia japonesa, cumprimenta Joseph Dodge, o obreiro do plano de recuperação nipónico após a II Guerra Mundial. 23 O “Boom” Económico SEGUNDA FASE Depois de um período de estagnação, no início dos anos 60, a economia japonesa conheceu um segundo surto de crescimento tão possante quanto o anterior. Entre 1966 e 1971, a produção industrial duplicou e criaram-se 2,3 milhões de novos postos de trabalho. Além do desenvolvimento dos setores clássicos, como a siderurgia, este surto de crescimento assenta, sobretudo, em novos setores, como a produção de automóveis, televisores a cores, aparelhos de circuito integrado, por exemplo. É nesta altura que os automóveis nipónicos invadem as estradas americanas, partindo, depois, à conquista da Europa. Em 1973, mais de 80% das câmaras de filmar, perto de 60% das máquinas de calcular e mais de 40 % das máquinas fotográficas produzidas no mundo eram de fabrico japonês. 24 O “Boom” Económico A economia japonesa em números: posição na economia mundial (1972) Crescimento da produção dos países mais desenvolvidos. 25 O vigor do “milagre japonês” face à Crise Petrolífera A década de 70 foi marcada pelo arrefecimento da euforia que tomava conta do progresso económico japonês. A primeira crise do petróleo foi uma espécie de teste ao vigor do “milagre japonês”. Bem como o resto do mundo, o Japão teve uma queda no seu nível de crescimento e chegou a apresentar taxas de inflação de 30% durante um bom período. Essa crise serviu como uma aprendizagem às elites dirigentes do país, que conseguiram diminuir os efeitos da segunda crise do petróleo, em 1978. Com uma política de incentivo às exportações, principalmente às de alto valor agregado (tecnologia intensiva), a economia reagiu bem ao aumento dos preços. O país diversificou suas fontes energéticas, diminuindo, pois, sua dependência de petróleo e derivados: tornou-se um dos países com um dos sistemas energéticos mais eficientes do mundo. No início da década de 80, o Japão viveu uma fase de liberalização financeira acelerada, sendo facilitada a entrada de capital estrangeiro nesse setor. 26 O vigor do “milagre japonês” face à Crise Petrolífera Além disso, as instituições japonesas expandiram-se incrivelmente, a ponto de inserir Tóquio entre as principais praças financeiras do mundo - ao lado de Nova York e Londres. Por fim, outra tendência dos anos 80 foi o estreitamento das relações do Japão com os países do Sudeste Asiático, tornando-o um líder regional. Com a valorização do iene, o processo produtivo interno japonês encareceu enormemente, de modo que a solução foi a transferência de algumas etapas da produção para países da ASEAN, como Brunei, Singapura, Filipinas, Malásia, Tailândia e Indonésia. Em menos de dez anos, de 1980 a 1989, os investimentos diretos japoneses na região tiveram um aumento de mais de 200%, saltando de 7 para 23 bilhões de dólares. Com a redução da taxa de juros básica da economia japonesa no início de 1986, iniciouse um processo especulativo no mercado de ativos (imobiliário e acionista). Houve um desvio do capital das poupanças para esses mercados, que levaria, mais tarde, o país a atravessar a sua mais longa recessão desde a Segunda Guerra Mundial. 27 O Antes e o Depois Acima, a atual vista panorâmica do Palácio Imperial Japonês, também conhecido por Palácio Imperial de Tóquio. À esquerda, Tóquio em 1945. Vista do Palácio Imperial (circundado de arvoredo) e da zona circundante destruída pelos bombardeamentos. 28 O Antes e o Depois Canal de Osaka e porto de Kobe, na década de 40 e atualmente. 29 O Antes e o Depois Cidade de Yokohama na década de 50 e na atualidade. 30 Conclusão A Segunda Guerra Mundial deixou em ruínas a economia japonesa mas o auxílio norteamericano, aliado ao esforço e mentalidade dos próprios japoneses, garantiu a recuperação económica. A ocupação americana estabeleceu as condições fundamentais da democracia constitucional e estabilidade sobre a qual os japoneses puderam construir uma economia em tempos de paz bem-sucedido. Conhecida como "milagre japonês", a recuperação da economia apoiou-se principalmente no rápido desenvolvimento de setores industriais, como a construção naval e a produção de equipamentos eletrónicos e fotográficos, mas setores tradicionais, como a indústria textil e a siderúrgica, também cresceram. O Japão torna-se na terceira potência mundial nos anos 70 e os seus produtos espalham-se pelo mundo a um ritmo alucinante. A influência cultural norte-americana e o desenvolvimento da economia e das tecnologias ditou o fim da família tradicional e determinou o desenvolvimento da família ocidental. O êxodo rural provocado pela industrialização provocou uma rutura entre as gerações e a dispersão das famílias. O aparecimento de megalópoles e género de vida urbano “fabricaram” o trabalhador assalariado, a pequena família torna-se o reflexo da nova política de natalidade apoiada pelo governo e nasce a sociedade de consumo, com o boom dos eletrodomésticos na década de 50. 31 Referências Bibliográficas Couto, C. e Rosas, M. (2010). O Tempo da História. Porto Editora. Diniz, M., Tavares, A. e Caldeira, A. (1997). História 9. Editorial o Livro. Espíndola, J. e Vergara, P. (2007). O Japão face à aliança norte-americana: a redefinição do papel japonês como liderança mundial. 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