1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Soletrando: como potencializar a educação informal via televisão digital SANCHES, Giovana RESUMO Este trabalho tem como objetivo discorrer acerca do quadro Soletrando, do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, e de suas viáveis possibilidades de contribuição educacional. Ademais, pretende-se sugerir alguns meios de potencializar esse tipo de educação via televisão digital tomando como referência a experiência de alguns educadores. Com bases nas opções de interação disponibilizadas no site do programa, são propostas formas semelhantes de interatividade que, tecnologicamente, serão possíveis pela TV digital interativa. PALAVRAS-CHAVE: Televisão digital. Educação informal. Interatividade. Soletrando. Introdução O direito do telespectador a uma programação que prime pela educação e pela cultura está garantido pelo Artigo 221 da Constituição Federal. Porém, a realidade das televisões comerciais, que dependem da audiência e da propaganda para se manterem, nem sempre condiz com a lei. O entretenimento é predominante e os poucos programas educativos costumam ser exibidos em horários em que a audiência é baixa. Apesar disso, alguns programas televisivos, mesmo que tenham o entretenimento como foco, acabam criando quadros com conteúdos educativos. É o caso do Soletrando, um campeonato nacional de soletração exibido pelo Caldeirão do Huck, da Rede Globo. Independente das reais motivações dos participantes – que concorreram, neste ano, a uma bolsa de estudos no valor de 100 mil reais – a contribuição do Soletrando no aprendizado da língua portuguesa é uma consequência relevante. Quadros 831 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP como esse, que utilizam-se de formatos dinâmicos e educativos, propiciam a aprendizagem dos concorrentes e, também, dos telespectadores. Em suas três edições, o Soletrando foi desenvolvido para a televisão analógica. Porém, os conteúdos disponibilizados no site do programa aprofundam o conhecimento sobre a língua portuguesa e aproximam os telespectadores da atração. Com base nesses conteúdos e pensando nesse potencial de interatividade do Soletrando, faz-se uma proposta de adaptação do programa para a televisão digital interativa. Antes disso, é feita uma descrição do quadro. Depois, esboça-se uma relação entre a televisão e a educação. Em seguida, faz-se uma abordagem sobre a TV digital no Brasil para, então, finalizar o projeto com a proposta citada. Soletrando “A gente tem uma protagonista, que é a língua portuguesa. Mas, é um programa de televisão pra pessoa se divertir em casa e, também, aprender alguma coisa de uma maneira divertida” (HUCK, 2009, p.04). O Caldeirão do Huck é um programa semanal de auditório, que vai ao ar todos os sábados, apresentado por Luciano Huck. Dentre seus diversos quadros, destaca-se o Soletrando. Criado em 2007, o quadro é um concurso nacional de soletração voltado para os alunos do ensino fundamental da rede pública e realizado anualmente. As fases eliminatórias servem para definir um representante de cada estado brasileiro. Posteriormente, esses 27 alunos participam de outras etapas, realizadas no palco do programa, até que três concorrentes fiquem para a disputa final. 832 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Durante todo o torneio realizado no estúdio da atração, o professor Sérgio Nogueira, juntamente com um artista convidado, é quem faz o papel de juiz. São eles quem auxiliam os competidores, que podem pedir um sinônimo da palavra sorteada, sua definição ou colocação numa frase. Após a soletração, são eles, também, que dizem se o aluno acertou ou errou a palavra sorteada e dão uma explicação sobre ela. Sobre o papel de um artista nesse cenário, Huck explica: Sempre teve um lado pop do Soletrando que acho importante pra você não achar que a língua portuguesa precisa ser uma coisa carrancuda, chata. Tem muita gente que o Brasil admira por outras manifestações artísticas e que também gosta muito e entendem muito da língua portuguesa. Foi assim com Tony Belloto, com Gabriel, O Pensador e a Sandy (HUCK, 2009, p.04). O aluno vencedor do Soletrando recebe uma bolsa – que neste ano foi de 100 mil reais – para concluir seus estudos até a universidade e sua escola também recebe prêmios. É provável que esse seja o principal chamariz para os estudantes que se inscrevem. Mas, independente disso, o fato é que, a cada ano, aumenta o número de alunos inscritos nesse torneio da língua portuguesa. Este ano, foram 2.189 escolas inscritas e não é um processo simples. (...) A gente atendeu essas mais de duas mil escolas, conversou com todos os diretores, mandou um kit do Soletrando pra todas as escolas e elas fazem as suas seletivas. A gente tem que pegar esses vencedores e levar para as capitais pra fazer um evento grande (HUCK, 2009, p.04). Além do interesse por participar do programa, o nível de instrução dos concorrentes também aumentou (HUCK, 2009, p.04). Por isso, a forma com que as palavras da competição foram escolhidas teve que passar por uma 833 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP reformulação. Primeiramente, o professor Sérgio Nogueira faz um processo de seleção de vocábulos que calibra o grau de dificuldade. Depois, um software é abastecido com essas palavras e, de maneira randômica, ele distribui essas palavras por níveis. Como bem salienta Huck (2009, p.04), “No primeiro programa foram criados três níveis de palavras: fáceis, médias e difíceis. No ano passado, nós criamos as dificílimas porque o pessoal era muito preparado. E, este ano, criamos as ‘derrubativas’ porque todo programa tem que ter um vencedor”. Durante toda a edição do Soletrando, reportagens especiais sobre cada participante e etapas realizadas ao vivo no palco do Caldeirão do Huck são o fio condutor de cada exibição do quadro. Porém, algo que já é comum na maioria dos programas de TV tornou-se um dos diferenciais da atração: a interatividade pela internet. No site do programa (http://caldeiraodohuck.globo.com) há um link que leva ao universo do Soletrando. Para aqueles que gostam da atração e desejam aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, há diversas possibilidades de interação. Essas serão descritas mais adiante quando a proposta de adaptação para a televisão digital interativa for elucidada. Televisão: um educador em potencial “Muitas são as formas de educar e ser educado. Ligar a televisão é uma delas” (BEZERRA, 1999, p.113). Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2008), 95,1% dos domicílios brasileiros possuem aparelho televisor. Como bem afirma Bezerra (2006), “O brasileiro ama e odeia a TV que consome. Reclama da programação, mas, entra semana sai semana, lá 834 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP estamos todos aboletados na frente da TV”. Esse índice do IBGE legitima o rótulo de que a televisão é um veículo de comunicação de massa. E justamente por ser um veículo de grande abrangência no Brasil, as emissoras de televisão deveriam sempre estar atentas ao que colocam no ar. De acordo com Bezerra (1999, p.25), “Essa é a principal questão quando avaliamos o papel social da TV: a qualidade do que é apresentado como informação e lazer que, na realidade, é recebido como educação e cultura pela sociedade”. Então, se todos esses lares tivessem acesso a uma programação de qualidade, a contribuição da mídia televisiva na educação informal dos telespectadores seria bastante abrangente. Segundo definiu Bates (apud JOLY, 2003, p.08), “A educação informal é aquela que acontece durante a vida toda e permite que os indivíduos adquiram conhecimento das experiências diárias, incluindo o aprendizado em casa, no trabalho, com amigos e mídias”. Nesse contexto, acredita-se que o quadro Soletrando pode influenciar positivamente na educação dos telespectadores. Como o próprio apresentador do programa Caldeirão do Huck enfatizou, “O Soletrando não pretende ser um programa didático, educacional” (HUCK, 2009, p.04). Mas, no que tange a educação informal, o quadro é um bom exemplo de colaboração para a aprendizagem tanto dos participantes quanto dos que o assistem. Na opinião da pedagoga Cocato, É um programa interessante, até educativo. Acredito que resgata a Língua Portuguesa num momento em que ela anda tão esquecida (a tecnologia trouxe o ‘internetês’, por exemplo). As crianças que participam e, quem assiste, sempre estão aprendendo, além de ser um bom incentivo para a continuidade nos estudos (COCATO, 2009). A mídia é um dos poucos instrumentos capaz de colaborar na democratização da educação em nosso país (BEZERRA, 1999, p.117). Não se 835 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP propõe que haja nenhum tipo de revolução. Mesmo porque, atentando para os reais interesses das emissoras de televisão - principalmente as comerciais -, imagina-se que isso seja utópico. Contudo, quanto maior o número de programas que tenham algum tipo de conteúdo educativo - ao menos informal , mais os telespectadores serão influenciados positivamente e ganharão informações que o levem a aumentar o seu conhecimento. Conforme descreve Cocato (2009), “Numa pesquisa feita em minha sala de aula, as crianças passam grande parte do dia em frente à TV. Isso quer dizer que, na escola, por exemplo, elas reproduzem o que assistem na TV. Por isso a importância de uma TV de qualidade”. De acordo com a experiência de alguns professores entrevistados para este trabalho, a relevância educacional do quadro Soletrando – mesmo que seja uma consequência e não o objetivo do programa – é notável. A pedagoga Baldessini (2009) relata já ter utilizado o jogo televisivo como didática de ensino em sala de aula: “Meus alunos fazem parte do processo de alfabetização e, com o uso de palavras que utilizam no seu cotidiano, adequadas ao seu nível de escolarização, já simulei o jogo em sala. Além de ser extremamente motivador, desenvolve a atenção e concentração”. Aproveitando o sucesso do quadro, a Rede Globo lançou um jogo que simula a competição. Esse brinquedo também pode ser útil no processo de aprendizagem das crianças, conforme conta Cocato (2009): “Uma aluna ganhou o jogo e o levou para a jogarmos na aula. Como eles estão em idade de alfabetização, brincando puderam aprender palavras novas e ter um contato cada vez maior com o dicionário”. Além disso, alguns educadores desenvolvem simulações da competição, em suas escolas, para estimular o estudo da língua portuguesa e, também, promover a socialização entre alunos, professores e pais. O professor de português Lopes (2009) passou por uma experiência desse tipo: Fiz um Minisoletrando na escola. Vi que a criança se aproximou mais do dicionário. Vi, também, o esforço dos professores que instruíam os participantes, da direção da 836 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP escola, dos pais dos participantes e, principalmente, dos alunos (LOPES, 2009). Assim, crianças e adultos tendem a ser beneficiados com programas televisivos que atendam àquele tão citado - mas nem sempre cumprido - Artigo 221 da Constituição do Brasil. O Soletrando mostra-se uma atração midiática capaz de proporcionar um tipo de aprendizagem mais prazerosa e significativa por meio do lúdico (BALDESSINI, 2009). Por isso, são necessários projetos que foquem esse tipo de conteúdo e contribuam para sugerir melhoras na educação pelos meios de comunicação. A TV digital no Brasil “A TV digital pode ser uma ferramenta de inclusão social, oferecendo mais informação e propiciando maior acesso ao conhecimento” (MONTEZ; BECKER, 2005, p.38). No mesmo ano em que esse quadro analisado foi criado, 2007, uma nova mídia passou a fazer parte, oficialmente, do Brasil: a televisão digital. De acordo com Amaral e Pacata, A integração do sistema clássico da TV com o mundo das telecomunicações da informática, onde a internet possibilita a interação e navegação, fez surgir a nova televisão, a TV digital interativa (AMARAL; PACATA, 2003, p.02). 837 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Foi com a expansão da internet, no início da década de 1990, que um novo cenário começou a ser delineado. Com acesso rápido a qualquer conteúdo e de qualquer parte do mundo, os telespectadores começaram a dividir seu tempo em frente à televisão com o computador pessoal. Esses fatores foram algumas das causas que levaram aos efetivos estudos sobre a televisão digital interativa. Os Estados Unidos, a Europa e o Japão foram os primeiros a desenvolverem padrões de televisão digital que suprissem as suas respectivas necessidades. São eles, respectivamente: ATSC (Advanced Television Systems Committee), DVB (Digital Video Broadcasting) e ISDB (Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial). Quando o Brasil decidiu iniciar as pesquisas para escolher o sistema de TV digital mais adequado à realidade do país, foi definido, segundo o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), que esse deveria ter: baixo custo e firmeza na recepção; flexibilidade para que as emissoras possam escolher esquemas de programação e modelos de negócio de acordo com sua conveniência e dos consumidores; interatividade e promoção de novas aplicações à população, proporcionando educação e cultura. No final da década de 1990, um grupo formado pela Sociedade de Engenharia de Televisão e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Grupo SET/ABERT), juntamente com outro grupo composto por 17 emissoras de televisão e o CPqD, iniciaram os testes dos padrões de TV digital. Em 2003, os trabalhos para a definição de um padrão nacional foram impulsionados pela criação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) por meio do Decreto nº 4901. Depois de um intenso processo, ficou definido que o padrão japonês (ISDB), com algumas adaptações, seria o mais adequado para o Brasil. Dentre essas adaptações estão o sistema de compressão de produtos audiovisuais (MPEG-4), o sistema operacional (middleware) e aplicativos (como softwares, por exemplo). Assim, o então 838 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva assinou o Decreto nº 5.820 que Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T, estabelece diretrizes para a transição do sistema de transmissão analógica para o sistema de transmissão digital do serviço de radiodifusão de sons e imagens e do serviço de retransmissão de televisão, e 1 dá outras providências . Dentre as diversas possibilidades que a TV digital vai proporcionar, uma das ferramentas que mais desperta expectativa na audiência é a interatividade, em que os indivíduos poderão participar da programação das emissoras por meio de um controle remoto específico e de um canal de retorno2. Segundo Montez e Becker, A interatividade de um processo ou ação pode ser descrita como uma atividade mútua e simultânea da parte dos dois participantes, normalmente trabalhando em direção de um mesmo objetivo (MONTEZ; BECKER, 2005, p.50). Mas, para que a interatividade seja possível, é necessário que o televisor digital ou a set-top box3 tenha uma camada de software específica denominada middleware. No SBTVD-T, o middleware recebeu o nome de Ginga. “O middleware é um software que oferece uma série de facilidades para o desenvolvimento de conteúdo e aplicativos 1 Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5820.htm>. Acesso em: 12 out. 2009. 2 Caracteriza-se como algo que possibilita a interação entre o usuário e a emissora, onde ambos podem trocar informações. Como exemplo, cita-se a internet banda larga e o celular. 3 Caixa que converte os sinais analógicos em digitais e podem ter um software que possibilita a interatividade. 839 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP para TV Digital, entre elas a possibilidade desses conteúdos serem exibidos nos mais diferentes sistemas de recepção, independente do fabricante e tipo de receptor (TV, celular, 4 PDA’s, etc.)” . Até o momento, no entanto, a TV digital ainda não é interativa. Isso porque o Ginga, apesar de ter tido sua versão NCL aprovada e recomendada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT)5, ainda não foi disponibilizado para ser comercializado em aparelhos digitais. Ademais, o Fórum SBTVD-T escolheu o padrão JavaDTV, que utiliza a linguagem Java, para compor o padrão nacional do Ginga junto com o sistema NCL. Aguarda-se que a UIT também aprove o Ginga-Java (ou Ginga-J) como uma linguagem compatível com middlewares de todo o mundo. Interatividade: da internet para a TV “A TV Digital Interativa é um meio de disseminação de informação dirigida à educação” (WAISMAN, 2002, p.01). Até o momento, na prática, a interatividade ainda é incipiente. Qual será o canal de retorno específico do SBTVD-T e como vai ficar o modelo de negócios das emissoras com a interatividade são algumas das questões que ainda se encontram sem respostas. Assim, diante desse atual estágio da 4 Disponível em: <http://www.softwarepublico.gov.br>. Acesso em: 22 set. 2009. 5 Em 29 de abril de 2009, depois de analisar algumas propostas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a UIT aprovou e recomendou o Ginga-NCL para aplicações interativas em IPTV (Internet Protocol Television - tecnologia para transmissão de sinais de TV e outras mídias utilizando conexão banda larga). 840 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP televisão digital brasileira, são necessários o desenvolvimento de estudos e a criação de hipóteses sobre conteúdos para programas interativos-televisivos. Com relação ao foco do trabalho – o quadro Soletrando – algo que já é comum na maioria dos programas de TV tornou-se um dos diferenciais da atração: a interatividade pela internet. No site do programa (http://caldeiraodohuck.globo.com) há um link que leva ao universo do Soletrando para que os interessados possam aprofundar seus conhecimentos sobre o tema. Analisando essas possibilidades de interação e pensando num cenário ideal de televisão digital, propõe-se que elas sejam adaptadas a essa nova mídia. Nesse cenário, considera-se que os interagentes estejam no nível 7 de interatividade. Este nível, como definiram Montez e Becker (2005, p.54), é aquele em que acontece a interatividade plena. O interagente6 pode, dentre outras coisas, gerar conteúdos para serem exibidos pelas emissoras. Isso pode ser feito por meio de um recurso denominado Enhanced TV que agrega, aos programas existentes, elementos informativos que podem ser acessados por um controle remoto específico de um televisor digital ou set-top box. Além disso, o interagente poderá lançar mão de outros recursos multimídias – como a webcam, por exemplo – para efetivar sua participação no programa. A fim de que esse ambiente seja melhor compreendido, descreve-se as propostas de interatividade para a TV digital adaptadas do site do programa. *Bastidores As entrevistas de bastidores, disponíveis no site, mostram curiosidades sobre os participantes e sobre as etapas do jogo, aproximando mais os interagentes do cenário e dos competidores. Na TV digital interativa, essa opção poderia ser disponibilizada ao final da exibição de cada etapa. A cada 6 Define-se como interagente o telespectador que, com a TV digital interativa, não ficará mais passivo diante dos conteúdos exibidos e poderá interagir com eles. 841 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP sábado, por meio do controle remoto específico, poderiam ser acessadas as entrevistas relacionadas aos alunos que participaram naquele dia. *Regras Há um espaço que descreve as regras do jogo minuciosamente, permitindo que as pessoas se inteirem do regulamento e possam entender melhor a competição. Por meio da televisão, essa opção poderia ser acessada antes do início do jogo ou a qualquer momento em que o interagente tivesse dúvidas e quisesse consultar as regras. Um ícone indicando a interatividade disponível apareceria no canto do vídeo e daria acesso a esse conteúdo selecionado por meio do controle remoto. *Replay Em outro local, conforme as eliminatórias vão acontecendo, o site vai sendo atualizado com um resumo sobre o que aconteceu em cada etapa. Dessa forma, quem não conseguiu assistir ao programa na televisão, pode rever seus principais momentos. Essa opção poderia ser organizada em forma de mosaico, na TV, separando os vídeos pela data de exibição. Caso o programa que o interagente gostaria de assistir já tivesse expirado, ele poderia requisitá-lo pela forma de vídeo sob demanda. *Saiba Mais O professor Sérgio Nogueira (jurado fixo em todas as edições do quadro) tem um blog no site do Soletrando. Nesse blog, ele coloca textos relacionados às palavras sorteadas nas fases da competição tirando as possíveis dúvidas dos telespectadores. Na edição deste ano, foram incluídos 842 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP verbetes modificados com a nova reforma ortográfica da língua portuguesa – os quais ainda geram muitas incertezas. Em seu blog, o professor Sérgio Nogueira também dá explicações sobre a nova ortografia. Na adaptação para a TV Digital, esse link seria atualizado posteriormente à exibição do programa. Dessa forma, os interagentes teriam tempo para enviarem suas dúvidas por email ou vídeo gravado por uma webcam, por exemplo. Essas dúvidas passariam por um filtro, feito pela emissora. Depois, as perguntas selecionadas seriam respondidas pelo professor Sérgio Nogueira e disponibilizadas no espaço do programa. *Vamos jogar? Ainda no site, também é disponibilizado um jogo que simula a disputa do Soletrando tal qual na televisão. Em sua adaptação para a TV digital, esse jogo poderia ser baixado pelo interagente para que pudesse brincar quando quisesse. *Sugestões No site do Soletrando, além dos espaços disponibilizados para o envio de comentários, uma novidade aumentou a participação dos telespectadores no programa. Na edição deste ano do jogo, os telespectadores tinham a possibilidade de enviar sugestões de palavras que gostariam que fossem soletradas pelos competidores. O mesmo poderia ser feito pela TV digital, mudando apenas a plataforma. 843 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP Considerações Finais “Assim, utilizando as grades de programação de todas as emissoras do país para a difusão sistemática de programas criados a partir de temas e conceitos educativos, transformaríamos a comunicação de massa via TV num conjunto de políticas públicas de interesse social na área da educação” (BEZERRA, 1999, p.67). Elaborar uma proposta de conteúdo que contribuísse para a difusão da educação via TV digital; potencializar a educação informal por meio do quadro Soletrando, do Caldeirão do Huck, sugerindo adaptações da internet para a TV digital interativa; defender a hipótese de que programas televisivos como esse podem colaborar na formação educacional dos telespectadores (ou interagentes, no caso da TV digital). Esses foram os objetivos desse artigo que, na prática, podem ser confirmados ou refutados. Porém, no atual momento, o mais importante é pesquisar e apontar possíveis caminhos para os conteúdos dessa mídia que ainda gera tantos questionamentos: a TV digital interativa. Analisando a afirmação citada acima, julga-se fundamental ressaltar a importância de programas com conteúdos educativos nas grades das emissoras nacionais. O Soletrando, por mais que não tenha a pretensão de ser educativo, contribui para dinamizar o ensino da língua portuguesa nas instituições dos professores entrevistados. Não foi realizada nenhuma pesquisa para definir a abrangência com que isso acontece (esse pode ser o próximo passo do projeto). Porém, levando-se em consideração que os entrevistados aprovam o quadro e o consideram um incentivador na aprendizagem do idioma nacional, iniciam-se algumas reflexões sobre o papel da mídia televisiva como contribuinte para a educação informal dos telespectadores - ou interagentes. Com base nessa hipótese e visando sugerir conteúdos educativos e interativos para a televisão digital, analisou-se o site do jogo Soletrando transpondo suas interações para uma plataforma de TV interativa. É provável 844 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP que, enquanto não for definido um novo formato para programas interativos de TV, as emissoras devem tomar a internet como base para suas criações (da mesma forma que, historicamente, a TV analógica, em seus primórdios, copiava os formatos de programas dos rádios, o veículo que a antecedeu). Assim, pensando na prática televisiva, na abrangência desse veículo e nos possíveis contornos que a TV digital interativa pode assumir, fica essa proposta. Por que não se valer de programas bem-sucedidos para transpor algum tipo de educação pela TV? Por que não explorar a interatividade como ferramenta de construção do conhecimento? Os instrumentos estão à disposição. As ideias existem. Que sejam, então, passíveis de execução. Referências bibliográficas AMARAL, Sérgio Ferreira do; PACATA, Daniel Moutinho. A TV Digital interativa no espaço educacional. Jornal da Unicamp, Campinas, ed. 229, p.2, 15-21 set. 2003. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2003/ju229pg2b.ht ml>. Acesso em: 12 out. 2009. BALDESSINI, Ana Claudia Gallo Fagnani. Perguntas para Trabalho [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 16 out. 2009. BEZERRA, Wagner. Manual do telespectador insatisfeito. São Paulo: Summus, 1999. (Novas buscas em comunicação. v. 61). ______. Revolução pela educação, tudo ou nada a ver. Observatório da Imprensa, ed. 400, 26 set. 2006. Disponível em: <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=400IPB001>. Acesso em: 10 out. 2009. BRASIL. Decreto nº 5820, de 29 de Junho de 2006. Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T, estabelece diretrizes para a transição do sistema de transmissão analógica para o sistema de transmissão digital do serviço de radiodifusão de sons e imagens e do serviço de retransmissão de televisão, e dá outras providências. Disponível em: 845 1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP <https://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5820.htm>. Acesso em: 12 out. 2009. BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil: Título VIII, Capítulo V, Artigo 221. Disponível em: <http://www.fenaj.org.br/arquivos/constituicao_brasileira__comunicacao_social_-_ate_28-09-05.doc>. Acesso em: 10 out. 2009. COCATO, Dalitha Parize. Dá, leia, por favor! [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 17 out. 2009. CPqD. Disponível em: <http://www.cpqd.com.br>. Acesso em: 12 out. 2009 HUCK, Luciano. As novidades do Soletrando 2009. Revista Guia da TV, Bauru, ano 03, n. 104, p. 04, mar. 2009. Entrevista concedida a E. Martins. JOLY, Ana Vitória. Programação educativa destinada à televisão interativa. In: Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação. Monografia (apresentada no Departamento de Artes e Comunicação) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2003. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=joly-vitoria-programacaoeducativa-televisao-interactiva.html>. Acesso em: 22 set. 2009. LOPES, Paulo Henrique da Silveira. Perguntas – Televisão e Educação [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 14 out. 2009. MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir. TV digital interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil. 2. ed. rev. e ampl. Florianópolis: EdUFSC, 2005. 201 p. PNAD. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultnot/infografico/2009/09/18/ult3224u134.jhtm>. Acesso em: 15 out. 2009. SOFTWARE PÚBLICO. Disponível em:<http://www.softwarepublico.com.br>. Acesso em: 22 set. 2009. SOLETRANDO. Disponível em: <http://caldeiraodohuck.globo.com/Soletrando/0,,10426,00.html>. Acesso em: 12 out. 2009. WAISMAN, Thais. TV digital interativa na educação: afinal, interatividade para quê? In: IX Congresso Internacional de Educação a Distância, 2-4 set. 2002, São Paulo. Disponível em: <http://www.tabuleirodigital.com.br/twiki/pub/GEC/EscoladoFuturo/TVDigital_Ta is.doc>. Acesso em: 22 set. 2009. 846