Soletrando: como potencializar a educação informal via

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1º Simpósio Internacional de Televisão Digital (SIMTVD) – 18 a 20 de novembro, Bauru/SP
Soletrando: como potencializar a educação informal via televisão digital
SANCHES, Giovana
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discorrer acerca do quadro Soletrando, do
programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, e de suas viáveis possibilidades
de contribuição educacional. Ademais, pretende-se sugerir alguns meios de
potencializar esse tipo de educação via televisão digital tomando como
referência a experiência de alguns educadores. Com bases nas opções de
interação disponibilizadas no site do programa, são propostas formas
semelhantes de interatividade que, tecnologicamente, serão possíveis pela TV
digital interativa.
PALAVRAS-CHAVE: Televisão digital. Educação informal. Interatividade.
Soletrando.
Introdução
O direito do telespectador a uma programação que prime pela educação
e pela cultura está garantido pelo Artigo 221 da Constituição Federal. Porém, a
realidade das televisões comerciais, que dependem da audiência e da
propaganda para se manterem, nem sempre condiz com a lei. O
entretenimento é predominante e os poucos programas educativos costumam
ser exibidos em horários em que a audiência é baixa.
Apesar disso, alguns programas televisivos, mesmo que tenham o
entretenimento
como
foco,
acabam
criando
quadros
com
conteúdos
educativos. É o caso do Soletrando, um campeonato nacional de soletração
exibido pelo Caldeirão do Huck, da Rede Globo. Independente das reais
motivações dos participantes – que concorreram, neste ano, a uma bolsa de
estudos no valor de 100 mil reais – a contribuição do Soletrando no
aprendizado da língua portuguesa é uma consequência relevante. Quadros
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como esse, que utilizam-se de formatos dinâmicos e educativos, propiciam a
aprendizagem dos concorrentes e, também, dos telespectadores.
Em suas três edições, o Soletrando foi desenvolvido para a televisão
analógica. Porém, os conteúdos disponibilizados no site do programa
aprofundam o conhecimento sobre a língua portuguesa e aproximam os
telespectadores da atração. Com base nesses conteúdos e pensando nesse
potencial de interatividade do Soletrando, faz-se uma proposta de adaptação
do programa para a televisão digital interativa. Antes disso, é feita uma
descrição do quadro. Depois, esboça-se uma relação entre a televisão e a
educação. Em seguida, faz-se uma abordagem sobre a TV digital no Brasil
para, então, finalizar o projeto com a proposta citada.
Soletrando
“A gente tem uma protagonista, que é a língua portuguesa.
Mas, é um programa de televisão pra pessoa se divertir em
casa e, também, aprender alguma coisa de uma maneira
divertida” (HUCK, 2009, p.04).
O Caldeirão do Huck é um programa semanal de auditório, que vai ao ar
todos os sábados, apresentado por Luciano Huck. Dentre seus diversos
quadros, destaca-se o Soletrando. Criado em 2007, o quadro é um concurso
nacional de soletração voltado para os alunos do ensino fundamental da rede
pública e realizado anualmente. As fases eliminatórias servem para definir um
representante de cada estado brasileiro. Posteriormente, esses 27 alunos
participam de outras etapas, realizadas no palco do programa, até que três
concorrentes fiquem para a disputa final.
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Durante todo o torneio realizado no estúdio da atração, o professor
Sérgio Nogueira, juntamente com um artista convidado, é quem faz o papel de
juiz. São eles quem auxiliam os competidores, que podem pedir um sinônimo
da palavra sorteada, sua definição ou colocação numa frase. Após a
soletração, são eles, também, que dizem se o aluno acertou ou errou a palavra
sorteada e dão uma explicação sobre ela. Sobre o papel de um artista nesse
cenário, Huck explica:
Sempre teve um lado pop do Soletrando que acho importante
pra você não achar que a língua portuguesa precisa ser uma
coisa carrancuda, chata. Tem muita gente que o Brasil admira
por outras manifestações artísticas e que também gosta muito
e entendem muito da língua portuguesa. Foi assim com Tony
Belloto, com Gabriel, O Pensador e a Sandy (HUCK, 2009,
p.04).
O aluno vencedor do Soletrando recebe uma bolsa – que neste ano foi
de 100 mil reais – para concluir seus estudos até a universidade e sua escola
também recebe prêmios. É provável que esse seja o principal chamariz para os
estudantes que se inscrevem. Mas, independente disso, o fato é que, a cada
ano, aumenta o número de alunos inscritos nesse torneio da língua portuguesa.
Este ano, foram 2.189 escolas inscritas e não é um processo
simples. (...) A gente atendeu essas mais de duas mil escolas,
conversou com todos os diretores, mandou um kit do
Soletrando pra todas as escolas e elas fazem as suas
seletivas. A gente tem que pegar esses vencedores e levar
para as capitais pra fazer um evento grande (HUCK, 2009,
p.04).
Além do interesse por participar do programa, o nível de instrução dos
concorrentes também aumentou (HUCK, 2009, p.04). Por isso, a forma com
que as palavras da competição foram escolhidas teve que passar por uma
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reformulação. Primeiramente, o professor Sérgio Nogueira faz um processo de
seleção de vocábulos que calibra o grau de dificuldade. Depois, um software é
abastecido com essas palavras e, de maneira randômica, ele distribui essas
palavras por níveis. Como bem salienta Huck (2009, p.04), “No primeiro
programa foram criados três níveis de palavras: fáceis, médias e difíceis. No
ano passado, nós criamos as dificílimas porque o pessoal era muito preparado.
E, este ano, criamos as ‘derrubativas’ porque todo programa tem que ter um
vencedor”.
Durante toda a edição do Soletrando, reportagens especiais sobre cada
participante e etapas realizadas ao vivo no palco do Caldeirão do Huck são o
fio condutor de cada exibição do quadro. Porém, algo que já é comum na
maioria dos programas de TV tornou-se um dos diferenciais da atração: a
interatividade
pela
internet.
No
site
do
programa
(http://caldeiraodohuck.globo.com) há um link que leva ao universo do
Soletrando. Para aqueles que gostam da atração e desejam aprofundar seus
conhecimentos sobre o assunto, há diversas possibilidades de interação. Essas
serão descritas mais adiante quando a proposta de adaptação para a televisão
digital interativa for elucidada.
Televisão: um educador em potencial
“Muitas são as formas de educar e ser educado. Ligar a
televisão é uma delas” (BEZERRA, 1999, p.113).
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD, 2008), 95,1% dos domicílios brasileiros possuem aparelho televisor.
Como bem afirma Bezerra (2006), “O brasileiro ama e odeia a TV que
consome. Reclama da programação, mas, entra semana sai semana, lá
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estamos todos aboletados na frente da TV”. Esse índice do IBGE legitima o
rótulo de que a televisão é um veículo de comunicação de massa. E justamente
por ser um veículo de grande abrangência no Brasil, as emissoras de televisão
deveriam sempre estar atentas ao que colocam no ar. De acordo com Bezerra
(1999, p.25), “Essa é a principal questão quando avaliamos o papel social da
TV: a qualidade do que é apresentado como informação e lazer que, na
realidade, é recebido como educação e cultura pela sociedade”.
Então, se todos esses lares tivessem acesso a uma programação de
qualidade, a contribuição da mídia televisiva na educação informal dos
telespectadores seria bastante abrangente. Segundo definiu Bates (apud
JOLY, 2003, p.08), “A educação informal é aquela que acontece durante a vida
toda e permite que os indivíduos adquiram conhecimento das experiências
diárias, incluindo o aprendizado em casa, no trabalho, com amigos e mídias”.
Nesse contexto, acredita-se que o quadro Soletrando pode influenciar
positivamente na educação dos telespectadores.
Como o próprio apresentador do programa Caldeirão do Huck enfatizou,
“O Soletrando não pretende ser um programa didático, educacional” (HUCK,
2009, p.04). Mas, no que tange a educação informal, o quadro é um bom
exemplo de colaboração para a aprendizagem tanto dos participantes quanto
dos que o assistem. Na opinião da pedagoga Cocato,
É um programa interessante, até educativo. Acredito que
resgata a Língua Portuguesa num momento em que ela anda
tão esquecida (a tecnologia trouxe o ‘internetês’, por exemplo).
As crianças que participam e, quem assiste, sempre estão
aprendendo, além de ser um bom incentivo para a
continuidade nos estudos (COCATO, 2009).
A mídia é um dos poucos instrumentos capaz de colaborar na
democratização da educação em nosso país (BEZERRA, 1999, p.117). Não se
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propõe que haja nenhum tipo de revolução. Mesmo porque, atentando para os
reais interesses das emissoras de televisão - principalmente as comerciais -,
imagina-se que isso seja utópico. Contudo, quanto maior o número de
programas que tenham algum tipo de conteúdo educativo - ao menos informal , mais os telespectadores serão influenciados positivamente e ganharão
informações que o levem a aumentar o seu conhecimento. Conforme descreve
Cocato (2009), “Numa pesquisa feita em minha sala de aula, as crianças
passam grande parte do dia em frente à TV. Isso quer dizer que, na escola, por
exemplo, elas reproduzem o que assistem na TV. Por isso a importância de
uma TV de qualidade”.
De acordo com a experiência de alguns professores entrevistados para
este trabalho, a relevância educacional do quadro Soletrando – mesmo que
seja uma consequência e não o objetivo do programa – é notável. A pedagoga
Baldessini (2009) relata já ter utilizado o jogo televisivo como didática de ensino
em sala de aula: “Meus alunos fazem parte do processo de alfabetização e,
com o uso de palavras que utilizam no seu cotidiano, adequadas ao seu nível
de escolarização, já simulei o jogo em sala. Além de ser extremamente
motivador, desenvolve a atenção e concentração”. Aproveitando o sucesso do
quadro, a Rede Globo lançou um jogo que simula a competição. Esse
brinquedo também pode ser útil no processo de aprendizagem das crianças,
conforme conta Cocato (2009): “Uma aluna ganhou o jogo e o levou para a
jogarmos na aula. Como eles estão em idade de alfabetização, brincando
puderam aprender palavras novas e ter um contato cada vez maior com o
dicionário”. Além disso, alguns educadores desenvolvem simulações da
competição, em suas escolas, para estimular o estudo da língua portuguesa e,
também, promover a socialização entre alunos, professores e pais. O professor
de português Lopes (2009) passou por uma experiência desse tipo:
Fiz um Minisoletrando na escola. Vi que a criança se
aproximou mais do dicionário. Vi, também, o esforço dos
professores que instruíam os participantes, da direção da
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escola, dos pais dos participantes e, principalmente, dos
alunos (LOPES, 2009).
Assim, crianças e adultos tendem a ser beneficiados com programas
televisivos que atendam àquele tão citado - mas nem sempre cumprido - Artigo
221 da Constituição do Brasil. O Soletrando mostra-se uma atração midiática
capaz de proporcionar um tipo de aprendizagem mais prazerosa e significativa
por meio do lúdico (BALDESSINI, 2009). Por isso, são necessários projetos
que foquem esse tipo de conteúdo e contribuam para sugerir melhoras na
educação pelos meios de comunicação.
A TV digital no Brasil
“A TV digital pode ser uma ferramenta de inclusão social,
oferecendo mais informação e propiciando maior acesso ao
conhecimento” (MONTEZ; BECKER, 2005, p.38).
No mesmo ano em que esse quadro analisado foi criado, 2007, uma
nova mídia passou a fazer parte, oficialmente, do Brasil: a televisão digital. De
acordo com Amaral e Pacata,
A integração do sistema clássico da TV com o mundo das
telecomunicações da informática, onde a internet possibilita a
interação e navegação, fez surgir a nova televisão, a TV digital
interativa (AMARAL; PACATA, 2003, p.02).
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Foi com a expansão da internet, no início da década de 1990, que um
novo cenário começou a ser delineado. Com acesso rápido a qualquer
conteúdo e de qualquer parte do mundo, os telespectadores começaram a
dividir seu tempo em frente à televisão com o computador pessoal. Esses
fatores foram algumas das causas que levaram aos efetivos estudos sobre a
televisão digital interativa.
Os Estados Unidos, a Europa e o Japão foram os primeiros a
desenvolverem padrões de televisão digital que suprissem as suas respectivas
necessidades. São eles, respectivamente: ATSC (Advanced Television
Systems Committee), DVB (Digital Video Broadcasting) e ISDB (Integrated
Services Digital Broadcasting Terrestrial). Quando o Brasil decidiu iniciar as
pesquisas para escolher o sistema de TV digital mais adequado à realidade do
país, foi definido, segundo o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em
Telecomunicações (CPqD), que esse deveria ter: baixo custo e firmeza na
recepção; flexibilidade para que as emissoras possam escolher esquemas de
programação e modelos de negócio de acordo com sua conveniência e dos
consumidores; interatividade e promoção de novas aplicações à população,
proporcionando educação e cultura.
No final da década de 1990, um grupo formado pela Sociedade de
Engenharia de Televisão e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão (Grupo SET/ABERT), juntamente com outro grupo composto por 17
emissoras de televisão e o CPqD, iniciaram os testes dos padrões de TV
digital. Em 2003, os trabalhos para a definição de um padrão nacional foram
impulsionados pela criação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre
(SBTVD-T) por meio do Decreto nº 4901. Depois de um intenso processo, ficou
definido que o padrão japonês (ISDB), com algumas adaptações, seria o mais
adequado para o Brasil. Dentre essas adaptações estão o sistema de
compressão de produtos audiovisuais (MPEG-4), o sistema operacional
(middleware) e aplicativos (como softwares, por exemplo). Assim, o então
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Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva assinou o Decreto nº 5.820
que
Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T, estabelece diretrizes
para a transição do sistema de transmissão analógica para o
sistema de transmissão digital do serviço de radiodifusão de
sons e imagens e do serviço de retransmissão de televisão, e
1
dá outras providências .
Dentre as diversas possibilidades que a TV digital vai proporcionar, uma
das ferramentas que mais desperta expectativa na audiência é a interatividade,
em que os indivíduos poderão participar da programação das emissoras por
meio de um controle remoto específico e de um canal de retorno2. Segundo
Montez e Becker,
A interatividade de um processo ou ação pode ser descrita
como uma atividade mútua e simultânea da parte dos dois
participantes, normalmente trabalhando em direção de um
mesmo objetivo (MONTEZ; BECKER, 2005, p.50).
Mas, para que a interatividade seja possível, é necessário que o
televisor digital ou a set-top box3 tenha uma camada de software específica
denominada middleware. No SBTVD-T, o middleware recebeu o nome de
Ginga.
“O middleware é um software que oferece uma série de
facilidades para o desenvolvimento de conteúdo e aplicativos
1
Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5820.htm>. Acesso em: 12 out.
2009.
2
Caracteriza-se como algo que possibilita a interação entre o usuário e a emissora, onde ambos podem trocar
informações. Como exemplo, cita-se a internet banda larga e o celular.
3
Caixa que converte os sinais analógicos em digitais e podem ter um software que possibilita a interatividade.
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para TV Digital, entre elas a possibilidade desses conteúdos
serem exibidos nos mais diferentes sistemas de recepção,
independente do fabricante e tipo de receptor (TV, celular,
4
PDA’s, etc.)” .
Até o momento, no entanto, a TV digital ainda não é interativa. Isso
porque o Ginga, apesar de ter tido sua versão NCL aprovada e recomendada
pela União Internacional de Telecomunicações (UIT)5, ainda não foi
disponibilizado para ser comercializado em aparelhos digitais. Ademais, o
Fórum SBTVD-T escolheu o padrão JavaDTV, que utiliza a linguagem Java,
para compor o padrão nacional do Ginga junto com o sistema NCL. Aguarda-se
que a UIT também aprove o Ginga-Java (ou Ginga-J) como uma linguagem
compatível com middlewares de todo o mundo.
Interatividade: da internet para a TV
“A TV Digital Interativa é um meio de disseminação de
informação dirigida à educação” (WAISMAN, 2002, p.01).
Até o momento, na prática, a interatividade ainda é incipiente. Qual será
o canal de retorno específico do SBTVD-T e como vai ficar o modelo de
negócios das emissoras com a interatividade são algumas das questões que
ainda se encontram sem respostas. Assim, diante desse atual estágio da
4
Disponível em: <http://www.softwarepublico.gov.br>. Acesso em: 22 set. 2009.
5
Em 29 de abril de 2009, depois de analisar algumas propostas da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel), a UIT aprovou e recomendou o Ginga-NCL para aplicações interativas em
IPTV (Internet Protocol Television - tecnologia para transmissão de sinais de TV e outras mídias
utilizando conexão banda larga).
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televisão digital brasileira, são necessários o desenvolvimento de estudos e a
criação de hipóteses sobre conteúdos para programas interativos-televisivos.
Com relação ao foco do trabalho – o quadro Soletrando – algo que já é
comum na maioria dos programas de TV tornou-se um dos diferenciais da
atração:
a
interatividade
pela
internet.
No
site
do
programa
(http://caldeiraodohuck.globo.com) há um link que leva ao universo do
Soletrando para que os interessados possam aprofundar seus conhecimentos
sobre o tema. Analisando essas possibilidades de interação e pensando num
cenário ideal de televisão digital, propõe-se que elas sejam adaptadas a essa
nova mídia. Nesse cenário, considera-se que os interagentes estejam no nível
7 de interatividade. Este nível, como definiram Montez e Becker (2005, p.54), é
aquele em que acontece a interatividade plena. O interagente6 pode, dentre
outras coisas, gerar conteúdos para serem exibidos pelas emissoras. Isso pode
ser feito por meio de um recurso denominado Enhanced TV que agrega, aos
programas existentes, elementos informativos que podem ser acessados por
um controle remoto específico de um televisor digital ou set-top box. Além
disso, o interagente poderá lançar mão de outros recursos multimídias – como
a webcam, por exemplo – para efetivar sua participação no programa. A fim de
que esse ambiente seja melhor compreendido, descreve-se as propostas de
interatividade para a TV digital adaptadas do site do programa.
*Bastidores
As entrevistas de bastidores, disponíveis no site, mostram curiosidades
sobre os participantes e sobre as etapas do jogo, aproximando mais os
interagentes do cenário e dos competidores. Na TV digital interativa, essa
opção poderia ser disponibilizada ao final da exibição de cada etapa. A cada
6
Define-se como interagente o telespectador que, com a TV digital interativa, não ficará mais passivo diante dos
conteúdos exibidos e poderá interagir com eles.
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sábado, por meio do controle remoto específico, poderiam ser acessadas as
entrevistas relacionadas aos alunos que participaram naquele dia.
*Regras
Há um espaço que descreve as regras do jogo minuciosamente,
permitindo que as pessoas se inteirem do regulamento e possam entender
melhor a competição. Por meio da televisão, essa opção poderia ser acessada
antes do início do jogo ou a qualquer momento em que o interagente tivesse
dúvidas e quisesse consultar as regras. Um ícone indicando a interatividade
disponível apareceria no canto do vídeo e daria acesso a esse conteúdo
selecionado por meio do controle remoto.
*Replay
Em outro local, conforme as eliminatórias vão acontecendo, o site vai
sendo atualizado com um resumo sobre o que aconteceu em cada etapa.
Dessa forma, quem não conseguiu assistir ao programa na televisão, pode
rever seus principais momentos. Essa opção poderia ser organizada em forma
de mosaico, na TV, separando os vídeos pela data de exibição. Caso o
programa que o interagente gostaria de assistir já tivesse expirado, ele poderia
requisitá-lo pela forma de vídeo sob demanda.
*Saiba Mais
O professor Sérgio Nogueira (jurado fixo em todas as edições do
quadro) tem um blog no site do Soletrando. Nesse blog, ele coloca textos
relacionados às palavras sorteadas nas fases da competição tirando as
possíveis dúvidas dos telespectadores. Na edição deste ano, foram incluídos
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verbetes modificados com a nova reforma ortográfica da língua portuguesa –
os quais ainda geram muitas incertezas. Em seu blog, o professor Sérgio
Nogueira também dá explicações sobre a nova ortografia. Na adaptação para a
TV Digital, esse link seria atualizado posteriormente à exibição do programa.
Dessa forma, os interagentes teriam tempo para enviarem suas dúvidas por
email ou vídeo gravado por uma webcam, por exemplo. Essas dúvidas
passariam por um filtro, feito pela emissora. Depois, as perguntas selecionadas
seriam respondidas pelo professor Sérgio Nogueira e disponibilizadas no
espaço do programa.
*Vamos jogar?
Ainda no site, também é disponibilizado um jogo que simula a disputa do
Soletrando tal qual na televisão. Em sua adaptação para a TV digital, esse jogo
poderia ser baixado pelo interagente para que pudesse brincar quando
quisesse.
*Sugestões
No site do Soletrando, além dos espaços disponibilizados para o envio
de comentários, uma novidade aumentou a participação dos telespectadores
no programa. Na edição deste ano do jogo, os telespectadores tinham a
possibilidade de enviar sugestões de palavras que gostariam que fossem
soletradas pelos competidores. O mesmo poderia ser feito pela TV digital,
mudando apenas a plataforma.
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Considerações Finais
“Assim, utilizando as grades de programação de todas as
emissoras do país para a difusão sistemática de programas
criados a partir de temas e conceitos educativos,
transformaríamos a comunicação de massa via TV num
conjunto de políticas públicas de interesse social na área da
educação” (BEZERRA, 1999, p.67).
Elaborar uma proposta de conteúdo que contribuísse para a difusão da
educação via TV digital; potencializar a educação informal por meio do quadro
Soletrando, do Caldeirão do Huck, sugerindo adaptações da internet para a TV
digital interativa; defender a hipótese de que programas televisivos como esse
podem
colaborar
na
formação
educacional
dos
telespectadores
(ou
interagentes, no caso da TV digital). Esses foram os objetivos desse artigo que,
na prática, podem ser confirmados ou refutados. Porém, no atual momento, o
mais importante é pesquisar e apontar possíveis caminhos para os conteúdos
dessa mídia que ainda gera tantos questionamentos: a TV digital interativa.
Analisando a afirmação citada acima, julga-se fundamental ressaltar a
importância de programas com conteúdos educativos nas grades das
emissoras nacionais. O Soletrando, por mais que não tenha a pretensão de ser
educativo, contribui para dinamizar o ensino da língua portuguesa nas
instituições dos professores entrevistados. Não foi realizada nenhuma pesquisa
para definir a abrangência com que isso acontece (esse pode ser o próximo
passo do projeto). Porém, levando-se em consideração que os entrevistados
aprovam o quadro e o consideram um incentivador na aprendizagem do idioma
nacional, iniciam-se algumas reflexões sobre o papel da mídia televisiva como
contribuinte para a educação informal dos telespectadores - ou interagentes.
Com base nessa hipótese e visando sugerir conteúdos educativos e
interativos para a televisão digital, analisou-se o site do jogo Soletrando
transpondo suas interações para uma plataforma de TV interativa. É provável
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que, enquanto não for definido um novo formato para programas interativos de
TV, as emissoras devem tomar a internet como base para suas criações (da
mesma forma que, historicamente, a TV analógica, em seus primórdios,
copiava os formatos de programas dos rádios, o veículo que a antecedeu).
Assim, pensando na prática televisiva, na abrangência desse veículo e
nos possíveis contornos que a TV digital interativa pode assumir, fica essa
proposta. Por que não se valer de programas bem-sucedidos para transpor
algum tipo de educação pela TV? Por que não explorar a interatividade como
ferramenta de construção do conhecimento? Os instrumentos estão à
disposição. As ideias existem. Que sejam, então, passíveis de execução.
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2002,
São
Paulo.
Disponível
em:
<http://www.tabuleirodigital.com.br/twiki/pub/GEC/EscoladoFuturo/TVDigital_Ta
is.doc>.
Acesso
em:
22
set.
2009.
846
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