A Grande Revolução Burguesa “Três razões fazem ver que o governo da monarquia hereditária é o melhor. A primeira é que é o mais natural e se perpetua por si próprio. A segunda razão é que esse governo se interessa mais na conservação do Estado e dos poderes que o constituem: o príncipe, que trabalha para o seu Estado, trabalha para seus filhos, e o amor que tem pelo seu reino, confundido com o que tem pela sua família, torna-se-lhe natural. A terceira razão tira-se da dignidade das casas reais. A inveja que se tem naturalmente daqueles que estão acima de nós, torna-se aqui em amor e respeito; os próprios grandes obedecem sem repugnância a uma família que sempre viram como superior e à qual não se conhece outra que a possa igualar. O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. Os reis são deuses e participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; devemos acreditar que ele vê melhor, e devemos obedecê-lo sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição.” O Absolutismo francês Este texto foi retirado da Política Tirada da Sagrada Escritura, e foi escrito por Bossuet. Você, caro aluno, já sabe como os intelectuais iluministas refutaram estas idéias. Assim, você pode imaginar como ficou difícil para os reis absolutistas franceses manter sua autoridade, se utilizavam argumentação obsoleta. Para piorar a situação dos reis franceses, a burguesia, que adotava os princípios iluministas, estava se fortalecendo economicamente e questionava abertamente a estrutura absolutista. Para que nós possamos fazer um estudo metódico da Revolução Francesa, vamos conhecer como se estruturou o absolutismo francês e como, vagarosamente, este absolutismo foi sendo ultrapassado pelo desenvolvimento do capitalismo burguês. A centralização de poder na França, dentro dos moldes absolutistas, tem suas raízes na Baixa Idade Média: Filipe Augusto organizou um sistema tributário e um exército mercenário, no início do século XIII. Luís IX criou a moeda nacional. Filipe IV, o “belo”, impôs a cobrança de impostos à Igreja. De qualquer forma, a consolidação do absolutismo deu-se no século XVI, durante o reinado de Henrique IV. Ele foi o iniciador da dinastia de Valois, assumindo o poder em 1589, durante um período de crise religiosa, na qual os católicos franceses perseguiam e matavam os huguenotes (era assim que os franceses chamavam os protestantes, na época). Henrique IV era protestante. Mas, ao assumir o poder, proferiu uma frase que ficou famosa: “Paris bem merece uma missa”. Cinicamente converteu-se ao catolicismo. Mas não abandonou os huguenotes: assinando o Édito de Nantes, deu liberdade de culto aos protestantes. O reinado de Henrique IV foi muito produtivo. Ele gostava de administrar o seu país e era visto, freqüentemente, inspecionando as obras realizadas pelo governo. Por isso, ganhou o apelido de “Roi au cheval”, o rei a cavalo. O reinado de Henrique IV acabou tragicamente. O monarca foi assassinado por católicos fanáticos. Seu sucessor, Luís XIII, reinou pouco, morrendo muito jovem. Enquanto Luís XIII, ainda criança na época em que Henrique IV morreu, amadurecia, a rainha mãe, Maria de Médicis, nomeou o cardeal ( da Companhia de Jesus) Richilieu, como primeiro-ministro. O governo de Richilieu contribuiu muito para a centralização absolutista. Este clérigo jogou a França em violenta guerra contra os seus vizinhos, por motivos comerciais e políticos. Conhecida como a “Guerra dos 30 Anos”, resulta na vitória francesa sobre a poderosa família Habsburgo, que governava a Espanha, Países Baixos e alguns reinos que mais tarde integrariam a Itália e Alemanha. Além da guerra, Richilieu, com mão de ferro exigiu a submissão da nobreza e da burguesia ao governo monárquico. A morte de Luís XIII ocorre quando seu sucessor era, ainda, um menino. Assim, outro cardeal da Companhia de Jesus torna-se primeiroministro. Mazarino (é como o cardeal se chamava) consolida a política de Richilieu e enfrenta, com sucesso, a revolta das “frondas”, provocada pelos nobres. Em 1661 inicia-se o governo pessoal de Luís XIV, que dura 55 anos. Este rei, digamos, exuberante, gostava de usar perucas loiras, sapatos de salto alto e intitulava-se o “Rei-Sol”... De qualquer forma, Luís XIV concentrou um impressionante poder pessoal, não sendo exagero a frase que ele mesmo criou e que se tornou famosa: “o Estado sou eu!”. Luís XIV controlou a nobreza dando-lhe salários para não fazer nada e construindo uma cidade, uma corte, onde as festas, pagas pelo poder público, eram freqüentes e suntuosas: tratava-se de Versalhes. As primeiras décadas do governo de Luís XIV foram muito boas para a França. O balanço comercial manteve-se favorável, sob a administração do ministro de finanças Colbert, com nítida expansão do comércio exterior e um crescimento das manufaturas, que tornava a França praticamente autosuficiente. Mas essa situação alterou-se nas últimas décadas do período de Luís XIV. Os gastos com a corte de Versalhes induziam ao déficit financeiro; a desorganização fiscal, vinculada aos privilégios de nobres e clero, diminuía a arrecadação. Para complicar, o velho Luís XIV decidiu tornar-se o defensor dos interesses da Igreja Católica, jogando a França em várias “guerras inúteis”. Por fim, os comerciantes huguenotes foram expulsos do país, provocando uma evasão de riquezas e a diminuição das atividades econômicas. O sucessor de Luís XIV, Luís XV, despreocupou-se da administração, pensando apenas em se divertir. Seu governo pode ser resumido com uma frase do próprio monarca: “Depois de mim, o dilúvio!”. De fato, o dilúvio revolucionário ocorreu durante o reinado de Luís XVI, uma pessoa de capacidades intelectuais muitíssimo limitadas. A França às vésperas da Revolução A Revolução Francesa foi extraordinariamente importante: marca a destruição social e política dos últimos vestígios feudais nos países do ocidente europeu e a tomada do poder pela burguesia. Mas, da mesma forma que um raio não cai de um céu sem nuvens, uma revolução não ocorre sem uma larga acumulação de forças, feita pela classe revolucionária, nem sem uma deterioração prolongada do regime político-econômico que estava no poder. Por isso, é muito importante estudar a situação da França, às vésperas da Revolução. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, a burguesia manufatureira se fortaleceu, transformando-se em burguesia industrial. Este processo, no entanto, foi refreado por uma série quase interminável de entraves à expansão capitalista. O pior dos entraves era a existência de uma enorme parcela da população vivendo em um sistema de trabalho servil, sem remuneração pecuniária, impedindo a expansão do mercado interno francês. Os senhores feudais ainda tinham direito de estabelecer alfândegas internas, o que encarecia os produtos vendidos pela burguesia em todo o território francês. As corporações de ofício impediam que a livre concorrência balizasse o mercado. As relações sociais também já estavam ultrapassadas. A sociedade apresentava-se estamentada, como se os franceses ainda vivessem em pleno sistema feudal. Vamos conhecer esta sociedade observando como se constituíam os “Estados Gerais”, que faziam às vezes de um fraco poder legislativo, assessorando o governo dos reis absolutistas franceses. Cada um dos três Estados tinha direito a um voto, nas decisões de suas reuniões. O Primeiro Estado era formado pelo clero. Observe que, embora represente menos de um por cento da população, tinha direito a um terço dos votos dos Estados Gerais. Mas, na época da Revolução, o voto do clero não representava a vontade monolítica do estamento. A verdade é que o clero achava-se dividido em um alto clero, rico, isento de impostos e que apoiava a monarquia absolutista; e um baixo clero, pobre, que vivia nos vilarejos camponeses, compartilhando os sofrimentos das massas francesas e que estava contra o governo. O segundo estamento era o da nobreza, que também se achava dividida. Os nobres de Versalhes, umas quatro mil pessoas, eram - para dizer o mínimo reacionários. Imagine que, além de não pagar impostos, estes nobres recebiam uma ajuda de custo do governo e usufruíam dos palácios versalhescos sem pagar qualquer aluguel. Quando a Revolução Francesa começou, eles demonstraram tamanha alienação política que se aliaram aos revolucionários imaginando que a derrubada do rei conduziria a França de volta para o feudalismo! Havia a nobreza togada. Na verdade, eles eram burgueses enriquecidos que conseguiram um título de nobreza (por compra ou casamento) para se livrar da cobrança de impostos. Alguns desses títulos foram conseguidos através do exercício de algum cargo público de estrita confiança do rei. A nobreza togada estava sempre ao lado do governo absolutista. Por último, a nobreza provincial, com um comportamento político oscilante. A nobreza não chegava a representar 1,5% da população francesa. No Terceiro Estado, com um voto, estavam representados todos os outros grupos sociais franceses. Eram liderados pela burguesia, que se colocava contra o absolutismo. Lembre-se: O Primeiro Estado (0,5% da população) e o Segundo Estado (1,5% da população tinham 2/3 dos votos dos Estados Gerais. O Terceiro Estado, composto por camponeses, operários, burgueses e artesãos (97,5% da população) tinham apenas 1/3 dos votos! As quatro jornadas revolucionárias (1789) Em 1789, a França enfrentava uma enorme crise econômica. A balança de pagamentos, deficitária desde a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) deixou de ser o pior problema: desde o início da década de 1780, instabilidades climáticas comprometeram as safras agrícolas, semeando fome e o caos econômico. Procurando contornar a crise, o rei Luís XVI resolveu convocar os Estados Gerais, para tentar legitimar as decisões amargas que ele teria que tomar para enfrentar os problemas. Acontece que o Terceiro Estado exigiu, preliminarmente, que a sua representação numérica fosse duplicada. Como isso não significava aumento do poder de voto, o rei concordou com o pedido. Mas, no início dos trabalhos, os elementos do Terceiro Estado pediram que os votos fossem contados por pessoa e não mais por Estado. A justificativa do Terceiro Estado para essa aspiração pode ser encontrada em um panfleto, redigido pelo Abade Sieyès: “ O plano desse escrito é muito simples. Temos três questões a tratar: 1- O que é o Terceiro Estado? Tudo. 2- Que foi ele até o presente na ordem pública? Nada. 3- Que solicita? Tornar-se alguma coisa. Que é necessário para que uma nação subsista e prospere? Trabalhos particulares e funções públicas. Todos os trabalhos particulares podem-se resumir em quatro classes: os agricultores, os trabalhadores da indústria, os negociantes, as profissões científicas, liberais ou de recreio. Tais são os trabalhos que mantêm a sociedade. Quem os sustenta? O Terceiro Estado. As funções públicas no Estado atual classificam-se sob quatro denominações: a Espada, a Toga, a Igreja, a Administração. Será supérfluo percorrê-las em minúncia, para ver que o Terceiro Estado forma em toda a parte dezenove vigésimos nessas funções com a diferença de que é encarregado de tudo o que é verdadeiramente penoso, de todas as tarefas que a ordem privilegiada recusa preencher. Assim o que é o Terceiro Estado? Tudo. Mas um tudo livre e florescente? Nada pode se desenvolver sem ele, tudo correria infinitamente melhor sem os outros... Mas de que lhe serviria participar dos Estados Gerais se o interesse contrário ao seu aí predominasse? O povo apenas consagraria pela sua presença a opressão de que ele seria vítima eterna. Assim é bem certo que ele não pode vir votar nos Estados Gerais se não tiver, ao menos, uma influência igual a dos privilegiados. E ele reivindica um número de representantes igual ao das outras ordens juntas. Enfim essa igualdade de representações se tornaria perfeitamente ilusória, se cada Câmara tivesse sua voz separada. O Terceiro Estado reivindica, portanto, , que os votos sejam somados por cabeça e não por ordem. A verdadeira intenção do Terceiro Estado é ter nos Estados Gerais uma influência igual à dos privilegiados.” Obviamente o rei não concordou com a argumentação do Abade Sieyès. Luís XVI ordenou o fechamento dos Estados Gerais. Unindo-se aos dissidentes do clero e da nobreza, o Terceiro Estado decidiu declarar-se em Assembléia Constituinte. Essa foi a “primeira jornada revolucionária”. Ocorreu no dia 09 de Julho de 1789 e ficou conhecida como “O Juramento do Jogo da Pela”. O rei considerou a atitude da Assembléia Nacional (como essa facção dos Estados Gerais passou a ser chamada) um ato de sedição e, por isso, decidiu reprimi-la. Aí entra em cena o povo de Paris: cansado de um governo corrupto e incapaz, a população arma barricadas em torno do local onde a Assembléia se reunia, para defendê-la. Alguns líderes populares, surgidos nesses confrontos com a guarda da monarquia, decidem conseguir armas para o povo. E estas armas estavam na fortaleza da Bastilha! Lá estavam, também, os presos políticos. Armados de paus e pedras o povo francês faz algo quase inacreditável, no dia 14 de julho: conquista a Bastilha, símbolo da força repressiva da monarquia. Eis a “segunda jornada revolucionária” que, hoje em dia, é comemorada como a grande data nacional francesa, no relato extraído de um diário de um cidadão ( o nome dele era Loustalot), escrito no dia 15 de julho de 1789: “Esta fortaleza fantástica, que começou a ser construída em 1369, sob Carlos V, e concluída em 1383, este terrífico colosso que Luis XVI e Turenne julgavam inexpugnável, acabou finalmente por ser tomada de assalto em quatro horas por uma indisciplinada milícia sem chefe, por burgueses inexperientes ajudados, é certo, por alguns soldados da pátria e mais tarde por um punhado de homens livres! Oh, santa liberdade, tal é então o teu poder! O bravo granadeiro Harné, que capturou o governador da Bastilha, recebeu ontem, das mãos da Assembléia dos cidadãos de Paris e em nome da nação, a coroa cívica e a ordem real e militar de São Luis (que era usada pelo governador da Bastilha). A notícia de um tão grande e tão glorioso acontecimento espalhou a alegria e a esperança em todos os bairros da cidade.” Boa parte dos prisioneiros políticos da Bastilha viviam nos campos. Assim que se vêem livres, retornam para seus vilarejos e lá relatam os acontecimentos da capital. Os servos sentem, ao escutar as notícias, crescer dentro de si o ódio milenar que sentiam pelos nobres aos quais eram obrigados a prestar obediência. Sem qualquer palavra de ordem a arrastá-los, sem qualquer comando organizado, invadem os castelos e massacram todos os nobres que encontram pela frente. Esta é a “terceira jornada revolucionária”, o “Grande Medo”. Em agosto de 1789, vários nobres fogem, apavorados, para o exterior; outros vão para Paris pedir, desesperados, que os congressistas façam uma lei que acabe com os privilégios que a nobreza defendeu ciosamente durante séculos. Assim, no dia 26 de agosto de 1789 faz-se a Declaração dos Direitos do Cidadão. A população comemora o feito: todos são, a partir daquele momento, iguais perante às leis. O movimento revolucionário se acalma. Quando sente que a situação parece sob controle, Luís XVI vai para o Palácio de Versalhes e, cercado pelos nobres que o defenderiam, recusa-se a assinar a Declaração dos Direitos do Cidadão. Ao saber da atitude do rei, a população parisiense novamente se une. Homens e mulheres atravessam a pé os 14 Km que separam Paris de Versalhes; invadem o palácio real e obrigam o rei a seguir com eles para Paris. Em Paris, o rei é obrigado a assinar a Declaração. Estamos no dia 06 de outubro e esta é a “quarta jornada revolucionária”: a “Transferência do Rei para Paris”. Observe, caro estudante, que as Quatro Jornadas Revolucionárias foram obra de todo um povo, mas os grandes vitoriosos foram os burgueses! A Monarquia Constitucional, o Terror e o Diretório (1790-1799) Antes da Revolução, só burguesia pagava impostos; com igualdade de todos perante as leis, nobres passam a pagá-los também. a a os A Constituinte, dominada pela burguesia, divide o poder com o rei e, em 1790, com a Constituição Civil do Clero, obriga a Igreja a também pagar impostos e prestar obediência ao poder constituído. Nesse momento o clero coloca-se contra a Revolução. Os nobres emigrados convencem os reis da Prússia e da Áustria que a revolução burguesa deveria ser destruída antes de se espalhar por toda a Europa. Luís XVI decide fugir de Paris, para se tornar o chefe das tropas contra-revolucionárias que se organizavam fora das fronteiras francesas. Apesar de disfarçado, o rei é reconhecido quando tentava sair da França. Suprema humilhação: o rei é preso e, logo depois, obrigado a jurar a Constituição. Alguns líderes políticos, entre os quais, Robespierre e Saint-Just, consideram o rei traidor da revolução. Exigem sua execução e o rei acaba guilhotinado. Começa a República. A República é dirigida pela Convenção. Quase equivalente aos Congressos, nos países republicanos atuais, é no recinto da Convenção que se reúnem e se enfrentam os principais grupos políticos da França. O Partido Girondino representava os interesses da alta burguesia. O Partido Jacobino era formado por intelectuais, quase todos partidários ardentes das idéias do filósofo iluminista Rousseau e defensores militantes do proletariado urbano. Os jacobinos eram chamados, também, de “montanheses”. Havia, por último, um partido formado por oportunistas da alta burguesia que evitava se pronunciar claramente a respeito de qualquer questão política. Por isso, e por se sentarem na parte baixa e central do recinto da Convenção, acabaram por receber o apelido, bastante sugestivo, de “Partido do Pântano”... A Convenção é obrigada a enfrentar problemas terríveis. Uma coligação de países absolutistas (chamada de coligação anti-francesa) organiza um exército e invade a França. Os padres contrários ao movimento revolucionário conseguem sublevar os camponeses de uma das mais atrasadas regiões francesas: Vendéia. Nesse momento os girondinos cometem um imperdoável erro político: insensíveis aos problemas enfrentados pelos franceses, o partido decide aprovar uma lei liberando os preços dos cereais. Os “sans-culottes” (proletários de Paris) cercam o prédio da Convenção, dispostos a matar todos os que lá se encontrassem. Maximiliano Robespierre, líder jacobino, aproveita-se da situação para, com o apoio dos “sans-culottes”, tomar o poder. Inicia-se o Período do Terror. Os girondinos são presos. Vários são mortos! O governo Jacobino inicia-se sob o domínio de um Comitê de Salvação Pública, dirigido por Robespierre. Com o apoio decidido da população, os jacobinos derrotam a coligação antifrancesa e os camponeses reacionários de Vendéia. A escravidão é abolida nas colônias francesas; é estabelecido o ensino público e gratuito; inicia-se uma reforma agrária; tabelam-se os preços; a revolução torna-se popular. Os girondinos foram derrubados porque fracassaram; os jacobinos terão problemas porque venceram. A ala esquerda do Partido Jacobino, após a derrota dos principais inimigos da Revolução Francesa, exige a radicalização política, com o objetivo de tornar a França socialista. Robespierre, sabedor da necessidade de manutenção do apoio burguês à revolução, acaba sendo obrigado a se opor à ala esquerda do Partido Jacobino, levando-a à guilhotina. A ala direita, os “indulgentes”, dirigida por Danton, vendo que os “sansculottes” se afastam de Robespierre, tenta fazer com que alguns dos aspectos mais radicais do governo do terror sejam abandonados. Robespierre, que ainda sonha com a volta do apoio dos cidadãos pobres ao seu governo, manda guilhotinar Danton. A facção de Robespierre e Saint-Just vence, mas está enfraquecida. O “Pântano” aproveita-se do enfraquecimento de Robespierre e dá o golpe. Em 28 de julho de 1794, Robespierre é guilhotinado. A revolução devora os seus próprios filhos. A alta burguesia retoma o poder com o golpe de “9 Termidor”. A Convenção Nacional se auto-dissolve e o poder passa para um Diretório de cinco membros. Ocorrem ainda alguns levantes: em 1795, os partidários do absolutismo tentam retomar o poder em uma Revolta Ultra-Realista. Mas foram derrotados por um jovem general: Napoleão Bonaparte. Em 1796, a Sociedade dos Iguais, grupo socialista dirigido por Graco Babeuf, tenta implantar a ditadura dos humildes. Babeuf é guilhotinado mas, como diz o poeta, “você pode cortar a flor, que o perfume continua boiando no ar”: as idéias de Babeuf vão influenciar a criação do Partido Comunista, de Karl Marx, em 1848. O Golpe de 18 Brumário (1799) Os problemas da burguesia não terminam com a retomada do poder. A inflação parece escapar a qualquer tipo de controle; as rebeliões instabilizam o panorama político. Uma segunda coligação anti-francesa, formada por países absolutistas, tenta destruir o governo do Diretório. Os líderes do Diretório deixam-se tentar pelo enriquecimento fácil, filho dos subornos. A burguesia diante dessa situação decide abandonar o slogan “liberdade, igualdade, fraternidade”, dos tempos heróicos do início da revolução, para abraçar um outro bem mais prosaico, porém muito mais prático: “artilharia, infantaria, cavalaria”! Os empresários e banqueiros procuravam um braço forte para manter o governo burguês. Esse braço é o de Napoleão Bonaparte. Ele chega ao poder, com apoio decidido da burguesia, no “golpe de 18 brumário”, em novembro de 1799. Documento da época Rétif de la Bretonne foi testemunha ocular da Revolução Francesa. Ele não viu, certamente, tudo; porém tem o mérito de contar somente o que viu. Muitas vezes as coisas vistas valem mais do que a análise posterior de um especialista. Rétif era um escritor libertino, autor de vários trabalhos em que revela o mundo das prostitutas, dos bordéis, dos jogadores, dos assassinos, enfim, o submundo da Paris prérevolucionária. É sobre este personagem contraditório, que conseguiu exprimir o inconsciente coletivo, que o ensaísta e escritor brasileiro Sérgio Paulo Rouanet, no livro O Expectado Noturno - A Revolução Francesa através de Rétif de la Bretonne, procura lançar luzes. Rétif não é somente o burguês e o camponês, ele é também o povo urbano. Talvez seja essa uma das suas originalidades mais fortes, numa época em que os escritores retratavam sobretudo personagens nobres ou da alta burguesia. Seu mundo é o da plebe, que ele foi o primeiro a descrever. É o mundo das peixeiras, das costureiras, das lavadeiras, das prostitutas, dos bêbados, dos jogadores, dos assassinos. É o mundo dos pregões de rua, dos vendedores ambulantes, dos vagabundos, dos pequenos ofícios e das grandes misérias. Rétif toma partido desse povo humilhado, contra os ricos e influentes. O burguês sai de cena, com suas imprecações contra a ralé, e aparece um outro Rétif, que não vê mais a “vil canalha”, mas somente as massas ofendidas. “Uma coisa que impressiona imediatamente em Paris é a gradação de todas as hierarquias. Que espetáculo para o filósofo o dessa multidão de indivíduos que se tocam, um se contentando com um dia de prazer sobre sete, e outro se divertindo todos os dias e noites, que ainda acha curtos demais! O operário suporta todos os dias e noites os mais duros trabalhos, dos quais sabe que só poderá se libertar pela morte, na esperança de ir no domingo ao cabaré para beber um vinho detestável e comer um guisado de cavalo, com o grosseiro e pouco atraente objeto do seu amor.” E ainda: “Quem é vil? O trabalhador, o pedreiro, o carpinteiro, o alfaiate, o sapateiro? Quem é vil? Eu sei: aquele que os acha vis”. É o Rétif-povo que dirige essas palavras ameaçadoras aos ricos, três anos antes da Revolução: “Ricos, não sejam nem duros nem insolentes, ou apressarão uma revolução desastrosa para todos. Os senhores não têm um direito exclusivo às suas imensas propriedades. A insolência dos senhores, o seu luxo, o abuso criminoso de suas riquezas, os crimes que elas lhes facilitam, tudo isso se tornou insuportável, e eu vejo no tempo que avança, com a foice na mão, para cortar, dolorosamente para os senhores, os abusos pela raíz!” Essa nova faceta de Rétif é uma nova e importante faceta da Revolução Francesa: a revolução popular. Não o povo como abstração jurídica, mas o povo em sua realidade concreta. É o povo das mulheres dos Halles, as peixeiras que foram buscar em Versalhes, num outono chuvoso, o “boulanger, la boulangère et le petit mitron” (nota: essa é a maneira pejorativa pela qual foi designada a família real francesa, às vésperas da Revolução.), sentadas indecentemente nos canhões, expondo seus encantos secretos e os oferecendo “aos que melhor soubessem cumprir com o seu dever”. É o povo dos sans-culottes, que souberam impor sua vontade aos advogados da Constituinte, da Legislativa e da Convenção, sempre que a Revolução ameaçava retroceder e sair dos trilhos: no ataque às Tulherias, nos massacres de setembro, na expulsão dos girondinos. Esse povo nunca leu Adam Smith e não considera uma heresia o tabelamento dos preços. Ele tem fome e exige um salário adequado, mesmo que essa elevação do “preço do trabalho” comprometa a capacidade do país de concorrer internacionalmente. Não encara a propriedade como sacrossanta, porque nunca foi proprietário e se sente oprimido pelos proprietários. Massacra seus inimigos porque ele próprio será massacrado se os exércitos prussianos entrarem em Paris. Esse povo é democrático, mas não é liberal: ele se vê como a fonte de todo o poder, mas o poder que ele imagina não é regido pela liberdade de consciência e pelo habeas-corpus, e sim por leis vigilantes, implacáveis, capazes de desmascarar os espiões e punir os traidores. Esse é o povo que fez a Revolução, e é nele que se enraíza o pensamento de Rétif como proletário. É um Rétif que não fala mais em nome da ciência econômica, mas dos direitos da maioria - essa maioria cujo nome é povo, que pode tudo, inclusive o crime e a injustiça, e que precisa ser obedecida, sob pena de morte. É uma maioria que tem todos os direitos, inclusive o da insurreição, e por isso Rétif aprova o ataque às Tulherias e o morticínio nas prisões. Em suma, o Rétif sans-culotte exprime em grande medida a dimensão popular da Revolução Francesa - seu ódio aos ricos, seu desprezo pela propriedade, suas fantasias igualitárias, a violência e o Terror, a ausência de liberdade e a aceitação do massacre. Exprime, igualmente, a grande generosidade social da Revolução, seu impulso fraterno, sua vontade de eliminar a exploração econômica e de reprimir a insolência dos opulentos. É verdade que o sonho socialista de Rétif não foi realizado pela Revolução. Mas ele se identifica com ela é porque constitui um passo, mesmo formal, na concretização da igualdade. Cronologia 1453 1572 1589-1610 1598 1624- 1642 1635 1643- 1715 1652 1661- 1715 1685 1715- 1774 1720 1774- 1793 1789 1790 1791 1792 1793 1793 1793 1794 1794 - 1799 1799 - Fim da Guerra dos Cem Anos. - Noite de São Bartolomeu. - Governo de Henrique IV. - Édito de Nantes. - Ministro Cardeal Richilieu. - Ingresso da França na Guerra dos 30 Anos (1618-1648). - Governo de Luís XIV. - Repressão à Revolta das Frondas. - Governo pessoal de Luís XIV, o “rei-sol”. - Revogação do Édito de Nantes. - Governo de Luís XV. - Falência do Estado francês. - Governo de Luís XVI. - Revolta do Terceiro Estado e Tomada da Bastilha. - Confisco dos bens do clero. - Monarquia Constitucional; prisão do rei Luís XVI. - Invasão da França pela Áustria e Prússia. - Início da Convenção dominada pelos jacobinos. - Morte de Luís XVI; República. - Terror contra os inimigos da Revolução. - Deposição de Robespierre. - Regime do Diretório. - Golpe do 18 Brumário de Napoleão Bonaparte. Você aprendeu: Ao estudar o Absolutismo francês: Que o absolutismo francês tem suas raízes na Baixa Idade Média e se consolidou durante o reinado de Henrique IV, no século XVI; Cardeal Richilieu fortaleceu politicamente a França, ao intervir vitoriosamente na Guerra dos 30 Anos; Cardeal Mazarino derrota os nobres, na Revolta das Frondas; Luís XIV, o rei-sol, governa a França, de maneira pessoal, por 55 anos; Luís XV despreocupa-se com a administração, aprofundando a crise francesa. Ao estudar a França às vésperas da Revolução: Que a Revolução Francesa marca a destruição social e política dos vestígios feudais e a tomada do poder pela burguesia; Primeiro Estado estava dividido em um Clero Alto e rico, e um Baixo Clero comprometido com os interesses populares; Segundo Estado compunha-se de uma nobreza provincial, nobreza de toga e nobreza da corte; Terceiro Estado representava 97,5% da população, pagava os impostos, trabalhava arduamente e detinha apenas 1/3 dos votos dos Estados Gerais. Ao estudar as quatro jornadas revolucionárias: Que a primeira jornada revolucionária marca o surgimento da Assembléia Constituinte; A segunda jornada revolucionária foi a invasão do principal reduto repressivo do absolutismo. Ficou conhecida como a Tomada da Bastilha; A terceira jornada revolucionária ficou conhecida como o “Grande Medo” e implicou na criação da Declaração dos Direitos do Cidadão; A quarta jornada revolucionária foi a transferência do rei para Paris. Ao estudar a Monarquia Constitucional, o Terror e o Diretório: Que o período da Monarquia Constitucional é marcado pela divisão do poder entre o rei e a burguesia e pelo constante perigo do triunfo da contra-revolução; No início do período republicano há uma intensa luta política entre os partidos Girondino, Jacobino e do Pântano; No Período do Terror temos a radicalização política dirigida pelos representantes do Partido Jacobino; Diretório é marcado pelo retorno dos burgueses conservadores ao poder. Ao estudar o Golpe de 18 Brumário: Que a burguesia, cansada da instabilidade política, entrega o poder a um ditador, em troca de tranqüilidade para seus negócios. O ditador será Napoleão Bonaparte. Exercícios para classe: 1- Qual monarca era conhecido pelo apelido de “rei-sol”? a- Pelé; b- Luís XIV; c- Luís XXIV; d- Filipe, o “belo”; e- Ricardinho, “cai não cai”. 2- “Não existe alguma forma de governo nem algum estabelecimento humano que não tenha os seus inconvenientes, de modo que devemos permanecer no estado ao qual o povo está acostumado há muito tempo. É por isso que Deus toma sob sua proteção todos os governos legítimos, qualquer que seja a forma em que estão estabelecidos: quem tentar derrubá-los não é apenas um inimigo público, mas também um inimigo de Deus.” (Discours sur la Histoire Universelle) Este texto associa-se a: a- Richilieu; b- Colbert; c- Bossuet; d- Santo Agostinho; e- N. Maquiavel. 3- Qual a importância de Richilieu para o absolutismo francês? 4- ( UNIFIC-RS) A expressão “O Estado sou eu”, atribuída a Luís XIV, está relacionada com o seguinte conceito: a- grupo de autoridades governamentais possuidoras de certas características de excessiva formalidade, uso de verbosidade e jargão como base de comunicação, inflexibilidade de procedimento e insistência a respeito dos poderes de seu cargo; b- as funções políticas necessárias à sociedade devem ser exercidas por federações sindicais independentes, em bases regionais, nacionais e internacionais; c- forma de governo em que os membros de uma sociedade agem como autoridade na elaboração política ou são representados por um pequeno número de pessoas que realizam essa elaboração em nome deles; d- crença - diretamente oposta ao individualismo - de que a sociedade deve ser organizada na base de controle coletivo da produção econômica e das decisões políticas; e- forma de governo em que os governantes assumem o poder total em virtude de atributos pessoais, da autoridade ou da natureza das leis, que interpretam ou aplicam. 5- Do ponto de vista de percentual da população, compare os três estados que formavam os Estados Gerais. 6- (FGV) No período antecedente à Revolução Francesa, uma das classes sociais era o clero que se apresentava: a- como uma classe homogeneamente comprometida com os privilégios da monarquia absoluta; b- como uma classe homogeneamente em oposição à monarquia absoluta, em nome dos direitos humanos; c- dividido em um clero alto e rico, comprometido com a monarquia absoluta, e um baixo clero pobre; d- cindido em um segmento alto, de oposição ao governo absoluto e um segmento baixo, que o apoiava; e- dividido em relação ao poder absoluto, mas à margem dos privilégios do antigo regime. 7- Mostre a situação da sociedade francesa na segunda metade do século XVIII. 8- (FUVEST) Os conflitos internos da Assembléia dos Estados Gerais, convocada por Luís XVI da França, terminou por levar o Terceiro Estado a se constituir em Assembléia Nacional. Aqueles conflitos relacionavam-se: a- com a votação da abolição dos privilégios da nobreza, e do clero, à qual se opunham os Primeiro e Segundo Estados; b- com a violência com que a nobreza defendia a realeza; contrária, portanto, aos interesses da burguesia francesa, que propunha a proclamação da República; c- com a questão do voto, uma vez que o Terceiro Estado defendia o voto individual enquanto que os demais estados defendiam o voto por classe; d- com a demissão do ministro Necker por Luís XVI, numa decisão arbitrária e contra o voto da Assembléia; e- com a luta pelo controle da Comissão de Salvação Pública travada entre os Partidos da Gironda e da Montanha. 9- Quais foram as “quatro jornadas revolucionárias”, de 1789? 10- As ‘quatro jornadas revolucionárias” foram obra de todo um povo, mas de que classe social eram os grandes vitoriosos desse período? 11- Quais eram os partidos políticos que participavam da Convenção Nacional, que dirigiu a França entre 1792 e 1795? 12- (FGV) Sobre os girondinos e jacobinos que se constituíram nas mais importantes correntes de opinião radical na Convenção Nacional que dirigiu a França no período 1792-1795, pode-se afirmar que: a- os girondinos foram um dos primeiros grupos a defender idéias socialistas; b- os jacobinos eram discípulos ardentes de Rousseau e defensores militantes do proletariado urbano; c- os girondinos embora não seguissem as idéias de Rousseau eram ardorosos defensores dos camponeses franceses; d- os jacobinos tiveram como simpatizantes John Locke e Bossuet; e- os girondinos tiveram como simpatizantes Jacques Bossuet e Jean Bodin. 13- Explique a posição dos partidos políticos no início da República. 14- (SÃO LEOPOLDO) Com a morte de Robespierre, iniciou-se a fase denominada reação termidoriana, que assinala: a- a ascensão de Napoleão pelo golpe de 18 Brumário; b- o início do terror; c- o fim da convenção; d- a formação da primeira coligação contra a França; e- a volta da burguesia ao poder. 15- Caracterize o governo do Diretório. 16- (FGV) Na França, a grave crise financeira aliada ao crescente desprestígio do Diretório e à revolta generalizada com a corrupção dos funcionários públicos foram alguns dos fatores que determinaram em 1799: a- a conspiração de tendência comunista de Graccus Babeuf; b- o golpe de estado de Napoleão Bonaparte em 18 Brumário (9 de novembro); c- a restauração do governo dos Bourbon; d- o fortalecimento do poder da Convenção Nacional a partir do mês de ventoso (fevereiro/março); e- o golpe de estado de Robespierre, em 18 Frutidor (4 de setembro). Respostas dos exercícios para classe: 1- b. 2- c. 3- Ao jogar a França na Guerra dos 30 Anos, Richilieu fortalece econômica e politicamente a França. Além disso, o cardeal exige a submissão da nobreza e da burguesia ao governo monárquico. 4- e. 5- O terceiro estado era muito mais numeroso, possuindo mais de 97% da população, enquanto os demais estados, somados, não chegavam a 3% do total. 6- c. 7- Era constituída por três ordens sociais: o Primeiro Estado (clero) e o Segundo Estado (nobreza) que perfaziam menos de 5% da população e detinham todos os privilégios, inclusive isenção completa de impostos, e o Terceiro Estado (povo em geral), de composição bastante diversificada, sobre cujos membros recaíam todos os tipos de taxação. 8- c. 9- Foram: o “juramento do jogo da pela”; a “tomada da bastilha”; o “grande medo” e a “transferência do rei para Paris”. 10- Burguesia. 11- Partido Girondino; Partido Jacobino e o Pântano. 12- b. 13- O Partido Girondino (direita), representando a alta e média burguesia, assumiu posições conservadoras, procurando garantir suas propriedades e liberdade econômica. O Partido Jacobino (esquerda), representando a pequena burguesia e as camadas populares, caracterizou-se pela defesa de amplas reformas no país. O Pântano (centro) era politicamente indefinido, apoiando ora girondinos, ora jacobinos.. 14- e. 15- Após uma tentativa de golpe dos monarquistas(1795), instalou-se o governo do Diretório, marcado por desmandos políticos, erros na administração econômica e escancarada corrupção. Como o caos ameaçava destruir a sociedade francesa, uma parcela da burguesia decidiu articular um golpe para implantar uma ditadura política. Esse golpe foi desfechado, colocando Napoleão Bonaparte no poder. 16- b. Exercícios para casa: 1- (FUVEST) “O Estado sou eu”. Esta frase do rei francês Luís XIV indicava uma particular organização do Estado Moderno. Qual era esta particular organização? Dê duas de suas características. 2-(CESGRANRIO)A Revolução Francesa, marco histórico e cronológico da contemporaneidade ocidental, apresentou em seu processo várias fases que: Irepresentaram a falta, no seu momento inicial, de um projeto que pudesse acentuar os caminhos que deveriam ser seguidos para implantação de uma sociedade liberal. IIdemonstraram como a oposição ao Antigo Regime não se resumia aos setores burgueses, mas que também havia insatisfação entre os nobres, o clero e os camponeses. IIIacentuaram as dificuldades econômicas vividas por uma sociedade que apresentava um crescimento industrial que, desde 1780, já havia superado a produção agrícola. IVidentificaram as diferenças entre as ideologias feudal e liberal, além de refletirem a supremacia dos interesses camponeses, especialmente durante o período jacobino. Assinale a opção que apresenta as afirmativas corretas: a- somente I e II; b- somente I e III; c- somente I e IV; d- somente II e III; e- somente III e IV. 3- (PUC-MG) Sobre a Revolução Francesa é correto afirmar que: a- o Diretório se ligara ao interesse da burguesia, substituindo a República Jacobina, porém seu caráter frágil e a anarquia possibilitaram a ascensão de Napoleão; b- os homens da revolução defenderam o conceito do “ancien régime”, entendendo que seria este o caminho para a liberalização da sociedade; c- suas raízes datam da ação da sociedade contra o Estado onde o povo, sob inspiração marxista, precipita-se contra os privilégios e muda as dimensões dos acontecimentos; d- seu fundamento teórico se calcara no ideário liberal de defesa da preservação do direito de propriedade e das prerrogativas oriundas do nascimento; e- distingue-se pela existência de várias fases, destacando-se o período da Convenção, sob a liderança de Robespierre, como fundamental para a consolidação do poder e interesses da alta burguesia. 4- (PUC-MG) A Revolução Francesa de 1789 foi uma revolução burguesa ou uma revolução popular? Justifique. 5- Trace um painel da economia francesa às vésperas da revolução. 6- Dê as principais características da Constituição de 1791. 7- Comente as principais medidas do governo jacobino e aponte o significado do Terror. 8- Qual foi o objetivo do Pântano ao desfechar o golpe do 9 Termidor? 9- Qual o significado do golpe do 18 Brumário de Napoleão Bonaparte? 10- (FEI/MAUÁ-SP) Explique por que a classe social burguesa, que durante a Revolução Francesa pôs fim à monarquia absoluta - chegando, inclusive, a executar um monarca, Luís XVI - acabou por fim apoiando um outro regime político centralizado, o Império de Napoleão. 11- (UNESP) A Revolução Francesa é um fenômeno histórico muito complexo. Os historiadores não foram capazes de uma apreciação serena dos bons e maus frutos oriundos, tal a violência das paixões políticas, econômicas, sociais e religiosas que desencadeou na Europa do século XIX. Ela inicia o século dos movimentos revolucionários que atingem a quase totalidade dos países europeus e do Novo Mundo. Essas revoluções constituem o triunfo das democracias européias e americanas. Os significados político, social, econômico e cultural da Revolução Francesa são marcados pelas afirmativas a seguir, exceto: a- foi no período revolucionário denominado Diretório que foram executados o rei e a rainha e instaurada na França uma ditadura policial que esteve à frente de toda a época conhecida por Terror; b- a Revolução Francesa foi, antes de mais nada, um movimento político; c- o principal dos aspectos sociais foi o estabelecimento legal da “igualdade”, acabando com os privilégios de classe, ou corporativos, fundamentados principalmente nas diferenças de nascimento; d- o ano de 1789, início da Revolução Francesa, abriu caminho ao liberalismo econômico; e- foi durante a Convenção Nacional que se fez a grande obra cultural da Revolução, continuada depois no Império. 12- (UFCE) Assinale a afirmação correta sobre a Revolução Francesa: a- os girondinos formavam um grupo conservador moderado, partidário de mudanças graduais; b- os jacobinos representavam o movimento conservador, inimigo de reformas radicais e imediatas; c- Babeuf liderou um movimento popular pela restauração da monarquia; d- o governo do Diretório teve predominância popular e linha radical; e- os revolucionários substituíram o culto católico pelo culto dos deuses da Comuna de Paris. 13- (PUC-MG) “Ao terrorismo do censo sobre as idéias sucede o terrorismo do poder sobre as pessoas e sobre as coisas”( François Furet; Pensando a Revolução Francesa). A Reação Termidoriana foi liderada: a- pelos líderes jacobinos da ala liberal; b- pela aristocracia agrária que apoiava Luís XVI; c- pelos líderes do Diretório que apoiavam Bonaparte; d- pelos líderes montanheses da ala radical; e- pela burguesia abastada e conservadora. 14- (FUVEST) A Revolução Francesa representou a vitória de uma burguesia em ascensão econômica e social. Quais os principais pontos que caracterizam essa vitória? 15- (FUVEST) No decurso da Revolução Francesa, destacaram-se várias facções ou agrupamentos políticos conhecidos por denominações específicas. Esclareça os interesses defendidos pelos Girondinos e pelos Jacobinos e indique qual desses, no recinto do plenário da assembléia, sentava na ala esquerda. 16- A expressão “sans-culottes” é, muitas vezes, utilizada de maneira equivocada. Confunde-se o “sans-culotte” com os desempregados, marginais e indifentes. No entanto esse grupo, essencialmente urbano, é formado, sobretudo, por um proletariado em gestação. Para saber quem são os “sans-culottes”, vamos nos utilizar de um texto de Michel Péronnet: Quem são os “sans-culottes”? Esse termo é empregado, durante o período revolucionário, sobretudo a partir de 1792, para designar as massas populares urbanas, mais especificamente as dos subúrbios do Leste de Paris: o de Saint-Antoine, na margem direita, e o de Saint-Marcel, na margem esquerda do Sena. Politicamente, os “sans-culottes” formam a armadura das seções parisienses e dos comites revolucionários, aos quais a organização do Terror atribui um papel importante. Eles formam a massa de manobra das grandes jornadas parisienses de 10 de agosto de 1792, e de 2 de julho e 5 de setembro de 1793. Eles se engajam nos exércitos revolucionários. Socialmente, os “sans-culottes” representam citadinos que vivem do seu trabalho, seja como artesãos, seja como profissionais de ofício; alguns, depois de uma vida laboriosa, tornam-se pequenos proprietários na cidade, e usufruem as rendas de um imóvel. Portanto, os “sans-culottes” não devem ser confundidos com o indigente que eles querem socorrer. Este grupo de pequenos proprietários pensa que a difusão da propriedade permitirá a instauração da felicidade, graças à igualdade: “Um dia virá em que o nível da lei regulamentará as fortunas; não deverá ser permitido que um cidadão possua mais do que uma quantidade de arpents de terra” declara um dos oradores “sans-culottes”, Sylvaim Maréchal. Consumidores urbanos, os “sans-culottes” são sensíveis às dificuldades de abastecimento, às crises de víveres. Eles exigem o tabelamento dos gêneros. “É preciso fixar invariavelmente os preços dos gêneros de primeira necessidade, os salários do trabalho, os lucros da empresa e os ganhos do comércio”, pede a seção do Jardin des Plantes (2 de setembro de 1793). O programa econômico dos “sans-culottes” permanece vago e surge como uma aspiração à igualdade entre os pequenos proprietários independentes, possuindo meios de satisfazer às suas necessidades - “Que o máximo das fortunas será fixado, que o mesmo indivíduo só poderá possuir um máximo, que ninguém possa manter para alugar mais terra do que é necessário para uma quantidade de charrua (charrua= espécie de arado) determinada. Que o mesmo cidadão só possa ter um estabelecimento comercial ou uma oficina...”. Este amor pela igualdade liga-se à república e à virtude. Os “sans-culottes” se reconhecem exatamente pela prática das virtudes republicanas e da igualdade: dirigem-se aos outros chamando-os de cidadãos e cidadãs. Sua aparência é popular: usam calça, vestimenta de trabalho, e não calção, roupa de ostentação do aristocrata, uma camisa, uma jaqueta curta, a carmanhola; usam o barrete frígio, símbolo antigo da escravidão libertada, marcado pela insígnia nacional; usam permanentemente o sabre e o pique, porque só o homem armado pode defender a revolução “contra os aristocratas, os realistas, os moderados, os intriguistas... todos esses celerados.” O “sans-culotte” é bom pai, bom marido, homem virtuoso que ama sua família: ele contrapõe a virtude revolucionária à depravação dos aristocratas. Pouco a pouco se forja, na prática política cotidiana de uma assembléia próxima do domicílio dos participantes, uma doutrina política. O ponto de partida é o princípio da soberania popular, exprimindo-se na assembléia dos cidadãos prontos para combater. O poder soberano da assembléia se exerce diretamente, e se é preciso delegar, isso só pode ocorrer por um mandato preciso, a curto prazo e renovável. Os debates são públicos como os votos, porque a expressão da vontade soberana deve fazerse por unanimidade, na igualdade e na fraternidade. É dever de cada cidadãodenunciar às seções os suspeitos e os inimigos da nação, “para salvaguardar a liberdade”. O homem armado pode levantar-se para salvar a república, daí o pedido de direito de insurreição e seu reconhecimento oficial na Declaração de Direitos do ano I. Os “sans-culottes” parisienses se organizam, no verão de 1792, para preparar a queda do rei e a defesa da pátria, atacada por uma coalisão de reis. “Até quando suportarão que a realeza, a ambição, o egoísmo, a intriga e a avareza coalizados com o fanatismo entreguem nossas fronteiras à tirania e espalhem por todo lado a devastação e a morte?” Agora que você leu o texto, responda: É possível estabelecer uma síntese do pensamento “sans-culotte”? Justifique seu ponto de vista com elementos retirados do próprio texto. 17- O trecho seguinte foi retirado do livro de Modesto Florenzano, intitulado As Revoluções Burguesas. Nele encontramos uma brilhante síntese das causas da Revolução Francesa: “Na véspera da Revolução, tanto a aristocracia quanto a nobreza em geral apresentavam as seguintes características e tendências comuns: haviam se transformado praticamente em castas fechadas, todas hereditárias e ciosas de suas origens e condição; estavam proibidas de qualquer prática mercantil ou industrial, sob pena de se desclassificarem ( isto é, de perderem a condição nobre e os privilégios a ela vinculados); eram, portanto, todas feudais, pois viviam de rendas provenientes das terras (direitos feudais e senhoriais). De modo que, ao longo do século XVIII, a nobreza em geral e a aristocracia em particular haviam conseguido monopolizar para si todo o aparelho do Estado, da Igreja e do Exército. O aristocrata estava satisfeito com a sua condição, o burguês queria ascender. O verdadeiro gentleman parecia possuir por virtude inata aquilo que o burguês somente podia obter mediante grande fadiga: instrução, posição social, prestígio, um bom casamento, uma carreira, o tom justo na conversação e o senso de humor no salão. Na raiz da atitude do burguês para com o aristocrata havia uma mistura de inveja e desprezo, uma espécie de consciência moralista de classe que contrapunha as sólidas qualidades do caráter ao ócio e à superficialidade de quem era socialmente superior. Ora, na França, a incapacidade da monarquia absolutista em realizar as reformas que a burguesia exigia, cada vez com mais determinação, foi fatal à sua sobrevivência. Os comerciantes e manufatureiros burgueses cujos interesses estavam ligados à liberdade de comércio e de produção, ao verificarem que a adoção do liberalismo econômico se tornava impossível, começaram a se voltar contra a monarquia absolutista. O descontentamento também era grande no seio das classes mais numerosas do Terceiro Estado, sobretudo entre os camponeses, sobre cujos ombros recaía todo o peso da brutal exploração da nobreza, do clero e do Estado. entretanto, ao contrário do que acontecia com a burguesia, a insatisfação dos camponeses e do proletariado urbano, por razões óbvias (decorrentes de sua pobreza, exploração, ignorância, etc.), não se manifestava politicamente (pelo menos até o início da revolução). Porque as luzes dos filósofos não os atingiam, seu descontentamento perdia-se no silêncio e sua revolta terminava nos braços da repressão. Os camponeses, que pagavam impostos ao Estado, dízimos à Igreja e direitos feudais à nobreza, eram no século XVIII quase todos livres (apenas um número insignificante continuava submetido à servidão pura e simples) e proprietários de pequenos lotes de terra. A existência de uma diferenciação social no interior do campesinato não impedia que um elemento importante os igualasse e unificasse enquanto classe: a exploração feudal a que todos estavam submetidos. Com a reação senhorial, em meados do século XVIII, esta exploração tornou-se ainda mais odiosa e insuportável, pois os nobres, para defender suas rendas, sempre insuficientes para seu trem de vida perdulário, lançavam mão de direitos feudais que há muito haviam caído em desuso. Seja como for, a situação do campo era potencialmente explosiva.” Lido o texto, e auxiliado pelo que você já sabe sobre o assunto, responda a questão seguinte: (UFMG) A eclosão da Revolução Francesa de 1789 foi condicionada por uma série de fatores A- Cite três desses fatores. B- Indique as principais características e interesses dos vários segmentos da sociedade por ocasião do início da revolução. -Nobreza; - Burguesia; - Classes populares. Respostas dos exercícios para casa: 1- O Estado moderno, isto é, absolutista, caracteriza-se pela concentração de poderes à disposição da monarquia. Poderes de dirigir a economia, legislar, nomear ministros, criar tributações. O Absolutismo é alimentado pelo intervencionismo mercantilista, que o viabiliza economicamente, e também pelo equilíbrio social que mantém entre a nobreza e a burguesia. 2- d. 3- a. 4- Para se definir a quem pertenceu uma revolução, talvez seja interessante perguntar quais os interesses que esta revolução, ao se desencadear, beneficiou. De acordo com essa premissa, chegamos à conclusão de estarmos diante de uma revolução burguesa. Afinal, a Revolução Francesa tirou o monarca do poder, substituindo-o por uma assembléia ( e depois cônsules, mais tarde um imperador...) que representavam os interesses da burguesia; estabeleceu-se uma igualdade jurídico-política que, ao destruir os privilégios de sangue, beneficiou a burguesia. Pode-se argumentar que a Revolução francesa colocou o povo nas ruas. Todas as revoluções o fazem, só que quase sempre o povo é manipulado e, no caso da Revolução Francesa, foi a fome que colocou a população nessas ruas, sem que houvesse, entre os humildes, um projeto claro do que eles queriam, do ponto de vista social, econômico ou político. 5- Agricultura: abalada por crises climáticas, técnicas rudimentares e baixa produtividade. Submetidos a taxações exorbitantes, os trabalhadores viviam em tensão permanente. Indústria: permanência de corporações de ofício, com produção insuficiente para atender ao mercado; indústrias domésticas de tecidos, controladas por mercadores burgueses; manufaturas reais, dedicadas a artigos de luxo e rigidamente controladas pelo governo mercantilista; e empresas particulares, pouco numerosas, dedicadas à siderurgia e tecelagem. Por depender das matérias-primas do campo, a cada crise agrícola, a indústria também se retraía. Comércio: em nível interno, prejudicado pela permanência das alfândegas e, em nível externo, prejudicado pela perda de colônias, que fez diminuir o fluxo de matériasprimas e manufaturados. 6- A Constituição de 1791, que inaugurava a monarquia constitucional na França, fundamentava-se no liberalismo, abolia o feudalismo, estabelecia a liberdade de comércio, confirmava o direito à propriedade privada e adotava o voto censitário, resguardando assim os direitos da burguesia. 7- Durante o governo jacobino foi decretado o tabelamento dos alimentos e dos salários. Algumas reformas pretenderam tornar eqüitativa a posse de terras e a cobrança de impostos. Em 1793, foi promulgada nova Constituição, inspirada em Rousseau, que garantia o direito de voto a todos os maiores de 21 anos. Como essas reforma provocassem reações contrárias, os jacobinos deram início ao Terror, suspendendo a Constituição e adotando severas medidas para implantar, pela força, o governo revolucionário. 8- O objetivo do Pântano foi liquidar com o regime do Terror e anular todas as reformas sociais implementadas pelo governo revolucionário. Os clubes jacobinos foram fechados, suspendeu-se o tabelamento de preços e salários e uma nova Constituição (1795) restabeleceu o voto censitário. 9- O Golpe do 18 Brumário significou a consolidação dos interesses burgueses, na direção da Revolução Francesa, pois marcou a subida de Napoleão Bonaparte ao poder, com o apoio do exército e da alta burguesia, para instalar um governo forte e centralizado, totalmente independente dos interesses e interferências das classes trabalhadoras. 10- O objetivo básico da burguesia era chegar ao poder, não era o de implantar um regime democrático. Chegando ao poder, ficou claro para os burgueses que o processo de consolidação do regime seria acelerado se o poder se concentrasse nas mãos fortes de um ditador. Assim, a burguesia troca a palavra de ordem “liberdade, igualdade, fraternidade”, sem nenhum remorso, por “artilharia, infantaria, cavalaria”, entregando o poder a Napoleão. 11- a. 12- a. 13- e. 14- Graças à Revolução Francesa, assistimos à queda dos privilégios da nobreza e do clero, do Estado absoluto, do mercantilismo, e dos resquícios do feudalismo. No seu lugar surgem o Estado liberal, a sociedade de classes e os ideais iluministas. 15- No decorrer da Revolução Francesa, na fase da Convenção, as facções políticas que mais se destacaram foram os Girondinos e Jacobinos. Os Girondinos defendiam o liberalismo da alta burguesia, principalmente a financeira. Os jacobinos sentavam-se à esquerda do plenário, eram os radicais, fundamentados nas idéias de Rousseau, defendendo os interesses da pequena burguesia e populares. 16- Embora o aluno deva responder de maneira pessoal, é provável que a resposta aponte para um pensamento “sans-culotte” com conotações socialistas-utópicas e radicais. Será ótimo se o aluno perceber um toque de autoritarismo, nesse pensamento, relacionando-o com alguns grupos de esquerda dos tempos atuais. 17- A- Entraves feudais à expansão da economia capitalista; relações sociais ultrapassadas; crise econômica; influência do pensamento iluminista; inadequação da representação social nas decisões políticas do reino. B- A nobreza achava-se fragmentada politicamente, com um grupo palaciano reacionário, uma nobreza togada conservadora vinculada à estrutura administrativa e uma nobreza provincial que queria manter-se às custas da sobre-exploração do campesinato. A burguesia, enriquecida em suas atividades econômicas, desejava ampliar sua participação nas decisões políticas do reino. As classes populares, apesar de desarticulados politicamente, odiavam a exploração a que estavam submetidos e tendiam a aceitar o papel de verdugos da nobreza.