1.2 Lesão por Inalação de Fumaça

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1
SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI
INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
Sheyla Cristine Alves Lôbo
Ventilação Mecânica na Lesão Pulmonar Grave pós-inalação de
fumaça no grande queimado. Relato de Caso.
BRASÍLIA
2012
2
Sheyla Cristine Alves Lôbo
Ventilação Mecânica na Lesão Pulmonar Grave pós-inalação de
fumaça no grande queimado. Relato de Caso.
Dissertação (Estudo de Caso) apresentada à
Banca Examinadora do Programa de Mestrado
Profissionalizante da Sociedade Brasileira de
Terapia Intensiva como requisito para obtenção do
título de Mestre em Terapia Intensiva.
Turma: DF 2009
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Tadine
Brasília DF
2012
3
À Deus, que permitiu alcançar os meus sonhos que
é a minha força, fortaleza e refúgio.
À minha mãe que é a razão do meu existir, é tudo
pra mim e representa o amor mais puro e verdadeiro que
tenho em meu coração, à Pérola sempre presente, aos
meus amigos em especial à Juliana e Pâmella que
acompanharam de perto essa fase dando apoio, carinho e
a amizade necessária nessa minha nova conquista e aos
meus familiares que de uma forma ou de outra fazem
parte da minha vida e torcem pelo meu sucesso.
Dedico
4
RESUMO
LÔBO, Sheyla Cristine Alves. Ventilação Mecânica na lesão pulmonar grave pósinalação de fumaça no grande queimado. Relato de Caso. 2012. 37 páginas.
Programa de Pós Graduação – Mestrado Profissionalizante da Sociedade Brasileira
de Terapia Intensiva (SOBRATI) como requisito para obtenção do título de Mestre
em Terapia Intensiva. Brasília, 2012.
É conhecido que complicações pulmonares afetam adversamente o prognóstico de
pacientes com queimaduras. A lesão inalatória é o resultado do processo
inflamatório das vias aéreas e pode ser o determinante mais importante para a lesão
pulmonar progressiva que leva a um grave quadro de Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo com a necessidade de uma correta modalidade ventilatória para
um tratamento adequado da lesão. Dessa forma o objetivo do estudo é demonstrar e
relatar que a Ventilação Mecânica protetora em um paciente grande queimado com
lesão pulmonar, preveniu as complicações pulmonares esperadas, minimizou as
sequelas pulmonares, diminuiu o tempo de internação hospitalar e o risco de
mortalidade, assegurando uma melhor qualidade de vida. O trabalho foi
desenvolvido com o livre consentimento do paciente hospitalizado em uma Unidade
de Terapia Intensiva em um Hospital do Distrito Federal no ano de 2011/12 com a
contribuição do prontuário e demais exames para a realização desse estudo. Desta
forma, o relato deste caso clínico compreende e possibilita a orientação de estudos
e pesquisas posteriores em ventilação mecânica protetora para grandes queimados
ao mostrar uma abordagem fisioterapêutica e ventilatória mais adequada.
Palavras Chaves: Ventilação Mecânica Protetora. Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo. Grande Queimado. Lesão Inalatória Pulmonar.
5
ABSTRACT
LOBO, Sheyla Cristine Alves. Mechanical ventilation in severe lung injury after
smoke inhalation in major burn. Case Report. 2012. 37 pages. Graduate Program Master of Professional Brazilian Society of Intensive Care (SOBRATI) as a
requirement for obtaining the title of Master in Intensive Care. Brasilia, 2012.
Pulmonary complications are known to adversely affect the prognosis of patients with
burns. Inhalation injury is the result of airway inflammation and may be the most
important determinant to progressive lung damage that leads to a major part of Acute
Respiratory Distress Syndrome, the need for a correct ventilation mode to an
appropriate treatment of the lesion. Thus the aim of this study is to demonstrate and
report that protective mechanical ventilation in an extensively burned patients with
lung injury, pulmonary complications expected prevented, minimized pulmonary
consequences, decreased hospital stay and mortality risk, ensuring a better quality
life. The study was conducted with the free consent of the patient hospitalized in an
Intensive Care Unit in a Hospital of the Federal District in the year 2011/12 with the
contribution of medical records and other tests for this study. Thus, the report of this
case study comprises and enables the orientation studies and further research on
protective ventilation for large burned by showing a physical therapy approach and
most appropriate ventilation.
Keywords: Protective Mechanical Ventilation. Acute Respiratory Distress Syndrome.
Major Burn. Inhalation Lung Injury.
6
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Incremento de Peep
Gráfico 2: Incremento de FiO2
Gráfico 3: Relação PaO2/FiO2 Troca Pulmonar comparada ao uso da PEEP
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Regra dos Nove
Figura 2: Organograma – Fisiopatologia – Traqueobronquite Química
Figura 3: Raio-X 23.12.2011 – Admissão
Figura 4: Raio-X 27.12.2012 – Piora Radiológica / Atelectasia
Figura 5: Raio-X 31.12.2011 – Início SDRA
Figura 6: Raio-X 04.01.2012 – Pré Extubação – Durante Desmame
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Escala de valores para avaliação do resultado e de sobrevida de Tobiasen
Tabela 2. Superfície Corporal Queimada
Tabela 3. Características Clínicas da Lesão Inalatória
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LISTA DE ABREVIATURAS
bpm: batimento por minuto
CO2: Gás Carbônico
°C: Graus Celsius
DF: Distrito Federal
FiO2: Fração Inspirada de Oxigênio
FR: Freqüência Respiratória
HCO3: Bicarbonato
IO: Índice de Oxigenação
IOT: Intubação Orotraqueal
IRpA: Insuficiência Respiratória Aguda
irpm: incursões respiratória por minuto
LI: Lesão Inalatória
LPA: Lesão Pulmonar Aguda
mmHg: Milímetros de Mercúrio
mmol: milimol
MMSS: Membros Superiores
O2: Oxigênio
PaCO2: Pressão arterial de gás carbônico
PaO2: Pressão Arterial de Oxigênio
PaO2/FiO2: Relação Pressão arterial de oxigênsio sobre Fração inspirada de
oxigênio – Troca Pulmonar
PAVm: Pneumonia Associada a Ventilação Mecânica
PCV: Ventilação Controlada a Pressão
PEEP: Pressão Positiva ao Final da Expiração
Pflex-inf: Ponto de flexão inferior
Pi: Pressão Inspiratória
PNM: Pneumonia
Ppl: Pressão de Platô
P x V: Pressão x Volume
PSV: Ventilação por Pressão de Suporte
RX: Raio-X
SCQ: Superfície Corpórea Queimada
10
SDRA: Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
UTI: Unidade de Terapia Intensiva
VMI: Ventilação Mecânica Invasiva
VMNI: Ventilação Mecânica Não Invasiva
V/Q: Ventilação / Perfusão
Vt: Volume Corrente Total
11
SUMÁRIO
1.
Introdução ..................................................................................................................... 1
1.1 Definição da Lesão Dérmica - Queimadura ................................................................ 12
1.2 Lesão por Inalação de Fumaça .................................................................................. 14
1.3 Complicações Pulmonares ......................................................................................... 17
2.
Metodologia ................................................................................................................ 18
3.
Lesão por Inalação de Fumaça .................................................................................. 18
3.1 Traqueobronquite Química – Fisiopatologia ............................................................... 18
4.
Ventilação Mecânica ................................................................................................... 21
4.1 Pressão Positiva ao Final da Expiração (PEEP) ......................................................... 21
4.2 Ventilação como Estratégia Protetora Pulmonar ........................................................ 23
4.3 Ventilação Mecânica Não Invasiva – Estratégia de Desmame Ventilatório................. 23
5.
Fisioterapia Respiratória ............................................................................................ 24
6.
Relato de Caso ............................................................................................................ 26
7.
Referências ................................................................................................................. 33
8.
Sobre os Autores ........................................................................................................ 37
12
1. Introdução
1.1 Definição da Lesão Dérmica - Queimadura
A queimadura é a lesão resultante do calor, como energia isolada ou
associada à outra forma energética, sobre o revestimento cutâneo em que ocorrem
alterações e danos teciduais decorrentes de oscilações calóricas, incompatíveis com
as exigências fisiológicas do tecido. Os agentes causadores de queimaduras lesam
os tecidos pela ação do calor, frio ou por outras causas físicas e químicas (Moino,
Nogueira et al., 2003).
Fatores relevantes preditivos de mortalidade, em ordem decrescente de
importância, são: lesão pulmonar por inalação de fumaça superfície corpórea
queimada e idade (Moino, Nogueira et al., 2003).
Na população em geral, as lesões por queimadura ocorrem mais comumente
no sexo masculino /57,74%, nos indivíduos da raça branca / 71,74%, e no ambiente
domiciliar / 85,55% (Gemperli, Diamant et al., 1999).
As consequências a que estão sujeitas vítimas de queimadura podem variar
de uma simples lesão, sem sequelas, até o óbito, na dependência da extensão,
profundidade e localização do dano (Irrazabal, Capdevila et al., 2008).
Além da extensão da superfície corporal queimada, que acarreta alteração
estrutural na cobertura cutânea com grande carga de colonização bacteriana, outros
fatores favorecem as complicações infecciosas nos queimados: a imunossupressão
decorrente da lesão térmica, a internação prolongada e o uso inadequado de
antimicrobianos. Também, o uso de cateteres e tubos, ou seja, os procedimentos
invasivos diagnósticos e terapêuticos que levam ao comprometimento das defesas
naturais do hospedeiro favorecem a ocorrência de infecção (Soares De Macedo e
Santos, 2006).
A percentagem da área corporal queimada, a profundidade da queimadura,
sexo e a faixa etária são fortes indicativos da gravidade da lesão, e sua estreita
13
relação com a mortalidade. Índices são propostos para estimar a mortalidade após
queimaduras severas. Além da área corporal total, o comprometimento de todas as
camadas de pele e tecidos profundos, a inalação de fumaça e produtos tóxicos é
preditiva de aumento na mortalidade (Gemperli, Diamant et al., 1999).
Tobiasen e cols. desenvolveram uma tabela visualizada abaixo de valores
que pode ser utilizada para cálculo do tratamento e para a previsibilidade de
resultados quanto ao paciente queimado (Gemperli, Diamant et al., 1999).
Tabela 1. Escala de valores para avaliação do resultado e de sobrevida de Tobiasen
Escore realizado com a finalidade de estimar a sobrevida de um paciente vítima de queimadura.
Fonte: (Lima, 2005).
14
O Grande Queimado caracteriza-se por apresentar repercussões sistêmicas
importantes. Neste grupo a profundidade da queimadura varia entre segundo e
terceiro graus, com evidente predomínio das lesões de terceiro grau, o que acarreta
o envolvimento de vários órgãos e sistemas. Também enquadradas, neste grupo,
estão às lesões que envolvem face, mãos, pés e vias aéreas (Lima, 2005).
Os métodos mais empregados são o de Lund e Brownder e a regra dos
“Nove”. A regra dos nove é utilizada nas salas de emergência para uma primeira
avaliação da superfície corporal queimada, podendo ser utilizada como guia para
algumas decisões a serem tomadas (Lima, 2005).
Tabela 2. Superfície Corporal Queimada
(Representação em percentagem das áreas
(Divididas por regiões e superfície do corpo)
ÁREA / SUPERFÍCIE
EQUIVALÊNCIA
PERCENTAGEM
Cabeça e Pescoço
9%
Extremidades
9%
Superiores
Região Anterior do
18%
Tronco
Região Posterior do
18%
Tronco
Extremidades
18%
Inferiores
Períneo
1%
Figura 1. Regra dos Nove
(Ilustração da representação em percentagem da superfície
queimada)
1.2 Lesão por Inalação de Fumaça
A lesão por inalação de fumaça ocorre com frequência em vítimas de
queimaduras quando expostas a uma área queimada superior a 33% sendo uma
das principais causas de mortalidade; visto que 80% das mortes em incêndios
15
ocorrem a partir de hipóxia devido à privação de oxigênio ou de inalação de toxinas
encontradas em substâncias químicas (Soares De Macedo e Santos, 2006).
Os pacientes não apresentam quadro clínico nas primeiras 24hs, porém a
lesão por inalação deve ser suspeitada quando o paciente foi queimado em um
espaço fechado, tem queimaduras faciais e/ou desenvolve progressiva rouquidão ou
estridor com uma tosse produtiva e escarro carbonizado. Os efeitos clínicos de lesão
por inalação térmica normalmente manifesta-se dentro de algumas horas após a
lesão, enquanto a lesão química do trato respiratório inferior progride mais
lentamente (Irrazabal, Capdevila et al., 2008; Merrel e Mayo, 2004; Steinvall, Bak et
al., 2008).
A lesão por inalação em adultos é geralmente proporcional à profundidade e
extensão da área de superfície corporal queimada, apresenta uma disfunção
pulmonar aguda caracterizada pelo acometimento das vias aéreas inferiores, sendo
também conhecida como traqueobronquite química. É mais frequente quando há
combustão de plásticos e outros materiais sintéticos, os quais são altamente
corrosivos para a mucosa respiratória (Chai, Guo et al., 1995; Cohen e Guzzardi,
1983; Lipovy, Rihová et al., 2011).
A lesão por inalação de vapor é a complicação mais comum e pode causar
grave lesão pulmonar aguda (LPA), Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
(SDRA) e insuficiência respiratória aguda (IRpA), mostrando elevada morbimortalidade. A LPA é conhecida por ter conseqüências fisiopatológicas, incluindo
danos broncoalveolar difusa, edema pulmonar, inflamação pulmonar, deficiência de
surfactante, e deterioração da função pulmonar, podendo progredir para SDRA.
Estatisticamente, 1 em 3 pacientes com LPA têm elevado risco de mortalidade e
muitas vezes exige um melhor suporte de ventilação mecânica, que pode agravar
ainda mais o devido ao risco de barotraumas e volutraumas no pulmão lesado
agudamente (Merrel e Mayo, 2004; Lipovy, Rihová et al., 2011; Dancey, Hayes et al.,
1999; Wang, Guo et al., 2006).
O estridor se desenvolve imediatamente após a lesão de calor associado a
um trabalho respiratório aumentado, piora da hipoxemia, expectoração de coloração
16
e aspecto carbonizado com sinais de edema e alteração do padrão das vias aéreas
superiores evoluindo dessa forma com intubação orotraqueal imediata a fim de se
manter a via aérea devidamente pérvia e desobstruída (Merrel e Mayo, 2004).
A intubação orotraqueal (IOT) e ventilação mecânica invasiva (VMI), bem
como o intensivo cuidado traqueobrônquico com a aspiração regular das vias aéreas
e terapêutica broncoscópica necessária para auxiliar a depuração brônquica de
muco e detritos (Lipovy, Rihová et al., 2011).
Muitos autores preconizam que a assistência ventilatória deva ser empregada
de forma precoce, antes das primeiras manifestações clínicas de insuficiência
respiratória ( Mackie, Van Dehn et al., 2003).
A intubação profilática de todos os pacientes com lesão inalatória (LI) é
recomendada, com o propósito de ajudar na administração de ar umidificado,
procedimentos com hiperoxigenação, preconiza-se a instituição de ventilação sob
pressão positiva e a realização de um lavado broncoalveolar por broncoscopia,
minimizando e revertendo assim o colapso alveolar distal e tratando o edema
lesional (Xu, Li et al., 2011).
A inalação de ar com temperaturas maiores do que 500°C ou de vapor quente
poderá produzir queimaduras pulmonares, as quais são agravadas pela inalação de
produtos tóxicos (presentes na fumaça inalada), sendo que a severidade da lesão é
diretamente proporcional à duração da exposição e à natureza da fumaça inalada
(Irrazabal, Capdevila et al., 2008; Cohen e Guzzardi, 1983).
A lesão pulmonar aguda é multifatorial, sendo inicialmente causada pelos
efeitos tóxicos diretos dos subprodutos da combustão e tardiamente como
consequência da pneumonia e da sepse. A lesão inalatória pode parecer
completamente assintomática por 24 a 72 horas, e evoluir rapidamente para a
SDRA. Este achado constitui um importante fator prognóstico, e ressalta a
necessidade do suporte ventilatório precoce neste tipo de paciente (Birky e Clarke,
1981).
17
1.3 Complicações Pulmonares
Pacientes queimados com inalação grave
necessitam de intubação
prolongada e também estão em risco para o desenvolvimento de pneumonia
associada à ventilação mecânica – PAVm (Huzar e Cross, 2011).
A infecção é uma das mais frequentes e graves complicações no paciente
queimado. Passado o primeiro momento em que os cuidados respiratórios e
hemodinâmicos são prioridades, o controle da infecção coloca-se, em seguida, como
desafio maior. A infecção lidera as causas de morbidade e de letalidade no grande
queimado (Azimi, Motevallian et al., 2011; Bargues, 2002).
A SDRA é a mais grave complicação pulmonar em queimados, associando-se
a altos índices de mortalidade. Segundo o Consenso Europeu — Americano
atualizado, a SDRA é diagnosticada na presença de infiltrado pulmonar bilateral ao
RX de tórax e PaO2/FiO2 ≤ 300 (Soares De Macedo e Santos, 2006).
A PAVm (Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica) é definida como a
pneumonia que se desenvolve mais de 48h após a intubação, em pacientes
submetido a ventilação mecânica, que não apresentavam sinais dessa complicação
no momento em que o tubo endotraqueal foi inserido (Pham, Kramer et al., 2010;
Brusselaers, Logie et al., 2012).
Em paciente grande queimado, com SCQ (Superfície Corporal Queimada)
superior ou igual a
30%, a atelectasia e pneumonia são comuns devido à
hipoventilação e expansão pulmonar diminuída provocadas pela restrição da parede
torácica decorrente da formação de lesões abrasivas, sendo que os pacientes
queimados
também
têm
um
risco
elevado
de
repetidos
episódios de broncoaspiração (Shirani, Pruitt et al., 1987).
Anoxia é um dano secundário pulmonar e geralmente tem sido reconhecida
como um fator importante que contribui na mortalidade do grande queimado. Esta
complicação está diretamente ligada à inalação completa de produtos de combustão
(Rapaport, Nemirovsky et al., 1973).
18
2. Metodologia
Levantamento realizado nas bases de dados científicas LILACS, MEDLINE e
COCHRANE de artigos científicos dos anos compreendidos ente 1999 e 2012
apresentando relativa escassez de estudos epidemiológicos a respeito do tema e
um número consideravelmente menor de publicações nacionais, concentradas
apenas em Centros de Tratamento. Utilização de 3 estudos com mais de 3
décadas porém com fundamental importância e contribuição técnico-científica
para essa dissertação.
Análise do prontuário contribuído após livre consentimento do paciente vítima
de
queimadura
com
todos os dados necessários,
relatórios,
imagens
tomográficas, radiológicas e exames laboratoriais para a elaboração e relato
detalhado da evolução clínica, da admissão à alta hospitalar.
3. Lesão por Inalação de Fumaça
3.1 Traqueobronquite Química – Fisiopatologia
A inalação de fumaça desencadeia uma série de alterações fisiopatológicas
nas vias aéreas e parênquima pulmonar, podendo gerar complicações tardias
importantes (Moino, Nogueira et al., 2003).
Existem basicamente seis mecanismos de agressão respiratória nos
queimados: (1) asfixia precoce; (2) obstrução de vias aéreas; (3) queimaduras
torácicas circunferênciais determinando restrição; (4) intoxicação por monóxido de
carbono (CO); (5) lesão por inalação de fumaça e (6) complicações pulmonares
tardias: infecção (Moino, Nogueira et al., 2003).
Aproximadamente 25% dos grandes queimados apresentam complicações
pulmonares, e a patologia pulmonar é responsável por 20 a 80% da mortalidade
nestes casos. A incidência da lesão pulmonar e a mortalidade nesses pacientes são
19
diretamente proporcionais à idade e à porcentagem da área total queimado (Moino,
Nogueira et al., 2003).
Tabela 3. Características Clínicas da Lesão Inalatória
Evolução de Sinais e Sintomas dos pacientes vítimas de queimadura
Danos do revestimento mucociliar do trato respiratório reduz a eliminação de
microorganismos invasores provocando o edema pulmonar e a lesão microvascular
direta com a liberação de radicais livres de oxigênio e mediadores inflamatórios (De
Souza, 2009).
Cerca de 33% dos pacientes com queimaduras extensas apresentam lesão
inalatória resultado do processo inflamatório das vias aéreas após a inalação de
produtos incompletos da combustão e o risco aumenta progressivamente com o
aumento da superfície corpórea queimada. A presença de lesão inalatória, por si,
aumenta em 20% a mortalidade associada à extensão da queimadura, sendo a
principal responsável pela mortalidade (77%) das vítimas (Shirani, Pruitt et al., 1987)
Os produtos da combustão inalados podem ainda causar uma resposta
inflamatória no parênquima pulmonar. Eles estimulam os macrófagos pulmonares a
produzirem
substâncias quimiotáxicas,
havendo
sequestro
leucocitário
com
liberação de enzimas proteolíticas e radicais livres de oxigênio (Cohen e Guzzardi.,
1983).
Há aumento da permeabilidade capilar com extravasamento de líquido
proteináceo para o alvéolo e perda de surfactante, com consequente edema
pulmonar, atelectasias focais e “shunt” intrapulmonar devido à alteração na relação
ventilação/perfusão pulmonar (Cohen e Guzzardi, 1983; Birky e Clarcke, 1981).
20
Um aspecto de membrana hialina começa a aparecer por volta do segundo
dia, sendo mais proeminente do quarto ao sexto dia pós-queimadura. As células
pulmonares lesadas permitem que o fluído rico em proteínas deposite-se nos
espaços alveolares, acelerando desta forma a formação de fibrose. Algumas
arteríolas das vias aéreas e pulmões podem exibir trombos de fibrina. Essas
alterações evoluem com um quadro de hipoxemia severa e posterior insuficiência
respiratória ou SDRA (Zhu, Qiu et al., 2012).
É importante ressaltar que, após a inalação de monóxido de carbono pelo
paciente, há tendência de deslocamento da curva de dissociação da hemoglobina
para a esquerda, tornando mais difícil a extração de oxigênio pelos tecidos,
agravando ainda mais a hipoxemia (Xu, Li et al., 2011).
Figura 2. Organograma – Fisiopatologia – Traqueobronquite Química
21
4. Ventilação Mecânica
4.1 Pressão Positiva ao Final da Expiração (PEEP)
A maioria dos autores pesquisados preconiza a utilização de altos valores de
PEEP (Pressão Positiva ao Final da Expiração) como base da estratégia ventilatória
em pacientes queimados com lesão por inalação de fumaça, especialmente devido à
grande incidência de SDRA como complicação secundária (Moino, Nogueira et al.,
2003).
Foi observado que a PEEP quando usada em níveis maiores do que os
tradicionais, tal pressão funciona como um adjunto fundamental no tratamento dos
pacientes com SDRA, promovendo melhora da oxigenação arterial através do
recrutamento de alvéolos colapsados, porém perfundidos, ou seja, através da
diminuição do shunt intrapulmonar (Musgrave et al., 2000).
Como consequência da melhora da oxigenação arterial ocorre aumento na
relação PaO2/FiO2 permitindo assim a diminuição da FiO2 para que se evite o risco
de desenvolvimento dos efeitos tóxicos causados por altas concentrações de
oxigênio inspiradas (Amato et al., 1998; Brower et al., 2001; Foti et al., 2000).
Outra vantagem do uso de níveis mais altos de PEEP é a grande importância
que esta representa na prevenção de lesões pulmonares causadas pela ventilação
mecânica como colapso pulmonar maciço, reabertura cíclica pulmonar e
hiperdistensão pulmonar, havendo, portanto diminuição nos índices de mortalidade
(Amato et al., 1998; Brower et al., 2001; Foti et al., 2000).
Embora o uso de altos níveis de PEEP possa ocasionar efeitos lesivos como
repercussões hemodinâmicas, diminuição da função renal, aumento do risco de
barotrauma e aumento do pico de pressão alveolar que leva à hiperdistensão das
unidades alveolares, têm sido constatados que seus efeitos protetores, quando
adequadamente utilizada, são maiores do que os deletérios (Amato et al., 1998).
22
O ideal é que o nível de PEEP a ser utilizado seja calculado individualmente
para cada paciente, através da análise da relação pressão x volume (curva P x V), e
ajustado em 2 cmH2O acima do primeiro ponto de inflexão (Pflex-inf). Se o Pflex-inf
não for encontrado ou se houver contraindicações para o cálculo da PEEP ideal,
deverá ser utilizada uma “PEEP empírica” de, no mínimo, 10 cmH2O. Essas
recomendações são válidas para a fase aguda da SDRA, menos de uma semana de
evolução, (Allan, Osborn et al., 2010).
Para
melhorar
o
suporte
respiratório
e
diminuir
o
risco
de doença pulmonar crônica, a ventilação possui a estratégia de ventilaçãr o pulmão
de maneira protetora que objetiva melhorar e promover o recrutamento alveolar. A
ventilação protetora tem características de baixo volume (4 a 6ml por kg de peso),
frequência respiratória (≥ 18 irpm), e uma pressão constante das vias aéreas, ou
seja, menos variável, contituindo uma eficiente opção de modo ventilatório na SDRA
(Allan, Osborn et al., 2010; Cao, Liu et al., 2002).
Essa modalidade ventilatória
permite a insuflação pulmonar estável e o
recrutamento de espaço alveolar, reduzindo o risco de pico de pressão das vias
aéreas e melhora a V / Q (Ventilação / Perfusão) correspondente. Também é
relatado que a ventilação mecânica protetora pode suprimir a resposta inflamatória
do tecido pulmonar e macrófagos alveolares. Portanto, pode ser considerado o
melhor modo ventilatório para LPA / SDRA (Cartotto, Ellis et al., 2004).
A ventilação alveolar é controlada pela variação de pico de pressão
inspiratória, freqüência respiratória e a pressão com a qual as vias aéreas retornam
à linha de base. A oxigenação é otimizada ajustando a pressão média das vias
aéreas (Li e Guo, 2008).
A fase de exalação ativa é pensada para melhorar a saída de gás, permitindo
assim a utilização de uma maior freqüência respiratória e um menor volume
corrente. Pico e vale de pressões / volumes podem ser mantidos próximos a pressão
média do pulmão / volume, produzindo assim uma pressão aproximadamente
constante. Deve-se ajustar o fluxo de gás e determinar a resistência e pressão
média das vias aéreas. A Ventilação de alta freqüência também pode ser benéfica
23
na remoção das secreções e ao estabilizar segmentos pulmonares colapsados (Li e
Guo, 2008; Steinvall, Bak et al., 2008).
4.2 Ventilação como Estratégia Protetora Pulmonar
A ventilação mecânica baseada no cálculo da PEEP ideal é o tratamento de
escolha para o paciente queimado que desenvolve SDRA. Porém, para que os
benefícios esperados sejam alcançados, deve-se obedecer a determinados critérios,
os quais, em conjunto, denominam-se Estratégia Protetora Pulmonar (Amato et al.,
1998).
O modo ventilatório escolhido deverá ser aquele o qual o profissional está
habituado, sendo preferíveis modalidades que minimizem a pressão nas vias
aéreas, como Ventilação por Pressão Controlada (PCV) e Ventilação por Pressão de
Suporte (PSV). Devem ser utilizados valores de Volume Corrente (Vt) entre 4 e 6
mL/Kg e freqüência respiratória (f) entre 18 e 24 ciclos/minuto, sempre respeitando a
Pressão de Platô (Ppl) inferior a 35 cmH2O (Li e Guo, 2008; Mackie, Van Dehn et al.,
2011).
O emprego desta estratégia ventilatória permite o repouso alveolar, porém
acarreta acúmulo de CO2 no sangue arterial e venoso, o que denomina-se
hipercapnia permissiva que pode ser corrigda com outros mecanismos e condutas
terapêuticas.(Souza R, 2004).
4.3 Ventilação Mecânica Não Invasiva – Estratégia de Desmame
Ventilatório
O desmame de pacientes submetidos à ventilação mecânica prolongada foi
descrito como a “área cinza da medicina intensiva”. Sendo reconhecido por vários
autores como uma mistura de arte e ciência. Atualmente, a maioria dos pacientes
que estão em ventilação mecânica nas unidades de terapia intensiva mostra
alterações da musculatura respiratória já nas primeiras 12 horas, demonstrando que
a ventilação prolongada pode levar a atrofia das fibras musculares, principalmente
as de contrações lentas. O tempo de desmame corresponde a cerca de 40% do
24
tempo de ventilação mecânica, sendo que 5 a 20% desses pacientes desenvolvem
dependência do ventilador levando a um desmame difícil (Cao, Liu et al., 2002;
Cartotto, Ellis et al., 2004; Li e Guo, 2008).
O uso da ventilação mecânica não invasiva com pressão positiva (VMNI) para
o tratamento de pacientes com insuficiência respiratória aguda ou crônica agudizada
foi, certamente, um dos maiores avanços da ventilação mecânica nas últimas duas
décadas em pacientes queimados que cursam com o desmame da pressurização
positiva de difícil condução (Li e Guo, 2008).
A VMNI através de máscara facial como estratégia de desmame foi
considerada promissora embora evidências do seu benefício clínico ainda sejam
insuficientes, a mesma pode ser utilizada em paciente com repetidas falhas no teste
de respiração espontânea.
5. Fisioterapia Respiratória
Nesse contexto, a atuação da fisioterapia respiratória na lesão inalatória deve
ser iniciada o mais precoce possível, estando sempre preocupada com a realização
de uma avaliação completa, com objetivos e programas terapêuticos específicos e
reavaliações constantes, diminuindo assim a morbi-mortalidade e tempo de
internação. A fraqueza dos músculos respiratórios pode contribuir para aumento da
dispnéia e dificuldade de manter a respiração espontânea (De Souza, 2009).
A fisioterapia respiratória tem como objetivo mobilizar secreções pulmonares
e otimizar a mecânica respiratória, visando a melhora da relação ventilação /
perfusão (V/Q). A abrangência com que é empregada é grande, porém tem sido
motivo de controvérsia o modo pelo qual atua, e quais as complicações que pode
acarretar (De Souza, 2009).
25
O tratamento apropriado do paciente com um problema pulmonar requer o
conhecimento do distúrbio fisiológico presente e da eficácia de um dado tratamento
dentro do contexto daquele problema (De Souza, 2009).
Historicamente, os efeitos de diversas medidas terapêuticas não eram
validados por rigorosa avaliação, no entanto, sabemos que a avaliação é necessária
para se direcionar o tratamento e verificar a sua eficácia (Souza R, 2004).
As manobras são realizadas, freqüentemente, em combinação e/ou associada
a outras técnicas. E importante ressaltar, que tais recursos terapêuticos dependem
primordialmente do conhecimento da técnica e de seu efeito fisiológico. Portanto, é
necessário o estudo da técnica propriamente dita e de suas indicações, contraindicações e efeitos alcançados com a utilização da mesma (Wang, Guo et al.,
2006).
Por meio do uso de diferentes técnicas, pode-se facilitar a higiene mucociliar,
promovendo a mobilização de um maior volume de secreção e consequentemente,
minimizar a obstrução brônquica. Desta maneira, pode-se perceber melhora na
ventilação e nas trocas gasosas e redução do trabalho respiratório, permitindo
inclusive movimentos mais harmoniosos da caixa torácica (Wang, Guo et al., 2006).
A técnica a ser utilizada deve ser escolhida individualmente para cada
paciente. Nos queimados deve ser observado à presença de lesões na caixa
torácica e em outros locais do corpo que restrinjam a aplicação de diversas técnicas
por constituírem importantes contraindicações à execução de manobras que exijam
manipulação direta do tórax e drenagem postural (Souza R, 2004).
O trabalho do profissional em fisioterapia nesses casos tem se mostrado
eficaz e imprescindível, sendo considerado parte integrante da equipe responsável
pelos cuidados em pacientes de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com autonomia
na manipulação dos parâmetros ventilatórios e correção de valores gasométricos
para a determinação de modalidades ventilatórias mais apropriadas.
26
6. Relato de Caso
Paciente P.C.O, sexo masculino, 42 anos, 1,80m, 89 kg, vítima de
queimadura de 2º e 3º graus, com superfície corpórea queimada (SCQ) estimada
pela regra dos 9, em 45% (face, dorso, região posterior de membros superiores –
MMSS –, região poplítea e calcâneos) após explosão em local fechado com
componente químico inflamável em gel e gás canalizado, com pontuação pela
escala de Tobiasen de 9 e sobrevida estimada de 50 a 70%, socorrido no dia
23/12/2011, pelo Corpo de Bombeiros de Brasília, levado para o Hospital Regional
de Taguatinga, Brasília – DF – Distrito Federal e encaminhado para Hospital de
Rede Privada de Brasília para manejo de queimaduras, com lesões extensivas, à
admissão paciente em regular estado geral, apresentando imagens radiológicas sem
sinais de infiltrados conforme figura 3 e exames laboratoriais normais.
Figura 3. (Admissão 23.12.2011 – Imagem Radiológica normal, apresentando delineamento adequado
de seios costo frênicos, pequeno espessamento peri-hilar, sem sinais de infiltrados, area cardíaca de tamanho
normal, discreta hipotransparência em hemitórax esquerdo.
27
O paciente logo após admissão foi submetido a procedimentos de
desbridamento, evoluindo após segunda abordagem cirúrgica em procedimento sob
anestesia geral com dificuldade de intubação, seguida de trauma orotraqueal após
múltiplas e fracassadas tentativas com máscara laríngea, necessitando de
broncoscopia auxiliar para dar seguimento no processo de intubação que evidenciou
grande presença de fuligem enegrecida, difusamente distribuída, eritema e edemas
nas vias áreas superiores e inferiores justificando e resultando em grande
dificuldade de execução de introdução de dispositivo e prótese respiratória.
O processo prolongado e as múltiplas tentativas de IOT (Intubação
Orotraqueal) resultaram em aspiração de grande conteúdo gástrico, bradicardia,
queda importante de saturação, cianose central e dificuldade de estabilização
hemodinâmica.
Após a normalização e procedimento cirúrgico, paciente regressa a unidade
de terapia intensiva, com quadro instável, taquicardia, hipertermia, VMI com
necessidade de incrementos ventilatórios e otimizações de parâmetros, aumentos
progressivos de PEEP e elevadas frações inspiradas de oxigênio.
Na primeira avaliação fisioterapêutica ocorrida em 23.12.2011, o paciente
apresentava-se
acordado,
consciente,
orientado,
colaborativo,
com
padrão
respiratório superficial, taquipneico, estável hemodinamicamente, PA= 135 X 80
mmHg, FC=82 batimentos por minuto (bpm), T=36,7º C sem drogas vasoativas, em
ventilação espontânea.
Em 27.12.2011, após a piora do quadro respiratório, observada por meio da
clínica da paciente, gasometria arterial do mesmo dia, às 10h, revelou pH= 7,28,
PCO2= 39,0 mmHg PO2= 254,9 mmHg;HCO3=18,1mmol; relação índice de
oxigenação (IO) PaO2/FiO2= 254,9 com FiO2= 100% e radiografia de tórax realizada
no mesmo dia e horário possibilitou através da figura 4 a confirmação de piora da
imagem com uma banda atelectásica em hemitórax direito.
28
Figura 4. (27.12.2012 – Piora Radiológica / Atelectasia) Imagem radiológica com evidência de
atelectasia em Hemitórax Direito, com padrão congestivo pulmonar e tubo orotraqueal bem posicionado.
Em 31.12.2011 o paciente apresentou uma lesão pulmonar grave em que
imagens radiológicas e tomográficas apresentaram áreas extensas de lesão
pulmonar, processo broncoaspirativo em curso, aspecto de secreção com
fragmentação de fuligens, rajas de sangue caracterizado por uma secreção espessa
e escurecida, gasometria com baixo índice de oxigenação, exames laboratoriais em
curso de piora infecciosa, padrão ventilatório com mecânica pulmonar insatisfatória e
complacência abaixo de 40 cmH2O houve necessidade de incrementos ventilatórios
após a sugestão clínica conforme figura 5 de Síndrome do Desconforto Respiratório
Agudo (SDRA).
29
Figura 5. (31.12.2011 / Início SDRA) Imagem radiológica com piora importante do padrão, com
infiltrados difusos, bilateral, maior predominância à direita e tubo orotraqueal bem posicionado.
Os incrementos ventilatórios são demonstrados nos gráficos 1 e 2 em que a
estipulação e necessidade de otimizações ventilatórias dos valores de FiO2 e PEEP
denotam o curso da lesão pulmonar.
Gráfico 1 (Incremento de PEEP)
Gráfico 2 (Incremento de FiO2)
30
A mudança de estratégia ventilatória foi assumida com a necessidade de
ajustar adequadamente a gasometria, assegurando uma ventilação mecânica que
favorecesse a troca pulmonar adequada, conforme gráfico 3, que em sua análise
demonstra que no primeiro momento à IOT, a relação de troca pulmonar
apresentava um IO de 254,9 e PEEP 10, após o 5º (quinto) dia de IOT houve uma
piora clínica compatível com SDRA e confirmada pelo IO de 116,7; a partir desse
momento a PEEP foi otimizada alcançando o valor de 15 cmH2O , houve uma
resposta satisfatória e o paciente recuperou a relação PaO2/FiO2 no 7º (sétimo) dia
de intubação, atingindo portanto o valor de 303,7 de índice de oxigenação;
mantendo após essa estratégia uma boa relação, tolerando a redução da PEEP em
10 cmH2O até o dia da extubação que ocorreu no 9º (nono) dia após a VMI com
gasometria satisfatória e melhor troca pulmonar.
Gráfico 3 – Relação PaO2/FiO2 – Troca Pulmonar – comparada ao uso da PEEP
31
Durante fase de ventilação mecânica foi observado à evolução clínica do
paciente, com exames laboratoriais, IO e redução dos parâmetros ventilatórios e no
período de submissão à VMI, o paciente foi ventilado com o modo mais confortável e
protocolado para SDRA, mantendo-o sob pressão controlada (PCV), com uma
Pressão Inspiratória (Pi) que variou entre o mínimo de 15 e o máximo de 18 cmH2O
com a finalidade de gerar um volume corrente entre 4 a 6ml por kg/peso,
respeitando uma pressão de platô máxima de 35 cmH2O e Ppico de 45 cmH2O,
Tempo Inspiratório (Ti) de 1,00s e FR≥ 18 incursões respiratórias por minuto (irpm).
Após nove dias de ventilação mecânica invasiva, houve melhora do quadro
pulmonar, porém com difícil evolução de desmame ventilatório mantido na
modalidade Pressão de Suporte (PSV), com a Pressão inicialmente de 14 cmH2O,
reduzindo gradualmente de 2 em 2 cmH2O a cada 30 minutos, até o teste de
Ventilação Espontânea com o valor de Pressão de Suporte de 7 cmH2O, Peep=5
cmH2O e FiO2 <40%, com SatO2 > 95%., apresentando gasometria arterial do
mesmo dia de pH= 7,40;PaCO2=36,1mmHg; PO2=84,3 mmHg; HCO3 = 25,3 mmol;
PaO2/FIO2= 281 com FiO2= 30%, permanecendo ainda com radiografia pulmonar
com presença de infiltrados demonstrada na figura 6 em bases pulmonares maior a
direita porém não impossibilitando a desconexão paciente-ventilador por via
protética aérea.
O paciente foi desconectado da ventilação mecânica e submetido ao
protocolo de Ventilação Não Invasiva como estratégia para sucesso de desmame
ventilatório por mais 48 horas.
Após processo de extubação e de Ventilação Mecânica Não Invasiva, o
paciente permaneceu dependente de altas frações inspiradas de oxigênio com
intolerância à sua retirada, dispneico, taquipneico, tosse e queda de saturação
recorrente aos mínimos esforços, foi otimizado fisioterapia respiratória visando
melhorar capacidades pulmonares, reexpansão pulmonar, higienização brônquica e
realização do desmame gradativamente da oxigenioterapia progredindo da máscara
de Venturi à cateter nasal até sua retirada total.
32
Figura 6. ( 04.01.2012 / Pré Extubação – Durante Desmame) Imagem radiológica que antecedeu a
extubação do paciente demonstra infiltrado em base de hemitórax direito e padrão pulmonar congestivo.
P.C.O permaneceu internado por 23 dias, com melhora progressiva e
gradativa, consumo proteico muito elevado e alta hospitalar após submissão a 7
desbridamentos, com melhora tecidual evidenciada pela repitelização, imagem
tomográfica com cicatrizes fibróticas e banda atelectásica em curso de melhora, sem
demais sequelas limitantes e incapacitantes, em acompanhamento de reabilitação
cardio-pulmonar e reabilitação motora com a fisioterapia.
33
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37
8. Sobre os Autores
1. Sheyla Cristine Alves Lôbo
Graduada pela Universidade Católica de Brasília 2º/2005
6 anos atuando na área de Fisioterapia Intensiva
Fisioterapeuta na UTI do Hospital Santa Luzia – HSL, Brasília - DF;
Fisioterapeuta Líder da Intensicare (Gestão em Saúde) – Gestora de
Unidade Neonatal e Pediátrica. Brasília – DF, no Hospital Regional de
Santa Maria HRSM;
Mestranda em Terapia Intensiva – SOBRATI;
Supervisora de Estágio em UTI e Geriatria no curso de Fisioterapia na
UNIPLAN (Centro Universitário do Planalto Central).
Endereço: Rua 33 Sul lote 10 ap. 304. Residencial Noblesse. Águas Claras . CEP:
71.930-250. Brasília - DF
E-mail: [email protected]
ORIENTADOR
2. Rodrigo Martins Tadine
Especialização em Fisioterapia Intensiva - Hospital Santa Cruz;
Especialização em Fisioterapia em Pneumologia – UNIFESP;
Especialização em Educação em Saúde – UNIFESP;
Mestrado Profissional em Terapia Intensiva - IBRATI ;
Doutor em Terapia Intensiva - IBRATI.
E-mail: [email protected]
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