centro de ensino superior do ceará faculdade cearense curso de

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE JORNALISMO
MIKELANE EVERLLYN ALVES LOURENÇO
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO NEGRO NA TELENOVELA ―DA COR DO PECADO‖
FORTALEZA
2013
2
MIKELANE EVERLLYN ALVES LOURENÇO
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO NEGRO NA TELENOVELA DA COR DO PECADO
Monografia apresentada no curso
de
graduação
à
Faculdade
Cearense, para conclusão do curso
de Jornalismo.
Orientação: Prof. Henrique Pereira
FORTALEZA
2013
3
MIKELANE EVERLLYN ALVES LOURENÇO
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO NEGRO NA TELENOVELA DA COR DO PECADO
Monografia
apresentada
à
Faculdade Cearense, no curso de
graduação para conclusão do curso
de Jornalismo.
Data da Aprovação ___/___/____
BANCA EXAMINADORA
Professor Henrique Pereira (Orientador) – FaC
Professor Normando – FaC
Professora Maria Elia – FaC
4
Dedico aos meus pais José Arilton e
Francilene Alves
5
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer primeiramente a Deus, por me dar forças e não me deixar
desistir. Aos meus pais, Francilene Alves e Lourenço, pelo incentivo a fazer e a me dedicar a
faculdade, por me ajudarem até aqui e pela educação que me proporcionaram durante toda a
minha vida, e aos meus irmãos, Mykael Alves e Pedro Miguel.
Quero agradecer também as minhas amigas e companheiras de curso Patrícia
Castro, Ana Patricy, Jardeline dos Santos, Sabrina Freitas, Emilian Fereira e Aniele Gurgel
que apesar de termos nos distanciado no período de conclusão desta monografia, sei que
sempre torceram pelo meu sucesso.
Agradeço a minha prima, Rochelle, e ao meu namorado, João Paulo, que me
ajudaram e oraram por mim durante todo esse período e me estimularam a não desistir.
Ao meu orientador Henrique Pereira, pela paciência e dedicação ao me ajudar a
concluir este trabalho, gostaria de dizer foi um ótimo exemplo pra mim.
Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram e torceram pela minha
conquista.
6
RESUMO
Esta pesquisa é sobre a forma que o negro é representado pela teledramaturgia brasileira,
tendo como objeto de estudo a telenovela ―Da Cor do Pecado‖ de João Emanuel Carneiro
reapresentada em 2012. Discute-se primeiramente o conceito de representação social,
estereótipo e identidade, abordando questões como o avanço do negro na
sociedade. Apresentam-se, em seguida, a história da televisão brasileira e da telenovela,
relatando também as primeiras participações do negro na telenovela e o negro sendo visto
como protagonista. Debate-se a forma de como o negro é representado, onde veremos que
apesar do avanço ainda existe a questão do preconceito tanto na sociedade como também na
televisão.Consideramos que o negro ainda passa por muitas questões de preconceito ainda
hoje, apesar de sermos um país mestiço ,a sociedade ainda vive com base na discriminação
racial.
Palavras-chave: Representação social; Telenovela; Negro.
7
ABSTRACT
This research is about the way that the black is represented by the Brazilian drama, having as
object of study the soap opera ―Da Cor do Pecado‖ of João Emanuel Carneiro resubmitted in
2012. We discuss first, the concept of social representation, identity, stereotype and
addressing issues such as the advancement of blacks in society. We present then the history of
Brazilian television and soap opera, reporting the first appearances of black in the soap opera
and the black being seen as protagonist. Debate how the black is represented, where we see
that despite the progress there is still the question of prejudice both in society and on
television. We believe that the black still goes through many issues of prejudice even today,
despite being a country mestizo, society still lives on the basis of racial discrimination.
Keywords: Social representation; Soap opera; Black.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADRO 1 Linhas de estudo das representações sociais. (Elaboração própria)........ 16
FIGURA 1 Cena do café da manhã entre os personagens Afonso, Raí e Otávio...... 46
FIGURA 2 Cena em que o personagem Dodô é convidado para chantagear Preta... 47
9
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 10
2.
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO NEGRO................................................................. 12
2.1
Processos Metodológicos ............................................................................................ 12
2.2
O que é representação social ...................................................................................... 14
2.2.1
A representação social do negro ................................................................................. 18
2.3
O negro na história do Brasil ...................................................................................... 19
2.3.1
O avanço na história dos negros ................................................................................. 20
2.4
Estereótipo .................................................................................................................. 22
2.5
Identidade .................................................................................................................... 23
2.5.1
Identidade Negra ........................................................................................................ 24
3.
O PODER DA TELEVISÃO .....................................................................................26
3.1
História da Televisão no Brasil ................................................................................... 26
3.2
O Poder da Televisão e sua influência na sociedade .................................................. 28
3.3
A História da Telenovela ............................................................................................ 29
3.4
O Negro na Telenovela: primeiras participações ........................................................ 32
3.5
O Negro como Protagonista .........................................................................................36
4
ANÁLISE DE CONTEÚDO .................................................................................... 38
4.1
Construção da Análise .................................................................................................39
4.2
Corpus da Análise ....................................................................................................... 41
4.3
Descrição da Telenovela ............................................................................................. 41
4.3.1 Capítulo exibido em 19/10/12 ..................................................................................... 44
4.3.2 Capítulo exibido em 24/10/12 ..................................................................................... 45
4.3.3 Capítulo exibido em 26/10/12 ..................................................................................... 45
4.3.4 Capítulo exibido em 31/10/12 ..................................................................................... 46
4.4.5 Capítulo exibido em 02/11/12 ..................................................................................... 47
4.3.6 Capítulo exibido em 07/11/12 ..................................................................................... 47
4.4.
Resultados da Análise ................................................................................................. 48
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 51
6
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 53
10
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo analisar a forma como o negro vem sendo
representado na mídia, impulsionando a debates sobre a questão racial na mídia televisiva,
pois é perceptível que no Brasil este é o principal espaço para construção de identidades,
atraindo a sociedade e a envolvendo em diversos temas sociais.
Outros temas também serão abordados e estudados, como as representações
sociais. As primeiras teorias sobre esse tema surgiram com Serge Moscovici em 1961, com a
obra ―A psicanálise, sua imagem e seu público‖. Atualmente é a base para diversos trabalhos
científicos e de análise no campo das ciências sociais. Jodelet também deu sua contribuição
com obras como ―As representações sociais‖ (2001) e a mais recente, ―Loucuras e
representações sociais‖ (2005).
Com isso, neste trabalho será abordado a forma como o negro se encaixa na
teledramaturgia brasileira, como é representado e como vem a ser recepcionado pela
sociedade. Abordaremos através da telenovela ―Da Cor do Pecado‖, do autor João Emanuel
Carneiro, reapresentada pela Rede Globo, de setembro de 2012 a março de 2013, no programa
Vale a Pena Ver de Novo, as questões sobre representação social do negro, como eles são
representados, mostrando a forma como uma protagonista negra vem a ser representada pela
mídia. Pretendo neste trabalho analisar situações de racismo e branquitude retratadas nesta
telenovela.
A proposta é analisar como a primeira protagonista negra da Rede Globo, interpretada
por Taís Araújo é representada para a sociedade. Mostrando quais os problemas sofridos por
ela e também por outros personagens negros durante a trama, e pelos personagens brancos
também.
No primeiro capítulo será feito um estudo inicial mostrando o que vem a ser
representação social, a representação social do negro, o conceito de estereótipo e também de
identidade e identidade negra. Será feito um levantamento sobre o histórico e avanço da
história dos negros na sociedade, mostrando também um pouco do negro na história do Brasil.
O capítulo mostra a problemática dos negros, a partir de dados e da história, como que os
negros correspondem a mais da metade da sociedade brasileira e mesmo assim ainda sofrem
com a discriminação, preconceito e a desigualdade social.
No segundo capítulo, analisaremos um histórico sobre a televisão e a teledramaturgia
no Brasil e sobre o espaço que os negros ocuparam nessa programação televisiva que virou
11
uma paixão entre os brasileiros. Mostraremos também o poder que a televisão exerce sobre a
vida da sociedade.
Já no terceiro capítulo, entraremos no corpus do trabalho realizando uma análise de
conteúdo. Será feita uma análise de algumas cenas da novela Da Cor do Pecado, procurando
mostrar se o fato de a personagem principal ser negra influenciou em algum momento, sem
deixar de avaliar também a forma da representação dos outros personagens negros da trama.
A televisão brasileira já tem em sua programação uma falta de bom senso, onde não
mostram as riquezas em etnias que temos. O que impera na mídia, como telejornais,
comerciais, filmes e principalmente nas telenovelas é a imagem do branco. É difícil lembrarse de algum profissional negro no telejornalismo além de Glória Maria e Heraldo Pereira da
Rede Globo e na teledramaturgia.
12
2. REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO NEGRO
Neste capítulo, primeiramente, iremos definir o conceito de representações sociais,
utilizando como referência principal os estudos de Moscovici (1989; 2009) e, posteriormente,
estudaremos as representações sociais dos negros, que são um dos principais objetos de
estudo deste trabalho, além disso, definiremos também os conceitos de estereótipo e
identidade.
Para entrar nas questões de identidade do negro, falaremos também sobre um breve
histórico do negro no Brasil. Buscaremos identificar se houve ou não avanços na sua história
do dentre a sociedade brasileira.
2.1 Processos metodológicos
Busco através deste trabalho mostrar a forma como o negro é representado na
telenovela ―Da Cor do Pecado‖ do autor João Emanuel Carneiro, exibido na Rede Globo de
Televisão, em 2004.
A pesquisa exigiu a construção e reconstrução de procedimentos teóricos e
metodológicos, concordando com a afirmação de Bourdieu (2004).
A construção do objeto [...] não é uma coisa que se produza de uma
assentada, por uma espécie de ato inaugural, e o programa de observações ou
de análises por meio do qual a operação se efetua não é um plano que se
desenhe antecipadamente à maneira de um engenheiro: é um trabalho de
grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques sucessivos, por
toda uma série de correções, de emendas, sugeridos por o que se chama
ofício, quer dizer, esse conjunto de princípios práticos que orientam as
opções ao mesmo tempo minúsculas e decisivas. (BOURDIEU, 2004, p. 2627).
Também concordando com o referido autor no uso de técnicas de coleta de dados
para a construção do objeto, que é algo que não conseguimos distinguir de início e sim com os
dados que vão sendo utilizados.
Para fundamentar a discussão sobre representação social, estereótipo, identidade,
sobre a história da televisão e o avanço dos negros na sociedade e na teledramaturgia, realizei
uma pesquisa bibliográfica que incluiu publicações e artigos científicos, dentre os quais
podemos destacar: Stuart Hall (2003), e Sodré (2000) acerca dos processos de
formação/afirmação da identidade; fazendo interface com a questão da imagem,
13
representação, e estereótipo pelas telenovelas; Moscovici (1989; 2009) e Jodelet (2002) sobre
representação social: o estudo de Araujo (2004) sobre a presença do negro na teledramaturgia
brasileira.
É realizada uma pesquisa qualitativa, pois é uma técnica onde podemos identificar
outra forma de abordagem promissora que possibilita uma maior investigação.
(...) Alternativamente, a abordagem qualitativa (...) baseia-se em
perspectivas construtivistas ou participativas. Utiliza estratégias de pesquisa
como narrativas, fenomenologias, etnografias, estudos de grounded theory
ou estudos de caso. O pesquisador coleta dados não estruturados e
emergentes (...). (CRESWELL, 2003, p. 19-20).
Nesta pesquisa foi analisado o conteúdo da novela, para através disto conseguir
mostrar como é construída a imagem do negro e a evolução dos personagens que foram
analisados. Possibilitando também encontrar respostas para os questionamentos feitos do
projeto de pesquisa. A análise de conteúdo, segundo Bauer (2009), é um procedimento
metodológico onde o texto desenvolvido é analisado dentro das ciências empíricas
A pesquisa desenvolvida é do tipo exploratório, pois tem como objetivo
familiarizar o problema e torná-lo mais explícito. De acordo com Selltiz (1967) uma pesquisa
de teor exploratório envolve entre outras coisas levantamento bibliográfico e análise de
exemplos que estimulem a compreensão.
Foram analisados seis capítulos da novela, exibidos no período de 19 de outubro
de 2012 a 7 de novembro do mesmo ano, onde tirei as conclusões sobre a forma que é
retratado o negro durante os capítulos. Levando em conta os critérios utilizados pelo autor
para que o negro em destaque na pesquisa, a personagem ―Preta‖, que é a primeira
protagonista negra da Rede Globo de Televisão.
Veremos a questão de representação social, o conceito dado por Serge Moscovici
e Jodelet. Fez-se necessário realizar uma pesquisa sobre conceitos de estereótipo e identidade,
como também estudos sobre os avanços do negro na teledramaturgia. Como já foi citada, a
novela analisada é a Da Cor do Pecado de João Emanuel Carneiro, que foi reapresentada no
programa Vale a Pena Ver de Novo no ano de 2012, é uma novela que teve como um de seus
protagonistas uma atriz negra, analisarei a forma de representação dos atores negros
principais, mostrando como o ator negro estava sendo retratado pela telenovela.
14
2.2 O que é representação social?
Para Moscovici (1989), as representações são fenômenos complexos que
extrapolam categorias puramente lógicas e invariantes. Organizam-se como um saber acerca
do real que se estrutura nas relações do homem com este mesmo real:
[...] reconhecendo que as representações são ao mesmo tempo geradas e
adquiridas, retirasse-lhes este caráter preestabelecido, estático, que elas
tinham numa visão clássica. Não são os substratos, mas as interações que
contam (MOSCOVICI, 1989, p.82).
Serge Moscovici (1989) é um representante da escola psicossocial construtivista
francesa, desenvolveu a teoria das representações sociais, no livro Psychanalise, son image et
son public, publicado no Brasil em 1978, sob o título Representação Social e Psicanálise..
Moscovici teve seu campo de estudo nessa obra nas representações sociais com a perspectiva
sociológica e psicológica (FARR, 1994). Em sua obra adotou o ponto de vista sociológico e
reconheceu no pensamento de Durkheim um importante marco para seu esforço de teorizar as
representações, que antes eram denominadas ―representações coletivo‖ e de agora em diante
passaria a serem denominadas ―representações sociais‖.
É óbvio que o conceito de representações sociais chegou até nós, vindo de
Durkheim. Mas nós temos uma visão diferente dele [...]. Sua função teórica
era semelhante à do átomo [...]. Do mesmo modo, sabia-se que as
representações existiam na sociedade, mas ninguém se importava com sua
estrutura ou com sua dinâmica interna. [...] Assim, o que eu proponho fazer é
considerar como um fenômeno o que era antes visto como um conceito
(MOSCOVICI, 2009, p.45).
Moscovici apresenta em suas reflexões Durkheim como ponto de partida,
mostrando que seus objetivos se diferenciam dos de seu autor. Enquanto Durkheim se
interessava pela estabilidade das representações coletivas e o poder de coerção social,
integrando a sociedade como um todo homogêneo, Moscovici se preocupava com o estudo da
diversidade das representações e das idéias coletivas, característica da heterogeneidade da
sociedade moderna (DUVEEN, 2009).
Em sua pesquisa Moscovici (1989) retrata bem o movimento dialético que a teoria
produz, uma vez que:
As representações sociais individuais ou sociais fazem com que o mundo
seja o que pensamos que ele é ou deve ser. Mostrando que, a todo instante,
alguma coisa ausente se lhe adiciona e alguma coisa presente se modifica.
(MOSCOVICI, 1989, p.59)
15
Émile Durkheim afirma que a representação feita pelo grupo ocorre ―até mesmo pela
maneira como se dispõe territorialmente, face à realidade. E suas formas organizacionais da
vida social, além de mediações empíricas, são portadoras de uma ideologia implícita, que
forma um arcabouço interno‖ (DURKHEIM apud RODRIGUES, 1990, p. 22). Enquanto
Moscovici enfatiza a verbalização, por isso utiliza a entrevista como seu instrumento
metodológico mais importante. A teoria das representações sociais baseia-se na realização e
análise de entrevistas qualitativas e as representações de Durkheim (1970, p. 39) afirma que
elas:
[...] são exteriores com relação às individuais, é porque não derivam dos
indivíduos considerados isoladamente, mas de sua cooperação, o que é
bastante diferente. Naturalmente na elaboração do resultado comum, cada
qual traz a sua quota-parte; mas os sentimentos privados apenas se tornam
sociais pela sua combinação, sob a ação de forças sui generis, que a
associação desenvolve; em consequência dessas combinações e das
alterações mútuas que delas decorrem, eles se transformam em outra coisa.
(DURKHEIM, 1970, p. 39)
As representações coletivas não são frutos da elaboração de cada indivíduo, mas
sim da união de vários indivíduos. Com isso Moscovici busca analisar pequenos grupos
urbanos, ao invés de uma sociedade, como nas análises de Durkheim.
A expressão "representação social" foi mencionada pela primeira vez por Serge
Moscovici (1989), onde seu estudo é baseado na representação social da psicanálise em 1950.
Nas suas pesquisas ele apresenta os resultados, procurando compreender de que forma a
psicanálise adquiriu um novo significado para os grupos populares.
As representações sociais vêm a partir de um processo sempre atuante,
desencadeado pelas ações coletivas dos indivíduos, porém passam a refletir nas relações
estabelecidas dentro e fora do grupo, no encontro com outros indivíduos ou outros grupos
sociais. Como resultante temos que a ação dos indivíduos é caracterizada pelas representações
sociais que seu grupo elaborou.
Depois de Moscovici, outros pesquisadores, como Jean-Claude Abric e Denise
Jodelet, por exemplo, desenvolveram metodologias e agregaram novas formas de abordagem.
Jodelet sintetiza em seis perspectivas as principais linhas de estudo das representações sociais
(SÁ, 1998):
16
Perspectiva

Em
Linha de estudo
uma
perspectiva,
é
primeira
dada
ênfase

A
transformação
dessa
à
representação em social se dá a
atividade estritamente cognitiva por
partir de duas dimensões: a de
meio da qual uma representação é
contexto e a de pertencimento.
construída pelo sujeito.

A segunda perspectiva é

O sujeito é considerado como
aquela que acentua os aspectos mais
um produtor de sentido, exprimindo
significativos
na representação o significado que
da
atividade
representativa.
empresta à sua experiência no
mundo social.

A
terceira
trata
a

Decorrendo
suas
representação como uma forma de
características da prática discursiva
discurso
de sujeitos socialmente situados.


A quarta abordagem leva em
Pressupondo
que
as
consideração de forma privilegiada a
representações refletem as normas
prática social do sujeito
institucionais dadas pela posição ou
pelas ideologias ligadas ao lugar
ocupado pelo sujeito.

A
quinta
considera
o
jogo
intergrupais
determinante
perspectiva
das
relações
como
da
dinâmica
sendo
das

O
desenvolvimento
das
interações intergrupais é visto como
fortemente
influente
nas
representações que os membros têm
representações.
de seu grupo e de outros grupos.


A sexta abordagem é aquela
que
se
caracteriza
como
mais
A
base
representativa
da
atividade
situa-se,
nessa
sociologizante, fazendo do sujeito
perspectiva, sobre a reprodução de
um
pensamentos
portador
sociais.
de
determinações
socialmente
estabelecidos.
Quadro 1: Linhas de estudo das representações sociais. (Elaboração própria)
17
As perspectivas existentes nos mostra a expansão dos estudos das representações
sociais e as diferentes possibilidades que podem ser encontradas nessa Teoria. Tais
abordagens não são incompatíveis entre si, já que são todas provenientes de uma mesma
matriz básica (ARRUDA, 2002; SÁ, 1998).
Jodelet (2002) tem uma das definições mais consensuais sobre representação social,
que diz:
As representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente
elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a
construção de uma realidade comum a um conjunto social. (JODELET,
2002, p.22)
A autora também retrata que a representação social deve ser estudada
desenvolvendo os elementos efetivos, sociais e mentais, integrando as relações sociais que
afetam as representações e a realidade material, social e ideal sobre a qual elas vão intervir
(JODELET, 2002).
A partir da analise de um quadro do pintor René Magritte, Moscovici (2009) onde
aparece a figura de um cachimbo e dentro dessa figura a ilustração de outro cachimbo, podese perceber a noção de representação social, e é possível afirmar que:
Encontramos-nos, por vezes, em um dilema onde necessitamos um ou outro
signo que nos auxiliará a distinguir uma representação de outra, ou uma
representação do que ela realmente representa, isto é, um signo que nos dirá
‗Essa é uma representação‘ ou ‗Essa não é uma representação‘. O pintor
René Magritte, ilustrou tal dilema com perfeição em um quadro em que a
figura de um cachimbo está contida dentro de uma figura que também
representa um cachimbo. Nessa figura dentro da figura podemos ler a
mensagem ―Esse é um cachimbo‖, que indica a diferença entre os dois
cachimbos. Nós nos voltamos então para o cachimbo ―real‖ flutuando no ar e
percebemos que ele é real, enquanto o outro é apenas uma representação. Tal
interpretação é incorreta, pois ambas as figuras estão pintadas na mesma tela,
diante de nossos olhos. A idéia de que uma delas é uma figura que está, ela
mesma dentro de uma figura e por isso um pouco ―menos real‖ que a outra é
totalmente ilusória. Uma vez que se chegou a um acordo de ―entrar na
moldura‖, nós já estamos comprometidos temos de aceitar a imagem como
realidade. (MOSCOVICI, 2009, p.32 e 33).
Para Bourdieu (2007), as representações sociais são determinadas por interesses
de grupos. A ideia de suas obras contribui para uma formulação renovada, sendo o oposto de
representações. De acordo com o autor era preciso incluir no real as representações do real,
pois ―[...] a representação que os indivíduos e os grupos exibem inevitavelmente através de
suas práticas e propriedades faz parte integrante de sua realidade social‖. (BOURDIEU, 2007,
p. 447).
18
Bourdieu (2007) também aborda em sua obra um conceito que ajuda a
compreender as representações feitas pelo ―branco‖ sobre o ―negro‖ é a idéia de violência
simbólica, ou seja, a dominação de um grupo sobre outro por meio de símbolos e palavras.
2.2.1 A representação social do negro
As representações sociais nos leva a pensar no passado e vê o reflexo do presente,
relações de símbolos e imagens que ainda hoje fazem parte da nossa realidade, que perpetuam
no imaginário social seja por concepções de raça, cor, etnia, classe, religião gênero, ou seja,
representam conhecimentos de si e dos outros que refletem no nosso cotidiano.
As representações sociais revelam os significados das experiências culturais, podemos
assim considerar o negro como ser histórico, político e social se analisarmos as suas relações
com o mundo. Mas devemos ressalta-se que a imagem do negro que foi construída no
decorrer da história, tanto político como socialmente, demarcou um contexto de
desigualdades, nascendo a partir do regime escravocrata, que instituiu ao negro a condição
subserviente, sendo subjugado pela sociedade dominante (Skidmore, 1976).
De acordo com Santos e Silva (2006) desde o regime escravocrata, no Brasil, o
preconceito e a discriminação racial perpetuaram, deixando o atraso cultural, em função das
desigualdades culturais, econômicas e culturais. É o que também podemos perceber do
sociólogo brasileiro Carlos Hasenbalg (2005) que afirma:
O preconceito e a discriminação racial aparecem no Brasil
como consequências inevitáveis do escravismo. A persistência do
preconceito e discriminação após a destruição do escravismo não é ligada ao
dinamismo social do período pós-abolição, mas é interpretada como atraso
de fenômeno cultural, devido ao ritmo desigual de mudança
das
várias dimensões dos sistemas econômico,
social
e
cultural. (HASENBALG, 2005, p.80).
Tudo isso criou a imagem do negro e contribuiu para que fosse cada vez mais
estereotipada, desvalorizando o negro socialmente, politicamente, culturalmente e
economicamente, mostrando como o Brasil tem desvalorizado e excluído a raça negra,
desvalorizando-a também no ambiente escolar.
É perceptível que as políticas públicas educacionais não favorecem de forma
igualitária aos alunos negros. Para Antônio Guimarães (1999) o racismo e a discriminação
não existem entre si, mas são apoiados na representação social, construída a partir da
19
convivência dentro de um grupo e da relação social. Para Michael Hanchard:
[...] ser negro na sociedade brasileira, por exemplo, geralmente significa ter
um padrão de vida inferior e menos acesso a serviço de qualidade
nas áreas de saúde e educação do que os brancos, mas significa também
criminalidade,
licenciosidade
e
outros
atributos
negativos
considerados
inerentes
as
pessoas de
ascendência
africana.
(HANCHARD, 2001, p.30)
Com isso ―a escola continua reproduzindo e legitimando as desigualdades sociais,
alimentando o sistema simbólico e garantindo as diferenças no espaço escolar‖ (BOURDIEU,
2007, p.8).
2.3
O negro na história do Brasil
O Brasil é um país mestiço tanto culturalmente como biologicamente, é perceptível o
resultado das trocas genéticas entre grupos catalogados como raciais. Ser negro significa o
resultado da escolha da identidade racial, sendo assim um posicionamento político, onde se
assume a identidade racial negra. Existe uma indagação sobre ser negro no Brasil, se existe
uma diferença em outros lugares.
A cultura negra é vista em alguns continentes e é notável a diferença da cultura dos
negros de outros países. As realidades não são as mesmas, considerando o fato de, no Brasil, o
negro trabalhar para manter o bem-estar da classe dominante, desde o início da história,
perpetuou uma ética conservadora e desigualitária.
Carl Friedrich Phillippe Von Martius, etnólogo austríaco, responsável pela forma da
descrição da história nacional, em um trecho de "Como se deve descrever a história do
Brasil", ele deixa explícito a ideia da superioridade da raça branca sobre as outras:
Qualquer um que se encarregue de escrever a História do Brasil, país que
tanto promete, jamais deverá perder de vista quais os elementos que aí
concorreram para o desenvolvimento do Homem. (...) três raças, a saber: a
de cor de cobre ou americana, a branca ou caucasiana e enfim, a preta ou
etiópica. Do encontro, da mescla (...) dessas três raças, formou-se a
população atual, cuja história por isso mesmo tem um cunho muito
particular. (MARTIUS, 1982, p. 87)
Martius (1982) considera importante o estudo da raça negra, como costumes, opiniões
civis, seus conhecimentos naturais, preconceitos e superstições, defeitos e virtudes da raça. Já
falando dos povos portugueses. ―O autor os trata como pessoas de ―espírito e coração nobre‖,
20
orientando aos ―contadores da História do Brasil‖ a vincular o descobrimento do país às
―façanhas marítimas e comerciais e guerreiras dos portugueses‖ (MARTIUS, 1982)‖.
É possível constatar essas ideias nas obras que foram utilizadas como livros
didáticos de História nas escolas. Na História Geral do Brasil, Francisco Adolfo de Varnhagen
citado por Reis (1999), diz que foi um erro a escravização dos negros:
A colonização africana teve uma grande entrada no Brasil, podendo ser
considerada um dos elementos de sua população, o que nos obriga a
consagrar algumas linhas a essa gente. Mas fazemos votos de que um dia as
cores de tal modo se combinem que venham a desaparecer totalmente do
nosso povo as características da origem africana. (VARNHAGEN apud
REIS, 1999, p.43).
É possível constatar que eles esqueceram que o domínio português foi ameaçado
pelos movimentos externos e internos feitos por africanos, afrodescendentes e livres.
A pesquisadora brasileira Cláudia Lima traz em suas reflexões o lado positivo do
negro na história do país e relata que existe a importância dos estudos sobre a história do
negro no Brasil, alegando existir uma dívida com a população afrodescendente.
[...] deve ser entendida como parte importante da construção da identidade
do povo brasileiro e, em particular da população afrodescendente, através do
qual, regata-se uma dívida histórica, no registro histórico oficial, daqueles
que colaboraram, em uma escala gigantesca, no acumulo da riqueza nacional
e no complexo multicultural que caracteriza e personaliza o povo brasileiro.
(LIMA, 2002, p. 1)
2.3.1 O Avanço da história dos negros
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística1 (IBGE, 2010), o
Brasil tem atualmente uma população de 97 milhões de habitantes negros - "pretos" e
"pardos" -, autodeclarados, e 91 milhões de brancos, ou seja, 51% da população brasileira se
autodeclara negra.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA:
[...] negros nascem com peso inferior a brancos, têm maior probabilidade de
morrer antes de completar um ano de idade, têm menor probabilidade de
frequentar uma creche e sofrem de taxas de repetência mais altas na escola, o
que leva a abandonar os estudos com níveis educacionais inferiores aos dos
brancos. Jovens negros morrem de forma violenta em maior número que
1
Informação retirada do site :http://censo2010.ibge.gov.br/ Acesso realizado no dia 20 de abril de 2013.
21
jovens brancos e têm probabilidades menores de encontrar um emprego. Se
encontrarem um emprego, recebem menos da metade do salário recebido
pelos brancos, o que leva a que se aposentem mais tarde e com valores
inferiores, quando o fazem. Ao longo de toda a vida, sofrem com o pior
atendimento no sistema de saúde e terminam por viver menos e em maior
pobreza que brancos. (IPEA 2007, p. 281 apud CICONELLO, 2008).
Com base nesse documento constatamos a situação dos afrodescendentes, onde
não se é registrado melhorias de vida na situação dessa população, onde a violência e a falta
de segurança viram temas de debates acadêmicos e movimentos sociais. O cenário brasileiro
hoje é banalizado, onde um negro passa a ser questionado quando a sua inocência, não por
atos cometidos, mas por sua raça e status financeiro.
A elite brasileira é branca, então, automaticamente vira uma questão racial.
A mesma coisa, quando a polícia ataca um negro, ela ataca na questão social
também, por quê? Porque ele vai atacar o negro, porque quando ele quer
atacar o pobre ele sabe que o pobre é o negro. (...) (CASTRO M.G. e
ABRAMOVAY, 2009, p 240).
O racismo é facilmente notado na sociedade, principalmente no que se diz respeito
à cultura, pois a sociedade não aceita facilmente a forma de vestir, falar, comer, em geral os
hábitos de culturas diferentes da que estão acostumados a conviver (CICONELLO, 2008).
Segundo pesquisa feita por Marcelo Neri (2010), a população negra deve um
grande avanço na educação, no período de 2001 a 2009, destaca que a escolaridade
afrodescendente subiu 60,94%, enquanto a dos brancos aumentou apenas 16,10%.
De acordo com o Laboratório de Análises e Estatísticas Econômicas Sociais das
Relações Raciais (LEASER), o crescimento da renda financeira dos negros cresceu no
período de 2001 a 2009, duas vezes mais que a dos brancos. Enquanto a renda das pessoas
classificadas como pretas foi de 43% a dos brancos foi de 21%.
Porém isso não significa a supressão das desigualdades sócio-raciais entre brancos
e negros. De acordo com Mário Theodoro (2008), o aumento e a melhoria no bem estar não
significa que reduziu a distância entre os negros e brancos, ―a pobreza continua
predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca‖ (op. cit., 2008, p. 122).
Com isso, a materialização da visão de que o país só iria se devolver a partir do
―branqueamento‖, ocasionando adoção de medidas governamentais que findou na exclusão,
desigualdade e pobreza que se reproduzem até os dias atuais (THEODORO, 2008).
22
2.4
Estereótipo
As pessoas sempre relatam que a primeira impressão é a que fica, porém para se
criar uma boa ou má impressão vai depender dos conhecimentos anteriores que cada um tem.
O Dr. Leslie Zebrowitz (1996), psicólogo, estuda os efeitos causados pelas atitudes das
pessoas, diz que:
[...] atribuições causais são muitas vezes formadas com menos pensamentos
e processamentos de informação consciente, do que o que é imposto por
inferências correspondentes e teorias covariantes. (ZEBROWITZ, 1996, p.
15)
A palavra ―estereótipo‖ vem de estereotipia: ―processo de se duplicar uma
composição tipográfica, transformando-a um uma forma compacta, mediante modelagem de
uma matriz‖ (AURÉLIO, 1986). Outra definição para estereótipo é a de Gahagan, (1984),
―crenças a respeito de que características possuídas por alguns grupos são possuídas por
qualquer membro daquele grupo‖.
Os estereótipos podem estar relacionados tanto a um indivíduo ou a um grupo.
Para Zebrowitz a maior quantidade de estudos está relacionada a estereótipo de grupo, mas o
individual sempre está ligado a um estereótipo de grupo, quando chamamos alguém de negro
relacionamos a uma etnia (grupo), porém nos referimos a uma pessoa (individual). Outra
forma de estereótipo individual vai de acordo como a pessoa se veste, relacionando a hobbies,
a moral, a vida financeira. Com base nos estudos feitos por Zebrowitz, percebemos que hoje a
mídia tem um grande poder de transformar estereótipos, transformando pessoas em heróis ou
vilões.
A televisão utiliza imagens que é tomada como valores inquestionáveis pela
sociedade como: exemplos de mães perfeitas, mulheres que sabem se vestir bem, a beleza
feminina, cujos exemplos são modelos magras, fazendo com que muitas mulheres venham a
fazer regime e cirurgias para chegar a um padrão de beleza aceitável pela sociedade,
relacionando também o negro a uma imagem ruim, havendo sempre a questão de ser
subalterno na sociedade.
Para Nilma Lino Gomes (2002) a escola é o ambiente onde a reprodução dos
estereótipos sociais, dirigidos ao corpo e ao cabelo, pode deixar marcas visíveis até a vida
adulta. Vários depoimentos coletados pela autora mostram a escola como um ambiente onde a
23
criança negra entra em contato com o racismo e com a discriminação, nesse mesmo ambiente
a criança também conhece a diferença e a desigualdade. Gomes (2002) relata que a escola
deveria ser um lugar livre de desigualdades, porém passa a ser vista como um local de
produção e reprodução de preconceitos e discriminação. Para Gomes (2002) a escola é o local
onde aprendemos muito mais que conteúdos escolares:
[...] Por essa perspectiva, a instituição escolar é vista como um espaço em
que aprendemos e compartilhamos não só conteúdos e saberes escolares,
mas também valores, crenças, hábitos e preconceitos raciais, de gênero, de
classe e de idade. (GOMES, 2002, p.35)
Podemos dizer que estereótipo é uma ideia que é sustentada por um senso comum,
sem poder ser contestada, ou seja, a sociedade se submete a uma aceitação inconsciente do
lugar-comum (BOURDIEU, 2004).
Para Joan Ferrés (1998) estereótipo é conceituado da seguinte forma:
[...] são representações sociais, institucionalizadas, reiteradas e reducionistas.
São representações sociais porque pressupõem uma visão compartilhada que
um coletivo social possui sobre outro coletivo social. São reiteradas porque
são criadas com base na repetição. A palavra estereótipo provém,
justamente, da tecnologia utilizada para a impressão jornalística, ‗ na qual o
texto é escrito em um molde rígido – na impressão em offset ou de
estereótipo – que permite reproduzi-lo tantas vezes quanto se deseje‘ (E.
Noelle-Neumann, 1995, p.191). O estereótipo tem, pois, muito desse molde
rígido que permite a repetição. A base rígida e de reiteração, os estereótipos
acabam parecendo naturais; seu objetivo é, na realidade, que não pareçam
formas de discurso e sim formas da realidade. Finalmente, são reducionistas
porque transformam uma realidade complexa em algo simples (FERRÉS,
1998, p. 135).
Neste ponto se assemelham à característica da imagem na televisão, que também
tem no impacto seu ponto alto, com influências comparadas a Igreja Católica e a
religiosidade. Para Ferrés a televisão além de poder levar alguém aos seus quinze minutos de
fama, também pode elevá-lo a um patamar inquestionável (FERRÉS, 1998).
2.5
Identidade
Falar sobre identidade nos leva a um caminho que se constrói a partir de um
trabalho elaborado, de um passado mais ou menos comum a de uma memória coletiva que
se diz compartilhado pelo grupo.
24
De acordo com Stuart Hall (2000), é possível observarmos que nos últimos
tempos, tem surgido um grande volume de conceitos com relação à identidade. Com a
multidisciplinaridade das discussões, a conclusão é que identidade de maneira alguma seria
integral e unificada.
Lívio Sansone (2003), antropólogo italiano, nos leva a pensar que mais
importante do que entender o que significa identidade, temos que procurar entender as
pessoas, o seu modo de interagir, como estão se definindo e como buscam definir outras
pessoas de um determinado grupo de sociedade. Sendo assim, definir pessoas como negra ou
índio, não vai mostrar como foi o processo de formação da identidade, podendo aproveitar
melhor refletindo sobre cada pessoa se define na sociedade. Pois para Sansone, dependendo
do contexto, pessoas que se autodeclaram negras, podem não se assumir em determinadas
situações.
Max Weber (2000) sugere a existência de uma crença subjetiva numa origem
comum para se criar laços de solidariedade e de comunhão no grupo. Essa crença se faz
necessária e se mostra como um fio norteador da identidade social. Michael Pollak (1989) já
nos relata que os processos da elaboração de identidade social são marcados também por
enquadramento de memória, que é o trabalho de interpretação do passado em função dos
combates do presente futuro. E Frederick Bath (2000) enfatiza que identidade é representada
como um elemento político e organizativo, que pode ser estrategicamente afirmado ou negado
de acordo com a condição social e política, na qual está inserida em determinado momento
histórico.
A identidade assume um caráter relacional, sendo ligado também ao que
encontramos fora dela, algo que ela não é, mas contribui para que exista. Por meio da
diferenciação social, as relações ganham forma e consolidam hábitos e costumes, refletindo a
natureza de inclusão e exclusão. Assim, Woodward pontua que ―A representação,
compreendida como um processo cultural estabelece identidades individuais e coletivas e os
sistemas simbólicos nos quais ela se baseia‖ (Woodward, 2000: 17).
2.5.1 Identidade Negra
Neuza Souza (1983) afirma que as identidades de um indivíduo vão depender da
relação do seu passado, da relação com o corpo. A imagem que temos de nós está associada à
experiência de dor e do prazer que o corpo experimenta. Souza (1983) diz que se torna negro
é uma necessidade de imposição, porém estando sempre em alerta com a verdade: ―Um
25
sistema opaco de desconhecimento e reconhecimento, marcado por todas as ambiguidades
provenientes de sua origem imaginária‖ (SOUZA, 1983, p.59).
Segundo Guimarães (1999), o Brasil é baseado em uma construção racista,
relacionada à cor para o Brasil é uma simples percepção cromática, também é levado em
conta os traços físicos e a textura do cabelo. Paul Gilroy (2001) fala que a cultura negra e as
identidades negras são cultivadas e redefinidas através de uma troca triangular entre a
diáspora, o continente africano e o novo mundo. Para o autor a reelaboração é efetivada
através de ―conexão que deriva tanto da informação da África pelas culturas da diáspora‖
(Gilroy, 2001, p.372). Isso nos mostra que a identidade negra não é uma simples associação
do tradicional e o essencialismo, vista muitas vezes em outras partes interpretações (Sansone,
2003).
A autora do artigo ―O negro e a mídia: Recepção da telenovela por integrantes do
Movimento Negro de Santa Maria‖ Letícia Rodrigues (2007), citando Jesus Martin-Barbero
(2006), afirma que a mídia participa de forma essencial no processo de construção da
identidade negra.
A identidade contemporânea, como a identidade étnica negra, está
continuamente construindo-se e modificando-se, e a mídia atua neste
processo, inclusive para seu reconhecimento social. O que esses indivíduos
querem não é tanto ser representados, mas, sim, reconhecidos: fazerem-se
visíveis socialmente em sua diferença. (MARTIN-BARBERO apud
RODRIGUES, 2007)
Para Sansone (2003) identidade negra é uma realidade dinâmica e contextual:
[...] A identidade negra, com todas as etnicidades, é relacional e
contingente. Brancos e negros existem, em larga medida, em relação um aos
outros; as ―diferenças‖ entre negros e brancos variam conforme o contexto e
precisam ser definidas em relação a sistemas nacionais específicos e a
hierarquias globais de poder, que foram legitimados e, termos raciais e que
legitimam os termos raciais (SANSONE, 2003, p.24).
Sansone (2003) nos permite uma discussão priorizando as particularidades do
contexto social e cultural. Assim, a identidade negra não se torna uma representação genética,
mas passa a ser interpretada pelo contexto social, referentes ao processo de autoafirmação das
pessoas.
26
3. O PODER DA TELEVISÃO
Neste capítulo, inicialmente, falaremos um pouco sobre a história da televisão, o
poder que esta exerce sobre a sociedade e como o negro foi inserido no meio televisivo.
Também falaremos como foi que surgiram as primeiras participações do negro
nas telenovelas, como foi ganhando espaço até chegar a protagonista, relatando o preconceito
sofrido, ainda hoje, até mesmo ganhando um papel de destaque.
3.1 História da televisão no Brasil
A primeira transmissão de imagens no Brasil foi realizada oficialmente no dia 18
de setembro de 1950, em São Paulo, pela TV Tupi Difusora, uma emissora dos Diários
Associados de Assis Chateaubriand. A emissora surgiu numa época que o rádio era o veículo
de comunicação mais popular do país (MATTOS, 2002).
Segundo Othon Jambeiro (2002), o Brasil foi o primeiro país da América Latina a
ter uma emissora de televisão. ―A TV Tupi Difusora começou transmitindo imagens para
cerca de 500 aparelhos receptores na cidade de São Paulo, mas três meses depois havia já 2
mil aparelhos funcionando ali‖ (CAPARELLI apud JAMBEIRO, 2002, p.51). O Brasil foi o
sexto no mundo a ter uma emissora de TV, perdendo apenas para Inglaterra, Estados Unidos,
França, Alemanha e Holanda.
A televisão no Brasil surge em um período precoce se comparado aos demais
países emergentes de sua época. O aparelho de televisão foi inventado em 1941, nos Estados
Unidos e em menos de uma década, Chateaubriand criou a TV Tupi Difusora no Brasil, indo
contra os investidores e as pesquisas de mercado que eram feitas para medir a capacidade do
mercado brasileiro de incorporar um veículo de comunicação tão caro como a televisão
(KEHL, 1986).
Segundo Sérgio Mattos (2002) quatro meses após a instalação da sua primeira
emissora, o grupo de Chateaubriand inaugurou outra emissora no Rio do janeiro, no dia 20 de
janeiro de 1951, a TV Tupi-Rio.
Os primeiros anos da televisão, tanto da Tupi de São Paulo como da do Rio,
foram marcados pela falta de recursos e de pessoal e pelas improvisações.
27
Em fins de 1951, já existiam mais de sete mil televisores entre Rio e São
Paulo. (MATTOS, 2002, p. 81).
Por ser uma inovação tecnológica, o fator econômico limitava a expansão da
televisão na década de cinquenta, passando a ser um brinquedo de luxo para as elites do país
(SODRÉ, 1989).
Os pesquisadores Maria Rita Kelh (1986) e Daniel Filho (2003) relatam que, na
prática, a produção televisiva na primeira década não passou de uma transposição de
programas das Rádios Associadas de Cheteaubriand para um novo formato em audiovisual
(KEHL, 1986; FILHO, 2003).
A característica que marcou o início da televisão no Brasil foi o aspecto
radiofônico com imagens. Grande parte dos profissionais do rádio influenciou na
programação da televisão, adaptando os programas radiofônicos para serem exibidos na
televisão. Segundo Mattos (2002) antes da implantação da TV Tupi de São Paulo o grupo de
Assis Chateaubriand já buscava estratégias de treinamento para popularizar a imagem dos
seus radioatores.
[...] Dois anos antes da instalação da TV Tupi de São Paulo, os Diários
Associados passaram a desenvolver uma estratégia visando não apenas
treinar os seus radioatores para o novo veículo, como também para
popularizar a imagem dos artistas. Para tanto foram desenvolvidos vários
projetos cinematográficos. (MATTOS, 2002, p.49-50)
A autora Samira Yousself Campedelli (1987) relata que a televisão ultrapassa a
condição de eletrodoméstico e ressalta que seu surgimento foi uma conquista e revolução ao
mesmo tempo. Para a autora a televisão é utilizada como fuga para as dificuldades,
maquiando os problemas diários da população:
[...] ela seria uma espécie de liquidificador cultural, isto é, um
eletrodoméstico capaz de misturar e diluir cinema, teatro, música e literatura
num único espetáculo, oferecendo assim uma reforçada vitamina eletrônica
para o público. (CAMPEDELLI, 1987, p. 5).
Em 1952 foi ao ar pela primeira vez um dos mais famosos telejornais da televisão
brasileira, com o nome do seu patrocinador, a empresa estadunidense chamada Standard Oil
Company of Brazil, conhecida como Esso do Brasil (MATTOS, 2002). Segundo Mattos
(2002), o ―Repórter Esso‖ foi uma adaptação, feita pela Tupi Rio, de um rádio-jornal
americano de grande sucesso transmitido pela United Press International (UPI).
28
O ―Repórter Esso‖ foi veiculado pela primeira vez no dia 1º de abril de
1952, permanecendo no ar até o dia 31 de dezembro de 1970, época em que
os anunciantes passaram a comprar espaços entre os programas em vez de
patrocinar o programa como um todo. (MATTOS, 2002, p. 85)
Assis Chateaubriand repetiu sua vitoriosa experiência de colocar um apresentador
exclusivo e o patrocínio de uma única empresa em todas as emissoras que inaugurou.
3.2 O poder da televisão e sua influência na sociedade
Dominique Wolton (1996) relata que a televisão é a única atividade que é
compartilhada por todas as classes sociais e por todas as faixas etárias, estabelecendo um laço
entre todos os meios. O que se verifica é que pelas mediações da TV outras identidades
começaram a aparecer, interagindo entre si.
A homogeneidade da mensagem não impede a heterogeneidade da recepção.
Isso não anula a influência da TV, mas essa influência não é direta, nem
mecânica. Isso explica também seu papel de laço social: os diferentes meios
sociais recebem de maneira diferente os programas e aproveitam o que
querem deles. (...) A heterogeneidade dos programas da TV aberta é uma
figura da heterogeneidade social, porque oferece uma oportunidade de
comunicação e de laço em termos de participação e não apenas de
transmissão. (WOLTON, 1996, p.143)
Wolton (1996) explica que pelo que é veiculado através da TV, o telespectador
torna-se membro de uma sociedade conforme ele vem a ser considerado o espelho de sua
identidade, um fator de transformação social, seus estudos mostram que a TV é um sinônimo
de cultura, já que possui um papel de identidade individual e coletiva.
A televisão como sempre dizemos, é o ―espelho‖ da sociedade. Se ela é seu
espelho, isso significa que a sociedade se vê — no sentido mais forte do
pronome reflexivo — através da televisão, que esta lhe oferece uma
representação de si mesma. E ao fazer a sociedade refletir-se, a televisão cria
não apenas uma imagem e uma representação, mas oferece a todos aqueles
que a assistem simultaneamente. Ela é, além disso, um dos únicos exemplos
em que essa sociedade se reflete. Permitindo que cada um tenha acesso a
essa representação. (WOLTON, 1996, p. 124).
De acordo com Muniz Sodré (1989) os telespectadores fazem parte de uma
categoria que é produzida a partir do poder organizador da linguagem, constituída pela
mediação técnica entre falante e ouvinte, informante e informado. Sodré compara esse poder
29
com o Panóptico – inventado por Bentham em 1792 – termo analisado por Michel Foucault,
que diz que a televisão é o mais recente e bem acabado momento técnico do panoptismo da
comunicação social, sendo a TV um sistema informativo homólogo aos códigos da economia
de mercado.
A ideologia, como a televisão, é uma forma de poder que advém de sua absoluta
abstração com respeito à situação concreta e real da comunicação humana, baseando-se o
controle social do diálogo.
É no diálogo, portanto, que a comunicação se revela plenamente como troca,
dando margem ao conhecimento recíproco dos sujeitos ou até ao
conhecimento de si mesmo, na medida em que pode incorporar o discurso do
outro. É preciso resgardarmo-nos de toda metafísica do diálogo (ou de uma
metafísica da troca), mas é também necessário apreendê-lo como espaço
linguístico onde as diferenças intersubjetivas aparecem, indicando uma
perspectiva de verdade da relação de comunicação. (SODRÉ, 1981, p.25).
Maria Lourdes Motter (2003) explica que a telenovela é responsável por elaborar
e propagar modelos identitários que serão referência para o telespectador, tanto quanto os as
falas ou os acessórios usados por um determinado personagem. E diferente da atuação de
filmes, espetáculos esportivos ou programas humorísticos, a telenovela é presença diária no
cotidiano do brasileiro há quase 50 anos. Com isso podemos dizer que as telenovelas
constroem a realidade e, ao mesmo tempo, alimentam-se do real:
A telenovela pode ser considerada, no contexto brasileiro, o nutriente de
maior potência do imaginário nacional e, mais que isso, ela participa
ativamente na construção da realidade, num processo permanente em que
ficção e realidade se nutrem uma da outra, ambas se modificam, dando
origem a novas realidades, que alimentarão outras ficções, que produzirão
novas realidades. O ritmo dessas transformações passa a ser a questão.
(MOTTER, 2003, p.174).
3.3 A História da Telenovela
Machado (2003) fala que a telenovela, ou narrativa seriada, não foi inventada pela
televisão, pois antes ela já existia em outros formatos direcionados a outros meios de
comunicação. O autor acredita que o cinema seja o principal modelo de seriação audiovisual,
porém diferente do que ele pensa, vemos que nas condições brasileiras, as linguagens
radiofônica e literária sejam nossos principais referentes, principalmente o folhetim.
30
O folhetim é um formato que independente das inovações que ele possa vir a
sofrer, ainda preserva algumas características intactas (FILHO, 2003).
Duas pessoas se apaixonam e vivem alguns capítulos felizes. Fatalmente são
separados pelo vilão, que pode estar querendo para si um dos dois heróis. O
recurso que ele usa nunca é honesto. E nós ficamos sempre torcendo para
que os heróis se encontrem. E de tempos em tempos isso acontece, eles
ficam juntos, mas o vilão prepara armadilhas e eles se separam. Isso até o
final, quando descobrimos quem matou, os roubou – e quando, finalmente,
indica-se que todos serão felizes para sempre, executando o vilão. (FILHO,
2003, p. 68).
Campedelli (1987) fala da origem do termo novela, explicando que em vários
idiomas significa história curta, ordenada e completa, de fatos verossímeis, porém o que se vê,
na atualidade, são histórias longas e de narrativa trançadas, sendo comparada a um novelo se
desenrolando. A autora explica que:
A semântica medieval da palavra é a mais adequada para a moderna
telenovela. Na Idade Média, o termo foi usado como substantivo sinônimo
de ―entrecho‖, ―enredo‖, ―narrativa trançada‖. Aplicava-se às novelas de
cavalaria, que faziam jus a essa última significação (CAMPEDELLI, 1987,
p.18-19).
Campedelli explica que da utilização do termo novela para a criação da
telenovela, ocorreu um engano cometido pelo gênero e utiliza o depoimento de Marcos Rey
(apud Campedelli, 1987) para dizer como o erro ocorreu:
[...] O termo novela foi equivocadamente incorporado pelo rádio às suas
narrativas quilométricas. Depois, a televisão cometeu outro equívoco em
cima do primeiro e ficou com o nome. Como se sabe, o rádio copiou o
gênero das similares cubanas e mexicanas. Só que o termo, no idioma
espanhol, é igual a romance. No inglês moderno também. Para a história
curta, esses idiomas têm outros vocábulos. Com relação à telenovela, o certo
seria chamá-la de folhetim. (REY apud CAMPEDELLI, 1987, p.19).
Segundo Daniel Filho (2003) o folhetim é um gênero da narrativa seriada, de
histórias longas. Inicialmente eram veiculados nos rodapés de jornais e poderiam ser
considerado um dos primeiros formatos da indústria cultural. Segundo o autor o folhetim fez
sucesso no Brasil, e era incorporado por escritores românticos e seu auge foi entre 1840 até
aproximadamente 1880.
Os autores Renato Ortiz, Silvia Helena Simões Borelli e José Mário Ortiz Ramos
(1989), no livro Telenovela – História e Produção relatam que o que conhecemos hoje sobre
31
telenovela foi um produto que veio importado do rádio, passando por um processo de
adaptação, se tornando um produto de maior aceitação em termos de audiência da televisão
brasileira.
A primeira novela radiofônica brasileira foi lançada em 1941, A Predestinada,
pela Rádio São Paulo. Oswaldo Viana, o diretor da Rádio São Paulo, importou essa nova idéia
da Argentina e implantou no Brasil. A TV Excelsior, a emissora responsável em colocar no ar
a televisão em rede nacional, transmitiu a primeira telenovela diária dentro dos moldes atuais
que se chamava ―2-5499 Ocupado‖ e em 1964 estava sendo transmitida a versão brasileira da
radionovela do cubano Féliz Caignet, O Direito de Nascer, exibida pela TV Tupi e obteve o
reconhecimento de telenovela no Brasil (ORTIZ, BORELLI, RAMOS, 1989).
A telenovela chega ao início dos anos 60 marcada pelo desprestígio, mas
também com uma certa presença, pois consegue atravessar mais de uma
década no vídeo. Neste momento, é possível captar uma mudança de atitude
do público em relação a este gênero dramático. Se em meados dos anos 50 o
teleteatro tem maior apelo junto à audiência, os sinais agora começam a se
inverter. Na medida em que a televisão se populariza, a novela tende a
superar a antiga preferência pelos programas culturais. Mas é necessário
esperarmos pelas invocações trazidas pela TV Excelsior, quando a televisão
se redefine em termos de indústria cultural, para que ela venha despontar
como o produto por excelência do sistema televisivo brasileiro. (ORTIZ,
BORELLI, RAMOS, 1989, p. 53).
Campedelli (1987) diz que a telenovela-folhetim foi descoberta na Argentina, por
Edson Leite, o diretor artístico da TV Excelsior, que adaptou um original de Tito Miglio para
a exibição diária, em 1963, no canal 9 de São Paulo e canal 2 do Rio de Janeiro. A telenovela
―2-5499 Ocupado‖ retratava a história de uma presidiária, interpretada por Glória Menezes, e
tinha como par romântico o ator estreante Tarcísio Meira. O nome da telenovela se deve a
―função de telefonista do presídio, exercida pela heroína, por quem o herói se apaixona,
através do contato possível – a voz -, sem saber de sua condição real‖ (CAMPEDELLI, 1987,
p.59).
Segundo Campedelli (1987) no final da década de sessenta, juntamente com a
formação da Rede Globo de Televisão, a telenovela ganha horários regulares dentro de uma
grade de programação e as telenovelas passam a ser determinadas por horários: novela das
seis, novela das sete e novela das oito. Na mesma época foi criado o videoteipe e a telenovela
pôde ser dividida em capítulos e passam a ser exibidas diariamente de forma fragmentada.
Paula Simões (1986) relata que o videoteipe multiplicou a rentabilidade das telenovelas, a
partir de então a telenovela passa a ser vista como um produto comercial, voltada para um
32
público heterogêneo e teve que se adaptar trazendo temas que se aproximasse dos diversos
segmentos sociais.
As telenovelas tornaram-se um produto de grande aceitação por parte do público e
as emissoras resolvem padronizá-las e produzi-las em escala industrial. As telenovelas diárias
têm um sucesso rápido (ORTIZ, BORELLI, RAMOS, 1989).
3.4 O negro na telenovela: primeiras participações
Segundo Solange Couceiro (1983) o negro, na teledramaturgia brasileira, sempre
foi aproveitado de forma condicionada e em situações já definidas, ou seja, apareciam em
tramas onde o cenário era histórico-escravocrata, onde exigia uma demanda de atores negros
na representação dos escravos, ou quando era necessário um ator para representar um
personagem de posição subalterna ou o marginal da sociedade. Interpretava também a
empregada doméstica, o favelado, o mordomo ou até mesmo o bandido. E quando a trama se
desenrolava em fase pós-escravocrata a quantidade de negros era bem reduzida.
Joel Zito Araújo (2000) destaca em seu livro ―A Negação do Brasil‖ cinco
estereótipos básicos do cinema industrial:
1- ―Mulato Trágico‖: eram representados como pessoas simpáticas, agradáveis,
vítimas de uma divisão racial herdada, embora a tragédia fosse o único desfecho
para aqueles que tentassem ultrapassar a linha de cor, através d casamento interracial ou da ocultação de sua origem negra, para participar do mundo branco;
2- Coon: uma variação de palhaço de olhos esbugalhados, menestrel, moleque
travesso e malandro;
3- Mammie: atriz grande e gorda, capaz de caracterizar uma negra ao mesmo tempo
orgulhosa, dominadora, de vontade forte, irritável, mas intensa na sua
maternalidade
4- Toms: o negro serviçal doce, inferiorizado e dedicado às famílias brancas;
5- Buck: o negro brutal e hipersexualizado, um estuprador em potencial ou real.
Muniz Sodré (1999) relata que presenciamos nos meios de comunicação do Brasil
o chamado "racismo midiático". Ou seja, a mídia atua como uma propagadora de modelos,
porém isso só acorre a partir do ponto de vista dos grupos dominantes, colocando toda a
diversidade cultural do país em perigo. A representação dos negros nas telenovelas reforça,
em alguns momentos, preconceitos difundidos no senso comum.
33
Nos primeiros anos da telenovela diária no Brasil, a Rede Globo colocou no ar
uma trama que abordava a luta política, social e econômica entre os escravos latifundiários
dos Estados Unidos, focalizando a vida de um escravo negro ―Tomás‖. A primeira produção
global a contar com um protagonista negro foi ―A cabana do Pai Tomás‖, porém vale ressaltar
que o personagem ―Tomás‖ era interpretado por um ator branco, Sérgio Cardoso, o galã da
época que passava por uma caracterização para escurecer a pele, de acordo com as exigências
do patrocinador Colgate-Palmolive (DICIONÁRIO TV GLOBO, 2003).
Araújo (2000) aponta um período de destaque que se tratou explicitamente a
questão do preconceito racial numa trama contemporânea, a novela Corpo a Corpo (1984),
onde a personagem Sônia (Zezé Motta) se apaixona por um homem de cor branca, causando
polêmica na narrativa e na audiência. Nesta mesma época o país estava vivendo um
movimento em defesa dos negros, onde se exigia uma maior participação do negro nas
teledramaturgias, porém não obteve muitos resultados, pois nesse período surgiram
telenovelas baseadas nas várias obras de Jorge Amado.
Joel Zito (2000) também destaca a personagem ―Mamãe Dolores‖, interpretada
pela atriz negra Isaura Bruno, que era extremamente bem vista pelos telespectadores. Porém,
mesmo tendo levado a novela a altos índices de audiência e ter despertado no público uma
grande empatia, nos anos seguintes pouco de viu atores ou atrizes negras com personagens
importantes na teledramaturgia nacional.
Segundo José Marques de Melo (1988), as telenovelas histórico-escravocratas
passaram a contabilizar um maior número de atores negros ao longo da trajetória da
telenovela brasileira, e curiosamente foram essas novelas as recordistas de venda no mercado
internacional. Ortiz (1989) destaca que a emergência do tema abolicionista coincidiu com o
crepúsculo da ditadura militar e com as primeiras manifestações de sindicatos e estudantes
contra prisões e assassinatos cometidos pelo regime.
Mesmo as telenovelas histórico-escravocratas condenando a escravidão, Araújo
(2000) critica a forma como a teledramaturgia brasileira retratou a libertação dos escravos:
Nos anos 70, as novelas de época da Rede Globo que tinham como tema a
escravidão no Brasil parecem ter confirmado a versão da história oficial de
que a libertação dos escravos foi um feito realizado só por brancos. E o que é
mais trágico, a única personagem afro-brasileira que demonstrou consciência
de sua época e orgulho de si mesma, foi a escrava Isaura, interpretada por
uma atriz branca. (ARAÚJO, 2000).
34
Segundo Araújo (2000) a escolha da atriz branca Lucélia Santos para interpretar a
escrava ―Isaura‖ na primeira versão da trama foi questionável.
A figura do escravo branco oferece prova substancial de que os escritores
interessados no problema da escravidão foram, contudo, vítimas de todos os
preconceitos e intolerâncias que rodeavam a questão da raça e da cor. O
escravo, em certas situações, tinha de ser retratado na cor branca, a fim de
provar uma exceção à regra que negros eram escravos por natureza e para
não ofender suscetibilidades de um público leitos fundamentalmente próescravatura. (BROOKSHAW apud ARAÚJO, 2000, p. 202).
Bernardo Guimarães opta por descrever ―Isaura‖ como branca para corresponder a
demandas da sociedade do século XIX, que era um público que não iria conseguir associar ma
mulata à inocência e à pureza da personagem, já que a mulata estava vinculada ao estigma de
sedutora, lasciva e amoral. Porém a escolha de uma atriz branca reflete na continuidade de
preconceitos e a falta de ousadia dos produtores e diretores (ARAÚJO, 2000).
Constantemente os negros representam papéis de subalternos e serviçais,
reforçando a ideia de sua inferioridade intelectual, desvinculando-o das posições de poder
dentro da sociedade. Com isso a telenovela reforça a ideologia do embranquecimento
reiterando diariamente que o branco é que é bem-sucedido, o patrão ou o herói. Os atores
negros têm suas representações estereotipadas e sem complexidade de setores sociais
(SODRÈ, 1980).
Esta exclusão não se explica só pelos argumentos (sociológicos) de que os
negros não têm a mesma distribuição que os brancos na pirâmide sócioeconômica, mas também por razões decorrentes da estratégia (semiológica)
da cultura dominante, que se defende do sistema cultural negro. (SODRÉ,
1980, s/p).
Sodré (1999) explica que é possível verificar que os excluídos quando são
incorporados pelos meios de comunicação entram na categorização do grotesco. Para ele a
ideologia do embranquecimento foi a passagem do racismo para a exclusão, diz que a
telenovela frequentemente utiliza-se de negros para retratar o bandido, desta forma
perpetuando a identidade negra como negativa.
A sociedade brasileira tem o hábito de assistir e acompanhar as telenovelas, e
quem acompanha e se envolve com as tramas deve lembrar que poucos foram os atores negros
que ganharam destaque. É mais fácil lembrar-se de atores negros que tenham interpretado
alguma empregada doméstica, motorista ou morador de rua. Isso se deve porque a
representação dos negros em geral, na teledramaturgia brasileira é ínfima, como podemos ver
35
na obra de Joel Zito Araújo, ―A Negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira‖, ele
analisou as novelas que foram transmitidas entre 1963 e 1997, pela TV Tupi, TV Excelsior e
Rede Globo. Entre as 98 novelas que foram exibidas pela Rede Globo, entre as décadas de
1980 e 1990 mostrou que, fora as novelas que tinha a escravidão como tema, em 28 delas não
apareceu nenhum afrodescendente e 29 conseguiram ultrapassar dez por cento de atores
contratados do total do elenco (ARAÚJO, 2000).
Sodré (1999) identificou quatro formas em que o racismo midiático se manifesta:
[...] 1) através da negação da existência do racismo, exceto em casos
explícitos de preconceito, ou conflitos raciais; 2) apagamento de aspectos e
exemplos positivos da cultura negra, ignorando ou ―embranquecendo‖ as
contribuições desta etnia ao país; 3) estigmatização da cor escura da pele,
atribuindo a esta identidades ou características que não estão de acordo com
a realidade da maioria; e 4) criação de um estado de indiferença entre os
profissionais da mídia permitindo que exista uma supressão da realidade
étnica em prol de interesses econômicos comerciais. (SODRÉ apud
COUTINHO, 2010).
Araújo (2000) ressalta em seu livro algumas ocasiões onde se teve a intenção de
retratar o negro em papéis de classe média. Milton Gonçalves é o exemplo mais antigo, que
interpretou um psiquiatra na novela ―Pecado Capital‖ de Janete Clair, exibida de 24 de
novembro de 1975 a cinco de julho de 1976. Conforme sinopse da novela, a personagem teria
o seguinte perfil:
[...] psiquiatra com vários cursos na Europa, onde participa de congressos
médicos como representante brasileiro. Desenvolvendo novos métodos de
tratamento, inicia as consultas com Vilma pouco depois de ela receber alta
no hospital e estende seu atendimento a toda família, num trabalho de grupo.
É a tentativa de equilíbrio (ARAÚJO, 2000, p.118).
Porém por ter tido uma relação inter-racial com uma mulher branca, o romance foi
vetado na novela devido a pressões do público e da censura política. Apesar de interpretar um
profissional bem sucedido, o papel interpretado pelo ator negro não foi bem explorado.
[...] Mas o personagem se enquadra na galeria dos profissionais negros
perfeitos, de comportamento inteiramente aceitável, sem relações com sua
comunidade de origem, sem vínculos com outras pessoas de sua raça. Um
personagem que poderia ter ido além, se a autora tivesse ou pudesse ter
desenvolvido várias possibilidades dramáticas, se buscasse, por exemplo,
mostrar como ele chegou até o posto que ocupava, que obstáculos enfrentava
em sua nova classe social, numa profissão em que praticamente todos os
outros profissionais são brancos (ARAÚJO, 2000, p.120).
36
O negro faz parte da metade da população brasileira, portanto o negro não deveria
apenas fazer parte de papéis de personagens coadjuvantes tanto em filmes como em
telenovelas (ARAÚJO, 2000).
O autor ainda destaca que as imagens que dominam no conjunto das telenovelas
que foram ao ar de 1963 a 1997 revelavam a cumplicidade da televisão com a persistência do
ideal de branqueamento e o desejo de euro-norte-americanização dos brasileiros (ARAÚJO,
2000).
Mesmo considerando somente as duas últimas décadas, os anos 80 e 90, um
período de ascensão do negro na dramaturgia da teleficção, de 98 novelas
produzidas pela Rede Globo (excluindo aquelas que tiveram como temática
a escravidão) não foi encontrado nenhum personagem afrodescendente em
28 delas. Apenas em 29 telenovelas o número de atores negros contratados
conseguiu ultrapassar a marca de dez por cento do total do elenco. E em
nenhuma delas o total de negros e mulatos chegou a ser metade, ou mesmo
quarenta por cento de todo o elenco (ARAÚJO, 2000, p. 305).
De acordo com Araújo (2000) houve em muitos momentos avanços de
personagens negros em questões de narrativa. Porém por conta da grande presença dessa etnia
na formação da sociedade brasileira, os negros se apresentaram de forma módica, pois ainda
existem vestígios de uma representação pautada em estereótipos. Com isso Araújo (2000)
mostra que nas telenovelas brasileiras o que predomina é uma identidade de branquitude,
onde as imagens dominantes eram alicerçadas na supervalorização dos traços brancos como
um ideal de beleza na sociedade. O negro, nas telenovelas contemporâneas, é retratado como
indivíduo que vive sem ser um alvo de preconceitos, em uma produção que esconde as
questões étnicas, criando um ―consenso‖ na democracia racial brasileira.
A década de 1990, segundo Araújo (2000), apresentou melhorias em relação a
forma como os negros são retratados nas telenovelas. A novela Felicidade exibida em 1991 e
escrita pelo autor Manoel Carlos, mostrou ao público personagens bem construídos e não
estereotipados. Ao contrário de novelas anteriores, os personagens negros se defendiam com
ferocidade e determinação diante das ofensas feitas pelos personagens brancos.
3.5 O Negro como protagonista
O estudo realizado por Araújo (2000) mostra a realidade do mercado de trabalho
dos negros, na teledramaturgia brasileira, sobre a representação destes em telenovelas
transmitidas entre 1963 e 1997, pela TV Tupi, TV Excelsior e Rede Globo. Em sua pesquisa
37
foi constatado que os negros foram pouco representados e raramente interpretavam
personagens de classe social mais alta ou em profissões de valor social reconhecido, o que se
destacava eram os estereótipos que a sociedade atribuía a essa parcela da população.
Em poucos trabalhos identificamos atores negros nos papéis principais, de
protagonistas ou antagonistas. As rédeas da ação são tomadas geralmente por
personagens interpretados por atores brancos, que atuam como o Leão, o
condutor, ou compõem o grupo de personagens principais. Se o personagem
criado pelo autor não receber, na sinopse, referências sobre o seu
pertencimento racial, o ator branco tende a ser escolhido. O afrodescendente
só terá a sua oportunidade assegurada se existirem rubricas que evidenciem a
necessidade de um ator negro. Se na construção do personagem for
destacado um tratamento estereotipado, recorrendo aos arquétipos da
subalternidade na sociedade brasileira, aumenta a possibilidade de
construção para o ator negro. De um modo geral, ao ator afro-brasileiro estão
reservados os personagens sem, ou quase sem, ação, os personagens
passageiros, decorativos, que buscam compor o espaço da domesticidade, ou
da realidade das ruas, em especial das favelas. (ARAÚJO, 2000, p.308)
Segundo Araújo (2000), em 1969 foi ao ar pela TV Excelsior a telenovela Vidas
em Conflito, onde o personagem Zózimo Bulbul foi um dos destaques. Esta foi a primeira
novela a contar com um núcleo negro importante e apresentou a primeira família de classe
média na televisão. O autor Teixeira Filho relata que a novela tinha o propósito de discutir
temas raciais, porém os dramas da família negra não foram adiante e:
[...] o enredo foi alterado para eliminar, aos poucos, os personagens negros.
As explicações dadas pelo autor do script foram que o público reagia
negativamente ao tema, através de cartas; que os atores negros não têm
condições satisfatórias de representar, de ‗aguentar‘ o peso do papel. O
recurso foi eliminá-los através da alteração do enredo. (COUCEIRO apud
ARAÚJO, 2000, p.96).
Esther Hambúrguer (1996) analisou a telenovela com a primeira protagonista negra que
foi exibida de 17 de setembro de 1996 a 11 de agosto de 1997 pela Rede Manchete, de forma pioneira,
a novela ―Xica da Silva‖, escrita por Walcyr Carrasco (sob o pseudônimo Adamo Angel) e dirigida
por Walter Avancini. A novela conta a história de Xica da Silva, interpretada por Taís Araújo, uma
escrava inteligente e sedutora que conquista o contratador de diamantes enviado pelo Reino de
Portugal e é comprada e alforriada por ele. A história se passa no ano de 1751 e nessa época
pouco se falava em liberdade para os negros, mesmo assim a personagem ‗Xica‘ enfrenta de
forma intrépida seus inimigos preconceituosos e esta novela se torna um marco das produções
que queriam retratar o período de escravidão no Brasil.
38
4. ANÁLISE DE CONTEÚDO
Analisando a situação dos veículos de comunicação de massas (os media), Albert
Kientz nota que na sociedade em que vivemos, estes assumem um conjunto de funções muito
complexo, em consequência disso acaba impondo seus tipos de conteúdo. Com isso, ―a
situação da comunicação de massa, nascida do aparecimento de novas tecnologias, determina
estreitamente o tipo de conteúdos que elas difundem e o seu modo de condicionamento‖
(Kientz, 1973, p.14).
Segundo Kientz (1973) os medias tem por objetivo alcançar um grande público
utilizando os mais diversos tipos de mensagens, com o objetivo de prender a atenção do
público, com isso necessitam que suas transmissões sejam bem sucedidas e que as
informações sejam bem condicionadas.
Então para que possamos compreender as mensagens transmitidas através dos
veículos de comunicação de massas, a metodologia a ser aplicada para essa pesquisa é a
análise de conteúdo (AC), que é a melhor forma científica para compreender as mensagens e
conteúdos veiculados pela mídia, sendo definida como:
A análise de conteúdo é apenas um método de análise de texto desenvolvido
dentro das ciências sociais empíricas. Embora a maior parte das análises
clássicas de conteúdo culminem em descrições numéricas de algumas
características do corpus do texto, considerável atenção está sendo dada aos
―tipos‖, ―qualidades‖, e ―distinções‖ no texto, antes que qualquer
quantificação seja feita. (BAUER, 2008, p. 190)
A análise de conteúdo é definida por Laurence Bardin (2002), como técnicas de
análise de comunicação que visam obter a descrição do conteúdo das mensagens, com
indicadores quantitativos ou não, mas que permitam a percepção dos conhecimentos relativos
às condições de produção e recepção das mensagens.
Para Kientz (1973) é uma ferramenta de pesquisa que possui diversas aplicações,
vem sendo explorada e aplicada não só na área de comunicação, mas também na psicologia,
sociologia, ciência política e também nas críticas literárias. O processo para se construir a
análise de conteúdo varia de acordo com o objeto que será analisado, como também quanto ao
objetivo da pesquisa. A AC permite a descrição e a análise das representações sobre os
sujeitos e a forma como são classificados. Com isso é possível ―revelar (no sentido
39
fotográfico) os modelos, as imagens, os estereótipos que circulam na cultura de massa‖
(Kientz, 1973, p.69).
Bardin (2002) relata em suas pesquisas o conceito de estereótipo, que é a ideia
que temos de alguma coisa:
É a representação de um objeto (coisas, pessoas, ideias) mais ou menos
desligada da sua realidade objetiva, partilhada pelos membros de um grupo
social com uma certa estabilidade. Corresponde a uma medida de economia
na percepção da realidade, visto que uma composição semântica
preexistente, geralmente muito mais concreta e imagética, organizada em
redor de alguns elementos simbólicos simples, substitui ou orienta
imediatamente a informação objetiva ou a percepção real. Estrutura
cognitiva e não inata (submetida à influência do meio cultural, da
experiência pessoal, de instâncias e de influências privilegiadas como as
comunicações de massa), o estereótipo, no entanto, mergulha as suas raízes
no afetivo e no emocional, porque está ligado ao preconceito por ele
racionalizado, justificado ou engendrado (BARDIN, 2002, p. 51).
Com isso é imprescindível que se faça presente na pesquisa o uso da análise de
conteúdo, considerando a capacidade metodológica na observação e exame dos veículos de
comunicação de massas.
4.1. Construção da análise
Segundo Kientz (1973) para se construir uma AC é necessário seguir algumas
regras, para que também seja considerada uma análise científica. Para a análise proposta
devem ser seguidas quatro exigências fundamentais, como objetividade, sistematização,
abordagem somente do conteúdo manifesto e a quantificação.
A objetividade indica a maneira que qualquer outro pesquisador consiga obter o
mesmo resultado seguindo o mesmo modo de pesquisa. Na sistematização, que trata somente
do conteúdo que está sendo abordado, ou seja, analisa tanto a frequência de palavras ou
símbolos contando-os e também os vínculos que mantém com os elementos próximos. O
terceiro ponto se refere à abordagem do conteúdo evidente, que significa examinar as
mensagens em si mesmas. A última exigência é a quantificação, que ―visa a dar peso e rigor à
análise, substituindo o que é apenas impressão inverificável por medidas precisas‖ (KIENTZ,
1973, p.157).
Porém, Bardin (2002) relata que o método de AC é também um grupo de técnicas
que possui uma gama de ferramentas de análises e apresenta dois atributos fundamentais da
AC: o primeiro sendo a função heurística, que favorece a investigação e aumenta a capacidade
40
de descobrimento. E segundo, se refere à administração do que for comprovado, onde as
hipóteses consistem em provar e verificar a veracidade dos fatos.
Bardin (2002) diz que na maioria das vezes o tema é empregado como uma
unidade de registro, quando procuramos observar motivações de opiniões, crenças, atitudes,
tendências, valores.
Na verdade o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de
um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de
guia a leitura. O texto pode ser recortado em ideias constituintes, em
enunciados e em proposições portadores de significações isoláveis.
(BARDIN, 2002, p.105).
Ainda segundo Bardin (2002) a AC tem sua estrutura operacional dividida em três
etapas: 1) pré-análise: onde ocorre o levantamento das ideias iniciais. Nesse primeiro passo é
onde ocorre a organização da pesquisa com procedimentos como a leitura flutuante, a
definição do corpus, a formulação de hipóteses e objetivos e a elaboração do material de
referência. 2) exploração do material: é onde é realizada a codificação, a enumeração dos
dados, transformando o que é bruto em centros de compreensão do texto. 3) tratamento dos
resultados, a inferência e a interpretação: neste momento ocorre o tratamento dos resultados
brutos, tornando-os válidos.
Para que seja esclarecido metodologicamente este procedimento de AC é
normalmente utilizado em textos impressos, porém pode tratar de materiais como: revistas,
filmes e fotografias, e neste trabalho será abordado em texto televisivo. Com isso, o emprego
da AC requer em procurar algo por trás do que se está explícito nas comunicações e, portanto
se faz necessário:
Apelar para estes instrumentos de investigação laboriosa de documentos é
situar-se ao lado daqueles que, de Durkhein a P. Bourdieu, passando por
Bachelard, querem dizer não à ilusão da transparência dos fatos sociais,
recusando ou tentando afastar os perigos da compreensão espontânea.
(BARDIN, 2002, p. 28).
Com o fato de esta pesquisa abordar a representação do negro na telenovela Da
Cor do Pecado, a AC permite que se faça uma análise temática pela conjuntura qualitativa,
considerando que neste tipo de análise será considerada ―a presença ou a ausência de uma
determinada característica num determinado fragmento de mensagem que é tomado de
consideração a um nível mais estritamente técnico‖ (BARDIN, 2002, p.21)
41
4.2 Corpus da Análise
Como foi apresentado anteriormente, a televisão exerce uma grande influência no
que se diz respeito à construção de imagens. E como este trabalho tem por temática a
representação do negro na telenovela propõe analisar a forma como os negros são
representados, se referindo as relações étnico-raciais.
A telenovela Da Cor do Pecado foi escolhida para esta análise pelo fato de ser a
primeira novela na Rede Globo a ter como protagonista de uma novela uma atriz negra. Outro
fato que chama a atenção é que mesmo sendo a personagem principal é retratada de forma
subalterna e sobre com preconceitos durante toda a novela.
Segundo Bárbara Sacchitiello¹ (2013) Da Cor do Pecado é a recordista de vendas
da emissora e já foi exportada para mais de 100 países, anteriormente este ranking era
liderado pela novela Terra Nostra de Benedito Ruy Barbosa e na sequência vinham O Clone
de Glória Perez e a versão original de Escrava Isaura de Gilberto Braga.
Este trabalho pretende além de investigar a representação do negro na telenovela,
como também saber se no período analisado da novela escolhida se houve ou não alguma
alteração e mudança nas representações com relação à participação dos afrodescendentes que
participam da trama.
Com isso foi feita uma análise de conteúdo no período de 24 de outubro de 2013 a
7 de novembro do mesmo ano. É considerada para esta análise a forma como os
afrodescendentes aparecem nas cenas, a linguagem utilizada por eles, a forma de agir e
também a maneira como eles são tratados pelos outro personagens no decorrer na novela.
Para compor esta AC foram utilizados os seguintes processos metodológicos: o
levantamento bibliográfico, onde se pode ter um embasamento teórico do tema abordado; a
constituição do corpus da pesquisa e a investigação dos objetos de estudo, como os vídeos dos
capítulos disponíveis na íntegra no site da Rede Globo.
4.3 Descrição da telenovela
A novela Da Cor do Pecado foi escrita por João Emanuel Carneiro com a supervisão
de Silvio de Abreu e direção geral de Denise Saraceni, foi ao ar pela primeira vez na Rede
Globo de Televisão no primeiro semestre de 2004 no horário das 19 horas e reapresentada no
42
programa denominado Vale a Pena Ver de Novo no segundo semestre de 2007 e no segundo
semestre de 2012. É a primeira novela da emissora a ter uma relação interracial como tema
principal e uma protagonista negra.
A trama principal da telenovela centra-se na personagem e protagonista Preta,
encenada pela atriz Taís Araújo, uma jovem maranhense, bonita mulata, feirante que vive
uma história de amor com um homem rico e branco. O par romântico de Preta é o ator
Reynaldo Gianecchini, que interpreta Paco Lambertini, um jovem botânico criado no Rio de
Janeiro e único herdeiro da fortuna de seu pai, Afonso Lambertini, interpretado por Lima
Duarte.
Tudo se inicia no Maranhão: Paco e Preta se conhecem em uma feira de São Luís,
onde o botânico foi realizar uma pesquisa sobre ervas medicinais. Quando vê Preta dançando
a Roda do Tambor de Crioula, Paco se apaixona no mesmo instante, se encantando com a
beleza e a sensualidade da mulata. Quando a conhece melhor, fica encantado com a sua
sabedoria e a partir de então se inicia um romance, com isso Paco decide voltar ao Rio de
Janeiro e terminar seu relacionamento com Bárbara, interpretada pela atriz Giovanna
Antonelli, que é uma jovem ambiciosa que desejava casar com Paco somente para ficar rica.
Bárbara não aceita o fim do namoro e arma para impedir o romance de Preta e Paco. Preta
antes de se separar de Paco engravida de Raí, interpretado por Sérgio Malheiros, e acaba o
criando praticamente sozinha.
A história de amor de Preta e Paco é repleta de mentiras e armações de pessoas
como Bárbara, que não queriam que o casal se unisse, e os dois acabam se separando. A
novela conta a trajetória de dois irmãos Paco e Apolo (Reinaldo Gianecchini) gêmeos que
desconhecem um ao outro. Apolo vive com sua mãe e irmãos, porém os dois se cruzam e uma
tragédia leva a vida de Apolo. Paco volta para viver no lugar do irmão depois de oito anos do
acidente. Paco se afasta de Preta nesse período e desconfia que ela o tenha traído com o exnamorado Dodô, interpretado por Jonathan Haagensen. O casal só consegue ficar juntos no
final quando são esclarecidas todas as armações de Bárbara para separar o casal.
Inicialmente a novela estaria mostrando uma mensagem de igualdade racial, já
que a personagem principal da história é uma atriz negra, que faz par romântico com um ator
branco. Isso poderia ser interpretado pela sociedade como um avanço, que a discriminação
racial no Brasil estaria reduzindo, porém alguns aspectos nos mostram que não.
A começar pelo título da novela ―Da Cor do Pecado‖, que está remetido a
personagem negra, ao estereótipo de ‗mulata hipersensualizada‘. Como a personagem
representa a mulher negra, fica óbvio que este estereótipo passa a ser atribuído a todas as
43
mulheres negras. Isso fica claro já no primeiro capítulo, quando o Paco conhece Preta e ela
está dançando de maneira sensual e quando ela percebe que está sendo observada intensifica
mais ainda o seu jeito de dançar.
O fato de ter despertado uma série de posicionamentos a respeito de como trata as
relações raciais iremos realizar uma análise de algumas cenas da novela e também da música
de abertura, pois a crítica já se inicia no título, pois retrata a cor negra como o pecado. A
abertura inicial nos remete a pensar e a associar o corpo da mulher negra à sensualidade, e o
título afirma que o negro é a cor do pecado. A música de Luciana Mello é a usada na abertura
da novela e, de acordo com Faria e Fernandes (2007), descreve de forma estereotipara a
mulher negra:
Da cor do pecado
Esse corpo moreno cheiroso e
gostoso que você tem
É um corpo delgado da cor do pecado
Que faz tão bem
Esse beijo molhado, escandalizado que você deu
Tem sabor diferente que a boca da gente
Jamais esqueceu
E quando você me responde umas coisas com graça
A vergonha se esconde
Porque se revela a maldade da raça
Esse corpo de fato tem cheiro de mato
Saudade, tristeza, essa simples beleza
Esse corpo moreno, morena enlouquece
Eu não sei bem porque
Só sinto na vida o que vem de você
A canção ―Da cor do pecado‖ apresenta uma mulher capaz de desestabilizar,
de enlouquecer por sua sensualidade: a mulher do beijo molhado e
escandaloso. A música também nos fala de uma suposta ―maldade da raça‖,
entendendo essa maldade como a capacidade de seduzir e de perverter a
ordem. Outra associação comum ao negro, reiterada na letra, diz respeito ao
cheiro da pele negra, como algo distintivo e muitas vezes negativo. (FARIA
E FERNANDES, 2007, p.7)
Ainda de acordo com as autoras, a canção e as cenas sugerem a noção de
sensualidade da mulher negra e associa ao pecado carnal. O Fórum Permanente de Mulheres
Negras Cristãs do Rio de Janeiro não aceitou e repudiou argumentando que estaria reforçando
o estereótipo da negra sensual, erótica e vulgar. Como vimos no primeiro capítulo, de acordo
com Gomes (2002) a televisão utiliza imagens que é tomada como valores inquestionáveis
pela sociedade.
44
Os discursos racistas são vistos desde o primeiro capítulo da novela, com a forma
que a protagonista Preta é retratada, uma feirante, pobre, que fala de forma errada e que tem
um jeito sensual, porém traz em seu nome o orgulho da sua raça. No primeiro capítulo vimos
que o estereótipo é uma idéia sustentada pelo senso comum, que não pode ser contestada, que
a sociedade se submete a uma aceitação inconsciente do lugar-comum (BORDIEU, 1998).
Outro personagem negro da novela é Felipe (Rocco Pitanga) um negro bem
sucedido, que trabalha para Afonso e durante a novela protege Preta. Felipe representa uma
saída liberal do preconceito, porém ele também aceita ser subalterno tanto na empresa como
na vida de Preta, já que a personagem não consegue esquecer o seu amor por Paco. O
personagem também sofre com a questão do racismo, apesar de Afonso admirar o trabalho de
Felipe, não o promove na empresa pelo fato de ser negro e afirma isso na cena do dia
20/02/2004, quando está conversando com a governanta Germana (Aracy Balabanian), na
reapresentação da novela essa cena não foi ao ar.
Segundo Couceiro (1983), como vimos no segundo capítulo o negro é aproveitado
na teledramaturgia de forma condicionada e em situações já definidas e apesar do personagem
Felipe pertencer a uma classe social mais alta e ter boa índole, acaba sofrendo os mesmo
preconceitos por conta de sua cor. Sodré (1999), já destaca o racismo midiático, onde a mídia
atua como uma propagadora de modelos.
4.3.1 Capítulo exibido em 19/10/12
A protagonista Preta nas cenas desse capítulo é acusada de roubo em um
supermercado. Bárbara arma com um morador de rua e com Kaike (Cuca Andrada), seu
amante com quem tem um filho e que diz ser do Paco, para colocar uma carteira na bolsa de
Preta sem que ela perceba. Ao sair do supermercado é surpreendida com o alarme e sem poder
dar explicações é levada para a delegacia pelos seguranças.
O fato de Preta ser negra e por se vestir de forma humilde foi o motivo de não
poder dar explicações ao ser abordada no supermercado. Carlos Hasenbalg (2005) relata que o
preconceito e a discriminação racial são consequências do escravismo.
Outra cena também exibida neste dia é quando Preta descobre que Kaike trabalha
para Bárbara e é tratada pela vilã de forma preconceituosa sendo chamada de negra e ladra. E
ressalta o seu nome fazendo comparação a sua cor. Segundo Leslie Zebrowits (1996) as
pessoas costumam julgar pela primeira impressão, porém podem criar uma boa ou má
impressão, dependendo dos conhecimentos anteriores que cada um tem. E o que é visto
45
constantemente na sociedade é a discriminação do negro pela sociedade e sempre criam uma
má impressão por conta da cor.
4.3.2 Capítulo exibido em 24/10/12
Neste capítulo Afonso fala para Preta que precisa que seja feito um teste de DNA
para saber se Raí é realmente filho de Paco, porém Preta se sente constrangida com a
desconfiança e não quer aceitar, porém Afonso também fica desconfiado pelo fato dela não
querer fazer o teste. Afonso tenta se explicar e diz que não quis ofender, que é só para que o
menino tenha direito como neto. Na cena deste capítulo é notável a questão do preconceito
por parte do avô da criança, pois Bárbara não precisou provar que Otávio (Felipe Latgé) era
neto de Afonso e fica claro que é pelo fato de ser branco.
Segundo Sodré (1999), como vimos no segundo capítulo, há um manifestação do
racismo midiático que é a negação da existência do racismo, há a negação do preconceito.
Podemos notar que Afonso não quis assumir que estava fazendo o teste pelo fato de Raí ser
negro, negando a existência do preconceito pela cor do menino.
4.3.3 Capítulo 25 exibido em 26/10/2012
Bárbara depois de humilhar Preta derramando torta de morango em seu vestido,
insiste para que seu filho Otávio durma na casa do avô Afonso, explicando de forma grosseira
o porquê que o garoto deve dormir lá – Você quer que o seu avô goste mais do ―mulatinho‖
do que de você é isso? - diz ela mostrando sua posição racista quanto ao garoto.
No mesmo capítulo ocorrem mais cenas de descriminação, em uma delas está
Afonso, Raí e Otávio no café da manhã e ocorre o seguinte diálogo:
Afonso - Não está comendo porque Otávio?
Otávio - Estou enjoado.
Afonso - Exagerou na sobremesa ontem a noite não é?
Raí - Quando eu estou enjoado minha mãe me dá um chazinho de ervas e
passa logo.
Afonso - Pede pra Germana um remédio que ela te dá.
Otávio - Não é de comida que eu to enjoado, é que eu não gosto de comer na
mesa com gente preta.
(Descrição da cena exibida em 26/10/12)
46
Figura 1 – Cena do café da manhã entre os personagens Afonso, Raí e Otávio
Otávio mesmo sendo uma criança mostra a sua posição racista, julgando Raí
mesmo sem conhecê-lo somente por ser negro. Logo após essa cena ainda diz que Raí é um
menino de rua e que Preta, por ser negra, é uma mulher suja. Araújo (2000) diz que a
televisão por ser um meio assistido por milhões de pessoas deveria ter uma realidade
diferente, pois a influência da TV na vida da sociedade é vista como um agravante no
preconceito das pessoas.
4.3.4 Capítulo exibido em 31/10/12
Na cena exibida o garçom, que também é negro, destrata Preta e zomba dela
quando diz que é hóspede do hotel. Preta fica constrangida e pergunta se é por canta da cor
dela que ele não acredita, se o fato dela ser negra não permite que ela possa comer no
restaurante do hotel, ou mesmo se hospedar lá. Lívio Sansone (2003), como podemos ver no
segundo capítulo, fala que a identidade negra depende do contexto cultural e social , não é
uma representação genética, mas passa a ser interpretada pelo contexto social.
O que foi visto na cena exibida é a não aceitamento do garçom, que é negro, da
sua própria cor e não aceitando que alguém de cor negra possa usufruir de melhores
benefícios do que ele. A sociedade vive em preconceito constante, podemos retratar o fato de
representação social, visto no primeiro capítulo, que para Moscovici (1978) fazem com que o
mundo seja o que pensamos que ele é, que nós fazemos e vemos o mundo como queremos.
47
4.3.5 Capítulo exibido em 02/11/12
A cena em que mostra Tony (Guilherme Weber), um chantagista que quer vingar
a falência de seu pai destruindo a vida de Afonso, indo atrás de Dodô, um ex-namorado da
Preta, vemos como é retratado o negro cabelo trançado, bêbado, malandro que faz de tudo pra
se dar bem na vida, mesmo tendo que decepcionar e enganar Preta. Dodô é estereotipado na
novela e como diz Solange Coureiro (1983) os atores negros na maioria das vezes são
retratados de forma grotesca, numa posição subalterna, visto como um marginal na sociedade.
Figura 2 – Cena em que o personagem Dodô é convidado para chantagear Preta
Sodré (1980) reforça a idéia de que constantemente os negros têm suas
representações de subalternos e serviçais e reforça a idéia de inferioridade intelectual,
passando a não ter posições de poder dentro da sociedade, sendo submetidos a marginalidade,
reforçando também a ideologia do embranquecimento, colocando o branco como bem
sucedido, herói ou patrão, deixando nas mãos dos negros o trabalho ―sujo‖.
4.3.6 Capítulo exibido em 07/11/12
Neste capítulo observamos a conversa entre Tony e Bárbara, onde discutem o
plano armado contra Preta para forjar que Dodô é o pai biológico de Raí. Os vilões da novela
após trocarem o sangue de Raí pelo de Tony, no laboratório onde foi realizado o
procedimento, querem fazer com que Afonso acredite que o verdadeiro pai de Raí é Dodô. A
linguagem utilizada por Bárbara para descrever Raí é preconceituosa, ela o chama de
48
―Mulatinho‖. Ainda neste capítulo os pais de Bárbara, Eduardo (Ney Latorraca) e Verinha
(Maitê Proença) se referem a Raí com a mesma expressão e o ignoram pelo fato de ser negro
e ainda o chamam de menos favorecido.
Após o resultado do exame de DNA, Bárbara zomba de Raí e diz para não chamar
Otávio de irmão comparando a cor da pele dos dois. Depois o destrata e chama Preta de
mentirosa e marginal. Germana retorna a mansão e Bárbara repete para a governanta as
mesmas ofensas na frente de Raí.
O fato de ser influenciado pelos vilões da novela Dodô passa para o telespectador
uma imagem negativa do indivíduo que mora na favela, do negro. E como vimos no primeiro
capítulo à representação social de um indivíduo de determinada sociedade, se torna uma
forma de conhecimento social elaborado e compartilhado, o que contribui para a construção
da realidade comum a um conjunto social (JODELET, 2002).
4.4 Resultados da Análise
No
período
analisado
é
notório
que
a
quantidade
de
personagens
afrosdescendentes, se comparado aos brancos, é muito pequena. Somente 6 (seis) personagens
negros participaram desta período: Preta, Raí, Dodô, Felipe, Ítalo (motorista de Afonso) e um
garçom que trabalha para Afonso Lambertini. É válido ressaltar que o autor da novela não
está alheio as influências históricas e culturais do meio em que vive, como podemos ver na
trama representado muito bem, através das falas e diálogos dos personagens, comportamentos
de sentimentos racistas e branquitude. O autor junta as situações do mundo real e passa a
representá-las através da ficção.
Embora possamos ter notado que outros personagens tenham expressado
sentimentos racistas, como Afonso Lambertini, a forma mais agressiva do racismo é vista
através das ações da personagem Bárbara, a vilã da história. Percebemos que a prática racista
está relacionada ao mau caráter, aquilo que representa o mal, como se estivesse ligeiramente
ligado a pessoas de prática duvidosa. Já Afonso Lambertini mostra um racismo menos
agressivo, mostrando através de suas atitudes como tentando uma aproximação com Preta,
pois tem um grande carinho por Raí, porém podemos encontrar a representação do racismo,
pois, pelas diferenças biológicas e as características físicas, faz com que ele tenha um
julgamento ético e moral sobre todos os negros que estão a sua volta.
Preta em todas as situações é sempre vista como suspeita, apesar de sempre estar
sendo vítima das situações de Tony e Bárbara e os dois sempre saem ilesos das situações.
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Kabengele Munanga (2003) relata em seu artigo ―Uma abordagem conceitual das
noções de Raça, Racismo, Identidade e Etnia‖ características que regem a sociedade sobre o
racismo e que é explícito em algumas cenas da novela. O autor comenta sobre o surgimento
dessa teoria:
Insisto sobre o fato de que o racismo nasce quando faz intervir caracteres
biológicos e qualidades morais, psicológicas, intelectuais e culturais, que
desemboca na hierarquização das chamadas raças em superiores e inferiores.
Carl Von Linné, o Lineu, naturalista sueco, fez a primeira classificação da
diversidade humana em quatro raças.
- Americano: que o próprio classificador comenta como moreno, colérico,
cabeçudo, amante da liberdade, governado pelo hábito, tem corpo pintado.
- Asiático: amarelo, melancólico, governado pela opinião e pelos
preconceitos, usa roupas largas.
- Africano: negro, flegmático, astucioso, preguiçoso, negligente, governado
pela vontade de seus chefes (despotismo), unta o corpo com óleo ou gordura,
sua mulher tem vulva pendente e quando amamenta seus seios se tornam
moles e alongados.
- Europeu: branco, sanguíneo, musculoso, engenhoso, inventivo, governado
pelas leis, usa roupas apertadas características físicas, ele faz o julgamento
de valores éticos e morais dos negros que estão a sua volta. (MUNANGA,
2003 p.8)
Esta classificação nos remete a uma hierarquia entre as denominadas raças
humanas e vemos na trama de João Emanuel Carneiro que esta ideia é representada nos
personagens de Bárbara e Afonso.
Nas cenas analisadas Bárbara ocupa um lugar privilegiado e Afonso nem
desconfia do que ela faz. Já Preta é sempre apontada como culpada. Por ser branca Bárbara é
colocada numa situação superior. Mesmo a vilã passando por situações de necessidade no
início da trama fez com que Afonso desconfiasse de sua índole. O empresário não tem
dúvidas de que Otávio é seu neto, já Raí, seu verdadeiro neto, ele tem dúvidas. O racismo
visto na postura dos personagens é uma questão vista também na realidade.
A realidade é bem parecida com o que vemos na ficção, em relação a crimes, na
maioria das vezes, o branco é inocente até que se prove o contrário, já o negro é culpado até
que se prove o contrário. Afonso nas cenas da novela faz uma relação direta de Preta com os
estereótipos negativos, justificando o comportamento dela fazendo ponderações como ―o que
se pode esperar de uma pessoa como ela? Eles são assim mesmo‖. E quando Afonso coloca
Tony em um cargo que era pra ter sido ocupado por Felipe, mostra mais uma vez o modo
racista com que o empresário age, pois o rapaz é negro e Tony é branco.
Analisando a telenovela percebemos que Bárbara e Afonso representam bem o
racismo e a branquitude. Ambos utilizam a hierarquização racial para justificar seus
50
comportamentos em relação à Preta. A uma distinta relação entre ficção e realidade e nos faz
pensar na seguinte pergunta ―o que significa ser negro no Brasil e o que o branco representa
na sociedade?‖.
Apesar de ter em seu elenco uma protagonista negra Joel Zito Araújo ainda
comenta negativamente sobre a intenção do autor:
A trama "Da Cor do Pecado" é um marco pela escalação da primeira
protagonista negra em novelas da TV Globo. Peca, no entanto, por ter
poucos negros no elenco e pelo fato de, na maior parte do tempo, inserir a
personagem Preta (Taís Araújo) em um núcleo majoritariamente branco.
(FOLHA DE SÃO PAULO, 2004).
51
5. CONSI DERAÇÕES FINAIS
A partir da análise das cenas da novela Da Cor do Pecado, podemos afirmar que a
personagem de Taís Araújo apesar de ser a protagonista, sofreu com o fato de ser negra. Isso
só reforçou os estereótipos atribuídos à imagem da mulher negra. Não foi protagonizada como
uma doméstica ou uma escrava, mas não teve o espaço merecido. Apesar de tentar mostrar
que uma negra pode protagonizar uma novela, Preta sofre com as humilhações dos
personagens brancos da trama. Porém um fato que chama a atenção no papel da personagem é
a dignidade que ela tem.
Vimos também o drama sofrido pelo personagem Felipe, que sofre com as
humilhações na empresa por ser negro e por não sendo promovido. O que fica perceptível é o
fato de só vermos ações ruins por parte dos personagens brancos e apesar de Dodô agir de
forma errada ainda é por influência de Bárbara e Tony.
O drama vivido por Preta, por não conseguir provar que Raí é filho de Paco, e por
sofrer com as humilhações, sendo xingada de suja, ladra e vigarista. Apesar de tudo isso,
mostrou que tem dignidade, que não precisa do dinheiro da família do pai de seu filho para ser
feliz.
No elenco de uma telenovela, vemos que ao ator negro sempre será destinado um
personagem para o qual esteja prevista a característica étnica. Ou seja, se um personagem tem
que ser indiscriminadamente representado ou por negro ou por branco, será por um branco. O
ator negro, quase sempre, terá personagens secundários, interpretando papéis sociais
subalternos dentro da estrutura social brasileira.
A discriminação sofrida por um ator negro é sempre nivelada e vai depender da
intensidade do seu grau de mestiçagem. Quanto mais traços brancos tiverem, mais facilmente
serão aceitos pela sociedade. Ou seja, traços negros significam necessariamente a associação
do artista a personagens secundários e estereotipados na trama.
Todos eles, portanto, são obrigados a incorporar na televisão a humilhação
social que sofrem os mestiços em uma sociedade norteada pela ideologia do
branqueamento, em que a acentuação de traços negros ou indígenas significa
a possibilidade de viver um terno sentimento racial de inferioridade, e uma
consciência difusa e contraditória de ser uma casta inferior que deve aceitar
os lugares subalternos intermediários do mundo social. (ARAÚJO, 2006,
p.77)
Vimos no primeiro capítulo que a representação social do negro é revelada através
das experiências culturais, o negro é um ser histórico, político e social quando analisamos a
52
sua relação com o mundo, mas com isso é válido ressaltar que a imagem foi construída de
uma forma estereotipada e desigual. Vimos também um pouco de como foi a história do negro
no Brasil e como tiveram o seu avanço na sociedade. Apesar de fazer parte da metade da
população brasileira e também do avanço que teve, o negro continua sofrendo com a questão
da discriminação racial. Relatamos também sobre o conceito de identidade, como o negro se
vê, pois a questão da identidade depende da relação que cada um tem com o seu passado, pois
identidade tem uma relação com a autoafirmação.
No segundo capítulo podemos conhecer um pouco da história da televisão no
Brasil, as primeiras telenovelas transmitidas e as primeiras participações dos negros. Como
vimos, a televisão tem o poder de influenciar e manipular as pessoas pelo que se é
transmitido, o que acaba afetando na realidade do telespectador. Sobre as primeiras
participações dos negros na telenovela vimos que não foi bem aceito a questão de um
afrodescendente fazer um personagem principal, colocando um ator branco para protagonizar
a novela. A representação do negro nas telenovelas, em alguns momentos, reforça os
preconceitos difundidos no sendo comum, pois na maioria das vezes atuam como motoristas,
empregadas, escravos, reforçando cada vez mais essas características atribuídas aos negros.
De acordo com o que foi apresentado é fácil afirmar que a presença dos
personagens negros na teledramaturgia vem se fortalecendo e se intensificando se formos
comparar com as épocas anteriores, e o telespectador já passa a ver com bons olhos os
relacionamentos inter-raciais, o fato de o negro ser bem sucedido. Muitos ficaram orgulhosos
com o fato de se ter uma protagonista negra em uma novela de horário nobre, mas o fato de
ser sempre discriminada e humilhada não foi visto com bons olhos. Os autores devem se
conscientizar de que se deve haver uma mudança na imagem estereotipada do negro, que
ainda está prevalecendo na mídia televisiva. O que se deve ser levado em consideração é que
na sociedade existem muitos negros bem sucedidos, que convivem normalmente na
sociedade, que a realidade de racismo não é vivida por todos.
Os personagens da novela analisada sofreram com a discriminação racial, com o
fato de serem de famílias humildes e de quererem provar sua honestidade e inocência. A
representação das situações de racismo na telenovela não torna possível a construção de um
espaço de democracia racial. É necessário que façamos uma reflexão sobre como formulamos
as imagens que temos uns dos outros e também de nós mesmos, para que possamos lidar com
as situações do nosso cotidiano, não só observando o lado de quando somos discriminados,
mas também quando passamos a ser os discriminadores da situação.
53
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