O MEDIADOR UMA ESTRATÉGIA QUE PODE SER ADOTADA NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS DE PODER Conforme A.B.de Hollanda, no Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, mediar (do latim, mediare)significa dividir ao meio, repartir em duas partes, intervir como árbitro, ficar no meio de dois pontos. A sociedade contemporânea tem valorizado esta ação, através da criação de instituições formais legitimadas com o intuito de aproximar partes com interesses divergentes. Após a Segunda Grande Guerra Mundial, por exemplo, as nações reuniram-se com a intenção de gerar um organismo que atendesse a estes propósitos e criou-se a ONU. A necessidade de se identificar e qualificar indivíduos que apresentem habilidades de mediar são mais prementes hoje, face à natureza, características e complexidade de nosso sistema de vida. Entretanto, dentre as habilidades desenvolvidas pelo ser humano, a de mediar é uma das menos estimuladas na medida em que na infância é delegada à família, na escola aos professores, na sociedade aos órgãos representativos e ao Estado, e nas organizações ao poder formal constituído. Claude Steiner afirma que um compromisso ou solução criativa pode incluir a dissolução, entendimento ou até separação de um relacionamento. Para ele, não se pode mediar um conflito quando uma das partes recusa-se a abdicar de sua legítima porção de poder e recursos. Waldemar, por sua vez, enxerga o problema por um outro prisma, em sua opinião a organização por suas características não é ideal. Recursos desiguais ou escassos, estrutura hierárquica, poder formal e informal, valores, e a própria estrutura negocial e o componente lucro delimitam estas características "ideais" e requerem tratamento de conflitos e quase sempre a presença de um mediador. Para a clara compreensão desta realidade é básico diferenciar "solução" de "controle" de conflitos, entendendo conflito como toda situação onde há a presença de divergências (de direitos, valores, posições, expectativas, sensações, opiniões, experiências, crenças, modelos, etc.). Solução pressupõe transformar divergências em convergências. Controle significa implementar ações de forma a conviver com as diferenças, pois por algum motivo, há impossibilidade de convergências. Existem conflitos que por suas natureza não são convergentes mesmo a longo prazo. Exemplos: Comunismo x Capitalismo, Islamismo x Cristianismo, etc. A maioria dos conflitos organizacionais, de origem interna ou externa à própria Organização, carece de ações de controle e não de solução. "Muitas vezes, a solução vem a longo prazo, demandando profundas transformações estruturais (valores, ideologias, políticas). A ação estratégica de controle pressupõe pinçar alternativas para a convivência (mesmas metas, objetivos, espaço) conservando no entanto, posições, preferências, opiniões divergentes, de forma que os efeitos dessas diferenças sejam neutralizados com um mínimo de desgaste para as partes. Dentro deste espaço, o papel do mediador é altamente importante, para que haja uma melhor convivência, na medida em que deve encaminhar as partes à posição de Ganhar/Ganhar. Ambos perderem menos pode também ser caracterizado nesta posição. É cruel conviver com impasses organizacionais, pois são geradores de fenômenos negativos do tipo omissão, insatisfação, apatia, desmotivação, rebeldia, boicote, competição exacerbada, manipulações, uso inadequado do poder e tantos mais. I. História do Indivíduo / Grupo / Organização Na opinião de Waldemar, considerar a história das partes conflitantes, experiências, cultura, valores, modelos, informação, vivência, ótica de mundo, etc., é de extrema relevância, na medida em que esses fatores irão influenciar o processo de mediação. Estes dados podem ser observados e coletados antes ou durante a negociação, apresentando vantagens ou desvantagens ao mediador. Quando identificados durante o processo haverá um menor risco de envolvimento e contaminação, possibilitando maior neutralidade e imparcialidade. II - A Realidade Muitas vezes a realidade não permite tratar idealmente da situação em função do nível de maturidade dos envolvidos. O conceito de maturidade utilizado é o de Paul Hersey , que é motivação de realização, disposição e capacidade para aceitar responsabilidade, bem como educação significativa para a tarefa e experiência de um indivíduo ou de um grupo. III - Modelo Teórico Mediar pressupõe a presença de razoável conhecimento e informações científicas, com base em algum modelo (Psicanálise, Gestalt, Psicodrama, Análise Transacional, dentre outros) que forneça suporte e apoio. A Análise Transacional contribui de forma significativa ao processo de confrontação a ao papel do mediador na medida em que clarea, facilita o diagnóstico e instrumentaliza, através da atuação efetiva e adequada dos Estados do Ego, Transações e da compreensão dos Jogos Psicológicos. IV – AS HABILIDADES Waldemar constata que, "A necessidade da presença do mediador surge quando as partes envolvidas numa dada situação de conflito, sentem-se por alguma razão, sem condições para a confrontação". Segundo ele, estas condições podem apresentar-se por vários motivos: as partes têm intenções mas não apresentam habilidades; as partes têm habilidades mas recusam-se a encontrar-se; as partes não têm habilidades e recusam-se a encontrar-se. O mediador pode atuar antes ou durante a confrontação. Merece intervenção prévia quando: as partes estão muito envolvidas; não há intenção de confrontação; os ânimos estão muito acirrados; presença de rigidez e inflexibilidade. As ações relevantes nesta fase, cabíveis ao mediador são: falar com as partes separadamente; identificar e estimular intenções de aproximação; atenuar posições extremadas; identificar causas, motivos das resistências; usar da capacidade de persuasão para promover o diálogo; evitar repassar informações entre as partes; evitar interpretações; Merece intervenção durante o processo para: instalar diálogo; levar as partes à confrontação; auxiliar no diagnóstico; estimular a busca de alternativas; encaminhar as partes a um compromisso (contrato). A presença do Estado de Ego Adulto é de extrema importância ao processo de mediar por apresentar características indispensáveis tais como: analisar os fatos e a realidade; buscar e propor alternativas; lidar com responsabilidade; identificar mensagens ocultas que levam à manipulação; confrontar e buscar compromisso. Dentro desta perspectiva Waldemar acha que convidar as pessoas envolvidas a atuarem a maior parte do tempo com os seus Estados de Ego Adulto é atribuição do Mediador, e não é tarefa das mais fáceis. O Estado de Ego de Pai é relevante na medida em que as partes apresentam-se na maioria das vezes envolvidas emocionalmente na situação. Esse envolvimento emocional necessita ser neutralizado e abrandado por proteção, compreensão, conforto afetuosidade. Sua potência utilizada dessa maneira, irá diminuir, acalmar ou diluir a energia emocional do Estado de Ego Criança, freqüentemente responsável pelo impasse, revide, omissão, boicote e descompromisso na negociação. Algumas habilidades a serem destacadas para uma mediação eficaz são: neutralidade; imparcialidade; saber ouvir; evitar interpretar; clarear conceitos; não Salvar; neutralizar Jogos de Poder; evitar Batalhas Ganhar/Perder; encaminhar as partes a Ganhar/Ganhar. A Responsabilidade Refocar a responsabilidade do mediador e das partes envolvidas em situações de conflitos, via confrontação, é um foco que merece atenção. É comum atribuir-se os méritos ou desméritos da negociação ao mediador. A responsabilidade na negociação está fundamentada no mesmo principio que norteia e define a delegação. O mediador é facilitador do processo e o seu produto final é a obtenção do compromisso entre as partes, e isto é indelegável. Conclusões finais Penso que mesmo quando uma das partes se negue a dividir ou compartilhar o poder, é de extrema valia abrir o diálogo, promover a confrontação e estimular o exercício da mediação. Estes são caminhos da maturação e do desenvolvimento individual, organizacional e social na busca, muitas vezes dolorida, do resgate da consciência, responsabilidade e autonomia, ideais do tripé do modelo de Eric Berne. Publicado em: Tendências do Trabalho Novembro – 1988 Waldemar Helena Júnior