Segunda-feira 5 de janeiro de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia 5 Editor: Luiz Guimarães [email protected] CONTAS PÚBLICAS Governo abrirá 29 mil cargos públicos em 2015 Apesar da sinalização da nova equipe do governo federal de que, em 2015, deverão ser realizados cortes de gastos, este ano pode ser promissor para quem deseja conseguir um trabalho no setor público. A expectativa é que haja mais vagas em 2015, porque em 2014 foram realizados concursos com índice menor de postos oferecidos - o maior teve cerca de 700, em um total de 20 mil criados. A LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2015 prevê a criação de 28.957 cargos, fora as vagas de reposição, em caso de aposentadoria ou demissão do servidor. Desse total, 13.974 são para o Poder Executivo, Banco Central, Receita Federal, Ministério da Fazenda e INSS. Outras cerca de 15 mil vagas são para a área de Justiça, como tribunais (9.177), Defensoria Pública (3.897) e Ministério Público da União (1.879). Entretanto, a concorrência também deve aumentar, em razão do quadro de estagnação econômica. “Quando a economia dá sinais de problemas, é normal que as pessoas se voltem para a carreira pública. Então, 2015 será um ano com muitos concursos, mas também com muitos concorrentes”, diz Marco Antônio Araújo Jr., vice-presidente do Damásio Educacional e presidente da Anpac (Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos). Para ele, a expectativa de cortes de gastos do governo federal não deve influenciar o quadro. “É um discurso padrão porque vagas públicas são sempre motivo de discórdia com a população, mas é algo que efetivamente é difícil de ser cortado. No máximo, o número de vagas previstas pode diminuir”, opina. Entre as provas mais aguardadas estão as da Receita Federal, que deverá oferecer 2.000 vagas de nível superior com salários entre R$ 9.172,00 e R$ 15.339,00. No ano passado, o órgão abriu concurso para vagas de nível médio com apenas 278 vagas. O INSS também terá número de oportunidades recorde: serão quase 5 mil com opções para nível médio e superior com remuneração inicial de R$ 4.401,00 a R$ 10.057,00. Essa previsão de vagas pode sofrer alterações, mas a expectativa é que cada um desses concursos tenha 1,5 milhão de inscritos. “É comum que os candidatos optem por cargos com menor concorrência e salário um pouco mais baixo, para poderem já conseguir uma vaga no setor público e terem mais tempo de estudar para as vagas mais concorridas”, diz Evandro Guedes, presidente-executivo do site de aulas on-line Alfacon. Dentro dessa meta, quem quer concorrer a um cargo de nível médio pode buscar as provas do IBGE, que terá mil para técnico em informações geográficas e estatísti- LUCAS LACAZ RUIZ/AE/JC Concorrência entre os candidatos de concursos deverá aumentar em razão do cenário de estagnação econômica Expectativa é de que haja 1,5 milhão de inscritos para vagas na Receita Federal e no INSS cas, com remuneração de R$ 3.000,00, ou optar pela vaga que exige Ensino Superior, de analista e tecnologista, com salário de R$ 7.000,00. Foi apostando em cargos mais baixos que a técnica judiciária Jackeline Campos conseguiu abrir a primeira porta na carreira pública. Ela trabalhou como técnica e analista no Tribunal de Justiça de Pernam- Um dia depois de anunciar que o governo proporia uma nova regra de reajuste do salário-mínimo, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, recuou. Ele foi desautorizado pela presidente Dilma Rousseff. Após um telefonema na manhã de sexta-feira, dia 2, ele divulgou no sábado, dia 3, uma nota esclarecendo que o critério de correção seguirá o que está em vigor. É um giro de 180 graus em relação ao que havia afirmado. “O cálculo do salário-mínimo, nós vamos enviar ao Congresso em momento oportuno. A regra atual ainda vale para 2015. Vamos propor uma nova regra para 2016-2019 ao Congresso nos próximos meses”, disse. O ministro ainda garantiu que, qualquer que fosse o novo critério, o piso seguiria tendo aumentos acima da inflação. Hoje, o mínimo é corrigido conforme a variação da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior, acrescida do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos atrás. Essa política de valorização do salário-mínimo vigorou até 2015, e foi com base nela que o piso deste ano foi fixado em R$ 788,00. Especialistas em contas pú- EVARISTO SA/AFP/JC Desautorizado, ministro recua de mudança no mínimo Regra atual continuará valendo em 2015, disse Nelson Barbosa blicas, porém, defendem que essa regra seja alterada para que as despesas obrigatórias do governo tenham um crescimento mais próximo do das receitas. O próprio Barbosa, que até o final do ano passado estava na Fundação Getulio Vargas, defendia uma regra diferente, que associaria o mínimo aos ganhos de produtividade da economia brasileira. Assim, uma mudança no critério de correção seria um ingrediente importante do ajuste fiscal que Barbosa e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, preparam para implantar este ano. Há, no entanto, compromissos políticos a observar. No dia 8 de dezembro, Dilma já havia garantido, durante reunião com dirigentes de centrais sindicais, que neste ano enviaria ao Congresso projeto de lei renovando a atual política de reajuste do salário-mínimo da forma como está. “Essa será uma briga de foice no escuro”, previu Dilma no encontro com os sindicalistas, ao avisar que enviará o novo projeto ao Congresso, no primeiro trimestre. A presidente prevê resistências à proposta. Os ganhos reais do salário-mínimo foram, inclusive, ressaltados por Dilma em seu discurso de posse. “No novo mandato vamos criar, por meio de ação firme e sóbria na economia, um ambiente ainda mais favorável aos negócios, à atividade produtiva, ao investimento, à inovação, à competitividade e ao crescimento sustentável”, disse Dilma. “Tudo isso voltado para o que é mais importante e mais prioritário: a manutenção do emprego e a valorização, muito especialmente a valorização do salário-mínimo, que continuaremos assegurando.” buco e é servidora pública da Justiça Federal de São Paulo há três anos. No entanto, ela segue estudando para tentar uma vaga de magistratura. “Estudar tem um custo alto: são inscrições caras, livros, cursos, viagens para fazer prova, então precisava de recursos para me manter. Hoje, parte de minha remuneração é para custear meu sonho”, diz. Dilma sanciona com vetos Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015 A presidente Dilma Rousseff sancionou, com vetos, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2015, considerada essencial para o Palácio do Planalto para evitar um “apagão financeiro” neste início de ano. O texto permite ao governo usar os chamados duodécimos para execução provisória de despesas até que o Orçamento de 2015 seja aprovado pelo Congresso Nacional, o que deve ocorrer só em fevereiro ou março. Além de orientar a elaboração do Orçamento, a lei traz os parâmetros e metas que a equipe econômica terá de cumprir, como a meta do superávit primário. O texto sancionado estabelece que a meta a ser perseguida pelo governo central será de R$ 55,3 bilhões, o que representa 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Incluindo o resultado de estados e municípios, a meta do setor público consolidado passa a ser de R$ 66,3 bilhões, ou seja, 1,2% do PIB. Segundo a lei, as empresas dos grupos Petrobras e Eletrobras não serão consideradas na meta de superávit primário, relativa ao Programa de Dispêndios Globais. Entre os vetos, a presidente rejeitou o conteúdo de emenda incluída pelo senador tucano Aécio Neves durante a tramitação da matéria. Esse trecho (Inciso VII do § 4º do art. 52) determinava que o Poder Executivo informasse na internet e encaminhasse ao Congresso e a outros órgãos relatório com os valores devidos pelo Tesouro aos bancos públicos e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Na justificativa, Aécio alegou que parte dos subsídios do Minha Casa Minha Vida foi custeada pelo FGTS, o que, na prática, fez com que o resultado primário do governo fosse “temporariamente aumentado”. Para vetar a determinação, Dilma argumentou: “Os dispositivos criaram conceitos para fatos contábeis inexistentes, prevendo um tratamento inadequado à matéria, além de se estar em desacordo com o disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal, na Lei Orçamentária Anual e no Decreto de Programação Orçamentária e Financeira”. A íntegra da LDO para 2015 e as razões dos vetos ao texto estão publicadas em edição extra do Diário Oficial da União.