CARCINOMA DE OVÁRIO EM CRIANÇA: RELATO DE CASO Gabriel Pereira Bernardo1, RESUMO Lorena Pereira Bernardo1, Ruth Figueiredo de Araujo1, Tumores de células germinativas pediátricos (TCG) são os tumores raros Romulo Figueiredo de mais importantes na infância e adolescência e são frequentemente Araujo1, Elisian Macedo assintomáticos até se tornarem uma massa anexial, comprimindo as Fechine1, João Saraiva da estruturas vizinhas, associado a aumento da alfa-fetoproteína e dor Cruz Neto2, Hermes Melo abdominal ou pélvica. No presente estudo, relata-se o caso de uma Teixeira Batista1. paciente com febre e presença de tumoração abdominal que foi submetida à cirurgia para retirada de extenso tumor ovariano. A importância da Estácio FMJ, Juazeiro do escolha correta para o tratamento da neoplasia de células germinativas, 1 assim como o tamanho da peça cirúrgica retirada da paciente, motivara o Norte, Ce, Brazil. estudo e relato do caso. 2 HMSVP, Barbalha, Ce , Brazil. Palavras-chave: Cirurgia Pediátrica. Neoplasia. Ovário. Autor correspondente Hermes Melo Teixeira Batista [email protected] INTRODUÇÃO epiteliais representam 90% de todos os cancros ovarianos. Em crianças, no entanto, o câncer de ovário mais frequente não é epitelial, na maioria das vezes, seus cânceres ovarianos surgem de células germinativas2. Tumores de células germinativas malignas (TCGs) são um grupo raro e heterogêneo de tumores que representam 3% dos cânceres pediátricos. Geralmente, os TCGs predominam em crianças do sexo feminino e idade menor que 15 anos. A distribuição etária Dos TCGs é bimodal, em que o Tumores do trato genitofemoral em crianças e adolescentes são incomuns. Dentre estes tumores, o câncer de ovário é o mais frequente, sendo encontrado em até 1% de todos os cânceres infantis1,2. As neoplasias ovarianas exibem ampla variedade de características histológicas. São divididos em três principais grupos: tumores epiteliais, tumores germinativos e tumores do estroma3. Em adultos, os carcinomas ovarianos 1 primeiro pico é visto antes da idade de 1 ano e o segundo pico inicia na adolescência. As taxas de incidência dos TCGs aumentaram em crianças na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, sendo desconhecida a razão dessa elevação. Considera-se que os TCGs são originados das células germinativas primordiais do desenvolvimento embrionário, que migraram durante a embriogênese ao longo linha mediana do corpo para as cristas gonadais4. (TMCGOs) representam 5% de todas as malignidades ovarianas nos países ocidentais. Eles ocorrem principalmente durante a adolescência e início da idade adulta, sendo as decisões sobre o tratamento utilizado um desafio para o oncologista ginecológico. Estes tumores apresentam, geralmente, sintomas de dor abdominal e uma massa abdominal pélvica palpável. Em cerca de 10% das mulheres, a massa pode crescer rapidamente e apresentar dor abdominal aguda relacionada à distensão capsular, necrose, hemorragia, ruptura ou torção do tumor ovariano. O estudo inicial deve incluir marcadores tumorais séricos, ecografia pélvica e tomografia computadorizada do abdômen e da pelve caso se suspeite de metástases extra-ovarianas. A radiografia do tórax é importante porque TMCGOs podem metastatizar para os pulmões ou mediastino. Tumores de células germinativas mistos podem produzir qualquer um dos marcadores tumorais, ou nenhum, dependendo do tipo e quantidade de elementos presentes. Os marcadores tumorais como alfa-fetoproteína (AFP), lactato desidrogenase (LDH) e beta-hormônio gonadotrófico coriônico (bhCG) elevados podem servir como um adjuvante no diagnóstico inicial, monitorização durante a terapia e pós-tratamento vigilância. Um cariótipo deve ser solicitado no pré-operatório em todas as meninas premenárquicas devido à propensão desses tumores a surgirem em gônadas disgenéticas5. De acordo com um estudo de Mangili et al., que apresentou resultados da maior base de dados sobre patologias de células germinativas do ovário, há dois importantes fatores contribuintes para o prognóstico do TCG: primeiro, a maioria (71%) é detectada no estádio I; e segundo, respondem bem a cirurgia e quimioterapia, levando a uma sobrevida de 5 anos de 95,6% e 73,2% em estádio I e estágios avançados, respectivamente. Devido a este excelente prognóstico de tumores de células germinativas (TCGs), o resultado geral do câncer de ovário em crianças é excelente comparado com o dos adultos2. A abordagem cirúrgica moderna para TMCGOs foi derivada de dados que emergiram de vários grandes estudos e do Instituto de Patologia das Forças Armadas na década de 1970, ressaltando que a maioria dos TMCGOs são unilaterais. Durante a cirurgia, a biópsia de rotina do ovário contralateral deve ser evitada devido o risco de levar à infertilidade futura relacionada à aderências peritoneais ou insuficiência ovariana. Evitar indicações de cirurgias desnecessárias e técnica refinada são, portanto, de suma importância. Gobel et al. e Baranzelli et al., demonstram que somente uma boa estratégia de cirurgia associada a uma estreita vigilância clínica, radiológica e sorológica, para o estágio I TMCGO, RELATO DO CASO Paciente M.L.M.C, 11 anos, sexo feminino, procurou assistência médica em setembro de 2016, devido quadro de febre e tumoração em região abdominal que aumentou subitamente em uma semana, associado a irritação constante, perda ponderal e vertigem. Ao exame físico apresentava estado geral decaído, pálida e com aumento do abdome em topografia de útero com presença de tumoração. Foram solicitados exames complementares que evidenciaram: hemograma com hemoglobina de 9,8 g/dL e leucócitos de 14.700/mm³, exames de imagem que apresentaram tomografia de abdome com volumosa massa heterogênea, sólida, cística ocupando cavidade pélvica em andar superior do abdome, comprimindo ureter distal direito, com consequente e moderada hidronefrose à direita, associada a ascite, permeando a região central por área heterogênea com componente gorduroso e ósseo. Possuía B-hCG negativo e alfa-fetoproteína de 43.390 ng/mL. A hipótese diagnóstica após os exames complementares foi de tumor de ovário. Solicitou-se o parecer do cirurgião pediátrico que indicou tratamento cirúrgico com salpingoooforectomia direita e omentectomia. Após a cirurgia, foi enviada a peça cirúrgica (figura 1) para laudo histopatológico que revelou neoplasia germinativa maligna mista de ovário compatível com tumor do seio endodérmico, medindo 20,9 cm em seu maior eixo. Invasão vascular, perineural e linfática não detectada. Necrose presente em extensas áreas. Cápsula ovariana integra. Margens cirúrgicas livres da neoplasia. Ovário esquerdo com parênquima preservado. A paciente após o procedimento cirúrgico foi encaminhada para o início do tratamento quimioterápico. DISCUSSÃO Nas duas primeiras décadas de vida, em média 70% dos tumores ovarianos são de origem germinal e um terço destes são malignos. Tumores malignos de células germinativas ovarianas 2 está emergindo como uma opção segura. O estadiamento cirúrgico inclui a avaliação da citologia do líquido peritoneal, a biópsia de quaisquer áreas suspeitas nas superfícies peritoneais, a amostragem dos linfonodos retroperitoneais, incluindo os gânglios linfáticos pélvicos e para-aórticos altos, e uma omentectomia infra-colica5. Os tumores de células germinativas apresentam diferentes graus de malignidade e são os mais frequentes antes da puberdade. O prognóstico está diretamente relacionado ao seu diagnóstico e terapia precoces. A laparotomia é utilizada como tratamento, sendo a anexectomia necessária em caso de malignidade, apesar de as gônadas serem de fundamental importância na idade infanto-juvenil para a maturação sexual. REFERÊNCIAS 1- D. Von Allmen (2005) Malignant lesions of the ovary in childhood. Semin. Pediatr.Surg. 14: 100– 105. 2- Baert T, Storme N, Van Nieuwenhuysen E, Uyttebroeck A, Van Damme N, et. al. (2016) Ovarian cancer in children and adolescents: A rare disease that needs more attention. Maturitas 88: 3-8. 3- Bezerra ALR, Gomes GES, Macedo NOD (2015) Câncer de ovário. In: Marques CLTQ, Barreto CL, Morais VLL, Lima Júnior NF, Oncologia: Uma abordagem multidisciplinar. Carpe Diem, Recife, Brazil, 230-45. 4- Kaatsch P, Häfner C, Calaminus G, Blettner M, Tulla M (2015) Pediatric Germ Cell Tumors From 1987 to 2011: Incidence Rates, Time Trends, and Survival. Pediatrics 135 (1): e136-42. 5- Low JJH, Ilancheran A, Ng JS (2012) Malignant ovarian germ-cell tumours. Best Practice & Research Clinical Obstetrics and Gynaecology 26: 347-55. 3 ABSTRACT Pediatric germ cell tumors (GCTs) are the most important rare tumors in childhood and adolescence and are often asymptomatic until they become an adnexal mass, compressing neighboring structures, associated with increased alpha-fetoprotein and abdominal or pelvic pain. In the present study, we report the case of a patient with fever and presence of abdominal tumor that was submitted to surgery for removal of extensive ovarian tumor. The importance of the correct choice for the treatment of germinal cell neoplasia, as well as the size of the surgical piece removed from the patient, motivated the study and report of the case. Keywords: Pediatric Surgery. Neoplasia. Ovary. 4 Figura 1. Peça cirúrgica retirada da paciente. 5