OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NA ERA DAS MÍDIAS DIGITAIS SCHMID, Monica Bossa dos Santos1 - UEL MURARO, Darcísio Natal2 - UEL Grupo de Trabalho: Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Muitas são as análises que podem ser feitas referente às relações entre a educação e as mídias digitais, entretanto, o diferencial da nossa análise foi utilizar como base a teoria deweyana, aproveitando conceitos atuais para compreender o problema educação e comunicação. Estamos vivendo na Sociedade da Informação, do capitalismo informacional e as tecnologias avançam rapidamente e a geração dos Nativos Digitais está cada vez mais inserida nas novas formas de aprender, comunicar-se e utilizar as mais diversificadas formas de linguagem, apropriando-se rapidamente dessa modalidade língua digital. Portanto, é de fundamental importância que os educadores saibam interpretar o significado da tecnologia para o seu trabalho, e tomar uma posição crítica diante deste fenômeno. Para que depois ele possa ser o mediador contribuindo de maneira significativa para o aluno se torne mais reflexivo, desenvolvendo de modo mais preciso sua habilidade de reflexão, para que assim, ele também saiba se posicionar criticamente referente ao uso das mídias digitais. Para saber refletir, atuar, recriar e transformar a sociedade e/ou o ambiente em que vive. Afinal, o pensar é a essência da aprendizagem. É preciso que a escola esteja conectada com o desenvolvimento e avanço dos recursos tecnológicos da sociedade. É preciso ir além, desvendar como essas tecnologias que podem ser inseridas nas Instituições de Ensino, apropriar-se dessa segunda língua: Digital. Aprender a Aprender e criar ambientes de aprendizagem que sejam significativos, inovadores, envolvedores de uma pedagogia conectada as evoluções digitais e ao mesmo tempo fundamentada numa base sólida de ensino como Dewey nos demonstra. Palavras-chave: Mídias Digitais, Comunicação, Linguagem. Introdução Este artigo se propõe analisar as relações entre a educação e a tecnologia digital tomando como base a teoria deweyana, especialmente no que se refere à própria educação e 1 Pedagoga, Especialista em Comunicação e Educação: Pela Faculdade Cidade Verde - Maringá. Professora Regente da Prefeitura Municipal de Londrina). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Filosofia da Educação pela USP, Prof. do Departamento de Educação da UEL. E-mail: [email protected] 4950 comunicação. Associar o termo educação aos processos de lidar com a transmissão e produção de conhecimento não causa tanto espanto em nós quanto o fato de nos depararmos com o surgimento, num ritmo acelerado, de potentes meios tecnológicos para esse fim. Uma das exigências colocadas para todos os educadores é a de interpretar o significado da tecnologia para o seu trabalho, tomar uma posição crítica diante deste fenômeno. Uma situação definitiva para a educação hoje não é apenas a necessidade de usar tecnologias para educar, mas, também de uma educação na e para o uso da tecnologia. O educador tem que ser educado para usar a tecnologia. As novas gerações já crescem adaptadas a um universo de tecnologias que as insere no mundo da cultura tecnológica que transcende infinitamente os limites de sua comunidade imediata como a família, o bairro, da escola e o próprio país. Este contexto complexo causado pelo advento da tecnologia digital que marca a cultura atual nos leva a indagar sobre questões de permanência e de mudança dos processos educacionais. A escola continuará sendo uma instituição necessária para a educação das novas gerações? O desenvolvimento da tecnologia não está alterando radicalmente a vida atual, as formas de pensar e de se comunicar? Estaríamos assistindo uma silenciosa revolução da escola cuja tendência seria seu desaparecimento ou sua adaptação à tecnologia digital? Qual é a tendência da tecnologia digital? Qual a mudança que vem se forjando na atividade docente? Estaríamos diante de uma mudança radical na própria educação? A importância da vida e da comunicação: as linguagens inseridas no contexto digital. Quando falamos em comunicação, ou “sociedade do conhecimento”3 no primeiro instante criamos em nossa mente, e até mesmo conseguimos visualizar: computadores, celulares, tabletes, enfim, todos os meios de comunicação e as tecnologias associadas. É possível visualizar alguns fragmentos da nossa vida cotidiana que fazem uso destes: os 3 A UNESCO, em particular, adotou o termo “sociedade do conhecimento” ou sua variante “sociedades do saber” dentro de suas políticas institucionais. Desenvolveu uma reflexão em torno do assunto que busca incorporar uma concepção mais integral, não ligada apenas à dimensão econômica. Por exemplo, Abdul Waheed Khan (subdiretor-geral da UNESCO para Comunicação e Informação), escreve [3]: “A Sociedade da Informação é a pedra angular das sociedades do conhecimento. O conceito de “sociedade da informação”, a meu ver, está relacionado à idéia da “inovação tecnológica”, enquanto o conceito de “sociedades do conhecimento” inclui uma dimensão de transformação social, cultural, econômica, política e institucional, assim como uma perspectiva mais pluralista e de desenvolvimento. O conceito de “sociedades do conhecimento” é preferível ao da “sociedade da informação” já que expressa melhor a complexidade e o dinamismo das mudanças que estão ocorrendo. (...) o conhecimento em questão não só é importante para o crescimento econômico, mas também para fortalecer e desenvolver todos os setores da sociedade”. (AMBROSI, Alain, 2005). 4951 adolescentes navegando na internet, postando suas fotos no facebook, escutando música. No mundo corporativo, reuniões online – ao vivo, apresentando as novas propostas de trabalho utilizando os programas de apresentações interativas, como por exemplo, o Prezi. Nos estudos, seja vendo ou postando vídeos, lendo E-books ou navegando pelos ambientes de aprendizagem virtuais. No lazer, no comércio, enfim. As tecnologias estão muito presentes na vida das pessoas independente das esferas da vida atual ou mesmo da idade que possuem. Esse é apenas o início deste texto e já fomos bombardeados com inúmeras informações. Antes de dar início a nossa discussão, queremos resgatar que o principal meio de comunicação utilizado pelo ser humano é a Linguagem. Por meio dela, o homem atribuiu significado aos sons articulados que emitem e essa foi à primeira estratégia utilizada para que acontecesse uma comunicação entre os homens. O ser humano não consegue viver sozinho, ele nasceu para viver em sociedade. Para que isso aconteça é necessário interagir com as outras pessoas utilizando a linguagem. “A sociedade subsiste, tanto quanto a vida biológica, por um processo de transmissão. A transmissão efetua-se por meio da comunicação – dos mais velhos para os mais novos – dos hábitos de proceder, pensar e sentir”. (DEWEY, 1979b, p. 3) Desse modo, enfatizamos que a linguagem é a base para que possamos transmitir pensamentos, sentimentos, explicar uma experiência pela qual passamos e, assim, transmitir as tradições de uma cultura às gerações futuras. Dewey explicita que a linguagem é condição de possibilidade para a vida em comunidade: A importância da linguagem como condição necessária e, em último caso, como condição suficiente para a existência e transmissão de atividades não puramente orgânicas, e suas conseqüências, reside no fato que, por um lado, um modo de comportamento estritamente biológico surge em natural continuidade de atividades orgânicas prévias, enquanto que, por outro lado, força o indivíduo a adotar o ponto de vista dos outros e a olhar e investigar sob o ponto de vista que não é estritamente pessoal, mas em comum com os outros indivíduos como participantes ou ‘partes’ de uma atividade conjunta. (Dewey, 1960, p. 46) Dewey pontua a linguagem em dois aspectos: o primeiro, como condição necessária para existência humana, sendo, assim, uma necessidade de vida do homem. E, o segundo, que essa necessidade implica o uso comum da linguagem. Dessa maneira, o indivíduo pode se desenvolver tanto individualmente quanto coletivamente. 4952 Porém essa coletividade passa a existir quando “Os homens vivem em comunidade em virtude das coisas que têm em comum; e a comunicação é o meio por que chegam a possuir coisas em comum”. (DEWEY, 1979b, p. 4). É interessante observar que na nossa sociedade existe uma diversificação muito grande no que se diz respeito a tribos, vamos dar um exemplo bem simples para exemplificar isso: a tribo dos roqueiros, dos esportistas, dos hippies, e são esses assuntos incomuns que fazem com que aconteça algum tipo de comunicação. “Não só a vida social se identifica com a comunicação de interesses, como também toda comunicação (e, por conseguinte, toda genuína vida social) é educativa. Receber a comunicação é adquirir experiência mais ampla e mais variada”. (DEWEY, 1979b, p. 5). Esse é um dos aspectos que são considerados muito importantes, pois quando nos comunicamos estamos de certo modo, vivenciando, trocando experiências e isso faz com que a comunicação seja também educativa. Portanto, percebemos que tanto a comunicação quanto a educação, são uma via de mão dupla, elas andam juntam. São quase que parceiras. E é exatamente para isso que os professores, e as instituições de ensino deveriam se atentar. Pois é algo que acontece naturalmente desde as primeiras civilizações. “A educação, em seu sentido mais lato, é o instrumento dessa continuidade social da vida”. (DEWEY, 1979b, p. 2). Portanto se a linguagem foi o primeiro meio de comunicação utilizada pelo homem para se comunicar para seu desenvolvimento individual e coletivo, significa que com o passar o tempo o homem foi criando novos instrumentos para transmitir suas ideias, pensamentos ou até mesmo falar com pessoas geograficamente distantes: Onde existe a comunicação, as coisas ao adquirem significado, adquirem da mesma forma representantes, substitutivos, ou seja, símbolos e implicam outras que são infinitamente mais susceptíveis de manejo, mais estáveis e mais adaptáveis que os acontecimentos em seu primeiro estado. As coisas ganham um incremento novo e adquirem importância ao se tornarem representativas e se transformam adquirindo a “dignidade de uma função”. (Dewey, 1958, p. 167) A comunicação de modo geral traz um significado importante. As palavras e os símbolos permitem discriminar e manter as qualidades experiênciadas das coisas. Desse modo, a linguagem origina um meio de comunicação que torna possível a deliberação cooperativa e as atividades compartilhadas. Além da linguagem falada, com o passar do tempo o ser humano desenvolveu outros instrumentos e/ou outras formas de comunicar-se. O surgimento da escrita, da impressão da escrita, a criação do telégrafo, do telefone, rádio, cinema, televisão, comunicação por satélite, 4953 internet, celulares, tablets, e outras tecnologias que ainda virão. Em linhas gerais, podemos dizer que a tecnologia significa um aperfeiçoamento dos instrumentos de comunicação, ou seja, aconteceu uma mudança na linguagem da condição de vida coletiva e como consequência disso, aconteceram mudanças nos meios de comunicar-se. Como estamos falando de instrumento e das novas criações do homem que podem ser consideradas como tecnologias é de fundamental importância conhecermos o conceito de tecnologia, para darmos continuidade ao nosso pensamento. Uma melhor compreensão desse termo exige sua comparação com o termo que lhe é aparentado: “técnica” [...] a técnica envolve conhecimento para a realização de terminada tarefa, como desempenhar-se de certo modo. Assim, ela se define como um saber fazer, referindo-se a habilidades, a uma bateria de procedimentos que se criam, se aprendem se desenvolvem. As técnicas se distribuem por todas as áreas do ser humano. A partir da Revolução Industrial as técnicas passaram a ser incrementadas pelas máquinas. (SANTAELLA, Lúcia. 2007.pg.258) Lúcia Santaella para nos explicar o conceito de tecnologia faz uma pequena comparação com o termo – técnica. Para concluir seu conceito, ela continua dizendo que as primeiras máquinas da era industrial já nos ajudaram a compreender essa diferença entre técnica e tecnologia. A técnica é um simples saber fazer, e isso com treino e se for o caso, lendo um manual de instrução qualquer um é capaz de fazê-lo. Já as habilidades que são introjetadas no ser humano, formam a essência da tecnologia. Ela vai além, as habilidades individuais passam a ser coletivadas. É preciso fazer análises, criar momento de reflexão para que possa acontecer essa introjeção. A proporção que a sociedade se torna complexa em estrutura e recursos, aumenta a necessidade do ensino e do aprendizado formais e intencionais. E quando progridem o ensino e o aprendizado formais, surge o perigo de criar-se indesejável separação entre a experiência adquirida em associações mas diretas e a adquirida nas escolas. Esse perigo nunca foi maior do que nos tempos atuais, em vista do rápido desenvolvimento, nos últimos séculos, dos conhecimentos e espécies de aptidão técnicas. (DEWEY, 1979b, p. 10) Dewey nos faz um alerta, é preciso que a escola esteja conectada com o desenvolvimento e avanço dos recursos tecnológicos da sociedade, e mais do que isso que não se prenda meramente as técnicas. Fazendo o uso da experiência no ensino formal também. Hoje a grande tendência dentro dessa Era Digital, é a utilização das mídias digitais, que fogem das tradicionais, como por exemplo, o Rádio e a Televisão, uma vez que essas são 4954 consideradas como mídias de massa. Agora a prioridade passa a ser Multitelas4, fazendo parte os celulares smartphones, Palmtop, computadores, IPads e Tabletes, dentre outro tendo como característica principal ser “personal mídia”. Uma tendência que constitui grande problema é o fato das tecnologias como instrumentos de comunicação se tornam mais importantes do que a própria comunicação. Dessa forma, acontece a priorização do instrumento tecnológico. Monica Fantin exemplifica isso muito bem quando diz que: O próprio celular, por sua vez, é cada vez mais smartphone, sempre mais comprometido com tecnologias capazes de desenvolver funções diferenciadas em relação àquela clássica, da ligação viva voz: isso se propõe como um ponto de acesso alternativo a respeito de serviços e conteúdos [...]. (FANTIN; RIVOLTELLA, 2010, p. 90-91) Monica Fantin, nos mostra que como hoje o celular não existe apenas para ligar para alguém, fora a função básica do celular que é fazer ligações ele possui milhares de utilidades embutidas tendo acesso à internet, podendo filmar, tirar fotos, enviar sms (mensagem de texto), comprar aplicativos, dentre outras. Por isso a lógica comunicativa se inverte: a centralidade das mídias é substituída pela centralidade dos sujeitos. Ou seja, as pessoas se tornam os próprios autores, produtores de conteúdos, qualquer um pode produzir seu vídeo, ou publicar uma opinião nas redes sociais, e isso é caracterizado pela multiplicação de telas disponíveis. Hoje grande parte das pessoas assiste televisão utilizando o computador e o celular ao mesmo tempo, ou seja, são três telas diferentes, três meios diferentes interagindo com o sujeito. Sendo que essa navegação de uma tela para a outra são guiadas de acordo com o interesse pessoal e de acordo com a necessidade do momento. Nessa sociedade multitela o zapping televisivo torna-se zapping multimidiático: as mídias digitais não são mais mídias de massa, mas sim “personal mídia”. Cria-se assim uma dualidade: por um lado, as tecnologias, ditas como multitelas, contribuem para o desenvolvimento da expressão individual, justamente por ser “personal mídia” tem a sua funcionalidade tornando a vida de todos mais prática, usual e eficiente; por outro lado, o indivíduo se torna mais individualista, egocêntrico e, ao mesmo tempo, faz com que a socialização aconteça com mais intensidade virtualmente do que na esfera real, utilizando principalmente as redes sociais para que isso aconteça. 4 Visualizar conteúdos em diferentes meios ao mesmo tempo. 4955 Nesse aspecto, podemos dizer que se o pensamento da sociedade antes era “Penso, logo existo” (René Descartes) hoje está cada vez mais se tornando “Atualizo, logo existo”, ou seja, somente a partir do momento em que o usuário faz uma atualização de fotos, comentários, dentre outros em suas redes sociais é que passa a ser visto e reconhecido. O outro aspecto a ser abordado também é no sentido de que hoje temos muitas informações disponíveis por um clique, tudo é de simples e fácil acesso. Assim, as pessoas criam hábitos de acessar a informação, muitas vezes fazendo isso de forma desenfreada. Mas não passa pelo processo de analisar e questionar a procedência e/ou veracidade das mesmas. É preciso refletir sobre as atitudes na internet. Muitas vezes os adolescentes postam fotos, somente para ter uma vida virtualmente ativa, com “50 curtir”e “10 compartilhamentos” e “100 visualizações”. Estamos diante de um dos grandes desafios da educação. Pois os alunos, principalmente aqueles que são ditos como Nativos Digitais5, tem uma afinidade maior com as coisas “pré-prontas”, que não precisam ser refletidas. A lógica é a de navegar pelas ondas maravilhosas das imagens e textos curtos, clicando nos hiperlinks, abrindo-os sem nunca mergulhar a fundo nesse oceano de informações. E o pensar começa a se tornar algo difícil, chato, maçante. Sendo assim, a filosofia tem um papel muito importante no pensar desse aluno, principalmente porque o pensamento é a base da aprendizagem. Dewey colocou no centro da educação, o pensar como um princípio educativo . Foi ele que disse: “[...] é evidente que a educação, quanto a seu lado intelectual, está vitalmente relacionada com o cultivo (cultivating) da atitude do pensar reflexivo, preservando-o onde já existe, e substituindo os métodos de pensar mais livres por outros mais restritos, sempre que possível. (Dewey, 1979a, p. 85, itálicos do autor). Ele ainda acrescenta: “[...] a educação consiste na formação (formation) de hábitos de pensar despertos, cuidadosos, meticulosos.” (Dewey, 1979a, p. 86, itálicos do autor). A essência da educação está na reflexão. Somente assim os alunos se tornam mais críticos, ativos para atuar e transformar a sociedade. Aprender a pensar deveria ocorrer juntamente com a utilização adequada dessas mídias digitais, inclusive para que se possa tomar posição crítica diante delas. E o tipo de pensamento que interessa à educação é o pensamento inquiridor: “Pensar é inquirir, investigar, examinar, provar, sondar para descobrir alguma coisa nova ou ver o que já 5 conceito criado por Mark Prensky que designa todos os nascidos depois de 1980 e que aproveita de todos os aparatos tecnológicos no seu cotidiano. 4956 é conhecido sob prisma diverso. Enfim, é perguntar”. (DEWEY, 1979a, p. 262, itálico do autor). Somente este processo de pensar inquiridor, reflexivo e investigativo a experiência problemática permite a superação do dualismo entre conteúdo e método e porque não entre conteúdo e tecnologia. Os alunos precisam aprender a investigar para assim perceber o real sentido das suas ações. Refletir sobre como ele utiliza a internet, sobre o que ele ou seus amigos postam nas redes sociais já seria um grande começo. A atitude de ter um pensamento reflexivo pode ser iniciada através do processo de investigação. E o professor teria como papel orientar, esses alunos, mediando suas investigações. Pensamento reflexivo é a atividade inteligente que exige esforço consciente e voluntário para reconstruir a experiência através da investigação: “O pensamento reflexivo faz um ativo, prolongado e cuidadoso exame de toda crença ou espécie hipotética de conhecimento, exame efetuado à luz dos argumentos que a apóiam e das conclusões a que chega.” (DEWEY, 1979a, p. 18, itálicos do autor) Dewey identifica a atividade de pensamento reflexivo como sendo a própria atividade da investigação, conforme podemos ver em sua definição de investigação: A investigação é a transformação controlada ou dirigida de uma situação indeterminada em outra que é de tal modo determinada nas suas distinções e relações que a constituem que converte os elementos da situação original em um todo unificado. (DEWEY, 1960, p. 104, itálicos do autor) Percebemos aqui algo de muita importância. Mesmo com todos os avanços tecnológicos que estão acontecendo, eles não seriam suficientes, para educar os alunos. A escola continuará sendo uma instituição necessária para a educação das novas gerações. Pois as mediações sobre o pensar, não podem simplesmente serem inseridas automaticamente, elas exigem trabalho, exigem criar estruturas mentais, estabelecer conexões neurais e isso as tecnologias não podem fazer por si só. Para designar uma educação voltada para formar o hábito de pensar reflexivamente, Dewey criou a fórmula “aprender é aprender a pensar”. (Dewey, 1979b p. 83.) Aprender a pensar é aprender a aprender, no sentido de aprender como construir ou produzir os conceitos, conhecimentos ou significações, que aumentam a eficiência na ação e ampliam a capacidade de aprender mais coisas sobre nós para assim saber refletir, atuar e transformar o mundo em que vivemos, nas mais variadas situações. 4957 Nós estamos em tempos de mudanças e os professores precisam saber qual é essa realidade. Segundo a análise de Rivoltella (2012) o grande ponto de partida a esse cenário de mudança que estamos vivenciando nessa nova lógica cultural da mídia digital é a desmediação. Isto quer dizer que não necessitamos dos complexos processos de produção próprios da estrutura da televisão para colocar um programa, documentário ou mesmo um vídeo no ar. Esse processo foi simplificado por procedimentos mais simples como criar uma conta no youtube, um blog, um vídeo blog, ou mesmo postá-lo no facebook tornando qualquer criação pública. O outro aspecto que Rivoltella (2012) atenta é o da desprofissionalização, ou seja, não é preciso ser um jornalista para publicar artigos e notícias, uma vez que temos disponível ferramentas como o microblog twitter dentre outros processos que permitem publicar uma informação. Nesse sentido, também percebemos mudanças grandiosas acontecendo na sociedade como um todo por conta da digitalização. De fato, como diz Palfrey (2011. p. 13) “[...] nenhum aspecto importante da vida moderna fica intocado pela maneira em que muito de nós hoje em dia usamos as tecnologias da informação”. Mudanças de valores, de visão e estrutura de família. Uma diversidade cultural imensa. Mas e a educação? O que ela pode fazer para não ficar fora dessas mudanças? Ela está inserida no contexto digital? Para que possamos fazer essa análise, vamos contextualizar quem são os nativos digitais, qual é o perfil deles e qual deve ver a postura do professor frente a essas mudanças. Nativos digitais e o uso das mídias digitais no contexto escolar: experiência em questão. “Uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação está remodelando a base material da sociedade em ritmo acelerado”.( Castells, 1999.pg. 21) Desse modo é estabelecida uma nova maneira de relação entre o Estado, a economia e a sociedade vem sendo adotada em busca de uma interdependência global cada vez maior. O capitalismo passa por um processo de profunda reestruturação caracterizado por maior flexibilidade de gerenciamento; descentralização das empresas e sua organização em redes tanto internamente quanto em suas relações com outras empresas; Além disso, um novo sistema de comunicação - A língua universal digital está promovendo a integração global da produção e distribuição de palavras, sons e imagens da nossa cultura as identidades do 4958 demais dos indivíduos. As redes interativas de computadores estão crescendo em grande porte, criando novas formas e canais de comunicação. As mudanças ocorridas no âmbito social são tão drásticas quanto os processos de transformação tecnológica e econômica. E neste processo, a educação é a qualidade principal do trabalhador. O conhecimento é a grande preciosidade deste tempo. Eles são geradores de conhecimentos e processadores de informação para a produção de novos produtos. E os nossos alunos estão inseridos neste meio. Por isso faz-se necessário falarmos um pouco sobre esses nativos digitais. Todas as crianças que nasceram depois de 1980, são chamadas de Nativos Digitais de acordo com a colocação de Palfrey (2011). Esse conceito designa a geração que desde seu nascimento cresceu junto com as tecnologias e tem o hábito de ficar constantemente conectados a seus aparatos tecnológicos, seja através de seus celulares e mensagens instantâneas SMS (os torpedos), seja através de seus computadores ligados à rede da Internet e ferramentas de comunicação como o Google-Talk e outros. O Homo Zappiens, seria uma nova espécie, uma geração que está atuando em uma cultura cibernética global, baseada na multimídia. Essa geração, segundo Prensky (2001), “pensa e processa informações de forma diferente” e sua familiaridade com a linguagem digital faz com que esta seja para eles como que uma segunda língua (2001). Podemos dizer que a principal característica dos Nativos Digitais é ser multitarefa, ou seja, é habitual da sua parte que eles consigam fazer mais de 3 coisas ao mesmo tempo. Como por exemplo: ver TV, escutar música, fazer as atividades da escola, conversar com os amigos em redes sociais, abrir várias abas da internet e utilizá-las tranquilamente sem se perder, fazendo download de vídeos e músicas. Prensky (2001) faz uma analogia bem interessante relacionada à linguagem digital. Ele acredita que todas aquelas pessoas que aprenderam a usar as tecnologias digitais ao longo de suas vidas adultas são imigrantes digitais, afinal eles vivenciaram a língua analógica. Vamos fazer uma pequena análise desse processo. Poucos ainda são os professores que realmente são nativos digitais. Em sua grande parte eles podem ser considerados como imigrantes digitais, por isso, os professores são resistentes às inovações e/ou tem certa dificuldade de criar novos meios e estratégias para ensinar nessa nova linguagem digital. Como eles viveram na era Analógica, aprenderam no formato analógico e agora, para mudar o formato do pensamento é um trabalho que exige, tempo, dedicação, abertura, mobilidade e interatividade. 4959 A geração dos Nativos Digitais é totalmente interativa, um grande exemplo que é hoje os alunos tem dificuldade em ficar na carteira assistindo a uma aula expositiva, afinal seu perfil vai de encontro com a tentativa do erro e do acerto, é preciso experimentar, descobrir, interagir com os outros, explorar. E isso acontece justamente por estar conectada aos meios que já comentamos acima. É missão dos educadores encontrar – através de uma pedagogia fundamentada nos meios de comunicação – as possibilidades que permitam ao homem uma maior expressividade. Não é um sonho irrealizável criar uma série de condicionamentos que, baseados nos meios de comunicação social, permitam ao homem expressar-se com o máximo de criatividade (GUTIERREZ, 1928. p. 69). Gutierrez, já em 1928, escrevia sobre a importância dos professores utilizarem dos meios de comunicação para que o homem pudesse se expressar com o máximo de criatividade. E hoje, percebemos que os alunos possuem muita criatividade, principalmente pela interatividade com as tecnologias. De fato hoje, a escola precisa desenvolver seu trabalho, juntamente com a realidade em que seus alunos estão inseridos, o mais próximo da vida real, caso contrário, ela fica relegada a um mundo paralelo e sem sentido. A escola não pode ser diferente da vida. Hoje é absolutamente impossível ilhar os jovens. A falta de confrontação da escola com os Meios de Comunicação é , simplesmente, uma resposta escapista. As campanhas de controle e censura são um fechar de olhos para não querer ver os problemas em toda sua crueza.” (GUTIERREZ, 1928. p. 95) Dessa análise surge um grande problema: agir como um aluno dito como um nativo digital implica ter o acesso a essas tecnologias que permitem rapidez das informações juntamente com as multitelas,(o celular, computador, TV, tablets), mas como fica a multidão de alunos que possuem contato com esses meios tanto na escola como fora dela? Isto compromete sua aprendizagem e sua estruturação do pensamento? Se um aluno não possui contato direto com as multitelas, é evidente que ele não terá a mesma destreza de outro que está praticamente o dia todo conectado e utilizando esses recursos. De fato, a exclusão digital é um dos grandes problemas como aponta Lima. 4960 Vista como fator de cultura na escola, a internet (e com todas as demais tecnologias) lança o desafio da universalização e da democratização da educação e também das tecnologias que apontam as possibilidades políticas do Estado e da sociedade. A internet, como fator de cultura, aprendizagem e democratização na/da escola, pode ser uma oportunidade para a educação reafirmar o seu lugar historicamente, libertando-se das amarras do tempo e do espaço escolares circunscritos à normatização e regulação da razão instrumental. Além disso, abre suas portas e janelas para a convivência com diferentes valores culturas. O uso social da rede internet pode vir a transformar a escola única na escola plural, produzindo diferentes saberes e culturas. (LIMA, 2005.PG.228). Afinal, se o aluno não tem a possibilidade de estar conectado por falta de recursos, a escola poderá ser uma ponte para auxiliar tanto na democratização da tecnologia, da informação e da comunicação, quanto em relação às mediações necessárias que precisam acontecer entre o professor e o aluno para que ele possa fazer uma aprendizagem significativa no que se diz respeito ao uso correto desses meios para o seu desenvolvimento. Maria Luiza Belloni (2001), explica que muitos estudos têm mostrado a importância crescente das mídias na criação dos "mundos sociais e culturais das crianças", onde ocorrem os processos de socialização. Ela realizou uma pesquisa, realizadas em três capitais brasileiras, nas duas últimas décadas, também apontam para esta evidência: os jovens, em sua maioria e sempre que tenham acesso, são usuários assíduos, interessados e entusiastas destas novas tecnologias, especialmente a televisão e a internet. Eles têm opiniões próprias sobre as mensagens e recursos destas mídias e, embora sejam adeptos incondicionais das telinhas, são capazes de divergir e criticar. E o mais importante esta capacidade crítica não é espontânea (como as aprendizagens relativas ao uso) e parece só funcionar quando o assunto interessa muito ao jovem (sexualidade ou consumo, por exemplo), ou quando a situação o estimula, no caso de uma pesquisa, por exemplo. Isso nos permite inferir que, embora o uso das Tics propicie aprendizagens novas, especialmente novos modos de aprender, ele não é suficiente, por si só, para desenvolver o espírito crítico e utilizações criativas. Para tal desenvolvimento serão sempre necessárias as mediações dos adultos e das instituições educativas, de onde decorre a importância da formação dos professores para que estas mediações se orientem a partir de uma perspectiva de mídia-educação, assegurando assim sua eficácia. O que gostaríamos de enfatizar na citação de Maria Luiza Belloni, é ainda que as tecnologias podem e devem ser inseridas no contexto escolar, é de fundamental importância que aconteça a mediação dos adultos e das instituições educativas. Por um lado, porque o aluno com o fluxo intenso de informações não sabe como utiliza-las da maneira correta. E por 4961 outro, destacar ainda a importância da formação dos professores, para que eles saibam fazer essas mediações com propriedade. Até agora podemos perceber que as tecnologias, independente de como estão inseridas no contexto escolar, são apenas instrumentos para tornar uma aprendizagem mais significativa e interativa com a realidade que grande parte dos alunos estão inseridos atualmente. Do mesmo modo como a linguagem é um instrumento para a comunicação. Rivoltela aponta valores neste campo: “Os valores que a mídia-educação reconhece à atividade de produção midiática em contexto educativo pode reconduzir a três principais instâncias: a função cognitiva do fazer, a cooperação como oportunidade de aprendizagem e a função educativa da linguagem” (Rivoltella, 2005a, p .96). São muitos os desafios que foram encontrados no decorrer na nossa análise. Porém ficou claro que conhecendo o perfil dos Nativos Digitais, sabendo que eles utilizam as multitelas no seu cotidiano. Aplicando os conceitos de Dewey sobre Comunicação, Educação, Reflexão, aprender a aprender nesse contexto de Mídias Digitais, temos grandes chances dos alunos atingirem a meta esperada de Se tornar Crítico, frente essas mídias, ser mais reflexivo, atuar e transformar a sociedade em que vive. Considerações Finais Através deste artigo no primeiro momento, podemos compreender um pouco mais sobre a vida e a comunicação. Percebendo que essa relação foi estabelecida através do primeiro instrumento de comunicação utilizada pelo homem que é a linguagem. E com base na teoria deweyana, conseguimos estabelecer relações significativas entre a educação e a comunicação, mostrando assim a sua importância para a vida. Uma vez que o Conceito de Dewey no que se refere a comunicação é que [...] “toda comunicação (e, por conseguinte, toda genuína vida social) é educativa. Receber a comunicação é adquirir experiência mais ampla e mais variada”. (DEWEY, 1979b, p. 5). Portanto a Comunicação está diretamente ligada a educação. A experiência se transforma nas vivencias e experiências que vão acontecendo pelo caminho. Porém gostaríamos de enfatizar novamente que Dewey colocou no centro da educação, o pensar como um princípio educativo. A reflexão é essência para desenvolver um pensamento crítico, e é exatamente esse tipo de pensamento e de atitudes que os alunos precisam ter para utilizarem as mídias digitais da maneira inclusive para que se possa tomar uma posição crítica diante delas. 4962 Para designar uma educação voltada para formar o hábito de pensar reflexivamente, Dewey criou a fórmula “aprender é aprender a pensar”. (Dewey, 1979b p. 83.) Aprender a pensar é aprender a aprender, no sentido de aprender como construir ou produzir os conceitos, conhecimentos ou significações, que aumentam a eficiência na ação e ampliam a capacidade de aprender mais coisas sobre nós para assim saber refletir, atuar e transformar o mundo em que vivemos, nas mais variadas situações. E no segundo momento, percebemos que existe “uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação está remodelando a base material da sociedade em ritmo acelerado”. (Castells, 1999. pg. 21). Os nossos Alunos hoje são nomeados como Nativos Digitais,(os que foram nascidos a partir de 1980), e estão inseridos nessa atual realidade da Sociedade da Informação e da Comunicação, em um meio de multitelas, (Celulares, tablets, smartphones, computadores, tv), conseguindo fazer mais de três coisas ao mesmo tempo, possui uma linguagem própria, é uma geração que “pensa e processa informações de forma diferente” e sua familiaridade com a linguagem digital faz com que esta seja para eles como que uma segunda língua (PRENSKY, 2001). Portanto de um modo automático eles tem seu pensamento de modo fragmentado, ou seja, não linear criando as relações através de conexões no estilo dos hiperlinks. Temos a ciência que hoje ainda existem muitos excluídos tecnologicamente, que por falta de recursos financeiros não tem acesso a esses tipos de instrumentos, e com isso ele acaba perdendo um pouco dessa destreza para fazer muitas coisas ao mesmo tempo e pensar de modo fragmentado. Porém que se ele encontrar esses recursos na escola, que pode se tornar um ambiente de democratização das tecnologias. Sendo assim, percebemos que a educação continuará sendo necessária para a educação das novas gerações. Que as Instituições escolares precisam se basear mais na experiência de Dewey, trazendo um ensino mais atraente e significativo para os alunos, utilizando as mídias digitais como devem ser utilizadas. Gostaria de deixar as seguinte questões de interrogação e reflexão para todos: Estaríamos assistindo uma silenciosa revolução da escola cuja tendência seria seu desaparecimento ou sua adaptação à tecnologia digital? Qual é a tendência da tecnologia digital? Qual a mudança que vem se forjando na atividade docente? Estaríamos diante de uma mudança radical na própria educação? REFERÊNCIAS 4963 AMBROSI, ALAIN. Orgs. Desafios de Palavras:Enfoques Multiculturais sobre as Sociedades da Informação. 5 de novembro de 2005 por C & F Éditions. 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