Talmud, Maimônides, Ética Judaica, Filosofia, Links

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CONCEITOS BÁSICOS
Depois do Tanakh — uma abreviação hebraica de Torá, Profetas e Escritos —, o
Talmude (hebraico: ‫תלמוד‬, transliterado: Talmud) também é considerado um livro
sagrado para judeus. Ele é um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei,
ética, costumes e história do judaísmo.
O Talmude tem dois componentes: a Mishná, o primeiro compêndio escrito da
Lei Oral judaica; e o Guemará, uma discussão da Mishná. A Mishná com a Gemará
das Escolas Rabínicas da Babilônia formam o Talmud Bavli (Talmude da Babilônia). A
Mishná com a Gemará das Escolas Rabínicas de Israel formam o Talmud Yerushalami
(Talmude de Jerusalém).
Geralmente quando lemos uma citação do Talmude, ela se refere à versão
babilônica, que é considerada autoridade. O Talmude de Jerusalém normalmente não
é ensinado hoje, nem mesmo nas mais ortodoxas escolas judaicas, embora
estudiosos avançados do Talmude às vezes o estudem.
Originalmente, o estudo acadêmico do judaísmo era oral. Os rabinos expunham
e debatiam todo o Tanakh, sem o benefício das obras escritas (além dos próprios
livros bíblicos), embora provavelmente alguns possam ter feito anotações privadas
(meguilot setarim), por exemplo, a respeito das decisões de cortes.
Como resultado da diáspora judaica, a partir do ano de 70 d.C., e os
consequentes distúrbios nas normas legais e sociais judaicas, os rabinos foram
forçados a encarar uma nova realidade, principalmente a de um judaísmo sem um
Templo, portanto, sem o centro de estudo e ensino, e uma Judéia autônoma. Foi
durante esse período que o discurso rabínico passou a ser registrado.
Existem diferenças entre as interpretações rabínicas do Talmude, o que deu
origem a diversas escolas. As duas mais famosas eram a Escola de Shammai e a
Escola de Hillel.
O QUE É O TALMUD?
Rabino Adin Steinsaltz, sábio responsável pela tradução do Talmud ao hebraico
moderno, ao inglês e ao russo referiu-se à importância dessa obra magistral com as
seguintes palavras: 'Se a Torá é a pedra fundamental do judaísmo, o Talmud é seu
pilar..."
O Talmud define e dá forma ao judaísmo, alicerçando todas as leis e rituais
judaicos. Enquanto o Chumash(o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés) apenas
alude aos Mandamentos, o Talmud os explica, discute e esclarece. Não fosse este,
não entenderíamos e muito menos cumpriríamos a maioria das leis e tradições da
Torá e o judaísmo não existiria. Historicamente, os judeus que, individualmente ou em
grupo, negaram sua validade, acabaram por se assimilar ou desaparecer. E, como
outras religiões adotaram o texto da Torá Escrita - Torá she-bichtav, mesmo a tendo
traduzido de forma errada, adicionando ou removendo partes da mesma e a
interpretando de forma proibida pelo judaísmo, é oTalmud o verdadeiro divisor de
águas, o texto sagrado que diferencia os judeus das outras nações do mundo.
Nós, judeus, sempre tivemos consciência de que nossa sobrevivência como
grupo dependia do estudo deste trabalho. Os inimigos históricos de nosso povo, que
devido a interesses teológicos ou nacionais quiseram converter ou destruir o
judaísmo, também estavam cientes dessa realidade. No passado, quem se
aventurava a declarar guerra à religião judaica, começava por proibir o estudo do
Talmud, sob risco de pena de morte. Através do curso da história, em diferentes
países e períodos, esta magna obra foi queimada, em praça pública. Muitos de seus
trechos foram removidos por aqueles que se sentiam ameaçados por sua genuína
interpretação da Torá, pela elucidação clara e inequívoca que dava aos Mandamentos
Divinos e por seu repúdio absoluto a qualquer forma de idolatria ou imoralidade.
Mas, o que vem a ser esta obra monumental? Pode-se dizer, com segurança,
que a maioria dos judeus de nossos dias já ouviu menção ao mesmo, mas apenas
uma pequena minoria o estudou. Sua definição formal é a de ser a compilação da Lei
Oral, que foi transmitida por D’us a Moisés, no Monte Sinai, tendo sido estudada e
dissecada, através dos séculos, pelos sábios que viviam em Israel e na Babilônia, até
o início da Idade Média. O Talmud tem dois componentes principais: a Mishná, um
livro sobre a lei judaica, escrito em hebraico, e a Guemará, comentário e elucidação
do primeiro, escrita no jargão hebraico-aramaico.
Um olhar superficial sobre a Guemará pode induzir alguém a pensar que se trate
apenas de explicações e elaborações sobre as leis e ensinamentos daMishná. Mas,
na realidade, trata-se de algo muito mais abrangente um conglomerado de milhares
de anos de sabedoria, história, legislação, lendas e filosofia judaica. Sua santidade e
autoridade, como veículos para a Revelação Divina, em nada são inferiores à da Torá
Escrita. Ademais, mistura - entre outras áreas do conhecimento - as ciências à lógica,
aconselhamento prático, lições e relatos extraordinários, palavras de perspicácia e
inspiração e, até mesmo, ocasionais toques de humor. O Talmudé uma mescla de
arte e ciências: é o livro da legislação judaica - técnico e preciso - mas é também
uma enciclopédia e uma obra magistral de sabedoria, jamais igualada na história da
humanidade.
Para um iniciante no estudo do Talmud, a Guemarápode parecer que foi escrita
com total liberdade de pensamento. Geralmente envereda por apartes tangenciais ao
assunto em pauta, daí partindo para a discussão de um mandamento, o relato de
uma história ou simplesmente oferecendo pérolas de sabedoria que, de uma maneira
ou de outra, têm alguma relação com o assunto tratado. No entanto, a bem da
verdade, todo o seu arcabouço é extraordinariamente bem ordenado e lógico. Cada
uma de suas palavras foi submetida à meticulosa revisão antes de ser transcrita.
É irônico que esta fonte básica e fundamental da lei judaica sirva muito
raramente como autoridade final e definitiva para as discussões sobre o que a
Torános ordena. Seguimos este Pentateuco de acordo com os ditames do Shulchan
Aruch (o Código da Lei Judaica) e dos sábios contemporâneos que interpretam as
aplicações de suas leis. Mas o Talmudpermanece sendo o alicerce imutável para
praticamente todas as leis que emanam da Torá.
A Torá Oral
O Talmud cobre uma ampla variedade de assuntos, seguindo, no entanto, um
plano coerente e muito bem estruturado a dizer, a Mishná, pilar central da Lei Oral.
Comparada à Guemará, é concisa e objetiva. Compõe-se de uma série de
declarações, organizadas por assunto e tópico, que ensinam as leis, a tradição e a
história judaica. Apesar de seu conteúdo se originar do Monte Sinai, algumas de suas
declarações são atribuídas ao mestre ou à escola de pensamento que as elucidou e
difundiu. Os sábios talmúdicos foram mais do que a simples “cadeia de transmissão”
que remonta a Moshé Rabeinu. Pois está escrito que cada um deles tinha atingido
tão elevado nível espiritual que conseguia até mesmo ressuscitar os mortos. Esses
mestres da Torá personificavam a Vontade de D’us e, assim sendo, cada aspecto de
sua conduta e cada uma de suas palavras foram marcadas por absoluta precisão e
orientação Divina.
É a Mishná que provê a Guemará de sua base organizacional e factual. Cada
uma das leis talmúdicas precisa ter uma fonte e esta é encontrada na Mishná. A
Guemará pode dissecar e divagar sobre os ditames da Mishná, estabelecer conexões
entre seus diferentes assuntos e esclarecer aparentes contradições, mas não pode
abertamente discordar da mesma. A Mishná surge como o árbitro final em qualquer
litígio talmúdico.
Há outras coletâneas de diretrizes e ensinamentos, que são parte integrante da
Torá Oral: Sifra e Sifri,Tosefta e Bareitot, além dos Midrashim, que também foram
preservados por escrito, muitos dos quais dentro da própria Guemará. No entanto, a
Mishná tem precedência sobre os demais ensinamentos da ToráOral. Isto significa
que sempre que houver uma aparente contradição entre um ditado da Mishná e
qualquer outro ensinamento da Lei Oral, caberá àGuemará buscar a verdade na qual
se fundamenta o tema, com base na própria Mishná.
É importante mencionar que quando as pessoas falam no Talmud, geralmente
estão-se referindo ao Babilônico. No entanto, há outro que foi escrito em Israel.
Conhecido como o de Jerusalém o Talmud Yerushalmi foi revisado pelo Rabi
Yochanan 300 anos após a destruição do Segundo Templo. É bem mais conciso que
o Talmud Bavli, o Babilônico, pois, de fato, trata principalmente das leis referentes à
Terra de Israel. Via de regra, os judeus que viviam na diáspora negligenciavam a obra
compilada em Jerusalém, mas, nos últimos anos, vimos renascer o interesse por essa
obra, devido grandemente ao retorno de milhões de judeus à Terra de Israel.
Desde o Monte Sinai, a Torá Oral - ou Torá she-be’alpê - como seu nome bem o
indica, só foi transmitida oralmente. Por razões várias, nossos sábios nunca
permitiram que fosse escrita. Mas, uma vez destruído o Segundo Templo, os líderes
judeus começaram a se preocupar que a Torá Oral, sendo tão maciça e complexa,
cairia no esquecimento em virtude da opressão romana e a conseqüente dispersão
do povo judeu. No ano de 188 a.E.C., o Rabi Yehudá ha-Nassi, sábio cuja inigualável
liderança e vastidão de conhecimentos sobre a Torá lhe valeram o título de o “Rabi
(do Talmud)”, finalmente terminou de compilar a Mishná. Centenas de anos mais
tarde, já no final do séc. IV da E.C., Rav Ashi, importante sábio babilônico, iniciou a
compilação de todo o Talmud. Seus discípulos e os alunos destes deram
continuidade à gigantesca obra de redigi-lo. No entanto, diferentemente da Mishná, o
Talmud foi oficialmente completado por nenhum erudito em particular; daí dizer-se
que “ainda está por ser terminado”. Através dos séculos, suas palavras e
ensinamentos foram meticulosamente analisados, interpretados e explicados por
incontáveis sábios, estudiosos e mestres. É geralmente comparado ao oceano sua
vastidão é tremenda, mas sua profundidade é incomensuravelmente maior. De fato, é
um fiel testamento da Infinita Torá de D’us.
O estudo do Talmud
Em hebraico, esta palavra significa literalmente “estudo” ou “aprendizado”. É a
incorporação do fundamental mandamento judaico de “estudar a Torá” - Talmud Torá.
Ao contrário de quase todos os outros campos do saber, o estudo do Pentateuco
tem propósitos que vão muito além da simples aquisição de conhecimentos. É um
meio e um fim, por si só; seu objetivo é o próprio aprendizado. Portanto, o grau de
importância e aplicação prática da matéria em discussão tem importância secundária.
Isto não significa que não tenha relevância. Pois como aprendemos com nossos
mestres, o estudo da Torá é o maior de todos os mandamentos judaicos, uma vez
que faz com que se evitem os pecados e se pratiquem atos positivos e boas ações
que beneficiem nossos semelhantes. É óbvio que para aprender as leis do judaísmo e os princípios e detalhamentos necessários para cumpri-las - é imprescindível
estudar a Torá. Segundo esta perspectiva, este estudo tem um propósito prático. No
entanto, o simples fato de a estudar - mesmo que não haja nenhuma aplicação
prática ou razão para fazê-lo - é extraordinariamente precioso aos olhos dos Céus.
Alguns de nossos mestres foram ainda mais longe, ao dizer que o estudo da Torá,
apenas, é mais importante do que o cumprimento dos outros mandamentos, apesar
de nenhum deles ter o poder de substituir o outro. Pois como está escrito nas preces
matinais que recitamos todos os dias,...”Elu devarim…São estes os mandamentos
que, se os praticar, o homem colherá os frutos neste mundo, enquanto que a sua
recompensa final o esperará na vida futura: honrar pai e mãe, praticar atos de
bondade, ...promover a paz entre os homens; mas, acima de tudo, reina soberano o
estudo da Torá, cujo valor a todos eles se equipara” (Mishná: Peá 1:1).
A raiz da palavra hebraica Torá é hora’á - ensinamento. O Pentateuco ensina ao
homem o caminho que terá que seguir se optar por viver de acordo com os desejos e
diretrizes de D’us. Aquele que estuda a Torá precisa viver de uma forma que honre e
eleve o judaísmo e o povo judeu. Sua vida e conduta devem refletir a sabedoria,
piedade, compaixão e todos os outros ideais incorporados pelaTorá. Pois, caso
contrário, diziam nossos sábios, “melhor seria nunca ter vindo a este mundo”.
Afirmavam, também, categoricamente, que aquele que alega ter adquirido a
sabedoria da Torá, mas não cumpre os seus mandamentos nem pratica boas ações,
não a incorporou, de fato, dentro de si.
Existe uma concepção errônea generalizada de que aTorá é simplesmente um
livro de lei e história judaica-divina, mas, ainda assim, apenas isto. A verdade é que
representa a Vontade e a Sabedoria do Criador. O Talmud discute uma grande
variedade de assuntos - uns sublimes, outros mundanos - mas todos, de alguma
forma, refletem o relacionamento e envolvimento de D’us com este Seu mundo.
Diferentemente das obras da Cabalá, preocupa-se, sobretudo, com o terreno e o
mundano. Discute o que há de mais intrincado e, às vezes, o que aparenta ser
totalmente irrelevante na lei judaica. Porém, oculto em suas lições e ditames,
escondem-se profundos segredos e ensinamentos espirituais e místicos.
A Torá abarca todos os assuntos e a estudamos para entender como nos
relacionar e agir diante de cada um destes. Nas palavras do Rabino Steinsaltz: “Os
mandamentos e as aplicações práticas das leis daTorá estão subordinados à busca
pela verdade que se esconde por trás de todas as coisas. O propósito sublime do
Talmud não é utilitário, de forma alguma - mas unicamente a busca da verdade”. É
por esta razão, como vimos acima, que a aplicação prática de qualquer tema nele
discutido é de importância secundária. O que esta obra busca é a verdade e a visão
da Torá sobre qualquer assunto ou matéria, quer seja legal, histórico ou filosófico.
Portanto, uma prova ou declaração que possa dar a impressão de ser autoevidenciada poderá ser questionada ou mesmo rejeitada pelo Talmud - pois pode
conter alguma falha sutil, quase imperceptível em sua lógica ou argumentação. Este
apenas aceita a argumentação mais convincente. Simboliza a busca do judaísmo pela
verdade absoluta. Não há dogmas na religião judaica: quase tudo pode e deve ser
questionado, apesar de que a pessoa conscienciosa deve entender que a alma
humana ainda não está preparada e, portanto, não pode pretender compreender, em
toda a sua plenitude, a Vontade e a Sabedoria do Criador.
Como o objetivo primordial do Talmud é essa busca da verdade, esta obra é
praticamente toda estruturada em perguntas e respostas. E mesmo quando as
perguntas não são explicitamente articuladas, encontram-se por trás de cada
afirmação e ensinamento. Talvez seja o único livro sagrado, no mundo, que não
apenas permite, mas estimula os que o estudam a questioná-lo. A Sabedoria de D’us
está oculta em suas palavras, cabendo a cada um dos que o estudam, seja este
sábio ou iniciante, tentar desenterrá-la. No entanto, é preciso lembrar-se que aTorá,
em sua plenitude, originou-se de D’us; cada um de seus ensinamentos que já foi ou
venha a ser praticado, foi transmitido a Moisés no Monte Sinai. Assim sendo, quando
um sábio Talmudista faz uma afirmação, ele não está agregando ou opinando sobre
algo, mas sim revelando um assunto da lei ou da sabedoria Divina. Aquele que
domina as matérias acerca da lei judaica precisa ser um verdadeiro mestre em Torá. E
deve entender que carrega consigo a tremenda responsabilidade de discernir e
transmitir a Vontade de D’us ao povo judeu. Seus ensinamentos devem ser
firmemente arraigados noTalmud e no Código da Lei Judaica, devendo ser uma
extensão viva da Torá, originalmente entregue a Moisés.
É bem verdade que há diferenças de opinião noTalmud e isto, infelizmente, tem
sido usado como desculpa para interpretações pessoais e aplicações impróprias ou
tentativas de “reformular” as leis daTorá. Estas concepções errôneas geralmente são
oriundas da falta de entendimento da dimensão espiritual da lei judaica.
Diferentemente dos campos de conhecimento secular, pontos de vista diferentes
sobre a Torá não constituem imprecisão ou erro. Pelo contrário, os mandamentos
aparentemente contraditórios - que na prática, são raros - refletem as diferentes
maneiras pelas quais D’us se relaciona com o mundo: por vezes com flexibilidade e
condescendência, por vezes, com maior severidade. Uma das maiores polêmicas
históricas no Talmudocorre entre as escolas de dois grandes sábios: Hillel e Shammai.
Suas disputas acabaram sendo resolvidas por uma voz que emanou dos Céus,
afirmando: “Ambos transmitem as palavras do D’us Vivo, mas a decisão está alinhada
com a escola de Hillel”. O fato de um método ser preferível ao outro não invalida o
outro nem significa que seja impreciso, de forma alguma. Os místicos judeus
ensinaram que Hillel personificava o atributo Divino da flexibilidade e
condescendência, enquanto que Shammai incorporava as qualidades Divinas da
precisão e do rigor. Explicam que como vivemos em um mundo imperfeito,
necessitando constantemente de misericórdia, seguimos, quase que sem exceção,
os mandamentos da Torá de acordo com os ditames da escola de Hillel. Na era
messiânica, no entanto, quando o mundo atingir um estado de perfeição, iremos
seguir a Torá como a ensinava Shammai. Por isso, devemos sempre lembrar que não
há ensinamento alheio, não pertinente, no Talmud. Ainda que não sejam seguidos os
ensinamentos de um determinado sábio - qualquer que seja a razão para tal - não
podem, de forma alguma, ser depreciados, pois também esses preceitos são
oriundos do Monte Sinai. Há uma história sobre um sábio que afirmou que um certo
ensinamento não era de seu agrado, sendo repreendido por seus colegas que lhe
disseram ser errado afirmar que “isto é bom e isto não é”, em se tratando da Torá.
O Pentateuco, em sua totalidade, é perfeito e aquele que o estuda com o
espírito preparado - e com todo o respeito que merece - conecta-se de imediato com
D’us. Pois o Senhor de Tudo, cujo Saber é Infinito, “condensou” Sua Sabedoria em
Sua Torá, para que o homem possa entender o pouco sobre Ele que pode ser
compreendido pela mente humana. O mérito no estudo da Lei de Moisés, por si só não com o intuito de conquistar honras e louvores - tem inestimável valor para os
Céus. Sobre o estudo do Talmud, especificamente, declarou o Rabi Yehudá ha-Nassi:
“Não há medida maior de recompensa do que esta”.
Através dos séculos, o povo judeu fez muitos sacrifício, para poder estudar e
ensinar e, desta forma, preservar o Talmud. Entenderam - da mesma forma, como,
infelizmente, o fizeram seus inimigos - que, de fato, era o que os preservava. Não há
antídoto maior contra a assimilação judaica do que o estudo da Torá. E esta é uma
das razões pelas quais, juntamente com a prática da caridade, constitui o maior dos
mandamentos Divinos. Mas este estudo serve como uma confirmação disso, ainda
maior do que a sobrevivência coletiva do povo judeu. Ensinam os nossos sábios que
o estudo adequado da Torá“salva e protege” e é fonte de bênçãos para uma vida
longa, com fartura e benesses. Pois está escrito: “O alongar-se da vida está na sua
mão direita; na sua esquerda, riquezas e honra” (Provérbios, 3:16). Mesmo se apenas
um único indivíduo estudar a Torá, são tantos e tão grandes os seus méritos, que têm
o poder de acarretar bênçãos para o mundo inteiro. O judaísmo ensina que toda a
existência física é sustentada pela força da oração, pelo estudo da Toráe pela prática
de atos de bondade e justiça. Aquele que estuda a Lei de Moisés, torna-se, portanto,
parceiro d’Aquele que sustenta o Universo por Ele criado.
Os sábios talmúdicos e mestres da Cabalá revelam que o estudo da Torá serve
como escudo para a alma humana, protegendo-a após a vida. E, como “não há
esquecimento diante do Trono de Glória do Senhor”, mesmo se uma pessoa
esquecer parte da sabedoria da Torá que adquiriu, sua alma a recorda e a transporta
para a eternidade. Contanto que a pessoa se mantenha fiel a seus preceitos,
aprofundando-se nos mesmos e andando por seus caminhos, esta mesma Torá
sempre implorará diante da Corte Celestial por essa pessoa e por todo o povo judeu.
Por isso, afirmamos na prece que celebra o término de um tratado do Talmud: “A ti
voltaremos e tu retornarás a nós; nossos pensamentos estão fixos em ti, assim como
os teus estão fixos em nós; não te esqueceremos assim como tu não nos esquecerás
- nem neste mundo, nem no Mundo Vindouro!”
Tev Djmal
Tradução: Lilia Wachsmann
Bibliografia
• The Essential Talmud Rabbi Adin Steinsaltz Basic Books HarperCollins
Publishers
• The Talmud The Steinsaltz Edition Reference Guide ,Random House
• Talmud Bavli The Schottenstein Edition Artscroll Mesorah Publications, Ltda.
• The Mishnah Yad Avraham, Artscroll Mishnah Series Mesorah Publications,
Ltda.
Não há antídoto maior contra a assimilação judaica do que o estudo da Torá. E
esta é uma das razões pelas quais, juntamente com a prática da caridade, constitui o
maior dos mandamentos Divinos.
Maimônides: Os Treze Princípios da Fé Judaica
Os Treze Princípios de Fé Judaica de Maimônides são uma das declarações
mais claras e concisas da crença judaica. São, de fato, sua pedra fundamental.
Maimônides foi o maior codificador e filósofo na História Judaica. Também conhecido
como Rambam (Rabenu Moshe ben Maimon), Maimônides estudou a totalidade da
literatura judaica sagrada e codificou os princípios do judaísmo. O Povo Judeu
aceitou esses princípios como a crença clara e inequívoca do judaísmo.
Nosso propósito aqui é apresentar e discutir brevemente cada um dos Treze
Princípios de Fé de Maimônides. Esses treze enunciados são a essência da crença
judaica. Ao estudá-los, aprendemos sobre o que torna único o judaísmo: aquilo no
que nós, judeus, cremos; por que cremos no que cremos; e porque não é possível
para o Povo Judeu adotar as crenças e práticas de outras religiões.
Os Treze Princípios de Fé Judaica
Primeiro Princípio:
"Creio com plena fé que D’us é o Criador de todas as criaturas e as dirige. Só
Ele fez, faz e fará tudo”.
O Primeiro Princípio de Maimônides é a crença na existência de D’us. Este é o
princípio fundamental do judaísmo, o pilar de todos os demais. O judaísmo se inicia e
termina em D’us. Como escreve Maimônides: “A base fundamental e pilar da
sabedoria é a compreensão de que há um Ser inicial que fez todo o restante existir”.
Tudo o mais nos Céus e na terra apenas existe como resultado da realidade de Sua
existência (Yad, Yesodey HaTorah 1:1).
Segundo o judaísmo, D’us é a origem, essência e vida de tudo. D’us não é
apenas um conceito religioso, mas a Realidade Absoluta. O judaísmo ensina que
somente D’us é real, e a existência de tudo é tênue e condicionada à Vontade d’Ele.
Muitas pessoas têm certeza de sua própria existência, mas questionam a existência
Divina.
O judaísmo nos ensina que a existência Divina é certa e absoluta, ao passo que
a de todo o restante é questionável. Ademais, o judaísmo afirma que D’us é
completamente independente de toda a Sua criação, ao passo que tudo o que existe
é completa e incessantemente dependente d’Ele. Isto significa que D’us não apenas
criou tudo o que existe, mas Ele também o mantém, constantemente. Nos livros
sagrados judaicos encontramos com frequência que um dos nomes de D’us é
HaMakom – “O Lugar”. A razão para essa denominação, segundo o Midrash, é que
“D’us é o lugar do mundo, mas o mundo não é o lugar de D’us”. Isso significa que o
mundo existe dentro de D’us, e não que há um D’us nos reinos espirituais e um
universo físico que existe fora d’Ele.
A Cabalá ensina que o maior milagre de todos, possibilitado por um D’us
onipotente, é que um mundo finito existe dentro de um Ser Infinito sem se tornar
inexistente pela infinitude. O mandamento de acreditar em D’us é o primeiro dos Dez
Mandamentos: “Eu sou o Eterno, teu D’us…”.
Segundo Princípio:
“Creio com plena fé que o Criador é Único. Não há unicidade igual à d’Ele. Só
ele é nosso D’us; Ele sempre existiu, existe e existirá”.
A proclamação fundamental da fé judaica, que os judeus devem recitar
diariamente, duas vezes ao dia, é o Shemá Israel, “Escuta, Israel! O Eterno é nosso
D’us, o Eterno é um só!” (Deuteronômio, 6:4). Ao recitar o Shemá, afirmamos nossa
fé em D’us e proclamamos Sua unicidade.
A unicidade Divina é um princípio central do judaísmo. A existência e a unidade
de D’us andam lado a lado. O judeu que não crê na unidade absoluta de D’us, na
verdade não crê em D’us, ou melhor, crê em um deus que não existe.
A unicidade de D’us é um tema complexo, muito além do escopo deste
trabalho; mas é essencial observar o seguinte. Crer na unidade Divina significa não
atribuir poder a nada ou ninguém a não ser a D’us. Ele é o único Mestre do Universo.
Não podemos sequer atribuir poder independente a anjos, muito menos a objetos
inanimados, tais como os corpos celestiais, ou a seres humanos.
Muitas religiões creem em D’us, mas também em outras forças independentes
no universo, ou possuem um conceito diferente da unidade Divina. Cada nação tem
seu próprio caminho para chegar a D’us e sua própria maneira de se relacionar com
Ele. Contudo, como D’us Se revelou a todo o Povo Judeu no Monte Sinai e lhes deu
a Sua Torá, Ele exige do Povo Judeu que acredite em Sua unicidade absoluta e
incomparável.
O judaísmo ensina que a unidade de D’us não é como a de uma espécie, que
engloba muitos indivíduos. Para um judeu atribuir a D’us qualquer tipo de divisão –
mesmo entre as Sefirot – é pura idolatria. E este é um dos poucos pecados que um
judeu não pode cometer nem ao custo de sua própria vida.
A unicidade de D’us significa que Ele é uno, singular e indivisível. Significa que
Ele é a única Realidade e fonte de poder no mundo. Nada se compara a Ele, nem o
anjo mais elevado nem o mais santo entre os humanos. Um judeu que questiona a
unidade Divina viola o segundo dos Dez Mandamentos: “Não terás outros deuses
diante de Mim” (Êxodo, 20:3).
Terceiro Princípio:
“Creio com plena fé que o Criador não possui um corpo. Conceitos físicos não
se aplicam a Ele. Não há nada que se assemelhe a Ele”.
O Terceiro Princípio é que D’us não é físico, não tem corpo. Como D’us é infinito,
os conceitos de fisicalidade não se aplicam a Ele, em hipótese alguma, pois tudo o
que é físico é, por definição, finito. O universo, por exemplo, em sua imensidão, é
finito. O conceito de infinitude, portanto, apenas se aplica a D’us.
É importante observar que a Torá fala, com frequência, de D’us como se Ele
tivesse atributos físicos (como “os olhos de D’us”) e como se Ele tivesse reações
humanas (D’us “se recorda”, ou “se zanga”). Quando se refere a D’us, a Torá
emprega metáforas para que até mesmo uma criança possa relacionar-se com seus
ensinamentos. Se, em vez de dizer, “D’us se zangou”, a Torá dissesse que “o Atributo
de Guevurá Divina foi despertado”, muitos de nós não entenderíamos o que a Torá
estava a nos transmitir.
Podemos perguntar, “Se D’us é Onipotente, o que o impede de assumir forma
física ou humana?” Na verdade, o princípio de que a fisicalidade não se aplica a D’us
parece desafiar o conceito de que D’us é onipotente. Diante de tais paradoxos,
devemos ter em mente que, pelo fato de D’us estar acima de quaisquer limitações,
não podemos empregar a lógica humana para O entender. Isso não significa que a
crença em D’us é ilógica. Significa que como um ser finito não pode entender o
Infinito, tudo o que podemos conhecer acerca de D’us é o que Ele nos fez conhecer
através de Sua Torá. Quanto a questionar se D’us pode assumir forma física ou
humana, isso não é nada diferente do que perguntar se D’us pode cometer suicídio
ou criar uma divindade mais forte do que Ele ou mesmo uma pedra que Ele mesmo
não consiga levantar. Esses paradoxos não se aplicam a um Ser Onipotente e, de
fato, são insolúveis e intermináveis. Considerem o seguinte: como D’us é Onipotente,
Ele pode, sim, criar uma pedra que Ele Próprio não consiga levantar, mas, como Ele é
Onipotente, após ter criado essa tal pedra, ele consegue levantá-la.
A mente humana, finita e falível, conhece apenas uma parte infinitesimal acerca
do universo finito em que habitamos. Muito menos é o que sabemos sobre D’us.
O pouco que sabemos é o que D’us nos revelou através de Sua Torá. Na Torá,
Ele nos diz que Ele não muda. Isso é fácil de entender: como D’us é atemporal, e a
mudança é uma função do tempo, o conceito de mudança não se aplica a D’us.
Portanto, Ele, por definição, não faz nada que possa causar uma mudança em Si
mesmo. Sua infinitude, Sua onipotência, Sua unicidade, Sua eternidade e Sua não-
fisicalidade, entre todos os Seus demais atributos, são atemporais e, portanto,
eternos e imutáveis.
Quarto Princípio:
“Creio com plena fé que o Criador é o primeiro e o último”.
O Quarto Princípio envolve a eternidade absoluta de D’us. Nada mais
compartilha Sua qualidade Eterna. A Torá discute esse ponto repetidamente.
No Terceiro Princípio acima, vimos que D’us é um Ser atemporal: os conceitos
de tempo não se aplicam a Ele. Ele é o primeiro e o último, no sentido de que como
Ele está além do tempo, os conceitos de antes, durante e depois não se aplicam a
Ele. Ele não teve começo e não tem fim.
Muitas pessoas perguntam: “D’us criou tudo, mas quem O criou?”. A resposta,
obviamente, é: ninguém. A criação implica em um início, que é uma função de tempo.
E D’us é atemporal, eterno: Ele sempre existiu e sempre existirá. Portanto, D’us não
teve origem nem criador. O universo, no entanto, teve um início, e sua origem é D’us.
A Teoria da Relatividade nos ensina que o espaço e o tempo são atributos da
matéria. Isso significa que quando D’us criou um universo físico, Ele também criou o
espaço e o tempo. Como D’us precede a Sua criação, os conceitos de matéria,
espaço e tempo não se aplicam a Ele, de forma alguma. Muitos perguntam: “Quanto
tempo D’us esperou antes de criar o universo?”. A resposta, novamente, é que
antes da criação do universo, o conceito de tempo não existia. Não se pode falar de
tempo antes da Criação. D’us criou tudo o que existe, inclusive o conceito de tempo,
e continua a manter toda a Criação, incessantemente.
Quinto Princípio:
“Creio com plena fé ser adequado orar somente ao Criador. Não se deve rezar
para ninguém ou nada mais”.
O Quinto Princípio nos ensina que é absolutamente proibido orar a qualquer
outro que não seja D’us. Para o judeu, é pura idolatria orar até mesmo aos mais
elevados anjos Divinos. Como D’us é a Realidade Absoluta – pois Ele é uno, ilimitado
e Eterno – não há lugar para qualquer outro poder independente no universo. Como
D’us é Infinito, está em toda parte e prontamente acessível a qualquer um. Por ser a
única Realidade no universo, não apenas seria profano, mas também ilógico orar a
qualquer outro que não Ele.
O judaísmo proíbe totalmente que haja um intermediário entre um judeu e D’us.
Podemos pedir que alguém nos abençoe e mesmo que ore por nós, mas não oramos
a nenhum intermediário – nem a um anjo, nem a outro ser humano,
independentemente de quão santificado possa ser. Podemos pedir a outros que orem
por nós, mas isso também não nos isenta de nossa obrigação diária de orar a D’us.
Sexto Princípio:
“Creio com plena fé que todas as palavras dos profetas são autênticas”.
O Sexto Princípio refere-se à profecia.
A profecia é um elemento necessário da religião, porque para que D’us Infinito e
o homem finito tenham um relacionamento significativo, há que haver alguma forma
de comunicação entre os mesmos. O homem não pode viver de acordo com a
Vontade Divina a menos que D’us a revele a ele. A função do profeta é transmitir as
mensagens Divinas, seja ao indivíduo seja às nações.
É importante observar que uma pessoa que realiza milagres ou prevê com
precisão o futuro não é, necessariamente, um profeta. Os feiticeiros do Faraó também
conseguiam realizar milagres – fazer a água virar sangue, entre outros – e, com
certeza, não eram profetas de D’us. Um verdadeiro profeta judeu não é simplesmente
alguém que consegue realizar milagres – mas um servo de D’us, totalmente devotado
à Torá e a seus mandamentos.
A função de um profeta judeu é fortalecer a fé do povo no Todo Poderoso e em
Sua Torá. Se alguém alegando ser profeta se opõe à Torá de qualquer maneira que
seja, ele é um falso profeta, não importa quantos milagres consiga realizar.
Sétimo Princípio:
“Creio com plena fé que a profecia de Moshé Rabenu é verdadeira. Ele foi o
mais importante de todos os profetas, antes e depois dele”.
Diferentemente das demais religiões, o judaísmo não atribui poder divino algum a
seus fundadores, profetas e líderes. A Torá ensina que Moshé, o maior de todos os
profetas, era um simples ser humano, nascido de pais humanos como qualquer um
de nós. Ele era o mais humilde dos homens e chegou ao mais elevado nível espiritual
que um ser humano pode atingir. Ele soube compreender a Divindade em um grau
que superou qualquer ser que existiu.
Diferentemente dos demais profetas, antes e depois dele, Moshé falou com D’us
“face a face”, como amigos que conversam entre si. Ele foi, portanto, o canal usado
por D’us para transmitir Sua Torá ao Povo Judeu. Moshé apenas repetiu o que D’us
lhe disse, e, portanto, qualquer profeta que contradissesse suas palavras, estaria
contradizendo as palavras do Altíssimo.
É fundamental observar, como ensina Maimônides, que o Povo Judeu não
acredita em Moshé por causa dos milagres que realizou. Milagres não comprovam
nada: feiticeiros e idólatras também conseguem realizar atos sobrenaturais.
Acreditamos em Moshé não por causa das 10 Pragas e da Divisão do Mar, mas pelo
ocorrido no Monte Sinai. A Revelação Divina no Sinai é a única prova real de que a
profecia de Moshé foi verdadeira. A Torá ensina que D’us disse a Moshé: “Eis que Eu
venho a ti, na espessura da nuvem, para que o povo ouça enquanto Eu falo contigo,
e também em ti crerão para sempre” (Êxodo, 19:9). Milhões de judeus
testemunharam essa Revelação Divina, que finalmente consolidou a alegação de
Moshé de que ele era emissário de D’us.
Como ele foi o maior de todos os profetas – nem mesmo o Mashiach será um
profeta de seu calibre – não aceitamos que qualquer pessoa que alegue ser profeta
tente refutar sua profecia. Não o aceitaríamos, independentemente de quão grandes
fossem seus milagres. Como cremos em Moshé devido à Revelação Divina no Sinai,
e não devido aos milagres que realizou, os milagres realizados por outra pessoa não
têm precedência sobre a Torá, em hipótese alguma.
Oitavo Princípio:
“Creio com plena fé que toda a Torá que se encontra em nosso poder foi dada a
Moshé Rabenu”.
O Oitavo Princípio significa que a Torá que nos foi entregue por Moshé foi
originada por D’us. A Torá é a “Palavra de D’us”, não de Moshé. D’us transmitiu a
Torá a Moshé, letra por letra, e ele meramente as escreveu como um secretário que
ouve um ditado. Ele foi o “secretário” de D’us.
Segundo o judaísmo, a Torá é a Sabedoria Divina. Como seu Autor é perfeito e
eterno, assim é a Torá. Se um ser humano tivesse escrito a Torá, até alguém tão
sagrado quanto Moshé, estaria sujeita a correções e mudanças. Como foi escrita por
D’us, é imutável. É por isto que, segundo a Lei Judaica, um pergaminho de Torá não
pode conter erro algum: se apenas uma única letra estiver faltando ou incorreta, todo
o Sefer Torá fica invalidado.
Cada letra, palavra ou versículo da Torá são igualmente sagrados. O judeu que
diz que D’us deu a Torá toda à exceção de uma única palavra, que foi composta por
Moshé e não por D’us, é um cético da pior espécie.
Cada mandamento dado a Moshé no Monte Sinai foi entregue juntamente com
uma explicação. Pois está escrito: (Sobe a Mim, ao monte…); e dar-te-ei as tábuas
de pedra, a Torá e instruções” (Êxodo, 24:12). “Torá” refere-se à Torá Escrita,
enquanto “instruções” são sua interpretação. A Torá Escrita não pode ser entendida
sem sua interpretação. Essa interpretação é o que chamamos de Torá Oral.
Nono Princípio:
“Creio com plena fé que esta Torá não será alterada, e que nunca haverá outra
dada pelo Criador”.
O Nono Princípio é o que verdadeiramente diferencia o judaísmo de todas as
demais religiões. Esse princípio ensina que a Torá é permanente e imutável. Por esta
razão os judeus não se podem converter a nenhuma outra religião – porque o
judaísmo não aceita que se mude a Torá – Escrita e Oral – de forma alguma. D’us nos
diz em Sua Torá: … “Não acrescentareis nem subtraireis nada disso” (Deuteronômio,
13:1).
A Torá tem 613 mandamentos. Nenhum ser humano, nem mesmo um grande
profeta pode agregar, subtrair ou mudar qualquer um deles. Todas as leis rabínicas
instituídas por nossos Sábios têm que ser uma ramificação de um desses 613
mandamentos
– não um novo mandamento em si mesmo. A Torá e seus
mandamentos são a Constituição do Povo Judeu. Nossos sábios e juízes podem
interpretar a Lei e reforçá-la. Contudo, não podem adulterá-la. Por exemplo, ninguém
– nem um rabino nem mesmo um profeta – pode decretar que as leis de cashrut não
mais se aplicam ou então mudar o dia em que guardamos o Shabat. É permissível
decretar leis rabínicas para fortalecer as leis bíblicas, mas está além do poder de
qualquer ser humano modificar lei alguma da Torá.
D’us deu a Torá apenas ao Povo Judeu. Outras religiões adaptaram-na ou a
modificaram. Isso pode ser aceitável para eles, mas certamente não para o Povo
Judeu. Alguém que alega ser profeta e tente mudar um pingo da Torá para o Povo
Judeu, é um falso profeta. O mesmo se aplica se essa pessoa tentasse ensinar que
os mandamentos dados ao Povo de Israel são temporários, e não perpétuos.
A Torá – Sabedoria e Vontade de D’us – é inalterável e intocável. Tentar
encontrar falhas nela – mudá-la de alguma forma – é buscar falhas em seu Autor.
Assim como D’us é Eterno e Imutável, também o é a Torá. As circunstâncias que
determinam as leis da Torá podem mudar – por exemplo, na ausência do Templo
Sagrado, somos incapazes de cumprir muitos dos mandamentos da Torá. Da mesma
forma, durante a Era Messiânica – uma era de paz e prosperidade universal – muitas
das leis da Torá, tais como as relativas ao roubo e homicídio, deixarão de ser válidas.
Mas isso não significa que a Torá mudará, e sim, que algumas de suas leis não mais
serão aplicáveis.
Há uma declaração no Livro de Isaías sobre a entrega de uma nova Torá, no
futuro. Isso significa que na Era Messiânica, nossa compreensão da Torá será tão
mais profunda do que é hoje – já que a Sabedoria Divina cobrirá a Terra – que
aparentará ser uma nova Torá. No entanto, será a mesma Torá, porque, apesar de ter
mudado o mundo, D’us e Sua Sabedoria não mudarão.
Décimo Princípio:
“Creio com plena fé que o Criador conhece todos os atos e pensamentos do
ser humano. Como está escrito (Salmos, 33:15), “Ele analisa os corações de todos e
perscruta todas as suas obras”.
O Décimo Princípio diz que D’us é Onisciente: Ele sabe tudo o que ocorre no
universo e tudo o que os homens fazem. Esse princípio nega a opinião daqueles que
alegam que... “O Eterno abandonou o Seu mundo…” (Ezequiel 9:9).
Esse princípio é fundamental não apenas para o judaísmo, mas para qualquer
religião, pois um D’us que não é onisciente não é D’us. Não conhecer todos os atos e
pensamentos humanos implica em falibilidade e limitações, e D’us é infalível e
ilimitado. Para poder julgar o homem com justiça, D’us precisa conhecer seus
pensamentos, palavras e atos.
Décimo-primeiro Princípio:
“Creio com plena fé que o Criador recompensa aqueles que cumprem Seus
preceitos e pune quem os transgride”.
O Décimo-primeiro Princípio nos ensina que D’us não é apenas o Criador do
Universo e seu Legislador, mas também seu Juiz. O judaísmo rejeita, com veemência,
o conceito do Deísmo – de que D’us criou o mundo e depois o abandonou. Sabemos
perfeitamente que a justiça humana falha – vemos pessoas justas sofrerem e pessoas
más prosperarem – mas o judaísmo nos ensina que, no fim das contas, nesta vida ou
na outra, D’us aplica a justiça. É importante notar que como D’us é infinito e eterno,
atemporal, também o são Suas recompensas e punições.
A maior recompensa Divina possível é o Mundo Vindouro, ao passo que o maior
castigo possível é ser banido do mesmo. Portanto, D’us pode recompensar alguém
com júbilo infinito ou sofrimento. Aqueles que perpetram a maldade neste mundo
devem saber que, um dia, D’us os responsabilizará por seus atos e os punirá, de
acordo. É importante que não interpretemos o conceito de recompensa e castigo do
judaísmo de maneira infantil. Recompensa é a consequência direta de se ligar à
Origem de Toda a Vida, ao passo que a punição é o sofrimento que se segue ao
distanciamento da pessoa de D’us. Cada vez que um ser humano realiza um ato de
bondade, de nobreza ou de santidade, ele fortalece sua conexão com D’us. Por outro
lado, cada vez que ele comete uma ação reprovável ou viola a Vontade Divina, ele
enfraquece essa conexão. O propósito dos mandamentos da Torá é fortalecer nosso
vínculo com D’us.
Décimo-segundo Princípio:
“Creio com plena fé na vinda de Mashiach. Mesmo que demore, esperarei por
sua vinda a cada dia”.
A crença na vinda do Mashiach é um dos princípios fundamentais do judaísmo.
Infelizmente, esse conceito criou muitas divisões e disputas entre indivíduos, nações e
religiões. Cada pessoa e cada grupo religioso têm direito a ter suas próprias opiniões,
inclusive sobre a identidade do Messias, sobre quando ele virá e sobre o que
ocorrerá na Era Messiânica.
No entanto, é importante observar o seguinte: o judaísmo apresentou ao mundo
o conceito do Mashiach. Portanto, se buscamos conhecer objetivamente o assunto,
temos que procurar em sua fonte original.
Segundo o judaísmo, para que um homem seja o Messias, é necessário que
preencha as seguintes condições: seus pais precisam ter sido judeus e ele precisa
ser descendente da Casa de David. Portanto, o Messias e todos os seus
antepassados paternos têm que pertencer à tribo de Yehudá. Um Cohen ou Levi, por
exemplo, não pode ser o Messias.
O Mashiach será um grande líder e um profeta, um Tzadik e um Sábio que irá
seguir meticulosamente a Torá Escrita e a Torá Oral. Ele irá liderar todos os judeus de
volta ao caminho do judaísmo e fortalecerá o cumprimento de suas leis.
Além de possuir tais qualidades, há certas coisas que o Messias precisa fazer
para comprovar ser quem é. Precisa construir o Templo Sagrado de Jerusalém e
reunir todos os judeus que vivem na Diáspora e levá-los à Terra de Israel. Ele, então
trará uma era de paz para todo o mundo. Liderará este mundo à sua perfeição e
levará todos os seres humanos – judeus ou não – a servirem a D’us em unidade.
Na Era Messiânica, não haverá idolatria, roubo nem injustiça. Não haverá guerras
nem fome. A inveja e a competição deixarão de existir, pois todas as coisas boas
abundarão e todos os tipos de delícias serão comuns como o pó da terra. A principal
ocupação da humanidade será conhecer D’us. Nas palavras do profeta Isaías: “…
porque a Terra estará repleta do conhecimento do Eterno, como as águas cobrem o
mar” (Isaías, 11:9).
Décimo-terceiro Princípio:
“Creio com plena fé na Ressurreição dos Mortos que ocorrerá quando for do
agrado do Criador”.
O Décimo-terceiro Princípio envolve a ressurreição dos mortos. A importância
desse conceito é nos ensinar que na Era Messiânica D’us aperfeiçoará o mundo,
mesmo retroativamente. Além de ninguém morrer, mesmo os já falecidos voltarão à
vida.
A ressurreição dos mortos é um dos fundamentos do judaísmo. O Décimoterceiro Princípio nos ensina que apesar do histórico de guerras e sofrimento do
mundo, tudo terminará com um final feliz. D’us recompensará os justos do mundo,
judeus ou não, com uma recompensa eterna.
Conclusão
Neste trabalho, explicamos muito brevemente os Treze Princípios de Fé de
Maimônides. Eles constituem os pilares do judaísmo.
Antes de concluir, temos de fazer a seguinte observação. O judaísmo pertence
exclusivamente ao Povo Judeu. Os Treze Princípios de Fé de Maimônides, portanto,
apenas têm relevância para os judeus. Outras religiões têm seus próprios profetas,
livros sagrados e ideias sobre D’us.
O judaísmo ensina que não é necessário ser judeu para conseguir ligar-se a
D’us, receber a recompensa Divina e ter um lugar no Mundo Vindouro. Basta ser uma
pessoa justa e viver uma vida de integridade, justiça e bondade. D’us tem muitos
filhos, e Ele tem diferentes expectativas de Seus filhos. O cristianismo é o caminho
certo para os cristãos, o Islã é o caminho certo para os muçulmanos e o judaísmo é o
único caminho para os judeus. É fundamental para todos os judeus entenderem e
praticarem o judaísmo. Os Treze Princípios de Fé de Maimônides resumem a sua
essência: aquilo em que nós, judeus, cremos, e por que o Povo Judeu deve
permanecer fiel, para sempre, à Torá e a seus mandamentos.
BIBLIOGRAFIA
Rabi Kaplan, Aryeh, Maimonides Principles: The Fundamentals of Jewish Faith,
Mesorah Publications Ltd
Rabi Shneur Zalman M’Liadi, Shaar HaYichud VeHaemunah
Rabi Dr. Schochet, Jacob Immanuel, Judaism: Discourse - Questions and
answers with Immanuel Schochet - www.youtube.com Rabi Dr. Schochet
IMPACTOS DA ÉTICA JUDAICA NO SÉCULO XXI
Vivemos em um mundo extraordinário. Os acelerados avanços tecnológicos têm
multiplicado a capacidade da humanidade de produzir bens e serviços.
As revoluções na informática, robótica, micro-eletrônica, biotecnologia, genética,
comunicações e outros campos têm criado possibilidades econômicas inéditas.
Ao mesmo tempo, 30 mil crianças morrem diariamente devido à miséria, 800
milhões de pessoas estão desnutridas, 3 bilhões são pobres.
A polarização social tem alcançado índices absurdos. As três pessoas mais ricas
do mundo têm um patrimônio maior que o produto bruto dos 49 países mais pobres.
A América Latina, região de excepcional potencial econômico, rica em matériasprimas estratégicas, fontes de energia baratas e terras muito férteis, é vista hoje como
a terra da pobreza e desigualdade. Sessenta por cento das crianças são pobres,
36% dos menores de 2 anos estão desnutridos, 1/3 da população não tem água
potável.
Junto a estes paradoxos extremamente impactantes, a sensação que o grande
filósofo canadense Charles Taylor denomina de “o desencanto do mundo” se espalha
entre as novas gerações. A atual sociedade consumista, voltada aos bens materiais,
à concorrência feroz para alcançar melhores posições, à luta pelo dinheiro e poder,
gera uma sensação de solidão, que Victor Frankl chamou de um dramático “vácuo
dos sentidos”.
As respostas a estes graves problemas não parecem claras. Cresce o ceticismo
sobre até onde pode chegar uma globalização repleta de oportunidades
tecnológicas, mas totalmente carente de um código ético que a oriente.
Neste contexto, as propostas da ética judaica estão tendo valor crescente como
referência e orientação. Muitas delas estão sendo retomadas com vigor por
organismos internacionais, ONGs e movimentos que visam um mundo melhor.
Vejamos resumidamente o atual impacto de algumas destas propostas:
n Um princípio básico da mensagem moral transmitido por D’us ao povo judeu é
o de que somos responsáveis uns pelos outros. Para a ética judaica é proibida a
indiferença ao sofrimento de outros. Diz-se no Levítico: “Não desconsideres o sangue
de teu próximo” (19:16). Nossa época carateriza-se por altas doses de egoísmo,
daqueles que têm face aos que não têm, e de insensibilidade. O secretário geral da
ONU, Kofi Anan, ao exigir recentemente que o mundo supere a indiferença diante da
morte de 22 milhões de pessoas nos últimos anos por Aids, determinou que é
imprescindível voltarmos a ser responsáveis uns pelos outros.
• Para a ética judaica, a pobreza não é um problema apenas dos pobres, mas
de todos. Leibowitz observa que os profetas dizem “Não haverá pobres entre vós”.
Não estão dizendo o que irá acontecer, mas o que deveria acontecer. Sua voz não é
de oráculo, senão de exigência moral. Para que não haja pobres, a sociedade deve
tomar algumas medidas. Diante daqueles que, na América Latina, atribuem a pobreza
dos pobres a eles mesmos, o judaísmo se revolta porque considera tal atitude uma
injustiça. Esta mensagem foi recentemente incorporada à Carta dos Direitos
Humanos da ONU. Entre estes, foram incluídos os direitos básicos do homem a não
ser pobre, à alimentação, à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia entre outros.
A partir de agora estes são direitos essenciais do ser humano, embora proclamados
há milênios pela ética judaica.
• As grandes desigualdades são severamente censuradas pelo judaísmo. Os
profetas questionaram-nas implacavelmente e julgaram moralmente os poderosos
que as fomentavam. O judaísmo criou uma institucionalidade completa para prevenir
as polarizações sociais. A Torá estabelece que a cada 7 anos a terra deve descansar
para que os pobres possam aceder a seus frutos. A cada 50 anos a terra deve
retornar a seus proprietários originais. Procura-se assim impedir sua monopolização.
É o jubileu. Assim mesmo, a cada 7 anos as dívidas devem ser perdoadas. O grande
movimento mundial vigente pelo perdão total ou parcial da dívida dos países mais
pobres do mundo, encabeçado pelo Papa João Paulo II, apoiou-se nesta mensagem
e intitula-se “Movimento do Jubileu”.
• Em recente pesquisa realizada pelo Banco Mundial, 60 mil pobres de todos os
continentes disseram que o que mais lhes dói é o desprezo, o fato de serem tratados
como pessoas inferiores por serem pobres. A Torá estabelece o mais absoluto
respeito pelo pobre. É idêntico aos outros. D’us se preocupa especialmente por ele e
exige este respeito. O Rabino Leo Baeck observa que no idioma hebraico não existe
a palavra mendigo, por si só pejorativa. Esta determinação de se escutar e respeitar o
pobre está sendo um eixo para a ação dos organismos internacionais.
• Como ajudar o desfavorecido? Este tema, discussão permanente nos
organismos internacionais, foi analisado por Maimônides no século XII aplicado à
ética judaica. O genial sábio identificou oito níveis sobre “a ajuda”. O nível inferior é
quando ajuda-se alguém de má vontade. A segunda categoria é quando aquele que
ajuda e aquele que recebe desconhecem um ao outro; neste momento, o anonimato
que protege a dignidade do pobre é completo. No entanto, o nível mais alto de todos,
a melhor ajuda que alguém possa dar, é aquela que fará com que o necessitado não
volte mais a precisar dela. Hoje, na ONU e nos principais organismos em prol do
desenvolvimento, procura-se que os projetos tenham orientação no sentido de que
haja sempre esta auto-sustentação enfatizada por Maimônides.
• Na ética judaica, ajudar os outros é um dever imprescindível. Como tal, não
merece nenhum prêmio nem reconhecimento. O Rebe de Lubavitch observa que a
ajuda deve ser desinteressada, não se deve esperar nada em troca e, exemplificando
isto, destaca que no dia mais sagrado do judaísmo, o Dia do Perdão, nas orações
sefaraditas pede-se perdão à D’us não só pelos prejuízos causados ao próximo, mas
também pelos atos que não foram feitos desinteressadamente. O Rabino Abraham Y.
Heschel diz que ajudar é simplesmente “o modo de viver correto”. O prêmio está em
viver-se desta forma. A força destes conceitos no judaísmo, seu contínuo
ensinamento no âmbito familiar e na escola judaica assentaram as bases para
grandes resultados em matéria de trabalho voluntário. Os países estão tentando dar
forças ao voluntariado e vêem com crescente interesse os bons resultados. Israel e as
comunidades judaicas têm índices recordes de trabalhadores voluntários. Em Israel,
25% da população pratica trabalho voluntário, produzem principalmente bens e
serviços sociais que representam 8% do PNB. Exércitos de voluntários, de diferentes
comunidades judaicas do mundo, trabalham diariamente levando adiante suas
instituições e programas em proporção superior às médias de seus respectivos
países. A conclusão é clara: a possibilidade de desenvolver o voluntariado está ligada
à interiorização dos valores éticos pelas pessoas.
• Hoje vemos duas instituições fundamentais do judaísmo que são bases da
sociedade: a família e a educação. O judaísmo lhes assegura o mais alto valor. A Torá
dá especial destaque. A ética judaica zela vigorosamente pelas relações entre marido
e mulher, pais e filhos, irmãos e até sogros, genros e noras. O Rabi Yoshua Ben
Gamla criou no ano 69 a primeira escola pública de que se tem referência. Hoje,
muitos países estão analisando como fortalecer a família, duramente deteriorada, e
gerar educação. O judaísmo tem contribuições muito expressivas para oferecer
nestes campos.
• Nas sociedades latino-americanas, entre outras, adota-se com frequência
políticas que sabidamente irão significar grande sofrimento para a população, com o
argumento de que “o fim justifica os meios” e que são necessários para que haja
maior crescimento econômico. A ética judaica não aceita tal raciocínio. Na Torá podese ler textualmente que “o fim não santifica os meios”. Refletindo sobre esta
diferença, Albert Einstein perguntava “Quem havia sido o melhor condutor dos
homens, Maquiavel (autor original do princípio de que o fim justifica os meios) ou
Moisés? Quem teria dúvidas sobre a resposta?”
• Como encarar a pobreza e a desigualdade na América Latina e no mundo? O
judaísmo indica caminhos que ecoam de forma crescente. Para este, o problema
deve ser encarado por uma ação conjunta de todos os agentes sociais. Cada um
deles deve assumir suas responsabilidades. Necessita-se de políticas públicas muito
ativas. O judaísmo criou a primeira legislação fiscal sistemática para uso coletivo, o
dízimo. Por outro lado, a comunidade e a sociedade civil devem organizar-se e agir. E,
finalmente, tudo isso não exime cada pessoa de individualmente fazer o correto em
cada situação de miséria ou injustiça com que se depare.
• Uma idéia central do judaísmo é a de Tikum Olam – ajudar a consertar o
mundo. O Rebe de Lubavitch faz menção a uma simples interpretação de um
conhecido episódio bíblico. Depois de sair do Egito e atravessar o deserto, quando
os judeus se aproximam de Canaã, Moisés envia 12 exploradores. Ao regressarem, 9
deles desestimulam as pessoas, dizendo-lhes que não continuem. Com freqüência
são considerados traidores. O Rebe observa que Moisés escolheu os melhores de
cada tribo, eram pessoas excelentes; porque iriam ser desleais? O que ocorreu é que
encontraram-se com sociedades perdidas na luxúria, corrupção e idolatria. O povo
judeu, no deserto, era em contrapartida um povo espiritual entregado ao estudo da
Bíblia. Temiam que seguindo para Canaã pudessem ser contaminados. Mas, se
equivocaram disse o Rebe, pois o desejo de D’us era diferente. O que D’us queria
não era que se recolhessem para conservar sua pureza e sim que levassem a
espiritualidade aos mundanos, que difundissem os valores éticos nas sociedades
infestadas de vícios. Em uma época como a nossa, em que tantas ideologias
tombaram, a proposta do judaísmo de avançar até que o mundo se redima
eticamente – e de que não é permitido ficar à deriva, mas sim agir para transformá-lo
e lhe dar valores éticos – prevê grande duração e diz muito a todos os homens e
mulheres empenhados em uma humanidade melhor.
A ética judaica está viva e fresca, podendo ajudar a enfrentar o “desencanto do
mundo”, o “vácuo dos sentidos” e a inadiável conscientização dos paradoxos da
grande pobreza em meio à riqueza potencial que particularizam a América Latina e o
mundo. A mensagem deste conjunto ético foi dita pelo sábio do Século I, Hillel: “Se
eu não for por mim, quem o será?” significa dizer que todos devemos defender nossa
saúde, nossa vida, nossa família; somos insubstituíveis nisto. Mas, acrescentou: “E se
eu for somente para mim?”, significando que a vida sem solidariedade,
responsabilidade pelo destino de outrem, amor ao próximo, transcedência, não faz
sentido. Finalizou: “Se não agora, quando?” O que espera a ética judaica de cada um
de nós é que entremos em ação, agora!
Bernardo Kliksberg é presidente da Comissão de Desenvolvimento Humano do
Congresso Judaico Latino-americano; assessor da ONU, OIT, UNESCO, UNICEF
entre outros organismos internacionais.
MILAGRES NA FILOSOFIA JUDAICA MEDIEVAL
Os milagres eram um tema importante nos escritos dos filósofos medievais.
Muitos dentre eles tinham dificuldade em aceitar a noção bíblica referente aos
milagres.
Era difícil explicar certos milagres bíblicos em termos de ciência contemporânea
e, por outro lado, a aceitação de milagres requeria a crença na Criação e na Divina
Providência -noções rejeitadas pela filosofia grega.
Saadia Gaon (882-942)
Saadia ben Joseph, também conhecido como Rabi Saadia Gaon por ter sido
apontado como Gaon (chefe) da Academia de Sura, na Babilônia, pode ser
considerado o pai da filosofia medieval. Seu sistema filosófico é amplamente
detalhado em seu livro Emunot Vedeot, O livro das Crenças e Opiniões. Ele não
questiona os milagres. Saadia Gaon coloca a possibilidade de que D'us considere
apropriado alterar sua Criação com o intuito de confirmar Suas revelações aos
profetas. Em seu livro, O livro das Crenças e Opiniões (cap.3:4,5), Saadia insiste que
o propósito dos milagres é confirmar o profeta como mensageiro de D'us e suas
palavras como verdadeiras. Ele também acredita que há uma correlação completa
entre o conteúdo da revelação e as conclusões da investigação racional - a existência
de D'us, Sua unicidade e a criação do mundo. Entretanto como a verificação
intelectual das doutrinas reveladas é acessível a poucas pessoas, Saadia é da opinião
que revelações e milagres eram necessários para a maioria do povo.
A interpretação alegórica dos milagres é feita por Saadia apesar do próprio
Midrash ter registrado muitas interpretações alegóricas. Enquanto aceitava o fato de
que todas as palavras da Torá eram divinas, ele insistia que a verdade da Bíblia está
na razão e que sempre que a Bíblia parece entrar em conflito com a razão, as
palavras devem ser entendidas em um sentido metafórico e alegórico. (Gênese 3:1)
Desta forma ele explica as palavras da serpente e do asno falante de Bilaam
(Números 22:28).
Em relação à compreensão do texto da Torá em geral, Saadia argumenta que
um texto pode ser interpretado contrariamente ao seu sentido literal, quando
contradiz a razão. Tudo isto é baseado em provas ou comprovado por milagres. Os
profetas, por exemplo, deve-riam, em sua opinião, provar sua missão através de
milagres públicos. Esta teoria levou à doutrina da tradição, de Saadia, que afirma
existirem três fontes de sabedoria: percepção sensorial, evidência racional e
conclusões racionais tomadas a partir de dados fornecidos pela razão e aliadas à
percepção. A convicção numa tradição fidedigna fundamentou sua noção de fé
religiosa.
Yehuda Ha-Levi (1075-1141)
Os ensinamentos de Rabi Yehuda Ha-Levi se baseiam no conceito de que a
experiência religiosa imediata é superior às deduções racionais. Desta forma Ha-Levi
define o profeta como aquele que atingiu o mais alto grau de perfeição possível à
imaginação. Apesar do raciocínio humano negar facilmente a possibilidade da
ocorrência de milagres, estes fatos são sustentados pela autenticidade da tradição
que os presenciou. Yehuda Ha-Levi não considera os milagres como Saadia Gaon,
que os considerava uma afirmação da Revelação. Por sua vez ele considera os
milagres como uma revelação direta de D'us. Considera milagre a comunicação direta
de D'us com as pessoas ou com as nações. O desvio da ordem natural das coisas
com o propósito de guiar o ser humano a seu destino religioso é um milagre. A
autenticidade da revelação de D´us no Monte Sinai foi estabelecida pelo fato de que
todos os israelitas, tanto crianças como adultos, foram presenteados com a profecia
por intermédio de Moisés e puderam testemunhar a Revelação como experiência
própria.
Resumindo, para Yehuda Ha-Levi a Revelação bíblica é a fonte da verdade
religiosa e como foi um ato público no Sinai, é inquestionável. Somente a clara
determinação do relacionamento entre D'us e o indivíduo está além do que pode ser
conhecido como filosofia.
Maimônides (1135-1204)
A maior obra filosófica escrita por Rabi Moses ben Maimon, também conhecido
como Maimô-nides, é o Guia dos Perplexos.
Esta obra foi feita para conciliar algumas diferenças entre revelação e filosofia e
para ser uma espécie de guia àqueles que têm dúvidas sobre a filosofia ou a religião
devido à aparente contradição entre ambas. Maimônides não considera que uma seja
contrária à outra. Filosofia é o meio através do qual o indivíduo compreende a
Revelação. A fé religiosa é uma forma de sabedoria. A filosofia é um elemento central
dentro da própria religião. Desta forma aprender a filosofia é uma tarefa religiosa e a
filosofia pavimenta o caminho para D'us.
Para Maimônides, os milagres foram predeterminados no momento da Criação e
desta forma não constituem uma mudança na vontade de D'us. Em sua opinião, são
necessários para sustentar a autoridade da Revelação perante o povo. Maimônides é
muito cauteloso em não definir o milagre como uma anulação das Leis Divinas sobre
a natureza.
Ele também é cuidadoso ao evitar que a afirmação da atividade sobrenatural de
D'us seja utilizada como meio de interrupção da ordem natural da criação. Em seu
comentário da Mishná, Maimônides ensina que os milagres foram inseridos na
natureza no momento em que D'us criou o mundo.
Em seu Guia dos Perplexos, Maimônides não parece mais se ater a esta posição
extrema que excluiria qualquer interferência de D'us no curso da natureza. Ele admite
a possível suspensão temporária da ordem natural das coisas como parte do plano
Divino. Muitas narrativas milagrosas, especialmente as mais extraordinárias, como a
de Bilaam falando com um asno ou a fala da serpente no Jardim de Éden, são
explicadas por Maimônides alegoricamente ou através de interpretações de histórias
como parte da visão profética. Quando um profeta descreve a ruína de um reinado ou
a destruição de uma grande nação com expressões como "as estrelas caíram" ou "a
terra está perdida e treme", utiliza metáforas para se referir aos derrotados. Enquanto
os vitoriosos aproveitam a Luz e a alegria, os derrotados estão na escuridão.
Para explicar a linguagem figurada da Bíblia, em seu Guia dos Perplexos,
Maimônides cita o Salmo 77, cap. 17-19, referindo-se à morte dos egípcios no Mar
Vermelho: "As águas viram-nos e ficaram com medo, as profundezas tremeram... a
terra tremeu e estava confusa." Maimônides afirma que um milagre não pode provar
aquilo que é impossível. Serve apenas para confirmar o que é possível.
Maimônides, pois, explica que realidade deriva da Razão Divina e que nem tudo
que é imaginável é necessariamente possível. Ele eleva os milagres de Moshé acima
de todos os outros. A verdade metafísica vem de momentâneos flashes de
iluminação, algo comum na filosofia e na profecia.
Os profetas costumavam usar parábolas e metáforas porque o indivíduo comum
não consegue compreender a verdade em sua forma pura. Somente o filósofo é
capaz de fazê-lo, já que o conhecimento metafísico exige a perfeição do intelecto e a
purificação da personalidade humana.
Gershon ben Levi (1288-1344)
Para explicar a natureza dos milagres, Rabi Gershon ben Levi (Gershonides)
estudou os milagres bíblicos, concluindo que podem ser classificados em aqueles
que envolvem mudança na matéria e outros em que a matéria permanece a mesma.
Como exemplo dos primeiros, há a transformação do bastão de Moshé em serpente,
e do rio Nilo em sangue. E como exemplo dos segundos há a mão de Moshé quando
se torna leprosa. Indo mais além, divide os milagres entre aqueles em que o profeta
foi avisado antes (Dez Pragas do Egito) e aqueles nos quais não houve aviso prévio.
Sua análise dos milagres mostra que todos foram realizados ou relacionados com os
profeta e que foram feitos com bom propósito. Segundo Rabi Gershon, como os
milagres não parecem ser acidentais, devem ter como autores alguém que tem
conhecimento espiritual de D'us, a chamada Inteligência Divina ou o próprio profeta).
Conclui que o Autor de milagres é o mesmo que o Inspirador dos profetas, cujo
Intelecto tem como conteúdo o sistema da criação unificado como uma idéia abstrata
(por exemplo, o Intelecto Ativo). Assim, para Gershon ben Levi, o profeta sabe dos
milagres porque o Intelecto Ativo, seu Autor, é também a Causa da inspiração
profética.
Nachmânides (1194-1270)
Durante a vida de Rabi Moshe ben Nachman havia filósofos que continuavam a
repudiar a crença em milagres, explicando-os com alegorias, enquanto outros
tentavam provar que eles de fato ocorreram. Nachmânides, diferentemente de
Maimônides, sugere que o milagre precede a natureza. Desta forma, para
Nachmânides o milagre não é um acontecimento isolado, mas uma realidade
sobrenatural imutável. Em sua opinião, a natureza e a ordem do mundo não afetam o
propósito da Torá e desta forma o destino de Israel é passível de milagres. Entretanto
os milagres não conflitam necessa-riamente com a ordem natural das coisas.
Nachmânides postula uma distinção entre os milagres evidentes (por exemplo,
aqueles que desviam da ordem natural, servindo para trazer fé aos céticos), e os
milagres ocultos, que consistem de coincidências não usuais de um certo número de
eventos. Os milagres ocultos e sua natureza milagrosa serão evidentes somente para
os que têm fé.
Hasdai Crescas (1340-1410)
Rabi Hasdai Crescas desenvolve a mais completa crítica da posição de
Maimônides sobre os milagres. Assumindo que o mundo foi criado a partir do nada,
mas não teve início temporal, o mundo é continuamente renovado pela infinita graça
de D'us. Já que D'us é o Todo Poderoso e a Bondade Infinita, os milagres
(instrumentos do bem) não estão meramente no poder de D'us mas são um efeito
necessário de Sua existência. Para Crescas, os milagres nem são desvios da
natureza nem conflitam com esta, mas sim uma expressão da ordem sobrenatural.
Enquanto as ocorrên- cias naturais são trazidas por D'us indiretamente, expressando
sua força limitada, o milagre é trazido diretamente por D'us, expressando o seu poder
ilimitado e tendo uma existência absoluta. Para Crescas, o mundo em si é na verdade
um milagre perpétuo que abrange a ordem natural. O milagre precede a natureza e
seu verdadeiro propósito é trazer a fé aos céticos e reforçar a fé daqueles que já a
têm. Para Crescas, a cada evento no qual a onipotência de D'us é revelada, D'us Se
torna presente para os humanos. Como a graça de D'us é infinita, deve forçosamente
se revelar a toda a humanidade.
LINKS INTERESSANTES:
Talmude babilônico
Dos quase de 500 manuscritos hebreus mantidos pela Biblioteca Estatal da
Baviera, este apresentado aqui é, sem dúvidas, o mais valioso. Este é o único
manuscrito restante no mundo que contém, com exceção de duas folhas faltantes, o
texto completo do Talmude babilônico, incluindo alguns tratados extra canônicos:
Derekh Eretz zuta, Pirkei Azzai, Kallā, Sôferîm e Gērîm. Além disto, o manuscrito
contém alguns textos que não estão diretamente relacionados ao Talmude. Vários
registros dos nomes de proprietários possibilitam traçar a história do manuscrito, que
foi escrito na França em 1342. De acordo com um registro em um manuscrito de
uma bíblia agora preservada na Biblioteca Estatal e Universitária de Hamburgo, este
Talmude estava em posse da família de comerciantes judeus Ulma em Pfersee
próximo a Augsburgo no ano de 1772. Certo tempo depois, ele foi vendido ao
prioriado agostianiano de Polling (Alta Baviera). Depois do fechamento do mosteiro
em 1803, o manuscrito foi transferido, juntamente com outros livros valiosos, para a
biblioteca da corte de Munique, que tornou-se a Biblioteca Estatal da Baviera, onde
está agora preservado. O Talmude (que significa instrução ou aprendizado) é um texto
central do judaísmo e registra as discussões rabínicas sobre lei, ética, costumes,
história e filosofia judáicas. O Talmude babilônico é uma coleção de opiniões rabínicas
escrita entre os séculos III e V na Babilônia (atual Iraque) e no local que é hoje Israel.
https://www.wdl.org/pt/item/8910
Comentário sobre o Tratado Avot
Este manuscrito contém um dos comentários de Mamônides sobre Mishnah, o
primeiro trabalho de importância do judaísmo rabínico. O comentário é sobre o
Tratado Avot (Ética dos Patriarcas), no qual Mamônides elucida a moralidade e
natureza da alma do homem, com uma introdução (Shemonah perakim) (Oito
capítulos). Também incluídos estão os treze princípios da crença ou artigos da fé, um
credo do judaísmo formulado por Mamônides, uma versão da qual é ainda usada na
maioria dos livros de preces dos judeus. Entre os princípios afirmados no credo, estão
a unicidade de Deus, as origens divinas do Torá, a vida após a morte e a vinda do
Messias. Moses ben Maimon, mais conhecido como Mamônides, foi um teólogo,
filósofo e médico judeu. Ele nasceu em Cόrdoba, Espanha, em 1135. Em 1160,
mudou-se com sua família para Fez, no Marrocos, para escapar da perseguição
religiosa e, posteriormente, estabeleceu-se no Cairo, onde se tornou o médico
pessoal do sultão e sua família. Ele também serviu como chefe da comunidade
judaica do Cairo, onde morreu em 1204. Suas obras sobre teologia, direito, filosofia e
medicina, a maioria escrita em árabe e traduzida para o hebraico, latim e outros
idiomas, influenciaram amplamente tanto o mundo judeu como o não-judeu.
https://www.wdl.org/pt/item/3964/
Comentário Mishná em Judaico-Árabe
Este manuscritro contém comentários sobre Mishnah por Mamônides:sobre
Seder Moed (do meio do tratado Eruvin), e sobre Seder Nashim. O manuscrito mostra
correções e emendas feitas a mão pelo próprio Mamônides, assim como notas
adicionadas nas margens pelo seu filho, Abraham-he-Hasid, e por David ha-Nagid II e
outros. Os títulos foram escritos na escrita quadrangular Sefardi. O manuscrito foi
adquirido em Damasco, em 1908, pelos irmãos Toledano, os quais o vendeu para o
célebre bibliófilo David Solomon Sassoon (Coleção nro. 72-73) e seus descendentes.
Foi adquirido pela Biblioteca Nacional e Universitária Judáica em 1975. Moses ben
Maimon, mais conhecido como Mamônides, foi um teólogo, filósofo e médico judeu.
Ele nasceu em Cόrdoba, Espanha, em 1135. Em 1160, mudou-se com sua família
para Fez, no Marrocos, para escapar da perseguição religiosa e, posteriormente,
estabeleceu-se no Cairo, onde se tornou o médico pessoal do sultão e sua família.
Ele também serviu como chefe da comunidade judaica do Cairo, onde morreu em
1204. Suas obras sobre teologia, direito, filosofia e medicina, a maioria escrita em
árabe e traduzida para o hebraico, latim e outros idiomas, influenciaram amplamente
tanto o mundo judeu como o não-judeu.
https://www.wdl.org/pt/item/3967/
Coleção de Vários Trabalhos de Mamônides
Este manuscrito contém traduções de vários trabalhos de Mamônides, do
original árabe para o hebraico. Incluídos estão: Moreh nevukhim, conhecido em inglês
como The Guide to the Perplexed, Perush ha-milim ha-zarot, e Maamar teḥiyat hametim, todos traduzidos por Samuel ibn Tibbon; Beur milot ha-higayon, tranduzido
por Moses ibn Tibbon; Perush perek helek, um comentário sobre Mishná; o tratado
Sanhedrin, numa tradução atribuída, variadamente, a Judah Alharizi e Samuel ibn
Tibbon; e a Epistle, ou Igeret, para Joseph ibn Jabbar de Bagdá, numa tradução
anônima. Ibn Jabbar estava envolvido na polêmica entre Mamônides e Samuel ben
Ali, chefe da academia judaica em Bagdá. Ibn Jabbar tentou defender Maimônides
nesta disputa, e pediu para que ele enviasse respostas às acusações feitas contra
ele. Somente o início deste trabalho ainda existe. Moses ben Maimon, mais
conhecido como Mamônides, foi um teólogo, filósofo e médico judeu. Ele nasceu em
Cόrdoba, Espanha, em 1135. Em 1160, mudou-se com sua família para Fez, no
Marrocos, para escapar da perseguição religiosa e, posteriormente, estabeleceu-se
no Cairo, onde se tornou o médico pessoal do sultão e sua família. Ele também serviu
como chefe da comunidade judaica do Cairo, onde morreu em 1204. Suas obras
sobre teologia, direito, filosofia e medicina, a maioria escrita em árabe e traduzida
para o hebraico, latim e outros idiomas, influenciaram amplamente tanto o mundo
judeu como o não-judeu.
https://www.wdl.org/pt/item/3966/
O Guia para os Perplexos
Este trabalho é um original árabe do Moreh Nevukhim, síntese magistral de
Mamônides da filosofia aristotélica e da crença tradicional judaica. Conhecida em
inglês como The Guide to the Perplexed, a obra foi composta originalmente em árabe
e traduzida para o hebreu por Samuel ibn Tibbon em 1204. Moses ben Maimon, mais
conhecido como Mamônides, foi um teólogo, filósofo e médico judeu. Ele nasceu em
Cόrdoba, Espanha, em 1135. Em 1160, mudou-se com sua família para Fez, no
Marrocos, para escapar da perseguição religiosa e, posteriormente, estabeleceu-se
no Cairo, onde se tornou o médico pessoal do sultão e sua família. Ele também serviu
como chefe da comunidade judaica do Cairo, onde morreu em 1204. Suas obras
sobre teologia, direito, filosofia e medicina, a maioria escrita em árabe e traduzida
para o hebraico, latim e outros idiomas, influenciaram amplamente tanto o mundo
judeu como o não-judeu.
https://www.wdl.org/pt/item/3963/
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