Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Valores, Crenças e Religiosidade Mesa: A Umbanda e o Candomblé: práticas culturais e construção das identidades - 4 de Fevereiro 19h - 214 Moderador: Célia Arribas Título O culto do Omolocô no Rio de Janeiro: reflexões iniciais sobre uma vertente da umbanda. ID 1024 Autores Jayme Ramos Rodrigues, Alves de Oliveira Resumo: O omolocô, também chamado de umbanda primitiva ou macumba é definido por alguns religiosos como a continuidade de uma prática do ritual dos negros escravizados. Este artigo pretende abordar as etapas pelas quais o culto passou, até os dias atuais. Para tanto, torna-se imprescindível abordar aspectos do seu surgimento, estruturação e desenvolvimento. Ponderando as dificuldades em adaptar-se a determinadas transformações sociais e urbanas – entre outros fatores o processo de industrialização, crescimento imobiliário, violência e aumento do trânsito noturno – ocorridas principalmente nos bairros do município do Rio de Janeiro. A luz de recentes estudos sobre as religiões de matriz africana no Brasil, este artigo observa as diferentes fases desta expressão religiosa a fim de compreender a capilaridade desses cultos e a conseqüência desta dinâmica na cultura da sociedade fluminense. Título Saúde e Cura: as práticas culturais das rezadeiras ID 1073 Autores Wanderley Bonfim Brito da Silva, Déborah Santos Conceição, Luís Vitor Castro Júnior Resumo: Este trabalho, originalmente surge das atividades de pesquisas realizadas na disciplina estudos das manifestações culturais, buscando conhecer e aprofundar conhecimentos sobre determinada práticas culturais (“a arte de fazer” conforme Michel Certau). Neste eixo temático, investigamos os saberes e a importância das rezadeiras na cura. Trilhamos com a história oral. Através das entrevistas enveredamos em valiosos relatos orais, que, ao focalizarem suas lembranças pessoais, revelam saberes culturais, bem como a trajetória do grupo social ao qual pertencem. A pesquisa de campo aconteceu na Lagoa da Camisa (Maria Quitéria) com Joana Batista Pereira de Jesus (D. Joana); Santanopólis com Jovita Pereira Brito; Alagoinhas com Luiza Palmeira da Silva (Lua) e Coração de Maria com Antonieta Rodrigues da Silva (D. Tutu). Rezar para essas mulheres significar a libertação e proteção do corpo em relação aos males espirituais e as doenças, sendo assim, rezar é um devir que serve de mediação entre o divino e carne. Mulheres públicas que mantêm a tradição da reza, herdadas pela sabedoria popular provenientes dos fluxos culturais entre os afro-descendentes (candomblé), os índios (pajelança) e os europeus (catolicismo). Neste sentido, as rezadeiras assumem o papel de zelar pela saúde e a espiritualidade da comunidade. Título Na minha casa tem dendê – redes sociais e construção identitária na umbanda nordestina ID 1096 Autores Luiz Assunção Resumo: O campo religioso afro-brasileiro é marcado por uma pluralidade de práticas, entre as quais se destaca a Umbanda, vista como resultado de um processo de reelaboração de elementos simbólicos de várias religiões que em uma determinada conjuntura histórica adquirem novos significados. Tomando como referência os rituais de jurema realizados no contexto dos terreiros de umbanda, conforme praticado na região do nordeste brasileiro, propomos refletir sobre a dinâmica religiosa umbandista através de elementos como a prática, a trajetória dos agentes envolvidos e a construção de processos identitários. A pesquisa segue um procedimento teórico de análise que preconiza a cultura como um mundo constituído de significados produzidos e interpretados socialmente. O trabalho de campo vem sendo realizado na cidade de Natal – RN, utilizando recursos metodológicos qualitativos, construídos através do diálogo prolongado e estabelecido a partir da observação e da participação, como também a elaboração de um conjunto sistemático de etnografias, a utilização de fontes da tradição oral e da memória e o registro fotográfico dos rituais e situações do cotidiano dos terreiros pesquisados. Título Problemas e Desafios do Candomblé na sociedade multicultural e plurireligiosa do Brasil ID 1663 Autores Sonia Apparecida Siqueira Resumo: No cenário pluricultural e plurireligioso do Brasil se insere o Candomblé, culto de origem africana trazido para o país com os escravos na época colonial. A religião persistiu através dos séculos, mas foi sempre objeto de repressão de autoridades policiais, governamentais e sanitárias. Hoje é alvo de uma série de pçreconceitos quanto ao caráter de religião, etnia, ética. Mesa: História e Formação do Campo Religioso no Brasil - 5 de Fevereiro - 11h30 - 220 Moderador: Sandra Lima Título A legitimação do Espiritismo em terras brasileiras ID 282 Autores Célia Arribas Resumo: A minha apresentação nesse Congresso consiste em expor alguns resultados da minha investigação no âmbito histórico-sociológico sobre uma doutrina religiosa chamada Espiritismo. Criada na França por Allan Kardec na metade do século XIX, o espiritismo tem hoje no Brasil o seu maior número de adeptos. Sob o objetivo de analisar o processo de formação da heterogeneidade formal do campo religioso brasileiro, tomei por objeto empírico em minha investigação o desenvolvimento de parte da produção intelectual religiosa durante as últimas décadas do século XIX. Examinando X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 1/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade sociologicamente a emergência do Espiritismo, almejei entender e explicitar em sua lógica própria o processo de constituição de um mercado competitivo de bens de salvação caracterizado pela perda do monopólio religioso da Igreja Católica e pela ascensão da legitimidade institucional das outras religiões. Relacionando a idéia weberiana de racionalização das esferas de valor – no caso a religiosa – e as noções de trabalho e de divisão do trabalho religioso de Pierre Bourdieu, proponho uma análise das lutas dos grupos de agentes cujos interesses materiais e simbólicos tornam o campo religioso um terreno de operação para as lutas entre diferentes empresas de salvação. Título Movimento Histórico Teológico da Educação Cristã ID 473 Autores Luiz Manoel Gregolim Junior Resumo: Esta pesquisa originou-se com o propósito de valorizar a história, resgatar os valores protestantes e nos ajuda a observar o movimento histórico-teológico e suas atuais instigações. A motivação para a realização desse trabalho são os desafios de hoje, não somente na educação secular, mas especificamente, na educação cristã. Uma vez que, no Brasil, um dos pilares da construção da igreja protestante, que disseminou neste país, foi à educação. Considerando que a Educação cristã protestante não se limita apenas pela Escola Dominical, assim como o educador cristão não é somente o pastor, fazse necessário uma compreensão da Doutrina Protestante “Sacerdócio Universal dos crentes”. Esta investigação divide-se em três partes: a primeira, analisamos o ensino na formação do Povo de Deus, na educação dos filhos, por meio do Antigo Testamento: Pentateuco, profetas e Escritos. Fizemos uma leitura do Novo Testamento, através da educação de Jesus, da Igreja Primitiva e dos ensinamentos paulinos. Na segunda, apresentamos um breve panorama da época da história da Igreja, desde a Era Patrística, Medieval, da Reforma, Moderna até os tempos recentes. E por fim, na terceira, refletimos sobre os desafios contemporâneos da educação cristã protestante, quanto ao campo de atuação, preparo de educadores, objetivos e o papel da Igreja, hoje. O trabalho enfatiza o papel importante da Escola Dominical ainda em nossos dias. Em nossas conclusões podemos inferir que no decorrer da história da educação cristã, o protestantismo encontrou êxito mantendo-se fiel aos seus princípios. Título A trajetória política de Arlindo Veiga dos Santos: anti-racismo, catolicismo e monarquismo (1931-1964) ID 1349 Autores Maria Cláudia Cardoso Ferreira Maria Resumo: Desde 2003, o governo instituiu a obrigatoriedade do ensino de História da África e do negro no Brasil. Ocorre que há muitas lacunas na pesquisa histórica, especialmente no que concerne ao pós-abolição. Este trabalho objetiva diminuir esta deficiência ao analisar a trajetória política do intelectual negro, católico e monarquista Arlindo Veiga dos Santos, que viveu em São Paulo, entre 1902 e 1978. Veiga dos Santos liderou a Frente Negra Brasileira (1931-1937), pioneira organização do movimento negro brasileiro e a Ação Imperial Patrianovista Brasileira (1932-1964), entidade católico-monarquista, conservadora e ultra-nacionalista que planejava instauração de um III Império em solo brasileiro. Numa época em que se construiu e consolidou o mito da “democracia racial“, nosso estudo se preocupou em compreender como o intelectual articulou tais pertencimentos identitários ao analisar os possíveis pontos de convergência e divergências entre as agendas políticas destes movimentos sociais, num momento em que a nação brasileira enfrentava seu processo de consolidação. Mesa: Crença, cultura de grupo e valores - 5 de Fevereiro - 14h30 - 213 Moderador: Joaquim Costa Título O papel da comunicação social na construção da opinião sobre a comunidade islâmica ID 1444 Autores Rosa Borges Resumo: A sociedade mundial, como todos nós temos consciência, é constituída por um leque diverso e quase infinito de comunidades diferentes entre si. E é desta diferença que nasce todos os dias a riqueza multicultural da qual o mundo se alimenta. No entanto, é também deste melting pot que surgem os maiores desafios que submetem a nossa sociedade. Aquele que mais inquieta a comunidade mundial é o terrorismo, fenómeno para o qual muitos só acordaram no dia 11 de Setembro de 2001 quando um grupo terrorista islâmico, a Al-Qeada, atacou o “coração da América”. Este acontecimento foi transmitido em directo pelos meios de comunicação social de todo o mundo, o que deixa adivinhar o papel de grande importância que os media desempenham actualmente, pois estamos a viver numa Era em que o conhecimento e a informação são fulcrais. Desde então a cultura islâmica tem sido alvo de muita curiosidade por parte de alguns académicos e também pelo público em geral. Desta forma este estudo pretende perceber se o tratamento noticioso feito pela comunicação social em Portugal, mais precisamente pela imprensa, no rescaldo do atentado de 11 de Setembro contribuiu para uma mudança de opinião da população portuguesa em relação à comunidade islâmica residente no nosso país. Para tal decidimos proceder a um total de 100 inquéritos na cidade de Odivelas, na medida em que neste local encontra-se um grande número de muçulmanos. Procedemos também à análise de conteúdo dos jornais mais lidos na primeira semana após o atentado terrorista em questão, bem como a algumas entrevistas exploratórias a membros da comunidade muçulmana. Título Valores e classes sociais: diferenças e semelhanças de género em Portugal ID 1447 Autores João Ferreira de Almeida, Anália Torres, Rui Brites Resumo: De acordo com Schwartz, que propôs as bases de uma teoria estrutural dos valores, estes expressam “metas motivacionais e diferenciam-se, precisamente, pelas metas que expressam” (Schwartz, 1996). A análise dos valores assume posição central na pesquisa social, que os pode conceptualizar como sistemas organizados e relativamente duradouros de preferências. Os valores exprimem-se numa determinada cultura, entendendo-se esta, na sua acepção X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 2/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade antropológica, como um agregado extenso e variado de características que, ao limite, é sinónimo da própria noção de sociedade. Reconhecidas as propriedades accionalistas dos valores – a sua repercussão em comportamentos – o programa de investigação que os autores têm vindo a desenvolver neste domínio pretende identificar padrões de valores nas classes sociais, uma vez que “(…) a semelhança de condições de existência dos membros de uma mesma classe leva também ao desenvolvimento de afinidades nas suas práticas e representações sociais (o que fazem e o que pensam) e de diferenças relativamente às práticas e representações dos membros de outras classes”. (Almeida, 1994). Mas outros suportes de valores podem igualmente mostrar distinções relevantes, de forma isolada ou combinada, como é o caso do género. O objectivo desta comunicação é ilustrar como as estruturas de classe e de género marcam padrões de valores. Para o efeito, recorreremos à análise de dados recolhidos no âmbito do European Social Survey. Título Estudo comparativo entre religião tradicional e religião crista: o caso da religião tradicional do sul de Moçambique e a Igreja Católica ID 1469 Autores Silverio Pedro Eugenio Samuel Resumo: O trabalho discute a relação e distinção entre a religião tradicional do sul de Moçambique com a Igreja Católica, tendo como pressuposto que tanto uma como outra, enquanto religião instauram um modo de ser, estar e encarar a vida, hauridos de uma filosofia sobre o homem, a sociedade e o universo que lhe são inerentes; porem, uma, a religião tradicional ancora sobre uma visão limitada ao horizonte familiar, a vitalidade do corpo e aos sentimentos do indivíduo ou grupo (nação) a que pertence, em oposição a Igreja Católica que vinca um horizonte mais alargado, universal, ideal, mais racional, pensada, para além dos desejos e sentimentos pessoais ou nacionais. Título Vamos para a festa! Um olhar sobre valores, crenças, práticas religiosas e religiosidade na Festa de Nossa Senhora dos Remédios, em Cruzeta/ RN ID1517 Autores Edivalma Cristina da Silva Resumo: O referido trabalho ancora-se em um estudo sobre festa, cultura popular, crenças e táticas de vivência da religiosidade católica pelas classes populares que não podem vivenciar “de perto” e ativamente da programação urbana da Festa de Nossa Senhora dos Remédios, na Cidade de Cruzeta/ RN localizada na região Nordeste do Brasil, reinventando, assim, táticas de vivenciar sua religiosidade em sua própria casa ou junto a comunidade. Busca-se, dessa forma, entender de que forma essa Festa passa a ser vivenciada pela Comunidade Rural através de entrevistas com cruzetenses da Comunidade Rural Salgado, aliada a uma discussão bibliográfica sobre cultura popular, religiosidade, crenças e festa. A discussão bibliográfica será arrematada pelos fios teóricos de Michel de Certeau, utilizando os conceitos de táticas e estratégias para a invenção do cotidiano destas pessoas comuns – ordinárias; Rita Amaral, na discussão sobre festas brasileiras; Bornheim, Ginzburg, entre outros para pensar a cultura popular e a tradição e sua circulação e manutenção na sociedade. Através dessa análise pode-se perceber que os indivíduos ordinários dotam-se de múltiplas táticas – acender velas em intenção, rezar terços com os familiares, celebrar pequenas novenas dentro de suas casas, entre outras tantas práticas – para vivenciar a festa, ligando-a a práticas religiosas de seu cotidiano, mapeando uma cultura peculiar e singular para os indivíduos dessa comunidade. Essas táticas (re)criadas (re)inventam e (re)alimentam a espiritualidade dos indivíduos comuns que se auto-afirmam seguidores de uma religiosidade católica. Dessa forma, tece-se esse trabalho deleitando-se nos discursos e aflorando uma pluralidade de táticas religiosas populares. Mesa: Mundo rural, mundo urbano e sincretismo - 5 de Fevereiro - 14h30 - 215 Moderador: Luís Manuel G. Júnior Título O Divino Maranhense no espaço sagrado das casas de culto afro ID 387 Autores Maria Michol Pinho de Carvalho Resumo: No Maranhão, a presença negra é marcante nos modos de vida da sua população. Os africanos e seus descendentes efetivaram, entre si, o cruzamento de elementos culturais de diversas etnias, com assimilação de aspectos culturais dos povos indígenas e da cultura européia. Particularmente, as religiões afro-brasileiras incorporaram dimensões da religião católica, num processo de sincretismo, em meio às lutas e resistência dos grupos negros. Nesse contexto cultural de hibridação a Festa do Divino Espírito Santo se constitui numa das manifestações de maior destaque. Uma das especificidades do Divino Maranhense é ser desenvolvido em Casas de Culto Afro. Ao incorporarem a Festa do Divino no seu calendário litúrgico anual, os Terreiros Afro deixam de realizá-la por volta do Domingo de Pentecostes, em maio e junho, promovendo-a junto com as homenagens feitas a Entidades das Casas, em outros meses do ano. É esta uma (re)significação do tempo sagrado, podendo-se afirmar que no Maranhão, “há Divino o ano todo”. O Ciclo da Festa, a encarnar uma seqüência barroca de rituais, compreende etapas preparatórias, etapas de ritualística propriamente ditas e etapas de finalização. O centro dessa ritualística-verdadeira “liturgia pública” – é o Império ou Corte Imperial, com destaque para as “caixeiras”, sacerdotisas que tocam, cantam e dançam para o Divino. A Festa, ao ser realizada nos Terreiros Afro – espaços já cotidianamente consagrados no âmbito do território profano da cidade – abre um “parêntese” na sacralidade desses espaços, estabelecendo um diálogo entre a densa cultura dos Terreiros e o universo simbólico do Divino. Título Devoção a Nossa Senhora do Rosário e Catolicismo Africanizado no Congado da Grande Belo Horizonte-MG ID 405 Autores Erisvaldo Santos, Sueli do Carmo Oliveira X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 3/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Resumo: O trabalho discute a experiência religiosa de comunidades negras de Minas Gerais, como um catolicismo africanizado, vivenciado por Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, a qual se expressa por um cortejo real, acompanhado pelos vassalos das Guardas de Congo e Moçambique que cantam, percutem suas caixas e dançam reverenciando a Senhora do Rosário. Tem como objetivo geral reavaliar o sentido do sincretismo religioso como sendo um movimento realizado a partir do protagonismo de africanos que identificaram as divindades católicas como sendo as suas próprias divindades, interpretadas pelos europeus de uma forma diferente. Nesse sentido, o sincretismo deixa de ser uma estratégia de africanos escravizados para preservar seus valores religiosos e passa a ser compreendido como uma forma de reapropriação do catolicismo por parte dos africanos já na África. Os dados da pesquisa são obtidos nas narrativas que os congadeiros apresentam para demonstrar como Nossa Senhora do Rosário veio ao encontro deles, através do batuque das caixas e dos cânticos da guarda de Moçambique. As pesquisas históricas de John Thornton no antigo Reino do Congo são importantes evidências empíricas e teóricas do argumento que estamos desenvolvendo. Título Religiosidade no tratamento da desnutrição em Sobral CE Brasil ID 533 Autores Elizabeth Costa Resumo: A preeminência da prática religiosa no tratamento da desnutrição, por duas vertentes: medicina popular e catolicismo popular. O estudo propõe compreender a relevância do trabalho das benzedeiras na incursão do paciente portador de desnutrição ao tratamento médico. O trabalho de benzedura seria determinante na motivação do paciente a adesão do tratamento médico? Assim, investiga-se o imaginário cultural e religioso dos portadores de desnutrição da cidade de Sobral CE. Na busca de compreender a relevância da medicina popular no meio rural e urbano de classes sociais menos favorecidas economicamente, por meio do trabalho de mulheres que transmitem conceitos religiosos herdado de gerações, colaborando para a prática da religiosidade no Brasil. Título Sociabilidades e alteridades no universo cotidiano religioso das romarias: um estudo de caso no nordeste brasileiro ID1084 Autores Maria Paula Jacinto Cordeiro Resumo: Expressões comuns do catolicismo popular, as romarias acontecem cinco vezes por ano na cidade de Juazeiro do Norte, no nordeste brasileiro, e remetem à figura do Padre Cícero Romão Batista, protagonista de um evento polêmico conhecido como o “Milagre da Hóstia”, quando a hóstia consagrada que ministrava transformou-se em sangue na boca de uma beata em 1889. Mesmo após 74 anos de sua morte, muitos moradores e romeiros desenvolvem com o Padre Cícero uma relação de afilhadagem – ele é o santo padrinho - e, para estes, Juazeiro se torna um “translocal” onde é possível relativizar tempo e espaço, constituindo-se “oásis do sertão”, “refúgio dos pecadores”, “terra da Mãe de Deus”, e “lugar de redenção”. Para muitos é a dimensão festiva das romarias que perpassando o eixo das motivações, garante o retorno ano após ano. Considerando a variedade de interações religiosas e culturais ocorridas nesses períodos, o foco da interpretação aqui considera que a relação entre pessoas, lugares e eventos acomoda tradições atualizadas mediante a invocação de crenças, performance de rituais e formas de sociabilidade desenvolvidas entre os agentes nas romarias. A partir de elementos que apontam aspectos da romaria que a caracterizam como cenário de disputas simbólicas de categorização relacionadas aos agentes envolvidos no evento, o objetivo geral do presente estudo é apresentar um esboço descritivo do tempo das romarias e sua configuração compreender o conteúdo de práticas construídas ao longo do tempo que possam remeter a tensões entre os agentes e contribuir para identificar a lógica de sua reprodução. Título Religiosidade e habitus rural: a força das tradições nas comunidades amazônicas ID 1141 Autores Roberta Ferreira Coelho, Antonio Carlos Witkoski, Hamida Assunção Pereira Resumo: As populações tradicionais da região amazônica constroem a vida articulando e rearticulando o mundo do trabalho, as relações sociais, os costumes e tradições, tais como as festividades religiosas, que transcendem gerações e reavivam a memória, sinalizando para a correlação com o passado e a edificação do modo de vida presente. Nas comunidades amazônicas, ainda que se perceba a flexibilidade e a mutabilidade – características dos costumes e do habitus – de muitos aspectos da vida, há também invariabilidade e inflexibilidade em outras, o que converge para o que Hobsbawm (1997) denomina de tradição, em que podemos notar a prevalência de práticas de caráter ritual e simbólica, que imprimem uma vinculação aos valores de outrora. As festividades religiosas, que constituídas por um conjunto de rituais e possuidoras de uma simbologia sem igual, incorpam as tradições, na medida em que se encontram permeadas por dogmas, valores e regras rígidas, não passíveis de mudanças e, por isso, invariáveis. Por meio dos apontamentos em caderno de campo, registros fotográficos, entrevistas e participação direta nas atividades de preparação e realização da Festa Religiosa de São Sebastião às margens do Lago do Puraquequara no município de Manaus – Amazonas, pode-se perceber que tais festejos se configuram como a mais importante manifestação da religiosidade popular no Puraquequara, que reacendem práticas sociais de solidariedade, amizade e união comunitária em função de um objetivo comum, congregam novos e antigos moradores, reúnem toda a comunidade, incitam a partilha, envolvem crianças, jovens e adultos, bem como revitalizam a fé e a religiosidade. Mesa: Pentecostalismo no Brasil e no Mundo - 5 de Fevereiro - 18h30 - 304 Moderador: Mª Paula J. Cordeiro Título “A Demanda dos Deuses”: pentecostalismo, globalização e culturas locais ID 152 Autores Paulo Gracino Júnior Resumo: Este trabalho analisa o crescimento pentecostal a partir das estratégias que suas diversas denominações empreendem no intuito de se adaptar às demandas sócio-culturais da sociedade contemporânea. Diversamente do que X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 4/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade vem sendo postulado por alguns teóricos nos anos recentes, que adotam interpretações ligadas à escolha racional, não acreditamos que as frias análises de custo-benefício dêem conta do fenômeno religioso, ainda que, em certos casos, apresentem explicações plausíveis. Pensamos que o processo de diversificação religioso brasileiro guarda estreita relação com as mudanças vividas pela sociedade nos últimos cinqüenta anos, bem como com as respostas dadas pelas instituições religiosas a esse novo contexto. Tratado por muitos autores sob a alcunha de pós-modernidade, esse novo cenário social viu desarticularem-se as velhas macro-narrativas sobre as quais organizávamos o sentido do mundo, sem, no entanto, vê-las substituídas por outras capazes de (re)articular a multidão de vozes que ainda clamam na arena global. Nesse sentido, acreditamos que a estrutura leve e menos burocrática das igrejas pentecostais consegue se adaptar melhor à liquidez dos tempos atuais, respondendo de forma mais imediata à diversidade de demandas das populações em questão. Atentaremos ainda para as respostas que o catolicismo tem dado ao crescimento evangélico, bem como às articulações entre ethos pentecostal e culturas locais. Tomamos como foco central de nossas atenções duas regiões do estado de Minas Gerais, Brasil, uma refratária ao pentecostalismo (Arquidiocese de Mariana) e outra em que o mesmo encontra significativa acolhida (Diocese de Itabira-Fabriciano). Título O empreendedorismo cristão brasileiro ID 1185 Autores André Ricardo de Souza Resumo: A comunicação trata do empreededorismo cristão no Brasil, delineando suas referências teóricas, origem histórica e fases de desenvolvimento. Tal fenômeno ganha eloqüência em um contexto de crescente concorrência religiosa e valorização da livre iniciativa econômica. Suas expressões mais notáveis são as organizações de marketing católico, as associações de empresários evangélicos, as redes de televisão e rádio ligadas a igrejas, a forma de gestão assumidamente mercantil de algumas denominações pentecostais e o grau de profissionalização dos novos pastores. Esses empreendimentos econômicos são expandidos sempre com o argumento da necessária propagação da mensagem religiosa, o que para os fiéis legitima o apelo incisivo e constante por doações financeiras. A figura do empreendedor religioso, e também gestor de negócios, é amplamente discutida, a partir de dados empíricos. Sobremaneira chamado de fundador, ele é quem inicia, desenvolve e personifica uma instituição religiosa, passando a disputar espaço social, adeptos e recursos com suas congêneres. Direta ou indiretamente, tais líderes tornam-se condutores também de empresas lucrativas, atuantes em diversos ramos de negócios. Suas práticas à frente das corporações religiosas costumam ter implicações políticas, que por sua vez, contribuem para o êxito econômico delas. De certa forma, tal fenômeno socioeconômico já se encontra institucionalmente consolidado e culturalmente legitimado, na medida em que expressa valores difundidos na sociedade abrangente. As nuanças desse controverso processo de construção institucional e legitimação social são discutidas neste trabalho, fruto de pesquisa de pós-doutorado em sociologia, que aponta as principais lideranças e organizações dessa face cristã brasileira. Título Oração: um meio para sarar e re-encantar o mundo? ID 1266 Autores Max Ruben Ramos Resumo: O cristianismo pentecostal tem sido o movimento religioso mais em expansão na contemporaneidade. Essa inelidível floração cristã bem evidente no contexto africano, asiático e sul-americano leva alguns cientistas sociais a advogar que estamos ante o “re-encantamento do mundo”. Assim sendo, tomaremos aqui esse contexto não-europeu como o epicentro da emergência desse “cristianismo remoçado” que com as migrações dão ao “velho continente” uma nova tonalidade religiosa. A nossa pesquisa incide sobre o contexto lisboeta, deste modo, faremos uma reflexão em torno desse movimento religioso em articulação com a vaga migratória africana e brasileira que representam uma parte significativa dos pentecostais em Portugal. Na comunicação que se segue pretendemos explorar novos modelos de serviço litúrgico, em especial o ritual da oração que, segundo os crentes evangélicos, tem sido a pedra-de-toque para essa rápida e vasta proliferação pentecostal no mundo actual. Muitos desses crentes acreditam que a oração e o jejum são meios poderosíssimos para “sarar o mundo”, bem como para uma “mudança radical” ante a crise mundial e as inúmeras desigualdades sociais e económicas que grassam muitos países. Quererão crenças do tipo acotovelar o processo de racionalização do mundo auferido pela técnica e cientificidade? Título Quando a corte chegar: hibridismo e criatividade no Baião de Princesas do Maranhão ID 1674 Autores Ana Stela Cunha Resumo: Baião vem de baiar, bailar. No Terreiro do Egito, localizado em Sao Luis do Maranhao e fundado por Massinokou Alapong em dezembro de 1864, ocorreu a primeira festa do ritual do Baião de Princesas. Devido à perseguição policial da época, que se estendeu até os anos 40 em São Luís, o ritual se disfarçava de festa profana, onde os tambores davam lugar a instrumentos como o violino – o maestro do conjunto - sanfona, violão, cavaquinho ou bandolim e os adufes, pandeiros sem platinelas utilizados na época. A festa, que se iniciava na manhã do dia 12 de dezembro, seguia a tarde e a noite toda, se encerrando apenas na tarde do dia 13, dia de Sta. Luzia, quando começava então o toque de Tambor de Mina para o Rei dos Mestres. Como num baile, ainda hoje as mulheres se enfeitam com saias coloridas, xales, leques, muitas jóias, colares, fitas e outros adornos, além das mantas de miçangas que vestem ao receber suas encantadas. Usam penteados elaborados e tocam castanholas. Extremamente feminino, neste ritual só as mulheres dançam, e as encantadas que se manifestam também são em sua maioria princesas, rainhas, meninas, caboclas, mães-d’água, ainda que como numa verdadeira festa, no Egito, orixás e voduns também tomassem o corpo de seus filhos para assistirem à dança, se juntando à numerosa assistência que ia ao terreiro graças à visita do Navio de Dom João. Ao longo do dia, crianças e pessoas da assistência também eram convidadas a dançar, “enchendo a roda” enquanto algumas dançantes paravam para descansar. Na Casa Fanti Ashanti, o Baião de Princesas continua sendo realizado todo dia 13 de dezembro, seguindo até a manhã do dia 14, embalado por uma infinidade de belas músicas. X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 5/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Obari, Bela Infância, Belinha, Menina da Gameleira ou do Caxangá são alguns dos nomes pelos quais é conhecida Nôche Dantan, vodum chefe do Baião, que se abre e fecha invocando São Gonçalo do Amarante e Rei dos Mestres, outro nome do vodum Liçá – relacionado a Oxalá - que é o responsável pelo andamento do ritual. Considerado como da linha de cura ou de água doce, difere da cura/pajelança por possuir rituais internos secretos que antecedem a festa pública, quando na cura todos os procedimentos e ferramentas rituais estão expostos na mesa do pajé. Este trabalho buscara trazer uma breve etnografía deste ritual, praticado em poucas casas de Tambor de Mina. Sera intençao trazer à discusao a democracia espiritual sem fronteiras, onde caboclos, princesas, índios, ciganas, espanhóis, portugueses, turcos, franceses, italianos, havaianas, mães d’água, macacos, peixes, aves, caranguejos e jurarás realizam plenamente no plano espiritual a miscigenação étnica brasileira, refletindo sobe o mito de formaçao nacional atraves dessa religião voltada para a ancestralidade. Mesa: Pessoa, relações sociais e ethos religioso - 5 de Fevereiro - 18h30 - 302 Moderador: Rosa Borges Título O deus individual e o demónio colectivo ID 261 Autores Joaquim Costa Resumo: A religião é coisa religiosa: ressuscita a cada certidão de óbito que lhe passam. Marcel Gauchet recenseou, em século e meio ocidental, pelo menos quatro mortes e outras tantas ressureições. Fala-se, já há alguns anos, de uma nova ressurreição. Mais uma. Mas é uma ressurreição interessante. Os estudos mostram queda de prática/crença institucional clássica e, ao mesmo tempo, vigor de crenças individuais e da vaga emocionalista. “Contapropismo” designa estes crentes por conta própria (pelo menos na autonomia face aos dogmas eclesiásticos oficiais). Parece claro que desinstitucionalização/emocionalismo dá lugar a desregulação (por vezes quase “pagã”), mais do que a des-religião, fenómeno desgostoso para ateus militantes como Michel Onfray, que têm dificuldade em escolher entre o monopólio clerical e a religiosidade livre. Régis Debray afirma que cada época tem um Jesus à sua imagem. O Jesus dos direitos humanos é o Jesus do actual europeu, individualista e humanista, com frequência anti-clerical; é um Jesus às vezes filósofo, e só. Mas, apõe Debray, uma religião não é uma filosofia. A filosofia é uma visão do mundo; a religião é um mundo, uma comunidade, um calendário, um rito, um “nós” vs. “eles”, uma transmissão, uma instituição. Ora, a actual desregulação religiosa é um desafio à religião, quero dizer, à constituição de uma comunidade que assegure uma linhagem com uma memória sólida (Hervieu-Léger) sem, porém, se entregar ao demónio colectivo do fundamentalismo. Título Narrativas Terapêuticas no Candomblé, Brasil ID 418 Autores Estélio Gomberg, Ana Cristina de Souza Mandarino, Reginaldo Daniel Flores, Hugo de Carvalho Mandarino Junior Resumo: O presente estudo teve como objetivo principal apreender os usos de recursos terapêuticos por parte de clientes, adeptos ou não, que freqüentam o único Terreiro de Candomblé de origem ketu, no Estado de Sergipe/Brasil, o Ilê Axé Opô Oxogum Ladê. O Candomblé pode ser entendido como uma religião de matriz africana que busca olhar para o indivíduo de uma forma abrangente, possibilitando a este que não só venha a cuidar do estado de desequilíbrio saúde/doença, como também possa vir a se reconfigurar em quanto indivíduo, através de uma imensa rede de solidariedade e parentesco que acabam por envolvê-lo no ato da iniciação. Ao adentrar este sistema religioso terapêutico, o sujeito vai experimentar e confrontar com uma série de inovações na sua vida cotidiana, ampliando suas visões e percepções sobre as causalidades da doença, repercutindo na consideração da relação entre “corpo/mente/orixá”, abrindo desta maneira uma nova opção no que tange as opções terapêuticas para os indivíduos. Diante da complexidade desta religião, o grupo em questão – adeptos e clientes externos- reafirmam sua solidariedade intra e extras muros, através da garantia da saúde física e social de seus membros, na medida que opõe duas instâncias antagônicas representadas por sua visão de mundo: saúde/doença, vida/morte. O equilíbrio entre estas se faz necessário para a afirmação daquilo que se torna elemento indispensável para este: a manutenção da saúde. Título Minorias religiosas no império português: Budistas, cripto-judeus, hindus, judeus, muçulmanos, protestantes e “outros” no espaço português ID 53 Autores Joseph Abraham Levi Resumo: Este estudo pretende analisar a presença, o encontro e, consequentemente, a (quase sempre) difícil convivência entre diferentes confissões religiosas, de um lado, e o Catolicismo, do outro, em todos os territórios sob soberania portuguesa durante quase cento e doze lustros, nomeadamente, entre a tomada de Ceuta (1415) e o inevitável fim do Colonialismo Português (1974). Mesa: Religião, política e poder - 6 de Fevereiro - 14h30 - 313 Moderador: José Rogério Lopes Título A Igreja Católica face aos desafios da democratização: educação cívica e eleições ID 337 Autores Florival Raimundo Sousa Resumo: A assinatura do Memorando de Entendimento do Luena, que oficialmente pôs termo ao longo conflito armado angolano, abriu o caminho para a efectivação de uma verdadeira paz social onde a reconciliação nacional e a consolidação da democracia se afiguravam entre os principais anseios da população civil e a prioridade na agenda política nacional. Seis X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 6/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade anos após o fim do conflito, a construção da paz social permanece uma abordagem válida e urgente na reestruturação do tecido psico-social dos angolanos que, contando com a participação e dinâmica das diferentes organizações da Sociedade Civil, têm tentado responder às diferentes preocupações do actual momento da vida dos cidadãos. Embora considerada como incipiente e embrionária, a Sociedade Civil angolana tem criado espaços de intervenção e de debate favoráveis à construção da cidadania e à democracia participativa. Entre os principais intervenientes da Sociedade Civil angolana as Igrejas são as que mais se destacam, não apenas como um forte parceiro social do Governo mas também como uma autoridade moral, forte e legítima, enraizada nos diferentes extractos sociais. Num contexto político pré-eleitoral, com as eleições Legislativas inicialmente marcadas para Setembro próximo, considerase pertinente abordar o papel que a Igreja Católica tem vindo a desempenhar na educação cívica dos cidadãos onde a exaltação do patriotismo, o apelo ao respeito pelos valores morais e à tolerância política, constituem os eixos centrais dos seus pronunciamentos oficiais, no sentido de se prevenirem os erros do passado e evitar o que de resto tem sido praxe nas emergentes democracias africanas: os conflitos pós-eleitorais. Título Rede Aleluia: Instrumento de persuasão e poder em prol da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) ID 399 Autores José Wagner Ribeiro Ribeiro, Ricardo José Oliveira Resumo: Analisa o procedimento de comunicação da Igreja Universal do Reino de Deus, com enfoque na programação evangélica da Rede Aleluia de Rádio e os possíveis reflexos dessa prática na propagação dos seguidores da igreja. A hipótese inicial desse estudo baseia-se na apuração de três pilares de funcionamento da Universal – libertação, cura e conversão; identifica os elementos icônicos, assim como o traslado de situações bíblicas que contribuem para a conquista de fiéis. Mensagens veiculadas na Rede Aleluia de Rádio foi uma das ferramentas para analisar o crescimento da igreja através da sua rede de rádio. Conclui que a comunicação praticada na Rede Aleluia de Rádio pela Igreja Universal influencia o radio ouvinte da programação, ao induzi-lo a participar das campanhas da igreja culminando com a sua conversão à organização Universal. Título Religião e Política em Portugal: Fronteira Entre dois Poderes ID 558 Autores Nicolau Roque Resumo: O actual panorama de crise que os governos mundiais enfrentam não é alheio a Portugal. O poder político está a sofrer alterações, não só dentro das fronteiras nacionais, como nas organizações políticas continentais, caso da União Europeia, que têm reflectido os actuais acontecimentos. Ao contrário do que afirma Fukuyama, a democracia liberal e o modelo capitalista de governação dos Estados-Nação pode não representar o “fim da história”, antes mais uma das etapas no trajecto de evolução das sociedades, e das formas governativas. A tese de Karl Marx encontra-se, neste panorama, revitalizada. A necessidade de encontrar respostas para a actual crise aliada à tradição religiosa do país, faz ressurgir o religioso na esfera pública. Por outro lado, o trabalho desenvolvido pelas “instituições” religiosas, caso das IPSS, tem-se revelado de extrema utilidade para o país, acabando por assumir uma responsabilidade que deveria ser do Estado. Em território Nacional, a fronteira entre religião e política ainda é opaca. Actualmente, o discurso destas duas “morais de convicção” tende a encontrar-se, acentuando as suas características de redenção. Porém, deveríamos observar dois discursos distintos: no caso político, uma predita verbalizada para as “massas”, e na religião um profetismo centrado nos “crentes”. Título A Maçonaria luso-brasileira diante de seus aspectos culturais de rituais, símbolos e significados para as diversas culturas. ID 864 Autores Jair Araújo, Giovanna Araújo Resumo: A instituição maçonaria, sempre fora vista por parte dos curiosos, ou mesmo por parte dos seus membros como algo mágico, esotérico, misterioso. Logo percebemos muitas inquietações quanto a sua verdadeira função, atuação, serventia, além das dúvidas quanto aos rituais, à simbologia, a doutrina, os segredos, os mitos. Apesar da história da maçonaria ser antiguíssima como citamos anteriormente, e de ter tantas atuações nas áreas de educação, saúde, lazer e em movimentos emancipacionistas, percebemos quão significativo será uma analise mais apurada no que tange sua formação e atuação dentro da sociedade pós-moderna e globalizada. Nesse sentido objetivamos com esse trabalho discutir tal temática, a maçonaria luso-brasileira diante de todos os seus aspectos culturais, simbólicos e ritualísticos, dos dois lados do atlântico. Seguiremos os seguintes teóricos: BORDIEU, Pierre. O Poder simbólico; MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna:entre secularização e dessecularização. e TEIXEIRA, Faustino (org.). Sociologia da Religião. Título Dez anos do “chute na santa”: diferença e intolerância ID 796 Autores Ronaldo Almeida Resumo: Uma década depois do episódio que ficou conhecido no Brasil como o “chute na santa”, no qual a Igreja Universal do Reino de Deus envolveu-se em um conflito público com a Igreja Católica, a proposta desta comunicação é refletir sobre algumas tensões da relação Estado/religião em uma sociedade que se pretende democrática, quais sejam: a liberdade de culto e a iconoclastia inerente a certas disputas religiosas que, devido a alguns excessos, necessita da regulação jurídica. X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 7/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Mesa: Sincretismo, Etnia e Género na Umbanda e no Candomblé - 6 de Fevereiro - 14h30 - 302 Moderador: John Collins Título Vencendo a Intolerância: Mulheres Negras e do Candomblé. ID 71 Autores Ivete Miranda Previtalli Resumo: Este trabalho trata da Lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas, que tem como pano de fundo as histórias de vida de duas mulheres negras e do candomblé. As histórias de vida de Mameto Corajacy e Mameto Dangoroméia revelaram o preconceito e o racismo contra as condições de mulheres, negras e praticantes de uma religião afro-brasileira. Ao resistirem as dificuldades impostas pela sociedade branca e masculina, essas duas mães-de-santo levaram à rua muito mais do que a apresentação de uma expressão religiosa de origem africana. A festa da Lavagem se expandiu além das cercanias do candomblé, e acabou reunindo na praça as mais diversas manifestações culturais e políticas afro-brasileiras. Na Lavagem estandartes e faixas escritas em línguas bantas vêm puxando o cortejo do candomblé até a Praça da Catedral Metropolitana de Campinas. Ao se apresentar desta forma, o movimento retomou a uma África metafórica que tornou pronunciáveis o negro e o afro-brasileiro por uma “lógica diferente”. Permitiu que os não-ditos viessem à tona e que aflorassem as memórias subterrâneas. A manifestação pública, religiosa destas duas mães-de-santo resultou numa demonstração cultural afro-brasileira, que disse “não” à marginalização e à subordinação. A Lavagem anarquiza, subverte e dá como resposta ao racismo manifestado e expressado pelo homem que agrediu a mãe-de-santo na praça, uma “política de reconhecimento”, ao lado das lutas contra o racismo e pela justiça social. Título Problemas e desafios do Candomblé no cenário multi cultural e pluri religioso do Brasil ID 92 Autores Sonia Apparecida Siqueira Resumo: As diversidades de aportes humanos que pelo Brasil se espraiaram ao longo de vários séculos configuraram uma realidade de cultura multi facetada abrigando diferenças e desigualdades, a reclamar definições identitárias e a aspirar a utópica homogeneidade cultural. Impõem-se análises dessas desigualdades, acentuadas por preconceitos, redundando em eventuais exclusões sócio-econômicas e políticas. E, certamente, criando obstácuos para a plenitude dos direitos de cidadania evidenciados na vida cotidiana. Na raiz de vários obstáculos para a definição da identidde coletiva sobressai o fator religioso e nele a existência da religião afro do Candomblé. Esta propõe a análise de uma problemática constituída por preconceitos, exclusões e imaginário que deixa subjacente emblemáticos desafios a serem vencidos à condição de serem identificados os problemas que lhes dão origem. Pode-se elencar a inserção do Candomblé na pluralidade religiosa vigente, com seu reconhecimento como uma religião, o problema de sua autenticidade, o de sua permanência através dos tempos, trazendo no seu bojo a recriação e a fragmentação territorial e étnica, o hibridismo com outros credos, do Cristianismo tradicional à recente Umbanda. Acrescentem-se os preconceitos de cor, ligados às ideologias subsistentes da constituição da meta-raça, os da pobreza, os do analfabetismo e primitivismo civilizacional, além de problemas éticos que tentam reduzir o Candomblé a uma religião de serviços, bem como a pseudo-tolerância católica e a hostil intolerância de outros grupos cristãos. Título Contemporâneo e tradicional: Masculinidade no culto de Babá Egun ID 131 Autores Joanice Conceição Resumo: As religiões de matriz africana, especialmente o candomblé e o culto de Babá Egun, no Brasil sempre foram grandes ethos de preservação de heranças trazidas na memória e no corpo daquelas e daqueles que foram arrancados de suas terras; esses espaços servem como núcleo de sociabilidade e solidariedade entre seus adeptos. Contudo, ao longo dos anos muitas mudanças tornaram imperativas face ao crescimento do número de casas de culto. Entretanto, o culto dedicado aos Egun restringe-se a algumas localidades do Brasil. Por ser um culto que demanda na preparação ritual um rigor incomensurável tanto do oficiante quanto dos freqüentadores, uma vez que estão envolvidos diretamente com os ritos mortuários. Um outro dado relevante é a participação dos homens, cuja presença é primordial, em detrimento da visibilidade dada ao papel da figura feminina, que tem espaço e funções limitados, esses são alguns fatores que talvez justifiquem o parco número de casas dedicadas ao culto ancestral. Nesta perspectiva, esta comunicação objetiva refletir sobre os papéis desempenhados por homens e mulheres neste culto, uma vez que busca entender como as representações de masculinidades presentes na visão de mundo dos sacerdotes e freqüentadores do culto de Babá Egun, na Ilha de Itaparica, na Bahia, ajudam na construção das identidades neste jogo emergente e contemporâneo. O culto de Babá Egun é um importante ethos de preservação cultural diaspórica, no qual é possível construir, reelaborar e ressignificar valores e visões retidas na memória, recai a relevância desta proposta. Título Entidades Espirituais Brasileiras: Caboclas Índias, Negras ou Negras Índias? ID 419 Autores Raquel Redondo Rotta, José Francisco Miguel Henriques Bairrão Resumo: Na umbanda, as caboclas são entidades espirituais femininas supostamente relacionadas à figura do indígena brasileiro. Autores descrevem os caboclos como obedecendo a uma lógica religiosa africana, apesar das características aparentemente brasileiras. Pela necessidade de cultuar ancestrais ligados à terra, o africano – no Brasil - elege o índio como ancestral digno de culto. Porém, pela lógica africana (iorubá), ancestrais femininos são cultuados como uma unidade indiferenciada. Nesta pesquisa, investigaram-se as possíveis marcas africanas nas caboclas, através de observação participante e entrevistas. As médiuns e suas caboclas apresentam indícios de uma ligação e valorização de traços africanos, tanto no âmbito religioso como na esfera da vida pessoal. Os resultados reforçam a hipótese de que africanos, em terras brasileiras, recorrem a elementos indígenas como símbolos necessários à sua religiosidade. Mas as caboclas X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 8/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade não se resumem a marcas africanas, apesar de possuí-las. Elas são descritas e descrevem-se com nomes e histórias próprias. Ou seja, desobedecem à regra religiosa de se desindividualizarem após sua morte. Constatou-se também que o universo simbólico relativo às caboclas apresenta bases e traços análogos, seguindo uma gramática cultural. A partir dessa ‘gramática’, elas aparecem com características e histórias próprias, e podem significar experiências pessoais, vivências sociais e influenciar comportamentos. Conclui-se que a tese sobre a origem africana dos caboclos é insuficiente para discutir a sua vertente feminina. Deve ser utilizada em conjunto com outras explicações, na tentativa de olhar as caboclas de uma forma mais completa. Título Terreiros de Candomblé do Recife: sincretismo das tradições ID 1424 Autores Katiane Fernandes Nóbrega Resumo: Apresenta-se parte dos resultados da pesquisa intitulada "Orixás - uma tradição viva: Imaginário dos candomblés de Pernambuco", coordenado pela Profa. Dra. Danielle Perin Rocha Pitta (UFPE/Brasil), durante o período de 2007-2008, no que diz respeito ao tema do sincretismo e das narrativas míticas. Discutem-se as particularidades que definem e diferenciam cada grupo ou tradição viva - Nagô, Xambá, Keto, Angola e Gege em Recife por meio das narrativas contadas pelos Babalorixás e Iyalorixás sobre seu orixá de cabeça, assim como, os dinamismos simbólicos presentes nos mitos destas tradições. As narrativas vêm dar sentido e justificar um “sincretismo intertribal” que rompe definitivamente com a noção de pureza nos cultos afro-brasileiro. Por exemplo, encontram-se casas de candomblé de nação Gege, em Recife que cultuam orixás tanto no Gege quanto na Angola, ou ainda no Xambá. Adota-se como referencial teórico à fenomenologia poética proposta por Gaston Bachelard e a Teoria Geral do Imaginário criada por Gilbert Durand. E como modelo metodológico, a mitocrítica - método de crítica literária que extrai de toda narrativa as imagens e temas redundantes, de modo a revelar as dimensões simbólicas, os mitos diretores e suas transformações significativas. Mesa: Religião e etnicidade: uma visão comparativa - 6 de Fevereiro - 16h15 - 213 Moderador: Marcos Pereira Rufino Título Narrativas religiosas, étnicas e subjetividade: uma comparação entre grupos religiosos nos contextos brasileiro e norte-americano ID 212 Autores Marcia Contins Resumo: Ao longo dos últimos anos venho realizando pesquisas no Brasil e nos Estados Unidos sobre etnicidade e religião, focalizando especificamente as chamadas religiões afro-brasileiras, o pentecostalismo e o catolicismo popular. Minha comunicação neste seminário é uma análise comparativa sobre pentecostais negros nos Estados Unidos e no Brasil; e sobre catolicismo popular entre grupos de origem açoriana no Rio de Janeiro e na Nova Inglaterra (EUA), onde realizam as festas do divino espírito santo. Meu objetivo é descrever e analisar os processos sociais e simbólicos de construção da subjetividade étnico-religiosa nesses grupos. Essa subjetividade estrutura-se através de símbolos diferencialmente valorizadas por esses grupos. Assim, no caso dos pentecostais norte-americanos, essa relação se define em contraposição aos batistas; no caso brasileiro em contraposição aos integrantes das religiões afro-brasileiras. No caso do catolicismo popular dos imigrantes açorianos, atividades rituais como a festa do divino os totalizam e os opõem ao catolicismo oficial e ao pentecostalismo. A sugestão que pretendo desenvolver é que essa relação entre religião e etnicidade não pode ser pensada de forma imediata, exigindo que se iluminem as mediações que a constituem, a fim de que se obtenha uma compreensão mais adequada. Na verdade, essa relação faz parte de um processo de “invenção de cultura”, segundo a sugestão de Roy Wagner, e que é mediado, em alguns momentos pelo código religioso, em outros pelo código étnico, sem que nenhum deles desempenhe um papel determinante. Título Sobre liberdade, exclusivismo e fundamentalismo: a intolerância religiosa em questão ID 213 Autores Edlaine Gomes Resumo: A invasão violenta por integrantes de uma determinada igreja pentecostal a um Centro de Umbanda, na zona sul do Rio de Janeiro, levou a visibilização da intolerância religiosa, que vem sendo amplamente debatida, inclusive com proposta de lei que institui o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”. Nessa dinâmica se encontram em disputa valores religiosos e laicos. Manifestações de intolerância emergem em distintos graus, que podem extrapolar a simples antipatia. Esta comunicação pretende analisar conflitos e combinações que se evidenciam nas relações de sociabilidade urbana diante do quadro de pluralismo religioso exclusivista, marcado pelo crescimento quantitativo e influência conquistada pelo chamado campo evangélico no cenário religioso brasileiro. Mais do que a disseminação desse campo religioso, a visibilidade e a disposição para o exclusivismo são apontadas por diferentes autores como suas principais características. Nota-se que no movimento de aceitação do “outro” há, concomitantemente, uma reafirmação generalizada de identidades religiosas exclusivas. Pretende-se discutir distintos aspectos e posicionamentos dos atores sociais sobre a “intolerância religiosa”, considerando como principais protagonistas as religiões afro-brasileiras e as igrejas evangélicas. Título Patrimônio, Etnia, e Direcionalidade Histórica no Pelourinho Baiano: O Papel das Ideologias Semióticas e as Interpretações dos Objetos Históricos na Identidade Nacional Brasileira ID 214 Autores John Collins Resumo: Este trabalho repensa as relações entre o espaço urbano, a historicidade e a identidade religiosa-racial no Centro Histórico de Salvador, Bahia. O Brasil é reconhecido como um país ‘do futuro’ e da suposta ‘democracia racial’. Na Bahia das últimas décadas do século XX estas ideologias baseiam-se em parte em políticas estaduais ligadas a tentativas de apropriação do Candomblé, da cultura popular em geral e do patrimônio histórico. Desde 1990 à primeira década do novo milênio nota-se uma mudança na qual o pentecostalismo ameaça a posição do Candomblé como chave simbólica e X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 9/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade demográfica na religiosidade popular baiana. Um crescimento na consciência negra resulta também num questionamento das ideologias raciais que valorizam a mistura. O horizonte futurístico concretizado por projetos urbanisticos modernistas como Brasília e, em Salvador, perde força frente a um crescente interesse no resgate da memória social. É este esboço sociológico-histórico que nos permite entender melhor, e duma forma nova na antropologia, as mudancas na religiosidade e as políticas raciais em Salvador. O crescimento do pentecostalismo e da consciência negra explicam-se de várias maneiras político-econômicas e simbólicas, mas até então nenhum pesquisador tem ligado estas mudanças ao rompimento do futurismo nacional e ao crescente interesse no tombamento/cristalização de monumentos, memórias e práticas supostamente populares. Neste trabalho proponho investigar como é que o tratamento dos objetos patrimoniais, as identidades raciais e as práticas religiosas se imbricam no Pelourinho, um sítio histórico, um símbolo importante da identidade negra brasileira e da experiência colonial e um pedaço material do patrimônio mundial e nacional. Título Religiosidade, patrimônio e etnicidade em exibição aos ‘santos de cor’ na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos (RJ) ID 219 Autores Andrea Lúcia da Silva de Paiva Resumo: O trabalho tem como objetivo analisar as reconstituições simbólicas presentes por dois grupos de fiéis em alguns eventos realizados na Igreja de Nª. Sª. do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos (RJ) como a Missa de Cura e Libertação: os ‘irmãos’ representados pela Irmandade dos Homens Pretos e organizadores do Museu do Negro, e o ‘povo’, como é classificado os demais fiéis. Neste sentido, torna-se importante descrever quem são estes grupos de fiéis e que papéis sociais exercem. A partir desta discussão, a análise da categoria de ‘patrimônio’, tal como representada do ponto de vista dos devotos como ‘devoção’ assim como a categoria de ‘acusação’, que circula nas narrativas dos cultos afrobrasileiros são fundamentais para as discussões que envolvem as relações sociais e simbólicas entre o espaço religioso, o espaço do museu e a cidade. Título Cotas, Afro-descendência e Desigualdade Racial: O Caso dos Formandos Cotistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ID 221 Autores Vânia Penha-Lopes Resumo: No fim do século XX, ao iniciar um programa de políticas de ação afirmativa, o Brasil admitiu a existência de suas profundas desigualdades raciais e sociais. Essas políticas visam a aumentar a representatividade, nas universidades e no mercado de trabalho, dos afro-descendentes e indígenas, bem como dos deficientes físicos e estudantes egressos de escolas públicas. A parte mais visível e controversa do programa são as cotas universitárias para afro-descendentes, as quais requerem alguma forma de classificação racial dos candidatos. Isso tem levado a uma nova análise do que significa ser branco, negro, ou outro no Brasil, algo que é comemorado por uns e condenado por outros. Este trabalho examina as attitudes sobre a política de cotas de uma amostra da primeira turma de formandos cotistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), uma das primeiras universidades brasileiras a admitirem alunos sob a política de cotas. Ou seja, os próprios beneficiados pelas cotas as discutem, demonstrando variação de opiniões: as cotas sociais (i.e., as que abrangem deficientes físicos e alunos egressos de escolas públicas) são mais bem aceitas que as cotas raciais (i.e., as que concernem afro-descendentes e indígenas). Mesa: Religião, simbolismo e perspectivas etnográficas - 6 de Fevereiro - 16h15 - 214 Moderador: Ana Keila M. Pinezi Título Multiculturalismo, pluralismo e tolerância/ intolerância religiosa: a perspectiva que os espíritas kardecistas pernambucanos possuem sobre os adeptos das religiões afro-brasileiras ID 160 Autores Aurenéa Maria de Oliveira Resumo: Esta comunicação tem como objetivo analisar, a partir dos resultados observados em minha tese de doutorado em Sociologia defendida em março de 2006, a visão e o relacionamento que os espíritas kardecistas pernambucanos possuem sobre os adeptos das religiões afro-brasileiras, estes pertencentes especificamente à Umbanda e ao Candomblé. Esse exame será feito levando em consideração a existência de um quadro religioso plural, que se manifesta no Brasil e em outros países, e a emergência de Estados multiculturais que lidando com a questão das diferenças e da tolerância está não mais pautada pela semelhança como nas sociedades modernas, mas sim pela busca da alteridade e pelo trato com as dessemelhanças – respeite e crie espaços institucionais que possibilitem a manifestação do dissenso e do conflito sem que com isso tais espaços venham a permitir a manifestação do intolerável, expresso através da violência e da opressão de grupos e vozes marginalizadas historicamente. Título “Comida de santo” e “comida típica”: um estudo do Ofício das Baianas de Acarajé ID 145 Autores Nina Bitar Resumo: Ao pensarmos a comida como uma categoria social e culturalmente construída, a proposta deste trabalho é de procurar refletir como a noção de “patrimônio cultural” assume um significado de maior amplitude, se aliada às possíveis leituras sociais e simbólicas que as categorias culinárias podem oferecer. Pretendo discutir, especificamente, o registro do “Ofício das Baianas de Acarajé” como “patrimônio cultural brasileiro” pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) no Livro dos Saberes do Patrimônio Imaterial em 2004. O universo em que o acarajé está inserido é complexo. A sua "origem" é atribuída a Benin e consiste em um bolinho composto, basicamente, de feijão. Ora como “comida de santo”, ofertada a Orixás no contexto do Candomblé, ora como “comida típica”, comercializada pelas ruas da Bahia e de mais alguns Estados do Brasil, podemos dizer que o acarajé aparece como um mediador fundamental entre a espera sagrada e profana. A hipótese central será a de conceber a X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 10/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade comida enquanto parte de um “sistema culinário”, enfatizando as relações sociais e simbólicas em que ela está inserida e nas quais age. A perspectiva de sistema insiste sobre a interdependência e pluralidade de seus elementos constituintes, os quais vão desde a classificação e obtenção do alimento à disposição de seus restos. A alimentação, sob esse ponto de vista, assume o valor de ser um elemento que compõe subjetividades individuais e coletivas e, por conseqüência, aparece como uma fonte de interpretação da sociedade. Título O caso das Festas do Divino Espírito Santo entre descendentes açorianos da cidade do Rio de Janeiro ID 272 Autores João Alexandre Felix Resumo: O objetivo desta comunicação é apresentar elementos do projeto de pesquisa que participo “Discursos ÉtnicoReligiosos, Subjetividade e Espaço Urbano”, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos da Religião da UERJ (Brasil). Trago neste trabalho, o caso das Festas do Divino, realizadas pelas Devoções Particulares ao Divino Espírito Santo de origem açoriana, localizadas nos bairros do Encantado e Catumbi, zona norte do Rio de Janeiro. O primeiro aspecto enfatizado será sobre o número significativo de devotos açorianos oriundos de vários pontos da cidade, e também, de outros estados e países como Estados Unidos, Portugal e Canadá. Essas festas, que se tornaram um marco no calendário cultural destas localidades, funcionam como uma espécie de revive das tradições nativas dos Açores, promovendo um fluxo intenso de pessoas na cidade. O segundo aspecto refere-se à importância dos objetos sagrados dos açorianos como bandeiras, coroas e cetros, utilizados no processo ritual destas comemorações. A noção de cura pelo Espírito Santo, partilhada entre os devotos e participantes das festas, está relacionada a estes rituais simbólicos. O último aspecto está relacionado à produção de novas formas de etnografia no jogo das alteridades. Neste sentido, falo, brevemente, sobre o dvd “O DIVINO E A CIDADE”, filmado em (2007) durante as festas do Divino. O filme, que é concebido como etnografia, distancia-se da estética cinematográfica, e busca analisar através da linguagem visual, a resignificação do espaço da cidade a partir da categoria tempo das festas (CONTINS), na construção das experiências subjetivas com o Divino. Título O Fruto Proibido e o Pão: Um Estudo Etnográfico no Assentamento do Contestado no Paraná ID 1310 Autores Lana Magaly Pires Resumo: Trata-se de um estudo sobre os significados do Fruto Proibido e do Pão pelos trabalhadores rurais SEM TERRA do Assentamento do Contestado, no município da Lapa, Paraná; membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST; que visa compreender os significados a partir das experiências dos atores e atrizes sociais no contexto da luta pela terra e sua produção. Uma etnografia que discorre sobre a história da luta política dos trabalhadores rurais SEM TERRA, descrevendo questões que permeiam subliminarmente a questão da fome, a luta pela terra, pelo “pão nosso de dia a dia”, interpretada sob o olhar de GEERTZ. Apresenta os significados destes atores e atrizes, as novas “Evas e Adões” à luz da etnografia, bem como as interpretações de teólogos e lideranças nacionais e estaduais do MST, que apresentam depoimentos sobre os significados referentes ao Fruto Proibido e ao Pão, trabalho na terra, o pão da terra e a luta pela mesma. Salienta-se o ritual de passagem ou de transição, marcado pela espera da terra e pela apropriação da mesma. Nesse ritual, destacam-se as singularidades dos sujeitos, seus sentimentos e a Mística do MST, identidade de SEM TERRA, que os impulsionam a prosseguirem. A solidariedade é mostrada como um aspecto marcante no MST. Em oposição à exploração capitalista, que agrava a degradação social, apresenta-se um retrato das condições sociais dos trabalhadores rurais SEM TERRA e suas formas de enfrentamento. Nesse contexto, em constante processo de reconstrução de um novo ethos e visão de mundo, encontra-se a Pedagogia do MST. Uma pedagogia que tem o acampamento/assentamento como espaço privilegiado e que se sustenta, na sua Mística, com símbolos religiosos. Das interpretações das falas dos trabalhadores rurais SEM TERRA surgem diversos significados sobre o Fruto Proibido e o Pão. Quanto ao Fruto Proibido, os principais são: Fruto Proibido/Terra Proibida e Fruto Proibido/Veneno (rejeição à utilização de agrotóxicos e à industrialização dos alimentos). E em relação ao pão destacam-se: Alimento do corpo, da alma e do espírito, o Pão-partilhado, Pão-palavra, Pão-comida, Pão-vida, Pão-eucaristia, o Pão que se multiplica na Ceia com Cristo. Ou seja, o pão é a metáfora do fruto da terra. Finalmente, sobre o Fruto Proibido e o Pão tem-se a concepção de saúde dos trabalhadores rurais SEM TERRA, fechando o círculo dos significados das suas falas. Em meio a essa polifonia por eles construída, em cujo cenário a religiosidade revela-se extremamente forte, surge o sentido metafórico do Fruto Proibido/Pão como a luta pela terra. Revela-se assim a existência de um único discurso no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: o vir a ser, que envolve a caminhada contínua em prol de justiça social, a preocupação em manter-se com saúde e a concepção do corpo/terra como UNO. Título Santo come? Um estudo sobre alimentação e religiosidade afro-descendente ID 1485 Autores Nina Bitar Resumo: A proposta deste trabalho é refletir sobre como a noção de religiosidade afro-descendente assume um significado de maior amplitude, quando aliada às possíveis leituras sociais e simbólicas que a comida pode suscitar. Embora o ato de comer seja usualmente compreendido apenas como uma simples satisfação de necessidades fisiológicas, a comida pode ser pensada como uma categoria social e culturalmente construída. Seguindo este caminho, pretendo pensar a articulação entre comida e religião, mais especificamente a configuração desse trânsito no caso específico dos seus usos rituais. Noções de natureza e cultura serão problematizadas, seguindo a proposta de que não são dados, mas categorias constituídas cotidianamente em contextos nativos. Ao procurar entender a comida enquanto parte de um “sistema culinário”, faz-se necessário acompanhar as mais variadas etapas de sua produção, desde a seleção de seus componentes à disposição de seus restos. São conjuntos de práticas e representações intimamente integrados a determinadas cosmologias, que unem pessoa, sociedade e universo. Assim, podemos dizer que a comida aparece como um importante mediador de relações entre humanos e divindades, articulada pelo princípio da dádiva, sugerindo uma possível leitura deste sistema como um “fato social total”, formulação clássica de Marcel Mauss. Destarte, o seu uso em contextos religiosos evidencia a importância de pensar a comida como um elemento que compõe subjetividades individuais e coletivas e, conseqüentemente, uma fonte de interpretação social. X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 11/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Título Impactos dos processos de naturalização na vida cotidiana de jovens brasileiros universitários e da periferia ID 1301 Autores Maria de Fátima Quintal de Freitas Resumo: Na perspectiva psicossocial latino-americana, os processos psicossociais de participação e conscientização são fundamentais para compreender as redes e estratégias de sobrevivência que fortalecem a solidariedade e dignidade no cotidiano e formação de cidadãos comprometidos. Assim, objetivando compreender os valores e crenças no futuro e nas possibilidades de mudança desenvolveu-se uma investigação quali-quanti junto a jovens de duas capitais brasileiras. Realizaram-se entrevistas coletivas e grupos focais com 18 jovens de periferia e questionários semi-estruturados com 178 jovens de cursos universitários públicos e privados. A análise revelou sentimentos de impotência e conformismo semelhantes. Quanto aos jovens de periferia: têm pais/mães subempregados/desempregados; acreditam que ‘todos têm que sofrer para conseguir algo’; convivem com droga, violência, mortes/assassinatos; valores como humanidade, direito à vida/paz, família estável, integram os sonhos de futuro. Quanto aos jovens universitários: convívio com alcoolismo, drogas, violência, gravidez; receio em envelhecer sozinhos e esperança em encontrar “parceiros/as” de vida/projetos. As crenças e significados sobre possibilidades de mudança revelam processos de naturalização da vida cotidiana, em que há neutralização do sentimento de indignação diante da injustiça vivida, condicionando o futuro à dimensão do imediato e tangível. Far-se-á uma análise psicossocial da relação entre Participação, Conscientização e Vida Cotidiana, para compreender porque os jovens envolvem-se, incomodam-se e agem, de modos diferentes, e como isto afeta as redes de convivência solidária, contribuindo para uma sociedade mais justa. (CNPq/Brasil) Mesa: Religiões, Cultos Afro-Brasileiros e Transnacionalização - 6 de Fevereiro - 16h15 - 305 Moderador: Ismael Pordeus Jr., Clara Saraiva, Sónia Apparecida Siqueira Título Santos e curas nos cultos afro-brasileiros em Portugal ID 1426 Autores Clara Saraiva Resumo: Em Portugal, a liberdade religiosa consagrada institucionalmente na constituição e alimentada na prática pela intensificação da imigração diversificada para o país permitiu que, com o tempo, se fossem implantando casas de cultos de Umbanda e Candomblé, ascendendo actualmente a cerca de 40 o número de terreiros no país. O crescimento no número de adeptos nos últimos 20 anos, deve-se, em parte, à atracção que os portugueses sentem pelo exotismo presente em tais rituais, que no entanto permite a continuidade da relação com as crenças católicas e as definidas como pertencendo ao mundo da “religiosidade popular”. Uma das razões que os leva a esses cultos são as terapias e possibilidades de cura que são oferecidas, quer para padecimentos do corpo, quer para “os da alma”. Esta comunicação explorará alguns desses aspectos, nomeadamente a lógica da transnacionalidade presente nestas terapias, em que, além dos líderes religiosos, terapeutas, plantas, e “mézinhas” que atravessam o Atlântico, do Brasil a Portugal, também se efectuam consultas através do telefone ou de correntes mediúnicas transatlânticas. Título O Jogo de Búzios e o Senhor da Pedra - transnacionalizações religiosas luso-afro-brasileiras ID 1427 Autores Ismael de Andrade Pordeus Jr. Resumo: Em Portugal entre as práticas do Catolicismo estão as orações realizadas nas capelas. Na região do Porto, particularmente na Capela do Senhor dos Milagres ou Amarrado e do Senhor da Pedra, toda uma categoria de resadores levam sua clientela, com o objectivo de solucionar aflições de que são acometidos, realizando performances de exorcismo através de orações tradicionais. Entre alguns resadores existe a prática de consulta a pai-de-santo do Candomblé para verificação através do jogo advinhatório búzios, da eficácia do ritual realizado. Essas práticas apontam nos processos de transnacionalização das religiões Luso-Afro-Brasileiras, o dialogismo com a religiosidade existente, ou as ressemantizações feitas culturalmente pelos grupos sociais nas sociedades onde se instalam. Aqui será privilegiado um estudo de caso etnográfico que acompanhei durante vários rituais Título Saravá em Português, Rupturas, falácias e dessacralização das religiões afro-brasileiras em Portugal ID 200 Autores João Ferreira Dias Resumo: As religiões afro-brasileiras chegaram a Portugal, a partir da década de 1970, através de uma globalização de imagens, das iniciativas do turismo cultural e da abertura espiritual-religiosa que a revolução de 25 de Abril de 1974 permitiu. Todavia, somente com a imigração brasileira em larga escala, verificada com o virar do milénio, podemos falar de uma ampliação do espaço de acção das religiões afro-brasileiras em Portugal. Contudo, ao contrário do que os novos pesquisadores académicos preconizavam, as religiões afro-brasileiras não servem de mecanismo de inserção dos imigrantes brasileiros. Ao mesmo tempo, a sacralização dos rituais de iniciação, de aprendizado e os processos de socialização tradicionais das mesmas religiões, tendem a desconstruir-se e a laicizar-se. As religiões afro-brasileiras em Portugal diferem em lógicas e processos face à fonte, isto é, reconstruíram a sua maneira de interagir com a sociedade, apresentando um novo rosto religioso, diferente do encontrado no Brasil. Título Circuitos de africanidades: Candomblé a partir de Fortaleza - Ceará em rotas transatlânticas ID 1432 Autores Luís Cláudio Cardoso Bandeira Resumo: A presente pesquisa, em fase de conclusão, a nível de dissertação em História Social, tem como ponto de partida, dentro da perspectivas dos Estudos Culturais, investigar as tradições africanas no Ceará, tomando como foco as "nações" de candomblé ligadas aos cultos Nagô-Vodum e Ketu, atuantes na Grande Fortaleza. Nossa perspectivas é apreender laços identitários históricamente construídos em "rotas e raízes", assim sendo, ao historiografar os terreiros ILê X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 12/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Igba Possun Azeri, Ilê OsunOyeyê Ni Mó e Ilê Axé Oloyoba, que segundo depoimentos de babalorixás e iniciados, casa fundantes desses cultos no estado. Ao identificarmos as características básicas das religiões e tradições afro diaspóricas no Ceará, nos deparamos com indicios de memórias e percursos trilhados por yalorixás em cicuitos luso-afro-brasileiros, que nos remeteram para Portugal e a coleta de testemunhos orais na Grande-Lisboa, junto aos terreiros de Candomblé Ilê Omo Orixá Kuitéchina Oba, Ilê Xangô Obagodô e Ilê Palácio de Iemanjá. Título Os cultos afro-brasileiros em Portugal: transnacionalização e dinâmicas religiosas ID 1435 Autores Maïa Guillot Resumo: Em Portugal, a implantação das religiões afro-brasileiras é estruturada por um discurso ideológico, largamente inspirado do luso-tropicalismo, fazendo de Portugal, da África e do Brasil uma comunidade religiosa e cultural unida. Nas casas de culto (terreiros), a interligação destas três regiões do mundo é apresentada como “um triângulo mágico” do qual teriam nascido as religiões afro-brasileiras. Nesta lógica, o estatuto da colonização na constituição destes cultos torna-se à prazo positivo, dando a Portugal um papel privilegiado. Além disso, de acordo com os iniciados portugueses, o seu país detem a primazia no contacto com as religiões de origem africana, dado que o tráfico para Portugal começou antes do tráfico transatlântico. Esta nova redacção da história é determinada pelos desafios políticos da transnationalização das religiões afro-brasileiras em Portugal, um país que deve legitimar uma expansão importante de práticas procedentes da sua principal antiga colónia. Título Umbanda e candomblé em Portugal ID 1430 Autores Arnaldo Burgos, Cláudio Ferreira, Virgínia Micael, João Ferreira Dias, Clara Saraiva Resumo: A ideia desta mesa relaciona-se com o debate no seio da antropologia especializada no estudo dos cultos afrobrasileiros sobre a relação entre a academia e os líderes de cultos (pais e mães de santo) e discutida noção de “reafricanização” dos cultos (Frijerio 2004). Vários autores (Silva 1995; Capone 2004) discutem a noção de valorização do “paraíso africano”, relativo à ênfase posta na origem africana destes cultos e da autoridade imputada aos indivíduos daí oriundos. Por outro lado, a diáspora das religiões afro-brasileiras é conhecida como um movimento dinâmico, caracterizado pela sua plasticidade e adaptabilidade, que no caso português resulta numa “bricolage” (Pordeus 2000) de crenças e cultos anteriores, da chamada “religiosidade popular”. Entre cultos mais próximos da matriz católica portuguesa, e outros mais próximos das origens africanas, o debate com especialistas religiosos revelar-se-á com certeza frutífero para uma reflexão mais consistente sobre a dinâmica das expansão destes movimentos religiosos no Portugal actual. Mesa: Religião e existência: crenças e experiências - 6 de Fevereiro - 18h30 - 316 Moderador: Mª Fátima Quintal Título Religiosidade e Cuidados Paliativos: "outra vida" após a morte? ID 73 Autores Rachel Menezes Resumo: Este trabalho aborda uma proposta recente de atendimento em saúde ao processo do morrer, abrangendo assistência biológica, psicológica, social e espiritual. Observação etnográfica em hospitais especializados nesta modalidade assistencial, de cursos e congressos no Brasil sobre a nova especialidade médica - denominada Cuidados Paliativos ou Medicina Paliativa – permitiu uma análise sobre as articulações entre medicina e religião. Os profissionais de saúde consideram fundamental uma aceitação do término da vida por parte de todos os envolvidos na assistência – pacientes, familiares, amigos e equipe de saúde. Para tal, são desenvolvidas diversas técnicas, dentre as quais a aqui examinada, criada por uma psicóloga e implementada em hospitais públicos brasileiros. O exercício consiste na visualização e mentalização da saída do corpo e entrada em outra esfera, quando seria possível encontrar Jesus Cristo, entidades espirituais e familiares já falecidos. A análise enfoca especialmente este recurso, baseado em relatos de “experiências de quase-morte”, com o objetivo de compreender os modos de articulação entre o valor da vida e do indivíduo na sociedade ocidental contemporânea, e um ethos religioso – não necessariamente confessional – que perpassa esta forma de assistência ao morrer. A crença na manutenção da identidade pessoal, em outra esfera ou instância, perpassa o ideário destes profissionais de saúde, dedicados ao último período de vida de doentes terminais. Título Confiança, fé e expectativas no contexto religioso católico: uma análise a partir do Santuário de Fátima ID 288 Autores Eduardo Gabriel, Igor Vinicius Lima Valentim Resumo: Ao nos atentarmos às origens do termo confiança, notamos sua estreita relação com a fé: ambas possuem a mesma raiz etimológica. Ao mesmo tempo em que ambos os conceitos estão ligados à crença, ao credo em alguém ou em alguma coisa, boa parte da literatura versa sobre a formação de expectativas como uma parte fundamental da construção e da manutenção de relações baseadas na confiança. O presente artigo pretende compreender os mecanismos dessa formação de expectativas no contexto específico dos fiéis católicos peregrinos no Santuário de Fátima, em Portugal. Esperamos entender mais especificamente como ocorre a construção das relações de confiança/fé com os elementos da história das aparições de Fátima. Dito de forma simples: Quais as motivações dos visitantes? O que esperam as pessoas que ali se dirigem? No que esperam ser atendidas? Qual o sentimento que depositam/constroem com as entidades ali representadas? No que/Em quem acreditam/confiam naquele contexto? As questões supra citadas serão respondidas a partir de entrevistas realizadas junto a visitantes e trabalhadores do Santuário de Fátima, na cidade de Fátima, em Portugal. X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 13/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Título O Sentido da História: protestantes e neopentecostais diante da morte ID 353 Autores Ana Keila Mosca Pinezi Resumo: Este trabalho trata do sentido da morte para dois grupos evangélicos distintos, um neopentecostal da Igreja Internacional da Graça de Deus e outro protestante histórico de vertente presbiteriana, ambos localizados em Ribeirão Preto. Foi realizada etnografia em cultos e reuniões das denominações, entrevista aberta com fiéis e observação participante. Os dados coletados foram analisados comparativamente. A pesquisa demonstrou que a noção de esperança dos presbiterianos está atrelada ao reencontro no céu e à vitória sobre a morte por meio da vida eterna e da segunda vinda de Jesus Cristo. A morte, entre eles, é desnaturalizada e ritualizada. Em contraposição, os neopentecostais vêem a morte como uma ruptura natural da vida, sem ritualizá-la no espaço sagrado. Para eles, a morte opõe-se à busca incessante, no presente, das bênçãos divinais, em especial as materiais e as relacionadas à cura do corpo. Título Alimentando Corpo e Alma: itinerância no ashram ID 863 Autores Márcia Assunção Araújo Resumo: A minha proposta de investigação pretende compreender as percepções cognitivas e simbólicas de indivíduos que adotam práticas alimentares vegetarianas por motivações religiosas, na cidade de Fortaleza, pertencentes a uma linha de ioga no âmbito dos novos movimentos religiosos – NMR - (Hervieu-Léger, 2005), expressa pela Nebulosa MísticoEsotérica (Champion, 1990). Este estudo visa compreender as representações e as práticas relacionadas com a alimentação, entre um grupo de pessoas que estão posicionados diferentemente no campo religioso, em função da etapa de amadurecimento e convicção de seus princípios religiosos. O cenário religioso contemporâneo, caracterizado pela bricolage de crenças, é marcado fundamentalmente pela tendência à individualização e subjetivação das crenças religiosas. Considerando essa paisagem religiosa como pano de fundo para a presente pesquisa, interessa investigar o espaço social alimentar (Poulain, 2003) dos participantes da Brahma Kumaris (BK), religião de origem hindu com sede em Fortaleza, como expressão de uma identidade coletiva, mas que demarca distinções individualizantes conforme a forma de pertença, e os significados subjetivamente atribuídos ao processo de auto-aperfeiçoamento empreendido nas práticas espirituais. Mesa: Religião e reconfiguração das identidades: conceitos e categorias - 6 de Fevereiro - 18h30 - 317 Moderador: Florival Raimundo Sousa Título Os sistemas abstratos e a produção de reflexividade na religiosidade contemporânea ID 42 Autores José Rogério Lopes Resumo: A comunicação aborda alguns processos pelos quais os sistemas abstratos de imposição tecnológica (segundo a concepção de A. Giddens) afetam práticas e representações de atores das manifestações religiosas populares, na contemporaneidade. A partir de estudos etnográficos focados nesse fenômeno, realizados em festas religiosas e no acompanhamento de grupos religiosos populares em alguns estados do Brasil, o pesquisador selecionou alguns casos que permitem reconhecer procedimentos da apropriação que os sujeitos populares operam das tecnologias de registro dessas manifestações. Através do uso de câmeras fotográficas, vídeo-filmadoras, gravadores de áudio, entre outras tecnologias, esses sujeitos produzem uma “auto-observação” ou um “auto-tombamento” de suas próprias crenças e práticas religiosas, como também das de outros sujeitos ou grupos com quem interagem. As análises parciais sobre esses procedimentos e os registros deles derivados indicam que os sujeitos os produzem segundo justificativas e referenciais diversos, que convergem para (e se contextualizam dentro de) um campo estratégico e contemporâneo de reflexividade sobre sua religiosidade. Nessas análises, destacam-se algumas questões importantes: a produção do consumo popular de tecnologia como recurso de “suspensão da memória” popular local; a expansão de um modo de modernização das culturas locais, assentado na valorização das experiências pessoais e da performance cultural ou religiosa; a espetacularização das manifestações religiosas e a reivindicação da diferença frente à mundialização da cultura. Tais questões têm apontado para a necessidade de refletir e compreender os processos de desinstitucionalização da reflexividade social e da ação dos sujeitos culturais, buscando orientações que permitam atualizar os estudos sobre religiosidade popular. Título A crise da categoria de religião para a missão católica contemporânea ID 102 Autores Marcos Pereira Rufino Resumo: A ação missionária católica que atua nas “fronteiras” culturais, particularmente aquela voltada aos povos indígenas atuais, foi objeto de fortes críticas intra-eclesiais quando da gestação da teologia da inculturação. No caso particular do Brasil, parte significativa dessas agências missionárias terminaram não apenas por incorporar o argumento central dessas críticas como também assumiram um papel ativo no desenvolvimento ulterior de tal proposta teológica. Tal desenvolvimento, contudo, sugere, no atual momento, contradições viscerais quanto ao lugar da categoria de religião para esses missionários, pois há um entendimento teológico crescente de que não cabe mais à missão católica o esforço de evangelização dos povos ou mesmo de identificação dos limites de seus universos religiosos, mas sim a tarefa de “encarnação” missionária nos contextos sociais e políticos em que os povos indígenas estão situados. Pretendemos discutir, nesse trabalho, alguns aspectos dessa desestabilização da noção de religião e as direções perseguidas por tais missionários na construção de um novo lugar para a missão e para a prática apostólica junto aos índios no Brasil. Título A expressão da crença no mundo justo como uma performance atribuidora de valor social ID 305 Autores Hélder Alves, Isabel Correia X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 14/15 Sessão temática: Valores, Crenças e Religiosidade Resumo: A crença no mundo justo (CMJ) foi caracterizada como uma “ilusão fundamental” em que os indivíduos percepcionam o mundo como um lugar no qual as pessoas têm o que merecem (Lerner, 1980). Em estudos anteriores (Alves & Correia, 2008) mostrámos que a expressão de graus mais elevados de CMJ eram considerados normativos e atribuidores de valor a quem os exprime. Nestes estudos pretendemos testar em que dimensões a normatividade da expressão de CMJ se encontra ancorada, nomeadamente que tipo(s) de valor social (utilidade ou/e desejabilidade social, Beauvois, 1995, 2003) é atribuído a quem exprime CMJ. Pretendemos, ainda, verificar se a normatividade da CMJ deriva do facto de ser avaliada como verdadeira ou se é normativa apesar de não ser avaliada como verdadeira. Em ambos os estudos, os participantes leram textos, sob a forma de excertos de entrevistas. No estudo 1, os participantes avaliaram os alvos, indicando que aqueles que exprimiram CMJ moderada ou alta foram percepcionados como tendo maior utilidade e desejabilidade social do que os alvos que exprimiram CMJ baixa. No estudo 2, os participantes avaliaram quer a expressao de CMJ moderada ou alta como mais normativas (desejável e aprovada) do que a CMJ baixa, mas indicaram que a CMJ alta era tão pouco verdadeira quanto a CMJ baixa. Discutimos a ideia da CMJ alta como um mecanismo legitimador do status quo (Jost & Hunyady, 2005), uma norma de julgamento cuja expressão constitui uma performance valorizada, e atribuidora de valor, apesar de não ser acreditada. Título Religião e sexualidade no discurso de jovens masculinos ID 629 Autores José Vaz Magalhães Néto Resumo: Inserida no campo de estudos das masculinidades contemporâneas, esta comunicação apresenta os resultados de uma investigação relativamente às práticas discursivas sobre sexo e religião no processo de construção das masculinidades em jovens pertencentes a um estrato social economicamente desfavorecido de uma região metropolitana no Sudeste brasileiro. Doze jovens masculinos divididos em três grupos foram entrevistados seguindo um guião cujas frases geradoras versavam sobre práticas religiosas e sexuais. Os quatro componentes de cada grupo foram categorizados seguindo as identidades sociais que lhes eram atribuídas, a saber: homossexual, heterossexual, religioso e sem religião. Como aporte teórico-metodológico usou-se a Análise do Discurso, na perspectiva dos estudos críticos do discurso, com o fito de desvelar as ideologias e conseqüentes relações de poder contidas nos discursos religiosos e sexuais, bem como as práticas discursivas de resistência aos referidos discursos. A análise das práticas discursivas dos jovens demonstrou que, apesar do padrão hegemônico de masculinidade prevalecer nos seus discursos religiosos e sexuais, manifestam-se discursos alternativos em seus embates conversacionais que reposicionam os sujeitos deslocando suas identidades para trânsitos diferentes em cada contexto que interagem. A análise das entrevistas possibilita inferir que as identidades sociais não são fixas e tampouco meramente reprodutoras de discursos anteriores aos sujeitos e que as masculinidades, por serem também construídas nas práticas discursivas, podem transpor, a partir de ressignificações e transgressões, os dogmas religiosos e normas sexuais ora prevalecentes que oprimem e excluem as masculinidades alternativas. X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Página 15/15