diabeTes Tipo 2 - Saude Noticias

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Testemunho de
quem precisa de
insulina todos
os dias
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ABRIL2013 | N.º 07 | ANO I | MENSAL + Este jornal é gratuito, pelo que não pode ser comercializado + diretora-geral: Ana Santos + PT. GLA 13.03.13.
Diabetes
tipo 2
Se precisar de insulina,
não se assuste
Saiba como prevenir e
tratar a diabetes tipo 2
Como vai a doença
em Portugal
A diabetes tipo 2 está bastante associada a estilos de
vida pouco saudáveis. O ideal é prevenir a doença,
mas se já a tem deve informar-se para que possa ter
uma vida com qualidade. Caso precise de insulina,
não se assuste. As autoridades de saúde aconselham o seu uso cada vez mais cedo para controlar
melhor a glicose no sangue, para se prevenir amputações e outras complicações graves, como nos explica o endocrinologista e presidente da Sociedade
Portuguesa de Diabetes, José Luís Medina.
As pessoas com diabetes perdem em média 7 anos de
vida úteis (aquando de morte antes dos 70 anos). Só em
Portugal, há um milhão de pessoas com a doença, 44 por
cento das quais sem estarem diagnosticadas. Os dados
são do Observatório Nacional da Diabetes de 2012. Apesar dos avanços que se têm feito sentir nos últimos anos, a
diabetes tipo 2 continua a ser uma preocupação constante
para as autoridades de saúde, como nos demonstra o Diretor do Programa Nacional para a Diabetes da Direção
Geral de Saúde (DGS), José Manuel Boavida.
Dionaldo Azevedo
“arregaçou as mangas”, porque é possível ter-se qualidade de
vida com esta doença.
breves
O sono das crianças é pior em tempo de crise
editorial
As dificuldades económicas também afetam o sono dos mais
pequenos, segundo a Associação Portuguesa de Cronobiologia e
Medicina do Sono.
Miguel Meira e Cruz, presidente da associação, explica à Lusa
que o aumento de casos de ansiedade, depressão e problemas de
sono nos adultos acaba por ter consequências nas crianças. Os
pais, com vários problemas gerados pela crise, acabam por dar
menos importância aos hábitos de sono dos filhos. O investigador
avançou ainda que a privação de sono entre os seis meses e os
12 anos poderá estar associada a défices neurocognitivos, como
dificuldades de aprendizagem, confundidas com hiperatividade e
défice de atenção. Relembremos que a privação do sono também
aumenta a probabilidade de se sofrer de diabetes tipo 2.
Não seja indiferente:
a prevenção é melhor
que a doença!
7 anos é o tempo de vida que se perde, em média, quando se sofre de diabetes. A conclusão do Observatório
Nacional da Diabetes 2012 não deixa margens para dúvidas: apesar dos avanços que se têm feito sentir nos últimos anos, a diabetes tipo 2 continua a matar e a causar
graves problemas de saúde.
O mais irrisório é estarmos perante uma doença que
pode ser prevenida. Sim, na maioria das vezes, está nas
nossas mãos ter ou não diabetes tipo 2. É importante ter
um estilo de vida saudável e praticar exercício para afastar esta doença. Já ouviu estas recomendações muitas
vezes? É verdade. Todos os dias somos bombardeados
com estas duas máximas. Mas, admitamos, se as colocarmos em prática podemos evitar a diabetes tipo 2 e
todas as complicações associadas a esta patologia.
Nesta edição damos-lhe a conhecer melhor a doença –
há sempre algo a aprender, por isso não seja indiferente.
Aliás, o conhecimento é essencial. Como nos dizia um
dos entrevistados para o vox pop, “não sabia como se
prevenia essa doença que tantos problemas me tem trazido na vida”.
Se está a ler este jornal e já é uma pessoa com diabetes,
então o melhor é controlar a doença, tomando sempre
a medicação e optando por um estilo de vida mais saudável.
Não abandone os tratamentos e, se precisar de insulina,
não se assuste. A evidência científica é clara: a insulina deve ser administrada numa fase precoce para evitar
complicações graves. Se o seu médico lhe receitar insulina, pense que a sua vida vai melhorar e deixe de pensar
que este tratamento é um “monstro”. O “monstro” está
nas complicações que podem surgir, como a cegueira e
as amputações, quando o seu corpo já precisa mesmo
deste tratamento e não o recebe.
Independentemente de tudo, o mais importante é apostar
na felicidade e no pensamento positivo. Estes também
ajudam na prevenção e no tratamento da diabetes tipo 2.
Sorria e tente ver a luz que está por detrás dos momentos mais negros! 
Ana Santos
Como a insulina afeta a memória e a aprendizagem
A via de sinalização da insulina e peptídeos semelhantes
têm um papel fundamental na regulação da aprendizagem e
da memória, segundo a Harvard University, nos EUA. Esta
descoberta poderá ser mais um passo no desenvolvimento de
tratamentos para uma série de distúrbios cognitivos, incluindo
a demência.
“As pessoas pensam em insulina e diabetes, mas muitas síndromes metabólicas estão associadas com alguns tipos de defeitos cognitivos e distúrbios comportamentais, como a depressão ou demência. Isso sugere que os peptídeos semelhantes à
insulina e a insulina podem desempenhar um papel importante
na função neural”, explica o coordenador da investigação, Yun
Zhang. O estudo foi publicado na revista Neuron.
Olho biónico dá visão
a cegos
Cientistas curaram
a diabetes em cães
Foi aprovado o primeiro olho biónico nos EUA. O novo
olho destina-se a pessoas que tenham perdido a visão
em resultado da retinite pigmentosa profunda, uma doença que danifica as células sensíveis à luz. O novo dispositivo transmite sem fios as imagens de uma câmara
montada em óculos, permitindo que um cego possa localizar objetos, detetar movimentos, melhorar a orientação
e a mobilidade, assim como discernir formas, incluindo
letras grandes.
Investigadores da Universidade Autónoma de Barcelona conseguiram curar a diabetes em cães com só um
tratamento de terapia genética, anuncia o Ciência Hoje.
O estudo, publicado na revista «Diabetes», refere que depois de um só tratamento, os animais recuperaram o seu
estado de saúde, deixando de ter sintomas da doença.
Os cães foram acompanhados durante quatro anos e em
nenhum dos casos se registaram recaídas.
FICHA TÉCNICA | Esta edição é de distribuição gratuita, pelo que não pode ser vendida
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Abril 2013
Ano I – 2013
Propriedade
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2ºEsq 1000 Lisboa
Sede da Redação
Rua Ramalho Ortigão, nº8
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Diretora
Ana Santos
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ERC registo: 125983
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da Lei, está proibida a reprodução
total ou parcial dos conteúdos.
diabetes no geral
Uma doença silenciosa,
mas prevenível
A diabetes tipo 2 está bastante
associada a estilos de vida
pouco saudáveis. O ideal é
prevenir a doença, mas se
já a tem deve informar-se
para que possa ter uma vida
com qualidade. Caso precise
de insulina, não se assuste.
As autoridades de saúde
aconselham o seu uso cada
vez mais cedo para controlar
melhor a glicose no sangue,
para se prevenir amputações e
outras complicações graves.
José Luís Medina,
endocrinologista e presidente
da Sociedade Portuguesa de
Diabetologia (SPD).
12,7 por cento dos portugueses sofre de diabetes. O tipo
de diabetes mais prevalente é a tipo 2, que está mais
associada a estilos de vida
pouco saudáveis. “O principal fator de risco é o excesso
de peso e a obesidade. Os
portugueses têm uma vida
muito sedentária e uma alimentação desequilibrada.
E não tem sido fácil mudar esta realidade”, afirma
José Luís Medina, endocrinologista e presidente
da Sociedade Portuguesa
de Diabetologia (SPD).
O problema poderá tornar-se grave e o melhor, no
seu entender, é “identificar os grupos de risco e
reforçar junto desse grupo populacional ações de
informação e formação
que permitam alterar este cenário”. Se não se reforçar a
prevenção e as medidas de
deteção precoce da doença
corremos riscos de ver aumentar, todos os anos, a percentagem de pessoas com
diabetes, no seu entender,
tal como acontece noutros
países. “Em Portugal ainda
não é frequente ter casos de
diabetes tipo 2 em crianças e
adolescentes, mas nos EUA,
a prevalência é muito elevada”. E deixa o alerta:” Os
médicos têm de estar atentos a este problema que nos
pode surgir em qualquer momento. Aliás, já se começa
a perceber que as taxas de
prevalência nas idades mais
precoces estão a aumentar
em Portugal.”
Apesar do alerta, é com bons
olhos que vê que dois terços
das pessoas com diabetes
têm a doença controlada,
como revelou o estudo TEDDI, realizado sob os auspícios da SPD e da Associação
Portuguesa de Médicos de
Medicina Geral e Familiar
(APMGF).
Diabetes tipo 2:
o que é?
Mas, afinal, que doença é
esta? A diabetes tipo 2 ocorre quando o pâncreas não
produz insulina suficiente e/
ou quando o organismo não
consegue utilizar de forma
eficaz a insulina produzida. O diagnóstico ocorre,
na maioria das vezes, após
os 40 anos de idade, mas
pode aparecer mais cedo.
Costuma estar associada ao
excesso de peso e à obesidade, que são consequência
de uma alimentação pouco
equilibrada e saudável e de
uma vida sedentária.
“A doença costuma ser silenciosa nos primeiros tempos”,
afirma José Luís Medina. A
diabetes tipo 2 pode passar
despercebida por muitos
anos, sendo o diagnóstico
muitas vezes efetuado devido à manifestação de complicações associadas ou,
acidentalmente, através de
um exame”.
Apesar de ter uma forte componente de hereditariedade,
os fatores que mais contribuem para o aparecimento
da doença, além do peso, é
o envelhecimento, a resistência à insulina, a história
familiar de diabetes, o ambiente intrauterino deficitário
e a etnia.
A diabetes
durante a
gravidez
A doença pode também surgir durante a gravidez. Estas
mulheres devem ser vigiadas sempre porque podem
vir a ter diabetes. É a chamada diabetes gestacional
que corresponde a qualquer
grau de anomalia do metabolismo da glicose detetado
apenas na fase da gravidez.
O aumento do nível de glicose materna pode resultar
em complicações para o
recém-nascido, nomeadamente macrossomia (bebé
muito grande), traumatismo
de parto, hipoglicemia e icterícia. Apesar de o problema desaparecer na maioria
dos casos, “estas mulheres
são sempre mais suscetíveis de ter diabetes, nos
anos a seguir à gravidez”.
Abril 2013
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diabetes no geral
Cuidados alimentares básicos
para quem já tem diabetes:
Não fique sem comer mais do que três horas durante o
dia, nem nove horas durante a noite;
Inclua em todas as refeições hidratos de carbono de
absorção lenta;
Prefira o pão de mistura a pão branco ou qualquer tipo
de bolachas;
Ingira frutas e vegetais diariamente;
Prefira peixe a carne (opte por carnes brancas);
Confecione e tempere com azeite;
Evite fritos e salgados (por exemplo, folhados);
Evite produtos de salsicharia, carnes e queijos gordos,
natas;
Reserve os doces para as ocasiões especiais;
Evite refrigerantes e beba cerca de 1,5 l de água por
dia;
Reduza o sal e não ponha o saleiro na mesa.
Fonte: Revista Diabetes
Os filhos também podem ser
afetados, tendo um maior risco de obesidade e de perturbações do metabolismo da
glicose durante a infância e a
vida adulta.
Tratamento: a
insulina é para
o seu bem
O tratamento habitual tem
por base antidiabéticos orais
e/ou insulina, além de um estilo de vida saudável. A adesão à terapêutica é essencial,
o que nem sempre acontece.
“A atual crise pode levar as
pessoas com diabetes e com
dificuldades financeiras a reduzirem a medicação, com
frequência. E não reduzem
apenas os medicamentos
para diabetes, mas também
para a hipertensão ou o ex-
cesso de colesterol, que costumam estar associados a
quadros diabéticos”, alerta o
endocrinologista e presidente
da SPD.
“Ajudem-nos
a prevenir
a diabetes,
tendo um
estilo de vida
saudável,
quer na alimentação
como na atividade física.
Vigie o seu
peso todas
as semanas,
combata o
excesso de
peso e a
obesidade”
Há mitos que levam os
pacientes a verem a insulina como “um monstro”. “
As pessoas assustam-se,
porque se trata de um tratamento injetável. Mas a
agulha é tão fina como um
cabelo e mal se sente a picada. É também importante
salientar que a insulina, ao
contrário do que se pensa,
não leva à cegueira, não faz
engordar e não implica obrigatoriamente hipoglicemias
constantes”.
A insulinoterapia não é o
tratamento de primeira linha
das pessoas com diabetes
tipo 2 e há casos em que
nunca precisam de optar
por este tratamento. Nestes,
ainda há a ideia pré-concebida que este tratamento
significa que “se está muito
mal e à beira de amputações”. “As indicações atuais
apontam para que o médico
receite mais cedo a insulina,
porque assim consegue-se
evitar o que acontecia há
uns anos. As pessoas acabavam por perder membros
ou ficar cegos, por não terem feito o tratamento mais
adequado numa fase precoce”. Na prática, a insulina
vai ajudar, não é nenhum
“monstro” e “melhora a qualidade de vida das pessoas,
evitando o surgimento de
complicações mais graves,
como as amputações e a
cegueira”.
Cada um deve
ser responsável pela sua
saúde
Para este especialista, o ideal é informar e formar as pessoas para saberem lidar com
a sua doença. “O acompanhamento médico regular é
muito importante, mas a educação terapêutica também
é fundamental para garantir
a confiança e a autonomia
competente da pessoa com
diabetes”, salienta. “Com informação e formação, a pessoa pode ter diabetes e uma
vida de qualidade. Basta saber viver com a doença”.
E, claro, o melhor é prevenir. José Luís Medina deixa
mesmo um alerta a toda a
população: “Ajudem-nos a
prevenir a diabetes, tendo
um estilo de vida saudável,
quer na alimentação como
na atividade física. Vigie o
seu peso todas as semanas,
combata o excesso de peso
e a obesidade”.
Gestos que melhoram a
saúde e que são um exemplo para os mais novos seguirem durante toda a vida,
prevenindo o surgimento de
mais casos de diabetes tipo
2: “Acompanhe a sua família
em passeios ao ar livre, habitue o seu filho a comer saudavelmente e a praticar atividades físicas regularmente”.
Independentemente
dos
avanços que ocorram na Medicina, a diabetes tipo 2 continua a ser uma doença prevenível, na maioria dos casos,
logo o seu combate depende
das autoridades de saúde,
dos profissionais de saúde,
mas sobretudo, de cada um
de nós.
Fonte: Federação Internacional da Diabetes, 2011
4
Abril 2013
diabetes no geral
Conheça melhor a
diabetes tipo 2
O que é a diabetes tipo 2?
A doença surge quando o
pâncreas não produz insulina suficiente e/ou quando
o organismo não consegue
utilizar eficazmente a insulina produzida. Pode ser
assintomática, ou seja, só é
detetada em exames de rotina ou quando surgem as
primeiras complicações.
Fatores de risco:
As pessoas que têm familiares próximos com Diabetes;
Os obesos ou todos os que
se deixam engordar, sobretudo na “barriga”;
Quem tem a pressão arterial alta ou níveis elevados
no sangue de colesterol;
As mulheres que tiveram
diabetes na gravidez ou filhos com peso à nascença
igual ou superior a 4 Kg;
Os doentes com algumas
doenças do pâncreas ou
doenças endócrinas.
Sintomas e sinais:
Urinar em grande quantidade e mais vezes – POLIÚRIA;
Sede constante e intensa –
POLIDÍPSIA;
Fome constante e difícil de
saciar – POLIFAGIA;
Sensação de boca seca –
XEROSTOMIA;
Fadiga;
Perda de peso sem explicação;
Comichão (prurido) no corpo (sobretudo ao nível dos
órgãos genitais);
Visão turva.
cia, por exemplo;
Infeções.
Como prevenir:
Praticar exercício físico,
fazer caminhadas, andar
mais a pé e andar menos
de carro; alimentação equi-
librada (comer poucos fritos
e doces, comer legumes,
saladas, sopa, peixe e carne magra);
Moderação nas bebidas alcoólicas;
Fazer várias refeições por
dia, em quantidades pe-
quenas;
Vigiar o colesterol, a glicemia e a pressão arterial (é
possível fazê-lo na farmácia, nos centros de saúde
ou em casa se tiver um aparelho de medição);
Evitar o stress.
Mais
informações:
www.appd.pt
www.spd.pt
Como Diagnosticar
a Diabetes:
O diagnóstico é feito através dos sintomas que a
pessoa manifesta e é confirmado com análises de
sangue. Outras vezes podem não existir sintomas e
o diagnóstico ser feito em
exames realizados por outra causa.
Complicações:
Complicações microvasculares (lesões dos pequenos
vasos sanguíneos):
Retinopatia (problemas de
visão);
Nefropatia (problemas de
rins);
Neuropatia (problemas nos
nervos);
Complicações macrovasculares (lesões dos grandes
vasos sanguíneos):
Macroangiopatia (doença
coronária, cerebral e dos
membros inferiores);
Hipertensão arterial;
Pé diabético;
Disfunção sexual: impotênAbril 2013
5
dados do observatório e plano da DGS
Pessoas com diabetes
perdem 7 anos de vida
A diabetes continua a ser um problema
de saúde que não pode ser esquecido,
como revela o Observatório Nacional
da Diabetes 2012. Para melhorar o
atendimento às pessoas com diabetes
e para diminuir a taxa de casos não
diagnosticados, está a ser criado o
processo assistencial integrado e as
unidades de coordenação funcionais
da diabetes entre os centros de saúde
e os hospitais de referência.
Maria João Ramires
A
s pessoas com diabetes perdem em
média 7 anos de
vida úteis (aquando de morte antes dos 70 anos). Só
em Portugal, há um milhão
de pessoas com a doença,
44 por cento das quais sem
estarem diagnosticadas. Os
dados são do Observatório
Nacional da Diabetes de
2012.
Apesar dos avanços que se
têm feito sentir nos últimos
anos, a diabetes tipo 2 continua a ser uma preocupação
constante para as autori6
dades de saúde. “A causa
principal é a desadaptação
do homem à sociedade atual, na qual não se faz uma
alimentação saudável e
onde o sedentarismo passou a ser prática corrente”, explica o Diretor do
Programa Nacional para a
Diabetes da Direção Geral
de Saúde (DGS), José Manuel Boavida.
Um plano
idêntico de
Norte a Sul
Para continuar a luta con-
Abril 2013
tra a diabetes, está a ser
implementado o Programa
Nacional para a Diabetes
(PND), que determina medidas bem concretas de combate à doença, que devem
ser seguidas em todas as
regiões do país. “Com este
programa vamos conseguir
identificar pessoas com diabetes, que nem sabem que
o são, encaminhá-las para
o seu médico assistente e
articular a ligação entre os
Cuidados de Saúde Primários (CSP) e as unidades
hospitalares”, explica.
“A causa
principal é a
desadaptação do homem à sociedade atual,
na qual não
se faz uma
alimentação
saudável e
onde o se-
dentarismo
passou a
ser prática
corrente”
Um dos elementos do PND
é o Processo Assistencial
Integrado, que tal como o
nome indica, é integrado,
isto é, “vai permitir aplicar
as boas práticas em saúde,
na luta contra a diabetes,
de uma forma idêntica em
todas as regiões do país,
de modo a evitar diferenças
regionais, como se verifica
atualmente”. Paralelamente são criadas unidades
coordenadoras funcionais
(UCF), que incluem sempre
um médico, um enfermeiro
do ACES (Agrupamento de
Centros de Saúde) e do
hospital e um médico de
saúde pública do centro de
saúde. “Esta equipa base
que pode recorrer a outros
profissionais, caso seja
necessário, deve fazer um
levantamento do estado
da diabetes na sua região,
a fim de se definir um pla-
dados do observatório e plano da DGS
internamentos e, o mais
importante, é termos registado a maior queda do número de amputações dos
últimos dez anos (menos
11 por cento)”. Regista-se
também uma menor letalidade intra-hospitalar, quer
como diagnóstico principal
quer como diagnóstico associado, como se refere no
relatório.
no de intervenção”, afirma
José Manuel Boavida.
Ainda se está numa fase
inicial deste novo processo, “mas, seguramente,
estaremos a trabalhar a
100 por cento já no próximo ano”. Questionado sobre a sustentabilidade do
projeto numa época de crise, o Diretor do Programa
Nacional para a Diabetes
afirma que “não é preciso
dinheiro, mas planificação
e organização”.
A evolução da
doença nos
últimos anos
O Observatório Nacional
da Diabetes de 2012 não
deixa margens para dúvi-
das. A diabetes continua a
ser um problema de saúde,
que não pode ficar esquecido na gaveta. A prevalência da doença é de 12,7
por cento na população
entre os 20 e os 79 anos,
verificando-se uma maior
prevalência nos homens
(M-15,9% e F -10,4%). Só
em 2011 morreram 4536
pessoas em Portugal devido à diabetes.
Em termos de taxa de prevalência, 56 por cento dos
indivíduos estão diagnosticados, enquanto 44 por cento
continua sem saber que tem
a doença. “O facto de não
se saber que se tem a doença pode ser muito grave.
As pessoas acabam por a
descobrir, na maioria das
vezes, em exames de rotina
aquando de intercorrências
ou quando surgem complicações noutros órgãos”. Comorbilidades que poderiam
ser evitadas com um diagnóstico precoce, segundo
este responsável. “Evitavase mais sofrimento, melhorava-se a qualidade de vida
e havia menos custos para o
Serviço Nacional de Saúde
(SNS)”.
Apesar destes dados menos
positivos, há também boas
notícias. “Assiste-se a uma
redução de 6 por cento nos
“Verifica-se a
existência de
uma relação
entre o escalão de IMC
e a diabetes,
com perto de
90 por cento
da população
a ter excesso
de peso ou
obesidade”
Relativamente à Rede de
Cuidados de Saúde Primários do SNS de Portugal
Continental, “o número de
pessoas com diabetes que
utilizou os serviços (com
pelo menos uma consulta registada em sistema)
foi de 501 170 (sendo 274
855 nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) e de 226
315 nas Unidades de Saúde Familiar (USF)”, aponta
o relatório.
José Manuel Boavida, Diretor do Programa Nacional para a
Diabetes da Direção Geral de Saúde (DGS)
Abril 2013
7
dados do observatório e plano da DGS
Outros dados a ter em conta é a prevalência da hiperglicemia intermédia – conhecida como pré-diabetes
– que, em 2011, atingiu
26,5 por cento da população portuguesa, com idades compreendidas entre
os 20 e os 79 anos (2088
mil indivíduos). Quanto à
incidência, ou seja aos novos casos, verifica-se “um
crescimento acentuado do
número na última década.
Em 2011 estimava-se a
existência de 652 novos
casos de diabetes por 100
mil habitantes”, pode lerse no relatório do Observatório.
A diabetes gestacional
também aumentou. A sua
prevalência foi de 4,9 por
cento, registando-se um
acréscimo significativo nos
últimos três anos. Para
José Manuel Boavida, este
aumento deve-se também
aos hábitos da atual sociedade. “Come-se de forma
Um problema de saúde à escala
mundial
A Diabetes atinge mais de 371 milhões de pessoas em
todo o mundo, o que corresponde a 8,3 por cento da
população mundial. Em mais de 50 por cento dos casos,
a doença ainda não foi diagnosticada, de acordo com
informações do Observatório Nacional da Diabetes
2012.
Só em 2012, a diabetes matou 4,8 milhões de pessoas,
metade das quais com menos de 60 anos. Estima-se
que, em 2030, o número de pessoas com esta doença,
no mundo inteiro, atinja os 552 milhões, o que representa
um aumento de 49 por cento da população atingida.
Para José Manuel Boavida, estes dados são bastante
preocupantes e jamais poderiam ter sido previstos
há 30 anos. “Nenhum visionário conseguiria antever
um crescimento tão acentuado da diabetes”, refere.
E acrescenta: “A doença está presente em diferentes
comunidades, em mais de 25% da população, como
ilhas do Pacífico, países árabes, tribos índias”.
Perante estas previsões, é impossível ficar-se quieto, de
braços cruzados.
8
Abril 2013
pouco equilibrada e somos
muito sedentários. As grávidas não fogem a esta
tendência”.
Associado ao problema
da diabetes está, de facto, o excesso de peso e a
obesidade. “Verifica-se a
existência de uma relação
entre o escalão de IMC e a
diabetes, com perto de 90
por cento da população a
ter excesso de peso ou obesidade”, refere. De acordo
com o relatório, “uma pessoa obesa apresenta um
risco três vezes superior de
desenvolver diabetes em
comparação com uma pessoa com peso normal”.
A prevalência
da doença é de 12,7 por cento
na população entre os 20 e
os 79 anos, verificando-se
uma maior prevalência nos
homens (M-15,9% e F -10,4%).
Só em 2011 morreram 4536
pessoas em Portugal devido
à diabetes
dados do observatório e plano da DGS
A prevenção
continua a ser
a palavra de
ordem
Face a estes dados, inevitavelmente, também se
registou um aumento no
consumo de medicamentos
para a diabetes. Nos últimos anos, em Portugal, entre 2000 e 2010, verificouse um crescimento de cerca
de 24 por cento em termos
de dose diária recomendada por 100 mil habitantes
por dia. No relatório da diabetes, justificam-se estes
dados com o aumento da
prevalência da doença, o
aumento do número e da
proporção de pessoas tratadas, bem como as dosagens médias utilizadas nos
tratamentos.
Os custos com estes medicamentos têm assumido,
assim, “uma especial preponderância e relevância
face ao crescimento efetivo
do consumo, que cresceu
60 por cento”. Na prática, os
utentes do SNS têm encargos diretos de 18 milhões
de euros com o consumo
de antidiabéticos orais.
“Não se trata apenas
de diminuir
os custos
do SNS com
esta doença,
mas, acima
de tudo, de
melhorar a
qualidade
de vida das
pessoas e
de evitar
complicações gravíssimas, como
amputações,
cegueira
e outras
doenças
crónicas
debilitantes”
Combater a diabetes
conhecendo a realidade do país
O Observatório Nacional da Diabetes foi constituído
em 2009 pela Sociedade Portuguesa de Diabetologia,
seguindo orientações da Direcção Geral de Saúde
(DGS). O objetivo era obter informações bem concretas
da realidade da diabetes em Portugal. “Se não soubermos
bem o que se passa no terreno, não conseguimos definir
políticas e medidas de saúde que vão, de fato, ao
encontro das necessidades das pessoas com diabetes”,
afirma José Manuel Boavida. No seu entender, a criação
do Observatório tem melhorado o combate à diabetes,
o que se pode verificar na redução, em 11 por cento,
das amputações. “O conhecimento da realidade tem
permitido também, fazer-se um trabalho multidisciplinar,
que envolve profissionais de saúde, utentes, autarquias,
escolas, o Ministério da Saúde, entre muitos outros
parceiros”.
O melhor continua a ser a
prevenção. “Não se trata
apenas de diminuir os custos do SNS com esta doença, mas, acima de tudo,
de melhorar a qualidade
de vida das pessoas e de
evitar complicações gravíssimas, como amputações,
cegueira e outras doenças
crónicas debilitantes”, salienta José Manuel Boavida. Ao longo dos anos têm
sido feitas várias campanhas para dar a conhecer
a diabetes, mas “é preciso
continuar a reforçar a ideia
de que o melhor é prevenir
e apostar na deteção precoce da doença”. O responsável da DGS reforça ainda
que “a doença é silenciosa
nos primeiros tempos, daí
a importância do processo
assistencial integrado e das
UCF, que permitirão detetar
atempadamente pessoas
com diabetes”.
E para que não se perca
sete anos de vida, com
muitas complicações, José
Manuel Boavida deixa uma
mensagem: “Pratique exercício físico, tenha uma alimentação saudável e controle os níveis de glicemia.
Isto até é possível na farmácia. Para quem já tem a
doença, aprenda a controlála, porque quem vive com a
doença 24 horas por dia é o
indivíduo e não o médico ou
o enfermeiro”.
Uma mensagem que reflete as recomendações de
vários estudos e da própria Organização Mundial
de Saúde (OMS). Os doentes devem ser cada vez
mais responsáveis pela sua
saúde, deixando de lado a
velha ideia de que a saúde
está apenas nas mãos dos
profissionais de saúde.
Fonte: Observatório Nacional da Diabetes, 2012
Fonte: Observatório Nacional da Diabetes, 2012
Fonte: Observatório Nacional da Diabetes, 2012
Abril 2013
9
o papel do enfermeiro
Educar para a saúde,
ouvir e dar uma palavra amiga
Os medos são muitos quando
se sabe que se tem diabetes.
Perante as muitas dúvidas,
que passam pelo que se pode
comer e pela importância da
insulina, o enfermeiro tem um
papel fundamental na adesão
à terapêutica e na adoção de
estilos de vida saudáveis
“Quando é preciso
iniciar insulina,
Maria João Ramires
é necessário explicar às
pessoas que se vão sentir
Isabel Correia, enfermeira
da Associação Protectora
dos Diabéticos de Portugal
(APDP)
“
O grande medo é a insulina”. Quem o afirma é
Isabel Correia, enfermeira da Associação Protectora
dos Diabéticos de Portugal
(APDP), uma associação
que acompanha, de forma
multidisciplinar,
pessoas
com diabetes e que é conhecida, a nível mundial, como
um caso de boas práticas.
“As pessoas acham que
quando se opta pela insulina
é porque já estão muito mal
e próximo de uma amputação ou de morrer dentro em
breve”, afirma. Mas nada
mais de errado. As indicações médicas internacionais
apontam cada vez mais no
sentido de se começar a recorrer à insulina em fases
mais precoces no tratamento da diabetes tipo 2. Tudo
10
para “se evitar essa
muito melhor e que vão ter
perda de membros e
menos complicações
a morte prematura”,
de saúde”
das ou (re) ensinando a
como salienta Isabel
maneira como a pessoa
Correia.
deve injetar a insulina a si
Este medo à insulina é um
próprio”. Na APDP, como
dos muitos desafios que
se trabalha de forma multiIsabel Correia enfrenta todos os dias na sua profis- esta terapêutica. “Quando disciplinar, quando a pessoa
são. “Quando é necessário receitada, é porque é consi- vem pela primeira vez tem
iniciar esta terapêutica, é derada a melhor terapêutica contacto com o enfermeiro ainda antes de chegar
necessário explicar às pes- para controlar a doença”.
soas que se vão sentir muito Todos estes medos têm uma ao consultório do médico:
melhor e que vão ter menos explicação. “Só recente- “Quando o paciente chega,
complicações de saúde”, mente se passou a receitar ingressa no chamado circuiacrescenta. O desafio pode insulina a pessoas com dia- to de primeira vez. Realiza
não ser fácil de início, mas betes tipo 2 numa fase mais análises, faz uma retinograa enfermeira garante que precoce. Logo tende-se a fia e um electrocardiograma.
“nunca nenhum doente aca- relembrar o caso da mãe, E, antes da consulta médibou por dizer mesmo «não» pai ou vizinha que, pouco ca, tem uma sessão em grutempo depois de fazer insu- po com outras pessoas com
a este tratamento”.
lina, acabou por ser ampu- diabetes e orientada por um
Afinal a insulina tado ou por morrer”, explica enfermeiro, onde se fala soa enfermeira. E acrescenta: bre a diabetes, tratamento,
é uma amiga
O enfermeiro acaba por ser “Com o passar dos tempos, complicações e aspectos
o profissional de saúde que percebeu-se que a insulina, da gestão da doença, com
tem um contato mais próxi- quando necessária, só vem vista a alterar alguns commo com os pacientes, pelo evitar perda de membros, portamentos”. Tem ainda
menos para explicar todas cegueira ou morte prematu- uma sessão com um nutrias dúvidas associadas à ra”. Outro medo associado à cionista onde falam sobre
doença. “Fazemos muita insulina é a picada da agu- alimentação.”
educação para a saúde. lha. “As pessoas costumam Nestas sessões fala-se de
Tentamos explicar às pes- ter medo de agulhas, mas tudo o que é necessário
soas que a diabetes não estas são tão finas que mal para se ter uma vida saudável e de qualidade, apesar
tem obrigatoriamente que se sentem”, garante.
da doença, e responde-se
lhes tirar qualidade de vida.
às dúvidas que podem exisOs tratamentos estão avan- O enfermeitir. “Além da insulinoterapia,
çados e a doença pode ser ro deve estar
os doentes receiam muito
controlada”, refere.
sempre
as hipoglicemias”. No fundo,
Ainda relativamente à insuli- presente
noterapia, Isabel Correia faz Perante estes receios, o o enfermeiro acaba por ser
questão de salientar a sen- papel do enfermeiro é fun- o contato de maior proxisação de bem-estar que as damental: “Estamos sempre midade. “Mesmo depois da
pessoas com diabetes sen- prontos para ajudar a pes- consulta de enfermagem,
tem quando passam a fazer soa, respondendo a dúvi- podem vir ter connosco.
Abril 2013
Estamos sempre disponíveis para ensinar a forma
como se deve administrar
a insulina, ou como fazer a
pesquisa de glicemia capilar
… ou ajudar na gestão da
diabetes”. Neste papel de
proximidade, a enfermeira
realça a importância de haver enfermeiros formados
na área da diabetologia. “A
APDP tem vários cursos
nesta área”, informa.
Os problemas de adesão à
terapêutica também podem
acontecer por causa do excesso de medicamentos e
da falta de dinheiro para os
comprar. “Regra geral, as
pessoas têm outros problemas de saúde associados
ou não à diabetes. Como
têm de tomar muitos comprimidos acabam por se esquecer ou abandonar determinadas terapêuticas. Outra
razão é a falta de dinheiro.
Se num mês estou melhor
da hipertensão ou do colesterol, não tomo esses comprimidos, e o mesmo acontece com os antidiabéticos
orais, provocando uma descompensação da diabetes”.
Saber viver com diabetes tipo 2
A educação para a saúde também não é uma tarefa fácil.
“É muito difícil levar as pessoas a mudarem determinados
hábitos de vida. Explicamos que não têm de deixar
de comer. Só precisam de ter uma alimentação mais
equilibrada e praticar exercício”, explica. E continua: “Quem
tem diabetes tipo 2 muitas vezes já tem mais de 40 anos e
outras patologias. Isso leva-as a não quererem caminhar
porque está muito frio e dói-lhes os joelhos e as costas, por
exemplo”.
Argumentos viáveis, mas que podem ser contrariados. “O
habitual é perceber em que alturas do dia a pessoa pode,
pelo menos, caminhar. Por exemplo, se vai buscar o neto
ao colégio, poderá fazê-lo a pé. Relembramos também
que a atividade física não tem de ser no ginásio ou na
piscina. Pode ser só ir passear até ao jardim.” E os truques
continuam: “O exercício também se deve iniciar aos poucos.
Se a pessoa não está habituada a praticar desporto e se
começa com uma atividade de 30 minutos, vai cansar-se
tanto, que acaba por desistir à primeira vez. É melhor ir
devagar. Vale mais 10 minutos do que nada”, salienta.
PUB
medicina geral e familiar
Não temer a insulina
Com a crise aumenta o número de pessoas
que se dirigem ao médico de família, antes
de irem a outro especialista. Luiz Miguel
Santiago, médico de Medicina Geral e Familiar
de Coimbra, fala-nos dos casos de diabetes que
aparecem no seu consultório e como a insulina
é um tratamento que deve começar a ser
receitado cada vez mais cedo.
“As pessoas têm muito
medo da insulina.
Mas se necessitam de a
tomar, devem fazê-lo. Não
significa que estão muito
mal, mas que vão iniciar um
tratamento que melhora
bastante a sua qualidade
de vida”,
Luiz Miguel Santiago, médico de Medicina Geral e Familiar
de Coimbra
A
diabetes tipo 2 é silenciosa. Descobre-se, na maioria das
vezes, em exames de rotina, quando surgem determinados problemas de saúde
que obrigam a pessoa a ir
ao médico ou quando há determinados sintomas.
No consultório de Luiz Miguel
Santiago, médico de Medicina Geral e Familiar (MGF),
já passaram muitos utentes
a queixarem-se de cansaço
recorrente, emagrecimento
apesar de comerem muito,
alterações urinárias, secura na boca. Logo à primeira vista, o médico suspeita
que possa estar perante um
caso de diabetes.
O procedimento habitual é
pedir análises, para confirmar a suspeita, “já que estes sintomas podem estar
associados a outras patologias”. “Infelizmente, na atual
sociedade deparamo-nos,
muitas vezes, com pessoas que têm diabetes tipo 2
12
e que não sabem. É triste,
porque trata-se de uma doença que pode ser prevenida”, salienta Luiz Miguel
Santiago.
Evitar o medo
da insulina
“O médico de família pode
não ter o tempo desejável
para fazer educação para a
saúde, mas mesmo assim
não deve deixar de explicar
ao doente a sua patologia
e como é importante aderir
à terapêutica”, refere. Uma
questão pertinente tendo
em conta que há doentes
que deixam de tomar antidiabéticos orais, quando os
níveis de glicemia começam
a estabilizar. “Alerto sempre
a pessoa para o facto de
que a descida dos valores
se deveu aos comprimidos.
Tem mesmo de os tomar”.
O papel do médico de família passa também por apoiar
o doente quando a insulina
se torna necessária. “As
Abril 2013
pessoas têm muito medo da
insulina. Mas se necessitam
de a tomar, devem fazê-lo.
Não significa que estão muito mal, mas que vão iniciar
um tratamento que melhora
bastante a sua qualidade
de vida”, aponta. Luiz Miguel Santiago reconhece
que muitos colegas da MGF
ainda sentem alguns constrangimentos em receitar insulina, mas as últimas orientações de saúde indicam
que um uso mais precoce
desta terapêutica vai prevenir muitas complicações,
como amputações, cegueira
e morte prematura.
“Tento explicar aos doentes todas as mais-valias
da insulina, desmistificando
aquela ideia de que é algo
muito doloroso. A agulha
mal se sente e a qualidade
de vida melhora bastante”.
O especialista refere ainda
que a insulina, além de melhorar a vida das pessoas,
“também traz benefícios ao
Serviço Nacional de Saúde
(SNS). “Poupamos muito,
porque evitamos os custos
associados a amputações e
todas as restantes complicações associadas à descompensação destes doentes,
como os reinternamentos
recorrentes”.
Comportamentos que põe em
risco os níveis
de glicemia
As causas da doença são
fruto da época em que vivemos. As pessoas já não andam tanto a pé, preferindo o
carro mesmo em distâncias
curtas, pratica-se menos
exercício físico, o emprego
exige cada vez menos esforços e a alimentação é desequilibrada, com fast-food e
muita comida pré-feita pelo
meio. “Todos estes fatores
acabam por ter repercussões na saúde das pessoas.
É inevitável”, afirma.
“É caricato, mas no tempo da Guerra dos Balcãs,
por exemplo, a diabetes diminuiu nesses países. As
pessoas passaram a andar
mais a pé e comiam pouco”.
A educação para a saúde é
essencial no seu entender.
“As pessoas têm de comer
várias vezes ao dia, ter
uma dieta rica em legumes
e peixe e pobre em gorduras e açúcar, caminhar, não
abusar do álcool, controlar a
tensão, o colesterol e a glicemia”, alerta.
Saber comer é fundamental
e o médico de família tem
um papel importante na educação dos doentes. “As pessoas comem muito numa re-
feição e depois estão muitas
horas sem comer. Isto leva
a uma sobrecarga do pâncreas e começam a aparecer problemas na libertação
da insulina”, explica. Outro
hábito pouco saudável é ir
para a cama ou para o sofá
após o jantar.
Quanto ao exercício físico,
basta caminhar. “As pessoas
devem praticar um desporto
que lhes dê prazer. Se não
poderem ir para o ginásio,
podem caminhar, não andar
tanto de carro. Devem, no
mínimo, dar quatro mil passos por dia. Claro, o ideal é
fazer uma caminhada de 30
minutos, mas mais vale pouco do que nada”.
O excesso de peso e a obesidade também não ajudam.
E para ilustrar a importância
do peso no controlo deste tipo de diabetes, conta
o caso de um dos doentes
que acompanha regularmente: “A pessoa em cau-
sa tem diabetes e tinha de
tomar muitos comprimidos
por dia. Perguntou-me o
que podia fazer para deixar
de tomar tantos fármacos. A
resposta foi simples: perder
peso. Assim fez e conseguiu
mesmo reduzir a medicação”. No excesso de peso
inclui-se também a gordura
abdominal. “Estas pessoas
têm muito mais tendência
de vir a sofrer de diabetes.”
Todos os conselhos para
uma vida saudável não servem apenas para quem tem
diabetes, mas para todas as
pessoas: “O ideal é mudar
para um estilo de vida saudável para evitar a doença”.
Com a crise, o médico tem
recebido um número cada
vez maior de doentes, daí
que deixe um alerta: “Os
médicos de MGF devem
ajudar as pessoas com diabetes e não devem ter medo
de receitar a insulina, sempre que seja necessário”.
PUB
"A Sociedade Portuguesa de Diabetologia(SPD) é uma
Sociedade científica de direito privado, sem fins lucrativos.
A SPD tem por objectivo essencial a intransigente defesa dos interesses científicos , sociais e morais dos seus associados e, nomeadamente, promover, cultivar e desenvolver a
investigação e o ensino da Diabetologia e Ciências Afins; fomentar o convívio e troca de
ideias entre sócios; dar parecer sobre todos os assuntos relacionados com a investigação
e o ensino da Diabetologia e Ciências Afins.
A criação de Grupos de Estudo tem tido relevo no estímulo á investigação e a realização
de Reuniões, Congressos e Fórum demonstra a actividade e intenção da SPD em manter
contactos e promover a educação das pessoas com diabetes e a actualização dos seus
membros."
R. do Salitre, 149 - 3ºEsq 1250-198 Lisboa 1250-203 Lisboa
Telf: 213 524 147 (das 9h às 13h) - Telem: 96 825 22 97 (das 9h às 13h) - Fax: 21 385 93 71
testemunho
“A insulina melhorou
bastante a minha vida”
Dionaldo Azevedo tem diabetes tipo 2 e já depende
da insulina para controlar a doença. Ao contrário
do que se possa pensar, não se sente diminuído
nas suas capacidades e até acha que a insulina foi
uma tábua de salvação, que lhe trouxe muito mais
qualidade de vida.
pessoas com diabetes “não
são inválidas”. “Agora já não
trabalho, mas mesmo quando estava empregado não
tinha problemas por causa
da doença. O truque está
em seguir a terapêutica e
ter hábitos de vida saudáveis”, afirma.
A dificuldade em
mudar certos
hábitos
Maria João Ramires
“
O meu problema é a
fruta. Ainda hoje em dia
custa-me imenso reduzir
o seu consumo”. As palavras são de Dionaldo Azevedo, 66 anos, reformado.
Nunca pensou que comer
muita fruta poderia fazer subir os níveis de glicemia. O
homem que em criança subia às árvores para comer a
fruta, vê-se agora obrigado
a controlar este alimento.
É impossível esquecer-se do
dia em que soube que tinha
diabetes. Na altura era vendedor, andava de carro o dia
inteiro e ao fim-de-semana
arbitrava jogos. Jamais imaginou que poderia ter a doença. “Não tinha sintomas.
Ou achava que não tinha.
Costumava ter a boca seca,
mas associava ao tabaco. O
que achava mais estranho
era os suores intensos e
frios que tinha quando fazia
14
algum esforço”.
Após uma gripe que o levou
à cama – “coisa que não era
habitual” -, realizou análises
de rotina. É nesse momento que a médica de família
lhe dá a notícia. Estava com
diabetes. “Não estava nada
à espera. Fazia uma alimentação minimamente equilibrada, praticava desporto.
Na altura até já tinha deixado de fumar”.
Vida com
diabetes não
implica muitas
restrições
A notícia não era agradável,
mas Dionaldo não baixou os
braços. Quis saber tudo sobre a doença e como a podia tratar. “O meu problema
não é bem ter diabetes, mas
saber se tenho tratamento.
O maior medo que tenho é
um dia dizerem-me que já
Abril 2013
não há nada a fazer”, conta. A diabetes obrigou-o a
mudar vários hábitos. “Não
posso comer tanta fruta,
principalmente depois das
principais refeições, tenho
de praticar exercício e seguir à risca a medicação”.
Além disso, também tem outros cuidados que não eram
necessários anteriormente.
“Tenho mais atenção às feridas, preciso de medir a glicemia, ando com rebuçados
para controlar uma possível
hipoglicemia”.
Mudanças que não o impedem de ter uma vida normal.
“Não se pense que quem sofre de diabetes tem uma vida
cheia de restrições. Continuo a comer quase tudo.
Simplesmente sei que tenho
de controlar o consumo de
fritos e doces e tomar medicamentos”. Dionaldo faz
questão de reafirmar que as
Apesar de ser uma doença
que hoje em dia é facilmente controlada e de as atuais
terapêuticas proporcionarem uma maior qualidade
de vida, há mudanças que
são obrigatórias e que nem
sempre são fáceis. “No meu
caso é a fruta. É mesmo
difícil controlar-me. Mas já
estou melhor”, garante. Outro obstáculo é o exercício
físico. “Quando trabalhava e
era árbitro estava mais ativo.
Agora, na reforma, é mais
difícil ter uma vida menos
sedentária. Quando está
bom tempo ainda faço caminhadas de 45 minutos,
mas com o frio, caminho
sentado no sofá”, admite.
Outra dificuldade é a reação das outras pessoas.
“Nem todos compreendem
que tenhamos de andar a
ser vigiados regularmente
no médico”.
Até que chegou
o dia da insulina
Dionaldo começou por tomar
apenas antidiabéticos orais,
além de outros medicamentos. “Tenho hipertensão, o
colesterol está elevado e
também tenho problemas
na próstata. Com tudo isto
tomava, na fase inicial, 8
comprimidos por dia”. Não
era fácil, “mas tinha que ser,
pois o importante é haver
um tratamento”.
No início deste ano, os antidiabéticos orais revelaram
não ser suficientes e o médico passou-lhe insulina.
“Todos os dias administro a
insulina antes de me deitar.
Dá para 24 horas.” Ao contrário do que é habitual, Dio-
“Ninguém
precisa ter
medo. É uma
agulha tão fina,
que mal sentimos
a picada”
naldo não se assustou com
a nova terapêutica. “Volto a
repetir. O meu maior medo
é não ter nenhuma solução”.
E acrescenta: “Ninguém precisa ter medo. É uma agulha
tão fina, que mal sentimos a
picada”, esclarece.
Além de não sentir dor, Dionaldo garante que se sente
muito melhor desde que
toma insulina. “Tenho muito
mais qualidade de vida e,
como me explicaram nas
consultas da Associação
Protectora dos Diabéticos
de Portugal (APDP), “estou
a evitar amputações e outras complicações”.
Como mensagem final alerta todas as pessoas a pedirem análises ao seu médico, mesmo se não tiverem
a doença, e a tomarem mais
atenção aos sinais do corpo. A quem já tem a doença, pede para que procurem
informação sobre a mesma
e sobre todas as terapêuticas que existem e que podem melhorar a vida de
quem sofre de diabetes.
“Não tenham medo. Sem
informação acabamos por
piorar e não ter qualidade
de vida”.
vox pop
Os (des) conhecimentos
sobre diabetes tipo 2
1. Sabe o que é a diabetes tipo 2 e
quais são os sintomas desta doença?
2. Sabe quais são os tratamentos
que se utilizam?
3. Acha que os tratamentos são
complicados?
4. Como é que se pode prevenir a
diabetes tipo 2?
<
Agripino Inácio, 61 anos,
reformado, Lisboa
1. N
ão sei. Só ouvi falar de diabetes. Não sou diabético, mas o meu
irmão é. Quanto aos sintomas, segundo o que ele me diz,
tem tonturas e problemas de tensão …
2. Há insulina injetável e comprimidos.
3. No caso da insulina, penso que sim. Pelo menos ao início, não
deve ser fácil. Só o facto de estar a pensar que se tem de receber
insulina, já deve ser uma sensação muito desagradável.
4. Não sei.
<
José Machado, 67 an
os, reformado,
Brandoa
1. N
ão sei nada disso. Já
ouvi falar da diabetes
, mas não sei
nada sobre a tipo 2.
2. Já ouvi falar da ins
ulina.
3. Deve ser uma grand
e confusão … E se a
pessoa toma insulina a mais?
4. Evitar o stress. A dia
betes é uma doença
que causa uma
grande irritação.
<
Danir, 50 anos, empregada doméstica,
Odivelas
Maria Olinda Moreira, 59 anos, Casal
São Brás, doméstica
<
1. S
im. Causa muita sede, tonturas … Sei que há muitos sintomas
parecidos com outras doenças. A minha mãe teve diabetes, mas
a pior de todas, aquela em que é preciso administrar insulina.
2. Insulina e comprimidos.
3. É um pouco complicado, porque a pessoa tem de deixar de
comer muitas coisas, como doces. Mas já há alimentos próprios
para diabéticos. No caso da insulina, também penso que não
seja complicado administrar o tratamento.
4. Ter cuidado com a alimentação. Às vezes abusamos demais nos
doces, embora a diabetes não tenha de ter a ver com a ingestão
de muitos doces.
1. N
ão sei. Não tenho a doença. Já ouvi falar de diabetes, mas tipo 2 …
2. Penso que se usa a insulina.
3. Penso que deve ser complicado. As pessoas têm que se picar
todos os dias e isso deve ser doloroso.
4. Penso que se deve cortar no sal e no açúcar e comer legumes.
< Manuel Pinto, 71 anos, reformado,
Brandoa
1. S
ei. É a que eu tenho. Faço insulina duas vezes por dia. A diabetes não dói, mas mina o corpo todo. Os sintomas, no início, não existem. Por exemplo, eu costumava ter cólicas renais
e tinha de ir muitas vezes ao hospital para levar injeções. Um dia descobriram quando me
fizeram análises. Na altura tinha muita sede e cansava-me muito.
2. Fazer dieta, insulina e comprimidos.
3. São fáceis. A insulina não é nenhuma complicação. Até ficamos melhor. O pior é ter
de tomar tantos comprimidos por dia, porque tenho outros problemas de saúde.
4. Não sei. Lá está, não a preveni…
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