Testemunho de quem precisa de insulina todos os dias www.facebook.com/saudenoticias ABRIL2013 | N.º 07 | ANO I | MENSAL + Este jornal é gratuito, pelo que não pode ser comercializado + diretora-geral: Ana Santos + PT. GLA 13.03.13. Diabetes tipo 2 Se precisar de insulina, não se assuste Saiba como prevenir e tratar a diabetes tipo 2 Como vai a doença em Portugal A diabetes tipo 2 está bastante associada a estilos de vida pouco saudáveis. O ideal é prevenir a doença, mas se já a tem deve informar-se para que possa ter uma vida com qualidade. Caso precise de insulina, não se assuste. As autoridades de saúde aconselham o seu uso cada vez mais cedo para controlar melhor a glicose no sangue, para se prevenir amputações e outras complicações graves, como nos explica o endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetes, José Luís Medina. As pessoas com diabetes perdem em média 7 anos de vida úteis (aquando de morte antes dos 70 anos). Só em Portugal, há um milhão de pessoas com a doença, 44 por cento das quais sem estarem diagnosticadas. Os dados são do Observatório Nacional da Diabetes de 2012. Apesar dos avanços que se têm feito sentir nos últimos anos, a diabetes tipo 2 continua a ser uma preocupação constante para as autoridades de saúde, como nos demonstra o Diretor do Programa Nacional para a Diabetes da Direção Geral de Saúde (DGS), José Manuel Boavida. Dionaldo Azevedo “arregaçou as mangas”, porque é possível ter-se qualidade de vida com esta doença. breves O sono das crianças é pior em tempo de crise editorial As dificuldades económicas também afetam o sono dos mais pequenos, segundo a Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono. Miguel Meira e Cruz, presidente da associação, explica à Lusa que o aumento de casos de ansiedade, depressão e problemas de sono nos adultos acaba por ter consequências nas crianças. Os pais, com vários problemas gerados pela crise, acabam por dar menos importância aos hábitos de sono dos filhos. O investigador avançou ainda que a privação de sono entre os seis meses e os 12 anos poderá estar associada a défices neurocognitivos, como dificuldades de aprendizagem, confundidas com hiperatividade e défice de atenção. Relembremos que a privação do sono também aumenta a probabilidade de se sofrer de diabetes tipo 2. Não seja indiferente: a prevenção é melhor que a doença! 7 anos é o tempo de vida que se perde, em média, quando se sofre de diabetes. A conclusão do Observatório Nacional da Diabetes 2012 não deixa margens para dúvidas: apesar dos avanços que se têm feito sentir nos últimos anos, a diabetes tipo 2 continua a matar e a causar graves problemas de saúde. O mais irrisório é estarmos perante uma doença que pode ser prevenida. Sim, na maioria das vezes, está nas nossas mãos ter ou não diabetes tipo 2. É importante ter um estilo de vida saudável e praticar exercício para afastar esta doença. Já ouviu estas recomendações muitas vezes? É verdade. Todos os dias somos bombardeados com estas duas máximas. Mas, admitamos, se as colocarmos em prática podemos evitar a diabetes tipo 2 e todas as complicações associadas a esta patologia. Nesta edição damos-lhe a conhecer melhor a doença – há sempre algo a aprender, por isso não seja indiferente. Aliás, o conhecimento é essencial. Como nos dizia um dos entrevistados para o vox pop, “não sabia como se prevenia essa doença que tantos problemas me tem trazido na vida”. Se está a ler este jornal e já é uma pessoa com diabetes, então o melhor é controlar a doença, tomando sempre a medicação e optando por um estilo de vida mais saudável. Não abandone os tratamentos e, se precisar de insulina, não se assuste. A evidência científica é clara: a insulina deve ser administrada numa fase precoce para evitar complicações graves. Se o seu médico lhe receitar insulina, pense que a sua vida vai melhorar e deixe de pensar que este tratamento é um “monstro”. O “monstro” está nas complicações que podem surgir, como a cegueira e as amputações, quando o seu corpo já precisa mesmo deste tratamento e não o recebe. Independentemente de tudo, o mais importante é apostar na felicidade e no pensamento positivo. Estes também ajudam na prevenção e no tratamento da diabetes tipo 2. Sorria e tente ver a luz que está por detrás dos momentos mais negros! Ana Santos Como a insulina afeta a memória e a aprendizagem A via de sinalização da insulina e peptídeos semelhantes têm um papel fundamental na regulação da aprendizagem e da memória, segundo a Harvard University, nos EUA. Esta descoberta poderá ser mais um passo no desenvolvimento de tratamentos para uma série de distúrbios cognitivos, incluindo a demência. “As pessoas pensam em insulina e diabetes, mas muitas síndromes metabólicas estão associadas com alguns tipos de defeitos cognitivos e distúrbios comportamentais, como a depressão ou demência. Isso sugere que os peptídeos semelhantes à insulina e a insulina podem desempenhar um papel importante na função neural”, explica o coordenador da investigação, Yun Zhang. O estudo foi publicado na revista Neuron. Olho biónico dá visão a cegos Cientistas curaram a diabetes em cães Foi aprovado o primeiro olho biónico nos EUA. O novo olho destina-se a pessoas que tenham perdido a visão em resultado da retinite pigmentosa profunda, uma doença que danifica as células sensíveis à luz. O novo dispositivo transmite sem fios as imagens de uma câmara montada em óculos, permitindo que um cego possa localizar objetos, detetar movimentos, melhorar a orientação e a mobilidade, assim como discernir formas, incluindo letras grandes. Investigadores da Universidade Autónoma de Barcelona conseguiram curar a diabetes em cães com só um tratamento de terapia genética, anuncia o Ciência Hoje. O estudo, publicado na revista «Diabetes», refere que depois de um só tratamento, os animais recuperaram o seu estado de saúde, deixando de ter sintomas da doença. Os cães foram acompanhados durante quatro anos e em nenhum dos casos se registaram recaídas. FICHA TÉCNICA | Esta edição é de distribuição gratuita, pelo que não pode ser vendida Subscreva o Saúde Notícias e envie-nos as suas sugestões para: [email protected] Siga-nos também no Facebook www.facebook.com/saudenoticias 2 Abril 2013 Ano I – 2013 Propriedade Guess What Comunicação, Lda Rua Francisco Sanches, nº55 2ºEsq 1000 Lisboa Sede da Redação Rua Ramalho Ortigão, nº8 3ºEsq 1070-230 Lisboa Tel.: 21 386 15 82 Email: [email protected] Diretora Ana Santos Tiragem 25 mil exemplares DESIGN E PAGINAÇÃO Alexandra Miguel Periodicidade Mensal Depósito Legal: DL 319614/10 ERC registo: 125983 Nº Contribuinte 508521211 Impressão Funchalense - Empresa Gráfica, SA Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, nº50 Morelena 2715-028 Pêro Pinheiro Colaboradores Maria João Ramires Carla Fonseca Mário Tomé Sónia Morais As opiniões, notas e comentários são da exclusiva responsabilidade dos autores ou das entidades que produziram os dados. Nos termos da Lei, está proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos. diabetes no geral Uma doença silenciosa, mas prevenível A diabetes tipo 2 está bastante associada a estilos de vida pouco saudáveis. O ideal é prevenir a doença, mas se já a tem deve informar-se para que possa ter uma vida com qualidade. Caso precise de insulina, não se assuste. As autoridades de saúde aconselham o seu uso cada vez mais cedo para controlar melhor a glicose no sangue, para se prevenir amputações e outras complicações graves. José Luís Medina, endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD). 12,7 por cento dos portugueses sofre de diabetes. O tipo de diabetes mais prevalente é a tipo 2, que está mais associada a estilos de vida pouco saudáveis. “O principal fator de risco é o excesso de peso e a obesidade. Os portugueses têm uma vida muito sedentária e uma alimentação desequilibrada. E não tem sido fácil mudar esta realidade”, afirma José Luís Medina, endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD). O problema poderá tornar-se grave e o melhor, no seu entender, é “identificar os grupos de risco e reforçar junto desse grupo populacional ações de informação e formação que permitam alterar este cenário”. Se não se reforçar a prevenção e as medidas de deteção precoce da doença corremos riscos de ver aumentar, todos os anos, a percentagem de pessoas com diabetes, no seu entender, tal como acontece noutros países. “Em Portugal ainda não é frequente ter casos de diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes, mas nos EUA, a prevalência é muito elevada”. E deixa o alerta:” Os médicos têm de estar atentos a este problema que nos pode surgir em qualquer momento. Aliás, já se começa a perceber que as taxas de prevalência nas idades mais precoces estão a aumentar em Portugal.” Apesar do alerta, é com bons olhos que vê que dois terços das pessoas com diabetes têm a doença controlada, como revelou o estudo TEDDI, realizado sob os auspícios da SPD e da Associação Portuguesa de Médicos de Medicina Geral e Familiar (APMGF). Diabetes tipo 2: o que é? Mas, afinal, que doença é esta? A diabetes tipo 2 ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente e/ ou quando o organismo não consegue utilizar de forma eficaz a insulina produzida. O diagnóstico ocorre, na maioria das vezes, após os 40 anos de idade, mas pode aparecer mais cedo. Costuma estar associada ao excesso de peso e à obesidade, que são consequência de uma alimentação pouco equilibrada e saudável e de uma vida sedentária. “A doença costuma ser silenciosa nos primeiros tempos”, afirma José Luís Medina. A diabetes tipo 2 pode passar despercebida por muitos anos, sendo o diagnóstico muitas vezes efetuado devido à manifestação de complicações associadas ou, acidentalmente, através de um exame”. Apesar de ter uma forte componente de hereditariedade, os fatores que mais contribuem para o aparecimento da doença, além do peso, é o envelhecimento, a resistência à insulina, a história familiar de diabetes, o ambiente intrauterino deficitário e a etnia. A diabetes durante a gravidez A doença pode também surgir durante a gravidez. Estas mulheres devem ser vigiadas sempre porque podem vir a ter diabetes. É a chamada diabetes gestacional que corresponde a qualquer grau de anomalia do metabolismo da glicose detetado apenas na fase da gravidez. O aumento do nível de glicose materna pode resultar em complicações para o recém-nascido, nomeadamente macrossomia (bebé muito grande), traumatismo de parto, hipoglicemia e icterícia. Apesar de o problema desaparecer na maioria dos casos, “estas mulheres são sempre mais suscetíveis de ter diabetes, nos anos a seguir à gravidez”. Abril 2013 3 diabetes no geral Cuidados alimentares básicos para quem já tem diabetes: Não fique sem comer mais do que três horas durante o dia, nem nove horas durante a noite; Inclua em todas as refeições hidratos de carbono de absorção lenta; Prefira o pão de mistura a pão branco ou qualquer tipo de bolachas; Ingira frutas e vegetais diariamente; Prefira peixe a carne (opte por carnes brancas); Confecione e tempere com azeite; Evite fritos e salgados (por exemplo, folhados); Evite produtos de salsicharia, carnes e queijos gordos, natas; Reserve os doces para as ocasiões especiais; Evite refrigerantes e beba cerca de 1,5 l de água por dia; Reduza o sal e não ponha o saleiro na mesa. Fonte: Revista Diabetes Os filhos também podem ser afetados, tendo um maior risco de obesidade e de perturbações do metabolismo da glicose durante a infância e a vida adulta. Tratamento: a insulina é para o seu bem O tratamento habitual tem por base antidiabéticos orais e/ou insulina, além de um estilo de vida saudável. A adesão à terapêutica é essencial, o que nem sempre acontece. “A atual crise pode levar as pessoas com diabetes e com dificuldades financeiras a reduzirem a medicação, com frequência. E não reduzem apenas os medicamentos para diabetes, mas também para a hipertensão ou o ex- cesso de colesterol, que costumam estar associados a quadros diabéticos”, alerta o endocrinologista e presidente da SPD. “Ajudem-nos a prevenir a diabetes, tendo um estilo de vida saudável, quer na alimentação como na atividade física. Vigie o seu peso todas as semanas, combata o excesso de peso e a obesidade” Há mitos que levam os pacientes a verem a insulina como “um monstro”. “ As pessoas assustam-se, porque se trata de um tratamento injetável. Mas a agulha é tão fina como um cabelo e mal se sente a picada. É também importante salientar que a insulina, ao contrário do que se pensa, não leva à cegueira, não faz engordar e não implica obrigatoriamente hipoglicemias constantes”. A insulinoterapia não é o tratamento de primeira linha das pessoas com diabetes tipo 2 e há casos em que nunca precisam de optar por este tratamento. Nestes, ainda há a ideia pré-concebida que este tratamento significa que “se está muito mal e à beira de amputações”. “As indicações atuais apontam para que o médico receite mais cedo a insulina, porque assim consegue-se evitar o que acontecia há uns anos. As pessoas acabavam por perder membros ou ficar cegos, por não terem feito o tratamento mais adequado numa fase precoce”. Na prática, a insulina vai ajudar, não é nenhum “monstro” e “melhora a qualidade de vida das pessoas, evitando o surgimento de complicações mais graves, como as amputações e a cegueira”. Cada um deve ser responsável pela sua saúde Para este especialista, o ideal é informar e formar as pessoas para saberem lidar com a sua doença. “O acompanhamento médico regular é muito importante, mas a educação terapêutica também é fundamental para garantir a confiança e a autonomia competente da pessoa com diabetes”, salienta. “Com informação e formação, a pessoa pode ter diabetes e uma vida de qualidade. Basta saber viver com a doença”. E, claro, o melhor é prevenir. José Luís Medina deixa mesmo um alerta a toda a população: “Ajudem-nos a prevenir a diabetes, tendo um estilo de vida saudável, quer na alimentação como na atividade física. Vigie o seu peso todas as semanas, combata o excesso de peso e a obesidade”. Gestos que melhoram a saúde e que são um exemplo para os mais novos seguirem durante toda a vida, prevenindo o surgimento de mais casos de diabetes tipo 2: “Acompanhe a sua família em passeios ao ar livre, habitue o seu filho a comer saudavelmente e a praticar atividades físicas regularmente”. Independentemente dos avanços que ocorram na Medicina, a diabetes tipo 2 continua a ser uma doença prevenível, na maioria dos casos, logo o seu combate depende das autoridades de saúde, dos profissionais de saúde, mas sobretudo, de cada um de nós. Fonte: Federação Internacional da Diabetes, 2011 4 Abril 2013 diabetes no geral Conheça melhor a diabetes tipo 2 O que é a diabetes tipo 2? A doença surge quando o pâncreas não produz insulina suficiente e/ou quando o organismo não consegue utilizar eficazmente a insulina produzida. Pode ser assintomática, ou seja, só é detetada em exames de rotina ou quando surgem as primeiras complicações. Fatores de risco: As pessoas que têm familiares próximos com Diabetes; Os obesos ou todos os que se deixam engordar, sobretudo na “barriga”; Quem tem a pressão arterial alta ou níveis elevados no sangue de colesterol; As mulheres que tiveram diabetes na gravidez ou filhos com peso à nascença igual ou superior a 4 Kg; Os doentes com algumas doenças do pâncreas ou doenças endócrinas. Sintomas e sinais: Urinar em grande quantidade e mais vezes – POLIÚRIA; Sede constante e intensa – POLIDÍPSIA; Fome constante e difícil de saciar – POLIFAGIA; Sensação de boca seca – XEROSTOMIA; Fadiga; Perda de peso sem explicação; Comichão (prurido) no corpo (sobretudo ao nível dos órgãos genitais); Visão turva. cia, por exemplo; Infeções. Como prevenir: Praticar exercício físico, fazer caminhadas, andar mais a pé e andar menos de carro; alimentação equi- librada (comer poucos fritos e doces, comer legumes, saladas, sopa, peixe e carne magra); Moderação nas bebidas alcoólicas; Fazer várias refeições por dia, em quantidades pe- quenas; Vigiar o colesterol, a glicemia e a pressão arterial (é possível fazê-lo na farmácia, nos centros de saúde ou em casa se tiver um aparelho de medição); Evitar o stress. Mais informações: www.appd.pt www.spd.pt Como Diagnosticar a Diabetes: O diagnóstico é feito através dos sintomas que a pessoa manifesta e é confirmado com análises de sangue. Outras vezes podem não existir sintomas e o diagnóstico ser feito em exames realizados por outra causa. Complicações: Complicações microvasculares (lesões dos pequenos vasos sanguíneos): Retinopatia (problemas de visão); Nefropatia (problemas de rins); Neuropatia (problemas nos nervos); Complicações macrovasculares (lesões dos grandes vasos sanguíneos): Macroangiopatia (doença coronária, cerebral e dos membros inferiores); Hipertensão arterial; Pé diabético; Disfunção sexual: impotênAbril 2013 5 dados do observatório e plano da DGS Pessoas com diabetes perdem 7 anos de vida A diabetes continua a ser um problema de saúde que não pode ser esquecido, como revela o Observatório Nacional da Diabetes 2012. Para melhorar o atendimento às pessoas com diabetes e para diminuir a taxa de casos não diagnosticados, está a ser criado o processo assistencial integrado e as unidades de coordenação funcionais da diabetes entre os centros de saúde e os hospitais de referência. Maria João Ramires A s pessoas com diabetes perdem em média 7 anos de vida úteis (aquando de morte antes dos 70 anos). Só em Portugal, há um milhão de pessoas com a doença, 44 por cento das quais sem estarem diagnosticadas. Os dados são do Observatório Nacional da Diabetes de 2012. Apesar dos avanços que se têm feito sentir nos últimos anos, a diabetes tipo 2 continua a ser uma preocupação constante para as autori6 dades de saúde. “A causa principal é a desadaptação do homem à sociedade atual, na qual não se faz uma alimentação saudável e onde o sedentarismo passou a ser prática corrente”, explica o Diretor do Programa Nacional para a Diabetes da Direção Geral de Saúde (DGS), José Manuel Boavida. Um plano idêntico de Norte a Sul Para continuar a luta con- Abril 2013 tra a diabetes, está a ser implementado o Programa Nacional para a Diabetes (PND), que determina medidas bem concretas de combate à doença, que devem ser seguidas em todas as regiões do país. “Com este programa vamos conseguir identificar pessoas com diabetes, que nem sabem que o são, encaminhá-las para o seu médico assistente e articular a ligação entre os Cuidados de Saúde Primários (CSP) e as unidades hospitalares”, explica. “A causa principal é a desadaptação do homem à sociedade atual, na qual não se faz uma alimentação saudável e onde o se- dentarismo passou a ser prática corrente” Um dos elementos do PND é o Processo Assistencial Integrado, que tal como o nome indica, é integrado, isto é, “vai permitir aplicar as boas práticas em saúde, na luta contra a diabetes, de uma forma idêntica em todas as regiões do país, de modo a evitar diferenças regionais, como se verifica atualmente”. Paralelamente são criadas unidades coordenadoras funcionais (UCF), que incluem sempre um médico, um enfermeiro do ACES (Agrupamento de Centros de Saúde) e do hospital e um médico de saúde pública do centro de saúde. “Esta equipa base que pode recorrer a outros profissionais, caso seja necessário, deve fazer um levantamento do estado da diabetes na sua região, a fim de se definir um pla- dados do observatório e plano da DGS internamentos e, o mais importante, é termos registado a maior queda do número de amputações dos últimos dez anos (menos 11 por cento)”. Regista-se também uma menor letalidade intra-hospitalar, quer como diagnóstico principal quer como diagnóstico associado, como se refere no relatório. no de intervenção”, afirma José Manuel Boavida. Ainda se está numa fase inicial deste novo processo, “mas, seguramente, estaremos a trabalhar a 100 por cento já no próximo ano”. Questionado sobre a sustentabilidade do projeto numa época de crise, o Diretor do Programa Nacional para a Diabetes afirma que “não é preciso dinheiro, mas planificação e organização”. A evolução da doença nos últimos anos O Observatório Nacional da Diabetes de 2012 não deixa margens para dúvi- das. A diabetes continua a ser um problema de saúde, que não pode ficar esquecido na gaveta. A prevalência da doença é de 12,7 por cento na população entre os 20 e os 79 anos, verificando-se uma maior prevalência nos homens (M-15,9% e F -10,4%). Só em 2011 morreram 4536 pessoas em Portugal devido à diabetes. Em termos de taxa de prevalência, 56 por cento dos indivíduos estão diagnosticados, enquanto 44 por cento continua sem saber que tem a doença. “O facto de não se saber que se tem a doença pode ser muito grave. As pessoas acabam por a descobrir, na maioria das vezes, em exames de rotina aquando de intercorrências ou quando surgem complicações noutros órgãos”. Comorbilidades que poderiam ser evitadas com um diagnóstico precoce, segundo este responsável. “Evitavase mais sofrimento, melhorava-se a qualidade de vida e havia menos custos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. Apesar destes dados menos positivos, há também boas notícias. “Assiste-se a uma redução de 6 por cento nos “Verifica-se a existência de uma relação entre o escalão de IMC e a diabetes, com perto de 90 por cento da população a ter excesso de peso ou obesidade” Relativamente à Rede de Cuidados de Saúde Primários do SNS de Portugal Continental, “o número de pessoas com diabetes que utilizou os serviços (com pelo menos uma consulta registada em sistema) foi de 501 170 (sendo 274 855 nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) e de 226 315 nas Unidades de Saúde Familiar (USF)”, aponta o relatório. José Manuel Boavida, Diretor do Programa Nacional para a Diabetes da Direção Geral de Saúde (DGS) Abril 2013 7 dados do observatório e plano da DGS Outros dados a ter em conta é a prevalência da hiperglicemia intermédia – conhecida como pré-diabetes – que, em 2011, atingiu 26,5 por cento da população portuguesa, com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (2088 mil indivíduos). Quanto à incidência, ou seja aos novos casos, verifica-se “um crescimento acentuado do número na última década. Em 2011 estimava-se a existência de 652 novos casos de diabetes por 100 mil habitantes”, pode lerse no relatório do Observatório. A diabetes gestacional também aumentou. A sua prevalência foi de 4,9 por cento, registando-se um acréscimo significativo nos últimos três anos. Para José Manuel Boavida, este aumento deve-se também aos hábitos da atual sociedade. “Come-se de forma Um problema de saúde à escala mundial A Diabetes atinge mais de 371 milhões de pessoas em todo o mundo, o que corresponde a 8,3 por cento da população mundial. Em mais de 50 por cento dos casos, a doença ainda não foi diagnosticada, de acordo com informações do Observatório Nacional da Diabetes 2012. Só em 2012, a diabetes matou 4,8 milhões de pessoas, metade das quais com menos de 60 anos. Estima-se que, em 2030, o número de pessoas com esta doença, no mundo inteiro, atinja os 552 milhões, o que representa um aumento de 49 por cento da população atingida. Para José Manuel Boavida, estes dados são bastante preocupantes e jamais poderiam ter sido previstos há 30 anos. “Nenhum visionário conseguiria antever um crescimento tão acentuado da diabetes”, refere. E acrescenta: “A doença está presente em diferentes comunidades, em mais de 25% da população, como ilhas do Pacífico, países árabes, tribos índias”. Perante estas previsões, é impossível ficar-se quieto, de braços cruzados. 8 Abril 2013 pouco equilibrada e somos muito sedentários. As grávidas não fogem a esta tendência”. Associado ao problema da diabetes está, de facto, o excesso de peso e a obesidade. “Verifica-se a existência de uma relação entre o escalão de IMC e a diabetes, com perto de 90 por cento da população a ter excesso de peso ou obesidade”, refere. De acordo com o relatório, “uma pessoa obesa apresenta um risco três vezes superior de desenvolver diabetes em comparação com uma pessoa com peso normal”. A prevalência da doença é de 12,7 por cento na população entre os 20 e os 79 anos, verificando-se uma maior prevalência nos homens (M-15,9% e F -10,4%). Só em 2011 morreram 4536 pessoas em Portugal devido à diabetes dados do observatório e plano da DGS A prevenção continua a ser a palavra de ordem Face a estes dados, inevitavelmente, também se registou um aumento no consumo de medicamentos para a diabetes. Nos últimos anos, em Portugal, entre 2000 e 2010, verificouse um crescimento de cerca de 24 por cento em termos de dose diária recomendada por 100 mil habitantes por dia. No relatório da diabetes, justificam-se estes dados com o aumento da prevalência da doença, o aumento do número e da proporção de pessoas tratadas, bem como as dosagens médias utilizadas nos tratamentos. Os custos com estes medicamentos têm assumido, assim, “uma especial preponderância e relevância face ao crescimento efetivo do consumo, que cresceu 60 por cento”. Na prática, os utentes do SNS têm encargos diretos de 18 milhões de euros com o consumo de antidiabéticos orais. “Não se trata apenas de diminuir os custos do SNS com esta doença, mas, acima de tudo, de melhorar a qualidade de vida das pessoas e de evitar complicações gravíssimas, como amputações, cegueira e outras doenças crónicas debilitantes” Combater a diabetes conhecendo a realidade do país O Observatório Nacional da Diabetes foi constituído em 2009 pela Sociedade Portuguesa de Diabetologia, seguindo orientações da Direcção Geral de Saúde (DGS). O objetivo era obter informações bem concretas da realidade da diabetes em Portugal. “Se não soubermos bem o que se passa no terreno, não conseguimos definir políticas e medidas de saúde que vão, de fato, ao encontro das necessidades das pessoas com diabetes”, afirma José Manuel Boavida. No seu entender, a criação do Observatório tem melhorado o combate à diabetes, o que se pode verificar na redução, em 11 por cento, das amputações. “O conhecimento da realidade tem permitido também, fazer-se um trabalho multidisciplinar, que envolve profissionais de saúde, utentes, autarquias, escolas, o Ministério da Saúde, entre muitos outros parceiros”. O melhor continua a ser a prevenção. “Não se trata apenas de diminuir os custos do SNS com esta doença, mas, acima de tudo, de melhorar a qualidade de vida das pessoas e de evitar complicações gravíssimas, como amputações, cegueira e outras doenças crónicas debilitantes”, salienta José Manuel Boavida. Ao longo dos anos têm sido feitas várias campanhas para dar a conhecer a diabetes, mas “é preciso continuar a reforçar a ideia de que o melhor é prevenir e apostar na deteção precoce da doença”. O responsável da DGS reforça ainda que “a doença é silenciosa nos primeiros tempos, daí a importância do processo assistencial integrado e das UCF, que permitirão detetar atempadamente pessoas com diabetes”. E para que não se perca sete anos de vida, com muitas complicações, José Manuel Boavida deixa uma mensagem: “Pratique exercício físico, tenha uma alimentação saudável e controle os níveis de glicemia. Isto até é possível na farmácia. Para quem já tem a doença, aprenda a controlála, porque quem vive com a doença 24 horas por dia é o indivíduo e não o médico ou o enfermeiro”. Uma mensagem que reflete as recomendações de vários estudos e da própria Organização Mundial de Saúde (OMS). Os doentes devem ser cada vez mais responsáveis pela sua saúde, deixando de lado a velha ideia de que a saúde está apenas nas mãos dos profissionais de saúde. Fonte: Observatório Nacional da Diabetes, 2012 Fonte: Observatório Nacional da Diabetes, 2012 Fonte: Observatório Nacional da Diabetes, 2012 Abril 2013 9 o papel do enfermeiro Educar para a saúde, ouvir e dar uma palavra amiga Os medos são muitos quando se sabe que se tem diabetes. Perante as muitas dúvidas, que passam pelo que se pode comer e pela importância da insulina, o enfermeiro tem um papel fundamental na adesão à terapêutica e na adoção de estilos de vida saudáveis “Quando é preciso iniciar insulina, Maria João Ramires é necessário explicar às pessoas que se vão sentir Isabel Correia, enfermeira da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) “ O grande medo é a insulina”. Quem o afirma é Isabel Correia, enfermeira da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), uma associação que acompanha, de forma multidisciplinar, pessoas com diabetes e que é conhecida, a nível mundial, como um caso de boas práticas. “As pessoas acham que quando se opta pela insulina é porque já estão muito mal e próximo de uma amputação ou de morrer dentro em breve”, afirma. Mas nada mais de errado. As indicações médicas internacionais apontam cada vez mais no sentido de se começar a recorrer à insulina em fases mais precoces no tratamento da diabetes tipo 2. Tudo 10 para “se evitar essa muito melhor e que vão ter perda de membros e menos complicações a morte prematura”, de saúde” das ou (re) ensinando a como salienta Isabel maneira como a pessoa Correia. deve injetar a insulina a si Este medo à insulina é um próprio”. Na APDP, como dos muitos desafios que se trabalha de forma multiIsabel Correia enfrenta todos os dias na sua profis- esta terapêutica. “Quando disciplinar, quando a pessoa são. “Quando é necessário receitada, é porque é consi- vem pela primeira vez tem iniciar esta terapêutica, é derada a melhor terapêutica contacto com o enfermeiro ainda antes de chegar necessário explicar às pes- para controlar a doença”. soas que se vão sentir muito Todos estes medos têm uma ao consultório do médico: melhor e que vão ter menos explicação. “Só recente- “Quando o paciente chega, complicações de saúde”, mente se passou a receitar ingressa no chamado circuiacrescenta. O desafio pode insulina a pessoas com dia- to de primeira vez. Realiza não ser fácil de início, mas betes tipo 2 numa fase mais análises, faz uma retinograa enfermeira garante que precoce. Logo tende-se a fia e um electrocardiograma. “nunca nenhum doente aca- relembrar o caso da mãe, E, antes da consulta médibou por dizer mesmo «não» pai ou vizinha que, pouco ca, tem uma sessão em grutempo depois de fazer insu- po com outras pessoas com a este tratamento”. lina, acabou por ser ampu- diabetes e orientada por um Afinal a insulina tado ou por morrer”, explica enfermeiro, onde se fala soa enfermeira. E acrescenta: bre a diabetes, tratamento, é uma amiga O enfermeiro acaba por ser “Com o passar dos tempos, complicações e aspectos o profissional de saúde que percebeu-se que a insulina, da gestão da doença, com tem um contato mais próxi- quando necessária, só vem vista a alterar alguns commo com os pacientes, pelo evitar perda de membros, portamentos”. Tem ainda menos para explicar todas cegueira ou morte prematu- uma sessão com um nutrias dúvidas associadas à ra”. Outro medo associado à cionista onde falam sobre doença. “Fazemos muita insulina é a picada da agu- alimentação.” educação para a saúde. lha. “As pessoas costumam Nestas sessões fala-se de Tentamos explicar às pes- ter medo de agulhas, mas tudo o que é necessário soas que a diabetes não estas são tão finas que mal para se ter uma vida saudável e de qualidade, apesar tem obrigatoriamente que se sentem”, garante. da doença, e responde-se lhes tirar qualidade de vida. às dúvidas que podem exisOs tratamentos estão avan- O enfermeitir. “Além da insulinoterapia, çados e a doença pode ser ro deve estar os doentes receiam muito controlada”, refere. sempre as hipoglicemias”. No fundo, Ainda relativamente à insuli- presente noterapia, Isabel Correia faz Perante estes receios, o o enfermeiro acaba por ser questão de salientar a sen- papel do enfermeiro é fun- o contato de maior proxisação de bem-estar que as damental: “Estamos sempre midade. “Mesmo depois da pessoas com diabetes sen- prontos para ajudar a pes- consulta de enfermagem, tem quando passam a fazer soa, respondendo a dúvi- podem vir ter connosco. Abril 2013 Estamos sempre disponíveis para ensinar a forma como se deve administrar a insulina, ou como fazer a pesquisa de glicemia capilar … ou ajudar na gestão da diabetes”. Neste papel de proximidade, a enfermeira realça a importância de haver enfermeiros formados na área da diabetologia. “A APDP tem vários cursos nesta área”, informa. Os problemas de adesão à terapêutica também podem acontecer por causa do excesso de medicamentos e da falta de dinheiro para os comprar. “Regra geral, as pessoas têm outros problemas de saúde associados ou não à diabetes. Como têm de tomar muitos comprimidos acabam por se esquecer ou abandonar determinadas terapêuticas. Outra razão é a falta de dinheiro. Se num mês estou melhor da hipertensão ou do colesterol, não tomo esses comprimidos, e o mesmo acontece com os antidiabéticos orais, provocando uma descompensação da diabetes”. Saber viver com diabetes tipo 2 A educação para a saúde também não é uma tarefa fácil. “É muito difícil levar as pessoas a mudarem determinados hábitos de vida. Explicamos que não têm de deixar de comer. Só precisam de ter uma alimentação mais equilibrada e praticar exercício”, explica. E continua: “Quem tem diabetes tipo 2 muitas vezes já tem mais de 40 anos e outras patologias. Isso leva-as a não quererem caminhar porque está muito frio e dói-lhes os joelhos e as costas, por exemplo”. Argumentos viáveis, mas que podem ser contrariados. “O habitual é perceber em que alturas do dia a pessoa pode, pelo menos, caminhar. Por exemplo, se vai buscar o neto ao colégio, poderá fazê-lo a pé. Relembramos também que a atividade física não tem de ser no ginásio ou na piscina. Pode ser só ir passear até ao jardim.” E os truques continuam: “O exercício também se deve iniciar aos poucos. Se a pessoa não está habituada a praticar desporto e se começa com uma atividade de 30 minutos, vai cansar-se tanto, que acaba por desistir à primeira vez. É melhor ir devagar. Vale mais 10 minutos do que nada”, salienta. PUB medicina geral e familiar Não temer a insulina Com a crise aumenta o número de pessoas que se dirigem ao médico de família, antes de irem a outro especialista. Luiz Miguel Santiago, médico de Medicina Geral e Familiar de Coimbra, fala-nos dos casos de diabetes que aparecem no seu consultório e como a insulina é um tratamento que deve começar a ser receitado cada vez mais cedo. “As pessoas têm muito medo da insulina. Mas se necessitam de a tomar, devem fazê-lo. Não significa que estão muito mal, mas que vão iniciar um tratamento que melhora bastante a sua qualidade de vida”, Luiz Miguel Santiago, médico de Medicina Geral e Familiar de Coimbra A diabetes tipo 2 é silenciosa. Descobre-se, na maioria das vezes, em exames de rotina, quando surgem determinados problemas de saúde que obrigam a pessoa a ir ao médico ou quando há determinados sintomas. No consultório de Luiz Miguel Santiago, médico de Medicina Geral e Familiar (MGF), já passaram muitos utentes a queixarem-se de cansaço recorrente, emagrecimento apesar de comerem muito, alterações urinárias, secura na boca. Logo à primeira vista, o médico suspeita que possa estar perante um caso de diabetes. O procedimento habitual é pedir análises, para confirmar a suspeita, “já que estes sintomas podem estar associados a outras patologias”. “Infelizmente, na atual sociedade deparamo-nos, muitas vezes, com pessoas que têm diabetes tipo 2 12 e que não sabem. É triste, porque trata-se de uma doença que pode ser prevenida”, salienta Luiz Miguel Santiago. Evitar o medo da insulina “O médico de família pode não ter o tempo desejável para fazer educação para a saúde, mas mesmo assim não deve deixar de explicar ao doente a sua patologia e como é importante aderir à terapêutica”, refere. Uma questão pertinente tendo em conta que há doentes que deixam de tomar antidiabéticos orais, quando os níveis de glicemia começam a estabilizar. “Alerto sempre a pessoa para o facto de que a descida dos valores se deveu aos comprimidos. Tem mesmo de os tomar”. O papel do médico de família passa também por apoiar o doente quando a insulina se torna necessária. “As Abril 2013 pessoas têm muito medo da insulina. Mas se necessitam de a tomar, devem fazê-lo. Não significa que estão muito mal, mas que vão iniciar um tratamento que melhora bastante a sua qualidade de vida”, aponta. Luiz Miguel Santiago reconhece que muitos colegas da MGF ainda sentem alguns constrangimentos em receitar insulina, mas as últimas orientações de saúde indicam que um uso mais precoce desta terapêutica vai prevenir muitas complicações, como amputações, cegueira e morte prematura. “Tento explicar aos doentes todas as mais-valias da insulina, desmistificando aquela ideia de que é algo muito doloroso. A agulha mal se sente e a qualidade de vida melhora bastante”. O especialista refere ainda que a insulina, além de melhorar a vida das pessoas, “também traz benefícios ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Poupamos muito, porque evitamos os custos associados a amputações e todas as restantes complicações associadas à descompensação destes doentes, como os reinternamentos recorrentes”. Comportamentos que põe em risco os níveis de glicemia As causas da doença são fruto da época em que vivemos. As pessoas já não andam tanto a pé, preferindo o carro mesmo em distâncias curtas, pratica-se menos exercício físico, o emprego exige cada vez menos esforços e a alimentação é desequilibrada, com fast-food e muita comida pré-feita pelo meio. “Todos estes fatores acabam por ter repercussões na saúde das pessoas. É inevitável”, afirma. “É caricato, mas no tempo da Guerra dos Balcãs, por exemplo, a diabetes diminuiu nesses países. As pessoas passaram a andar mais a pé e comiam pouco”. A educação para a saúde é essencial no seu entender. “As pessoas têm de comer várias vezes ao dia, ter uma dieta rica em legumes e peixe e pobre em gorduras e açúcar, caminhar, não abusar do álcool, controlar a tensão, o colesterol e a glicemia”, alerta. Saber comer é fundamental e o médico de família tem um papel importante na educação dos doentes. “As pessoas comem muito numa re- feição e depois estão muitas horas sem comer. Isto leva a uma sobrecarga do pâncreas e começam a aparecer problemas na libertação da insulina”, explica. Outro hábito pouco saudável é ir para a cama ou para o sofá após o jantar. Quanto ao exercício físico, basta caminhar. “As pessoas devem praticar um desporto que lhes dê prazer. Se não poderem ir para o ginásio, podem caminhar, não andar tanto de carro. Devem, no mínimo, dar quatro mil passos por dia. Claro, o ideal é fazer uma caminhada de 30 minutos, mas mais vale pouco do que nada”. O excesso de peso e a obesidade também não ajudam. E para ilustrar a importância do peso no controlo deste tipo de diabetes, conta o caso de um dos doentes que acompanha regularmente: “A pessoa em cau- sa tem diabetes e tinha de tomar muitos comprimidos por dia. Perguntou-me o que podia fazer para deixar de tomar tantos fármacos. A resposta foi simples: perder peso. Assim fez e conseguiu mesmo reduzir a medicação”. No excesso de peso inclui-se também a gordura abdominal. “Estas pessoas têm muito mais tendência de vir a sofrer de diabetes.” Todos os conselhos para uma vida saudável não servem apenas para quem tem diabetes, mas para todas as pessoas: “O ideal é mudar para um estilo de vida saudável para evitar a doença”. Com a crise, o médico tem recebido um número cada vez maior de doentes, daí que deixe um alerta: “Os médicos de MGF devem ajudar as pessoas com diabetes e não devem ter medo de receitar a insulina, sempre que seja necessário”. PUB "A Sociedade Portuguesa de Diabetologia(SPD) é uma Sociedade científica de direito privado, sem fins lucrativos. A SPD tem por objectivo essencial a intransigente defesa dos interesses científicos , sociais e morais dos seus associados e, nomeadamente, promover, cultivar e desenvolver a investigação e o ensino da Diabetologia e Ciências Afins; fomentar o convívio e troca de ideias entre sócios; dar parecer sobre todos os assuntos relacionados com a investigação e o ensino da Diabetologia e Ciências Afins. A criação de Grupos de Estudo tem tido relevo no estímulo á investigação e a realização de Reuniões, Congressos e Fórum demonstra a actividade e intenção da SPD em manter contactos e promover a educação das pessoas com diabetes e a actualização dos seus membros." R. do Salitre, 149 - 3ºEsq 1250-198 Lisboa 1250-203 Lisboa Telf: 213 524 147 (das 9h às 13h) - Telem: 96 825 22 97 (das 9h às 13h) - Fax: 21 385 93 71 testemunho “A insulina melhorou bastante a minha vida” Dionaldo Azevedo tem diabetes tipo 2 e já depende da insulina para controlar a doença. Ao contrário do que se possa pensar, não se sente diminuído nas suas capacidades e até acha que a insulina foi uma tábua de salvação, que lhe trouxe muito mais qualidade de vida. pessoas com diabetes “não são inválidas”. “Agora já não trabalho, mas mesmo quando estava empregado não tinha problemas por causa da doença. O truque está em seguir a terapêutica e ter hábitos de vida saudáveis”, afirma. A dificuldade em mudar certos hábitos Maria João Ramires “ O meu problema é a fruta. Ainda hoje em dia custa-me imenso reduzir o seu consumo”. As palavras são de Dionaldo Azevedo, 66 anos, reformado. Nunca pensou que comer muita fruta poderia fazer subir os níveis de glicemia. O homem que em criança subia às árvores para comer a fruta, vê-se agora obrigado a controlar este alimento. É impossível esquecer-se do dia em que soube que tinha diabetes. Na altura era vendedor, andava de carro o dia inteiro e ao fim-de-semana arbitrava jogos. Jamais imaginou que poderia ter a doença. “Não tinha sintomas. Ou achava que não tinha. Costumava ter a boca seca, mas associava ao tabaco. O que achava mais estranho era os suores intensos e frios que tinha quando fazia 14 algum esforço”. Após uma gripe que o levou à cama – “coisa que não era habitual” -, realizou análises de rotina. É nesse momento que a médica de família lhe dá a notícia. Estava com diabetes. “Não estava nada à espera. Fazia uma alimentação minimamente equilibrada, praticava desporto. Na altura até já tinha deixado de fumar”. Vida com diabetes não implica muitas restrições A notícia não era agradável, mas Dionaldo não baixou os braços. Quis saber tudo sobre a doença e como a podia tratar. “O meu problema não é bem ter diabetes, mas saber se tenho tratamento. O maior medo que tenho é um dia dizerem-me que já Abril 2013 não há nada a fazer”, conta. A diabetes obrigou-o a mudar vários hábitos. “Não posso comer tanta fruta, principalmente depois das principais refeições, tenho de praticar exercício e seguir à risca a medicação”. Além disso, também tem outros cuidados que não eram necessários anteriormente. “Tenho mais atenção às feridas, preciso de medir a glicemia, ando com rebuçados para controlar uma possível hipoglicemia”. Mudanças que não o impedem de ter uma vida normal. “Não se pense que quem sofre de diabetes tem uma vida cheia de restrições. Continuo a comer quase tudo. Simplesmente sei que tenho de controlar o consumo de fritos e doces e tomar medicamentos”. Dionaldo faz questão de reafirmar que as Apesar de ser uma doença que hoje em dia é facilmente controlada e de as atuais terapêuticas proporcionarem uma maior qualidade de vida, há mudanças que são obrigatórias e que nem sempre são fáceis. “No meu caso é a fruta. É mesmo difícil controlar-me. Mas já estou melhor”, garante. Outro obstáculo é o exercício físico. “Quando trabalhava e era árbitro estava mais ativo. Agora, na reforma, é mais difícil ter uma vida menos sedentária. Quando está bom tempo ainda faço caminhadas de 45 minutos, mas com o frio, caminho sentado no sofá”, admite. Outra dificuldade é a reação das outras pessoas. “Nem todos compreendem que tenhamos de andar a ser vigiados regularmente no médico”. Até que chegou o dia da insulina Dionaldo começou por tomar apenas antidiabéticos orais, além de outros medicamentos. “Tenho hipertensão, o colesterol está elevado e também tenho problemas na próstata. Com tudo isto tomava, na fase inicial, 8 comprimidos por dia”. Não era fácil, “mas tinha que ser, pois o importante é haver um tratamento”. No início deste ano, os antidiabéticos orais revelaram não ser suficientes e o médico passou-lhe insulina. “Todos os dias administro a insulina antes de me deitar. Dá para 24 horas.” Ao contrário do que é habitual, Dio- “Ninguém precisa ter medo. É uma agulha tão fina, que mal sentimos a picada” naldo não se assustou com a nova terapêutica. “Volto a repetir. O meu maior medo é não ter nenhuma solução”. E acrescenta: “Ninguém precisa ter medo. É uma agulha tão fina, que mal sentimos a picada”, esclarece. Além de não sentir dor, Dionaldo garante que se sente muito melhor desde que toma insulina. “Tenho muito mais qualidade de vida e, como me explicaram nas consultas da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), “estou a evitar amputações e outras complicações”. Como mensagem final alerta todas as pessoas a pedirem análises ao seu médico, mesmo se não tiverem a doença, e a tomarem mais atenção aos sinais do corpo. A quem já tem a doença, pede para que procurem informação sobre a mesma e sobre todas as terapêuticas que existem e que podem melhorar a vida de quem sofre de diabetes. “Não tenham medo. Sem informação acabamos por piorar e não ter qualidade de vida”. vox pop Os (des) conhecimentos sobre diabetes tipo 2 1. Sabe o que é a diabetes tipo 2 e quais são os sintomas desta doença? 2. Sabe quais são os tratamentos que se utilizam? 3. Acha que os tratamentos são complicados? 4. Como é que se pode prevenir a diabetes tipo 2? < Agripino Inácio, 61 anos, reformado, Lisboa 1. N ão sei. Só ouvi falar de diabetes. Não sou diabético, mas o meu irmão é. Quanto aos sintomas, segundo o que ele me diz, tem tonturas e problemas de tensão … 2. Há insulina injetável e comprimidos. 3. No caso da insulina, penso que sim. Pelo menos ao início, não deve ser fácil. Só o facto de estar a pensar que se tem de receber insulina, já deve ser uma sensação muito desagradável. 4. Não sei. < José Machado, 67 an os, reformado, Brandoa 1. N ão sei nada disso. Já ouvi falar da diabetes , mas não sei nada sobre a tipo 2. 2. Já ouvi falar da ins ulina. 3. Deve ser uma grand e confusão … E se a pessoa toma insulina a mais? 4. Evitar o stress. A dia betes é uma doença que causa uma grande irritação. < Danir, 50 anos, empregada doméstica, Odivelas Maria Olinda Moreira, 59 anos, Casal São Brás, doméstica < 1. S im. Causa muita sede, tonturas … Sei que há muitos sintomas parecidos com outras doenças. A minha mãe teve diabetes, mas a pior de todas, aquela em que é preciso administrar insulina. 2. Insulina e comprimidos. 3. É um pouco complicado, porque a pessoa tem de deixar de comer muitas coisas, como doces. Mas já há alimentos próprios para diabéticos. No caso da insulina, também penso que não seja complicado administrar o tratamento. 4. Ter cuidado com a alimentação. Às vezes abusamos demais nos doces, embora a diabetes não tenha de ter a ver com a ingestão de muitos doces. 1. N ão sei. Não tenho a doença. Já ouvi falar de diabetes, mas tipo 2 … 2. Penso que se usa a insulina. 3. Penso que deve ser complicado. As pessoas têm que se picar todos os dias e isso deve ser doloroso. 4. Penso que se deve cortar no sal e no açúcar e comer legumes. < Manuel Pinto, 71 anos, reformado, Brandoa 1. S ei. É a que eu tenho. Faço insulina duas vezes por dia. A diabetes não dói, mas mina o corpo todo. Os sintomas, no início, não existem. Por exemplo, eu costumava ter cólicas renais e tinha de ir muitas vezes ao hospital para levar injeções. Um dia descobriram quando me fizeram análises. Na altura tinha muita sede e cansava-me muito. 2. Fazer dieta, insulina e comprimidos. 3. São fáceis. A insulina não é nenhuma complicação. Até ficamos melhor. O pior é ter de tomar tantos comprimidos por dia, porque tenho outros problemas de saúde. 4. Não sei. Lá está, não a preveni… PUB