TESTE 4-METRE GAIT SPEED NA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA: CONFIABILIDADE DO CRONÔMETRO COMO MÉTODO DE REGISTRO DE TEMPO Lucas Rodrigues Fava (PIBIC/CNPq), Gianna Waldrich Bisca, Nidia Aparecida Hernandes, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Fisioterapia/CCS. Área e sub-área do conhecimento: Ciências da Saúde/ Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Palavras-chave: Doença pulmonar obstrutiva crônica; marcha; exercício. Resumo O teste 4-metre gait speed (4MGS) vem sendo utilizado para avaliar a velocidade de marcha em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). No entanto, a literatura atual carece de informações técnicas sobre este teste. Os objetivos deste estudo foram comparar e avaliar a concordância entre cronômetro e vídeo, usados como sistemas de avaliação do 4MGS, em pacientes com DPOC; e verificar a concordância interavaliadores utilizando um cronômetro. Cinquenta e um pacientes realizaram o 4MGS através de quatro protocolos diferentes (ordem aleatória): andando na velocidade usual e máxima em um curso de 4 metros; e andando nas mesmas duas velocidades em um curso de 8 metros, considerando-se uma zona de aceleração de 2 metros, uma área de avaliação de 4 metros, e uma zona de desaceleração de 2 metros. A velocidade da marcha foi medida simultaneamente usando um cronômetro e uma gravação de vídeo. Além disso, numa sub-análise (n=24) dois avaliadores independentes cronometraram o 4MGS utilizando o cronômetro. Não houve diferenças significativas na comparação entre os métodos de temporização (P≤0,05 para todos) e a concordância entre os métodos foi excelente em todos os protocolos estudados (CCI≥0,91). Além disso, ao comparar a velocidade da marcha medida por dois observadores usando um cronômetro, nenhuma diferença foi encontrada entre os protocolos (P≤0,05 para todos). Houve também uma excelente concordância entre os dois avaliadores (CCI≥0,94). Portanto, concluiu-se que o cronômetro, um instrumento prático e de baixo custo, é confiável para registrar o tempo de realização 4MGS em pacientes com DPOC. 1 Introdução e objetivos O 4-meter gait speed (4MGS) tem se mostrado atrativo para a avaliação da velocidade da marcha em doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), tanto em pesquisas quanto na prática clínica por se tratar de um teste simples, rápido e que requer pouco espaço para sua execução. Entretanto, ainda há dúvidas a serem elucidadas sobre aspectos técnicos e de execução do teste (BISCA et al., 2015), como por exemplo, a forma de registro do tempo de realização da marcha para fins de determinação da velocidade. Para a mensuração do tempo gasto no teste 4MGS, utiliza-se gravação de vídeo, no qual se analisa o momento exato que o paciente inicia e finaliza o teste, ou registro do tempo por meio de um cronômetro, instrumento mais simples e de baixo custo (KARPMAN et al., 2014; ROZENBERG et al., 2014). Por essa razão, os objetivos desse estudo foram comparar e avaliar a concordância de dois métodos que registram o tempo de realização do 4MGS (cronômetro e vídeo) em pacientes com DPOC, bem como avaliar a concordância interavaliadores que realizaram a mensuração do tempo apenas com cronômetro. Procedimentos metodológicos Neste estudo transversal, aprovado pelo comitê de ética da UEL (080/2014) e onde todos os pacientes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, 51 pacientes com DPOC (29 homens; 68±8 anos; IMC: 27±5 kg/m2; VEF1: 52[33-61] %predito) realizaram o 4MGS por meio de quatro protocolos distintos (ordem aleatória): caminhar em um corredor de 4 metros plano, sem irregularidades, delimitados por 2 cones nas velocidades usual e máxima (4MGS_4U e 4MGS_4M, respectivamente), e caminhar em um corredor de 8 metros, sem irregularidades, delimitados por 4 cones em ambas velocidades (4MGS_8U e 4MGS_8M, respectivamente), sendo que neste os 2 metros iniciais e finais foram utilizados como zonas de aceleração e desaceleração, respectivamente. O tempo gasto para a realização dos testes foi cronometrado e filmado (método de referência) a uma distância onde fosse possível visualizar todo o corredor onde seria realizado o teste, simultaneamente. Em uma sub-análise (n=25; 69±8 anos; IMC: 27±6 kg/m²; VEF1: 48±18%pred), foi avaliada a concordância entre dois avaliadores que cronometraram os testes. Na análise estatística foram utilizados os testes t Student pareado ou Wilcoxon para comparação entre os métodos de registro do tempo e entre os avaliadores. Para a concordância, o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) foi estabelecido. Nível de significância estatística adotado foi P≤0,05. 2 Resultados e discussão Quando comparadas as velocidades de marcha obtidas pelo cronômetro e pelo vídeo, não foram encontradas diferenças para nenhum dos protocolos estudados (P>0,05 para todos). As velocidades e os valores de CCI foram descritos na Tabela 1. Adicionalmente, a concordância da mensuração do tempo por vídeo e cronômetro mostrou-se excelente em todos os protocolos (Tabela 1). Tabela 1 - Comparação e concordância da velocidade registrada por vídeo, cronômetro e avaliadores distintos. Vídeo Cronômetro (m/s) (m/s) 4MGS-4M 1,36±0,24 1,38±0,24 0,91 0,25 1,32 [1,2-1,5] 1,33 [1,2-1,5] 0,97 0,88 4MGS-4U 1,05±0,21 1,07±0,24 0,91 0,17 1,02±0,24 1,03±0,20 0,95 0,63 4MGS-8M 1,71±0,26 1,70±0,31 0,95 0,69 1,69±0,26 1,72±0,32 0,94 0,23 4MGS-8U 1,31 [1,2-1,5] 1,32 [1,1-1,4] 0,95 0,12 1,34±0,23 1,33±0,25 0,97 0,72 Protocolo CCI P Avaliador 1 Avaliador 2 (m/s) (m/s) CCI P CCI: Coeficiente de correlação intraclasse, 4MGS-4M: 4-meter gait speed protocolo de 4 metros em velocidade máxima, 4MGS-4U: 4-meter gait speed protocolo de 4 metros em velocidade usual, 4MGS-8M: 4-meter gait speed protocolo de 8 metros em velocidade máxima, 4MGS-8U: 4-meter gait speed protocolo de 8 metros em velocidade usual. P≤0,05. Estudo realizado por Maggio et al. (2016) demonstrou que o cronômetro pode levar a erros de classificação da velocidade da marcha em indivíduos ativos e que a concordância com um acelerômetro triaxial não é boa. Entretanto, este resultado pode ser explicado pela diferença metodológica e pelo uso de um equipamento pouco investigado na mensuração de desfechos funcionais como o acelerômetro. Além disso, Karpman e colaboradores (2014), demonstraram boa concordância entre o cronômetro e um sistema de cronometragem automática em testes 4MGS realizados em velocidade máxima e usual por pacientes com DPOC. Para a análise do subgrupo que tiveram o tempo de execução do 4MGS mensurado por meio de cronômetro por dois avaliadores independentes, demonstrou-se que não houve diferenças na velocidade da marcha para nenhum dos protocolos estudados. Além disso, a concordância interavaliadores 3 mostrou-se excelente. As velocidades estão descritas na Tabela 1, juntamente com os valores de CCI. Esse achado vai de encontro com estudos prévios, que avaliaram o tempo, por meio do cronômetro, gasto na realização de testes funcionais simples e rápidos (JONES et al., 2013). A velocidade de marcha, mensurada pelo teste 4MGS, demonstra ser uma medida prática e válida para pacientes com DPOC e a investigação de técnicas precisas, padronizadas e reprodutíveis de medição dessa variável são, de fato, necessárias (BISCA et al., 2015; KARPMAN et al., 2014; KON et al., 2013). A utilização do cronômetro, instrumento simples e de baixo custo, viabiliza ainda mais a aplicação desse teste na prática clínica. Conclusão Cronômetro e vídeo foram semelhantes e apresentaram excelente concordância no registro do tempo de realização do 4MGS em todos os protocolos testados. Adicionalmente, quando o cronômetro foi utilizado como método de registro por dois avaliadores distintos, também houve excelente concordância entre eles. Sendo assim, conclui-se que o cronômetro, um instrumento de baixo custo, é confiável para registrar o tempo de realização do 4MGS em DPOC. Referências BISCA, G.W.; MORITA, A.A. et al. Simple lower limb functional tests in patients with chronic obstructive pulmonary disease: a systematic review. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 96, n. 12, p. 2221-30, 2015. JONES, S.E.; KON, S.S.; CANAVAL, J.L. The five-repetition sit-to-stand test as a functional outcome measure in COPD. Thorax, v. 68, p. 1015-20, 2013. KARPMAN, C.; BENZO, R. Gait speed as a measure of functional status in COPD patients. International Journal of Chronic Obstructive Pulmonary Disease, v. 9, p. 1315-20, 2014. KON, SS. et al. Reliability and validity of 4-metre gait speed in COPD. European Respiratory Journal, v. 42, n. 2, p. 333-40, 2013. MAGGIO, M. et al. Instrumental and Non-Instrumental Evaluation of 4-Meter Walking Speed in Older Individuals. PLoS One, v. 11, n. 4, p. e0153583, 2016. ROZENBERG, D. et al. Repeatability of usual and fast walking speeds in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Journal of Cardiopulmonary Rehabilitation and Prevention, v. 34, n. 5, p. 348-54, 2014. 4