TALIDOMIDA: ASPECTOS QUÍMICOS E TECNOLÓGICOS Thais Mendes Diniz 1 Sonaly Cristine Leal 2 Anderson Hollerbach Klier 2 RESUMO: Esta revisão tem como objetivo apresentar os aspectos químicos e tecnológicos da talidomida. Este fármaco foi lançado no mercado como um potencial agente sedativo e hipnótico. A teratogênese em gestantes associada ao uso da talidomida, levou à proibição da sua prescrição para mulheres em idade fértil e posteriormente culminou com a retirada do fármaco do mercado. Após estudos de farmacovigilância, a talidomida ressurge no mercado como um medicamento promissor para o tratamento de pacientes hansênicos e portadores de síndrome da imunodeficiência adquirida. Atualmente no Brasil, a talidomida é produzida exclusivamente pela Fundação Ezequiel Dias (FUNED), em Belo Horizonte, MG. Palavras-chave: Talidomida. Teratogenicidade. Focomelia. 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A Talidomida, sintetizada na Alemanha Ocidental em 1953, foi utilizada inicialmente como estrutura biologicamente ativa, detentora de propriedades anti-histamínicas para tratamento de alergias. É mais conhecida, por ter causado teratogenicidade em um número expressivo de nascimentos, afetando cerca de 12.000 crianças na década de 60. O desastre da talidomida, como ficou conhecido, começou no momento em que a empresa alemã Grunenthal lançou no mercado esse novo medicamento. Após alguns testes realizados com a talidomida em ratos, os resultados experimentais demonstraram propriedades de induzir o sono. Como os testes não mostraram letalidade significativa e uma baixa toxicidade em animais de laboratórios na época, o fármaco foi visto como um potencial agente sedativo e hipnótico (MATTHEWS, McCOY, 2003; OLIVEIRA, BERNARDES, SOUZA, 1999; SOARES, 2013). Generalizando os resultados obtidos nos testes em animais, o medicamento foi lançado no mercado em 1957 como fármaco sedativo-hipnótico. Sua campanha publicitária na época, incluía os seguintes dizeres: “completamente inócuo e completamente seguro’’; permitindo o consumo sem a necessidade de nenhum tipo de prescrição. A talidomida era prescrita como antiemético para alívio de enjoos em gestantes, e foi utilizada por milhares de pessoas. Entretanto, mesmo após sua inserção no mercado terapêutico, o FDA (Food and Drug Administration), foi um dos poucos órgãos de controle e vigilância sanitária que não autorizou a utilização terapêutica da talidomida durante a década de 50 no mercado americano (LIMA, FRAGA, BARREIRO, 2001; PACHECO, 2012; SILVEIRA et al., 2001). Em 1958, a Grunenthal começou a receber reclamações de casos de neuropatia periférica, tremor, fraqueza musculares e perda de coordenação motora em pacientes submetidos à utilização terapêutica da talidomida. Na década de 60 foi considerada a “droga maldita” devido aos seus efeitos adversos graves e aumento da incidência de nascimentos de crianças com malformações congênitas. Este fato levou os pesquisadores a associarem a utilização da talidomida à Focomelia (encurtamento do membro junto ao tronco, semelhante aos membros de foca). A decisão de retirar o fármaco do mercado em 1961 estava relacionada com a alta incidência de malformações fetais, quando a gestante era previamente tratada com a talidomida (BASTOS, 2013; BORGES, FROEHLICH, 2003; OLIVEIRA, BERNARDES, SOUZA, 1999). Desde então, apesar de ter sido considerado um fármaco pouco testado antes de sua aprovação, a talidomida é vista com um certo receio pelos órgãos de Vigilância Sanitária e Farmacovigilância (SILVEIRA et al., 2001). Após a retirada do medicamento no mercado mundial, a talidomida continuou a ser utilizada no mercado brasileiro devido à falta de informação, descontrole na distribuição, omissão governamental, automedicação e poder econômico da indústria farmacêutica. Após investigação e comprovação da teratogenicidade com o uso da talidomida, esse medicamento foi proibido para mulheres em idade fértil através da Portaria 63 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, de 6 de julho de 1994. De acordo com a Portaria 160 / 97 de 28 de abril de 1997 sua produção ficou limitada aos laboratórios oficiais. Em 1992 surge a ABPST (Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida) para defender os direitos das vítimas da Talidomida (ABPST,1997; SILVEIRA et al., 2001). Nesta mesma época, pesquisas clínicas e estudos realizados pelo FDA com a talidomida, obtiveram resultados satisfatórios para tratamento de pacientes portadores de hanseníase e também para o tratamento de pacientes aidéticos. Devido a esses resultados, em setembro de 1997 foi anunciado que o FDA planejava aprovar a utilização da talidomida no mercado americano (OLIVEIRA, BERNARDES, SOUZA, 1999; SILVEIRA et al., 2001). Após 40 anos, a talidomida ressurge no mercado como um fármaco com boa atividade para algumas doenças, como o eritema nodoso leproso (ENL), uma condição inflamatória em pacientes com Hanseníase. O FDA permitiu sua venda para o portador de ENL, porém com restrições para sua distribuição (AZULAY, 2004; BORGES, FROEHLICH, 2003; MENDES et al., 2005). No Brasil atualmente, a talidomida é produzida exclusivamente 74 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2015/1 - NÚMERO 10 - ISSN 2176 7785 pela Fundação Ezequiel Dias (FUNED) para atendimento aos programas de Hanseníase e Lupus, do Ministério da Saúde. De acordo com o Art. 5º da Portaria SVS∕MS nº 354 de 15 de agosto de 1997 a talidomida só pode ser indicada e utilizada no âmbito dos programas governamentais de prevenção e controle de Hanseníase (reação hansênica, tipo eritema nodoso ou tipo II); DST/AIDS (úlceras aftóides idiopáticas em pacientes portadores de HIV/AIDS) e doenças crônico-degenerativas (lupus eritematoso, doença enxerto-versus-hospedeiro). Tal portaria regulamenta o registro, produção, fabricação, comercialização, prescrição e a dispensação dos produtos a base da Talidomida (BRASIL, 1997; FUNED, 2014). Como principal objetivo, será descrita uma breve revisão da literatura abordando os principais aspectos químicos do fármaco talidomida, e características tecnológicas de formas farmacêuticas envolvendo o mesmo. 2 JUSTIFICATIVA As patologias em que a Talidomida é prescrita possuem poucas opções terapêuticas, justificando assim o seu emprego. Muitos estudos com a talidomida são realizados para comprovação de suas propriedades farmacológicas. Atualmente, a Fundação Ezequiel Dias (FUNED) está realizando estudos para transformar a etapa de produ- ção do comprimido, realizada por via seca em via úmida. Com uma boa orientação, produção eficaz e uma farmacovigilância adequada, a talidomida apresentará segurança terapêutica, tornando-a um fármaco ainda promissor. 3 METODOLOGIA Para a realização deste trabalho, foi feita uma revisão da literatura realizada entre fevereiro e junho de 2014. O banco de dados utilizados para a busca dos artigos foram SCIELO, LILACS e BIREME. Para selecionar os artigos, foram utilizadas os seguintes descritores: “talidomida”, “produção de comprimidos”, “aspectos químicos da talidomida”. Como critério de inclusão, adotou-se as citações descritivas envolvendo informações sobre histórico, processo produtivo e aspectos químicos da talidomida. 4 DESENVOLVIMENTO 4.1 ASPECTOS QUÍMICOS DA TALIDOMIDA A Talidomida, ou N-(2,6-diazo-3-piperidil)ftalimida, ou N-alfa-ftalimido-glutarimida, ou 2,6-dioxo-3-ftalimidopiperidina, ou ainda 3-ftalimidoglutarimida (FIG.1), é um derivado sintético do ácido glutâmico e estruturalmente contém duas imidas cíclicas e um único centro quiral (BORGES, FROEHLICH, 2003; TEIXEIRA, FERREIRA, 2011). Figura 1: Estrutura química da talidomida (BORGES, FROEHLICH, 2003) A talidomida é uma mistura racêmica, sendo as configurações enantioméricas tanto R quanto S, isoladamente mais tóxicas que a própria mistura racêmica (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). A glutarimida, representada na figura 1, possui o único carbono assimétrico da molécula (carbono 3’). Este átomo qual faz com que o fármaco apresente dois enantiômeros, que se interconvertem rapidamente em condições fisiológicas. O enantiômero S está relacionado com os efeitos teratogênicos da talidomida enquanto que o enantiômero R é responsável pelas propriedades sedativas da mesma (FIGURA 2) (FILHO, 2002; MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004; TEIXEIRA, FERREIRA, 2011). Figura 2: Estrutura química dos enantiômeros da talidomida (TEIXEIRA, FERREIRA, 2011). PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2015/1 - NÚMERO 10 - ISSN 2176 7785 | 75 Fisicamente, se caracteriza como um pó branco, cristalino, insolúvel em éter e benzeno e pouco solúvel em água, metanol, etanol, acetona, ácido acético glacial, dioxano, dimetilformami- da, piridina e clorofórmio. É susceptível à quebra hidrolítica das imidas em meio aquoso neutro e ácido, conforme figura 3 (FILHO, 2002). Figura 3: Proposta de mecanismo para hidrólise da talidomida em meio ácido A talidomida possui fórmula molecular C13H10N2O4, massa molecular 258,23 g/mol, fórmula centesimal com 60,47 % de carbono, 3,90 % de hidrogênio, 10,85 % de nitrogênio e 24,78 % de oxigênio e faixa de fusão de 269-271ºC (CARINI, 2007). 4.1.1 SÍNTESE DA TALIDOMIDA A rota de síntese para obtenção da (R,S)-talidomida (1) está representada na figura 4. Na primeira etapa, ocorre a condensação do (R,S)-ácido glutâmico com anidrido ftálico (3), seguida da etapa chave da estratégia sintética, que consistiu na condensação do intermediário ftalimídico (4) com amônia sob aquecimento (LIMA, FRAGA, BARREIRO, 2001). Figura 4: Rota sintética da talidomida (LIMA, FRAGA, BARREIRO, 2001) 76 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2015/1 - NÚMERO 10 - ISSN 2176 7785 4.1.2 ESTABILIDADE DA TALIDOMIDA A talidomida é rapidamente degradada por hidrólise espontânea em meio aquoso com pH fisiológico. Todas as funções imida são sensíveis à hidrólise nessa faixa de pH. Sabe-se que em pH 7,4 são formados vinte produtos de hidrólise resultantes do rompimento dessas ligações, considerando combinações de hidrólise entre as quatro imidas, associadas aos dois enantiômeros (CARINI, 2007). 4.2 FARMACOLOGIA 4.2.1 EFEITOS BIOLÓGICOS E MECANISMO DE AÇÃO O mecanismo de ação da Talidomida ainda não é totalmente conhecido, mas estudos demonstram sua capacidade em inibir a produção do fator de necrose tumoral (TNF-α), um potente estimulador da inflamação (MAROSTICA, SILVA, VITURI, 2011; SILVEIRA et al., 2001). Os efeitos teratogênicos da talidomida podem ser explicados por três mecanismos distintos, o rompimento do desenvolvimento da crista neural (responsável pela má-formação da face); a inibição da angiogênese (inibe o crescimento de novos vasos sanguíneos, interrompendo o desenvolvimento do feto) e a redução dos receptores de adesão de células mãe que originam os membros e de células cardíacas de embriões (prejudicando a formação dos membros e coração do feto) (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). Em 2010 pesquisadores japoneses descobriram que a causa da ação teratogênica da talidomida estava ligada a uma proteína chamada cereblon (CRBN) que forma um complexo de ligase ubiquitinado E3 com a proteína 1 ligante de DNA danificado, sendo estas cruciais para a promoção do desenvolvimento e crescimento dos membros no embrião (COSTA, 2011). O fármaco interrompe o desenvolvimento normal do feto bloqueando a angiogênese, ou a capacidade de inibir a formação de novos capilares, pela inibição do fator de crescimento básico fibroblasto. Esse fator estimula o crescimento dos membros, e sua inibição, pode ser a base científica que explica a teratogênese com a utilização da Talidomida (SILVEIRA et al., 2001). Nos casos de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), a talidomida suprime a replicação viral, diminui a carga viral, e aumenta o bem-estar do paciente reduzindo a febre induzida pelo TNF-α. Estudos in vitro sugerem que a talidomida inibe seletivamente a produção de TNF-α pelos monócitos (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). O efeito sedativo se deve à glutamirida, provavelmente mediado por receptores do sono, estruturalmente análoga aos anéis contidos em outros fármacos sedativos e hipnóticos, com baixa toxicidade aguda no sistema nervoso central, causando sonolência e letargia (FILHO, 2002). 4.2.2 REAÇÕES ADVERSAS A mais séria reação da talidomida, documentada em humanos, é a teratogenicidade. O risco de nascimentos com malformações, especialmente, focomelia ou morte fetal é extremamente alto durante o período crítico da gestação (35 e 50 dias após a última menstruação). Estudos realizados contraindicam a utilização da talidomida em todo o período de gestação (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). Outras reações adversas incluem a sonolência, neuropatia periférica, hipotensão ortostática, neutropenia, constipação, tontura, cefaleia e dores musculares (AZULAY, 2004; SILVEIRA et al., 2001). 4.2.3 FARMACOCINÉTICA Resultados de estudos em adultos saudáveis indicam que não ocorre o acúmulo de talidomida, e que os parâmetros farmacocinéticos são similares após única dose ou múltiplas doses da droga (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). Nenhum estudo sobre a absorção, biodisponibilidade e biotransformação da talidomida foi realizado em humanos. A lenta absorção desta molécula pelo trato gastrintestinal é provocada pela reduzida hidrossolubilidade e a biodisponibilidade varia de 67 a 93 %, atravessando a barreira placentária (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004; FILHO, 2002). É desconhecido se a talidomida é excretada no leite materno. Menos de 0,7% da dose é excretada na urina como droga inalterada. O clearance renal é de 1,15 mL/min, enquanto o clearance corporal total é de 10 L/h (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). A eliminação é particularmente pH-dependente por hidrólise espontânea em todos os fluidos do corpo (FILHO, 2002). A talidomida parece ser bem tolerada em pacientes com insuficiência hepática e renal severas (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). 4.2.4 METABOLISMO A talidomida pode sofrer biotransformação hepática, via isoformas enzimáticas do citocromo P 450, gerando metabólitos hidroxilados nos ciclos ftalimídicos e glutarimídicos, conforme figura 5. O tempo de meia vida é de aproximadamente 8,7 horas. A ligação às proteínas plasmáticas é elevada (MEIRA, BITTENCOURT, NEGREIROS, 2004). Figura 5: Proposta dos principais metabólitos de Fase I para a talidomida. (Adaptado de LIMA, 2001). PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2015/1 - NÚMERO 10 - ISSN 2176 7785 | 77 Através da análise da figura 6, percebe-se que os metabólitos da talidomida são instáveis em solução aquosa, em diferentes valores de pH. É possível observar a hidrólise espontânea do anel glutarimídico em pH 6,0, originando os derivados orto-carboxi-benzamido-glutarimida, como principais metabólitos. Estes são identificados na figura através dos números 5 e 6. Entretanto, em pH fisiológico (pH=7,4) a talidomida sofre 28% de metabolização na primeira hora de ensaio, sendo os principais metabólitos formados identificados como produtos de hidrólise do anel ftalimídico e glutarimídico, originando majoritariamente os compostos (7) e (8) (LIMA, FRAGA, BARREIRO, 2001). Figura 6: Principais produtos de hidrólise da talidomida (LIMA, FRAGA, BARREIRO, 2001) 4.3 INDICAÇÃO TERAPÊUTICA As propriedades imunomodulatórias e anti-inflamatórias da talidomida são utilizadas para o tratamento da reação hansênica tipo eritema nodoso, prurido nodular, mieloma múltiplo, carcinoma cerebral, doença enxerto-contra-hospedeiro (que acomete pessoas que se submetem a transplante de medula e costuma evoluir de forma grave), lúpus eritematoso discoide, aftose, lesões mucosas da síndrome de Behcet, úlcera idiopática da Aids, síndrome de caquexia associada à Aids (SILVEIRA et al., 2001). 4.4 TECNOLOGIA 4.4.1 LEGISLAÇÃO Segundo a Portaria nº 354 de 15 de agosto de 1997, a talidomida é proibida para mulheres em idade fértil em todo o território nacional (BRASIL, 1997). A Talidomida é um fármaco sujeito a controle especial, com isso segue as exigências estabelecidas na Portaria SVS/ MS nº 344/98 e na Portaria nº 6/99 ou as que vierem a substituí-las (AGÊNCIA, 2010). De acordo com a RDC nº11 (2011), é proibida qualquer doação da substância e/ou do medicamento que contenha Talidomida. Excetuam-se os laboratórios oficiais fabricantes, que podem doar o medicamento Talidomida exclusivamente para Secretarias de Saúde e unidades públicas dispensadoras, quando autorizados pela autoridade sanitária competente. 4.4.2 FORMAS FARMACÊUTICAS SÓLIDAS A via oral é a forma mais comum para administração de fármacos para efeitos sistêmicos. Dentre os medicamentos administrados por via oral, as formas farmacêuticas sólidas, sobretudo os comprimidos, são as mais empregadas na terapêutica. Os comprimidos são obtidos pela compressão do princípio ativo e excipientes e a grande maioria são preparados pelo método de compressão. Esta forma farmacêutica exibe uma série de vantagens na administração de medicamentos com efeitos sistêmicos e tem, por isso, maior divulgação em relação às outras formas farmacêuticas. Apresentam o menor custo em relação às outras formas farmacêuticas orais, possuem conservação mais garantida e maior estabilidade, permitem a administração de dose única exata do fármaco, exibem variação mínima de conteúdo e dosagem (LAMOLHA, SERRA, 2007; PEIXOTO et al., 2005). O processo de compressão requer máquinas capazes de exercer grande pressão para compactar o pó com matrizes e punções (FIG. 7) (ANSEL, POPOVICH, JUNIOR, 2000). Figura 7: Punções e matrizes para produção de comprimidos (ANSEL, POPOVICH, JR., 2000) 78 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2015/1 - NÚMERO 10 - ISSN 2176 7785 Os comprimidos são obtidos industrialmente pelo processo de granulação úmida, granulação seca e compressão direta. A compressão direta é o processo pelo qual misturas de princípios ativos e excipientes adequados (como diluentes, aglutinantes e lubrificantes) são comprimidos diretamente, sem a necessidade de um pré-tratamento, como ocorre na granulação úmida ou seca (LAMOLHA, SERRA, 2007). A granulação úmida é um método utilizado para a produção de comprimidos feitos por compressão. As etapas de preparação por esse método podem ser divididas em pesagem e mistura dos componentes; preparo da granulação úmida; formação de glóbulos ou grânulos; secagem; calibração do grânulo seco; mistura do lubrificante e compressão (FIG. 8) (ANSEL, POPOVICH, JUNIOR, 2000). Figura 8: Esquema do método de granulação por via úmida (ANSEL, POPOVICH, JR., 2000) A granulação por via úmida é obtida a partir de solução granulante e secagem. A utilização da umidade e calor exige que o produto seja insolúvel no líquido para umedecimento. O objetivo do granulado é otimizar as propriedades de fluxo, evitar segregação durante as etapas posteriores do processo, minimizar variações de granulometria de diferentes lotes de matérias-primas e também reduzir os riscos que o manuseio e inalação de pós finos causam à saúde (COUTO, GONZÁLEZ ORTEGA, PETROVICK, 2000; LAMOLHA, SERRA, 2007; MOISÉS, 2006). Após os estudos de compressão por via úmida na FUNED, os comprimidos serão avaliados quanto aos testes físicos e comparados aos obtidos por via seca. 4.4.3 TESTES FÍSICOS Na avaliação de qualidade dos comprimidos, é necessário realizar os seguintes testes físicos: l Peso médio: o peso dos comprimidos é determinado pela quantidade de pó ou granulado introduzido na matriz (PEIXOTO et al., 2005). l Teste de dureza: determina a resistência mecânica do comprimido ao esmagamento ou à ruptura sob pressão. O teste consiste em submeter o comprimido à ação deum aparelho medindo a força aplicada para esmagar o comprimido. A dureza do comprimido garante sua integridade física, permitindo que suporte choques mecânicos nos processos de revestimento, drageamento, envelopamento, emblistagem, embalagem e transporte (ANVISA, 2010; MOISÉS, 2006). l Teste de friabilidade: permite avaliar a resistência dos comprimidos ao atrito, quando submetidos à ação mecânica de aparelhagem específica. Garante a integridade dos comprimidos durante os processos de acondicionamento, emblistagem e transporte (ANVISA, 2010; MOISÉS, 2006). l Teste de desintegração: determina o tempo em que um comprimido se desfaz em meio aquoso aquecido a 37ºC, num sistema de movimento, pretendendo produzir os mesmos efeitos sofridos pelo comprimido após ser ingerido (ANVISA, 2010; MOISÉS, 2006). l Teste de dissolução: determina a quantidade de substância ativa dissolvida no meio de dissolução quando o produto é submetido à ação de aparelhagem específica (ANVISA, 2010; MOISÉS, 2006). l Uniformidade de dose unitária: determina a uniformidade ou invariabilidade na quantidade da substância ativa entre as unidades de dose única (ROESCH, VOLPATO, 2010). 4.4.4 ASPECTOS PRODUTIVOS A FUNED é o único laboratório farmacêutico no Brasil que produz o medicamento Talidomida. As etapas de produção deste medicamento (manipulação, compressão e envelopamento), são executadas por pessoas do sexo masculino. Esta medida foi adotada de acordo com a portaria nº 354/1997 na qual diz que “é proibida a alocação de mulheres em idade fértil nas linhas de produção em qualquer das etapas que leve a exposição do produto”. Na etapa de embalagem final, o medicamento está acondicionado no interior dos envelopes (embalagem primária), com isso, mulheres podem trabalhar no setor, pois nesta etapa o produto não está exposto, não oferecendo riscos à saúde (VIANNA, 2008). A amostragem da matéria-prima Talidomida na Funed, é realizada utilizando utensílios dedicados, por um servidor do sexo masculino do Serviço de Controle de Material de Embalagem da Divisão de Controle de Qualidade. Sua análise é realizada pelo Controle Físico-Químico e Serviço de Controle Microbiológico (FUNED, 2009). Nos dias previstos para a execução das etapas de fabricação que correspondem à tamisação, umectação, granulação e normalização, a entrada do Serviço de Sólidos por Via Úmida (SSVU) é sinalizada por placa “PROIBIDA ENTRADA DE MULHERES – PRODUÇÃO DE TALIDOMIDA” (FUNED, 2009). O processo de secagem acontece em equipamentos (estufas) devidamente fechados e identificados. Esta etapa é realizada logo após à manipulação. Em seguida é realizada a compressão (FUNED, 2009). Finalizada a etapa de compressão do produto, os baldes são fechados, limpos externamente. O granel é amostrado pelo servidor do sexo masculino do controle de qualidade. Após a amostragem os volumes são fechados e permanecem armazenados na área de produto intermediário do Serviço de Sólidos por Via Úmida (SSVU) (FUNED, 2009). Após aprovação do controle de qualidade, o lote é enviado para ser envelopado e embalado (FUNED, 2009). Os boxes de pesagem e de amostragem do almoxarifado, bem como todas as salas utilizadas em alguma etapa da produção de Talidomida são sinalizadas quanto ao risco (FIG. 9) (FUNED, 2009). PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2015/1 - NÚMERO 10 - ISSN 2176 7785 | 79 Figura 9: Etiqueta utilizada para sinalização da área de produção da Talidomida (FUNED, 2009) Antes do início do processo, a entrada da área de pesagem do almoxarifado, e a entrada da área do Serviço de Sólidos por Via Úmida também são identificadas (FIG. 10) (FUNED, 2009). Figura 10: Identificação área de pesagem da Talidomida (FUNED, 2009). Os resíduos do almoxarifado e da produção do produto Talidomida são acondicionados em sacos plásticos verdes para resíduos químicos e identificados (FIG. 11) (FUNED, 2009). Figura11: Identificação para resíduos da Talidomida (FUNED, 2009). 5 CONCLUSÃO A tragédia da talidomida resultou em um grande avanço nas pesquisas e estudos com esse fármaco. Apesar dos problemas graves relacionados a talidomida, ela é ainda muito utilizada para o tratamento de uma variedade de condições autoimunes ou inflamatórias. Ainda há muito para ser estudado em relação ao seu mecanismo de ação. Apesar das consequências do seu uso incorreto, o benefício da talidomida não pode ser ignorado e deve ser cuidadosamente monitorado. É importante deixar bem claro para os pacientes que a talidomida, se utilizada com as precauções necessárias, é um medicamento muito potente para tratamento de reações causadas por diversas doenças. O mito causado na década de 50 pode ser vencido, pois seus benefícios superam os riscos. Muitos estudos são realizados para comprovar a eficácia desse medicamento, mas como farmacêuticos, uma orientação adequada é necessária para que seu uso seja correto e assim evitar efeitos indesejáveis e muito perigosos. 80 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2015/1 - NÚMERO 10 - ISSN 2176 7785 REFERÊNCIAS ABPST (Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida), 1997. Disponível em <http:∕ ∕ www.talidomida.org.br∕oque.asp. Acesso em: 06 mar. 2014. Acesso em: 20 abr 2014. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Farmacopéia Brasileira. 5ed., Brasília, Vol.1, 2010. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Resolução RDC nº 11, de 22 de março de 2011. Dispõe sobre o controle da substância Talidomida e do medicamento que a contenha. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/anvisa/2011/rdc0011_22_03_2011.pdf>. Acesso em: 20 mar 2014. ANSEL, H.C; POPOVICH, N.G; JR.,L.V.A. 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