O Sr. Lael Varella (DEMOCRATAS-MG). Pronuncia o seguinte discurso em 09-12-2009. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados. Um laicismo radical vai percorrendo o mundo ao querer abolir os crucifixos e símbolos religiosos das escolas, tribunais e repartições públicas. Esse espírito perseguidor e anticristão chegou à Itália e vem suscitando fortes e justas reações populares. Se isso ocorre agora no berço da Cristandade, não tardará a surgir por sua vez no Brasil. Segundo artigo de Marcelo Dufaur, da revista Catolicismo, a Itália reagiu firmemente contra sentença do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, de Estrasburgo, segundo a qual a presença de crucifixos nas salas de aula constitui violação da liberdade dos pais de educar seus filhos segundo suas convicções, e violação da liberdade religiosa dos alunos. Como revide à absurda sentença, de norte a sul da Itália prefeituras e particulares começaram a instalar mais crucifixos em escolas e locais públicos. Em Varesotto, em resposta à “proibição” de Estrasburgo, um empreiteiro instalou em sua granja um cruzeiro de seis metros de altura. A indignação espraiou-se também por inúmeros ambientes católicos do exterior. A decisão anticristã coincide inteiramente com o espírito e as finalidades do processo de unificação da Europa. Com efeito, o referido Tribunal julga com base na Convenção Européia dos Direitos Humanos, inspirada na filosofia da famigerada Declaração dos Direitos Humanos da Revolução Francesa que guilhotinou milhares de pessoas. Os povos europeus vêm acompanhando o processo unificador com displicência, no mais das vezes ponderando apenas suas vantagens materiais. Não se convenceram, porém da filosofia e objetivos últimos que o inspiram. Aliás, nem tomaram conhecimento pormenorizado da existência dessa filosofia, e jamais lhes foi explicado com clareza tais objetivos. Vejamos um pouco o processo que deu origem ao caso. Em 2002, Soile Lautsi Albertin processou a escola pública Vittorino da Feltre, da cidade de Albano Terme, pelo fato de ostentar crucifixos nas salas de aula. Ela alegou a laicidade do Estado italiano. O tribunal administrativo do Vêneto deu ganho de causa à escola, porque a cruz é o símbolo da história e da cultura italiana. A decisão foi confirmada pelo Conselho de Estado em 2006. Contudo, a Corte Européia dos Direitos Humanos cassou as decisões da Justiça italiana e puniu o País com multa de 5.000 euros, apesar dessa corte não ter poder para cassar decisões da Justiça, e sua decisão não é coercitiva. Entretanto, a pressão moral a que ficou submetido o governo da Itália é enorme. 1 Os italianos reagiram energicamente. A indignação foi de âmbito nacional. Não houve muitas distinções no dédalo burocrático UE-Conselho da Europa, e voltou-se contra os dois órgãos. O premiê Berlusconi percebeu a magnitude da reação e qualificou a sentença de absolutamente inaceitável. O governo italiano apelou. “Ninguém, nem mesmo uma corte européia ideologizada, conseguirá apagar nossa identidade”, protestou a ministra de Educação, Mariastella Gelmini. “Estou desconcertado”, disse o ministro de Justiça Angelino Alfano. Roberto Calderoli, ministro para a Simplificação, achou que “a corte européia pisoteou nossos direitos, nossa cultura e nossos valores, [...] os crucifixos permanecerão nas paredes de nossas salas de aula”. “Sentença abstrata e falsamente democrática”, acrescentou o ministro da Agricultura, Luca Zaia. Uma afronta às tradições e à alma da Itália. Para Il Giornale de Milão, a unificação européia começou astutamente pela economia e pela moeda. Mas agora atingiu o ponto crítico de desvendar sua tendência atéia e agnóstica, passando o trator nos símbolos visíveis da Religião. Segundo o mesmo jornal, isso implica atacar na Itália a arquitetura, a pintura, os crucifixos, as imagens de Nossa Senhora, que fazem parte de tradições de um país que se alimentou, ao longo dos séculos, da beleza do Evangelho. Seria impossível imaginar um São Francisco de Assis sem a doce paisagem da Úmbria, um São Bento sem a ordenada gravidade das terras romanas, um Rafael sem a apaixonada contemplação da Virgem Maria! E hoje se quer tirar o crucificado das escolas públicas! E amanhã? – Certamente quererão eliminar milhares de capelinhas de Nossa Senhora que protegem os viajantes nos cruzamentos das estradas, pois elas se encontram em locais públicos. Se prevalecer o critério da Corte Européia, nenhum povo seria um povo. Mexer com os costumes religiosos significa mexer com a alma dos povos. “É uma coisa perigosíssima”, acrescentou. No seu editorial, Il Giornale destacou que a estupidez da sentença é agravada pelo desconhecimento dos valores do cristianismo. Os juízes, para ser coerentes, terão de banir campanários, catedrais, mosteiros, capelas e tudo aquilo que em locais públicos apresenta o sinal da cruz para as crianças; e o próprio ensino da língua, da história e da filosofia italiana é impossível sem a referência à cruz. São Francisco, Dante e Manzoni, para citar alguns dos maiores referenciais da língua italiana, deveriam ser censurados nos livros de texto. Por fim, o diário pergunta se não seria o caso de “fechar o manicômio de Estrasburgo”, sede do tribunal. A conclusão sem dúvida reflete a vigorosa oposição suscitada pelo acórdão, mas não vai ao fundo do problema. Os países europeus foram 2 ludibriados por uma unificação inspirada numa filosofia contrária à Igreja Católica e não explicitada. Enquanto continuar vigente tal filosofia igualitária, liberal e anticristã, de pouco adiantarão as nobres e justas reações expressadas por órgãos de imprensa como este. Sr. Presidente, o laicismo radical apresenta dois pesos e duas medidas. Marcado pela intransigência contra o cristianismo, ele mostra toda a liberalidade em relação aos mulçumanos. Na Alemanha, a Justiça proibiu os crucifixos nas escolas e autorizou salas de oração-mesquita para os alunos muçulmanos. A diretora de um liceu em Neukölln Birgit Nicolas comentou indignada: “Estou horrorizada”. Birgit vinha resistindo às exigências de alunos muçulmanos fanatizados, e agora a Justiça deu sinal favorável aos extremistas. Cristo é proibido e Maomé entronizado: essa é a tendência da União Européia laicista! Sr. Presidente, a nossa maneira mansa e conciliadora não pode ser abatida por esse espírito perseguidor e anticristão que vem abalando a Europa cristã. Se lá suscita fortes e justas reações populares, aqui também causará indignação. Na Terra da Santa Cruz, berço de Nossa Senhora Aparecida, não se admitirá esse laicismo radical e persecutório. Como disse o editorial do Il Giornale, nenhum povo seria um povo. Mexer com os costumes religiosos significa mexer com a alma dos povos, coisa perigosíssima. Minha palavras, Sr. Presidente, são de advertência para que não ousem repetir entre nós atitudes parecidas, pois nossa cordura e nosso bom senso cederão lugar a máxima do ditado de darmos um boi para não entrar na briga e uma boiada para não sairmos dela. Tenho dito. 3