CONDICIONANTES DA ECONOMIA EUROPÉIA EM CRESCIMENTO Por Bernardo Kocher1 O CRESCIMENTO ECONÔMICO NA EUROPA UNIFICADA O ano começa com uma expectativa concreta de crescimento econômico generalizado no continente europeu, genericamente avaliado na ordem de 3%. As análises divulgadas por órgãos públicos e privados convergem para esta grandeza. O que podemos aventar como “pontos” de questionamento do funcionamento ótimo da economia da região daqui por diante será se o déficit público dos países da região, o câmbio (principalmente o do euro), as taxas de desemprego, as balanças de pagamento, entre outros indicadores, se comportarão de forma a conjugar esta tendência cíclica de crescimento com o processo de unificação econômica entabulado desde a 2a. Guerra Mundial, acelerado nas décadas de setenta e oitenta e posto em funcionamento nos noventa. Apesar de em adiantado estágio de integração, o mais desenvolvido processo dentre as economias capitalistas, a Comunidade Européia padece ainda de grandes desafios no interior da economia globalizada. O maior deles é, sem sombra de dúvidas, a adesão da Inglaterra à moeda única. Este país possui por um lado vinculações institucionais, políticas e econômicas com suas ex-colônias – através da Commonwealth -, o que por si só não seria um obstáculo para a integração plena no interior da Comunidade Européia. A hesitação britânica é por outro lado mediada pela existência histórica de um laço com o bloco econômico do qual fazem parte Estados Unidos e Canada. É o que podemos constatar com a notícia vinculada na última semana do ano passado de que congressistas norte-americanos propuseram o ingresso da Inglaterra no Tratado de Livre Comércio da América do Norte. 1 Ressalte-se que nestes dois casos a dificuldade política inglesa em partilhar de um destino em comum com os demais países do continente não representa um retorno à uma gestão autárquica e/ou colonialista, mas a perspectiva do país na construção de uma “ponte” entre a Europa unificada e o Nafta simultânea a uma contemporização com parte da periferia capitalista no processo de sua inserção na globalização. Dentro da nossa ótica de análise sistêmica cíclica (onde fases de crescimento são alternadas por outras de crise) estamos neste ano inseridos num momento de expansão das atividades econômicas. Mas a Europa, por outro lado, não pode deixar de considerar que a base da sua junção enquanto uma economia “única” enfrenta a competição de outros blocos, também eles recebendo os influxos da expansão das atividades econômicas. Nossas observações estarão voltadas neste ano para aquilatar os passos que as autoridades comunitárias tomarão, ainda conjugadas com os responsáveis pela formulação das economias nacionais, para dar continuidade às políticas econômicas necessárias para complementar a obra da unificação. A CRISE E A RECUPERAÇÃO DAS BOLSA DE VALORES Um dos aspectos centrais da economia mundial neste começo deste ano, com largas repercussões na economia européia, foi a queda brusca e repentina dos índices de cotação bursáteis seguida de sua forte recuperação. Dois elementos podem ser alinhados para explicar o fenômeno. Em primeiro lugar, o mais importante deles, as ações estão excessivamente valorizadas. Em novembro e dezembro passados pesadas subidas ocorridas em mercados acionários específicos elevaram de tal forma os índices de cotação que muitos assessores financeiros indicaram aos seus clientes a realização de lucros antes do feriado de Natal. A queda, neste sentido, representaria uma busca “às escuras” de um preço mais adequado destes ativos. A recuperação ainda na primeira semana do ano, e reforçada pela recente 1 Pesquisador do GREMIMT e professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense. Colaborou o auxiliar de pesquisa Felipe Macario. 2 fusão das empresas AOL e Time Warner, parece ainda não ter indicado o caminho para sanar o que já foi chamado de “irracional exuberância do mercado”. Para alguns toda esta situação poderia corresponder a um “saudável ajustamento”, que na prática não ocorreu. Encontramos, em segundo lugar, uma vinculação íntima entre o pregão de Nova Iorque com os demais espalhados em todas as partes do mundo. Esta interligação, provocada pela globalização no campo financeiro, foi a responsável geral pela queda das cotações européias, muito embora possamos encontrar setores pontuais no continente (petróleo, telecomunicações e alta tecnologia) que ajudam a explicar a queda dos índices. A recuperação, tendência que nos parece ser mais duradoura que a queda, possui repercussões ainda maiores. De uma forma geral os mercados tiveram como perspectiva o aumento futuro das taxas de juros européia e norte-americanas, o que provocou a queda do dólar em relação ao euro e produziu um forte impacto de retomada do crescimento dos preços dos ativos. A intranqüilidade do mercado acionário, sucedendo a instabilidade do mercado cambial nas semanas anteriores, parece ser o elemento palpável de explicação do fenômeno. Outro ponto articulado ainda com a rápida recuperação dos índices acionários: a inflação associada com o crescimento econômico na área do euro. Preocupação neste sentido oriunda do Banco Central Europeu destaca que o crescimento de salários reais em importantes empresas de telefonia (Siemens AG, France Telecom AS e Deutsche Telekom AG) produziram nos últimos seis meses incrementos de 20% nos preços das ações das duas principais economias da região. 3