34 Bullying e desenvolvimento moral: relações e implicações nas aulas de Educação Infantil Érica Coelho Gargano1 Graciete Maria de Oliveira2 Manuel Alfonso Díaz Muñoz3 Resumo O bullying é uma forma de violência característica entre pares, e que tem se manifestado com maior intensidade nos espaços educacionais. Buscar respostas para a origem do problema foi tema deste artigo “Bullying e desenvolvimento moral: relações e implicações nas aulas de educação infantil”. Identificar as suas manifestações requer um conhecimento específico de suas particularidades, pois deve ser preocupação de toda comunidade educativa tratar das formas de violência que ocorram dentro e fora do seu ambiente. Para alcançar nosso objetivo diferenciamos o significado dos termos conflito, violência e bullying, estudamos a organização da educação moral e a relacionamos com ações de bullying. Assim, buscamos compreender as manifestações do bullying na Educação Infantil. A metodologia utilizada para a pesquisa foi o estudo bibliográfico com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Acreditamos que, agindo intencionalmente ou não, o professor transmite em seu comportamento e prática uma visão de mundo que ajudará ou inibirá a construção da moralidade da criança. Esse profissional deve manter coerência entre o seu discurso e a sua pratica pedagógica, considerando que a criança observa e imita o tempo todo. Questões morais e bullying devem ser conteúdos constantes nas práticas escolares. Palavras-chave: Bullying. Moralidade Humana. Educação Infantil. Bullying and moral development: relationships and implications for early childhood educational classes Abstract Bullying is a form of violence characteristic among peers, and has manifested itself most strongly in educational spaces. Find answers to the origin of the problem was the subject of this article "Bullying and moral development: relationships and implications for early childhood educational classes”. Identify its manifestations requires a specific knowledge of their peculiarities, because this should be a concern of the entire educational community to address the forms of violence that occur within and outside its environment. To achieve our objective we tried to differentiate the meaning of the terms conflict, violence and bullying and tried to understand the organization of moral education and relate it to the bullying actions. 1 Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. E-mail: [email protected]. 2 Pedagoga, Psicopedagoga, Mestre em Teologia (Educação e Religião). Docente do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e Coordenadora Geral do Colégio Metodista Izabela Hendrix. E-mail: [email protected]. 3 Educador com experiência na docência e gestão no ensino formal e em espaços não escolares. Psicólogo e teólogo com mestrado em Teologia (Religião e Educação) e em Psicologia (Social), doutorado em Teologia (Religião e Educação). Pesquisador na área de Direitos Humanos e Educação, com ênfase na temática da educação para a paz. E-mail: [email protected]. Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 35 We sought to understand the manifestations of bullying in kindergarten. The research methodology used was a bibliographic study based on material already prepared, mainly books and scientific articles. We believe that, acting intentionally or not, the teacher conveys in his behavior and practices, a worldview that will help or will inhibit the construction of children’s morality. And this professional must keep the consistency between his teaching discourse and his pedagogical practice, considering that the child will observe him and imitate him all the time. Moral issues and bullying should be content contained in school practices. Keywords: Bullying. Human Morality. Early Childhood Education. Introdução A violência está em toda parte, também na escola, espaço de encontro e construção de subjetividades. Os meios de comunicação apontam que o fenômeno do bullying tem crescido vertiginosamente entre os alunos. As agressões físicas e verbais são objeto de preocupação no cotidiano escolar, atingindo professores e estudantes de maneira preocupante. Atos como chamar o colega de apelidos pejorativos (baleia, monstrinho, cabelo “bombril”) ou brincadeiras de mal gosto (chutes, empurrões, tapas) acontecem no âmbito escolar de forma repetitivamente e intencional. Cabe ao professor buscar conhecimento sobre o assunto como parte do seu aperfeiçoamento profissional, pois atos assim podem significar cenas de bullying e a criança ofendida não poderá ficar sem proteção e cuidado. Caso contrário, ela será mais uma vítima deste tormento e poderá sofrer sequelas irreversíveis no âmbito emocional e/ou na aprendizagem. Fante (2005) caracteriza o bullying como toda forma de agressão, seja física ou verbal, sem um motivo aparente que causa em suas vítimas consequências que vão desde o âmbito emocional até a área da aprendizagem. Onde existem pessoas há construção de conhecimento através das interações interpessoais, que são fundamentais. Como afirma Vygostky (1989 apud MARTINS, 1997, p. 117), é na interação entre as pessoas que, em primeiro lugar, se constrói o conhecimento que depois será intrapessoal e será partilhado pelo grupo junto ao qual tal conhecimento foi conquistado ou construído. Mas sabe-se que onde há gente há também conflitos, ocasionalmente ou regularmente, violência e bullying. Por isso a importância de compreendê-los, diferenciá-los e relacioná-los com o cotidiano das escolas. Buscando respostas para a origem do problema, este artigo intitulado “Bullying e desenvolvimento moral: relações e implicações nas aulas de educação infantil” tem o objetivo de compreender as manifestações do bullying na Educação Infantil. Previamente diferenciaremos os termos conflito, violência e bullying, compreenderemos a Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 36 organização da educação moral e a relacionaremos com ações de bullying. A metodologia utilizada para a pesquisa foi o estudo bibliográfico. Além de autores clássicos da psicopedagogia como Piaget, tentamos selecionar os autores brasileiros mais conhecidos pelo seu trabalho na área nos últimos anos. Conflito, violência e bullying: o que é? O interesse em estudos sobre o fenômeno bullying tem se manifestado com maior intensidade na última década nos espaços educacionais. O aumento dos casos de violência ocorridos em instituições escolares de todo o mundo preocupa professores, médicos, psicólogos e a sociedade em geral. A compreensão do fenômeno exige um esclarecimento conceitual prévio. Daí o interesse de explicitar os termos conflito, violência e bullying e suas interfaces, para que possamos compreendê-los, diferenciá-los e relacioná-los com o cotidiano das escolas. Cléo Fante (2005, p. 157) afirma que o termo violência tem um significado amplo e pode ser entendido como “todo ato, praticado de maneira consciente e inconsciente, que fere, magoa, constrange ou causa dano a qualquer membro da espécie humana.” Levinsky (apud DIAS, 1996, p. 74) ressalta que é “uma reação consequente a um sentimento de ameaça ou de falência da capacidade psíquica em suportar o conjunto de pressões internas e externas a que está submetida”. Dias (1996) nos alerta que há violência quando um sujeito faz uso de sua autoridade, por meio da força física ou psicológica, para obrigar e oprimir alguém ou um grupo a agir de forma contrária a sua vontade ou até mesmo os priva de um bem ou de seu direito a liberdade. O conflito não é violência e nem é considerado bullying, ao contrário do que pensa o senso comum e até alguns profissionais envolvidos na educação. É uma oportunidade que deve ser aproveitada pelos professores nos espaços escolares para trabalhar o desenvolvimento moral, pois o conflito é essencial para a construção do conhecimento. O conflito é tido como oportunidade para compartilhar seu ponto de vista com o outro, de comparar e analisar diferentes argumentos e de encontrar soluções justas para ambas as partes, sendo este necessário para o processo de ensino e de aprendizagem. A busca de solução para os conflitos propicia estabelecer relações, buscar novas percepções para a Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 37 situação vivida, o que repercute na interação com os objetos do conhecimento. Porém, quando o conflito é mal resolvido é causa de violência. O termo bullying é utilizado inadequadamente, principalmente pela mídia, para se referir a toda e qualquer manifestação ou ato de violência e/ou conflito. O bullying caracteriza-se como uma forma de violência específica com características e consequências próprias em sua manifestação. Trata-se de violência contínua e intencional que acontece entre os pares, sendo definido, por Fante (2005) como: Um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais são algumas das manifestações do comportamento bullying. (FANTE, 2005, p. 28 e 29). Percebe-se assim, o que diferencia o bullying de comportamentos agressivos é a intencionalidade de fazer mal e a persistência de uma prática a que a vítima é sujeita. Não é um simples conflito a ser resolvido, é muito mais complexo e tem a ver com desprezo de uma pessoa, fazendo com que ela se considere sem valor, inferior ou indigna de respeito. É uma violência característica entre pares, continua e intencional. O Projeto de Lei nº 350 de 2007, que aborda o fenômeno, o conceitua neste sentido: Entende-se por bullying atitudes de violência física ou psicológica, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, praticadas por um indivíduo ou grupos de indivíduos, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. Estas interpretações são de extrema importância para discernirmos como e quando uma pessoa está sofrendo uma situação de bullying. A violência, em todas suas formas, é uma ação consciente ou não que provoca danos a alguém, consequência de um conflito mal resolvido. Contudo, acreditamos que “é possível educar para a paz em nossas escolas, aumentar os comportamento pró-sociais e diminuir os comportamentos violentos através de programas de intervenção psicopedagógica específicos e de fácil implementação.” (MUÑOZ, 2012, p. 293). Esta afirmação é coerente com os dados de outras pesquisas nacionais e internacionais (SILVA; MUÑOZ, 2012). O comportamento violento é aprendido na interação social e pode ser desaprendido. Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 38 Educação moral e bullying: interfaces Entender como se dá o processo de construção da moralidade é essencial para o agir do docente. Como educadores precisamos entender esse processo para analisá-lo e relacionálo com a manifestação do bullying nos espaços escolares. Para Piaget (1994, p. 23) “a moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o individuo adquire por essas regras". A moralidade é um processo de construção do indivíduo que ocorre nas suas relações e interações com o mundo que o cerca. De acordo com estudos realizados por Jean Piaget (1994) os primeiros atos morais são construídos na família no relacionamento com os pais. Estas relações são referências para que este menino ou menina vá elaborando as suas ações morais num processo contínuo que passa três estágios: anomia, heteronomia e autonomia. Em cada estágio lançam mão de suas estruturas cognitivas anteriores para pensar e agir moralmente com novas estruturas. Ao analisar os julgamentos e sentimentos morais, Rangel (1992) baseada nos resultados obtidos nas pesquisas de Piaget (1977), apresenta a anomia como o primeiro estágio de desenvolvimento. Neste a criança não entende conscientemente o universo moral. As regras são apenas hábitos de conduta, ações que é necessário realizar (comer, tomar banho, dormir e brincar). Exemplo disto é a prática da regra no jogo. Nesta fase a criança não participa da relação social implicada pelo jogo, sendo este essencialmente individual, correspondendo a simples aplicação funcional dos esquemas de ação. Ainda é prematuro falar de regras, por mais que estes comportamentos se repitam, ritualizando-se, e de uma certa forma anunciando as regras que com mais idade, a criança empregará em seus jogos sociais. Um exemplo típico deste tipo de “jogo” é o do bebê que arremessa sua chupeta ao chão repetidamente para que o adulto a pegue, revelando assim o início de uma coordenação mútua das ações. (FERRAZ, 1997, p. 29) Não existe certo ou errado, portanto, não há conduta para seguir regras ou normas. Para Rangel (1992) esta ausência é constatada no bebê porque ele ainda não tem noção de obediência, não desenvolveu o sentimento de respeito pelo adulto e seu comportamento em relação ao outro é egocêntrico e anárquico. De acordo com Piaget (1994), o respeito é um sentimento que é oriundo da coordenação de afeto: a criança respeita por ter estima por outra pessoa. O vínculo de apego também gera o sentimento de medo da perda afetiva ou da punição. Desta maneira nasce o Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 39 sentimento de respeito da criança pelo adulto na construção de mudança da fase de ANOMIA para HETERONOMIA. A heteronomia é a fase de legitimação das regras. Inicia-se o respeito por aqueles que têm autoridade, ou seja, por aqueles que vão definir o que pode e o que não pode fazer. Temos como característica a submissão e o egocentrismo. O egocentrismo, na medida em que é confusão do eu com o mundo exterior, e o egocentrismo, na medida em que é falta de cooperação, constituem um único e mesmo fenômeno. Enquanto a criança não dissocia seu eu das sugestões do mundo físico e do mundo social, não pode cooperar, porque, para tanto, é preciso estar consciente de seu eu e situá-lo em relação ao pensamento comum. Ora, para tornarse consciente de seu eu, é necessário, exatamente, libertar-se do pensamento e da vontade do outro. A coação exercida pelo adulto ou pelo mais velho e o egocentrismo inconsciente do pequeno são, assim, inseparáveis. [...] O egocentrismo infantil é então, em sua essência, uma diferenciação entre o eu e o meio social (PIAGET, 1994, p. 81). Segundo Rangel (1992, p.72) o adulto tem poder diante da criança e, portanto, autoridade. O abuso recai no autoritarismo ou na superproteção. Quanto mais exercício de poder exista na relação com a criança, mais egocêntrica ela se torna, prolongando sua heteronomia. É por isso não basta a criança cumprir regras por medo de ser punida. Ela deve aprender a internalizar, compreender e reconhecer o respeito das normas, porque o respeito às regras faz surgir o senso de justiça na criança e torna um sujeito com autonomia moral. A autonomia, trabalhada através da cooperação e do respeito mutuo, capacita a criança para sair do seu egocentrismo e se colocar no ponto de vista do outro. Ela será capaz de se fazer entender pelo outro, pois nesta relação não existe o medo e sim a afetividade. La Taille (2007, p.98) afirma que: Enquanto na moral heterônoma os deveres têm maior importância que os direitos, na moral autônoma deveres e direitos complementam-se, equilibram-se. Em suma, enquanto na heteronomia uma regra é moralmente boa porque a ela se deve obedecer, na autonomia o raciocínio inverte-se: deve-se obedecer a uma regra porque ela é boa. Proporcionar à criança uma reflexão sobre as consequências de uma norma ou regra descumprida e conscientizá-la de que seu comportamento poderá afetar negativamente outros indivíduos é um tipo de sanção quando a criança é capaz de se colocar no lugar do outro. Está é uma intervenção que o professor poderá realizar na resolução do conflito sem a necessidade de castigar. Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 40 Quanto menos autoritário e hierárquico o adulto for e tiver uma atitude mais cooperativa junto a criança mais provavelmente o respeito mutuo entre iguais e o diálogo prevalecerá. Nesse ambiente as condições de desenvolvimento autônomo irão emergir. Segundo Piaget (1977) apud Rangel (1992, p.80) ”a autonomia é um poder que só se conquista de dentro e que só exerce no seio da cooperação”. A escola tem sido este ambiente cooperativo? Os educadores tem tido a consciência que a sanção da reciprocidade é uma boa alternativa? Muñoz (2012, p.69) afirma que “a escola, espaço privilegiado de subjetivação da criança e do adolescente, não está dando conta dos conflitos que estavam acontecendo e passa a ser um dos fatores de ruptura do laço social”. A prática da educação direcionada para os valores éticos e morais podem produzir mudança no comportamento dos educandos e se tornar um instrumento de prevenção, combate da violência, do desrespeito e da discriminação. Como afirma Silva (2012, pag.52) “refletir sobre valores é refletir também sobre as normas que regem a vida em sociedade. É refletir sobre a liberdade, opressão, a justiça, direitos, igualdade”. A reflexão e a aprendizagem sobre valores éticos irão conscientizar o aluno para uma vida em sociedade muito mais saudável e agradável. Aprender a ser cidadão é ter atitudes positivas como respeito, solidariedade e não praticar a violência. É aprender a utilizar o diálogo, saber conviver no meio social de seu país, desenvolvendo seus valores adquiridos não só no contexto familiar, mas também no ambiente escolar. É fundamental que nos espaços escolares seja construída e problematizada a educação moral. Segundo Lodi e Araújo (2007, p.72) ”a melhor forma de ensiná-los, portanto, é estimulando as reflexões e vivências”. São vivências de diferentes sensações como irritação, excitação, prazer, cansaço, emoções, sentimentos de satisfação, medo, vergonha, tristeza, dor, alegria, amor e outras. Para o individuo é desafiador lidar equilibradamente com suas emoções e, além do mais, existe uma delimitação e um contexto onde há regras e consequências. Isso nos remete a Silva (2012, p.64): “a reflexão ética na escola se apresenta como oportunidade para pensar relacionamentos humanos em várias áreas bem como as relações políticas criadas pela própria sociedade”. Considerando tal afirmação, sabemos que ninguém vive ou pode estar sempre só. Somos seres relacionáveis e vemos que o ambiente escolar propicia as mais diversas situações que envolvem interação social e afetiva e que se expande por toda a sociedade e Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 41 vice versa. “O ser humano não é, por natureza, ético e virtuoso. Isto porque ninguém nasce cidadão, mas aprende a ser” (Silva, 2012, p.31). Existe a necessidade de ensinar o ser humano desde muito cedo como ser cidadão e, para isso os educadores, e dentre eles os de Educação Infantil, precisam ter esse conhecimento, objetivando formar, a longo prazo, sujeitos éticos. Para tanto, considerando que um dos nosso objetivos é estabelecer relações entre a construção da moralidade e as manifestações de bullying, buscaremos essa relação no sentido de compreender como ocorre essa construção nos meninos e meninas envolvidos no bullying, protagonistas e alvos: A vítima típica é pouco sociável, tímida, acanhada e não consegue reagir aos comportamentos agressivos dirigidos contra ela. É mais frágil fisicamente ou apresenta algo que a diferencia dos outros, como ser gordinha ou magra demais, alta ou baixa demais, usar óculos, defeitos físicos, usar roupas fora de moda ou ter orientação sexual diferente. A vítima provocadora é aquela capaz de provocar em seus colegas reações agressivas contra si mesma. No entanto, não consegue responder aos revides de maneira satisfatória. Ela, em geral, discute ou briga quando é atacada ou insultada. Nesse grupo geralmente encontramos as crianças hiperativas, impulsivas ou imaturas, que criam um ambiente tenso na escola. A vítima agressora é aquela que reproduz os maus-tratos sofridos, já que ela passou por sofrimento busca pessoas mais frágeis para ser sua vítima na tentativa de transferir suas péssimas experiências sofridas de bullying. O agressor é aquele que causa dano à vítima que é a mais fraca. É o valentão da turma que se diverte com a tristeza alheia, podendo ser de ambos os sexos e possuindo em sua personalidade traços de desrespeito e maldade. Na maioria das vezes essas características estão ligadas a um ambicioso poder de liderança que, em geral, é adquirido através da força física ou opressão. Os espectadores são maioria. Eles não sofrem e nem praticam bullying, mas sofrem as suas consequências ao presenciarem constantemente as situações de constrangimento vivenciadas pelas vítimas. Muitos espectadores repudiam as ações dos agressores, mas nada fazem para intervir. Outros as apoiam e incentivam dando risadas, consentindo as agressões. Outros fingem se divertir com o sofrimento das Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 42 vítimas, como estratégia de defesa. Esse comportamento é adotado como forma de proteção, pois temem tornar-se as próximas vítimas. [...] não há bullying sem que haja um público a corresponder com as apelações de quem ironiza, age com sarcasmo e parece liderar aqueles que são expectadores. Autores de bullying precisam fazer com que seu público os venere sabendo de suas proezas. Dão um jeito: ou mandam recado, ou contam sobre suas ações... E o público, por sua vez, quase que em sua totalidade, amedrontado com a possibilidade de se tornar “a próxima vítima”, parece concordar com as ações dos autores, mesmo que seja pela indiferença ou pura aceitação (TOGNETTA; VINHA 2010, p. 452). O fenômeno bullying deixa marcas profundas nas crianças envolvidas. Neste sentido, Fante (2005, p. 9) destaca que: Este fenômeno estimula a delinquência e induz a outras formas de violência explícita, produzindo em larga escala, cidadãos estressados, deprimidos, com baixa autoestima, capacidade de autoaceitação e resistência à frustração, reduzida capacidade de autoafirmação e de autoexpressão, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologia de estresse, de doenças psicossomáticas, de transtornos mentais e psicopatologias graves. Percebe-se que o bullying afeta tanto a vitima como o agressor de várias maneiras dependendo do tipo de bullying: Físico: empurrões, chutes, socos, agressão com objetos ou até com arma de fogo. Verbal: insultos e chacota, o menosprezo em público, exposição de um problema físico manifestado por meio de apelidos maldosos. Psicológico: ações que tendem a destruir a autoestima do sujeito e deixa-lo inseguro e com temor. Social: o isolamento social. Este isolamento é obtido por meio de uma vasta variedade de procedimentos, que incluem espalhar comentários, recusa em conviver com a vítima, intimidar outras pessoas que desejam se aproximar dela, ridicularizar seu modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos do tipo étnico , religioso, etc. Para Fante (2005) os agressores do bullying não tiveram uma construção moral positiva nem familiar nem escolar. Este sujeito parece fixado na fase de heteronomia prolongada por não saber se colocar no lugar do outro e seu egocentrismo. Segundo Rangel (1992, p. 72) a causa está nas deterioradas relações interpessoais vividas na família: O adulto autoritário dificulta o desenvolvimento da autonomia das crianças. Existem dois tipos de reações autoritárias dos adultos em suas relações, o autoritarismo explicito por deixar claras as coerções [...]e o autoritarismo encoberto, característicos das reações dos “superpais-bonzinhos”, que tudo fazem para evitar que seus filhos lidem com as pequenas frustrações da vida, de forma positiva e Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 43 independente.[...] gera filhos inseguros, dependentes e, consequentemente, autoritários ou submissos, mas não autônomos. Assim, para ser autônomo, a criança necessita das relações e vivências positivas na família e na escola para abandonar o egocentrismo e ser capaz de colocar-se no lugar do outro. A tarefa não é fácil. O bullying destrói a vítima de dentro para fora. Gabriel Chalita (2008, p. 21) afirma que não há manual que ensine o que fazer para que o filho ou aluno se sinta menos diminuído em razão do bullying, e não há receita para que em decorrência destas agressões o aluno não tenha um bloqueio que atrapalhe sua relação com outras pessoas. Desta forma, prevenir seria o melhor remédio. Até porque a indiferença só faz crescer a prática do bullying. O foi só “brincadeirinha”, é a maneira com que o agressor se defende para fugir das suas punições. É assim que muitos professores, coordenadores, diretores “empurram” o bullying, deixando tal violência cada vez mais encoberta e impune. Educação infantil e bullying A educação infantil contribui para que as crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, sejam capazes de crescerem como cidadãs e reconhecidas como tais. Esta etapa educacional, como ambiente socializador, propiciar às crianças o acesso ao conhecimento do mundo. Conforme a parece no vol.1 do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 11) “a educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica (título V, capítulo II, seção II, art. 29), tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade”. A Educação Infantil deve contribuir para as crianças tenham atitudes de aceitação do próximo e respeito mútuo, desenvolvendo capacidades de relações interpessoais sadias e positivas. Os conteúdos exercem forte influência neste desenvolvimento e capacitam as crianças para estas relações nos processos de aprendizagem. De acordo com o vol.1 do RCNEI (BRASIL, 1998, p. 48): É importante marcar que não há aprendizagem sem conteúdos. [...] Pesquisas e produções teóricas realizadas, principalmente durante a última década, apontam a importância das aprendizagens específicas para os processos de desenvolvimento e socialização do ser humano, ressignificando o papel dos conteúdos nos processos de aprendizagem. Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 44 Além de trabalhar conteúdos específicos que concretizam e direcionam a criança para exercitar e desenvolver capacidades básicas (pensar, imaginar, sentir e ser), os profissionais da educação infantil não devem abrir mão de transmitir valores, normas e atitudes e torná-los explícitos e aptos para a compreensão e aprendizagem dos pequeninos. Conforme o vol.1 do RCNEI (BRASIL, 1998, p. 51) ”para que as crianças possam aprender conteúdos atitudinais é necessário que o professor e todos os profissionais que integram a instituição possam refletir sobre os valores que são transmitidos cotidianamente e sobre os valores que se quer desenvolver”. Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) ao afirmar o caráter transversal da ética, destacam que as atitudes respeitosas devem partir do professor, pois estas atitudes serão vistas como modelo pelas crianças, especialmente as menores. As crianças são observadoras. Estão atentas aos comportamentos dos adultos, de como eles se tratam, e assim elas vão se apropriando destes modelos e exemplos. É preciso que o educador (pais e/ou professores) dê bons exemplos na questão de justiça, respeito e preocupação com o próximo. É importante a reflexão sobre o papel do professor diante de casos de bullying. Conforme está expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 79): [...] deve ser feito um destaque para preconceitos e desrespeito frequente entre os alunos: aqueles que estigmatizam deficientes físicos ou simplesmente os gordos, os feios, os baixinhos etc., em geral traduzidos por apelidos pejorativos. Nesses casos o professor não deve admitir tais atitudes[...]. [...] não se trata de punir os alunos, tratase de explicar-lhes com clareza o que significa dignidade do ser humano, demonstrar a total impossibilidade de se deduzir que alguma raça é melhor que a outra, trata- se de fazer os alunos pensarem e refletirem a respeito de suas atitudes. Desta forma, as ações e atitudes do professor além de serem coerentes com a sua prática pedagógica, a sua firmeza na intervenção são importantes e necessárias para que o aluno compreenda que o respeito à dignidade humana não é uma simples opinião, e sim um princípio ético e fundamental para um bom convívio social e democrático. Este é um dos caminhos mais importantes para a prevenção do bullying na Educação Infantil. Nesta perspectiva, De Vries e Zan (1998) afirmam que os professores devem apoiar e promover um ambiente sócio-moral, que é toda : Rede de relações interpessoais que forma a experiência escolar da criança. Essa experiência inclui o relacionamento da criança com o professor, com outras crianças, com os estudos e com regras. As classes morais caracterizam-se por um determinado tipo de ambiente sócio moral. [...] Embora o professor e a criança possam trazer outros relacionamentos para o ambiente sócio moral da sala de aulas como a família, a relação professor-diretor, etc. (DEVRIES ; ZAN, 1998, p. 17 e 31). Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 45 A fim de demonstrar diferentes tipos de ambiente sócio-moral, as autoras começam com breves vinhetas de três salas da Educação Infantil em escolas de famílias com baixa renda em uma cidade grande. De acordo com as avaliações e baseada nas atitudes das professoras, as salas de aula foram nomeadas e caracterizadas da seguinte maneira: 1ª sala de aula: Campo de Treino de Recrutas Vinte e duas crianças sentam-se em carteiras enfileiradas. A professora fala com o tom severo e grosseiro, exigindo obediência através de ameaças e xingamentos. Este ambiente caracteriza-se como um campo de treinamento para recrutas, que em geral é de forte pressão por obediência. Este “campo de treinamento” poderá criar pessoas rebeldes, calculistas, agressoras e transgressoras das regras tanto escolares como sociais e morais. 2ª sala de aula: A Comunidade Na sala de aula nº 2, o ambiente sócio-moral é de respeito e colaboração. A professora respeita as crianças, pede ajuda para solucionar os problemas. O grupo tem atitudes positivas e reflete uma sensação de comunidade. O efeito desse ambiente sócio-moral oportunizam as crianças se tornarem pessoas respeitosas em relação ao outro, mais racionais para solucionar seus conflitos e poderão se tornar pessoas mais competentes moral e socialmente. 3º sala de aula: A Fábrica Na sala de aula nº 3, o ambiente sócio-moral é de pressão para uma produção obediente do trabalho. Porém, não é tão negativo quanto no “campo de treinamento”, nem tão positivo quanto na “comunidade”. A professora fala calmamente, mas também mantém as crianças sob um rígido controle e elas têm pouca oportunidade para se expressar. Neste ambiente as crianças tendem a mostrarem-se inseguras, sem autoconfiança, o que as leva a serem fortemente dependentes e egocêntricas. Portanto, percebemos como as ações dos professores podem interferir na formação moral da criança. As atitudes e ações dos professores transmitem mensagens sobre comportamentos éticos e morais para as crianças o tempo todo. Isto acontece quando eles impõem regras, demonstram respeito, administram sanções, ensinam o que devem ou não fazer, o que é bom ou mau. A esta conclusão chegam também Kostelnik et al. (2012), ao afirmarem que os adultos tendem a influenciar e impactar na formação geral das crianças, e, sobretudo, em suas condutas e ações, possibilitando-as de se tornarem prestativas e Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 46 cooperativas. A principal maneira para promover este comportamento pró-social são as relações que são desenvolvidas com as crianças, pois quanto mais o adulto for acolhedor e apoiador, mais a criança irá se comportar de forma pró-social. É importante desenvolver um trabalho em prol da promoção do comportamento prósocial como definido por Coon (2006, apud MUÑOZ, 2012, p.95), ”O chamado comportamento pró-social é entendido em Psicologia Social como um comportamento útil, construtivo ou altruísta em relação aos outros [...]”. São definidos de comportamentos prósociais atos como ajudar, dividir, sacrificar, auxiliar, encorajar, ser voluntario, dar, reafirmar, convidar, resgatar, cooperar, confortar, defender entre outros Krasnor et al. (2009 apud KOSTELNIK et al. 2012, p. 368). São valores positivos para toda a sociedade opostos a comportamentos agressivos, egoístas e antissociais. Conforme os pesquisadores citados acima, a criança para agir pró-socialmente necessita seguir os seguintes passos: 1. Conscientizar-se de que dividir, ajudar ou cooperar é/são necessário(s). A criança, ao identificar que alguém que ela gosta está com problemas, manifestará solidariedade e demonstrará sentimentos, como ficar triste com a situação. Essa reação será de uma pessoa pró-social. 2. Decidir agir a criança ao identificar uma pessoa com problemas ela irá decidir se irá agir ou não. Três fatores irão influenciá-la. O primeiro é a relação da criança com a pessoa em necessidade. Apesar das crianças poderem reagir por compaixão a pessoas estranhas, ela reagirá com maior espontaneidade a pessoas que elas gostam. A outra influencia é o humor. A criança que apresenta um humor positivo será mais pró-social, já as crianças que são mais tristes ou raivosas não conseguem ver além de seus problemas ou até mesmo acreditam que suas ações podem fracassar e preferem não arriscar. E por último, o terceiro fator é a autopercepção. A criança é motivada e elogiada por ser prestativa e gentil, consequentemente tenta sempre agir de forma pró-social para reforça está autoimagem. Já as que não têm esta autopercepção tendem afastar-se de situações pró-sociais porque para ela tais valores não se encaixam na forma que ela se vê em relação aos outros. 3. Agir o comportamento da criança é influenciado por duas capacidades, uma das quais é a tomada de perspectiva. Ela reconhece que será útil à pessoa com alguma necessidade, mas não tem habilidade para distinguir o problema e relacioná-lo à ação necessária no momento, principalmente se não for familiar a situação ou se não vivenciou Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 47 nada parecido anteriormente. A outra envolve o conhecimento e as habilidades necessárias para agir de forma competente e coerente a situação. Neste sentido, as experiências vividas pelas crianças na família, com os colegas e na escola têm papel relevante em seu comportamento. A criança que vivência no ambiente escolar uma interação positiva e uma ação de cuidado da parte do professor tende a reagir com atos pró-sociais, pois nestas interações a criança imita o comportamento do adulto. Bronson (2006 apud KOSTELNIK et al., 2012, p. 376) fornece dicas de como tornar este ambiente favorável: os participantes preveem que todos farão o melhor para apoiar uns aos outros; adultos e crianças contribuem para decisões, práticas e procedimentos; a comunicação é direta, clara e mútua; as diferenças individuais são respeitadas; as pessoas gostam umas das outras e têm uma sensação de pertencer ao grupo; há ênfase nas realizações do grupo e também nas individuais. Estas ações desenvolvem sentimentos de satisfação e de competência nas crianças ao ajudarem outra pessoa. Possibilitam-lhe sentir-se útil e importante. Aumentam a chance de receberem ajuda ou cooperação e a probabilidade de continuarem sendo gentis futuramente. Fortalecem e aumentam os laços de afetividade e relacionamento. E quem recebe ou se beneficia de tais comportamentos pró-sociais tem uma grande chance de aprender e reagir também positivamente. Criar condições para a construção sócio-moral das crianças é a melhor opção de prevenção a atos violentos, como o bullying. É fundamental a transmissão de valores morais positivos dentro das salas de aula da Educação Infantil para que a criança tenha uma formação social e moral de autonomia. Caso o contrário, como afirma Chalita (2008, p. 14:) [...] o agredido dificilmente encontra coragem para se defender e permite que se fechem as cortinas. E quantos há que, com as cortinas fechadas, dão cabo á própria história. Não são poucos os relatos recentes de alunos que desistem de viver [...] decidem vingar da instituição que permitiu que as cortinas lhes fossem fechadas. Pobres jovens, adolescentes, crianças indefesa. Pobres pais ausentes que choram tardiamente. Pobre escola que deveria acolher proteger, preparar, ser amiga, enfim. A escola não pode só se lamentar. Ela deve ser desenvolvida para uma cultura de paz desde a Educação Infantil, onde a pratica da amizade, solidariedade e a tolerância ao próximo devem ser constantes. Relações de cooperação, diálogo e respeito devem ser valorizadas e assumidas por todos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 48 Considerações finais A violência apresenta diferentes caras. Uma delas é o bullying, que tem se expandido e se tornado fonte de tristeza e angústia para muitas crianças. Apresenta-se como um acontecimento comum no âmbito escolar sendo, muitas vezes, entendido de forma errônea. Nesse sentido, definimos e diferenciamos os conceitos de conflito, violência e bullying. A partir da correta compreensão das características do bullying foi possível entender que seu termo é utilizado na maioria das vezes de forma inadequada, principalmente pela mídia, para se referir a toda e qualquer manifestação ou ato de violência e/ou conflito o que afeta o desenvolvimento dos estudantes. Foi discutido o desenvolvimento moral da criança com base nos estudos de Piaget. Segundo ele, neste processo o sujeito passa por estágios. O primeiro denominado como anomia. Neste a criança não entende conscientemente o que é moralidade e regras. O segundo chamado de heteronomia, que é a fase do surgimento das regras ditadas por um adulto do convívio dela e, o terceiro, de autonomia, que é a fase que a criança decide agir de melhor forma para todos, por justiça e respeito ao próximo. Compreender como se dá esta construção é essencial na prática do professor de educação infantil para que sua ação docente esteja orientada na educação para a autonomia. Também foi destacado no artigo que, intencionalmente ou não, o professor transmite valores nas suas ações que ajudam ou inibem na construção da moralidade da criança. E que ao trabalhar com seus alunos o respeito mútuo, o diálogo, a justiça e a solidariedade na sala de aula, este profissional deve manter no seu discurso docente coerência com a sua prática pedagógica, pois a criança o observa o tempo todo e o imita. O professor, no fazer diário, deve ter em conta conteúdos e procedimentos que o ajudem a transmitir de forma explícita valores, normas e atitudes para a compreensão dos pequenos. Cabe assim criar um ambiente que propicie as crianças experimentar, reorganizar e recriar outras formas de relação em sua vida e fora do contexto escolar. Estas reflexões, condizentes com as diretrizes dos documentos orientadores da Educação Infantil no Brasil, nos levaram a pensar algumas pistas para a prática docente nessa etapa que nos permitam prevenir a prática do bullying no ambiente escolar. Sendo assim, a escola deve proporcionar um ambiente cooperativo que ofereça condições para a criança libertar-se do egocentrismo, da submissão imposta por autoridade, pois um comportamento prestativo e cooperativo de um adulto pode influenciá-las profundamente. Com isso queremos Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014. 49 indicar caminhos para que a escola passe de palco da violência a ser um lugar de respeito mútuo, solidariedade, compaixão, construído por todos os membros da comunidade escolar e onde o bullying não encontre espaço já desde a Educação Infantil. Referências BARBOSA, Alexandre. Deputado (PSDB). Autor do Projeto de Lei Nº 350/2007. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,2007. Disponível em <http://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=708716>. Acesso em 10 de outubro de 2013. BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MECSecretaria de Educação Fundamental.1998. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. 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