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Bullying e desenvolvimento moral: relações e implicações nas
aulas de Educação Infantil
Érica Coelho Gargano1
Graciete Maria de Oliveira2
Manuel Alfonso Díaz Muñoz3
Resumo
O bullying é uma forma de violência característica entre pares, e que tem se manifestado com
maior intensidade nos espaços educacionais. Buscar respostas para a origem do problema foi
tema deste artigo “Bullying e desenvolvimento moral: relações e implicações nas aulas de
educação infantil”. Identificar as suas manifestações requer um conhecimento específico de
suas particularidades, pois deve ser preocupação de toda comunidade educativa tratar das
formas de violência que ocorram dentro e fora do seu ambiente. Para alcançar nosso objetivo
diferenciamos o significado dos termos conflito, violência e bullying, estudamos a
organização da educação moral e a relacionamos com ações de bullying. Assim, buscamos
compreender as manifestações do bullying na Educação Infantil. A metodologia utilizada para
a pesquisa foi o estudo bibliográfico com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. Acreditamos que, agindo intencionalmente ou
não, o professor transmite em seu comportamento e prática uma visão de mundo que ajudará
ou inibirá a construção da moralidade da criança. Esse profissional deve manter coerência
entre o seu discurso e a sua pratica pedagógica, considerando que a criança observa e imita o
tempo todo. Questões morais e bullying devem ser conteúdos constantes nas práticas
escolares.
Palavras-chave: Bullying. Moralidade Humana. Educação Infantil.
Bullying and moral development: relationships and implications for early childhood
educational classes
Abstract
Bullying is a form of violence characteristic among peers, and has manifested itself most
strongly in educational spaces. Find answers to the origin of the problem was the subject of
this article "Bullying and moral development: relationships and implications for early
childhood educational classes”. Identify its manifestations requires a specific knowledge of
their peculiarities, because this should be a concern of the entire educational community to
address the forms of violence that occur within and outside its environment. To achieve our
objective we tried to differentiate the meaning of the terms conflict, violence and bullying and
tried to understand the organization of moral education and relate it to the bullying actions.
1
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. E-mail:
[email protected].
2
Pedagoga, Psicopedagoga, Mestre em Teologia (Educação e Religião). Docente do Centro Universitário
Metodista Izabela Hendrix e Coordenadora Geral do Colégio Metodista Izabela Hendrix. E-mail:
[email protected].
3
Educador com experiência na docência e gestão no ensino formal e em espaços não escolares. Psicólogo e
teólogo com mestrado em Teologia (Religião e Educação) e em Psicologia (Social), doutorado em Teologia
(Religião e Educação). Pesquisador na área de Direitos Humanos e Educação, com ênfase na temática da
educação para a paz. E-mail: [email protected].
Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 1, jan/jun 2014.
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We sought to understand the manifestations of bullying in kindergarten. The research
methodology used was a bibliographic study based on material already prepared, mainly
books and scientific articles. We believe that, acting intentionally or not, the teacher conveys
in his behavior and practices, a worldview that will help or will inhibit the construction of
children’s morality. And this professional must keep the consistency between his teaching
discourse and his pedagogical practice, considering that the child will observe him and imitate
him all the time. Moral issues and bullying should be content contained in school practices.
Keywords: Bullying. Human Morality. Early Childhood Education.
Introdução
A violência está em toda parte, também na escola, espaço de encontro e construção de
subjetividades. Os meios de comunicação apontam que o fenômeno do bullying tem crescido
vertiginosamente entre os alunos. As agressões físicas e verbais são objeto de preocupação no
cotidiano escolar, atingindo professores e estudantes de maneira preocupante.
Atos como chamar o colega de apelidos pejorativos (baleia, monstrinho, cabelo
“bombril”) ou brincadeiras de mal gosto (chutes, empurrões, tapas) acontecem no âmbito
escolar de forma repetitivamente e intencional. Cabe ao professor buscar conhecimento sobre
o assunto como parte do seu aperfeiçoamento profissional, pois atos assim podem significar
cenas de bullying e a criança ofendida não poderá ficar sem proteção e cuidado. Caso
contrário, ela será mais uma vítima deste tormento e poderá sofrer sequelas irreversíveis no
âmbito emocional e/ou na aprendizagem. Fante (2005) caracteriza o bullying como toda forma
de agressão, seja física ou verbal, sem um motivo aparente que causa em suas vítimas
consequências que vão desde o âmbito emocional até a área da aprendizagem.
Onde existem pessoas há construção de conhecimento através das interações
interpessoais, que são fundamentais. Como afirma Vygostky (1989 apud MARTINS, 1997, p.
117), é na interação entre as pessoas que, em primeiro lugar, se constrói o conhecimento que
depois será intrapessoal e será partilhado pelo grupo junto ao qual tal conhecimento foi
conquistado ou construído.
Mas sabe-se que onde há gente há também conflitos, ocasionalmente ou regularmente,
violência e bullying. Por isso a importância de compreendê-los, diferenciá-los e relacioná-los
com o cotidiano das escolas. Buscando respostas para a origem do problema, este artigo
intitulado “Bullying e desenvolvimento moral: relações e implicações nas aulas de educação
infantil” tem o objetivo de compreender as manifestações do bullying na Educação Infantil.
Previamente diferenciaremos os termos conflito, violência e bullying, compreenderemos a
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organização da educação moral e a relacionaremos com ações de bullying. A metodologia
utilizada para a pesquisa foi o estudo bibliográfico. Além de autores clássicos da
psicopedagogia como Piaget, tentamos selecionar os autores brasileiros mais conhecidos pelo
seu trabalho na área nos últimos anos.
Conflito, violência e bullying: o que é?
O interesse em estudos sobre o fenômeno bullying tem se manifestado com maior
intensidade na última década nos espaços educacionais. O aumento dos casos de violência
ocorridos em instituições escolares de todo o mundo preocupa professores, médicos,
psicólogos e a sociedade em geral. A compreensão do fenômeno exige um esclarecimento
conceitual prévio. Daí o interesse de explicitar os termos conflito, violência e bullying e suas
interfaces, para que possamos compreendê-los, diferenciá-los e relacioná-los com o cotidiano
das escolas.
Cléo Fante (2005, p. 157) afirma que o termo violência tem um significado amplo e
pode ser entendido como “todo ato, praticado de maneira consciente e inconsciente, que fere,
magoa, constrange ou causa dano a qualquer membro da espécie humana.” Levinsky (apud
DIAS, 1996, p. 74) ressalta que é “uma reação consequente a um sentimento de ameaça ou de
falência da capacidade psíquica em suportar o conjunto de pressões internas e externas a que
está submetida”. Dias (1996) nos alerta que há violência quando um sujeito faz uso de sua
autoridade, por meio da força física ou psicológica, para obrigar e oprimir alguém ou um
grupo a agir de forma contrária a sua vontade ou até mesmo os priva de um bem ou de seu
direito a liberdade.
O conflito não é violência e nem é considerado bullying, ao contrário do que pensa o
senso comum e até alguns profissionais envolvidos na educação. É uma oportunidade que
deve ser aproveitada pelos professores nos espaços escolares para trabalhar o
desenvolvimento moral, pois o conflito é essencial para a construção do conhecimento. O
conflito é tido como oportunidade para compartilhar seu ponto de vista com o outro, de
comparar e analisar diferentes argumentos e de encontrar soluções justas para ambas as
partes, sendo este necessário para o processo de ensino e de aprendizagem. A busca de
solução para os conflitos propicia estabelecer relações, buscar novas percepções para a
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situação vivida, o que repercute na interação com os objetos do conhecimento. Porém, quando
o conflito é mal resolvido é causa de violência.
O termo bullying é utilizado inadequadamente, principalmente pela mídia, para se
referir a toda e qualquer manifestação ou ato de violência e/ou conflito. O bullying
caracteriza-se como uma forma de violência específica com características e consequências
próprias em sua manifestação. Trata-se de violência contínua e intencional que acontece entre
os pares, sendo definido, por Fante (2005) como:
Um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem
motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor,
angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam
profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam
e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos,
morais e materiais são algumas das manifestações do comportamento bullying.
(FANTE, 2005, p. 28 e 29).
Percebe-se assim, o que diferencia o bullying de comportamentos agressivos é a
intencionalidade de fazer mal e a persistência de uma prática a que a vítima é sujeita. Não é
um simples conflito a ser resolvido, é muito mais complexo e tem a ver com desprezo de uma
pessoa, fazendo com que ela se considere sem valor, inferior ou indigna de respeito. É uma
violência característica entre pares, continua e intencional. O Projeto de Lei nº 350 de 2007,
que aborda o fenômeno, o conceitua neste sentido:
Entende-se por bullying atitudes de violência física ou psicológica, intencionais e
repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, praticadas por um indivíduo ou
grupos de indivíduos, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou
agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de
poder entre as partes envolvidas.
Estas interpretações são de extrema importância para discernirmos como e quando
uma pessoa está sofrendo uma situação de bullying. A violência, em todas suas formas, é uma
ação consciente ou não que provoca danos a alguém, consequência de um conflito mal
resolvido. Contudo, acreditamos que “é possível educar para a paz em nossas escolas,
aumentar os comportamento pró-sociais e diminuir os comportamentos violentos através de
programas de intervenção psicopedagógica específicos e de fácil implementação.” (MUÑOZ,
2012, p. 293). Esta afirmação é coerente com os dados de outras pesquisas nacionais e
internacionais (SILVA; MUÑOZ, 2012). O comportamento violento é aprendido na interação
social e pode ser desaprendido.
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Educação moral e bullying: interfaces
Entender como se dá o processo de construção da moralidade é essencial para o agir
do docente. Como educadores precisamos entender esse processo para analisá-lo e relacionálo com a manifestação do bullying nos espaços escolares.
Para Piaget (1994, p. 23) “a moral consiste num sistema de regras, e a essência de toda
moralidade deve ser procurada no respeito que o individuo adquire por essas regras". A
moralidade é um processo de construção do indivíduo que ocorre nas suas relações e
interações com o mundo que o cerca. De acordo com estudos realizados por Jean Piaget
(1994) os primeiros atos morais são construídos na família no relacionamento com os pais.
Estas relações são referências para que este menino ou menina vá elaborando as suas ações
morais num processo contínuo que passa três estágios: anomia, heteronomia e autonomia. Em
cada estágio lançam mão de suas estruturas cognitivas anteriores para pensar e agir
moralmente com novas estruturas.
Ao analisar os julgamentos e sentimentos morais, Rangel (1992) baseada nos
resultados obtidos nas pesquisas de Piaget (1977), apresenta a anomia como o primeiro
estágio de desenvolvimento. Neste a criança não entende conscientemente o universo moral. As
regras são apenas hábitos de conduta, ações que é necessário realizar (comer, tomar banho,
dormir e brincar). Exemplo disto é a prática da regra no jogo.
Nesta fase a criança não participa da relação social implicada pelo jogo, sendo este
essencialmente individual, correspondendo a simples aplicação funcional dos
esquemas de ação. Ainda é prematuro falar de regras, por mais que estes
comportamentos se repitam, ritualizando-se, e de uma certa forma anunciando as
regras que com mais idade, a criança empregará em seus jogos sociais. Um exemplo
típico deste tipo de “jogo” é o do bebê que arremessa sua chupeta ao chão
repetidamente para que o adulto a pegue, revelando assim o início de uma
coordenação mútua das ações. (FERRAZ, 1997, p. 29)
Não existe certo ou errado, portanto, não há conduta para seguir regras ou normas.
Para Rangel (1992) esta ausência é constatada no bebê porque ele ainda não tem noção de
obediência, não desenvolveu o sentimento de respeito pelo adulto e seu comportamento em
relação ao outro é egocêntrico e anárquico.
De acordo com Piaget (1994), o respeito é um sentimento que é oriundo da
coordenação de afeto: a criança respeita por ter estima por outra pessoa. O vínculo de apego
também gera o sentimento de medo da perda afetiva ou da punição. Desta maneira nasce o
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sentimento de respeito da criança pelo adulto na construção de mudança da fase de ANOMIA
para HETERONOMIA.
A heteronomia é a fase de legitimação das regras. Inicia-se o respeito por aqueles que
têm autoridade, ou seja, por aqueles que vão definir o que pode e o que não pode fazer. Temos
como característica a submissão e o egocentrismo.
O egocentrismo, na medida em que é confusão do eu com o mundo exterior, e o
egocentrismo, na medida em que é falta de cooperação, constituem um único e
mesmo fenômeno. Enquanto a criança não dissocia seu eu das sugestões do mundo
físico e do mundo social, não pode cooperar, porque, para tanto, é preciso estar
consciente de seu eu e situá-lo em relação ao pensamento comum. Ora, para tornarse consciente de seu eu, é necessário, exatamente, libertar-se do pensamento e da
vontade do outro. A coação exercida pelo adulto ou pelo mais velho e o
egocentrismo inconsciente do pequeno são, assim, inseparáveis. [...] O egocentrismo
infantil é então, em sua essência, uma diferenciação entre o eu e o meio social
(PIAGET, 1994, p. 81).
Segundo Rangel (1992, p.72) o adulto tem poder diante da criança e, portanto,
autoridade. O abuso recai no autoritarismo ou na superproteção. Quanto mais exercício de
poder exista na relação com a criança, mais egocêntrica ela se torna, prolongando sua
heteronomia.
É por isso não basta a criança cumprir regras por medo de ser punida.
Ela
deve
aprender a internalizar, compreender e reconhecer o respeito das normas, porque o respeito às
regras faz surgir o senso de justiça na criança e torna um sujeito com autonomia moral. A
autonomia, trabalhada através da cooperação e do respeito mutuo, capacita a criança para sair
do seu egocentrismo e se colocar no ponto de vista do outro. Ela será capaz de se fazer
entender pelo outro, pois nesta relação não existe o medo e sim a afetividade. La Taille (2007,
p.98) afirma que:
Enquanto na moral heterônoma os deveres têm maior importância que os direitos, na
moral autônoma deveres e direitos complementam-se, equilibram-se. Em suma,
enquanto na heteronomia uma regra é moralmente boa porque a ela se deve
obedecer, na autonomia o raciocínio inverte-se: deve-se obedecer a uma regra
porque ela é boa.
Proporcionar à criança uma reflexão sobre as consequências de uma norma ou regra
descumprida e conscientizá-la de que seu comportamento poderá afetar negativamente outros
indivíduos é um tipo de sanção quando a criança é capaz de se colocar no lugar do outro. Está
é uma intervenção que o professor poderá realizar na resolução do conflito sem a necessidade
de castigar.
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Quanto menos autoritário e hierárquico o adulto for e tiver uma atitude mais
cooperativa junto a criança mais provavelmente o respeito mutuo entre iguais e o diálogo
prevalecerá. Nesse ambiente as condições de desenvolvimento autônomo irão emergir.
Segundo Piaget (1977) apud Rangel (1992, p.80) ”a autonomia é um poder que só se
conquista de dentro e que só exerce no seio da cooperação”.
A escola tem sido este ambiente cooperativo? Os educadores tem tido a consciência
que a sanção da reciprocidade é uma boa alternativa? Muñoz (2012, p.69) afirma que “a
escola, espaço privilegiado de subjetivação da criança e do adolescente, não está dando conta
dos conflitos que estavam acontecendo e passa a ser um dos fatores de ruptura do laço social”.
A prática da educação direcionada para os valores éticos e morais podem produzir
mudança no comportamento dos educandos e se tornar um instrumento de prevenção,
combate da violência, do desrespeito e da discriminação. Como afirma Silva (2012, pag.52)
“refletir sobre valores é refletir também sobre as normas que regem a vida em sociedade. É
refletir sobre a liberdade, opressão, a justiça, direitos, igualdade”.
A reflexão e a aprendizagem sobre valores éticos irão conscientizar o aluno para uma
vida em sociedade muito mais saudável e agradável. Aprender a ser cidadão é ter atitudes
positivas como respeito, solidariedade e não praticar a violência. É aprender a utilizar o
diálogo, saber conviver no meio social de seu país, desenvolvendo seus valores adquiridos
não só no contexto familiar, mas também no ambiente escolar.
É fundamental que nos espaços escolares seja construída e problematizada a educação
moral. Segundo Lodi e Araújo (2007, p.72) ”a melhor forma de ensiná-los, portanto, é
estimulando as reflexões e vivências”. São vivências de diferentes sensações como irritação,
excitação, prazer, cansaço, emoções, sentimentos de satisfação, medo, vergonha, tristeza, dor,
alegria, amor e outras. Para o individuo é desafiador lidar equilibradamente com suas
emoções e, além do mais, existe uma delimitação e um contexto onde há regras e
consequências. Isso nos remete a Silva (2012, p.64): “a reflexão ética na escola se apresenta
como oportunidade para pensar relacionamentos humanos em várias áreas bem como as
relações políticas criadas pela própria sociedade”.
Considerando tal afirmação, sabemos que ninguém vive ou pode estar sempre só.
Somos seres relacionáveis e vemos que o ambiente escolar propicia as mais diversas
situações que envolvem interação social e afetiva e que se expande por toda a sociedade e
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vice
versa. “O ser humano não é, por natureza, ético e virtuoso. Isto porque ninguém nasce
cidadão, mas aprende a ser” (Silva, 2012, p.31).
Existe a necessidade de ensinar o ser humano desde muito cedo como ser cidadão e,
para isso os educadores, e dentre eles os de Educação Infantil, precisam ter esse
conhecimento, objetivando formar, a longo prazo, sujeitos éticos. Para tanto, considerando que
um dos nosso objetivos é estabelecer relações entre a construção da moralidade e as
manifestações de bullying, buscaremos essa relação no sentido de compreender como ocorre
essa construção nos meninos e meninas envolvidos no bullying, protagonistas e alvos:
 A vítima típica é pouco sociável, tímida, acanhada e não consegue reagir aos
comportamentos agressivos dirigidos contra ela. É mais frágil fisicamente ou
apresenta algo que a diferencia dos outros, como ser gordinha ou magra demais, alta
ou baixa demais, usar óculos, defeitos físicos, usar roupas fora de moda ou ter
orientação sexual diferente.
 A vítima provocadora é aquela capaz de provocar em seus colegas reações agressivas
contra si mesma. No entanto, não consegue responder aos revides de maneira
satisfatória. Ela, em geral, discute ou briga quando é atacada ou insultada. Nesse grupo
geralmente encontramos as crianças hiperativas, impulsivas ou imaturas, que criam
um ambiente tenso na escola.
 A vítima agressora é aquela que reproduz os maus-tratos sofridos, já que ela passou
por sofrimento busca pessoas mais frágeis para ser sua vítima na tentativa de transferir
suas péssimas experiências sofridas de bullying.
 O agressor é aquele que causa dano à vítima que é a mais fraca. É o valentão da turma
que se diverte com a tristeza alheia, podendo ser de ambos os sexos e possuindo em
sua personalidade traços de desrespeito e maldade. Na maioria das vezes essas
características estão ligadas a um ambicioso poder de liderança que, em geral, é
adquirido através da força física ou opressão.
 Os espectadores são maioria. Eles não sofrem e nem praticam bullying, mas sofrem
as
suas
consequências
ao
presenciarem
constantemente
as
situações
de
constrangimento vivenciadas pelas vítimas. Muitos espectadores repudiam as ações
dos agressores, mas nada fazem para intervir. Outros as apoiam e incentivam dando
risadas, consentindo as agressões. Outros fingem se divertir com o sofrimento das
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vítimas, como estratégia de defesa. Esse comportamento é adotado como forma de
proteção, pois temem tornar-se as próximas vítimas.
[...] não há bullying sem que haja um público a corresponder com as apelações de
quem ironiza, age com sarcasmo e parece liderar aqueles que são expectadores.
Autores de bullying precisam fazer com que seu público os venere sabendo de suas
proezas. Dão um jeito: ou mandam recado, ou contam sobre suas ações... E o
público, por sua vez, quase que em sua totalidade, amedrontado com a possibilidade
de se tornar “a próxima vítima”, parece concordar com as ações dos autores, mesmo
que seja pela indiferença ou pura aceitação (TOGNETTA; VINHA 2010, p. 452).
O fenômeno bullying deixa marcas profundas nas crianças envolvidas. Neste sentido,
Fante (2005, p. 9) destaca que:
Este fenômeno estimula a delinquência e induz a outras formas de violência
explícita, produzindo em larga escala, cidadãos estressados, deprimidos, com baixa
autoestima, capacidade de autoaceitação e resistência à frustração, reduzida
capacidade de autoafirmação e de autoexpressão, além de propiciar o
desenvolvimento de sintomatologia de estresse, de doenças psicossomáticas, de
transtornos mentais e psicopatologias graves.
Percebe-se que o bullying afeta tanto a vitima como o agressor de várias maneiras
dependendo do tipo de bullying:

Físico: empurrões, chutes, socos, agressão com objetos ou até com arma de fogo.

Verbal: insultos e chacota, o menosprezo em público, exposição de um problema
físico manifestado por meio de apelidos maldosos.
 Psicológico: ações que tendem a destruir a autoestima do sujeito e deixa-lo inseguro e
com temor.
 Social: o isolamento social. Este isolamento é obtido por meio de uma vasta variedade
de procedimentos, que incluem espalhar comentários, recusa em conviver com a
vítima, intimidar outras pessoas que desejam se aproximar dela, ridicularizar seu modo
de vestir ou outros aspectos socialmente significativos do tipo étnico , religioso, etc.
Para Fante (2005) os agressores do bullying não tiveram uma construção moral
positiva nem familiar nem escolar. Este sujeito parece fixado na fase de heteronomia
prolongada por não saber se colocar no lugar do outro e seu egocentrismo. Segundo Rangel
(1992, p. 72) a causa está nas deterioradas relações interpessoais vividas na família:
O adulto autoritário dificulta o desenvolvimento da autonomia das crianças. Existem
dois tipos de reações autoritárias dos adultos em suas relações, o autoritarismo
explicito por deixar claras as coerções [...]e o autoritarismo encoberto,
característicos das reações dos “superpais-bonzinhos”, que tudo fazem para evitar
que seus filhos lidem com as pequenas frustrações da vida, de forma positiva e
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independente.[...] gera filhos inseguros, dependentes e, consequentemente,
autoritários ou submissos, mas não autônomos.
Assim, para ser autônomo, a criança necessita das relações e vivências positivas na
família e na escola para abandonar o egocentrismo e ser capaz de colocar-se no lugar do
outro. A tarefa não é fácil. O bullying destrói a vítima de dentro para fora. Gabriel Chalita
(2008, p. 21) afirma que não há manual que ensine o que fazer para que o filho ou aluno se
sinta menos diminuído em razão do bullying, e não há receita para que em decorrência destas
agressões o aluno não tenha um bloqueio que atrapalhe sua relação com outras pessoas. Desta
forma, prevenir seria o melhor remédio. Até porque a indiferença só faz crescer a prática do
bullying. O foi só “brincadeirinha”, é a maneira com que o agressor se defende para fugir das
suas punições. É assim que muitos professores, coordenadores, diretores “empurram” o
bullying, deixando tal violência cada vez mais encoberta e impune.
Educação infantil e bullying
A educação infantil contribui para que as crianças tenham um desenvolvimento
integral de suas identidades, sejam capazes de crescerem como cidadãs e reconhecidas como
tais. Esta etapa educacional, como ambiente socializador, propiciar às crianças o acesso ao
conhecimento do mundo. Conforme a parece no vol.1 do Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 11) “a educação infantil é considerada a primeira
etapa da educação básica (título V, capítulo II, seção II, art. 29), tendo como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade”.
A Educação Infantil deve contribuir para as crianças tenham atitudes de aceitação do
próximo e respeito mútuo, desenvolvendo capacidades de relações interpessoais sadias e
positivas. Os conteúdos exercem forte influência neste desenvolvimento e capacitam as
crianças para estas relações nos processos de aprendizagem.
De acordo com o vol.1 do RCNEI (BRASIL, 1998, p. 48):
É importante marcar que não há aprendizagem sem conteúdos. [...] Pesquisas e
produções teóricas realizadas, principalmente durante a última década, apontam a
importância das aprendizagens específicas para os processos de desenvolvimento e
socialização do ser humano, ressignificando o papel dos conteúdos nos processos de
aprendizagem.
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Além de trabalhar conteúdos específicos que concretizam e direcionam a criança para
exercitar e desenvolver capacidades básicas (pensar, imaginar, sentir e ser), os profissionais
da educação infantil não devem abrir mão de transmitir valores, normas e atitudes e torná-los
explícitos e aptos para a compreensão e aprendizagem dos pequeninos. Conforme o vol.1 do
RCNEI (BRASIL, 1998, p. 51) ”para que as crianças possam aprender conteúdos atitudinais é
necessário que o professor e todos os profissionais que integram a instituição possam refletir
sobre os valores que são transmitidos cotidianamente e sobre os valores que se quer
desenvolver”.
Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) ao afirmar o
caráter transversal da ética, destacam que as atitudes respeitosas devem partir do professor,
pois estas atitudes serão vistas como modelo pelas crianças, especialmente as menores. As
crianças são observadoras. Estão atentas aos comportamentos dos adultos, de como eles se
tratam, e assim elas vão se apropriando destes modelos e exemplos. É preciso que o educador
(pais e/ou professores) dê bons exemplos na questão de justiça, respeito e preocupação com o
próximo. É importante a reflexão sobre o papel do professor diante de casos de bullying.
Conforme está expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 79):
[...] deve ser feito um destaque para preconceitos e desrespeito frequente entre os
alunos: aqueles que estigmatizam deficientes físicos ou simplesmente os gordos, os
feios, os baixinhos etc., em geral traduzidos por apelidos pejorativos. Nesses casos o
professor não deve admitir tais atitudes[...]. [...] não se trata de punir os alunos, tratase de explicar-lhes com clareza o que significa dignidade do ser humano, demonstrar
a total impossibilidade de se deduzir que alguma raça é melhor que a outra, trata- se
de fazer os alunos pensarem e refletirem a respeito de suas atitudes.
Desta forma, as ações e atitudes do professor além de serem coerentes com a sua
prática pedagógica, a sua firmeza na intervenção são importantes e necessárias para que o
aluno compreenda que o respeito à dignidade humana não é uma simples opinião, e sim um
princípio ético e fundamental para um bom convívio social e democrático. Este é um dos
caminhos mais importantes para a prevenção do bullying na Educação Infantil. Nesta
perspectiva, De Vries e Zan (1998) afirmam que os professores devem apoiar e promover um
ambiente sócio-moral, que é toda :
Rede de relações interpessoais que forma a experiência escolar da criança. Essa
experiência inclui o relacionamento da criança com o professor, com outras crianças,
com os estudos e com regras. As classes morais caracterizam-se por um determinado
tipo de ambiente sócio moral. [...] Embora o professor e a criança possam trazer
outros relacionamentos para o ambiente sócio moral da sala de aulas como a família,
a relação professor-diretor, etc. (DEVRIES ; ZAN, 1998, p. 17 e 31).
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A fim de demonstrar diferentes tipos de ambiente sócio-moral, as autoras começam
com breves vinhetas de três salas da Educação Infantil em escolas de famílias com baixa
renda em uma cidade grande. De acordo com as avaliações e baseada nas atitudes das
professoras, as salas de aula foram nomeadas e caracterizadas da seguinte maneira:
1ª sala de aula: Campo de Treino de Recrutas
Vinte e duas crianças sentam-se em carteiras enfileiradas. A professora fala com o tom
severo e grosseiro, exigindo obediência através de ameaças e xingamentos. Este ambiente
caracteriza-se como um campo de treinamento para recrutas, que em geral é de forte pressão
por obediência. Este “campo de treinamento” poderá criar pessoas rebeldes, calculistas,
agressoras e transgressoras das regras tanto escolares como sociais e morais.
2ª sala de aula: A Comunidade
Na sala de aula nº 2, o ambiente sócio-moral é de respeito e colaboração. A professora
respeita as crianças, pede ajuda para solucionar os problemas. O grupo tem atitudes positivas
e reflete uma sensação de comunidade. O efeito desse ambiente sócio-moral oportunizam as
crianças se tornarem pessoas respeitosas em relação ao outro, mais racionais para solucionar
seus conflitos e poderão se tornar pessoas mais competentes moral e socialmente.
3º sala de aula: A Fábrica
Na sala de aula nº 3, o ambiente sócio-moral é de pressão para uma produção
obediente do trabalho. Porém, não é tão negativo quanto no “campo de treinamento”, nem tão
positivo quanto na “comunidade”. A professora fala calmamente, mas também mantém as
crianças sob um rígido controle e elas têm pouca oportunidade para se expressar. Neste
ambiente as crianças tendem a mostrarem-se inseguras, sem autoconfiança, o que as leva a
serem fortemente dependentes e egocêntricas.
Portanto, percebemos como as ações dos professores podem interferir na formação
moral da criança. As atitudes e ações dos professores transmitem mensagens sobre
comportamentos éticos e morais para as crianças o tempo todo. Isto acontece quando eles
impõem regras, demonstram respeito, administram sanções, ensinam o que devem ou não
fazer, o que é bom ou mau. A esta conclusão chegam também Kostelnik et al. (2012), ao
afirmarem que os adultos tendem a influenciar e impactar na formação geral das crianças, e,
sobretudo, em suas condutas e ações, possibilitando-as de se tornarem prestativas e
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cooperativas. A principal maneira para promover este comportamento pró-social são as
relações que são desenvolvidas com as crianças, pois quanto mais o adulto for acolhedor e
apoiador, mais a criança irá se comportar de forma pró-social.
É importante desenvolver um trabalho em prol da promoção do comportamento prósocial como definido por Coon (2006, apud MUÑOZ, 2012, p.95), ”O chamado
comportamento pró-social é entendido em Psicologia Social como um comportamento útil,
construtivo ou altruísta em relação aos outros [...]”. São definidos de comportamentos prósociais atos como ajudar, dividir, sacrificar, auxiliar, encorajar, ser voluntario, dar, reafirmar,
convidar, resgatar, cooperar, confortar, defender entre outros Krasnor et al. (2009 apud
KOSTELNIK et al. 2012, p. 368). São valores positivos para toda a sociedade opostos a
comportamentos agressivos, egoístas e antissociais. Conforme os pesquisadores citados
acima, a criança para agir pró-socialmente necessita seguir os seguintes passos:
1. Conscientizar-se de que dividir, ajudar ou cooperar é/são necessário(s). A criança,
ao identificar que alguém que ela gosta está com problemas, manifestará solidariedade e
demonstrará sentimentos, como ficar triste com a situação. Essa reação será de uma pessoa
pró-social.
2. Decidir agir a criança ao identificar uma pessoa com problemas ela irá decidir se
irá agir ou não. Três fatores irão influenciá-la. O primeiro é a relação da criança com a pessoa
em necessidade. Apesar das crianças poderem reagir por compaixão a pessoas estranhas, ela
reagirá com maior espontaneidade a pessoas que elas gostam. A outra influencia é o humor. A
criança que apresenta um humor positivo será mais pró-social, já as crianças que são mais
tristes ou raivosas não conseguem ver além de seus problemas ou até mesmo acreditam que
suas ações podem fracassar e preferem não arriscar. E por último, o terceiro fator é a
autopercepção. A criança é motivada e elogiada por ser prestativa e gentil, consequentemente
tenta sempre agir de forma pró-social para reforça está autoimagem. Já as que não têm esta
autopercepção tendem afastar-se de situações pró-sociais porque para ela tais valores não se
encaixam na forma que ela se vê em relação aos outros.
3. Agir o comportamento da criança é influenciado por duas capacidades, uma das
quais é a tomada de perspectiva. Ela reconhece que será útil à pessoa com alguma
necessidade, mas não tem habilidade para distinguir o problema e relacioná-lo à ação
necessária no momento, principalmente se não for familiar a situação ou se não vivenciou
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nada parecido anteriormente. A outra envolve o conhecimento e as habilidades necessárias
para agir de forma competente e coerente a situação.
Neste sentido, as experiências vividas pelas crianças na família, com os colegas e na
escola têm papel relevante em seu comportamento. A criança que vivência no ambiente
escolar uma interação positiva e uma ação de cuidado da parte do professor tende a reagir
com atos pró-sociais, pois nestas interações a criança imita o comportamento do adulto.
Bronson (2006 apud KOSTELNIK et al., 2012, p. 376) fornece dicas de como tornar este
ambiente favorável: os participantes preveem que todos farão o melhor para apoiar uns aos
outros; adultos e crianças contribuem para decisões, práticas e procedimentos; a comunicação
é direta, clara e mútua; as diferenças individuais são respeitadas; as pessoas gostam umas das
outras e têm uma sensação de pertencer ao grupo; há ênfase nas realizações do grupo e
também nas individuais.
Estas ações desenvolvem sentimentos de satisfação e de competência nas crianças ao
ajudarem outra pessoa. Possibilitam-lhe sentir-se útil e importante. Aumentam a chance de
receberem ajuda ou cooperação e a probabilidade de continuarem sendo gentis futuramente.
Fortalecem e aumentam os laços de afetividade e relacionamento. E quem recebe ou se
beneficia de tais comportamentos pró-sociais tem uma grande chance de aprender e reagir
também positivamente.
Criar condições para a construção sócio-moral das crianças é a melhor opção de
prevenção a atos violentos, como o bullying. É fundamental a transmissão de valores morais
positivos dentro das salas de aula da Educação Infantil para que a criança tenha uma formação
social e moral de autonomia. Caso o contrário, como afirma Chalita (2008, p. 14:)
[...] o agredido dificilmente encontra coragem para se defender e permite que se
fechem as cortinas. E quantos há que, com as cortinas fechadas, dão cabo á própria
história. Não são poucos os relatos recentes de alunos que desistem de viver [...]
decidem vingar da instituição que permitiu que as cortinas lhes fossem fechadas.
Pobres jovens, adolescentes, crianças indefesa. Pobres pais ausentes que choram
tardiamente. Pobre escola que deveria acolher proteger, preparar, ser amiga, enfim.
A escola não pode só se lamentar. Ela deve ser desenvolvida para uma cultura de paz
desde a Educação Infantil, onde a pratica da amizade, solidariedade e a tolerância ao próximo
devem ser constantes. Relações de cooperação, diálogo e respeito devem ser valorizadas e
assumidas por todos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
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Considerações finais
A violência apresenta diferentes caras. Uma delas é o bullying, que tem se expandido e
se tornado fonte de tristeza e angústia para muitas crianças. Apresenta-se como um
acontecimento comum no âmbito escolar sendo, muitas vezes, entendido de forma errônea.
Nesse sentido, definimos e diferenciamos os conceitos de conflito, violência e bullying. A
partir da correta compreensão das características do bullying foi possível entender que seu
termo é utilizado na maioria das vezes de forma inadequada, principalmente pela mídia, para
se referir a toda e qualquer manifestação ou ato de violência e/ou conflito o que afeta o
desenvolvimento dos estudantes.
Foi discutido o desenvolvimento moral da criança com base nos estudos de Piaget.
Segundo ele, neste processo o sujeito passa por estágios. O primeiro denominado como
anomia. Neste a criança não entende conscientemente o que é moralidade e regras. O segundo
chamado de heteronomia, que é a fase do surgimento das regras ditadas por um adulto do
convívio dela e, o terceiro, de autonomia, que é a fase que a criança decide agir de melhor
forma para todos, por justiça e respeito ao próximo. Compreender como se dá esta construção
é essencial na prática do professor de educação infantil para que sua ação docente esteja
orientada na educação para a autonomia.
Também foi destacado no artigo que, intencionalmente ou não, o professor transmite
valores nas suas ações que ajudam ou inibem na construção da moralidade da criança. E que
ao trabalhar com seus alunos o respeito mútuo, o diálogo, a justiça e a solidariedade na sala de
aula, este profissional deve manter no seu discurso docente coerência com a sua prática
pedagógica, pois a criança o observa o tempo todo e o imita. O professor, no fazer diário,
deve ter em conta conteúdos e procedimentos que o ajudem a transmitir de forma explícita
valores, normas e atitudes para a compreensão dos pequenos. Cabe assim criar um ambiente
que propicie as crianças experimentar, reorganizar e recriar outras formas de relação em sua
vida e fora do contexto escolar.
Estas reflexões, condizentes com as diretrizes dos documentos orientadores da
Educação Infantil no Brasil, nos levaram a pensar algumas pistas para a prática docente nessa
etapa que nos permitam prevenir a prática do bullying no ambiente escolar. Sendo assim, a
escola deve proporcionar um ambiente cooperativo que ofereça condições para a criança
libertar-se do egocentrismo, da submissão imposta por autoridade, pois um comportamento
prestativo e cooperativo de um adulto pode influenciá-las profundamente. Com isso queremos
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indicar caminhos para que a escola passe de palco da violência a ser um lugar de respeito
mútuo, solidariedade, compaixão, construído por todos os membros da comunidade escolar e
onde o bullying não encontre espaço já desde a Educação Infantil.
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