1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE A pele Funciona como um tecido, e é o maior órgão do corpo humano, pois reveste toda superfície externa do corpo. É composta de duas camadas: Epiderme - Camada mais externa, destituída de vasos sanguíneos, funciona como uma barreira de proteção contra o meio ambiente. È constantemente renovada pela descamação das células. Essa camada superior da pele é composta por 5 camadas (Germinativa, Espinhosa, Granulosa, Lúcida e Córnea), a camada epidérmica basal recobre a Derme e dá origem a novas camadas celulares epidérmicas. Derme - Camada mais interna, que relativamente compõem-se de tecido conectivo fibroso. Contem uma rede de pequenos vasos sanguíneos, linfáticos e fibras nervosas os acessórios da epiderme incluindo as glândulas sudoríparas, as glândulas sebáceas e os folículos pilosos estão ancorados aqui. Esses acessórios estão alinhados as células da epiderme basal que tem a capacidade de gerar uma nova pele. Abaixo da pele se encontra o tecido subcutâneo, constituída por tecido fibroso, elástico e gorduroso. 4 1.1 Principais funções: Barreira protetora contra qualquer tipo de agente (proteção contra infecção, prevenção da perda de liquido corporal) Regulação da temperatura corporal e Sensibilidade (contato sensorial com o ambiente). Alem dessas funções a pele também tem função Imunológica (Auxilia na resposta a antígenos para imunidade celular. O sebo possui propriedades antibacterianas e ajuda a desprender bactérias tópicas por meio da descamação natural), Metabólica (Produz vitamina D.) e Social e interativa (Produz a imagem e identidade corporal) 5 2. QUEIMADURA 2.1 Definição: Queimaduras são lesões no tecido do revestimento do corpo, causada por agentes térmicos, químicos, radioativos ou elétricos, podendo destruir total ou parcialmente a pele e seus anexos, e até atingir camadas mais profundas (músculos, tendões e ossos). A queimadura danifica basicamente a pele, causando destruição dos vasos sanguíneos da área afetada. Muitas vezes ela pode ser rodeada por um eritema. 2.2 Etiologia e epidemiologia As causas mais freqüentes das queimaduras são a chama de fogo, o contato com água fervente ou outros líquidos quentes e o contato com objetos aquecidos. Menos comuns são as queimaduras provocadas pela corrente elétrica, transformada em calor ao contato com o corpo. Queimadura química é denominação imprópria dada às lesões cáusticas provocadas por agentes químicos, em que o dano tecidual nem sempre resulta da produção de calor. As queimaduras em crianças, na maioria dos casos, acontecem no ambiente doméstico e são provocadas pelo derramamento de líquidos quentes sobre o corpo, como água fervente na cozinha, água quente de banho, bebidas e outros líquidos quentes, como óleo de cozinha. Nesses casos costumam ser mais superficiais, porém mais extensas. Ainda é causa comum de queimaduras, no Brasil, a chama de fogo pela manipulação de álcool etílico líquido, responsável pela maioria dos casos em adolescentes e pela segunda maior causa em crianças atendidas em hospital de referência em urgência de Minas Gerais e por 40% das queimaduras de crianças entre sete e 11 anos de idade em um hospital-escola no Estado de São Paulo. Ao contrário, os adultos queimam-se com mais freqüência com a chama de fogo e principalmente no ambiente profissional. As queimaduras resultantes, portanto, costumam ser mais profundas e, usualmente, acompanham-se dos danos causados pela inalação de fumaça. As queimaduras por contato com objetos quentes, tais como fornos, tostadores, grelhas e aquecedores, são mais comuns em indivíduos em crise convulsiva, alcoolizados ou sob efeito de drogas ilícitas, assim como idosos 6 durante episódios de perda da consciência. Também tendem a ser mais profundas devido ao contato prolongado com a fonte térmica. As injúrias elétricas podem ser causadas pela passagem da corrente elétrica através do corpo ou pela exposição ao calor gerado pelo arco de corrente de alta tensão. No primeiro caso, além do dano térmico, há risco de alteração na condução elétrica cardíaca, que deve ser devidamente monitorada. Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, no Brasil acontecem um milhão de casos de queimaduras a cada ano, 200 mil são atendidos em serviços de emergência, e 40 mil demandam hospitalização. As queimaduras estão entre as principais causas externas de morte registradas no Brasil, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes de transporte e homicídios. Estudo conduzido no Distrito Federal demonstrou taxa de mortalidade de 6,2% entre os queimados internados em hospital de emergência. 2.3 Incidência O grande numero de casos ocorre com crianças de um a cinco anos por derramamento de líquidos quentes (escaldadura). Adolescentes e adultos são mais comuns com líquidos inflamáveis. E pequena incidência (5%) de incêndios. 7 2.4 Fisiopatologia da queimadura A queimadura compromete a integridade funcional da pele, responsável pela homeostase hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da superfície corporal. Portando, a magnitude do comprometimento dessas funções depende da extensão e profundidade da queimadura. A injúria térmica provoca no organismo uma resposta local, traduzida por necrose de coagulação tecidual e progressiva trombose dos vasos adjacentes num período de 12 a 48 horas. A ferida da queimadura a princípio é estéril, porém o tecido necrótico rapidamente se torna colonizado por bactérias endógenas e exógenas, produtoras de proteases, que levam à liqüefação e separação da escara, dando lugar ao tecido de granulação responsável pela cicatrização da ferida, que se caracteriza por alta capacidade de retração e fibrose nas queimaduras de terceiro grau. Nas grandes queimaduras, além da resposta local, o dano térmico desencadeia ainda uma reação sistêmica do organismo, em conseqüência da liberação de mediadores pelo tecido lesado. Ocorre extenso dano à integridade capilar, com perda acelerada de fluidos, seja pela evaporação através da ferida ou pela seqüestração nos interstícios, que é agravada por subprodutos da colonização bacteriana. Além disso, nas queimaduras extensas, superiores a 40% da área corporal, o sistema imune é incapaz de delimitar a infecção, que, 8 sistematizando-se, torna rara a sobrevida nesses casos. Essa resposta sistêmica manifesta-se por febre, circulação sangüínea hiperdinâmica e ritmo metabólico acelerado, com aumento do catabolismo muscular, decorrente de alteração da função hipotalâmica (aumento da secreção de glucagon, cortisol e catecolaminas), da deficiência da barreira gastrointestinal (passagem de bactérias e seus subprodutos para a circulação sistêmica), da contaminação bacteriana da área queimada (liberação sistêmica de bactérias e subprodutos), da perda de calor (evaporação através da ferida levando à hipotermia) e da perda de fluidos (desequilíbrio hidroeletrolítico). 2.5 Classificação A queimadura se classifica de acordo com: agente causador, profundidade, extensão, localização e gravidade. 2.5.1 Agente Causador Queimadura térmica: causadas por chamas, agua quente ou vapor, outros líquidos quentes (agua é o mais comum) superfícies quentes, temperatura extremamente alta. Lesões por inalação de fumaça estão associadas às mortes em incêndios Queimadura elétrica: causadas por passagem de corrente elétrica pelo corpo. Os danos internos podem ser bem maiores do que mostra a aparência da pele. Tais queimaduras também podem estar associadas a lesões térmicas. Queimadura radioativa: elas se devem a uma superexposição à radiação ionizada industrial ou surgem após tratamento com radioterapia(os efeitos da radioterapia estão limitados ao campo tratado ou ao seu ponto de saída. Estritamente falando, uma reação á radiação não é uma ferida. Mas a reação da pele se assemelha a uma queimadura superficial e tem potencial para ulceração. São insuficientes as pesquisas sobre o tratamento deste problema, que pode ser bastante doloroso.) Queimadura química: causada por derramamento ou vazamento de ácidos fortes, álcalis ou outras substancias corrosivas, são 9 geralmente lesões industriais. Ocorre dano aos órgãos vitais se os produtos químicos forem absorvidos pela corrente sanguínea. Queimadura solar: causada por radiação solar em excesso. Exposição prolongada ao sol em horários críticos. Os sintomas podem incluir pele hiperemiada, cefaléia, tontura, entre outros. Neste caso deve-se proceder deixando o indivíduo com os membros inferiores elevados, pouca vestimenta, dar-lhe bastante líquidos e deixa-lo em lugar fresco e arejado. 2.5.2 Profundidade (esse tipo de classificação direciona o atendimento pré - hospitalar) 1° Grau: Camadas mais superficiais da epiderme. Quadro clínico: rubor, dor ao toque, edema leve, sem bolhas. As reações são após 6 a 12 horas do episódio e a cicatrização leva de 2 a 5 dias (despelamento da camada córnea) Ex: Queimadura solar 2° Grau superficial ou 2º Grau A: Destruição da epiderme e lesões parciais da derme. Quadro clínico: muita dor pela irritação das terminações nervosas, com presença de bolhas (barreira de proteção a infecção). A cicatrização vai de 5 a 21 dias 2º Grau Profundo ou 2º Grau B: Destruição da epiderme e de grande parte da derme. Quadro clínico: lesões avermelhadas, bronze ou brancas. Com edema e úlceras. Cicatrização: 3 a 5 semanas sem infecção. Se infectadas haverá que fazer enxerto 3° Grau: lesão atinge todas as camadas da pele, chegando ao tecido subcutâneo. É a forma mais grave. As lesões se apresentam esbranquiçadas, secas, com aspecto carbonizado, acompanhada de dor intensa. Quadro clínico: lesões anestesiadas, duras e ressecadas. Úlceras mais profundas 4º Grau – Queimadura Elétrica: Ocorre destruição completa de todos os tecidos. Sempre duas feridas: uma de entrada que é carbonizada e deprimida, outra de saída com bordas explosivas. 10 2.5.2.1 Lesão de espessura parcial: há comprometimento completo da epiderme e parcial da derme, com sinais de eritema e bolha e, quando é parcial superficial, a coloração é rosada e brilhante. Quando profunda, é avermelhada ou esbranquiçada, sem brilho. Neste caso, há reparação por reeptelização dos anexos epiteliais ou da região adjacente, com reparação quase imperceptível. 2.5.2.2 Lesão de espessura total: há comprometimento completo da derme, podendo ser acompanhado pelo prejuízo de tecidos anexos ao cutâneo, necessitando a formação de um tecido de granulação, sendo que a epilelização ocorre somente nas margens da região acometida. A coloração é branca nacarada ou evidente carbonização com sintomas de choque. 11 2.5.3 Extensão Extensão é a porcentagem da área da superfície corporal queimada. É a própria extensão da queimadura, que determina a gravidade da lesão e a conduta a ser tomada. A extensão da Queimadura é determinada pela mensuração da área de superfície da parte afetada, excluindo o eritema. Essa medida é descrita em termos de uma porcentagem do corpo todo, descreveram-se vários métodos de fazê-la, um deles é a Palma da mão do paciente = ½ % área total da Superfície corporal (SC), mas para um levantamento inicial de um paciente queimado, é muito comum o uso da “Regra dos Nove” (o método mais rápido e mais fácil. É o Guia Universal para o calculo de lesões por queimaduras) aonde o corpo é dividido em seções cada qual medindo 9% ou múltiplos de nove, somando-se depois a porcentagem da área afetada. Contudo, é possível que a regra dos nove superestime a extensão da lesão. Depois de fazer o tratamento inicial de emergência, faz-se uma reavaliação da extensão da queimadura com outro gráfico mais acurado, como 12 o gráfico Lund &Browder, ele não só divide o corpo em áreas menores, mas também considera a idade do paciente. O tratamento do paciente talvez precise ser adaptado depois dessa reavaliação. 2.5.3.1 Grande Queimado, considerar um paciente quando: Adulto: > 55 anos, com 10% de área corporal lesada/queimada, de acordo com a “regra dos nove”. Crianças: < 10 anos também com 10% de área corporal lesada/queimada, de acordo com a regra dos nove. Demais faixas etárias, ou seja entre 10 e 55 anos, apresentando 20% ou mais de área corporal lesada/queimada, de acordo com a regra dos nove. 13 Ao lado a imagem demonstra a “Regra dos Nove”, e abaixo o gráfico Lund & Browder 14 2.5.4 Localização Em razão dos riscos estéticos e funcionais, são desfavoráveis as queimaduras que comprometem face, pescoço e mãos. Além disso, aquelas localizadas em face e pescoço costumam estar mais freqüentemente associadas à inalação de fumaça, assim como podem causar edema considerável, prejudicando a permeabilidade das vias respiratórias e levando à insuficiência respiratória. Por outro lado, as queimaduras próximas a orifícios naturais apresentam maiores riscos de contaminação séptica. Área Crítica: Face, mãos, que envolvam vias aéreas e área genital. Áreas Semicríticas: todas as demais áreas corpóreas 2.5.5 Gravidade A gravidade da queimadura está ligada a outros fatores como: 1. Profundidade; 2. Extensão; 3. Envolvimento das áreas criticas; 4. Idade da Vitima (Deve ser considerada na avaliação da gravidade das queimaduras. Idosos e crianças costumam ter repercussão sistêmica mais crítica, os primeiros pela maior dificuldade de adaptação do organismo, e os últimos pela desproporção da superfície corporal em relação ao peso. Nessas faixas etárias as complicações são, portanto, mais comuns e mais graves.); 5. Doenças e condições associadas (São condições que pioram o prognóstico os traumas concomitantes, principalmente neurológicos, ortopédicos e abdominais, ou mesmo poli traumatismos, assim como a presença de doenças preexistentes, tais como insuficiência cardíaca, insuficiência renal, hipertensão arterial, lesão pulmonar, diabetes e etilismo. Também tendem a evoluir com pior prognóstico as vítimas alcoolizadas ou sob efeito de drogas ilícitas. Essas situações devem ser consideradas e recuperação das adequadamente alterações abordadas. decorrentes da Nesses casos queimadura a fica substancialmente prejudicada.) 15 2.6 Primeiros socorros nas queimaduras: Afastar a vitima do agente causador; No caso da vitima estar em chamas, envolve-la em um cobertor, deixando livre a região da cabeça, evitando assim que ela se sufoque com a fumaça; Resfriar a área com água em abundância; Retirar as vestimentas que não aderiam à área queimada; Se estiver consciente, dar bastante água para beber, evitando a desidratação rápida; Retirar jóias, como anéis, pulseiras, relógios e outros; No caso de queimadura química ou ácida, lavar a área com água em abundância por mais ou menos 10 minutos; No caso de queimadura por pó químico, retirar primeiramente o excesso e lavar com água em abundância, pois o excesso de pó em contato com a água pode aderir ao tecido subcutâneo; No caso de queimadura por choque elétrico, interromper a corrente desligando a chave geral. Não tentar puxar a vítima sem antes “cortar” a corrente, pois há possibilidade de ficar “preso” a vítima; Nas queimaduras por soda cáustica, tirar a soda com um tecido limpo, em seguida lavar, pois o contato da soda com a água provoca reação química com aumento de calor; Colocar compressas úmidas sobre as áreas expostas e envolve essas compressas com filme aderente para mantê-las no lugar Providenciar transferência da vítima para um posto médico ou hospital mais próximo. 2.6.1 Procedimentos que devem ser evitados: Não dar líquidos para a vítima ingerir caso esteja inconsciente; Não ultrapassar o tempo de 10 minutos lavando a área queimada, pois pode provocar hipotermia; Se houver “bolhas”, não perfurar, pois o risco de infecção pode aumentar; 16 Não aplicar nenhum tipo de loção, creme, infusão caseira, pasta de dente, pó de café, gelo, produto gorduroso, como graxa e óleo, pois só complica e interfere no tratamento; Não remover roupas ou acessórios que aderiram ao tecido cutâneo lesado; 2.6.2 Procedimentos Pré-hospitalares: Colher informações com a pessoa que deu o primeiro atendimento a vítima; Identificar-se e identificar também sua equipe de atendimento para tranqüilizar a vítima; De acordo com o tipo de acidente, manter a segurança de toda a equipe e da própria vítima; Fazer uma rápida avaliação do local de acidente e das condições da vítima; Verificar Sinais Vitais; Transportar a vítima para a ambulância em condições próprias e seguras; Na ambulância, monitorar, instalar oximetro de pulso, administrar oxigênio sob orientação medica, por ate 15 L/min; Diminuir a dor com analgesia; Evitar perda de calor; Transportar a vítima preferencialmente para um hospital de retaguarda para queimados; Interromper o processo da queimadura: extinguir as chamas, remover a vitima do ambiente, remover as roupas que não estão aderidas ao corpo e resfriar a lesão com soro fisiológico; Dar seqüência ao ABCDE das vitimas: A - avaliar queimadura que envolvam vias aéreas, queimaduras faciais, de sobrancelhas e narinas, fuligem na orofaringe, faringe avermelhada e com edema. B - avaliar se houve inalação da fumaça e intoxicação por monóxido de carbono, podendo apresentar náusea, cefaléia e confusão mental. 17 C – Avaliar se é grande queimado e observar sinais de choque. D – Avaliar nível de consciência. E – Proceder ao curativo. 2.7 Procedimentos na Hospitalização: Manter o paciente em maca própria; Inalar O2 se for necessário, sob cateter nasal, até 3 litros/minuto, ou sob máscara; Verificar sinais vitais e instalar oxímetro de pulso; Lavar as áreas queimadas com Soro fisiológico 0,9% e mantê-las cobertas com gaze ou compressa úmida; Retirar as vestimentas que estejam aderidas, com orientação medica, pois ás vezes é necessário à administração de analgésicos anteriormente; Puncionar acesso venoso de grosso calibre, colher amostras de sangue e manter a hidratação conforme orientação medica; Fazer uma análise da extensão queimada; Sondar o paciente se houver necessidade para controle do débito urinário; Manter o material de entubação de fácil acesso, assim como o respirador; Dar continuidade ao plano de cuidados traçado pelo medico ou enfermeira responsável pela equipe atuante; Providenciar transferência do paciente da sala de emergência para outro lugar predestinado. 2.8 Tratamento para queimaduras 2.8.1 Profilaxia para tétano; 2.8.2 Enxerto: A eficácia de um substituto de pele constitui uma fusão de vários fatores: a) biocompatibilidade, b) uniformidade na composição(quando preparado in vitro), c) controle da composição biológica e 18 d) avaliação padronizada. Além disso, espera-se que os materiais substitutivos possuam o mais alto grau de semelhanças estrutural e funcional com os autoenxertos. Com tais parâmetros, propuseram uma classificação para os materiais substitutivos: Classe I – equivalentes epidermais cultivados; Classe II – equivalentes dermais a partir do processamento da pele ou componentes; baseados em colágeno e outras proteínas dermais; Classe III – materiais substitutivos com componentes dermais e epidermais, popularmente referidos como “compostos de pele”. A principal técnica para a recuperação de áreas com queimaduras de terceiro grau (espessura total) e algumas queimaduras de segundo grau profundas (espessura parcial profunda) é a enxertia de pele obtida de locais adversos aos da queimadura, gerando o chamado “sítio doador”, que é responsável por uma segunda lesão dolorosa e, geralmente, de difícil cicatrização. Assim, o material substitutivo ideal seria aquele que evitasse tal procedimento cirúrgico. Tal tecnologia tem a promessa de alcançar benefício significativo em termos de morbidade e qualidade de vida, período cirúrgico reduzido e, provavelmente, custo-efetividade favorável. Algumas características de um substituto de pele ideal: a) baixo custo; b) longa validade; c) usado sem a necessidade de proteção mecânica à parte; d) não-antigênico; 5) durável; 6) flexível; 7) previne perda d’água; 8) constitui uma barreira para bactérias; 9) adaptável a superfícies irregulares; 10) de fácil aderência; 11) adaptável ao crescimento de crianças; 12) inserido em apenas um procedimento; 13) garantiria que a região afetada não torne-se hipertrófica. 2.9 Complicações Secundárias das Queimaduras Pulmonares: a fumaça e a queimadura causam doenças restritivas, pneumonia e atelectasias. Metabólicas: há diminuição do peso corporal e das reservas de energia. Cardíacas e Circulatórias: diminuição de 30% do debito cardíaco. Cicatriciais: alterações cromáticas, infecções, cicatrizes hipertróficas, queloides e aderências. 19 Motoras: encurtamentos, perda de ADM e FM, retrações, alterações musculares e dificuldades AVD’S 2.10 Tratamento Fisioterápico (Reabilitação) O tratamento da Fisioterapia em pacientes queimados vai ter início imediato. Com avaliação diária, sendo importante o auxilio da família na avaliação para ter consentimento das suas antigas limitações. Monitorar os sinais vitais. Realizando goniometria, posicionamento, imobilizações com talas noturnas e tratamento da cicatriz. 2.10.1 Objetivos: Manter e ganhar ADM e FM; Evitar e tratar seqüelas; Prevenir TVP; Prevenir e reduzir edemas; Estimular independência precoce de AVD’S no pré – hospitalar (sentar, andar, escovar os dentes, comer); Manter ferida(s) limpa(s) e sem infecções; Cicatrização sem aderência e contraturas; Posicionamento correto do membro; Evitar complicações pulmonares; Melhorar a capacidade cardiovascular Estimular o uso de malhas; 2.11 Pesquisa de Campo: Na unidade de Queimados de Itu no hospital São Camilo, é feito o atendimento fisioterápico. Aonde inclui: Técnicas Respiratórias – avaliação, manobras, vibrocompressão, Ventilação mecânica não invasiva e invasiva. 20 Cinesioterapia motora – exercícios diários (se possível duas vezes ao dia ), priorizar exercícios ativos, fazer resistidos em áreas não queimadas, conhecer as limitações do paciente. Treino de Ortostatismo – comando verbal, massa siliconada, splint (dinâmico na fase ambulatorial, estático na fase hospitalar e ambulatorial ), ludoterapia, talafix, tala gessada, malha tubular. Mecanoterapia – RPG, massagem cicatricial, Hidroterapia, laser, ultrason. Na unidade de queimados do hospital São Camilo, foi realizado um estudo, aonde a intervenção fisioterapeutica era feita com indução anestésica, pela algia referida por esse tipo de paciente tanto no leito quanto ao realizar mobilizações. A fisioterapia trabalha pré e pós banho, pois estão sedados e também no centro cirúrgico com indução anestésica mais profunda. Lembrando que o tratamento ambulatorial varia de 6 meses a 2 anos. 2.12 Medidas Preventivas: As medidas educativas de prevenção consistem em orientar desde cedo as crianças a evitar situações de risco para queimaduras no ambiente doméstico, em incluir nos currículos escolares o ensino de prevenção de acidentes, entre eles as queimaduras, além de campanhas preventivas gerais voltadas para toda a população. Campanhas educativas particulares, para serem mais eficazes, devem basear-se em dados epidemiológicos confiáveis que identifiquem causas específicas de queimaduras e respectivas populações de risco, às quais devem ser periodicamente dirigidas. As normas legislativas contêm basicamente as medidas compulsórias de instalação de equipamentos de prevenção de incêndio em prédios públicos e privados, assim como equipamentos específicos de segurança no trabalho. No nosso meio, uma medida legal de extrema importância foi a proibição da comercialização do álcool etílico líquido, mediante resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas que ainda tem esbarrado com a resistência dos produtores, que por meio de liminares obtidas na Justiça insistem em manter a distribuição do produto no comércio em geral. 21 Lamentavelmente todas as estratégias de prevenção implementadas ainda não foram capazes de produzir o esperado impacto no dramático quadro epidemiológico das queimaduras. Partindo do pressuposto de que 90% das queimaduras poderiam ser evitadas, medidas preventivas se impõem para diminuir sua incidência e dependem de educação e legislação. 2.13 Inclusão Social Um trauma térmico, independentemente de sua extensão, é uma agressão que pode causar danos físicos e psicológicos ao paciente. Para o paciente que sofreu queimaduras e necessita de internação hospitalar, essa é uma fase complicada, pois ele será atingido por uma variedade de estressores físicos tais como acidose, perda de fluidos, alterações no equilíbrio endócrino, potencial para infecção, dor, além dos estressores psicológicos decorrentes de situações como separação da família, afastamento do trabalho, mudanças corporais, despersonalização, dependência de cuidados, perda da autonomia e tensão constante. No momento em que são prestados os primeiros cuidados ao paciente, os profissionais de saúde preocupam-se em reanimar o estado fisiológico a fim de estabelecer um quadro estável para que, posteriormente, ele possa ser avaliado considerando-se também o estado psicológico. Durante o período de hospitalização, a pessoa que sofre uma queimadura passa a perceber a extensão de seu problema e a pensar como poderão ficar as cicatrizes, se haverá seqüelas mais graves que possam comprometer, de alguma forma, a estrutura ou função do corpo, limitando atividades importantes como as atividades de vida diária, o autocuidado, a higiene corporal e o trabalho. Considera-se que, ao sofrer uma queimadura, o paciente passará por três fases distintas que se relacionam tanto com a recuperação física quanto com a psicológica. A primeira fase, chamada por muitos autores de estágio crítico, de ressuscitação ou de estabilização, corresponde às primeiras 72 horas após a ocorrência do acidente e se caracteriza pela instabilidade do paciente. Após a estabilização, o paciente passará por uma fase aguda de reabilitação que envolve a realização de procedimentos bastante dolorosos e 22 que, freqüentemente, começam a gerar expectativas, em relação aos seus resultados. Esses procedimentos ocorrem em um momento de maior consciência de impacto físico e psicológico do trauma. Finalmente, a terceira fase, que tem sido chamada de reabilitação de longa duração, começa quando o paciente está para ter alta hospitalar. Após uma queimadura, o paciente e seus familiares passarão a enfrentar uma situação de desequilíbrio caracterizada, na fase de ressuscitação, pela ameaça de morte e expressão de medo da morte. Posteriormente, na fase seguinte, a dor consistirá o grande problema a ser enfrentado pelo paciente. Na fase de reabilitação, a preocupação do paciente será com a vida fora do hospital, considerando-se as mudanças corporais que poderá apresentar. Em um relato de casos, em que foram enfocados os problemas emocionais que a pessoa queimada apresenta, observou-se que, na fase aguda, o paciente que sofreu queimaduras apresenta também um choque emocional, decorrente de fatores emocionais e orgânicos, que se manifesta por meio de sintomas característicos como insônia, labilidade emocional, estado de alarme e pesadelos com o traumatismo. Nessa fase, muitos pacientes não reconhecem a gravidade de seu caso. O medo da mutilação poderá aparecer na fase seguinte. Assim, em decorrência das diferentes reações emocionais que os pacientes, internação, freqüentemente, entendemos apresentam que é nos importante diferentes conhecer momentos as de perspectivas apresentadas por eles em relação aos fatos vivenciados nesse período e que foram considerados como significantes por essas pessoas. Portanto, os objetivos deste estudo foram: identificar as situações vivenciadas por pacientes queimados durante a internação, percebidas como significantes e os sentimentos e conseqüências decorrentes das situações relatadas. 23 3. CRÍTICAS E SUGESTÔES Mesmo com todas as medidas de prevenção que vemos atualmente, ainda não são suficientes para reduzir a incidência e a mortalidade pelas queimaduras. Medidas simples de prevenção, como os cuidados domésticos, são simples e eficazes. Pelo menos é o que se tem em teoria, embora na prática os acidentes domésticos são os de maior incidência, ou seja, maiores causadores. A desatenção das mães por deixar panelas quentes com o cabo para fora do fogão, álcool perto da churrasqueira, não verificar corretamente a temperatura da água na hora o banho da criança, tudo isso e outros exemplos são pequenos cuidados fáceis de realizar e que fazem grande diferença na prevenção. No atendimento hospitalar, é muito difícil achar um hospital especializado em atender esse tipo de paciente, e não há campanhas educativas e preventivas para crianças e pais se informarem sobre prevenção de queimaduras e seus cuidados. Sugerimos que haja um maior enfoque na prevenção através de campanhas educativas e publicitárias de orientação para prevenção e cuidados tanto para crianças, pais e também em ambientes de trabalho. 24 4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: SANTOS, Nívea C. Moreira. Urgência e emergência para enfermagem: do atendimento pré-hospitalar (APH)à sala de Emergência. São Paulo. Iatria, 2009. 4ª Ed. DEALEY, Carol. Cuidando de feridas. Um guia para enfermeiras. São Paulo. Atheneu, 2001. KORTING, W. Gunter. Dermatologia clínica ilustrada. São Paulo. Manole, 1988. 1ª Ed. BRAUNINGER, Bork. Dermatologia clínica: diagnóstico e terapia. São Pulo. Monole, 1996. 2ª Ed. RIVITTI, Sampaio Castro. Dermatologia básica. São Paulo. Artes médicas. 1981, 2ª Ed. São Paulo (Estado) Centro Cochrane do Brasil. MATERIAIS SUBSTITUTIVOS DE PELE PARA O. TRATAMENTO DE QUEIMADURAS. São Paulo, 2005. 91 p.. Disponível em: <bvsms.saude.gov.br/.../materiais_substitutivos_pele_queimaduras.pdf> Acesso em 1 nov. 2010. VALE, Everton Carlos Siviero do. Anais Brasileiros de Dermatologia: Primeiro atendimento em queimaduras: a abordagem do dermatologista. Rio de Janeiro. 2005. vol 80 nº.1. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S036505962005000100003&lng=en&nrm=iso> 25 CARLUCCI, Viviane Dias da Silva, et al. Revista da Escola de Enfermagem da USP: A experiência da queimadura na perspectiva do paciente. São Paulo. 2007. vol 41 nº.1. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342007000100003&lng=en&nrm=iso> 26