1 de Março de 2011 Instituto Educativo do Juncal Psicologia B NORMALIZAÇÃO, CONFORMISMO E OBEDIÊNCIA Professor António Trindade Alunos Catarina Carreira, nº3 João Marques, nº12 12ºA Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Índice Introdução………………………………………………………………………………3 1. Normalização………………………………………………………………………4 2. Conformismo……………………………………………………………………….7 2.1. Definição……………………………………………………………………….7 2.2. Experiência de Asch………………………………………………………….7 2.3. Causas do conformismo……………………………………………………..8 2.4. Maiorias e Minorias…………………………………………………………...9 3. Obediência………………………………………………………………………..11 3.1. Definição……………………………………………………………………...11 3.2. Experiência de Milgram……………………………………………………..11 3.3. Factores que influenciam a obediência…………………………………...13 4. Teoria do impacto social………………………………………………………...15 5. Manipulação………………………………………………………………………17 5.1. Manipulação por afinidade………………………………………………….17 5.2. Manipulação por escassez…………………………………………………19 5.3. Manipulação através das normas………………………………………….20 6. Liderança………………………………………………………………………….24 6.1. Pessoa vs. Situação………………………………………………………...24 6.2. Líderes da História…………………………………………………………..25 6.2.1. Alexandre, o Grande…………………………………………………25 6.2.2. Napoleão Bonaparte…………………………………………………26 6.2.3. Adolf Hitler…………………………………………………………….27 7. Comportamento da multidão……………………………………………………28 7.1. A desindividuação…………………………………………………………...28 7.2. Factores cognitivos e a multidão em pânico……………………………..29 7.2.1. O dilema do prisioneiro………………………………………………29 7.2.2. O dilema do prisioneiro e o pânico…………………………………30 7.2.3. Dilemas sociais……………………………………………………….31 8. Inconformismo e Desobediência……………………………………………….33 8.1. Inconformistas da História………………………………………………….33 8.1.1. Sócrates……………………………………………………………….33 8.1.2. Jesus Cristo…………………………………………………………...34 8.1.3. Galileu Galilei…………………………………………………………34 8.1.4. Charles Darwin………………………………………………………..35 8.1.5. Mahatma Gandhi……………………………………………………..35 8.1.6. Nelson Mandela………………………………………………………36 Conclusão……………………………………………………………………………..37 Bibliografia e Webgrafia……………………………………………………………..38 2 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Introdução No âmbito da do programa para o 2º período da disciplina de Psicologia B, achámos interessante o estudo do tema da influência social. Do estudo deste tema esperamos compreender não só uma das principais bases das sociedades – as normas – como também compreender o que leva um indivíduo ao conformismo e à obediência. Grande parte do estudo realizado no campo da influência social foi desenvolvido depois de uma das mais catastróficas cenas de influência social de toda a História, o Nazismo. Graças à obediência cega e ao conformismo dos milhares de militares nazis, foi cometido o maior genocídio da História. Milhões de judeus foram mortos pelos nazis. A maior parte dos nazis que tomaram tais posições insistiram em que “apenas cumpriam ordens”. Deste modo, o estudo da influência social nasce para percebermos até que ponto é legítimo obedecer ou conformar-se, e para compreendermos as razões que levam um indivíduo a obedecer, mesmo que signifique matar o próximo. Sendo que o nosso trabalho envolve grande parte da psicologia social ligada à interacção social, resolvemos também abordar temas como a liderança e o comportamento da multidão. Ao longo do trabalho, iremos deparar-nos com palavras-chave como: agente ou agente influenciador, alvo, ordem, pedido, influência. 3 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Normalização O meio social tem muita importância no modo como percepcionamos o mundo, como o interpretamos e como reagimos às várias situações. Através do processo de socialização, integramos um conjunto de normas vigentes na sociedade onde nos inserimos e que regulam os comportamentos, desde os mais simples aos mais complexos. Através das normas, os indivíduos conseguem estruturar as interacções com os outros. Estas normas são apreendidas dentro dos vários contextos sociais e a sua aprendizagem é, muitas vezes, inconsciente. Normas são regras sociais que regulam o que os indivíduos podem ou não fazer em situações específicas que requerem o seu cumprimento. As normas são uma forma de influência social. A interiorização progressiva das normas ao longo do processo de socialização torna-as tão naturais que não nos apercebemos da forma como elas influenciam os nossos comportamentos e pensamentos. Assim, as normas orientam o comportamento: definem o que é ou não desejável, o que é conveniente num dado grupo social, apresentando modelos de conduta. Se reflectirmos, reparamos que grande parte dos comportamentos não requer reflexão ou tomada de decisão Fig. 1 - Pôr o dedo no ar é uma consciente: lavamos os dentes, usamos talheres para comer, norma usada nas escolas cumprimentamos os colegas. É graças ao conjunto destas normas que os comportamentos dos indivíduos são uniformizados (dentro de um dado grupo social). Isto é uma vantagem pois permitenos saber o que esperar do outro e saber o que o outro espera de nós. Assim, as normas permitem prever o comportamento dos outros. Numa experiência inicial de Milgram, este pediu aos seus alunos universitários que se aproximassem de alguém no metro e pedissem para se assentar no seu lugar. A maioria dos alunos desaprovou a ideia. Por fim, Milgram conseguiu convencer um dos seus alunos a ingressar na ideia, Ira Goodman. Goodman devia pedir delicadamente a 20 pessoas que lhe cedessem o lugar, enquanto um observador assistia á cena. Goodman fez o pedido a 14 pessoas e metade cedeu-lhe o lugar. Quando lhe perguntaram porque desistira, explicou:”simplesmente, não consegui continuar: foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida”. Milgram considerou que o comportamento de Goodman poderia estar a revelar algo de importante sobre a conduta social em geral. Então Milgram decide ele próprio repetir a tarefa. Milgram relata: 4 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência “Francamente, apesar da experiência inicial de Goodman, eu supus que seria fácil. Aproximei-me de um passageiro sentado e estava prestes a proferir a frase mágica. Mas as palavras pareciam estar travadas na traqueia e simplesmente não saiam. Fiquei gelado; afastei-me, então, sem cumprir a missão. O estudante que estava lá como observador insistiu para que tentasse novamente, mas encontrava-me tomado por uma inibição paralisadora. Questionei-me: que tipo de cobarde sou eu? Pedi aos meus alunos que fizessem isto. Como posso voltar sem cumprir a própria tarefa? Finalmente, após diversas tentativas sem sucesso, aproximei-me de um passageiro e fiz-lhe o pedido: Desculpe, poderia ceder-me o seu lugar? Um momento de silêncio: o pânico apossou-se de mim. Mas o homem levantou-se e cedeu-me o lugar. Viria ainda o segundo golpe. Ao tomar o lugar daquele passageiro, senti-me pressionado pela necessidade de me comportar de um modo que justificasse o meu pedido. Afundei a cabeça entre os joelhos e senti o rosto a perder a cor. Eu não representava, sentia-me realmente como se fosse desmaiar.” Em todos os contactos sociais, as pessoas partilham uma série de expectativas sobre o que fazer e dizer, e até saber o que pensar e sentir. As normas estão tão entranhadas que na sociedade parece natural segui-las. O trabalho dos antropólogos mostra que estes padrões, estas normas não são universais e variam de cultura para cultura. A experiência de Milgram sugere que os indivíduos consideraram difícil infringir normas. Isto aplica-se mesmo quando a convenção é banal, ou quando é custoso seguir essa norma. Por exemplo, se estiver nu, torna-se difícil sair a correr de casa mesmo que esta esteja a arder. Embora as normas sejam duradouras, com o tempo podem mudar. Há algumas gerações atrás, sexo antes do casamento, o divórcio ou o trabalho como autorealização não eram acções aceites como são hoje em dia. As normas constituem também elementos de coesão grupal, visto que estabelecem um sistema comum de atitudes e padrões de comportamento. As normas facilitam a adaptação ao meio social, na medida em que estabelecem padrões a seguir. Se forem estáveis no tempo, as normas asseguram uma identidade ao grupo. Na ausência de normas reconhecidas colectivamente, os indivíduos do grupo tentam estabelece-las, influenciando-se uns aos outros. A esse processo dá-se o nome de normalização. Esta necessidade resulta do facto de a ausência de normas (anomia) gerar desorientação e angústia nos membros do grupo. Porque reduzem, a ambiguidade, as normas restabelecem sentimentos de segurança ao definirem o que é desejável e o que é conveniente no grupo social e numa determinada ocasião. Se não houvesse normas, as interacções sociais seriam imprevisíveis, o que tornaria a vida em sociedade impossível. Sendo assim, as normas asseguram a estabilidade da vida social. 5 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência O incumprimento das normas é desaprovado pela sociedade, pelo que o não comprimento ou o desvio a estas normas leva a sanções, que podem ir de um olhar reprovador a um castigo severo (fig.2). Fig. 2 - Controlo das normas 6 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Conformismo Definição Em sociedade, as circunstâncias suscitam muitas vezes a intervenção dos outros para avaliar as nossas acções. Voltamonos muitas vezes para os outros para conhecer as nossas próprias opiniões, as nossas capacidades e os nossos sentimentos. É em função da confiança que desenvolvermos comportamentos, a maior parte deles conformistas. Nas nossas experiências pessoais vivemos situações em que não emitimos a nossa opinião pessoas sobre um determinado acontecimento ou situação. Por exemplo, acabámos de ouvir uma música da qual não gostámos particularmente. Se o grupo em que estamos inseridos manifestarem entusiasmo em relação à música, sentimo-nos pressionados a manifestar a mesma opinião, mesmo que não concordemos com ela. Dizemos, então, que nos conformamos. Define-se conformismo como uma mudança (momentânea ou não) do comportamento. Quando assumimos uma atitude ou comportamento conformista cedemos à influência (que foi muitas vezes como uma pressão) dos outros para pensar, sentir e agir como eles em função das normas, expectativas ou valores. Experiência de Asch Uma experiência muito famosa que estudou o conformismo foi a experiência de Asch. Nesta experiência, um grupo de oito indivíduos (dos quais 7 são comparsas e apenas um deles é efectivamente o sujeito experimental, considerado sujeito ingénuo) é informado que vai participar num teste à Fig. 3 - Conformismo exactidão da sua percepção visual. Neste teste, os indivíduos têm de comparar uma linha padrão com outras 3 linhas desiguais, em que apenas uma delas é igual à linha padrão (fig.4). Cada um dos 8 participantes dá uma resposta em voz alta, sendo que o sujeito ingénuo é sempre o último a responder. Nas primeiras tentativas, não existe qualquer dificuldade, e todas as pessoas respondem correctamente. No entanto, a partir de um determinado momento, os primeiros concorrentes (os comparsas) dão, sem qualquer hesitação, uma resposta errada. O indivíduo ingénuo começa a duvidar da sua Fig. 4 - Linha padrão (esquerda) e linhas de comparação (direita) 7 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência percepção, pois o que ele vê não corresponde àquilo que os outros respondem. Como responde ele nesta situação? Segundo Asch, a percentagem de indivíduos que se mantinham fiéis à sua percepção e permaneciam completamente independentes dos juízos dos outros, era inferior a 25%. A maior parte deles aderiu à opinião do grupo, rejeitando a nítida evidência dos seus sentidos, conformando-se. Causas do conformismo Depois da sua experiência, Asch procurou compreender os processos subjacentes ao comportamento conformista. Para isso, Asch entrevistou os sujeitos participantes. A partir destes dados e de outras pesquisas, tem-se procurado identificar os factores que influenciam e explicam o conformismo. Alguns desses factores são: A unanimidade do grupo: o conformismo é maior nos grupos em que há unanimidade. Num grupo basta haver um sujeito que partilhe uma opinião diferente para os efeitos do conformismo seres menores. Por exemplo, na experiência de Asch bastava que um dos participantes respondesse diferente da maioria para que o nível do conformismo baixasse de forma significativa, pois o indivíduo ingénuo sentiria mais confiança e assim estaria mais á vontade para manifestar a sua opinião (ver Maiorias e minorias). A natureza da resposta: o conformismo aumenta quando a resposta é dada publicamente. Quando a privacidade é assegurada, a resistência á aceitação da opinião da maioria é maior. Deste modo, recorre-se muitas vezes ao voto secreto como forma de assegurar o máximo de liberdade e independência na manifestação de uma opinião. A ambiguidade da situação: a pressão do grupo aumenta quando estamos indecisos do que é correcto. Assim, o conformismo é maior quando as tarefas e as questões são ambíguas, quando a opção não é clara e inequívoca. O comportamento conformista é facilitado nestes casos, uma vez que não compreendemos ou não dominamos o contexto, e assim apoiamo-nos aos outros. A importância do grupo: um indivíduo tem mais facilidade em conformar-se quando está perante um grupo mais atractivo. A necessidade de pertencer ao grupo implica a aceitação de comportamentos, normas e valores do grupo, por parte do indivíduo, levando ao conformismo. 8 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência A auto-estima: as pessoas com a auto-estima mais elevada são mais independentes do que aquelas que têm a auto-estima mais baixa. Assim, as pessoas com menos auto-estima, como confiam menos nos seus juízos e opiniões, tendem a adoptar o mesmo comportamento e as mesmas atitudes que os outros elementos do grupo, conformando-se. Através do conformismo, os indivíduos encontram uma forma de se sentirem aprovados pelos outros. O conformismo resulta de um processo de influência inerente ao funcionamento dos grupos. Para os grupos se manterem têm que impor normas que devem ser aceites pelos membros que neles são constituídos. A coesão do grupo depende dessa aceitação, por isso, são exercidas influências e pressões nesse sentido. A necessidade de ser aceite e de interagir com os outros, levam as pessoas a conformar-se para fazerem parte do grupo. Ao recusarem o conformismo, os indivíduos tem consequências negativas em termos da interacção social, nomeadamente serem excluídos do grupo. Maiorias e minorias Um indivíduo solitário, confrontado com um grupo unânime, deixa conformarse. Mas o que acontece quando o indivíduo deixa de estar solitário? Asch, para poder resolver esta questão, fez variar a sua experiência fazendo com que um dos comparsas agisse como aliado do sujeito. Assim, todos os outros comparsas davam respostas incorrectas, enquanto que os juízos do aliado eram correctos. Nesta situação, o sujeito muito raramente se submetia, e não ficava particularmente perturbado. Uma pessoa que pensa como nós pode apoiar-nos contra todos os outros. Mas as coisas não são assim tão simples quando examinamos mais atentamente. Noutra situação, o comparsa afastou-se novamente da maioria, mas não o fez por emitir respostas correctas, mas sim, por emitir respostas que estavam longe da verdade. O aliado emitia respostas cada vez mais erradas, mas ainda assim, ajudou o sujeito a libertar-se da influência do grupo. Nesta experiência, o sujeito submeteu-se muito mesmo do que quando se confrontou com um grupo unânime. Assim, a unanimidade do grupo desvaneceu e o sujeito sentia que podia fazer ouvir a sua voz sem receio de ficar embaraçado. Este efeito denomina-se efeito do aliado. Mesmo se formos incapazes de encontrar alguém que tenha a mesma opinião que nós, a melhor alternativa é encontrar alguém que tenha uma opinião oposta à maioria, mesmo que não esteja em concordância com a nossa. No momento em que a voz divergente se fizer ouvir, a unanimidade do grupo rompe e aqueles que tinham opiniões diferentes encontram a coragem necessária para se exprimir. 9 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência A ruptura da unanimidade também pode ser causada pelo impacto de uma minoria (fig.5). Porém, as minorias consistentes possuem algumas vezes outro efeito e bem diferente: o efeito de introduzir soluções e perspectivas originais. Muitas vezes, as pequenas minorias conseguem criar inovações sociais. Assim, as minorias começam a desafiar as maiorias estabelecidas. As minorias conseguem, frequentemente, ter êxito, em parte, porque os seus membros parecem totalmente unânimes na sua determinação e confiança. À medida que o tempo passa, estas minorias tendem a influenciar os outros, assim, a sua influência é bastante diferente da exercida por uma maioria. Enquanto a maioria tende a Fig. 5 - Efeito de uma minoria produzir um conformismo essencialmente superficial (modifica o que as pessoas fazem ou dizem mas não o que pensam), o efeito de uma minoria unânime e firme, embora mais lento e menos espectacular, pode acabar por afectar os indivíduos de uma forma mais profunda, alterando até a forma de sentir e de pensar. 10 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Obediência Definição A obediência é uma tendência para a submissão e o cumprimento de ordens ou instruções dadas por alguém dotado de autoridade ou por alguém a quem essa autoridade é reconhecida. Assim, a obediência vai resultar na mudança de comportamento do indivíduo em resposta às ordens da autoridade. Para o bom funcionamento da sociedade ou de um grupo, é necessária uma figura com autoridade e a obediência a essa autoridade. Sem isso, a anarquia seria inevitável. No entanto, a obediência acrítica pode conduzir a comportamentos e práticas atrozes e desumanas. Assim, o problema da obediência é o de saber até que ponto é legítimo obedecer. A obediência assume-se como um comportamento de influência social na sua forma mais directa e poderosa. Fig. 6 - A obediência dos alemães levou à morte de milhares de judeus A experiência de Milgram Milgram desenvolveu uma experiência no âmbito da influência social: a submissão á autoridade. O investigador recrutou, através do jornal local, um grupo de voluntários, entre os 20 e os 50 anos, para participarem numa alegada experiência sobre a memória, a realizar na Universidade de Yale. Quando chegavam à universidade, os voluntários entravam em contacto com um experimentador que os informava que iam testar a punição no processo de aprendizagem. Organizados em pares, um faria o papel de “professor” e outro de “aluno”, escolhidos à sorte. Sem saberem, os “professores” eram sempre os indivíduos ingénuos e os “alunos” eram actores contratados para a experiência. Cada aluno estava numa sala, preso a uma cadeia por correias e com os pulsos ligados a eléctrodos (fig.7B). A sua tarefa era memorizar conjuntos de palavras, ditas pelo professor. Os professores desempenhavam a sua tarefa numa sala à parte, onde também se encontrava um experimentador. Pediu-se aos professores que administrassem um choque eléctrico ao aluno sempre que este 1 Curiosidade errasse na resposta. Os choques variavam de 15 volts (choque inofensivo) a 450 volts, passando os 350 volts (choque muito A corrente severo)1. É evidente que a máquina (fig.7A) não estava eléctrica de uma realmente ligada aos pulsos do aluno, mas os professores não casa é de 100 a sabiam. Para que a experiência parecesse real, Milgram propôs 120 volts. 11 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência que cada professor experimentasse os choques reais de 15 volts para saberem o que os alunos sentiriam ao receber os choques. A experiência começou. À medida que o interrogatório ia prosseguindo, o aluno errava nas respostas consecutivamente, e o professor dava choques ao aluno. Os choques eram cada vez mais intensos. Quando a intensidade dos choques atingiu 180 volts, o aluno gritava que já não aguentava a dor. Por volta dos 315 volts, suplicava que o soltassem e, daí em diante, deixava de dizer fosse o que fosse para dar a impressão de estar inanimado ou mesmo morto. Todos os “professores” cumpriram as instruções, até aos 300 volts. Por incrível que pareça, 65% dos indivíduos continuou com a administração dos choques até ao fim, aos 450 volts. Milgram, antes da experiência, tinha descrito a experiência que iria realizar a psiquiatras e estes previam que 2% dos “professores” chegariam até aos 450 volts. Para Milgram, o comportamento dos participantes foi surpreendente e chocante. Muitos dos participantes sentiam-se incomodados, alguns abandonaram a experiência e a maior parte questionou as instruções do experimentador. Quando os participantes perguntavam ao experimentador se deviam prosseguir (fig.7C), estes respondiam: “Apesar de os choques serem dolorosos, não vão provocar lesões permanentes” ou “Por favor, continue, é importante que continue” ou “Não tem alternativa, tem de continuar”. Fig. 7 - Experiência de Milgram Após a experiência, os indivíduos obedientes foram entrevistados, afirmando que não tiveram escolha, que obedeciam a ordens e que a responsabilidade era do experimentador: o sentimento de ser agente de outra pessoa justificava o seu comportamento. Assim, conclui-se que quando existe obediência, as pessoas não se sentem responsáveis pelas acções que levam a cabo. Consideram que o responsável é o indivíduo a quem se obedece. 12 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Factores que influenciam a obediência A experiência de Milgram e as várias variantes levaram a compreender as condições que favorecem o comportamento obediente. De seguida exploraremos algumas dessas condições. A proximidade com a figura de autoridade: maior será a obediência, quanto mais próxima estiver a figura de autoridade, pois as pessoas sentem-se mais intimidadas e obedecem mais facilmente. Numa variante, as instruções do experimentador eram dadas pelo telefone e aí a obediência descia para 20.5%. A legitimidade da figura de autoridade: maior é a obediência quanto mais for reconhecida a autoridade. Mais elevado é o nível de obediência, se o estatuto de quem dá as ordens for reconhecidamente mais elevado. A obediência aumenta, quando um indivíduo tem sinais de reconhecimento de autoridade. Por exemplo, a bata que o experimentador usava na experiência de Milgram ou a farda que os polícias usam são formas de aumentar a autoridade. A proximidade da vítima: Milgram fez variar a proximidade entre os participantes e os colaboradores. Quando não havia contacto visual ou auditivo, 100% dos participantes obedeciam sem hesitação. Se a “vítima” era vista pelos participantes ou se eles tocassem na “vítima”, descia para 40% e para 30%, respectivamente. A pressão do grupo: Milgram procurou saber o que aconteceria numa situação de grupo em que dois dos sujeitos se recusavam a obedecer às ordens do experimentado. Nesta situação, só 10% dos participantes obedeceram a dar descargas eléctricas até os 450 volts. A maioria recusava-se a ultrapassar a metade da escala. Assim, concluí-se, que o efeito do grupo anulou o efeito de autoridade do experimentador. Ambiente ou meio: é também um factor importante que as ordens sejam dadas num ambiente prestigiado. A experiência inicial de Milgram foi conduzida na Universidade de Yale. Quando se realizou a experiência num apartamento no centro da cidade, o grau de obediência diminuiu acentuadamente. Distanciamento emocional: quanto maior for o distanciamento emocional em relação ao objecto da acção, mais fácil se torna obedecer. Despersonalizar a vítima tapando-lhe a cara torna mais fácil fuzilá-la; bombardear uma aldeia é emocionalmente menos constrangedor do que matar os aldeões a tiro. 13 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Um estudo mais avançado permite-nos identificar alguns factores que predispõem para a obediência. Identificação entre autoridade, competência e saber: Muitas pessoas julgam que aqueles que exercem poder e podem legalmente dar ordens têm credibilidade suficiente para saberem o que estão a fazer. Confunde-se autoridade legal ou institucional com autoridade legítima e reputação com credibilidade moral. É também um factor relativamente importante. Sentimento de desresponsabilização: Quem obedece julga-se frequentemente o agente que leva a cabo a vontade de quem ordena, pelo que tende a não se considerar responsável pelos seus actos de obediência nem pelas consequências destes. Obedecer é uma forma de ser aceite: desde pequenos, mediante o processo de socialização, interiorizamos que a obediência a figuras que representam autoridades (os pais, por exemplo) tem consequências positivas (recompensas) e é socialmente desejável. O desejo de agradar torna-nos tendencialmente complacentes e submissos. E quanto menor é a nossa auto-estima maior será a propensão para não questionar a autoridade. Partilha ou difusão da responsabilidade pelas consequências de um acto: quando a responsabilidade de um acto é partilhada por vários indivíduos, mais forte é a propensão para obedecer a ordens. Há como que uma difusão de responsabilidades ou um efeito libertador causado pela participação de vários indivíduos na realização de um mesmo acto. 14 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Teoria do Impacto Social Todas as forças de influência social podem ser compreendidas através da teoria do impacto social. Serão compreendidas, se se pensar o indivíduo como estando exposto a um campo de forças sociais que convergem sobre ele de forma semelhante á de um conjunto de lâmpadas que convergem na iluminação de uma dada superfície (fig.8). A quantidade de luz que será emitida pelas lâmpadas depende da distância a que se encontram do alvo, do número de lâmpadas e da potência que cada lâmpada emite. Isto acontece da mesma forma, quando o impacto das forças sociais converge num indivíduo. O impacto total dependerá do número de pessoas que afectam o indivíduo/alvo, depende da idade, do status e do poder de cada pessoa e de quão próximas se Fig. 8 - Convergência das forças sociais encontram do indivíduo no espaço e no tempo. Foram feitas experiências sobre o palco que forneceram provas do papel da potência dos emissores. Se antecipadamente os actores souberem que vão desempenhar o seu papel no palco e serem observados por pessoas de elevado estatuto, eles sentem-se mais ansiosos do que á frente de pessoas de baixo estatuto. Também existem experiências sobre a proximidade: se um actor representar para um público atento produz mais medo do palco do que se representar para um público que observa o desempenho do actor num televisor. As experiências do número de espectadores, também revelam um papel importante. Quanto maior for a maioria unânime, maior será o conformismo; quanto mais vasto for o público, maior será o medo do palco. Por exemplo, quanto mais numerosa for a multidão a olhar para o céu, maior será o número de pessoas que olharam também para o céu. Cada indivíduo adicional faz aumentar o impacto social, embora proporcionalmente o seu impacto se vá tornando cada vez menor: acrescentar um individuo a um grupo de dois produzirá um aumento muito maior em impacto social do que acrescentá-lo a um grupo de oito. Até agora apenas consideramos os casos em que a influência social é exercida de muitos para um. E o que acontecerá quando a influência é exercida sobre mais do que um alvo? O impacto, que será agora dividido por todos os alvos, é dispersado: quanto maior for o numero dos alvos, tanto menor será o impacto social sobre cada um deles. Mais uma vez, fez-se um estudo sobre o medo do palco, e provou-se que quando era mais que um participante a representar ao palco, menos medo sentia cada participante antes de subir ao palco. (fig.9) Fig. 9 - Difusão do impacto social 15 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Uma dispersão semelhante do impacto social é relevante no caso de uma emergência. Á medida que o número de espectadores aumenta, a probabilidade de ajudar era menor, pois nesta situação, a obrigação de ajudar é dispersa por muitos dos observadores e cada um deles pode perguntar-se “Porquê eu? Porque não os outros?”. Existe um fenómeno chamado oportunismo social. Isto acontece quando um indivíduo trabalha em grupo, numa tarefa comum. Neste caso, cada um esforça-se muito menos do que se estivesse a trabalhar sozinho. Um exemplo é o jogo da corda. Um homem sozinho é capaz de exercer uma força média de 62,9kg, ao passo que, num grupo de oito, cada um exerce uma força média de 30,8kg. Em média cada pessoa exerceu menos de metade da força que faria se estivesse sozinha. Fig. 10 - Oportunismo Social 16 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Manipulação As alterações comportamentais podem ser impostas através do exercício do poder. Este tipo de influência é válido apenas enquanto as contingências relevantes (recompensa, castigo, informação…) estiverem em jogo. Para influenciar os indivíduos de uma forma mais profunda é necessário inclui-los como cúmplices no processo. Uma alteração consistente no comportamento dos indivíduos requer a reconfiguração Fig. 11 - Manipulação do estado interno do indivíduo – crenças, preferências, objectivos, etc. – a um nível que preserve a consciência de liberdade e de auto-controlo do indivíduo. Assumindo que o agente influenciador tem ideias para o alvo que não coincidem com o estado interno deste, então o agente terá de empregar estratégias para o manipular. Pesquisas identificaram várias dessas estratégias de manipulação, algumas relacionadas com a dinâmica das relações interpessoais, outras baseadas em normas sociais. A seguir explicitamos algumas dessas estratégias. Manipulação por afinidade Quer o assunto seja banal, quer seja de extrema importância, os pedidos são um meio primário pelo qual os indivíduos procuram a obediência dos outros. “Passasme a salada?” ou “Casas-te comigo?” são alguns exemplos. Os pedidos são uma interacção com a qual nos deparamos e à qual recorremos frequentemente nas nossas relações sociais. No entanto, os pedidos são também importantes no mundo dos negócios, organizações de caridade, partidos políticos e outras entidades sociais que dependem de contribuições de dinheiro, dedicação ou tempo por parte dos cidadãos. Estudos feitos por experimentação e observação permitiram obter uma gama de estratégias para fazer um alvo obedecer ao pedido. Muitas dessas estratégias baseiam-se no princípio de afinidade – tendência para obedecer mais facilmente a um agente do qual gostamos. Investigações extensas suportam a ideia do senso comum de que as afinidades pessoais motivam a obediência. Desde os profissionais de vendas aos burlões, muitas estratégias de manipulação baseiam-se na semelhança entre agente-alvo, no facto de serem conhecidas ou no facto do alvo gostar do agente. Quando tal afinidade existe, recorrer a manhas não é um pré-requisito necessário para obter obediência. Vejamos, por exemplo, o caso da Tupperware (fig.12). A Tupperware explorou o poder da amizade de Fig. 12 - Tupperware 17 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência uma forma sem precedentes. Segundo estudos, em cada 2,7 segundos inicia-se uma reunião da Tupperware – supondo que estas demoram mais que 2,7 segundos, podemos afirmar que não existe nenhum momento sem uma. O formato é o seguinte: um anfitrião convida amigos e familiares para sua casa para participarem numa reunião onde produtos da Tupperware serão demonstrados por um representante da companhia. Sabendo que o anfitrião (seu amigo) receberá uma percentagem das vendas, os indivíduos tendem a comprar os produtos, pois estão a comprar produtos a um amigo em vez de a um estranho. Neste contexto, investigadores descobriram que 67% dos que compraram fizeram-no por ter sido a um amigo ao contrário de 33% que o fizeram por preferência de produto. A afinidade tem mostrado ser um forte indutor de obediência mesmo na ausência do indivíduo do qual se gosta. É raro o pai que não tenha mandado o filho vender rifas aos seus amigos (do pai) e aos vizinhos. Neste caso, a criança representa o pai por quem os amigos e vizinhos sentem afinidade. As potencialidades do princípio de afinidade podem diminuir pela ausência física do indivíduo do qual se gosta, mas a alusão a esse indivíduo torna a manipulação mais fácil. A atracção física representa outra extensão do princípio de afinidade. Um estranho dotado de uma boa aparência está em vantagem em relação a outro não tão atraente, no que diz respeito à manipulação (fig.13). Muitas vezes, um bom penteado torna-se mais relevante na contratação de um funcionário do que as Fig. 13 - Bonito vs. Feio suas qualificações, apesar dos empregadores negarem qualquer influência pela aparência. Nem a justiça criminal é imune ao poder da atracção física: arguidos bemparecidos são mais bem tratados pelo sistema judicial e normalmente recebem sentenças mais leves quando são culpados. Semelhanças entre o agente influenciador e o alvo representam um caso do princípio de afinidade. Nunca é coincidência quando um vendedor de carros alega ser da mesma cidade que nós. Os indivíduos tendem a gostar mais daqueles que se assemelham a eles. Assim, tendem a responder afirmativamente a pedidos feitos pelo semelhante. O efeito da semelhança abrange uma grande quantidade de aspectos, aspectos esses que podem ir das opiniões pessoais ao estilo de vida, do contexto cultural à classe socioeconómica ou até mesmo à postura ou estilo verbal. Num estudo de Emswiller, Deaux e Willits, averiguou-se a influência da semelhança na cedência aos pedidos. Numa primeira variante, vestiu-se um indivíduo 18 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência de hippie. Numa segunda variante, vestiu-se um indivíduo de gótico. Estes indivíduos tinham de pedir a colegas seus de universidade que lhes emprestassem dinheiro para fazer uma chamada. Registou-se então que os colegas que mais facilmente lhes emprestavam dinheiro eram os colegas que se vestiam da mesma forma que eles. Talvez mais básico que a nossa intenção de fazermos algo por quem gostamos é a nossa necessidade de sermos aceites pelos outros. Receber um feedback positivo por parte de alguém é altamente reconfortante e fará com que gostemos mais dessa pessoa. Ou seja, tendemos a gostar dos que gostam de nós. Um exemplo disso é o elogio. O elogio há muito que é tido como uma técnica de manipulação. Assim, quando uma pessoa nos elogia, tendemos a obedecer mais facilmente. Manipulação por escassez Desde a infância, sempre desejamos aquilo que não temos, ou que nos faz falta – sejam brinquedos, dinheiro ou carros novos. Diminuir o fornecimento do petróleo, por exemplo, aumenta a competição fazendo disparar os preços de uma forma brutal. Sabe-se que promoções (fig.14) do género “só até amanhã” ou “em stock limitado” são capazes de gerar corridas aos supermercados. Podemos pensar que técnicas tão básicas não nos afectam, mas a tendência humana para ver o escasso como valioso ou desejável é inegável. Tanto que é muitas vezes usada como táctica de manipulação. Fig. 14 - Promoções “O fruto proibido é o mais apetecido”. Também é verdade que a proibição de um produto leva ao aumento brutal da sua procura. Por exemplo, a proibição do álcool em 1920 nos EUA apenas abriu o apetite das pessoas para as bebidas alcoólicas e promoveu o aparecimento dos speakeasy, estabelecimentos secretos que permitiam aos mais desfavorecidos o acesso ao álcool. Movimentos anti-pornografia costumam ter o mesmo efeito, aumentando o interesse por revistas e livros censurados, até por pessoas que de outra forma não se interessariam por eles. Do mesmo modo, quando a proibição desaparece, o interesse pelo produto tende a atenuar. Os exemplos acima sugerem que o valor que um indivíduo dá a um objecto aumenta em proporção das dificuldades que o indivíduo encontra para obter esse objecto. As pessoas não gostam de ver a sua liberdade ameaçada, e tornar um objecto difícil de obter ou proibir uma actividade claramente limitam as opções dos indivíduos no que diz respeito a essa actividade ou objecto. Outra explicação centra-se no facto de uma pessoa desejar, simultaneamente, pertencer a um grupo e destacar-se nesse grupo. Sendo a escassez uma maneira de centrar a atenção dos indivíduos num objecto, ao desejar um objecto escasso, o indivíduo sente que está ligado à comunidade, pois partilham ambos o mesmo 19 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência fascínio. Esperar numa fila enorme pelo exemplar mais recente do Harry Potter é uma experiência aborrecida e irritante, mas ao fazê-lo, o indivíduo sente-se como parte daquele grupo. Do mesmo modo, se for um dos sortudos que consegue um exemplar antes que se esgote, o indivíduo sente-se bem pois conseguiu destacar-se do grupo. Assim, num mundo onde o indivíduo se sente constantemente alienado e homogeneizado, o objecto escasso é tido como um meio de se integrar no grupo ao mesmo tempo que é um meio de se destacar no grupo. Manipulação através de normas Como foi referido atrás, muito do comportamento humano é conduzido por normas. Uma norma muito importante para a manipulação é a norma da reciprocidade. Esta norma obriga-nos a retribuir o que nos é oferecido por outros. Esta norma existe em todas as sociedades humanas. A noção de uma obrigação futura criada por esta norma, promove e mantém as relações pessoais e formais. Muitas interacções sociais são reguladas por esta norma: os convites e os favores são retribuídos; enviamos postais de Natal a quem nos envia, etc. A obrigação social de que “quem recebe deve dar” é bem visível. Mesmo quando não pedimos os favores ou os presentes (ou mesmo quando não os queremos), somos sempre compelidos a oferecer algo em troca. A capacidade que os presentes não requeridos têm de criar uma obrigação de retribuição é bem explorada por muitas organizações, tanto comerciais como de caridade. Podemos não precisar de canetas ou porta-chaves, mas é difícil resistir ao pedido de uma “modesta contribuição”. A reciprocidade pode ter o efeito secundário de criar afinidade entre quem oferece e quem recebe., mas a norma pode ser aplicada com sucesso sem que se recorra ao princípio de afinidade. No entanto, o afecto importa quando o receptor não segue a norma. A não reciprocidade pode estragar a relação de troca e pode resultar em má reputação para o receptor (ex. ingrato) que o pode marcar em transacções futuras. Mais impressionante ainda, são os sentimentos negativos criados quando a norma da reciprocidade é violada no sentido contrário. Pode-se pensar que alguém que oferece mas que não aceita nada em troca é generoso ou altruísta (e por vezes também ingénuo). Mas, sob determinadas circunstâncias, a pessoa pode ser mal vista por ter violado uma regra de etiqueta. A cooperação é uma manifestação interessante do princípio da reciprocidade. Assim, a cooperação tende a gerar cooperação em troca e pode também promover a obediência a pedidos subsequentes. Esta noção é tida em conta pelos vendedores de carros, que alegam estar do mesmo lado do cliente, numa luta pela redução do preço conta o director de vendas. Apesar de ser curta a aliança, o cliente sente-se obrigado a cooperar com o vendedor, e então comprar o carro. Uma forma de manipulação relacionada com a reciprocidade é o uso da cedência. A estratégia é fazer um pedido que certamente será negado. Depois de 20 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência negado o primeiro pedido, o agente lança um pedido mais sensato. Com efeito, o agente está a fazer uma cedência relativa ao seu pedido. Assim, o sujeito vai-se sentir obrigado a ceder também. Um estudo de Cialdini et al., mostra esta técnica, conhecida como a técnica da porta na cara. Fazendo-se passar por uma equipa de reabilitação de jovens, aproximaram-se de estudantes universitários e pediram-lhes que guiassem um grupo de jovens delinquentes pelo zoo durante 2 horas. 83% dos estudantes recusaram. No entanto, Cialdini et al. resolveram utilizar a técnica da porta na cara. Assim, fizeram primeiro um pedido muito menos sensato – passar 2h por semana com os jovens delinquentes, sendo os seus acompanhantes de reabilitação. Como é de esperar, 100% dos estudantes recusaram. Depois deste pedido, uma pequena visita ao zoo parecia muito mais aceitável, e então apenas 50% dos alunos recusaram. Outra técnica apoiada na reciprocidade, a técnica do isso não é tudo, é também muito familiar entre vendedores. Esta técnica envolve o seguinte: o vendedor faz uma proposta e depois, antes que o ciente responda, faz uma proposta ainda melhor. O vendedor remata o preço de um televisor, e enquanto o cliente séptico pensa se aceita ou não, o vendedor sai-se com um “e isso não é tudo – se comprar hoje ainda leva este leitor de DVD de oferta”. Pesquisas confirmam que esta técnica cria no cliente a obrigação de ceder uma vez que o vendedor, aparentemente, também cedeu. Apesar de normalmente não ser tido como uma norma social, o compromisso é outra norma que pode influenciar o comportamento tão bem como a reciprocidade. Depois do indivíduo se ter comprometido com uma ideia ou linha de acção, é muito difícil para ele mudar de ideias ou agir de forma contrária ao que se comprometeu. A força do compromisso não deriva só na raiva e desapontamento que a sua ruptura poderia gerar noutrem, mas também do simples desejo de agir coerentemente segundo um ponto de vista. O compromisso que é expresso em público, quer seja em frente de uma multidão ou de apenas um indivíduo, é especialmente eficaz a bloquear opções e promessas, tornando o compromisso resistente à mudança, mesmo na presença de boas razões para se reconsiderar. Os agentes influenciadores usam esta tendência nobre para atingir os seus objectivos, por vezes não tão nobres. Muitas técnicas específicas foram observadas em cenários do mundo real. A mais conhecida destas técnicas é a técnica do pé na porta, que é basicamente o espelho da técnica da porta na cara. Em vez de começar com um grande pedido e depois, aparentemente, reduzir para um mais pequeno, o pé na porta consiste em começar com um pedido que dificilmente é recusado. Após estabelecer um compromisso com este pedido, o agente influenciador sobe na escala e faz então um pedido mais custoso concordante com o pedido inicial. Por causa do compromisso estabelecido, torna-se difícil ao alvo resistir. Num estudo, várias donas de casa foram contactadas e foi-lhes feito um pedido ao qual a maioria (78%) recusou: permitir uma equipa de 6 homens de uma determinada companhia entrar em sua casa durante 2 horas para “numerar e classificar todos os seus produtos de limpeza”. Outro grupo de 21 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência donas de casa foi confrontado com um pedido muito menos inconveniente – simplesmente responder a uma série de perguntas sobre os seus produtos e limpeza (ex. “Qual a marca do seu detergente da roupa?”). Quase todas obedeceram a este pedido. Este grupo de mulheres foi contactado três dias depois, mas desta vez com o pedido da visita à casa. Neste caso 52% das mulheres obedeceu, deixando uma equipa de 6 homens vasculhar as suas gavetas e armários. O processo do compromisso relativo a esta táctica vai muito para além da preocupação de manter a consistência da acção por si. Também envolve o auto-conceito relativo aos valores salientados pela acção. Neste caso, as mulheres que acederam ao primeiro pedido vêem-se como úteis e prestáveis. Para manter a consistência desta imagem, as mulheres sentem-se obrigadas a obedecer ao segundo pedido. A técnica do pé na porta tem o poder de influenciar os pensamentos e os comportamentos dos indivíduos muito depois da técnica ter sido usada. Um exemplo disso foi a abordagem dos militares chineses aos prisioneiros americanos de guerra capturados durante a Guerra da Coreia. É pedido a um prisioneiro, abordado individualmente, que concorde com frases ligeiras do género “Os EUA não são perfeitos”. Depois de concordar com frases anti-americanas de menos grau, é-lhe pedido que explique por que é que os EUA não são perfeitos. Isto, por sua vez, pode ser seguido por um pedido para fazer uma lista dos “problemas dos EUA” que ele identificou, os quais são esperados que ele assine. Os chineses puderam então incluir as declarações dos prisioneiros em transmissões anti-americanas. Como consequência desta evolução que começou com uma simples declaração anti-americana, alguns prisioneiros rotularam-se como colaboradores, agindo de maneiro coerente com a sua auto-imagem. O compromisso fornece ainda outra táctica conhecida como lançamento de uma bola baixa, que é muitas vezes utilizada por vendedores para dominarem os clientes nas negociações de preço. Os vendedores de carros (fig.15), por exemplo, seduzirão os clientes a comprar um determinado carro oferecendo um preço atraente. De forma a Fig. 15 - Stand automóvel maximizar o compromisso com o cliente, o vendedor pode dispor ao cliente um bom financiamento bancário ou mesmo deixar o cliente levar o carro para casa durante a noite. No entanto, mesmo antes de assinarem o contracto final, algo acontece e tem de se mudar o preço ou alguns parâmetros do contracto (são dadas desculpas do género “houve um erro de cálculo no departamento de finanças” ou “o gerente não permite este contracto pois a companhia perderia dinheiro com isso”). Apesar de pensarmos que o cliente recuaria, a maioria não o faz. É como se com o compromisso inicial, o cliente se sentisse ligado ao objecto como se já fosse seu, não se mostrando disponível a não o ter. 22 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Esta técnica não se aplica apenas à economia. Um estudo feito com estudantes de universidade prova isso mesmo. Um grupo de estudantes foi contactado por uma equipa de investigadores para um teste aos “processos do pensamento” que começaria às sete horas da manhã. Por isto significar levantar antes do amanhecer, a maioria (76%) não aceitou. A outro grupo de estudantes foi feito o mesmo pedido, mas os investigadores “lançaram uma bola baixa”, ao não mencionarem que o teste seria às sete da manhã. Assim, a maioria (54%) já aceitou. Só depois de aceitarem o pedido (comprometendo-se) é que foram informados que o teste se iria realizar às sete. Após esta informação, nenhum dos estudantes recuou na sua decisão, mantendo-se fiéis ao compromisso. Depois de se estabelecer o compromisso, mesmo que novos dados sejam adicionados e requeiram algum sacrifício, o indivíduo mantém-se fiel ao compromisso. Outra técnica parecida coma anterior é a técnica do engodo alterado. Enquanto que a bola baixa troca as regras do compromisso, nesta técnica a oferta atraente é trocada por uma oferta que beneficia o vendedor e a qual é aceite pelo cliente. Mais uma vez, esta técnica é muito usada por vendedores de carros. Eles atraem o cliente ao stand com uma oferta publicitária de um carro a um preço baixo. Gastar tempo na viagem ao stand constitui um compromisso em comprar um carro. Quando chega ao stand, o cliente é confrontado com o vendedor alegando que todos os modelos a preço baixo foram vendidos ou que o carro não vem com as características pretendidas pelo cliente. Devido ao seu compromisso de comprar um carro, o cliente é tentado a ver outros modelos, mais caros (apesar de não ter sido esse o propósito da viagem). 23 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Liderança A liderança é o exemplo mais importante das interacções de um para muitos. Este efeito é quando um indivíduo exerce a sua influência num elevado número de pessoas. A liderança ocorre numa multiplicidade de contextos sociais, como a politica, as forças armadas, os negócios, os meios académicos, as equipas desportivas, os clubes sociais, e até a família. Uma diferença que existe é o tamanho do grupo que é liderado: pode ser um grupo imenso ou pode ser um grupo bastante pequeno. A outra diferença diz respeito á autoridade do líder, e se ele tenta influenciar directamente os seguidores, ou se exerce a sua influência através de um grupo especial de subordinados leais. Pessoa vs. Situação Grande parte da História foi criada por indivíduo excepcionais que para o melhor ou para o pior, determinaram o curso dos acontecimentos da Humanidade. Os preponentes desta Teoria da pessoa formidável citam frequentemente Napoleão Bonaparte., descrevendo-o como um génio político e militar cuja mente brilhante e vontade Fig. 16 - Pessoa (B) ou Situação (A)? indomável esmagaram a oposição durante duas décadas. Mas será que Napoleão teria sido um grande líder sem as circunstâncias em que se desenvolveu. Muitos autores defendem que Napoleão foi quem foi devido às circunstâncias: a inépcia dos generais que se lhe opunham, o zelo dos soldados franceses, e a grandeza dos exércitos franceses. A mesma controvérsia surgiu na discussão de muitos outros acontecimentos históricos: teria havido Revolução Bolchevista se Vladimir Lenin tivesse permanecido no exílio?; teriam as mulheres americanas adquirido o direito ao voto sem os esforços pioneiros de Susan B. Anthony? Estas questões resumem-se no seguinte: devemos atribuir as acções de uma pessoa às suas qualidades disposicionais ou à situação? Posto de outro modo, a questão é a de saber se todos – ou a maioria – dos líderes bem sucedidos têm em comum alguma qualidade pessoal. Para determinar se de facto existem as tais qualidades de liderança, os psicólogos sociais têm tentado relacionar as características pessoais dos membros do grupo com o grau em que são percebidos como líderes e o seu grau de eficiência nesse 24 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência papel. Os psicólogos estudam, então, a percepção e o desempenho dos líderes. Nestes estudos, é apresentada a um grupo de quatro a seis pessoas uma tarefa comum que deverá ser levada a cabo mediante discussão. Assim, diz-se aos participantes que são exploradores perdidos a duzentos milhas da base. Para regressar, terão de se livrar de algum equipamento. Cada indivíduo faz uma lista do equipamento pela ordem que pode ser dispensado. Depois têm de confrontar o grupo com essa lista. No final devem ter uma lista consensual. Para avaliar a percepção de liderança, cada membro é avaliado pelos outros em relação ao grau com que influenciou o grupo. Para avaliar o desempenho compara-se a lista inicial de cada indivíduo com a do grupo: a semelhança entre as listas é tida como medida da eficiência da liderança. Seguidamente vê-se se a percepção de liderança e o desempenho de liderança estão relacionados com alguma outra característica pessoal do indivíduo. Estudos feitos revelam que, de facto, existe esta relação. Assim, as pessoas que são percebidas como lideres tendem a ser mais inteligentes, mais sociáveis e com mais ascendência do que as outras. Mas, no geral, o papel da situação parece ser tão importante como as características pessoais do líder. Então coloca-se a seguinte questão: quais as situações que favorecem a eficiência do líder? As situações mais favoráveis são aquelas em que o líder tem uma autoridade considerável, a tarefa a ser realizada é bem definida, e os membros do grupo dão-se bem uns com os outros e, obviamente, com o próprio líder. Quando uma destas condições não se verifica, a situação é desfavorável. No entanto surge uma complicação: um líder que é eficiente com um grupo, pode não o ser com outro. Isto verifica-se especialmente quando os grupos têm propósitos diferentes. As qualidades de liderança numa reunião de direcção de uma empresa são muito diferentes das necessárias a um líder de escoteiros, por exemplo. Esta complicação sugere, então, que haja uma combinação adequada entre as características do líder e a situação em que se insere. Líderes da História Alexandre, o Grande Um dos primeiros grandes líderes da História foi Alexandre III da Macedónia, mais conhecido por Alexandre, o Grande. Liderou as tropas gregas, tornando-se o mais conquistador célebre conquistador do mundo antigo. Na sua juventude, teve como mentor o filósofo Aristóteles. Tornou-se rei aos vinte anos, na sequência do assassinato do seu pai. Os seus feitos são muito Fig. 17 - Alexandre, o Grande 25 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência famosos: conquistou um império que ia dos Balcãs à Índia, incluindo também o Egipto e a Báctria (aproximadamente o actual Afeganistão). Este império era o maior e mais rico que tinha existido até então. Existem várias razões para esses grandes êxitos militares. Um delas reside no facto de Alexandre ser um general de extraordinária habilidade e sagacidade, talvez o melhor de todos os tempos: nunca perdeu uma batalha e a expansão territorial que ele proporcionou é uma das maiores da história e é a maior expansão territorial num período tão curto de tempo. Além disso era um homem de muita coragem pessoal. Mas muitos historiadores também se questionam se teria ele sido o Grande se a situação fosse diferente: se não fosse filho do rei; se o exército não fosse tão poderoso, etc. Napoleão Bonaparte Outro grande líder já referido foi Napoleão Bonaparte. Napoleão foi o imperador do Império Francês durante o início do século XIX. Também conquistou grande parte da Europa central e ocidental. As leis do seu governo nos territórios francos foram fortemente influenciadas pela noção de democracia da Grécia Antiga. Napoleão Bonaparte tornou-se uma figura importante no cenário político mundial da época, já que esteve no poder da França durante 16 anos e nesse tempo conquistou grandes partes do continente europeu. Os biógrafos afirmam que seu sucesso deu-se devido ao seu talento como estratega, ao seu talento para empolgar os soldados com promessas de riqueza e glória após vencidas as batalhas, além do seu espírito de liderança. Mas, coloca-se novamente a questão: teria Fig. 18 - Napoleão Bonaparte Napoleão sido um grande líder em circunstâncias diferentes? 26 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Adolf Hitler Para além de um grande líder, Adolf Hitler foi também um grande manipulador. Líder do partido Nazi, Hitler tornou-se chanceler e, posteriormente, ditador da Alemanha. Dono de um racismo e de um anti-semitismo brutal, Hitler conduziu a História para um dos seus períodos mais negros, o Holocausto. Neste período, os soldados de Hitler perseguiram as minorias consideradas indesejadas – tais como Testemunhas de Jeová, eslavos, polacos, ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais, e, sobretudo, judeus. A maioria dos perseguidos eram mortos a tiro ou em câmaras de gás. Outra parte deles era usada em experiências médicas e militares. Através das suas capacidades manipuladoras, Fig. 19 - Adolf Hitler consegui levar milhares de militares alemães à obediência acrítica. Hitler liderou a Alemanha no período da Segunda Guerra Mundial. Juntamente com a Itália e o Japão, formando o Eixo, lutaram contra os Aliados. Tendo percebido que perdera a Guerra quando os soldados soviéticos combatiam as defesas do seu quartel-general, Hitler suicidou-se a 30 de Abril de 1945. Segundo testemunhas, Hitler já admitira que perdera a guerra a 22 de Abril, e já nessa altura tinha pensamentos suicidas. 27 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Comportamento da multidão Agora vamo-nos voltar para uma categoria de interacções sociais em que a relação é de muitos com muitos: são interacções grupais de um certo número de pessoas que interage com um certo número de outras pessoas, simultaneamente. Em certas circunstâncias, as pessoas em multidão comportam-se de maneira diferente, relativamente à maneira como se comportaria se estivessem sozinhas. Nos casos em que a multidão pretende fazer justiça por suas próprias mãos, as pessoas podem-se mostrar agressivas, mas este comportamento seria inconcebível se estivessem isoladas. Num auditório completamente cheio de pessoas, estas ficariam assustadas e frenéticas se alguém gritasse “Fogo!”. Que influência tem a multidão no individuo, que o leva a agir de modo tão diferente do seu habitual? Desindividuação Segundo a teoria de Le Bon, as pessoas em multidão tornam-se selvagens, estúpidas e irracionais, permitindo a emergência de impulsos primitivos que habitualmente se encontram reprimidos. Em multidão, as emoções de cada pessoa espalham-se como uma espécie de contágio, e espalha-se mais quanto maior o número de membros dessa multidão. Assim, o medo transforma-se em pânico e a hostilidade em raiva assassina, e os membros da multidão tornam-se selvagens. Os psicólogos sociais tentaram traduzir estas ideias em termos modernos. A melhor maneira para explicar o comportamento da multidão é a desindividuação, um estado em que um indivíduo num grupo perde a consciência de si próprio enquanto indivíduo autónomo. Isto acontece mais quando existe um elevado nível de activação fisiológica e anonimato. A desindividuação tende a desinibir as acções impulsivas que se encontram habitualmente sob controlo. Os impulsos que são activados dependem do grupo e da situação. Por exemplo, no Carnaval, os foliões juntar-se-ão em festas loucas; uma multidão entrará em pânico se houver fogo num teatro; etc. Estudou-se um efeito, designado por efeito do anonimato nas crianças que estavam mascaradas a brincar ao Dia das Bruxas. Este efeito serviu para estudar a desindividuação. Algumas crianças vinham sozinhas, outras vinham em grupo. A umas, os donos das casas que visitavam perguntavam os nomes, a outras nada se perguntava. Todas as crianças tiveram a oportunidade de roubar dinheiro ou doces, na altura em que o dono deixava a sala vazia. O roubo foi muito mais frequente quando as crianças visitavam as casas em grupo e quando permaneciam no anonimato. Assim, um aumento em actos imorais pode ter ocorrido porque o anonimato fez com que a criança tomasse menos consciência de si própria enquanto indivíduo autónomo, 28 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência devido à desindividuação da criança, com resultado na desinibição do impulso para cometer pequenos furtos. Os factores cognitivos e a multidão em pânico O pânico demonstra que as pessoas em grupo, por vezes, têm comportamentos, de um modo que acarreta consequências desastrosas que ninguém previa ou desejaria. Isto mostra que o comportamento da multidão é desadaptado. Vários psicólogos sociais consideram que cada elemento do grupo da multidão não agiu irracionalmente. Em certas situações, como incêndios em salas cheias de pessoas, a melhor opção para os participantes só é possível, se houver confiança unânime num comportamento de cooperação. Se não existir esta confiança, cada pessoa fará o melhor que puder, dados os motivos e as expectativas do que os outros farão. Assim, todos correrão para a saída, a tentar sair primeiro que os outros. O pior é que todos pensam o mesmo, e assim, chegarão todos à saída ao mesmo tempo, obstruindo-a. Isto resultará num fim trágico para todos. De acordo com esta interpretação, o medo intenso não produz pânico na multidão. O que interessa são as crenças das pessoas acerca das vias de fuga. Se pensam que essas vias estão desimpedidas e facilmente acessíveis, não fugirão logo. O pânico não se desenvolverá tanto se se pensar que todas as vias de fuga estão completamente bloqueadas, como num desmoronamento de uma mina, por exemplo. Tais desastres podem levar ao terror ou ao colapso apático; mas não se registará o caos que caracteriza uma multidão em pânico. Para que o pânico ocorra, as vias de fuga têm de ser limitadas ou fechadas. Nesta situação, cada individuo pensa que se for o primeiro a sair, escapará primeiro que os outros. Se todos os indivíduos pensarem assim, o pânico ocorre na multidão. O dilema do prisioneiro Consideremos dois homens presos por suspeita de roubo a um banco. A promotora pública precisa de uma confissão para garantir a condenação. Ela inventa um plano diabólico e fala com cada um dos prisioneiros, separadamente, e dá uma escolha simples a cada um - confessar ou manter-se calado. Mas também diz que as consequências dependerão, não apenas da sua escolha, mas também da escolha do seu companheiro. Se ambos confessarem, ela recomendará uma sentença intermédia de, por exemplo, oito anos de prisão. Se nenhum confessar, ela não conseguirá julgálos por roubo, mas acusá-los-á de um crime menor, que é a posse ilegal de arma, e ambos apanharão um ano de prisão. Mas se um confessar e o outro não, cada um será tratado de maneira muto diferente. O que confessar, fornece provas ao Estado e terá a sentença suspensa e não irá para a prisão. Ao contrário, aquele que se mantiver calado sentirá a força total da lei. Assim, ela recomendará a pena de prisão de vinte anos. 29 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Existem quatro combinações possíveis do que os prisioneiros podem fazer (tab. 1). Cada um dos quatro conjuntos de decisões, têm uma consequência diferente para cada um Tabela 1 dos prisioneiros. Este conjunto de decisões associadas a cada um dá a chamada matriz de ganhos e perdas. Dada esta matriz de ganhos e de perdas, se os prisioneiros permanecerem calados, as consequências para ambos são favoráveis. Mas como pode um ter a certeza de que o companheiro não o trai? Se um prisioneiro mantém silêncio, e o outro conta tudo, este fica melhor do que ficaria se ambos se mantivessem calados e livra-se totalmente da prisão, ao contrário do outro que se manteve calado, que apanha 20 anos de prisão. E se cada um dos prisioneiros pensar que o outro não confessará? O melhor palpite é o de que ambos decidirão que é demasiado arriscado confiar no outro, pois ambos saberão que o outro sentir-se-á muito tentado a confessar. Assim, nenhum arriscará, e ambos desertarão do bem comum e confessarão. A promotora pública condena aos dois prisioneiros a 8 anos de prisão. Mas, o comportamento do prisioneiro é desajustado, pois o resultado está longe de ser óptimo para cada um. Isto não significa que cada um não tenha um comportamento irracional. Pelo contrário, cada um teve um comportamento racional, se considerarmos que nenhum poderia ter a certeza de como iria decidir o parceiro. Cada indivíduo agiu tão racionalmente quanto possível, mas o resultado para ambos foi insatisfatório. No melhor para eles, teriam podido confiar um no outro, e ficariam em silêncio. Assim ficavam na prisão por um período de tempo muito mais curto. O dilema do prisioneiro e o pânico A lógica subjacente ao dilema do prisioneiro aplica-se a várias interacções sociais cuja matriz de ganhos e perdas é formalmente análoga. Isto relaciona-se com o pânico. Nesta situação há mais de dois participantes, mas os ingredientes são os mesmos. Numa sala em chamas, cada indivíduo tem duas escolhas – passar á frente dos outros, ou esperar pela sua vez para chegar á saída. As consequências prováveis dessas escolhas dependem, tal como na situação dos prisioneiros, do que os outros façam, especialmente os que estão perto. Se um individuo se precipitar para a saída e se os outros fizerem o mesmo, todos sofrerão provavelmente ferimentos severos e um certo risco de perigo de vida. Se cada um esperar pela sua vez, o resultado será melhor: provavelmente todos escaparão, apesar de sofrerem alguns ferimentos. O melhor resultado para o indivíduo é obtido se ele passar os outros e não esperar pela sua vez, enquanto os outros saem calmamente da sala. Nesta situação ele escapará 30 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência sem um arranhão, mas a probabilidade de os outros escaparem diminuirá. Se, a situação se invertesse, onde o indivíduo espera pela sua vez, enquanto toda a gente corre para sair, estes podem muito bem sair Tabela 2 sem ferimentos, mas aquele que esperou pela sua vez, poderá mesmo morrer. Este conjunto de decisões e resultados a ele associados representam outra versão do dilema do prisioneiro, que se mostra noutra matriz de perdas e ganhos (tab. 2). De acordo com a matriz, a maioria das pessoas optará por passar á frente e não por esperar a sua vez. Tal como no caso dos prisioneiros, esta situação é desajustada, mas para o ponto de vista de cada indivíduo é bastante racional, infelizmente. O modelo de pânico apenas se aplica se certos requisitos forem satisfeitos. O perigo tem de parecer suficientemente sério e os caminhos de fuga têm de parecer limitados. Outro factor é o da força de certas inibições sociais. A maioria de nós foi socializada de modo a comportar-se com algum respeito pelos outros; passar á frente dos outros e não esperar pela sua vez é reprovado socialmente e é uma acção marcada por valores negativos. O peso deste factor também depende da situação: se o fogo não for ainda grande, o embaraço do comportamento descortês, ou seja agir de uma forma desajustada, passando a vez dos outros, pode pesar mais do que o medo de ser o ultimo a fugir. Se assim for, a matriz de ganhos e de perdas não será a do dilema do prisioneiro e não haverá qualquer pânico. Dilemas sociais No clássico dilema do prisioneiro, apenas dois criminosos fazem a sua escolha. No entanto, o dilema pode ser ampliado de modo a incluir qualquer número de indivíduos, tal como o cenário de pânico ilustra, e cada um dos indivíduos tem de tomar a decisão de cooperar ou de se furtar á cooperação. Assim, o dilema do prisioneiro e a sua estrutura de ganhos e perdas pode ser aplicado a muitos temas económicos e sociais. Vamos considerar os dilemas sociais colocados pela poluição industrial. Por exemplo, dez companhias produzem vários brinquedos de plásticos, onde o processo de fabrico gera gases sulfúreos, responsáveis pela poluição. Puderam ser instalados dispositivos antipoluição para remover o enxofre. Mas estes dispositivos são dispendiosos. Nesta situação, o que poderão fazer as companhias? Se os dez fabricantes fizerem a mesma escolha, ambientalmente correcta, nenhum dos 31 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência fabricantes terá uma vantagem no preço do fabrico, e a qualidade da água e do ar manter-se-ão inalteráveis. Se todos tentarem cuidar de si próprios e não dispusessem dos dispositivos antipoluição, nenhum obterá qualquer vantagem no preço do fabrico, mas o meio ambiente terá consequências e degradar-se-á. Se se pudesse contar com nove dos fabricantes a tomarem a iniciativa de obterem dispositivos antipoluição, e um dos produtores a negligenciar a colocação dos dispositivos, este último teria vantagens competitivas no preço do fabrico e apenas degradaria a qualidade do ar e da água ligeiramente. Mas se o caso invertesse, ou seja, todos preferiam ignorar a colocação dos dispositivos e só um Fig. 20 - Dilemas sociais tomaria a opção ambientalmente correcta, então o produtor de brinquedos de elevados custos ficará provavelmente excluído do negocio dos brinquedos. Hoje em dia, enfrentamos dilemas sociais em muitas áreas, principalmente a poluição industrial, a desflorestação e a exaustão das reservas energéticas. Para podermos encorajar os indivíduos a tomarem as decisões socialmente benéficas, teríamos de alterar a matriz de ganhos e perdas para criar um enviesamento. A promotora pública optou por isto, para encorajar os prisioneiros a “mandar a lealdade às urtigas”. No caso dos dilemas sociais, nós podemos alterar a matriz de perdas e ganhos aplicando penalizações, como impostos ou multas aos indivíduos ou companhias que poluem, ou podemos potencializar o apelo do comportamento altruísta através da educação. Muitos cientistas sociais têm sugerido estratégias mais eficazes para a melhoria dos dilemas sociais: o ensino dos benefícios últimos da cooperação, garantir a comunicação livre entre os indivíduos e aumentar a nossa confiança de que os outros não nos exploram. 32 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência o Inconformismo e Desobediência As sociedades em geral, e os grupos sociais que as constituem, procuram manter a sua coesão através do respeito pelas normas e regras vigentes. O desvio à norma e a desobediência às regras são objecto de censura social, que se manifesta através de críticas e sanções. Contudo, a história da Humanidade testemunha que as mudanças a todos os níveis são desencadeadas por concepções, atitudes e comportamentos que não respeitaram o que socialmente era estabelecido como correcto e desejável. Os exemplos não nos faltam ao nível da actividade económica, política (as revoluções, por exemplo), tecnologia, científica, cultural. Pode-se definir inconformismo como a adopção de concepções, atitudes e comportamentos que não correspondem às expectativas do grupo. As pessoas em que a pertença ao grupo constitui uma parte importante do seu autoconceito têm mais probabilidade de se conformarem; se a pertença ao grupo não tiver essa importância, é menos provável submeterem-se às normas do grupo com que não concordam. As pessoas que adoptam atitudes inconformistas são, frequentemente, objecto de crítica social, que pode ir desde o sarcasmo à sanção ou mesmo à marginalização. O desvio e a desobediência são encarados como desagregadores da ordem social e são tão mais criticados e reprimidos, quanto mais importante for, para o grupo social, a norma desrespeitada. Inconformistas da História Sócrates Sócrates foi um filósofo ateniense, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental, e um dos fundadores da actual Filosofia Ocidental. Alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria. Os diálogos de Platão retratam Sócrates como mestre que se recusa a ter discípulos, e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Se algo pode ser dito sobre as ideias de Sócrates, é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente dos seus contemporâneos atenienses. Sócrates defendia Fig. 21 - Sócrates a maiêutica. Esta funcionava a partir de dois momentos essenciais: um primeiro em que Sócrates levava os seus interlocutores a pôr em causa as suas próprias concepções 33 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência e teorias acerca de algum assunto; e um segundo momento em que conduzia os interlocutores a uma nova perspectiva acerca do tema em abordagem. Daí que a maiêutica consistisse num autêntico parto de ideias pois, mediante o questionamento dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar em causa os seus "preconceitos" acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em discussão. Impondo-se contra os ideais da altura, Sócrates foi julgado por heresia e por corromper a juventude. Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação (beber o veneno chamado cicuta) se tivesse desistido da vida justa. Jesus Cristo Se pensarmos na História da Humanidade, um dos indivíduos mais marcantes de sempre foi Jesus Cristo. Fundador da Cristandade, Jesus lutou contra todos na defesa daquilo em que acreditava. Espalhando a palavra de Deus pela Palestina, acabou por ser condenado. Por representar um desagregador da ordem social, foi condenado pelos romanos e pregado na cruz. Os seus feitos foram brilhantes e fizeram com Fig. 22 - Jesus Cristo que fosse considerado um herói. A sua história é a base da doutrina Cristã, a doutrina com mais seguidores de sempre. Galileu Galilei Galileu Galilei foi um físico, matemático, astrónomo e filósofo italiano que teve um papel preponderante na chamada Revolução Científica. A principal contribuição de Galileu foi para o método científico, pois a ciência assentava numa metodologia aristotélica. O método empírico, defendido por Galileu, constitui um corte com o método aristotélico mais abstracto utilizado nessa época. Devido a este Galileu é considerado como o "pai da ciência moderna". No entanto, devido ao melhoramento do telescópio, Galileu descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Fig. 23 - Galileu Galilei 34 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Vénus, quatro dos satélites de Júpiter, os anéis de Saturno, algumas estrelas da Via Láctea. Estas descobertas contribuíram decisivamente na defesa do heliocentrismo. Ao provar a Teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico, foi contra o princípio geocêntrico defendido pela doutrina Cristã. Galileu acabou, assim, condenado por desobediência e por proferir conteúdos contra a doutrina católica. Charles Darwin Conhecido por muitos como o “pai da biologia moderna”, Charles Darwin foi um naturalista britânico que marcou o seu nome na História por ter desenvolvido a teoria da evolução das espécies, por meio da Selecção Natural. O livro que explica isto, “A Origem das Espécies”, foi desenvolvido durante a sua viagem de cinco anos a bordo do Beagle. Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, Darwin confiou-as apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objecções. Em 1859 decide então publicar “A Origem das Fig. 25 - Charles Darwin Espécies”. O livro de Darwin iniciou uma controvérsia pública que ele acompanhou atentamente, obtendo cortes de jornais de milhares de resenhas, críticas, artigos, sátiras, paródias e caricaturas. Críticos foram rápidos em apontar as implicações não discutidas no livro de que os "homens fossem descendentes de macacos". Sendo que a sua teoria ia contra o Princípio da Criação defendido pela Igreja, esta também se opôs a Darwin. Apesar de todas estas divergências, hoje a teoria de Darwin representa a base da biologia, e sem ela muitos dos avanços não teriam sido possíveis. Fig. 24 - Caricatura de Darwin Mahatma Gandhi Fundador do moderno Estado indiano, Gandhi foi também o maior defensor do Satyagraha (princípio da nãoagressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução. Após a guerra, Gandhi envolveu-se com o movimento pela independência da Índia. Ganhou notoriedade internacional Fig. 26 - Mahatma Gandhi 35 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência pela sua política de desobediência civil e pelo uso do jejum como forma de protesto. Por esses motivos sua prisão foi decretada diversas vezes pelas autoridades britânicas, prisões às quais sempre se seguiram protestos pela sua libertação. Outra estratégia eficiente de Gandhi pela independência foi a política do swadeshi - o boicote a todos os produtos importados, especialmente os produzidos na Inglaterra. Nelson Mandela Nelson Mandela é um advogado, ex-rebelde e ex-presidente da África do Sul. É também o principal representante do movimento antiapartheid. O apartheid negava aos negros (maioria da população) direitos políticos, sociais e económicos. Em Agosto de 1962, Nelson Mandela foi preso e sentenciado a 5 anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Em 2 de Junho de 1967 foi sentenciado novamente, desta vez a prisão perpétua (escapando de uma pena de enforcamento), por planear acções armadas, em particular sabotagem (o que Mandela admite) e Fig. 27 - Nelson Mandela conspiração para ajudar outros países a invadir a África do Sul (o que Mandela nega). No decorrer dos vinte e seis anos seguintes, Mandela tornou-se de tal modo associado à oposição ao apartheid que o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou bandeira de todas as campanhas e grupos anti-apartheid em todo o mundo. Recusando trocar uma liberdade condicional pela recusa em cessar o incentivo à luta armada, Mandela continuou na prisão até Fevereiro de 1990, quando a campanha do ANC (partido que lutava pelo direito dos negros e ao qual Mandela pertencia) e a pressão internacional conseguiram que ele fosse libertado em 11 de Fevereiro. Em 1993, recebeu o Nobel da Paz, pelos esforços desenvolvidos no sentido de acabar com a segregação racial. Em Maio de 1994, tornou-se ele próprio o presidente da África do Sul, naquelas que foram as primeiras eleições multirraciais do país. 36 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Conclusão Ao desenvolvermos o trabalho e a pesquisa sobre este tema, compreendemos os processos e razões que levam um indivíduo a conformar-se ou a obedecer. Ao percebermos melhor esses processos, podemos concluir, por exemplo, que a obediência deve ser crítica e que devemos estar mais atentos a tentativas de manipulação. Assim, ao conhecermos estas técnicas e processos, podemos então combatê-los, ou seja, permanecermos mais resistentes a eles. Assistimos também a exemplos de grandes homens que provaram ser mais fortes que as forças sociais e que, assim, lutaram contra tudo e todos, gravando o seu nome na História. Estes homens são exemplos a seguir de como mantendo-nos fiéis aos nossos princípios, podemos chegar longe. 37 Psicologia B Normalização, Conformismo e Obediência Bibliografia e Webgrafia GLEITMAN, Henry; FRIDLUND, Alan J.; REISBERG, Daniel. Psicologia. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2009, 8ª edição MILLON, Theodore; LERNER, Melvin J.. Handbook of Psychology – Personality and Social Psychology. John Wiley & Sons, Inc., 2003 RODRIGUES, Luís. Psicologia B 12º ano - unidade 1. Plátano Editora, 2009, 1ª edição ROCHA, Ana; FIDALGO, Zilda. Psicologia 12º. Texto Editora, Lisboa 1998, 1ª Edição. 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