Instituto Educativo do Juncal Psicologia B

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1 de Março de 2011
Instituto Educativo do Juncal
Psicologia B
NORMALIZAÇÃO,
CONFORMISMO
E OBEDIÊNCIA
Professor
 António Trindade
Alunos
 Catarina Carreira, nº3
 João Marques, nº12
12ºA
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
Índice
Introdução………………………………………………………………………………3
1. Normalização………………………………………………………………………4
2. Conformismo……………………………………………………………………….7
2.1. Definição……………………………………………………………………….7
2.2. Experiência de Asch………………………………………………………….7
2.3. Causas do conformismo……………………………………………………..8
2.4. Maiorias e Minorias…………………………………………………………...9
3. Obediência………………………………………………………………………..11
3.1. Definição……………………………………………………………………...11
3.2. Experiência de Milgram……………………………………………………..11
3.3. Factores que influenciam a obediência…………………………………...13
4. Teoria do impacto social………………………………………………………...15
5. Manipulação………………………………………………………………………17
5.1. Manipulação por afinidade………………………………………………….17
5.2. Manipulação por escassez…………………………………………………19
5.3. Manipulação através das normas………………………………………….20
6. Liderança………………………………………………………………………….24
6.1. Pessoa vs. Situação………………………………………………………...24
6.2. Líderes da História…………………………………………………………..25
6.2.1. Alexandre, o Grande…………………………………………………25
6.2.2. Napoleão Bonaparte…………………………………………………26
6.2.3. Adolf Hitler…………………………………………………………….27
7. Comportamento da multidão……………………………………………………28
7.1. A desindividuação…………………………………………………………...28
7.2. Factores cognitivos e a multidão em pânico……………………………..29
7.2.1. O dilema do prisioneiro………………………………………………29
7.2.2. O dilema do prisioneiro e o pânico…………………………………30
7.2.3. Dilemas sociais……………………………………………………….31
8. Inconformismo e Desobediência……………………………………………….33
8.1. Inconformistas da História………………………………………………….33
8.1.1. Sócrates……………………………………………………………….33
8.1.2. Jesus Cristo…………………………………………………………...34
8.1.3. Galileu Galilei…………………………………………………………34
8.1.4. Charles Darwin………………………………………………………..35
8.1.5. Mahatma Gandhi……………………………………………………..35
8.1.6. Nelson Mandela………………………………………………………36
Conclusão……………………………………………………………………………..37
Bibliografia e Webgrafia……………………………………………………………..38
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
Introdução
No âmbito da do programa para o 2º período da disciplina de Psicologia B,
achámos interessante o estudo do tema da influência social. Do estudo deste tema
esperamos compreender não só uma das principais bases das sociedades – as normas
– como também compreender o que leva um indivíduo ao conformismo e à
obediência.
Grande parte do estudo realizado no campo da influência social foi
desenvolvido depois de uma das mais catastróficas cenas de influência social de toda a
História, o Nazismo. Graças à obediência cega e ao conformismo dos milhares de
militares nazis, foi cometido o maior genocídio da História. Milhões de judeus foram
mortos pelos nazis. A maior parte dos nazis que tomaram tais posições insistiram em
que “apenas cumpriam ordens”.
Deste modo, o estudo da influência social nasce para percebermos até que
ponto é legítimo obedecer ou conformar-se, e para compreendermos as razões que
levam um indivíduo a obedecer, mesmo que signifique matar o próximo.
Sendo que o nosso trabalho envolve grande parte da psicologia social ligada à
interacção social, resolvemos também abordar temas como a liderança e o
comportamento da multidão.
Ao longo do trabalho, iremos deparar-nos com palavras-chave como: agente ou
agente influenciador, alvo, ordem, pedido, influência.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Normalização
O meio social tem muita importância no modo como percepcionamos o
mundo, como o interpretamos e como reagimos às várias situações. Através do
processo de socialização, integramos um conjunto de normas vigentes na sociedade
onde nos inserimos e que regulam os comportamentos, desde os mais simples aos
mais complexos. Através das normas, os indivíduos conseguem estruturar as
interacções com os outros. Estas normas são apreendidas dentro dos vários contextos
sociais e a sua aprendizagem é, muitas vezes, inconsciente.
Normas são regras sociais que regulam o que os
indivíduos podem ou não fazer em situações específicas que
requerem o seu cumprimento. As normas são uma forma de
influência social. A interiorização progressiva das normas ao
longo do processo de socialização torna-as tão naturais que
não nos apercebemos da forma como elas influenciam os
nossos comportamentos e pensamentos. Assim, as normas
orientam o comportamento: definem o que é ou não
desejável, o que é conveniente num dado grupo social,
apresentando modelos de conduta.
Se reflectirmos, reparamos que grande parte dos
comportamentos não requer reflexão ou tomada de decisão
Fig. 1 - Pôr o dedo no ar é uma
consciente: lavamos os dentes, usamos talheres para comer, norma usada nas escolas
cumprimentamos os colegas.
É graças ao conjunto destas normas que os comportamentos dos indivíduos são
uniformizados (dentro de um dado grupo social). Isto é uma vantagem pois permitenos saber o que esperar do outro e saber o que o outro espera de nós. Assim, as
normas permitem prever o comportamento dos outros.
Numa experiência inicial de Milgram, este pediu aos seus alunos universitários
que se aproximassem de alguém no metro e pedissem para se assentar no seu lugar. A
maioria dos alunos desaprovou a ideia. Por fim, Milgram conseguiu convencer um dos
seus alunos a ingressar na ideia, Ira Goodman. Goodman devia pedir delicadamente a
20 pessoas que lhe cedessem o lugar, enquanto um observador assistia á cena.
Goodman fez o pedido a 14 pessoas e metade cedeu-lhe o lugar. Quando lhe
perguntaram porque desistira, explicou:”simplesmente, não consegui continuar: foi
uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida”.
Milgram considerou que o comportamento de Goodman poderia estar a revelar
algo de importante sobre a conduta social em geral. Então Milgram decide ele próprio
repetir a tarefa. Milgram relata:
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Normalização, Conformismo e Obediência
“Francamente, apesar da experiência inicial de Goodman, eu supus que seria
fácil. Aproximei-me de um passageiro sentado e estava prestes a proferir a frase
mágica. Mas as palavras pareciam estar travadas na traqueia e simplesmente não
saiam. Fiquei gelado; afastei-me, então, sem cumprir a missão. O estudante que estava
lá como observador insistiu para que tentasse novamente, mas encontrava-me tomado
por uma inibição paralisadora. Questionei-me: que tipo de cobarde sou eu? Pedi aos
meus alunos que fizessem isto. Como posso voltar sem cumprir a própria tarefa?
Finalmente, após diversas tentativas sem sucesso, aproximei-me de um
passageiro e fiz-lhe o pedido: Desculpe, poderia ceder-me o seu lugar? Um momento
de silêncio: o pânico apossou-se de mim. Mas o homem levantou-se e cedeu-me o
lugar. Viria ainda o segundo golpe. Ao tomar o lugar daquele passageiro, senti-me
pressionado pela necessidade de me comportar de um modo que justificasse o meu
pedido. Afundei a cabeça entre os joelhos e senti o rosto a perder a cor. Eu não
representava, sentia-me realmente como se fosse desmaiar.”
Em todos os contactos sociais, as pessoas partilham uma série de expectativas
sobre o que fazer e dizer, e até saber o que pensar e sentir. As normas estão tão
entranhadas que na sociedade parece natural segui-las. O trabalho dos antropólogos
mostra que estes padrões, estas normas não são universais e variam de cultura para
cultura. A experiência de Milgram sugere que os indivíduos consideraram difícil
infringir normas. Isto aplica-se mesmo quando a convenção é banal, ou quando é
custoso seguir essa norma. Por exemplo, se estiver nu, torna-se difícil sair a correr de
casa mesmo que esta esteja a arder.
Embora as normas sejam duradouras, com o tempo podem mudar. Há algumas
gerações atrás, sexo antes do casamento, o divórcio ou o trabalho como autorealização não eram acções aceites como são hoje em dia.
As normas constituem também elementos de coesão grupal, visto que
estabelecem um sistema comum de atitudes e padrões de comportamento. As normas
facilitam a adaptação ao meio social, na medida em que estabelecem padrões a seguir.
Se forem estáveis no tempo, as normas asseguram uma identidade ao grupo.
Na ausência de normas reconhecidas colectivamente, os indivíduos do grupo
tentam estabelece-las, influenciando-se uns aos outros. A esse processo dá-se o nome
de normalização. Esta necessidade resulta do facto de a ausência de normas (anomia)
gerar desorientação e angústia nos membros do grupo. Porque reduzem, a
ambiguidade, as normas restabelecem sentimentos de segurança ao definirem o que é
desejável e o que é conveniente no grupo social e numa determinada ocasião. Se não
houvesse normas, as interacções sociais seriam imprevisíveis, o que tornaria a vida em
sociedade impossível. Sendo assim, as normas asseguram a estabilidade da vida social.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
O incumprimento das normas é desaprovado
pela sociedade, pelo que o não comprimento ou o
desvio a estas normas leva a sanções, que podem ir
de um olhar reprovador a um castigo severo (fig.2).
Fig. 2 - Controlo das normas
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Conformismo
 Definição
Em sociedade, as circunstâncias suscitam muitas vezes a
intervenção dos outros para avaliar as nossas acções. Voltamonos muitas vezes para os outros para conhecer as nossas
próprias opiniões, as nossas capacidades e os nossos
sentimentos. É em função da confiança que desenvolvermos
comportamentos, a maior parte deles conformistas.
Nas nossas experiências pessoais vivemos situações em
que não emitimos a nossa opinião pessoas sobre um
determinado acontecimento ou situação. Por exemplo,
acabámos de ouvir uma música da qual não gostámos
particularmente. Se o grupo em que estamos inseridos
manifestarem entusiasmo em relação à música, sentimo-nos
pressionados a manifestar a mesma opinião, mesmo que não
concordemos com ela. Dizemos, então, que nos conformamos.
Define-se
conformismo
como
uma
mudança
(momentânea ou não) do comportamento. Quando assumimos
uma atitude ou comportamento conformista cedemos à
influência (que foi muitas vezes como uma pressão) dos outros
para pensar, sentir e agir como eles em função das normas,
expectativas ou valores.
 Experiência de Asch
Uma experiência muito famosa que estudou o
conformismo foi a experiência de Asch. Nesta experiência, um
grupo de oito indivíduos (dos quais 7 são comparsas e apenas
um deles é efectivamente o sujeito experimental, considerado
sujeito ingénuo) é informado que vai participar num teste à
Fig. 3 - Conformismo
exactidão da sua percepção visual. Neste teste, os indivíduos
têm de comparar uma linha padrão com outras 3 linhas desiguais, em que apenas uma
delas é igual à linha padrão (fig.4). Cada um dos 8
participantes dá uma resposta em voz alta, sendo que o
sujeito ingénuo é sempre o último a responder. Nas primeiras
tentativas, não existe qualquer dificuldade, e todas as
pessoas respondem correctamente. No entanto, a partir de
um determinado momento, os primeiros concorrentes (os
comparsas) dão, sem qualquer hesitação, uma resposta
errada. O indivíduo ingénuo começa a duvidar da sua
Fig. 4 - Linha padrão (esquerda)
e linhas de comparação (direita)
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Normalização, Conformismo e Obediência
percepção, pois o que ele vê não corresponde àquilo que os outros respondem. Como
responde ele nesta situação?
Segundo Asch, a percentagem de indivíduos que se mantinham fiéis à sua
percepção e permaneciam completamente independentes dos juízos dos outros, era
inferior a 25%. A maior parte deles aderiu à opinião do grupo, rejeitando a nítida
evidência dos seus sentidos, conformando-se.
 Causas do conformismo
Depois da sua experiência, Asch procurou compreender os processos
subjacentes ao comportamento conformista. Para isso, Asch entrevistou os sujeitos
participantes. A partir destes dados e de outras pesquisas, tem-se procurado
identificar os factores que influenciam e explicam o conformismo. Alguns desses
factores são:
 A unanimidade do grupo: o conformismo é maior nos grupos em que há
unanimidade. Num grupo basta haver um sujeito que partilhe uma opinião
diferente para os efeitos do conformismo seres menores. Por exemplo, na
experiência de Asch bastava que um dos participantes respondesse diferente
da maioria para que o nível do conformismo baixasse de forma significativa,
pois o indivíduo ingénuo sentiria mais confiança e assim estaria mais á vontade
para manifestar a sua opinião (ver Maiorias e minorias).
 A natureza da resposta: o conformismo aumenta quando a resposta é dada
publicamente. Quando a privacidade é assegurada, a resistência á aceitação da
opinião da maioria é maior. Deste modo, recorre-se muitas vezes ao voto
secreto como forma de assegurar o máximo de liberdade e independência na
manifestação de uma opinião.
 A ambiguidade da situação: a pressão do grupo aumenta quando estamos
indecisos do que é correcto. Assim, o conformismo é maior quando as tarefas e
as questões são ambíguas, quando a opção não é clara e inequívoca. O
comportamento conformista é facilitado nestes casos, uma vez que não
compreendemos ou não dominamos o contexto, e assim apoiamo-nos aos
outros.
 A importância do grupo: um indivíduo tem mais facilidade em conformar-se
quando está perante um grupo mais atractivo. A necessidade de pertencer ao
grupo implica a aceitação de comportamentos, normas e valores do grupo, por
parte do indivíduo, levando ao conformismo.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
 A auto-estima: as pessoas com a auto-estima mais elevada são mais
independentes do que aquelas que têm a auto-estima mais baixa. Assim, as
pessoas com menos auto-estima, como confiam menos nos seus juízos e
opiniões, tendem a adoptar o mesmo comportamento e as mesmas atitudes
que os outros elementos do grupo, conformando-se. Através do conformismo,
os indivíduos encontram uma forma de se sentirem aprovados pelos outros.
O conformismo resulta de um processo de influência inerente ao funcionamento
dos grupos. Para os grupos se manterem têm que impor normas que devem ser
aceites pelos membros que neles são constituídos. A coesão do grupo depende dessa
aceitação, por isso, são exercidas influências e pressões nesse sentido.
A necessidade de ser aceite e de interagir com os outros, levam as pessoas a
conformar-se para fazerem parte do grupo. Ao recusarem o conformismo, os
indivíduos tem consequências negativas em termos da interacção social,
nomeadamente serem excluídos do grupo.
 Maiorias e minorias
Um indivíduo solitário, confrontado com um grupo unânime, deixa conformarse. Mas o que acontece quando o indivíduo deixa de estar solitário?
Asch, para poder resolver esta questão, fez variar a sua experiência fazendo
com que um dos comparsas agisse como aliado do sujeito. Assim, todos os outros
comparsas davam respostas incorrectas, enquanto que os juízos do aliado eram
correctos. Nesta situação, o sujeito muito raramente se submetia, e não ficava
particularmente perturbado.
Uma pessoa que pensa como nós pode apoiar-nos contra todos os outros. Mas
as coisas não são assim tão simples quando examinamos mais atentamente. Noutra
situação, o comparsa afastou-se novamente da maioria, mas não o fez por emitir
respostas correctas, mas sim, por emitir respostas que estavam longe da verdade. O
aliado emitia respostas cada vez mais erradas, mas ainda assim, ajudou o sujeito a
libertar-se da influência do grupo. Nesta experiência, o sujeito submeteu-se muito
mesmo do que quando se confrontou com um grupo unânime. Assim, a unanimidade
do grupo desvaneceu e o sujeito sentia que podia fazer ouvir a sua voz sem receio de
ficar embaraçado. Este efeito denomina-se efeito do aliado.
Mesmo se formos incapazes de encontrar alguém que tenha a mesma opinião
que nós, a melhor alternativa é encontrar alguém que tenha uma opinião oposta à
maioria, mesmo que não esteja em concordância com a nossa. No momento em que a
voz divergente se fizer ouvir, a unanimidade do grupo rompe e aqueles que tinham
opiniões diferentes encontram a coragem necessária para se exprimir.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
A ruptura da unanimidade também pode ser
causada pelo impacto de uma minoria (fig.5). Porém, as
minorias consistentes possuem algumas vezes outro
efeito e bem diferente: o efeito de introduzir soluções e
perspectivas originais. Muitas vezes, as pequenas
minorias conseguem criar inovações sociais. Assim, as
minorias começam a desafiar as maiorias estabelecidas.
As minorias conseguem, frequentemente, ter êxito, em
parte, porque os seus membros parecem totalmente
unânimes na sua determinação e confiança. À medida
que o tempo passa, estas minorias tendem a influenciar
os outros, assim, a sua influência é bastante diferente da
exercida por uma maioria. Enquanto a maioria tende a Fig. 5 - Efeito de uma minoria
produzir um conformismo essencialmente superficial (modifica o que as pessoas fazem
ou dizem mas não o que pensam), o efeito de uma minoria unânime e firme, embora
mais lento e menos espectacular, pode acabar por afectar os indivíduos de uma forma
mais profunda, alterando até a forma de sentir e de pensar.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Obediência

Definição
A obediência é uma tendência para a submissão e
o cumprimento de ordens ou instruções dadas por
alguém dotado de autoridade ou por alguém a quem
essa autoridade é reconhecida. Assim, a obediência vai
resultar na mudança de comportamento do indivíduo em
resposta às ordens da autoridade. Para o bom
funcionamento da sociedade ou de um grupo, é
necessária uma figura com autoridade e a obediência a
essa autoridade. Sem isso, a anarquia seria inevitável. No
entanto, a obediência acrítica pode conduzir a
comportamentos e práticas atrozes e desumanas. Assim,
o problema da obediência é o de saber até que ponto é
legítimo obedecer. A obediência assume-se como um
comportamento de influência social na sua forma mais
directa e poderosa.
Fig. 6 - A obediência dos alemães
levou à morte de milhares de
judeus
 A experiência de Milgram
Milgram desenvolveu uma experiência no âmbito da influência social: a
submissão á autoridade.
O investigador recrutou, através do jornal local, um grupo de voluntários, entre
os 20 e os 50 anos, para participarem numa alegada experiência sobre a memória, a
realizar na Universidade de Yale. Quando chegavam à universidade, os voluntários
entravam em contacto com um experimentador que os informava que iam testar a
punição no processo de aprendizagem. Organizados em pares, um faria o papel de
“professor” e outro de “aluno”, escolhidos à sorte. Sem saberem, os “professores”
eram sempre os indivíduos ingénuos e os “alunos” eram actores contratados para a
experiência.
Cada aluno estava numa sala, preso a uma cadeia por correias e com os pulsos
ligados a eléctrodos (fig.7B). A sua tarefa era memorizar conjuntos de palavras, ditas
pelo professor. Os professores desempenhavam a sua tarefa numa sala à parte, onde
também se encontrava um experimentador. Pediu-se aos professores que
administrassem um choque eléctrico ao aluno sempre que este
1
Curiosidade
errasse na resposta. Os choques variavam de 15 volts (choque
inofensivo) a 450 volts, passando os 350 volts (choque muito A corrente
severo)1. É evidente que a máquina (fig.7A) não estava eléctrica de uma
realmente ligada aos pulsos do aluno, mas os professores não casa é de 100 a
sabiam. Para que a experiência parecesse real, Milgram propôs 120 volts.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
que cada professor experimentasse os choques reais de 15
volts para saberem o que os alunos sentiriam ao receber
os choques.
A experiência começou. À medida que o
interrogatório ia prosseguindo, o aluno errava nas
respostas consecutivamente, e o professor dava choques
ao aluno. Os choques eram cada vez mais intensos.
Quando a intensidade dos choques atingiu 180 volts, o
aluno gritava que já não aguentava a dor. Por volta dos
315 volts, suplicava que o soltassem e, daí em diante,
deixava de dizer fosse o que fosse para dar a impressão de
estar inanimado ou mesmo morto.
Todos os “professores” cumpriram as instruções,
até aos 300 volts. Por incrível que pareça, 65% dos
indivíduos continuou com a administração dos choques até
ao fim, aos 450 volts. Milgram, antes da experiência, tinha
descrito a experiência que iria realizar a psiquiatras e estes
previam que 2% dos “professores” chegariam até aos 450
volts. Para Milgram, o comportamento dos participantes
foi surpreendente e chocante. Muitos dos participantes
sentiam-se incomodados, alguns abandonaram a
experiência e a maior parte questionou as instruções do
experimentador. Quando os participantes perguntavam ao
experimentador se deviam prosseguir (fig.7C), estes
respondiam: “Apesar de os choques serem dolorosos, não
vão provocar lesões permanentes” ou “Por favor,
continue, é importante que continue” ou “Não tem
alternativa, tem de continuar”.
Fig. 7 - Experiência de Milgram
Após a experiência, os indivíduos obedientes foram
entrevistados, afirmando que não tiveram escolha, que obedeciam a ordens e que a
responsabilidade era do experimentador: o sentimento de ser agente de outra pessoa
justificava o seu comportamento. Assim, conclui-se que quando existe obediência, as
pessoas não se sentem responsáveis pelas acções que levam a cabo. Consideram que o
responsável é o indivíduo a quem se obedece.
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Psicologia B
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 Factores que influenciam a obediência
A experiência de Milgram e as várias variantes levaram a compreender as
condições que favorecem o comportamento obediente. De seguida exploraremos
algumas dessas condições.
 A proximidade com a figura de autoridade: maior será a obediência, quanto
mais próxima estiver a figura de autoridade, pois as pessoas sentem-se mais
intimidadas e obedecem mais facilmente. Numa variante, as instruções do
experimentador eram dadas pelo telefone e aí a obediência descia para 20.5%.
 A legitimidade da figura de autoridade: maior é a obediência quanto mais for
reconhecida a autoridade. Mais elevado é o nível de obediência, se o estatuto
de quem dá as ordens for reconhecidamente mais elevado. A obediência
aumenta, quando um indivíduo tem sinais de reconhecimento de autoridade.
Por exemplo, a bata que o experimentador usava na experiência de Milgram
ou a farda que os polícias usam são formas de aumentar a autoridade.
 A proximidade da vítima: Milgram fez variar a proximidade entre os
participantes e os colaboradores. Quando não havia contacto visual ou
auditivo, 100% dos participantes obedeciam sem hesitação. Se a “vítima” era
vista pelos participantes ou se eles tocassem na “vítima”, descia para 40% e
para 30%, respectivamente.
 A pressão do grupo: Milgram procurou saber o que aconteceria numa situação
de grupo em que dois dos sujeitos se recusavam a obedecer às ordens do
experimentado. Nesta situação, só 10% dos participantes obedeceram a dar
descargas eléctricas até os 450 volts. A maioria recusava-se a ultrapassar a
metade da escala. Assim, concluí-se, que o efeito do grupo anulou o efeito de
autoridade do experimentador.
 Ambiente ou meio: é também um factor importante que as ordens sejam
dadas num ambiente prestigiado. A experiência inicial de Milgram foi
conduzida na Universidade de Yale. Quando se realizou a experiência num
apartamento no centro da cidade, o grau de obediência diminuiu
acentuadamente.
 Distanciamento emocional: quanto maior for o distanciamento emocional em
relação ao objecto da acção, mais fácil se torna obedecer. Despersonalizar a
vítima tapando-lhe a cara torna mais fácil fuzilá-la; bombardear uma aldeia é
emocionalmente menos constrangedor do que matar os aldeões a tiro.
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Psicologia B
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Um estudo mais avançado permite-nos identificar alguns factores que
predispõem para a obediência.
 Identificação entre autoridade, competência e saber: Muitas pessoas julgam
que aqueles que exercem poder e podem legalmente dar ordens têm
credibilidade suficiente para saberem o que estão a fazer. Confunde-se
autoridade legal ou institucional com autoridade legítima e reputação com
credibilidade moral. É também um factor relativamente importante.
 Sentimento de desresponsabilização: Quem obedece julga-se frequentemente
o agente que leva a cabo a vontade de quem ordena, pelo que tende a não se
considerar responsável pelos seus actos de obediência nem pelas
consequências destes.
 Obedecer é uma forma de ser aceite: desde pequenos, mediante o processo
de socialização, interiorizamos que a obediência a figuras que representam
autoridades (os pais, por exemplo) tem consequências positivas (recompensas)
e é socialmente desejável. O desejo de agradar torna-nos tendencialmente
complacentes e submissos. E quanto menor é a nossa auto-estima maior será a
propensão para não questionar a autoridade.
 Partilha ou difusão da responsabilidade pelas consequências de um acto:
quando a responsabilidade de um acto é partilhada por vários indivíduos, mais
forte é a propensão para obedecer a ordens. Há como que uma difusão de
responsabilidades ou um efeito libertador causado pela participação de vários
indivíduos na realização de um mesmo acto.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Teoria do Impacto Social
Todas as forças de influência social podem ser compreendidas através da teoria
do impacto social. Serão compreendidas, se se pensar o indivíduo como estando
exposto a um campo de forças sociais que convergem sobre ele de forma semelhante
á de um conjunto de lâmpadas que convergem na
iluminação de uma dada superfície (fig.8). A
quantidade de luz que será emitida pelas lâmpadas
depende da distância a que se encontram do alvo, do
número de lâmpadas e da potência que cada lâmpada
emite. Isto acontece da mesma forma, quando o
impacto das forças sociais converge num indivíduo. O
impacto total dependerá do número de pessoas que
afectam o indivíduo/alvo, depende da idade, do status
e do poder de cada pessoa e de quão próximas se Fig. 8 - Convergência das forças
sociais
encontram do indivíduo no espaço e no tempo.
Foram feitas experiências sobre o palco que forneceram provas do papel da
potência dos emissores. Se antecipadamente os actores souberem que vão
desempenhar o seu papel no palco e serem observados por pessoas de elevado
estatuto, eles sentem-se mais ansiosos do que á frente de pessoas de baixo estatuto.
Também existem experiências sobre a proximidade: se um actor representar para um
público atento produz mais medo do palco do que se representar para um público que
observa o desempenho do actor num televisor. As experiências do número de
espectadores, também revelam um papel importante. Quanto maior for a maioria
unânime, maior será o conformismo; quanto mais vasto for o público, maior será o
medo do palco. Por exemplo, quanto mais numerosa for a multidão a olhar para o céu,
maior será o número de pessoas que olharam também para o céu. Cada indivíduo
adicional faz aumentar o impacto social, embora proporcionalmente o seu impacto se
vá tornando cada vez menor: acrescentar um individuo a um grupo de dois produzirá
um aumento muito maior em impacto social do que acrescentá-lo a um grupo de oito.
Até agora apenas consideramos os casos em que
a influência social é exercida de muitos para um. E o que
acontecerá quando a influência é exercida sobre mais do
que um alvo? O impacto, que será agora dividido por
todos os alvos, é dispersado: quanto maior for o numero
dos alvos, tanto menor será o impacto social sobre cada
um deles. Mais uma vez, fez-se um estudo sobre o medo
do palco, e provou-se que quando era mais que um
participante a representar ao palco, menos medo sentia
cada participante antes de subir ao palco. (fig.9)
Fig. 9 - Difusão do impacto social
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
Uma dispersão semelhante do impacto social é relevante no caso de uma
emergência. Á medida que o número de espectadores aumenta, a probabilidade de
ajudar era menor, pois nesta situação, a obrigação de ajudar é dispersa por muitos dos
observadores e cada um deles pode perguntar-se “Porquê eu? Porque não os
outros?”.
Existe um fenómeno chamado oportunismo social. Isto acontece quando um
indivíduo trabalha em grupo, numa tarefa comum. Neste caso, cada um esforça-se
muito menos do que se estivesse a trabalhar sozinho. Um exemplo é o jogo da corda.
Um homem sozinho é capaz de exercer uma força média de 62,9kg, ao passo que, num
grupo de oito, cada um exerce uma força média de 30,8kg. Em média cada pessoa
exerceu menos de metade da força que faria se estivesse sozinha.
Fig. 10 - Oportunismo Social
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Manipulação
As alterações comportamentais podem ser
impostas através do exercício do poder. Este tipo de
influência é válido apenas enquanto as contingências
relevantes (recompensa, castigo, informação…)
estiverem em jogo. Para influenciar os indivíduos de
uma forma mais profunda é necessário inclui-los como
cúmplices no processo. Uma alteração consistente no
comportamento dos indivíduos requer a reconfiguração
Fig. 11 - Manipulação
do estado interno do indivíduo – crenças, preferências, objectivos, etc. – a um nível
que preserve a consciência de liberdade e de auto-controlo do indivíduo. Assumindo
que o agente influenciador tem ideias para o alvo que não coincidem com o estado
interno deste, então o agente terá de empregar estratégias para o manipular.
Pesquisas identificaram várias dessas estratégias de manipulação, algumas
relacionadas com a dinâmica das relações interpessoais, outras baseadas em normas
sociais. A seguir explicitamos algumas dessas estratégias.
 Manipulação por afinidade
Quer o assunto seja banal, quer seja de extrema importância, os pedidos são
um meio primário pelo qual os indivíduos procuram a obediência dos outros. “Passasme a salada?” ou “Casas-te comigo?” são alguns exemplos.
Os pedidos são uma interacção com a qual nos deparamos e à qual recorremos
frequentemente nas nossas relações sociais. No entanto, os pedidos são também
importantes no mundo dos negócios, organizações de caridade, partidos políticos e
outras entidades sociais que dependem de contribuições de dinheiro, dedicação ou
tempo por parte dos cidadãos. Estudos feitos por experimentação e observação
permitiram obter uma gama de estratégias para fazer um alvo obedecer ao pedido.
Muitas dessas estratégias baseiam-se no princípio de afinidade – tendência para
obedecer mais facilmente a um agente do qual gostamos.
Investigações extensas suportam a ideia do senso comum de que as afinidades
pessoais motivam a obediência. Desde os profissionais de vendas aos burlões, muitas
estratégias de manipulação baseiam-se na semelhança
entre agente-alvo, no facto de serem conhecidas ou no
facto do alvo gostar do agente. Quando tal afinidade
existe, recorrer a manhas não é um pré-requisito
necessário para obter obediência.
Vejamos, por exemplo, o caso da Tupperware
(fig.12). A Tupperware explorou o poder da amizade de
Fig. 12 - Tupperware
17
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
uma forma sem precedentes. Segundo estudos, em cada 2,7 segundos inicia-se uma
reunião da Tupperware – supondo que estas demoram mais que 2,7 segundos,
podemos afirmar que não existe nenhum momento sem uma. O formato é o seguinte:
um anfitrião convida amigos e familiares para sua casa para participarem numa
reunião onde produtos da Tupperware serão demonstrados por um representante da
companhia. Sabendo que o anfitrião (seu amigo) receberá uma percentagem das
vendas, os indivíduos tendem a comprar os produtos, pois estão a comprar produtos a
um amigo em vez de a um estranho. Neste contexto, investigadores descobriram que
67% dos que compraram fizeram-no por ter sido a um amigo ao contrário de 33% que
o fizeram por preferência de produto.
A afinidade tem mostrado ser um forte indutor de obediência mesmo na
ausência do indivíduo do qual se gosta. É raro o pai que não tenha mandado o filho
vender rifas aos seus amigos (do pai) e aos vizinhos. Neste caso, a criança representa o
pai por quem os amigos e vizinhos sentem afinidade. As potencialidades do princípio
de afinidade podem diminuir pela ausência física do indivíduo do qual se gosta, mas a
alusão a esse indivíduo torna a manipulação mais fácil.
A atracção física representa outra
extensão do princípio de afinidade. Um
estranho dotado de uma boa aparência
está em vantagem em relação a outro não
tão atraente, no que diz respeito à
manipulação (fig.13). Muitas vezes, um
bom penteado torna-se mais relevante na
contratação de um funcionário do que as Fig. 13 - Bonito vs. Feio
suas qualificações, apesar dos empregadores negarem qualquer influência pela
aparência.
Nem a justiça criminal é imune ao poder da atracção física: arguidos bemparecidos são mais bem tratados pelo sistema judicial e normalmente recebem
sentenças mais leves quando são culpados.
Semelhanças entre o agente influenciador e o alvo representam um caso do
princípio de afinidade. Nunca é coincidência quando um vendedor de carros alega ser
da mesma cidade que nós. Os indivíduos tendem a gostar mais daqueles que se
assemelham a eles. Assim, tendem a responder afirmativamente a pedidos feitos pelo
semelhante. O efeito da semelhança abrange uma grande quantidade de aspectos,
aspectos esses que podem ir das opiniões pessoais ao estilo de vida, do contexto
cultural à classe socioeconómica ou até mesmo à postura ou estilo verbal.
Num estudo de Emswiller, Deaux e Willits, averiguou-se a influência da
semelhança na cedência aos pedidos. Numa primeira variante, vestiu-se um indivíduo
18
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
de hippie. Numa segunda variante, vestiu-se um indivíduo de gótico. Estes indivíduos
tinham de pedir a colegas seus de universidade que lhes emprestassem dinheiro para
fazer uma chamada. Registou-se então que os colegas que mais facilmente lhes
emprestavam dinheiro eram os colegas que se vestiam da mesma forma que eles.
Talvez mais básico que a nossa intenção de fazermos algo por quem gostamos é
a nossa necessidade de sermos aceites pelos outros. Receber um feedback positivo por
parte de alguém é altamente reconfortante e fará com que gostemos mais dessa
pessoa. Ou seja, tendemos a gostar dos que gostam de nós. Um exemplo disso é o
elogio. O elogio há muito que é tido como uma técnica de manipulação. Assim, quando
uma pessoa nos elogia, tendemos a obedecer mais facilmente.

Manipulação por escassez
Desde a infância, sempre desejamos aquilo que não
temos, ou que nos faz falta – sejam brinquedos, dinheiro ou
carros novos. Diminuir o fornecimento do petróleo, por
exemplo, aumenta a competição fazendo disparar os preços de
uma forma brutal. Sabe-se que promoções (fig.14) do género
“só até amanhã” ou “em stock limitado” são capazes de gerar
corridas aos supermercados. Podemos pensar que técnicas tão
básicas não nos afectam, mas a tendência humana para ver o
escasso como valioso ou desejável é inegável. Tanto que é
muitas vezes usada como táctica de manipulação.
Fig. 14 - Promoções
“O fruto proibido é o mais apetecido”. Também é verdade que a proibição de
um produto leva ao aumento brutal da sua procura. Por exemplo, a proibição do álcool
em 1920 nos EUA apenas abriu o apetite das pessoas para as bebidas alcoólicas e
promoveu o aparecimento dos speakeasy, estabelecimentos secretos que permitiam
aos mais desfavorecidos o acesso ao álcool. Movimentos anti-pornografia costumam
ter o mesmo efeito, aumentando o interesse por revistas e livros censurados, até por
pessoas que de outra forma não se interessariam por eles. Do mesmo modo, quando a
proibição desaparece, o interesse pelo produto tende a atenuar.
Os exemplos acima sugerem que o valor que um indivíduo dá a um objecto
aumenta em proporção das dificuldades que o indivíduo encontra para obter esse
objecto. As pessoas não gostam de ver a sua liberdade ameaçada, e tornar um objecto
difícil de obter ou proibir uma actividade claramente limitam as opções dos indivíduos
no que diz respeito a essa actividade ou objecto.
Outra explicação centra-se no facto de uma pessoa desejar, simultaneamente,
pertencer a um grupo e destacar-se nesse grupo. Sendo a escassez uma maneira de
centrar a atenção dos indivíduos num objecto, ao desejar um objecto escasso, o
indivíduo sente que está ligado à comunidade, pois partilham ambos o mesmo
19
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
fascínio. Esperar numa fila enorme pelo exemplar mais recente do Harry Potter é uma
experiência aborrecida e irritante, mas ao fazê-lo, o indivíduo sente-se como parte
daquele grupo. Do mesmo modo, se for um dos sortudos que consegue um exemplar
antes que se esgote, o indivíduo sente-se bem pois conseguiu destacar-se do grupo.
Assim, num mundo onde o indivíduo se sente constantemente alienado e
homogeneizado, o objecto escasso é tido como um meio de se integrar no grupo ao
mesmo tempo que é um meio de se destacar no grupo.
 Manipulação através de normas
Como foi referido atrás, muito do comportamento humano é conduzido por
normas. Uma norma muito importante para a manipulação é a norma da
reciprocidade. Esta norma obriga-nos a retribuir o que nos é oferecido por outros. Esta
norma existe em todas as sociedades humanas. A noção de uma obrigação futura
criada por esta norma, promove e mantém as relações pessoais e formais. Muitas
interacções sociais são reguladas por esta norma: os convites e os favores são
retribuídos; enviamos postais de Natal a quem nos envia, etc.
A obrigação social de que “quem recebe deve dar” é bem visível. Mesmo
quando não pedimos os favores ou os presentes (ou mesmo quando não os
queremos), somos sempre compelidos a oferecer algo em troca. A capacidade que os
presentes não requeridos têm de criar uma obrigação de retribuição é bem explorada
por muitas organizações, tanto comerciais como de caridade. Podemos não precisar de
canetas ou porta-chaves, mas é difícil resistir ao pedido de uma “modesta
contribuição”.
A reciprocidade pode ter o efeito secundário de criar afinidade entre quem
oferece e quem recebe., mas a norma pode ser aplicada com sucesso sem que se
recorra ao princípio de afinidade. No entanto, o afecto importa quando o receptor não
segue a norma. A não reciprocidade pode estragar a relação de troca e pode resultar
em má reputação para o receptor (ex. ingrato) que o pode marcar em transacções
futuras. Mais impressionante ainda, são os sentimentos negativos criados quando a
norma da reciprocidade é violada no sentido contrário. Pode-se pensar que alguém
que oferece mas que não aceita nada em troca é generoso ou altruísta (e por vezes
também ingénuo). Mas, sob determinadas circunstâncias, a pessoa pode ser mal vista
por ter violado uma regra de etiqueta.
A cooperação é uma manifestação interessante do princípio da reciprocidade.
Assim, a cooperação tende a gerar cooperação em troca e pode também promover a
obediência a pedidos subsequentes. Esta noção é tida em conta pelos vendedores de
carros, que alegam estar do mesmo lado do cliente, numa luta pela redução do preço
conta o director de vendas. Apesar de ser curta a aliança, o cliente sente-se obrigado a
cooperar com o vendedor, e então comprar o carro.
Uma forma de manipulação relacionada com a reciprocidade é o uso da
cedência. A estratégia é fazer um pedido que certamente será negado. Depois de
20
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
negado o primeiro pedido, o agente lança um pedido mais sensato. Com efeito, o
agente está a fazer uma cedência relativa ao seu pedido. Assim, o sujeito vai-se sentir
obrigado a ceder também. Um estudo de Cialdini et al., mostra esta técnica, conhecida
como a técnica da porta na cara. Fazendo-se passar por uma equipa de reabilitação de
jovens, aproximaram-se de estudantes universitários e pediram-lhes que guiassem um
grupo de jovens delinquentes pelo zoo durante 2 horas. 83% dos estudantes
recusaram. No entanto, Cialdini et al. resolveram utilizar a técnica da porta na cara.
Assim, fizeram primeiro um pedido muito menos sensato – passar 2h por semana com
os jovens delinquentes, sendo os seus acompanhantes de reabilitação. Como é de
esperar, 100% dos estudantes recusaram. Depois deste pedido, uma pequena visita ao
zoo parecia muito mais aceitável, e então apenas 50% dos alunos recusaram.
Outra técnica apoiada na reciprocidade, a técnica do isso não é tudo, é também
muito familiar entre vendedores. Esta técnica envolve o seguinte: o vendedor faz uma
proposta e depois, antes que o ciente responda, faz uma proposta ainda melhor. O
vendedor remata o preço de um televisor, e enquanto o cliente séptico pensa se aceita
ou não, o vendedor sai-se com um “e isso não é tudo – se comprar hoje ainda leva este
leitor de DVD de oferta”. Pesquisas confirmam que esta técnica cria no cliente a
obrigação de ceder uma vez que o vendedor, aparentemente, também cedeu.
Apesar de normalmente não ser tido como uma norma social, o compromisso é
outra norma que pode influenciar o comportamento tão bem como a reciprocidade.
Depois do indivíduo se ter comprometido com uma ideia ou linha de acção, é muito
difícil para ele mudar de ideias ou agir de forma contrária ao que se comprometeu. A
força do compromisso não deriva só na raiva e desapontamento que a sua ruptura
poderia gerar noutrem, mas também do simples desejo de agir coerentemente
segundo um ponto de vista. O compromisso que é expresso em público, quer seja em
frente de uma multidão ou de apenas um indivíduo, é especialmente eficaz a bloquear
opções e promessas, tornando o compromisso resistente à mudança, mesmo na
presença de boas razões para se reconsiderar.
Os agentes influenciadores usam esta tendência nobre para atingir os seus
objectivos, por vezes não tão nobres. Muitas técnicas específicas foram observadas em
cenários do mundo real. A mais conhecida destas técnicas é a técnica do pé na porta,
que é basicamente o espelho da técnica da porta na cara. Em vez de começar com um
grande pedido e depois, aparentemente, reduzir para um mais pequeno, o pé na porta
consiste em começar com um pedido que dificilmente é recusado. Após estabelecer
um compromisso com este pedido, o agente influenciador sobe na escala e faz então
um pedido mais custoso concordante com o pedido inicial. Por causa do compromisso
estabelecido, torna-se difícil ao alvo resistir. Num estudo, várias donas de casa foram
contactadas e foi-lhes feito um pedido ao qual a maioria (78%) recusou: permitir uma
equipa de 6 homens de uma determinada companhia entrar em sua casa durante 2
horas para “numerar e classificar todos os seus produtos de limpeza”. Outro grupo de
21
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
donas de casa foi confrontado com um pedido muito menos inconveniente –
simplesmente responder a uma série de perguntas sobre os seus produtos e limpeza
(ex. “Qual a marca do seu detergente da roupa?”). Quase todas obedeceram a este
pedido. Este grupo de mulheres foi contactado três dias depois, mas desta vez com o
pedido da visita à casa. Neste caso 52% das mulheres obedeceu, deixando uma equipa
de 6 homens vasculhar as suas gavetas e armários. O processo do compromisso
relativo a esta táctica vai muito para além da preocupação de manter a consistência da
acção por si. Também envolve o auto-conceito relativo aos valores salientados pela
acção. Neste caso, as mulheres que acederam ao primeiro pedido vêem-se como úteis
e prestáveis. Para manter a consistência desta imagem, as mulheres sentem-se
obrigadas a obedecer ao segundo pedido.
A técnica do pé na porta tem o poder de influenciar os pensamentos e os
comportamentos dos indivíduos muito depois da técnica ter sido usada. Um exemplo
disso foi a abordagem dos militares chineses aos prisioneiros americanos de guerra
capturados durante a Guerra da Coreia. É pedido a um prisioneiro, abordado
individualmente, que concorde com frases ligeiras do género “Os EUA não são
perfeitos”. Depois de concordar com frases anti-americanas de menos grau, é-lhe
pedido que explique por que é que os EUA não são perfeitos. Isto, por sua vez, pode
ser seguido por um pedido para fazer uma lista dos “problemas dos EUA” que ele
identificou, os quais são esperados que ele assine. Os chineses puderam então incluir
as declarações dos prisioneiros em transmissões anti-americanas. Como consequência
desta evolução que começou com uma simples declaração anti-americana, alguns
prisioneiros rotularam-se como colaboradores, agindo de maneiro coerente com a sua
auto-imagem.
O compromisso fornece ainda outra
táctica conhecida como lançamento de uma
bola baixa, que é muitas vezes utilizada por
vendedores para dominarem os clientes nas
negociações de preço. Os vendedores de
carros (fig.15), por exemplo, seduzirão os
clientes a comprar um determinado carro
oferecendo um preço atraente. De forma a Fig. 15 - Stand automóvel
maximizar o compromisso com o cliente, o vendedor pode dispor ao cliente um bom
financiamento bancário ou mesmo deixar o cliente levar o carro para casa durante a
noite. No entanto, mesmo antes de assinarem o contracto final, algo acontece e tem
de se mudar o preço ou alguns parâmetros do contracto (são dadas desculpas do
género “houve um erro de cálculo no departamento de finanças” ou “o gerente não
permite este contracto pois a companhia perderia dinheiro com isso”). Apesar de
pensarmos que o cliente recuaria, a maioria não o faz. É como se com o compromisso
inicial, o cliente se sentisse ligado ao objecto como se já fosse seu, não se mostrando
disponível a não o ter.
22
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
Esta técnica não se aplica apenas à economia. Um estudo feito com estudantes
de universidade prova isso mesmo. Um grupo de estudantes foi contactado por uma
equipa de investigadores para um teste aos “processos do pensamento” que
começaria às sete horas da manhã. Por isto significar levantar antes do amanhecer, a
maioria (76%) não aceitou. A outro grupo de estudantes foi feito o mesmo pedido, mas
os investigadores “lançaram uma bola baixa”, ao não mencionarem que o teste seria
às sete da manhã. Assim, a maioria (54%) já aceitou. Só depois de aceitarem o pedido
(comprometendo-se) é que foram informados que o teste se iria realizar às sete. Após
esta informação, nenhum dos estudantes recuou na sua decisão, mantendo-se fiéis ao
compromisso. Depois de se estabelecer o compromisso, mesmo que novos dados
sejam adicionados e requeiram algum sacrifício, o indivíduo mantém-se fiel ao
compromisso.
Outra técnica parecida coma anterior é a técnica do engodo alterado. Enquanto
que a bola baixa troca as regras do compromisso, nesta técnica a oferta atraente é
trocada por uma oferta que beneficia o vendedor e a qual é aceite pelo cliente. Mais
uma vez, esta técnica é muito usada por vendedores de carros. Eles atraem o cliente
ao stand com uma oferta publicitária de um carro a um preço baixo. Gastar tempo na
viagem ao stand constitui um compromisso em comprar um carro. Quando chega ao
stand, o cliente é confrontado com o vendedor alegando que todos os modelos a
preço baixo foram vendidos ou que o carro não vem com as características pretendidas
pelo cliente. Devido ao seu compromisso de comprar um carro, o cliente é tentado a
ver outros modelos, mais caros (apesar de não ter sido esse o propósito da viagem).
23
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Liderança
A liderança é o exemplo mais importante das interacções de um para muitos.
Este efeito é quando um indivíduo exerce a sua influência num elevado número de
pessoas.
A liderança ocorre numa multiplicidade de contextos sociais, como a politica, as
forças armadas, os negócios, os meios académicos, as equipas desportivas, os clubes
sociais, e até a família. Uma diferença que existe é o tamanho do grupo que é liderado:
pode ser um grupo imenso ou pode ser um grupo bastante pequeno. A outra diferença
diz respeito á autoridade do líder, e se ele tenta influenciar directamente os
seguidores, ou se exerce a sua influência através de um grupo especial de
subordinados leais.

Pessoa vs. Situação
Grande parte da História foi
criada por indivíduo excepcionais
que para o melhor ou para o pior,
determinaram o curso dos
acontecimentos da Humanidade.
Os preponentes desta Teoria da
pessoa
formidável
citam
frequentemente
Napoleão
Bonaparte., descrevendo-o como
um génio político e militar cuja
mente brilhante e vontade Fig. 16 - Pessoa (B) ou Situação (A)?
indomável esmagaram a oposição durante duas décadas. Mas será que Napoleão teria
sido um grande líder sem as circunstâncias em que se desenvolveu. Muitos autores
defendem que Napoleão foi quem foi devido às circunstâncias: a inépcia dos generais
que se lhe opunham, o zelo dos soldados franceses, e a grandeza dos exércitos
franceses.
A mesma controvérsia surgiu na discussão de muitos outros acontecimentos
históricos: teria havido Revolução Bolchevista se Vladimir Lenin tivesse permanecido
no exílio?; teriam as mulheres americanas adquirido o direito ao voto sem os esforços
pioneiros de Susan B. Anthony? Estas questões resumem-se no seguinte: devemos
atribuir as acções de uma pessoa às suas qualidades disposicionais ou à situação?
Posto de outro modo, a questão é a de saber se todos – ou a maioria – dos líderes bem
sucedidos têm em comum alguma qualidade pessoal.
Para determinar se de facto existem as tais qualidades de liderança, os
psicólogos sociais têm tentado relacionar as características pessoais dos membros do
grupo com o grau em que são percebidos como líderes e o seu grau de eficiência nesse
24
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
papel. Os psicólogos estudam, então, a percepção e o desempenho dos líderes. Nestes
estudos, é apresentada a um grupo de quatro a seis pessoas uma tarefa comum que
deverá ser levada a cabo mediante discussão. Assim, diz-se aos participantes que são
exploradores perdidos a duzentos milhas da base. Para regressar, terão de se livrar de
algum equipamento. Cada indivíduo faz uma lista do equipamento pela ordem que
pode ser dispensado. Depois têm de confrontar o grupo com essa lista. No final devem
ter uma lista consensual. Para avaliar a percepção de liderança, cada membro é
avaliado pelos outros em relação ao grau com que influenciou o grupo. Para avaliar o
desempenho compara-se a lista inicial de cada indivíduo com a do grupo: a semelhança
entre as listas é tida como medida da eficiência da liderança.
Seguidamente vê-se se a percepção de liderança e o desempenho de liderança
estão relacionados com alguma outra característica pessoal do indivíduo. Estudos
feitos revelam que, de facto, existe esta relação. Assim, as pessoas que são percebidas
como lideres tendem a ser mais inteligentes, mais sociáveis e com mais ascendência
do que as outras. Mas, no geral, o papel da situação parece ser tão importante como
as características pessoais do líder.
Então coloca-se a seguinte questão: quais as situações que favorecem a
eficiência do líder? As situações mais favoráveis são aquelas em que o líder tem uma
autoridade considerável, a tarefa a ser realizada é bem definida, e os membros do
grupo dão-se bem uns com os outros e, obviamente, com o próprio líder. Quando uma
destas condições não se verifica, a situação é desfavorável.
No entanto surge uma complicação: um líder que é eficiente com um grupo,
pode não o ser com outro. Isto verifica-se especialmente quando os grupos têm
propósitos diferentes. As qualidades de liderança numa reunião de direcção de uma
empresa são muito diferentes das necessárias a um líder de escoteiros, por exemplo.
Esta complicação sugere, então, que haja uma combinação adequada entre as
características do líder e a situação em que se insere.
 Líderes da História
 Alexandre, o Grande
Um dos primeiros grandes líderes
da História foi Alexandre III da
Macedónia,
mais
conhecido
por
Alexandre, o Grande. Liderou as tropas
gregas, tornando-se o mais conquistador
célebre conquistador do mundo antigo.
Na sua juventude, teve como mentor o
filósofo Aristóteles. Tornou-se rei aos
vinte anos, na sequência do assassinato
do seu pai. Os seus feitos são muito
Fig. 17 - Alexandre, o Grande
25
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
famosos: conquistou um império que ia dos Balcãs à Índia, incluindo também o Egipto
e a Báctria (aproximadamente o actual Afeganistão). Este império era o maior e mais
rico que tinha existido até então.
Existem várias razões para esses grandes êxitos militares. Um delas reside no
facto de Alexandre ser um general de extraordinária habilidade e sagacidade, talvez o
melhor de todos os tempos: nunca perdeu uma batalha e a expansão territorial que
ele proporcionou é uma das maiores da história e é a maior expansão territorial num
período tão curto de tempo. Além disso era um homem de muita coragem pessoal.
Mas muitos historiadores também se questionam se teria ele sido o Grande se a
situação fosse diferente: se não fosse filho do rei; se o exército não fosse tão
poderoso, etc.
 Napoleão Bonaparte
Outro grande líder já referido foi Napoleão
Bonaparte. Napoleão foi o imperador do Império
Francês durante o início do século XIX. Também
conquistou grande parte da Europa central e
ocidental. As leis do seu governo nos territórios
francos foram fortemente influenciadas pela
noção de democracia da Grécia Antiga.
Napoleão Bonaparte tornou-se uma figura
importante no cenário político mundial da época,
já que esteve no poder da França durante 16 anos
e nesse tempo conquistou grandes partes do
continente europeu. Os biógrafos afirmam que
seu sucesso deu-se devido ao seu talento como
estratega, ao seu talento para empolgar os
soldados com promessas de riqueza e glória após
vencidas as batalhas, além do seu espírito de
liderança.
Mas, coloca-se novamente a questão: teria Fig. 18 - Napoleão Bonaparte
Napoleão sido um grande líder em circunstâncias diferentes?
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência

Adolf Hitler
Para além de um grande líder, Adolf
Hitler foi também um grande manipulador.
Líder do partido Nazi, Hitler tornou-se
chanceler e, posteriormente, ditador da
Alemanha. Dono de um racismo e de um
anti-semitismo brutal, Hitler conduziu a
História para um dos seus períodos mais
negros, o Holocausto. Neste período, os
soldados de Hitler perseguiram as minorias
consideradas indesejadas – tais como
Testemunhas de Jeová, eslavos, polacos,
ciganos, homossexuais, deficientes físicos e
mentais, e, sobretudo, judeus. A maioria dos
perseguidos eram mortos a tiro ou em
câmaras de gás. Outra parte deles era usada
em experiências médicas e militares. Através
das suas capacidades manipuladoras,
Fig. 19 - Adolf Hitler
consegui levar milhares de militares alemães
à obediência acrítica.
Hitler liderou a Alemanha no período da Segunda Guerra Mundial. Juntamente
com a Itália e o Japão, formando o Eixo, lutaram contra os Aliados. Tendo percebido
que perdera a Guerra quando os soldados soviéticos combatiam as defesas do seu
quartel-general, Hitler suicidou-se a 30 de Abril de 1945. Segundo testemunhas, Hitler
já admitira que perdera a guerra a 22 de Abril, e já nessa altura tinha pensamentos
suicidas.
27
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Comportamento da multidão
Agora vamo-nos voltar para uma categoria de interacções sociais em que a
relação é de muitos com muitos: são interacções grupais de um certo número de
pessoas que interage com um certo número de outras pessoas, simultaneamente. Em
certas circunstâncias, as pessoas em multidão comportam-se de maneira diferente,
relativamente à maneira como se comportaria se estivessem sozinhas. Nos casos em
que a multidão pretende fazer justiça por suas próprias mãos, as pessoas podem-se
mostrar agressivas, mas este comportamento seria inconcebível se estivessem
isoladas. Num auditório completamente cheio de pessoas, estas ficariam assustadas e
frenéticas se alguém gritasse “Fogo!”.
Que influência tem a multidão no individuo, que o leva a agir de modo tão
diferente do seu habitual?
 Desindividuação
Segundo a teoria de Le Bon, as pessoas em multidão tornam-se selvagens,
estúpidas e irracionais, permitindo a emergência de impulsos primitivos que
habitualmente se encontram reprimidos. Em multidão, as emoções de cada pessoa
espalham-se como uma espécie de contágio, e espalha-se mais quanto maior o
número de membros dessa multidão. Assim, o medo transforma-se em pânico e a
hostilidade em raiva assassina, e os membros da multidão tornam-se selvagens.
Os psicólogos sociais tentaram traduzir estas ideias em termos
modernos. A melhor maneira para explicar o comportamento da multidão é a
desindividuação, um estado em que um indivíduo num grupo perde a consciência de si
próprio enquanto indivíduo autónomo. Isto acontece mais quando existe um elevado
nível de activação fisiológica e anonimato. A desindividuação tende a desinibir as
acções impulsivas que se encontram habitualmente sob controlo. Os impulsos que são
activados dependem do grupo e da situação. Por exemplo, no Carnaval, os foliões
juntar-se-ão em festas loucas; uma multidão entrará em pânico se houver fogo num
teatro; etc.
Estudou-se um efeito, designado por efeito do anonimato nas crianças que
estavam mascaradas a brincar ao Dia das Bruxas. Este efeito serviu para estudar a
desindividuação. Algumas crianças vinham sozinhas, outras vinham em grupo. A umas,
os donos das casas que visitavam perguntavam os nomes, a outras nada se
perguntava. Todas as crianças tiveram a oportunidade de roubar dinheiro ou doces, na
altura em que o dono deixava a sala vazia. O roubo foi muito mais frequente quando
as crianças visitavam as casas em grupo e quando permaneciam no anonimato. Assim,
um aumento em actos imorais pode ter ocorrido porque o anonimato fez com que a
criança tomasse menos consciência de si própria enquanto indivíduo autónomo,
28
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
devido à desindividuação da criança, com resultado na desinibição do impulso para
cometer pequenos furtos.
 Os factores cognitivos e a multidão em pânico
O pânico demonstra que as pessoas em grupo, por vezes, têm
comportamentos, de um modo que acarreta consequências desastrosas que ninguém
previa ou desejaria. Isto mostra que o comportamento da multidão é desadaptado.
Vários psicólogos sociais consideram que cada elemento do grupo da multidão não
agiu irracionalmente. Em certas situações, como incêndios em salas cheias de pessoas,
a melhor opção para os participantes só é possível, se houver confiança unânime num
comportamento de cooperação. Se não existir esta confiança, cada pessoa fará o
melhor que puder, dados os motivos e as expectativas do que os outros farão. Assim,
todos correrão para a saída, a tentar sair primeiro que os outros. O pior é que todos
pensam o mesmo, e assim, chegarão todos à saída ao mesmo tempo, obstruindo-a.
Isto resultará num fim trágico para todos.
De acordo com esta interpretação, o medo intenso não produz pânico na
multidão. O que interessa são as crenças das pessoas acerca das vias de fuga. Se
pensam que essas vias estão desimpedidas e facilmente acessíveis, não fugirão logo. O
pânico não se desenvolverá tanto se se pensar que todas as vias de fuga estão
completamente bloqueadas, como num desmoronamento de uma mina, por exemplo.
Tais desastres podem levar ao terror ou ao colapso apático; mas não se registará o
caos que caracteriza uma multidão em pânico. Para que o pânico ocorra, as vias de
fuga têm de ser limitadas ou fechadas. Nesta situação, cada individuo pensa que se for
o primeiro a sair, escapará primeiro que os outros. Se todos os indivíduos pensarem
assim, o pânico ocorre na multidão.
 O dilema do prisioneiro
Consideremos dois homens presos por suspeita de roubo a um banco. A
promotora pública precisa de uma confissão para garantir a condenação. Ela inventa
um plano diabólico e fala com cada um dos prisioneiros, separadamente, e dá uma
escolha simples a cada um - confessar ou manter-se calado. Mas também diz que as
consequências dependerão, não apenas da sua escolha, mas também da escolha do
seu companheiro. Se ambos confessarem, ela recomendará uma sentença intermédia
de, por exemplo, oito anos de prisão. Se nenhum confessar, ela não conseguirá julgálos por roubo, mas acusá-los-á de um crime menor, que é a posse ilegal de arma, e
ambos apanharão um ano de prisão. Mas se um confessar e o outro não, cada um será
tratado de maneira muto diferente. O que confessar, fornece provas ao Estado e terá a
sentença suspensa e não irá para a prisão. Ao contrário, aquele que se mantiver calado
sentirá a força total da lei. Assim, ela recomendará a pena de prisão de vinte anos.
29
Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
Existem quatro
combinações possíveis
do que os prisioneiros
podem fazer (tab. 1).
Cada um dos quatro
conjuntos de decisões,
têm uma consequência
diferente para cada um Tabela 1
dos prisioneiros. Este conjunto de decisões associadas a cada um dá a chamada matriz
de ganhos e perdas.
Dada esta matriz de ganhos e de perdas, se os prisioneiros permanecerem
calados, as consequências para ambos são favoráveis. Mas como pode um ter a
certeza de que o companheiro não o trai? Se um prisioneiro mantém silêncio, e o
outro conta tudo, este fica melhor do que ficaria se ambos se mantivessem calados e
livra-se totalmente da prisão, ao contrário do outro que se manteve calado, que
apanha 20 anos de prisão. E se cada um dos prisioneiros pensar que o outro não
confessará? O melhor palpite é o de que ambos decidirão que é demasiado arriscado
confiar no outro, pois ambos saberão que o outro sentir-se-á muito tentado a
confessar. Assim, nenhum arriscará, e ambos desertarão do bem comum e
confessarão. A promotora pública condena aos dois prisioneiros a 8 anos de prisão.
Mas, o comportamento do prisioneiro é desajustado, pois o resultado está
longe de ser óptimo para cada um. Isto não significa que cada um não tenha um
comportamento irracional. Pelo contrário, cada um teve um comportamento racional,
se considerarmos que nenhum poderia ter a certeza de como iria decidir o parceiro.
Cada indivíduo agiu tão racionalmente quanto possível, mas o resultado para ambos
foi insatisfatório. No melhor para eles, teriam podido confiar um no outro, e ficariam
em silêncio. Assim ficavam na prisão por um período de tempo muito mais curto.
 O dilema do prisioneiro e o pânico
A lógica subjacente ao dilema do prisioneiro aplica-se a várias interacções
sociais cuja matriz de ganhos e perdas é formalmente análoga. Isto relaciona-se com o
pânico. Nesta situação há mais de dois participantes, mas os ingredientes são os
mesmos. Numa sala em chamas, cada indivíduo tem duas escolhas – passar á frente
dos outros, ou esperar pela sua vez para chegar á saída. As consequências prováveis
dessas escolhas dependem, tal como na situação dos prisioneiros, do que os outros
façam, especialmente os que estão perto. Se um individuo se precipitar para a saída e
se os outros fizerem o mesmo, todos sofrerão provavelmente ferimentos severos e um
certo risco de perigo de vida. Se cada um esperar pela sua vez, o resultado será
melhor: provavelmente todos escaparão, apesar de sofrerem alguns ferimentos. O
melhor resultado para o indivíduo é obtido se ele passar os outros e não esperar pela
sua vez, enquanto os outros saem calmamente da sala. Nesta situação ele escapará
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
sem um arranhão, mas
a probabilidade de os
outros
escaparem
diminuirá.
Se,
a
situação se invertesse,
onde
o
indivíduo
espera pela sua vez,
enquanto toda a gente
corre para sair, estes
podem muito bem sair Tabela 2
sem ferimentos, mas aquele que esperou pela sua vez, poderá mesmo morrer. Este
conjunto de decisões e resultados a ele associados representam outra versão do
dilema do prisioneiro, que se mostra noutra matriz de perdas e ganhos (tab. 2).
De acordo com a matriz, a maioria das pessoas optará por passar á frente e não
por esperar a sua vez. Tal como no caso dos prisioneiros, esta situação é desajustada,
mas para o ponto de vista de cada indivíduo é bastante racional, infelizmente.
O modelo de pânico apenas se aplica se certos requisitos forem satisfeitos. O
perigo tem de parecer suficientemente sério e os caminhos de fuga têm de parecer
limitados. Outro factor é o da força de certas inibições sociais. A maioria de nós foi
socializada de modo a comportar-se com algum respeito pelos outros; passar á frente
dos outros e não esperar pela sua vez é reprovado socialmente e é uma acção marcada
por valores negativos. O peso deste factor também depende da situação: se o fogo não
for ainda grande, o embaraço do comportamento descortês, ou seja agir de uma forma
desajustada, passando a vez dos outros, pode pesar mais do que o medo de ser o
ultimo a fugir. Se assim for, a matriz de ganhos e de perdas não será a do dilema do
prisioneiro e não haverá qualquer pânico.
 Dilemas sociais
No clássico dilema do prisioneiro, apenas dois criminosos fazem a sua escolha.
No entanto, o dilema pode ser ampliado de modo a incluir qualquer número de
indivíduos, tal como o cenário de pânico ilustra, e cada um dos indivíduos tem de
tomar a decisão de cooperar ou de se furtar á cooperação. Assim, o dilema do
prisioneiro e a sua estrutura de ganhos e perdas pode ser aplicado a muitos temas
económicos e sociais.
Vamos considerar os dilemas sociais colocados pela poluição industrial. Por
exemplo, dez companhias produzem vários brinquedos de plásticos, onde o processo
de fabrico gera gases sulfúreos, responsáveis pela poluição. Puderam ser instalados
dispositivos antipoluição para remover o enxofre. Mas estes dispositivos são
dispendiosos. Nesta situação, o que poderão fazer as companhias? Se os dez
fabricantes fizerem a mesma escolha, ambientalmente correcta, nenhum dos
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
fabricantes terá uma vantagem no preço do fabrico, e a
qualidade da água e do ar manter-se-ão inalteráveis. Se
todos tentarem cuidar de si próprios e não dispusessem
dos dispositivos antipoluição, nenhum obterá qualquer
vantagem no preço do fabrico, mas o meio ambiente terá
consequências e degradar-se-á. Se se pudesse contar
com nove dos fabricantes a tomarem a iniciativa de
obterem dispositivos antipoluição, e um dos produtores
a negligenciar a colocação dos dispositivos, este último
teria vantagens competitivas no preço do fabrico e
apenas degradaria a qualidade do ar e da água
ligeiramente. Mas se o caso invertesse, ou seja, todos
preferiam ignorar a colocação dos dispositivos e só um Fig. 20 - Dilemas sociais
tomaria a opção ambientalmente correcta, então o produtor de brinquedos de
elevados custos ficará provavelmente excluído do negocio dos brinquedos.
Hoje em dia, enfrentamos dilemas sociais em muitas áreas,
principalmente a poluição industrial, a desflorestação e a exaustão das reservas
energéticas. Para podermos encorajar os indivíduos a tomarem as decisões
socialmente benéficas, teríamos de alterar a matriz de ganhos e perdas para criar um
enviesamento. A promotora pública optou por isto, para encorajar os prisioneiros a
“mandar a lealdade às urtigas”. No caso dos dilemas sociais, nós podemos alterar a
matriz de perdas e ganhos aplicando penalizações, como impostos ou multas aos
indivíduos ou companhias que poluem, ou podemos potencializar o apelo do
comportamento altruísta através da educação. Muitos cientistas sociais têm sugerido
estratégias mais eficazes para a melhoria dos dilemas sociais: o ensino dos benefícios
últimos da cooperação, garantir a comunicação livre entre os indivíduos e aumentar a
nossa confiança de que os outros não nos exploram.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
o Inconformismo e Desobediência
As sociedades em geral, e os grupos sociais que as constituem, procuram
manter a sua coesão através do respeito pelas normas e regras vigentes. O desvio à
norma e a desobediência às regras são objecto de censura social, que se manifesta
através de críticas e sanções.
Contudo, a história da Humanidade testemunha que as mudanças a todos os
níveis são desencadeadas por concepções, atitudes e comportamentos que não
respeitaram o que socialmente era estabelecido como correcto e desejável. Os
exemplos não nos faltam ao nível da actividade económica, política (as revoluções, por
exemplo), tecnologia, científica, cultural.
Pode-se definir inconformismo como a adopção de concepções, atitudes e
comportamentos que não correspondem às expectativas do grupo. As pessoas em que
a pertença ao grupo constitui uma parte importante do seu autoconceito têm mais
probabilidade de se conformarem; se a pertença ao grupo não tiver essa importância,
é menos provável submeterem-se às normas do grupo com que não concordam.
As pessoas que adoptam atitudes inconformistas são, frequentemente, objecto
de crítica social, que pode ir desde o sarcasmo à sanção ou mesmo à marginalização. O
desvio e a desobediência são encarados como desagregadores da ordem social e são
tão mais criticados e reprimidos, quanto mais importante for, para o grupo social, a
norma desrespeitada.
 Inconformistas da História
 Sócrates
Sócrates foi um filósofo ateniense, um dos
mais importantes ícones da tradição filosófica
ocidental, e um dos fundadores da actual Filosofia
Ocidental. Alguns historiadores afirmam só se poder
falar de Sócrates como um personagem de Platão,
por ele nunca ter deixado nada escrito de sua
própria autoria. Os diálogos de Platão retratam
Sócrates como mestre que se recusa a ter
discípulos, e um homem piedoso que foi executado
por impiedade.
Se algo pode ser dito sobre as ideias de
Sócrates,
é
que
ele
foi
moralmente,
intelectualmente e filosoficamente diferente dos
seus contemporâneos atenienses. Sócrates defendia Fig. 21 - Sócrates
a maiêutica. Esta funcionava a partir de dois momentos essenciais: um primeiro em
que Sócrates levava os seus interlocutores a pôr em causa as suas próprias concepções
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
e teorias acerca de algum assunto; e um segundo momento em que conduzia os
interlocutores a uma nova perspectiva acerca do tema em abordagem. Daí que a
maiêutica consistisse num autêntico parto de ideias pois, mediante o questionamento
dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar em causa os seus "preconceitos"
acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em
discussão.
Impondo-se contra os ideais da altura, Sócrates foi julgado por heresia e por
corromper a juventude. Sócrates admitiu que poderia
ter evitado sua condenação (beber o veneno
chamado cicuta) se tivesse desistido da vida justa.
 Jesus Cristo
Se pensarmos na História da Humanidade, um
dos indivíduos mais marcantes de sempre foi Jesus
Cristo. Fundador da Cristandade, Jesus lutou contra
todos na defesa daquilo em que acreditava.
Espalhando a palavra de Deus pela Palestina, acabou
por ser condenado. Por representar um
desagregador da ordem social, foi condenado pelos
romanos e pregado na cruz.
Os seus feitos foram brilhantes e fizeram com Fig. 22 - Jesus Cristo
que fosse considerado um herói. A sua história é a base da doutrina Cristã, a doutrina
com mais seguidores de sempre.
 Galileu Galilei
Galileu
Galilei
foi
um
físico,
matemático, astrónomo e filósofo italiano que
teve um papel preponderante na chamada
Revolução Científica. A principal contribuição
de Galileu foi para o método científico, pois a
ciência
assentava
numa
metodologia
aristotélica. O método empírico, defendido por
Galileu, constitui um corte com o método
aristotélico mais abstracto utilizado nessa
época. Devido a este Galileu é considerado
como o "pai da ciência moderna".
No entanto, devido ao melhoramento
do telescópio, Galileu descobriu as manchas
solares, as montanhas da Lua, as fases de
Fig. 23 - Galileu Galilei
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Psicologia B
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Vénus, quatro dos satélites de Júpiter, os anéis de Saturno, algumas estrelas da Via
Láctea. Estas descobertas contribuíram decisivamente na defesa do heliocentrismo. Ao
provar a Teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico, foi contra o princípio geocêntrico
defendido pela doutrina Cristã. Galileu acabou, assim, condenado por desobediência e
por proferir conteúdos contra a doutrina católica.
 Charles Darwin
Conhecido por muitos como o “pai da biologia
moderna”, Charles Darwin foi um naturalista britânico
que marcou o seu nome na História por ter
desenvolvido a teoria da evolução das espécies, por
meio da Selecção Natural. O livro que explica isto, “A
Origem das Espécies”, foi desenvolvido durante a sua
viagem de cinco anos a bordo do Beagle.
Consciente de que outros antes dele tinham
sido severamente punidos por sugerir ideias como
aquela, Darwin confiou-as apenas a amigos próximos e
continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis
objecções.
Em 1859 decide então publicar “A Origem das Fig. 25 - Charles Darwin
Espécies”. O livro de Darwin iniciou uma controvérsia pública que ele acompanhou
atentamente, obtendo cortes de jornais de milhares de
resenhas, críticas, artigos, sátiras, paródias e caricaturas.
Críticos foram rápidos em apontar as implicações não
discutidas no livro de que os "homens fossem descendentes
de macacos". Sendo que a sua teoria ia contra o Princípio da
Criação defendido pela Igreja, esta também se opôs a
Darwin.
Apesar de todas estas divergências, hoje a teoria de
Darwin representa a base da biologia, e sem ela muitos dos
avanços não teriam sido possíveis.
Fig. 24 - Caricatura de Darwin
 Mahatma Gandhi
Fundador do moderno Estado indiano, Gandhi foi
também o maior defensor do Satyagraha (princípio da nãoagressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de
revolução. Após a guerra, Gandhi envolveu-se com o movimento
pela independência da Índia. Ganhou notoriedade internacional
Fig. 26 - Mahatma Gandhi
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pela sua política de desobediência civil e pelo uso do jejum como forma de protesto.
Por esses motivos sua prisão foi decretada diversas vezes pelas autoridades britânicas,
prisões às quais sempre se seguiram protestos pela sua libertação. Outra estratégia
eficiente de Gandhi pela independência foi a política do swadeshi - o boicote a todos
os produtos importados, especialmente os produzidos na Inglaterra.
 Nelson Mandela
Nelson Mandela é um advogado, ex-rebelde
e ex-presidente da África do Sul. É também o
principal representante do movimento antiapartheid. O apartheid negava aos negros (maioria
da população) direitos políticos, sociais e
económicos.
Em Agosto de 1962, Nelson Mandela foi
preso e sentenciado a 5 anos de prisão por viajar
ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Em 2 de
Junho de 1967 foi sentenciado novamente, desta
vez a prisão perpétua (escapando de uma pena de
enforcamento), por planear acções armadas, em
particular sabotagem (o que Mandela admite) e Fig. 27 - Nelson Mandela
conspiração para ajudar outros países a invadir a África do Sul (o que Mandela nega).
No decorrer dos vinte e seis anos seguintes, Mandela tornou-se de tal modo associado
à oposição ao apartheid que o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou bandeira
de todas as campanhas e grupos anti-apartheid em todo o mundo.
Recusando trocar uma liberdade condicional pela recusa em cessar o incentivo
à luta armada, Mandela continuou na prisão até Fevereiro de 1990, quando a
campanha do ANC (partido que lutava pelo direito dos negros e ao qual Mandela
pertencia) e a pressão internacional conseguiram que ele fosse libertado em 11 de
Fevereiro.
Em 1993, recebeu o Nobel da Paz, pelos esforços desenvolvidos no sentido de
acabar com a segregação racial. Em Maio de 1994, tornou-se ele próprio o presidente
da África do Sul, naquelas que foram as primeiras eleições multirraciais do país.
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Psicologia B
Normalização, Conformismo e Obediência
Conclusão
Ao desenvolvermos o trabalho e a pesquisa sobre este tema, compreendemos
os processos e razões que levam um indivíduo a conformar-se ou a obedecer. Ao
percebermos melhor esses processos, podemos concluir, por exemplo, que a
obediência deve ser crítica e que devemos estar mais atentos a tentativas de
manipulação. Assim, ao conhecermos estas técnicas e processos, podemos então
combatê-los, ou seja, permanecermos mais resistentes a eles.
Assistimos também a exemplos de grandes homens que provaram ser mais
fortes que as forças sociais e que, assim, lutaram contra tudo e todos, gravando o seu
nome na História. Estes homens são exemplos a seguir de como mantendo-nos fiéis
aos nossos princípios, podemos chegar longe.
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Normalização, Conformismo e Obediência
Bibliografia e Webgrafia
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