Ações, estados e circunstâncias

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Português Livro 2 | Unidade 8 | Capítulos 27 e 28
Ações, estados e circunstâncias
O trecho abaixo é o primeiro capítulo do romance Criador contra criatura, de Sarah K. Leia-o para responder às questões de 1 a 11.
Capítulo 1
Detesto as estações de trem. São todas assustadoras. Na minha opinião, não há nada mais triste do que
uma plataforma, nada mais desagradável do que o ronco de um TGV ou de um expresso. Viajar de trem sempre
foi, para mim, um castigo. Hoje mais ainda do que normalmente.
[...]
“O TGV 8763 proveniente de La Rochelle e com destino a Paris-Montparnasse vai entrar na estação em
um minuto, trilho A. Por favor, afastem-se das beiradas da plataforma”, clama o anúncio pré-gravado.
A partida é iminente. As batidas do meu coração aceleram. Minha ansiedade é ridícula, mas nem por
isso consigo controlá-la. De que é que tenho medo afinal? Que o trem descarrile? Que uma bomba exploda? É
loucura!
[...]
Subo num vagão e percorro dois ou três carros antes de encontrar o lugar correspondente à minha reserva. O trem sacode e lá fora, na plataforma, avisto Gasô que agita um lenço branco para me dizer adeus.
[...]
Meu lugar fica junto à janela. Por trás do vidro, a paisagem parece iluminada por projetores, tão crua é a
luz, ofuscante, como se o sol tentasse recuperar o tempo perdido. Mas o campo me entedia, e contemplar o verde sempre causou em mim um efeito soporífico. Embalado pelo ronronar do trem, fecho os olhos e, pronto para
cochilar, relembro os dez dias que acabam de se passar. Dez dias agradáveis, certamente, mas completamente
loucos. Que me deixaram como que um travo amargo na boca.
Fui o convidado de honra de um seminário sobre literatura fantástica, no centro cultural internacional
de Revisy. Como todos os anos, ele transcorreu no castelo de Revisy. Um lugar suntuoso, cenário perfeito para
os temas das conferências: sobrenatural, terror, horror, espectros, zumbis, metamorfoses, fadas, mandrágoras... As projeções de filmes, os longos serões, as noites em claro na grande sala de recepção onde, divididos em
grupos, tínhamos discussões apaixonadas, violentas disputas também, às vezes... Esses pedaços de lembranças
retornam a mim em desordem enquanto, vez por outra, abro um olho para a monotonia da paisagem lá fora.
Gasô também participou do seminário. (Fiz mil articulações para que o convidassem.) Pela primeira vez,
ele tinha uma plateia diferente de uma sala de aula [...].
Ficamos hospedados nos altos do castelo. Nossa anfitriã tinha reservado para nós a “suíte Joana d’Arc”.
Cinco metros de pé-direito, tapetes magníficos, um gigantesco armário de ébano que podia abrigar um exército
de fantasmas, vitrais, uma cama com baldaquino... não dá para imaginar quanto era bonito!
Quando, na primeira noite, cruzei a porta daquele cômodo, me vieram lágrimas aos olhos. Já Gasô tratou
de organizar suas coisinhas [...].
[...]
No dia seguinte, sua conferência foi um verdadeiro sucesso. Todo mundo apreciou a minúcia de suas
análises, e sua intervenção lhe valeu os favores de uma estudante japonesa que, durante todo o seminário, não
parou de persegui-lo para tirar uma centena de fotos dele.
[...]
Gasô casado com uma japonesa – interrompo com essa imagem o desfile de minhas lembranças.
Não consigo adormecer, nem sinto vontade de ler nem de escrever. E tenho ainda em mim essa sensação
de mal-estar que não consigo explicar. Será por causa das trepidações do TGV que atinge o limite máximo de
sua velocidade? Estou quase enjoado... Talvez um café me faça bem. Vou até o vagão-bar.
Mas, uma vez de volta ao meu lugar, o enjoo não se acalmou – o café não resolveu nada, longe disso – e
os fantasmas de Revisy ainda me esperam.
Certa noite, Tania Jenskaia, conferencista russa especialista em Bram Stoker, propôs uma sessão mediúnica.
Aceitei com entusiasmo. Acompanhado de cinco outros participantes, incluindo Gasô [...], sentamo-nos em
volta de uma mesa de ébano instalada na sala de recepção.
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[...]
[...] O que foi então que aconteceu aquela noite?... “Morte”, tinha soprado o espírito. Que espírito? E,
sobretudo, a morte de quem?
Abro os olhos. O café engolido às pressas ainda há pouco me pesa no estômago e a lembrança daquela
sessão de espiritismo, para a qual não consigo encontrar uma explicação racional, só fez reavivar minha angústia. Levanto-me e atravesso diversos vagões na intenção de alcançar o “cercado dos fumantes”, isto é, o minúsculo carro agora reservado aos viciados em tabaco em alguns TGV. Fumar um cigarro talvez me descontraísse.
Infelizmente é o contrário que acontece. Mal dou o primeiro trago e uma náusea me agarra. A fumaça que
paira no compartimento é tão densa que tenho a impressão de que ela se insinua em todos os poros de minha
pele. Sufoco, os olhos ardem e... É nesse momento que ele aparece.
No espaço de um segundo, fico todo desorientado. Não estou mais no TGV, mas na sala de recepção do castelo, em volta da grande mesa de ébano onde a palavra “morte” foi escrita por uma mão invisível. Quanto a essa
aparição surgida do nada, ela é fruto de nosso apelo ao além.
Drácula em pessoa não teria me aterrorizado tanto.
Esfrego os olhos, como faz uma criança que, ao despertar, quer se certificar de que o monstro que viu no
sonho não está mais no quarto.
Mas, nenhuma dúvida, ele está bem ali. Logo atrás da porta envidraçada que separa o vagão onde me encontro do anterior.
K., Sarah. Criatura contra criador. São Paulo: Edições SM, 2006. pp. 7-24
Vocabulário de apoio
Baldaquino: armação de madeira apoiada sobre a cama e na qual se prende uma cobertura
de tecido que resguarda quem está deitado; dossel.
Bram Stoker: Abraham Stoker, autor do romance Drácula (1897).
Descarrilar: sair dos trilhos.
Ébano: madeira nobre de tonalidade escura.
Literatura fantástica: designação dada a narrativas que deixam o leitor em dúvida entre
uma explicação natural e uma explicação sobrenatural para os fatos estranhos que elas
apresentam.
Pé-direito: distância entre o piso e o teto de um pavimento ou cômodo.
Mediúnico: relativo a médium (pessoa com dons que lhe permitem conhecer coisas por
meios sobrenaturais, pessoa capaz de se comunicar com espíritos).
Soporífico: que faz dormir, que é enfadonho, cansativo.
Suntuoso: luxuoso, que custou muito dinheiro.
TGV: abreviatura de “trem de grande velocidade”; trem-bala.
Travo: impressão desagradável.
1. Considere a descrição do castelo e da suíte.
a)Qual a reação do narrador ao observar esses espaços? Ela pode ser considerada comum nos dias
de hoje?
b)Que explicação é possível apontar para essa reação, de acordo com os dados fornecidos no capítulo?
2. O narrador admite grande incômodo com uma situação tida como corriqueira.
a)Qual?
b)O trecho apresenta uma justificativa para esse incômodo? Comprove sua resposta com dados fornecidos no texto.
c)O incômodo habitual do narrador, mencionado nos itens a e b, é agravado por uma experiência.
Qual?
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3. Explique a importância que as descrições e circunstâncias abordadas nas questões 1 e 2 têm para o
final do capítulo.
4. A narrativa que constitui o primeiro capítulo do romance se baseia em um evento principal: o embar-
que do narrador em um trem e o início da viagem.
a)Qual tempo verbal predomina nos trechos que apresentam esse evento principal?
b)Além desse evento principal, o capítulo apresenta outro evento. De que forma eles se relacionam?
No capítulo, qual tempo verbal predomina nos trechos que apresentam o segundo evento mencionado?
c)Em relação ao evento principal, o tempo do seu enunciado coincide com o momento de sua enunciação? E no caso do outro evento, os tempos coincidem?
5. De acordo com o linguista alemão H. Weinrich, o discurso pode fazer referência a um mundo narrado
(no qual predominam o pretérito perfeito, o imperfeito, o mais-que-perfeito e o futuro do pretérito)
ou a um mundo comentado (no qual predominam o presente, o pretérito perfeito composto e o futuro do presente). Um romance costuma ser exemplo de situação comunicativa do mundo narrado. No
entanto, o tempo verbal predominante em um dos dois relatos que compõem a narrativa do capítulo 1
destoa desse universo.
a)Em qual dos dois relatos isso ocorre? Por quê?
b)Esse traço discordante cria um efeito. Explique-o, mostrando sua importância para a referência ao
mundo narrado que é feita no capítulo.
c)O uso dos tempos verbais é um item importante na ancoragem. Nesse capítulo do romance, podese dizer que o recurso gráfico do espaçamento entre parágrafos reforçou o papel já desempenhado
pela escolha dos tempos verbais. Comprove essa declaração.
6. Neste trecho do romance Criatura contra criador, o narrador relata o convite que uma conferencista
lhe faz e sua reação a ele. Releia:
Certa noite, Tania Jenskaia, conferencista russa especialista em Bram Stoker, propôs uma sessão mediúnica.
Aceitei com entusiasmo.
a)As duas orações desse trecho têm caráter constatativo. Justifique essa declaração.
b)Os verbos destacados podem ser considerados performativos em certos usos. Comprove isso, escrevendo um diálogo composto pelas duas falas que aparecem relatadas nesse trecho: a de Tania e
a do narrador.
c)Explique por que na resposta ao item b os verbos propor e aceitar são performativos.
7. Releia:
De que é que tenho medo afinal? Que o trem descarrile? Que uma bomba exploda? É loucura!
a)Qual o infinitivo dos verbos destacados?
b)Em que tempo e modo estão conjugados os verbos destacados?
c)O verbo explodir, que é defectivo, não deve ser conjugado em nenhuma pessoa do tempo que você
mencionou na resposta anterior, segundo a Gramática normativa. Porém, conforme o trecho acima
revela, do ponto de vista morfológico não há impedimento para a flexão do verbo explodir nesse
tempo. Comprove essa declaração, comparando a forma verbal exploda com os paradigmas de conjugação que você conhece.
d)Que justificativa há para o verbo explodir ter o status de defectivo, uma vez que sua flexão é possível?
e)Caso quisesse evitar o uso de um verbo defectivo, o tradutor poderia empregar outro verbo. Reescreva a oração, com a substituição.
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8. Releia:
Não estou mais no TGV, mas na sala de recepção do castelo, em volta da grande mesa de ébano onde a palavra
“morte” foi escrita por uma mão invisível.
a)Considerando a ação expressa no trecho destacado, responda:
•• Quem representa aquele que pratica a ação de escrever?
•• Quem representa aquele que é alvo da ação de escrever?
•• Qual dos dois é enfatizado na versão dada ao fato?
•• Em que voz está o verbo no trecho destacado?
b)Enfatizar o elemento que você apontou na resposta anterior é importante para o conteúdo expresso nesse trecho. Explique por quê.
c)Reescreva o trecho destacado, enfatizando o ser que você não apontou no item b.
9. Releia:
• Viajar de trem sempre foi [...] um castigo.
• Estou quase enjoado...
a)Em que formas estão os verbos destacados?
b)Essas formas não apresentam valor de verbo. Explique por que e indique que valor morfológico elas
apresentam.
10. Releia:
Cinco metros de pé-direito, tapetes magníficos, um gigantesco armário de ébano que podia abrigar um exército de
fantasmas, vitrais, uma cama com baldaquino... não dá para imaginar quanto era bonito!
a)Em relação a abrigar, o verbo auxiliar destacado expressa:
I - ( ) como, precisamente, a ação se desenvolve no tempo.
II - ( ) como o narrador encara essa ação.
b)Explique o papel que o verbo auxiliar destacado tem para a criação de sentido desse trecho.
11. Releia:
I - O TGV 8763 [...] vai entrar na estação em um minuto, trilho A.
II - [...] relembro os dez dias que acabam de se passar.
III - Nossa anfitriã tinha reservado para nós a “suíte Joana d’Arc”.
Sublinhe os verbos auxiliares em cada trecho e associe-os a uma função indicada abaixo:
A - Indicar como uma ação se desenvolve no tempo.
B - Indicar como o falante encara determinada ação.
C - Indicar a voz passiva do verbo.
D - Formar um tempo composto.
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Respostas
1. a) O narrador se emociona com o que vê. O local, na sua opinião, é de extrema beleza, a ponto de lhe
provocar lágrimas. Essa reação não é comum nos dias de hoje.
b)De acordo com o trecho, o narrador é um professor ou pesquisador de literatura fantástica. Isso
pode explicar seu apreço por um cenário como aquele.
2. a) Viagem de trem.
b)Não. O próprio narrador considera ridícula sua ansiedade e bastante improvável a possibilidade de
acidentes.
c)O narrador participara, em Revisy, de uma sessão mediúnica na qual fora mencionada a palavra “morte”. Sem explicações para o fato e sem saber a que o aviso se referia, o narrador diz sentir um travo
amargo. Ele chega a se referir a essas lembranças como “os fantasmas de Revisy que o esperavam”.
3. De modo geral, a menção a essas descrições e circunstâncias confere coerência ao final do capítulo.
Para o narrador, o indivíduo que aparece no vagão é fruto do apelo ao além que ele e outras pessoas haviam feito em Revisy. A motivação para que sua hipótese soe coerente está no fato de ela ter acontecido em um castelo cujas características lembram o cenário desse tipo de história, entre pessoas ligadas
à literatura fantástica, que haviam participado de uma sessão mediúnica. Esse quadro parece ter sido
antecipado pela predisposição de incômodo que o narrador já demonstrava antes do início da viagem.
4. a) Predomina o presente (do indicativo).
Professor:
Durante o início da viagem, o narrador se sente enjoado, procura descansar, relembra fatos recentes,
toma um café, acende um cigarro e avista um homem que o assusta. Ainda que a lembrança seja expressa no pretérito perfeito, a indicação de que o narrador rememora fatos passados é feita no presente: “relembro os dez dias que acabam de se passar”; “esses pedaços de lembrança retornam a
mim”; “interrompo [...] o desfile de minhas lembranças”. A exceção é o trecho “a lembrança daquela
sessão [...] só fez reavivar minha angústia”, que, apesar de trazer o verbo no pretérito, poderia empregá-lo no presente.
b)O segundo evento aparece na forma de lembranças do narrador enquanto ele viaja (primeiro evento). Nos trechos em que esse fato é apresentado, predomina o pretérito perfeito (do indicativo).
c)No caso da viagem de trem, o tempo do enunciado coincide com o momento da enunciação. Já no
caso da estada em Revisy, o tempo do enunciado é anterior ao tempo da enunciação.
5. a) No relato da viagem, o tempo predominante é o presente, que é próprio do mundo comentado, não
do mundo narrado.
b)O emprego do presente na criação de um mundo narrado faz com que o personagem que assume
o discurso se mostre mais implicado na situação. Ele se torna mais afetado pelos acontecimentos (como ocorre no mundo comentado, no qual o presente é um traço típico). No caso do capítulo, como há um mistério a ser desvendado pelo personagem (quem é o estranho que aparece e o
abala), esse grau de afetação torna-se importante. Ele mostra que o narrador está passando pela
situação e não tem a placidez de quem já esclareceu os fatos; ele está vivendo o sobressalto do desconhecido, juntamente com o leitor.
c)Em dois pontos do trecho transcrito do capítulo (após os parágrafos 5 e 14), há maior espaçamento entre os parágrafos. Esse espaçamento demarca um trecho no interior do capítulo que corresponde justamente à lembrança do narrador (e que é marcada pelo emprego predominante do
pretérito perfeito).
6. a) As duas orações, cujo conteúdo pode ser verdadeiro ou falso, constatam fatos (uma proposta e uma
aceitação) que não se realizam na fala. Eles não dependem dela.
b)– Proponho uma sessão mediúnica.
– Aceito!
c)Nesse caso, a proposta se dá com a fala, precisamente com o verbo na primeira pessoa do presente: proponho. O mesmo ocorre com a aceitação, que ocorre quando se enuncia o verbo na primeira
pessoa do presente: aceito.
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Respostas
7. a) Descarrilar e explodir.
b)Ambos estão no presente do subjuntivo.
c)Um verbo de 3ª conjugação, como partir ou nutrir, apresenta a desinência a no presente do subjuntivo: part-a, nutr-a. O mesmo se deu com o verbo explodir, flexionado na forma explod-a, como
um verbo regular.
d)A ausência de registro de certas flexões verbais tem relação com a tradição gramatical. No passado, essas formas ausentes não foram consideradas agradáveis do ponto de vista sonoro e foram
rejeitadas. Essa percepção, contudo, pode se alterar ao longo do tempo (como parece ter ocorrido
com o verbo explodir). Mesmo assim, pode demorar algum tempo até que a mudança seja abonada
pela Gramática normativa.
e)Que uma bomba estoure?
8. a) “Uma mão invisível” representa aquele que praticou a ação de escrever, e “a palavra ‘morte’” repre-
senta o alvo dessa ação. O trecho enfatiza quem sofre a ação. O verbo está na voz passiva analítica.
b)O que a situação relatada faz o narrador lembrar imediatamente é uma espécie de aviso dado na
sessão: morte. O responsável por essa comunicação (que o narrador não sabe ao certo quem é) é
menos importante. Assim, o uso da voz passiva, que enfatiza o que foi escrito, não quem escreveu,
é importante nesse trecho.
c)Uma mão invisível escreveu a palavra “morte”.
9. a) Infinitivo impessoal e particípio, respectivamente.
b)Viajar (que nesse caso é núcleo de um sintagma nominal) apresenta valor de substantivo. Equivale
a “Viagem de trem sempre foi um castigo”. Enjoado (que é a característica de um ser) apresenta o
valor de adjetivo.
10. a) II
b)O narrador não quer dizer que efetivamente havia fantasmas no armário, mas que ele tinha características daqueles móveis que, de acordo com o imaginário das pessoas para as histórias de terror,
escondiam fantasmas.
11. I - vai - A
II - acabam - A
III - tinha - D
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