OS FILMES, DOCUMENTÁRIOS E DESENHOS E O ENSINO DA

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OS FILMES, DOCUMENTÁRIOS E DESENHOS E O ENSINO DA GEOGRAFIA
Luiz Antônio de S. Pereira/UNIFESO e C.E.Higino da Silveira
[email protected]
As diferentes formas de expressão artística podem refletir e algumas vezes antecipar
os diferentes contextos de épocas. Mostrar as angústias, os medos, os desejos e os sonhos
de uma determinada sociedade. O cinema nos possibilita lazer e diversão, mas também
acesso a informações e cenários a um baixo custo e de forma rápida. Embora de maneira
superficial e muitas das vezes tendenciosa.
O presente estudo visa apresentar a importância dos filmes, documentários e
desenhos como recurso didático no ensino da Geografia. Através desse recurso, buscamos
desenvolver no aluno, desde cedo, um senso crítico em relação ao que o mesmo assiste (não
se limitando aos filmes, documentários e desenhos, incluindo, em especial, a televisão e até
mesmo a Internet) e, ao mesmo tempo, ressaltar a relevância do que o educando estuda em
sala de aula.
Para exemplificar, apresentaremos, brevemente, uma metodologia que pode ser
desenvolvida na sala de aula e algumas questões que podem ser observadas e debatidas em
alguns filmes, documentários e desenhos relacionados a África e a temática ambiental.
Duas das temáticas em evidência no cinema atualmente. A primeira denúncia a exploração
e exclusão do continente em fase ao processo de globalização e a segunda visa despertar a
consciência das pessoas em relação a relevância da questão ambiental em face aos
problemas causados pela nossa sociedade e as possíveis conseqüências.
1. UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA
Dentre as atividades que desenvolvo na sala de aula, normalmente, utilizo os
recursos audiovisuais para introduzir ou concluir uma temática. Em ambos os casos, podese adotar uma série de estratégias para serem desenvolvidas durante e após a apresentação.
Por exemplo, o professor pode pedir para os alunos anotarem em seus cadernos as
palavras-chave presentes no filme, documentário ou desenho que foram (ou poderão ser)
desenvolvidas ao longo do bimestre (ou trimestre, dependendo do critério estabelecido pela
instituição). O ideal é limitar um número mínimo de palavras.
Na primeira vez que for desenvolvida esse tipo de atividade, poderá surgir dúvida,
confusão e falta de organização, sobretudo com os alunos que acabaram de concluir o
segundo ciclo do ensino fundamental. Mas, naturalmente esses problemas serão
contornados nas próximas atividades.
Após assistirem o filme, documentário ou desenho, pode-se pedir aos alunos para
que cada um escreva no quadro uma palavra-chave que tenha conseguido identificar. Para
reduzir o tempo gasto nessa parte da atividade, sugiro que os professores peçam aos alunos
para irem ao quadro por fileira. O professor deve estar atendo para que as palavras não
sejam repetidas e não falte giz ou pilot.
Ao término, o quadro se transformará em “uma verdadeira obra de arte” digna de
uma foto. A partir desse momento cabe ao professor conduzir o debate com os alunos sobre
a relevância de cada palavra assinalada (eliminando as que não forem pertinentes ou
importantes), tentar agregar palavras que estejam no mesmo contexto em torno de uma só,
ou seja, a palavra-chave, e indagar a respeito de palavras que tenham sido “esquecidas”
pela turma.
Durante o debate e a análise das palavras com os alunos, o professor pode fazer uma
ponte com o que estão estudando ou com o que já estudaram. Desta forma buscamos
“desconstruir” o filme, documentário ou desenho extraindo as questões principais e
secundárias presentes na exibição, relacionadas a geografia (inclusive os valores humanos)
e os principais problemas (defeitos) presentes. Mostrar a intencionalidade e os interesses
existentes por trás das cenas mais relevantes.
Caso o professor não tenha realizado a atividade acima, pode pedir para os alunos
fazerem um resumo (é prudente definir um mínimo de linhas) sobre o que assistiram a
partir das palavras-chave que cada um anotou. Se o professor realizou a atividade proposta,
pode pedir para os alunos fazerem o resumo a partir das palavras que restaram no quadro
após o debate.
Uma última atividade que proponho é uma espécie de concurso para a eleição dos
melhores resumos. Levando em consideração que muitas classes apresentam um número
excessivo de alunos, não será possível que todos leiam para a turma. Sendo assim, sugiro
que os alunos formem grupos (três, quatro, cinco alunos, vai depender do número de alunos
na turma) e que cada grupo escolha um trabalho. Os trabalhos selecionados por cada grupo
deverão ler o resumo para o restante da turma e após a leitura dos resumos, os demais
alunos deverão escolher os melhores.
Havendo um jornal da escola é interessante publicar ao menos o “melhor resumo”.
Cabe registrar que ao longo de toda a atividade não há um vencedor apenas, seja quem
conseguiu encontrar mais palavras-chave ou quem elaborou o melhor resumo, na realidade
todos são vencedores, pois o objetivo maior é a aprendizagem.
2. SUGESTÃO DE FILMES, DOCUMENTÁRIOS E DESENHOS E ALGUMAS
QUESTÕES QUE PODEM SER DESENVOLVIDAS
Os filmes, documentários e desenhos que destaco e desenvolvo com minhas turmas
muitas vezes são produzidos em Hollywood por grandes empresas cinematográficas norteamericanas. Aqueles que vão aos cinemas, são divulgados no mundo todo e muitas vezes
até concorrem ao Oscar, alguns inclusive ganham diversas estatuetas!
O objetivo de trabalhar estes filmes, documentários e desenhos propositalmente se
deve a alguns fatores. Um deles se deve ao fato de que a maior parte dos alunos ouviu falar
sobre eles, alguns ou muitos, já assistiram (no cinema ou em casa, pois já passaram na
televisão, seja a paga ou a aberta) ou até mesmo possuem em casa, sobretudo os mais novos
que possuem diversos desenhos que vêem e revêem sempre com o mesmo entusiasmo.
Cabe uma observação, o educador serve como exemplo muito mais pela ação
(prática) do que pela fala (discurso). Devemos levar DVDs originais, o que pode ser
proveitoso inclusive para debater o custo do DVD (CDs – em via de extinção devido ao
avanço tecnológico, o próprio DVD possui os seus dias contatos – e livros, entre outros
produtos) e os prós e contras do uso do original e do “pirata” (as questões trabalhistas e os
impostos também devem ser abordados).
Não é raro os que já assistiram se surpreenderem ao analisarmos o filme e verem
como a geografia (mas não só a geografia) está presente no filme. De como não tinham
prestado atenção a vários detalhes e os relacionados com a temática estudada.
Aos alunos, procuro deixar claro que o exercício de compreensão, análise e reflexão
crítica realizado em sala de aula podem e devem ser realizados no nosso dia-a-dia ao
assistirmos um telejornal ou uma novela, um filme e até mesmo um desenho. Como Milton
Santos (2008) sabiamente nos apontou, existem os fatos e a mídia trabalha com a
interpretação dos fatos, que pode ser bem distinta (para não dizer distorcida), dependendo
dos interesses em jogo.
Jorge Barbosa em seu artigo “Geografia e cinema: em busca de aproximações e do
inesperado” nos proporciona questões centrais presentes em filmes e os outros recursos
midiáticos que podem ser utilizados respeitando a idade, os pré-requisitos e a realidade dos
educandos.
A seguir apresentaremos as obras sugeridas a partir de duas grandes temáticas. A
primeira temática trata da questão ambiental, cada vez mais presente em filmes,
documentários e desenhos. Já a segunda temática chama a atenção para a quantidade de
bons filmes produzidos, sobretudo, nos últimos cinco anos sobre os diversos problemas
existentes na África, mas nem por isso exclusivos, uma vez que também existem em países
subdesenvolvidos de outros continentes.
2.1 A TEMÁTICA AMBIENTAL NO CINEMA
Nas últimas décadas se agravaram os problemas ambientais com impacto desde a
escala local até a global, com maior destaque para o aquecimento global. O meio ambiente
mostra ao homem os seus limites e sua incompatibilidade com a crença no
desenvolvimento econômico nos moldes do sistema de produção e consumo capitalista.
Juntamente com o avanço dos problemas, vem crescendo a preocupação com a
questão ambiental, sobretudo a partir da década de 1970, após a Conferência de Estocolmo.
O cinema não está alheio a essas questões e tem produzido vários filmes de ficção tendo
como pano de fundo os problemas ambientais e as suas possíveis conseqüências.
Dentre as produções, destaco dois documentários produzidos recentemente: “Uma
verdade inconveniente” (An Inconvenient Truth), em 2006, dirigido por Davis Guggenheim
e apresentado pelo ex-vice-presidente norte-americano Al Gore e “A última hora” (The
11th Hour), dirigido por Nadia Conners e Leila Conners Petersen, em 2007, sob a narração
de Leonardo DiCaprio.
Um cuidado que se deve ter ao trabalhar os documentários acima é em relação a sua
apresentação integral e de uma só vez. O professor deve avaliar quais são os objetivos que
se almeja alcançar para não correr o risco de torná-lo massificante e despertar um efeito
contrário ao esperado.
Talvez o documentário mais assistido no mundo sobre a temática ambiental seja
“Uma verdade inconveniente”. Nele, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore alterna
passagens da sua vida particular com uma valiosa apresentação da evolução do
aquecimento global – suas causas e conseqüências – e possíveis soluções, que independente
do avanço tecnológico, passam pela mudança de hábitos (e valores).
Se não é o documentário mais assistido, dificilmente “Uma verdade inconveniente”
não é o menos polêmico, uma vez que é apresentado pelo vice-presidente norte- americano
da “Era Clinton”. Numa rápida e superficial pesquisa na Internet sobre o documentário,
entre (muitos) elogios surgem algumas questões como: a real intencionalidade de Al Gore,
o “olhar” fortemente expresso sob o ponto de vista norte-americano e a superficialidade que
apresenta as possíveis soluções (sem “atacar” o sistema capitalista).
Algumas questões básicas que podem ser desenvolvidas em sala de aula:
- O que é o efeito estufa? (cabe destacar que é um fenômeno natural sem o qual
nosso planeta não teria condições para abrigar a vida como conhecemos);
- As causas do aquecimento global;
- As conseqüências do aquecimento global;
- O que podemos fazer para ajudar “no combate” ao aquecimento global (essa
questão é fundamental, pois através da mudança de pequenos hábitos, todos nós podemos
contribuir).
Já o documentário “A última hora”, que tem na produção e narração Leonardo
DiCaprio, faz um diagnóstico da atual situação do planeta Terra.
O documentário dá voz a respeitados pesquisadores independentes, em seus
respectivos campos de conhecimento, desde o físico até o filosófico. Porém, independente
do campo de conhecimento, há o consenso em relação aos danos causados pelo homem nos
últimos séculos sob a hegemonia do sistema capitalista (e de suas grandes empresas
transnacionais) e que mudanças drásticas e urgentes são necessárias para tentarmos reduzir
os danos ambientais atuais (e os que ainda estão por vir).
“A última hora” ainda propõe uma série de soluções práticas para reverter esse
quadro alarmante em um tópico especial. Vejamos algumas questões para serem debatidas:
- Os problemas ambientais (causas e conseqüências);
- Não contabilizamos quando compramos um produto o que a natureza “faz de
graça”;
- Questão do consumismo (propaganda e mídia, desejo e necessidade da
transformação cultural – Milton Santos em “Por uma outra globalização” desenvolve bem
essa questão);
- Soluções (já existem há anos, mas falta interesse econômico e político, ou seja, o
problema não é tecnológico);
- A vida possivelmente não será extinta na Terra, mas a sobrevivência (e as
condições de sobrevivência) da espécie humana sim.
Em relação aos desenhos (animações), cabe registrar que erra quem pensa que
apenas as crianças das séries iniciais devem utilizá-los como instrumento de aprendizagem.
Os adolescentes (e os adultos) também adoram e ficam “sem piscar” diante de um bom
desenho.
Juntamente com os valiosos conteúdos que podem ser desenvolvidos na sala de
aula, recorrentemente os desenhos trazem valores humanos fundamentais para o pleno
crescimento das crianças (e do cidadão em geral). Tanto que produções como: “Shrek”
(Shrek), lançado em 2001, sob a direção de Andrew Adamson e Vicky Jenson e produção
de Jeffrey Katzenberg, Aron Warner e John H. Williams e “A Era do Gelo” (Ice Age),
lançado em 2002, sob direção de Chris Wedge e produção de Lore Forte, foram um sucesso
entre o público e a crítica e ganharam fôlego com continuações.
Em especial, gostaria de destacar duas produções para serem levadas a sala de aula:
“Robôs” (Robots) dirigido por Chris Wedge (o mesmo diretor da animação A Era do Gelo)
e lançado em 2005 e “Os Sem-Floresta” (Over the Hedge), lançado em 2006, tendo na
direção Tim Johnson e Karey Kirkpatrick.
O desenho “Os Sem-Floresta” é excelente para relembrar e aprofundar os prérequisitos dos ciclos iniciais de Geografia (1o e 2o ciclos) e iniciar, no terceiro ciclo, a
proposta metodológica descrita no item anterior.
Ao longo do despertar da hibernação dos animais da floresta e as transformações na
paisagem que ocorreram durante a hibernação, somados as aventuras provocadas pelo
personagem RJ atrás da comida dos humanos (que deve juntar para dar ao urso), podemos
desenvolver uma série de questões – na qual a temática ambiental estará presente nas
primeiras – entre elas:
- Paisagem natural e paisagem cultural;
- Transformação da paisagem;
- A paisagem e o tempo;
- Os conceitos de lugar e espaço geográfico;
- A Lua (movimentos e fases);
- As estações do ano (causas e conseqüências);
- A importância (e uso) do mapa.
O desenho “Robôs” apresenta a jornada do jovem inventor Rodney Lataria, desde o
seu nascimento, em uma pequena cidade, até as perigosas aventuras, na grande Robópolis,
na busca do Grande Soldador (o maior inventor de máquinas) e da realização de seu sonho.
As questões a seguir podem, direta ou indiretamente, em maior ou menor escala, serem
desenvolvidas levando-se em consideração a temática ambiental:
- Cidade pequena x cidade grande (semelhanças e diferenças);
- Migração (causas);
- Tecnologia, produção e consumo (e suas relações);
- Os três consagrados Rs (redução, reutilização e reciclagem).
No próximo subitem exploraremos algumas das recentes produções que trazem a
África e seus problemas para o grande público e nos permite através do “cinema na sala de
aula” debater suas causas e possíveis soluções.
2.2 A ÁFRICA NO CINEMA
O continente africano há muito tempo é relegado nos livros didáticos, sobretudo nos
livros de ensino médio. E não é apenas nos livros didáticos que a África fica em segundo
plano. Muitas vezes, o próprio professor ao elaborar o planejamento anual deixa essa
temática para o último bimestre e ou separa pouco tempo para o seu estudo e debate.
Quando pergunto aos meus alunos do ensino médio: o que estudaram sobre a África
no ensino fundamental? O que sabem a respeito desse continente? A maioria não se lembra
e, via de regra, associa o continente a todos os problemas possíveis existentes na face da
Terra e curiosamente destaca algumas de suas paisagens naturais (em especial, a floresta, a
savana e o deserto).
No final do século passado, em 1990, Bob Rafelson dirigiu o filme “Montanhas da
Lua” (Mountains of the Moon), que mostra a exploração inglesa em busca da nascente do
Rio Nilo, no século XIX. Esse filme pode ser considerado um clássico do cinema sobre a
exploração colonial do continente africano.
De lá para cá, sobretudo no início do século XXI, uma quantidade considerável de
bons filmes foram produzidos mostrando, direta ou indiretamente, questões presentes no
continente africano. No presente artigo, destacarei brevemente três dessas produções: o
filme dirigido por Terry George e lançado em 2004, “Hotel Ruanda” (Hotel Rwanda),
“Diamante de Sangue” (Blood Diamond), dirigido por Edward Zwick e lançado em 2006,
e “Mandela – A Luta pela Liberdade” (Goodbye Bafana), lançado em 2007, tendo na
direção Bille August.
Antes de iniciar, gostaria de chamar a atenção para o longo tempo de duração das
três produções citadas acima (um pouco mais de duas horas cada), o que requer um bom
planejamento.
O filme “Hotel Ruanda” mostra ao mundo um dos piores genocídios das últimas
décadas. Em menos de cem dias, cerca de 10% da população (800.000 pessoas) de Ruanda
– um pequeno e montanhoso país pobre no interior da África, próximo a linha do Equador –
foi “exterminada”, em sua maioria tutsis e hutus oposicionistas, por militares e milicianos
após um atentado ao avião em que estava o presidente Juvénal Habyarimana, que veio a
falecer.
O filme conta a história real vivenciada por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que
era gerente do hotel Milles Collines. Em meio ao descaso das autoridades dos demais
países, inclusive da Organização das Nações Unidas – ONU, com o genocídio que estava
ocorrendo no país, ele, com sua sabedoria, bondade e coragem, abrigou (e salvou) a vida de
mais de mil pessoas no hotel.
Várias questões, na realidade denúncias, podem e merecem ser debatidas após o
filme, entre elas destaco duas:
- O processo de colonização de Ruanda e a sua relação com as origens dos conflitos
que resultaram no genocídio em 1994 (essa questão pode perfeitamente ser estendida a
outras localidades da continente que apresentam ou apresentaram conflitos étnicos).
- O descaso dos países ditos “desenvolvidos” e da ONU com a situação dramática
que ocorreu em Ruanda (e que acontece em dezenas de países que não apresentam “algo”
que interesse aos países desenvolvidos).
A maior parte dos alunos não consegue visualizar claramente a correlação entre o
desenvolvimento de uma minoria de países e o empobrecimento da maior parte e a parcela
de responsabilidade e o papel danoso dos mais “avançados” sobre os mais atrasados.
Analisar criticamente essa questão pode clarear esses processos.
Será que se Ruanda tivesse muito petróleo, por exemplo, esse descaso internacional
teria ocorrido? É evidente que não! A reflexão crítica sobre essa questão ajuda o aluno
alcançar a real compreensão do que está por trás “das entre linhas” dos discursos e das
práticas (ou a falta delas) dos países e da própria ONU.
O filme “Diamante de Sangue” possui como cenário Serra Leoa, um pequeno país
rico em minerais, em especial o diamante, localizado na costa ocidental do continente,
fazendo fronteira com a Guiné e a Libéria. O filme se passa durante a guerra civil que
assolou o país na década de 1990.
“Diamante de Sangue” nos possibilita levantar e debater uma série de questões,
entre elas:
- A contradição entre a riqueza existente no território e a pobreza da maior parte da
população;
- A riqueza obtida pela venda (ilegal) de pedras preciosas ser revertida para a
compra de armas (contrabandeadas), em detrimento de melhorias para a população;
- As conseqüências de processo de colonização europeu;
- O trabalho infantil (inclusive o das crianças soldado) e o trabalho escravo;
- A mutilação ou assassinato de uma parcela significativa da população;
- A questão dos refugiados;
- Os altos índices de população contaminada com o HIV;
- A destruição da (precária) infra-estrutura existente pela guerra;
- A retração da economia do país em função da guerra;
- O descaso das principais potências e da ONU em relação a guerra.
Todas essas questões aparecem com maior ou menor profundidade ao longo do
desenrolar da história que envolve o mercenário Danny Archer (Leonardo DiCaprio), o
pescador Solomon Vandy (Djimon Hounsou) e a jornalista Maddy Bowen (Jennifer
Connelly). Nela, o destino desses três personagens se cruza no momento em que apenas
Solomon Vandy sabe onde está escondido um raro e grande diamante rosa que irá interessar
ao Danny Archer. Por sua vez, o pescador dependerá do mercenário para poder localizar a
sua família que se dispersou com o advento da guerra. Já a jornalista está no país para fazer
uma reportagem sobre os “diamantes de sangue” retirados das zonas de conflito.
Porém, o final não deixa a dever em nada a outras produções hollywodianas, onde o
malvado acaba se redimindo de seus pecados e ajudando o bonzinho a alcançar o seu
objetivo.
Já o filme “Mandela – A Luta pela Liberdade” retrata parte dos quase trinta anos em
que Nelson Mandela ficou preso devido a sua busca pela igualdade de direitos entre negros
e brancos, numa África do Sul sob regime de segregação racial denominado apartheid.
O filme é baseado nos relatos do carcereiro James Gregory (Joseph Fiennes) –
branco e racista – que ficou incumbido de repassar as informações do grupo liderado por
Nelson Mandela (Dennis Haybert) para o serviço de inteligência. Porém, a convivência
com Mandela criou um laço de amizade que o transformou em um defensor dos direitos dos
negros no país.
“Mandela – A Luta pela Liberdade” é ideal para trabalhar com os alunos a África do
Sul, o apartheid e a biografia de Nelson Mandela. Mais do que conteúdo, o filme possibilita
debatermos e refletirmos sobre questões mais delicadas e profundas, como os valores
humanos e os “sonhos” (ambos cada vez mais raros, mas extremamente necessários nos
dias atuais).
Abaixo seguem algumas sugestões de pesquisas (que podem ser realizadas em
grupo e posteriormente apresentadas e debatidas com a turma):
- África do Sul: processo de colonização, principais características socioeconômicas
do país na atualidade, comparação entre o país e o restante do continente;
- Apartheid: surgimento, definição, finalidade, conseqüências (para o país e no
cotidiano das pessoas) e término (oficial e resquícios ainda presentes);
- A biografia de Nelson Mandela.
Sobre a África do Sul, cabe um último registro. No próximo ano, o país irá sediar o
segundo maior evento esportivo, atrás apenas dos Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo de
Futebol, que pela primeira vez levará um evento de magnitude mundial ao continente.
Sendo assim, o país e as questões sugeridas, em maior ou menor grau, certamente estarão
presentes na mídia.
Como podemos observar, nenhum dos filmes apresentados contradiz ou exclui o
outro, pelo contrário, eles se complementam. Existindo a possibilidade de assistir dois
filmes, ao menos, e compará-los também é uma atividade interessante.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não são poucos os desafios e as dificuldades existentes para a utilização dos filmes,
documentários e desenhos na sala de aula. Dificuldades que começam dentro do próprio
ambiente escolar, seja pela falta ou precária estrutura do local (ausência ou má conservação
dos aparelhos eletrônicos necessários), seja pelo preconceito dos demais profissionais
(professores e direção), pois, não é raro os professores que utilizam os recursos
audiovisuais serem taxados de preguiçosos (que não querem dar aula).
O que foi exposto não esgota as possibilidades dos conteúdos e das formas de
trabalho em relação às produções sugeridas ou outras que não foram citadas. Pelo contrário,
devido o objetivo desse trabalho e a quantidade de questões levantadas a partir de um
elevado número de produções, o leitor encontrará principalmente inspiração e um norte
para se guiar, uma vez que as análises expostas são superficiais.
A metodologia empregada não é rígida e acabada. Ela pode (e deve) sofrer
alterações de acordo com as especificidades detectadas por cada professor.
Para finalizar, cabe registrar a esperança de que os leitores, em especial, os
professores, possam debater o trabalho com elogios, mas, sobretudo, críticas construtivas,
que levem a práticas mais eficientes e eficazes (e por que não mais prazerosas) do ensino da
Geografia.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Jorge Luiz. Geografia e cinema: em busca de aproximações e do
inesperado. In: CARLOS, Ana Fani (org). A geografia na sala de aula. 8a ed, São Paulo,
Contexto, 2006.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de suas técnicas de produção. In: Coleção
Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1983.
BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema? São Paulo, Brasiliense, 1980.
HARVEY, David. A condição pós-moderna. 12a ed, São Paulo, Loyola, 2003.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. 15a ed, Rio de Janeiro, Record, 2008.
SITES
WWW.ADOROCINEMA.COM – Acesso em 13/03/2009.
WWW.PT.WIKIPEDIA.ORG – Acesso em 13/03/2009.
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