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“A Reinvenção da Realidade”
©2015 Eduardo Galvani
A CULTURA NA VISÃO
DOS ANTROPÓLOGOS
(Plano de Aula)
Por Eduardo Galvani
Introdução
Este breve “ensaio” tem por objetivo estruturar o conteúdo didático para uma aula
sobre algumas das principais noções em que o conceito de “cultura” é atualmente
compreendido pela Antropologia. A aula é direcionada aos alunos do ensino
fundamental, assim, foram relacionadas algumas teorias básicas sobre o assunto, no
intuito de orientar a assimilação do conteúdo de maneira simples ao comparar as
noções do conceito de “cultura” do senso comum com as noções antropológicas do
conceito de “cultura” desenvolvidas a partir dos referenciais teóricos selecionados.
O tema foi escolhido pela possível relevância do assunto, pois quando considera-se a
condição de disparidade sócio-cultural existente entre os alunos do ensino
fundamental, compreende-se que a descoberta destas novas perspectivas sobre o
conceito de “cultura” pode fazer com que identifiquem e aproveitarem mais e melhores
oportunidades durante suas trajetórias escolares e profissionais.
Plano de Aula
Momento 1 - Apresentação
O início da aula ocorre com a apresentação do assunto, através de uma breve
introdução sobre a importância do conceito de “cultura” para a Antropologia, com um
resumo dos tópicos e teorias selecionadas para o estudo: Primeiramente, apresenta-se
a noção de cultura enquanto capacidade inventiva da mente humana, a partir do texto
“A Invenção da Cultura”, de Roy Wagner, seguida de duas distinções fundamentais de
aplicação do conceito, apresentadas no texto “Cultura com aspas”, de Manuela Carneiro
da Cunha, finalizando com uma genealogia crítica do conceito, em “Cultura, a visão dos
antropólogos”, de Adam Kuper, e complementando com as maneiras com que os
aspectos culturais podem influenciar nas formas de interpretação e de representação
do mundo, observadas a partir do texto “Orientalismo: o Oriente como invenção do
Ocidente”, de Edward Said.
Momento 2 - A Cultura no senso comum
Para compreender a noção de “cultura” do senso comum, realiza-se uma enquete com
todos os alunos, os quais são convidados a responder, suscintamente (em uma frase),
por escrito e de forma anônima, qual a sua concepção de “cultura”. Esta abordagem
busca evidenciar as formas de interpretação da noção de “cultura” no senso comum de
maneira contextualizada com a realidade dos próprios alunos. Ainda nesta etapa da
aula, todas as respostas serão lidas em voz alta, para que assim, a partir das próprias
concepções que os alunos apresentaram, poderem compreender melhor de que modo
a noção de “cultura” é atualmente refletida pelo senso comum em seu próprio contexto.
Momento 3 - Definições do conceito de cultura com base em referências teóricas
A partir das teorias selecionadas, são apresentadas as principais concepções acerca do
conceito de “cultura”:
Em “A Invenção da Cultura”, o antropólogo estadunidense Roy Wagner desenvolve uma
análise do conceito de “cultura” enquanto capacidade inventiva da mente humana.
Nesta teoria, Roy Wagner primeiramente busca definir o que seria um “elemento
cultural” — de um modo geral, qualquer aspecto humanamente identificável e traduzível
da realidade — e afirma que a “cultura”, enquanto capacidade inventiva da mente
humana, torna-se possível através dos processos mentais de simbolização convencional
e de simbolização diferenciante dos elementos culturais. No processo de simbolização
convencional, os elementos culturais são assimilados ou interpretados em uma
dimensão convencional de determinado contexto cultural, através da qual os elementos
culturais podem simbolizar ou representar os mesmos significados para indivíduos
diferentes. No processo de simbolização diferenciante, os elementos culturais são
assimilados ou interpretados em uma dimensão “diferenciante”, singular ou própria de
cada pessoa, através da qual os mesmos elementos culturais podem simbolizar ou
representar significados diferentes para cada indivíduo.
Em “Cultura com aspas”, a antropóloga brasileira Manuela Carneiro da Cunha
desenvolve uma investigação acerca das maneiras com que a noção de cultura pode
refletir os modos de organização da experiência e da ação humana em universos
discursivos distintos: tanto para a organização da experiência e da vida social entre os
indivíduos de um mesmo grupo étnico, comunidade, sociedade ou nação, quanto para
a organização da experiência e da vida social através de conhecimentos universais que
possibilitem a ocorrência de diálogos ou intercâmbios sócio-culturais entre diferentes
grupos étnicos, comunidades, sociedades ou nações.
Adam Kuper, em “Cultura, a visão dos antropólogos” estuda o desenvolvimento
genealógico do conceito de cultura a partir de algumas teorias fundamentais da
Antropologia, ao mesmo tempo que critica os usos indevidos e indiscriminados do
conceito em contextos teóricos que podem servir para fixar determinadas diferenças
culturais no intuito de discriminá-las. Kuper sugere ainda que o conceito de “cultura”
seja utilizado para definir objetos teóricos elaborados a partir de análises
comparativas com base em construções sociológicas das realidades observadas.
O texto “Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente”, de Edward Said, sugere
os potenciais simbólicos da “cultura” ao estudar as expressões literárias enquanto
manifestações culturais capazes de constituir e de difundir no Ocidente uma
representação homogeneizante e generalizada de Oriente.
Momento 4 - Conclusão: Síntese através de uma breve análise comparativa entre as
noções de senso comum e as definições teóricas do conceito de “cultura”
Após analisar as definições de senso comum acerca do conceito de
“cultura” (compartilhadas pelos próprios alunos), e compará-las com as definições
teóricas elaboradas nos textos apresentados, os alunos poderão, portanto,
compreender melhor a tentativa de definição teórica do conceito de “cultura” a partir
destas diferentes concepções, e poderão também compreender a importância do
conceito de “cultura” para a Antropologia e para a própria vida social.
©2015 Eduardo Galvani
Proibida a reprodução integral ou parcial sem a autorização expressa do autor.
[email protected]
Referências:
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo, Cosac & Naify, 2010 [1975].
KUPER, Adam. Cultura, a visão dos antropólogos. Bauru, SP:EDUSC, 2002. Cap. 6: “Admirável mundo novo”, p.
259-286.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Cultura com Aspas , São Paulo: Cosac Naify. Cap. 19: “Cultura” e cultura:
conhecimento tradicionais e direitos intelectuais.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, Cia. das Letras (Série Cia. de Bolso),
2015 [1978].
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