Universidade Estadual do Centro Oeste

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Conhecer através da Dúvida em Descartes
Rogério Taiok SESU/MEC Filosofia
Orientador: Ernesto Giusti
O intuito desse trabalho será expor o método proposto por Descartes, para que se
obtenham evidências até que se consiga chegar a um conhecimento livre de opiniões não
confiáveis. Através de uma leitura e análise da obra Meditações sobre Filosofia Primeira,
enfatizando as Três primeiras meditações, serão analisados os diversos momentos e
aspectos do método cartesiano e de seu elemento inicial, a dúvida. Com a leitura dessas
meditações, juntamente com obras que tratem do pensamento cartesiano, pretende-se
expor os diversos aspectos de um argumento tão central para a história da filosofia.
Trata-se dos elementos dos quais podem ser colocados em dúvida para que através
desse método cartesiano, possamos derrubar as incertezas e afastar as armadilhas que
determinadas opiniões podem propiciar, nos levando a acreditar em falsas idéias sobre
determinado assuntos. Assim, o autor faz uma reflexão de todas as coisas falsas que eram
tidas como verdades, e de tudo que construiu a partir dessas falsas idéias. Partindo disso,
ele tenta se livrar de tudo aquilo que pode levar a um falso entendimento, uma falsa
verdade fazendo com que se obtenha um falso conhecimento.
Começando pelos sentidos, que podem nos enganar, Descartes reflete sobre as
determinadas ocasiões que os sentidos podem nos confundir nos levando ao erro.
Com efeito, tudo o que admiti até agora como o que há de mais
verdadeiro, eu recebi dos sentidos ou pelos sentidos. Ora, notei que
os sentidos as vezes enganam e é prudente nunca confiar plenamente
no que, seja uma vez, nos enganaram (DESCARTES,1999, p.17).
Existem momentos em que os sentidos nos enganam, mas somos enganados acerca
de coisas muito pequenas e afastadas. Porém em determinadas ocasiões não podemos
duvidar nem mesmo que seja através dos sentidos, Descartes ilustra essa afirmação através
do exemplo de estar sentado com um papel na mão vestindo roupa de inverno e tocando
em seu próprio corpo. Isso então seria uma evidência concreta, a não ser que fosse insano,
pois se sua mente estivesse prejudicada poderia imaginar várias coisas que não seriam
reais.
Descartes também coloca em dúvida os nossos sonhos, pois podemos ser
enganados por nossos sonhos, principalmente quando sonhamos com acontecimentos
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muito semelhantes a realidade, ou também podemos ser enganados pela nossa própria
imaginação.
Não é necessário tentar mostrar radicalmente que todas as opiniões podem ser
falsas, afinal a dúvida no projeto cartesiano não assume em nenhum momento um ponto
de vista cético, onde se duvida sem nenhuma outra finalidade que o próprio duvidar. Ao
invés de uma concepção cética, Descartes utiliza a dúvida como ponto de partida para uma
reflexão e como um caminho para se obter uma verdade. Ela serve assim de preparação ao
estabelecimento do método para que se possa chegar a um conhecimento.
Existem coisas que, segundo o autor, não há como duvidar, é o que ele chama de
coisas “verdadeiras e existentes”, isso deixa claro que o intuito nunca foi duvidar
radicalmente de tudo, caso isso ocorresse, a dúvida no projeto cartesiano acabaria sendo
mais um método cético do que um caminho para se chegar a um conhecimento através das
evidências obtidas pelo fato de duvidar.
Essas coisas “verdadeiras e existentes” são exemplificadas por Descartes através da
natureza corporal (cabeça, olhos, ouvidos, mãos, pés, entre outros). Ele afirma também
que caso se duvide dessa natureza que é algo bastante evidente, então não seria errado
duvidar também das ciências.
Partindo disso, não seria talvez incorreto concluir que a Física, a
Astronomia, a Medicina e todas as outras disciplinas que dependem
da consideração das coisas compostas são, na verdade, duvidosas, ao
passo que a Aritmética, a Geometria e outras desse modo, - que
tratem senão de coisas muito simples e muito gerais, pouco se
preocupando com que estejam ou não na natureza das coisas, contêm algo certo e fora de dúvida. (DESCARTES 1999, p. 21)
Na segunda Meditação permanecendo no método da dúvida. Será exposta a
maneira que Descartes utilizou para justificar e legitimar a sua existência. Por meio da
dúvida é que surge o juízo “Eu sou, eu existo”, e é nesse momento que Descartes coloca que
existe pelo fato de ser um sujeito pensante, ou melhor, exclusivamente pensante. Também
é um sujeito que através do pensamento pode duvidar, pode compreender, afirmar ou
negar, para então conhecer.
Ele se coloca como individuo pensante, por conseguinte, um individuo existente,
pois o pensamento é a única coisa que não pode ser separado dele. Pode-se dizer que o
simples fato de duvidar da sua existência já é uma evidência de que existe, pois no
momento em que se duvida se pensa, logo existe.
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“Eu, eu sou, eu, eu existo, isto é certo. Mas por quanto tempo? Ora,
enquanto penso, pois, talvez pudesse ocorrer também que, se eu já
não tivesse nenhum pensamento, deixasse totalmente de ser. Agora,
não admito nada que não seja necessariamente verdadeiro: sou,
portanto, precisamente, só coisa pensante, isto é, mente ou ânimo,
intelecto ou razão, vocábulos cuja significação antes eu ignorava. Sou,
porém uma coisa verdadeira e verdadeiramente existente. Mas qual
coisa? Já disse: coisa pensante”. (DESCARTES 1999, p. 43)
Tanto na Primeira Meditação quanto Terceira, em diversos momentos é tratado
sobre uma dúvida metafísica. Sendo esta introduzida na Primeira Meditação, quando
Descartes coloca em questão colocar nossas fontes habituais do conhecimento em dúvida,
ou seja, como a razão pode se enganar, a verdade do simples é colocado em questão,
através dos exemplos citados no início. Pode-se dizer também que a dúvida metafísica seria
a evidência colocada em questão, porém:
Em Descartes, a dúvida não é jamais arbitrária, ela só é real ou
relevante se existirem razões fundamentais ou plausíveis de duvidar.
Assim, não é suficiente para se duvidar da evidência mostrar que a
sua “força” persuasiva depende da sua atualidade, que as evidências
passadas não podem ser consideradas como evidências, etc.; é
necessário, ainda, que sejam indicadas as razões que tornem
plausível a dúvida (LANDIM FILHO, 1992, p. 107).
Também fato de poder haver um Deus Enganador, ou um Gênio Maligno poderoso
de forma soberana, que pode tudo, é uma razão metafísica de duvidar por colocar a razão
humana em questão como faculdade de conhecimentos verdadeiros.
Descartes coloca em questão a hipótese de haver esse Deus Enganador ou Gênio Maligno,
porém ele ainda não tem a certeza nem da existência de Deus,com isso, não teria uma
evidência suficiente se haveria algum Deus, por conseguinte a razão de duvidar que
depende somente dessa opinião seria muito tênue, por isso metafísica.
Na Primeira e na Terceira Meditação a Dúvida metafísica é formada pelo argumento
de que se Deus é enganador ou o criador da razão é imperfeito, sistematicamente a razão
será propícia do erro, ou seja, irá se enganar mesmo usando corretamente o único critério
que dispõe. Porém, posteriormente Descartes trata de um Deus perfeito, o que acaba por
resolver o paradigma do Deus Enganador, mas isso é tratado somente na 4° Meditação.
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Bibliografia
DESCARTES. Meditações sobre filosofia primeira. Campinas: UNICAMP, 1999. 225p.
Edições bilíngües.
LANDIM FILHO, Raul Ferreira. Evidencia e verdade no sistema cartesiano. São Paulo:
Loyola, 1992. 131p. (Coleção Filosofia, 23).
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