PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Medicina Veterinária Curso de Medicina Veterinária em Betim Cláudia Marques Falagan Diniz Ilza Moreira Barbosa Prado PRINCIPAIS DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS EM FELINOS DOMÉSTICOS (FELIS CATUS)- RELATOS DE CASOS Betim 2013 Cláudia Marques Falagan Diniz Ilza Moreira Barbosa Prado PRINCIPAIS DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS EM FELINOS DOMÉSTICOS (FELIS CATUS)- RELATOS DE CASOS Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. Orientadora: Profª Dra. Regina Bueno Betim 2013 Cláudia Marques Falagan Diniz Ilza Moreira Barbosa Prado PRINCIPAIS DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS EM FELINOS (FELIS CATUS)- RELATO DE CASOS Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. ____________________________________________ Regina Bueno (orientadora) – PUC Minas __________________________________________________________ Ana Letícia Ferreira Bicalho- Clínica Veterinária .São Francisco de Assis ____________________________________________ Ana Paola Brendolan – PUC Minas Betim, 20 de Junho de 2013 AGRADECIMENTOS A Deus, porque o que seria de nós, sem a fé que temos nele. E por ele nos permitir estar aqui hoje agradecendo a todos que tornaram possível a realização deste nosso sonho. A Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e aos nossos professores expressamos os nossos sinceros agradecimentos pela contribuição na nossa formação profissional e humana. A nossa adorável orientadora Regina pela paciência de corrigir nossos textinhos em amarelo e na orientação e incentivo, que tornaram possível a conclusão deste trabalho. A Dra Ana Letícia Ferreira Bicalho e Dra Myrian Iser pela imensa colaboração nesta etapa final. Aos nossos pais, irmãos, maridos e toda nossa família que com muito carinho e apoio não mediram esforços para que chegássemos até esta etapa da nossa vida. É aos empurradores de plantão, que sempre nos dizem vão em frente, que dedicamos esta conquista. É difícil agradecer todas as pessoas que de algum modo fizeram parte da nossa história por isso agradecemos a todos de coração. Agradecemos, em especial, a todos os nossos amigos de quatro patas, que alegram nossa casa, e que são a força maior, pela qual escolhemos esta admirável profissão. Até o mais seguro dos homens e a mais confiante das mulheres já passaram por um momento de hesitação por dúvidas enormes e dúvidas mirins, que talvez nem mereçam ser chamadas de dúvidas, de tão pequenas. Vacilos seria melhor dizer......... Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo aqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco de sua energia conosco insistindo....... MEDEIROS, 2008, p.15 RESUMO As endocrinopatias mais comuns em felinos são o Hipertireoidismo e o Diabete Melito e estão entre as doenças mais comuns na população felina de meia idade e geriátrica. Neste trabalho relatam-se dois casos de distúrbios endócrinos: Diabete Melito e Hipertireoidismo. No caso relatado de Hipertireoidismo, foi atendida na Clínica Veterinária São Francisco de Assis, município de Belo Horizonte, uma gata SRD, de dezoito anos com aumento de volume na glândula tireóide, emagrecimento, desidratação e constipação crônica. A dosagem do hormônio T4 total caracterizou um quadro de hipertireoidismo. Foi instituído o tratamento com Metimazol. Durante o período de tratamento o animal apresentou sinais gastrointestinais como constipação e vômitos e redução do peso corporal. Exames de ultrassonografia abdominal sugeriram um quadro de hepatose difusa, além de gastrite e cistite. Dosagens de T4 realizadas posteriormente indicam que não houve redução dos níveis do T4 total em decorrência da interrupção constante do tratamento pela proprietária. O animal apresentou em um dos retornos à clínica um quadro de hipocalemia. Já ao ultrassom, as alterações hepáticas se mantiveram, o baço estava congesto, o pâncreas com sinais de pancreatite, os rins apresentavam nefropatia e o sistema digestório alças intestinais espessas. Com agravamento dos sinais clínicos, a proprietária optou pela eutanásia. Os altos níveis do hormônio T4 podem ter contribuído para o agravamento dos sinais, além da senilidade da paciente. No caso relatado de Diabete Melito, foi atendido na Clínica Veterinária Gato Leão Dourado, município de Belo Horizonte, um gato, macho, da raça Angorá, com sete anos de idade com histórico de emagrecimento rápido, poliúria, polidipsia e prostração. O hemograma e a bioquímica sérica evidenciaram alterações compatíveis com Diabete Melito tipo II. O tratamento inicial prescrito foi a Glipizida, mas não foi considerado efetivo com a persistência da hiperglicemia, optando a veterinária pela insulinoterapia (NPH), com ajuste das doses através de curvas glicêmicas. Aproximadamente um ano após o início do tratamento, o animal apresentou uma crise de hipoglicemia, sendo medicado com glicose 50% por via intravenosa. Com isso, constatou-se a reversão do DM e foi suspenso o uso da insulina, com monitoramento da glicemia periodicamente onde o animal manteve a glicemia estável. Em uma nova consulta o paciente apresentou redução do peso, além de um quadro de hiporexia, foi internado e feito tratamento de suporte, mas veio a óbito sendo constatado, por meio de histopatologia um quadro de Pancreatite Necrótica Aguda, que pode ocorrer em casos de gatos diabéticos, sendo considerada idiopática. Palavras-chave: Felinos, Distúrbios endócrinos, Hipertireoidismo, Diabete Melito. ABSTRACT The most common endocrinopathies in cats are Hyperthyroidism and Diabetes Mellitus and are among the most common diseases in the feline population of middle-aged and elderly. This paper we reports two cases of endocrine disorders: Diabetes Mellitus and Hyperthyroidism. In the reported case of hyperthyroidism, was served Veterinary Clinic, Belo Horizonte, domestic short-hair cat, eighteen years with swelling in the thyroid gland, weight loss, dehydration and chronic constipation. The dosage of the hormone T4 full featured a picture of hyperthyroidism. Treatment was instituted with Methimazole. During the treatment the animal had constipation and gastrointestinal signs such as vomiting and reduced body weight. Abdominal ultrasound examinations suggested a framework hepatose diffuse, besides gastritis and cystitis. Dosages of T4 conducted later indicated that there was no reduction in the levels of total T4 due to the constant interruption of treatment by the owner. The animal presented in one of the returns possible clinical renal fibrosis and hypokalemia. At the ultrasound, the liver changes were maintained, the spleen was congested, the pancreas showed signs of pancreatitis, kidneys presented nephropathy and digestive system thickening of the bowel. With worsening of clinical signs, the owner of the patient opted for euthanasia. The high levels of T4 hormone may have contributed to the worsening of the signs also the patient’s senility signs of senility. In the reported case of diabetes mellitus, was seen at Veterinary Clinic, Belo Horizonte, a Angora cat , male, seven years old with a history of rapid weight loss, polyuria, polydipsia, and prostration. The blood count and serum biochemistry showed changes consistent with Type II Diabetes Mellitus, initial treatment was prescribed Glipizide, but was not considered effective with persistent hyperglycemia, opting for veterinary insulin (NPH), with dose adjustment through glycemic curves. Approximately one year after the start of treatment, the animal had a hypoglycemia crisis, being treated with 50% glucose intravenously. With that, was found the reversal of DM and was suspended the use of insulin and the glucose levels monitored were periodically where the animal remained stable with glycemia. In a new query the patient had weight reduction, as well as for appetite loss; it was then hospitalized and made supportive treatment, but came to death and revealed, through a Histopathology exam Acute Necrotic Pancreatitis, which can occur associated with cases of cats diabetes and is considered idiopathic. Keywords: Felines, endocrine disorders, hyperthyroidism, diabetes mellitus. LISTA DE SIGLAS ALT - Alanina Aminotransferase AST - Aspartato Transaminase DM - Diabete Melito DMDI - Diabete Melito Dependente de Insulina DMNDI - Diabete Melito não Dependente de Insulina DMF - Diabete Melito Felina FA - Fosfatase Alcalina NPH - Insulina Recombinante Humana PD - Polidipsia PU - Poliúria PZI - Insulina Protaminozínica T(3) - Triiodotironina T(4) - Tiroxina TFG - Taxa de Filtração Glomerular TSH - Hormônio Estimulante da Tireóide LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Quadro resumo do caso clínico de Hipertireoidismo..............................34 TABELA 2- Hemograma e bioquímica sérica de um felino com quadro compatível de Diabete Melito tipo II. Leucograma e contagem de plaquetas dentro dos padrões de normalidade................................................................................................................36 TABELA 3 – Resultado do monitoramento periódico do paciente diabético após o inicio da insulinoterapia com NPH..............................................................................37 TABELA 4 – Resultado do monitoramento periódico do paciente diabético após suspender o uso da insulina NPH..............................................................................38 TABELA 5 – Quadro resumo do caso clínico de Diabete Melito................................39 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................13 2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................15 2.1 HIPERTIREOIDISMO.............................................................................15 2.1.1 Etiopatogenia.....................................................................................15 2.1.2 Aspectos clínicos..............................................................................16 2.1.3 Diagnóstico........................................................................................17 2.1.4 Tratamento.........................................................................................19 2.1.4.1 Fármacos antitireóideos................................................................20 2.1.4.2 Iodo Radioativo...............................................................................20 2.1.4.3 Cirurgia............................................................................................21 2.1.4.4 Homeopatia.....................................................................................22 2.2 Diabete Melito.......................................................................................22 2.2.1 Etiopatogenia.....................................................................................22 2.2.2 Aspectos clínicos..............................................................................24 2.2.3 Diagnóstico........................................................................................25 2.2.4 Tratamento.........................................................................................26 3. RELATO DE CASO DE HIPERTIREOIDISMO........................................29 4. DISCUSSÃO DO RELATO DE CASO DE HIPERTIREOIDISMO...........31 5. RELATO DE CASO DE DIABETE MELITO............................................36 6. DISCUSSÃO DO RELATO DE CASO DE DIABETE MELITO...............41 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................44 REFERÊNCIAS............................................................................................46 ANEXO Artigos...........................................................................................51 Hipertireoidismo em gatos- Relato de Caso Diabete Melito em gatos- Relato de Caso 13 1. INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, o homem vem mudando a tradição de morar em casas para morar em espaços casa vez mais reduzidos, esta modificação urbana faz com que os gatos sejam cada vez mais solicitados como animais de estimação, visto que não precisam de grandes ambientes, são higiênicos e independentes. Com isso a população de felinos domésticos vem crescendo, sendo comuns na clínica médica de pequenos animais as doenças que estejam associadas à mudança de hábitos alimentares, alterações comportamentais, ou devido ao aumento da expectativa de vida dos animais de companhia. Distúrbios endócrinos são comuns em gatos, entre eles os mais prevalentes são o Hipertireoidismo e o Diabete Melito, que estão entre as doenças mais comuns na população felina de meia idade e geriátrica (GRAVES, 2007; SCHERK, 2007). O hipertireoidismo afeta um em cada trezentos gatos e em 99% dos casos, os pacientes apresentam hiperplasia nodular benigna na glândula tireoide. É a endocrinopatia mais comum em gatos acima de oito anos de idade, sendo treze anos, a média da idade dos animais acometidos, podendo variar entre quatro e vinte anos. Menos de 5% dos gatos com hipertireoidismo tem idade inferior a oito anos e não existe predisposição sexual (NELSON; COUTO, 2010; GUNN-MOORE, 2005). Embora a incidência desta endocrinopatia ter aumentado desde o início da década de oitenta, o que a tornou foco de estudos por especialistas, a causa da hiperplasia da glândula tireóide ainda é desconhecida. Há evidências de que fatores ligados à dieta dos gatos, como o aumento de produtos enlatados, contendo elevado teor de iodo, produtos estes classificados como bociogênicos dietéticos, ou ainda, alterações nas formulações das rações felinas no final da década de setenta e início da década de oitenta, e causas ambientais como toxinas, poluição, exposição à alérgenos e também causas genéticas (mutação genética, respostas imunes anormais ou alterações hormonais) (GUNN-MOORE,2005). Em razão dos efeitos multissistêmicos do hipertireoidismo, dos sinais clínicos variáveis e de sua semelhança com diversas outras enfermidades do gato, o 14 hipertireoidismo deve ser suspeitado em qualquer gato idoso (acima de dez anos de idade) com problemas clínicos (NELSON; COUTO, 2010). A outra enfermidade endócrina mais frequente em felinos é a Diabete Melito Felina (DMF). A idade é um fator de risco para o aparecimento do DMF, sendo que os gatos mais afetados tem acima de oito anos de idade, com maior incidência entre dez e treze anos. Outro fator importante para DMF é a obesidade, pois gatos obesos apresentam uma probabilidade 3,9 vezes superior de desenvolverem DMF, do que felinos com o peso ideal e 60% dos gatos diabéticos estão acima do peso. Como o número de gatos obesos tem crescido nas últimas décadas, consequentemente, a DMF também. Outros fatores de risco incluem a atividade física reduzida, administração de glicocorticóides e progestágenos, esterilização e o sexo masculino, pois 70% dos gatos diabéticos são machos (REUSCH, 2011; RAND, 2005). Atualmente, 80% da DMF é do tipo 2, uma doença que se deve à combinação entre a ação reduzida da insulina (resistência a insulina) e insuficiência das células Beta. Os fatores ambientais e genéticos desempenham um papel importante no desenvolvimento de ambos efeitos. A prova mais convincente de fatores genéticos resulta de estudos realizados em gatos da raça Birmanês, onde a freqüência de DMF é superior à dos gatos domésticos (REUSCH,2011). Doenças concomitantes são comuns no gato diabético no momento do diagnóstico, o que é atribuído à idade avançada na maioria dos gatos diabéticos e por algumas doenças predisporem DMF como, por exemplo, a neoplasia pancreática, o hiperadrenocorticismo, as cistites entre outras. As doenças encontradas concomitantemente no momento do diagnóstico incluem hipertireoidismo, doença inflamatória do intestino, anemia, neoplasia e insuficiência renal (RAND, 2006). Este estudo tem como objetivo relatar as doenças endócrinas mais comuns em felinos domésticos na rotina da clínica de pequenos animais associada a uma revisão literária atualizada, buscando informar à comunidade acadêmica sobre a etiologia, a sintomatologia, o diagnóstico e o tratamento destas doenças, além de apresentar casos clínicos das respectivas doenças, como forma de permitir uma discussão mais profunda sobre as mesmas, respaldado na literatura e assim permitir ampliar o conhecimento clínico. 15 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 HIPERTIREOIDISMO O hipertiroeidismo é uma enfermidade multissistêmica que resulta da produção excessiva de tiroxina (t4) e triiodotironina (t3) pela glândula tireóide (NELSON; COUTO, 2010). O hipertireoidismo felino foi descrito e reconhecido como uma realidade clínica distinta pela primeira vez no final da década de setenta e desde de então é reconhecido como o distúrbio endócrino mais comum em gatos idosos (NORGRANN; et al , 2012; PETERSON, 2012; WALKELINDG; et al , 2009; PETERSON; WARD, 2007). Além de ser uma doença comum em gatos mais velhos tem muitas semelhanças com a doença em humanos (WALKELING; et al, 2011). Nos Estados Unidos e na Europa estudos mostraram que um em, aproximadamente, 300 gatos são afetados pela doença (CUNHA; et al, 2008). Não foi observada predisposição sexual no hipertireoidismo felino, enquanto que algumas raças são menos predispostas, como os gatos Himalaios e Siameses (CUNHA; et al ,2008). 2.1.1 Etiopatogenia Esta enfermidade é causada geralmente por uma disfunção da tireóide e raramente por alterações no hipotálamo ou na hipófise. Um ou ambos os lobos da tireóide podem estar acometidos, sendo mais comum, ambos os lados (PETERSON, 2012; WALKELING; ELLIOTTY; SYME, 2011; NELSON; COUTO, 2010; WET; et al, 2008; WARD, 2007). Geralmente massas tiroideanas são palpavéis na região ventral do pescoço, na maioria dos gatos com hipertiroidismo. A hiperplasia adenomatosa 16 multinodular é a alteração histológica mais comumente encontrada (NELSON; COUTO, 2010). A patogenia dessa doença permanece obscura e ainda não muito bem definida, entretanto, pressupõe-se que fatores imunológicos, nutricionais, ambientais ou genéticos estejam envolvidos no processo (PETERSON; WARD , 2007). Estudos epidemiológicos identificaram o consumo de alimentos industrializados enlatados como fator de risco para o desenvolvimento de hipertireoidismo, uma vez que a concentração de iodo é extremamente variável, chegando a 10 vezes acima do nível recomendado, além da presença, nestes enlatados, de substâncias que revestem os alimentos, sendo estes compostos de difícil metabolização na espécie felina, como relatado por diversos autores (EDINBORO; et al ,2013; PETERSON, 2012;NELSON; COUTO, 2010; CUNHA; et al, 2008). Outros autores ainda sugerem que o hipertireoidismo em felinos pode ser causado por compostos utilizados em materiais plásticos (bisfenolA) e eletrônicos presentes no nosso dia a dia. Isto ocorre pelo fato destes compostos químicos terem similaridade com os hormônios tiroideanos, e como os gatos tem o hábito de se lamberem acabam ingerindo estas substâncias que se encontram na poeira (NORRGRAN; et al , 2012; PETERSON, 2012). 2.1.2 Aspectos Clínicos As manisfestações clínicas do hipertireoidismo em gatos podem ser de discretas a severas, sendo modificadas pela duração do hipertireoidismo e pelas presença de anormalidades concomitantes em vários sistemas do organismo (PETERSON, 2004). Os sinais variam desde alterações no comportamento, até alterações no sistema nervoso e muscular que surgem como alterações neurológicas, disfunção motora de membros, fraqueza muscular grave, ventroflexão do pescoço e dificuldade respiratória. Outros sistemas são afetados, entre eles, o sistema digestório, pois os gatos apresentam um aumento no apetite com redução do peso; o sistema urinário, pois quando há disfunção concomitante pode se ter a situação agravada. Já as alterações cardiovasculares mais comuns são taquipnéia, 17 taquicardia, sopros e ritmos de galope (WARD, 2007; PETERSON, 2004). Em cerca de 5% dos animais acometidos se verifica o hipertireoidismo apatético, sendo configurado por depressão e astenia, acompanhado por sinais clínicos concomitantes (PETERSON, 2004). Os sinais clássicos do hipertireoidismo felino são perda de peso, polifagia, diarréia e vômito que podem ser justificados devido ao aumento da ingestão e utilização de calorias. Uma hipermotilidade intestinal e a má absorção pode explicar a diarréia e as fezes volumosas em gatos hipertireóideos, que parece contribuir para a ocorrência do vômito (PETERSON, 2004). A poliúria e a polidipsia ocorrem devido ao aumento do fluxo sanguíneo e das taxas de reabsorção e de excreção renal (PETERSON, 2004). A hiperatividade pode ocorrer porque o aumento dos hormônios tireóideos promove um efeito direto sobre o sistema nervoso, que leva às alterações comportamentais (BORIN-CRIVELLENTI, 2012; WARD, 2007; PETERSON, 2004). Podem ser observados também sinais dermatológicos como alopecia, pelos embaraçados, pelagem seca e sem brilho, além de comportamento minímo ou excessivo de limpeza (NELSON; COUTO, 2010). Alterações cardiorespiratórias podem ocorrer, sendo que o sistema respiratório pode ter diminuída a capacidade vital e a complacência pulmonar, levando à hiperventilação (PETERSON, 2004). No sistema cardiovascular são encontradas hipertrofia ventricular e hipertensão (WARD, 2007). Sugere-se que as anormalidades cardíacas associadas ao hipertireoidismo, ocorram devido uma ação direta dos hormônios tiroidianos sobre o miocárdio (PETERSON, 2004). 2.1.3 Diagnóstico O diagnóstico desta enfermidade se inicia com um bom exame clínico do animal. Deve se associar à anamnese os sinais clínicos observados e, geralmente, já é possível também palpar uma massa discreta da tireóide em gatos com hipertiroidismo. Porém, deve-se salientar que uma massa palpável na área cervical não é patognomônica da doença (BORIN-CRIVELLENTI, 2012; NELSON; COUTO, 2010). Um estudo realizado mostra que 90% dos gatos com hipertiroidismo 18 apresentam uma massa palpável na glândula tireóide (BORETTI, 2008). Com relação aos exames laboraboriais, o hemograma completo costuma estar normal, mas um aumento no hematócrito pode ocorrer, devido à desidratação. As mudanças mais marcantes são identificadas na bioquímica sérica, onde há aumento nas enzimas hepáticas como a fosfatase alcalina (FA) e alanina aminotransferase (ALT). É verificado também hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia (VLDL), hiperglicemia leve, hiperbilirrubinemia e hipocalemia severas, que podem ser observados na tireotoxicose aguda (SCHENCK, 2007). A redução da relação sódio/potássio pode ser vista em gatos tireotóxicos que apresentam insuficiência cardíaca, além da elevação da creatinoquinase (NELSON; COUTO, 2010; CUNHA; et al, 2008; WARD, 2007; SYME, 2007). Testes laboratoriais de dosagem hormonal são de extrema importância para confirmação da doença, sendo eles: a mensuração da concentração sérica basal de T4 total e livre, e teste de supressão de T3 total e TSH, para distinguir os gatos eutireoideos doentes e desta forma, não ocorrer erros na interpretação dos resultados (WALKELING; et al, 2008). Um estudo avaliou a função da glândula adrenal em gatos com hipertiroidismo e observou-se que os níveis de cortisol em gatos com hipertireoidismo foi mais alto, quando comparados com animais saudáveis. Pacientes com cortisol elevado por muito tempo, geralmente, possuem alguma doença crônica associada, uma vez que este hormônio sofre alteração quando o animal está diante uma situação de estresse (RAMSPOTT; et al , 2012). As glândulas adrenais foram diagnosticadas através do ultrassom 20% maiores em gatos com hipertireoidismo, devido estímulo do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (COMBES,2012). É importante uma avaliação da função cardíaca devido à associação do hipertireoidismo e cardiomiopatias. As radiografias podem revelar coração ampliado ou insuficiência cardíaca congestiva (BORIN-CRIVELLENTI, 2012; SYME, 2007). A ecocardiografia pode mostrar hipertrofia do coração (WARD, 2007). Não há evidências de que existam nefropatias específicas associadas ao hipertiroidismo, mas o aumento da pressão nos capilares glomerulares e a proteinúria em gatos acometidos pelo hipertiroidismo devem contribuir para progressão da doença renal pré-existente (RIENSCHE; GRAVES; SCHSEFFER , 2008; LANGSTON; REINE , 2006). A urinálise também torna-se importante, uma vez que a proteinúria é um 19 achado comum em associação com doença renal crônica e hipertireoidismo (WILLIANS; et al , 2010). Deve-se investigar a ocorrência concomitante de Hipertireoidismo e Diabete Melito, isto porque esta endocrinopatia também tem alta incidência em gatos idosos, sendo frequentemente diagnosticadas em associação. O exame de imagem da tireóide com radionucleotídeo fornece uma fotografia de todo tecido tireoidiano funcional e não funcional, além de identificar tecidos ectópicos em gatos com sinais da doença e ausência de nódulos palpavéis na tireóide,ou seja, em gatos com suspeita de hipertireoidismo oculto (CUNHA;. et al , 2008; FEENEY; ANDERSON , 2007). Este exame é considerado o melhor método diagnóstico mas com limitações devido ao custo (PETERSON, 2006). Os resultados na maioria dos gatos acometidos são marcadamente anormais e facéis de interpretar. O ultrassom cervical deve ser utilizado como uma ferramenta adicional na localização do tecido tireoidiano cervical (NELSON; COUTO , 2010). 2.1.4 Tratamento Toda terapia deve ser individualizada, considerando fatores como idade, o grau de evolução da doença, existência de doenças concomitantes, custo e disponibilidade do proprietário em colaborar com o tratamento de seu animal (CUNHA; et al , 2008). Três opções de tratamento estão disponíveis para hipertireoidismo felino, sendo estas propostas por diversos autores. As opções são: administração a longo prazo de fármacos antitireoidianos, destruição dos tecidos tireoidianos afetados com o uso de iodo radioativo e procedimento cirúrgico denominado tireoidectomia (CUNHA; et al , 2008; TREPANIER, 2007; WARD, 2007; NANN; et al , 2006). Além destas terapias convencionais há relatos de tratamento usando medicamentos homeopáticos. 20 2.1.4.1 Fármacos antitireóideos Os fármacos antitireóideos possuem fórmula oral. Geralmente tem preço acessível e são eficazes, não exigem internação mas precisa de monitorização constante e uso do fármaco continuamente (NELSON; COUTO , 2010; CUNHA; et al, 2008; TREPANIER, 2007; WARD, 2007). O metimazol é o fármaco mais utilizado e pode ser administrado por via oral, transdérmica, ou até retal em gatos. A via transdérmica na utilização do metimazol lipofílico foi estudada e demonstrou ser eficaz e relativamente segura, quando utilizada no pavilhão auricular, tendo reduzido a aplicação para uma vez, ao invés de duas vezes ao dia que é o padrão para o uso, e ainda proporcionou maior conforto e adesão ao tratamento, por parte dos proprietários (HILL, et al, 2011). No entanto, foi observado que o uso do metimazol via transdérmica deve ser feito a curto prazo, devido efeitos secundários como lesão na pele do conduto auditivo, além disso deve ser empregado preferencialmente em gatos com distúrbios gastrointestinais (LECUYER; et al, 2006). Exames devem ser realizados para monitorar e verificar se a dosagem está correta ou necessita ser ajustada. (NELSON; COUTO , 2010). Caso o paciente não encontre-se eutireóideo a dose deve ser ajustada ou a cirurgia deverá ser realizada. 2.1.4.2 Iodo radioativo Outro tratamento sugerido por diversos autores é o uso do iodo radioativo (Iodo 131) que é utilizado por via endovenosa, sendo este um metódo que demonsta resultados satisfatórios, quando se discute a cura do paciente (CUNHA;et al , 2008; NAAN; et al , 2006). Vale ressaltar que trata-se de um metódo caro e que torna todo o tratamento mais oneroso. Além disso um estudo realizado demonstrou que há presença de iodo nos excrementos como fezes, urina e até mesmo saliva dos gatos tratados desta maneira. A partir disso, existe o risco de radiação no contato com 21 pessoas e até mesmo do meio ambiente, assim, os pacientes sob tratamento devem ser isolados (LAMB; et al , 2013). Apesar do custo é o método menos invasivo e com resultados muito bons. 2.1.4.3 Cirurgia A tireoidectomia é uma opção efetiva no tratamento do hipertireoidismo felino, mas deve ser sempre considerada um procedimento eletivo (NELSON; COUTO , 2010; NAAN; et al , 2006). O animal deve ser estabilizado antes da cirurgia e a técnica escolhida deve ser bem avaliada afim de se evitar complicações pós operatórias. Existem diferentes técnicas descritas sendo elas: técnica de tireoidectomia intracapsular, onde ocorre a remoção de todo tecido tireóideo mas a cápsula permance juntamente com a glândula paratireóide. Esta técnica oferece segurança quanto a paratireóide mas pode deixar algum resíduo da tireóide, e o problema pode retornar (CUNHA; et al , 2008). Já quando se realiza o procedimento extraindo toda cápsula contendo o tecido tireóideo extinguisse a reicidiva da doença, mas há riscos de desenvolvimento do hipoparatireoidismo. Sendo assim uma alternativa é a realização da tireoidectomia extracapsular, com transplante da paratireóide (CUNHA; et al , 2008). Autores sugerem que complicações pós-cirúrgicas podem surgir sendo as mais importantes associadas à mortalidade relacionada com a cirurgia, hipoparatireoidismo pós-operatório, síndrome de Horner, recorrência que pode ser devido à ressecção incompleta da glândula hiperplásica, hipotireoidismo e além disso, um agravamento de alguma doença renal que o animal possa apresentar concomitante, isto porque o hipertireoidismo pode aumentar artificialmente a taxa de filtração glomerular (TFG), o que pode mascarar uma insuficiência renal (WILLIANS; et al , 2010; NAAN; et al , 2006). 22 2.1.4.4 Homeopatia Um estudo foi realizado onde se fez o uso de remédios homeopáticos em quatro gatos sendo que três animais responderam ao tratamento em um período de quatro anos (2006-2010) (CHAPMAN, 2011). Esta pesquisa teve como foco investigar formas alternativas para pacientes que não toleram bem os tratamento convencionais ou para proprietários que não conseguem arcar com o custeio dos tratamentos usuais. Todos os animais eram avaliados clinicamente e através de exames laboratoriais periodicamente. Níveis normais dos hormônios da tireóide foram alcançados e mantidos em três dos quatro gatos monitorados (CHAPMAN,2011). 2.2 DIABETE MELITO O Diabete Melito (DM) é uma enfermidade endócrina que se manifesta em resposta a uma falta relativa ou absoluta de insulina. Desde 1927 quando houve a primeira descrição do DM em gatos, a doença vem sendo diagnosticada em um número crescente de felinos (SOUZA, 2003). 2.2.1 Etiopatogenia Desarranjos metabólicos provocam no animal diabético uma deficiência relativa de insulina diminuindo a assimilação de glicose e outros nutrientes pelas células dos tecidos, resultando em moderada hiperglicemia. Já a deficiência absoluta de insulina leva a um excesso de glicose na corrente sanguínea (SOUZA, 2003). O organismo interpreta o DM como um estado onde o animal não se alimenta e por isso um processo catabólico se instaura para mobilizar gordura e proteína corporal, que serão utilizadas como fonte de energia. Aminoácidos e glicogênio são removidos do fígado e usados na gliconeogênese, piorando os desarranjos do 23 metabolismo de carboidratos. Ácidos graxos derivados do metabolismo de tecido adiposo são transformados em corpos cetônicos, o que culmina em cetonúria e cetoacidose se o processo não for corrigido (SOUZA, 2003). O DM é classificado de três formas: DM dependente de insulina (DMDI) ou tipo I, DM não dependente de insulina (DMNDI) ou tipo II e DM secundário. No gato a diabetes tipo I parece ser extremamente rara. A diferença básica entre DMDI e DMNDI é o grau de perda das células Beta, células estas responsáveis pela síntese de insulina no tecido pancreático endócrino (ilhotas pancreáticas) e no grau e reversibilidade da resistência a insulina (NELSON; COUTO, 2010). O DM secundário pode resultar de uma variedade de doenças como: pancreatite, acromegalia (aumento da secreção do hormônio GH) e emprego de medicamentos como glicocorticoides e acetato de megestrol que são hormônios que antagonizam a ação da insulina e causam exaustão da função pancreática (RUCINSKY; et al , 2010; SOUZA, 2003). Considera-se atualmente que a maioria (80%) da diabetes felina é do tipo II (HENSON; OBRIEN, 2013; REUSCH, 2011; NELSON; COUTO, 2010; RAND; MARSHALL, 2005). O DM tipo II é uma doença heterogênea que se deve à combinação entre a ação reduzida da insulina (insulino-resistência) e a insuficiência das células Beta (HENSON; OBRIEN, 2013; REUSCH, 2011; KIRK, 2006; SOUZA, 2003). Fatores ambientais e genéticos desempenham um papel importante no desenvolvimento da doença, uma vez que, devido a estes fatores desencadeantes da doença tem-se a perda funcional das células Beta pancreáticas, baixa concentração de insulina, transporte prejudicado da glicose circulante para a maioria das células e acentuada gliconeogênese hepática e glicogenólise (NELSON; COUTO, 2010). Acredita-se que ocorra uma hiperprodução de amilina, que é um hormônio polipepitídico sintetizado normalmente nas células Beta pancreáticas e secretado com a insulina. O excesso de amilina nas células Beta predispõe à polimerização e formação de amiloide, que é uma proteína insolúvel que se deposita nas células pancreáticas, causando perda da capacidade de secreção da insulina (SOUZA, 2003). A amilina pode antagonizar a ação da insulina levando à resistência da insulina (SOUZA, 2003). Estimulantes da secreção de insulina também estimulam a secreção de amilina (NELSON; COUTO, 2010; SOUZA, 2003). 24 A etiopatogênese do DMNDI é indubitavelmente multifatorial, trabalhos recentes sugerem que a intolerância aos carboidratos induzida pela obesidade e a deposição de amiloide especificamente nas ilhotas pancreáticas são também fatores causais no gato assim como no ser humano (RUCINSKY; et al , 2010; NELSON, 2004). Entre os fatores de risco para a DM pode-se citar a obesidade e a idade, sendo que a doença é mais comum em gatos mais velhos. A obesidade está diretamente relacionada à resistência à insulina (LUTZ, 2009; HOENIG, 2007; 2006). Observou-se também que o DM é diagnosticada mais frequentemente em gatos machos castrados, provavelmente relacionado à falta dos hormônios sexuais, sendo estes pacientes também mais velhos do que seis anos de idade, que é a mesma população com maior risco para obesidade (LUND, 2011; LUTZ, 2009; HOENIG, 2007; KIRK, 2006). Em gatos birmaneses com mais de oito anos, um em cada dez gatos foram diagnosticados diabéticos (RAND; MARSHALL, 2005). Segundo estudo australiano os gatos desta raça são mais acometidos (NELSON; COUTO, 2010; LUTZ, 2009). 2.2.2 Aspectos Clínicos Geralmente o histórico dos gatos diabéticos inclui sinais clínicos como polidipsia, poliúria, polifagia, perda de peso e hiperglicemia (NELSON; COUTO, 2010). Pode ocorrer glicosúria por que a capacidade tubular renal de reabsorver a glicose é ultrapassada. Assim a glicosúria cria uma diurese osmótica que induz a poliúria, e esta leva a polidipsia compensatória. Observa-se frequentemente também polifagia, perda de peso e hiperglicemia (SOUZA, 2003). Uma grande porcentagem dos gatos afetados por esta doença apresenta sobrepeso no momento do diagnóstico, mas com a progressão da doença, o gato demonstra aumento do apetite com diminuição do peso. Isso se deve ao fato do centro da saciedade ser afetado diretamente, uma vez que a quantidade de glicose que entra nas células desta região é insuficiente, devido à deficiência de insulina tornando o gato então polifágico, porque a saciedade não é atingida (LUTZ, 2009; SOUZA, 2003). Outros sinais clínicos incluem letargia, pelagem em más condições, catarata, desidratação moderada, nefromegalia, hepatopatia e icterícia, fraqueza dos 25 membros posteriores ou desenvolvimento de postura plantígrada (NELSON; COUTO, 2010; SOUZA, 2003). O quadro de posição plantígrada ocorre devido a uma neuropatia periférica secundária a DM, também sendo chamada de neuropatia periférica diabética (REUSCH, 2011; LUTZ, 2009; SOUZA, 2003). 2.2.3 Diagnóstico O diagnóstico do DM deve ser baseado na identificação dos sinais clínicos e exames laboratoriais, quando se observa hiperglicemia persistente e glicosúria. O clínico deve ter o cuidado para não confundir a hiperglicemia transitória induzida pelo estresse com o DM, uma vez que é uma condição muito comum em gatos sob estresse. (REUSCH, 2011; NELSON; COUTO, 2010; LUTZ, 2009; NELSON, 2004; SOUZA, 2003). Recomenda-se uma avaliação completa do estado de saúde do gato uma vez identificado como diabético. Deve ser realizado hemograma completo onde pode ser encontrado um leucograma de estresse e anemia não regenerativa, principalmente em caso de cetoacidose. A anemia ocorre por diminuição da eritropoiese e pela má ingestão de alimentos (NELSON; COUTO, 2010; SOUZA, 2003). O perfil bioquímico de gatos diabéticos pode revelar hiperglicemia decorrente da deficiência absoluta ou relativa de insulina, hipercolesterolemia resultante da dissociação de gordura em associação com catabolismo e diminuição do metabolismo de colesterol pelo fígado; elevação de Alanina Transaminase (ALT), Aspartato Transaminase (AST) e hiperbilirrubinemia podem ocorrer em gatos com lipidose hepática; azotemia pré renal, hiperalbuminemia e hiponatremia associadas a desidratação moderada ou grave, hipocalcemia e hipofosfatemia que ocorrem devido a déficit corporal total e hiperosmolaridade e acidose causada pela produção e acúmulo de corpos cetônicos (SOUZA, 2003). Na urinálise as principais anormalidades encontradas no gato diabético incluem glicosúria, cetonúria e baixa densidade urinária (SOUZA, 2003). Além disso, pode-se observar a presença de proteinúria e microalbuminúria, sendo comprovada em um estudo onde 70% dos gatos apresentaram estas alterações em associação à idade avançada. A proteinúria pode ser deletéria mesmo quando leve e serve como marcador de severidade da doença. É necessário determinar se a 26 presença da microalbuminúria em gatos diabéticos se deve ao não controle glicêmico ou a um desenvolvimento de insuficiência renal (AL-GHAZLAT; et al ,2011). A ultrassonografia abdominal deve ser realizada devido à alta incidência de pancreatite crônica em gatos diabéticos (REUSCH, 2011; NELSON; COUTO, 2010). Já a pancreatite aguda ocorre em apenas 5 % dos casos. A pancreatite é uma doença reconhecida em gatos diabéticos, não tendo uma causa muito evidente sendo considerada, na maioria das vezes, idiopática. (CANEY, 2013; ARMSTRONG; WILLIANS, 2012; FORCADA; et al, 2008). A pancreatite pode levar ao desenvolvimento da diabetes melito por aumentar a resistência à insulina bem como destruição e perda das células Beta. É difícil diagnosticar a pancreatite sem biopsia sendo necessário histórico, exames laboratoriais e imagem (CANEY, 2013). Um estudo examinou as concentrações da felinolipase imunopancreática (fPLI), onde foi significativo a maior prevalência das concentrações de fPLI em gatos diabéticos do que em gatos não diabéticos. Isto pode ser explicado pelo fato do estado diabético afetar o metabolismo desta enzima pancreática. Em resumo esta elevação pode representar a pancreatite embora outras razões existam para que ocorra aumento desta concentração. É necessário mais estudo para avaliar a influência da pancreatite sobre o controle, progressão e gestão do Diabete Melito (FORCADA; et al, 2008). 2.2.4 Tratamento O objetivo do tratamento consiste em eliminar os sintomas, prevenir complicações e, assim, permitir uma boa qualidade de vida (NIESSEN; et al, 2010). A remissão da doença em gatos diabéticos, com o tratamento adequado, é bastante elevada (REUSCH, 2011; RUCINSKY; et al, 2010). O controle glicêmico pode ser realizado nos gatos diabéticos através da modificação da dieta, do uso oral de hipoglicemiantes e do controle de problemas concomitantes (NELSON; COUTO, 2010). Deve se diferenciar DMDI e o DMNDI para determinar se o animal necessita de um tratamento à base de insulina ou não (NELSON; COUTO, 2010). O tratamento deve ser diferenciado entre DM não complicado e DM Cetoacidótico. No DM não complicado é indicado o tratamento inicial com 27 hipoglicemiantes orais, isto foi demonstrado em estudos comparando este tipo de tratamento citado, com a utilização de insulinoterapia (SOUZA, 2003). Estes fármacos estão presentes em cinco classes: sulfonilureias, meglitinidas, biguanidas, tiazolidinedionas e inibidores de Alfa glicosidae. Estes fármacos agem estimulando a secreção de insulina pancreática (sulfonilureias e meglitinidas) aumentando a sensibilidade do tecido à entrada de insulina (biguanidas e tiazolidinedionas) ou diminuindo a velocidade da absorção intestinal de glicose (Alfa glicosidase) (NELSON; COUTO, 2010). A glipizida (sulfonilureias) é o fármaco utilizado com maior frequência em felinos, e age estimulando a secreção de insulina, mas só deve ser usada em animais diabéticos com boa condição corporal, sem cetoacidose e com sintomatologia moderada (REUSCH, 2011). A insulinoterapia dependerá individualmente de cada paciente, uma vez que o metabolismo de cada tipo de insulina sintética varia de um animal para outro. A dosagem deve ser estabelecida através da curva glicêmica ou dosagem seriada de glicose (RUCINSKY; et al, 2010; SOUZA, 2003). A escolha pelo tipo de insulina baseia-se também na preferência e experiência pessoal do médico veterinário. As preparações comumente utilizadas são: insulina de ação intermediária (NPH – insulina recombinante humana), insulina de ação prolongada (insulina protaminozíncica- PZI bovina/suína veterinária) e a análoga Glargina que é uma insulina de ação lenta (NELSON; COUTO, 2010). Em um estudo foi comparado o uso da PZI veterinária com a PZIR humana, onde o uso da PZIR foi considerado bem sucedido com melhora do quadro clínico e do nível glicêmico em 85% dos gatos que participaram dos estudos. Quando o controle não foi eficiente estava associado a problemas de dosagem e absorção. O uso da PZIR deve ser feita em duas administrações diárias. A grande vantagem é que a PZIR oferece maior segurança por não se tratar de um produto derivado de animais, afastando desta forma o risco de doenças entre espécies, tal como a encefalopatia espongiforme (NELSON; COUTO, 2009; NORSWORTHY; LYNN; COLE, 2009). Atualmente, o composto utilizado com maior frequência é uma substância conhecida como glargina, pois possui um tempo de ação mais prolongado e revela melhor controle glicêmico quando administrado duas vezes ao dia, em vez de uma vez ao dia (REUSCH, 2011; NELSON; COUTO, 2010). Após sua utilização os animais tratados apresentaram maiores índices de remissão em alguns estudos, quando foi administrado duas vezes ao dia (RAND, 2006). Outros estudos comparativos 28 demonstram que a glargina tem ações semelhantes quando comparada à PZI (MARSHALL; RAND; MORTON, 2008). As complicações mais frequentes na insulinoterapia podem ser devido à dose excessiva de insulina que causa o efeito “Somogyi” sendo este definido como uma hiperglicemia matinal relacionada a uma hipersecreção dos hormônios contra reguladores consequentes a uma hipoglicemia noturna, e geralmente quando ocorre a utilização de uma dose em excesso de insulina ou ausência de alimentação à noite levam à hipoglicemia, além de resistência a insulina entre outros (NELSON; COUTO,2010). O manejo alimentar deve ser instituído com intuito de corrigir a obesidade, manter o conteúdo calórico dos alimentos e para se fornecer dietas que minimizem flutuações pós prandiais (NELSON, 2004). Estudos nutricionais demonstram que há uma melhora no quadro glicêmico quando se utiliza dietas contendo maiores quantidades de fibras e de proteína e menores quantidades de gordura e carboidratos (REUSCH, 2011; NELSON; COUTO, 2010; HOENIG, 2007; KIRK, 2006). Os pacientes devem ser reavaliados periodicamente uma vez que há possibilidade remissão do DM, e pode ocorrer uma hipoglicemia grave (REUSCH, 2011; ZINI; et al, 2010). Quando o gato apresenta DM Cetoacidótico, que é uma complicação crônica do DM é necessária uma intervenção com fluidoterapia, com o objetivo de corrigir a desidratação, os desequilíbrios eletrolíticos e o ácido-básico. Além disso, devem receber insulina regular cristalina de ação curta por via subcutânea três vezes ao dia até que a cetonúria tenha se resolvido. Para minimizar a hipoglicemia o gato deve ser alimentado com um terço da sua ingestão calórica usual no momento de cada aplicação de insulina. A dose de insulina deve ser ajustada tendo como base a concentração sanguínea de glicose. A redução da concentração sanguínea de glicose resulta na diminuição da produção de cetonas. Este tipo de complicação ocorre mais em gatos sem diagnóstico de DM estabelecido (SOUZA, 2003, NELSON; COUTO, 2010). Após a estabilização, o tipo de insulina utilizado deve ser de ação intermediária ou longa ação e o protocolo restante deve ser igual ao do gato diabético não complicado (SOUZA, 2003 ). 29 3. RELATO DE CASO DE HIPERTIREOIDISMO Foi atendida na Clínica Veterinária São Francisco de Assis, localizada em Belo Horizonte, no bairro Lourdes no dia 11 de março de 2010, uma gata, SRD, castrada, com 18 anos de idade, pesando 3 kg. O animal esteve na clínica apresentando, ao exame clínico, um aumento de volume na região lateral do tórax com 2 cm de diâmetro, discretamente desidratada (entorno de 6% de desidratação), mucosas normocoradas. Foi observado também, ao exame de palpação, aumento de volume na glândula tireoide. A proprietária relatou que o animal não estava se alimentando ou bebendo água, e que teve emagrecimento perceptível, pois seu peso normal era em torno de 5 kg. O animal tinha histórico de constipação crônica. A paciente foi submetida a exames complementares que consistiram em hemograma completo, bioquímica sérica e dosagem do hormônio T4 total. O hemograma não revelou alterações, já a bioquímica sérica demonstrou alterações nos valores da ureia (39mg/DL), fosfatase alcalina (132 U/L), TGP (115 U/L) e potássio (2,10 mEq/L). Com os resultados, foi realizada fluidoterapia via subcutânea, com reposição de potássio. O resultado da dosagem de T4 total foi obtido no dia 19/03/2010, onde o valor foi 150 ng/dL, caracterizando o quadro de hipertireoidismo. Nesta mesma data foi instituído o tratamento com o metimazol 2,5 mg de 12/12 horas, via gel transdérmico. No dia 30 de março de 2010, o animal voltou à clínica, na ocasião a proprietária disse que o animal não defecava há três dias, fazia força para defecar e não conseguia, além disso, também vomitava. Apesar do quadro apresentado, a paciente estava se alimentando bem e com nível de atividade muito elevada. Ao exame constatou-se, através de palpação na região abdominal, a presença de uma massa de consistência dura e firme com forma irregular. Novos exames de ultrassonografia abdominal, além de raios-X foram solicitados. O exame de raio-X mostrou poucas fezes no intestino grosso, já na ultrassonografia abdominal foram observadas alterações no fígado, que apresentava diminuição da ecogenicidade do parênquima, ausência de imagens estruturais, contorno irregular, além de ausência de dilatação das vias biliares e sistema vascular, sugerindo um quadro de hepatose difusa. A massa percebida na região abdominal eram fezes retidas, que foram 30 retiradas através de esvaziamento intestinal. Já com relação à hepatose, nenhum tratamento medicamentoso foi instituído, uma vez que a proprietária era resistente à administração de medicação oral. No dia 29 de abril de 2010, em nova consulta, a paciente estava com dificuldade de urinar, com temperatura de 38,5 graus, pesava 2,6 kg. Foi pedido pela veterinária um ultrassom da região abdominal, sendo que o resultado do mesmo demonstrou que as alterações do fígado se mantiveram, além de conteúdo hipoecóico na vesícula biliar, baço com diminuição da ecogenicidade, já no sistema digestório, o estômago apresentou-se com parede mais espessada e conteúdo hipoecóico e na bexiga foi visualizado conteúdo anecóico e parede espessada, sugerindo, com estes resultados, uma hepatopatia difusa, gastrite e cistite. O tratamento realizado foi cefovecina sódica 0,1 ml/kg, como antibiótico para tratamento do trato geniturinário e omeoprazol 1 comprimido de 10mg/dia, para prevenir úlceras gástricas, duodenais e esofagite. No dia 25 de agosto de 2011, o animal foi novamente levado à clínica, quando a proprietária relatou que a gata estava perdendo muito peso, estava mais apática, com fezes de consistência amolecida e dificuldade de locomoção. À avaliação foram observados os seguintes parâmetros: peso 1,9 kg, mucosas hipocoradas, temperatura retal 38 graus; à palpação renal observou-se diminuição de volume de ambos os rins, com consistência firme, além de taquicardia. Foram solicitados hemograma e bioquímica. No hemograma não havia alterações e na bioquímica sérica ureia (60mg/dL) e o potássio (2,99mEq/L) estavam alterados. No dia 30 de agosto foi realizada fluidoterapia com reposição de potássio e em seguida nova aferição dos valores de potássio foi feita e demonstrou regularização do nível (4,65mEq/L). Um novo exame para verificar o valor do hormônio T4 total foi realizado e o mesmo manteve-se elevado 150 ng/dL. Nesta ocasião a dosagem foi alterada para 5 mg de 12/12horas. No dia 2 de fevereiro de 2012 o animal foi levado à clínica com queixa de diarreia e a proprietária disse ter oferecido à paciente creme de leite. Ao exame clínico, os parâmetros cardíaco e pulmonar apresentaram-se normais, a gata continuava com peso bem abaixo do normal, sendo de 1,8 kg. Novos exames foram solicitados e o resultado do hemograma mostrou-se dentro dos parâmetros de normalidade, já na bioquímica sérica, o valor de ureia permanecia elevado (56mg/dL). 31 No dia 9 de fevereiro de 2012, mais uma vez o animal foi levado à consulta com dificuldade de evacuar, comendo pouco, com quadro sugestivo de enterite. Novos exames foram solicitados sendo: urina de rotina e ultrassonografia abdominal. O resultado do exame de urina demonstrou presença de leucócitos na urina, numerosos piócitos, muco e flora bacteriana aumentada. Já ao ultrassom, o fígado que já demonstrava alterações anteriormente, as manteve, sendo sugestivo um quadro de hepatopatia difusa; o baço estava congesto; o pâncreas mostrava sinais de pancreatite; os rins apresentavam nefropatia, devido à senilidade e o sistema digestório apresentou-se com parede espessada, indicativo de gastroenterite. A parede da bexiga estava irregular com a presença de cristais. Foram instituídos amoxicilina 10mg/kg 12/12 horas e enrofloxacina 2,5 mg/kg 12/12 horas por 7 dias para o trato genitourinário e trato gastrointestinal, como tratamento. No dia 20 de fevereiro as fezes do animal apresentavam-se pastosas, mas não havia sinais de retenção de fezes, mesmo assim, a proprietária relatou dificuldade em defecar e o animal estava desidratado. Os medicamentos instituídos foram cefovecina sódica 0,2 ml antibiótico e metilprednisolona 0,1 ml, indicado para distúrbios endócrinos e gastrointestinais, via subcutâneo. Não tendo uma evolução positiva do quadro e com o agravamento dos sinais clínicos da paciente, dois dias depois a proprietária optou pela eutanásia. 4. DISCUSSÃO DO RELATO DE CASO DE HIPERTIREOIDISMO O hipertireoidismo é uma doença de gatos de meia-idade a idosos com uma média inicial de diagnóstico de 12 a 13 anos. Cerca de 95% dos gatos acometidos pela doença possuem mais de oito anos de idade (ETTINGER, 1992). Portanto, a idade é um fator predisponente para o hipertireoidismo em felino, o que pôde ser confirmado no caso relatado, pois ao diagnóstico de hipertireoidismo, a gata estava com 18 anos. O fator idade não afeta somente a tireóide, mas também outras glândulas (MONNEY; PETERSON, 2004). Foi observado um aumento da glândula tireoide ao exame clínico, o que aumentou a suspeita para o hipertireoidismo, porém, deve-se salientar que uma massa palpável na área cervical não é patognômonica da doença (BORIN-CRIVELLENTI, 2012; NELSON; COUTO, 2010). 32 No entanto um estudo realizado mostra que 90% dos gatos com hipertireoidismo apresentam uma massa palpável na região da glândula tireóide (BORETTI, 2008) o que foi de encontro ao sinal clínico evidente no animal. Quanto à mensuração de T4 total, o aumento de T4 foi devido à produção excessiva do hormônio pela glândula tireoide (ETTINGER, 1992). As concentrações dos hormônios tireoidianos podem flutuar nos gatos com hipertireoidismo, mas isto não ocorreu no caso relatado, onde o animal manteve elevado o nível deste hormônio, como demonstrado nas medições séricas realizadas. Mesmo com a prescrição do metimazol, fármaco este indicado para o tratamento medicamentoso do hipertireoidismo em gatos (NELSON; COUTO, 2010; CUNHA; et al, 2008; TREPANIER, 2007; WARD, 2007), no caso apresentado não houve diminuição do T4 total, o que pode ter agravado os sintomas clínicos da paciente, por todo o período de acompanhamento da doença. Isto ocorreu devido à resistência da proprietária em medicar a paciente e interromper por diversas vezes o tratamento por conta própria, conforme relatado pela médica veterinária responsável pelo caso (comunicação pessoal). A ocorrência de sinais gastrointestinais como vômitos ocasionais, diarreia e perda de peso é comum em pacientes hipertireóideos (GONZÁLEZ; SILVA, 2006). A êmese pode resultar de uma ação direta dos efeitos deletérios causados pela tireotoxicose dos hormônios, que acionam os quimiorreceptores para o vômito ou pela hipermotilidade do trato gastrointestinal, ou até mesmo pelo excesso de alimentação. No caso discutido o animal apresentava um quadro de constipação crônica, e apenas em uma consulta foi observado quadro de diarreia, podendo então considerar que a paciente oscilava entre episódios de diarreia e constipação. A perda de peso pode ser justificada pelo excesso de utilização de calorias, devido a um metabolismo aumentado (PETERSON, 2004). A paciente também apresentou sinais de hiperatividade, sendo que este sintoma pode ocorrer porque o aumento dos hormônios tireóideos promove um efeito direto sobre o sistema nervoso, que leva às alterações comportamentais (BORIN-CRIVELLENTI, 2012; WARD, 2007; PETERSON, 2004). Em cerca de 5% dos animais acometidos se verifica o hipertireoidismo apatético, sendo configurado por depressão e astenia acompanhado por sinais clínicos concomitantes (PETERSON, 2004), em uma de suas consultas pode ser percebido claramente esta descrição, onde os sinais 33 clássicos estavam presentes além de apatia e dificuldade de locomoção. A apatia e a dificuldade de locomoção descritas no caso podem ocorrer devido à hipocalemia, constatada em dois momentos do histórico da paciente, sendo esta induzida pela tireotoxicose (FELDMAN; NELSON, 1996). A hipocalemia, presente em 32% dos gatos hipertireóideos ocorre devido à elevação dos hormônios da tireóide e à liberação de catecolaminas, estimulando o movimento do potássio do espaço extracelular para o intracelular (NAAN, 2006), neste caso, ocorreu também uma redistribuição do potássio, por que está havendo perdas do potássio, devido aos distúrbios gastrointestinais apresentado pela paciente. A taquicardia observada na paciente pode ser explicada como uma ação direta dos hormônios tireoideanos sobre o miocárdio pode levar a este sinal clínico (PETERSON, 2004). O hemograma da paciente não revelou alterações, como também observado por outros autores (NELSON; COUTO, 2010). As mudanças mais marcantes foram identificadas na bioquímica sérica, quando houve aumento da uréia e das enzimas hepáticas FA, ALT, além da hipocalemia. O aumento da taxa metabólica promove o hipermetabolismo hepático, desse modo, nota-se a elevação da atividade das enzimas hepáticas, em diferentes momentos deste caso. Dentre uma das possíveis causas de aumento destas enzimas está uma lesão hepática ou hipóxia hepática, devido aumento do consumo de oxigênio ou devido aos efeitos tóxicos de excesso de hormônios da glândula tireóide (GONZÁLEZ; SILVA, 2006). Assim, neste caso, aos achados ultrassonográficos, a paciente apresentava alterações hepáticas que podem ter se desenvolvido devido ao hipertireoidismo, que não foi controlado pelo tratamento instituído, ou causadas por doença concomitante. As alterações do fígado deveriam ser investigadas para descartar alguma hepatopatia associada ou verificar ainda, se o uso do fármaco antitireóideo poderia estar provocando estas alterações (NELSON; COUTO, 2010). O aumento da uréia pode ocorrer devido um estado catabólico acelerado, como o que ocorre nos gatos hipertireoideos (PETERSON, 2004), mas no caso relatado o aumento foi muito significativo, podendo estar associado a uma insuficiência renal ou até mesmo uma azotemia pré renal uma vez que o animal estava sempre desidratado.Na ultrassonografia abdominal o que mais chama a atenção é o espessamento da parede gástrica e dos segmentos intestinais, sendo compátivel com quadro de gastroenterite, um sinal clínico comum em gatos hipertireóideos (PETERSON; WARD, 2007). 34 Tabela 1: Quadro resumo do caso clínico de Hipertireoidismo Data Consulta Sinais Clínicos Exames Realizados Tratamento Instituído Idade 11/03/2010 • • 18 anos • Peso - 3 kg Aumento de volume na glândula tireoide. Levemente desidratada. • Hemograma completo-sem alterações. Bioquímica séricauréia (39mg/DL), FA(132 U/L), TGP (115 U/L) e potássio (2,10 mEq/L). Dosagem do hormônio T4 total 150 ng/DL • Tratamento com o metimazol 2,5 mg de 12/12 horas, via gel transdérmico. • Ultrassonografia abdominal Hepatopatia Difusa. • Nenhum tratamento medicamento so foi instituído. • Ultrassonografia abdominal – Hepatopatia difusa, gastrite e cistite. • Cefovecina sódica - 0,1 ml/kg; Omeoprazol – 1 comprimido de 10 mg/dia. Hemograma- Sem alterações. Bioquímica sérica - uréia (60mg/dL) e o potássio (2,99mEq/L). Dosagem do hormônio T4 total - 150 ng/DL. • • • • 30/03/2010 • Constipação vômito. • Nível de atividade muito elevada. • • Peso - 2,6 kg Dificuldade urinar e 18 anos 29/04/2010 18 anos 25/08/2011 19 anos • • • • • • Peso - 1,9 kg Apatia; Dificuldade locomoção; Fezes consistência amolecida; Mucosas hipocoradas; Taquicardia. de • de • de • • Fluidoterapia Tratamento com o metimazol 5 mg de 12/12 horas, via gel transdérmico. 35 Data Consulta Sinais Clínicos Exames Realizados Tratamento Instituído Idade • • Peso - 1,8 kg Diarreia 09/02/2012 • 20 anos • Dificuldade evacuar; Enterite 02/02/2012 • Bioquímica séricaureia (56mg/dL). • Urina rotina – leucócitos na urina, numerosos piócitos, muco e flora bacteriana aumentada Ultrassonografiahepatopatia difusa; o baço congesto; pancreatite; nefropatia, gastrite e parede da bexiga irregular com a presença de cristais. • __ • Cefovecina sódica 0,2 ml • Metilprednisol ona 0,1 ml. __ 20 anos de • 20/02/2012 • • Fezes pastosas Desidratação • Amoxicilina 10mg/kg 12/12 horas Enrofloxacina 2,5 mg/kg 12/12 horas por 7 dias 20 anos 36 5. RELATO DE CASO DE DIABETE MELITO Um gato, da raça Angorá, macho, castrado, com sete anos de idade, pesando 3,2kg, procedente da região da Pampulha, município de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, foi atendido na Clínica Veterinária Gato Leão Dourado, em 23 de janeiro de 2007. O proprietário relatou que o animal apresentava emagrecimento rápido, poliúria, polidpsia e prostração de grau leve. Ao exame clínico constatou-se que o animal apresentava hálito forte e estava abaixo do peso. Foi coletada amostra de sangue para exames laboratoriais que foram avaliados por hemograma, leucograma e exames bioquímicos. Hemograma e glicemia evidenciaram alterações compatíveis com o quadro de Diabete Melito tipo II. Já o leucograma estava dentro dos padrões de normalidade (Tabela 1). Tabela 2 – Hemograma e bioquímica sérica de um felino com quadro compatível de Diabete Melito tipo II. Leucograma e contagem de plaquetas dentro dos padrões de normalidade. Hemograma Hemácias - 11.260.000/mm Hematócrito - 46,5% Hemoglobina - 17,8 g/dl Leucograma 3 Bioquímica Sérica Leucócitos - 15.900/mm 3 Neutrófilos - 9.063/mm 3 Linfócitos - 3.975/mm Monócitos - 159/mm 3 3 Plaquetas - 421.000/mm 3 Glicemia - 330mg/dl Hemoglobina Glicosada - 6,30% 37 Foi prescrito para tratamento a Glipizida 2,5mg e ração Royal Canin Feline Diabetic, para correção da glicemia. No dia 29/01/2007 o animal retornou a clínica e foi coletada uma amostra de sangue, que constatou a persistência da hiperglicemia (glicose 339mg/dl e hemoglobina glicosada 6,30%), concluindo que o tratamento com Glipizida não foi efetivo. A insulinoterapia teve início no dia 16/02/2007, a insulina utilizada foi a NPH de 12/12 horas SC na dose de 2UI com o uso da caneta para a aplicação. Foram realizadas curvas glicêmicas na casa do proprietário, com três dosagens de glicemia ao dia, com uma aferição imediatamente antes da aplicação da insulina, outra seis horas após a aplicação de insulina e uma terceira antes da aplicação da próxima dose de insulina. Foi mantida a dieta prescrita. Após o início da insulinoterapia foi realizado o monitoramento periódico da glicemia e peso do paciente diabético (Tabela 2). Tabela 3: Resultado do monitoramento periódico do paciente diabético após o início da insulinoterapia com NPH. Data Glicemia Peso 13/03/2007 20/04/2007 25/04/2007 02/05/2007 09/05/2007 21/06/2007 31/10/2007 09/02/2008 234mg/dl 96mg/dl 107mg/dl 68mg/dl 89mg/dl 74mg/dl 93mg/dl LO 4,450kg 4,650kg 5,00kg 4,600kg O paciente retornou à clínica no dia 09/02/2008 em crise de hipoglicemia, constatado por meio do aparelho glicosímetro, cujo resultado foi LO (baixo); o animal foi internado e medicado com aplicação de glicose 50%, por via intravenosa. Foi suspensa a insulinoterapia com NPH e o veterinário concluiu a reversão do Diabete Melito. No dia 13/05/2008, o animal apresentou glicemia de 69mg/dl e peso de 4,450kg. Foi realizado o hemograma que obteve resultado dentro do padrão de normalidade. Após suspender o uso da NPH foi realizado o monitoramento periódico da glicemia e peso do animal. (Tabela 3). 38 Tabela 4 – Resultado do monitoramento periódico do paciente diabético após suspender o uso da insulina NPH. Data 13/05/2008 28/08/2008 01/09/2009 25/11/2009 21/01/2010 29/06/2010 07/07/2010 14/07/2010 06/10/2010 22/02/2011 20/09/2011 Glicemia Peso 69mg/dl 130mg/dl 79mg/dl 78mg/dl - 4,450kg 4,500kg 4,400kg 4,200kg 4,100kg 3,700kg 3,650kg 3,650kg 3,100kg 3,450kg 3,200kg Em uma outra consulta de rotina em 07/07/2010, o hemograma apresentou alterações como: Hemácias (12.450.000/mm 3) e Hematócrito (56,8%); a bioquímica sérica, revelou aumento da enzima Fosfatase Alcalina (125 U/L), Colesterol HDL (104mg/dl) e Colesterol LDL (56mg/dl). O proprietário retornou com o animal à clínica no dia 20/09/2011 com quadro de hiporexia. Foi internado e realizado tratamento de suporte. O hemograma realizado revelou linfopenia (375/mm3) e trombocitopenia (240.000/mm3) e na bioquímica sérica o aumento da enzima AST (109 UI/L). O animal permaneceu internado até o dia 30/09/2011e foi realizado novamente o hemograma, onde o resultado foi a linfopenia (1.216/mm 3) e a trombocitopenia (199.000/mm3). Animal veio a óbito no mesmo dia, foi realizada necropsia e colhido material (pâncreas e linfonodos mesentéricos) para a histopatologia, cujo resultado foi de Pancreatite Necrótica Aguda. 39 Tabela 5: Quadro resumo do caso clínico de Diabete Melito Data Consulta Sinais Clínicos Exames Realizados Tratamento Instituído Idade 23/01/2007 • 7 anos • • • • • 29/01/2007 • Emagrecimento rápido Poliúria Polidpsia Prostação de grau leve Hálito Forte Abaixo do Peso (3,2Kg) • • • Hemograma Leucograma Bioquímica Sérica • Persistência dos sinais clínicos • Bioquímica sérica Glicose 339 mg/dl (70 a 150mg/dl) Hemoglobina Glicosada 6,30% ( < menor que 2%) • Tratamento com Glipizida considerado não efetivo Curvas Glicêmicas 3 dosagens glicemia ao dia • Insulinoterapi a NPH de 12/12hrs SC dose 2UI com o uso da caneta Mantida Dieta • 16/02/2007 • Persistência dos sinais clínicos • • • • 09/02/2008 • 8 anos • 13/05/2008 • • Crise Hipoglicemia Peso 4,600kg de Consulta de Rotina Peso 4,450 kg • • • • Aferição glicose Glicosímetro Resultado LO (baixo) Aferição Glicose Glicosímetro (69mg/dl) Hemograma dentro dos padrões de normalidade • • Glipizida 2,5mg Ração Específica para gatos diabéticos Glicose 50% I.V Suspensa Insulinoterapi a 40 Data Consulta Sinais Clínicos Exames Realizados Tratamento Instituído Idade 07/07/2010 • • Consulta de rotina Peso 3,650 kg • 10 anos • • • • 20/09/2011 • Quadro hiporexia de • 11 anos • • 30/09/2011 • • Persistência do quadro clínico Óbito do paciente • • • • Hemograma:Hem ácias 12.450.000/mm3 ( 5.000.000 a 10.000.000/mm3 ) Hematócrito 56.8% (24,0 a 45,0%) Bioquímica Sérica Fosfatase Alcalina 125 U/L (10 a 80 U/L) Colesterol HDL 104mg/dl ( 40 a 86mg/dl) Colesterol LDL 56mg/dl (20 a 40mg/dl) • Sem tratamento Leucograma : Linfopenia 375/mm3 ( 1.500 a 7.000//mm3 ) Trombocitopenia 240.000/mm3 (250.000 a 800.000/mm3 ) Bioquímica Sérica AST 109 UI/L (10 a 80 UI/L) • Internado e tratamento de suporte Leucograma (Linfopenia 1.216/mm3) Trombocitopenia ( 199.000/mm3) Histopatologia do pâncreas e linfonodos mesentéricos (Pancreatite Necrótica Aguda) 41 6. DISCUSSÃO DO RELATO DE CASO DE DIABETE MELITO O Diabete Melito (DM) é uma doença que se deve à combinação entre a ação reduzida da insulina e insuficiência das células pancreáticas Beta, resultando em hiperglicemia (REUSCH, 2011). Dentre os fatores de risco para a DM podemos citar obesidade, idade e sexo, além de ocorrer mais frequentemente em machos castrados, provavelmente devido à falta dos hormônios sexuais, sendo estes pacientes também mais velhos do que seis anos de idade, que é a mesma população com maior risco para obesidade (LUND, 2011; LUTZ, 2009; HOENIG, 2007; KIRK, 2006). Tais fatores de risco puderam ser observados no caso descrito, pois no momento do diagnóstico de DM o animal estava com sete anos, era macho e castrado. Com relação ao peso, uma grande porcentagem dos gatos afetados por esta doença, apresenta sobrepeso no momento do diagnóstico, mas com a progressão da doença, o paciente demonstra aumento do apetite com diminuição do peso corporal (LUTZ, 2009; SOUZA, 2003), já no caso relatado, no dia da primeira consulta o animal estava abaixo do peso, com histórico de emagrecimento rápido, relatado pelo proprietário. Segundo Nelson (2010), gatos diabéticos incluem em seu histórico os sinais clínicos de poliúria, polidipsia, polifagia, prostração, perda de peso, hiperglicemia e desidratação moderada. Com exceção da polifagia, o animal do presente relato apresentava todas estas alterações. As alterações do hemograma foram compatíveis com quadro de desidratação, já a bioquímica sérica revelou hiperglicemia persistente o que pôde ser comprovada, com a dosagem de hemoglobina glicosada. A dosagem de hemoglobina glicosada ou de frutosamina podem auxiliar no diagnóstico de DM, pois indicam hiperglicemia de longa duração e ajudam o clínico a diferenciar da hiperglicemia momentânea por estresse (SOUZA, 2003). O tratamento inicial para esse paciente foi com hipoglicemiante oral, a glipizida, que foi associada à dieta específica para gatos diabéticos. Estudos nutricionais comprovaram que há uma melhora no quadro glicêmico quando se utiliza dietas contendo maior teor de proteína e fibras e menores quantidades de 42 gordura e carboidratos (REUSCH, 2011; NELSON; COUTO, 2010; HOENIG, 2007; KIRK, 2006). A glipizida é o fármaco utilizado com maior frequência em felinos e age estimulando a secreção de insulina; mas somente deve ser utilizada em animais diabéticos com boa condição corporal, sem cetoacidose e com sintomatologia moderada (REUSCH, 2011). A administração de glipizida deverá ser interrompida se os sinais clínicos piorarem e então, a insulina é iniciada, principalmente, se o gato desenvolver cetoacidose ou se as concentrações de glicose sanguínea, em jejum, permanecerem maiores que 300mg/dl, depois de um a dois meses de terapia com o hipoglicemiante (SOUZA, 2003). Neste caso, a terapia com a glipizida foi considerada sem sucesso, pelo médico veterinário, pois após seis dias de tratamento não houve redução da glicemia, iniciando então o tratamento com a insulina NPH (insulina recombinante humana), com a realização de curvas glicêmicas. A dosagem da insulina deve ser estabelecida através da curva glicêmica ou dosagem seriada de glicose. A escolha pelo tipo de insulina baseia-se também na preferência e experiência pessoal do médico veterinário (RUCINSKY; et al, 2010; SOUZA, 2003; NELSON;COUTO, 2010). Os pacientes com DM devem ser reavaliados periodicamente, uma vez que há possibilidade de remissão e então poder ocorrer hipoglicemia grave (REUSCH, 2011; ZINI; et al, 2010). No presente relato, o monitoramento era realizado em intervalos não maiores que quatro meses, quando mensurava-se a glicose e o peso do animal. Observou-se que ocorreu a hipoglicemia, após 11 meses de tratamento com a NPH, onde foi confirmada a reversão da DM. Gatos diabéticos podem perder de forma gradual ou súbita a necessidade de insulina, desenvolvendo sintomas de hipoglicemia e rebote hiperglicêmico, caracterizando assim o Diabete Transitório. Gatos com DM transitório apresentam alterações patológicas nas ilhotas pancreáticas, se encontrando em um estado subclínico ou latente, no entanto, quando ocorre sobrecarga da função pancreática, causada por doenças ou medicamentos, que inibam a atividade da insulina eles passam a apresentar o DM na forma clínica (SOUZA, 2003), o que não ocorreu com o paciente deste relato, onde sua glicemia se manteve estável após interromper a insulinoterapia. 43 O aumento das enzimas hepáticas e do colesterol pode ser justificado por dissociação de gordura, em associação com catabolismo e diminuição do metabolismo de colesterol pelo fígado, podendo ocorrer em gatos com lipidose hepática, que se manifesta em gatos anoréticos (SOUZA, 2003). Já a hiperlipidemia pode ser um fator predisponente de pancreatite, onde o sangue com alto teor de lipídeos ao passar pelos capilares do pâncreas, lesam o endotélio capilar e as células acinares pancreáticas, acarretando maior liberação de enzimas pancreáticas que causam lesão pancreática, levando a pancreatite aguda (THRALL; et al, 2007). O paciente também apresentou linfopenia, sendo que esta alteração no leucograma pode ocorrer em resposta ao estresse e consequente liberação de cortisol, o que ocorre em resposta a doenças sistêmicas, a distúrbios metabólicos e a dor. Cetoacidose diabética, desidratação e doença inflamatória são consideradas condições para um leucograma de estresse. Quanto à trombocitopenia, várias doenças podem causar redução da produção de plaquetas como medicamentos, produtos tóxicos, infecções, neoplasias e distúrbios imunomediados, sendo pouco específica no caso relatado (THRALL; et al, 2007). A pancreatite aguda ocorre em 5% dos casos de gatos diabéticos, sendo considerada idiopática. A pancreatite pode levar ao desenvolvimento do DM, por aumentar a resistência a insulina, bem como por causar a destruição das células Beta (CANEY,2013; ARMSTRONG,2012; FORCADA; et al, 2008), mas isto não ocorreu no caso relatado, onde há evidências que o DM levou ao desenvolvimento de pancreatite aguda. Em gatos, há relato de prevalência post mortem de pancreatite crônica acima de 60% (NELSON;COUTO, 2010), havendo a possibilidade do animal deste relato já ter desenvolvido anteriormente uma pancreatite crônica, pela presença dos achados clínicos e sintomatologia descrita. 44 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS As considerações finais sobre o estudo vêm pontuadas pelo contexto de que a realidade é complexa demais. Ao considerar a complexidade da realidade estudada, ficou a compreensão de que abordar o tema distúrbios endócrinos em gatos sob um determinado prisma, por uma leitura particular, seria restritivo. Por isso, buscou-se articular a teoria, por meio da revisão de literatura, com a prática, por meio dos relatos de casos. Com o desenrolar da trajetória de pesquisa, observou-se que a ida a campo é confrontar-se com uma realidade que coloca o indivíduo diante de novas perspectivas. Neste estudo constatou-se que as duas principais endocrinopatias que acometem os gatos domésticos, são o Hipertireoidismo e o Diabete Melito. Com o aumento do número de gatos como animais de companhia tornam-se necessárias mais pesquisas envolvendo estes pacientes, com intuito de detalhar melhor suas particularidades e os aspectos de tais doenças. Ter incluído como campo da pesquisa dois relatos de casos dos principais distúrbios endócrinos em gatos, sendo eles o Hipertireoidismo e o Diabete Melito teve repercussões significativas nos resultados do estudo. Se por um lado, o acesso às fontes trouxe diversas informações, por outro, foi detectado que tais doenças precisam de maiores avanços, tanto no que diz respeito a investigações dos fatores predisponentes, que desencadeiam estes processos patológicos, e também como atuar de forma a minimizar estes riscos e formas alternativas de tratamento para estes pacientes, que muitas vezes dificultam a vida de médicos veterinários e de seus proprietários por serem resistentes à medicação, principalmente as de uso por via oral. O conhecimento da etiopatogenia destas enfermidades é essencial para que se possa avaliar e intervir de forma mais precisa na busca do controle destas doenças. Ressalta-se que os exames diagnósticos são imprescindíveis para confirmar estas endocrinopatias, uma vez que o diagnóstico, na maioria das vezes, não pode ser obtido no consultório. Para melhor compreensão deste tema entendese que futuros trabalhos acadêmicos devam incluir a busca de diagnóstico precoce 45 e, até mesmo, maneiras de prevenir o desenvolvimento destas doenças aqui discutidas, com uma perspectiva de enriquecer a compreensão da realidade em estudo. A evolução favorável do quadro de Hipertireoidismo e do Diabete Melito depende de um acompanhamento médico veterinário adequado, pois demanda discernimento e critério na adoção de protocolos apropriados a cada caso e de um proprietário disciplinado, uma vez que o tratamento das duas doenças é prolongado, sendo, na maioria das vezes, por toda vida do animal. 46 REFERÊNCIAS AL-GHAZLAT, Suliman; et al. The Prevalence of Microalbuminuria and Proteinuria in Cats With Diabetes Mellitus.The Animal Medical Center. 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