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PROJETOS HABITACIONAIS NO BRASIL: DESAFIOS DA INSERÇÃO DA
SUSTENTABILIDADE – USO RACIONAL DA ÁGUA EM EDIFICAÇÕES
Geraldo Tadeu Rezende Silveira1
Resumo: Este trabalho realizou um estudo sobre o reaproveitamento de água em edifícios
sustentáveis. O objetivo foi analisar a importância, as vantagens e desvantagens em relação a uma
obra convencional. Foi feito o levantamento dos principais selos verdes para edificações disponíveis
no país: AQUA, LEED e Selo Azul. Visitando obras em realização e já realizadas tendo como base a
ideia das edificações sustentáveis, foram levantados os equipamentos e sistemas de aproveitamento
que normalmente são utilizados pelas construtoras para o uso racional da água, a reutilização da água
de chuva e o reuso de água. Foi possível concluir que o uso da água de chuva em edificações urbanas
está ainda em seus primórdios. Muitos construtores defendem este mecanismo, mas ainda, na prática,
não o implanta. Outra constatação é que quase nada tem sido feito para promover o uso racional da
água em obras residenciais. A gestão dos efluentes líquidos gerados nas habitações urbanas é a
tradicional – rede coletora de esgotos. O reuso de efluentes é praticamente inexistente.
Palavras-chave: Recursos Hídricos; Edificações Sustentáveis; Certificações Ambientais.
Efficient use of the Water and Environmental Management of Wastewater in Buildings:
Environmental Labels
Abstract: This research aim to study the reuse and efficient use of water in green buildings. The
objective was to analyze the importance, advantages and disadvantages of this concept compared to
a conventional method of construction. A study was done to identify the requirements of sustainable
labels actually available in Brazil: AQUA , LEED and Blue Seal. Another issue was to identify
mechanisms and systems that are typically used by contractors to implement the reuse of rainwater
systems. Technical visits in buildings under construction and constructed based on the idea of the
green building allowed to concluded that there are a few practical solutions that are been using
nowadays. There is a lack of solutions in loco to reuse of water in residential constructions. Rainwater
harvesting is still a theoretical target and wastewater management is traditional – to send them to the
public collection system without using them inside home for other buts.
Keywords: Water Resources; Green Buildings; Environmental Labels
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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – [email protected]
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1 - Introdução
A construção civil é um dos ramos que colabora para a geração de impactos por que utiliza
recursos naturais e energia de forma intensiva de acordo com CIB (Conselho Internacional da
Construção) e pela geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos.
De acordo com a Agenda 21, uma construção sustentável é definida como: "um processo
holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído,
e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica".
Logo, a construção não deve somente atingir à sustentabilidade ambiental, mas também gerar
qualidade de vida para os indivíduos.
As principais propostas sugeridas para se ter uma construção sustentável é a mudança de
conceitos da arquitetura convencional na direção de projetos flexíveis com possibilidade de
readequação para futuras mudanças de uso e atendimento de novas necessidades, reduzindo as
demolições; a busca de soluções que potencializem o uso racional de energia ou de energias
renováveis; a gestão ecológica da água; a redução do uso de materiais com alto impacto ambiental; e
a minimização da geração dos resíduos da construção.
Edifícios verdes são prédios que seguem os parâmetros de uma construção sustentável e com
isso têm uma preocupação toda especial com o meio ambiente em que estão inseridos e com a correta
utilização dos recursos naturais necessários ao seu funcionamento e a correta destinação dos resíduos
gerados por essa utilização.
Para que os prédios sejam considerados verdes, eles devem seguir preceitos e determinações
rígidas quanto à construção, qualidade do ar; uso da energia; uso da água; segurança de trabalho e
higiene do ambiente ocupacional; uso de materiais ecologicamente corretos; observação da
ergonomia em móveis e utensílios; tratamento correto dos resíduos sólidos e controle da emissão de
poluentes.
Os selos de sustentabilidade ambiental para empreendimentos vieram como forma de
certificação para que as empresas tenham uma conduta cada vez mais consciente em relação ao meio
ambiente.
2 – Metodologia
A metodologia utilizada neste trabalho consiste
1. no levantamento bibliográfico sobre o tema;
2. na caracterização dos diversos selos verdes para edificações através do estudo
minucioso dos selos existentes no país, com informações disponíveis na internet e
com envio de questões aos responsáveis por email; e
3. nas visitas de campo em obras detentoras de selos verdes ou construídas com esta
intenção, entrevistando seus responsáveis e identificando in loco os mecanismos
utilizados para a a promoção do uso reacional da água.
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3 – Resultados e Discussão
Neste estudo foram analisados três selos: Selo Azul, Selo AQUA e o LEED que são os
certificados mais conceituados e abrangentes na área da construção civil.
3.1 - Certificado AQUA
O selo Alta Qualidade Ambiental (AQUA) visa a certificar um edifício novo ou sua
reestruturação certificando sua qualidade ambiental. Para um edifício possuir um desempenho
ambiental significativo é necessário avaliar tanto gestão ambiental quanto sua natureza arquitetônica
e técnica. O AQUA utiliza dois processos para se certificar desses requisitos, o Sistema de Gestão
do Empreendimento (SGE) e a Qualidade Ambiental do Edifício (QAE). O SGE reforça o papel do
empreendedor e o seu controle do empreendimento e incentiva a realização de estudos e projetos na
fase inicial. Já a QAE classifica o edifício em bom, superior e excelente, de acordo com as 14
categorias, dentre elas o uso da água.
A gestão da água no AQUA tem como objetivo reduzir o consumo de água por meio de
equipamentos e métodos, bem como a gestão dos sistemas escolhidos para serem utilizados na
edificação por meio de parâmetros e previsões. Suas preocupações são divididas em três grupos:
redução do consumo de água potável, gestão de águas pluviais e dimensionamento do sistema de
aquecimento da água
Quanto à gestão das águas pluviais, o AQUA preocupa-se com a retenção, infiltração e o
aproveitamento da água pluvial. Com o objetivo de reter o maior volume de águas de chuvas e
tempestades, o sistema de retenção de águas pluviais deve otimizar ao máximo a vazão de
escoamento. Além disso, a água armazenada deve ser descartada de forma gradual seja por meio
natural seja na rede pública. O controle da infiltração deve ser pensado para manter ao máximo o
ciclo natural da água. Para isso, os coeficientes de impermeabilização devem ser calculados após o
projeto ser implantado. O selo estimula também a adoção de sistemas de aproveitamento de águas
pluviais coletadas pelos telhados e coberturas, para utilização no exterior das unidades habitacionais
e para uso não potáveis. O sistema deve ser totalmente separado das instalações de alimentação e
distribuição de água potável, bem como projetados para evitar o refluxo, que é prejudicial à saúde, e
devem estar conforme as exigências.
3.2 - Certificado LEED
O selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Desing) orienta e verifica o
comprometimento de uma edificação com o meio ambiente, através de um sistema de pontos que
classifica um empreendimento em vários níveis, que garantem a ele selos para comprovação de sua
sustentabilidade. No Brasil, ele é representado pela GBC-Brasil (Conselho de Construção Sustentável
do Brasil).
Seu sistema tem várias classificações conforme o tipo da edificação: LEED New Construction,
para novas construções; LEED Neighborhood Development, para projetos de melhoria de bairros;
LEED Core & Shell, para projetos na parte externa e central do edifício; LEED Retail, para lojas do
setor de varejo; LEED Healthcare, para empreendimentos na área de saúde; LEED Existing
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Buildings-OM, para manutenção de prédios existentes; LEED Schools, para empreendimentos na
área de educação e LEED Commercial Interiors, para interior ou empreendimentos comerciais. As
edificações são avaliadas com base em alguns pré-requisitos e em 7 categorias, dentre eles a eficiência
no uso da água.
O critério de eficiência no uso da água é responsável pela distribuição de 14 pontos dos 110
na categoria de construções já existentes e 10 pontos em 110 na categoria de novas construções. Para
construções já existentes, este tópico tem como objetivo diminuir o consumo de água potável nas
construções através da instalação de sistemas automatizados de controle da água. Esses 14 pontos são
distribuídos avaliando a forma de medição do consumo de água, a existência de sistemas e estratégias
que visem à redução no consumo de água, o estabelecimento limites ou interrupções no uso de água
potável para irrigação e paisagismo; e a redução ou eliminação do uso de água potável em torres de
resfriamento.
Para novas construções, os critérios de avaliação consideram a diminuição da geração de
resíduos e da demanda de água potável através de tecnologias inovadoras, como, por exemplo, a
captação das águas da chuva e o tratamento de esgoto. O certificado LEED ainda abrange um controle
de qualidade das águas recolhidas da chuva (categoria Espaço Sustentável).
3.3 - Selo Azul
O Selo Azul é a certificação de sustentabilidade de uma edificação criado pela Caixa
Econômica Federal. Dentre os diversos critérios de avaliação, está a “gestão da água”. Nesta
dimensão, o selo Azul estabelece como aspectos obrigatórios a medição individual de água, o uso de
dispositivos economizadores para os sistemas de descarga e a presença de áreas permeáveis. O selo
avalia também a presença de arejadores e registros reguladores de pressão. Em relação às águas
pluviais, o selo avalia as formas de retenção da água de chuva, seu aproveitamento e os mecanismos
que favorecem sua infiltração. Destaca-se neste selo a inclusão de aspectos sociais como a educação
ambiental para a promoção da sustentabilidade.
3.4 – Estudos de casos
Dez edificações ditas sustentáveis foram visitadas e avaliadas na região metropolitana de Belo
Horizonte.
A tabela 1 apresenta os resultados para o “nível de conhecimento do gestor da obra sobre as
certificações ambientais para edificações e seus requisitos”.
Tabela 1. Conhecimento do Gestor de Obra sobre as Certificações para Edificações Sustentáveis
% edificações
Alto
Médio
Baixo
10
20
70
A tabela 2 apresenta os resultados obtidos para “presença de mecanismos promotores do reuso
da água nas edificações”.
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Tabela 2. Presença de Mecanismos Promotores do Reuso da Água nas Edificações
% edificações
Mais de 1
Apenas 1
Nenhum
0
0
100
A tabela 3 apresenta os resultados para “presença de mecanismos promotores da redução do
consumo de água na edificação”.
Tabela 3. Presença de Mecanismos Promotores da Redução do Consumo de Água nas Edificações
% edificações
Mais de 1
Apenas 1
Nenhum
60
30
10
Os mecanismos identificados foram presença de arejadores nas torneiras, torneiras
hidromecânicas, bacias sanitárias dual flush, descargas sanitárias por acionamento através sensores
de presença e medidores individuais de consumo de água.
A tabela 4 apresenta os resultados para presença de “sistemas de utilização de águas de chuva”.
Tabela 4. Presença de Sistemas de Utilização de Águas de Chuva
% edificações
Mais de 1
Apenas 1
Nenhum
0
0
100
Conclusão
As três principais certificações ambientais para edifícios sustentáveis do país consideram o
tema água para a avaliação e concessão de seus selos. Todavia, foi possível concluir que muitos
construtores defendem, no discurso, estes mecanismos de sustentabilidade, mas, na prática, ainda não
o implantam. O uso da água de chuva em edificações urbanas parece estar ainda em seus primórdios.
Outra constatação é que pouco tem sido feito para promover o uso racional da água em obras
residenciais. A gestão dos efluentes líquidos gerados nas habitações urbanas é a tradicional, o
lançamento na rede coletora de esgotos. O reuso de efluentes residenciais parece ser praticamente
inexistente.
Agradecimentos
O autor agradece à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e à
Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Referências Bibliográficas
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR - 15527: Água de chuvaaproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis - Requisitos. Rio de
Janeiro, 2007.
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EcoConstruct Brazil. Referenciais técnicos. Disponível em: www.ecoconstruct.com.br. Acesso em
19/03/14.
FUNDAÇÃO
VAZOLINI.
Referenciais
técnicos.
Disponível
http://www.vanzolini.org.br/conteudo_104.asp?cod_site=104&id_menu=760.
Acesso
15/03/2014.
em:
em
GBC BRASIL. Referenciais técnicos. Disponível em: www.gbcbrasil.org.br. Acesso em 22/03/2014
LEED. Referenciais técnicos. Disponível em: http://www.eco-logico.co/certificacao-leed-cresce-aprocura-por-construcoes-verdes/. Acesso em 12/03/2014.
MANCUSO, Pedro Caetano Sanches. Reúso de água, 579p. Editora Manole. 2003.
Selo Azul CAIXA. Referenciais técnicos. Disponível em:
http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/files/projetos/Selo_Casa_Azul_CAIXA_versao_web.pdf.
Acesso em 22/04/2014
TOMAZ, Plínio. Aproveitamento de água de chuva de cobertura em área urbana para fins não
potáveis. 2009. Capítulo 18- Volume II , Curitiba.
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