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E STA D O D E M I N A S
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D O M I N G O ,
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D E
J A N E I R O
ECONOMIA
D E
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EDITORA: Renata Neves
E D I TO RA - A S S I STE N TE : Ve ra S c h m i t z
E-MAIL: [email protected]
TELEFONE: (31) 3263-5103
NOVO BRASIL
ESTUDOS MOSTRAM QUE ATÉ 2015 OU
2016 O PAÍS JÁ PODERÁ TER ERRADICADO A
POBREZA EXTREMA, ENCERRANDO UM CICLO
DESIGUALDADE
COM OS DIAS
CONTADOS
PAOLA CARVALHO E ZULMIRA FURBINO
Aos14anos,eladeixouafamílianaslavouras
de Monte Azul (Norte de Minas) para estudar na
capital mineira. Chegou a Belo Horizonte com
uma única mala para trabalhar como empregada doméstica. As patroas que teve não permitiramqueestudasse.LindalvaFernandesdeSouza
Silvanãoconseguiurealizarseusonho.Masaquele era o primeiro de muitos. Casou, comprou
uma casa no Novo Riacho, Nova Contagem
(GrandeBH),ecomodinheirodafaxina,queaindafaz,pagouafaculdadedefisioterapiaedenormal superior (ex-magistério) para suas duas filhas,RobertaeRenata,egressasdoensinopúblico.
Destavez,osonhodemudararealidadedafamília e garantir um futuro melhor para todos foi
conquistado. “Tenho muito orgulho da minha
trajetória”,disseatrabalhadora,hojecom54anos.
A garra de Lindalva é um exemplo que começa a se repetir nos lares brasileiros – e esses
vencedores também podem mudar a história
do país. O presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann,
acredita que a pobreza extrema no Brasil terá
praticamente desaparecido em 2016. Ele adiantou ao Estado de Minas suas impressões sobre
um estudo da evolução da pobreza no país e no
mundo que será divulgado pelo órgão depois de
amanhã. De acordo com ele, o levantamento
mostra que não existe convergência no decréscimo, no aumento ou na estagnação da vulnerabilidade financeira. "Há países desenvolvidos
nos quais a desigualdade está crescendo e outros menores e mais pobres que continuam reduzindo as diferenças sociais. É difícil traçar um
paradigma”, explica.
O economista Ricardo Amorim calculou
que, daqui a 12 anos, a desigualdade social do
Brasil será menor que a dos Estados Unidos, tendo como base a trajetória de evolução dos últimos 15 anos até 2007. “Estou sendo conservador. Pode ser até antes”, disse. O pesquisador do
Ipea Sergei Soares concorda e é até mais otimista. Acredita que a inversão pode ocorrer em menos de 10 anos. Para traçar essa projeção, eles
usaram o coeficiente de Gini, parâmetro internacional para medir a concentração de renda. O
índice varia de zero a um. Zero significaria, hipoteticamente, que todos os indivíduos teriam a
mesma renda e 1 mostraria que apenas um indivíduo teria toda a renda de uma sociedade.
Os dados indicam, conforme explica Soares, que o ritmo de queda da desigualdade no
Brasil de 0,7 ponto de Gini ao ano, desde 2001,
é superior ao ritmo que todos os países anali-
sados (Espanha, Estados Unidos, França, Noruega, Países Baixos, Reino Unido e Suécia) seguiram enquanto construíam seus “Estados de
bem-estar social”, salvo a Espanha, cujo ritmo
foi um pouco superior (0,9 ponto ao ano). O último dado divulgado oficialmente é de 2007,
quando o Gini apurado para o Brasil foi de
0,554. Então, as distâncias que nos separariam
de países referência, contando a partir de 2010,
seriam dois anos para o México, chegando a
0,51, oito anos para os Estados Unidos (0,469) e
20 anos para o Canadá (0,393). “Olhar pelo retrovisor não é uma boa maneira para dirigir. O
ritmo de queda na desigualdade é adequado,
mas o desafio é mantê-lo por várias décadas
para alcançar o nível do Canadá”, afirmou.
METADE De acordo com levantamento do di-
retor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri, nos
próximos cinco anos o Brasil deve reduzir o
número de miseráveis em mais da metade.
Conforme ele, os pobres serão apenas 8% dos
brasileiros no início de 2015. Em 1993, somavam 33%. Será um contigente de 16,1 milhões
em uma população total de 222 milhões. A linha de pobreza corresponde a uma renda per
capita familiar de R$ 137 na média do Brasil.
“Há um fortalecimento do mercado interno, o
que desencadeia um ciclo positivo de aumento da renda, consumo, produção industrial e
emprego”, disse. Neri projeta um crescimento
médio anual de 5,26% da renda total familiar
per capita no quinquênio 2010-2014.
Soares destacou ainda que, no Brasil, a renda dos 10% mais pobres cresce a uma média
chinesa (9% per capita ao ano), enquanto a dos
10% mais ricos cresce a uma taxa alemã (1%
per capita ao ano). Com uma diferença: a renda
per capita alemã é quatro vezes maior do que a
chinesa e 40 vezes a renda per capita dos pobres brasileiros.
Enquanto isso, Lindalva mostra que o futuro
pode ser agora. Depois que as filhas concluíram
o ensino superior, ela conseguiu economizar o
suficiente para comprar um lote em Ribeirão
das Neves (Grande BH). “Quero investir nisso para depois descansar”, diz. Erguer a casa e ter uma
horta para resgatar a memória da infância no
Norte de Minas, mesmo que dura, será mais um
dever cumprido, mais um sonho realizado.
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FOTOS: BETO MAGALHÃES/EM/D. A PRESS
TENHO MUITO ORGULHO DA
MINHA TRAJETÓRIA. AGORA,
QUERO CONSTRUIR MINHA CASA
■ Lindalva Fernandes (ao centro), com as filhas, Renata e Roberta
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