Escola Brasileira de Economia e Finanças - EPGE/FGV Graduação em Ciências Econômicas - Ciclo Pro…ssional Finanças Públicas - 2008 Gabarito - Lista 2 Carlos Eugênio Professor Marcelo Z. Pedroni Monitor [email protected] Questão 1 Suponha que cada real gasto em um bem privado fornece a você 10 unidades de utilidade e cada real gasto em um bem público dá a você e aos seus dois vizinhos 5 unidades de utilidade. a) Se você tem uma renda …xa de R$ 500; 00, quanto você gastaria no bem público? Como cada real gasto com o bem privado gera mais utilidade para você do que gastá-lo com o bem público, qualquer que seja a escolha de consumo dos seus vizinhos, é privadamente racional gastar todo o seu dinheiro com o bem privado. b) Qual o gasto total no bem público no equilíbrio de Nash se seus dois vizinhos também dispõem de R$ 500; 00 cada e possuem as mesmas preferências que você? Do argumento acima temos que: gastar todo o dinheiro com o bem privado é uma estratégia dominante para todos os indivíduos. Logo, o equilíbrio de Nash é tal que o gasto total com o bem público é zero. c) Qual o gasto total no bem público que maximiza o nível total de utilidade? O benefício marginal para o nível total de utilidade de uma unidade a mais de bem público é de 15 unidades de utilidade enquanto o de uma unidade a mais de bem privado é de 10 unidades de utilidade. Dessa forma, …ca claro que, para maximizar o nível total de utilidade, todo o dinheiro deve ser gasto com o bem público. 1 Questão 2 Derive a condição de Bowen-Lindahl-Samuelson (BLS) e interpretea. Considere uma economia com n indivíduos, um bem privado x e um bem público z. Cada indivíduo i = 1; :::; n tem função utilidade U i xi ; z i . O bem público é produzido a partir do bem privado através da seguinte tecnologia: z 0 = f (x0 ). Resolveremos o problema de Pareto para achar a alocação e…ciente. Para tanto, devemos derivar as restrições de Para o bem P recursos da economia. privado temos a restrição usual: x0 + i xi X, onde x0 é a quantidade de x usada para produção de z 0 e X é a dotação de x na economia. Para o bem público, devido a característica de não-rivalidade, o consumo de cada indivíduo estará restrito à dotação da economia, logo: z i z 0 8i. Dessa forma, o problema de Pareto é: max U 1 x1 ; z 1 8 i i i U x ; z PU i ; i = 2; :::; n > > < x0 + i xi X s:a z i z 0 8i > > : z 0 f (x0 ) 0 0 fxi ;z i gn i=1 ;x ;z Assumimos que a utilidade é crescente nos dois argumentos, logo, as restrições valerão com igualdade. Sendo assim, temos que z i = z 0 = f (x0 ) 8i. Supondo f estritamente crescente podemos de…nir sua inversa: f 1, e 0 0 portanto, temos x = (z ). O problema de Pareto simpli…ca para o seguinte: max 0 0 fxi gn i=1 ;x ;z U i xi ; z 0 = P U i ; i = 2; :::; n 0 (z ) + i xi = X s:a Lagrangeano: L U 1 1 x ;z 0 + n X U 1 x1 ; z 1 i U i i x ;z 0 U i " + i=2 0 X (z ) X i i x # Condições de primeira ordem (assumimos que a utilidade é côncava de tal maneira que as condições necessárias são su…cientes), seja 1 1: [z 0 ] : n X i @U i i @U i i=1 xi : xi ; z 0 = @z 0 xi ; z 0 = @xi 2 0 i (z 0 ) (1) 8i (2) (2) em (1): @U i (xi ;z 0 ) @z 0 @U i (xi ;z 0 ) i=1 @xi n X = 0 i (z 0 ) (3) (3) é a condição BLS que diz que a soma das taxas marginais de substituição dos indivíduos entre o bem público e o bem privado é igual a taxa marginal de transformação. 3 Questão 3 Quando estamos tratando de bens privados, como os preços garantem que a condição de e…ciência seja satisfeita? Por que o mesmo não vale quando estamos tratando de bens públicos? No caso de bens privados, cada consumidor maximiza sua utilidade no ponto em que a taxa marginal de substituição (TMS) entre cada par de bens se iguala a razão de preços desses bens (este é o ponto em que a curva de indiferença é tangente à restrição orçamentária). Como os preços são os mesmos para todos os consumidores, temos que: h T M Si;j = pi h0 = T M Si;j pj Isto vale para todo par de bens i e j e consumidores h e h0 . Dessa forma, as curvas de indiferença se tangenciam no ótimo o que garante a e…ciência. Quando existe um bem público, estes resultados continuam valendo. Seja G o bem público, temos que a maximização individual levaria ao seguinte resultado: h T M SG;j = pG h0 = T M SG;j pj No entanto, esta condição não garante e…ciência, pois uma unidade a mais do bem público não aumenta a utilidade apenas de um consumidor mas de todos, a e…ciência neste caso é caracterizada pela condição BLS: X pG h T M SG;j = pj h Note que se assumirmos produção competitiva dos bens, temos que a razão de preços também se igual a taxa marginal de transformação (TMT) o que gera a condição BLS usual: X pG h T M SG;j = = T M TG;j pj h 4 Questão 4 Considere três consumidores (i = 1; 2; 3) que derivam utilidade de seus consumos de um bem privado e de um bem público. Suas funções utilidade são da forma ui = xi G, onde xi é o consumo do bem privado pelo consumidor i e G é a quantidade total do bem público consumida pelos três indivíduos. O custo unitário do bem privado é R$ 1; 00 e o custo unitário do bem público é R$ 10; 00. Os níveis de renda individuais em R$ são w1 = 30, w2 = 50 e w3 = 20. Qual a quantidade e…ciente de bem público a ser consumida? (Dica: use a condição BLS). Calculando a taxa marginal de substituição para o consumidor i: i T M SG;x = @ui (xi ;G) @G @ui (xi ;G) @xi = xi ; i = 1; 2; 3 G Assumindo produção competitiva, temos que a taxa marginal de transformação é igual a razão de preços: T M TG;x = pG = 10 px Logo, da condição BLS: X i T M SG;x = T M TG;x i x1 x2 x3 + + G G G x1 + x2 + x3 = 10 = 10G (1) Lei de Walras (valor do excesso de demanda de todos os bens é igual a zero): px (x1 + x2 + x3 ) + pG G (w1 + w2 + w3 ) = 0 x1 + x2 + x3 + 10G = 100 (1) em (2): G=5 5 (2) Questão 5 Por que o problema do carona (free-rider) di…culta os mercados proverem o nível e…ciente de bens públicos? O problema do carona ocorre quando existe um bem público na economia. Neste caso cada consumidor tem incentivo de se bene…ciar do bem público provido por outros enquanto ele próprio não o prove numa quantidade su…ciente. Esta ine…ciência é resultado da externalidade que existe entre os consumidores: a provisão de bem público por um consumidor afeta a utilidade de todos os outros. Quando há externalidade, cada consumidor não considera, ao decidir privadamente, o benefício gerado pelo bem público sobre os outros e, conseqüentemente, o Primeiro Teorema do Bem Estar não vale e a alocação de equilíbrio é, em geral, ine…ciente. 6 Questão 6 A e B estão pensando em comprar um sofá. A função utilidade do A é dada por uA (s; mA ) = (1 + s)mA e a função utilidade da B é uB (s; mB ) = (2 + s)mB onde s = 0 se eles não comprarem o sofá e s = 1 se comprarem. Além disso, mA e mB correspondem à quantidade de dinheiro que eles dispõem, respectivamente, para gastar no bem privado. Cada um deles tem R$ 100; 00 para gastar. Qual a maior quantia que eles poderiam pagar pelo sofá que deixasse ambos em situação melhor do que sem ter o sofá? Se eles não compram o sofá (s = 0, mA = mB = 100), suas utilidades serão: uA (0; 100) uB (0; 100) = 100 = 200 Se eles compram o sofá pagando pA e pB respectivamente (s = 0, mA = 100 pA , mB = 100 pB ), suas utilidades serão: uA (1; 100 uB (1; 100 pA ) = 2 (100 pB ) = 3 (100 pA ) pB ) Logo, A estaria melhor com o sofá se pagasse no máximo pA tal que: uA (0; 100) = uA (1; 100 pA = 50 pA ) E B estaria melhor com o sofá se pagasse no máximo pB tal que: uB (0; 100) pB = uB (1; 100 100 = 3 pB ) Dessa forma, o máximo que A e B podem pagar pelo sofá conjuntamente para que estejam melhor com ele é: pA + pB = 7 250 3 Questão 7 Considere dois consumidores com as seguintes funções demanda por um bem público: p1 = 10 p2 = 20 G 10 G 10 onde pi é o preço que o consumidor i está disposto a pagar pela quantidade G. a) Qual o nível ótimo de bem público se o custo marginal do mesmo é R$ 25; 00? O quantidade ótima de bem público é alcançada quando a disposição a pagar dos consumidores se iguala ao custo marginal: p1 (G) + p2 (G) = 25 G G + 20 = 25 10 10 10 G = 25 b) Suponha que o custo marginal do bem público é R$ 5; 00. Qual o nível ótimo? Mesmo cálculo: p1 (G) + p2 (G) = 5 G = 125 c) Suponha que o custo marginal do bem público é R$ 40; 00. Qual o nível ótimo? Novamente pelo mesmo cálculo: p1 (G) + p2 (G) = G = 40 50 Como não se pode prover uma quantidade negativa do bem (G 0), temos que a quantidade ótima será G = 0. Ou seja, neste caso o custo marginal é tão alto que excede o valor que os consumidores atribuem a primeira unidade do bem público. 8 Questão 8 Considere o caso em que temos H consumidores, cada um com função utilidade U h = ln xh + ln G e uma renda de 1. Note que no caso de provisão privada do bem público podemos escrever 0 1 X 0 h h h h U = ln x + ln @g + g A h0 6=h Note ainda que o equilíbrio deve ser simétrico (porque?). Calcule os gastos privados com o bem público em equilíbrio e o ótimo social para o caso da função bem-estar W = H X Uh h=1 Comente o efeito de uma mudança em H na diferença entre o equilíbrio e o ótimo. Como todos os indivíduos são iguais (suas preferências e rendas disponíveis são iguais) o equilíbrio deve ser simétrico. Problema do indivíduo h: =) P 0 maxxh ;gh ln xh + ln g h + h0 6=h g h s:a xh + g h = 1 1 0 X 0 max ln 1 g h + ln @g h + gh A gh h0 6=h Condição de primeira ordem (necessária e su…ciente): gh g h 1 : = gh 1 1 P + h0 6=h gh + 0 gh 1 P h0 6=h 2 Da simetria temos que g h = g 8h, logo: g = g = 1 (H 2 1) g 1 H +1 Logo, a provisão privada do bem público será: 9 g h0 =0 H H +1 Dada a função de bem-estar, a quantidade de bem público no ótimo social deve resolver o seguinte problema (assumindo que o custo será dividido igualG ): mente, ou seja, xh = 1 H G = G H max H ln 1 G + ln G Condição de primeira ordem (necessária e su…ciente): [G] G : H = H 2 1 H G + 1 =0 G Comparando o ótimo social com a provisão privada: G H +1 = G 2 Observe que quanto maior o número de indivíduos maior será a divergência entre o ótimo e a provisão privada. 10