A DIVERSIDADE CULTURAL PRESENTE NO ENSINO RELIGIOSO Cláudia Regina Tavares Cardoso – PUCPR¹ Danise Cristiane Rios Araújo – PUCPR² Silvana Fortaleza dos Santos – PUCPR³ Resumo Falar de cultura é falar das inúmeras ciências. Ela é a somatória da intelectualidade do ser humano, sua experiência com o meio ambiente e a sociedade. O Brasil, desde seu descobrimento, foi constituído com bases na diversidade religiosa, começando com a própria cultura dos índios. A religião, por meio da cultura, traz ao grupo social e ao indivíduo uma leitura própria, particular, uma compreensão do ser, do agir, do conviver e da responsabilidade de relacionar com o Transcendente. Dessa responsabilidade nasce a necessidade de desenvolver uma relação harmônica com o próximo, como também com tudo que faz parte do meio ambiente. A distância geográfica, por si só, provoca a diversidade no processo dos grupos sociais. Por exemplo, o Oriente e o Ocidente. Bortoleto (FONAPER, 2001) confirma o papel fundamental da cultura para as civilizações, no aspecto das tradições religiosas. No Brasil a aculturação religiosa foi introduzida pelas diversas etnias, que é composta de religiões oriundas da África, da Europa e dos povos indígenas, entre outras. É nesse contexto de diversidade cultural e religiosa que os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso e agora, mais recentemente, as Diretrizes do Ensino Religioso do Estado do Paraná, elaborado por uma equipe multidisciplinar, coordenada pela Secretaria de Estado da Educação, encontra antigos e novos desafios. Trabalhar a manifestação do Transcendente nas escolas e introduzir as diferentes medidas do conhecimento religioso é um dos desafios dos educadores. Porém, entre as ferramentas disponíveis para articular esse saber, os professores encontram o diálogo. Palavras-chave: Diversidade Cultural; Ensino Religioso; Transcendente/Imanente. A vida do ser humano é constantemente bombardeada por questionamentos, dúvidas e anseios que permeiam a realidade. Com a mente povoada por uma diversidade de opiniões antagônicas, que apresentam como verdades absolutas, o ¹ Jornalista, especialista em Formação Pedagógica do Professor Universitário e mestranda em Educação pela PUCPR, sob orientação do professor doutor Sérgio Rogério Azevedo Junqueira – [email protected]. ² Professora, especialista em Filosofia (ênfase em Ética) e mestranda em Educação pela PUCPR sob orientação do professor doutor Sérgio Rogério Azevedo Junqueira – [email protected]. ³ Pedagoga, especialista em Didática do Ensino Superior e mestranda em Educação pela PUCPR, sob orientação do professor doutor Sérgio Rogério Azevedo Junqueira – [email protected]. 113 homem se sente inseguro. Com uma análise não apurada das idéias propostas, mergulha, embebe seu espírito nelas, que mesmo assim continuará árido e sedento. O ser humano parece satisfazer este desejo com a conquista econômica, social, afetiva, isto é, com um imediatismo proposto pelo mundo que se apresenta muito frágil, causando aos que a ele aderem uma insatisfação que acentua o vazio existencial. O ser humano pode satisfazer sua sede de realidade material, social e afetiva, mas só descansará, quando realizar o seu desejo de eternidade. Por si mesmo, almeja um desejo de plenitude, mesmo que não o reconheça. Existe no coração dos homens uma tal exigência de verdade, de justiça, de esperança e de redenção, dando a certeza de que a mensagem transmitida pelos grandes líderes da humanidade é viva e aceitável também em nossos dias. Ela encontrará corações prontos para responder, lealmente, se os profetas de tal anúncio forem, também eles, verdadeiros testemunhos. O homem por excelência é um ser religioso, alguém que vive nos limites entre profético (que se realiza na denúncia e no anúncio daquilo que impede e impulsiona a vida plena) e o mistério (que atrai numa perspectiva de plenitude). Entendemos neste sentido, que ”o Transcendente é essencial para a explicação de sua vida e da sua finalidade” (ARESI, 1976, p.106). A diversidade cultural Quando o tema é o ensino religioso há de se trilhar, obrigatoriamente, pelos caminhos da cultura e da diversidade. Falar de cultura é falar das inúmeras ciências: da Antropologia, da Sociologia, Psicologia, Ecologia, Teologia, entre outras. A palavra cultura, “etmologicamente vem do latim colere” (FONAPER, 2001, p. 7), ou 114 seja, cultivar, como um sistema adaptativo de padrões de comportamento socialmente transmitidos, onde uma geração transmite a outra, crenças, valores e organização social. Já na década de 60, o antropólogo Kluckhohn conceituava a cultura como “a vida total de um povo, a herança social que o indivíduo adquire de seu grupo”. Ou pode a cultura ser “considerada como aquela parte do ambiente que o próprio homem criou” (KLUCKHOHN, 1963, p. 28). Cultura é, portanto, a somatória da intelectualidade do ser humano e sua experiência com o meio ambiente e a sociedade. Alves reforça essa posição: “É a cultura que marca profundamente a maneira de ser e de viver do homem” (FONAPER, 2001, p. 7). Ela rege o comportamento das pessoas, ‘ditando’ os procedimentos do ser-indivíduo e da convivência dos ser-pares. Equacionalmente, diríamos que a cultura é a “fórmula delineadora”, que faz com que o homem perceba-se como indivíduo e como grupo social, estabelecendo inclusive as diferenças culturais entre os demais grupos. Por sua vez, as diferenças definem de maneira incisiva as várias sociedades e suas formas de agir. Como a cultura liga o indivíduo ao social, ela também se faz presente na ‘religação’ do indivíduo e do grupo social ao espiritual. É a cultura religiosa intrínseca no ser e na sociedade. (...) a Igreja lembra a todos que a cultura deve estar subordinada à perfeição integral da pessoa humana, ao bem da comunidade e da humanidade inteira. Por isso é necessário cultivar o espírito de tal modo que se desenvolva a faculdade de admirar, de admirar o íntimo das coisas, de contemplar, de aperfeiçoar o senso religioso, moral e social” (CONCÍLIO,1968, p.211). Enquanto a cultura faz com que o homem perceba-se como indivíduo e como grupo social, a religião traz a ele uma percepção de unificação ao sagrado “(...) impedindo-o de sentir-se sozinho e perdido no meio de um mundo (...)” (ALVES, 2001, p. 10). 115 A relação de ambas dá-se de forma bipolar. Cada uma atrai para si o indivíduo e sua existência. Ao mesmo tempo uma interfere no processo da outra. Oliveira (1995) conceitua a religião como “um fato social universal, sendo encontrada em toda parte e desde os tempos mais remotos. (...) a crença em algum tipo de divindade e o sentimento religioso são acontecimentos generalizados em todas as sociedades” (OLIVEIRA, 1995, p. 117). A formação da sociedade brasileira já carrega em si o pluralismo, refletindo assim uma diversidade cultural vasta e rica, caracterizada pelas diferentes raças, culturas e religiões. Por essa razão ”o respeito a esta diversidade é essencial, mas deve ser paralelo à promoção do diálogo a fim de que se evite a formação de novos guetos” (CUÉLLAR, 1997, p. 318). Deste modo a cultura conduz o homem a passar suas crenças fundamentais de geração a geração. Neste contexto, a religião está intimamente ligada à cultura, pois é por meio desta, que o homem operacionaliza a sua experiência com o Transcendente. Desta forma diversidade cultural e diversidade religiosa andam juntas, “a religião acontece dentro de um universo cultural, ora influenciando, ora sendo influenciada pela cultura, por isso é impossível entendermos a religião sem nos remeter à cultura” (FONAPER, 2001, p. 10). A experiência com o Transcendente em um país pluralista como o Brasil, em questões religiosas, deve ser entendido como conseqüência da diversidade cultural. Nosso país desde seu começo foi constituído com bases na diversidade religiosa, começando com a própria cultura religiosa dos índios, com seus rituais e suas crenças. Depois a africana que teve uma continuidade e está presente no povo brasileiro. Outras religiões vieram como a católica, muçulmana, judaica e evangélicos. Hoje temos uma gama de religiões e todas defendidas por lei, tendo 116 seus direitos reservados para adorar e fazer seus rituais a própria maneira. Em cada uma, o Sagrado se manifesta de uma maneira diferente. Não dá para falar do indivíduo, do homem-singular, sem expressar suas ideologias, sua formação intelectual e sua relação com o Transcendente. Porém, mesmo sendo singular, sua existência é social, pois vive com outros indivíduos, que juntos constituem pares e que, conseqüentemente, tornam-se grupo social, formando uma cultura do grupo. A religião, por meio da cultura, traz ao grupo social e ao indivíduo uma leitura própria e particular e uma compreensão do ser (pessoal e grupal), do agir, do conviver e da responsabilidade de relacionar com o Transcendente. Dessa responsabilidade do relacionamento do indivíduo para com o Imanente nasce a necessidade de desenvolver uma relação harmônica com o próximo, como também com tudo que faz parte do meio ambiente em que vive. Os pólos, nesta relação, são hegemônicos. O relacionamento do homem (com ele mesmo, com o Transcendente, com os outros e com a natureza) torna-se uma baliza para a convivência entre as pessoas. É o sagrado que sustenta o grupo social a partir das relações do homem (conforme esquema): TRAN SCEN DEN TE EU | IN DIVÍDUO GRUPO SOCIAL ECOSISTEMA A cultura religiosa sofre alterações conforme a organização social do grupo e a importância que ele dá ao Transcendente. Geralmente, o ponto de partida é a religião do grupo social, que se desenvolve a hierarquia da sociedade. É a instituição religiosa que organiza o conhecimento teológico-doutrinário, enfatizando a conduta 117 dos fiéis para o crescer espiritual humanizado. Como toda instituição organizada possui uma hierarquia, essa passa a dar destaque social a uns, que detém os conhecimentos religiosos, tornando-os figuras de poder e conferindo-lhes honra perante ao grupo. Como o poder também faz parte do acervo cultural das sociedades, existe, portanto, uma vasta diversidade cultural religiosa. A variedade cultural religiosa é complexa em sua composição e estrutura. Entre os motivos dessa complexidade elencamos a existência de, em um pequeno espaço geográfico, haver divergências culturais e ou religiosa, o que dá, muitas vezes, autonomia à comunidade religiosa para se separar e alterar, formando assim, um outro grupo social religioso. A distância geográfica também, por si só provoca a diversidade no processo dos grupos sociais. É o caso, por exemplo, do Oriente e do Ocidente, onde a cultura milenar, o processo de desenvolvimento social e econômico diferenciam completamente as organizações religiosas, aumentando assim a diversidade cultural religiosa. No Ocidente o cristianismo tomou proporção universal, ao mesmo tempo em que se distanciou das demais sociedades (FONAPER, 2001, p. 18). Tornou-se reinante, porém fechada às outras religiões e teologias e, ainda, exclusivista com relação à verdade. A cultura Ocidental tem uma visão linear da história, ou seja, com um começo e um fim. O Transcendente, o único, e entre Ele e o ser humano existe um abismo que os separa. O homem é um instrumento da ação Divina e deve obedecer à vontade de Deus (FONAPER, 2001, p. 21). Já o Oriente é caracterizado por uma cultura religiosa participativa, onde o equilíbrio entre homem-Transcendente-ecossistema é possível e desejado. A história é vista como um ciclo eterno. O Transcendente está presente em tudo e o homem pode alcançar a união com Ele por meio do conhecimento. Desta forma o 118 conhecimento é fundamental para a aproximação do ser humano com o Imanente. No Oriente o homem tem ideal de passividade e fuga do mundo e alcança a graça por meio de atos de sacrifício e conhecimento místico. Bortoleto (FONAPER, 2001) confirma o papel fundamental da cultura para as civilizações, no aspecto das tradições religiosas. Segundo o autor, as “tradições religiosas nos remetem ao passado, para no presente organizarmos o futuro” (FONAPER, 2001, p. 37). Diálogo O equilíbrio do futuro com o passado é possível e tem se constituído em um dos grandes desafios da sociedade contemporânea. Para o doutor em antropologia, José Marín, a humanidade é composta por uma complexa diversidade cultural: “Temos que imaginar uma sociedade plural, multicultural, capaz de administrar a igualdade e a justiça na diversidade cultural, uma sociedade aberta e tolerante as pluralidades que nos oferecem as sociedades multiculturais e que ultrapassam as fronteiras sociais e as antigas fronteiras culturais” (MARÍN, 2003, p. 16). Segundo o autor, o intercâmbio e o diálogo intercultural são as respostas para alguns dos questionamentos do processo educativo da sociedade atual. Também Paulo Freire (1996) já defendia a transformação da sociedade por meio de um “processo dialógico amoroso”, onde afirma que “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão num permanente movimento na História”. (FREIRE, 1996, p.136). Portanto, quando o foco é a tradição religiosa deve-se lançar mão do diálogo para gerenciar esse processo. Há de se destacar que, para que haja diálogo, é necessário o respeito pelas inúmeras tradições religiosas. Essa, por sua vez, passa primeiramente pela deferência às culturas e religiões existentes. Portanto, sem sombra de dúvidas, existe uma diversidade cultural que forma a religiosidade, inclusive a brasileira, onde a experiência de 119 abertura religiosa deve ser a experiência fundante do ser inacabado que se entende como um ser aberto ao diálogo e conseqüentemente ao respeito. O reconhecimento e respeito pela diversidade e pluralismo cultural-religioso constroem um leque de possibilidades para a tradição religiosa nacional. Aqui, cabe ressaltar, que os fundamentos da tradição religiosa brasileira nasceu de diferentes culturas e religiões não pertencentes ao Brasil. Trata-se de um processo de contato entre culturas diferentes que desencadeia a mudança cultural, também conhecida como aculturação. No Brasil a aculturação religiosa foi introduzida pelas diversas etnias e é composta de religiões oriundas da África, pela presença dos escravos; da Europa, com os colonizadores portugueses e dos povos indígenas, entre outras tradições religiosas. Porém, em pleno Século XXI podemos ensaiar que já contamos com uma diversidade cultural religiosa própria, formada em solo nacional. Não resta dúvida que a nossa tradição religiosa tem em sua formação, no passado, as influências intercontinentais. Mas, atualmente já podemos contemplar uma tradição religiosa autóctone. É nesse contexto de diversidade cultural e religiosa que os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso e agora mais recentemente, as Diretrizes do Ensino Religioso do Estado do Paraná, elaborado por uma equipe multidisciplinar, coordenada pela Secretaria de Estado da Educação, encontra antigos e novos desafios. O Ensino Religioso, como disciplina, tem a função despertar no educando aspectos Transcendentes da existência, para a busca do sentido radical da vida, descobrindo seu “compromisso com o social, com a conscientização de ser parte de um todo” (ANDRADE, 1997, p. 129). Esse processo de despertar e descobrir levará o educando naturalmente ao encontro com o 120 Transcendente. A conseqüência desta descoberta afetará as ações, gestos, palavras, significados, valores que farão parte da sua vivência e convivência. Para Junqueira (1998) ”O Ensino Religioso pretende ser um serviço ao crescimento global da pessoa, mediante uma cultura atenta também à dimensão religiosa da vida” (JUNQUEIRA, 1998, p. 102). Nessa perspectiva os valores sociais são reforçados no «ser» e não no «ter». O contrário é amplamente difundido nesta sociedade capitalista de consumo, onde as pessoas parecem estar mais voltadas para o “aqui e agora”, passando por um processo de desumanização. Percebe-se ainda que é muito forte o apelo dos meios de comunicação, no sentido de fazer com que os consumidores em geral acreditem que a felicidade está atrelada ao consumismo descomedido. As gerações construídas a partir dos valores sociais baseadas no «ser» têm suas ações enfocadas na solidariedade para com o próximo, para com o grupo social. Essa nova mudança comportamental é explicada a partir do contato com o Transcendente. Neste contexto percebemos o espaço escola onde se constrói o saber, a cultura pessoal e social dos educandos. Junqueira (2002) traz essa percepção: (...) a escola é o lugar da grande aventura que é o crescimento humano e cultural da pessoa e, portanto da comunidade inteira. Como deveria ser, ainda, o espaço para formulação de questões que provassem a inteligência e a razão, a curiosidade científica e a sensibilidade artística. É uma instância fundamental do espírito, que questiona o senso da vida e sobre os valores das coisas (JUNQUEIRA, 2002, p. 94). Educadores e educandos Trabalhar a manifestação do Transcendente nas escolas e introduzir as diferentes medidas do conhecimento religioso é um dos desafios dos educadores, juntamente com os diversos grupos sociais. Pois ele exerce um papel decisivo neste processo, pois o como fazer está intimamente ligado a sua formação como educador e no que acredita. Neste atual mundo pluralista ”os membros da comunidade 121 educativa precisam aproveitar as oportunidades de educação continuada e do desenvolvimento pessoal permanente, especialmente na competência profissional, nas técnicas pedagógicas e na formação espiritual” (CARACTERÍSTICAS: 152, 1987, p. 49). Entre esses alvos, que os professores encontram, está em deixar que o próprio aluno faça a sua opção religiosa. O mestre-mediador do ensino religioso aponta as inúmeras tradições religiosas existentes na sociedade em que se está inserido. É esse profissional, na função de mediador, que com uma didática da construção pedagógica religa o educando ao Transcendente, dessa maneira, conforme Junqueira (2002), o ensino religioso está em eqüidade com a “função própria da escola, que é chamada a favorecer os alunos a uma atitude de confronto, ao diálogo e à convivência democrática” (JUNQUEIRA, 2002, p. 94). Acredita-se que há intrínseco na criança um desejo de se relacionar com o Transcendente. Faz parte de sua formação cultural e da personalidade individual dela estar ligada ao Imanente. É neste clima ainda, que o Ensino Religioso encontra espaço para levar o aluno a refletir sobre o sentido da sua vida e a assumir um compromisso responsável de transformação da realidade segundo os valores evangélicos, por meio de escolhas livres e coerentes. Cabe ao educando, orientado pelo processo de aprendizagem, que por sua vez é gradual, escolher o caminho em que quer trilhar. Dessa maneira ele percebe a própria realidade, compreendendo e formando sua própria identidade religiosa e respeitando a opção religiosa do outro, ou dos demais grupos sociais. Enquanto a instituição escola manuseia o conhecimento a partir do fenômeno religioso, a instituição religiosa, ou comunidade religiosa, em que a criança está contextualizada desenvolve o aprofundamento da fé, o credo. Aqui, neste ambiente é enfatizada a doutrina em que se crê, procurando estimular na criança os valores 122 associados a essa doutrina religiosa. Não esquecendo que a tradição religiosa é o conhecimento transmitido pelas instituições religiosas. Sendo assim, a escola desenvolve esses saberes, que são compostos por uma diversidade cultural religiosa. Tudo isso porque se está diante de inúmeras crianças com as mais variadas informações e formações religiosas. Reforçando sempre que o diálogo é fundamental nesse processo religioso-cultural diversificado. Buscando-o se valoriza o respeito por si próprio e pelo próximo. É a valorização do ethos, como bem expôs LONGHI (2004), que, fundamentado em KÜNG e BOFF (1999), definiu a simbologia da expressão para a sociedade atual: Na realidade, a expressão ethos representa hoje alguma coisa que é aceita como válida, e pela qual também outras coisas se orientam, tornando-se assim princípio orientador de toda e qualquer ação tomada e tornada atitude moral básica de uma pessoa ou de um grupo (...) conjunto de princípios que regem, transculturalmente, o comportamento humano para que seja realmente humano no sentido de ser consciente, livre e responsável (LONGHI, 2004, p. 47-48). Reforçar os princípios comportamentais das próximas gerações é permitir “que o educando descubra a sua própria formação religiosa”, conforme o depoimento do professor Vicente Bohne, da Universidade São Francisco, São Paulo (FONAPER, 2001). Essa descoberta se processa, cada vez mais, de maneira crítica, consciente, gradual e responsável. Portanto, dentro dessa diversidade cultural, o mundo da educação, mais especificamente as escolas, pode oferecer aos educandos o conhecimento dos diversos caminhos que ligam as pessoas ao Transcendente. Assim o Ensino Religioso nas escolas tem como função corresponder as exigências da educação do século XXI, na parte que lhe cabe – o conhecimento religioso – dentro dessa diversidade cultural e religiosa, que vivemos em nossos dias. Referências 123 ALVES, Luiz Alberto Souza; BORTOLETO, Edivaldo José. Ensino religioso Culturas e tradições religiosas. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER). São Paulo: 2001. Caderno temático n.º 2. ANDARDE, Rosamaria Calaes de. Ética, religiosidade e cidadania. Belo Horizonte: Lê, 1997. ARESI, Albino. Pode-se educar sem Deus. São Paulo: Paulinas, 1980. CARACTERÍSTICAS da Educação da Companhia de Jesus, São Paulo: Loyola, 1987. COMPÊNDIO DO VATICANO II. Petrópolis: Vozes, 1968. CUÉLLAR. Javier Peréz. Nossa diversidade criadora. 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