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MARIA JOSÉ DE AGUIAR SIQUEIRA E SILVA
FUNGOS EM AMOSTRAS OCULARES DE CANINOS DA
CIDADE DO RECIFE
RECIFE – 2008
MARIA JOSÉ DE AGUIAR SIQUEIRA E SILVA
FUNGOS EM AMOSTRAS OCULARES DE CANINOS DA
CIDADE DO RECIFE
Monografia apresentada à Universidade Federal
Rural do Semi-Árido – UFERSA, como parte das
exigências para a obtenção do título de Especialista
em Clínica Médica de Pequenos Animais
Orientador: Prof. Dr. Fabrício Bezerra de Sá,
Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal UFRPE
Co- orientadora: Profª. Drª. Norma Suely Sobral da
Silveira, Departamento de Biologia - UFRPE
RECIFE – PE
2008
MARIA JOSÉ DE AGUIAR SIQUEIRA E SILVA
FUNGOS EM AMOSTRAS OCULARES DE CANINOS DA
CIDADE DO RECIFE
Monografia apresentada à Universidade Federal
Rural do Semi-Árido – UFERSA, como parte das
exigências para a obtenção do título de Especialista
em Clínica Médica de Pequenos Animais
Orientador: Prof. Dr. Fabrício Bezerra de Sá
Co- orientadora: Profª. Drª. Norma Suely Sobral da
Silveira
Aprovada em ______ / ______ / ______
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Presidente: Profª. Drª. Norma Suely Sobral da Silveira
Departamento de Biologia / UFRPE
_________________________________________
Prof. MSc. Wirton Peixoto Costa - UFERSA
___________________________________________
MSc. Leilson Rocha Bezerra – Doutorando UFPB
RECIFE – PE
2008
“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele,
e o mais ele fará...”
Sl 37.5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sua onipresença em todos os momentos de minha vida, por seu
verdadeiro amor, pela sua infinita bondade e imensa misericórdia para comigo, por ter me
concedido a graça e fortaleza para ultrapassar obstáculos encontrados pelo meio do caminho
e, mesmo assim chegar a reta final.
Aos animais, sem eles não seria possível a concretização deste trabalho, o meu
respeito, carinho e dedicação, meu muito e eterno obrigada!
À minha mãe Maria Neide de Aguiar, que sempre me ensinou que através da luta é
que obtemos as grandes conquistas, nunca me deixando abater perante as dificuldades da vida,
ajudando-me sempre e de forma sábia, e fazer-me feliz, muito obrigada... Amo você!
Ao meu filho Willamos de Aguiar Siqueira, por toda sua ajuda nas correções e
precioso carinho, meu muito obrigada!
Ao meu filho Thiago de Aguiar Siqueira e Silva pela sua força como também precioso
carinho, meu muito obrigada. Amo vocês!
Ao meu orientador, Fabrício Bezerra de Sá que, mesmo quando distante deu - me
apoio necessário para chegar até aqui , meu eterno agradecimento !
À minha co-orientadora Norma Suely Sobral da Silveira, por ter acreditado em mim e
por ter me dado oportunidade quando mais precisei, pela sapiência e força, pela presença em
todos os momentos, o meu eterno obrigada!
Ao meu coordenador do curso Professor Otávio Pedro Neto, por toda a sua dedicação
e força , meu muito obrigada!
À Professora Silvia Maria Mendes Ahid Ahid pelas correções e formatação pela
disponibilidade incondicional, meus agradecimentos!
Ao professor Sami Jorge Michereff, pela ajuda na interpretação dos dados e confecção
das tabelas, meus sinceros agradecimentos.
À professora Eneida Willcox Rêgo, pelo apoio e pela força, meu eterno
agradecimento!
A todos que fazem parte da Equalis pelo elevado nível técnico, empenho e dedicação,
meus agradecimentos!
À Dra. Taciana Spinelli, pela cooperação na elaboração do projeto bem como na coleta
das amostras, obrigada!
À Dra. Rossana Sette de Melo Rego, pela preciosa colaboração na confirmação da
identificação dos fungos filamentosos, meus agradecimentos!
À minha amiga Regina Fialho , por toda sua força e cooperação nos momentos em que
necessitei, meu sincero agradecimento!
À minha amiga Ladyjane Maria da Silva , por toda seu auxílio incondicional, meu
muito obrigada!
À minha amiga Nailde Gonçalves , por sua força , nas horas certas, pelos meios de
cultura , meu muito obrigada!
À minha colega do laboratório, Jacilane Fernandes, pelo auxilio no processamento
das amostras, meu muito obrigada!
À minha amiga Edna Carla da Silva pelo auxilio sempre nas horas certas, pelos
meios de cultura preparados, pelas sugestões na correção das primeiras versões desta
monografia, obrigada!
À Bióloga Rosa Maria Nunes Galdino, pelo carinho e apoio sempre que necessitei,
meus agradecimentos!
A todos que fazem parte do laboratório de Microbiologia, por todo carinho, pela
atenção e por toda ajuda, que, por mais simples que fossem, foi uma parte necessária na
conquista do meu grande objetivo, meus agradecimentos!
Ao meu querido amigo e colega Dr. José Antonio da Silva, pela força, simplicidade e
senso de cooperação à ciência, muito obrigada!
A todos que fazem parte do Centro de Vigilância Ambiental da cidade do Recife, meu
muito obrigada!
Ao Bruno Oliveira, pela colaboração nas fotografias, obrigada!
RESUMO
Objetivando conhecer a prevalência de fungos em amostras intra e extraoculares de caninos
foi realizado um estudo transversal prospectivo em 52 animais errantes apreendidos pelo
Centro de Vigilância Ambiental (CVA) da cidade do Recife. As amostras foram coletadas
nos animais imediatamente após a eutanásia, sendo realizadas esfoliações da conjuntiva e
córnea com escova ginecológica e punções separadas dos humores vítreo e aquoso,
totalizando 156 amostras. O material procedente da conjuntiva foi semeado nos meios Agar
Sabouraud adicionado de cloranfenicol (100 mg/l) e Mycosel® e as amostras dos humores
vítreo e aquoso foram transferidas para os meios Agar Infusão de Cérebro-Coração (BHI) e
Agar Sabouraud adicionado de cloranfenicol (100 mg/l). Na população analisada 27 (51.92
%) dos animais apresentavam sinais clínicos de doença ocular e 25 (48.08.%) encontravamse assintomático. Foram isoladas espécies fúngicas em 21 animais (44,38%), sendo obtidos
15 isolados de leveduras e 06 de fungos filamentosos. A espécie Malassezia pachydermatis
foi o fungo detectado em 57,14% dos animais positivos, sendo isolada em 07 dos cães
assintomáticos e 05 dos cães com sintomatologia, considerando amostragens realizadas da
conjuntiva e humor vítreo e aquoso. O isolamento de espécies fúngicas reconhecidamente
causadoras de patologias oculares no humor vítreo em animais sintomático, indica a
necessidade da inclusão do diagnóstico micológico, visando esclarecer a etiologia fúngica de
uveítes em caninos, favorecendo desta forma a adoção de uma terapêutica mais especifica e
eficaz no tratamento dessas enfermidades oculares.
Palavras-chave: cães, conjuntiva, vítreo, Malassezia pachydermatis
ABSTRACT
A prospective transversal study at 52 errant animals apprehended by the Environmental
Vigilance Center (EVC) from the city of Recife was performed aiming to know the
prevalence of fungi at extra and intraocular samples of canines. Samples were collected
immediately after euthanasia; exfoliation of the conjunctiva and cornea with gynecological
brush was performed and vitreous and aqueous humors, totalizing 156 samples. Conjunctive
material was plated for culture on Agar Sabouraud containing chloranphenicol (100 mg/l)
and Mycosel®. The vitreous and aqueous humor samples were transferred to Agar BrainHeart Infusion (BHI) medium and Agar Sabouraud containing chloranphenicol (100 mg/l).
In the analyzed population 27 animals (51.92 %) clinical signs of ocular disease while 25
(48.08%) were asymptomatic. Fungi species were isolated in 21 animals (44.38%), 15 of
these were yeasts and 06 filamentous fungi. The species Malassezia pachydermatis was
detected in 57.14% of the positive animals, being isolated from 7 asymptomatic dogs and 5
symptomatic. The results considered form samples performed in the conjunctiva, vitreous
and aqueous humor. Isolation of fungi species which recognizably cause ocular pathologies
in the vitreous humor in symptomatic animals indicates the need of inclusion of mycological
diagnosis aiming to clarify the fungi etiology of the uveitis in canines favoring this way the
adoption of a more specific and efficient therapeutics on the treatment of these ocular
pathologies.
Keywords: Dogs, Conjunctiva, Vitreous, Malassezia pachydermatis
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Sinais clínicos em cães com infecções oculares causadas por
17
fungos.
Tabela 2. Principais técnicas de diagnóstico micológico de infecções
oculares
20
Tabela 3. Espécies fúngicas isoladas de caninos errantes com os respectivos
sexos, faixa etária, sinais oculares, tipo de coleta,tipo de coleta e espécie
detectada
24
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Infecção sistêmica com comprometimento ocular em um Labrador com
tetraparesia neurite óptica e múltiplas hemorragias retinianas e granuloma
adjacente ao disco óptico (Fonte: GELATT, 2003).
18
Figura 2. Infecção ocular por Cryptococcus neoformans: (A) presença de massa
sobrelevada com tamanho três vezes maior do diâmetro do disco óptico; (B)
diminuição
da
massa
sobrelevada
com
área
de
maior
reflexividade,
correspondendo a cicatriz perilesional pós tratamento (Fonte:LARSSON et al
19
,2003
Figura 3. Desenho esquemático apresentando estruturas do olho visando
possibilitar visualização das diferentes áreas de isolamento de fungos (Fonte:
www.lentesvisualcenter.com.br/oolho.htm).
21
Figura 4. Coleta de material biológico de conjuntiva ocular de canino
22
Figura 5. Coleta de material biológico de humor vítreo (A) e humor aquoso (B).
22
Figura 6. Número de amostras positivas para fungos em cães com e sem
sintomatologia ocular.
27
Figura 7. Espécies fúngicas detectadas de amostras oculares de caninos errantes.
28
Figura 8. Detecção de Malassezia pachydermatis em amostras oculares
caninos em relação a presença ou ausência de sintomatologia.
de
Figura 9. Percentual de detecção de Malassezia pachydermatis em diferentes
partes do olho.
29
29
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
BDA
Batata Dextrose Agar
BHI
Brain Heart Infusion
CVA
Centro de Vigilância Ambiental
SID
Single dose
VO
Via oral
PCR
Reação em cadeia da DNA polymerase
TA
Temperatura ambiente
SUMÁRIO
RESUMO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1. INTRODUÇÃO
14
2. REVISÃO DE LITERATURA
16
3. MATERIAL E MÉTODOS
21
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
24
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
31
6. REFERÊNCIAS
32
ANEXO
1. INTRODUÇÃO
Fungos são microorganismos que apresentam ampla distribuição e que
possuem milhares de espécies descritas. No entanto, apenas cerca de 300 espécies podem
provocar enfermidades nos animais, cuja gravidade pode variar desde formas cutâneas a
quadros sistêmicos que geralmente são diagnosticados em exame post-mortem (MULLER et
al., 1996; GARCÍA et al., 2000; HOLFLING-LIMA et al., 2005).
As doenças oftálmicas vêm ganhando crescente espaço na medicina
veterinária, tendo aumentado o interesse de profissionais para esta especialidade. Uma das
enfermidades mais freqüentes na oftalmologia veterinária é a uveíte que constitui um grupo de
doenças com origem endógena ou exógena (BISTNER et al., 1996). Esta patologia se
caracteriza pela inflamação das camadas profundas do olho, tornando o tratamento dessa
doença complexo em vista da dificuldade de esclarecimento da etiologia. As uveítes podem
possuir várias causas endógenas, entre as quais se destacam as de etiologia microbiana
causadas principalmente pelas bactérias Ehrlichia canis, E platys, Brucella canis, Borrelia
burgdorfe e Rickttsia rickettssii e as causadas pelos fungos principalmente, Blastomyces
dermatitidis, Cryptoccocus neoformans, Histoplasma capsulatum e as virais causadas por
adenovírus e herpesvírus (ORIÁ, et al., 2004, GELATT, 2003).
Apesar da estrutura do bulbo ocular encontrar-se exposta diretamente ao meio
ambiente o que o torna vulnerável a um grande número de agentes infecciosos, alguns autores
consideram que o sistema ocular normalmente é imunocompetente e dispõe de barreiras
anatômicas, geralmente suficientes para debelar infecções fúngicas, o que justificaria o
reduzido número de casos observados (MARLAR, 1994; KLOTZ et al., 2000). As infecções
oculares de origem fúngicas podem ocorrer em todas as estruturas do olho devido a vários
fatores, entre os quais se destacam a imunossupressão iatrogênica (medicamentosa),
principalmente por glicocorticóides, infecções virais principalmente cinomose e raiva, por
neoplasias, erliquiose canina e distúrbios metabólicos como diabetes mellitus (GELATTI,
2003).
As características morfológicas, fisiológicas e patológicas do olho são
similares entre os animais domésticos. No entanto, o médico veterinário oftalmologista deve
ter habilidade para reconhecer e diferenciar as estruturas, doenças específicas e predisposições
raciais visando o estabelecimento de tratamentos específicos. Neste contexto, a terapêutica
das infecções oculares micóticas pode ser extremamente difícil considerando o fato de que
muitas vezes tem sido negligenciado a realização de exame micológico impossibilitando o
fechamento de um diagnóstico preciso. O estabelecimento do diagnóstico precoce dos
principais agentes responsáveis por uma casuística em uma dada região favorece o
direcionamento do clínico no sentido da adoção de uma terapêutica mais específica e eficaz.
Objetivou- se conhecer a prevalência de fungos em amostras oculares de
caninos errantes apreendidos pelo Centro de Vigilância Ambiental (CVA) da cidade do
Recife, através da identificação de espécies fúngicas em amostras extra e intraoculares e
realização da correlação destes microrganismos com sinais clínicos, visando demonstrar a
necessidade da inclusão do diagnóstico micológico no esclarecimento das patologias oculares.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Enfermidades fúngicas com sintomatologia exclusivamente ocular são raras em
caninos, sendo geralmente observadas quando o curso já tendeu a cronicidade e usualmente
são secundárias a lesões traumáticas, uso indevido de substâncias antibacterianas e
corticóides, bem como insuficiência dos mecanismos de defesa (BOEHRINGER; GUAIMAS,
2006). Por outro lado, nas infecções fúngicas disseminadas o envolvimento ocular é
relativamente comum em regiões endêmicas, sendo geralmente relatado na primeira consulta.
Comprometimento ocular pode ser uni ou bilateral, e a infecção dos seios paranasais, órbita e
nervo óptico pode afetar o olho secundariamente. Entre as doenças oculares sistêmicas mais
freqüentes destacam-se a blastomicose, coccidiodomicose, histoplasmose e criptococose.
Acredita-se que a inalação seja a via primária de infecção, com disseminação hematógena
para o olho posteriormente. A infecção direta animal/animal ou animal/ homem, no entanto, é
rara (GELATT, 2003).
Doenças fúngicas causadas por espécies oportunistas usualmente ocorrem nas
fêmeas de Pastor Alemão e podem ser associadas a uma variedade de fungos saprófitas; entre
as quais são citadas as espécies Aspergillus terreus, A. fumigatus, A. flavus, A. niger, A.
nidulans, Candida albicans, Geotrichum candidum, Pseudallescheria boydii. Nesses casos,
predisposição por supressão imunológica dos animais não é óbvia, e os sinais mais comuns
relacionam-se a discoespondilite manifestada geralmente por dor vertebral, paresia e paralisia
(GELATT, 2003).
A população microbiana normal da superfície ocular interfere na invasão de
microrganismos por privá-la de nutrientes, além de secretar substâncias com propriedades
antimicrobianas (HSU; WISEMAN, 1967; FREDRICKSON, 1977). A destruição da
microbiota ocular normal em conseqüência do uso prolongado de antimicrobianos tópicos
pode resultar em crescimento excessivo de bactérias, leveduras ou fungos filamentosos,
podendo estes microrganismos torna-se patogênicos (EICHENHAUM et al, 1987).
Estudos direcionados a microbiota ocular em cães clinicamente normais, em
diferentes partes do mundo apresentam resultados semelhantes, sendo as bactérias Gram
positivas os microrganismos de maior ocorrência. No Brasil, Andrade (2002) estudando
microorganimos da conjuntiva ocular de cães clinicamente sadios na região de Araçatuba (SP)
observou que as bactérias de maior ocorrência foram Staphylococcus aureus e Staphylococcus
ß- haemolyticus, ocorrendo no entanto, variação da microbiota conjuntival em função da
estação do ano. Em relação aos fungos foi detectada maior freqüência dos gêneros
Penicillium, Dermatium, Fusarium, Aspergillus e Cladosporidium no verão, enquanto no
inverno predominou os fungos Chrisosporum, Mucor, Pullularia e Trichophyton verrucosum.
Os cães estão vulneráveis a sofrerem injúrias externas e, dependendo do grau e
intensidade do trauma, podem ocorrer processos inflamatórios superficiais corneanos e
conjuntivais, bem como lesões graves a estruturas da túnica vascular e nervosa do bulbo
ocular (WHITLEY; MOORE, 1984). Com a perda de continuidade do epitélio vários
microrganismos podem se instalar de forma oportunista, entre os quais os fungos que podem
colonizar e infectar o olho (Tabela 1).
Tabela 1 - Sinais clínicos em cães com infecções oculares causadas por fungos.
Espécie
Cryptococcus
neoformans
Blastomyces
dermatitidis
Sinais Clínicos
Déficit visual, distúrbios gastrointestinais, apatia,
hiporexia, perda de peso progressiva.
HONSHO et al. (2003)
Uveíte, neurite óptica, mídríase, taquicardia e
taquipnéia, linfonodos enfartados.
LARSSON et al, (2003)
Hiperemia conjuntival, edema de córnea, uveíte,
neurite óptica.
BLOOM et al., (1996)
Conjuntivite, ceratite, corioretinite,
fotofobia, letargia, anorexia.
BRÖMEL, SYKES, JANE
(2005)
Secreção serosa ocular unilateral,
hipermia conjuntiva.
Malassezia
pachydermatis
Referência
uveíte,
fotofobia,
Oftalmorréia bilateral, blefarospasmo, congestão
conjuntival.
GIONFRIDDO, POWELL
(2002)
BOEHRINGER;
GUAIMAS (2006)
No cão a Criptococose se manifesta usualmente como uma doença
disseminada e de localização mais consistente no sistema nervoso central (SNC) e olhos. As
lesões oculares geralmente envolve uma reação granulomatosa a piogranulomatosa da coróide
que se estende para o espaço subretiniano para descolamento de retina (Figura 1). A terapia
imidazólica por vários meses apresenta prognostico reservado dado ao envolvimento do
SNC (GELATT, 2003)
Figura 1 - Infecção sistêmica com comprometimento
ocular em um Labrador com tetraparesia neurite
óptica e múltiplas hemorragias retinianas e granuloma
adjacente ao disco óptico (Fonte: GELATT, 2003).
Criptococose canina com acometimento oftálmico e cutâneo com diagnóstico
intra-vitam, em animal da raça Pastor alemão foi relatado por Larsson et al., (2003), estes
autores observaram um quadro tegumentar e ósseo característico, como também coriorretinite
inicialmente unilateral. Após nove meses de tratamento com itraconazol (9mg/kg/SID/VO)
ocorreu involução total do quadro sem efeito adverso à droga (Figura 2)
B
B
A
B
A
B
Figura 2 - Infecção ocular por Cryptococcus neoformans: (A) presença de massa sobrelevada
com tamanho três vezes maior do diâmetro do disco óptico; (B) Diminuição da massa
sobrelevada com área de maior reflexividade, correspondendo a cicatriz perilesional pós
tratamento (Fonte: LARSSON et al 2003).
O diagnóstico de enfermidades fúngicas tem alcançado crescente importância
na medicina humana, principalmente com o aparecimento da AIDS, avanço nos transplantes,
uso de imunossupressores e aumento da sobrevida de pacientes com neoplasias. Infelizmente
o mesmo não tem ocorrido na medicina veterinária, onde muitos casos são considerados como
não importantes ou de pouca relevância (GARCIA; BLANCO, 2000).
A realização do diagnóstico microbiológico a partir de amostras oculares de
caninos pode contribuir para orientar e programar o tratamento adequado. No entanto, o
isolamento de uma espécie fúngica não é significativo por si só, devendo ser consideradas
outras provas laboratoriais, bem como evidências clínicas (GARCIA; BLANCO, 2000). A
tabela 2 apresenta os principais métodos de diagnósticos disponíveis nas diferentes infecções
oculares de origem fúngica.
Tabela 2 - Principais técnicas de diagnóstico micológico de infecções oculares
Espécie
Blastomyces dermatitidis
Coccidioides immitis
Cryptococcus neoformans
Histoplasma capsulatum
Malassezia pachydermatis
Métodos de diagnóstico

Exame direto (técnica de “imprints “ de tecido, biopsias)
e cultura de aspirados de tecidos obtidos por
paracentese ocular

Imunodifusão em agar gel e PCR

Fixação do complemento

Teste intradémico com esferulina

Exame direto e cultura do fluido cérebro-espinal e/ou
ocular

Teste de aglutinação em látex

Histopatologia e cultura do organismo

Fixação de complemento

Exame direto e cultura
É importante ressaltar que os clínicos de pequenos animais devem permanecer
atentos na solicitação de exames complementares, incluindo micológico, por outro lado os
laboratórios de diagnóstico veterinário devem adequar sua metodologia visando pesquisar as
espécies fúngicas nas amostras clínicas suspeitas do envolvimento desses microrganismos.
3. MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um estudo em 52 caninos errantes apreendidos e submetidos à
eutanásia pelo Centro de Vigilância Animal (CVA) da cidade do Recife. As amostras foram
coletadas imediatamente após a eutanásia, conforme procedimento de rotina do CVA, através
da aplicação endovenosa de Pentobarbital sódico, seguida de aplicação de Cloreto de Potássio
(PLUMB, 2002). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Departamento de Medicina
Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (ANEXO A).
As amostragens dos animais analisados foram realizadas de forma a permitir o
isolamento de fungos de diferentes estruturas do olho conforme desenho esquemático
apresentado na Figura 3. Para cada animal foi preenchida uma de identificação, sendo
observados alguns dados como: raça, faixa etária, sexo, estado geral do animal e presença ou
ausência de sintomatologia oftálmica (ANEXO B).
De cada animal foi foram realizadas
coletas do saco conjuntival, humor aquoso e vítreo, totalizando 156 amostras.
Figura 3 - Desenho esquemático apresentado estruturas do olho visando
possibilitar visualização das diferentes áreas de isolamento de fungos (Fonte:
www.lentesvisualcenter.com.br/oolho.htm).
As amostras da conjuntiva foram coletadas através de esfoliações com escova
ginecológica (Figura 4).
Figura 4 - Coleta de material biológico de conjuntiva ocular de canino.
Para a coleta do humor vítreo foi efetuada paracentese através de uma seringa
com agulha de 22 G1, a uma distância de 5 a 7 mm posterior ao limbo e aspirados cerca de
0,25 ml,. Na coleta foi efetuada paracentese da câmara anterior introduzindo-se uma seringa
de insulina de 1 ml com agulha 27,5 G1/2 dirigida paralelamente a íris a 1mm do limbo, e
aspirado aproximadamene 0.5 ml (Figura 5).
B
B
A
A
Figura 5 - Coleta de material biológico de humor vítreo (A) e humor aquoso (B)
Os materiais biológicos foram mantidos nas referidas seringas e transportados
para o Laboratório de Micologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, onde foram
imediatamente processados.
O material procedente da conjuntiva foi semeado Agar Sabouraud adicionado
de cloranfenicol (100 mg/l) e Mycosel® e as amostras de humor vítreo e aquoso foram
transferidas para os meios Agar Infusão de Cérebro-Coração (BHI) e Agar Sabouraud
adicionado de cloranfenicol (100 mg/l). As placas contendo os meios foram incubadas à
temperatura ambiente (T.A = 28ºC±1ºC) por 20 dias. Após o crescimento em cultura, o fungo
foi isolado na superfície do meio Sabouraud simples (sem antibiótico), para posterior
confecção do microcultivo e identificação das espécies.
Para identificação de fungos filamentosos, foi utilizado o microcultivo em
lâmina com Batata Dextrose Agar (BDA). Os fungos foram identificados seguindo os
critérios adotados por De Hoog et al., (2000).
As leveduras foram identificadas de acordo com os critérios propostos por
Kurtzman e Fell (1998), além do crescimento em CHROMagar Candida® (Probac do Brasil,
São Paulo).
Foi conduzido um estudo transversal, tendo as informações sido obtidas
prospectivamente com preenchimento de um formulário específico para cada animal sendo
observados os critérios descritos no Anexo B.
4. RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Da população analisada 27 (51,92%) dos animais apresentavam sinais clínicos
de doença ocular e 25 (48,08%) encontravam-se aparentemente sadios.
Foram obtidas espécies fúngicas em 21 animais (40,38%), sendo 15 isolados
de leveduras e 06 de fungos filamentosos (Tabela 3).
Tabela 3 – Espécies fúngicas isoladas de caninos errantes com os respectivos sexos, faixa
etária, sinais oculares, tipo de coleta e espécie detectada.
Animal
Raça/sexo
Faixa
Sinais oculares
etária
Local de
Espécie
detecção
1
SRD/F
adulto
assintomático
-
-
2
Pastor Alemão/F
adulto
catarata incipiente
Humor
Malassezia
vítreo
pachydermatis
3
SRD/M
adulto
assintomático
conjuntiva
M. pachydermatis
4
Poodle/M
adulto
conjuntivite
-
-
5
SRD/M
jovem
assintomático
-
-
6
SRD/F
adulto
assintomático
-
-
7
SRD/F
jovem
assintomático
conjuntiva
M. pachydermatis
8
SRD/M
adulto
conjuntivite
-
-
9
SRD/M
adulto
conjuntivite
conjuntiva
Penicilium sp.
10
SRD/M
adulto
assintomático
conjuntiva
M. pachydermatis
11
Poodle/M
adulto
Conjuntivite*
conjuntiva
M. pachydermatis
12
SRD/M
adulto
assintomático
-
-
13
SRD / M
jovem
assintomático
conjuntiva
Candida sp.
14
Pitbull/ F
adulto
conjuntivite, blefarite
-
-
15
SRD/ M
idoso
conjuntivite purulenta,
-
-
humor vítreo
Paecilomyces jan
-
-
catarata
16
Pitbull / M
adulto
ceratite ulcerativa,
sinéquia anterior,
uveíte anterior
17
SRD/ F
adulto
conjuntivite
mucopurulenta
18
SRD/M
jovem
assintomático
-
-
19
Dobermann/M
adulto
conjuntivite, catarata
-
-
20
SRD/ F
adulto
conjuntivite
-
-
mucopurulenta
Continuação...
Animal
Raça/sexo
Faixa
Sinais oculares
etária
Local de
Espécie
detecção
21
SRD/M
idoso
catarata incipiente
-
-
22
SRD/M
idoso
catarata incipiente
conjuntiva
Paecilomyces
fumosoroseus
23
SRD/F
adulto
ceratoconjuntivite
conjuntiva
Malassezia
pachydermatis
24
SRD/ M
adulto
catarata incipiente ,
conjuntiva
conjuntivite
Malassezia
pachydermatis
25
SRD/ M
jovem
assintomático
conjuntiva
M. pachydermatis
26
SRD/M
adulto
assintomático
humor vítreo
Cryptococcus
neoformans
27
SRD/ M
adulto
conjuntivite
conjuntiva
Candida tropicalis
mucupurulenta
28
SRD/ M
jovem
assintomático
humor vítreo
-
29
SRD/ M
jovem
catarata bilateral
humor vítreo
M. pachydermatis
30
SRD/ M
jovem
uveíte anterior
-
-
31
SRD/ F
jovem
Ceratite ulcerativa
-
-
32
SRD/ F
jovem
assintomático
-
-
33
SRD/ F
adulto
ceratite
-
-
34
SRD/M
adulto
miíase, secreção
humor vítreo
Fusarium sp
conjuntiva,
Malassezia
humor vítreo
pachydermatis
mucopurulenta, úlcera
de córnea
35
SRD/F
adulto
assintomático
36
SRD/M
adulto
catarata incipiente
-
-
37
SRD/ M
adulto
assintomático
-
-
Continuação...
Animal
Raça/sexo
Faixa
Sinais oculares
etária
Local de
Espécie
detecção
38
SRD/ F
adulto
assintomático
conjuntiva
M. pachydermatis
39
SRD/ F
adulto
degeneração da retina
-
-
40
SRD/ F
jovem
secreção
-
-
mucopurulenta, uveíte
anterior
41
SRD/ F
adulto
assintomático
conjuntiva
M. pachydermatis
42
SRD/ M
jovem
assintomático
-
-
43
SRD/ F
jovem
assintomático
-
-
44
SRD/ F
jovem
assintomático
-
-
45
SRD/ F
jovem
assintomático
-
-
46
SRD/ M
jovem
assintomático
-
-
47
SRD/ F
jovem
assintomático
Humor
Curvularia lunata
aquoso
48
SRD/ F
jovem
assintomático
-
-
49
SRD/ F
jovem
assintomático
conjuntiva
50
SRD/ M
adulto
Ceratite ulcerativa
-
Tritirachium
oryzae
-
51
SRD/ F
adulta
Ceratite ulcerativa
-
-
52
SRD/ M
adulto
Conjuntivite, ceratite
-
-
ulcerativa
No conjunto dos resultados foram obtidos valores similares em relação ao
número de isolados fúngicos detectados em animais assintomáticos e sintomáticos (Figura 6).
No entanto, amostras oriundas da conjuntiva possibilitou o isolamento de um maior número
de espécies fúngicas, sendo detectada 6 (40%) dos cães com sintomas e 9 (60%) em cães
assintomáticos.
Assintomático sem
detecção
Assintomático com
detecção
Sintomático sem detecção
Sintomático com detecção
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Figura 6 – Número de amostras positivas para fungos com e sem sintomatologia ocular.
Espécies fúngicas citadas na literatura como agentes de infecções oculares em
caninos foram detectadas no presente estudo (Figura 7), sendo importante destacar a espécie
Cryptococcus neoformans e uma espécie do gênero é Paecilomyces (JERGENS, A. E et al.,
2000, HONSHO et al., 2003, LARSSON, et al., 2003).
Espécies Detectadas
Tritirachium oryzae
4,76
Penicillium sp.
4,76
Paecilomyces fumosoroseus
4,76
Paecilomyces javanicus
4,76
Fusarium sp.
4,76
Curvularia lunata
4,76
Cryptococcus neoformans
4,76
Candida tropicalis
4,76
Candida sp.
4,76
M alassezia pachydermatis
57,14
0
20
40
60
80
Freqüência (%)
Figura 7 - Espécies fúngicas detectadas de amostras oculares de caninos errantes.
Alterações do estado imunológico do animal, o acesso direto através de
traumatismos oculares, cirurgias, extensão a partir de tecidos infectados adjacentes e uso cada
vez mais freqüente de antibióticos tópicos e/ou corticóides, são alguns fatores determinantes
e/ou predisponentes que permitem aos microorganismos encontrarem condições favoráveis
para multiplicar-se e invadir tecidos, produzindo uma micose ou infecção fúngica, donde o
microorganismo
converte-se
um
patógeno no hospedeiro, causando desde infecções
localizadas benignas até patologias severas com perda da visão (MALAR,1994; KLOTZ et al,
2000).
A espécie Malassezia pachydermatis foi o fungo detectado com maior
prevalência em 57,14% dos animais positivos, sendo isolada em sete dos cães assintomáticos
e 05 dos cães com sintomatologia, considerando amostragens realizadas da conjuntiva e
humor vítreo e aquoso (Figura 8).
Ceratoconjuntivite
Catarata bilateral imatura
Catarata incipiente + conjuntivite
Conjuntivite
Catarata incipiente
Assintomático
0
10
20
30
40
50
60
Figura 8 - Detecção de Malassezia pachidermatis em amostras oculares de caninos em relação a presença ou
ausência de sintomatologia
A conjuntiva ocular foi à amostra clinica que possibilitou o isolamento de
maior número de isolados M. pachydermatis em relação ao humor vítreo e humor aquoso
(figura 9).
Local de Detecção de Malassezia
pachydermatis
Ambos
8,33
Câmara posterior
16,67
Conjuntiva
75,00
0
20
40
60
80
100
Freqüência (%)
Figura 9 – Percentual de detecção de Malassezia pachidermatis em diferentes partes do ollho
Diversas circunstâncias, como a determinação do estado comensal/ patógeno,
dificultam a evolução do significado médico destas leveduras, integrantes da biota normal do
animal, reconhecidas como agentes causadores de diversas patologias que afetam tanto a pele
como o conduto auditivo externo do cão. Boehringer e Guaimas, 2006 detectaram três casos
de M. pachydermatis associada a blefaroconjuntivite em cães e alertam sobre a conseqüências
do manejo incorreto da antibioticoterapia nas infecções oculares de cães.
A realização do presente estudo também possibilitou traçar um perfil dos
caninos apreendidos pelo CVA, aproximadamente metade da população envolvida
apresentava bom estado geral, sendo desta forma importante reiterar a necessidade de um
política mais efetiva pelas autoridades competentes em relação a posse responsiva, com uma
maior participação dos veículos de comunicação no sentido da realização de campanhas
educativas e, principalmente o estabelecimento de uma legislação especifica visando diminuir
o abandono de animais que constitui um grave problema de saúde pública.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ocorrência de uma grande diversidade de espécies fúngicas nas amostras
oculares da população de caninos errantes estudada, demonstrando principalmente uma ampla
colonização por esses microrganismos nas amostras oriundas da conjuntiva, como também
foram detectados fungos reconhecidamente causadores de infecções oculares em cães e no
homem em amostras oriundas do e humor vítreo, indicando uma provável infecção sistêmica
nos animais analisados.
Destaca-se que os oftalmologistas precisam incluir o diagnóstico micológico
como exame complementar na investigação da etiologia de oftalmopatias, favorecendo desta
forma a adoção de uma terapêutica mais especifica e eficaz no tratamento dessas patologias
oculares causadas por fungos em caninos.
O perfil dos caninos apreendidos pelo CVA na amostra estudada, com a
comprovação do bom estado geral de cerca da metade dos animais submetidos a eutanásia
demonstram a necessidade de implementação de uma política efetiva que seja capaz de
incentivar a posse responsiva.
REFERÊNCIAS
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ANEXO A – Parecer Comissão de Ética
ANEXO B –
Ficha de Identificação de animal
Ficha de Identificação de animal
Data: ____/____/____
N° do animal: ________ Faixa etária: jovem ( ) adulto ( ) idoso ( )
Raça: ______________
Sexo: macho ( )
fêmea ( )
Estado geral:
Ceratite:
Sim ( )
Não ( )
Uveíte:
Sim ( )
Não ( )
( ) precipitados ceráticos
( ) edema coneano
( ) miose
( ) heterocromia
( ) flare
( ) hifema
( ) prigmentação cápsula anterior cristalino
( ) hipópio
( ) hiperemia conjuntival
( ) outros _____________________________________________________
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