insumos e cultivares em teste - Associação Brasileira de Horticultura

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Volume
17
Novembro
número
3
ISSN 0102-0536
1999
SOCIEDADE DE
OLERICULTURA
DO BRASIL
Presidente
Rumy Goto
UNESP-Botucatu
Vice-Presidente
Nilton Rocha Leal
UENF-CCTA
1º Secretário
Arlete Marchi T. de Melo
IAC
2º Secretário
Ingrid B. I. Barros
UFRGS-Porto Alegre
1º Tesoureiro
Marcelo Pavan
UNESP-Botucatu
2º Tesoureiro
Osmar Alves Carrijo
Embrapa Hortaliças
COMISSÃO EDITORIAL
DA HORTICULTURA
BRASILEIRA
Presidente
Leonardo de Brito Giordano
Embrapa Hortaliças
Editor
Antônio T. Amaral Jr.
UENF-CCTA
Editora
Arminda Moreira Carvalho
Embrapa Cerrado
Editor
Danilo F. Silva Fo
INPA
Editor
José Magno Q. Luz
UFU
Editor
Marcelo Mancuso da Cunha
IICA-MI
Editora
Maria Aparecida N. Sediyame
EPAMIG
Editora
Maria do Carmo Vieira
UFMS - CEUD - DCA
Editora
Mirtes Freitas Lima
Embrapa Semi-Árido
Editor
Renato Fernando Amabile
Embrapa Cerrados
Editora
Sieglinde Brune
Embrapa Hortaliças
CORRESPONDÊNCIA:
Horticultura Brasileira
Caixa Postal 190
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ÍNDICE
CARTA DO EDITOR
181
PESQUISA
Influência do ácido acetilsalicílico, da sacarose e da temperatura na conservação in vitro de
segmentos caulinares de batata.
A. M. da Conceição; G. R. de L. Fortes; J. B. da Silva.
182
Densidade radicular de progênies de pupunheira em função de adubação NPK.
M. L. A. Bovi; S. H. Spiering; A. M. M. Barbosa.
186
Crescimento e estado nutricional de abóbora híbrida em função de adubação orgânica e mineral.
N. F. Silva; F. A. Ferreira; P. C. R. Fontes; M. A. N. Sediyama.
193
Rendimento de híbridos de melão amarelo em diferentes densidades de plantio.
L. C. Grangeiro; J. F. Pedrosa; F. B. Neto; M. Z. de Negreiros.
200
Aplicação de esterco bovino e uréia na couve e seus reflexos nos teores de nitrato e na qualidade.
V. C. P. Zago; M. R. Evangelista; D. L. de Almeida; J. G. M. Guerra; M. C. P. Neves;
N. G. Rumjanek.
207
Adubação química e calagem em erva-baleeira.
M. de F. Arrigoni-Blank; V. Faquin; J. E. B. P. Pinto; A. F. Blank; O. A. Lameira.
211
Caracterização e avaliação de substratos para o cultivo do tomateiro fora do solo.
J. L. Andriolo; T. S. Duarte; L. Ludke; E. C. Skrebsky.
215
Acúmulo de matéria seca e exigências nutricionais de plantas de alho provenientes de cultura
de tecidos e de propagação convencional.
F. V. Resende; V. Faquin; R. J. de Souza; V. S. Santos.
220
Ação do etileno em combinação com thidiazuron, nitrato de prata e ácido acetilsalicílico na
cultura de anteras de pimentão.
J. M. Q. Luz; J. E. B. P. Pinto; P. A. D. Ehlert; E. S. Cerqueira; I. Bedin.
226
Época de aplicação de fungicida para controle da mancha de Mycosphaerella do morangueiro.
C. Furlanetto; C. K. Tomita; A. C. Café Filho.
231
INSUMOS E CULTIVARES EM TESTE
Características comerciais de alho em Picos, PI.
M. E. da C. Veloso; R. L. R. Duarte; C. A. Sobrinho; F. de B. Melo; V. Q. Ribeiro.
234
Avaliação da eficiência de formulações de Bacillus thuringiensis para o controle de traça-dascrucíferas em repolho no Distrito Federal.
M. C. Branco.
237
Produção hidropônica de alface cv. Verônica em diferentes substratos.
H. L. Tavares; A. M. R. Junqueira.
240
Desempenho de cultivares de batata em solo infestado com Ralstonia solanacearum, raça 1.
A. M. Quezado-Duval; C. A. Lopes.
244
Caracterização dos estádios fenológicos da cúrcuma, em função da época e densidade
de plantio.
A. B. Cecílio Filho; R. J. de Souza.
248
NOVA CULTIVAR
IPR 82-Araucária, cultivar de batata para olericultura sustentável.
C. A. Scotti; N. R. X. de Nazareno.
Leopoldina: primeira cultivar de grão-de-bico para Minas Gerais.
R. F. Vieira; M. A. V. de Resende; C. Vieira.
254
257
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
259
ESPECIAL
Resumos do XXXIX Congresso Brasileiro de Olericultura
263
ÍNDICES
338
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
ISSN 0102-0536
Volume 17 number 3
November 1999
INDEX
Journal of the Brazilian
Society of Vegetable Science
EDITOR'S LETTER
181
RESEARCH
Effect of acetyl salycilic acid, sucrose and temperature on in vitro storage of potato shoots.
A. M. da Conceição; G. R. de L. Fortes; J. B. da Silva.
Root density of pejibaye progenies as a function of NPK fertilisation.
M. L. A. Bovi; S. H. Spiering; A. M. M. Barbosa.
Nutritional state of hybrid squash as a function of organic compost and mineral fertilizer.
N. F. Silva; F. A. Ferreira; P. C. R. Fontes; M. A. N. Sediyama.
Yield of yellow melon hybrids in different plant densities.
L. C. Grangeiro; J. F. Pedrosa; F. B. Neto; M. Z. de Negreiros.
Cattle manure and urea use on kale and their influence on the quality and nitrate content.
V. C. P. Zago; M. R. Evangelista; D. L. de Almeida; J. G. M. Guerra; M. C. P. Neves;
N. G. Rumjanek.
Chemical fertilization and liming in Cordia verbenacea.
M. de F. Arrigoni-Blank; V. Faquin; J. E. B. P. Pinto; A. F. Blank; O. A. Lameira.
Evaluation of substrates for growing tomatoes in soilless culture.
J. L. Andriolo; T. S. Duarte; L. Ludke; E. C. Skrebsky.
Dry matter accumulation and nutrition requirements of garlic planted with cloves
obtained by tissue culture or produceed directly on the field.
F. V. Resende; V. Faquin; R. J. de Souza; V. S. Santos.
Ethylene action in combination with Thidiazuron (TDZ), silver nitrate (AgNO3) and
acetylsalicylic acid on sweet pepper anther culture.
J. M. Q. Luz; J. E. B. P. Pinto; P. A. D. Ehlert; E. S. Cerqueira; I. Bedin.
Timing of fungicide application for Mycosphaerella leaf spot control on strawberry.
C. Furlanetto; C. K. Tomita; A. C. Café Filho.
182
186
193
200
207
211
215
220
226
231
PESTICIDES AND FERTILIZERS IN TEST
Evaluation of garlic cultivars in Picos region, PI.
M. E. da C. Veloso; R. L. R. Duarte; C. A. Sobrinho; F. de B. Melo; V. Q. Ribeiro.
234
Efficiency of Bacillus thuringiensis formulations in controlling Diamondback Moth
in cabbage in the Federal District.
M. C. Branco.
237
Yield response of hydroponic lettuce grown on three different substrates.
H. L. Tavares; A. M. R. Junqueira.
240
Performance of potato cultivars in soil naturally infested with race 1 of Ralstonia solanacearum.
A. M. Quezado-Duval; C. A. Lopes.
244
Characterisation of phenology stages of the turmeric, as a function of time and planting density.
A. B. C. Filho; R. J. de Souza.
248
NEW CULTIVAR
IPR 82-Araucária, potato cultivar for sustainable vegetable production.
C. A. Scotti; N. R. X. de Nazareno.
Leopoldina: first chickpea cultivar for Minas Gerais State, Brazil.
R. F. Vieira; M. A. V. de Resende; C. Vieira.
254
256
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259
SPECIAL
Abstracts of the XXXIXCongress of the Brazilian Society of Vegetable
263
ÍNDICES
338
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
carta do editor
Com a publicação deste volume, completamos mais um ano de lutas e vitórias na condução da
nossa revista Horticultura Brasileira. Neste ano de 1999 temos a satisfação de poder apresentar
ao nosso público a revista com publicação quadrimestral. Todos aqueles que acompanham a
nossa luta e que colaboram conosco, sabem o árduo trabalho que temos para conseguir manter a
frequência e a qualidade da nossa revista. Dessa forma quero aqui expressar o meu agradecimento especial aos nossos editores associados (Alice, Antônio Amaral, Arminda, Danilo, José Magno, Salles, Marcelo, Maria Aparecida, Maria do Carmo, Mirtes, Renato e Sieglinde).
Infelizmente neste ano deixamos de contar com a valiosa contribuição de dois de nossos
editores. Nossa colega Alice, que em março iniciou seu curso de doutorado, e nosso colega Salles
que estará dedicando mais tempo à pesquisa com a mosca-das-frutas. Aproveito esta oportunidade para agradecer a ambos pela valiosa contribuição que prestaram à nossa revista nestes últimos
anos. Muito sucesso em seus novos empreendimentos.
Aproveito a oportunidade para parabenizar a nova Diretoria da Sociedade de Olericultura do
Brasil, na pessoa da presidenta, Dra. Rumy Goto, desejando-lhe pleno sucesso.
Leonardo de Brito Giordano
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
181
pesquisa
CONCEIÇÃO, A.M. da; FORTES, G. R. de L.; SILVA, J.B. da. Influência do ácido acetilsalicílico, da sacarose e da temperatura na conservação in vitro de
segmentos caulinares de batata. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p.182-185, novembro 1999.
Influência do ácido acetilsalicílico, da sacarose e da temperatura na conservação in vitro de segmentos caulinares de batata.
Adriane M. da Conceição1; Gerson Renan de L. Fortes2 ; João Baptista da Silva.3
1/
UFPel - Colegiado de Pós-Graduação em Agronomia, C. Postal 354, 96.010-900 Pelotas-RS; 2/ Embrapa Clima Temperado, C. Postal
403, 96001-970 Pelotas-RS; 3/ UFPel/IFM, C.Postal 354, 96.010-900 Pelotas-RS.
RESUMO
ABSTRACT
O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Cultura de
Tecidos da Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS), com o objetivo de estudar o efeito do ácido acetil salicílico (AAS), associado à
sacarose e à temperatura na conservação in vitro de segmentos
caulinares das cultivares de batata Baronesa e Santo Amor. Os segmentos foram inoculados em meio de cultura com sais e vitaminas
de MS, acrescido de 100 mg.L-1 de mio-inositol, 6 g.L-1 ágar e com
sacarose nas concentrações de 10, 30 e 50 g.L-1 combinadas com
ácido acetil salicílico a 0, 3, 6, 9 e 12 mg.L-1 . Após a inoculação o
material foi mantido às temperaturas de10 e 25°C. O experimento
constituiu-se de um fatorial AxBxCxD [temperatura (2) x sacarose
(3) x AAS (5) x cultivar (2)], em blocos casualizados, com quatro
repetições, sendo cada explante uma parcela. O comprimento do
segmento caulinar foi analisado pelo teste de Duncan e pela regressão polinomial dos fatores. As avaliações foram iniciadas 15 dias
após a instalação do experimento e continuadas a cada 15 dias, sucessivamente ao longo de 180 dias. Da variável percentagem de sobrevivência do material em conservação in vitro foi calculado apenas o valor médio. A concentração de sacarose de 30 g.L-1 no meio
de cultura, e a temperatura de 10°C, foram os melhores tratamentos
para a melhor conservação in vitro e maior percentagem de sobrevivência dos segmentos caulinares de batata.
Effect of acetyl salycilic acid, sucrose and temperature on in
vitro storage of potato shoots.
Palavras chaves: Solanum tuberosum L., cultura de tecidos.
Keywords: Solanum tuberosum L., tissue culture.
This work was carried out at the Tissue Culture Laboratory at
Embrapa Clima Temperado Pelotas-RS, Brazil, to evaluate the
influence of acetyl salycilic acid (ASA), sucrose and temperature in
the in vitro storage of potato shoot cvs. Baronesa and Santo Amor.
The shoot segments were inoculated on a medium containing MS
salts, vitamins, myo-inositol (100 mg.L-1 ), agar (6.0 g.L-1 ) and sucrose
at 10, 30 and 50 g.L-1 combined with acetyl salicylic acid at 0, 3, 6, 9
and 12 mg.L-1 . After inoculation the material was kept at 10 or 25°C.
The experiment was designed in a factorial A x B x C x D
[temperature (2) x sucrose (3) x ASA (5) x cultivars (2)] and displayed
in a randomized block with four replicates being each explant one
plot. The shoot growth was studied and the data were compared by
the Duncan test and by polinomial regression. Evaluation took place
every 15 days and the last one was done 180 days after inoculation.
The best results were obtained using in vitro storage with the shoots
kept at 10°C, on a medium containing to 30 g.L-1 sucrose.
(Aceito para publicação em 01 de setembro de 1999)
A
batata (Solanum tuberosum L.) é
a olerácea mais importante cultivada no Brasil, pelo seu alto potencial
de rendimento e pelas suas propriedades nutricionais, com produtividade
média de 15 t/ha, com uma área plantada, em 1995 de 178.174 ha e uma produção de 2.692334 t (IBGE, 1997). As
áreas de produção estão concentradas,
principalmente no Centro-Sul do país;
o Rio Grande do Sul encontra-se em
primeiro lugar em área plantada e em
quinto em produtividade, com 9,9 t/ha
(IBGE, 1997).
O processo de conservação in vitro,
que é baseado no crescimento lento das
espécies, tem sido considerado uma al182
ternativa à conservação de germoplasma
feita a campo em espécies propagadas
vegetativamente (Roca et al., 1991).
O crescimento rápido das espécies
in vitro exige mais mão-de-obra e aumenta a possibilidade de perdas devido
à contaminação do material durante repetições contínuas de subcultivo. Por
outro lado, o processo de conservação
in vitro diminui o número de
subcultivos, como também reduz os custos financeiros, as contaminações por
microorganismos e a variação
somaclonal. O método de conservação
in vitro objetiva desacelerar ou até suprimir totalmente o crescimento das
células e tecidos in vitro, aumentando o
período entre cada subcultivo (Dorion
et al., 1991).
O crescimento lento tem sido um sucesso na manutenção das gemas de algumas espécies e tem manifestado
aplicabilidade podendo ser utilizado rotineiramente para espécies como: batata, batata-doce, maçã, pêra, kiwi, banana,
forrageiras e ornamentais (Withers &
Williams, 1990). Entre os fatores mais estudados para retardamento do crescimento, encontram-se a redução de temperatura, bem como adição de inibidores de crescimento e osmóticos ao meio de cultura.
Os retardantes de crescimento são
um grupo de componentes sintéticos que
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Ácido acetilsalicílico, sacarose e temperatura na conservação in vitro de batata.
reduzem o elongamento da haste; e, geralmente aumentam a coloração verde
das folhas. Esses componentes inibem
a divisão celular no meristema subapical
das gemas, mas tem pouco efeito na produção de folhas e no crescimento de
raízes (Gianfagna, 1987).
Segundo Salisbury (1992), o ácido
acetil salicílico é um hormônio vegetal
importante para algumas respostas fisiológicas conhecidas. Tais como, formação floral (Kaihara et al., 1981;
Khurama & Maheshwari, 1978); fechamento dos estômatos (LarqueSaavendra, 1979); inibição da síntese de
etileno (Leslie & Romani, 1988); resistência a patógenos (Mills & Wood,
1984); produção de proteínas relacionadas a patogenicidade (Ohashi &
Matsuoka, 1987) e promotor na formação de colônias de protoplastos
(Carswell et al., 1989).
Leite et al. (1995), conservaram
meristemas de alho in vitro utilizando o
ácido acetil salicílico em concentrações
de até 4,0 mg.L-1 combinado com
manitol 30 g.L-1 , em substituição a
sacarose; a maior percentagem de plantas sobreviventes (34,55%) foi obtida na
concentração de 0,5 mg.L-1, de ácido
acetilsalicílico.
Esse trabalho teve como objetivo
estudar a modificação do meio de cultura, utilizando o ácido acetilsalicílico
como retardante de crescimento associado a um agente osmótico, a sacarose, e
à temperatura, na conservação in vitro
de segmentos caulinares das cultivares
de batata, Baronesa e Santo Amor.
por sais e vitaminas de MS (Murashige
& Skoog, 1962), acrescido de sacarose
(30 g.L-1), mio-inositol (100 mg.L-1), 6benzilaminopurina (BAP) 1 mg.L-1 , ácido-naftalenoacético (ANA) 0,01 mg.L1, ácido giberélico (AG ) 1 mg.L-1 e ágar
3
(6 g.L-1), sendo o pH ajustado a 5,9 com
NaOH (1N) antes da adição do agente
solidificante. Após a inoculação dos
explantes no meio de cultura os frascos
foram mantidos em sala de crescimento, por 45 dias, sob 16 horas de
fotoperíodo, 2000 lux de intensidade
luminosa e temperatura de 25°C ± 2°C.
A partir do desenvolvimento dos
meristemas, em meio de cultura obteve-se brotações com 2 a 3 cm que foram divididas em segmentos caulinares
contendo uma gema axilar e inoculadas
em tubos de ensaio contendo 10 ml de
meio básico MS sem reguladores de crescimento e com todos os demais componentes da fase anterior. Os frascos foram
mantidos em sala de incubação à temperatura e fotoperíodo idênticos aos utilizados no desenvolvimento de
meristemas. Após quatro semanas originaram-se novas brotações de 10 a 12 cm
Ao atingir o comprimento médio de
12 cm, as brotações sadias (conforme
teste de indexação realizados previamente) das duas cultivares foram divididas
em segmentos caulinares de 2 cm de
comprimento, contendo duas gemas axilares e inoculadas em meio MS acrescido de sacarose (10, 30 e 50 g.L-1); ácido
acetilsalicílico (0, 3, 6, 9 e 12 mg.L-1) e
mantidas às temperaturas de 10 e 25°C.
O experimento constituiu-se de um
fatorial AxBxCxD [temperatura (2) x
sacarose (3) x AAS (5) x cultivar (2)],
em blocos casualizados, com quatro repetições, sendo que cada explante representou uma parcela. Os dados referentes
ao comprimento do segmento caulinar
foram analisados utilizando-se o teste de
Duncan e a regressão polinomial dos fatores. As avaliações foram iniciadas
quinze dias após a instalação do experimento e continuadas a cada quinze dias,
sucessivamente, ao longo de 180 dias.
Da variável percentagem de sobrevivência do material em conservação in vitro
foi apenas calculado o seu valor médio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da análise da variação
apresentaram significância estatística
para a grande maioria dos fatores e
interações. Somente não foram significativas (a=0,05) as interações AAS x
cultivar e temperatura x AAS x cultivar. Tendo em vista este fato e visando
uma simplificação do trabalho, selecionamos apenas interações de primeira
ordem que se apresentaram como altamente significativas (a=0,01). Da variável percentagem de sobrevivência do
material em conservação in vitro foi
apenas calculado o seu valor médio.
A redução de temperatura proporcionou um menor crescimento dos segmentos caulinares para a cultivar Baronesa
à temperatura de 10°C (Figura 1). Para
25°C ocorreu uma inversão de cresci-
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa
Clima Temperado, Pelotas-RS.
Foram utilizadas plantas de batata
(Solanum tuberosum L.) das cultivares
Baronesa e Santo Amor. Os tubérculos
dessas cultivares foram plantados em
vasos contendo solo esterilizado com
brometo de metila. Após o crescimento
e desenvolvimento das ramas até a altura aproximada de 20-25 cm, estas foram cortadas e utilizadas para retirada
dos meristemas.
O meio de cultura utilizado para isolamento de meristemas foi constituído
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Figura 1. Comprimento de segmentos caulinares de batata cvs. Baronesa e Santo Amor à
temperatura de 10 e 25°C, após seis meses de conservação in vitro, Pelotas-RS, Embrapa
Clima Temperado, 1997 (as letras minúsculas correspondem as comparações entre as cultivares, dentro de uma mesma temperatura e as letras maiúsculas indicam as comparações
entre as temperaturas, para uma mesma cultivar, pelo teste de Duncan (a=0.05)).
183
A.M. da Conceição et al.
Figura 2. Comprimento dos segmentos caulinares de batata cvs. Baronesa e Santo Amor nas
concentrações de 10, 30 e 50 g/l de sacarose, após seis meses de conservação in vitro, PelotasRS, Embrapa Clima Temperado, 1997 (as letras minúsculas correspondem as comparações
entre as concentrações de sacarose para uma mesma cultivar e as letras maiúsculas indicam as
comparações entre as cultivares, para uma mesma concentração, pelo teste Duncan (a=0.05)).
Figura 3. Comprimento de segmentos caulinares de batata para a média das cultivares às
concentrações de 10, 30 e 50 g/l de sacarose, e sob temperatura de 10 e 25°C, após seis
meses de conservação in vitro, Pelotas-RS, Embrapa Clima Temperado, 1997 (as letras minúsculas correspondem às comparações entre as concentrações de sacarose dentro de uma
mesma temperatura e as letras maiúsculas indicam as comparações entre as temperaturas,
para uma mesma concentração de sacarose, pelo teste Duncan (a=0.05)).
mento em relação às cultivares, sendo os
segmentos caulinares da cultivar Baronesa os que mais cresceram. Isto pode
ser atribuído a uma característica
genotípica (Jabuonski & Furumoto,
1987); a cv. Baronesa possui porte médio, e a cv. Santo Amor porte baixo, embora a Santo Amor seja proveniente do
cruzamento entre as cultivares Baronesa
e Konsuragis (Hawkes, 1978). À temperatura de 10°C, ocorreu um crescimento
lento dos segmentos caulinares de batata, provocado por uma desaceleração na
velocidade do metabolismo celular, devido à baixa temperatura os processos
metabólicos são mais lentos (Desbrunais
184
et al., 1992). Resultados similares foram
obtidos por Bhat & Chandel (1993), na
conservação in vitro de gemas de banana, às temperaturas de 15 e 25°C. Estes
autores concluíram que o crescimento
lento dos segmentos ocasionado pela redução de temperatura é um fator importante e determinante para a longevidade
do material em conservação.
Sharma & Chandel (1992) utilizando temperaturas de 5, 10, 15 e 25°C na
conservação in vitro de segmentos
caulinares de Raulvofia serpentina, observaram que os segmentos apresentaram
redução no crescimento durante os quinze meses de armazenamento. Henshaw
et al. (1980), trabalhando com segmentos caulinares de genótipos de batata à
temperatura de 6°C e 8 h de fotoperíodo
à noite e de 12°C e 16 h de fotoperíodo
durante o dia, obtiveram um índice de
80% de sobrevivência do material em seis
meses de conservação in vitro.
As cultivares Baronesa e Santo Amor
produziram 24 e 27 microtubérculos respectivamente, após 6 meses da conservação in vitro. Verificou-se que ocorreu
um maior crescimento dos segmentos
caulinares com o aumento do nível de
sacarose, sendo que para o nível de 30
g.L-1 obteve-se o maior comprimento dos
segmentos caulinares, principalmente
para a cultivar Baronesa (Figura 2). A
redução verificada quando se passa de 30
g.L-1 para 50 g.L-1 para a cultivar Santo
Amor pode ser atribuída à formação de
microtubérculos quando utilizada a concentração maior de sacarose no meio de
cultura. Karssem et al. (1991), relatam
que a formação de microtubérculos é
conseguida pela alta concentração de
açúcar no meio de cultura. Aumentando
a concentração de sacarose de 2 a 8%,
houve um aumento de até 100% na formação de microtubérculos em estacas
nodais com concomitante redução no
elongamento do estolão.
Segmentos caulinares à temperatura de 25°C apresentaram um maior comprimento, do que aqueles a 10°C em todas as concentrações de sacarose, sendo que a concentração de 30 g.L-1 foi
superior às demais. A temperatura de
25°C proporciona um aumento na velocidade do metabolismo celular e,
consequentemente, um maior crescimento dos segmentos caulinares (Figura 3). Resultados similares foram obtidos por Desbrunais et al. (1992) conservando segmentos caulinares de café
in vitro à temperatura de 27°C com
20g.L-1 de sacarose.
Com o aumento da concentração de
AAS em meios de cultura submetidos à
temperatura de 25°C, ocorreu redução
no crescimento médio dos segmentos
caulinares das distintas cultivares (Figura 4). Os retardantes de crescimento
reduzirem o elongamento das hastes
(Gianfagna, 1987). A temperatura de
100C, quando comparada com a de 250C,
foi mais eficiente na redução do crescimento dos segmentos caulinares, mesmo na ausência de AAS. Entretanto,
segundo Grout (1991), retardantes de
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Ácido acetilsalicílico, sacarose e temperatura na conservação in vitro de batata.
crescimento devem ser adicionados ao
meio de cultura e a temperatura deve ser
reduzida entre 1 e 10°C, para promover
uma redução na velocidade de crescimento do material em conservação.
Com respeito à percentagem de sobrevivência dos segmentos caulinares em
conservação in vitro, obteve-se maior
percentual de sobrevivência a 10°C, atingindo cerca de 87%, para a média das
cultivares. À temperatura de 25°C, ocorreu um maior percentual de perda de
material atingindo aos seis meses de conservação, com aproximadamente 57% de
sobrevivência. Estas perdas foram atribuídas
à
contaminação
por
microorganismos, pois com o aumento
da temperatura há uma maior
condensação de água no frasco, favorecendo o desenvolvimento de fungos.
Resultados semelhantes foram obtidos
em estudos sobre a conservação in vitro
de gemas de macieira, onde ocorreu perda do material à temperatura de 26°C,
devido
à
contaminação
por
microorganismos e à diminuição do meio
de cultura. (Lundergan & Janick, 1979).
Estes resultados com as cultivares Baronesa e Santo Amor superaram os obtidos por Fortes et al. (1995), que obtiveram quatro meses e meio de conservação in vitro para segmentos caulinares das
cultivares Baronesa e Monte Bonito.
Os resultados obtidos neste trabalho,
sugerem que a melhor conservação in
vitro e a maior percentagem de sobrevivência dos segmentos caulinares de batata foram obtidos com a concentração
de 30 g.L-1 de sacarose no meio de cultura e à temperatura de 10°C.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Embrapa
Clima Temperado, pelo uso das instalações para execução do ensaio e também
ao CNPq pelos recursos fornecidos.
LITERATURA CITADA
BHAT, S.R., CHANDEL; K.P.S. In Vitro
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Densidade radicular de progênies de pupunheira em função de
adubação NPK .
Marilene L. A. Bovi; Sandra H. Spiering; Antonia Marlene M. Barbosa
Instituto Agronômico, C. Postal 28, 13.001-970 Campinas - SP
RESUMO
ABSTRACT
O uso eficiente de fertilizantes requer o conhecimento de seus
efeitos tanto na biomassa aérea quanto na radicular, permitindo que
se identifique uma adubação adequada do ponto de vista de uma
melhor partição entre ambas. A massa de raízes secas por volume de
solo vem sendo utilizada, principalmente em espécies perenes, como
subsídio para estimativas de biomassa radicular. Com esse objetivo,
foram estudados os efeitos da adubação NPK na densidade radicular
de três progênies de pupunheira (Bactris gasipaes Kunth), cultivadas em um Aluvial álico (corrigido por meio de calagem) em
Ubatuba, SP (clima “Cfa”), durante o ano de 1993. O delineamento
foi um fatorial fracionado, composto por quatro doses crescentes de
nitrogênio (0 a 400 kg/ha/ano de N), fósforo (0 a 200 kg/ha/ano de
P2 O5 ) e potássio (0 a 200 kg/ha/ano de K 2 O), em experimento integrado (progênies e adubação). As amostras foram coletadas por ocasião da primeira colheita de palmito (outubro de 1993), quando as
plantas (cultivadas no espaçamento de 2 x 1 m) tinham cerca de dois
anos de campo. Utilizou-se o método do trado, coletando-se, por
parcela experimental, duas amostras na linha e duas na entrelinha.
Houve diferenças entre genótipos (GE), com as progênies 2 e 3 apresentando, em média, maior densidade radicular que a progênie 1
(5,15 e 6,20 contra 2,61 g/dm3 , respectivamente). A interação GE x
PO (posição da amostra) foi significativa, sendo que para as progênies 1 e 2 a maior densidade radicular foi obtida na linha (3,30 e
6,60 g/dm3 na linha, contra 1,92 e 4,70 g/dm3 na entrelinha, respectivamente), enquanto para a 3 a ordem foi inversa (5,57 g/dm3 na
linha e 6,84 g/dm3 na entrelinha). Doses crescentes de potássio (K)
apresentaram efeitos lineares positivos e significativos (R2 =0,93 a
0,97) na densidade radicular das três progênies, com acréscimos entre
dose mínima e máxima variando de 18 a 28%. Não houve efeito
significativo isolado de P, enquanto doses crescentes de N proporcionaram um efeito linear positivo e significativo, mais evidente na
progênie 1 (médias de 2,26, 2,39, 2,62 e 3,16 g/dm3 para as doses 0,
100, 200 e 400 kg/ha/ano de N, respectivamente). Não houve
interação estatisticamente significativa entre GE e fertilizantes aplicados (NPK), exceto para GE x N x P. Embora com respostas diferenciais de acordo com a progênie, constatou-se que a maior densidade radicular foi sempre obtida nas doses mais elevadas de N.
Root density of pejibaye progenies as a function of NPK
fertilization.
Palavras-chave: Bactris gasipaes, sistema radicular, palmito,
absorção de nutrientes.
Keywords: Bactris gasipaes , root-system, heart of palm, nutrient
uptake.
The efficient use of fertilizers requires a knowledge of their
effects, not only on shoot biomass, but also on below-ground biomass,
to identify an adequate fertilization level from the point of view of a
better partition between both. Dried root mass per soil volume has
been used, especially in perennial crops, as a substitute for estimates
of root biomass. With this objective, the root density of three
progenies of the pejibaye palm (Bactris gasipaes Kunth) was studied
under a combination of four nitrogen (0 to 400 kg/ha/year of N),
phosphorus (0 to 200 kg/ha/year of P2 O5 ) and potassium (0 to 200
kg/ha/year of K2 O) doses, in a field experiment. The area was located
at Ubatuba, SP, Brazil, in an allic alluvial soil, corrected by liming.
The samples were collected during the first heart of palm harvest
(October, 1993), when the plants (cultivated in a 2 x 1 m spacing)
were two years old. Samples were collected, between and within
planting rows, using a root-soil auger sampler, 50 cm from the main
stem and at a 0-20 cm soil depth. There were differences among
genotypes (GE), with progenies 2 and 3 showing, on average, higher
root densities than progeny 1 (5.15 and 6.20, against 2.61 g/dm3 ,
respectively). The interaction GE x PO (sample position) was
significant: progenies 1 and 2 showed the highest root densities within
planting rows (3.30 and 6.60 g/dm3 within row, against 1.92 and
4.70 g/dm3 between rows, respectively), while progeny 3 showed an
inverse order (5.57 g/dm3 in the within row, and 6.84 g/dm3 between
rows). There was a positive linear response to applied potassium (R2
=0.93 to 0.97), with increments between minimum and maximum
doses varying from 18 to 28%. There was no isolated significant
effect of P, while increasing doses of N provided a positive and
significant linear effect, more evident in progeny 1 (averages of 2.26,
2.39, 2.62 and 3.16 g/dm3 for the doses 0, 100, 200 and 400 kg/ha/
year of N, respectively). There was no significant interaction between
GE and fertilizers (NPK), except for GE x N x P. Although the
responses varied with progeny, higher root density was always found
at high nitrogen doses.
(Aceito para publicação em 01 de outubro de 1999)
P
almeiras apresentam uma alta demanda por nutrientes para
maximizar crescimento e produção
(Hartley, 1977; Tinker, 1982; Bovi &
Cantarella, 1996). No entanto, a magnitude das respostas à aplicação de fertilizantes depende de uma série de fatores
relacionados à aquisição, transporte e
186
utilização dos nutrientes disponíveis e
aplicados ao solo. O sistema radicular
das plantas ocupa não mais que 2% do
volume superficial do solo (Böhm,
1979; Sieverding, 1991). Portanto, as
relações entre a biomassa radicular e a
quantidade e a proporção dos nutrientes aplicados determinam a eficiência de
absorção e, consequentemente, as respostas de crescimento e/ou produção
(Mengel, 1983). Comparadas às
dicotiledôneas, palmeiras possuem sistema radicular pouco eficiente devido à
presença em grande proporção de raízes
grossas, fibrosas e sem pelos absorventes (Tomlinson, 1990). Talvez por isso,
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Densidade radicular de progênies de pupunheira em função de adubação NPK.
alocam
proporcionalmente
mais
biomassa às raízes do que as
dicotiledôneas. A absorção de nutrientes nessas plantas tende a ser função
quase que exclusiva do desenvolvimento do sistema radicular.
O uso de fertilizantes em cultivos
com alta extração de nutrientes exige
cautela. O suprimento inadequado de
nutrientes, tanto falta quanto excesso,
pode provocar restrições ao crescimento das plantas e alterar relações entre
biomassa
aérea
e
radicular.
Desbalanceamentos entre crescimento
radicular e aéreo, causados por falta ou
excesso de algum nutriente, são reportados em algumas espécies (Buwalda &
Goh, 1982; Peng et al., 1993), evidenciando que nem sempre a alocação de
maior quantidade de fotossintatos ao
sistema radicular se traduz em maior
crescimento da parte aérea. Em plantas
dependentes de fungos micorrízicos,
como a pupunheira (Sudo et al., 1996),
esse efeito pode ser ainda maior, com
uma mudança no comportamento
simbiótico entre micorrizas e planta
hospedeira. Embora a associação entre
fungos micorrízicos e plantas tenha se
mostrado benéfica em situações de baixa disponibilidade de fósforo (Chulan,
1991), ela é altamente detrimental em
condições de elevada disponibilidade
desse elemento (Peng et al., 1993). Há,
nessas condições, maior demanda do
fungo por fotossintatos, induzindo a
planta a aumentar o sistema radicular em
detrimento do crescimento da biomassa
aérea. Sabe-se que a produção de palmito por pupunheiras e a duração econômica do cultivo estão direta e positivamente associadas à sua biomassa aérea (Mora-Urpí et al., 1997; Bovi, 1998).
Dessa forma, fatores que possam interferir nessa característica devem ser objeto de pesquisa.
O crescimento e a densidade
radicular são bastante afetados pelas
propriedades físicas e químicas do solo
(Barley, 1970). Segundo esse autor, a
fertilidade de um solo reside, pelo menos parcialmente, na habilidade das
raízes crescerem e se ramificarem facilmente no mesmo. Poucos são os artigos
que relatam os efeitos da adubação no
crescimento ou densidade radicular a
campo (Anilkumar & Wahid, 1988;
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Pavan, 1995). A dificuldade da análise
da biomassa radicular nessas condições
provavelmente é um dos principais fatores que restringem esses estudos.
Existem vários métodos para o estudo do sistema radicular de cultivos.
Dentre eles, o método do trado descrito
por Böhm (1979), além da simplicidade, mostra-se bastante adequado quando grande parte do sistema radicular está
nas primeiras camadas de solo. Por esse
motivo, o método é indicado para plantas com sistema radicular fasciculado.
Embora possa subestimar a densidade
de raízes, devido a perdas no processo
de lavagem das mesmas, o método é
apropriado para avaliações comparativas de tratamentos. O modo de reportar
a quantidade de raízes presentes em uma
amostra também tem sido sujeito a muitas indagações. Comprimento, diâmetro
e porcentagem de raízes em diferentes
categorias de tamanho têm sido reportados (Gardner, 1960; Tailliez, 1971;
Farrell et al., 1993). No entanto, quando é feita comparação entre tratamentos, a densidade radicular, expressa em
massa/volume ou em comprimento/volume, é uma das características mais
utilizadas (Gross et al., 1992; Hauser,
1993; Mullins et al., 1994).
Existe alguma informação sobre o
sistema radicular da pupunheira. Artigos de Vandermeer (1977), Ferreira et
al. (1980; 1995) e Morales & Vargas
(1990) relatam que essa espécie possui
raízes em sistema fasciculado, com cerca de 75 a 80% delas distribuídas, de
modo mais ou menos uniforme, nos primeiros 20 cm do solo. Algumas raízes
apresentam maiores diâmetros, são mais
curtas
e
possuem
acentuado
geotropismo, sendo consideradas raízes
de sustentação ou ancoramento. Há ainda alguma informação sobre o comportamento do sistema radicular da
pupunheira em solos distintos (Ferreira
et al., 1980; 1995). Em ambos os estudos, foram utilizadas plantas adultas (cerca de 13 e 17 anos de idade, respectivamente), não submetidas a adubações regulares. No entanto, artigos comparando densidade radicular de pupunheiras
cultivadas para a produção de palmito,
tanto em solos distintos como sob diferentes condições de fertilização, não foram encontrados na literatura.
O presente trabalho foi realizado visando estudar os efeitos da adubação
NPK em um Aluvial álico na densidade
radicular de pupunheiras, de forma a
relacioná-la posteriormente com teores
de elementos no solo, crescimento da
planta e taxa de colonização de raízes
por fungos micorrízicos nativos, permitindo que se identifique uma adubação
adequada do ponto de vista de uma melhor partição entre biomassa aérea e
biomassa radicular.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas parcelas experimentais de um ensaio fatorial fracionado
instalado na Estação Experimental do
Instituto Agronômico, localizada em
Ubatuba (23 o 27’S, 45 o 04’W, a seis
metros de altitude). O clima da região é
“Cfa”, pela classificação de Köppen,
tropical, quente e úmido, com
pluviosidade anual normal de 2841 mm,
evapotranspiração potencial normal de
992 mm, excedente normal de 1849 mm,
temperatura média anual de 20,8 oC e
déficit hídrico nulo. Os tratamentos foram quatro doses de nitrogênio (0, 100,
200 e 400 kg de N/ha), de fósforo (0,
50, 100 e 200 kg de P2O5/ha) e de potássio (0, 50, 100 e 200 kg de K2O/ha), divididas em cinco aplicações anuais ao
longo da estação chuvosa (outubro a
março). As fontes de nutrientes foram,
respectivamente, nitrocálcio (22% de
N), superfosfato triplo (45% de P2O5) e
cloreto de potássio (60% de K2O). Os
adubos foram aplicados em cobertura,
em faixas de 50 cm de largura, dos dois
lados das plantas. A adubação teve início seis meses após a instalação do experimento.
O ensaio foi conduzido em solo classificado
como
Aluvial
álico
(Udifluvent), com as seguintes propriedades químicas a 0-20 cm de profundidade, após aplicação de calcário
dolomítico visando elevar a saturação
por bases (originalmente 14%) e diminuir a saturação em alumínio: pH em
CaCl2 5,0 (equivalente a pH 5,6 em
água); matéria orgânica 39 g/dm3; P (resina) 9 mg/dm3 ; K 1,3; Ca 28; Mg 16;
H+Al 43 mmolc /dm3; capacidade de troca catiônica 88 mmol c /dm3 ; saturação
por alumínio de 0% e saturação por ba187
M.L.A. Bovi et al.
ses de 51%. O relevo da área experimental é plano, apresenta boa drenagem e
não há erosão. A composição
granulométrica do solo na profundidade de 0-15 cm é de 10% de argila, 14%
de silte, 13% de areia fina e 63% de areia
grossa. A maiores profundidades há uma
progressiva diminuição na porcentagem
de areia grossa e aumento de areia fina.
A porosidade total na profundidade de
0-20 cm é de 49,97%, sendo constituída por 29,65% de macroporos e 20,32%
de microporos. Na camada imediatamente inferior (20-40 cm) há uma redução
acentuada da microporosidade (9,75%)
e um aumento da macroporosidade
(42,92%). A densidade global nas duas
camadas está em torno de 1,20 g/cm 3
(Jorge & Bovi, 1994).
O espaçamento entre plantas foi de
2 x 1 m. As parcelas possuíam 24 plantas úteis, com bordaduras duplas ao redor e as progênies, da raça “microcarpa”
Pará (Mora-Urpí & Clement, 1988), estavam sorteadas dentro de cada parcela.
Para o presente estudo foram utilizadas
três progênies. Dentro de cada progênie, as amostragens para o cálculo da
densidade radicular foram feitas com
duas repetições na linha e duas na entrelinha. As plantas apresentavam, por
ocasião da amostragem, dois anos de
campo e não tinham sido ainda colhidas. Cerca de 70% das plantas no experimento estavam aptas à colheita.
Observações preliminares sobre a
distribuição do sistema radicular das
plantas sob essas condições de cultivo
foram feitas em duas plantas localizadas nas bordas do ensaio. Utilizou-se o
método de trincheira (Böhm, 1979), com
profundidade até 2 m e distância do
estipe principal de 3 m. A partir dessas
observações preliminares, assumindo-se
simetria radial, estabeleceu-se que a
maior concentração de raízes na profundidade de 0 a 20 cm estava a uma distância de 50 cm do estipe.
A densidade radicular das touceiras
dos diferentes tratamentos (combinações de doses de NPK) foi estimada pelo
método do trado (Böhm, 1979), segundo metodologia descrita por Fujiwara et
al. (1994). Retiraram-se amostras na linha (1 m entre plantas) e na entrelinha
(2 m entre plantas) para cada ponto
amostrado, ambas a cerca de 50 cm da
188
planta e na profundidade de 0 a 20 cm,
onde, segundo a literatura (Vandermeer,
1977; Ferreira et al., 1980; 1995;
Morales & Vargas, 1990) e as observações preliminares, mais de 80% das
raízes da pupunheira se situam. As
raízes foram separadas do solo, lavadas
e pesadas. A secagem das mesmas foi
feita em estufa a 70o C até peso constante, seguindo-se nova pesagem. Os
dados foram expressos em massa de
raízes secas por volume de solo (g/dm3).
Os resultados foram submetidos à
análise de variância, com comparação
entre médias feita pelo teste de Tukey a
5%. Regressões múltiplas em passos
foram usadas para modelar a resposta
das doses crescentes dos elementos na
densidade radicular das progênies de
pupunheira. A escolha da equação que
melhor se ajustou aos dados foi baseada na significância do efeito da regressão, dos desvios da regressão testados
pelo teste F a 5% de probabilidade e no
maior coeficiente de determinação (R²).
Os coeficientes das equações de regressão foram testados até 10% pelo teste
“t”. As derivadas primeiras das equações foram igualadas a zero, determinando-se as doses dos elementos associadas à máxima e à mínima densidade
radicular por genótipo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização e dimensões das
raízes
O sistema radicular das plantas observado pelo método de trincheira, seguiu, de um modo geral, o padrão apresentado pelas palmeiras (Tailliez, 1971;
Hartley, 1977; Avilan et al., 1984;
Tomlinson, 1990). Mostrou-se como do
tipo fasciculado, com a grande maioria
das raízes de primeira ordem ou primárias (R1) crescendo horizontalmente e
medindo cerca de 3,3 a 5,9 mm de diâmetro. A maior parte delas alcançou, nas
plantas observadas, de 1,5 a 2,0 m na
horizontal. Algumas raízes primárias
cresciam verticalmente, alcançando profundidades em torno de 1,5 a 2 m, sendo consideradas raízes de sustentação.
No entanto, notou-se que o ancoramento
dessas plantas não é bom. Tombamento
de touceiras após ocorrência de ventos
fortes tem sido frequentemente obser-
vado no banco de germoplasma dessas
palmeiras instalado na região.
Observou-se que as raízes de segunda ordem ou secundárias (R2) originaram-se de ramificações das raízes primárias, apresentando dimensões de 1,2
a 2,9 mm de diâmetro, chegando a alcançar até 35 cm de comprimento. Podem ter crescimento ascendente ou descendente, com uma tendência das raízes
superficiais crescerem acima da superfície do solo. Raízes terciárias (R3) saíram das secundárias e apresentaram dimensões em torno de 0,4 a 1,1 mm de
diâmetro e 2 a 8 cm de comprimento.
As raízes quaternárias (R4) raramente
mediram mais do que 2 cm, com maior
frequência encontrada entre 0,1 a 1 cm
de comprimento e diâmetros sempre inferiores a 0,5 mm (média entre 0,16 a
0,32 mm). Juntamente com as terciárias,
essas raízes são consideradas os órgãos
principais de absorção em palmeiras e
podem ser extensivamente desenvolvidas
em solos ricos em nutrientes e matéria
orgânica (Tomlinson, 1990). Como nas
demais palmeiras, observou-se que as
raízes de pupunheira não possuem pelos
absorventes. No entanto, presume-se que
a absorção é facilitada pelo grande número de raízes, alta proporção de raízes
secundárias e terciárias em relação às de
maiores diâmetros e presença de fungos
micorrízicos que comportam-se como
prolongamentos do sistema radicular
(Tomlinson, 1990; Sieverding, 1991).
Observou-se ainda que as raízes saíram invariavelmente em ângulo próximo a 90o. Houve variação nesse padrão
apenas quando as raízes foram anterior
e involuntariamente cortadas, o que
pode ocorrer durante a operação de
roçada. Nesse caso, detectou-se um crescimento em tufo das raízes (observouse de quatro a oito raízes de diâmetros
apenas um pouco inferiores à secção
cortada), principalmente das R1 e R2,
que ocorreu próximo ao ponto de corte.
Embora não tenha sido feita separação das raízes por diâmetro em cada
amostra dos tratamentos analisados
(parcelas com diferentes combinações
de NPK), observou-se que o diâmetro
médio das raízes teve variação semelhante às duas plantas anteriormente
observadas (5,9 a 0,16 mm). Observouse ainda que cerca de 63% (em peso)
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Densidade radicular de progênies de pupunheira em função de adubação NPK.
dos segmentos de raízes amostradas
pertenciam às classes de menores diâmetros (raízes terciárias e quaternárias
- 1,1 a 0,16 mm), sem variações nítidas
nessa porcentagem entre os tratamentos.
Dimensões próximas às aqui encontradas foram obtidas anteriormente por
Ferreira et al. (1995).
Efeito de genótipos
Observou-se, pela análise de
variância dos dados obtidos pelo método do trado, influência significativa dos
genótipos (F = 82,92***) na densidade
radicular da pupunheira. Não ocorreram
interações significativas entre genótipos
e nutrientes isolados (F de GE x N =
0,91ns; F de GE x P = 1,07ns; F de GE
x K = 0,92ns). Não foram também significativas as interações triplas entre
genótipo, nitrogênio e potássio (F de GE
x N x K = 0,87ns) e entre genótipos,
fósforo e potássio (F de GE x P x K =
0,73ns). Apenas a interação entre
genótipos, nitrogênio e fósforo mostrou
ser significativa a 1% de probabilidade
(F de GE x N x P = 3,14**). Pela
significância dessa interação para palmeiras, a mesma será discutida mais
adiante. Por sua vez, a interação entre
genótipos e posição das amostras foi significativa (F de GE x PO = 15,12***)
indicando que as progênies divergem na
densidade radicular encontrada na linha
e na entrelinha. A progênie 1 apresentou significativamente menor densidade radicular que as progênies 2 e 3 (Tabela 1), tanto na linha como na entrelinha. Dois fatores principais podem estar envolvidos. O primeiro deles referese ao fato, já constatado para várias espécies vegetais (Salisbury & Ross,
1991), de que genótipos divergem na
partição entre biomassa aérea e
biomassa radicular. Raízes, assim como
folhas e frutos, são drenos (centros de
importação de fotoassimilados). No entanto, são drenos mais fracos que esses
dois últimos órgãos. Sempre que houver uma maior demanda de crescimento e expansão da parte aérea, estabelece-se um processo competitivo entre
drenos que resulta no esgotamento das
reservas das raízes e na paralisação de
seu crescimento, em detrimento de maior
crescimento aéreo (Salisbury & Ross,
1991). Diferenças entre material genético para biomassa aérea e radicular têm
sido reportadas em outras palmeiras
(Ruer, 1967a,b; Hardon, 1982).
Outro fator que poderia ser aventado como causa da diferenças significativa para densidade radicular entre progênies está relacionado à maior ou menor suscetibilidade de genótipos ao alumínio. Tratando-se de solo originalmente ácido, tal fator poderia estar envolvi-
Tabela 1. Densidade radicular média de progênies de pupunheiras quando cultivadas sob doses crescentes de adubação nitrogenada,
fosfatada e potássica. Ubatuba, Instituto Agronômico, 1998.
Elementos e doses Progênie 1 Progênie 2 Progênie 3 Progênie 1 Progênie 2 Progênie 3
Linha
Entrelinha
Médias
g/dm3
Nitrogênio
0
2,53 B a
5,28 A a
5,82 A b
1,98 C b
5,62 B a
7,69 A a
4,82
100
200
400
3,24 C a
3,53 B a
3,90 B a
5,54 A a
5,56 A a
6,02 A a
4,84 B b
5,25 A b
6,35 A a
1,55 C b
1,71 C b
2,42 C b
3,71 B b
4,41 B b
5,08 B b
5,75 A a
7,23 A a
6,67 A a
4,11
4,62
5,07
0
50
100
3,61 B a
2,45 C a
3,43 B a
5,50 A a
5,58 B a
5,55 A a
5,01 A b
6,43 A a
5,65 A b
1,99 C b
1,73 C b
2,01 C b
4,46 B b
4,99 B b
4,64 B b
6,81 A a
6,65 A a
7,73 A a
4,56
4,64
4,80
200
3,73 B a
5,77 A a
5,19 A b
1,93 C b
4,72 B b
6,35 A b
4,61
Potássio
0
50
2,96 B a
3,05 C a
5,27 A a
4,75 B a
5,29 A b
5,22 A b
1,89 C b
1,82 C b
3,97 B b
4,51 B a
6,10 A a
6,51 A a
4,24
4,31
100
200
3,73 B a
3,47 B a
5,72 A a
6,66 A a
5,37 A b
6,40 A b
1,68 C b
2,27 C b
5,16 B b
5,17 B b
6,71 A a
8,03 A a
4,73
5,33
Médias
3,30
6,60
5,57
1,92
4,70
6,84
4,48
CV (%)
50,50
29,72
22,09
46,12
27,14
26,09
34,83
Fósforo
Médias seguidas da mesma letra na horizontal (maiúsculas para comparação entre progênies na mesma posição de amostra e minúsculas
para comparação entre posições de amostra dentro da mesma progênie) não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
189
M.L.A. Bovi et al.
Figura 1. Densidade radicular de progênies de pupunheira em função de doses crescentes
de potássio. Ubatuba, Instituto Agronômico, 1998.
do. No entanto o solo foi corrigido previamente com calcário, alcançando pH em
água de 5,6, com consequente
neutralização do alumínio trocável (saturação por alumínio = 0). Além disto, as
raízes do genótipo com menor densidade
radicular apresentavam a mesma
morfologia e medidas dos demais
genótipos, não evidenciando os sintomas
usuais de toxidez ao elemento e, deve-se
lembrar ainda, que a pupunheira é uma
espécie tropical, nativa de regiões com
solos ácidos, de baixos teores de nutrientes e com elevada saturação por alumínio
(Mora-Urpí, 1984), portanto originalmente pouco sensível à toxidez causada por
esse elemento. Essa característica foi comprovada recentemente por Pachêco (1997)
em mudas de pupunheira cultivadas em
solução nutritiva com concentrações crescentes de Al (0 a 30 mg/L). O autor reporta que não foram visualizados sintomas
tais como encurtamento e engrossamento
de raízes e que os maiores efeitos foram
na parte aérea (redução no crescimento
devido a menor absorção de Ca, Mg e P)
e não no sistema radicular, concluindo que,
em relação a outras plantas cultivadas, a
pupunheira mostrou ser tolerante ao alumínio.
Posição das amostras
Não houve efeito significativo da
posição das amostras (F = 2,09 ns) quan190
do se considerou a média das progênies. No entanto, a interação progênie x
posição das amostras (GE x PO) foi significativa (F 15,12***). Não obstante,
não houve interações significativas
(simples ou múltiplas) entre posição da
amostra e nutrientes. Via de regra, maiores densidades radiculares na linha (média de 3,30 e 6,60 g/dm3, respectivamente) foram obtidas para as progênies 1 e
2, enquanto para a progênie 3, maiores
massas radiculares por volume fixo de
solo foram encontradas na entrelinha
(média de 6,84 g/dm3) (Tabela 1). Exceções são a progênie 2 na dose zero de N
e na dose 50 de K, onde não houve diferença estatística na densidade radicular
entre linha e entrelinha; e a progênie 3,
onde as doses 400 de N e 50 de P não
mostraram diferenças significativas entre a densidade radicular obtida na
linha e na entrelinha. Como o
espaçamento nas entrelinhas foi o dobro do espaçamento na linha, os resultados encontrados para as progênies 1 e
2 estão dentro do esperado. Por sua vez,
os resultados obtidos para a progênie 3
indicam que trata-se provavelmente de
material genético com sistema radicular
mais abrangente, exigindo maior
espaçamento entre plantas. Não obstante
a diferença entre densidade radicular
encontrada para as progênies em estu-
do, não é possível fazer nenhuma afirmação quanto à superioridade desta ou
daquela, visto que o balanço entre as
biomassas aérea e radicular é que indica a eficiência de um genótipo.
Efeito isolado de potássio
Dentre os elementos em estudo, houve um efeito linear positivo das doses
de potássio aplicadas ao solo sobre a
densidade radicular (F = 5,10**) (Figura 1). Não foram detectadas interações
significativas entre esse elemento e os
demais, bem como entre ele e genótipos
(F de N x K = 1,81 ns; F de P x K =
1,31ns; F de GE x K = 0,92 ns). As progênies reagiram de forma linear a doses
crescentes de potássio. O efeito foi mais
evidente nas progênies 2 e 3, que apresentaram acréscimos na densidade
radicular, entre dose mínima e máxima
de potássio, de 28,1 e 26,7%, respectivamente (Tabela 1). A progênie 1, com
densidade radicular média significativamente menor que as demais, apresentou menor acréscimo entre doses de K
(18,6%). De acordo com Sieverding
(1991), a absorção dos íons que são supridos às raízes pelo mecanismo de difusão, tais como fósforo e potássio, depende da densidade de raízes por volume do solo. Um sistema radicular bem
desenvolvido, principalmente com relação às raízes de menores diâmetros,
apresenta maior área superficial, favorecendo a absorção desses nutrientes.
Embora para algumas espécies, tais
como algodão, seja notório o efeito de
aplicação de potássio na densidade
radicular (Mullins et al., 1994), não foram encontradas citações relacionandoos em palmeiras. No entanto, sabe-se
que as palmeiras apresentam alta demanda por potássio, estando a biomassa
aérea e a produção diretamente relacionadas a uma fertilização adequada em
N e K (Hartley, 1977; Tinker, 1982;
Bonneau et al., 1993). Principalmente
em solos arenosos, como o do presente
estudo, o potássio tem sido considerado
o principal elemento que afeta o crescimento e a produção do dendezeiro
(Hartley, 1977; Tinker, 1982).
Interação entre N e P
Embora tenha sido reportado que o
fósforo é um dos elementos que mais
afetam o sistema radicular de várias espécies (Sieverding, 1991), não foi deHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Densidade radicular de progênies de pupunheira em função de adubação NPK.
tectado efeito isolado, estatisticamente
significativo, de doses de fósforo na
densidade radicular de pupunheiras (F
de 0,26 ns). Por sua vez, não obstante
tenha sido observado efeito significativo de doses de N (efeito linear positivo) na característica avaliada (F =
3,96**), detectou-se também interação
significativa entre nitrogênio e fósforo
(F = 6,83***) e, mais importante, entre
progênies e esses dois elementos (GE x
N x P, com F = 3,14**). Como reportado anteriormente, não houve interação
significativa (simples ou múltipla) entre a posição da amostra e os nutrientes,
permitindo que se avalie o efeito dos
nutrientes nos diferentes genótipos pela
média de suas densidades radiculares
(linha e entrelinha). As figuras 2, 3 e 4
mostram a variação média da densidade radicular de cada uma das progênies
em relação as doses de N e P. Interação
significativa N x P já havia sido detectada anteriormente para as características biomassa aérea e atividade in vivo
da enzima fosfatase ácida em folhas de
pupunheira (Bovi et al., 1998). Interação
positiva entre nitrogênio e fósforo tem
sido reportada também para outras palmeiras (Ollagnier & Ochs, 1980; Tinker,
1982; Tampubolon et al., 1990;
Bonneau et al., 1993). Em todas as citações, o efeito de N em P é maior do que
o efeito de P em N, tal como o reportado aqui. Embora com respostas diferenciadas de acordo com a progênie em
estudo, nota-se que maior densidade
radicular foi sempre obtida nas doses
mais elevadas de N (figuras 2, 3 e 4).
Diante dos resultados obtidos com coqueiro e dendezeiro, Bonneau et al.
(1993) argumentam que uma boa nutrição nitrogenada aumenta automaticamente o teor de P nessas palmeiras, mas
isso não elimina a necessidade de aplicação de adubos fosfatados. Do ponto
de vista fisiológico, o sinergismo de
absorção e assimilação existente entre
N e P é facilmente explicado. Enquanto
o nitrogênio é parte estrutural da molécula da clorofila, a taxa de fotossíntese
é fortemente influenciada pela concentração de fósforo inorgânico no
cloroplasto (Salisbury & Ross, 1991).
Dessa forma, plantas bem nutridas em
N e P têm maior capacidade de assimilação de CO 2 e de sintetização de
carboidratos durante a fotossíntese, reHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Figura 2. Densidade radicular da progênie 1 em função de doses de nitrogênio (N) e fósforo
(P) (K = 0). Ubatuba, Instituto Agronômico, 1998.
Figura 3. Densidade radicular da progênie 2 em função de doses de nitrogênio (N) e fósforo
(P) (K = 200). Ubatuba, Instituto Agronômico, 1998.
Figura 4. Densidade radicular da progênie 3 em função de doses de nitrogênio e fósforo (P)
(K = 200). Ubatuba, Instituto Agronômico, 1998.
191
M.L.A. Bovi et al.
sultando em maiores quantidades de
biomassa. A maior alocação desta para
o sistema radicular pode ser particularmente importante para a planta, pois
permite mudanças na rizosfera (mediada pela exudação de ácidos orgânicos e
interação com fungos micorrízicos),
com conseqüente aumento na aquisição
de nutrientes minerais e água.
Maximização e minimização das
respostas
As respostas modeladas por meio de
análise de regressão, utilizando uma função polinomial quadrática, indicaram que
as doses que maximizaram ou
minimizaram a densidade radicular foram
diferentes para cada uma das três progênies. Para a progênie 1, a densidade
radicular máxima (3,4 g/dm3) foi obtida
com a seguinte combinação de elementos: N = 400 kg/ha/ano de N, P = 0 a 200
kg/ha/ano de P2O5 e K = 0 kg/ha/ano de
K2O (Figura 2). Para essa mesma progênie o mínimo (1,2 g/dm3) foi obtido com
N = 50 a 350, P = 80 a 150 e K = 200.
A densidade radicular máxima estimada para a progênie 2 foi de 6,10 g/dm3,
obtida com N = 400, P = 0 a 200 e K =
200 (Figura 3). Para essa mesma progênie, o valor mínimo foi de 3,8 g/dm3, para
a seguinte combinação de elementos: N
= 100 a 150, P = 200 e K = 200.
Para a progênie 3, a densidade
radicular máxima foi de 8,2 g/dm3, obtida através da seguinte combinação: N
= 400, P = 50 a 100 e K = 200 (Figura
4). A densidade mínima de 4,6 g/dm3
foi obtida em duas combinações diferentes: N = 200 a 280, P =0 e K =0, ou
N = 100 a 150, P = 200 e K =200.
Diferenças nutricionais observadas
entre genótipos, tais como as aqui reportadas, são esperadas, visto que os
processos de absorção, transporte e utilização de nutrientes estão sob controle
genético (Baligar & Fageria, 1997). Segundo Baligar e Bennett (1986), a densidade radicular e a morfologia das
raízes afetam especialmente a eficiência de absorção de potássio e fósforo,
pela maior ou menor interceptação das
rotas de difusão.
Embora com diferenças marcantes
entre as progênies, a maior densidade
radicular esteve sempre relacionada à
doses elevadas de nitrogênio (400 kg/
192
ha/ano de N). No entanto, em plantas
onde o produto comercial é constituído
pelo conjunto de folhas, como a
pupunheira para palmito, ênfase deve ser
dada aos fatores que promovam também
o crescimento da parte aérea. Torna-se,
portanto, imperativo verificar se essa
maior densidade radicular, alcançada
com doses balanceadas de nitrogênio,
fósforo e potássio, se reflete em maior
biomassa aérea.
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orgânica e mineral. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p. 193-200, novembro 1999.
Crescimento e estado nutricional de abóbora híbrida em função de adubação orgânica e mineral1 .
Natan F. Silva2; Francisco A. Ferreira3; Paulo C. R. Fontes3; Maria Aparecida N. Sediyama4
2
/UFG Escola de Agronomia, C. Postal 131, 74.001-970 Goiânia - GO; 3/ UFV - Dep. de Fitotecnia, 36.571-000 Viçosa-MG; 4 EPAMIG/
UFV, 36.571-000 Viçosa - MG.
RESUMO
ABSTRACT
Foi conduzido um ensaio em estufa com cobertura plástica, em
Viçosa, MG, com finalidade de avaliar a resposta da abóbora híbrida, cv. Tetsukabuto, a cinco doses (0, 25, 50, 100 e 150 g.dm-3 ) de
composto orgânico produzido com resíduos de suínos e bagaço de
cana em três níveis (0, 1 e 2) de adubação mineral (AM). No nível 1
da adubação mineral foram adicionados, em mg.dm-3 de substrato,
os elementos: 150 de P; 50 de N; 75 de K; 20 de S; 58,5 de Ca; 14 de
Mg; 0,5 de B; 0,5 de Cu; 1 de Zn e 0,1 de Mo. No nível 2 adicionouse o dobro das doses dos nutrientes aplicadas no nível 1. O experimento foi em fatorial 5 x 3, e os tratamentos distribuídos em blocos
ao acaso com quatro repetições. Cada parcela foi constituída por um
vaso contendo 10 dm3 de substrato, com uma planta cada. Após 36
dias da semeadura, o composto orgânico e o adubo mineral propiciaram aumentos da área foliar, da matéria seca da parte aérea das plantas e aumentos dos teores de P, K e S e redução dos teores de N, Mg,
e Ca na matéria seca do limbo foliar.
Nutritional state of hybrid squash as a function of organic
compost and mineral fertilizer.
Palavras-chave: Cucurbita maxima x C. moschata, teores de
nutrientes, crescimento, adubação orgânica, adubação mineral.
Keywords: Cucurbita maxima x C. moschata, nutrient
concentration, growth, organic compost, mineral fertilizer.
An experiment was carried out in a plastic greenhouse, in Viçosa, Minas Gerais, Brazil, to evaluate the response of hybrid squash
cv. Tetsukabuto to five rates (0, 25, 50, 100, and 150 g/dm3 ) of organic
compost combined with three levels (0, 1 and 2) of mineral fertilizer.
At level 1 of mineral fertilizer the following nutrients were added in
mg per dm3 of substrate: 150 of P; 50 of N; 75 of K; 20 of S; 58.5 of
Ca; 14 of Mg; 0.5 of B; 0.5 of Cu; 1 of Zn and 0.1 of Mo. At level 2,
a double of the quantities applied at level 1 were added. The
experiment was laid out as a 5 x 3 factorial arrangement, and the
treatments randomly distributed in blocks, with four repetitions. Each
sample comprised a pot containing 10 dm3 of substrate and a single
plant. Thirty six days after planting the organic compost and mineral fertilizer resulted in increases in leaf area, dry weight of aerial
parts, and P, K and S content, and a decrease in the contents of N,
Mg and Ca in the dry matter of the leaf blade.
(Aceito para publicação em 22 de setembro de 1999)
1
Parte da tese de doutoramento do primeiro autor, apresentado à UFV, Viçosa, MG. Trabalho executado com o apoio financeiro da CAPES
e FAPEMIG.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
193
N.F. Silva et al.
O
cultivo de abóbora híbrida cv.
Tetsukabuto tem sido feito em diversas regiões produtoras do país, utilizando adubação orgânica e mineral, mas
as doses ainda não estão bem
estabelecidas (Makishima, 1991). No
Brasil, trabalhos relatando os efeitos da
adubação no crescimento e nutrição deste
híbrido
são,
praticamente,
inexistentes. Mesmo na literatura estrangeira poucos trabalhos contemplam esta
planta (Fontes & Lima, 1993).
A adubação orgânica, prática
milenar de fertilização dos solos cultivados, reconhecidamente contribui para
a atividade biológica e produção das
culturas. Esse efeito da matéria orgânica tem sido relacionado com seu conteúdo de nutrientes e modificações nas
propriedades físicas do solo, principalmente através da melhor agregação do
solo, que, por sua vez, influencia na capacidade de infiltração e retenção de
água, drenagem, aeração, temperatura e
penetração radicular (Allison, 1973;
Kang, 1991). Chen & Aviad (1990) e
Varanine et al. (1993) afirmam que a
resposta de crescimento obtida na presença de matéria orgânica não pode ser
explicada somente pelo seu conteúdo de
nutrientes ou melhores condições físicas do solo, mas também pela melhor
absorção de nutrientes.
Essa melhor absorção de nutrientes
pelas plantas na presença de matéria
orgânica pode ser atribuída à interações
entre compostos orgânicos e a membrana plasmática das células. Varanine et
al., (1993) constataram um aumento da
atividade de H+ -ATPases da membrana
de vesículas isoladas de raízes de aveia
na presença de substâncias húmicas de
baixo peso molecular.
Nos solos brasileiros onde predominam minerais argilosos como a caulinita
e os óxidos hidratados de ferro e alumínio, com baixo poder de troca catiônica
(Moniz et al. 1995; Santos & Batista
1996), a matéria orgânica torna-se constituinte de extrema importância na manutenção da sua fertilidade, (Kang, 1991).
Silva Jr. & Vizzoto (1990) observaram maior rendimento e qualidade de
frutos na cultura do tomateiro, quando
parte dos fertilizantes minerais foi substituída pelo adubo orgânico. Kang
(1993) afirma que, em solos do sul da
194
Nigéria, maiores produtividades de milho foram obtidas com a combinação da
aplicação dos fertilizantes minerais e
orgânicos. Rodrigues (1990) também
relata maior produtividade de alface em
função de doses de composto orgânico.
No entanto, Pacheco (1996) estudando
doses de composto orgânico de cana-deaçúcar e dejeto de suínos não obteve
ganho de produtividade em repolho, mas
observou uma redução dos teores de N
na planta.
Na região da Zona da Mata de Minas Gerais, em razão de sua topografia
acidentada, o cultivo de olerícolas é feito
em pequenas propriedades e com pouca utilização de insumos. Em Ponte
Nova, a suinocultura é uma atividade de
relativa expressão, gerando grandes
volumes de resíduos orgânicos e constituindo-se em grave problema de poluição
ambiental, pois são acumulados em lagoas ou lançados diretamente nos cursos d’água. Uma alternativa seria utilizálos como fonte de matéria orgânica para
os solos cultivados. Assim surgiu a necessidade de um estudo que oriente o
uso racional desses resíduos, principalmente no cultivo de hortaliças, que tradicionalmente utilizam, além dos fertilizantes minerais, a adubação orgânica
(Sediyama et al., 1995).
Desse modo o objetivo deste trabalho
foi avaliar o crescimento e o estado
nutricional da abóbora híbrida cv.
Tetsukabuto, em função da adubação com
doses de composto orgânico produzido
com resíduos de suínos e bagaço de cana
em três níveis de adubação mineral.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido em condições de estufa com cobertura plástica,
nas dependências do DFT/UFV, no
Município de Viçosa, MG. Utilizaramse vasos de plástico preto, contendo 10
dm3 de substrato, preparado com amostra de um solo Podzólico VermelhoAmarelo Câmbico fase terraço, de textura argilosa, coletado na camada arável, na Estação Experimental da
EPAMIG. Originalmente, esse solo
apresentava as seguintes características:
pH (H2O) = 5,9; P = 13,8 mg/dm3; K =
66 mg.dm-3; Al = 0,0 cmolc.dm-3 ; H+Al
= 2,4 cmolc .dm-3 ; Ca = 3,4 cmolc .dm-3 ;
Mg = 1,1 cmolc .dm-3 ; CTC-total = 7,01
cmolc .dm-3 ; saturação de bases 65,7% e
carbono orgânico = 15,6 g.kg-1 .
Os tratamentos foram constituídos
por cinco doses de um composto previamente preparado (0, 25, 50, 100 e 150
g.dm-3, em base seca) e três níveis (0, 1
e 2) de adubação mineral (AM), arranjados em esquema fatorial 5 x 3, com
quatro repetições. O delineamento experimental foi blocos completos
casualizados. Cada parcela foi constituída de um vaso com uma planta.
O composto utilizado foi preparado
com bagaço de cana enriquecido com
dejeto líquido de suínos atingindo relação C/N inicial aproximada de 35:1,
seguindo metodologia adaptada de
Kielh (1985). Na confecção da pilha do
composto, o bagaço de cana foi disposto em camadas de 20 a 30 cm e irrigado
com dejeto líquido de suínos. Na operação de revolvimento, a cada três ou
quatro semanas, adicionou-se mais
dejeto líquido de suínos, enriquecendo
e devolvendo a umidade adequada ao
composto. No momento de utilização,
aos 90 dias, o composto apresentava as
seguintes características pH (H2O) = 6,9;
N = 14,5 g.kg-1 P = 12,4 g.kg-1; K = 6,7
g.kg-1 ; Ca = 24,9 g.kg-1; Mg = 5,0 g.kg1; S = 3,1 g.kg-1; carbono orgânico = 250
g.kg-1; matéria seca = 354 g.kg-1 e relação carbono/nitrogênio = 17,2.
No nível 1 da adubação mineral, foram adicionados os seguintes elementos,
por dm3 de substrato: 150 mg de P, 50
mg de N, 75 mg de K, 20 mg de S, 58,5
mg de Ca, 14 mg de Mg, 0,5 mg de B,
0,5 mg de Cu, 1 mg de Zn e 0,1 mg de
Mo, utilizando-se os sais KH 2PO 4 ,
Ca(H2PO 4)H 2 O, (NH 4) 2SO 4 , NH4 N0 3 ,
MgSO 4 , H3 BO 3, CuSO 4 , ZnSO 4 e
(NH4) 6Mo7 O24. No nível 2 adicionou-se
o dobro das doses dos nutrientes aplicados no nível 1. Esses nutrientes foram
adicionados ao solo na forma de solução,
na quantidade de 500 ml por vaso. Nos
vasos correspondentes aos tratamentos da
dose 0 (zero) de adubo mineral, foram
aplicados 500 ml de água deionizada.
Foram feitas duas adubações de cobertura com uréia, em todos os vasos,
inclusive no tratamento zero, aplicando-se 50 e 80 mg.dm-3 de N no décimo
quinto e no vigésimo-quinto dia, respectivamente, após a semeadura.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Crescimento e estado nutricional de abóbora híbrida em função de adubação orgânica e mineral.
Na semeadura plantaram-se quatro
sementes por vaso, a 1,5 cm de profundidade, deixando-se após os desbastes,
apenas uma planta por vaso no décimo
dia após a semeadura. As irrigações foram feitas, inicialmente a cada dois ou
três dias aplicando-se dois ou três litros
de água por vaso. Com o crescimento
das plantas a freqüência e as quantidades de água aplicadas foram aumentadas de modo a atender a demanda e
manter o substrato com umidade próxima da capacidade de campo.
No décimo quinto dia, antes da primeira adubação em cobertura, e no trigésimo-sexto dia após a semeadura, foram tomadas amostras de solo dos vasos, a dez centímetros da haste das plantas, para determinar a condutividade elétrica na umidade de saturação em extrato aquoso de 100 g de solo seco
(Richards, 1954). No trigésimo-sexto
dia foi feita a medida da maior largura
de cada folha, para estimar a área foliar
por meio de um modelo matemático previamente desenvolvido (Silva, 1997). O
limbo foliar da quinta, sexta e sétima
folha aberta contadas a partir do ápice
foram colhidos, pesados e utilizados
para a determinação do teor de nutrientes. A parte aérea das plantas foi colhida para obtenção do peso da matéria
fresca e, em seguida, juntamente com
as amostras dos limbos foliares, foram
submetidas a secagem, em estufa a 600C,
até peso constante, determinando-se
então o peso da matéria seca. As amostras para as determinações dos teores de
nutrientes foram moídas em moinho do
tipo Wiley, com peneira de 20 mesh, e
acondicionadas em frascos, para posterior análise. Para as análises químicas
realizadas conforme metodologia empregada por Malavolta et al. (1997), as
amostras foram digeridas com H2SO 4 e
H2O 2 para determinação dos teores de
N pelo reagente de Nessler, e com ácido nitro-perclórico, para as determinações de P por colorimetria, K por
fotometria de chama, S por turbidimetria
e Ca e Mg por espectrofotometria de
chama de absorção atômica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta as equações de
regressão com os respectivos coeficienHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Tabela 1. Equações de regressão, aos 15 dias após a semeadura, da condutividade elétrica
dos substratos, e aos 36 dias após a semeadura, da condutividade elétrica dos substratos, da
área foliar e do peso da matéria seca da parte aérea, em função do composto orgânico e da
adubação mineral (AM) em três níveis (0, 1 e 2). Viçosa (MG), UFV, 1997.
*,** Significativos a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente pelo teste t.
tes de determinação (R2) da
condutividade elétrica dos substratos aos
15 dias e aos 36 dias após a semeadura,
da área foliar e do peso da matéria seca
da parte aérea.
Observou-se efeito significativo da
interação AM x Composto na área foliar.
O desdobramento da interação mostrou
que no nível zero da AM, o efeito da
dose de composto orgânico sobre a área
foliar seguiu o modelo quadrático base
raiz quadrada, e, nas doses 1 e 2, modelos lineares positivos (Tabela 1). Na
ausência de AM as doses iniciais (25 e
50 g.dm-3 ) de composto, além de contribuir com as propriedades físicas do
solo, parecem ter suprido boa parte dos
nutrientes propiciando um aumento significativo da área foliar que foi crescente
até a dose de 121 g.dm-3, quando atingiu o máximo de 7.714 cm2 .planta-1 (Tabela 2). Doses maiores que 121 g.dm- 3
de composto orgânico reduziram a área
foliar, provavelmente devido a imobilização de N, que nesse caso não foi suprido pela AM. A imobilização do N
pode ser atribuída à composição fibrosa do bagaço de cana-de-açúcar no composto, concordando com o encontrado
por Pacheco (1996).
Na característica peso da matéria seca da parte aérea constatou-se a
existência de interação entre AM e composto. Nos níveis 0 e 1 da adubação
mineral, a resposta do peso da matéria
seca às doses de composto seguiu o
modelo quadrático, e, no nível 2, a resposta foi linear positiva (Tabela 1). Esse
efeito quadrático, observado nos níveis
0 e 1 da AM, pode ser explicado pela
contribuição significativa do composto,
principalmente nas doses menores, na
absorção de P, K e S pelas plantas e, nas
maiores, pela imobilização do N que
reduziu os teores na planta. Nota-se que
o composto orgânico sozinho é capaz de
explicar a maior parte do crescimento das
plantas em matéria seca. O efeito positivo da matéria orgânica no crescimento
de plantas tem sido relacionado com o
aumento da absorção de nutrientes minerais, sendo relatados na literatura efeitos no crescimento, tanto de raízes como
da parte aérea (Rauthan & Schnitzer,
1981; Chen & Aviad, 1990; Varanine et
al., 1993; Vidigal et al., 1997).
Considerando que em geral a máxima eficiência econômica situa-se um
pouco abaixo do ponto de máximo, estimaram-se por meio das equações de
195
N.F. Silva et al.
Tabela 2. Valores estimados, aos quinze dias após a semeadura da condutividade elétrica e aos 36 dias após a semeadura, da condutividade
elétrica, área foliar, peso da parte aérea seca e correspondentes doses do composto orgânico, nos pontos de máximo, 95% e 90% do máximo
daquelas características, em três níveis de adubação mineral. Viçosa (MG), UFV, 1997.
Nível de
Adubação
Mineral
0
1
2
Valores estimados
Máximo
4,4
4,2
4,0
5,8
5,5
5,2
Condutividade elétrica aos 36 dias (dS.m-1 )
1,5
1,2
2
1,6
0
1
2
7.714
8.824
10.546
Máximo
95%
150
g.dm-3
144
90%
132
150
150
133
128
g.dm-3
119
102
1,3
1,1
150
150
142
123
130
123
1,5
1,4
Área foliar por planta (cm²)
150
140
g.dm-3
133
121
150
150
67
120
122
49
90
94
g.dm-3
73
63
62
118
44
85
1,4
1,1
7.328
8.383
10.019
6.943
7.941
9.491
Peso da parte aérea seca (g.planta-1)
64,9
61,6
58,4
60,4
71,6
regressão, além do ponto de máximo,
os valores das características a 95 e a
90% do máximo e as respectivas doses
do composto (Tabela 2). Para as funções
lineares crescentes considerou-se, como
ponto de máximo, a maior dose de composto utilizada (150 g.dm-3).
A análise estatística dos dados de
condutividade elétrica (CE) dos extratos dos substratos, medida aos quinze e
aos 36 dias após a semeadura, mostrou
efeitos significativos, apenas para os
fatores isolados composto orgânico e
adubo mineral. A CE aos 15 dias após a
semeadura cresceu linearmente em função das doses de composto orgânico nos
três níveis da adubação mineral (Tabela
1). Através das equações estimaram-se
os pontos de máximo da CE nos níveis
0, 1 e 2 da AM que foram, respectivamente, 2,7, 4,4 e 5,8 dS.m-1 correspondentes à dose de 150 g/dm3 de composto (Tabela 2).
Aos 36 dias após a semeadura a resposta de CE às doses de composto orgânico foi quadrática base raiz quadrada no nível 0, linear no nível 1 e
quadrática no nível 2 da AM (Tabela 1).
Nessa época os valores máximos esti196
90%
Condutividade elétrica aos quinze dias (dS.m-1)
2,7
2,6
2,4
0
1
0
1
2
95%
Doses do composto
57,4
68,0
54,3
64,5
98
106
150
mados de CE (Tabela 2) foram menores
que 3 dS.m-1 , que indica baixa
salinidade. Nas doses 0, 25 e 50 g.dm- 3
de composto do nível zero da AM o crescimento quadrático positivo em matéria seca da parte aérea, provavelmente
exigiu absorção de mais nutrientes e reduziu os teores de sais do substrato
correspondendo
um
decréscimo
quadrático da CE.
Os valores de CE aos 36 dias da semeadura, menores que aos dos 15 dias,
podem ser explicados pela absorção em
função do crescimento das plantas, e
possivelmente de lixiviação, atingindo
no final do experimento, aos 36 dias
após a semeadura, valores menores que
3 dS.m-1 (Tabela 2).
Nota-se que aos 15 dias após a semeadura, os níveis 1 e 2 do adubo mineral associados às doses maiores de
composto elevaram a CE a valores acima de 4 dS.m-1 , (Tabela 2). Estes valores indicam níveis de salinidade que
podem ser prejudiciais para a nutrição e
o crescimento das plantas, podendo, de
acordo com os sais envolvidos, alterar
os teores de K, Ca e Mg nas plantas e,
ou, o crescimento em resposta ao
estresse salino (Marschner, 1995).
Rodrigues (1990), trabalhando com
composto de palha de milho e esterco
de bovinos, também, observou CEs bem
acima de 4 dS.m-1 nas doses maiores de
adubação orgânica e mineral.
A análise dos dados de teor de N na
matéria seca do limbo foliar mostrou efeito significativo dos fatores composto orgânico e AM com ausência de interação.
Na dose 0 da AM, o teor de N seguiu o
modelo quadrático base raiz quadrada,
decrescendo de 39,75 g.kg-1 de N até atingir o ponto de mínimo, 30,36 g.kg-1 de
N, com a dose de 76 g.dm-3 de composto
(Figura 1). Na dose 1 da AM, o teor de N
decresceu linearmente e, na dose 2, as
doses de composto não influíram nos teores de N. Nesta situação, o N foi suprido pela adubação mineral com formas
prontamente disponíveis. Contudo, mesmo os teores menores de N encontrados
na matéria seca do limbo foliar, nas doses 0 e 1 da AM, ficaram dentro ou um
pouco acima da faixa considerada adequada para as abóboras (30 a 35 g.kg- 1
de N), segundo Piggott (1986).
Os valores decrescentes do teor de
N na folha obtidos em função das doses
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Crescimento e estado nutricional de abóbora híbrida em função de adubação orgânica e mineral.
de composto parecem ser devido ao fato
do bagaço de cana ser de difícil decomposição, o que torna lenta a
mineralização do N, dificultando sua
disponibilidade para as plantas. Matos
et al. (1995), estudando a dinâmica de
decomposição de compostos orgânicos
preparados com resíduos de suínos, encontraram para o composto de bagaço
de cana a menor taxa de decomposição
do carbono (Kc ) em relação aos outros
materiais estudados. Esses resultados
concordam com os obtidos por Pacheco
(1996), enquanto que Rodrigues (1990),
trabalhando com materiais de decomposição mais fácil, encontrou teores crescentes de N em alface em função de
doses de composto orgânico.
A análise de variância dos dados de
teor de fósforo na matéria seca do limbo
foliar mostrou efeito significativo da
interação entre os fatores AM e composto orgânico. O desdobramento da
interação, apresentado na Figura 2, mostrou que o teor de fósforo na matéria
seca do limbo foliar, em função das doses de composto apresentou resposta
quadrática positiva na dose zero de AM,
indicando que o composto sozinho pode
explicar o aumento do teor de P na folha; na dose 1, a resposta foi linear crescente, mostrando que nesse nível de AM
o composto ainda contribuiu com o aumento do teor de P na folha; na dose 2,
as doses de composto não influenciaram
os teores de P da folha. Nas doses 0 da
AM e de composto (ausência de adubação de plantio), o teor de P estimado foi
baixo, 1,80 g.kg-1, indicando que o teor
de 13,8 mg.dm-3 de P disponível encontrado nesse solo antes dos tratamentos
de adubação, considerado alto pela Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais (1989), não foi suficiente para atender às necessidades
nutricionais da planta; porém, com doses de composto acima de 22 g.dm-3, os
teores estimados ficaram na faixa de 3
a 5 g.kg-1 , considerada por Jones Jr. et
al. (1991) como adequada para as abóboras. Clough et al. (1992), estudando
doses de N e K e método de irrigação
em dois locais diferentes, encontraram
em folhas de C. pepo teores de P variando de 5,4 a 6,5 g.kg-1 de matéria seca.
O teor de cálcio na matéria seca do
limbo foliar não foi influenciado pelas
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
*, ** Significativo a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste t.
Figura 1. Teores de N na matéria seca do limbo da 6a folha a partir do ápice da planta de
abóbora, em função do composto orgânico e da adubação mineral (AM) em três níveis (0, 1
e 2). Viçosa (MG), UFV, 1997.
*, ** Significativo a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste t.
Figura 2. Teores de P na matéria seca do limbo da 6a folha a partir do ápice da planta de
abóbora, em função do composto orgânico e da adubação mineral (AM) em três níveis (0, 1
e 2). Viçosa (MG), UFV, 1997.
doses da AM, mas apresentaram resposta quadrática base raiz quadrada negativa em função das doses de composto,
decrescendo de 20,4 g.kg-1 até o ponto
de mínimo de 12,4 g.kg-1 na dose de 118
g.dm-3 do composto (Figura 3).
Rodrigues (1990) encontrou redução do
teor de Ca em alface pela adição de doses crescentes de composto, que foi
justificada pelo desequilíbrio de sódio
e potássio em relação ao cálcio; contudo, no presente trabalho o composto utilizado apresentou teor de Ca de 24,9
g.kg-1, ou seja, 3,7 vezes maior que o de
K. É possível que esse Ca no composto
estivesse em formas não prontamente
disponíveis, além disso o maior crescimento da parte aérea em função do composto tenha provocado um efeito de diluição nos teores de Ca encontrados na
197
N.F. Silva et al.
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t.
Figura 3. Teores de cálcio (
), de potássio (
) na matéria seca do limbo da 6a
folha a partir do ápice da planta de abóbora, em função de doses de composto orgânico.
Viçosa-MG, UFV, 1997.
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t.
Figura 4. Teores de magnésio na matéria seca do limbo da 6a folha a partir do ápice da
planta de abóbora, em função de doses de composto orgânico. Viçosa (MG), UFV, 1997.
folha que ficaram dentro da faixa de 12
a 25 g.kg-1 considerada por Jones Jr. et
al. (1991) adequada para as abóboras.
A análise de variância do teor de
potássio na matéria seca do limbo foliar
mostrou efeito significativo apenas para
as doses de composto. Na Figura 3 podese ver que os teores de K encontrados
no limbo foliar cresceram linearmente
198
em função das doses do composto orgânico sendo menores que a faixa de 24
a 26 g.kg-1 considerada adequada para
C. pepo (Piggott, 1986). Estes resultados mostram que a dose de K (150
mg.dm-3 ) no nível 1 e 2 da AM, nesse
solo, foi insuficiente para suprir as plantas. O composto utilizado apresentava
6,7 g.kg-1 de K total, teor que não é alto,
quando comparado com outros materiais
orgânicos. Além disso é possível que
parte desse K total estivesse disponível
para as plantas. Sediyama et al. (1995)
estudando diferentes composto encontraram os mais baixos teores de K total
nos compostos preparados com bagaço
de cana e dejeto líquido de suínos sendo K disponível apenas cerca de 40%
do K total. É possível que a abóbora híbrida seja uma planta que exige teores
mais altos desse nutriente. Buwalda
(1986) encontrou resposta de produção
por adubação potássica nesse tipo de
planta em solos com K disponível de até
220 mg.kg-1 .
A análise de variância dos dados de
teor de Mg na matéria seca do limbo
foliar mostrou efeitos das doses de composto e de AM e ausência de interação.
Nas três doses da AM o teor de Mg foi
melhor representado pelos modelos
quadrático base raiz quadrada (Figura
4). Na dose 0 da AM, decresceu de 5,6
g.kg-1 com a dose 0 do composto até
atingir o ponto de mínimo em 3,3 g.kg1 de Mg na dose de 71 g.dm-3 do composto; na dose 1 da AM, decresceu de
4,3 g.kg-1 com a dose 0 até o mínimo de
3,1 g.kg-1 com a dose de 104 g.dm-3 de
composto; e, na dose 2 da AM, decresceu de 4,6 g.kg-1 com a dose 0 até o mínimo de 3,3 g.kg-1 com a dose de 73
g.dm-3 de composto. Estes teores estão
dentro da faixa considerada adequada
para as abóboras, que é de 3 a 10 g.kg- 1
de Mg (Jones Jr. et al., 1991). As respostas decrescentes nos teores de Ca e
de Mg da folha podem estar relacionadas em parte com o efeito salino encontrado no composto até os 15 dias após a
semeadura e em parte com o efeito de
diluição pelo maior crescimento da parte
aérea. Gianello & Ernani (1983) afirmaram que, apesar dos aumentos do teor
de magnésio no solo, as concentrações
em plantas de milho foram decrescentes em função dos aumentos das doses
de adubo orgânico, por causa da competição exercida pelo potássio, mas isso
não explica os dados obtidos no presente trabalho.
Pela análise de variância constatouse interação significativa dos fatores
doses do composto orgânico e adubo
mineral no teor de S encontrado na matéria seca do limbo foliar (Figura 5). No
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Crescimento e estado nutricional de abóbora híbrida em função de adubação orgânica e mineral.
nível 0 da AM, o teor de S da folha foi
melhor representado pelo modelo raiz
quadrático, crescendo de 1,6 g.kg-1 com
a dose 0 de composto até o ponto de
máximo, 2,8 g.kg-1 , com a dose de 75
g.dm-3 de composto; nos níveis 1 e 2 da
AM, as doses do composto não influíram no teor de S da folha, que foram de
2,8 e 3,3 g.kg-1 , respectivamente. Observa-se que doses de composto acima
de 50 g.dm-3 apresentaram a mesma contribuição nos teores de S na planta quando comparados ao nível 1 da AM. Nos
solos agrícolas o S está presente na forma de matéria orgânica, na forma de
sulfato na solução ou adsorvido no complexo sortivo do solo, mas a matéria orgânica é a principal fonte de S, que é
liberado durante a sua decomposição;
adições ao solo de resíduos orgânicos
pobres em S (<1,5 g.kg-1 ) conduzem à
imobilização do S (Tisdale et al., 1985).
De acordo com os dados obtidos no
presente trabalho, aos 36 dias da semeadura, o composto orgânico e o adubo
mineral propiciaram aumentos da área
foliar, da matéria seca da parte aérea e
dos teores de P, K e S. Os teores de Ca e
Mg na matéria seca do limbo foliar não
foram influenciados pelas doses de adubação mineral, mas foram decrescentes
com o aumento das doses de composto.
Nas doses 0 e 1 da adubação mineral o
composto orgânico reduziu os teores de
N do limbo foliar. A produção máxima
de matéria seca na parte aérea no nível
0 da adubação mineral, foi de 62,9
g.planta-1 , obtida com 95 g.dm-3 (base
seca) do composto e, no nível 2, foi de
71,6 g.planta-1, obtida com 150 g.dm- 3
do composto.
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Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t.
Figura 5. Teores de enxofre na matéria seca do limbo da 6a folha a partir do ápice da planta
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Rendimento de híbridos de melão amarelo em diferentes densidades de
plantio.
Leilson Costa Grangeiro; Josué Fernandes Pedrosa; Francisco Bezerra Neto; Maria Z. de Negreiros
ESAM - Depto. de Fitotecnia, C. Postal 137, 59.625-900 Mossoró - RN.
RESUMO
ABSTRACT
Este trabalho teve como objetivo avaliar o rendimento de híbridos de melão amarelo em diferentes densidades de plantio. Para tanto,
conduziu-se um experimento na Fazenda Santa Júlia Agro Comercial
Exportadora de Frutas Tropicais Ltda., no município de Mossoró RN. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados em
esquema fatorial 3 x 4, com quatro repetições, sendo o primeiro fator,
os híbridos (Gold Mine, AF 646 e XPH 13096) e o segundo as densidades de plantio (10.000, 20.000, 30.000 e 40.000 plantas/ha). As
características avaliadas foram, número de frutos por planta e total,
peso médio dos frutos, produtividade e classificação dos frutos. O
número de frutos por planta e o peso médio dos frutos diminuíram
com o aumento da densidade de plantio, sendo que os híbridos XPH
13096 e AF 646 apresentaram os maiores decréscimos 70,16% e
27,60% respectivamente. A densidade de 30.000 plantas/ha, proporcionou a maior produtividade (61,75 t/ha ). A percentagem de frutos
tipo 5, 6 e 7, diminuíram com o aumento da densidade de plantio,
enquanto os outros tipos aumentaram, sendo o híbrido AF 646 o que
apresentou maior percentagem de decréscimo. O híbrido AF 646 foi
superior aos demais, para o número total de frutos e produtividade.
Yield of yellow melon hybrids in different plant densities.
The purpose of this work was to evaluate the yield of fruits in
hybrids of yellow melon. The experiment was carried out at the Fazenda Santa Júlia Agro Comercial Exportadora de Frutas Tropicais
Ltda. The experimental design was a complete randomised block,
with four replicates, in a 3 x 4 factorial scheme, with the following
factors: hybrids (Gold Mine, AF 646 and XPH 13096) and plant
density (10,000; 20,000; 30,000 and 40,000 plants/ha). Fruit
classification, total number of fruits and total per plant, mean fruit
weight and yield were evaluated. Total number of fruits and total
per plant, mean fruit weight and yield were reduced with increasing
plant density. The hybrids XPH 13096 and AF 646 showed the
greatest reductions in the number of fruits per plant and in the mean
fruit weight, 70.16 and 27.60%, respectively. The density of 30,000
plants/ha provided the greatest productivity (61.75 t/ha). The increase
in the plant density produced less fruits of categories 5, 6, and 7,
particularly for hybrid AF 646, while number of fruits for other
categories increased. The hybrid AF 646 showed the highest total
number of fruits and yield.
Palavras-chave: Cucumis melo, população de plantas, produtividade, peso médio de frutos.
Keywords: Cucumis melo, plant population, yield, mean fruit
weight.
(Aceito para publicação em 10 de agosto de 1999)
O
Brasil é, atualmente, o terceiro
produtor de melão da América do
Sul, depois da Argentina e do Chile, com
17% da produção total. A região Nordeste responde por mais de 91% da pro-
200
dução total do país (ANUÁRIO... 1987/
1994). O Estado do Rio Grande do Norte, é o maior produtor brasileiro, destacando-se, em 1996, com 56,12% da área
plantada e 63,36% da produção.
Aproximadamente 98% do melão
produzido no Brasil pertence ao grupo
“Amarelo” (inodorus) do qual fazem
parte diversas cultivares e híbridos. Os
outros 2% pertencem aos melões das
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Rendimento de híbridos de melão amarelo em diferentes densidades de plantio.
variedades cantalupensis e reticulatus, que
apesar de possuírem alto valor comercial,
principalmente no mercado externo, têm
cultivo ainda muito restrito devido à limitada resistência dos frutos ao transporte e
à má conservação pós-colheita.
No polo agrícola Mossoró - Açu
(RN), essa espécie olerícola é cultivada
com alto nível tecnológico e sua exploração é feita, atualmente, tanto por grandes empresas quanto também por pequenos agricultores, predominando o cultivo de melões tipo Amarelo. Entretanto,
com a abertura de novos mercados, principalmente as grandes empresas, têm
procurado diversificar e ampliar sua produção, através da introdução de novas
cultivares e híbridos. Essas introduções
têm sido feitas, na maioria das vezes de
forma precipitada, e tem proporcionado em alguns casos, prejuízos para os
produtores. Nem sempre uma nova cultivar está adaptada às condições de cultivo da região, refletindo em menor produtividade, frutos de qualidade inferior,
e algumas vezes de menor aceitação pelo
consumidor.
Nesse contexto, o estudo de fatores
de produção, tais como, adubação, irrigação, densidade de plantio e outras práticas culturais, torna-se necessário para
esses novos materiais. No caso especifico da densidade de plantio, tem sido
verificado em diversos trabalhos que os
resultados variam de acordo com as cultivares e híbridos e também com as regiões produtoras.
Paris et al. (1988), utilizando populações de 5.000 a 40.000 plantas/ha com
melão Galia, obtiveram decréscimo no
tamanho e no número de frutos por planta com o aumento da densidade. Os
mesmos resultados foram obtidos por
Mendlinger (1994), trabalhando também com melão Galia, nas densidades
de 20, 40 e 80 mil plantas por hectare,
porém ocorrendo aumento no número
total de frutos. Resultados similares foram encontrados por Knavel (1988),
Farias et al. (1988) e Scharles &
Timothy (1988).
A modificação na densidade de plantio, por meio do aumento do número de
plantas por cova, também proporcionou
ganhos de produtividade em melão, segundo Costa et al. (1996), trabalhando
com o espaçamento 1,8 x 0,20m, cv.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Valenciano Amarelo, observaram aumento na produtividade quando utilizaram duas plantas/cova, enquanto que no
tratamento com uma planta/cova houve
aumento no peso médio dos frutos.
Pedrosa et al. (1991), utilizando também
uma e duas plantas por cova, mas no
espaçamento 2,0 x 0,6m, não encontraram efeito significativo dos tratamentos sobre a produção total e comerciável,
entretanto o cultivo com uma planta por
cova apresentou frutos de maior diâmetro longitudinal, aumentou em 87% o
número e em 20% o peso médio de frutos comerciáveis.
Segundo Pedrosa (1997), a densidade de plantio em melão, varia em função do nível tecnológico empregado e
da finalidade do produto (fruto para o
mercado interno ou externo), sendo que
no Rio Grande do Norte, o espaçamento
adotado pelos produtores, segundo
Almeida (1992), é de 2,0 a 2,5m entre
fileiras e 0,3 a 1,0m entre plantas, deixando 1 ou 2 plantas por cova (4.000 a
30.000 plantas/ha). Atualmente o
espaçamento mais utilizado, principalmente pelas grandes empresas, tem sido
2,0 x 0,5m com duas ou três plantas por
cova (20.000 a 30.000 plantas/ha).
Com relação às regiões produtoras,
o melão pode responder diferentemente ao aumento das densidades de plantio, dependendo das condições
edafoclimáticas em que está sendo cultivado. Paris et al. (1988), conduziram
experimentos em Israel e na Flórida
(EUA), e obtiveram com o aumento da
densidade de plantio uma queda no peso
médio de frutos em ambos os locais,
porém o número e a produção não foram afetados pela densidade na Flórida,
mas teve um aumento significativo em
Israel. Os autores citam ainda, que ocorreu uma elevação na concentração do
número de frutos e no total da produção
durante o período de colheita com o incremento da densidade, em Israel.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o rendimento de híbridos
de melão amarelo, cultivados em quatro densidades de plantio.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Fazenda Santa Júlia Agro Comercial
Exportadora de Frutas Tropicais Ltda.,
em Mossoró, em solo Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico, textura arenosa. As análises químicas, feitas em
amostras retiradas da área experimental, revelaram os seguintes resultados:
pH (água 1:2,5) = 5,2; Ca = 1,0 cmol/
kg; Mg = 0,2 cmol/kg; K = 0,28 cmol/
kg; Al = 0,10 cmol/kg e P = 28 mg/kg.
O preparo do solo constou de uma
aração e duas gradagens, seguidas do
sulcamento em linhas, espaçadas de dois
metros com profundidade de aproximadamente 0,2 m, onde foi realizada a adubação de base, com 10 t/ha de esterco
bovino curtido, 500 kg/ha da fórmula 624-12, 150 kg/ha de superfosfato simples e 100 kg/ha de calcário dolomítico.
O plantio foi realizado no dia 1 de
outubro de 1996, sendo que após a germinação o estande foi completado com
mudas produzidas em bandejas.
As adubações de cobertura foram
realizadas via água de irrigação, com
aplicação diária de 2,91 kg de N/ha e
4,9 kg de K2O/ha, na concentração de
228 g/L, da germinação até os 45 e 60
dias após esta, respectivamente. As fontes de nitrogênio utilizadas foram uréia
e nitrato de amônio e a de potássio foi o
cloreto de potássio. Seguida a cada adubação, injetou-se no sistema de irrigação 1,5 L/ha de ácido fosfórico, com o
objetivo de limpar a tubulação e evitar
a obstrução dos gotejadores. Essa injeção permitiu um fornecimento total de
72 kg/ha de P2O 5. As adubações foram
complementadas com aplicações
foliares semanais, da germinação até os
60 dias após esta, de 3 L/ha da formulação comercial líquida, contendo 8% de
cálcio e 2% de boro e, 2,5 L/ha da formulação comercial líquida, contendo
14% de N; 4% de P2O5 ; 6% de K2O;
0,8% de S; 1,5% de Mg; 2% de Zn; 1,5%
de Mn; 0,1% de B e 0,05% de Mo.
O controle fitossanitário foi realizado preventivamente e os demais tratos
culturais de acordo com as necessidades da cultura.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados completos, em esquema fatorial 3 x 4, com
quatro repetições, sendo que o primeiro
fator refere-se aos híbridos (Gold Mine,
AF 646 e XPH 13096) e o segundo, às
densidades de plantio (1, 2, 3 e 4 plan201
L.C. Grangeiro et al.
O critério para colheita adotado foi a
coloração do fruto, ou seja, quando os
mesmos apresentavam-se totalmente
amarelos.
As características avaliadas foram:
peso médio dos frutos (kg), número de
frutos por planta, número total de frutos
por hectare, classificação dos frutos, realizada de acordo com o tipo (5 a 12 frutos por caixa), padronizados pela empresa para mercado interno, em caixa de
papelão (52 x 32 x 17,5 cm ) com capacidade para 13kg e produtividade (t/ha).
As análises de variância foram realizadas através do software SPSSPC
(Norusis, 1990). Para o fator quantitativo foi feito análise de regressão através
do software Table Curve (Jandel
Scientific, 1991), enquanto que para o
fator qualitativo foi utilizado o teste
Tukey ao nível de 5% de probabilidade
(Gomes, 1987).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as características avaliadas,
apenas verificou-se efeito significativo
da interação densidade de plantio e híbridos, para número de frutos por planta e peso médio de frutos.
Peso médio dos frutos
Densidade de plantio (plantas/ha)
Figura 1. Peso médio dos frutos em função das diferentes densidades de plantio para os
híbridos de melão Gold Mine, AF 646 e XPH 13096. Mossoró (RN), ESAM, 1996.
tas/gotejador, correspondendo às populações de 10.000, 20.000, 30.000 e
40.000 plantas/ha). Cada parcela era
composta por uma fileira de cinco
metros de comprimento, contendo dez
gotejadores, com distanciamento de 2,0
m x 0,5 m, sendo que os das extremida202
des eram considerados como bordadura,
ficando com uma área útil de 8 m2. Entre os blocos foi deixada uma fileira de
plantas como bordadura.
As colheitas foram realizadas aos 62,
69 e 76 dias após a semeadura, sendo a
primeira no dia 2 de dezembro de 1996.
Observa-se que à medida que aumentou a densidade de plantio houve redução no peso médio dos frutos, em todos
os híbridos (Figura 1). Entretanto o maior
decréscimo foi registrado para o híbrido Gold Mine (27,60%) e o menor para
o AF 646 (12,0%). Para essa mesma
variação de densidade, Mendlinger
(1994) obteve redução de 18,85% no
peso médio dos frutos de melão Galia.
Pedrosa et al. (1991), detectaram redução de 20%, quando utilizaram duas plantas por cova na cultivar Valenciano Amarelo. Reduções também foram observadas por Brinen et al. (1979), Paris et al.
(1988) e Powell et al. (1993).
Nessa redução, apesar de ter sido
expressiva, mesmo na densidade de
40.000 plantas/ha, os híbridos apresentaram peso médio dos frutos, variando
de 1,3 a 1,6 kg, sendo comercialmente
desejável para o consumidor.
Robinson & Decker-Walteres
(1997), relatam que a redução no peso
médio dos frutos em altas densidades de
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Rendimento de híbridos de melão amarelo em diferentes densidades de plantio.
plantio é esperada, pois os recursos do
solo (água e nutrientes) são insuficientes, devida à competição entre as plantas. Em estádios mais avançados de desenvolvimento, a sobreposição das folhas, induz à reduzida taxa fotossintética
líquida, prejudicando todo o processo de
assimilação e distribuição dos
fotoassimilados.
Número de frutos por planta
O número de frutos por planta decresceu com o aumento da densidade de
plantio em todos os híbridos estudados,
sendo registrado o maior decréscimo
para o híbrido XPH 13096 (em torno de
70,16%) e o menor para o ‘Gold Mine’
(em torno de 55,32%) (Figura 2). Esses
resultados concordam com os encontrados por Paris et al. (1988) e Mendlinger
(1994) para melão, Patil & Bhosale
(1979), Brinen et al. (1979), Gramberry
et al. (1986), Nesmith (1993) para melancia, e por Cantliffe & Phatak (1975)
e O’Sullivan (1980) para pepino.
Observa-se que o ‘Gold Mine’ foi o
que apresentou menor decréscimo no
número de frutos por planta com o aumento da densidade, indicando ser menos susceptível às pressões de competições entre as plantas, com relação à diminuição do rendimento individual por
planta.
Geralmente espera-se a obtenção de
menor número de frutos por planta, com
o aumento da densidade de plantio, em
conseqüência do menor espaço disponível às plantas, que favorece maior
competição por elementos do solo e luz,
diminuindo com isso, a atividade
fotossintética, produção de ramos, folhas, flores, frutos e o trabalho das abelhas no processo de polinização.
Número total de frutos
Para o número total de frutos, verificou-se efeito significativo para a densidade de plantio e híbridos. Inversamente ao número de frutos por planta,
foi observado com o aumento da densidade de plantio maior número de frutos
por hectare. Esse acréscimo foi de aproximadamente 28,57%, equivalente a um
incremento de 11.746 frutos/ha (Figura
3). Sendo, segundo Nesmith (1993), o
componente que mais contribui para o
aumento da produtividade.
Esses resultados estão aquém dos
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Densidade de plantio (plantas/ha)
Figura 2. Número de frutos por planta em função das diferentes densidades de plantio para
os híbridos de melão Gold Mine, AF 646 e XPH 13096. Mossoró (RN), ESAM, 1996.
encontrados por Paris et al. (1988) que
obtiveram aumentos de 158% e 80%
respectivamente no número total de frutos, em melão Galia e híbrido D-72,
quando variou a população de 5.000
para 40.000 plantas/ha. Para Mendlinger
(1994), a percentagem foi de 24,43% na
população de 10.000 a 40.000 planta/
ha. Com relação aos híbridos, o AF 646
foi o que apresentou maior número to203
L.C. Grangeiro et al.
Densidade de plantio (plantas/ha)
Figura 3. Número total de frutos por hectare em função das diferentes densidades de plantio
de melão. Mossoró (RN), ESAM, 1996.
Densidade de plantio (plantas/ha)
Figura 4. Produtividade de frutos de melão em função das diferentes densidades de plantio
de melão. Mossoró - RN, ESAM, 1996.
tal de frutos, seguidos pelo ‘XPH 13096’
e ‘Gold Mine’ (Tabela 1).
Produtividade
Para a produtividade, observou-se
que híbridos e densidade de plantio apresentaram efeito significativo. A medida
que se aumentou a densidade de plantio, houve aumento na produtividade, até
a população de 32.584 plantas/ha (Figura 4). Esses resultados corroboram
com os obtidos por Paris et al. (1988) e
204
Mendlinger (1994) em melão Galia.
Nesses trabalhos a densidade de 20.000
plantas/ha foi a que proporcionou maior
produtividade, sendo que a partir desta,
houve reduções significativas no rendimento da cultura.
Os resultados obtidos, à semelhança dos citados por Blesdale (1969),
Holliday (1969) e Willey & Heath
(1969), refletem o efeito da densidade
de plantio no rendimento. Segundo es-
ses autores, o rendimento é crescente até
uma determinada população; a partir
desta há um decréscimo na produtividade à medida que se aumenta a população. Isto ocorre em função da competição excessiva que se estabelece entre
as plantas, principalmente com relação
à radiação solar devido ao aumento do
índice de área foliar. Este índice
incrementa com o desenvolvimento da
planta e com o número de planta na área,
e varia em função da cultivar e híbrido,
época do ano e das condições climáticas.
O incremento observado pode ser
expressivo, quando se compara o aumento da população de 10.000 para
30.000 plantas/ha, em torno de 15%,
equivalente a um ganho de 9,04 t/ha.
A maior produtividade foi obtida
para o híbrido AF 646 (Tabela 1), sendo superior em 10,56% e 14,75% respectivamente ao ‘Gold Mine e ‘XPH
13096’. Este fato se deve principalmente, ao maior número total de frutos produzidos pelo o AF 646, mesmo com
peso médio menor.
Outro aspecto também analisado, foi
a concentração de frutos nas respectivas
colheitas (Tabela 2). Verificou-se que o
aumento da densidade de plantio não interferiu nesta característica, discordando
dos resultados observado por Paris et al.
(1988) em melão ‘Galia’ e híbrido D 72,
Cantliffe & Phatak (1975), Paris et al.
(1986) em pepino, que obtiveram concentrações maiores no número de frutos
nas primeiras colheitas quando aumentaram a densidade de plantio.
Embora não tenha havido diferença
significativa entre híbridos, em média,
63,61% dos frutos foram obtidos na primeira colheita, com uma superioridade do
‘AF 646’ (70,52%) sobre os demais (Tabela 2). Em alguns híbridos tem se observado que em cultura bem conduzida, a
colheita chega a se estender por cerca de
um mês (4 a 5 colheitas a intervalos de
uma semana). A concentração da produção em menor número de colheitas possíveis, é fator desejável, principalmente do
ponto de vista econômico, pois reduz custos com insumos, água, energia e mão de
obra para as colheitas adicionais.
Classificação dos frutos
Um dos principais fatores que influencia na boa comercialização é a classificação do produto, que por sua vez,
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Rendimento de híbridos de melão amarelo em diferentes densidades de plantio.
depende do controle de qualidade. É altamente benéfico ao produtor, pela disponibilidade de mercado mais amplo, e
ao consumidor, pela opção de compra e
garantia de qualidade.
Verifica-se que com o aumento da
densidade de plantio, houve de uma maneira geral, redução na percentagem de
frutos dos tipos 5, 6 e 7 para todos os
híbridos, e aumento de frutos menores
(tipos 8 a 12). Essa redução foi, respectivamente, para o ‘Gold Mine’, ‘XPH
13096’ e ‘AF 646’ de 36,0%, 44,59% e
58,68% (Tabela 3). Davis & Meinert
(1965) e Mendlinger (1994), obtiveram
também maior quantidade de frutos de
categorias menores, quando aumentaram
a densidade de plantio de melão.
Os frutos que não se enquadraram
nessa classificação, foram considerados
a granel, sendo os mesmos
comercializados em feiras livres e supermercados locais. Nas maiores densidades de plantio, a percentagem desse
Tabela 1. Número total de frutos (x1000) e produtividade (t/ha) para os híbridos Gold Mine,
AF 646 e XPH 13096. Mossoró (RN), ESAM, 1996.
Híbridos
Gold Mine
AF 646
Número total de frutos/ha (x 1000) Produtividade (t/ha)
31,10
C1
56,32 AB
42,00 A
62,98 A
XPH 13096
CV (%)
35,95
14,23
B
53,69
17,24
B
1
Médias na vertical seguidas da mesma letra não diferem entre si (p< 0,05) pelo teste de
Tukey.
Tabela 2. Percentagem de frutos nas diferentes colheitas para os híbridos Gold Mine, AF
646 e XPH 13096 Mossoró (RN), ESAM, 1996.
Híbridos
Gold Mine
AF 646
1ª Colheita (%) 2ª Colheita (%) 3ª Colheita (%)
58,67
31,93
9,40
70,52
22,43
7,05
XPH 13096
MÉDIA
61,64
63,61
29,65
28,00
8,71
8,39
tipo de fruto aumentou para todos os
híbridos, com destaque para o ‘XPH
13096’. O’Sullivan (1980) e Paris et al.
(1986), verificaram maior quantidade de
frutos refugos, quando aumentaram a
densidade de plantio em pepino e Brinen
et al. (1979) em melancia. Segundo os
autores, isso pode ser atribuído à grande competição entre plantas por luz e
nutrientes.
Em termos econômicos, estes resultados são de grande importância para o
agricultor, haja visto que, dependendo
do mercado e da variação de preços, a
modificação da densidade de plantio
pode ser utilizada, como uma ferramenta
para se conseguir maiores lucros, sem
maiores despesas.
LITERATURA CITADA
ALMEIDA, J.H.S. Sistema de produção de melão cv. Valenciano Amarelo para o estado do
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Tabela 3. Classificação percentual dos frutos de acordo com o tamanho, nas diferentes densidades de plantio para os híbridos Gold Mine,
AF 646 e XPH 13096. Mossoró (RN), ESAM, 1996.
Híbridos
Gold Mine
AF 646
XPH 13096
10.000
05
8,57
06
42,86
07
28,00
08
5,71
TIPOS*
09
10,00
20.000
30.000
40.000
0,90
1,64
27,96
15,84
18,85
36,56
32,67
30,33
15,05
23,75
13,93
10.000
20.000
13,20
6,38
31,14
25,05
30.000
40.000
10.000
8,00
3,50
20,00
13,40
13,52
6,50
Densidade
Pl/ha
20.000
30.000
40.000
2,10
2,68
0,95
10
11
12
2,86
Granel
2,00
10,72
14,85
9,02
3,22
3,95
4,10
0,90
4,10
1,07
1,00
6,56
5,39
5,94
11,47
30,04
23,41
2,80
4,74
8,40
11,07
1,90
4,00
7,48
13,11
5,04
12,14
30,40
14,82
34,75
20,00
15,27
20,00
9,60
19,08
7,37
8,20
14,50
3,16
5,22
3,82
2,10
5,60
9,92
1,05
12,98
15,20
9,47
28,57
17,15
25,00
17,86
20,95
12,46
9,82
6,68
7,43
1,78
9,52
8,60
3,57
5,71
13,04
5,36
9,52
6,96
16,96
16,00
20,00
* Número de frutos por caixa de papelão com capacidade de 13kg.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
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Aplicação de esterco bovino e uréia na couve e seus reflexos nos teores
de nitrato e na qualidade.
Valéria Cristina P. Zago1 ; Marcus R. Evangelista; Dejair L. de Almeida; José Guilherme M. Guerra;
Maria Cristina P. Neves; Norma G. Rumjanek.
Embrapa Agrobiologia, C. Postal 74505, 23.851-970 Seropédica-RJ. e-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O excesso de nitrato nos alimentos é indesejável devido à sua
conversão a nitrito, composto conhecido por participar de reações
formadoras de compostos cancerígenos e modificadores da
hemoglobina. A influência da aplicação de esterco bovino, uréia e a
associação destes nos teores de N-NO3 - presente nos tecidos foliares
de couve (Brassica oleracea var. acephala) foi avaliada, com o objetivo de verificar o efeito de fontes e doses diferentes de nitrogênio
no acúmulo deste composto. Para tanto, um experimento foi conduzido a campo, de março a agosto de 1995, na Embrapa Agrobiologia.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com
quatro repetições e seis tratamentos: adubação com esterco bovino
(20 t/ha), aplicação de N-uréia (900 kg/ha), associação de esterco
(20 t/ha) com doses crescentes de N-uréia (225; 450 e 900 kg/ha) e
testemunha. O espaçamento foi de 0,6 m entre plantas, 0,6 m entre
linhas e 0,8 m entre fileiras duplas, perfazendo um total de 24 parcelas com 9,6 m2 cada. Verificou-se que as plantas adubadas exclusivamente com esterco apresentaram nos limbos foliares, menores conteúdos de nitrato que aquelas que receberam uréia complementar
(17,6 mg/g M.F. e 303 a 579 mg/g M.F.), respectivamente. Enquanto os teores de N-NO3 - nos pecíolos de todos os tratamentos foram
pelo menos três vezes maiores que os observados nos limbos foliares
(1.830 e 561 mg/g M.F.), respectivamente. A OMS recomenda uma
dose diária aceitável (DDA) de 53,3 mg de N-NO3 -, para um adulto
de 65 kg, isto é, a quantidade máxima deste composto que pode ser
ingerida diariamente, através dos alimentos e da água. Considerando-se os dados obtidos no experimento, seria necessário o consumo
de 2,67 kg de couve (limbos foliares) quando produzida apenas com
esterco (20 t/ha) e 0,18 kg quando adubadas com esterco (20 t/ha) +
111 kg/ha de uréia (próximo a dosagem recomendada pelo Manual
de Adubação do Rio de Janeiro), para atingir a DDA. Devido aos
menores teores de nitrato encontrados na couve adubada exclusivamente com esterco, conclui-se que este adubo proporcionou um produto de melhor qualidade para consumo.
Cattle manure and urea use on kale and their influence on
the quality and nitrate content.
Palavras-chave: Brassica oleracea var. acephala, nitrogênio,
matéria orgânica, compostos cancerígenos .
Keywords: Brassica oleracea var. acephala, nitrogen, organic
matter, carcinogenic compound.
High levels of nitrate in food is undesirable, as it may be easily
converted to nitrite, which is a well known carcinogenic compound
that can also interfere with hemoglobin activity. The objective of this
study was to evaluate the influence of different forms of N-fertilizer
(cattle manure, urea and a mixture of both) on the N-NO 3 - concentration
observed on leaf tissues of kale (Brassica oleracea var. acephala). A
field experiment was conducted from March until August 1995, at the
Embrapa-Agrobiology Research Center. The experiment was laid out
in a randomized block design, with six treatments: cattle manure
addition (20 t/ha), urea addition (900 kg/ha), mixtures of cattle manure
(20 t/ha) with increasing urea levels (225, 450 and 900 kg/ha) and a
control. A total of four replicates was used. The distance between
plants in a row and between single rows was 0.6 m, and 0.8 m was the
distance between double rows. A total of 24 plots with 9.6 m2 each
was used. Plants growing solely on cattle manure showed lower nitrate
contents on leaf blades than those receiving additional urea (17.6 mg/
g F. M. and 303 mg/g F. M.), respectively. Petiole N-NO3 - contents for
all treatments were three times higher than the ones observed in leaf
blades (1830 and 561 mg/g F. M.), respectively. According to WHO,
the Daily Acceptable Intake (DAI) for an adult weighting 65 kg is
53.3 mg of N-NO3 -, which represents the maximum quantity this
compound that can be swallowed daily, through food and water. From
the results obtained, the DAI would be reached after consumption of
2.67 kg of kale (leaf blade) cultivated under cattle manure fertilization,
or just 0.18 kg of kale cultivated under cattle manure and urea (111
kg/ha) fertilization, which approximates to the urea dosage
recommended in the “Manual de Adubação de Rio de Janeiro”. As a
result of the lower nitrate contents found in kale growing solely on
cattle manure, it was concluded that the cattle manure fertilization
improved the quality of the product.
(Aceito para publicação em 20 de agosto de 1999)
A
atenção mundial das ciências agrícola e nutricional tem focalizado
atualmente, a controvérsia concernente
à qualidade versus quantidade dos alimentos produzidos, e que juntamente com os
problemas ambientais emergentes, que
1
decorrem da utilização dos recursos naturais de forma predatória, têm conduzido a
pesquisa agrícola à busca de alternativas
que possam substituir o uso de insumos
agrícolas-industriais, de elevados custos
energéticos, econômicos e sociais.
A utilização de fertilizantes é um dos
vários fatores que pode influenciar a composição química dos vegetais e,
consequentemente, sua qualidade biológica. Diversos estudos têm comprovado
que o uso excessivo de fertilizantes
Endereço atual: Embrapa-Agrobiologia, C.Postal 74505, 23851-970Seropédica-RJ.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
207
V.C.P. Zago et al.
nitrogenados aumenta o acúmulo de nitrato nos vegetais (Pereira et al., 1989;
Rodrigues, 1990; Almeida, 1991;
Ricci,1993). Tal problemática tem recebido especial atenção em alguns países,
visto que, o excesso de nitrato na dieta,
com sua posterior conversão a nitrito,
pode conduzir a formação de compostos cancerígenos e, indiretamente, inibir o transporte de oxigênio no sangue,
alteração metabólica conhecida como
metahemoglobinemia. Recém-nascidos
formam o principal grupo de risco devido a baixa acidez estomacal deste, levando a uma rápida conversão do nitrato a nitrito.
Uma estimativa da ingestão média
de nitrato revelou que para um consumidor normal, os vegetais representam
um quarto do total de nitrato ingerido
(Walker, 1975). Também para Reinink
& Blom-Zandstra (1989); Laitinen et al.,
(1993) e Meach et al., (1994), a principal fonte de nitrato na alimentação humana origina-se da ingestão de
olerícolas.
A exigência de alta disponibilidade
de nitrogênio pelas hortaliças é uma das
condições responsável pela utilização de
altas doses de fertilizantes nitrogenados
ao longo do ciclo de cultivo. O presente
trabalho teve como objetivo a avaliação
dos efeitos da aplicação de uréia, esterco e suas associações, nos teores de NNO3- nas folhas de couve.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
campo experimental da Embrapa
agrobiologia, Seropédica-RJ, num
Planossolo, com as seguintes características químicas: pH em água (1:2,5) =
4,7; Al trocável = 3 mmolc /dm3; Ca +
Mg trocável = 15 mmol c /dm3 ; 34 mg/
dm3 de P extraível; 22 mg/dm3 d e K
extraível; 3 g/kg de C; 5,2 g/kg de M.O.
(Embrapa, 1979); 0,4 g/kg de N
(Bremmer & Mulvaney, 1982).
O preparo inicial do solo constou de
aração e gradagem, com aplicação de
750 kg/ha de calcário dolomítico (PRNT
= 80%), com teores de 38% de CaO e
10% de MgO, um mês anterior ao plantio definitivo no campo. A área experimental era coberta, anteriormente, com
vegetação espontânea, predominante208
mente de Indigofora
hirsuta,
leguminosa herbácea, incorporada ao
solo durante a aração.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições e seis tratamentos: testemunha (sem esterco e sem uréia); adubação orgânica (20 t/ha de esterco bovino); adubação orgânica + uréia na dose
1 (20 t/ha de esterco + 225 kg/ha de Nuréia); adubação orgânica + uréia na
dose 2 (20 t/ha de esterco + 450 kg/ha
de N-uréia); adubação orgânica + uréia
na dose 3 (20 t/ha de esterco + 900 kg/
ha de N-uréia) e uréia na dose-3 (900
kg/ha de N-uréia).
As mudas foram formadas a partir
de sementes de couve, do grupo
Geórgia, em canteiro adubado com esterco bovino curtido e, transplantadas
para o local definitivo um mês após a
semeadura. O espaçamento foi de 0,6
m entre plantas, 0,6 m entre linhas e 0,8
m entre fileiras duplas, perfazendo um
total de 24 parcelas com 9,6 m2 cada.
A aplicação de uréia foi parcelada e
aplicada em cobertura, quinzenalmente, até o final do experimento, sendo a
aplicação inicial 15 dias após o
transplantio das mudas para o campo.
O esterco foi aplicado em uma única
dosagem e incorporado na cova de plantio, juntamente com 100 kg de K2O/ha,
na forma de KCl. A análise química do
esterco apresentou os seguintes teores
de nutrientes (g/kg de matéria seca):
N=9,29; P=2,67; K=8,25; Ca=3,84;
Mg=3,08; Cu=0,01; Zn=0,7; B=0,02;
Fe=1,77; Mo=<0,1; Mn=0,31; M.O.=
152,8; C=84,7 com umidade (65o
C)=39,11% e pH em água(1:2,5)=6,8.
A irrigação foi do tipo aspersão convencional, com turno de rega médio diário,
sendo o controle da lâmina feito através
do tempo de irrigação. A condução do
experimento se deu em período de baixa precipitação.
Realizaram-se três amostragens no
período inicial de produção de folhas de
couve, sendo estas: um, cinco e quinze
dias após a segunda adubação em cobertura com uréia (30 dias após o
transplantio), onde os tratamentos receberam, até aquele momento, as quantidades equivalentes a 50 kg/ha (dose 1),
100 kg/ha (dose 2) e 200 kg/ha (dose 3)
de uréia.
Foram amostradas duas folhas inferiores completamente desenvolvidas,
das quatro plantas centrais da parcela.
Estas foram separadas em “limbo foliar”
e “pecíolo + nervura central”. Após
homogeneização deles, retirou-se uma
amostra de cinco gramas do material
fresco (“limbo foliar” e “pecíolo +
nervura central”), para extração alcoólica (Magalhães et al., 1992), onde procedeu-se à separação da fração polar
(metanólica) para retenção dos compostos solúveis, fração apolar (cloroformio)
e resíduo do tecido foliar. A partir do
extrato metanólico obtido determinouse N-NO3- (Cataldo et al., 1975).
Os procedimentos estatísticos constaram de análises de variância pelo teste F. Nas fontes de variação, onde houve diferença significativa, aplicou-se o
teste de Tukey a 5%, para comparação
de médias.
A análise de variância, para as três
coletas, foi feita em esquema “splitplot”, sendo os seis tratamentos na parcela e as coletas na subparcela. Visando
isolar alguns efeitos, os cinco graus de
liberdade relativos ao efeito de tratamento foram desdobrados nos seguintes contrastes ortogonais: a testemunha contra
os outros tratamentos que receberam
alguma fonte de nitrogênio (1 grau de
liberdade); os tratamentos que receberam esterco contra aquele que recebeu
somente uréia (1 grau de liberdade);
análise de regressão (termos linear,
quadrático e cúbico) dos tratamentos
que receberam esterco + doses crescentes de uréia (três graus de liberdade)
(Tabela 3).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As plantas que receberam apenas
esterco bovino (trat. 2) apresentaram nos
limbos foliares e nos pecíolos + nervura
central, teores de N-NO3- similares aos
das plantas testemunhas (Tabelas 1 e 2).
As concentrações de N-NO3- nos limbos
foliares mostraram interação entre as
amostragens. De modo geral, os tratamentos apresentaram concentrações
mais altas de N-NO3- no quinto dia após
a aplicação da uréia, observando-se a
partir daí uma diminuição neste
parâmetro, com exceção do tratamento
5, onde os teores de N-NO3- aumentaHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Esterco bovino e uréia na couve e seus reflexos nos teores de nitrato.
ram a partir do quinto dia após a aplicação de uréia e o tratamento 6, que recebeu somente aplicação de uréia, sendo
que os teores de N-NO3- foram maiores
no primeiro dia, caindo no quinto e voltando a subir no décimo quinto dia após
a aplicação de uréia (Tabela 1).
Após o primeiro dia da aplicação, o
teor de N-NO3- observado nas plantas
que receberam adubação complementar
com uréia, na dose próxima à recomendada para a cultura (50 kg/ha de N-uréia)
pelo Manual de Adubação do Estado do
Rio de Janeiro (Almeida et al., 1988),
foi cerca de 50 vezes maior do que aquele observado para o tratamento que recebeu apenas esterco, observando-se um
declínio nesta taxa ao longo do período
para cerca de 8 vezes (Tabela 1).
Os dados referentes aos teores NNO 3 - nos pecíolos não mostraram
interação, sendo que o tratamento com
esterco foi inferior aos tratamentos que
receberam adubação complementar com
uréia, não diferindo, no entanto, daquele
que recebeu exclusivamente uréia (Tabela 2). Outros trabalhos também relatam teores de nitrato maiores em plantas
adubadas com adubos industriais em relação a adubos orgânicos em diferentes
olerícolas: cenoura (Lecterc, 1987); alface (Pereira et al., 1989; Rodrigues,
1990; Almeida, 1991; Ricci, 1993); cenouras, alho-poró e vagem (Bosh et al.,
1991); alface, rabanete, repolho, beterraba, cenoura, salsa, aipo e batata
(Rutkowska, 1993). Enquanto Silva
(1985) e Lyons et al. (1994) não observaram diferenças significativas quanto
aos teores de nitrato para vegetais produzidos com esterco adubos minerais.
Pôde-se observar também que, apesar das quantidades de nitrogênio presentes no tratamento que recebeu exclusivamente esterco (equivalente a 186 kg
de N/ha, trat. 2) e naquele onde a adubação foi apenas com uréia (equivalente a
200 kg de N/ha, trat.6) terem sido próximas, o conteúdo de N-NO3- nos limbos
foliares das plantas com uréia, no primeiro dia após a aplicação de uréia, foi cerca de 80 vezes maior do que as plantas
que receberam apenas esterco, observando-se um declínio nesta taxa ao longo do
período (Tabela 1). Isto parece ser em
parte, devido ao nitrogênio do esterco
tornar-se disponível às plantas de forma
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Tabela 1. Teores de N-NO3 - nos limbos foliares (mg N.g-1 matéria fresca), como resposta à
adubação com esterco bovino e/ou doses crescentes de uréia, valores das folhas coletadas
aos um, cinco e quinze dias após a segunda adubação de cobertura com uréia. Seropédica
(RJ), Embrapa Agrobiologia, 1995.
Tratamentos
1º dia
5º dia
15º dia
médias
1-Testemunha
5
2,1 Ba
27,5 Ba
19,2 Ba
16,3 B
2-Esterco1
7,5 Ba
27,3 Ba
17,9 Ba
17,6 B
3-Esterco+uréia na dose 1²
357 ABa 404 ABa 148 Ba
4-Esterco + uréia na dose 2³
186 ABb 669 Aa
409 ABab 421 A
5-Esterco + uréia na dose 34
455 ABa 613 Aa
668 Aa
579 A
6-Uréia na dose 34
649 Aa
355 ABa 678 Aa
561 A
Médias
276 a
349 a
303 AB
323 a
1
esterco= 20 t/ha;
uréia 1= 50 kg.ha-1 ; uréia 2= 100 kg.ha-1 ; uréia 3= 200 kg.ha-1 ;
5
valores seguidos de letras iguais, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (p< 0,05).
2,3,4
Tabela 2. Teores de N-NO3 - nos pecíolos + nervuras (mg N.g-1 matéria fresca), como resposta à adubação com esterco bovino e/ou doses crescentes de uréia, valores das folhas coletadas
aos um, cinco e quinze dias após a segunda adubação de cobertura com uréia. Seropédica
(RJ), Embrapa Agrobiologia, 1995.
Tratamentos
1º dia
5º dia
15º dia
médias
1-Testemunha
3495
967
774
697 C
2-Esterco1
359
886
777
873 BC
3-Esterco+uréia na dose 1²
2328
2129
1618
2025 A
4-Esterco + uréia na dose 2³
1789
2678
1664
2044 A
5-Esterco + uréia na dose 34
2578
2185
2570
2444 A
6-Uréia na dose 34
1537
2259
1693
1830 AB
Médias
1490 a
1851 a
1515 a
1
esterco= 20 t/ha;
uréia 1= 50 kg.ha-1 ; uréia 2= 100 kg.ha-1 ; uréia 3= 200 kg.ha-1 ;
5
valores seguidos de letras iguais, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (p< 0,05).
2,3,4
mais gradual (Rodrigues, 1990; Kiehl,
1993). Além disso, é possível que outros
nutrientes presentes no esterco, também
possam ter importante papel no metabolismo de acúmulo de nitrogênio, na forma de nitrato.
O potássio, por exemplo, participa
da ativação das enzimas assimilatórias
de amônia e transporte de aminoácidos.
Altos níveis de potássio resultam em aumentos na taxa de transferência de compostos nitrogenados solúveis para frações insolúveis devido ao efeito deste
nutriente na síntese de proteínas (Hagin
et al., 1990). Nas plantas adubadas exclusivamente com esterco, os teores de
potássio foram maiores (41 e 75 g/kg),
nos limbos foliares e nos pecíolos, quando comparadas àquelas que receberam
além de esterco, adubação complementar com uréia em doses crescentes ou
apenas uréia, que apresentaram valores
variando de 22 a 35 e 48 a 66 g/kg, nos
limbos e pecíolos, respectivamente.
Outro elemento importante na assimilação do nitrogênio é o Mo, visto ser
este micronutriente um componente essencial da nitrato redutase que favorece
209
V.C.P. Zago et al.
a redução nos teores de nitrato dos tecidos vegetais (Mondy & Munshi, 1993;
Pansenhagen et al., 1996).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde da FAO, a Dose Diária
Aceitável (DDA) para nitrato é de no
máximo 325 mg de NaNO3, que
corresponde a 53,5 mg de N-NO3- , por
dia, para um adulto de 65 kg de peso
(Olmedo & Bosh,1988). Para atingir os
valores recomendados pela OMS e,
usando os dados médios da concentração de N-NO3- nos limbos foliares, nas
amostragens realizadas (0,02 mg de N/
g M.F., trat.2 e 0,3 mg de N/g M.F.,
trat.3), no período inicial de produção
de folhas, calculou-se as quantidades de
couve que teriam que ser consumidas
para atingir 100% da DDA. Desta forma, chegou-se as quantidades de 2,70
kg de couve, quando esta foi produzida
apenas com esterco e 0,20 kg, quando
as
plantas
foram
crescidas
suplementadas com esterco + 50 kg/ha
de N-uréia (dose próxima à recomendada para a cultura, pelo Manual de
Adubação do Rio de Janeiro (Almeida
et al., 1988). Estes valores foram calculados sem considerar os teores contidos
nos pecíolos, que elevariam muito a
concentração de N-NO3-, principalmente
nos tratamentos que receberam uréia
(Tabela 2). Se acrescentássemos os teores de N-NO3- presente nos pecíolos, a
DDA estaria contida em apenas 0,06 kg
de couve adubada com apenas esterco e
0,02 kg de couve adubada com esterco
+ 50 kg/ha de N-uréia.
Considerando-se que um adulto consuma em média uma porção de 60 gramas de couve fresca ou cozida (limbos
foliares), estaria ingerindo 1,2 mg de NNO 3- de couve produzida apenas com
esterco e, aproximadamente 18 mg de
N-NO3- quando as plantas forem adubadas com uréia, numa quantidade aproximada àquela recomendada pelo Manual de Adubação do Rio de Janeiro
(Almeida et al., 1988). Porém, o consumo comum de couve envolve as
nervuras centrais que foram, neste experimento, analisadas juntamente com
os pecíolos, desta forma, os valores acima estão subestimados. Levando-se em
conta os altos teores de nitrato encontrados nos pecíolos de couve, é recomendável a retirada destes, no momen210
to da preparação dos alimentos, principalmente em se tratando do consumo
infantil, como forma de evitar os efeitos tóxicos.
Estes resultados são importantes,
visto o perigo que o nitrato oferece à
saúde humana, pela transformação deste em nitrito durante o armazenamento
das hortaliças, seu preparo e por ação
da saliva e do estômago, devido à ação
de microrganismos (Ahrens, 1983). O
nitrito tem a propriedade de formar
nitrosaminas, que são substâncias
comprovadamente carcinogênicas. Em
crianças recém - nascidas, o nitrito pode
levar à chamada cianose, isto é, uma
deficiência na absorção de oxigênio pelo
sangue (Vogtmann & Wagner, 1987).
A preocupação com a concentração
de nitrato e nitrito em vegetais tem levado alguns países europeus a fixarem
limites máximos aceitáveis. A
Yusgoslavia, por exemplo, estabelece o
máximo de 50 ppm de KNO3 para alimentos infantis preparados com vegetais, enquanto na Suíça admite-se o valor máximo de 4,0 g de NO 3-/kg para
alface. Já na Holanda, para culturas de
inverno e verão, os máximos estabelecidos são de 4,5 e 2,5 g de NO3-/kg de
matéria
fresca,
respectivamente
(Olmedo & Bosch, 1988; Gunes et al.,
1996). No entanto, no Brasil não existe
legislação específica que regulamente os
teores máximos permissíveis de nitrato
e nitrito em alimentos vegetais.
Dentro do contexto sócio-econômico agrícola do Estado do Rio de Janeiro, com 80% da população rural formada por pequenos agricultores, em sua
maioria de baixa renda e visando um
mercado em expansão, em busca de produtos com melhor qualidade biológica,
a utilização de recursos disponíveis dentro da propriedade, como o uso de estercos animais, pode ser uma alternativa a mais para uma maior independência do produtor e oferta de alimentos
mais saudáveis.
AGRADECIMENTOS
Aos pesquisadores Marco Antônio
Leal e Marcelo Grandi Teixeira, pelo
auxílio nas análises estatísticas e a Rojane
Chapeta Peixoto pelo apoio técnico.
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Adubação química e calagem em erva-baleeira.
Maria de Fátima Arrigoni-Blank 1; Valdemar Faquin2; José Eduardo B. P. Pinto2; Arie F. Blank 1; Osmar
A. Lameira5.
1
UFS - DFS, Av. Marechal Rondon s/n, B. Rosa Elze, 49.100-000 São Cristóvão - SE; 2 UFLA - DCS, C. Postal 37, 37.200-000 Lavras MG; 5 Embrapa Amazonia Oriental, C. Postal 48, 66.095-100, Belém - PA.
RESUMO
ABSTRACT
Cordia verbenacea, popularmente conhecida como erva-baleeira,
é uma planta medicinal perene com propriedade antiinflamatória. O
trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da adubação química
e da calagem no crescimento e na nutrição da erva-baleeira, mediante
a técnica da diagnose por subtração. Foram utilizados no experimento mudas com 40 dias de idade após a emergência das sementes e, cultivadas em vasos com capacidade para 5 dm3 em condições
de casa de vegetação. Os tratamentos usados foram: completo (adubado com N, P, K, S, B, Cu, Fe, Zn e calagem); completo sem
calagem; completo exceto cada nutriente (N, P, K, S, B, Cu, Fe, Zn)
e testemunha (solo natural). Após 120 dias do transplantio
observou-se que, no cultivo da erva-baleeira em solos ácidos e de
baixa fertilidade, a calagem e a adubação são essenciais para o seu
crescimento. No solo utilizado, os nutrientes que apresentaram maiores respostas quanto ao crescimento e nutrição da espécie foram o
N, K e B, bem como a calagem.
Chemical fertilization and liming in Cordia verbenacea.
Palavras-chave: Cordia verbenacea, nutrição mineral, elemento
faltante.
Cordia verbenacea is popularly known as ‘erva-baleeira’ and is
a perennial medicinal plant with anti-inflammatory properties. The
aim of this work was to evaluate the effects of chemical fertilization
and liming on growth and nutrition of C. verbenacea, using the
missing element technique. The experiment was conducted in
greenhouse using 40 day old seedlings, which were cultivated into 5
dm3 pots. The treatments were: complete (fertilization with N, P, K,
S, B, Cu, Fe, Zn and liming); complete without liming; complete
missing each nutrient (N, P, K, S, B, Cu, Fe, Zn) and control (natural
soil). Evaluation was done 120 days after transplanting. Liming and
fertilization are essential for C. verbenacea growth, when cultivated
in poor acid soils. For the soil employed in this experiment the
nutrients N, K and B, as well as liming, gave best results for C.
verbenacea growth and nutrition.
Keywords: Cordia verbenacea, mineral nutrition, missing element.
(Aceito para publicação em 04 de outubro de 1999)
A
erva-baleeira (Cordia verbenacea
L. - Boraginaceae) é uma planta
medicinal perene, de 1 a 2 m, podendo
excepcionalmente atingir 3 m de altura,
muito ramosa e flexível, com folhas tipicamente verrucosas, aromáticas,
inflorescência espigosa com flores brancas e fruto vermelho quando maduro
(Silva Jr. et al., 1995), que ocorre ao
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
longo de todo o litoral brasileiro. Os
princípios ativos básicos da planta são
os óleos essenciais, os flavonóides como
a artemetina (Sertie et al., 1990) e
isoflavonóides (Lameira, 1997) com atividades antiinflamatória.
A maioria dos solos brasileiros são
ácidos, o que pode causar problemas em
plantios comerciais. Além da alta satu-
ração de alumínio que pode ter efeitos
tóxicos para as plantas, os solos ácidos
normalmente contêm baixo teor de cálcio e de magnésio trocáveis, cátions de
grande importância para o desenvolvimento radicular. Uma das alternativas
para minimizar esse problema é a correção da acidez através da prática da
calagem (Goedert et al., 1991).
211
M. de F. Arigoni-Blank et al.
Na literatura há poucas informações
sobre a fertilização química e exigências
nutricionais de plantas medicinais, principalmente no Brasil. Raras vezes o emprego de adubos químicos, dentro dos
limites técnicos, altera o teor dos princípios ativos das plantas. O aumento de
biomassa pode compensar uma redução
do teor de fitofármacos, mas depende da
análise econômica, que deve ser feita em
cada situação (Correa Jr. et al., 1991).
A adubação química em guaco
(Mikanea glomerata), foi benéfica quando na aplicação de nitrogênio mineral
(60 g de sulfato de amônio por planta) e
resultou no aumento da produção de
fitomassa em torno de seis vezes em
relação à testemunha (Pereira et al.,
1996). Na fertilização de plantas medicinais, avaliando o efeito de doses de
NPK durante a fase de formação de
mudas de jaborandi (Pilocarpus
microphyllus Starf.), utilizando-se como
substrato uma mistura de terra preta,
serragem curtida e esterco de curral, na
proporção de 3:1:1, concluiu-se que as
melhores produções de matéria seca foram conseguidas com as aplicações de
180 e 120 mg/kg de nitrogênio e fósforo, respectivamente (Brasil, 1996).
Para Atropa belladona a fertilização
com 100, 35 e 120 kg/ha de N, P e K,
respectivamente, resultou no aumento de
750 kg/ha para 1700 kg/ha de folhas secas e não houve diferença significativa
entre os teores de atropina, o que indica
que a adubação química é vantajosa para
esta espécie (Montanari Jr. et al., 1993).
Com a erva-baleeira o NPK em plantas adultas aumentou a produção de
artemetina
e
hidroxiartemetina
(Montanari Jr.et al., 1992).
Na busca de um sistema de produção
economicamente viável, deve-se implantar um programa de nutrição na cultura.
No caso da erva-baleeira (C. verbenacea),
tem-se pouca ou nenhuma informação
disponível sobre suas exigências
nutricionais e dos teores dos nutrientes na
parte aérea. Assim, objetivou-se no presente trabalho, avaliar os efeitos da adubação química e da calagem no crescimento e na nutrição da erva-baleeira.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na casa de
vegetação do Departamento de Agricul212
tura da Universidade Federal de Lavras
- UFLA, em vasos com 5 dm3 .
Utilizou-se amostra da camada superficial (0 - 20 cm) de um Cambisolo álico,
textura média, coletado no município de
Itumirim - MG, com as seguintes características químicas: pH em água - 4,7; P
- 2 e K - 39 mg/dm3 (Mehlich 1); Ca - 8,
Mg - 2 e Al - 7 mmolc /dm3 (KCl 1
mol.L-1) (EMBRAPA, 1979); S - SO 42- 11 mg/dm3 (Tedesco et al., 1985); Zn 11, Cu - 0,2, Fe - 65,4 e Mn 9,3 mg/dm3
(DTPA) e B (água quente) - 0,13 mg/
dm3 (Jackson, 1970).
O delineamento experimental foi o
de blocos ao acaso, com 10 tratamentos
baseados na técnica do elemento faltante
e 8 repetições. Os tratamentos foram:
Completo (adubado com N, P, K, S, B,
Cu, Fe, Zn e calagem); Completo sem
calagem (-Cal); Completo sem N (-N);
Completo sem P (-P); Completo sem K
(-K); Completo sem S (-S); Completo
sem B (-B); Completo sem Zn (-Zn);
Completo sem Fe (-Fe) e Testemunha
(solo natural). O tratamento completo
não recebeu Mn porque encontrava-se
em níveis elevados no solo. Para o cálculo da necessidade de calagem,
empregou-se o método da saturação por
bases, para elevar V a 70%, usando-se
CaCO 3 e MgCO 3 p.a., na proporção
equivalente Ca:Mg de 4:1 (Comissão...,
1989; Raij et al., 1996). Após a calagem,
o solo foi mantido em incubação por 20
dias, com umidade de 70% do volume
total de poros (VTP). Quando pertinente ao tratamento, foi aplicada a seguinte
adubação básica de plantio: 67 mg/dm3
de N; 150 mg/dm3 de P; 97,5 mg/dm3
de K; 40 mg/dm3 de S; 0,5 mg/dm3 de
B; 1,5 mg/dm3 de Cu; 5,0 mg/dm3 de
Zn e 5,0 mg/dm3 de Fe de solo. As fontes dos nutrientes foram reagentes p.a.
(NH4NO3, NH4H2PO4, K2SO4, KH2PO4,
Ca(H2 PO 4) 2 .H 2O,
CaSO 4.2H 2 O,
MgSO 4 .7H 2 O, H3BO 3, CuCl2 , ZnCl 2 ,
Fe-EDTA).
Duas adubações de cobertura foram
realizadas. A primeira, aos 40 dias após
plantio (DAP), aplicaram-se 15 mg/dm3
de N, exceto nos tratamentos -N e solo
natural, e 20 mg/dm3 de P no tratamento -P. Essa dose de P foi necessária para
obtenção de material vegetal para as
análises químicas e dos princípios ativos. A segunda, aos 70 DAP, constou
da aplicação de: 20 mg de N, 32,8 mg
de Mg, 114 mg de Ca, 32 mg de S/dm3
de solo, exceto na testemunha e nos tratamentos onde foram omitidos.
As mudas de erva-baleeira (Cordia
verbenacea L.) foram obtidas de sementes germinadas em bandejas com areia.
Aos 40 dias da emergência
transplantou-se uma única muda por
vaso, mantendo-se a umidade na capacidade de campo. As plantas foram colhidas aos 120 dias após o transplantio,
separando-se em folhas, ramos e raízes,
secas em estufa a 70 oC, exceto as folhas, que foram secas a 45oC, em virtude da posterior análise do princípio ativo, tomando-se em seguida, o peso da
matéria seca de cada parte da planta. Os
teores dos macro e micronutrientes na
matéria seca da parte aérea (caule e folha) foram analisados quimicamente: o
N, pelo método de Kjeldahl; o P, K, Ca,
S, Fe e Zn, pela digestão
nitricoperclórica, e a determinação no
extrato foi feita como segue: P colorimetria; K - fotometria de chama;
S - turbidimetria; Ca, Fe e Zn espectrofotometria de absorção atômica e o B por incineração e determinação
colorimétrica pelo método da curcumina
(Malavolta et al., 1989).
Foram realizadas análises de
variância da matéria seca de cada parte
e do total da parte aérea, das raízes, altura de planta, teores dos macro e
micronutrientes, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey, de acordo
com Gomes (1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Altura e peso de matéria seca
A omissão da calagem (-Cal), do B
(-B) e K (-K) reduziram significativamente a produção de matéria seca de raiz
(exceto no -K), folhas, caule e parte aérea total da espécie. O tratamento -N
apresentou uma redução somente no
peso da matéria seca de folhas e parte
aérea total (Tabela 1). Por outro lado,
os tratamentos com omissão do S (-S),
Zn (-Zn), Fe (-Fe) e do P (-P) não promoveram nenhum efeito sobre o crescimento da espécie. Vale ressaltar que o P
não foi totalmente omitido da adubação,
em virtude da sua aplicação em cobertura aos 40 dias após o transplante. Esse
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Adubação química e calagem em erva-baleeira.
Tabela 1. Altura de planta, peso da matéria seca de raiz, caule, folha e produção relativa da parte aérea de Cordia verbenacea, em função dos
tratamentos. Lavras, UFLA, 1996.
Tratamento
Altura de
Planta
Peso da matéria seca
Raiz
Caule
cm
Folha
Parte aérea
g/planta
Produção
Relativa1/
(%)
Completo
-Cal
35,83 abc
19,50
e
7,00 ab
3,74
d
4,41 a
2,02
cd
7,39 ab
5,42
c
11,81 a
7,45
cd
100
63
-N
-P
28,30
cd
36,50 ab
7,82 a
6,42 ab
3,69 ab
3,92 ab
5,25
c
6,33 abc
8,94 bcd
10,26 ab
76
87
-K
-S
-B
34,18 abc
30,20 bc
28,29
cd
5,85 bc
6,10 abc
3,41
d
2,96 bc
4,10 ab
1,92
cd
5,51
c
7,65 a
5,47
c
8,47 bcd
11,76 a
7,40
d
72
99
63
-Zn
-Fe
35,64 abc
38,70 a
7,81 a
7,50 ab
4,10 ab
4,21 ab
6,05 bc
6,30 abc
10,16 abc
10,51 ab
86
89
Testemunha
21,75
4,42
de
cd
1,03
d
2,55
d
3,59
e
30
Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si (Tukey 5%).
1/
PR(%) = [MS (Trat.)/MS (completo)] x 100.
fato deve-se à total paralisação do crescimento e dos sintomas visuais típicos
de deficiência de fósforo observado nas
plantas do tratamento -P, nesse período.
Assim, visando a obtenção de material
vegetal para as análises químicas e dos
princípios ativos, decidiu-se pela aplicação de 20 mg/dm3 de P no tratamento
de sua omissão. Mas, a dose de P aplicada, promoveu uma grande resposta
das plantas em crescimento e produção
de matéria seca (Tabela 1).
De acordo com a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas
Gerais (1989) e Raij et al. (1996), o solo
utilizado no experimento é ácido, com
baixos níveis de K, P, Ca, Mg e S e com
níveis de Al e Mn elevados. Mesmo assim, os resultados da Tabela 1, mostram
que a omissão da calagem e dos nutrientes da adubação, não promoveu efeitos
drásticos no crescimento e produção
de matéria seca da espécie. Essa observação, associada à grande resposta da
planta à pequena dose de P aplicada em
cobertura (20 mg/dm3), permite inferir
que a erva-baleeira é uma espécie de
pequena exigência nutricional e/ou apresenta elevada eficiência de absorção e
utilização dos nutrientes. Também, que
a adubação básica utilizada no presente
experimento e aquelas sugeridas para
vasos (Malavolta, 1980 e Raij et al.,
1996), certamente, são doses excessivas
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
para essa espécie. Interessante ressaltar,
também, que de acordo com Raij et al.
(1996), os teores dos micronutrientes
encontram-se na análise química do
solo: B - baixo, Fe - alto, Mn - alto e Zn
- médio. Portanto, a resposta da planta
às suas omissões, está de acordo com a
classificação citada.
Teores dos nutrientes na matéria
seca
As espécies medicinais fazem parte
de um grupamento de plantas pouco estudado e praticamente inexistem informações sobre adubação e nutrição dessas espécies e no caso de suspeitas de
distúrbios nutricionais recomenda-se
utilizar técnicas de análises de
micronutrientes em solos, bem como a
diagnose foliar comparativa, usando
amostras pareadas (com e sem problemas), para análise química de macro e
micronutrientes (Raij et al., 1996). Assim, a Tabela 2 mostra os teores dos
nutrientes no caule e nas folhas da
erva-baleeira, nos tratamentos nos quais
foram omitidos (-M), comparativamente
aos valores obtidos no tratamento completo (Compl.).
Observa-se que, de maneira geral,
houve uma tendência de os teores, dos
nutrientes serem maiores no tratamento
completo (Compl.) em relação àqueles
onde foram omitidos (-M), porém, nem
sempre significativamente. As omissões
de B, K e N, bem como a omissão da
calagem, foram aquelas que mais
influenciaram a produção relativa (PR)
do caule e das folhas e, à exceção do B
no caule, os teores no tratamento -M,
foram sempre inferiores ao completo, indicando que os mesmos encontram-se em
níveis abaixo do adequado. Ressalta-se
que foram observados sintomas visuais
típicos de deficiência desses nutrientes
nos tratamentos nos quais foram omitidos (-M). Os tratamentos -S, -Zn, -Fe e
-B, no caule, não diferiram significativamente do tratamento completo, enquanto que na folha, somente o -Zn foi
significativamente igual ao completo.
É interessante observar que a omissão de B (-M) promoveu uma drástica
redução da PR do caule (44%), com teores do micronutriente significativamente
igual ao tratamento completo (Tabela 2).
Segundo Malavolta et al. (1989), esse
fato é explicado pelo efeito
“Steenyberg”, que ocorre em casos
onde o nutriente está muito deficiente
no solo e a sua aplicação na adubação
promove uma resposta muito grande da
planta em crescimento, o que pode ser
visto na Tabela 1, comparando-se a matéria seca do caule do tratamento -B com
o completo. Nesse caso, o rápido incremento na produção de massa vegetal,
proporcionalmente maior à absorção do
nutriente, não permite o aumento na sua
213
M. de F. Arigoni-Blank et al.
Tabela 2. Teores de macro e micronutrientes no caule e folhas no tratamento completo (Compl.) e nos respectivos tratamentos de omissão
(-M), e produção relativa (PR) de matéria seca de caule e folhas do tratamento de omissão em comparação ao completo, de Cordia verbenacea.
Lavras, UFLA, 1996.
Nutriente
Caule
-M
Compl.
PR
Folha
-M
Compl.
N
P
g.kg-1
15,35 a
8,65
b
2,25 a
2,00 a
%
84
89
30,35
2,12
K
Ca (calagem)
Mg (calagem)
10,57 a
0,072 a
0,076 a
67
46
46
20,90
a
0,0035 a
0,00054 a
S
B
1,32 a
0,92 a
mg.kg-1
18,66 a
20,03 a
93
%
44
58,27
Zn
Fe
17,49 a
96,51 a
93
95
37,94
374,46
3,42
b
0,049 b
0,044 b
11,41 a
66,21 a
2,22
g kg-1
a
20,05
a
2,10
PR1/
b
a
4,10
b
0,0019 b
0,00025 b
a
1,45
mg.kg-1
a
43,08
a
a
22,38
302,05
b
%
71
86
74
73
73
b
103
%
74
b
82
85
a
Médias seguidas pela mesma letra nas linhas, para cada órgão, não diferem entre si (Tukey 5%).
1/
PR(%) = [MS (-M) / MS (Compl.)] x 100.
concentração no tecido, podendo inclusive, ocorrer a diluição do mesmo. Já
para as folhas este fato não foi observado. Possivelmente, devido a uma menor diferença na produção de matéria
seca foliar entre o tratamento completo
e o de omissão de B (Tabela 1). Mas,
também, pela maior atividade metabólica e fisiológica das folhas do tratamento completo. Sabe-se que o B é um elemento imóvel na planta e seu transporte
é feito de forma unidirecional no xilema,
via corrente transpiratória (Marschner,
1995). Dessa maneira, o B encontrou
melhores condições de ser transportado
das raízes para a parte aérea no tratamento completo, apresentando, comparativamente ao tratamento de sua omissão (-M), maiores teores nas folhas e
menores no caule (Tabela 2).
Devido à carência de informações
sobre a nutrição mineral da erva-baleeira,
os teores foliares dos nutrientes no tratamento completo (Tabela 2), podem ser
usados, pelo menos como um referencial,
na avaliação do estado nutricional da espécie, pela diagnose foliar. Embora,
como já discutido, acredita-se que as
doses de alguns nutrientes na adubação
básica, tenham sido excessivas. É importante lembrar, também, que os teores
foliares variam com as condições e épocas de cultivo, órgão analisado, idade do
órgão e da planta, dentre outros.
214
Conclui-se que, após 120 dias do
transplantio, no cultivo da erva-baleeira
em solos ácidos e de baixa fertilidade, a
calagem e a adubação são essenciais
para seu crescimento. No solo utilizado, a falta da calagem e dos nutrientes
N, K e B causaram as maiores quedas
na produção de folhas, órgão usado na
medicina popular e que contém os princípios ativos. Quanto ao fósforo, os autores sugerem a realização de um estudo de curvas de resposta para obter dados precisos sobre a exigência
nutricional dessa espécie quanto ao P.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq RHAE e a UFLA - DAG pela oportunidade de execução deste trabalho.
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ANDRIOLO, J.L.; DUARTE, T.S.; LUDKE, L.; SKREBSKY, E.C. Caracterização e avaliação de substratos para o cultivo do tomateiro fora do solo.
Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p. 215-219, novembro 1999.
Caracterização e avaliação de substratos para o cultivo do tomateiro
fora do solo.
Jerônimo L. Andriolo; Tatiana S. Duarte; Loeni Ludke; Etiane C. Skrebsky
UFSM-CCR-Depto. de Fitotecnia, 97.119-900, Santa Maria-RS.
RESUMO
ABSTRACT
Três diferentes materiais foram avaliados quanto ao seu potencial de uso como substrato para o cultivo do tomateiro. Os experimentos foram realizados no Departamento de Fitotecnia da UFSM,
em Santa Maria-RS e os materiais avaliados foram: húmus proveniente da minhocultura, casca de arroz e substrato comercial (Plantmax
Folhosas). O substrato comercial foi comparado no seu estado original correspondente a primeira utilização e também na sua segunda
utilização com a mesma cultura. A casca de arroz foi comparada no
seu estado puro e também em mistura com solo da região na proporção de 50% de cada componente. A caracterização física foi efetuada pela determinação da densidade e da massa úmida e pelo cálculo
do volume retido e da capacidade máxima de retenção de água. A
avaliação qualitativa dos substratos foi realizada por meio de avaliações do crescimento e produção de frutos de dois cultivos de tomateiro, respectivamente no outono-inverno e primavera-verão do ano
de 1997. O húmus apresentou características físicas similares ao
substrato comercial, enquanto que a casca de arroz reteve volume
de água aproximadamente 50% inferior aos outros dois substratos
avaliados. Porém, essa diferença diminuiu quando a casca de arroz
foi misturada com o solo. O crescimento das plantas na casca de
arroz foi inferior e a produção de frutos atingiu apenas 56% daquela
obtida nos outros substratos. Tanto a mistura de casca de arroz e
solo como os outros substratos avaliados se mostraram apropriados
para o cultivo do tomateiro fora do solo.
Evaluation of substrates for growing tomatoes in soilless
culture.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, crescimento, rendimento, fertirrigação.
Keywords: Lycopersicon esculentum, yield, fertigation, growth.
Three different organic materials were tested at the UFSM, Santa Maria, Brazil, as substrate for growing tomatoes in soilless culture.
Humus originated from the digestion of organic materials by
earthworms, rice husk, and a commercial substrate “Plantmax
Folhosas” were used. Two successive cycles of tomato plants were
evaluated, by replacing old plants with young ones after the first
cycle of the crop. Rice husk was compared solely in a homogeneous
form and as a mixture with soil in a 50% basis. Substrates were
characterized by physical parameters of bulk density, wetness and
through calculation of the volumetric water content and maximum
capacity of water retention. Quality of substrates was evaluated by
measuring growth and yield of two successive tomato crops, in the
Autumn and the Spring of 1997. Comparisons between humus and
the commercial substrate showed similar physical characteristics,
while volumetric water content of rice husk was about 50% lower.
This difference was reduced when soil was added to the rice husk.
Growth of tomato plants on rice husk was lower and fruit yield
achieved a maximum value of 56% of that observed on the two other
substrates. Humus, the commercial substrate “Plantmax Folhosas”
and the mixture of rice husk with soil may be used successfully for
growing tomatoes in soilless culture.
(Aceito para publicação em 16 de agosto de 1999)
O
cultivo de hortaliças utilizando
substratos como suporte das raízes
é uma técnica amplamente empregada
na maioria dos países de horticultura
avançada (Musard & Letard, 1990;
Alarcon et al., 1997; Rosa et al., 1997).
Essa modalidade de cultivo representa
grande avanço frente aos sistemas de
cultivo no solo, porque oferece como
principais vantagens: 1) o manejo mais
adequado da água, evitando a umidade
excessiva em torno das raízes, que é
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
muito comum no solo em períodos de
elevada precipitação pluviométrica; 2)
o fornecimento dos nutrientes em doses
e épocas apropriadas, de acordo com os
períodos de maior necessidade ao longo do ciclo de produção das culturas; 3)
a redução dos riscos de salinização do
meio radicular, por meio de drenagem
de nutrientes excedentes e não absorvidas pelas plantas; 4) a possibilidade de
diminuir a ocorrência de problemas de
ordem fitossanitária das culturas, tanto
da parte aérea como das raízes
(Blanc, 1987; FAO, 1990b). Os benefícios
diretos dessa técnica se traduzem principalmente em maior rendimento e melhor
qualidade dos produtos colhidos, associados a menor utilização de defensivos agrícolas. Como benefício indireto, pode-se
citar um menor risco de perda das lavouras, permitindo melhor planejamento da
produção e contribuindo para a
profissionalização dos produtores frente a
um mercado cada vez mais competitivo.
215
J.L. Andriolo et al.
Um substrato agrícola é definido
como todo material, natural ou artificial,
colocado em um recipiente, puro ou em
mistura, que permita a fixação do sistema radicular e sirva de suporte a planta
(Blanc, 1987). Do ponto de vista do crescimento e da atividade radicular, um
substrato deve armazenar um determinado volume de água e ao mesmo tempo manter teor adequado de oxigênio em
torno das raízes. O oxigênio é indispensável para a respiração das raízes a fim
de suprir a energia necessária à absorção dos nutrientes (Salsac et al., 1987).
Um substrato que guarda uma proporção correta entre as fases sólida e líquida favorece, portanto, a atividade fisiológica das raízes e ao mesmo tempo
evita as condições favoráveis ao aparecimento de moléstias radiculares, especialmente as podridões fúngicas e
bacterianas. Qualquer material, orgânico ou mineral, que preencha estas condições, sem ser fitotóxico, apresenta potencial de uso como substrato agrícola.
O desenvolvimento da cultura do
tomateiro em substratos, nas diferentes
regiões do Brasil, depende de duas condições fundamentais: 1) da disponibilidade de fertilizantes solúveis e com preços compatíveis para efetuar a
fertirrigação e 2) da disponibilidade de
matérias-primas abundantes e baratas
com potencial de utilização como
substratos para as culturas. A primeira
condição já foi atingida no País, uma vez
que formulações e doses utilizadas em
países do Hemisfério Norte já foram
adaptadas aos fertilizantes e equipamentos existentes no mercado nacional
(Andriolo et al., 1997; Andriolo &
Poerschke, 1997). A segunda condição
depende ainda de estudos com a finalidade de inventariar os materiais disponíveis nas diferentes regiões e caracterizar o seu potencial de uso como
substrato agrícola.
Este trabalho foi realizado em duas
etapas, tendo como objetivo na primeira
fase a caracterização das principais propriedades físicas de alguns materiais disponíveis no Estado do Rio Grande do Sul
com potencial de utilização como
substratos para a cultura do tomateiro. Na
segunda fase foi feita a avaliação do crescimento e da produção de frutos das plantas cultivadas nos diferentes materiais
selecionados e caracterizados.
216
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos
no Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria-RS,
(latitude: 29º43’S, longitude: 53º42’W,
altitude: 95m), no ano de 1997. Os materiais comparados foram a casca de arroz, o húmus proveniente de resíduos do
rúmen de bovinos abatidos na indústria
frigorífica obtidos por meio da digestão
por minhocas e um substrato comercial
definido pelo fabricante como sendo uma
mistura de matéria orgânica de origem
vegetal e vermiculita expandida
(Plantmax Folhosas). A casca de arroz
foi submetida a queima parcial antes de
ser utilizada. O húmus foi empregado
sem qualquer modificação. O substrato
comercial foi dividido em dois lotes: comercial de primeira utilização (comercial-1) e de segunda utilização (comercial-2), esse último reutilizado após ter sido
utilizado no cultivo do tomateiro. O comportamento do tomateiro em cada um dos
materiais foi avaliado por meio de dois
cultivos sucessivos, sendo o primeiro no
período entre fevereiro e julho e o segundo entre agosto e dezembro de 1997. Para
implantar o segundo ciclo da cultura, removeu-se dos diferentes substratos a raiz
principal das plantas da cultura anterior,
transplantando-se novamente mudas de
tomateiro no estádio de seis folhas. Não
houve manipulação dos substratos de um
ciclo para outro, tendo sido retiradas ao
acaso cinco sacolas de cada material para
efetuar a caracterização física dos
substratos antes de iniciar o segundo cultivo. Após concluída a caracterização, as
sacolas foram identificadas e recolocadas
nas suas respectivas posições dentro do
ensaio.As plantas que cresceram nas sacolas amostradas não foram utilizadas
para efetuar medidas. Tendo em vista os
baixos resultados obtidos com a casca de
arroz na primeira cultura, esse material
foi inteiramente substituído por uma mistura de casca de arroz e solo da estufa
(Podzólico vermelho-amarelo, Unidade
de Mapeamento São Pedro), na proporção de 50% de cada componente, antes
de iniciar o segundo ciclo da cultura.
a. Caracterização física dos materiais
As variáveis físicas determinadas
para cada substrato foram a densidade e
a capacidade máxima de retenção de
água. Para realizar essas determinações,
os materiais foram previamente secos
em estufa, na temperatura de aproximadamente 50ºC, durante 48 horas. Para
determinar a densidade de cada
substrato, mediu-se a massa seca correspondente ao volume de um litro, após
adensamento natural por agitação manual. Imediatamente após a pesagem, os
materiais foram acondicionados em sacolas plásticas com capacidade de dois
litros e saturados com água. Após a saturação, as sacolas foram fechadas na
parte superior e grande número de perfurações finas foi efetuado na parte inferior e lateral das mesmas, com auxílio de uma agulha histológica. Para assegurar a livre drenagem da água excedente através dos orifícios, as sacolas
foram suspensas durante aproximadamente 14 horas, no período entre o final
da tarde e o início da manhã seguinte,
quando foram novamente pesadas para
determinar a massa úmida. A diferença
de massa entre os valores das pesagens
úmida e seca representou o volume de
água retido e esse valor expresso em porcentagem da massa úmida, representou
a capacidade máxima de retenção de
água (Gras, 1987; Andriolo & Poerschke,
1997Foram efetuadas cinco repetições
para cada uma das determinações e no
final foram calculadas as médias.
Para avaliar a evolução das características físicas dos substratos, as determinações foram repetidas no início de
cada uma das duas culturas de tomateiro, respectivamente em março (ciclo 97/
1) e julho (ciclo 97/2) de 1997, e também uma avaliação final após encerramento do último ensaio (98/1). Para realizar essas determinações, foi sorteada
uma sacola dentro da área útil de cada
parcela, mais uma adicional entre as quatro parcelas de cada bloco, totalizando
cinco amostras de cada material. Em cada
ciclo, as medidas foram efetuadas sempre sobre o material das mesmas sacolas, de forma a detectar sua evolução no
decorrer dos ciclos de cultura.
b. Avaliação do crescimento e desenvolvimento da cultura
Para avaliar o comportamento do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.)
nos diferentes materiais estudados, foram
implantadas duas culturas. A primeira
com o híbrido longa-vida Diva, semeado em 20 de fevereiro e transplantado
para as sacolas no dia 19 de março.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Caracterização e avaliação de substratos para o cultivo do tomateiro fora do solo.
O experimento foi concluído aos 138
dias após o transplante, quando foi
determinada a massa seca (após secagem em estufa a ±50ºC, até peso constante) de folhas, caule e frutos e a área
foliar, esta última por meio da relação
entre a massa seca e a área de 40 discos
(diâmetro de oito milímetros) de cada
planta, coletados em folhas representativas do dossel da cultura. A segunda
cultura foi realizada com o híbrido Monte Carlo, com semeadura em 22 de agosto e transplante em 21 de setembro. O
experimento foi concluído aos 87 dias
após o transplante, determinando-se as
mesmas variáveis de crescimento definidas no ensaio anterior. As mudas destinadas à implantação de ambas as culturas foram produzidas em bandejas de
poliestireno e transplantadas no estádio
de seis folhas definitivas. As sacolas plásticas de coloração branca e capacidade
para 10 litros foram preenchidas com os
seguintes volumes, em litros, de cada um
dos substratos secos: húmus = 3,9; comercial-1 = 3,7; comercial-2 = 4,1; casca de arroz = 8,5; casca de arroz e solo =
5,7. O volume de cada um dos substratos
foi determinado de acordo com a capacidade de retenção de água de cada material, a fim de manter para cada planta um
volume semelhante de água facilmente
utilizável, da ordem de 1.250 mL planta1. As sacolas contendo os substratos foram arranjadas sobre camalhões de aproximadamente 25 cm de altura, revestidos com filme de polietileno opaco de
coloração preta, construídos no interior
de uma estufa de polietileno tipo
“Pampeana” de 500 m2 , localizada no
Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria-RS. O
delineamento experimental foi o de blocos casualizados completos, com quatro
repetições, sendo a área útil de cada parcela formada por cinco sacolas, que posteriormente receberam as mudas.
A fertirrigação foi efetuada em intervalos semanais durante todo o ciclo das
culturas, com as seguintes quantidades de
fertilizantes, em g planta-1 : nitrato de potássio = 4; nitrato de cálcio = 6,3; super
fosfato simples = 1,5; sulfato de magnésio
= 3. O ferrro foi fornecido separadamente
através de uma formulação quelatizada,
na dose de 0,13 mL planta-1 e os demais
micronutrientes através de uma solução
completa, na dose de 0,7 mL planta- 1
(Andriolo & Poerschke ,1997). Nos intervalos entre duas fertirrigações sucessivas,
foi efetuada somente a irrigação das plantas, por gotejamento. A frequência e os
volumes de água fornecidos em cada irrigação foram estimados de forma a repor
o consumo pela transpiração das plantas
e ao mesmo tempo restabelecer o volume
retido na capacidade máxima de retenção
de cada substrato. Uma drenagem de aproximadamente 30% do volume retido foi
efetuada no dia anterior a cada uma das
fertirrigações, a fim de lixiviar para fora
das sacolas os elementos eventualmente
não absorvidos pelas plantas. O manejo
do ambiente da estufa foi efetuado por
ventilação natural, por meio da abertura
das cortinas laterais às 9:00h e fechamento às 15:00h, aproximadamente. A densidade de plantas foi de 2,2 plantas m-2, em
fileiras simples (1,0m entre fileiras e
0,45m entre plantas), conduzidas com uma
haste por meio de fitas plásticas, removendo-se as ramificações axilares uma vez
por semana. Um hormônio vegetal comercial (citocinina na concentração 8 ´ 10-5 %)
foi aplicado duas vezes por semana durante o período de inverno, quando as temperaturas diurnas se situaram em valores
inferiores a 18ºC, a fim de estimular o crescimento dos frutos jovens e compensar
possíveis falhas na polinização
(FAO, 1990a). Na primeira cultura foram
efetuadas duas aplicações de fungicidas
para o controle do oídio e na segunda cul-
Tabela 1 - Valores de densidade, massa úmida, volume retido e capacidade máxima de retenção de água (CR) dos substratos, no início dos
dois ciclos e no final do segundo ciclo da cultura do tomateiro. Santa Maria, UFSM, 1997*. (Os dados entre parênteses indicam os valores
relativos em relação àqueles medidos no ciclo 97/1).
Densidade
(g L-1 )
Massa úmida
(g L-1 )
483,9 a
345,8 b
1.126,0 a
1.018,5 a
642,1 a
672,7 a
57
66
Comercial-2
Casca de arroz
Início do ciclo da cultura 97/2
312,7 c
140,9 d
920,0 b
434,7 c
607,3 b
293,8 c
66
66
Húmus
Comercial-1
Comercial-2
448,4 b (92,6)
326,2 c (94,3)
283,1 d (90,5)
1.202,0 a (106)
916,1 c (90)
810,8 d (88)
753,6 a (117)
589,9 b (88)
527,7 c (87)
63
64
65
Casca de arroz e solo
Final do ciclo da cultura 97/2
Húmus
677,9 a
1.112,4 b
434,5 d
39
391,5 b (80,9)
1.079,3 a (96)
687,8 a (107)
64
Comercial-1
Comercial-2
Casca de arroz e solo
273,6 c (79,1)
244,4 d (78,1)
678,4 a (100)
899,8 b (88)
813,9 c (88)
1.088,8 a (98)
626,2 b (93)
569,5 c (94)
410,4 d (94)
70
70
38
Substrato
Início do ciclo da cultura 97/1
Húmus
Comercial-1
Volume retido
(ml L-1 )
CR
(%)
* Médias seguidas pela mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
217
J.L. Andriolo et al.
tura somente duas aplicações de acaricida
foram necessárias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
a. Caracterização física dos materiais
O húmus foi o material que apresentou a maior densidade, seguido pela
substrato comercial e pela casca de arroz (Tabela 1). A adição de solo à casca
de arroz aumentou a densidade de 141
para 678 g L-1. O húmus e o substrato
comercial apresentaram perda de densidade de um ciclo de cultura para o
outro. A perda foi visível já no final do
primeiro ciclo, variando de 8 a 10%,
aproximadamente. O substrato comercial-2, constituído pelo mesmo material
do comercial-1 e tendo passado por
um ciclo de cultura adicional, apresentou redução mais acentuada após o cultivo 97/1. No final do ciclo 97/2, os três
substratos acumularam uma perda semelhante, da ordem de 20%, em relação
aos valores iniciais. Essa perda não foi
observada na mistura de casca de arroz
e solo, que mostrou densidade similar
após um ciclo de cultura.
O húmus e o comercial-1 foram os
materiais que apresentaram valores iniciais mais elevados de massa úmida,
seguidos pelos substratos comercial-2 e
a mistura de casca de arroz e solo (Tabela 1). Essa variável mostrou tendência decrescente entre o início do primeiro e o final do segundo ciclo de produ-
ção e de forma mais intensa no substrato
comercial. A diferença entre a massa
úmida e a densidade indica o volume de
água retido por unidade de volume de
substrato. No início do ciclo 97/1, o
maior volume foi medido no húmus e
no substrato comercial-1, enquanto a
casca de arroz isolada reteve aproximadamente 50% do volume retido pelos
outros substratos estudados. Os valores
do volume retido mostraram alteração
após um ciclo de cultura, passando o
húmus a reter maior volume que os demais substratos, até o final do experimento. A mistura de casca de arroz e
solo também mostrou redução do volume de água retido após um ciclo de cultura e seu valor absoluto foi aproximadamente 40% menor do que aquele do
húmus. Os valores de capacidade máxima de retenção de água variaram aproximadamente entre 60 e 70% tanto para
o húmus como para o substrato comercial e foram próximos de 40% para a
mistura de casca de arroz e solo.
A vida útil de um substrato orgânico é determinada principalmente pela
velocidade das reações de decomposição, que modificam a textura do material e, consequentemente, a proporção
entre as fases sólida, líquida e gasosa.
Tanto o húmus como o substrato comercial mostraram degradação, estimada
pela perda de densidade, após dois ciclos de cultura. Entretanto, esta degradação repercutiu de maneira diferente
sobre o volume retido por esses dois
materiais, que diminuiu apenas no
substrato comercial. Esse comportamento está provavelmente relacionado com
a composição física desses dois
substratos. O húmus se caracteriza por
maior homogeneidade de partículas e
sua degradação é mais lenta, pois o material já passou por transformações biológicas no aparelho digestivo das minhocas. Por outro lado, o substrato comercial empregado no experimento foi
definido pelo fabricante como uma mistura de vermiculita e resíduos vegetais
triturados, o que implica maior
heterogeneidade de partículas. A
vermiculita é um material constituído
por lamelas expandidas de silicatos, que
sofrem rapidamente fragmentação mecânica e saturação química. A fração
fina das partículas desagregadas é facilmente carregada pelos volumes drenados. Esses fatores reduzem a
plasticidade,
aumentando
a
compactação e diminuindo o volume de
água retido (Moinereau et al., 1987).
A massa úmida dos substratos comparados não se constituiu em fator
limitante à sua utilização. Essa variável
se torna limitante somente quando atinge valores muito elevados, dificultando
o seu manuseio na lavoura. Cada sacola
contendo aproximadamente quatro litros
de húmus, que foi o substrato que apresentou o maior valor para essa variável,
atingiu uma massa úmida inferior a cinco quilogramas. Por outro lado, o volume de água retido foi muito baixo na
Tabela 2 - Valores de matéria seca de caule, folhas, frutos e total da planta, fração da matéria seca total alocada para os frutos (FMSF), índice
de área foliar (IAF) e produção de frutos de tomateiro determinados ao término de cada um dos experimentos. Santa Maria, UFSM, 1997*.
Substrato
Matéria seca (g planta-1)
Caule
FMSF
IAF
Produção
de frutos
(g planta-1 )
0,53
0,41
0,45
4,7 ab
6,0 a
5,1 ab
2.709, a
2.164, ab
2.562, a
0,40
3,0
Folhas
Frutos
Total
67,3 b
96,1 ab
101,7 a
51,3 a
61,0 a
56,3 a
135,4 a
108,2 ab
128,1 a
254,2 ab
265,3 ab
286,1 a
Casca de arroz
Ciclo da cultura 97/2
Húmus
83,6 b
33,5 a
87,1 ab
60,7 a
120,1 a
267,8 a
0,44
3,4 b
2.401,7 a
Comercial-1
Comercial-2
Casca de arroz e solo
95,4 a
86,3 ab
81,7 b
68,5 a
56,3 a
61,1 a
137,9 a
105,9 a
141,1 a
301,8 a
260,5 a
283,9 a
0,45
0,43
0,50
4,7 a
3,1 b
3,3 b
2.757,9 a
2.117,4 a
2.823,0 a
Ciclo da cultura 97/1
Húmus
Comercial-1
Comercial-2
77,2 b 194,4
b
c
1.544,
b
* Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.
218
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Caracterização e avaliação de substratos para o cultivo do tomateiro fora do solo.
casca de arroz empregada isoladamente. Nesse substrato, a água disponível
às plantas diminuiu muito rapidamente,
exigindo irrigações frequentes. Esse inconveniente se torna ainda mais acentuado quando a demanda evaporativa da
atmosfera é elevada. Trata-se de uma
situação pouco favorável à cultura, porque dificulta o manejo correto da água
e aumenta os volumes drenados, que
estão associados também a uma maior
perda de nutrientes. A mistura desse
material com o solo se mostra uma alternativa simples e eficiente para
minimizar seus defeitos e permitir o
emprego como substrato.
b. Comportamento da cultura do
tomateiro
A produção de matéria seca no final
dos ensaios mostra que a repartição da
biomassa total entre os órgãos da parte
aérea da planta foi diferente entre os
substratos estudados (Tabela 2). No ciclo
97/1, a produção de matéria seca
vegetativa, formada pelo caule e folhas,
foi mais elevada nos substratos comercial-1 e comercial-2. O húmus e a casca de
arroz apresentaram valores semelhantes
para essa variável. Porém, a maior diferença foi constatada na produção de frutos, que foi 38% menor na casca de arroz
quando comparada com a média dos outros três substratos, que não diferiram significativamente entre si. A fração de matéria seca alocada para os frutos foi mais
elevada no húmus e no comercial-2. A
mistura de casca de arroz e solo mostrou
o valor mais baixo do índice de área foliar.
No ciclo 97/2, não houve diferenças
significativas entre os substratos na produção de matéria seca de folhas e de frutos (Tabela 2). Porém, houve diferença
na acumulação de matéria seca do caule, que foi mais baixa na mistura de casca de arroz e solo em relação ao
substrato comercial-1. A produção de
frutos não mostrou diferenças significativas entre os tratamentos, porém o valor mais elevado foi observado na mistura de casca de arroz e solo.
A utilização da casca de arroz isoladamente reduziu a produção de frutos,
indicando que para ser eficiente como
substrato esse material deverá ser empregado em mistura com outros materiais
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
capazes de reter um maior volume de
água. O baixo volume retido repercute
negativamente sobre o rendimento da
cultura porque dificulta o manejo tanto
da água como dos nutrientes. Com relação ao primeiro, o volume disponível
às plantas passa rapidamente de uma
situação de potencial hídrico total próximo de zero para valores negativos, os
quais induzem o estresse hídrico, com a
entrada em ação dos mecanismos fisiológicos de controle da transpiração. O
principal mecanismo dessa natureza é o
fechamento dos estômatos, que reduz
simultaneamente a saída de vapor
d’agua e a taxa de fotossíntese (Urban,
1991). Fenômeno semelhante ocorre
com a nutrição mineral, pois somente
uma pequena fração dos nutrientes fica
retida pelo substrato, induzindo uma
forte lixiviação pela drenagem. Em
substratos desse tipo a fertirrigação contínua com uma solução nutritiva completa é quase obrigatória (Baille, 1994).
Os resultados apresentados são importantes para a produção comercial do
tomateiro, pois mostram que substratos
de baixo custo como a casca de arroz e
o húmus proveniente da minhocultura
se constituem em materiais apropriados
para uso como substrato, possuindo características similares ao substrato comercial testado. A casca de arroz é um
subproduto abundante da agroindústria
arrozeira e o húmus pode ser produzido
facilmente nas propriedades rurais. Indicam também que outras misturas de
materiais podem ser empregadas com
sucesso, desde que apresentem características físicas semelhantes àquelas
mostrados neste trabalho. Entretanto, os
substratos orgânicos são materiais biologicamente ativos que sofrem transformações no decorrer do tempo. Por isso,
suas características físicas devem ser
reavaliadas periodicamente e nenhuma
generalização pode ser feita em relação
a sua vida útil.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Eng.º Agrº.
Nereu Streck pelo fornecimento do
húmus empregado nos ensaios e também à FAPERGS - Fundação de
Âmparo à Pesquisa do Estado do Rio
Grande do Sul, pela concessão de uma
bolsa de Iniciação Científica a um dos
autores do trabalho.
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Acúmulo de matéria seca e exigências nutricionais de plantas de alho
provenientes de cultura de tecidos e de propagação convencional1.
Francisco Vilela Resende 1, Valdemar Faquin2, Rovilson José de Souza2, Vanderlei S. Santos 2
1
UNIMAR - Faculdade de Ciências Agrárias, C. Postal 554, 17.525-902 Marília - SP, E-mail: [email protected]; 2 UFLA, C. Postal
37, 37.200-000 Lavras - MG.
RESUMO
ABSTRACT
Com o objetivo de estudar comparativamente a exigência
nutricional de plantas de alho provenientes de cultura de tecidos e
multiplicadas de forma convencional, foi conduzido um experimento sob condições de campo, no Setor de Olericultura da Universidade Federal de Lavras (MG). O experimento foi montado em delineamento de blocos casualizados com quatro repetições e esquema de
parcelas subdivididas no tempo. Os tratamentos foram constituídos
por plantas provenientes de cultura de tecidos (cultura de meristemas)
e multiplicadas de forma convencional e sete épocas de avaliação:
30, 50, 70, 90, 110, 130, e 150 dias após o plantio. Em cada época
foram coletadas seis plantas/parcela, avaliado o peso da matéria seca
da parte aérea e do bulbo e determinadas as quantidades acumuladas de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Zn, Cu, Mn e Fe em cada parte. De
maneira geral a absorção de nutrientes acompanhou o crescimento
da planta, em ambas as formas de multiplicação, sendo que o acúmulo
foi mais intenso entre 70 e 110 dias na parte aérea e 90 e 150 dias no
bulbo. Diferenças significativas no acúmulo de nutrientes entre as
formas de multiplicação foram verificadas somente na fase que coincidiu com o máximo desenvolvimento da parte aérea e do bulbo. As
plantas multiplicadas por via convencional mostraram maior exigência por nitrogênio, em relação ao potássio, que plantas provenientes de cultura de tecidos. As plantas obtidas por cultura de tecidos acumularam quantidades significativamente maiores de nutrientes do que as obtidas de forma convencional e as diferenças
percentuais na época da colheita foram da seguinte magnitude: Ca 83,2%, K - 77,8%, S - 70,0%, Mg - 62,7%, P - 55,5%, N - 16,0%, Fe
- 116,6%, Mn - 94,5%, Cu - 64,7%, Zn - 62,7%, B - 57,3%.
Dry matter accumulation and nutritional requirements of
garlic planted with cloves obtained by tissue culture or produced
directly on the field.
Palavras-chave: Allium sativum L., multiplicação “in vitro”,
crescimento, nutrição mineral.
Keywords: Allium sativum L., “in vitro” multiplication, growth,
mineral nutrition.
An experiment was conducted under field conditions with the
objective of studying differences on nutrient uptake and dry matter
accumulation, between garlic plants produced from cloves obtained
by tissue culture and plants originated from cloves produced directly
in the field. A randomized block design with four replications was
used in the split-plot scheme. The treatments consisted of garlic plants
obtained from tissue culture (meristem-tip culture) and from cloves
produced in the field, evaluated 30, 50, 70, 90, 110, 130, and 150 days
after planting. At each period, six plants/plot were collected and dry
matter of both aerial part and bulb were evaluated. Accumulated
amounts of N, P, K, Ca, Mg, S, B, Zn, Cu, Mn and Fe in the garlic
plants were also determined. In general, the amount of nutrient uptake
corresponded to the development of the plants in both propagation
system. Nutrient uptake was more intense between 70 and 110 days in
the aerial part of the plants, and 90 and 150 days in the bulb. Differences
in nutrient uptake between these two multiplication systems were
verified only at the maximum development of both aerial and bulb
portions. Plants originated from field propagation required more
nitrogen than potassium when compared to those previously
propagated by tissue culture. Plants originated from tissue culture
accumulated more nutrients than those obtained from cloves produced
directty on the field. These differences in nutrient accumulation were
observed at the harvesting time and were expressed as percentage: Ca
– 83.2%, K – 77.8%, S – 70.0%, Mg – 62.7%, P – 55.5%, N – 16.0%,
Fe – 116.6%, Mn – 94.5%, Cu – 64.7%, Zn – 62.7%, B – 57.3%.
(Aceito para publicação em 11 de agosto de 1999)
A
produtividade brasileira de alho,
4,83 t/ha (IBGE, 1998), encontrase ainda muito abaixo da média mundial,
principalmente se comparada a de
países como Argentina (7,57 t/ha), China (8,67), EUA (12,17 t/ha) e Egito
(24,47 t/ha) (FAO, 1998). Entretanto,
quando conduzido em condições de clima e solo adequadas, o alho chega a atingir, no Brasil, produtividades de até 12
t/ha (Blank et al.,1998). No Egito, em
regiões de solos férteis a produtividade
1
chega a 30t/ha (Menezes Sobrinho,
1984), mostrando que a nutrição mineral adequada das plantas é um dos componentes de produção mais importantes
para a cultura.
Tem sido mostrado que o alho é uma
das hortaliças mais exigentes em nutrientes (Oliveira et al., 1971), inclusive
em alguns micronutrientes como o B e
o Zn, sendo necessário em muitos casos, a realização de adubações com os
mesmos (Garcia et al., 1994). Entretan-
to, muitas vezes, a nutrição mineral é
um dos fatores que recebe menos atenção pelos produtores brasileiros, causando sérios prejuízos não só à produção,
como também à conservação pós-colheita dos bulbos.
A extração de nutrientes pelo alho
apresenta uma relação bastante direta
com o crescimento e desenvolvimento
da planta. O crescimento da cultura se
acentua a partir dos 60 dias e cessa aos
120 dias após o plantio e a bulbificação
Parte da tese de doutoramento do primeiro autor apresentada à Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras - MG.
220
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Exigências nutricionais de plantas de alho provenientes de cultura de tecidos.
inicia-se por volta dos 70 dias, intensificando-se entre 90 até 130 dias após o
plantio (Zink, 1963; Silva et al., 1970).
Estes autores mencionam ainda, que o
acúmulo de nutrientes até os 45 dias é
reduzido, sendo que o nitrogênio e o
potássio são acumulados intensamente
nos períodos subsequentes. Os demais
macronutrientes são acumulados em
menor quantidade, acompanhando a
curva
de
crescimento.
Os
micronutrientes são acumulados ativamente, porém de forma inconstante,
desde os primeiros dias da cultura. A
partir dos 45 dias, o ferro é acumulado
intensamente, destacando-se como o
micronutriente acumulado em maior
quantidade pelo alho. Os demais
micronutrientes são acumulados em
quantidades menores e com menor intensidade, contudo, destacam-se o zinco e o manganês, que apresentam um
acúmulo elevado no período entre 120
a 135 dias (Silva et al.,1970). Algumas
técnicas de cultura de tecidos, com destaque para cultura de meristemas, têm
sido utilizadas com êxito, visando recuperar a sanidade de clones infectados por
viroses de espécies multiplicadas
vegetativamente como a batata, alho,
moranguinho,
batata-doce,
mandioquinha-salsa, dentre outras.
Sabe-se que a presença de vírus nas
plantas ocasiona uma série de distúrbios
nas funções da célula, afetando principalmente a síntese de proteínas, além
da inibição da fotossíntese, transporte
de assimilados, ação de reguladores de
crescimento e redução da produção
(Gibbs & Harrison, 1979), sendo que
muitas destas funções envolvem direta
ou indiretamente a participação de nutrientes minerais. Na cultura do alho, a
eliminação de alguns vírus pela cultura
de meristema, tem proporcionado aumentos significativos no vigor
vegetativo (Walkey & Antill, 1989;
Resende et al., 1995), na produtividade
e qualidade dos bulbos (Walkey &
Antill, 1989; Barni & Garcia 1994;
Resende et al., 1995). Entretanto, a exigência nutricional do alho multiplicado
por cultura de tecidos ainda é pouco
conhecida.
O estudo do acúmulo e utilização de
nutrientes em plantas provenientes de
cultura de tecidos torna-se necessário
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
visando adequar a exigência nutricional
à recomendação de adubação desses
materiais em lavouras comerciais. Neste
sentido, este trabalho teve como objetivos estudar o acúmulo de matéria seca e
a absorção de nutrientes por plantas de
alho provenientes de cultura de tecidos,
comparativamente ao mesmo material
multiplicado de forma convencional.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
campo, em área experimental do Setor
de Olericultura do Departamento de
Agricultura da Universidade Federal de
Lavras (UFLA) em um Latossolo Roxo,
cujas características químicas e físicas,
analisadas de acordo com a metodologia
da Embrapa (1979), foram as seguintes:
pH = 6,4, P = 14 mg/dm3, K = 148 mg/
dm3 , Ca = 41 mmolc/dm3 , Mg = 18
mmolc/dm3 , Al = 1 mmolc/dm3 , V
=75% , matéria orgânica = 35 g/dm3 e
areia, limo e argila, 210, 280 e 510 g/
kg, respectivamente.
Utilizaram-se plantas da cultivar
Gigante Roxão obtidas de duas formas
de multiplicação, sendo que os tratamentos foram definidos em função da obtenção do material de plantio. O primeiro tratamento foi composto por bulbos
não indexados para viroses, provenientes de cultura de tecidos (propagação “in
vitro” através de meristemas), obtidos
pelo Laboratório de Biotecnologia da
UFLA. O segundo tratamento foi composto por bulbos de plantas multiplicadas de forma convencional na Embrapa
Hortaliças, em Brasília DF.
Os tratamentos foram dispostos em
delineamento de blocos casualizados, em
um esquema de parcela subdividida no
tempo, com quatro repetições. Foram
coletadas seis plantas/parcela em intervalos pré-definidos de 20 dias, resultando em sete épocas de coletas: 30, 50, 70,
90, 110, 130 e 150 dias após o plantio.
As parcelas foram formadas por canteiros com 0,20 m de altura, 1,00 m de
largura por 2,00 m de comprimento, com
cinco fileiras de plantas no espaçamento
de 0,20 m entre linhas e 0,10 m entre
plantas. A área útil de cada parcela foi
constituída pelas três fileiras centrais,
descartando-se duas plantas na extremidade de cada fileira, resultando numa
área de 0,9 m2 .
O plantio foi realizado no dia 29/04/
95, tomando-se o cuidado de utilizar
bulbilhos de mesmo tamanho dentro de
cada bloco. Após o plantio realizou-se
uma aplicação em pré emergência com
o herbicida Linuron, seguida pela adição de uma camada de 5 cm de cobertura morta composta por casca de arroz.
Em função da alta infestação da área por
plantas daninhas, foi feita uma segunda
aplicação de Linuron em pós-emergência, aos 20 dias após a emergência das
plantas de alho. Todos os demais tratos
culturais foram realizados de acordo
com as recomendações técnicas para a
cultura na região.
As adubações foram realizadas de
acordo com a análise química do solo e
as recomendações da Comissão...
(1989). Aplicaram-se 200 kg/ha de P2O 5
como superfosfato simples, 60 kg/ha de
K2O como cloreto de potássio, 50 kg/ha
de sulfato de magnésio, 15 kg/ha de
bórax e 10 kg/ha de sulfato de zinco.
Foram utilizados 105 kg/ha de nitrogênio na forma de uréia, parcelado em 1/3
no plantio, 1/3 aos 45 e 1/3 aos 70 dias
após o plantio.
As plantas coletadas foram lavadas
em água corrente e enxaguadas em água
destilada, separando-se a parte aérea (folhas + bainhas) do bulbo. As partes foram distribuídas em sacos de papel perfurados e colocadas em uma estufa com
circulação forçada de ar temperatura de
± 70oC, para secagem. Após a secagem,
o material vegetal foi pesado para obtenção da produção de matéria seca,
moído e analisado quimicamente para
os macro e micronutrientes.
O N foi determinado pelo método
semi-micro-kjeldahl com digestão ácida a quente. O B foi determinado através do método colorimétrico da
curcumina com digestão por via seca.
Para os demais nutrientes foi utilizado
a digestão nitríco-perclórica, sendo as
concentrações no extrato determinadas:
P - colorimetria; K - fotometria de chama; S - turbidimetria e o Ca, Mg, Fe,
Zn, Cu e Mn por espectrofotometria de
absorção atômica (Malavolta et al.,
1989). A quantidade de nutrientes acumulada pelo alho foi calculada com base
no teor dos mesmos nos tecidos da parte aérea e bulbos e na produção de matéria seca dessas partes
221
F.V. Resende et al.
Os dados obtidos foram submetidos
aos testes de Lilliefors e Barttlet para
verificar, respectivamente, o ajuste aos
critérios
de
normalidade
e
homogeneidade exigidos para a análise
de variância (Little & Hills, 1978). As
diferentes formas de multiplicação foram comparadas quanto ao acúmulo de
matéria seca e nutrientes, em cada época
de amostragem, pelo teste F (Gomes, 1990).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1. Produção de matéria seca em função da idade da planta, pela parte aérea (A),
bulbo (B) e parte aérea + bulbo (C) de alho proveniente de cultura de tecidos e de multiplicação convencional. Lavras, UFLA, 1995.
O crescimento das plantas, ilustrado
pelo acúmulo de matéria seca, foi diminuto no período compreendido entre 30
e 70 dias para a parte aérea e 30 e 90 dias
para o bulbo, para as duas formas de
multiplicação (Figura 1). O acúmulo de
matéria seca, considerando parte aérea +
bulbo, mostrou-se significativamente
(p<0,01) superior no período compreendido entre 90 e 150 dias para as plantas
de cultura de tecidos e 110 e 150 dias
para as plantas de propagação convencional, em relação às épocas anteriores.
A partir dos 90 dias para parte aérea
e parte aérea + bulbo e, 110 dias para o
bulbo, o acúmulo de matéria seca das
plantas provenientes de cultura de tecidos
Figura 2. Acúmulo de nitrogênio, fósforo e potássio em função da idade da planta, pelo alho proveniente de cultura de tecidos e de
multiplicação convencional. Lavras, UFLA, 1995.
222
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Exigências nutricionais de plantas de alho provenientes de cultura de tecidos.
diferiu significativamente (p<0,01) do das
plantas de propagação convencional.
A extração de nutrientes para ambas
as formas de multiplicação (cultura de
tecidos e convencional) acompanhou
diretamente o crescimento das plantas,
seguindo, de maneira geral, o comportamento observado em outros trabalhos
(Zink, 1963; Silva et al.,1970 e Nascimento et al., 1996).
Os macronutrientes foram absorvidos
em concentrações muito baixas até 50 dias
após o plantio. O período de maior absorção do N, P, K, Mg e S foi verificado entre 50 e 110 dias (Figuras 2 e 3). O Ca, à
exceção dos demais macronutrientes, teve
sua extração intensificada somente a partir dos 70 dias (Figura 3).
O acúmulo de macronutrientes pelo
bulbo foi muito pequeno nos primeiros
70 dias do ciclo. A partir dos 90 dias
foram intensamente acumulados até o
final do ciclo, com exceção do Ca que
teve sua quantidade diminuída no bulbo a partir de 130 dias.
Entre os micronutrientes, o Cu apresentou um padrão de aumento relativamente constante no acúmulo pela parte
aérea e parte aérea + bulbo desde os 30
dias após o plantio, em ambas as formas de multiplicação, enquanto os demais micronutrientes tiveram sua absorção aumentada a partir de 70 dias (Figuras 4 e 5). No bulbo o acúmulo de
Figura 3. Acúmulo de cálcio, magnésio e enxofre em função da idade da planta pelo alho
proveniente de cultura de tecidos e de multiplicação convencional. Lavras, UFLA, 1995.
Figura 4. Acúmulo de Boro, Cobre e Ferro em função da idade da planta, pelo alho proveniente de cultura de tecidos e de multiplicação
convencional. Lavras, UFLA, 1995.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
223
F.V. Resende et al.
Figura 5. Acúmulo de Manganês e Zinco em função da idade da planta, pelo alho proveniente de cultura de tecidos e de multiplicação convencional. Lavras, UFLA, 1995.
micronutrientes foi pequeno até 90 dias,
sendo intensamente acumulados a partir deste ponto até final do ciclo, à exceção do B que reduziu a quantidade acumulada depois de 130 dias após o plantio (Figura 4).
A partir de 110 dias verifica-se uma
queda acentuada no acúmulo de nutrientes pela parte aérea da planta, marcando o início da senescência das folhas e desencadeando uma fase de intensa exportação dos nutrientes para o
bulbo que se encontra em acelerado processo de crescimento. É interessante
notar também que, parte da quantidade
absorvida de alguns nutrientes como o
K, Ca, Mg, B e Mn foi perdida ou eliminada próximo ao final do ciclo da
cultura. Este fato também foi observado no trabalho de Silva et al. (1970).
As diferenças estatísticas na absorção de nutrientes entre plantas oriundas
de cultura de tecidos e multiplicadas
pelo modo convencional aconteceram
no período de maior acúmulo de matéria seca pelas plantas. Sabe-se que a
multiplicação do vírus acompanha
proporcionalmente o padrão de crescimento da planta, de forma que, se a planta
224
intensifica o crescimento, o mesmo ocorre com a multiplicação do vírus (Gibbs
& Harrison, 1979). Portanto, o alho
proveniente de cultura de tecidos, devido ao menor grau de infecção viral, apresentou crescimento significativamente
superior ao multiplicado de forma convencional, traduzindo-se conseqüentemente em maior acúmulo de nutrientes.
Para o acúmulo de N (p<0,05), P
(p<0,01) e S (p<0,01), foram observadas diferenças significativas entre as
plantas oriundas das diferentes formas
de multiplicação, a partir de 90 dias para
a parte aérea e 110 dias para o bulbo,
estendendo-se até 130 dias para o N e
150 dias para o P e S. O K, Mg e Ca
diferiram (p<0,01) desde os 110 dias
para a parte aérea e para o bulbo.
O N, K e Ca foram os macronutrientes
absorvidos em maior quantidade pela
planta, tanto no alho proveniente de cultura de tecidos quanto no multiplicado
de forma convencional. A quantidade
máxima de N acumulada na parte aérea
+ bulbo por plantas provenientes de cultura de tecidos foi de 206,4 mg/planta
aos 130 dias e em plantas multiplicadas
de forma convencional foi de 178,0 mg/
planta aos 150 dias. O K teve seu ponto
máximo de acúmulo aos 130 dias (261,5
mg/planta) em plantas de cultura de tecidos e 110 dias (147,1 mg/planta) em
plantas propagadas convencionalmente.
Em plantas de propagação convencional, verificou-se que a quantidade
acumulada de N foi superior à de K,
como tem sido observado com freqüência em trabalhos com alho multiplicado
de forma convencional (Zink, 1963, Silva et al.,1970; Büll & Nakagawa, 1995).
Entretanto, as plantas provenientes de
cultura de tecidos, mostraram-se mais
exigentes em K do que em N. Esta inversão pode estar relacionada à menor
demanda de N em relação ao K pelas
plantas de cultura de tecidos, em função da menor concentração viral em seus
tecidos. As plantas multiplicadas pela
via convencional, ao contrário, necessitam, proporcionalmente ao K, de uma
quantidade maior de N para atender à
multiplicação do patógeno. Outra possível explicação para esta inversão está
relacionada às quantidades de matéria
seca significativamente superiores produzidas pelo alho de cultura de tecidos,
tornando-o mais exigente em K. Este
nutriente desempenha um papel fundamental em espécies que armazenam
compostos orgânicos, como é o caso do
alho, atuando no transporte de assimilados das folhas para os órgãos de reserva (Faquin, 1994).
As adubações de cobertura com N,
realizadas aos 45 e 70 dias após o plantio, alteraram de forma significativa o
padrão de absorção deste nutriente em
plantas oriundas de cultura de tecidos e
de propagação convencional, sendo que
as primeiras responderam com maior
intensidade às adubações de cobertura.
A resposta à primeira cobertura refletiu-se mais significativamente na parte
aérea, enquanto após a segunda cobertura, os bulbos mostraram maior intensidade de acúmulo. De 30 para 50 dias
verificou-se um acréscimo no acúmulo
de N de 190,0 e 110,9% na parte aérea e
25,1 e 83,3% no bulbo e entre 70 e 90
dias, 86,0 e 39,3% na parte aérea e 160,0
e 52,2% no bulbo, respectivamente, para
plantas provenientes de cultura de tecidos e multiplicação convencional.
Quanto aos micronutrientes, foram
observadas diferenças significativas
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Exigências nutricionais de plantas de alho provenientes de cultura de tecidos.
(p<0,01) entre plantas oriundas de cultura de tecidos e de multiplicação convencional desde de 50 dias e 90 dias para o
Zn e o Mn, respectivamente para parte
aérea e bulbo, 90 e 110 dias para o B, 110
e 130 dias para o Cu e 90 dias em ambas
as partes para o Fe. Os micronutrientes
absorvidos em maior quantidade foram o
B com 580,4 e 368,9 µg/planta e o Fe com
7560,8 e 3490,5 µg/planta, respectivamente, para o alho de cultura de tecidos e de
multiplicação convencional. Silva et al.
(1970), verificaram também em seu trabalho, como sendo estes, os
micronutrientes absorvidos em maior
quantidade pela cultura do alho.
Convertendo-se os dados experimentais para uma população de 400.000 plantas/ha, obteve-se as quantidades de macro
e micronutrientes extraídas em um hectare (Tabela 1). Observou-se que o Ca, K
e S entre os macronutrientes e Fe e Mn
entre os micronutrientes apresentaram as
maiores diferenças de extração entre
plantas provenientes de cultura de tecidos e propagação convencional.
A extração de nutrientes do solo pela
planta está diretamente relacionada, além
da intensidade de crescimento, também ao
nível de produção da cultura. Cultivares
de alho mais produtivas, têm-se mostrado
também como mais exigentes em nutrientes (Bogatirenko, 1976; Minardi, 1978).
Da mesma forma, o alho proveniente de
cultura de tecidos tem-se mostrado superior ao mesmo material multiplicado de
forma convencional em ensaios de produção a nível de campo, em níveis que
variam desde 3,7% (Garcia et al. 1989)
até 104,8% (Resende et al., 1995).
Pode-se concluir que, de maneira
geral, o acúmulo de nutrientes intensificou-se 90 dias após o plantio, acompanhando o crescimento da planta, em
ambas as formas de multiplicação, sendo que as plantas obtidas por cultura de
tecidos mostraram-se mais exigentes em
nutrientes comparativamente àquelas
multiplicadas de forma convencional.
A extração de macronutrientes, pelas plantas obtidas por ambas as formas
de multiplicação, deu-se na seguinte ordem decrescente: N>K>Ca>S>P>Mg, à
exceção do K para as plantas oriundas
de cultura de tecidos, que foi o nutriente
mais exigido. Para os micronutrientes,
esta ordem foi: Fe>B>Zn>Mn>Cu, para
as duas formas de multiplicação.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Tabela 1. Quantidades totais de nutrientes extraídas pelo alho proveniente de cultura de
tecidos e de multiplicação convencional. Lavras, UFLA, 1995.
Nutriente
N
P
K
S
Mg
Ca
Cultura de
Convencional
tecidos
Macronutrientes (kg/ha)
82,56
71,20
16,60
104,60
22,64
Diferença (%)
16,00
10,68
58,84
13,32
55,43
77,77
70,00
14,12
8,68
84,56
46,16
Micronutrientes (g/ha)
62,67
83,18
B
Zn
Cu
232,16
176,40
24,24
147,56
108,44
14,72
57,33
62,67
64,67
Mn
Fe
139,00
3.024,32
71,48
1.396,20
94,45
116,61
AGRADECIMENTOS
Ao pesquisador João Alves de
Menezes Sobrinho (Embrapa Hortaliças) pelo fornecimento do alho-semente, possibilitando a realização deste trabalho. À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
(CAPES) pela concessão da bolsa de
doutorado e à Fundação de Amparo a
Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG)
pelo apoio financeiro.
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Ação do etileno em combinação com thidiazuron, nitrato de prata e ácido acetilsalicílico na cultura de anteras de pimentão.
José Magno Q. Luz1; José Eduardo B. P. Pinto2; Polyana Aparecida D. Ehlert 2; Estér Solange Cerqueira2;
Ivan Bedin2
1
UFU – Dep to. Agronomia, Campus Umuarama, C. Postal: 593, , 38.400-902 Uberlândia - MG; 2 UFLA – Dep to. Agricultura, C. Postal
:37, 37.200-000 Lavras – MG.
RESUMO
ABSTRACT
Verificou-se o efeito do etileno em combinação com o thidiazuron
(TDZ), nitrato de prata (AgNO3 ) e ácido acetilsalicílico (AAS), na
indução e regeneração de embriões em anteras de pimentão,
genótipos F1 (PIX21C12#35 x Agronômico 08), (PIX21C04#4 x
Linha 004), (PIX22C#31 x Linha 004), (PIX21C15#45 x Ikeda) e
(PIX22C#21 x Ikeda). Os botões foram coletados quando sépalas e
pétalas tinham tamanhos aproximadamente iguais, correspondendo
ao estádio de anteras com micrósporos uninucleados. As anteras foram inoculadas em placa de Petri contendo meio de cultura C adicionado de 4,5 mM de TDZ; meio C acrescido de 0,05 mM de 2,4-D,
0,05 mM de cinetina e 88,8 mM de AAS; meio C acrescido de 0,05
mM de 2,4-D, 0,05 mM de cinetina e 5,0 mg/L de AgNO3 . Em seguida, foram colocadas em ambiente escuro a 35o C durante oito dias
e enriquecido com ethephon, por 0; 2; 4; 6 ou 8 dias num esquema
fatorial com quatro repetições, sendo cada placa considerada uma
parcela contendo 20 a 24 anteras. O período de permanência de quatro dias, em ambiente enriquecido com ethephon, e os meios com
TDZ e AgNO3 , foram os mais favoráveis à indução de anteras. O
TDZ também promoveu maior indução de calos embriogênicos. As
maiores taxas de necrose ocorreram no meio com AAS. Só ocorreu
regeneração direta em plântulas no meio C acrescido de 5 mg/L de
AgNO3 , sendo oito dias o melhor período. Os genótipos mais
responsivos foram PIX22C#31 x linha 004 e PIX22C#21 x Ikeda.
Observou-se a formação de plântulas haplóides e diplóides mediante análise da ponta de raíz. Considerando-se que a regeneração foi
direta, sem passar por calos, supõe-se que as plântulas diplóides
obtidas sejam provenientes dos micrósporos, devendo portanto ter
ocorrido uma diploidização in vitro.
Ethylene action in combination with Thidiazuron (TDZ),
silver nitrate (AgNO3 ) and acetylsalicylic acid on sweet pepper
anther culture.
Palavras-chave: Capsicum annuum L., melhoramento, biotecnologia,
cultura de tecidos.
Keywords: Capsicum annuum L., breeding, biotechnology, tissue
culture.
The influence of ethylene used in combination with Thidiazuron
(TDZ), silver nitrate (AgNO3 ) and acetylsalicylic acid (ASA) was
evaluated on sweet pepper androgenesis of F1 genotypes
(PIX21C12#35 x Agronômico 08, PIX21C04#4 x Line 004,
PIX22C#31 x Line 004, PIX21C15#45 x Ikeda and PIX22C#21 x
Ikeda). Floral buds were collected when sepals and petals were
approximately of equal size, corresponding to the uninucleated stage
of microspores. Anthers were placed in Petri dishes containing three
mediums: C medium supplemented with TDZ (4.5mM); C medium
plus 2,4-D (0,05mM), Kinetin (0.5mM) and ASA (88,8mM) or
AgNO3 (5.0 mg/L). After inoculation, the anthers were kept in the
environment with ethephon for 0, 2, 4, 6 or 8 days at 35o C for eight
days in the dark. The experiment was conducted in a factorial design
with four replications. Each replicate consisted of one Petri dish
containing 20-24 anthers. TDZ and AgNO3 were most effective for
inducing somatic embryos after four days with Ethrel. The greatest
rates of necrosis took place on the medium with AAS. Direct
regeneration of plantlets occurred only on medium supplemented
with 5 mg/L of AgNO3 after an eight-day treatment with Ethrel. The
most responsive genotypes were PIX22C#31 x Line 004 and
PIX22C#21 x Ikeda. Chromosome number of the seedlings was
verified through the root tip analysis which indicated the presence
of haploid and diploid chromosome number. Since regeneration was
direct, ie without going through callus phase, it is hypothesized that
the diploid seedlings came from in vitro diploidization.
(Aceito para publicação em 14 de setembro de 1999)
226
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Etileno em cultura de anteras de pimentão.
N
a área de estudos sobre o cultivo
in vitro de vegetais, uma das linhas
de pesquisa mais explorada atualmente
é a composição e a influência de gases
nos recipientes de cultivo, bem como a
adição de componentes que influenciam
na formação e ação destes gases. Sabese que estes gases afetam diretamente a
resposta do explante, pricipalmente no
que diz respeito à embriogênese. Entre
eles, o etileno é o principal gás envolvido, ocasionando diferentes influências
conforme a espécie (Auboiron et al.,
Adkins et al., 1993, 1990; Nissen, 1994).
Diversos trabalhos mostraram o efeito do etileno sobre as plantas doadoras
(Argarwal & Bhojwani, 1993), o seu
efeito e dos seus antagônicos adicionados ao meio de cultura, bem como a relação destes com outros componentes do
meio, principalmente auxinas. Uma vez
que seu efeito geralmente é negativo na
embriogênese, são utilizadas em baixas
concentrações ou omitidas na fase de
regeneração dos calos devido à maior
biossíntese de etileno (Ockendon &
McClenaghan, 1993; Evans & Batty,
1994). O tratamento inicial de anteras
com altas temperaturas é essencial para
a embriogênese, pois afeta a ação de
compostos adicionados, além de influenciar a biossíntese de etileno
(Biddington & Robinson, 1991).
Em pimentão, verificou-se que a presença de 5 mg/L de nitrato de prata
(AgNO3) no meio de indução C (Sibi et
al., 1979) teve efeito favorável na
androgênese, provavelmente devido ao
fato do AgNO3 bloquear a ação inibitória do etileno endógeno dos embriões,
permitindo assim o maior desenvolvimento dos mesmos (Nervo et al.,1994).
Em suspensão de células de cenoura,
tanto o ácido salicílico (AS) quanto o
ácido acetilsalicílico (AAS), em forma
de
aspirina,
estimularam
a
embriogênese, numa faixa de concentração de 10 à 100µM, e não causaram
qualquer prejuízo no crescimento e sobrevivência das células (Herman, 1991).
Devido à interação de diversas substâncias com a produção ou inibição in vitro
do etileno, sabe-se que para várias espécies estudadas em técnicas de cultura de
tecidos, os resultados devem ser interpretados com cuidado, principalmente no que
diz respeito ao real papel do etileno no
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
controle da embriogênese. O presente trabalho teve como objetivo verificar o efeito das combinações de ethephon com o
thidiazuron (TDZ), o AgNO3 e o AAS na
indução e regeneração de embriões em
anteras de pimentão.
MATERIAL E MÉTODOS
Os genótipos utilizados foram os
híbridos F1 (PIX21C12#35 x Agronômico 8), (PIX21C04#04 x Linha 004),
(PIX22C#31
x
Linha
004),
(PIX21C15#45 x Ikeda) e (PIX22C#21
x Ikeda) sendo PIX21C12#35,
PIX21C04#04 e PIX21C15#45 resistentes aos nematóides das galhas
Meloidogyne javanica e M. incognita
(Peixoto, 1995).
As plantas doadoras dos botões florais foram cultivadas em casa de vegetação sob condições controladas e temperatura média de 27oC. Os botões florais foram coletados no estádio de pétalas e sépalas de mesmo tamanho,
correspondendo a anteras contendo
micrósporos uninucleados. Foram
desinfestados com álcool a 70% por 20
segundos e hipoclorito de sódio a 2%,
por 10 minutos e, em fluxo laminar, foram lavados 3 vezes com água destilada e autoclavada. As anteras foram retiradas com o auxílio de um microscópio
estereoscópio em aumento de 40 vezes,
descartando-se as danificadas.
As anteras foram inoculadas em placa de Petri contendo meio de cultura C
(Sibi et al., 1979) adicionado de 4,5 mM
de TDZ; meio C acrescido de 0,05 mM
de 2,4-D, 0,05 mM de cinetina e 88,8
mM de AAS; meio C acrescido de 0,05
mM de 2,4-D, 0,05 mM de cinetina e
5.0 mg/L de AgNO3. Após a inoculação,
as placas, somente tampadas e não lacradas, foram colocadas em um recipiente com volume de dois litros e capacidade para doze placas empilhadas.
Neste mesmo recipiente foi colocado um
becker contendo 10 ml do produto comercial ETHRELâ(Ethephon = ácido 2cloro etilfosfônico - 240g/L), como fonte de etileno. O pH foi ajustado em 4
(em solução aquosa com pH abaixo de
4, o ethephon é estável, ao passo que é
quebrado liberando etileno, em valores
de pH acima de 4). Posteriormente o
recipiente foi hermeticamente fechado
e colocado em BOD a 350C, no escuro
por 0, 2, 4, 6 e 8 dias, totalizando quinze tratamentos para cada genótipo. Após
estes períodos, as placas foram retiradas do recipiente, vedadas com filme
plástico e recolocadas na BOD até completarem oito dias. Posteriormente, foram colocadas em sala de crescimento
a 26oC com 16 h de luz, onde permaneceram até o 12o dia após a inoculação.
A seguir, as anteras foram transferidas
para o meio R (Sibi et al., 1979),
suplementado com 0,5 mM de cinetina.
O delineamento utilizado foi um
split-plot com parcelas divididas no tempo de permanência com o ETHRELâ,
com 4 repetições, sendo cada placa de
Petri uma parcela contendo anteras de 4
botões, totalizando de 20 a 24 anteras
por placa. Trinta dias após a inoculação
no meio C, avaliou-se a percentagem de
anteras que continham embrióides, o
número de embrióides por 100 anteras
inoculadas, a percentagem de calos
embriogênicos e de anteras necrosadas
e o número de plantas regeneradas. Os
embrióides foram retirados das anteras
e transferidos para placa de Petri contendo meio R adicionado de 9,3 mM de
cinetina. Os dados foram submetidos
quanto à normalidade e homogeneidade
através dos testes de Lilliefors e Bartlett,
respectivamente e para todas as características foram realizadas análises de
variância e teste de média.
As plântulas obtidas nas placas foram transferidas para tubos de ensaio
(150 x 25mm) contendo 20 ml de meio
R, sem a presença de regulador de crescimento. As primeiras plântulas obtidas
tiveram suas pontas de raízes retiradas
para contagem cromossômica. Após
alcançarem, in vitro, tamanho pouco maior
que 3 cm, as plantas regeneradas foram
aclimatadas em casa de vegetação com
temperatura média de 27 o C e sob
sombrite 50%. As plantas periodicamente eram irrigadas com solução nutritiva até o transplantio definitivo em
vasos com solo e adubo químico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A porcentagem de anteras com
embrióides e o número de embrióides
por 100 anteras foram influenciados,
significativamente, pelos tratamentos
227
J.M.Q. Luz et al.
Tabela 1. Porcentagem de anteras com embrióides, em diferentes meios de indução combinados com tempo de permanência com ethephon, considerando dados dos genótipos em
conjunto. Lavras (MG), UFLA, 19961.
Meios de
Indução
Tempo em exposição ao ethephon (dias)
0
2
4
6
8
TDZ
23,0 Ab
38,8 Aa
30,3 Aab
22,0 Ab
21,6 Ab
AgNO3
14,6 ABb
33,7 Aa
25,4 Aab
15,0 ABb
24,6 Ab
AAS
11,9
10,9 Bb
23,9 Aa
16,9
17,6 Ab
Bb
Bb
1 - As médias seguidas de mesma letra (Maiúsculas para meios e minúsculas para o tempo
com ethephon) não diferem entre si pelo teste de Tukey (5%).
Figura 1. Porcentagem de calos embriogênicos em função de diferentes meios de indução
combinados com tempo de permanência com ethephon, considerando dados dos genótipos
em conjunto. Lavras (MG), UFLA, 1996.
com diferentes componentes (TDZ,
AgNO3 e AAS) e pelo tempo de permanência das anteras nestes meios junto
com ethephon. No entanto, só houve
interação entre o tempo e o meio para a
primeira característica. Não ocorreu efeito significativo dos genótipos para as
características avaliadas, o que pode estar relacionado com a exposição dos
meios ao ethephon, que aproximou as
respostas dos diferentes genótipos. Em
alguns experimentos com cultura de
anteras de pimentão também não ocorreram diferenças entre genótipos (Sibi et
al.,1979; Dumas de Vaulx et al., 1981).
Com relação à porcentagem de
anteras com embrióides, na interação
entre a composição do meio de cultura
e o tempo de exposição ao ethephon
(Tabela 1), verificou-se que, de maneira geral, o tempo de quatro dias foi o
mais favorável para o meio contendo
AAS, enquanto para os meios com TDZ
228
ou AgNO3, o melhor tempo foi o de dois
dias. As maiores induções de anteras
com embrióides ocorreram nos meios
com TDZ e AgNO3; o AAS apresentou
as menores percentagens de anteras com
embrióides. O fato dos períodos de dois
e quatro dias terem sido os melhores na
indução da embriogênese, de certa forma, concorda com o verificado por
Nissen (1994) que, trabalhando com
suspensão de células de cenoura, verificou que altas concentrações do ethephon
foram prejudiciais à embriogênese. No
presente experimento empregando recipiente hermeticamente fechado, os maiores tempos de exposição (6 e 8 dias)
das anteras ao ethephon, tendenciaram
ao aumento da concentração de etileno
no ambiente que continha as anteras e
consequentemente levaram a menores
percentagens de anteras com embriódes.
O TDZ também induziu maior produção de calos, que foi crescente com a
maior exposição das anteras ao
ethephon, variando de 13,1 a 25,1%, em
zero e oito dias de exposição, respectivamente (Figura 1). Este efeito pode
estar relacionado ao aumento da atividade citocinínica do TDZ pela presença do etileno. Por outro lado, o TDZ
pode levar à produção de etileno, pois
isto é característico das citocininas, portanto mais etileno estaria sendo produzido, e maior estímulo à ação do TDZ
estaria ocorrendo, levando à formação
dos calos (Mok & Mok, 1985). O aumento do período de exposição ao
ethephon, resultou em maior porcentagem de anteras necrosadas no meio
TDZ, o que reforça a consideração anterior. A respiração e a atividade
mitótica, durante o desenvolvimento dos
calos, resulta em liberação de etileno,
levando à degeneração que também gera
etileno que, somado ao liberado no recipiente pelo ethephon, teria aumentado a taxa de necrose das anteras, o que
concorda com Auboiron et al. (1990).
As maiores taxas de necrose ocorreram no meio com AAS e também foram crescentes com o incremento do
período em ethephon, principalmente
por seis e oito dias (Figura 2). Pode-se
inferir que o AAS na concentração de
88,9 mM, não foi suficiente para inibir
o efeito do etileno, aumentando a
necrose à medida em que aumentou o
tempo de exposição ao ethephon. Por
outro lado, Herman (1991), verificou que
tanto o AS, quanto o AAS, em forma de
aspirina, estimularam a embriogênese em
suspensão de células de cenoura numa
faixa de 10 a 100 mM, sem qualquer prejuízo no crescimento e sobrevivência das
células, e ainda, houve uma direta relação entre a concentração de AS e AAS e
o estímulo à embriogênese, com a inibição do etileno.
Com relação ao número de
embrióides por 100 anteras, verificouse que o TDZ também se destacou com
170,7 embrióides, mas não diferiu significativamente do meio acrescido de
AgNO3 (155,5 embrióides), considerando os genótipos e os tempos de exposição ao ethephon em conjunto. Estes valores são próximos aos encontrados por
Nervo et al. (1994) em anteras do
genótipo PM 687 x Yolo Wonder, também inoculadas em meio C adicionado
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Etileno em cultura de anteras de pimentão.
de AgNO3. O genótipo PM 687 x Yolo
Wonder é considerado altamente
responsivo, tendo sido usado como controle neste trabalho citado. Considerando dados em conjunto dos meios e
genótipos, quatro dias de exposição ao
ethephon foi significativamente favorável, obtendo-se em média 271,8
embrióides por 100 anteras (Figura 3).
Apesar de dois e quatro dias terem
sido os melhores tempos para a indução
de embrióides nas anteras e terem promovido os maiores números de
embrióides, o período de oito dias foi o
mais eficiente na regeneração dos embriões em plântulas (Tabela 2). Somente
anteras provenientes do meio de indução
C adicionado de 5 mg/L de AgNO3 regeneraram plântulas, sendo PIX22C#31 x
Linha 004 e PIX22C#21 x Ikeda, os
genótipos mais responsivos (Tabela 2).
PIX21C12#35 x Agronômico 8 não regenerou qualquer plântula, permanecendo os embrióides nos estádios globular e
torpedo, até a completa necrose ao longo de 60 dias, mesmo quando transferidos para o meio R acrescido de 9,3 mM
de cinetina. Os embrióides dos outros
genótipos, quando transferidos para o
meio R + 9,3 mM de cinetina, também
não regeneraram em plântulas.
As primeiras estruturas de desenvolvimento dos embriões em plântulas começaram a surgir a partir de 50 dias após
a inoculação no meio de indução C adicionado de 5 mg/L de AgNO3 e, aproximadamente aos 70 dias, foram
transferidas para o meio R sem reguladores de crescimento. Ocorreu o desenvolvimento de mais de uma plântula em
alguns tubos, sendo estas individualizadas. As plântulas atingiram o ponto de
aclimatação por volta de 100 dias pósinoculação das anteras.
Algumas plântulas não completaram
o desenvolvimento in vitro, morrendo
antes de estarem aptas para aclimatação,
enquanto outras morreram ainda na
aclimatação. Foram constatadas plântulas
haplóides e diplóides. Considerando que
a regeneração foi direta, sem passar por
calos, supõe-se que as plântulas diplóides
obtidas sejam provenientes dos
micrósporos, devendo ter ocorrido uma
diploidização in vitro. Do ponto de vista
prático este fato é desejável, pois o emprego da colchicina tende a ser uma etapa longa sendo possível o surgimento de
diplóides. Após as análises citológicas
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Figura 2. Porcentagem de anteras necrosadas, em diferentes meios de indução combinados
com tempo de permanência com ethephon, considerando dados dos genótipos em conjunto.
Lavras (MG), UFLA, 1996.
Figura 3. Número de embrióides por 100 anteras, em diferentes tempos de permanência com
ethephon, considerando dados de genótipos e meio de indução em conjunto. Médias seguidas
de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (5%). Lavras (MG), UFLA, 1996.
Tabela 2. Frequência de plantas regeneradas dos genótipos cultivados em meio C adicionado de 5 mg/L de AgNO3, em diferentes tempos de permanência com ethephon Lvras (MG),
UFLA, 1996.
Genótipo
PIX21C0#04 x 004
PIX22C#31 x 004
PIX21C15#45 x Ikeda
PIX22C#21 x Ikeda
Total
Tempo/ No total de
No de
ethefhon
anteras
plântulas
(dias) inoculadas
4
90
1
6
84
2
8
81
82
4
89
3
6
85
1
8
92
12
8
83
2
4
86
3
6
88
1
8
85
4
864
31
%de
plântulas
1.1
2.4
2.5
3.4
1.2
12.9
2.4
3.5
1.1
4.7
3.6
229
J.M.Q. Luz et al.
constataram-se três plântulas haplóides
e uma diplóide a partir do genótipo
PIX22C#31 x Linha 004, uma plântula
haplóide a partir PIX21C15#45 x Ikeda
e uma haplóide e uma diplóide a partir
de PIX22C#21 x Ikeda.
As taxas de regeneração foram em
geral superiores às alcançadas por George
& Narayanaswamy (1973) e Sibi et al.
(1979); foram semelhantes às obtidas por
Dumas de Vaulx et al. (1981) e inferiores às dos trabalhos de Dumas de Vaulx
et al. (1981) e Nervo et al. (1994).
Os resultados assemelham-se aos
obtidos por Nervo et al. (1994), que alcançaram altas frequências de
embrióides, mas baixas taxas de conversão em relação ao número de
embrióides. Os autores afirmam que este
é o ponto de estrangulamento da técnica, e sugerem maiores estudos de fatores que possam estar relacionados com
tal situação. Com base nesta consideração e de acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que a taxa de conversão em plantas está diretamente ligada à produção e/ou inibição do
etileno, tornando-se cada vez mais importante elucidar o real papel deste gás
no controle, não só da embriogênese,
mas principalmente na fase de
maturação dos embriões obtidos.
230
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Época de aplicação de fungicida para controle da mancha de
Mycosphaerella do morangueiro.
Cleber Furlanetto1 ; Celso K. Tomita; Adalberto C. Café Filho
Universidade de Brasília, Departamento de Fitopatologia, 70.910-970 Brasília - DF.
RESUMO
ABSTRACT
Estudou-se o efeito da época do início da aplicação de fungicida
na severidade da mancha de Mycosphaerella fragariae em parcelas
experimentais de morango cv. IAC-Campinas. O ensaio foi conduzido em área produtora (Brazlândia, DF) em blocos ao acaso com
seis tratamentos (épocas de início de pulverização) e quatro repetições. Foram efetuadas aplicações quinzenais com o p.a. prochloraz
(450 g i.a/litro) na dosagem de 100 ml/100 litros de água, e testadas
as épocas de início de aplicação: Plantio (pulverização por ocasião
do plantio das mudas, com um total de dez aplicações); Flor1 (após
a primeira florada, oito aplicações); Flor2 (após a segunda florada,
seis aplicações); Flor3 (após a terceira florada, quatro aplicações);
Flor4 (após a quarta florada, duas aplicações) e Test (testemunha
pulverizada com água desde o transplantio). As seguintes variáveis
foram avaliadas: produção total acumulada; severidade de doença;
número de folhas mortas e sadias; número de hastes lesionadas e
sadias. Os resultados indicaram que os tratamentos Plantio e Flor1
foram superiores aos demais em todos os critérios (Duncan, 5%). O
tratamento Flor2 apresentou controle intermediário de doença. Os
demais tratamentos não apresentaram diferenças estatísticas significativas entre si.
Timing of fungicide application for Mycosphaerella leaf spot
control on strawberry.
Palavras-chave: Fragaria x ananassa Duch., controle químico,
Mycosphaerella fragariae.
Keywords: Fragaria x ananassa Duch., Mycosphaerella fragariae.
chemical control
The effect of timing of first fungicide application on the severity
of Mycosphaerella leaf spot (Mycosphaerella fragariae) on strawberry
cv. IAC-Campinas was studied in field plots located in BrazlândiaDF, Brazil. The experiment was conducted as a randomized complete
block design with six treatments (times of first fungicide delivery)
and four replicates. The fungicide (prochloraz - 450 g a.i./L) was
delivered at a dosage of 100 ml/100 L of water, on a 15-day schedule.
The following periods for first application were tested: “Plant”: at
transplant stage; with a total of ten fungicide applications; “Flor1”: at
first flowering stage, total of eight applications; “Flor2”: at second
flowering, total of six applications; “Flor3”: at third flowering, total
of four applications; “Flor4”: at fourth flowering, total of two
applications; “Test”: control plots, sprayed with water starting at
transplant. Treatments were ranked accordingly to total fruit yield;
disease severity; number of dead and healthy leaves; number of infected
and healthy stems. Results indicated that treatments “Plant” and “Flor1”
provided a most efficient control of the disease (Duncan, 5%), followed
by treatment “Flor2”. Treatments “Flor3”, “Flor4” and “Test” resulted
in poor disease control and were not statistically different.
(Aceito para publicação em 22 de setembro de 1999)
A
mancha de Mycosphaerella
Johanson é uma doença de grande
importância para a cultura do morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.), causando perdas significativas de produção,
caso não seja controlada (Maas, 1998). O
sintoma mais característico são manchas
foliares mais ou menos arredondadas de
bordas púrpuras e centro claro, que podem coalescer e necrosar toda a folha
(Maas, 1998). Mycosphaerella fragariae
(Tul.) Lind. (anamorfo: Ramularia
brunnea Peck) é encontrado em praticamente todos os países onde se cultiva morango, inclusive no Brasil (Maas, 1998;
Tanaka et al., 1997). As duas cultivares
mais plantadas no país, Dover e Campinas, são suscetíveis ao patógeno. Embora
não tenham sido encontrados dados de per-
das de produção devidos a esta doença,
Furlanetto et al. (1996a) apresentaram
dados recentes de produção e controle de
doenças da cultura para o Distrito Federal. A utilização de fungicidas, em curtos
intervalos de aplicação, é prática rotineira
e incorporada ao sistema de produção de
morango em todo o Brasil.
A determinação da eficiência de
agroquímicos e a otimização da época de
aplicação geram informações que podem
levar a uma redução do número total de
aplicações e dos custos de produção. O
prochloraz, pertencente ao grupo dos
imidazóis, apresenta amplo espectro de
ação contra ascomicetos e fungos imperfeitos. Até recentemente, sua utilização
prática vinha limitando-se ao controle de
doenças em cereais (Goulart, 1995), mas
existem evidências que o mesmo apresenta desempenho satisfatório também
contra M. fragariae, Colletotrichum
acutatum Sim. e C. gloeosporioides
(Penz.) Sacc. em
morangueiro
(Domingues et al., 1994 e Furlanetto et
al., 1996b), inclusive permitindo aplicações menos freqüentes que aquelas atualmente utilizadas pelos produtores. O objetivo deste trabalho foi o de determinar a melhor época de início de aplicação deste fungicida para o controle da
mancha de Mycosphaerella, utilizandose o princípio ativo prochloraz.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no município de Brazlândia, DF, com delinea-
1
Atualmente no Departamento de Agronomia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná C. Postal 091, 85.960 - 000 Marechal Cândido Rondon, PR.
Trabalho desenvolvido em parceria com In Vitro Biotecnologia de Plantas, Brasília, DF e apoio do Programa RHAE/CNPq.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
231
C. Furlanetto et al.
Plantio: início de pulverizações por ocasião do transplantio das mudas; Flor1: após a primeira
florada; Flor2: após a segunda florada; Flor3: após a terceira florada; Flor4: após a quarta
florada; 6. Test: Testemunha. Barras com letras iguais não diferem significativamente (Duncan,
5%). C.V. = 15%.
Figura 1. Severidade da mancha de Mycosphaerella em morangueiro IAC-Campinas, segundo época de início das pulverizações. A severidade da doença foi medida segundo um
índice variando de 1 (1% da área foliar infectada) até 6 (> 75 % da área foliar infectada).
Brasília, UnB, 1996.
mento experimental de blocos ao acaso
com seis tratamentos e quatro repetições. Cada parcela foi composta por
doze plantas da cultivar IAC-Campinas
(duas linhas de seis plantas) em um
espaçamento de 30 cm entre plantas e
entre linhas. Pulverizações quinzenais
com fungicida à base de prochloraz (450
gi.a/L) foram feitas na dosagem de 100
ml/100 L de água. As plantas foram
irrigadas por aspersão e adubadas de
acordo com análise de solo. Não foi feita
inoculação artificial dos canteiros. Os tratamentos foram os seguintes: 1) Plantio:
primeira aplicação de fungicida por ocasião do plantio, com um total de dez aplicações ao longo do ciclo da cultura; 2)
Flor1: primeira aplicação por ocasião da
primeira florada, com um total de oito
aplicações ao longo do ciclo da cultura;
3) Flor2: primeira aplicação por ocasião
da segunda florada, com um total de seis
aplicações ao longo do ciclo da cultura;
4) Flor3: primeira aplicação por ocasião
da terceira florada, com um total de quatro aplicações ao longo do ciclo da cultura; 5) Flor4: primeira aplicação por
ocasião da quarta florada, com um total
de duas aplicações ao longo do ciclo da
cultura e 6) Test: testemunha pulverizada com água, sem aplicação de fungicida.
Foram avaliadas a severidade da
doença em todas as plantas da parcela,
após cada florada, o peso e número total
de frutos produzidos durante todo o ci232
clo da cultura, o número total de folhas
mortas e de hastes lesionadas, e o número total de folhas e hastes sadias, após
cada florada. Considerou-se como haste
lesionada aquela com pelo menos uma
lesão. Para avaliação da severidade da
doença foi utilizado um índice de doença (ID) baseado na escala diagramática
desenvolvida para mancha de
Stemphyllium em trevo forrageiro (Clive
James, 1971), variando de 1 a 6, cujos
valores correspondem às seguintes percentagens de área foliar infectada: 1%,
5%, 10%, 25%, 50% e 75%. O índice foi
calculado como a média aritmética das
notas atribuídas a todas as plantas da parcela. Foram analisados apenas os dados
de intensidade de doença coletados após
a quarta florada. Os resultados foram
analisados estatísticamente pelo teste de
Duncan (5%).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A severidade da doença foi menor
quando as pulverizações foram iniciadas mais cedo (tratamentos 1, 2 e 3),
aumentando quando as pulverizações
foram iniciadas a partir da terceira
florada (tratamento 4). Os maiores índices de doença foram observados nos
tratamentos 5 e 6 (Figura 1). A crescente eficiência do controle com pulverizações mais precoces ressalta a importância do controle da mancha de
Mycosphaerella por meio da redução dos
ciclos iniciais de reprodução de lesões,
indicando que a taxa de progresso
(VanderPlank, 1963) desta mancha foliar
é provavelmente muito elevada. A produtividade, tanto em peso quanto em
número de frutos, correlacionou-se negativamente com o aumento da severidade de doença: o coeficiente de correlação para a regressão linear entre índice
de doença e peso de frutos foi de r = 0,84 (P < 0,05) e entre o índice de doença e o número total de frutos produzidos
foi de r = - 0,86 (P < 0,05). A alta correlação entre as variáveis para avaliação de
produtividade e de severidade de doença
mostra que a redução de produtividade
neste experimento foi efetivamente devida à incidência de Mycosphaerella em
folhas e hastes. Os tratamentos não pulverizados ou pulverizados tardiamente
(tratamentos 4, 5 e 6) sofreram uma redução de cerca de 50% da produção em comparação com os tratamentos pulverizados
precocemente (Figura 2). Maior número
de hastes sadias e menor número de hastes lesionadas foram encontrados nos tratamentos Plantio, Flor1 e Flor2 (Figura 3).
A mesma tendência foi observada com
relação ao número de folhas mortas e número de folhas sadias (Figura 3).
Constatou-se alta correlação entre o
peso e número total de frutos produzidos (r = 0,99). Isso indica que qualquer
dessas variáveis pode ser indistintamente adotada como critério para avaliação
da produtividade. De maneira análoga,
encontrou-se alta correlação (r = 0,98)
entre as variáveis número de folhas sadias (FS) e de hastes sadias (HS), e correlações negativas entre cada uma dessas variáveis e o índice de doença (ID
X FS, r = - 0,79; ID X HS, r = -0,89).
Encontrou-se alta correlação (r = 0,90)
entre o número de folhas mortas (FM) e
hastes lesionadas (HL) e também elevada correlação entre cada uma dessas
variáveis e o índice de doença (FM X
ID, r = 0,94; HL X ID, r = 0,95). Esse
resultado certamente verifica a validade da adaptação da escala selecionada
de Clive James (1971, Key No. 2.4) para
o patossistema morango-Mycosphaerella.
Entretanto, embora quaisquer dessas
variáveis (FM, HL ou ID) possa ser indistintamente adotada como critério
para avaliação da severidade de doença, constatou-se que o uso do índice de
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Época de aplicação de fungicida para controle da mancha de Mycosphaerella do morangueiro.
doença apresentou vantagens comparativas se considerada a agilidade de atribuição de notas em menor tempo.
Em conclusão, os resultados mostram que aplicações de fungicidas nas
fases iniciais da cultura são essenciais
ao
controle
da
mancha
de
Mycosphaerella. Todos os critérios de
avaliação indicaram que as pulverizações devem ser iniciadas logo no
transplantio, ou no máximo até a segunda florada. Em aplicações quinzenais,
prochloraz apresentou bom controle da
doença e esta freqüência certamente
pode servir de padrão de investigação
em estudos com outros produtos. Essas
informações são ainda mais importantes para o controle da mancha de
Mycosphaerella pois apontam para uma
significativa redução da quantidade de
produto por ciclo da cultura, uma vez
que a prática atual chega a ser de até 30
pulverizações por ciclo. Por exemplo,
em trabalho realizado no município de
Piedade, SP, prochoraz foi o produto
mais eficiente em controlar M.
fragariae, mas em aplicações semanais
(Domingos et al., 1994). Finalmente,
cabe ressaltar que, pela elevada
toxicidade do p.a. e por não ser registrado para o morangueiro, estudos relativos
ao efeito residual do produto precisam
ser efetuados antes que seja verificada a
viabilidade de utilização em campos de
produção comercial. Por outro lado,
prochloraz poderia ser indicado para a
proteção das mudas, antes do transplantio
definitivo em áreas comerciais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o Prof.
Ricardo Montalván Del Águila pelo
auxílio nas análises estatísticas.
Adalberto C. Café Filho é bolsista de
produtividade em pesquisa/CNPq.
LITERATURA CITADA
CLIVE JAMES, W. A Manual of Assessment Keys
for Plant Diseases . Canada Department of
Agriculture Publication No 1458. 1971.
DOMINGUES, R.J.; TOFOLI, J.G.; OLIVEIRA,
S.H.F. Eficiência de fungicidas no controle de
Colletotrichum
gloeosporioides
e
Mycosphaerella fragariae do morango.
Summa Phytopathologica, Jabiticabal, v. 20,
n. 1, p. 41, 1994.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Plantio: início de pulverizações por ocasião do transplantio das mudas; Flor1: após a primeira
florada; Flor2: após a segunda florada; Flor3: após a terceira florada; Flor4: após a quarta
florada; 6. Test: Testemunha. Barras com letras iguais não diferem significativamente (Duncan,
5%). C.V. = 20%.
Figura 2. Peso e número total de frutos de morango IAC-Campinas, segundo época de
início das pulverizações. Brasília, UnB, 1996.
Plantio: início de pulverizações por ocasião do transplantio das mudas; Flor1: após a primeira
florada; Flor2: após a segunda florada; Flor3: após a terceira florada; Flor4: após a quarta
florada; 6. Test: Testemunha. Barras com letras iguais não diferem significativamente (Duncan,
5%). C.V. para hastes lesionadas e sadias = 37 e 24 %; C.V. para folhas mortas e sadias = 44 e
20 %, respectivamente
Figura 3. Número de hastes lesionadas, hastes sadias e número de folhas mortas e folhas
sadias em morangueiro IAC-Campinas, segundo época de início das pulverizações. Brasília, UnB, 1996.
FURLANETTO, C.; CAFÉ FILHO, A.C.;
TOMITA, C.K.; CAVALCANTI, M.H. Doenças do morangueiro e aspectos da produção
no Distrito Federal. Horticultura Brasileira,
Brasília, v. 14, n. 2, p. 218-220, novembro
1996a.
FURLANETTO, C.; CAFÉ FILHO, A.C.;
TOMITA, C.K.; CAVALCANTI, M.H. Eficiência de fungicidas e de um composto líquido
bioativo no controle da flor preta do morangueiro no Distrito Federal. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 21, p. 399, agosto 1996b.
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233
insumos e cultivares em teste
VELOSO, M.E. da C.; DUARTE, R.L.R.; ATHAYDE SOBRINHO, C.; MELO, F. de B.; RIBEIRO, V.Q. Características comerciais de alho em Picos, PI.
Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3. p. 234-237, novembro 1999.
Características comerciais de alho em Picos, PI1 .
Marcos Emanuel da C. Veloso; Rosa Lucia R. Duarte; Cândido Athayde Sobrinho; Francisco de B. Melo;
Valdenir Q. Ribeiro
Embrapa Meio-Norte, C. Postal 01, 64.006-220 Teresina - PI.
RESUMO
ABSTRACT
Este trabalho teve por objetivo avaliar e selecionar cultivares de
alho para as condições edafoclimáticas da microrregião de Picos,
PI. O experimento foi conduzido em blocos casualizados completos, com oito tratamentos e quatro repetições. As cultivares avaliadas foram Branco Mineiro, Centenário, Amarante, Chinês, Cateto
Roxo, Mexicano II, Cateto Roxo Local e Mossoró. As características avaliadas foram altura de plantas aos 60 e 90 dias após o plantio,
produtividade de bulbos comerciais e incidências de bulbos não comerciais, bulbilhos aéreos, pseudoperfilhamento, bulbos mal formados e de bulbos chochos. A cultivar Mossoró apresentou maior
altura de plantas aos 60 e 90 dias após o plantio. Quanto à produtividade de bulbos comerciais, a cultivar Mossoró foi a mais promissora (4,63 t/ha), porém, não diferindo estatisticamente (P>0,05) das
cultivares Cateto Roxo Local (3,94 t/ha) e Cateto Roxo (3,46 t/ha).
A cultivar Branco Mineiro teve comportamento semelhante à cultivar Cateto Roxo Local e Cateto Roxo. As menores produtividades
comerciais foram observadas para as cultivares Chinês, Centenário,
Amarante e Mexicano II. A cultivar Chinês teve a maior percentagem de bulbos não comerciais (80,05%). Observou-se, um baixo
índice de pseudoperfilhamento para todas as cultivares avaliadas.
Palavras-chave: Allium sativum, melhoramento genético,
produtividade.
Evaluation of garlic cultivars in Picos region, PI.
The objective of this study was to evaluate and select garlic
cultivars for the climatic conditions of Picos region. The experiment
was carried out in a randomized block design, with eight treatments
and four replications. The evaluated cultivars were Branco Mineiro,
Centenário, Amarante, Chinês, Cateto Roxo, Mexicano II, Cateto
Roxo Local and Mossoró. There were evaluated the plant height at
60 and 90 days after planting, commercial bulbs yield, incidence of
non-commercial bulbs, top sets, lateral shoots, malformed and
shrunken bulbs. The cultivar Mossoró showed the highest plant height
at 60 and 90 days after planting. The highest commercial yields were
obtained from “Mossoró” (4.63 t/ha), being the most promising cultivar, and “Cateto Roxo Local” (3.94 t/ha), followed by “Cateto
Roxo” (3.46 t/ha). The cv. Branco Mineiro had similar behavior of
Cateto Roxo Local and Cateto Roxo cultivars. The cultivars Chinês,
Centenário, Amarante and Mexicano II presented the lowest
commercial yields. The cultivar Chinês showed the highest
percentage of non-commercial bulbs (80.5%). All cultivars had low
lateral shoots percentage.
Keywords: Allium sativum, breeding, bulb yield.
(Aceito para publicação em 17 de agosto de 1999).
O
estado do Piauí é o décimo primeiro produtor de alho do Brasil e
o terceiro do Nordeste (Anuário Estatístico do Brasil, 1995). O seu cultivo
localiza-se na microrregião de Picos há
mais de um século, concentrando-se nos
municípios de Picos, Sussuapara e
Bocaina.
Nos últimos anos, tem ocorrido uma
redução sistemática da área plantada com
alho no Piauí, passando de 242 ha em
1990 (Anuário Estatístico do Brasil,
1993) para 38 ha em 1994 (IBGE, 1994)
o que significa redução de 84,3%, aproximadamente. Os problemas que contribuíram para essa redução são vários, prin-
1
cipalmente a ausência de cultivares geneticamente superiores, capazes de competir com o alho importado, principalmente da Argentina, Espanha e China.
Segundo Mueller et al. (1986), citado por Mueller et al. (1990) existem diferenças entre as cultivares de alho, podendo-se observar variações na predisposição ao pseudoperfilhamento e nas
características morfológicas da planta.
Constataram que as cultivares Peruano,
Gigante de Inconfidente e Chinês apresentaram as maiores alturas das plantas
aos 45 dias após o plantio durante quatro
anos de estudo, e que houve uma relação
entre altura de planta e produtividade
com todas as cultivares estudadas, exceto
a cultivar Chinês. Sousa & Casali (1991)
concluíram que o incremento na percentagem de bulbos superbrotados ocorreu
com o aumento das doses de nitrogênio
na cultivar Juréia.
As cultivares Branco Mineiro,
Cateto Roxo e Gigante Roxão apresentaram as menores percentagens de
chochamento,
por
ocasião
de
armazenamento em condições naturais,
aos 60 dias após a colheita (Abreu et
al., 1992).
Ferreira (1989) citado por Leal (1998)
concluiu que houve uma redução acentuada na percentagem de ‘charutos’, à
Projeto de pesquisa financiado com recursos do BNB/ETENE/FUNDECI.
234
Hortic. bras., v. 16, n. 3, nov. 1999.
Características comerciais de alho em Picos, PI.
medida que houve aumento do período
de vernalização do alho semente.
Avaliando 14 cultivares de alho na
região de Utinga, BA, localizada a 600
m de altitude e temperatura variando de
10 a 25°C, Silva (1983) obteve maior
produtividade para as cultivares Dourado (9,58 t/ha), Branco Mineiro (7,13 t/
ha), Gigante de Inconfidente (6,12 t/ha),
Centenário (5,25 t/ha), Chinês (5,22 t/
ha) e Amarante (4,97 t/ha). Em Janaúba,
MG. Mascarenhas et al. (1981) concluíram que as melhores cultivares quanto
ao peso médio de bulbos e número médio de bulbilhos por bulbo foram a Gigante de Ouro Fino, Chinês, Cultura,
Gigante Roxo, Cateto Roxo, Centenário e Dourado. Sonnenberg et al. (1976),
avaliando seis cultivares de alho no
município de Picos (PI), encontraram
maior produtividade (bulbos secos com
folha), para as cultivares Roxo de Capim Branco (7,67 t/ha), Branco Mineiro (4,33 t/ha) e Centenário (3,98 t/ha).
A cultivar local mostrou baixa produtividade (3,73 t/ha) e as cultivares
Amarante e Chinês não formaram bulbos. Duarte et al. (1990) avaliaram 10
cultivares de alho no município de Picos, empregando irrigação por aspersão
e verificaram que as cultivares mais produtivas foram Cateto Roxo (4,92 t/ha) e
Gigante de Inconfidente (3,64 t/ha).
A escolha adequada da cultivar é um
dos principais fatores para o sucesso da
alhicultura (Camargo, 1984). Clones
cultivados em locais diferentes podem
sofrer variações devido às condições
climáticas e fertilidade do solo, o que
pressupõe a necessidade de se conhecer
o comportamento dos materiais adequados para a região (Sousa et al., 1981).
Este trabalho teve por objetivo introduzir, avaliar e selecionar cultivares
de alho para o plantio na microrregião
de Picos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido sob
irrigação por microaspersão no município de Picos, onde o clima, segundo a
classificação de Koeppen, é do tipo Bsh,
quente e semi-árido, com estação chuvosa no verão (IPAM, 1978). A precipitação média anual é de 812,4 mm, sendo que 83,59% aproximadamente, conHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
centra-se nos meses de dezembro a abril,
com distribuição irregular e período
seco de maio a novembro. A temperatura média anual é de 27,5°C, sendo os
meses de abril a julho os mais frios, com
média de 26°C (Departamento Nacional de Meteorologia, 1992).
Utilizou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com oito tratamentos, constituídos pelas cultivares
e quatro repetições. As cultivares avaliadas foram Branco Mineiro, Mossoró,
Cateto Roxo Local, Cateto Roxo,
Amarante, Chinês, Mexicano II e Centenário. Cada parcela foi constituída de
um canteiro de 2,0 m de comprimento
por 1,0 m de largura, onde foram plantados 80 bulbilhos, enquanto que a área
útil foi de 1,5 m de comprimento e 0,80
m de largura, contendo 48 plantas. As
características avaliadas foram altura de
plantas aos 60 e 90 dias após o plantio,
produtividade comercial (bulbos com
diâmetros maior que três centímetros),
produção de bulbos não comerciais (bulbos com diâmetro menor que três centímetros), presença de bulbilhos aéreos,
pseudoperfilhamento,
bulbos
malformados e bulbos chochos.
O plantio foi realizado no dia 09/05/
96, em terra firme, no espaçamento de
0,25 m x 0,10 m. As adubações orgânica e química foram efetuadas de acordo
com a análise química do solo, por ocasião do plantio, constituindo-se de 25 t/
ha de esterco de curral, 100 kg/ha de
sulfato de amônio, 200 kg/ha de
superfosfato triplo, 150 kg/ha de cloreto
de potássio, 10 kg/ha de bórax e 7,5 kg/
ha de sulfato de zinco. Os adubos foram incorporados a uma profundidade
aproximada de 0,25 m. Foi realizada
uma adubação de cobertura 30 dias após
o plantio, utilizando-se 200 kg/ha de
sulfato de amônio.
O sistema de irrigação utilizado foi
o de microaspersão, com emissores espaçados de 7,0 m x 7,0 m, precipitação
média de 1,9 mm/h e raio de alcance de
6,5 m, aproximadamente. Antes do plantio, determinou-se o coeficiente de uniformidade de Christiansen, CUC, o qual
foi de 81,0%, utilizando-se uma pressão média de 200 Kpa, conforme recomendações do fabricante. O manejo de
irrigação foi baseado na evaporação do
tanque classe A, fornecido pela estação
Meteorológica de Picos e monitorada
por duas baterias de tensiômetros, instalados nas linhas de plantio do alho a
0,15 e 0,30 m de profundidade. A evaporação do tanque classe A foi de 1.036
mm no período, com um valor máximo
de 12,44 mm, mínimo de 2,94 mm e
uma média de 7,67 mm, apresentando
um desvio padrão de 2,00 mm. Foi aplicada uma lâmina de irrigação de 544
mm para as cultivares Branco Mineiro,
Centenário, Cateto Roxo Local e
Mossoró e 728 mm para as cultivares
Amarante, Chinês, Cateto Roxo e Mexicano II. A colheita dessas cultivares
foi feita aos 106 e 133 dias, respectivamente, após o plantio.
As capinas foram feitas manualmente, de acordo com as necessidades
requeridas. Ao longo do ciclo, houve a
ocorrência de trips (Trips tabaci), vaquinha (Diabrotica speciosa), fusariose
(Fusarium sp.) e mancha púrpura (Alternaria porri), as quais foram controladas em tempo hábil com produtos químicos específicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cultivar Mossoró apresentou a maior
altura de plantas aos 60 dias após o plantio, não diferindo, porém, das cultivares
Amarante, Branco Mineiro e Chinês
(P>0,05) e estas, não diferindo das demais.
A cultivar Mossoró também apresentou
maior altura de plantas aos 90 dias após o
plantio, não diferindo (P>0,05), entretanto, das cultivares Amarante, Branco Mineiro, Chinês, Cateto Roxo Local e Centenário (Tabela 1).
O peso de bulbos comerciais e a percentagem de bulbos não comerciais, 30
dias após a colheita, encontram-se na
Tabela 1. Quanto à produtividade de
bulbos comerciais, a cultivar Mossoró
foi a mais promissora não diferindo,
porém, (P>0,05) das cultivares Cateto
Roxo Local e Cateto Roxo. A cultivar
Cateto Roxo (3,46 t/ha) foi superior
(P<0,05) às cultivares Mexicano II,
Amarante, Centenário e Chinês e teve
comportamento semelhante às cultivares Cateto Roxo Local e Mossoró. A
cultivar Branco Mineiro chegou a produzir 7,13 t/ha na Bahia, em condições
de clima mais ameno (Silva, 1983) e
4,33 t/ha no município de Picos, consi235
M.E. da C. Veloso et al.
Tabela 1. Altura de plantas aos 60 e 90 dias após o plantio, produtividade de bulbos comerciais e incidências de bulbos não comerciais aos
30 dias após a colheita. Picos (PI), Embrapa Meio-Norte, 1996.
Cultivares
Altura de plantas (cm)
60 dias
90 dias
Bulbos comerciais
(t/ha)
Bulbos não
comerciais
(%)
10,30
Mossoró
44,95 a
50,60 a
4,63 a
Amarante
Branco Mineiro
Chinês
42,52 ab
41,50 ab
41,10 ab
45,92 ab
49,22 a
44,25 ab
1,62
de
3,24 bc
0,33
f
46,18
18,23
80,05
Cateto Roxo Local
Mexicano II
Centenário
40,57 b
40,02 b
39,25 b
48,55 ab
42,10 b
47,40 ab
3,94 ab
2,55
cd
0,84
ef
10,31
39,43
35,34
Cateto Roxo
CV (%)
39,07 b
4,31
41,82 b
6,23
3,46 abc
20,90
23,99
Médias seguidas da mesma letra na vertical, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P<0,05)
Tabela 2. Percentagem de bulbilhos aéreos, pseudoperfilhamento, bulbos mal formados e bulbos chochos, aos 30 dias após a colheita.
Picos-PI, Embrapa Meio-Norte, 1996.
Bulbilhos aéreos
(%)
Pseudoperfilhamento
(%)
Mossoró
15,10
2,08
Bulbos mal
formados
(%)
0,00
Cateto Roxo local
Cateto Roxo
Branco Mineiro
Mexicano II
24,47
12,50
0,00
36,97
0,00
0,00
3,68
1,56
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,22
2,03
2,18
Amarante
Centenário
Chinês
15,10
0,00
8,85
0,00
0,00
0,00
4,53
18,15
0,42
0,00
6,13
3,06
Cultivares
derando o peso de bulbos secos com
palha (Sonnenberg et al., 1976). Em
1989, a cultivar Cateto Roxo foi a mais
produtiva no município de Picos, com
4,92 t/ha (Duarte et al., 1990). No presente trabalho, a cultivar Cateto Roxo,
também se destacou entre as mais produtivas, com uma produção de bulbos
comerciais de 3,46 t/ha. A baixa produtividade observada nas cultivares Mexicano II, Amarante, Centenário e Chinês ocorreu devido, provavelmente, à
ausência de temperatura amena.
A maior percentagem de bulbos não
comerciais foi obtida pela cultivar Chinês, com 80,05%, seguida das cultivares Amarante e Mexicano II. As cultivares Mossoró, Cateto Roxo Local,
Branco Mineiro e Cateto Roxo apresentaram as menores percentagens de bulbos não comerciais (Tabela 1).
236
Elevado índice de bulbilhos aéreos foi
observado para as cultivares Mexicano
II (36,97%), Cateto Roxo Local
(24,47%), Mossoró e Amarante (15,10%)
(Tabela 2). Observou-se, ainda, um baixo índice de pseudoperfilhamento para
todas as cultivares testadas. As percentagens de bulbos tipo charuto foram mais
acentuadas para as cultivares Centenário (18,15%) e Amarante (4,53%). Quanto à produção de bulbos chochos, a cultivar Mexicano II foi a que apresentou a
maior percentagem desse tipo de bulbo
(6,13%).
Considerando o aspecto produtividade comercial, conclui-se que os mais
altos índices foram obtidos pelas cultivares Mossoró (4,63 t/ha), Cateto Roxo
Local (3,94 t/ha) e Cateto Roxo (3,46 t/
ha), seguido da cultivar Branco Mineiro (3,24 t/ha).
Bulbos chochos
(%)
1,85
LITERATURA CITADA
ABREU, C.L.M. de; RODRIGUES, E.T.;
MONDIN, M. Comportamento de cultivares
de alho em Chapada das Guimarães. Cuiabá:
EMPAER, 1992. 2 p. (EMPAER. Comunicado Técnico, 2).
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL. Rio de
Janeiro: IBGE, v. 53, 1993.
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Avaliação da eficiência de formulações de Bacillus thuringiensis para o
controle de traça-das-crucíferas em repolho no Distrito Federal.
Marina Castelo Branco
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70.359-970, Brasília - D.F
RESUMO
ABSTRACT
A traça-das-crucíferas (Plutella xylostella) é a praga mais importante do repolho no Distrito Federal. Seu controle é feito basicamente com inseticidas. Novos produtos são constantemente avaliados para o controle da praga e neste trabalho duas novas formulações de Bacillus thuringiensis [Bacillus thuringiensis var. aizawai
(350 e 500 g/ha) e B. thuringiensis var. kurstaki x B. thuringiensis
var. aizawai (350 e 500 ml/ha)] foram avaliadas no período de maio
a outubro de 1995. Os tratamentos B. thuringiensis var. kurstaki (500
ml/ha), deltametrina (240 ml/ha) e uma testemunha sem pulverização foram também incluídos no experimento. O delineamento foi
blocos ao acaso, com sete tratamentos e quatro repetições. Os resultados mostraram que B. thuringiensis var. aizawai nas duas dosagens avaliadas e B. thuringiensis var. kurstaki x B. thuringiensis var.
aizawai (500 ml/ha) foram os produtos mais eficientes. Ao final do
experimento larvas e pupas de traça-das-crucíferas foram coletadas
no campo e a primeira geração foi submetida a um teste de laboratório onde discos de folhas de repolho foram tratados com as dosagens dos inseticidas a base de B. thuringiensis utilizadas no campo.
Larvas de segundo estádio foram colocadas sobre os discos tratados
e a mortalidade de larvas avaliada após 72 h. Todos os tratamentos
causaram mais de 97% de mortalidade de larvas. O resultado do
teste de laboratório sugere que a menor eficiência de B. thuringiensis
var. kurstaki x B. thuringiensis var. aizawai (350 ml/ha) e B.
thuringiensis var. kurstaki (500 ml/ha) no teste de campo quando
comparada aos demais Bacillus, pode ser devido à mais rápida degradação destes produtos no ambiente.
Efficiency of Bacillus thuringiensis formulations in
controlling Diamondback Moth in cabbage in the Federal
District.
Palavras-chave: Brassica oleracea var. capitata, controle químico,
traça-das-crucíferas, Plutella xylostella, Bacillus thuringiensis.
Keywords: Brassica oleracea var. capitata, chemical control,
Diamondback Moth, Plutella xylostella, Bacillus thuringiensis.
The Diamondback Moth (Plutella xylostella) is the most
important cabbage pest in the Federal District. New insecticides are
frequently tested for its control and in this study two new Bacillus
thuringiensis formulations [B. thuringiensis var. aizawai (350 and
500 g/ha) and B. thuringiensis var. kurstaki x B. thuringiensis var.
aizawai (350 and 500 ml/ha)] were tested between May and October
1995. The insecticides B. thuringiensis var. kurstaki (500 ml/ha),
deltamethrin (240 ml/ha) and an untreated check were also included
in the experiment. A randomized block, with seven treatments and
four replications was used. The results showed that B. thuringiensis
var. aizawai at the two dosages and B. thuringiensis var. kurstaki x
B. thuringiensis var. aizawai at a dosage of 500 ml/ha were the most
efficient products. After the end of the field experiment,
Diamondback Moth larvae and pupae were collected from the experimental area. The insects were reared in the laboratory and second
instar larvae from the first generation were fed with leaf discs treated
with the B. thuringiensis dosages used in the field experiment. All
products caused more than 97% larval mortality. The laboratory test
suggests that the reduced efficiency of B. thuringiensis var. kurstaki
(500 ml/ha) and B. thuringiensis var. kurstaki x B. thuringiensis var.
aizawai (350 ml/ha) in the field test may be due to the poor persistence
of the products in the environment.
(Aceito para publicação em 15 de outubro de 1999)
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
237
M. Castelo Branco
D
entre as pragas que ocorrem no repolho no Distrito Federal, a traçadas-crucíferas (Plutella xylostella) é a
principal. As larvas do inseto danificam
as cabeças de repolho causando perfurações e consequentemente, reduzem o
valor do produto (Filgueira, 1987). A
ausência de precipitação no período de
abril a setembro favorece o crescimento populacional da traça-das-crucíferas
no Distrito Federal (França et al., 1985).
Nesta época inseticidas são intensivamente utilizados para o controle da praga e o número de pulverizações pode
chegar a até 16 por ciclo de cultivo.
Muitas vezes, esse elevado número de
pulverizações está associado ao fato de
que os inseticidas não conseguem controlar as populações da praga devido à
resistência destas aos produtos utilizados. Este é o caso dos inseticidas
piretróides e fosforados usados para o
controle da traça-das-crucíferas no Distrito Federal (Castelo Branco &
Gatehouse, 1997).
Testes de laboratório utilizando a
mesma dosagem do inseticida que é utilizada no campo, tem sido realizados
para avaliar a taxa de mortalidade de
larvas ocasionada pelo inseticida. Com
isso pode-se identificar se uma das causas da baixa eficiência dos inseticidas
no campo é a ineficiência das dosagens
utilizadas, ou seja, a resistência da população ao produto (Zhao et al., 1995).
Resultados experimentais demonstraram que dosagens de piretróides
ineficientes no campo, resultam em
mortalidade menor que 72% de larvas
de traça-das-crucíferas em laboratório
(Castelo Branco & Melo, 1992).
Como novos inseticidas são constantemente lançados no mercado para o
controle da traça-das-crucíferas, este trabalho teve como objetivo: a) avaliar a
eficiência de dois novos produtos à base
de Bacillus thuringiensis [Bacillus
thuringiensis var. aizawai (350 e 500 g/
ha) e B. thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai (350 e 500 ml/
ha)] para o controle da praga. Os tratamentos B. thuringiensis var. kurstaki
(500 ml/ha) e deltametrina (240 ml/ha)
foram também incluídos no experimento; b) avaliar em laboratório a eficiência dos produtos nas dosagens recomendadas, através da taxa de mortalidade
238
de larvas ocasionada pelos produtos à
base de B. thuringiensis.
MATERIAIS E MÉTODOS
1. Experimento de campo: A avaliação da eficiência das formulações de
B. thuringiensis para o controle de traça-das-crucíferas foi realizada no campo experimental da Embrapa Hortaliças,
no período de maio a outubro de 1995.
Foi utilizado o delineamento de blocos
ao acaso, com sete tratamentos, quatro
repetições e parcelas de cinco linhas
com dez plantas. A cultivar de repolho
utilizada foi Kenzan. As pulverizações
foram semanais e iniciadas três semanas após o transplante. Os inseticidas
usados foram: B. thuringiensis var.
kurstaki x B. thuringiensis var. aizawai
(350 e 500 ml/ha); B. thuringiensis var.
aizawai (350 e 500 g/ha); B.
thuringiensis var. kurstaki (500 ml/ha)
e deltametrina (240 ml/ha). Foi ainda
incluída uma testemunha sem pulverização. As avaliações foram feitas por
ocasião da colheita em doze plantas tomadas ao acaso nas três linhas centrais
de cada parcela. As seguintes características foram avaliadas: a) número de
furos na cabeça; b) notas (1 = cabeça
sem furos ou furos muito pequenos (cabeças comerciais); 2 = cabeças com furos médios (cabeças comerciais); 3 =
cabeças com furos grandes (cabeças não
comerciais) e 4 = cabeça totalmente
danificada(cabeças não comerciais) e c)
percentagem de cabeças comerciais. Os
dados foram submetidos à análise de
variância e utilizou-se o teste de Duncan,
a 5% de probabilidade, para a separação de médias.
2. Experimento de laboratório:
Neste experimento foi avaliada a taxa
de mortalidade de larvas ocasionada
pelos produtos à base de B.
thuringiensis. Larvas e pupas de traçadas-crucíferas foram coletadas na área
do experimento de campo descrito anteriormente em outubro de 1995. Estas
foram criadas em laboratório até a emergência dos adultos, os quais foram colocados em gaiolas contendo folhas de
repolho para a obtenção de ovos. As
folhas contendo os ovos foram acondicionados em caixas plásticas até que larvas de segundo estádio se desenvolves-
sem para que fossem então utilizadas no
teste de laboratório. Neste teste discos
de folhas de repolho de 4 cm de diâmetro foram imersos em água ou nas soluções dos inseticidas B. thuringiensis var.
kurstaki x B. thuringiensis var. aizawai
(350 e 500 ml/ha), B. thuringiensis var.
kurstaki (500 ml/ha) e B. thuringiensis
var. aizawai (350 ml/ha) e postos a secar ao ambiente por uma hora. Após este
período, os discos de folha foram dispostos individualmente em placas de
Petri e sobre cada um foram colocadas
10 larvas de segundo instar. A mortalidade das larvas foi avaliada após 72
horas. O delineamento foi completamente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições. Os dados
foram submetidos à análise de variância
e foi utilizado o teste de Duncan, a 5%
de probabilidade, para a separação de
médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A população da traça-das-crucíferas
na área do experimento de campo foi
elevada. A testemunha, onde nenhum
inseticida foi utilizado, apresentou uma
média de 98 furos por cabeça e produziu apenas 4% de cabeças comerciais
(Tabela 1).
Os inseticidas B. thuringiensis var.
aizawai nas duas dosagens avaliadas e
B. thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai (500 ml/ha)
foram os inseticidas mais eficientes. As
plantas destes tratamentos apresentaram
as menores notas e os menores números de furos (Tabela 1). Mais de 72% de
cabeças comerciais foram produzidas
(Tabela 1). B. thuringiensis var. kurstaki
x B. thuringiensis var. aizawai (350 ml/
ha) e B. thuringiensis var. kurstaki (500
ml/ha) foram os produtos a base de B.
thuringiensis que apresentaram a menor
eficiência, com uma produção de 45%
e 39% de cabeças comerciais respectivamente (Tabela 1).
Deltametrina foi o inseticida que
apresentou a menor eficiência. As cabeças de repolho apresentaram a maior
nota, o maior número de furos e a produção foi de apenas 4% de cabeças comerciais, produção semelhante à testemunha sem pulverização (Tabela 1).
Esta baixa eficiência de deltametrina no
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Eficiência de Bacillus thuringiensis no controle de traça-das-crucíferas.
Tabela 1. Eficiência de formulações de Bacillus thuringiensis para o controle de traça-das-crucíferas. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1995.
Tratamento
Dosagem
(g ou ml/ha)
Nota 1
Número de furos
% de cabeças
comerciais2,3
B. thuringiensis var. aizawai
350
1,97 a
22,25 a
85, a
B. thuringiensis var. aizawai
B. thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai
B. thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai
500
2,12 a
24,25 a
76, a
500
2,25 ab
30,75 ab
72, a
350
2,29 ab
42,00 bc
45, b
B. thuringiensis var. kurstaki
500
39, b
Testemunha
Decis
2,58 bc
48,25
--
2,75
98,00
d
4,
c
240
3,18
99,75
d
4,
c
CV(%)
c
d
10,12
17,21
c
27,01
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan (p >0,05)
1/
Notas variando de 1 a 4, sendo 1= cabeças sem furos, 2= cabeças com furos médios, 3= cabeças com furos grande, 4= cabeça totalmente
danificada.
2/
Análise realizada sobre valores transformados para arco-seno raíz quadrada da percentagem.
3/
Cabeças comerciais com notas 1 e 2.
Tabela 2. Percentagem de mortalidade de traça-das-crucíferas em testes de laboratório,
após tratamento com diferentes formulações de Bacillus thuringiensis. Brasília, Embrapa
Hortaliças, 1995.
Tratamento
B. thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai
B. thuringiensis var. aizawai
B. thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai
B. thuringiensis var. kurstaki
Testemunha
C.V. (%)
Dose
(g ou ml/ha)
% mortalidade
de larvas após
72hs1
500
100, a
350
100, a
350
98, a
500
97, a
---
9, b
6,86
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan (p >0,05)
1/
Análise realizada sobre valores transformados para arco-seno raíz quadrada da percentagem.
Distrito Federal já havia sido observada
em experimentos de campo (Castelo Branco & Melo, 1992; França & Medeiros,
1998) e em áreas de produção de agricultores. Uma das principais causas da falha
de controle do produto é a resistência das
populações locais ao inseticida (Castelo
Branco & Gatehouse, 1997).
Os resultados do teste de laboratório mostraram que todos os produtos à
base de B. thuringiensis causaram mortalidade de larvas superior a 97%, não
havendo diferença significativa entre os
inseticidas (Tabela 2). Este resultado
indica que as dosagens testadas em laboratório, as quais foram semelhantes
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
às testadas em campo, eram eficientes
para ocasionar um elevado percentual
de mortalidade de larvas da população
testada. No entanto, em campo, B.
thuringiensis var. kurstaki (500 ml/ha)
e B. thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai (350 ml/ha)
não foram eficientes para o controle da
traça-das-crucíferas (Tabela 1). O que
poderia então ter ocasionado a baixa
eficiência destes produtos?
É sabido que B. thuringiensis se degrada rapidamente quando submetido à
luz solar. Formulações diferentes (Pontes, 1995) ou dosagens diferentes de um
mesmo produto (Li & Fitzpatrick,
1996), podem apresentar diferentes degradações em campo. Essas diferenças
de degradação podem afetar a eficiência dos inseticidas. No que se refere a
diferenças de formulação, McGuire et
al. (1996), observaram que quando
sucrose foi adicionada à solução de B.
thuringiensis var. kurstaki o produto se
degradou mais lentamente em presença
de luz solar e foi eficiente por mais tempo para o controle da traça-dascrucíferas. No que se refere à eficiência
de diferentes dosagens, Pingel & Lewis
(1997) observaram que quando uma
dose de 3 g/l de B. thuringiensis var.
kurstaki foi utilizada para o controle de
Helicoverpa zea, 50% das espigas de
milho foram danificadas pela praga.
Quando a dose de 6 g/l foi utilizada, o
dano em espigas foi reduzido para 17%.
Assim sendo, é provável que a formulação de B. thuringiensis var. kurstaki
com a dosagem de 500 ml/ha e a dosagem de 350 ml/ha B. thuringiensis var.
kurstaki x B. thuringiensis var. aizawai
tenham se degradado mais rapidamente
do que as demais formulações ou dosagens utilizadas e por isso tiveram a sua
eficiência reduzida. Para tentar melhorar a eficiência de B. thuringiensis var.
kurstaki, dosagens maiores que 500 ml/
ha podem ser testadas, e possivelmente
recomendadas, se estas forem viáveis
economicamente. Pode ser testada também a adição de sucrose como sugerido
por McGuire et al. (1996) para o aumento da eficiência do produto. Para B.
239
M. Castelo Branco
thuringiensis var. kurstaki x B.
thuringiensis var. aizawai é recomendado o uso da dosagem de 500 ml/ha.
AGRADECIMENTOS
A autora agradece ao Dr. Félix H.
França e ao Comitê de Publicações da
Embrapa Hortaliças pela revisão e sugestões apresentadas. A Hozanan P.
Chaves e Ronildo C. Gonçalves pelo
auxílio nos trabalhos de campo e laboratório. A Hoeschst Schering AgrEvo do
Brasil Ltda pelo auxílio financeiro.
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p. 240-243, novembro 1999.
Produção hidropônica de alface cv. Verônica em diferentes substratos1 .
Helton L. Tavares; Ana Maria R. Junqueira2
2
Universidade de Brasília – Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – Núcleo de Apoio à Competitividade e Sustentabilidade da
Agricultura, Caixa Postal 4.508, 70910-970, Brasília-DF.
RESUMO
ABSTRACT
Em um experimento realizado na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília, (DF), no período de setembro a novembro de
1997, foi avaliado o desempenho da alface, cultivar Verônica, em
diferentes substratos, sob cultivo hidropônico. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado com três tratamentos: casca de
arroz, brita e seixo, em 25 repetições. Após 62 dias de cultivo as
plantas foram colhidas e avaliadas. Observou-se o peso da planta e
da raiz, o número de folhas e o diâmetro da cabeça. As folhas mais
novas foram coletadas para análise de macro e micronutrientes. As
plantas que se desenvolveram em casca de arroz apresentaram peso,
tanto de planta quanto de raiz, significativamente superior ao observado nos outros dois tratamentos. Não foi observada diferença estatística significativa para peso de planta e de raiz nos tratamentos
brita e seixo. Quanto ao número de folhas e diâmetro da cabeça
foram observadas diferenças estatísticas significativas entre todos
os tratamentos, sendo que ambos foram maiores em plantas cultivadas em casca de arroz, seguida da brita e seixo. Não houve diferença
estatística significativa na absorção de macronutrientes entre os tratamentos. As plantas cultivadas em casca de arroz absorveram significativamente menos zinco e cobre que as plantas cultivadas nos
outros dois substratos.
Yield response of hydroponic lettuce grown on three different
substrates.
Palavras-Chave: Lactuca sativa L., hidroponia, brita, seixo, casca
de arroz.
Keywords: Lactuca sativa L., hydropony, gravel, pebble, rice husk.
In an experiment carried out between September and November
1997 at Fazenda Água Limpa, Universidade de Brasília, Brazil, growth
and yield of lettuce cultivar Verônica were evaluated on three different
substrates in a hydroponic system. The experimental design was a
complete randomized block with three treatments: rice husk, gravel
and pebble, with 25 replicates. After 62 days, plants were collected
and plant and root weight, number of leaves and head diameter were
evaluated. The younger leaves from plants from all treatments were
also collected for macro and micronutrients analyses. Plants grown
on rice husk showed significantly higher plant and root weight
compared to those grown on gravel and pebble. No statistically
significant difference was observed for plant and root weight in gravel
and pebble treatments. Statistically significant differences between
all treatments were observed on the basis of number of leaves and
head diameter. Both parameters were higher in plants grown on rice
husks, followed by gravel and pebble. No differences were observed
in the absorption of macronutrients amongtreatments. However, plants
grown on rice husk absorbed less zinc and copper than plants grown
on gravel and pebble.
(Aceito para publicação em 18 de setembro de 1999)
1
Trabalho realizado como parte das exigências para obtenção do grau de Engenheiro Agrônomo pelo primeiro autor.
240
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Produção hidropônica de alface cv. Verônica em diferentes substratos.
H
idroponia é o nome dado a todas
as formas de cultivo em solução
nutritiva sem uso do solo. O termo
hidroponia deriva de duas palavras gregas: hidro, água e ponos, trabalho. A
combinação destas duas palavras significa “trabalhar com a água”, e implicitamente, o uso de soluções de adubos
químicos para o cultivo de plantas na
ausência do solo (Douglas, 1987;
Castellane & Araujo, 1995).
A hidroponia vem se tornando uma
alternativa bastante interessante em relação ao cultivo tradicional feito no solo.
Ela pode ser usada em regiões em que
há pouca disponibilidade de terras
agricultáveis e em regiões onde ocorreu um uso excessivo do solo, causando desequilíbrio em sua microfauna,
aumentando o nível de infestação de
patógenos de solo, problema frequente
em solos sob estufa. Assim, mesmo em
países tropicais com abundância de terra como o Brasil, a hidroponia tem sido
utilizada com bastante êxito. Além da
sua elevada capacidade de produção,
independente de clima ou de solo, a
hidroponia oferece ainda produtos de
alta qualidade e com uso bastante reduzido de agrotóxicos, se comparada ao
meio tradicional de cultivo no solo
(Castellane & Araujo, 1995; Junqueira
et al., 1997).
Praticamente qualquer planta que
cresça naturalmente no solo pode ser
cultivada em hidroponia. Entre elas, árvores de pequeno porte, arbustos, plantas
herbáceas
como
cereais,
leguminosas, plantas ornamentais, hortaliças e outras (Crocomo, 1986).
A alface (Lactuca sativa L.), por
ocupar pouco espaço, atingir mais rapidamente o ponto de comercialização e
pelo rápido retorno financeiro, é a cultura que vem ganhando cada vez mais
espaço na produção hidropônica (Zito
et al., 1994).
Existem
diversos
sistemas
hidropônicos. Um dos mais utilizados é
o NFT (Nutrient Film Technique) onde a
planta absorve os nutrientes diretamente
de um filme de água que passa pelas suas
raízes. Apesar deste método apresentar
algumas vantagens como o de ser desfavorável ao desenvolvimento de algas e à
salinização, este sistema apresenta a desvantagem de exigir um tempo de repouHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
so muito curto e um alto consumo de
energia (Castellane & Araujo, 1995;
Martinez & Silva Filho, 1997).
O desenvolvimento de técnicas que
reduzam o consumo de energia em
hidroponia é de fundamental importância, pois com isso haverá uma redução
no custo de produção (Tavares, 1997).
Umas destas técnicas é o sistema NFTmodificado. Neste sistema são utilizados substratos que permitam uma retenção maior da umidade e uma diminuição no consumo de energia. No entanto
existe uma limitação para seu uso que é
o de não se conhecer ainda os substratos
que apresentam as melhores condições
para a produção hidropônica de plantas.
No presente trabalhou procurou-se
avaliar entre três substratos: brita, seixo
de rio e casca de arroz ao natural, qual
seria o mais apropriado para o cultivo de
alface no sistema NFT-modificado.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em uma
casa de vegetação na Fazenda Água
Limpa da Universidade de Brasília, localizada no Núcleo Rural Vargem Bonita (DF), no período de setembro a novembro de 1997.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com
três tratamentos: casca de arroz, brita e
seixo em 25 repetições, utilizando-se o
sistem NFT-modificado. Os substratos
foram esterilizados com uma solução à
base de hipoclorito de sódio a 5%.
O sistema hidropônico era composto de um depósito de solução, de um
conjunto moto-bomba, bancada e canais
para circulação da solução nutritiva, de
canos para o transporte da solução até
os canais e retorno até o depósito e um
temporizador.
A solução nutritiva foi preparada
conforme recomendação da Embrapa
Hortaliças (Junqueira et al., 1997) com
a seguinte formulação para 1.000 litros:
550 g de sulfato de magnésio, 950 g de
nitrato de cálcio, 810 g de nitrato de
potássio, 115 g de monofosfato de
amônio, 3,0 g de ácido bórico, 0,2 g de
molibdato de sódio, 2,0 g de sulfato de
manganês, 0,15 g de sulfato de cobre,
0,2 g de sulfato de zinco e 60 g de ferro
EDTA – Ferrilene.
Na fase de berçário foi utilizada solução nutritiva com 50% de concentração de sais. Quando as plantas foram
transferidas para o leito definitivo utilizou-se solução completa.
Trabalhou-se com a cultivar
Verônica devido à sua boa adaptação em
cultivos feitos no verão. As mudas foram produzidas em bandejas de isopor
com substrato artificial à base de
vermiculita e foram transplantadas para
o berçário com 22 dias. O berçário era
composto por 12 canais e a cada quatro
canais foi colocado um substrato diferente. O espaçamento das plantas no
berçário era de 5 cm x 5 cm e o número
de plantas por substrato era de 80,
totalizando 240 plantas na bancada. A
vazão no canal era de 1,5 litros por minuto e o tempo de funcionamento e de
repouso foram ajustados conforme a
necessidade da planta, sendo 15 minutos de funcionamento e 45 minutos desligado no período diurno (8 às 18 horas) e 15 minutos de funcionamento e
uma hora de repouso durante o período
noturno (18 às 8 horas). Isto foi usado
para os primeiros dois dias de cultivo,
pois as plantas estavam em fase de adaptação. No terceiro dia de cultivo o tempo
de repouso passou para uma hora durante o dia e duas horas durante a noite, sendo que o tempo de funcionamento permaneceu o mesmo. O pH da solução foi
mantido no intervalo de 6,0 a 6,5 sendo
monitorado com peagâmetro. As plantas permaneceram no berçário por treze
dias e foram transplantadas para o leito
definitivo com quatro folhas completamente desenvolvidas.
No leito definitivo as plantas foram
dispostas em um espaçamento de 25 x
25 cm. Foram transplantadas 31 plantas
por substrato, totalizando 93. A vazão
dos canais foi de 2,0 litros por minuto e
o tempo de funcionamento do conjunto
moto-bomba, assim como no berçário,
foi ajustado conforme as necessidades
da planta ao longo do ciclo. Assim, no
primeiro dia o sistema foi ligado por 15
minutos, ficando desligado por 45 minutos durante o dia e, à noite ficou funcionando por 15 minutos e por uma hora
ficou desligado. Foi utilizado um tempo mais curto para que as plantas se
adaptassem ao novo ambiente. Depois
de 24 horas o tempo de repouso foi al241
Tavares & A.M. R. Junqueira
terado para 2 horas durante o dia e 3
horas durante a noite, o que permaneceu durante todo o restante do ciclo.
Após 62 dias, 25 plantas foram colhidas ao acaso em cada substrato. Para
cada planta avaliou-se o peso da planta,
o peso da raiz, número de folhas e o diâmetro da cabeça. As folhas mais novas foram coletadas para a análise dos
macro e dos micronutrientes presentes
em sua composição. Foi efetuada análise de variância e os dados foram comparados pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve diferença estatística significativa entre os tratamentos seixo e
brita quanto ao peso da planta e peso da
raiz (Tabela 1). No entanto, para ambos
os parâmetros, os valores observados
nas plantas cultivadas em casca de arroz foram estatisticamente superiores
aos valores observados em plantas cultivadas no outros substratos.
Foi observada diferença estatística
significativa entre todos os tratamentos
no número de folhas e diâmetro da cabeça, sendo que para ambos os
parâmetros os maiores valores foram
observados nas plantas cultivadas em
casca de arroz, seguida das plantas cultivadas em brita e seixo.
No tratamento com casca de arroz,
onde observou-se que a alface apresentou maior peso (119,6 g), constatou-se
que este peso foi inferior ao obtido por
Horino et al. (1993) para a mesma cultivar, que foi de 169,2 g e 17,8 folhas
por planta; e inferior ao relatado por Vaz
(1997), que obteve para a mesma cultivar o peso de 183,40 g. Em ambos experimentos as plantas foram cultivadas
diretamente em solução nutritiva.
As plantas de alface cultivadas nos
diferentes substratos não apresentaram
diferença estatística significativa na absorção de macronutrientes (Tabela 2).
No entanto, foi observada diferença estatística significativa na absorção dos
micronutrientes cobre e zinco (Tabela
3). As plantas cultivadas em casca de
arroz apresentaram teor de zinco e cobre inferior ao observado nas plantas
cultivadas em brita e seixo.
242
Tabela 1. Peso médio das plantas e raízes (g), número médio de folhas e diâmetro médio da
planta de alface (cm) cultivadas em sistema hidropônico utilizando três diferentes substratos.
Brasília, UnB, 1997.
Parâmetros
Peso médio das plantas
Peso médio das raízes
Número médio de folhas por planta
Diâmetro médio da cabeça
Casca de
arroz
119,60a*
58,20a
39,40b
28,80b
23,40b
27,72b
18,68a
34,72a
12,16b
22,92b
9,52 c
17,96 c
Brita
Seixo
*As médias seguidas pela mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P <0,05).
Tabela 2. Teores médios de macronutrientes encontrados em folhas de alface sob cultivo
hidropônico utilizando três diferentes substratos (g.Kg-1 do peso seco). Brasília, UnB, 1997.
Parâmetros
Nitrogênio
Casca de arroz
23,50a*
Brita
23,50a
Seixo
24,50a
Fósforo
1,50a
1,45a
1,55a
Potássio
Cálcio
9,25a
3,20a
9,75a
4,00a
7,75a
2,75a
Magnésio
Enxofre
0,80a
0,65a
0,50a
0,60a
0,60a
0,70a
* As médias seguidas pela mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P < 0,05).
Tabela 3. Teores médios de micronutrientes encontrados em folhas de alface sob cultivo
hidropônico utilizando três diferentes substratos (mg.Kg-1 ). Brasília, UnB, 1997.
Parâmetros
Boro
Zinco
Casca de arroz
77,10a*
52,30 b
Brita
119,80a
121,50a
Seixo
173,75a
97,25ab
Ferro
Manganês
Cobre
237,00a
271,50a
6,30 b
285,00a
300,50a
12,85a
305,25a
200,00a
13,95a
Cobalto
Molibdênio
Sódio
1,11a
95,25a
385,00a
2,22a
145,00a
385,00a
1,89a
71,05a
437,50a
* As médias seguidas pela mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey
(P < 0,05).
Segundo Malavolta (1989) os teores ideais dos macronutrientes encontrados em folhas de alface cultivado em
solo são: N = 30,0 g.Kg-1; P = 3,50 g.Kg1; K = 50,0g.Kg-1; Ca = 12,50 g.Kg-1 ;
Mg = 3,50 g.Kg-1 e S = 2,0 g.Kg-1. Raji
(1996) apresenta como parâmetro ideal
para os micronutrientes os seguintes
valores: Bo = 30 a 60 mg.Kg-1; Cu = 7 a
20 mg.Kg-1; Fe = 50 a 150 mg.Kg-1; Mn
= 30 a 150 mg.Kg-1 e Zn = 30 a 100
mg.Kg-1 . A deficiência de alguns dos
nutrientes observada na análise foliar
das plantas de alface colhidas neste experimento pode estar relacionada à concentração e disponibilidade da solução
nutritiva durante o ciclo da cultura.
Verificou-se que o substrato casca de
arroz permaneceu úmido por tempo superior ao observado nos outros dois
substratos. Porém, mesmo assim, observou-se deficiência de vários nutrientes
nas plantas desenvolvidas em casca de
arroz, sugerindo que a solução nutritiva
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Produção hidropônica de alface cv. Verônica em diferentes substratos.
preparada não continha a quantidade
necessária de nutrientes para a cultura
da alface, tendo sido, provavelmente, a
causa do baixo peso da alface em todos
os tratamentos. O tempo de contato entre a solução nutritiva e as raízes nos
tratamentos brita e seixo foi, provavelmente, inferior ao observado em casca
de arroz, contribuindo para acentuar a
deficiência nutricional e os baixos pesos observados. É possível que um ajuste na concentração da solução nutritiva,
bem como no tempo de funcionamento
e de repouso do sistema motobomba, de
maneira que a solução nutritiva possa
permanecer por mais tempo nas bancadas, possa vir a contribuir para um aumento de peso da cabeça de alface produzida em brita e seixo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao PIBIC-UnB/
CNPq, pela concessão de bolsa, ao Professor Tsuneharu Kaneshiro e ao Agrônomo Eity Kato da Faculdade de Agro-
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
nomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília, pela colaboração na
instalação do sistema hidropônico, aos
funcionários da Fazenda Água Limpa,
Robson Figueiredo Cunha, Benevaldo
Ferreira Quadro, Íris Pereira Júnior,
Raimundo Luiz Sampaio e Ronaldo da
Silva Costa, pela contribuição prestada
durante a realização do experimento e, ao
Dr Renato Fernando Amabile, pela
criteriosa revisão do manuscrito.
LITERATURA CITADA
CASTELLANE, P.D.; ARAUJO, J.A.C. de. C u l tivo sem solo - hidroponia. Jaboticabal,
FUNEP, 1995. 43 p.
CROCOMO, O.J. Cultivo fora do solo:
hidroponia. In: MAGALHÃES, A; BORDINI,
M. da E. ed. Grande manual globo de agricultura, pecuária e receituário industrial. Porto Alegre: vol. III, 1986. 209-220 p.
DOUGLAS, J.S. Hidroponia: cultura sem terra.
São Paulo: Nobel , 1987. 141p.
HORINO, Y.; MELO, P.E. de; Makishima, N.
Comportamento de quatro cultivares de alface desenvolvidas sob hidroponia. Ensaio preliminar. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 11,
n. 1, p. 76, 1993. (Resumo).
JUNQUEIRA, A..M.R.; LIMA, J.A.; PEIXOTO,
J.R. Hidroponia: cultivo sem solo. Brasília:
UnB, Curso de Extensão da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 1997. 31 p.
MALAVOLTA, E. ABC da Adubação. 5a ed. São
Paulo: Ceres, 1989. 292 p.
MARTINEZ, H.E.P.; SILVA FILHO, J.B. Introdução ao sistema hidropônico de plantas. Viçosa: UFV, 1997. 52 p.
RAJI, B. VAN. Recomendações de adubação e
calagem para o estado de São Paulo, Campinas: IAC, Boletim Técnico n° 100, 1996. 285 p.
TAVARES, H.L. Produção hidropônica de alface
cv. Verônica em diferentes substratos. Brasília: UnB, 1997. 54 p. (Dissertação graduação).
VAZ, R. M. R. Comportamento de Três Cultivares de Alface sob Cultivo Hidropônico: Brasília: UnB, 1997. 30 p. (Dissertação graduação).
ZITO, R.K.; FRONZA, V.; MARTINEZ, H.E.P.;
PEREIRA, P.R.G.; FONTES, P.C.R. Fontes de
nutrientes, relações nitrato: amônio e
molibdênio, em alface (Lactuca sativa L.) produzida em meio hidropônico. Revista Ceres,
Viçosa, v. 41, n. 236, 1994, p. 419-430.
243
QUEZADO-DUVAL, A.M.; LOPES, C.A. Desempenho de cultivares de batata em solo infestado com Ralstonia solanacearum, raça 1. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p. 244-247, novembro 1999.
Desempenho de cultivares de batata em solo infestado com Ralstonia
solanacearum, raça 1.
Alice Maria Quezado-Duval; Carlos Alberto Lopes.
Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, 70.359-970 Brasília - DF.
RESUMO
ABSTRACT
A reação de 28 cultivares de batata à murcha-bacteriana causada por Ralstonia (Pseudomonas) solanacearum, raça 1, biovar I, foi
avaliada na Embrapa Hortaliças, Brasília (DF), no período de maio
a agosto de 1998. O ensaio foi realizado em solo naturalmente infestado, em blocos ao acaso com três repetições e parcelas de seis plantas perfazendo 2,4 m 2 . As cultivares Cruza 148 e Achat (resistentes)
e Bintje (suscetível) foram utilizadas como controles. Foram feitas
oito avaliações semanais da incidência da doença, iniciando-se 22
dias após o plantio, quando apareceram os primeiros sintomas, para
o cálculo da Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença
(AACPD). Utilizando-se a análise de agrupamento, foi possível a
distinção de cinco grupos quanto aos níveis de resistência/
suscetibilidade. As cultivares que apresentaram menores níveis de
doença (grupo I: AACPD de 0,00 a 256,90) foram Cruza 148, Cruza
148 mutante, Araucária e Granola, que também tiveram as maiores
produtividades comercial (tubérculos > 50mm de diâmetro) e total
(13,3 e 25,1 t/ha; 10,4 e 21,9 t/ha; 11,4 e 18,8 t/ha e 14,6 e 16,4 t/ha,
respectivamente). Uma correlação significativa negativa (P<0,01)
foi observada entre AACPD e produtividade comercial (r = - 0,76) e
entre AACPD e produtividade total (r = - 0,83).
Performance of potato cultivars in soil naturally infested with
race 1 of Ralstonia solanacearum.
Palavras-Chave: Solanum tuberosum, Pseudomonas
solanacearum, murcha-bacteriana, resistência.
Keywords: Solanum tuberosum, Pseudomonas solanacearum,
bacterial wilt, resistance.
Twenty-eight potato cultivars were evaluated for resistance to
bacterial wilt caused by Ralstonia solanacearum, race 1, biovar I,
from May to August, 1998, at Embrapa Hortaliças. The trial was
carried out in a naturally infested field in a randomised complete
block design with three replications and six plants per plot of 2.4
m2 . ‘Cruza 148’ and ‘Achat’ (resistant), and ‘Bintje’ (susceptible)
were used as controls. Disease incidence was assessed for eight weeks
starting 22 days after planting, when the first symptoms were
observed. The areas under the disease progress curves (AUDPC)
were calculated and the cluster analysis performed using the
unweighted pair-group method by arithmetic averages (UPGMA)
and simple Euclidian distance coefficient. Five clusters of resistance/
susceptibility levels were defined. ‘Cruza 148’, ‘Cruza 148 mutant’,
‘Araucaria’ and ‘Granola’ had the lowest levels of disease and
belonged to cluster 1 (AUDPC values from 0.00 up to 256.90). These
cultivars also had the highest commercial (tubers >50mm diameter)
and total yields (13.3 and 25.1 t/ha; 10.4 and 21.9 t/ha; 11.4 and 18.8
t/ha, and 14.6 and 16.4 t/ha, respectively). Negative significant
correlations (P<0.01) were found between AUDPC and commercial
yield (r = - 0.76) and AUDPC and total yield (r = - 0.83).
(Aceito para publicação em 20 de agosto de 1999)
A
murcha-bacteriana, causada por
Ralstonia solanacearum, é uma das
doenças mais importantes da cultura da
batata (Solanum tuberosum L.) no Brasil. É a principal causa da rejeição de
campos de certificação de batata-semente onde o nível de tolerância dessa doença é zero (0) e causa perdas de até 50%
na produção de tubérculos para consumo, inviabilizando áreas de cultivo pela
longa persistência do patógeno no solo
(Lopes et al., 1990; Lopes et al. 1993).
Duas raças, a raça 1 e a raça 3, podem infectar a cultura da batata
(Hayward, 1991). A raça 3 (“raça da batata”), embora não exclusiva, é a que prevalece nas principais áreas produtoras de
batata do país, situadas nas regiões Sul e
Sudeste. A raça 1 (“raça das solanáceas”),
que está amplamente distribuída, aumen244
ta de importância à medida que as fronteiras de produção de batata se expandem para áreas tropicais como o cerrado
do Brasil Central (French, 1994; Lopes
& Buso, 1997). O emprego de cultivares
com algum nível de resistência é considerado uma medida importante para o desenvolvimento de estratégias de controle da murcha-bacteriana. Medidas preventivas de controle, como o uso de batata-semente certificada, plantio em áreas
sem histórico de ocorrência da doença e
rotação de culturas também devem ser
utilizadas (French, 1994).
Alguns clones e cultivares possuindo resistência parcial à murchabacteriana têm sido identificados no
Programa de Manejo Integrado da Murcha-bacteriana, do Centro Internacional
de la Papa (CIP), Lima, Peru, do qual a
Embrapa Hortaliças é colaboradora
(CIP, 1993; CIP, 1995; Lopes et al.,
1997; Quezado-Soares et al., 1997). A
cultivar Achat, apesar de não ter sido
desenvolvida em programas de melhoramento visando resistência à murchabacteriana, tem sua baixa taxa de condenação em campos de certificação atribuída aos níveis superiores de resistência apresentados tanto em estados onde
predomina a raça 3, como em testes
comparativos realizados no infectário
infestado pela raça 1, da Embrapa Hortaliças (Lopes & Quezado-Soares,
1995). Este fato explica parcialmente a
sua boa aceitação por parte dos produtores, fazendo com que ela seja atualmente uma das mais plantadas no país.
Esse trabalho teve como objetivo
avaliar cultivares de batata nacionais e
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Desempenho de cultivares de batata em solo infestado com Ralstonia solanacearum, raça 1.
Tabela 1. Incidência de murcha-bacteriana 70 dias após o plantio (IMB), valores de área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD),
porcentagem de tubérculos com sintomas (TS) e produtividades comercial (PC) e total (PT) em cultivares de batata. Brasília-DF, Embrapa
Hortaliças, 1998.
Nº
Cultivares
1 Achat
Origem
Alemanha
IMB (%)1
44,43
AACPD2
963,60
TS (%)3
23,21 (26/112)
100,00
16,67
2463,97
175,23
58,49
16,85
(31/53)
(34/66)
2
3
Agria
Araucária
Holanda
Brasil
4
5
Astrid
Atlantic
Alemanha
EUA
83,33
66,63
2274,58
1499,12
51,51
42,10
6
7
Baraka
Baronesa
Holanda
Brasil
33,33
58,90
777,70
1310,98
30,00 (24/80)
77,78 (28/36)
8
9
Bintje
Bronka
Holanda
Polônia
83,33
100,00
1978,95
2255,87
52,72
100,00
(29/55)
(46/273)
(8/19)
(15/15)
PC (t/ha)4
1,82
PT (t/ha)
3,22
0,78
11,35
1,44
18,79
0,39
1,35
1,67
1,56
4,94
2,36
5,92
2,81
0,74
0,00
1,64
0,00
1,71
3,75
2,29
6,55
0,39
0,58
13,31
0,56
1,31
25,07
10,40
2,64
21,93
4,17
0,17
0,52
1,39
1,44
10 Catucha
11 Ciklamen
Brasil
Hungria
72,20
76,67
1877,45
1198,33
54,00
31,69
(27/50)
12 Contenda
13 Cristal
14 Cruza 148
Brasil
Brasil
México
61,13
93,33
0,00
2676,35
1365,23
0,00
66,67
58,49
13,03
(8/12)
15 Cr.148 mutante 5
16 Desirée
Itália
Holanda
0,00
77,77
0,00
1828,05
1,80
60,00
(6/334)
17 Erna
18 Estima
Alemanha
Holanda
62,23
80,57
1314,72
1662,62
76,28
64,71
(74/97)
19 Grão Mogol6
20 Granola
Brasil
Alemanha
34,43
24,47
642,02
256,90
34,84 (123/353)
17,73 (25/141)
0,00
14,56
5,62
16,42
21 Jaette Bintje
22 Monalisa
Holanda
Holanda
76,67
44,43
1940,63
1019,08
63,16 (60/95)
19,35 (18/93)
1,44
0,00
1,67
3,17
23 Monte Bonito
24 Recent
Brasil
Holanda
33,33
100,00
847,52
2534,98
21,55
41,67
(53/246)
4,33
0,00
11,61
0,19
25 Rheinhort
26 Roxy
Alemanha
Alemanha
67,77
52,80
1519,03
1293,83
9,61
24,34
(5/52)
3,11
3,13
4,53
6,28
27 Santé
28 Serrana
Holanda
Argentina
88,87
72,23
2480,38
1711,15
92,40 (73/79)
60,94 (39/64)
0,11
3,06
0,31
3,69
(45/142)
(31/53)
(34/261)
(75/125)
(44/68)
(5/12)
(28/115)
1
. Plantas com mais de 50% da folhagem murcha foram contadas como doentes para o cálculo da incidência da murcha-bacteriana (IMB).
Dados representam média de três repetições, parcela de seis plantas;
2
. AACPD: Área Abaixo da Curva do Progresso da Doença, calculada a partir da incidência da murcha-bacteriana em oito avaliações usando
o programa computacional AACPD (Luiz A. Maffia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG. Dados representam média de três
repetições, parcela de seis plantas;
3
. TS: Porcentagem de tubérculos com sintomas de podridão provocada por Ralstonia solanacearum (valores entre parênteses: numerador =
número de tubérculos com sintomas; denominador = número de tubérculos produzidos com e sem sintomas, em três repetições, seis plantas/
parcela);
4
. PC: Produção comercial (tubérculos com diâmetro > 50 mm);
5
. Cruza 148 mutante = Clone CIP 720118.1 (37-35A) mutante da cultivar Cruza 148 (CIP 720118) produzido na Itália para eliminar a
pigmentação da polpa (CIP, 1995);
6
. Genótipo antigo, sem procedência definida, fornecida pelo Instituto Agronômico de Campinas, coletada no município de Grão Mogol, MG.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
245
A.M.Quezado-Duval & C.A. Lopes
exóticas, plantadas ou não no país, quanto ao nível de resistência/suscetibilidade
à murcha-bacteriana causada pela raça
1 de R. solanacearum.
Tabela 2. Grupos de níveis de resistência à murcha-bacteriana baseados nos valores médios
das Áreas Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) e cultivares de batata
posicionadas em cada grupo. Brasília-DF, Embrapa Hortaliças, 1998.
Grupo 1
Intervalos de
AACPD2
Cultivares3
Posição das
cultivares
controle
1
2
0,00 - 256,90
642,02 - 1019,08
14, 15, 3, 20
19, 6, 23, 1, 22
Cruza 148 (0,00)
Achat (963,60)
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi instalado no infectário
do campo experimental da Embrapa
Hortaliças, Brasília, DF, no período de
maio a agosto de 1998. O infectário,
naturalmente infestado pela raça 1,
biovar I, de Ralstonia solanacearum,
vem sendo utilizado para avaliações de
clones de batata para resistência à murcha-bacteriana por mais de 15 anos. Aos
35 dias após o plantio, foi realizada a
amontoa e, aos 90 dias, a colheita dos
tubérculos sem sintomas para cálculo da
produtividade comercial (tubérculos >
50 mm de diâmetro).
Foram avaliadas 28 cultivares, incluindo ‘Achat’ e ‘Cruza 148’ (padrões de
resistência) e ‘Bintje’ (padrão de
suscetibilidade). O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso com três repetições e seis plantas por
parcela. O espaçamento empregado foi
de 0,30 m entre plantas x 0,80 m entre
linhas, tendo a parcela a área útil de 2,4
m2. A avaliação da doença foi feita com
base na incidência, sendo consideradas
doentes as plantas que apresentavam
mais de 50% da folhagem murcha. Foram feitas oito avaliações semanais, iniciadas aos 22 dias após o plantio, quando se verificou o aparecimento dos primeiros sintomas. Os dados de incidência foram utilizados para o cálculo da
Área Abaixo da Curva de Progresso da
Doença (AACPD) pelo programa
computacional AACPD (Luís A.
Maffia, Universidade Federal de Viçosa, MG). Os valores médios de AACPD
foram utilizados para a análise de agrupamento pelo programa FITOPAC
(George Shepherd, Universidade de
Campinas, SP), empregando-se o coeficiente distância euclidiana simples e
o método da média de grupo. A escolha
do número de grupos de níveis de resistência foi baseada na distribuição das
variedades controles. Foi feita a análise
de correlação entre AACPD e produtividades comercial e total.
As temperaturas registradas durante o período do ensaio foram considera246
3
4
5
1198,33 - 1314,72
11, 26, 7, 13, 5, 17
1519,03 - 1978,95 25, 18, 28, 16, 10, 21, 8
2255,87 - 2676,35
9, 4, 2, 27, 24, 12
Bintje (1978,95)
-
1
. Definido pela análise de agrupamento (coeficiente distância euclidiana simples, método
média de grupo);
2
. Intervalos de valores de AACPD que definem cada grupo;
3
. Cultivares posicionadas em cada grupo. Utilizou-se a numeração da tabela 1, sendo as
cultivares dispostas pelos valores crescentes das AACPD.
das apropriadas para o desenvolvimento da doença, com temperaturas média
mínima e média máxima de 14,5 oC e
28,1oC, respectivamente. A irrigação foi
feita por aspersão convencional, de acordo com a necessidade da cultura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A incidência da doença no último dia
da avaliação, aos 71 dias do plantio,
variou de 0%, nas cultivares mais resistentes Cruza 148 e Cruza 148 mutante,
a 100% de plantas murchas, registrada
nas cultivares Agria, Bronka e Recent
(Tabela 1).
Por meio da análise de agrupamento, foi possível a distinção de cinco grupos quanto aos níveis de resistência/
suscetibilidade (Tabela 2). As cultivares que apresentaram menores níveis de
doença e que posicionaram-se no grupo
I (AACPD de 0,0 à 256,9), foram Cruza 148, Cruza 148 mutante, Araucária e
Granola (Tabela 2). Essas cultivares foram também as que tiveram as maiores
produtividades comercial e total (13,3
e 25,1 t/ha; 10,4 e 21,9 t/ha; 11,4 e 18,8
t/ha e 14,6 e 16,4 t/ha, respectivamente) (Tabela 1). Uma correlação negativa
significativa (P<0,01) foi observada
entre AACPD e produtividade comercial (r = - 0,76) e entre AACPD e produtividade total (r = - 0,83).
Apesar de terem apresentado incidência zero (0) de murcha-bacteriana,
as cultivares Cruza 148 e Cruza 148
mutante produziram tubérculos com sin-
tomas de podridão provocados por R.
solanacearum (34 tubérculos em 261 e
seis tubérculos em 334, respectivamente) (Tabela 1). ‘Cruza 148’ não possui
bom padrão comercial, com tubérculos
desuniformes e pigmentados tanto na
película como na polpa, caracteres que
têm alta herdabilidade (Tung, 1990a), o
que o desqualifica como bom progenitor em programas de melhoramento.
‘Cruza 148 mutante’ é um genótipo
mutante da Cruza 148, produzido na Itália, que aparentemente apresenta todas
as características morfológicas de ‘Cruza 148’, com exceção da pigmentação
da polpa (CIP, 1995). Esta cultivar apresentou comportamento semelhante à
‘Cruza 148’ quanto à incidência da murcha-bacteriana, tendo sido também a
mais resistente, juntamente com ‘Cruza
148’, dentre 23 clones avaliados no
Peru, em 1993-1994 (CIP, 1995). Este
é, portanto, um genótipo que, apesar de
vários inconvenientes devido a características comerciais, pode ser usado em
cruzamentos visando resistência à murcha-bacteriana.
As cultivares Grão Mogol, Baraka,
Monte Bonito e Monalisa se
posicionaram com a cultivar Achat no
grupo II (AACPD 642,02 – 1019,08)
(Tabela 2). ‘Achat’ mostrou maiores
níveis de doença do que os observados
em testes anteriores, quando alternavase com a ‘Cruza 148’ em termos de resistência (Lopes & Quezado Soares,
1995). Este fato se deve à interação do
patógeno e da hospedeira com fatores
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Desempenho de cultivares de batata em solo infestado com Ralstonia solanacearum, raça 1.
ambientais (French & De Lindo, 1982;
Schmiediche, 1985; Tung et al., 1990a;
Tung et al., 1990b). Conforme indicado por Melo & Buso (1997), ‘Achat’ não
é indicada para plantios sujeitos a temperaturas elevadas, como observado no
período do ensaio (média das temperaturas máximas acima de 28o C).
Tung et al. (1990a e 1990b) comprovaram que genes para adaptação em
batata estão envolvidos na manifestação
da resistência à murcha-bacteriana, tendo a função de estabilizar a expressão
dos genes de resistência. Esta
constatação pode explicar a resistência
de Araucária, Baraka, Monte Bonito e
Monalisa, cultivares mais bem adaptadas a climas mais quentes, consistindo,
portanto, boas opções para cultivo na
região do Brasil Central, onde predomina a raça 1 de R. solanacearum. Deve
ser ressaltado, ainda, o fato de Araucária
ser caracterizada como suscetível à
murcha-bacteriana na Região Sul, onde
predomina a raça 3 (IAPAR, 1997).
Um nível insatisfatório de resistência em cultivares com boas características comerciais; o fato de ‘Achat’ não florescer e, portanto não poder ser usada
como genitor, e as características indesejáveis de ‘Cruza 148’ e ‘Cruza 148
mutante’ indicam claramente a necessidade de se continuar a busca por melhores genótipos para servirem como
genitores em programas de melhoramento para resistência à murcha-bacteriana.
O teste de fontes de resistência e dos
materiais melhorados deve ser feito em
diferentes regiões para se avaliar a possibilidade de uma “quebra” da resistência devido à variabilidade do patógeno e
à falta de adaptabilidade do genótipo a
uma determinada condição climática.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Arione S.
Pereira, da Embrapa Clima Temperado,
Pelotas; a Hilário Miranda Filho, do
IAC, Campinas e a Odone Bertoncini e
Élcio Hirano, da Embrapa Sementes
Básicas, Canoinhas, pelo fornecimento
dos tubérculos de algumas cultivares
utilizadas neste trabalho. A Luiz A.
Maffia pelo fornecimento do programa
de estatística.
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247
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Caracterização dos estádios fenológicos da cúrcuma, em função da época e densidade de plantio.
Arthur Bernardes Cecilio Filho1; Rovilson José de Souza2.
1
UNESP – FCAV, Depto. Horticultura, Rod. Carlos Tonanni Km 5, 14.870-000 Jaboticabal – SP; 2 UFLA – Depto. de Agricultura, C.
Postal 37, 37.200-000 Lavras - MG.
RESUMO
ABSTRACT
A cúrcuma é uma espécie, originária da Índia, com grande potencial de utilização nos mercados de corantes, medicinal e alimentício. Este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a resposta da planta aos fatores época e densidade de plantio, por meio
da caracterização dos estádios fenológicos. Verificou-se que o período
de crescimento vegetativo caracterizou-se pelas etapas de préperfilhamento e perfilhamento. A primeira etapa, de crescimento
lento, mostrou-se influenciada significativamente pela época de plantio, havendo maior precocidade no aparecimento de perfilhos com
atraso no plantio. A etapa seguinte, de perfilhamento, mostrou acentuado acúmulo de fitomassa, sendo grande a contribuição dos
perfilhos. O período de crescimento dos rizomas teve seu início influenciado significativamente pelo fator época de plantio, sendo tanto
mais precoce quanto mais tardio foi o plantio. A extensão do período de crescimento foi de 147, 124, 102 e 79 dias para os plantios
efetuados em 20 de outubro, 20 de novembro, 20 de dezembro e 20
de janeiro, correspondente a ciclo cultural, respectivamente, de 270,
240, 210 e 180 dias. Somente foi observado efeito significativo do
fator densidade de plantio sobre o período de crescimento vegetativo,
sendo o comprimento deste inversamente proporcional à densidade
utilizada.
Characterization of phenological stages of the turmeric, as a
function of time and planting density.
Palavras-chave: Curcuma longa, genótipo x ambiente, fenologia,
corante natural.
Keywords: Curcuma longa, genotype x ambient, phenology,
natural dye.
Turmeric is a species originated from India with a great potential
in dye, medicine and food markets. This experiment was carried out
at the Universidade Federal de Lavras, Brazil, with the objective of
evaluating the response of the plant to factors such as time and planting
densities, by means of characterizing the phenological stages. The
period of vegetative growth was determined at the pre-tillering and
tillering stages. The slow growth of the aerial part, in the first stage,
was influenced significantly by the time of planting, independently of
the treatment used. The tillering stage showed increased biomass
accumulation, due to the contribution of the tillers. The period of
growth of the rhizomes was greatly influenced by the time of planting.
Shorter periods of growth were associated with late plantings. The
extension of the growth period were 147, 124, 102 and 79 days for the
plantings done in every 20th day of October, November, December
and January, corresponded to a total plant cycle of 270, 240, 210 and
180 days, respectively. A significant effect of the factor density of
planting was only observed during the period of vegetative growth,
being short vegetative growth associated to higher plant densities.
(Aceito para publicação em 13 de setembro de 1999)
A
cúrcuma (Curcuma longa L.), pertencente à família Zingiberaceae,
produtora de rizomas tradicionalmente
conhecidos no mercado internacional
como “turmeric”, é considerada uma
preciosa especiaria, por compor famosos temperos, entre eles o “curry”
(Duarte et al., 1989).
Com a proibição do uso de pigmentos
sintéticos nos principais países da América do Norte e Europa (Maia,1991; Rusig
& Martins, 1992), recentemente tem sido
vislumbrada a possibilidade de participação da espécie num atraente e crescente
mercado de aditivos naturais de alimentos.
Além da curcumina, sua substância
corante, a cúrcuma contém óleo essencial
de excelentes qualidades técnica e
organoléptica (Duarte et al.,1989), que
juntos possibilitam estender sua utilização
aos mercados de perfumaria, medicinal,
alimentício, condimentar, têxtil e outros.
248
Inúmeros trabalhos na literatura mencionam a importância da adequada época
de plantio no desempenho agronômico de
várias espécies vegetais. A definição da
melhor época de plantio é função da localidade, da cultura a ser implantada e de
fatores
climáticos,
especialmente
fotoperíodo e temperatura. Estes fatores
afetam a composição química de diversos órgãos da planta como por exemplo
teor de óleo, carboidratos e compostos
nitrogenados. Os mesmos são fundamentais ao metabolismo vegetal (Alvarenga,
1987), síntese e atividade de enzimas
(Salisbury e Ross, 1992), divisão e expansão celular e emissão de folhas (Mengel e
Kirkby, 1987), que juntos definirão o potencial vegetativo e produtivo da planta.
Segundo Lucchesi et al. (1976) e
Larcher (1986), a densidade de plantio
pode influir na qualidade e produtividade da cultura. As pressões exercidas
pela população de plantas afetam de
modo marcante o seu próprio desenvolvimento. Quando o número de indivíduos aumenta por unidade de área, atinge-se o chamado ponto de competição,
no qual cada planta começa a competir
por alguns fatores essenciais ao crescimento, tais como nutrientes, água e luz
(Arismendi, 1975; Mendoza, 1982;
Choairy & Fernandes, 1983), alterando
a arquitetura e outras características das
plantas, com reflexos na produtividade
(Mondin, 1988; Squire, 1990).
De acordo com Marschner (1990),
diferentes curvas de respostas de rendimento são resultantes do incremento na
densidade de plantas e na fotossíntese
líquida por unidade de área foliar (efeito fonte) e do incremento no órgão de
reserva (efeito dreno).
Nas espécies exóticas ou de pequena exploração comercial que repentinaHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Caracterização dos estádios fenológicos da cúrcuma.
mente experimentam maior interesse
comercial de cultivo como é o caso da
cúrcuma, observa-se reduzido número
de informações técnicas na literatura
nacional. O objetivo deste trabalho foi
caracterizar as etapas fenológicas da
cúrcuma, em função de diferentes épocas e densidades de plantio, gerando
informações sobre a interação desta espécie com o ambiente.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
período de outubro de 1994 a julho de
1995, na área experimental do Setor de
Olericultura, do Departamento de Agricultura, da Universidade Federal de Lavras (UFLA) a 21o14' S, 45o00' W e altitude média de 910 m (Castro Neto,
Sediyama & Vilela, 1980). Com base na
classificação de Köppen, apresenta clima de transição entre Cwa e Cwb, com
médias anuais de temperatura e precipitação, respectivamente, de 19,4o C e
1.529,7 mm (Brasil, 1992).
O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, em esquema
de parcelas sub-divididas, com três repetições. Os tratamentos foram constituídos por quatro épocas de plantio (20 de
outubro, 20 de novembro, 20 de dezembro e 20 de janeiro) e três espaçamentos
entre plantas na linha de plantio (20, 35
e 50 cm), perfazendo o total de 12 tratamentos. A unidade experimental (subparcela) constituiu-se dos espaçamentos
em avaliação, enquanto a parcela
correspondeu ao fator época de plantio.
A área total do experimento foi de
1007,20 m2. Adotou-se espaçamento de
80 centímetros entre linhas de plantio.
Em cada uma das coletas mensais,
para avaliação do acúmulo de matéria
seca pela planta, foram retiradas seis
plantas competitivas de cada sub-parcela. A bordadura foi constituída por uma
linha de plantio externa de cada subparcela, bem como das plantas imediatamente antecessoras à cada amostra de
seis plantas coletadas mensalmente.
Em solo de média acidez (5,5), altos teores de fósforo, potássio, magnésio
e matéria orgânica, médio teor de cálcio (valores segundo Comissão..., 1989)
e 66% de saturação da CTC do solo por
bases, foi realizada adubação de plantio
com 10,5 g/planta do adubo formulado
N-P-K-Ca-S com as respectivas concenHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Época de plantio
Figura 1. Efeito da época de plantio, 20/10, 20/11, 20/12 e 20/01, correspondentes à DAPP de
0, 30, 60 e 90 dias, respectivamente, sobre o início do perfilhamento. Lavras, UFLA, 1996.
trações dos nutrientes: 4-14-8-10-9. A
adubação de cobertura foi realizada com
0,84 g de N/planta, aos 60 dias após
emergência das plantas, na forma de
sulfato de amônio. O plantio foi realizado com um rizoma-semente por cova,
do tipo rizoma primário, de peso médio
de 5 g de matéria fresca ou 1,1 g seco,
colocado a quatro centímetros de profundidade, em leiras de aproximadamente 40 cm de altura, espaçadas de
centro a centro em 80 cm.
O material genético utilizado foi proveniente de produtores rurais de
Paracatu (MG) e multiplicado na área
experimental do Setor de Olericultura
da UFLA, não havendo denominação
específica para o germoplasma.
A colheita final foi realizada quando as plantas apresentavam a parte aérea completamente seca, o que ocorreu
no dia 17 de julho de 1995, independente
da época de plantio.
A caracterização dos estádios
fenológicas da cúrcuma consistiu na avaliação do período de crescimento
vegetativo (PCV) e do período de crescimento dos rizomas (PCRi). O PVC englobou o período compreendido pelo plantio dos rizomas-semente até a época de
máxima de matéria seca da parte aérea
(MSPA), conforme também adotado por
Goto (1993). O PCRi, correspondeu ao
intervalo compreendido pelo momento em
que a matéria seca dos rizomas (MSRi)
superou a matéria seca do rizoma-semente plantado (1,1 g) até a colheita. MSPe
corresponde à matéria seca da parte aérea
dos perfilhos, sendo portanto, parte integrante da MSPA. As datas referentes aos
pontos de máxima MSPA e início do
PCRi, foram determinadas pelo uso de
equações não lineares, conforme proposta de Draper & Smith (1981), Guimarães
& Castro (1986). Também fez-se a determinação do parâmetro graus-dia, a fim de
retratar o calor efetivo disponível à planta
nos períodos subsequentes de seu desenvolvimento, em função das épocas de
plantio estudadas. Para tanto, adotou-se o
modelo de Holmes & Robertson (1959),
sendo o valor, resultado da diferença entre a temperatura média do ar e a temperatura base da planta, considerada 10o C
(Goto, 1993).
O ciclo cultural e o período de desenvolvimento pós-emergência (PDPE),
corresponderam ao período compreendido entre o plantio dos rizomas e a
emergência das plantas, respectivamente, até a colheita.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O crescimento vegetativo da cúrcuma
caracterizou-se nas etapas do préperfilhamento e do perfilhamento. A etapa do pré-perfilhamento, limitada até o
aparecimento do primeiro perfilho, foi
significativamente influenciada pelo fator época de plantio. Não houve efeito
do fator densidade de plantio. Neste trabalho foi constatado início do
perfilhamento aos 120, 92, 87 e 85 dias
do ciclo das plantas provenientes, respectivamente, dos plantios realizados em 20/
10, 20/11, 20/12 e 20/01. Em outros trabalhos observou-se aparecimento de
perfilhos apenas a partir dos 100 dias após
o plantio (Goto, 1993). Portanto, o atraso no plantio promoveu o aparecimento
mais precoce de perfilhos (Figura 1),
249
A. B. Cecílio Filho & R. J. de. Souza
diminuindo a etapa de pré-perfilhamento
e adiantando o início da fase de
perfilhamento.
Verificou-se que independente do
tratamento, o crescimento da parte aérea no estádio de pré-perfilhamento é
muito lento, conforme também foi observado em trabalho conduzido por Goto
(1993). Em geral, ao final deste perío-
do, a produção de MSPA foi inferior a
15% do máximo obtido pela planta no
decorrer do ciclo. Embora no estádio de
pré-perfilhamento tenham sido verificados pequenos incrementos em valores
absolutos no crescimento das plantas,
estes corresponderam muitas vezes a
altas taxas de crescimento relativo. Verifica-se portanto que são grandes os
investimentos da planta neste estádio,
sendo importante realizar as práticas
culturais corretas como controle de plantas daninhas, irrigação e adubação. Sem
dúvida, o crescimento exponencial que
ocorrerá no período subsequente está
condicionado entre outros fatores, ao
bom desenvolvimento da planta durante o pré-perfilhamento.
Figura 2. Acúmulo de matéria seca da parte aérea (MSPA), matéria seca de perfilhos (MSPe) e produção de rizomas por planta (RIZ/PLA),
durante seu ciclo (dias após o plantio - d.a.p), em função da época e densidade de plantio. LAVRAS, UFLA, 1996.
250
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Caracterização dos estádios fenológicos da cúrcuma.
O estádio de perfilhamento, limitado entre o aparecimento do primeiro
perfilho e o ponto de máxima MSPA
acumulada pela planta, caracteriza-se
pelo acentuado aumento na MSPA. Conforme pode ser visto na Figura 2, o
acúmulo de MSPA durante o período de
pré-perfilhamento foi bastante pequeno.
No estádio posterior, ou seja após o
pré-perfilhamento, é grande a contribui-
ção do acúmulo de MSPe na produção
de MSPA. Portanto, este estádio foi denominado de período de perfilhamento.
Conforme pode ser visto na Figura 2, as
curvas de produção de MSPA e de matéria seca de perfilhos (MSPe) apresentam a mesma tendência uma vez que a
participação da MSPe na MSPA no decorrer do ciclo da cúrcuma, foi em média de 49,5%, no momento de máxima
produção de MSPA pela planta. Para o
tratamento onde o plantio foi feito em
20/11 no espaçamento de 35 cm entre
plantas, a produção de MSPA foi significativamente superior aos demais e a
MSPe representou cerca de 65% do total da MSPA acumulada.
O estádio do perfilhamento
complementa o período de crescimento
vegetativo, o qual é finalizado quando
Figura 2. Continuação
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
251
A. B. Cecílio Filho & R. J. de. Souza
Época de plantio
Figura 3. Efeito da época de plantio, 20/10, 20/11, 20/12 e 20/01, correspondentes à DAPP
de 0, 30, 60 e 90 dias, respectivamente, sobre o início do período de crescimento do rizoma
(PCRi). Lavras, UFLA, 1996.
o máximo de MSPA é atingido. Seguese, então, um declínio na quantidade de
MSPA da planta, que é proporcionalmente mais intenso à medida em que
aproxima-se do final do ciclo, motivado pela diminuição da temperatura ambiente. Tal situação promoveu acentuada redistribuição de metabólitos e nutrientes da parte aérea para os rizomas.
A MSPA, por ocasião da colheita, representou menos de 3% da matéria seca
total da planta.
Portanto, a época de plantio limita a
extensão do período de crescimento
vegetativo, principalmente em virtude
das temperaturas existentes em cada
época. De acordo com Squire (1990), o
desenvolvimento da parte aérea da planta é grandemente influenciado pelos fatores que controlam este desenvolvimento, principalmente nos períodos
onde ocorre incremento líquido da parte aérea. No presente estudo, foram observados períodos de crescimento
vegetativo (PCV) da cúrcuma de 197,
166, 154 e 132 dias, respectivamente,
para os plantios efetuados em 20/10, 20/
11, 20/12 e 20/01. No entanto, também
o fator espaçamento afetou significativamente o PCV, observando-se incremento linear no período de crescimento
à medida em que foram usados maiores
espaçamentos entre plantas.
O início do período de crescimento
de rizomas (PCRi), foi significativamente influenciado pelo fator época de
plantio, não tendo sido constatado efei252
to significativo do fator espaçamento.
Na figura 3 verifica-se que a planta respondeu linearmente às épocas avaliadas,
tendo sido iniciado o PCRi aos 123, 115,
108 e 100 dias após o plantio, respectivamente, para os plantios em 20/10, 20/
11, 20/12 e 20/01. Observou-se, portanto, maior precocidade para o início da
formação de rizomas, em plantios mais
tardios. Entretanto, em relação ao comprimento do ciclo apresentado pelas
épocas de plantio estudadas, o início do
PCRi equivaleu a 45,5%, 48%, 51,4% e
55%, respectivamente. Com base nestes resultados, a extensão do PCRi foi
de 147, 124, 102 e 79 dias para os plantios de 20/10, 20/11, 20/12 e 20/01, respectivamente.
As condições climáticas nestes períodos, especialmente de temperatura,
foram possivelmente os principais responsáveis pela resposta diferenciada das
plantas quanto à produção de rizomas.
O efeito da temperatura na formação dos
rizomas ficou evidente. Para o plantio
de 20/11, época de maior produção, obteve-se 1.059 graus-dias para o PCRi
enquanto que para o plantio de 20/01,
época menos favorável à produção de
rizomas, obteve-se apenas 553 grausdias durante o PCRi.
Pode-se verificar na figura 2 que nos
PCRi, os maiores incrementos, em valores absolutos, na produção de rizomas
ocorreram em sua grande maioria, a partir do período em que a planta atingiu o
máximo de MSPA, conforme também
observado por Goto (1993). Entretanto,
observou-se que mesmo com a evolução
da senescência da parte aérea e
consequentemente, redução da área
foliar, houve considerável incremento da
produção de rizomas por planta, nos últimos 30 dias do PCRi, tendo sido observados incrementos de até 23%, sendo de
8,7% a média dos tratamentos avaliados.
Em relação ao ciclo vegetativo e
período de desenvolvimento pós-emergência (PDPE), foi observado somente
efeito significativo do fator época de
plantio para as duas características. O
ciclo de cultivo foi tanto maior quanto
mais cedo realizou-se o plantio. Para os
plantios realizados em 20/10, 20/11, 20/
12 e 20/01, os ciclos foram de 270, 240,
210 e 180 dias, respectivamente. Embora Purseglove (1972) e Hertwig
(1986) citam a cúrcuma como espécie
perene, as condições climáticas do município de Lavras a torna metabolicamente anual, sendo colhida sempre no
mês de julho, quando sua parte aérea
senesce em decorrência das baixas temperaturas e consequentemente, determinando o comprimento do ciclo em função da época de plantio.
A partir da segunda quinzena do mês
de maio, a temperatura no município de
Lavras normalmente decresce, ocorrendo no mês de junho temperaturas médias menores e/ou muito próximas à temperatura base da cúrcuma. Este estresse
térmico induziu a planta de cúrcuma à
senescência, tendo-se presenciado para
o
período
em
questão
um
amarelecimento progressivo da parte
aérea, culminando com a completa morte dos tecidos.
Quanto ao período de desenvolvimento pós-emergência, a linearidade da
resposta constatada para extensão do
ciclo de cultivo, neste caso, não foi
verificada, uma vez que houve diferença no comprimento do período de emergência das plântulas de cúrcuma entre
as épocas de plantio. Observou-se períodos de emergência de 40 e 15 dias, respectivamente, para os plantios realizados em 20/10 e 20/11, e de 12 dias para
os plantios nas demais épocas avaliadas.
Esta observação é muito importante,
principalmente, avaliando-se a situação
da primeira época de plantio (20/10), em
que foram necessários 40 dias para
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Caracterização dos estádios fenológicos da cúrcuma.
emergência das plântulas. Este período
foi extremamente longo, tanto que superou a diferença de 30 dias entre a primeira e segunda época de plantio e quase
o período de emergência da segunda
época, o que acarretou reflexos negativos para as plantas no decorrer de seu
desenvolvimento; reflexos estes expressos no acúmulo de MSPA e MSRi, presentes na figura 2.
Fazendo-se uma analogia entre a germinação de sementes de outras espécies
e a brotação dos rizomas de cúrcuma, esta
observação concorda com trabalhos descritos por Squire (1990), os quais relatam existir correlação positiva entre velocidade de germinação e emergência,
iniciação foliar e atributos de expansão e
produção de matéria seca da planta.
Provavelmente, este longo período
de emergência após o plantio de 20/10
foi devido a dois fatores. O primeiro
deve-se possivelmente às condições intrínsecas do rizoma-semente, tais como
balanço hormonal, favorecendo a
dormência. Esta, embora não avaliada
neste experimento, pôde ser caracterizada externamente ao rizoma, pela ausência de sinais de brotação; sinais estes, verificados a partir da segunda época de plantio pelo desenvolvimento de
uma das gemas do rizoma-semente e
entumescimento de outras. Esse broto
apresentou-se visualmente maior nas
épocas de plantio subsequentes.
Como segundo fator, têm-se as condições do ambiente de cultivo, especialmente do solo. No período após o plantio em 20/10, foram constatadas temperaturas do solo muito elevadas (44oC, a
4 cm de profundidade, às 14:30 horas),
podendo atuarem como agente
quiescente, pois conforme reporta Mota
(1983), afetam significativamente as
atividades fisiológicas de germinação ou
brotação. Embora trabalhando com outra cultura, Nova & Santos (s.d.) constataram que temperaturas do solo superiores a 29oC paralisaram o processo de
brotação dos tubérculos de batata.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Provavelmente, estes foram os fatores responsáveis por propiciarem períodos de emergência muito semelhantes (15
a 12 dias) para os plantios de 20/10, 20/
11, 20/12 e 20/01, e bem mais curto do
que o verificado para o plantio de 20/10.
O maior ciclo decorrente do plantio
mais cedo do período avaliado (20/10),
não trouxe benefícios, principalmente
devido ao longo período de emergência, não permitindo às plantas um crescimento tão vigoroso quanto o observado para o plantio em 20/11.
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IPR 82-Araucária, cultivar de batata para olericultura sustentável.
Carlos Alberto Scotti; Nilceu Ricetti Xavier de Nazareno
IAPAR - Polo Regional de Pesquisa de Curitiba, C. Postal 2301, 80.001-970 Curitiba-PR.
RESUMO
ABSTRACT
São apresentadas as principais características agroindustriais e
morfológicas de uma nova cultivar de batata lançada pelo IAPAR,
em parceria com a Embrapa Hortaliças, Brasília (DF) e a Embrapa
Semente Básica, Canoinhas (SC). “IPR 82-Araucária” foi selecionada de populações clonais introduzidas do CIP, Lima-Peru, por meio
da Embrapa Hortaliças e avaliada nas Estações Experimentais do
IAPAR desde 1984. A nova cultivar apresentou como fatores positivos alta produtividade comercial e resistência de campo à requeima,
permitindo prever reduções em até 50% no uso de fungicidas para o
controle da doença. A suscetibilidade à mancha chocolate e sarna
comum evidenciaram a necessidade de manejo adequado de densidade e época de plantio, calagem e irrigação para minimizar os riscos de ocorrência dessas doenças. Com essas características, “IPR
82-Araucária” apresenta potencial para atender às demandas de produtores orgânicos e para produção em áreas de mananciais de água.
IPR 82-Araucária, potato cultivar for sustainable vegetable
production.
Palavras-chave: Solanum tuberosum, resistência horizontal,
requeima, agricultura orgânica.
Keywords: Solanum tuberosum, horizontal resistance, potato late
blight, organic farming.
The main agronomic, industrial, and morphological
characteristics of a new Brazilian potato cultivar released by IAPAR,
Embrapa Hortaliças, Brasília-DF and Embrapa Sementes Básicas,
Canoinhas-SC are presented. “IPR 82-Araucária” has been selected
from clonal populations derived from crosses done in CIP, Lima,
Peru, and introduced for field evaluations in 1984. High yield and
field resistance to late blight have been the main features of the new
cultivar, allowing to predict reductions as much as 50% in fungicides
applications. Susceptibility to internal brown necrosis and common
scab requires special farmer’s attention in respect of planting density,
liming, and irrigation management to decrease risks of incidence of
these diseases. “IPR 82-Araucária” is potentially suited for organic
farming, and for growing in areas close to water resources.
(Aceito para publicação em 24 de agosto de 1999)
O
Estado do Paraná contribui com
cerca de 25% da produção nacional de batata para consumo in natura
(Scotti et al., sem data); a Região Metropolitana de Curitiba contribui com
70% dessa produção. Dependendo do
sistema de produção adotado, o número
de pulverizações com fungicidas pode
chegar a 30 por safra, com média de 23
em Guarapuava e oito na Região Metropolitana de Curitiba (Nazareno et al.,
1995). Esta região apresenta abundantes mananciais de água para o abastecimento da população urbana e rural. É
constante a preocupação com a produção de batata nestas áreas, em relação
aos riscos de contaminação da água por
resíduos de pulverizações na cultura.
O Instituto Agronômico do Paraná
(IAPAR) e a Embrapa Hortaliças, por
meio dos seus centros de pesquisas localizados em Brasília (Embrapa Hortaliças), e em Pelotas (Embrapa Clima
Temperado) e do Serviço de Produção
de Semente Básica, em Canoinhas, vem
254
desenvolvendo atividades de pesquisa
integradas visando o desenvolvimento
tecnológico da cultura da batata. Fruto
de mecanismos institucionais e do relacionamento técnico, esta integração tem
dado resultados de uso imediato pelos
produtores e de alto interesse à comunidade científica.
Um dos principais produtos dessa
integração foi o lançamento e recomendação para plantio no Estado do Paraná,
da primeira cultivar paranaense de batata, IAPAR 27-Contenda, em 1987.
Esta cultivar chegou a atingir mais de
50% da área cultivada na Região Metropolitana de Curitiba, num total de 25
mil hectares.
Na evolução dos trabalhos, foi desenvolvida uma nova cultivar denominada IPR 82-Araucária, que pelas suas
características de resistência à requeima, principal doença foliar da região,
foi recomendada para suprir a demanda
de produtores orgânicos na região. Este
trabalho teve como objetivo descrever
as principais características desta nova
cultivar de batata, enfatizando sua capacidade para a produção com número
reduzido de aplicações de fungicidas.
ORIGEM
A cultivar IPR 82-Araucária foi selecionada em ensaios de avaliação de
famílias clonais realizados em Estações
Experimentais do IAPAR, na região
Centro-Sul do Estado. Sua introdução
se deu na safra das águas de 1984, na
Estação Experimental de Irati-PR. Os
cruzamentos das populações iniciais
foram feitos no CIP, Centro Internacional de la Papa, em Lima-Peru, e os tubérculos-semente foram encaminhados
ao IAPAR através da Embrapa Hortaliças. Tentativas de conhecer a genealogia
do clone junto ao CIP foram infrutíferas, pela não coincidência de identificação com que o mesmo foi introduzido
pela Embrapa Hortaliças junto ao
IAPAR.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
Araucária, cultivar de batata para olericultura sustentável.
AVALIAÇÕES AGRONÔMICAS E COMERCIAIS
Na primeira fase, em 1984, de um
total de 8.000 genótipos plantados, foram selecionadas 78 plantas, baseadas no
vigor e sanidade relacionada às viroses.
Após novo ciclo de avaliação, foram eleitos onze clones que receberam a denominação clonal de PCA’s, seguidos de
numeração de ordem, os quais foram submetidos à limpeza e indexação, em 1987.
Os testes de campo para avaliação dos
clones promissores, comparativamente às
cultivares tradicionais, iniciaram-se na
safra das águas de 1990.
Entre 1991 e 1995 o clone PCA-05
foi incluído numa série de ensaios constituintes do ECARCB/PR, tendo sido
aprovado pela Comissão Técnica
(ECARCB/PR, 1996), recebendo o
nome de “IPR 82-Araucária” para efeito de lançamento, proteção e registro.
Em todas as fases de estudo, os experimentos foram conduzidos seguindo as
tecnologias de produção dos sistemas convencionais da região. Foram empregados
níveis de adubação que variaram de 1500
a 2000 kg/ha da formulação 4-14-8 e co-
bertura com 60 kg/ha de nitrogênio, na
forma de sulfato de amônio; também foram efetuadas pulverizações com
fungicidas protetores convencionais e inseticidas para controle de pulgões e vaquinha, em doses e número de aplicações
conforme o preconizado para a região.
Inicialmente, foram feitas as observações em plantas individuais ou linhas
(clones) e, à medida que o volume de
tubérculos foi aumentando, foram conduzidos experimentos em blocos ao acaso, com duas a quatro repetições, em
parcelas de quatro linhas de cinco
metros. Clones avançados participaram
na rede cooperativa de avaliação de cultivares de batata, nas fases preliminar e
avançado (ECARCB/PR, 1996). Como
cultivares testemunhas foram utilizadas
Delta, Baronesa, Radosa, Achat e Bintje,
dependendo da fase de desenvolvimento do trabalho.
As avaliações durante o ciclo
vegetativo consideraram o vigor da parte
aérea, o porte ereto e resistência às viroses e requeima, esta última avaliada
através da área sob a curva de evolução
da doença, sem controle químico
(Nazareno et al., 1997). Na pós-colheita foram considerados o formato de tu-
bérculos, coloração de película e polpa,
profundidade do olho, ocorrência de
defeitos fisiológicos (rachadura,
embonecamento e descolorações internas), esverdeamento do tubérculo armazenado e produção total e comercial, em
conformidade com o Ensaio Cooperativo de Avaliação Regional de Cultivares
de Batata (ECARCB/PR, 1991). Determinações do teor de matéria seca,
pelo método da estufa a 65oC e a 105o C
e de qualidade de fritura em “chips” e
“palito” por três minutos a 185oC e de
coloração com escala de notas desenvolvida no IAPAR, com valores de
1=coloração amarelo claro a 5=coloração marrom queimado, foram feitas nas
fases finais de avaliação do
germoplasma (ECARCB/PR, 1996).
Os clones que se destacaram, foram
encaminhados para limpeza e
indexação, no IAPAR, em Londrina, ou
para a EMBRAPA/CNPH, dando origem à semente pré-básica. O aumento
desse material indexado forneceu quantidades suficientes para os testes de campo, de comparação dos clones promissores com cultivares tradicionais.
A Tabela 1 contempla o resumo das
avaliações das diversas safras e locais,
Tabela 1. Características agronômicas, matéria seca e capacidade de fritura da cultivar IPR 82-Araucária em comparação com testemunhas.
Paraná, IAPAR, 1993 a 1995. (Médias e erro padrão de 12 ensaios).
CARACTERÍSTICA
Ciclo (dias)
Peso tubérculo (g)
Produção comercial (t/ha)1
Produção total (t/ha)
Chocolate (%)2
Embonecamento (%)2
Esverdeamento 3
Matéria seca (%)4
Fritura "chips"5
Fritura "palito"5
IPR 82-Araucária
CULTIVAR
Achat
Baronesa
Bintje
117,3 ± 6,7
90,1± 8,6
18,3 ± 2,8
92,7 ± 2,6
49,0± 3,0
9,2 ± 1,5
104,8 ± 6,0
103,4±12,3
17,8 ± 2,1
100,9 ± 4,9
59,1 ± 7,8
11,7 ± 2,9
23,9± 2,9
32,2± 6,9
16,9 ± 2,2
18,1 ±13,2
24,4 ± 2,9
3,8 ± 1,2
20,1 ± 2,1
0,0
27,5 ± 6,0
37,6 ± 3,9
18,4 ± 0,7
0,0
39,4 ± 3,4
14,9 ± 0,5
8,4 ± 2,0
37,1 ± 3,3
18,0 ± 0,4
15,0± 4,4
22,7± 1,9
16,9 ± 1,9
3,3 ± 0,4
3,2 ± 0,4
2,5 ±0,4
2,2 ± 0,4
3,5 ± 0,4
3,3 ± 0,4
2,2 ± 0,2
1,9 ± 0,2
1
. Produção de tubérculos com diâmetro acima de 45 mm.
. Incidência de mancha chocolate e embonecamento em amostras de 10 tubérculos.
3
. Área sob a curva do esverdeamento de tubérculos lavados, com avaliações aos 5, 10 e 15 dias de exposição em luz difusa, com escala de
10= sem esverdeamento a 40= tubérculos verdes.
4
Teor de matéria seca determinado pelo método da estufa a 65ºC e 105ºC.
5
Avaliação da aparência da fritura a temperatura de 185ºC, usando-se escala onde 1= coloração branco amarelada e 5= coloração marrom
queimado.
Fonte: ECARCB-PR – Relatório – 1996.
2
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
255
C.A. Scotti & N.R.X. de. Nazareno
Tabela 2. Comportamento de cultivares de batata em área infectada de requeima. Curitiba,
IAPAR, 1997. (Médias de 6 repetições).
CULTIVAR
Bintje
Monalisa
Elvira
IAPAR 27-Contenda
IPR 82-Araucária
ASCRE1
2074,
f2
2000,
1970,
ef
def
1556, bc
768, a
DISPONIBILIDADE DE TUBÉRCULOS-SEMENTE
O IAPAR, Polo Regional de Pesquisa de Curitiba e a Embrapa Sementes
Básica disponibilizarão estoques prébásicos e básicos de tubérculos-semente da nova cultivar.
1
Área sob a curva de evolução de requeima. Valores mais elevados demonstram maior
suscetibilidade da cultivar.
2
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Duncan a 5%.
em comparação com as testemunhas
“Achat”, “Baronesa” e “Bintje”.
Observa-se que “IPR 82-Araucária”
foi altamente produtiva, superando as três
testemunhas, em produção comercial.
Como fator negativo, a cultivar apresentou elevada incidência de mancha chocolate; para minimizar este problema recomenda-se plantios mais densos no período de produção de dezembro a fevereiro. Também apresentou peso médio de
tubérculos superior a “Achat” e “Bintje”
o que significa reduzido número de tubérculos abaixo de 45 mm de diâmetro,
de pouco valor comercial. Avaliações do
número de hastes/m2 mostraram valores
médios de 7,1 ± 3,7 para a “IPR 82Araucária”, enquanto que “Achat”, “Baronesa” e “Bintje” apresentaram valores
de 11,3 ± 4,4; 10,6 ± 4,8 e 13,0 ± 7,9,
respectivamente, sendo este um fator
positivo para o aumento do número de
plantas na linha, como fator para redução da incidência da mancha chocolate.
Observou-se teores de matéria seca
aceitáveis e em valores superiores aos
da cultivar Bintje, o que representa bom
rendimento industrial; no entanto a aparência de fritura, tanto em “palito” como
em “chips” deixou a desejar, com valores inferiores à “Achat”, cultivar não
adaptada para a indústria de fritas (Tabela 1). Mesmo assim, observou-se alta
aceitação pelos consumidores de “IPR
82-Araucária” preparada para fritura na
região de Curitiba (Scotti et al., 1997).
Em experimentos específicos para a
avaliação do nível de resistência de campo à requeima sem controle químico,
observou-se que em cultivares suscetíveis como “Bintje” e “Monalisa” a epidemia da doença atingiu mais de 95%
de área foliar atacada, aos 25 dias após
o início do aparecimento de sintomas,
256
enquanto que na mesma época a severidade em “IPR 82-Araucária” era de
menos de 5% (Nazareno et al., 1997).
A resistência da nova cultivar está
demonstrada na Tabela 2; os dados apresentados referem-se à área sob a curva
da epidemia de requeima (Cambell &
Madden, 1990), em ensaio conduzido sob
infecção natural, em Curitiba, na safra das
secas de 1997. Observa-se que todas as
cultivares testadas, à exceção da “IPR 82Araucária” apresentaram suscetibilidade
à doença. Essa característica vem-se
mantendo há várias safras, o que tem
permitido prever uma redução de 50%
na demanda de pulverizações com
fungicidas para o controle da requeima
(Nazareno et al., 1997). Essa característica da nova cultivar a torna com potencial para o cultivo orgânico.
A observação em tubérculos indica
suscetibilidade à sarna comum. Essa
característica negativa à aparência comercial pode ser minimizada com o uso
adequado da calagem do solo, uso de
irrigação na época de tuberização e
comercialização de tubérculos apenas escovados, que é a forma convencional de
venda, em feiras de pequenos produtores.
Complementando-se a descrição da
cultivar IPR 82-Araucária apresenta-se
a seguir seus principais descritores
morfológicos e as características botânicas e vegetativas: plantas de ciclo
vegetativo longo (117 dias); hábito de
crescimento ereto; folhagem da planta
aberta a intermediária; fechamento médio da folha; folíolos de tamanho pequeno a médio; asas nas hastes presentes e
de formato ondulado; flores brancas;
alta a média frequência de frutos; tubérculos oval-alongados, de película amarela, polpa amarela-clara e olhos rasos;
aptidão culinária para cozimento.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a colaboração
dos Engenheiros Agrônomos João C.
Zandoná, Newton A. Yorinori e Robson
L. Mafioletti, à acadêmica de agronomia Norma Boschetto e aos técnicos
agrícolas Horácio F.S. Juliatto e Jocemar
F. de Campos, pelas suas contribuições
e apoio nas diversas fases deste trabalho. Aos pesquisadores da Embrapa
Hortaliças José Amauri Buso, Paulo
Eduardo de Melo e Sieglinde Brune e
da Embrapa Semente Básica Elcio
Hirano e Odone Bertoncini pelo apoio
e suporte técnico, que resultou no lançamento desta cultivar. Ao CNPq, pela
bolsa concedida ao segundo autor.
LITERATURA CITADA
CAMPBELL, C.E.; MADDEN, L.V. Introduction
to Plant Disease Epidemiology. New York:
John Wiley & Sons, 1990. 532 p.
ECARCB/PR. Normas e metodologia para execução do ensaio cooperativo de avaliação e recomendação regional de cultivares de batata.
Estado do Paraná. Curitiba, 1991. 32 p. (Documento).
ECARCB/PR. Comissão Técnica do Ensaio Cooperativo de Avaliação Regional de Cultivares
de Batata para o Paraná. Relatório Técnico Final, período 1991/1995. Curitiba, 1996, 45 p.
NAZARENO, N.R.X. de; BRISOLLA, A.D.;
ZANDONÁ, J.C. Uso de agroquímicos na
cultura da batata em Curitiba e Guarapuava,
IAPAR, Londrina-PR, 1995 56 p. (Informe da
Pesquisa, 114).
NAZARENO, N.R.X. de; SCOTTI, C.A.;
ZANDONÁ, J.C.; YORINORI, N.A.;
MAFIOLETTI, R.L.; BOSCHETTO, N. Avaliação de clones e cultivares de batata para resistência à requeima no Paraná. Fitopatologia
Brasileira, Brasília, v. 22, Suplemento, p. 289,
agosto 1997.
SCOTTI, C.A.; NAZARENO, N.R.X. de;
GODOY, R.C.B.; HAMERSCHMIDT, I. Estudo da Cadeia Produtiva da Batata. SEAB/PR,
Curitiba-PR. 47 p. sem data. (Documento).
SCOTTI, C.A. ; NAZARENO, N.R.X. de;
ZANDONÁ. J.C. Avaliação da qualidade de
clone experimental de batata pelo consumidor
final. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15,
n. 1, p. 74-76, maio 1997.
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
VIEIRA, R.F.; RESENDE, M.A,V. de; VIEIRA, C. Leopoldina: primeira cultivar de grão-de-bico para Minas Gerais. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17,
n. 3, p. 256-257, novembro 1999.
Leopoldina: primeira cultivar de grão-de-bico para Minas Gerais.
Rogério F. Vieira1; Maria Aparecida V. de Resende 1; Clibas Vieira2
1
Epamig, Vila Gianetti, 47, 36.571-000 Viçosa-MG; 2 , UFV-Deptº de Fitotecnia, 36.571-000 Viçosa-MG.
RESUMO
ABSTRACT
A cultivar de grão-de-bico Leopoldina foi introduzida do
“International Center for Agricultural Research in the Dry Areas”
(ICRISAT), localizado na Índia, com a denominação ICCV-3. Suas
sementes têm coloração creme (tipo kabuli) e o peso de 100 unidades varia de 28 a 36 g. Apresenta plantas com tipo de crescimentos
ereto e inserção da primeira vagem alta. As plantas podem atingir
60 cm de altura. Seu ciclo de vida varia de 125 a 135 dias. É resistente à raça 1 do Fusarium oxysporum f. sp. cicero e tolerante aos
nematóides causadores de galhas nas raízes. Nos ensaios conduzidos no outono-inverno com irrigação na Zona da Mata e no Norte de
Minas Gerais, os rendimentos alcançados pela ‘Leopoldina’ variaram de 2.037 a 2.950 kg/ha.
Leopoldina: first chickpea cultivar for Minas Gerais State,
Brazil.
Palavras-chave: Cicer arietinum, Fusarium oxysporum f. sp.
cicero, nematóides, ciclo de vida, rendimento.
Keywords: Cicer arietinum, Fusarium oxysporum f sp. cicero,
nematodes, life cycle, yield.
‘Leopoldina’ was introduced from the International Center for
Agricultural Research in the Dry Areas (ICRISAT), Índia, as line
ICCV-3. The seeds are cream (kabuli type) and 100-seed weight
ranges from 28 to 36 g. ‘Leopoldina’ has erect plant type and high
first pod insertion. The plant can reach 60 cm in height, and its life
cycle ranges from 125 to 135 days. ‘Leopoldina’ is resistant to race
1 of Fusarium oxysporum f.sp. cicero and tolerant to root-knot
nematodes. In trials carried out during fall-winter with irrigation at
“Zona da Mata” and “Norte” regions of Minas Gerais, Brazil, yields
varied from 2,037 to 2,950 kg/ha.
(Aceito para publicação em 27 de agosto de 1999)
O grão-de-bico pode ser classificado em dois grupos de cultivares: kabuli
e desi. Este último grupo, que predomina na Índia - o maior produtor dessa
leguminosa -, não é comercializado no
Brasil. As cultivares pertencentes ao
grupo kabuli possuem grãos de cor creme com baixo teor de fibras. O consumidor brasileiro tem preferência pelas
cultivares de grãos médios e grandes do
grupo kabuli, os quais são consumidos
na forma de salada ou de pasta. As temperaturas ótimas para o cultivo do grãode-bico estão entre 15 e 30ºC (Braga et
al., 1992). Por isso, no sudeste do Brasil, ele deve ser cultivado no outono-inverno, com irrigação.
A primeira cultivar lançada no Brasil ocorreu em São Paulo, em 1989. A
‘IAC Marrocos’, introduzida em 1964 do
Marrocos, tem grãos de tamanho médio
(26 g/100 unidades) e ciclo de vida de
125 a 140 dias (Braga et al., 1992). Em
1994, a cultivar Cícero (grãos grandes),
selecionada de introduções procedentes
do México, foi recomendada para cultivo no inverno nas condições
edafoclimáticas do Brasil Central, onde
o seu ciclo de vida é de, aproximadamente, 110 dias (Giordano & Nascimento,
1994). Minas Gerais tem grande potencial para o cultivo do grão-de-bico, por
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
causa da vasta área irrigada por aspersão
e do clima ameno no outono-inverno na
maior parte do estado. No entanto, não
há cultivar recomendada para as condições edafoclimáticas de Minas Gerais.
Logo, ‘Leopoldina’ é a primeira cultivar
a ser lançada para esse estado.
ORIGEM
A cultivar Leopoldina foi introduzida
do “International Center for Agricultural
Research in the Dry Areas” (ICRISAT),
localizado na Índia. Ela foi recebida em
1991, com a denominação ICCV-3. Esta
linhagem provém de um cruzamento
múltiplo [( K 850 x GW 5/7 ) x P 458 ] x
(L 550 x Guamuchil) feito em 1975, e
foi selecionada para ter resistência à raça
1 da murcha-de-fusarium (Fusarium
oxysporum f. sp. ciceri), na Índia.
DESCRIÇÃO
Plantada em abril ou maio e irrigada,
a emergência ocorre entre 6 e 9 dias. Da
emergência ao início da floração a
‘Leopoldina’ leva entre 43 e 63 dias,
dependendo do local. O ciclo de vida
varia de 125 a 135 dias. Apresenta plantas com tipo de crescimento ereto e in-
serção da primeira vagem alta, o que
facilita a colheita mecanizada. As plantas atingem 55 a 60 cm de altura. A flor
é branca e o comprimento da vagem é
de 25 mm; em geral são produzidas 2 a
3 sementes por vagem. O índice de colheita normalmente varia de 37% a 48%.
As sementes têm coloração creme e o
peso de 100 unidades varia de 28 a 36
g. A cultivar Leopoldina é resistente à
raça 1 de F. oxysporum f. sp. ciceri e
tolerante aos nematóides causadores de
galhas nas raízes (informação pessoal,
Dr. Jagdish Kumar, ICRISAT).
A cultivar Leopoldina teve bom desempenho quando plantada em abril ou
maio na Zona da Mata e no Norte de
Minas Gerais, sempre com irrigação.
Em Coimbra, município da Zona da
Mata localizado a 800 m de altitude,
seu rendimento variou de 2.037 a 2.300
kg/ha (Braga et al., 1997). Em
Leopoldina, município da Zona da
Mata localizado a 210 m de altitude, o
rendimento atingiu 2.959 kg/ha. Em
Janaúba, Norte de Minas Gerais, ela
rendeu 2.640 kg/ha. Em média, a cultivar Leopoldina rendeu 20% e 42% a
mais que as cultivares IAC Marrocos e
Cícero, respectivamente. Nesses ensaios,
a ‘Leopoldina’ foi plantada no
257
R. F. Vieira et al.
espaçamento entre fileiras de 50 cm,
com 20 sementes por metro. A adubação nitrogenada de cobertura variou de
30 a 100 kg/ha de N. Não se fez uso de
inoculante (Bradyrhizobium sp.).
DISPONIBILIDADE DE SEMENTES
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG
pelo financiamento da pesquisa que teve
como resultado o lançamento da cultivar Leopoldina.
BRAGA, N.R., VIEIRA, C., VIEIRA, R.F Comportamento de cultivares de grão-de-bico
(Cicer arietinum L.) na Microrregião de Viçosa, Minas Gerais. Revista Ceres, Viçosa, v.
44, n. 255, p. 577-591, 1997.
GIORDANO, L. de B.; NASCIMENTO, W.M.
‘Cícero’: nova cultivar de grão-de-bico para
cultivo de inverno. Horticultura Brasileira,
Brasília, v. 12, n. 1, p. 80 (Resumo), 1994.
LITERATURA CITADA
Pequenas amostras de sementes da
cultivar Leopoldina podem ser obtidas
no Centro Tecnológico da Zona da Mata
(EPAMIG), em Viçosa,MG.
BRAGA, N.R., VIEIRA, R.F., RAMOS, J.A. de
O. A cultura do grão-de-bico. Informe
Agropecuário, Belo Horizonte, v. 16, n. 174,
p. 47-52, 1992.
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258
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Abstract, em inglês, acompanhado de título e keywords. O
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Material e Métodos; 5. Resultados e Discussão; 6. Agradecimentos; 7. Literatura Citada; 8. Figuras e tabelas.
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a expressão latina et alli, de forma abreviada (et al.), sempre
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et al., 1951);
g) As referências bibliográficas citadas no texto deverão
ser incluídas em LITERATURA CITADA, em ordem alfabética, pelo primeiro autor. Quando houver mais de um artigo
do(s) mesmo(s) autor(es), no mesmo ano, indicar por uma
letra minúscula, logo após a data de publicação do trabalho,
como segue: 1997a, 1997b. A ordem dos itens em cada refeHortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
rência deverá obedecer as normas vigentes da Associação
Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, como segue:
Periódico: NOME DOS AUTORES (em caixa alta,
separados por ponto-e-vírgula. Independente do número de
autores, todos devem ser relacionados, vedando-se, em
Horticultura Brasileira, o uso de et alli na LITERATURA
CITADA). Título do artigo. Título do Periódico (em
Horticultura Brasileira sempre em itálico, vedando-se a utilização de abreviações), cidade de publicação (apenas para
periódicos brasileiros), volume, número do fascículo (quando a informação estiver disponível), paginação inicial e final, mês (indicando com inicial maiúscula os meses para
periódicos em inglês e, com inicial minúscula, para periódicos em português, e abreviando-se na terceira letra quando
o nome do mês possuir mais de quatro letras), ano de publicação. Recue o início de uma eventual segunda linha de referência até alinhar-se com a terceira letra da linha inicial.
Veja o exemplo:
VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heat
production of vegetables during refrigerated storage.
Journal of the American Society for Horticultural
Science, v. 97, n. 3, p. 431 - 432, Mar. 1972.
Livro: NOME DOS AUTORES (em caixa alta, separados por ponto-e-vírgula. Independente do número de autores do artigo, todos devem ser relacionados, vedando-se, em
Horticultura Brasileira, o uso de et alli na LITERATURA
CITADA). Título do livro (em Horticultura Brasileira sempre em itálico, vedando-se a utilização de abreviações). Cidade de publicação: editora, ano de publicação. Número total
de páginas. Recue o início de uma eventual segunda linha de
referência até alinhar-se com a terceira letra da linha inicial.
Veja o exemplo:
ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3 ed. New
York: John Willey, 1979. 632 p.
Capítulo de livro: NOME DOS AUTORES DO CAPÍTULO (em caixa alta, separados por ponto-e-vírgula. Independente do número de autores, todos devem ser relacionados, vedando-se, em Horticultura Brasileira, o uso de et
alli na LITERATURA CITADA). Título do capítulo. In:
NOME DOS EDITORES OU COORDENADORES DO LIVRO (em caixa alta, separados por ponto-e-vírgula. Independente do número de autores, todos devem ser relacionados,
vedando-se, em Horticultura Brasileira, o uso de et alli na
LITERATURA CITADA). Título do livro (em Horticultura
Brasileira sempre em itálico, vedando-se a utilização de abreviações). Cidade de publicação: editora, ano de publicação.
Páginas inicial e final. Recue o início de uma eventual segunda linha de referência até alinhar-se com a terceira letra da
linha inicial. Veja o exemplo:
ULLSTRUP, A.J. Diseases of corn. In: SPRAGUE, G.F. ed.
Corn and corn improvement. New York: Academic Press,
1955. p. 465 - 536.
Tese: NOME DO AUTOR (em caixa alta). Título da
tese (em Horticultura Brasileira sempre em itálico, vedandose a utilização de abreviações). Cidade de publicação: instituição, ano de publicação. Número total de páginas. (Tese
mestrado ou doutorado). Recue o início de uma eventual segunda linha de referência até alinhar-se com a terceira letra
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
da linha inicial. Veja o exemplo:
SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora
em pimentão na fase juvenil. Piracicaba: ESALQ, 71 p.
(Tese mestrado).
Trabalhos apresentados em congressos (quando não
incluídos em periódicos): NOME DOS AUTORES (em caixa alta, separados por ponto-e-vírgula. Independente do número de autores do artigo, todos devem ser relacionados, vedando-se, em Horticultura Brasileira, o uso de et alli na LITERATURA CITADA). Título do trabalho. In: NOME DO
CONGRESSO (em caixa alta, vedando-se, em Horticultura
Brasileira, o uso de abreviações na LITERATURA CITADA),
número do congresso. (seguido de ponto), ano de realização
do congresso, cidade de realização do congresso. Título da
publicação... (Anais...; Proceedings..., etc..., seguido de reticências): Local de edição da publicação: editora ou instituição responsável pela publicação, ano de publicação. Páginas
inicial e final do trabalho. Recue o início de uma eventual
segunda linha de referência até alinhar-se com a terceira letra
da linha inicial. Veja o exemplo:
HIROCE, R; CARVALHO, A.M., BATAGLIA, O.C.; FURLANI, P.R.;
FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO, J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, 4., 1977, Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p.
357 - 364.
www site
- Autor(es):
MASSRUHÁ, S.M.F.S.; MANCINI, A.L.; MEIRA, C.A.A.; MÁXiMO, F.A.;
FILETO, R.; PASSOS, S.L.Z.
Quando o site não indicar autoria, entrar pelo título
(ver exemplo 2).
- Título: indica-se o título do documento consultado
Ambiente de desenvolvimento de software para o domínio de administração rural.
- Fonte (location, site ou host): indica-se, em itálico e
na língua do texto, o nome do site onde o documento
está armazenado, seguido da data, entre parênteses,
em que o mesmo tomou-se disponível na lntemet.
Disponível: site Agrosoft (07 fev. 1996)
Disponível: Middlebuty College site (Feb. 7, 1996)
URL: indica-se o endereço completo do site, precedido da sigla URL.
URL:http:/Awww.agrosoft.com/agroport/docs95/
doc10.htm
- Notas: data de consulta - indica-se, na língua portuguesa, a data em que a consulta foi efetuada.
Consultado em 12 fev. 1996.
Exemplo 1
MASSRUHÁ, S.M.F.S.; MANCINI, A.L.; MEIRA, C.A.A.; MÁXIMO, F.A.;
FILETO, R.; PASSOS, S.L.Z. Ambiente de desenvolvimento de
software para o domínio de administração rural. Disponível:
site
Agrosoft (07 fev. 1996). URL: http://www.agrosoft.com/agroport/docs95/
doc10.htm Consultado em 12 fev.1996.
Exemplo 2
MARY Cassatt biographical sketch and paintings. Disponível: WebMuseum
Paris site (1994). URL: http://www.oir.ucf.edu/louvre/paintauth/cassat
Consultado em 10 abr. 1995.
www page
259
- Autor(es): indica-se o(s) nome(s) do(s) autor(es) e
em sua ausência, entra-se pelo título
- Título: indica-se o título do documento consultado
- Fonte (location, site ou host): indica-se, em itálico e
na língua do texto, o nome do site onde o documento
está armazenado, seguido da data, entre parênteses,
em que o mesmo tomou-se disponível na intemet
- Disponível: site EMBRAPA (25 set. 1995)
- Endereço URL:http:/www.hortbras.com.br/resumos_ dos_artigos.htm
- Notas: indica-se na língua portuquesa, a data em que
a consulta foi efetuada
Horticultura Brasileira. Resumos dos artigos (10 nov. 1998). URL: http://
www.hortibras.com.br/resumos_dos_artigos.htm. consultado em 19 nov.
1999.
FTP (file transfer protocol)
Citação de arquivo disponível para transferência, atra
vés do serviço ftp.
- Autor(es), quando conhecidos indica-se o(s) autor(es)
BRUCKMAN, A.
- Título: indica-se o nome completo do documento,
em itálico
Approaches to managing deviant behavior in virtual
communities.
- Fonte: URL ou endereço do site ftp - indica-se o en
dereço completo do site
URL: ftp.media.mit.edu pub/asb/papers/deviancechi94
ou
ftp: ftp.media.mit edu pub/asb/papers/deviance-chi94
- Notas: data de acesso - indica-se, na língua portu
guesa, a data em que a consulta foi efetuada. Consul
tado em 4 dez. 1994.
BRUCKMAN, A. Approaches to managing deviant behavior in virtual
communities. ftp.media.mit edu pub/asb/papers/deviance-chi94 Consultado em 4 dez. 1994.
Mensagem pessoal
Documentos originados do correio eletrônico
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correspondente ao título, utilizando as informações con
tidas na linha de assunto do e-mail.
Notícias
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autor (o endereço pessoal poderá ser omitido, indicando em seu lugar o endereço da lista da qual o autor é
assinante).
smferrei@spider. usp.br
indicação do tipo da mensagem - Mensagem pessoal
- Notas: data da mensagem enviada
14 maio 1996
FERREIRA, S.M.S. Notícias. [email protected]. Mensagem pessoal.
14 mai 1996
Artigos de periódico (em CD-ROM e na lnternet)
260
- Autoria.
- Título do artigo.
- Título do periódico, por extenso, com iniciais maiúsculas.
- Local de publicação, se houver.
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da seção.
- Páginas (inicial e final) do artigo, ou número parágrafos (quando não apresentar paginação).
- Data.
- Endereço/protocolo (quando se tratar de documento
disponível na intemet).
- Indicação do tipo de mídia.
- Data de acesso: indica-se, na língua portuguesa, a
data em que a consulta foi efetuada, apenas quando se
tratar de documentos disponível na lntemet.
Exemplos:
BARTSCH, S. Actors in the audience. Bryn Mawr Classícal Revíew, v.3, n.2,
10 par., 1995. Disponível: gopher:gopher. lib.virginia.edu:7OlOOIalpha/
bmrciv95195-3-2 Consultado em 07 ago 1996.
WENTWORTH, E.P. Pitfalls of conservative garbage collection. Software - Practice
& Experience, v.20, n.7, p.719-727, July 1990. CD-ROM. SP & E archive.
Eventos Científicos Considerados em parte (em
CD-ROM)
- Autoria
- Título e subtítulo da parte
- Nome do evento
- Número do evento
- Data e local de realização
- Título e subtítulo do evento
- Local de edição
- Editor
- Ano de publicação
- Páginas (inicial ou final) ou número de parágrafos
(quando não apresentar paginação)
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CARRILHO, J. Z.; SOARES, J. V.; VALÉRIO FILHO, M. Detecção automática de mudanças como recurso auxiliar no monitoramento da cobertura do terreno. ln: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO
REMOTO, 8., 1996, Salvador. Anais. São Paulo: INPE / Sociedade Latino-Americana de Sensoriamento Remoto e Sistemas de lnforrnações Espaciais, 1996.26 par. CD-ROM. Seção artigos.
h) A citação de resumos apresentados em congressos deve
ser limitada a no máximo 20% do total de referências, exceto no
caso de assuntos onde não há literatura em quantidade razoável;
i) A citação de trabalhos com mais de dez anos de idade
deve ser limitada a no máximo 50% do total de referências,
exceto no caso de assuntos onde não há literatura em quantidade razoável;
j) Somente deverão ser incluídas tabelas e figuras que
apresentem dados relevantes à interpretação do assunto e que
não possam ser apresentados em poucas linhas de texto. Dados apresentados em figuras não devem ser apresentados novamente em tabelas e vice-versa. As tabelas e figuras devem ser
apresentadas ao final do artigo, uma por página, com numeração consecutiva;
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
k) Utilize o padrão da revista para títulos de tabelas,
rodapés e legendas, indicando no título ou legenda, nesta ordem: local, instituição e ano de realização do trabalho. Tabelas e figuras devem ser sempre autoexplicativas, ou seja, o
leitor deve entender o que está sendo demonstrado, sem ser
necessário que consulte o texto. As tabelas devem ser configuradas no padrão SIMPLES do processador de textos Word,
ou similar. Linhas verticais não são utilizadas e linhas horizontais devem aparecer somente entre o título e o corpo da
tabela; entre o cabeçalho e o conteúdo da tabela e, quando for
o caso, entre o conteúdo da tabela e a última linha;
l) Ao longo do texto, as fórmulas químicas devem ser
indicadas de acordo com a nomenclatura adotada pela
Chemical Society (Journal of the Chemical Society, p. 1067,
publicado em 1939). Em tabelas, as fórmulas químicas devem ser apresentadas no rodapé;
m) No caso de agrotóxicos é vedada a utilização de nomes comerciais. Deve ser utilizado o nome técnico ou a referência ao princípio ativo;
n) No caso do trabalho conter fotografias, a Comissão
Editorial deve ser consultada. No caso de fotografias coloridas, os autores devem cobrir os custos adicionais.
4. ECONOMIA E EXTENSÃO RURAL: trabalho na
área de economia aplicada ou extensão rural, tendo forma
livre porém devendo atender obrigatoriamente às alíneas (a),
(b), (c), (d), (f), (g), (h) e (i) de PESQUISA, além de apresentar resumo, palavras-chave, abstract, título em inglês e key
words (observe instruções na alínea (e) de PESQUISA). Caso
haja co-autores, é obrigatória a sua anuência à publicação.
Caso haja tabelas, figuras, fórmulas químicas, referências a
agrotóxicos ou inclusão de fotografias, obedecer as alíneas
(j), (k), (l), (m) e (n) de PESQUISA.
5. PÁGINA DO HORTICULTOR: Comunicação ou
nota científica, passível de utilização imediata pelo horticultor.
Observar o mesmo padrão de PESQUISA.
6. INSUMOS E CULTIVARES EM TESTE: comunicação ou nota científica relatando ensaio com agrotóxicos,
fertilizantes ou cultivares, tendo forma livre, mas devendo
obedecer, obrigatoriamente as alíneas (a), (b), (c) e (d) de
PESQUISA e, quando aplicável, as alíneas (f), (g), (h) e (i)
de PESQUISA, além de apresentar resumo, palavras-chave,
abstract, título em inglês e keywords (observe instruções na
alínea (e) de PESQUISA). Caso haja co-autores, é obrigatória
a sua anuência à publicação. Caso haja tabelas, figuras, fórmulas químicas, referências a agrotóxicos ou inclusão de fotografias, obedecer as alíneas (j), (k), (l), (m) e (n) de PESQUISA.
7. NOVA CULTIVAR: Comunicação relatando o registro de nova cultivar, tendo forma livre, mas devendo obedecer, obrigatoriamente as alíneas (a), (b), (c) e (d) de PESQUISA e, quando aplicável, as alíneas (f), (g), (h) e (i) de PESQUISA, além de apresentar resumo, palavras-chave, abstract,
título em inglês e keywords (observe instruções na alínea (e)
de PESQUISA). Caso haja co-autores, é obrigatória a sua
anuência à publicação. Caso haja tabelas, figuras, fórmulas
químicas, referências a agrotóxicos ou inclusão de fotografias, obedecer as alíneas (j), (k), (l), (m) e (n) de PESQUISA.
8. EXPEDIENTE: seção destinada à comunicação entre os leitores e a Comissão Editorial e vice-versa, na forma
Hortic. bras., v. 17, n. 3, nov. 1999.
de breves avisos, sugestões e críticas. O texto não deve exceder 300 palavras (1.200 caracteres) e deve ser enviado em
duas cópias devidamente assinadas, acompanhadas de
disquete e indicação de que o texto se destina à seção
Expediente. Por questões de espaço, nem todas as notas recebidas poderão ser publicadas e algumas poderão ser publicadas
apenas parcialmente.
9. Trabalhos que não atendam às alíneas (a), (h) e (i) de
PESQUISA não serão aceitos.
10. Trabalhos que não atendam às alíneas (b), (d), (e), (f),
(g), (j), (k), (l), (m) de PESQUISA serão devolvidos aos autores para que sejam adequados sem serem registrados na
secretaria da revista.
11. Trabalhos que não atendam à alínea (c) de PESQUISA permanecerão na secretaria da revista, com processo de
tramitação suspenso, por 90 dias a contar da data constante
no aviso de recebimento do trabalho enviada aos autores pela
Comissão Editorial. Findo esse prazo, caso as indicações contidas na referida alínea não tenham sido atendidas pelos autores, os originais dos trabalhos serão destruídos e o trabalho
será excluído dos registros da secretaria da revista.
III. Os manuscritos submetidos à publicação nas seções
PESQUISA e ECONOMIA e EXTENSÃO RURAL serão
apreciados por no mínimo dois assessores ad hoc, especialistas no tema do artigo apresentado, que darão parecer sobre a
conveniência de sua publicação do trabalho, com base na
qualidade técnica do trabalho e do texto. Os artigos submetidos à publicação nas demais seções, a critério da Comissão
Editorial, podem também ser apreciados por assessores ad
hoc. Ao seu critério, os assessores ad hoc poderão sempre
que consultados indicar alterações que adequem o artigo ao
padrão de publicação da revista.
IV. Em caso de dúvidas, consulte a Comissão Editorial
ou verifique os padrões de publicação em Horticultura Brasileira, v. 14 em diante.
V. Os casos omissos serão decididos pela Comissão Editorial. Se necessário, modificações nas normas de publicação
serão feitas posteriormente.
VI. Os originais devem ser enviados para:
Horticultura Brasileira
C. Postal 190
70.359-970 Brasília - DF
Tel.: (061) 385.9051 / 385.9000
Fax: (061) 556.5744
E.mail: [email protected]
VII. Assuntos relacionados a mudança de endereço,
filiação à Sociedade de Olericultura do Brasil - SOB, pagamento de anuidade, devem ser encaminhados à diretoria da
SOB, no seguinte endereço:
UNESP - FCA
C. Postal 237
18.603-970 Botucatu - SP
Tel: (014) 820 7172
Fax: (014) 821 3438
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