O JOGO DE BOLICHE NO ENSINO DE CONCEITOS MATEMÁTICOS: UMA POSSIBILIDADE PARA ALÉM DO CONTROLE DE QUANTIDADES Priscila França 1 – UEM/PR Edilson de Araújo dos Santos 2 – UEM/PR Luciana Figueiredo Lacanallo Arrais 3 - UEM/PR Grupo de Trabalho-Educação Matemática Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo Objetiva-se neste trabalho discutir encaminhamentos didáticos para o jogo de boliche no ensino dos conceitos matemáticos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a fim de se ampliar possibilidades de trabalho para além da maneira convencional de jogá-lo. Esse trabalho faz parte de um projeto de iniciação científica desenvolvido na Universidade Estadual de Maringá em 2015, que busca apontar maneiras diferentes de jogar daquela que se limitam ao controle de quantidades. O desafio de aprender e ensinar matemática são históricos e acompanham a educação. A busca por recursos, estratégias e encaminhamentos didáticos que auxiliem no processo educativo é uma forma de assegurar a aprendizagem destes conceitos. Nessa busca, um dos recursos que vem ganhando espaço no contexto escolar é o jogo. O jogo apresenta-se como um recurso bem aceito entre educadores e alunos, porém nem sempre promove a aprendizagem de conceitos científicos, pois existe pouco domínio sobre os encaminhamentos necessários para aplicá-lo. Analisando esse recurso sob os pressupostos da psicologia histórico-cultural o entendemos não como algo isolado do contexto educativo, mas como algo que precisa estar relacionado a outros fatores envolvidos no processo de aprendizagem e desenvolvimento do educando. Com este propósito, por meio do boliche exemplificaremos o papel do professor ao selecionar um jogo. Organizaremos os encaminhamentos didáticos tendo como base teórico-metodológica os pressupostos da Atividade Orientadora de Ensino (MOURA, 2007). Assim, será discutido a concepção de ensino de matemática e jogos que podem organizar a prática educativa em sala de aula de modo a viabilizar a promoção da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. Espera-se com esta pesquisa colaborar na compreensão da relação entre jogos, ensino e aprendizagem dos conceitos matemáticos. Isso porque, só intensificando debates, pesquisas e discussões em 1 Graduando do terceiro ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected] ² Graduando do segundo ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected] ³ Professora Doutora Adjunta do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá e professora de reforço escolar nos anos iniciais do Ensino Fundamental. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 22185 torno desta temática, que se responderão aos inúmeros dilemas e questionamentos que comprometem a qualidade do ensino na escola. Palavras-chave: Ensino Matemática. Jogos. Aprendizagem. Recurso Pedagógico. Introdução Quando se fala em matemática, algumas pessoas já expressam seu descontentamento: “não gosto desta matéria”. Os motivos que justificam esse não gostar variam desde o fato da ausência de boas experiências escolares, por não terem simpatizado com o professor, ou por a acharem difícil demais até a aversão aos métodos empregados ao longo de muito tempo para se ensinar. Percebe-se que a relação com a “matemática” se baseia apenas na dimensão escolar, ou seja, é apenas uma disciplina. Mas, falar de matemática envolve aspectos que estão muito além da aprovação ao longo do ano letivo. Não se pode pensar a matemática como uma disciplina isolada em si mesma. Ela integra conhecimentos de outras ciências e, ao mesmo tempo agrega conhecimentos de outras áreas. A matemática constitui-se em uma forma de linguagem produzida historicamente pelos homens para a satisfação das próprias necessidades humanas (MORAES, 2010). Desse modo, o domínio de conceitos matemáticos permite que o homem tenha o controle de quantidade, que reconheça variações das grandezas, domine o espaço e construa formas. Ampliar o entendimento e ao mesmo tempo as expectativas sobre o ensino da matemática é algo desafiador que exige pesquisas e investigações sobre concepções, estratégias de ensino e recursos didáticos. Nessa investigação, o foco é o jogo, enquanto um recurso didático, capaz de auxiliar na organização da prática docente. Dentre os muitos jogos disponíveis, selecionamos o jogo boliche como objeto da nossa pesquisa, por estar muito presente nas salas de aulas do ensino fundamental e, por, possibilitar ao professor trabalhar diversas relações conceituais. Porém, em nossos estudos daremos atenção às necessidades humanas que possibilitam a produção dos conhecimentos e, segundo Moura (2007, p.42) “criam condições para a comunicação entre os indivíduos”. Mas, o jogo boliche enquanto um recurso didático pode ampliar as possibilidades de trabalho para além da maneira convencional de jogá-lo? O que isso representa no trabalho em sala de aula para o aluno e para o professor? Na busca por responder a essas questões que esse trabalho direciona suas discussões objetivando auxiliar na organização do ensino de matemática encontrando maneiras de 22186 promover a aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Para tanto, nesse artigo, primeiramente se discutirá a relação entre os jogos e os conceitos matemáticos, como uma possibilidade de promoção da aprendizagem no Ensino Fundamental. Depois, se apontará como uma primeira possibilidade de trabalho que pode ser feito, o resgate da história do jogo relacionando essa com os conceitos a serem trabalhados. Espera-se que, ao discutir encaminhamentos didáticos para os jogos, se possa encontrar possibilidades de organização do ensino que possibilitem a aprendizagem dos conceitos matemáticos a todos os alunos. Os jogos e os conceitos matemáticos: uma possibilidade Atualmente sabe-se que os jogos são um dos recursos utilizados pelos educadores que ensinam matemática, para viabilizar a aprendizagem dos alunos. Existem vários jogos para se ensinar matemática, mas será que todo jogo promove a aprendizagem? Pesquisas apontam (MOURA, 2007; LACANALLO, 2011) que muitos jogos estão sendo usados como distração e/ou passatempo no final das aulas, ou ainda como pretexto para introduzir conteúdos e depois não se faz mais articulação com os mesmos. Momentos como esses são feitos sem direcionamentos, sem mediação, ou seja, o objetivo é somente “brincar”, sem intuito pedagógico que viabilize o desenvolvimento e a aprendizagem. Jogar é uma ação educativa séria de fato para nós educadores e, por isso não pode ser apresentada na escola com esses enfoques distorcidos. A ação de jogo revela muito das funções mentais, possibilita aprendizagem e auxilia na função maior da escola de garantir a apropriação dos conceitos científicos, pois: Ao jogar, a criança revela um modo de interpretar as várias funções dos sujeitos no universo social, actua segundo uma compreensão de como funciona a natureza e como interactuam os sujeitos no seu grupo: participa na construção de regras, de padrões de comportamento, de modo de agir sobre os objetos e, principalmente, desenvolve a linguagem ao trocar significados nos processos interactivos que a vida em grupo lhe propicia.4 (MOURA, 2007, p. 53). Assim, discutir o jogo implica em considerar questões da psicologia do desenvolvimento. É por meio do trabalho escolar, que acontece o desenvolvimento das máximas capacidades humanas, direcionando-o à apropriação dos conceitos científicos. Assim, toda ação feita na escola precisa estar sistematizada, orientada e bem conduzida e, isso 4 Na citação mantivemos a ortografia apresentada pelo autor na obra, a qual foi publicada em Portugal. 22187 envolve de modo integrado aspectos pedagógicos e psicológicos, inclusive no momento da escolha de um recurso didático, como o jogo. O jogo, na escola, para criança apresenta-se como um caminho para a apreensão de novos conceitos, o que leva a aprendizagem com valor e significado. Percebe-se então a diferença de um jogo atraente, estruturado, com regras e com direcionamento do mediador, daquele jogo exibido sem orientação aplicado com o intuito somente de deixar a criança brincar ou ocupar o tempo livre. Sem a mediação do professor direcionando as ações para o ensino e a aprendizagem, no momento da atividade com jogos, as ações físicas e psíquicas da criança poderão se deslocar para outros fins que não caracterizam a atividade escolar. Todavia, defende-se outro enfoque de trabalho para com esse recurso. Destaca-se o jogo como possibilidade de promoção da aprendizagem, assim: Ao tomarmos o jogo como ferramenta do ensino, ele passa a ter novas dimensões, e é isto que nos obriga a classificá-lo considerando o papel que pode desempenhar no processo de aprendizagem. O jogo pode, ou não, ser jogo no ensino. Ele pode ser tão maçante quanto à resolução de uma lista de expressões numéricas: perde a ludicidade. No entanto, resolver uma expressão numérica também pode ser lúdico, dependendo da forma como é conduzido o trabalho. O jogo deve ser jogo do conhecimento, e isto é sinônimo de movimento do conceito e de desenvolvimento. (MOURA, 1992, p. 5) O jogo não é “receita mágica” para ensinar conteúdos. O que interfere em seus resultados positivos é a presença de aspectos indispensáveis ao processo educativo, como: mediação, conteúdo, problematização, sistematização, organização e intencionalidade. Jogar com esses elementos presentes pode promover a apropriação dos conceitos, em especial nesse trabalho aqui enfocados, os matemáticos. Analisar e propor os jogos sob esse prisma encontra fundamentação na abordagem histórico-cultural, e podemos destacar aqui, os trabalhos do psicólogo soviético, Elkonin (1904-1984), cuja preocupação foi investigar o jogo aproximando-o da psicologia e da pedagogia infantil (ELKONIN, 1998). O autor propõe a periodização do desenvolvimento humano no sentido de compreender a natureza psicológica do jogo infantil. Não vamos nos ater a essa periodização, mas apontar que para Elkonin (1998) a criança em idade escolar ou em idade primária5, tem no jogo de regras um recurso de grande interferência no seu desenvolvimento. 5 Esse período apontado como idade primária por Elkonin (1998) nos dias atuais corresponde aos anos iniciais do ensino fundamental. 22188 Quando se pensa no Ensino Fundamental, os jogos mais presentes nos anos iniciais são os de regras. As regras são capazes de auxiliar no desenvolvimento psíquico dos alunos, ao considerarmos que: [...] a criança aprende e desenvolve suas estruturas cognitivas ao lidar com o jogo de regra. Nesta concepção, o jogo promove o desenvolvimento, porque está isto ocorre porque os sujeitos, ao jogar, passam a lidar com regras que lhes permitem a compreensão do conjunto de conhecimentos veiculados socialmente, permitindolhes novos elementos para aprender os conhecimentos futuros. [...] (MOURA, 1996, p. 79-80) Compreender as regras, as razões e conteúdos envolvidos no jogo potencializam o ensino e a aprendizagem, fazendo com que a ação de jogar seja muito mais que um ato mecânico desvinculado do pensamento. O jogo de regras possibilita a promoção de nexos entre o conteúdo trazido pelo lúdico e as verdadeiras relações sociais entre as pessoas e os conteúdos a serem transmitidos. Quando é proposto o jogo, como um recurso metodológico na organização do ensino de matemática o entendimento que se tem é de que ele é capaz de auxiliar na formação do pensamento teórico e no processo de intervenção pedagógica. Porém, salienta Lacanallo (2011, p.79) é necessário que “se adotem métodos e instrumentos próprios para o ensino relacionando os recursos, no nosso caso, o jogo, com as disciplinas e estimulando o desenvolvimento de cada criança”. Assim, para se ensinar determinado conteúdo matemático o professor pode utilizar jogos, mas isso não dispensa o domínio do conceito científico, o conhecimento do que se quer ensinar. Apesar do encantamento de muitos professores que ensinam matemática para os jogos não é só o fato de tê-los no planejamento que garantirá a aprendizagem. O jogo na educação matemática tem uma intencionalidade; ele deve ser carregado de conteúdo. É um conteúdo que não pode ser apreendido pela criança apenas ao manipular livremente objetos. É preciso jogar. E ao fazê-lo é que se constrói o conteúdo a que se quer chegar. O conteúdo matemático não deve estar no jogo, mas no ato de jogar. (MOURA, 1990, p.65) Diante dessa concepção de jogo aliado ao ensino da matemática, o boliche será o jogo objeto da dessa pesquisa, para investigar como o recurso vem sendo trabalhado nas salas de aula. Como recurso pedagógico para mediação, o boliche possibilita ao professor recriar a necessidade humana de controlar quantidades e, esse controle é uma das necessidades que movimentou o homem historicamente. Porém, em nossos estudos daremos atenção às 22189 necessidades integrativas em que há a produção dos conhecimentos que segundo Moura (2007, p.42) “dão condições para a comunicação entre os indivíduos”. Justifica-se a escolha do referido jogo, por apresentar regras e materiais simples e possíveis de serem aplicados em toda e qualquer escola. Objetiva-se explorar possibilidades para sua aplicabilidade no ensino de matemática nos anos iniciais. Os sujeitos investigados serão alunos do 2º Ano do Ensino Fundamental I, pois nesse ano, de acordo com o currículo do Município de Maringá, está previsto o conteúdo sobre controle de quantidades, conteúdo esse possibilitado pelo boliche. Uma primeira possibilidade de trabalho: conhecendo a história Quem nunca jogou boliche? E, como? A maioria dos jogos resume-se a dez pinos dispostos em uma formação triangular. O jogador arremessa a bola a certa distância e cada pino derrubado representa um ponto conquistado. O vencedor é aquele que derruba o maior número de pinos ao longo de algumas partidas. Essas são as regras de um jogo que pode ser praticado por pessoas independente da idade, sexo ou qualquer outra distinção. Ele é jogado por crianças e adultos como forma de recreação, lazer e não uma atividade de ensino. Todavia, muitos podem questionar como a educação espera fazer um uso diferenciado desse jogo já tão popular em nossa sociedade. Não podemos deixar de destacar que isso é um desafio, pois temos que pensar em formas e estratégias para além do senso comum, se assim podemos definir, o conhecimento prévio que os alunos já trazem sobre o boliche. Antes de se pensar em possibilidades de alterar regras, pinos ou outros elementos do jogo, foi feita uma pesquisa sobre a etimologia da palavra boliche. De acordo com a Confederação Brasileira de Boliche-CBBOL, a palavra boliche significa: [...] pequena rede de pesca, do catalão bolitx, ligado ao grego bolídion, diminutivo não documentado do grego bólos rede, rede de pesca por influência de bola (do latim bulla bolha, borbulha, objeto redondo, bola), o vocábulo passa a designar por metonímia casa onde se jogava com bolas e depois tipo de jogo com bolas, referência (século XVII) a cantina, geralmente militar, onde o proprietário ganhava ("pescava") o dinheiro de quem ali praticava o jogo Boliche o vocábulo passa ao português com essa primeira acepção e por extensão toma também no Sul do Brasil o sentido de Boliche taverna pobre, bodega, usual (século XIX) na América espanhola. (CBBOL, 2014, p.1) 22190 Assim, conhecendo a origem da palavra estabeleceu-se uma associação do boliche a casas de apostas, a jogos que estavam muito além das ideias de recreação e lazer. Essas ideias também deixaram de ser representativas do jogo quando o boliche entre 1895–1916 foi reconhecido como modalidade esportiva nos EUA e, no Brasil, em 1980 pelo Conselho Nacional de Desportos passando a ser dirigido por entidade competente, CBBOL. De fato o homem nunca se contentou em manter as coisas da forma que já são postas, como afirma Moura et al (2001), o homem buscou readaptar diversos objetos que já havia criado a fim de suprir novas necessidades que surgiram. Um exemplo dado por Moura et al (2001) é da roda, que inicialmente era de pedra, algo bem rudimentar, e o homem por não se contentar buscou sempre readaptá-la e atualmente temos rodas das mais diversas formas e para os diversos fins. Tal como aconteceu com a roda, aconteceu com o boliche. Em seu histórico é possível observar como a necessidade do homem fez com que o jogo fosse sendo adaptado as diferentes épocas e realidades nas quais esteve presente. Em cada contexto, a humanidade se coloca a repensar algo, não delimitando regras, espaços ou mesmo conteúdo dos jogos, mas sim sua própria evolução. Sobre essas mudanças, existem diferentes teorias que buscam explicar a origem do boliche, todas trazem explicações e relações com o homem e sua cultura. Uma das teorias divulgadas no site da CBBOL (2014) conta que guerreiros de tribos antigas divertiam-se após as batalhas, usavam os ossos das coxas de seus inimigos como alvos, ou melhor, como pinos. Para derrubá-los eram arremessados os ossos do crânio (o que explicaria a forma atual da bola de boliche) colocando-se o polegar e os outros dedos nas cavidades dos olhos. Outra teoria que explica a origem do jogo revela que um arqueólogo inglês achou em uma tumba de uma criança do Egito bolas e pinos que poderiam ser considerados como uma espécie de boliche primitivo (CBBOL, 2014). As diferentes teorias não param por ai. Existem outras teorias que explicam a origem do jogo e reforçam que esse sempre esteve atrelado a cultura dos povos conquistando a popularidade ao longo dos tempos. Por exemplo, na Inglaterra, o boliche se tornou popular a ponto de ser proibido, pois os governantes tinham receio de que o jogo substituísse o arco e flecha, jogo esse de grande importância militar no período. Nesse país, o boliche era jogado na grama e o objetivo não era derrubar os pinos, mas sim deixar a bola o mais próximo sem tombá-los. (CBBOL, 2014). 22191 Pesquisando sobre o boliche, identifica-se mudanças nas regras, na disposição dos pinos, nos materiais utilizados para confeccionar o jogo, no local em que era praticado, na distância do arremesso das bolas e, em muitos aspectos que envolvem o jogo que por muitos de nós são desconhecidos. Esses elementos desconhecidos até então por nós, atualmente nos parece ser, possibilidades de encaminhamentos didáticos, capazes de nos auxiliar na organização do trabalho escolar com vistas a promover a aquisição do conteúdo científico em questão: o controle de quantidades. Todavia, nossa pesquisa encontra-se em execução e essas possibilidades precisam ser investigadas de fato. Nesse sentido defendemos que o jogo pode explorar diversos conteúdos no cotidiano escolar, a fim de que não se torne somente o jogo pelo jogo, um passatempo no final das aulas. Salientamos que nosso objetivo com esse estudo não é propor uma receita aos docentes, mas sim uma reflexão buscando subsídios que nos auxiliem na organização do ensino visando à aprendizagem dos alunos. Concebemos o aluno como sujeito histórico e capaz de ser conhecedor de tudo que foi historicamente produzido pela humanidade. A partir do momento que conseguirmos recriar essa necessidade em sala de aula poderemos encontrar mais sentido e significado naquilo que aprendemos e ensinamos. Seja pelo jogo de boliche ou por qualquer outro jogo não podemos secundarizar o essencial. A ideia de que o lúdico ou o jogo por si só garante a aprendizagem é um equívoco. A função da escola precisa ser reafirmada por meio de ações de ensino bem planejadas, intencionais e sistematizadas, pois só assim, estaremos promovendo a apropriação do conhecimento científico indispensável ao homem. Considerações Finais O intuito do presente artigo foi discutir encaminhamentos didáticos para o jogo de boliche no ensino dos conceitos matemáticos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a fim de se ampliar as possibilidades de trabalho para além da maneira convencional de jogá-lo. Entende-se que pensar estratégias e recursos de ensino aliados a uma concepção de aprendizagem e desenvolvimento é um dos caminhos para se viabilizar a promoção da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos no ambiente educacional. Sabe-se que historicamente e, ainda hoje para alguns educadores e alunos, os conhecimentos matemáticos são considerados como conhecimentos inacessíveis e pouco 22192 compreensivos. Não são vistos como uma ciência produzida historicamente pelo homem para satisfazer suas necessidades, ou seja, são produtos da ação humana. Ter o domínio desses conceitos matemáticos permite ao homem o controle de diversos elementos e grandezas presentes na sociedade. Mas, como considerar essa relação na organização do ensino? Com base nos pressupostos da teoria histórico-cultural defendemos a necessidade, de reorganizar recursos, encaminhamentos e conteúdos, pois só por meio do trabalho escolar, que o desenvolvimento das máximas capacidades humanas será promovido. Entre as diferentes formas para se teremos como referência a Atividade Orientadora de Ensino (AOE) como uma proposta de organização da atividade de ensino e de aprendizagem (MOURA, 2007). Adotaremos essa base teórico-metodológica, por reconhecermos nessa, uma fonte não só de pesquisa, mas também de suporte para o trabalho educativo capaz de auxiliar a escola a garantir sua função primeira: aprendizagem dos alunos. Cientes dessa função da escola, investigamos os jogos como sendo um dos recursos capazes de materializar os conceitos matemáticos. Os jogos, quando encaminhados de maneira planejada e intencional, possibilita que o indivíduo internalize o motivo da tarefa, estabeleça relações com os conceitos aprendidos e esse movimento desencadeia o seu desenvolvimento psíquico. Nossa investigação sobre o jogo boliche, sua origem e primeiros contatos com seu histórico nos indica possibilidades para pensá-lo em diferentes formas de explorá-lo em sala de aula, para além do controle de quantidades alcançando outros eixos da matemática, tal como: espaço e forma, geometria, tratamento da informação. Essas diferentes possibilidades de trabalho serão investigadas ao longo do projeto de pesquisa que estamos desenvolvendo nesse ano e que podem se converter em propostas para organização do ensino da matemática. Ressaltamos mais uma vez, que essas propostas, não serão soltas e desconexas, mas relacionadas a uma proposta maior de organização do ensino, ou seja, AOE. É relevante ressaltar que essa pesquisa está em processo de investigação. Daremos continuidade à pesquisa por meio de um projeto de iniciação científica e buscaremos a partir deste estudo elaborar atividades com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Desse modo, esperamos colaborar na promoção de um ensino de matemática de mais qualidade nas nossas escolas, onde todos os alunos possam ter assegurado seu direito à aprendizagem. 22193 REFERÊNCIAS CBBOL – Origens do Boliche Disponível em: http://www.cbbol.org.br/historia.htm Acesso em: 11 de Agosto de 2014. ELKONIN, D. B. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. LACANALLO, Luciana Figueiredo. O jogo no ensino da matemática: contribuições para o desenvolvimento do pensamento teórico. 218 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, 2011. LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VYGOTSKY, L. S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/Edusp, 1988. p. 59-83. MORAES, S. P. G. A apropriação da linguagem matemática nos primeiros anos de escolarização. In: (Org.) SHELBAUER, Analete Regina; LUCAS, Maria Angélica Olivo Francisco; FAUSTINO, Rosangela Célia. 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