O médico do futuro

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O médico do futuro
De software a robôs, a tecnologia de ponta está revolucionando a ciência
médica. O resultado será um mundo melhor para pacientes e doutores, além de
custos mais baixos
Por Chuck Salter
O sistema americano de saúde consome US$ 1 de cada US$ 6 gastos no país. Os custos estão
subindo duas vezes mais que a inflação. Todo ano, cerca de 1,5 milhão de famílias perdem suas casas por
causa de contas médicas. Embora os Estados Unidos tenham o sistema de saúde mais caro do mundo, 24
países têm uma expectativa de vida mais elevada do que a dos americanos e 34 têm taxas de natalidade
menor, de acordo com a ONU.
Mas alguns médicos e cirurgiões americanos vêm repensando e reinventando discretamente a
medicina no século 21. Sempre em colaboração com empresas inovadoras e universidades, esses pioneiros
trabalham com tecnologias de ponta, de softwares a robôs, que estão revolucionando a medicina – e, com
isso, obtêm melhores diagnósticos, custos mais baixos, acesso mais amplo ao sistema e maior comodidade
aos pacientes.
A discussão sobre prontuários eletrônicos está só começando. No momento em que esses avanços
convergirem, o mundo ficará mais fácil para médicos e pacientes. Conheça três exemplos de médicos que
usam a tecnologia para modernizar desde a consulta até cirurgias cardíacas.
MÉDICO ONLINE
O médico Jay Parkinson dá consulta virtual desde 2007; agora usa ferramenta de rede social que faz
a comunicação entre médicos e pacientes. “Usamos ferramentas de 3 mil anos de idade para tratar da saúde
do país mais rico do planeta”, diz o dr. Jay Parkinson, de 33 anos. Sua receita para mudar isso: uma
plataforma movida a tecnologia parecida com a da rede social Facebook, com mensagens instantâneas e
bate-papo por vídeo, que vai resgatar a relação entre médico e paciente, hoje desbancada por um modelo de
atendimento que ocorre sob extrema pressão e atende um público imenso em consultas que duram apenas
oito minutos.
Com mestrado em saúde pública pela Universidade Johns Hopkins, Parkinson começou a dar
consultas virtuais em 2007, em Williamsburg, uma região do Brooklyn, em Nova York, conhecida pelo
grande número de artistas, blogueiros e barbudos. Ele tinha um site e um blog. Fazia visitas à casa dos
pacientes e dava consultas virtuais no mesmo dia. Aceitava receber pelo PayPal (meio de pagamento para
comércio eletrônico), mas não trabalhava com planos de saúde. Nos três primeiros meses deste ano, 300
pacientes se registraram no serviço.
Um site de fofocas descobriu Parkinson e pôs no ar a seguinte manchete: “O médico mais fashion de
Williamsburg vai diagnosticar seu problema por mensagem instantânea”. Na foto, ele aparece com o
estetoscópio jogado sobre os ombros, jeans e camiseta branca. Sites como os do Yahoo! e do Washington
Post pegaram carona na história.
A publicidade chamou a atenção de Nathaniel Findlay, CEO da empresa de software canadense
Myca Health. Veterano de seis empresas emergentes e da Cardinal Health, avaliada em US$ 91 bilhões, ele
comandava um grupo que estava montando um portal seguro para fazer o que Parkinson havia feito com
uma variedade enorme de aplicativos, como o Google Calendar. O projeto da Myca foi uma iniciativa de
Don Jones, que hoje administra o grupo de saúde e ciências da vida da fabricante Qualcomm. Nos anos 90,
Jones havia trabalhado em um dos primeiros projetos de prontuários médicos eletrônicos e estava ansioso
para ampliar as atividades na área de telemedicina.Depois que sua equipe desenvolveu os requisitos técnicos
para esse tipo de plataforma, ele entrou em contato com a Myca para construí-la. Em seguida, Findlay
convenceu Parkinson a assumir o cargo de diretor de conceito, de modo que o aplicativo fosse facilmente
compreendido pelos médicos.
A plataforma da Myca deve ser lançada ainda este ano nos Estados Unidos. O aplicativo é, em parte,
prontuário médico eletrônico, mas funciona também como sistema de gestão de pacientes e rede social.
Reúne perfil, fotos de médicos e de pacientes — tudo em ambiente seguro.
O perfil do paciente mostra a equipe médica que acompanha o caso, geralmente um clínico geral e
especialistas escolhidos pelo próprio doente, selecionados com base na lista de profissionais disponíveis no
perfil clínico. Para marcar uma consulta, o paciente examina a agenda do médico, escolhe um horário (a
consulta dura, no mínimo, meia hora), e o tipo de atendimento que deseja ter (pessoal, em vídeo ou por
mensagem instantânea). Em seguida, preenche algumas linhas com a descrição dos sintomas, para que o
médico possa começar a pensar no diagnóstico. Muitas vezes o acompanhamento é feito por meio de visitas
eletrônicas. É possível seguir a evolução do caso por meio de um calendário com ícones que representam as
consultas anteriores, acompanhadas dos comentários do médico. O doente pode acessar toda a série de
mensagens instantâneas enviadas e recebidas, assistir ao vídeo de uma visita eletrônica em domicílio feita
pelo médico ou entrar no link dos resultados de exames.
“O paciente pode dar notas às visitas, fazer comentários e compartilhá-los”, diz Parkinson. “Será
que isso é inovador?” Para o médico, a plataforma é uma ferramenta intuitiva, que lhe permite gerir seu
tempo – com listas de consultas agendadas e pedidos de renovação de receitas, por exemplo – e se
comunicar com pacientes e outros médicos de forma rápida. Há um recurso que apresenta um quadro
resumido das condições de saúde do paciente, bem como as principais doenças tratadas na região naquela
semana. Outro recurso permite aos médicos organizar os pacientes por doença e enviar a eles e-mails sobre
novos tratamentos. “A gente deve criar uma coisa útil e ficar fora do caminho. Não tenho a menor ideia do
que as pessoas vão sugerir”, diz Parkinson. A primeira clínica a usar o portal será a Hello Health, de
Parkinson
e
outros
três
colegas.
Os médicos que usam a plataforma estipulam suas taxas e a Myca fica com um percentual. Na Hello
Health, os pacientes pagam uma assinatura mensal de US$ 35 ou de US$ 100 a US$ 200 por consulta online
ou in loco. Pequenas dúvidas por e-mail não são cobradas. As consultas online reduzem drasticamente os
custos indiretos, e a clientela ideal para esse modelo de negócio, diz Parkinson, são os “invencíveis”,
designação dada pelo pessoal da área de saúde aos indivíduos jovens e saudáveis que pagam diretamente os
médicos e adquirem apólices de seguro saúde baratas, de franquias elevadas, para os casos de emergência.
Cerca de 2 mil médicos manifestaram interesse em usar a plataforma, diz Findlay, da Myca.
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,
EMI74756-16368,00-O+MEDICO+DO+FUTURO.html
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