Herpesvírus humano: tipos, manifestações orais e

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Artigo de Revisão / Review Articie
Herpesvírus humano: tipos, manifestações orais e tratamento
Human herpes virus: types, oral manifestations and treatment
Manuelly Pereira de Morais Santos1, Mariana Pacheco Lima de Assis Morais1, Deborah Daniela Diniz Fonseca2, Andreza Barkokebas
Santos de Faria2, Igor Henrique Morais Silva2, Alessandra A. T. Carvalho3, Jair Carneiro Leão4
1.
2.
3.
4.
Graduanda do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco
Doutorando em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco
Professsor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco.
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco.
DESCRITORES:
RESUMO
Herpes; manifestações orais; tratamento,
infecção; diagnóstico; doença infecciosa.
Doenças Transmissíveis; Herpesvirus Humano, terapia; Herpesvirus Humano, diagnóstico; Herpes Labial; Infecção
Os herpes vírus humanos (HHV) fazem parte de uma família -Herpesviridae- e têm como seu hospedeiro,
unicamente, o homem. São ubíquos e latentes e, uma vez ocorrida a primo-infeção, permanecem no organismo do indíviduo afetado durante toda a sua vida. O presente trabalho se constitui em uma revisão de
literatura com o objetivo de abordar os tipos de HHV e seus tratamentos, com ênfase nas manifestações
orais. Os HSV 1 e 2 estão geralmente associados à Gengivoestomatite Herpética Primária, Herpes Labial
Recorrente e Herpes Intraoral Recorrente. O HHV-3 provoca a Varicela e, por reinfecção, pode ser a causa
do surgimento do Herpes-zóster. O HHV- 4 está diretamente ligado à Mononucleosa Infecciosa, ao Linfoma de Burkitt e ao Carcinoma Nasofaríngeo. O HHV-5 pode levar a má-formações congênitas. O HHV-6
provoca o exantema súbito e está associado à esclerose múltipla, o que demonstra seu forte potencial
neuro-invasivo. O HHV-7 correlaciona-se ao vírus da AIDS, uma vez que, para ambos, a molécula CD4 é
essencial a fim de funcionar como receptor, e o HHV-8 está estreitamente ligado ao Sarcoma de Kaposi.
Nenhuma das terapias usadas para o tratamento representa uma cura para a infecção do vírus, uma vez
que elas atuam apenas na sua fase ativa. O conhecimento dos tipos virais, das suas características clínicas
e manifestações orais são de suma importância para o correto diagnóstico da doença, para a obtenção de
sucesso no tratamento e, consequentemente, para a manutenção da saúde populacional.
Keywords:
ABSTRACT
Herpes, oral manifestations, treatment, infection, diagnosis, infectious disease.
Communicable Diseases; Herpesvirus 1, Human, therapy; Herpesvirus 1, Human, diagnosis; Herpes Labialis; Infection
The human herpes viruses (HHV) take part of a virus family – Herpesviridae- and these viruses have human as
only host. They are ubiquitous and latents, and once the primary infection has occurred, they stay within the
host’s organism for their entire life. This paper is a review about the human herpes viruses types, their treatments and emphasizes their oral manifestations. The HSV 1 and 2 are usually associated to Primary Herpetic
Gingivostomatitis, Recurrent Labial Herpes and Reccurent Intra-Oral Herpes. The HHV-3 causes Varicella,
mainly in children, and, by reinfection, can be the cause of the appearance of Herpes-zoster. The HHV-4 is
directly linked to Infectious Mononucleosis, Burkitt Lymphoma and Nasopharyngeal Carcinoma. The HHV-5
can lead to congenital malformations. The HHV-6 causes sudden rash and is associated with multiple scleroszis, which shows its strong neuro-invasive potential. The HHV-7 is related to AIDS virus because, for both,
the CD4 molecule is essential to act as receiver. The HHV-8 is closely linked to Kaposi’s Sarcoma. None of the
therapies used as treatment gives a cure to the viral infection, once the drugs only have their effect during the
virus active phase. The knowledge of the types of herpes virus, its clinical characteristics and oral manifestations is of paramount importance for the correct diagnosis of the disease to obtain treatment success and,
consequently, maintenance of population health.
191
Endereço para correspondência
Jair Carneiro Leão, PhD
Av. Prof. Moraes Rego, 1235
Recife PE Brasil 50670-901
E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Os herpesvírus humano (HHVs) representam vírus de
DNA pertencentes à família Herpesviridae, capazes de infectar células humanas, provocando a disseminação de
doenças. São divididos em oito subgrupos: vírus da herpes
simples (denominado HSV ou HHV- 1 e HSV ou HHV- 2), vírus
da varicela zoster (correspondente ao VZV ou HHV- 3), vírus
Epstein-Barr (sendo o EBV ou HHV- 4), citomegalovírus (também chamado CMV ou HHV-5) e, por fim, mais três vírus descobertos recentemente, porém sem muitas especificações
cientificamente comprovadas (HHV - 6, 7 e 8)1-10.
O HHV é constituído de uma molécula de DNA, envolvida
por cápsideo icosaédrico, tegumento de estrutura fibrilar e
envelope constituído de bicamada lipídica de origem celular e glicoproteínas virais2,4. As lesões do HHV-1 prevalecem
em regiões oral, facial e ocular, enquanto as do HHV-2, em
regiões genitais1,3,11. O HHV-3 (VZV), agente causador da varicela, não possui local específico de manifestação mas prevalece entre os 5 e 9 anos 1,3,12. O HHV- 4 (EBV) possui extensa
distribuição mundial, chegando à faixa de 90%, sendo mais
agravada em muitos países em desenvolvimento, onde a exposição geralmente ocorre aos 3 anos de idade, podendo ser
unânime na adolescência1,3,13. O HHV- 5 quase sempre se manifesta em recém-nascidos e em adultos imunodeprimidos,
sendo sua prevalência de 0,5 a 2,5% em neonatos, 40% em
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indivíduos em torno dos 30 anos e de 80 a 100% em indivíduos com 60 anos em média1,3,7,14.
Por serem acelulares, os herpesvírus humano necessitam das células para reproduzirem-se, sendo a transmissão
por contato direto ou indireto com fluidos contaminados1,2,5.
Após a penetração na célula, os vírions podem provocar uma
infecção primária, provocando a ocorrência de sintomas em
graus e tipos variados, o que depende do tipo de vírus e da
resposta imune do hospedeiro ou podem entrar em estado de dormência e se estabelecerem no citosol como um
episoma (molécula de DNA extracromossômica), fase essa
conhecida como latência, não sendo detectado e podendo
permanecer aí por longos períodos, variáveis de acordo com
cada subtipo1,2,3,4,11. Durante a replicação no interior das células, alguns subprodutos do gene HHV causam alterações no
metabolismo, cujo efeito principal compreende uma permeabilidade da membrana, promovendo lise e necrose celular,
havendo a destruição da célula e a permanência do vírus2,3.
Para saírem da fase de latência e tornarem-se infecciosos, são
necessários estímulos capazes de reativar os vírus latentes
que vão re-infectar as células. Dentre eles, tem-se estresse,
imunodepressão, radiação, neoplasias malignas, senilidade,
gravidez, entre outros1,2,3,4.
O presente trabalho se constitui em uma revisão literária
e tem como objetivo descrever os tipos de vírus da família
Herpesviridae, mostrando suas características, abordando as
manifestações orais mais comuns relacionadas a cada subtipo assim como o tratamento destas.
REVISÃO
Herpesvírus humano tipo 1 e 2
192
Os herpesvírus humano 1 e 2 (HHV-1 e HHV-2), também conhecidos como herpes vírus simples 1 e 2 (HSV-1 e
HSV-2), foram os primeiros herpesvírus a serem descritos na
literatura1,2,15. O HHV-1 adapta-se melhor e atua, de forma
mais eficiente, nas regiões oral, facial e ocular1,16. O HHV-2
se adequa melhor às regiões genitais, envolvendo caracteristicamente a genitália e a pele abaixo da cintura³, porém
pode se observar padrão semelhante de manifestações em
ambos2,17. A infecção pelo HSV 1 e 2 pode desenvolver mal-estar, febre, irritabilidade, náuseas, gengivoestomatite herpética primária, herpes labial recorrente e herpes intraoral
recorrente2,17. A gengivoestomatite herpética primária é o
padrão mais comum de infecção herpética primária sintomática e, na maioria dos casos, relaciona-se à infecção pelo HHV116. Ocorre geralmente, a partir do contato com gotículas de
saliva contaminada ou contato direto com lesões ativas1. O
início das manifestações é repentino, caracterizando-se por
numerosas vesículas puntiformes, as quais rapidamente se
rompem e formam inúmeras lesões pequenas, ulceradas e
eritematosas1,16,18. O herpes labial recorrente caracteriza-se
por vesículas induzidas pelo HHV-1 ou com menor frequência pelo HHV-2 1,2,19. Apresenta início súbito, geralmente após
sensação de dormência, prurido, pontadas, dor e ardência
nos lábios, que aparecem durante um período de aproximadamente 4 dias2 . Pode-se citar como fatores que levam
à recorrência luz ultravioleta, febre, estresse, trauma físico,
menstruação e imunossupressão3,5. As vesículas rompem-se
em cerca de 4 a 6 dias, ocorrendo formação de crosta, curando sem deixar cicatriz 1,2,19.
O herpes intraoral é quase exclusivo de epitélio ceratinizado, o que facilita no seu diagnóstico diferencial com
úlceras aftosas1,2,19. Dessa forma, as vesículas apresentam-se
rasas, irregulares, sendo constituídas do agrupamento de
erosões que podem coalescer2.
Nos últimos anos, várias opções de tratamento têm sido
propostas para combater as manifestações clínicas do HSV- 1
e 2, porém a maioria dos tratamentos são paliativos e visam a
uma melhora para a sintomatologia dolorosa ou são supressores da replicação viral. Até o momento, não há tratamento
que promova a cura da doença1,2,4,11,16,18.
O primeiro agente de escolha com uma real e potente
ação antivirótica seletiva é o Aciclovir4,15,20 , que representa
um inibidor específico e tolerável da polimerase do DNA viral4. Deve-se iniciar a terapia imediatamente após o início de
sintomas, como dormência, pontadas, prurido, eritema e dor,
sendo esse período denominado período prodrômico1,2,4. O
fármaco pode ser administrado por via oral, endovenosa ou
tópica, devendo ser mantido até o desaparecimento das lesões1,15. A posologia indicada para adultos e crianças é de 200
mg cinco vezes ao dia, durante dez dias, em caso de episódio
inicial e durante cinco dias, em caso de episódio recorrente20.
O Aciclovir em suspensão é disponível, podendo ser utilizado
para bochechos seguidos de deglutição1,15,20.
O laser de baixa intensidade pode ser utilizado como
analgésico e antiinflamatório2. De acordo com os estudos de
Ferreira et. al 21, o uso do laser de baixa intensidade é bastante
válido, sendo observada uma redução gradual na replicação
dos vírus HHV-1 e HHV-2 com 68,4% e 57,3% de inibição, respectivamente, após 5 aplicações, indicando o seu uso clínico.
Herpesvírus humano tipo 3
A Varicela e o Herpes-Zoster representam duas manifestações clínicas da infecção pelo vírus HHV-3, também conhecido como vírus Varicela-Zoster (VZV) ou Herpes Zoster
Vírus (HZV)1,3,5,22. A varicela representa a infecção primária
pelo VZV1,2,3,12,22,23. É uma doença muito comum na infância,
altamente contagiosa, cuja transmissão ocorre pelo contato
direto com gotas ou aerossóis contaminados como também
de secreções do trato respiratório12,23. Após a infecção primária, segue-se o período de latência, sendo possível a recorrência, muitas vezes após várias décadas, como o Herpes
Zoster, devido à reativação da infecção a partir de um gânglio
nervoso sensitivo ou autonômico1,2,3,12,22,23. Imunodepressão,
tratamento com drogas citotóxicas, radiação, presença de
neoplasias malignas, senilidade, abuso do álcool e tratamento dentário são fatores predisponentes para a reativação1,23.
O Herpes Zoster ou Cobreiro é uma dermatovirose, caracterizada por erupções eritemato-vesiculares em vários
estágios de evolução limitadas ao dermátomo inervado pelo
gânglio sensorial afetado, geralmente unilateral2. As erupções são semelhantes às da varicela, porém mais localizadas,
muito dolorosas e acompanham o trajeto de um ou mais nervos infectados1,2,3,5,12,22,24. Em alguns casos, desenvolvem-se
lesões na boca e nos lábios como manifestação única12. Os
locais mais comumente envolvidos são face, tronco e couro
cabeludo1,2,3,5,12. As principais complicações do Herpes Zoster
incluem neuralgia pós-herpética e problemas oftálmicos23.
As lesões orais associadas ao HHV-3 ocorrem com o envolvimento dos ramos maxilar e/ou mandibular do nervo
trigêmeo e podem estar presentes na mucosa móvel ou aderida1,3,22. Frequentemente as lesões estendem-se para a linha
média e ocorrem juntamente com as lesões da pele, que recobrem o quadrante afetado, desaparecendo ao fim de uma
semana3,22. Excepcionalmente, podem surgir complicações
que podem agravar-se, haja vista infecções agudas no palato
duro, fossa tonsilar e língua, sobretudo em pacientes imunocomprometidos 1,3,22. Na cavidade oral, as lesões se apresentam de forma individual, como vesículas branco-opacas com
1 a 4mm, que se rompem para formar ulcerações de pouca
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profundidade1. Na maioria dos casos, o zóster é auto-limitante, e o tratamento com analgésicos é suficiente2,3,12,22. As
medicações antivirais podem ter um pouco de efeito na severidade da dor aguda e na duração das lesões da pele21. Atualmente, o tratamento é feito com antivirais e analgésicos, devendo ser iniciado em até 72 horas após o diagnóstico, com
o objetivo de reduzir a duração e intensidade da dor2,3,12,22.
O tratamento inicial com medicações antivirais apropriadas,
como o Aciclovir, Valaciclovir e Fanciclovir, tem acelerado o
processo de cicatrização das lesões cutâneas e mucosas23.
Embora tal afecção possa desaparecer após alguns meses, também pode se desenvolver, em uma síndrome de
dor persistente e duradoura, a neuralgia pós-herpética1,23.
Esta tem sido tratada com resultados variáveis por diversos
métodos, incluindo analgésicos, narcóticos, antidepressivos
tricíclicos, anticonvulsivantes, estimulação nervosa elétrica
percutânea, biofeedback, bloqueio nervoso e anestésicos
tópicos23.
Herpesvírus humano tipo 4
O vírus Epstein-Barr (EBV) ou HHV-4 apresenta uma vasta distribuição mundial, cerca de 90% da população, sendo
transmitido através da saliva, de objetos contaminados (escova de dentes, louça) ou através de transfusões sanguíneas3,13. A infecção pelo vírus ocorre geralmente na infância e
é assintomática na maioria dos casos, persistindo de forma
latente, durante toda a vida do indivíduo13. A alta incidência
de EBV em crianças infectadas pelo HIV comparada a crianças
não infectadas sugere uma possível ligação entre as duas viroses25. Tanto é que o EBV tem sido implicado na patogênese
da pneumonite intersticial linfóide e da parotidite em crianças portadoras do vírus 25.
Além da associação etiológica com a mononucleose infecciosa, torna-se, cada vez mais evidente, a ligação do EBV
com o linfoma de Burkitt, a leucoplasia pilosa e o carcinoma
nasofaringeo2,6,26
falta algo ???. Em pacientes imunocompetentes, não é necessário um tratamento específico, a menos que haja complicações27. Em casos de imunodepressão,
existe a necessidade do uso de drogas, como o Aciclovir,
Ganciclovir e Foscarnet28. Corticoides orais, como Prednisona, podem ser utilizados quando há uma participação neurológica, por exemplo, encefalite, meningite, síndrome de
Guillain-Barré27. Se houver envolvimento tonsilar, deve-se
evitar Ampicilina ou Penicilina devido à alta prevalência de
erupções cutâneas. Os corticoesteroides também podem ser
usados, no entanto tais drogas não devem ser administradas
indiscriminadamente2,26 .
A utilização do Aciclovir no tratamento de doenças associadas ao HHV- 4 inibe a replicação dos genomas lineares e
suspende a produção do vírus, embora não tenha efeito na
infecção celular latente25.
O herpesvírus humano tipo 5 (HHV-5), também conhecido como citomegalovirus (CMV), é um agente infeccioso
presente em diferentes locais, que ataca, preferencialmente, fibroblastos humanos7. As principais vias de transmissão
do CMV são a via oral e a respiratória, podendo também ser
transmitido pelo leite materno, saliva, urina, secreção do cérvix uterino, placenta, transfusões sanguíneas, transplantes
de órgãos e relação sexual2,7,14. As formas mais graves dessa
virose humana ocorrem no período neo-natal e resultam da
infecção intrauterina14. Têm sido descritas infecções no período pós-natal, até cerca de 4 anos de idade, momento a partir
do qual a doença se torna mais rara7.
Quanto à forma de instalação da infecção, existem quatro tipos: congênita, perinatal, adquirida e iatrogênica14,29. Na
congênita, a infecção ocorre durante o período gestacional;
na perinatal, durante o trabalho de parto ou nas primeiras
semanas de vida; na adquirida, após o período perinatal e na
iatrogênica, em transfusões de sangue ou transplantes de órgãos29,30. Na maioria dos casos, a infecção pelo citomegalovírus mostra-se assintomática30. As manifestações orais são raras, porém, quando há infecção das glândulas salivares, pode
ocorrer xerostomia, acompanhada de ulcerações bucais, em
pacientes imunocomprometidos12.
O CMV, quando instalado em período neo-natal, pode
produzir defeito no desenvolvimento dentário1. Em alguns
estudos, os dentes mostraram hipoplasia difusa do esmalte,
atrição significativa, áreas de hipomaturação do esmalte e
coloração amarelada da dentina subjacente1. Em adultos, notadamente em pacientes transplantados, imunocomprometidos ou com AIDS, apresenta um padrão clínico semelhante
ao da mononucleose infecciosa, diferenciando-se desta por
ocorrer faringite e linfadenopatia em apenas um terço dos
pacientes infectados, o que na mononucleose é praticamente unânime1,14.
As infeções causadas pelo CMV regridem espontaneamente, porém, para os pacientes imunodeprimidos, os
sintomas clínicos têm sido solucionados com o Ganciclovir.
Entretanto essa droga deve ser mantida no intuito de prevenir recidiva3,30. Em alguns casos de resistência ao último,
podemos fazer uso do Foscarnet e ter um bom resultado3.
Herpesvírus humano tipo 6
O herpesvírus humano tipo 6 (HHV-6) foi inicialmente
isolado em 1986 por Salahudin et al., em pacientes com doenças linfoproliferativas ou síndrome da imunodeficiência
adquirida3,8,31. Foi isolado em células mononucleares do sangue periférico de pacientes com AIDS e designado vírus linfotrópico B humano devido ao seu tropismo pelas células B3.
Posteriormente, alguns trabalhos mostraram que, durante a
infecção aguda, o maior alvo eram as células, e isso justificou
a denominação ao vírus de HHV-6 8,31.
Estudos relatam a presença de duas variantes distintas
atualmente reconhecidas e possuidoras de propriedades
imunológicas, biológicas e genéticas diferentes8. São elas: o
HHV-6A, considerado o mais citolítico e com um nível maior
de virulência, e o HHV-6B, agente causador do exantema súbito (roséola infantum)3,8,31,32. A infecção pelo HHV-6 é assintomática e muito comum em crianças até os dois ou três anos
de idade 31,32. A via de transmissão mais conhecida é a que
ocorre de forma horizontal, através da saliva, uma vez que as
glândulas salivares funcionam como um reservatório muito
importante desse vírus2,8,31.
A roséola infantum é uma infecção primária, caracterizada por um exantema súbito, acompanhado de febres altas,
acima de 40º C, com duração de três a cinco dias 3,8,31. Em
seguida, são notadas erupções cutâneas espalhadas pelo
tronco, embora nunca apareçam na face31. O quadro clínico
da criança pode complicar-se em caso de convulsões e sintomas no SNC3,31. Em adultos, é considerada rara, mas, caso se
verifique, caracteriza-se por uma infecção hepática do tipo
mononucleose31. Essa infecção ocorre com mais frequência
em adultos imunodeprimidos, receptores de transplantes de
órgãos e HIV positivos8,31. O tratamento para essa condição é
realizado com a associação de antivirais e antitérmicos, além
da frequente hidratação do paciente. A doença é autolimitada e cura-se espontaneamente sem deixar sequelas8,31,32.
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Herpesvírus humano tipo 7
O herpesvírushumano tipo 7 (HHV-7), descoberto em
1990, apresenta algumas semelhanças genéticas com o HHVOdontol. Clín.-Cient., Recife, 11 (3) 191-196, jul./set., 2012
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62. Esse vírus foi identificado depois de se ter verificado a
ativação de linfócitos T CD4+ de indivíduos saudáveis e, posteriormente, através da saliva de indivíduos infectados com o
HHV-633. Cerca de 85% dos adultos possuem anticorpos para
o HHV-7, por isso a infecção ocorre, não raro, na infância35.
O HHV-7 é um vírus ubíquo e leucotrópico, que, após a
primo-infecção, permanece latente nas células mononucleadas do sangue periférico, podendo ser reativado após estimulação destas3. Em indivíduos saudáveis, as glândulas salivares constituem o local preferencial e as secreções orais, os
melhores veículos de transporte para a transmissão do vírus3.
O vírus possui similaridade com o vírus HIV, nomeadamente
o fato de, para ambos, a molécula CD4+ ser um componente
essencial para funcionar como receptor9.
Em pacientes com estomatite aftosa recorrente o DNA
do HHV-7 é raramente detectável em monócitos do sangue
periférico34. Agentes anti-virais, como o Aciclovir, parecem
não ter efeitos benéficos no tratamento da estomatite aftosa
recorrente34. Estudos pela relação em cadeia da polimerase
associaram a infecção pelo HHV-7 como provável causa da
pitiríase rósea (PR), doença inflamatória aguda da pele35. No
entanto, a resposta pouco satisfatória ao Aciclovir em altas
doses não afasta a possível participação do HHV-7 como
agente causador da PR visto ser essa droga considerada ineficaz contra o HHV-7 35.
Herpesvírus humano tipo 8
194
Arnone et. al.36 isolaram pela primeira vez o HHV- 8 em
lesões de sarcoma de Kaposi a partir de DNA extraído de material para biópsia em doentes com AIDS denominando esse
novo vírus de herpesvírus associado ao sarcoma de Kaposi
ou herpesvírus humano tipo 8. O sarcoma de Kaposi (SK) foi
inicialmente descrito em 1872 por Moritz Kaposi como “sarcoma pigmentado múltiplo e idiopático da pele”36. Inúmeros
agentes infecciosos foram postulados como sendo de importância etiológica no desenvolvimento do sarcoma de Kaposi,
particularmente o citomegalovirus humano (CMV), HIV e o
HTLV-1, embora pouco provável37.
Admite-se também o HHV-8 como provável agente
etiológico para todas as formas de SK graças a sua detecção
em mais de 95% dos casos34. Além do SK, o HHV-8 pode ser
localizado em algumas formas de linfoma Hodgkin’s e não-Hodgkin’s, no mieloma múltiplo, doença de Castleman’s e,
principalmente, em pacientes HIV positivos3,10,36,37. A detecção do HHV-8 nas lesões de todas as variantes de SK, considerada isoladamente, não é suficiente para comprovação
do HHV- 8 como agente etiológico do SK37,38. Atualmente
considera-se que a infecção pelo HHV-8 precede o desenvolvimento do SK, mas o aparecimento das lesões depende da
conjunção com outros co-fatores, haja vista citocinas, proteínas anti-apoptoses e receptores celulares de superfície 37,38.
Lesões bucais são observadas em aproximadamente
50% dos pacientes afetados e estão no local de envolvimento inicial em 20 a 25% dos casos10,38. São frequentemente
as maiores causas de morbidade, como resultado de dor,
sangramento e interferências funcionais1. Inicialmente, o
SK intra-oral apresenta-se como uma lesão vascular plana,
assintomática, de coloração vermelho-purpúrea ou marrom
e que não desaparecem pela compressão36,37. Como é um
neoplasma progressivo reacional, podem desenvolver placas
ou se tornam nodulares, associadas com dor, sangramento
e disfunção oral. Além disso pode invadir o osso e provocar
mobilidade38. Embora ele possa ocorrer em qualquer região
da mucosa bucal, o palato duro, a gengiva e a língua são os
sítios mais comuns1.
O tratamento do SK é instituído para reduzir o número e
tamanho das lesões2. Baixas doses de radioterapia bem como
a quimioterapia são eficazes no tratamento e raramente o SK
é a causa primária do óbito2. A terapêutica sistêmica prolongada promove, muitas vezes, a depressão do sistema imunológico, aumentando, assim, a susceptibilidade do paciente a
infecções e outras neoplasias1. Dos tratamentos sistêmicos
disponíveis a quimioterapia é o mais utilizado, permitindo
o controle da doença na maioria dos casos36. Entre os tratamentos locais são utilizados a radioterapia, exérese cirúrgica,
criocirurgia, laserterapia e terapias intra-lesionais com agentes quimioterápicos, esclerosantes36.
DISCUSSÃO
As infecções causadas pelos herpesvírus humano sempre foram motivo de preocupação e questionamentos entre
os pesquisadores desse tema. Dessa forma, estudar e descrever os tipos de vírus da família Herpesviridae mostrando suas
características e suas manifestações orais mais comuns são
de suma importância para o correto diagnóstico e tratamento destas patologias.
De acordo com estudos de Lazarini et. al.39, Milagres et.
al.40 e Ypiranga et. al.11, o HHV-1 e HHV- 2 estão relacionados
com outras patologias e as suas manifestações dependem
muito da reativação do vírus por fatores ligados ao hospedeiro e ao ambiente. Silverman et.al.2 e Varella et. al.15 revelam que, clinicamente, as infecções provocadas pelo HHV-1
e HHV-2 manifestam-se como mal estar, febre, irritabilidade,
gengivoestomatite herpética primária, herpes labial recorrente, dentre outros, sendo seu diagóstico relativamente fácil. Entretanto, Mukai et. al.41 mostram que o reconhecimento
da infecção cutânea pode ser difícil em pacientes imunocomprometidos devido a sua apresentação atípica. Eles relatam que essas lesões podem se manifestar como ulcerações
grandes, crônicas ou hiperceratósicas, podendo não haver
história prévia de surgimento de vesículas, logo, dificultando
o estabelecimento do diagnóstico.
Muitos autores como1,2,4,42,16,18 são categóricos quando
dizem que até o momento não há tratamento para a cura
desta patologia, apenas medicamentos que visam à melhora da sua sintomatologia. Trindade et.al.4 e Lisco et.al.9 ainda
acrescentam o uso do laser de baixa intensidade como uma
ferramenta eficaz no alívio da dor provocada e na recorrência
destas lesões.
A infecção provocada pelo vírus varicela zoster apresenta suas características clínicas bem definidas e descritas por
diversos autores como Martinho3, 5, 12, 23, 22 facilitando, assim,
o seu diagnóstico clínico. Complementando as informações
associadas a esta doença, Martinho et. al.3 relatam que a imunodepressão são fatores predisponentes ou agravadores para
a reativação deste vírus, corroborando com Reis et. al.12 e Bricks et. al.24 que citam ainda a presença de neoplasias malignas, o tratamento com drogas citotóxicas, o abuso do álcool
e, o tratamento dentário como fatores pré disponentes. Para
o tratamento da infecção provocada pelo HHV-3, Silverman et.
al.2, Martinho et. al.3, Reis et. al.12 e Cunha et. al.22 são unânimes
quanto à utilização de analgésicos e antivirais, sobretudo nas
primeiras 72 horas do diagnóstico para maior eficácia. Wim et.
al.23 e Cunha et. al.22 ressaltam, ainda, o uso do Aciclovir no processo de cicatrização das lesões por Zoster.
Os estudos de Martinho et.al. 2 e Lima et.al. 13, mostrando a vasta distribuição mundial do HHV-4 com cerca de
90% da população afetada, ressalta a importância epidemiológica mundial em se conhecer as características clínicas e a condução desta doença. Lima et. al. 13 e Silva 43
associam o vírus Epstein-Barr a outras neoplasias malig-
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Herpesvírus humano: tipos, manifestações orais e tratamento
Santos MPM, et al.
nas, principalmente a carcinomas gástricos, carcinomas
mamários, leiomiossarcomas, linfomas T e carcinomas de
glândulas salivares, pulmão e timo. Alguns altores 2,6,8 sugerem a participação do Epstein-Barr na patogênese do
Linfoma de Burkitt, da Leucoplasia Pilosa e do Carcinoma
Nasofaríngeo. Carvalho 25 completa ainda dizendo que há
uma possível ligação do EBV com o HIV. Apesar do grande
comprometimento na população mundial, Teive et. al. 27 e
Carvalho et. al. 28 concordam ao afirmarem que o tratamento só é necessário em pacientes imunodeficientes.
Com relação ao citomegalovirus (HHV-5), em estudos de soroprevalência, Martinho et. al. 3 demonstraram
que 40 a 60% dos doadores de sangue saudáveis, em nações industrializadas, apresentavam infecção pelo CMV,
tornando as taxas nos países em desenvolvimento altas.
Apesar disso, Candeias et. al.7, Miura et.al14, Yamamoto et.
al.29 e Panutti 30 dizem que a infecção provocada por este
vírus possui pouca relevância em relação às manifestações
orais, uma vez que as mesmas são raras e normalmente
regridem espontaneamente.
Silverman et. al. 2 retratam a semelhança genética entre o herpesvírus humano tipo 6 e o herpesvírus humano
tipo 7, entretanto, Martinho et. al. 3 e Faro 31 dizem que o
HHV-7 apresenta menor patogenicidade que o HHV-6 devido ao fato de que, neste último, há presença de erupções
cutâneas. Silverman et. al.2, Faro31 e Rebello et. al.32 relatam que a principal via de transmissão para o HHV-6 é a
saliva. Martinho et. al.3 e Freitas et. al. 8 ressaltam que este
vírus é o único herpesvírus que pode ser transmitido ao
ultrapassar a barreira placentária ou ao ser integrado ao
cromossoma humano podendo ocorrer, também, a transmissão por transfusão sanguínea e por transplante de órgãos. Considerando o HHV-7, Martinho et. al. 3 cita a saliva
também como sendo a principal via de transmissão deste
vírus. Autores8, 31, 32 indicam antivirais e antitérmicos para
o tratamento de infecções provocadas pelo HHV-6, apesar
desta doença curar-se espontaneamente, já para infecções
provocadas pelo HHV- 7, Miranda et. al. 35 afirma a ineficácia de agentes anti-virais como o Aciclovir.
Em relação ao HHV- 8, Martinho et. al.3, Spode et. al.10 e
Leão et. al.37 mostram estudos comprovando a sua presença em mais de 95% dos casos de Sarcoma de Kaposi (SK),
considerando este vírus como provável agente etiológico
desta neoplasia. Já para Arnone et. al. 36 e Souza et. al. 38, a
detecção do HHV-8 nas lesões de todas as variantes de SK
não é suficiente para comprovação deste vírus como agente etiológico do SK, tendo o seu aparecimento dependente da conjunção com outros co-fatores.
Martinho et. al. 3 e Spode et. al. 10 são concordantes no
tocante às características clínicas das lesões bucais provocadas pelo SK – HHV-8, bem como quanto aos sítios mais
comumente afetados. Arnone et. al.36 concordam quanto
ao tratamento do SK: baixas doses de radioterapia e de
quimioterapia, instituídas para reduzir o número e tamanho das lesões, permitindo o controle sistêmico da doença na maioria dos casos. Além disso, estes autores citam
a exérese cirúrgica, criocirurgia, agentes esclerosantes,
interferon alfa e laser para o tratamento local em infecção
por HHV-8.
CONCLUSÃO
Os diferentes tipos de herpes vírus humano manifestam-se das mais variadas formas e estão associados com diversas
patologias. Diante do exposto, fica evidente que o conheci-
mento dos tipos de herpes vírus, das suas características clínicas e manifestações orais são de suma importância para o
correto diagnóstico da doença, para a obtenção de sucesso
no tratamento e, conseqüentemente, manutenção da saúde
populacional.
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Recebido para publicação: 16/03/11
Enviado para reformulação: 20/04/11
Aceito para publicação: 20/06/11
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