A EDUCAÇÃO INFANTIL: UM ESTUDO SOBRE A INTENCIONALIDADE E SISTEMATIZAÇÃO NOS PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO FURTUOSO, Patrícia [email protected] CHICARELLE, Regina de Jesus (Orientadora) [email protected] Universidade Estadual de Maringá Formação de professores e intervenção pedagógica Introdução Esta pesquisa foi motivada pela premência de comprovarmos a ocorrência de intencionalidade e sistematização na educação infantil, como princípio de alfabetização e letramento, de forma que utilize essas práticas para subsidiar os anos seguintes de ensino fundamental. Como graduanda do curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá e professora de 1º ano do Ensino Fundamental, esse projeto de iniciação científica tem como objetivo desconstruir possíveis lacunas existentes da função pedagógica e conceitos de alfabetização na educação infantil. As vivências nos estágios obrigatórios, requisito do curso de Pedagogia, e não-obrigatório, realizado diariamente na escola, foram fundamentais para perceber a necessidade de introduzir na educação infantil o início do processo de alfabetização e letramento, por meio do lúdico, literaturas infantis, brincadeiras e jogos, levando em consideração os conhecimentos prévios adquiridos nos anos iniciais de vida. Essa pesquisa foi motivada pela necessidade de refletir sobre o papel da educação infantil como ambiente responsável de enriquecer o letramento da criança e incentivar sua alfabetização, respeitando os limites e potencialidades desse nível de escolaridade, além de reconhecer que tais processos são indissociáveis e interdependentes, porém distintos, o que Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 1 permite sistematizar a prática pedagógica e provê-la de intencionalidade nos processos que envolvem alfabetização e letramento na educação infantil. O objetivo desse estudo é refletir sobre a necessidade de dotar de intencionalidade e sistematicidade a prática pedagógica que envolve os processos de alfabetização e letramento na educação infantil. Tendo como objetivos específicos demonstrar a alfabetização e letramento como processos paralelos e simultâneos, interdependentes e indissociáveis, porém distintos em sua natureza e que envolvem aprendizagens e processos de ensino diferenciados, úteis para subsidiar a prática pedagógica; Indicar a necessidade de promover um ambiente alfabetizador na educação infantil, que as atividades referentes à leitura e escrita estejam veiculadas às brincadeiras, jogos e literatura, deste modo a criança construirá uma familiaridade com o mundo letrado; e discutir orientações metodológicas e teóricas fornecidas pela produção bibliográfica voltada à necessidade de explorar a função social da escrita junto às crianças na educação infantil. Esse estudo tem caráter bibliográfico, o qual foi desenvolvido por meio de leituras e construções de textos que capacitará à produção de uma síntese proveniente do aprofundamento das idéias, conceitos dos diferentes autores que discutem acerca da necessidade de sistematização e intencionalidade aos processos de alfabetização e letramento nos anos iniciais do ensino fundamental, direcionando-se tais posicionamentos ao contexto da educação infantil. A pesquisa bibliográfica apontará a necessidade da educação infantil dotar suas práticas pedagógicas de intencionalidade e sistematicidade, buscando diversas posições de autores que se identificam com o tema. Além disso, foi analisado artigos de jornais e revistas que compreendem a temática, bem como as observações do relatório de estágio supervisionado obrigatório pelo curso de Pedagogia ministrado na Universidade Estadual de Maringá. EDUCAÇÃO INFANTIL, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: conceitos teóricos A educação tem a função de trazer o indivíduo próximo à sociedade, e esta ocorre em todos os ambientes, são conceitos morais, compromissos sociais, posturas, regras e ações que aprendemos desde quando nascemos para convivermos em sociedade. A educação (do latim Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 2 educatio, educare- conduzir fora dele), pode ser definida como “uma atividade específica e constitutivamente humana que tem por finalidade a formação, ou seja, o desenvolvimento das virtualidades próprias do ser humano, considerando-se sua capacidade de ensinar e aprender, em diferentes situações, espaços e momentos da vida”. A escola é um dos espaços destinados à educação, é a instituição responsável pela transmissão do conhecimento e do saber sistematizado, além de ser espaço de criança, jovens e adultos que se reúnem no desafio de ensinar e aprender. É na escola que o indivíduo adquire formação científica, se ausenta de esteriótipos e saberes de senso comum, como por exemplo, uma criança que convive com os pais e avós dizendo que não pode comer manga e tomar leite no sentido de que essa mistura cause morte, pode desvendar esse saber mítico por meio do conhecimento científico apresentado pela escola por meio da história, que explica sobre os latifundiários que viviam no tempo da escravidão, sendo a manga um fruto abundante e o leite muito valioso, colocavam na cabeça dos escravos essa frase “se comer manga e beber leite morre” para evitar que tomassem leite. Para provar ao povo que a teoria de comer manga e tomar leite fazia realmente mal, era colocado um escravo na frente dos demais, geralmente o mais idoso ou menos produtivo, que tomava a mistura leite/manga e realmente morria, não por causa da bebida mas pelo veneno colocado no leite. A educação infantil possui a função de somar o saber científico com a “bagagem” de conhecimentos que a criança carrega durante os poucos anos de vida. Por meio do lúdico é possível dotar a prática pedagógica de intencionalidade e sistematicidade, de forma que esteja veiculada às brincadeiras, jogos e literatura, deste modo a criança construirá uma familiaridade com o mundo letrado. Na história da alfabetização no Brasil, a obtenção da leitura e da escrita foram sendo consideradas de duas maneiras, a primeira relativa à aquisição de uma técnica que traduz-se na decodificação e codificação da língua escrita, isto é, alfabetização. A segunda está vinculada ao resultado da ação de ensino e da aprendizagem das práticas sociais de leitura e escrita, ou seja, letramento. Portanto, na alfabetização o indivíduo conquista técnicas da língua escrita com ausente mudança de seu estado ou condição, porém no letramento, o indivíduo usa, pratica e interage com a língua escrita e diferentes gêneros de texto, dessa forma altera-se seu estado ou condição cultural, social, política, lingüística e psíquica, de forma que, segundo Soares (2003), o indivíduo torna-se sujeito. Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 3 O letramento e a alfabetização são processos indispensáveis e precisam estar presentes desde a educação infantil, uma vez que o primeiro deve ser colocado a criança como instrumento que envolve nas práticas e usos da língua escrita, e o segundo direcionado a leitura e escrita considerados fundamentais meios de comunicação e registro. É indispensável que as crianças estejam envolvidas no contexto letrado e que nesse meio sejam aproveitadas, de forma intencional e sistemática, todas as oportunidades para dar continuidade aos processos de alfabetização e letramento que estavam vivenciando antes de ingressar ao centro de educação infantil, desde o contato com literaturas infantis, jornais, revistas, cartazes, entre outros. Segundo Mortatti (2000) página 108, “a disponibilidade de uma diversidade de material escrito e empreso, em nosso contexto atual, são condições necessárias, mas não suficientes, para o letramento, tanto do ponto de vista individual quanto social.” A alfabetização e o letramento são processos indissociáveis, interdependentes, porém distintos, que permitem dotar de intencionalidade e sistematicidade as práticas pedagógicas desenvolvidas, inclusive na educação infantil. O fato de vivermos e participarmos de uma sociedade letrada, indica que o processo de letramento antecede ao processo de alfabetização. Temos o exemplo de uma criança que explora uma literatura infantil conhecida por ela oralmente e ao recontar a história, coloca o dedinho em cima das letras, contando-a de forma idêntica, porém sem compreensão do código escrito. O termo “letramento” foi utilizado no Brasil nos anos 80 por pesquisadores da área de Educação e Linguística, e, gradativamente, vem ganhando visibilidade em outros espaços da sociedade. Enquanto a palavra alfabetização é interpretada em diversos dicionários clássicos de língua portuguesa como “ação de ensinar a ler”, “dar instrução primária”, “ação de propagar o ensino da leitura”, o termo letramento nada consta por ser algo novo em nossa sociedade. O letramento é considerado o uso social que o sujeito faz da alfabetização, isto é, condição que um sujeito ou grupo social faz do uso da leitura e escrita nas práticas sociais. Existem pessoas que são alfabetizadas, porém não são letradas, e vice-versa, indivíduos que sabem ler e escrever porém não compreende um texto, não possuem habilidades na interpretação do mesmo. Segundo Soares (2003), a alfabetização não pode ser considerada como pré-requisito para o letramento, nem tampouco o letramento como substituto da alfabetização. Independentemente do conceito que se usa, não é possível considerarmos a aquisição da Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 4 leitura e da escrita como uma técnica, somente. Em contraponto, as práticas construtivistas de alfabetização, implantadas na década de 1980, propõem a sistematização do ensino da língua escrita como técnica indispensável para aquisição da leitura e da escrita. É relevante as crianças conviver e interagir com a diversidade de gêneros que cercam socialmente, a fim de conhecer, reconhecer, ler e escrever diferentes gêneros, além de entender as relações entre fonemas e grafemas e, de forma significativa, apropriar-se da leitura e da escrita. Entende-se que as relações de grafias e fonemas são necessárias, porém não primordiais. Esta deve ser objeto de conquista e construção na apropriação de vivências anteriores utilizáveis na compreensão. Dessa forma, percebe-se que não podemos conceber a aquisição da leitura e escrita como exclusivamente a aquisição de uma técnica, uma vez que alfabetização é muito mais. A construção do termo “letramento” não desabilita o uso da palavra “alfabetização”, pois como foi tratado anteriormente, estes são processos indissociáveis, interdependentes, porém distintos de forma conceitual. Este trabalho não tem como objetivo excluir o termo alfabetização, mas considera de forma igual à Soares (2003) “o ideal seria alfabetizar, letrando, ou seja: ensinar a ler a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado”. No século XX, o método tradicional estava vinculado ao código escrito, porém hoje no século XXI o desafio é recuperar a especificidade do processo de alfabetização sem voltar ao método tradicional de antigamente. No século XXI, pesquisadores apontam a necessidade de um ensino que ative os conhecimentos prévios do aluno e o conhecimento lógico. A progressão na abordagem e aprofundamento do conteúdo deve partir do simples para o complexo, uma vez que a mente humana apropria-se de conhecimento de forma progressiva, ou juntando as pelas como compreensão do todo, ou noções gerais para os detalhes. O ensino deve contemplar a necessidade de fornecer primeiramente o “nós simples” até que os alunos possam digerir o “nós laço” ou “nó de cadarço”. Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 5 AMBIENTE ALFABETIZADOR: Educação Infantil A clareza e objetividade no processo de ensino são fundamentais para os professores, a fim de saber claramente aonde quer chegar e fazê-lo sem perder o rumo. Nesse contexto, o aluno deve entender o caminho que está seguindo e aonde irá chegar. Todo professor deve cuidar de que seu trabalho tenda a resultados definidos. Antes de tentar ensinar uma matéria, deve ter em seu espírito um plano distinto, e saber o que precisamente deseja conseguir. Não deve ficar satisfeito com a apresentação de qualquer assunto antes que o estudante compreenda os princípios nele envolvidos, perceba a sua verdade, e esteja apto a referir claramente o que aprendeu. (WRITE, Ed, p. 233 e 234) A relação teoria-prática precisa ser constante em sala de aula, uma vez o conhecimento teórico ausente de conhecimento prático pouco contribui para o êxito do estudante. O ensino de conceitos quando ligados às questões cotidianas, são repletos de significados aos alunos, desse modo, é oportuno utilizar esquemas de ensino que incluam a aplicação de conhecimentos práticos, vivências e experiências dentro e fora do ambiente escolar. Deve-se considerar os conhecimentos adquiridos e as experiências vividas antes do professor iniciar um novo tema ou então construí-lo a partir dele. As estratégias em sala de aula precisam ser coerentes e adequados aos conteúdos e objetivos que o educador se propõe, dessa forma, tudo o que se ensina, entre objetivos, conteúdos, procedimentos e avaliação deve estar em coerência com o objetivo proposto pela disciplina. O conhecimento do estudante e sua realidade é imprescindível para o professor introduzir qualquer tema em sala de aula. O contexto sociocultural, desenvolvimento físico, espiritual, emocional e intelectual do educando deve estar condizente às aprendizagens estabelecidas no plano de aula, de forma que o educador propõe situações, problemas e desafios que possibilitam a construção de hipóteses e realização de experimentos. Os professores devem induzir os alunos a pensar, e a entender claramente a verdade por si mesmos. Não basta ao professor explicar, ou ao aluno crer; cumpre despertar o espírito de conhecimento, e o aluno ser atraído a declarar a verdade em sua própria linguagem, tornando assim evidente que lhe vê a força e faz a aplicação. (WRITE, 1996, p. 140) Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 6 Cabe ao professor incutir o espírito de investigação, reflexão e criatividade nos alunos de Educação Infantil, de modo a estimulá-lo e orientá-lo a procurar respostas para suas perguntas com auxílio de instrumentos de pesquisas, isto é, instrumento que propicia a construção do conhecimento, ou o próprio “pensar”. O educador precisa prover atividades que possibilitem aprendizagem com sentido e significado para o aluno, isso acontece por meio da retomada de conteúdo trabalhado, relacionar os conteúdos entre si e para além da sala de aula e atividades práticas baseadas na teoria. O espaço escolar deve proporcionar relações de cooperação como oportunidade de desenvolvimento contínuo do conhecimento e formação do caráter. A cooperação deve ser o espírito da sala de aula, a lei de sua vida. O professor que adquire a cooperação de seus discípulos consegue um auxílio imprescindível na manutenção da ordem [...] Que os mais velhos ajudem aos mais novos, os fortes aos fracos; e, quanto possível, seja cada um chamado a fazer algo em que se distinga. Isso fomentará o respeito próprio e o desejo de ser útil. (WRITE, 1996, p. 285) Ajudando ao colega, estais sendo útil aos professores. E muitas vezes alguém cuja mente parece tardia, assimilará mais depressa as ideias de um colega, que de um professor. (WRITE, 1996, p.228) Por fim, a última prática metodológica para uma aprendizagem significativa é a interdisciplinaridade, isto é, a inter-relação entre os conteúdos diferentes. O educando deve oferecer uma relação de conteúdos com a vida do aluno, de forma que os diversos saberes se construam de forma harmônica. Há muitos mecanismos para apropriação da escrita nos primeiros anos escolares das crianças, como jogos, literaturas, brincadeiras de roda, ou seja, atividades não tradicionais que por meio de uma sistematização e intencionalidade do professor, a criança adquire habilidades com o código escrito com auxílio de um ambiente letrado. Os professores de educação infantil devem levar em consideração que toda atitude presente no ambiente escolar é uma aprendizagem para a criança, desde palavras corretamente utilizadas cotidianamente pelo educador até pequenas atitudes de jogar lixo no lixo, pedir licença, desculpas, entre outros. A educação infantil é o oráculo da aprendizagem, todos os ensinamentos apreciados nesse período, a criança leva consigo a vida inteira, eis aí a grande responsabilidade do educador de educação infantil. Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 7 As literaturas infantis são apresentadas no trabalho pedagógico como forma de ampliação do mundo conhecido pela criança e da linguagem identificadora, segundo Coelho (1991) a literatura é um processo dinâmico de produção e recepção que de forma consciente ou não, se transforma em favor de intervenção sociológica, ética ou política. De acordo com a autora, com a literatura as pessoas (crianças ou não) podem ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida, num grau de intensidade que nenhuma outra atividade se iguala. A escolha de um livro pelo professor, deve incluir o leitor na inter-relação existente entre sua idade cronológica, nível de amadurecimento e grau de conhecimento ou domínio do mecanismo da leitura. Para a categoria do leitor iniciante, ocupante da pré-escola, o professor deve atuar como “agente estimulador”, de forma a motivar o aluno a descobrir sua autonomia e se comunicar com o mundo da escrita. Nessa faixa etária, os livros são estruturados basicamente com imagens, ou textos brevíssimos, simples e acessíveis úteis para complementar as ilustrações, com objetivo das crianças relacionarem palavras e figuras. Os argumentos utilizados pelo adulto, devem estimular a imaginação, a inteligência, o pensar na criança, nessa idade os pré-leitores são atraídos por estórias bem humoradas em que a astúcia do fraco vence a prepotência do mais forte, ou que a inteligência vence mal. Alguns livros que Coelho(1991) destaca nessa categoria de livro-de-figuras para a faixa etária dos pré-leitores de educação infantil, estão: “Coleção Gato e Rato” (Ática) de Mary e Eliardo França; “Série Um, Dois, Feijão com Arroz” (Ática) de Tenê; “Coleção Escadinha” (Ed. Do Brasil) de Lúcia Góes/Naomy Kuroda; “Série Lagarta Pintada” (Ática) de vários autores; “Nicolau tinha uma ideia” (Quinteto Editorial) de Ruth Rocha/Walter Ono; “Uma pedra no sapato” (Orientação Cultural). A leitura feita em voz alta pelo professor é essencial para criar entendimento, facilitar envolvimento dos alunos e promover reflexões. Segundo Carvalho (2004, p. 16), “a professora que lê para a turma acorda as histórias que dormem nos livros”. Essa forma de envolvimento com a literatura é essencial nos primeiros anos de vida, especificadamente na educação infantil, dessa forma os alunos recontam essas histórias, descriminando a diferença entre língua escrita e língua falada. Além das narrativas literárias, é relevante para a formação de leitores o acesso a notícias de jornal, cartões-postais, documentos, anúncios, enfim, os diversos tipos de impressos que envolvem o meio em que vivem. Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 8 Com a utilidade de diversos impressos, como por exemplo, uma carta construída para o “dia das mães”, um verso no cartão-postal enviado a um parente de longe, anotação de lista de compras, murais, cartazes, jornalzinho, bilhetes para os colegas, são alguns tipos de escritos que ampliam o entendimento do aluno sobre a possibilidade concreta de utilizá-los em diferentes momentos da vida social. De acordo com Carvalho (2004) não é suficiente categorizar os diferentes tipos de impressos e textos, no entanto é necessário promover ensaios para o aluno entender e compreender como e por que são produzidos, e posteriormente ser capaz de escrevê-los. Como as crianças de educação infantil não dominam a língua escrita, cabe ao professor incentivar de forma intencional a participação, comentários e ideias dos alunos na construção de textos coletivos, chamando a atenção para o fato de que a língua oral não é igual à língua escrita. Dessa forma, o professor apresenta a transição da oralidade para a escrita, de forma prática e significativa. Os argumentos e questões que levam o aluno a pensar são relevantes nessa faixa etária, como perguntar: “essa história possui personagens?”, “quem conta a história?”, “é uma carta ou bilhete?”. Independente do tipo de texto, é importante questões que prende a atenção do aluno na análise do texto, ao especificar detalhes que fazem parte do processo de compreensão da escrita, como: “Onde o texto foi encontrado?”, “a quem se destina o texto?”, “há figuras ou fotos?”, “há letras e números ou apenas letras?”. Por meio da literatura infantil, o professor possui um leque de atividades que potencializam a aprendizagem que tenha significado ao aluno. Formar pré-leitores ou crianças alfabetizadas e letradas é oferecer-lhes instrumentos para obter essas informações, atualizarse, compreender significantemente, viver emoções e aventuras narradas pelos autores de obras literárias. O ambiente da educação infantil precisa ser agradável, participativo, respeitoso e que promova o apreciar e discernir próprio e recíproco. Para isso, o educador, o aluno e colegas terão como norte o objetivo que desejam alcançar e as potencialidades pessoais. A educação infantil é o momento de oportunidades que se desenvolvem por meio de atividades, exposições, jogos, brincadeiras ou meditações que podem ser aproveitadas para que as crianças percebam a função da escrita em diversos âmbitos e possam utilizar posteriormente em práticas sociais. É indispensável que as crianças estejam envolvidas no contexto letrado e que nesse meio sejam aproveitadas, de forma intencional e sistemática, todas as oportunidades Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 9 para dar continuidade aos processos de alfabetização e letramento que estavam vivenciando antes de ingressar ao centro de educação infantil. Desde sempre, muitos estudiosos da área da educação elaboram pesquisas na busca de um “novo” e “melhor” método que se adapte às necessidades do momento histórico, modo de produção e especificidade de cada faixa etária. No século passado eram usadas diversas cartilhas, que eram formas tradicionais de educação, porém com a mesma finalidade dos procedimentos contemporâneos: ensinar a ler e escrever. No princípio do modo de produção capitalista, as crianças eram levadas para dentro das fábricas com competência de manipular as pequenas peças que as mãos grandes adultas não conseguiam manipular, porém com a Revolução Industrial no século XVIII as crianças foram destinadas às instituições assistencialista, que tinham como objetivo “guardar” e proteger. No final do século XIX e início do século XX, a saúde e educação eram aglutinadas, a criação de instituições escolares surge com responsabilidade de manutenção da vida das crianças com higienização e assistência. A base da educação nesse período estava ligada ao aspecto religioso e a “Pedagogia da Submissão”, isto é, educação adaptada, conformada, adequada, com deveres cívicos, sociais e adestramento. As primeiras escolas de formação de professores tinham como base a religião para adequar-se e transferir para o aluno esse conhecimento conformado. Nesse contexto, havia instituições vinculadas às crianças: os azilos, como forma de depósitos de crianças órfãs; as creches espaços para crianças de mães trabalhadoras; e as escolas maternais destinadas às mães trabalhadoras ligadas às instituições de trabalhos. Desde os primeiros momentos do Brasil houve grande preocupação em deixar as crianças, desde a roda dos expostos, azilos, escolas maternais, creches, jardim de infância e hoje, a pré-escola. Com olhos fitados a uma educação infantil de qualidade, com práticas ligadas a apropriação da escrita por meio da sistematização e intencionalidade de conteúdos preparados pelos educadores, desse modo se constitui, ou deveria se constituir, a pré-escola do século XXI. Se a raiz não for plantada numa terra com minerais, proteínas e cuidados adequados a ela se desenvolver, é impossível a árvore crescer forte e saudável, esse exemplo é semelhante à educação, se a pré-escola não for um ambiente de aprendizagem, habilidades, motivação, superação, desenvolvimento mental e físico, dificilmente o indivíduo recupere esses atributos posteriormente. Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 10 Foram os anos de 1990 que trouxeram o reconhecimento de que mesmo um cidadão que não sabe ler e escrever o código tem uma representação clara acerca da função social da escrita, pois é capaz de realizar atividades complexas orientado por tal representação. A implicação desse reconhecimento gerou a necessidade de forjar outra noção que extrapolasse aquele entendimento de alfabetização. Assim, letramento passou a ser o termo pelo qual poderíamos explicar a revolução sócio-histórica que a escrita provocou nas sociedades letradas. Mas isso não significa que alfabetização e letramento inauguraram mais uma das famigeradas dicotomias emergidas da ciência, já que tais termos passaram a ser fios que, entrelaçados, tecem a trama de uma participação social mais crítica, mais igualitária e mais justa entre as pessoas. É neste sentido que Magda Soares (1998, p.47) explica que “alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas inseparáveis, [pois] o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado” Com olhos fitados a uma educação infantil de qualidade, com práticas ligadas a apropriação da escrita por meio da sistematização e intencionalidade de conteúdos preparados pelos educadores, desse modo se constitui, ou deveria se constituir, a pré-escola do século XXI. Se a raiz não for plantada numa terra com minerais, proteínas e cuidados adequados a ela se desenvolver, é impossível a árvore crescer forte e saudável, esse exemplo é semelhante à educação, se a pré-escola não for um ambiente de aprendizagem, habilidades, motivação, superação, desenvolvimento mental e físico, dificilmente o indivíduo recupere esses atributos posteriormente. Considerações finais A alfabetização e o letramento são conceitos indissociáveis, interdependentes, porém distintos, que permitem dotar de intencionalidade e sistematicidade as práticas pedagógicas desenvolvidas, inclusive na educação infantil, por ter uma natureza distinta envolvem aprendizagens diferentes e procedimentos de ensino diferenciados, apesar de relacionarem. Apoiando-nos em Soares (2004), alfabetização é um conceito antigo que norteia ao processo de ensinar (ou aprender) a ler e escrever, por outro lado, letramento é um termo recentemente na língua portuguesa, está direcionada ao domínio mais amplo dos usos da leitura e da escrita Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 11 em situações sociais diversificadas, dessa forma podemos considerar a possibilidade de alfabetizar letrando e letrar alfabetizando. Isso é possível pelo fato de serem interdependentes e indissociáveis entre o processo de ensino e aprendizagem, apesar de serem distintos. Há diversos mecanismos que auxiliam na prática pedagógica em sala de aula com crianças de primeiros anos, entre eles, exercícios de coordenação motora, orientação espacial e temporal, reconhecimento auditivo e visual, cópia e junção de letras e sílabas, literaturas, jogos, entre outros. Cabe ao professor incutir o espírito de investigação, reflexão e criatividade nos alunos de Educação Infantil, de modo a estimulá-lo e orientá-lo a procurar respostas para suas perguntas, de forma que sua aprendizagem seja significativa e auxilie nos anos seguintes de alfabetização. Os objetivos delimitados nessa pesquisa bibliográfica foram atingidos, uma vez apoiando-nos em recursos bibliográficos, consideramos que a educação infantil é responsável em enriquecer o processo de letramento e estimular a alfabetização das crianças, não de forma a antecipar a escolarização, mas considerando que esses dois processos são indissociáveis e interdependentes. Ao afirmar a possibilidade de alfabetizar letrando e letrar alfabetizando, esse processo na educação infantil é válido porém se estabelece de acordo com as possibilidades e limites desse nível de escolaridade. Os profissionais da educação precisam compreender a condição para sistematizar a prática pedagógica e provê-la de intencionalidade. REFERÊNCIAS CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. Coord. Trad. Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2004. P. 300-1. LUCAS, M. A. O. F. 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