IMPLANTE DE OURO NA ACUPUNTURA VETERINÁRIA

Propaganda
Priscilla Manfrin Padua Vilela
IMPLANTE DE OURO NA ACUPUNTURA
VETERINÁRIA
Campinas
2008
Priscilla Manfrin Padua Vilela
IMPLANTE DE OURO NA ACUPUNTURA VETERINÁRIA
Monografia apresentada para a
conclusão do Curso de Especialização
em Acupuntura Veterinária pelo
Instituto Homeopático Jacqueline Pecker
Orientadora: Profa. Márcia Valéria Rizzo Scognamillo Szabó
Campinas
2008
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Moacyr e Vânia e à minha irmã Lilian pelo amor,
dedicação e apoio em todas as etapas da vida.
Ao meu querido noivo Thiago pela compreensão, incentivo e por estar
sempre ao meu lado em todos os momentos em que precisei.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida que me foi dada e pela oportunidade de mais uma
conquista.
Aos professores do curso que conseguiram de forma brilhante ensinar
essa medicina, tão maravilhosa e tão diferente da nossa ocidental.
À Márcia Valéria pela competente orientação e dedicação.
Ao Dr. Prata pela realização do curso e por nos receber muito bem.
À Renata pela atenção com a turma e pelas pipocas deliciosas no meio
da tarde.
À
querida
veterinária
Patrícia
Rabello
de
Assumpção
pelos
ensinamentos, confiança e amizade.
Aos meus colegas de curso pelo ótimo convívio que tivemos e que eu já
sinto tanta falta.
À Rachel e ao Sheep por virarem fã das minhas agulhadas e pela
divulgação do meu trabalho.
Aos meus pacientes pelo aprendizado recebido em cada atendimento.
À Zara, minha filha de quatro patas, pela paciência em servir de cobaia
me ajudando a tornar uma veterinária melhor.
Ao Petrus que foi o grande motivador para o meu ingresso no curso de
acupuntura.
SUMÁRIO
1. Introdução........................................................................................................ 1
2. Revisão de literatura........................................................................................ 3
3. Patologias........................................................................................................ 6
3.1 Displasia coxo-femoral............................................................................. 6
3.2 Convulsões (epilepsia)........................................................................... 10
3.3 Espondilose........................................................................................... 12
3.4 Cauda eqüina......................................................................................... 13
3.5 Miolopatia degenerativa......................................................................... 13
3.6 Osteocondrite dissecante do ombro....................................................... 14
3.7 Artrite...................................................................................................... 14
3.7.1 Cotovelo.................................................................................... 15
3.7.2 Joelho........................................................................................ 15
4. Implante em outras espécies......................................................................... 16
4.1 Aves........................................................................................................ 16
4.2 Eqüinos................................................................................................... 16
4.3 Humanos................................................................................................ 16
5. Contra-indicações......................................................................................... 18
6. Complicações................................................................................................. 19
7. Conclusão....................................................................................................... 20
8. Referências bibliográficas............................................................................... 21
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Aplicador com mandril, agulha calibre 14 e fragmentos de ouro ......... pág. 4
Figura 2- As três zonas (círculos pretos) divididas ao redor dos pontos VB29, B54
e VB30 (círculos brancos)................................................................................... pág. 7
Figura 3- Os acupontos VB29, B54 e VB30, usados para implantar ouro .......... pág. 7
Figura 4- Aplicação do ouro na articulação coxo-femoral.... ............................... pág. 9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DCF .......................................................................................... Displasia coxo-femoral
OCD ...................................................................................... Osteocondrite dissecante
VB ........................................................................................................... Vesícula Biliar
VG..................................................................................................... Vaso Governador
ID .......................................................................................................Intestino Delgado
IG .......................................................................................................Intestino Delgado
TA ...................................................................................................... Triplo Aquecedor
PC ................................................................................................................. Pericárdio
B ........................................................................................................................ Bexiga
F ........................................................................................................................ Fígado
P ....................................................................................................................... Pulmão
R ............................................................................................................................. Rim
E ................................................................................................................... Estômago
Ca++ .............................................................................................................. íon cálcio
Na++ ............................................................................................................... íon sódio
H+ ........................................................................................................... íon hidrogênio
% ..............................................................................................................porcentagem
mm .................................................................................................................. milímetro
RESUMO
VILELA, P. M. P. Implante de ouro na acupuntura veterinária.
Campinas, 2008. 23p. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em
Acupuntura Veterinária – Instituto Homeopático Jacqueline Pecker.
Neste presente trabalho, foram estudados as diversas indicações, contraindicações, complicações e modo de agir do implante de ouro. Conhecimentos
em técnicas de acupuntura são necessários para o fragmento de ouro ser
implantado na localização exata dos pontos. O implante pode ser feito com
diversos materiais, como platina, prata, aço inoxidável, além do ouro. Descobriuse que este metal transmite uma corrente elétrica neutralizando as cargas
negativas no local da inflamação aliviando a dor por um longo período de tempo,
principalmente em casos patologias crônicas. Displasia coxo-femoral e casos de
convulsões são exemplos bem sucedidos de implante em animais. Foi observado
através de estudos que a implantação de ouro possui resultados favoráveis em
diversas patologias, embora seja difícil provar o seu sucesso através de trabalhos
de pesquisa.
Palavras-chave: acupuntura, implante, ouro.
ABSTRACT
VILELA, P. M. P. Gold bead implant in veterinary acupuncture.
Campinas,
2008.
23p.
Thesis
present
to
the
Veterinary
Acupuncture
Specialization Course –Homeopathic Institute Jacqueline Pecker.
In
this
work
studied
the
various
indications,
contraindications,
complications and how to do the implantation of gold. Knowledge of acupuncture
techniques are needed for the fragment of gold be implanted in the precise
location of points. The implant can be made of various materials such as
platinum, silver, stainless steel, in addition to gold. Discovered that this metal
transmits an electrical current neutralize the negative charge at the site of
inflammation easing the pain for a long period of time, especially in cases chronic
conditions. Hip dysplasia and cases of seizures are examples of successful
implantation in animals. It was observed through studies that the deployment of
gold has favourable results in various diseases, although it is difficult to prove its
success through job search.
Key words: acupuncture, implant, gold.
1. INTRODUÇÃO
Implante de ouro é uma forma permanente de acupuntura (Dvorak,
2008). Os fragmentos de ouro são colocados em pontos de acupuntura e em
pontos gatilhos causando uma estimulação por um longo período de tempo
(Durkes, 1992). Uma vez alcançado o resultado positivo, ele pode durar por anos
ou até o fim da vida do animal (Wolters, 2008).
Os implantes surgiram para complementar o tratamento da acupuntura
tradicional e podem ser feitos por diversos materiais, assim como: categute, aço
inoxidável, platina, pó de ouro, entre outros; mas os mais usados são os
fragmentos metálicos como ouro, prata ou aço inoxidável (Altman, 2006).
Fragmentos de prata não têm o mesmo efeito iônico sobre tecidos corporais
como o ouro (Durkes, 2008). Grigory et al. (2005) acreditam que o ouro possui
um efeito de estimulação, enquanto que a prata tem um efeito de sedação.
Behrstock & Petrakis (1974) relatam que a escolha do metal possa ser feita de
acordo com os princípios da Medicina Tradicional Chinesa, Yin e Yang. O ouro é
um metal Yang, portanto deve ser usado em patologias Yin e a prata é um metal
Yin, podendo ser usada em patologias Yang.
Os implantes de ouro causam um alívio da dor porque estimulam os
pontos de acupuntura agindo no metabolismo das articulações e nas suas
regiões vizinhas.
O ouro também é capaz de emitir uma carga elétrica positiva mínima que
neutraliza a carga negativa existente principalmente em doenças crônicas,
diminuindo ou eliminando a dor e prevenindo alterações artríticas adicionais na
articulação (Adams, 1988 apud Durkes, 1992).
As primeiras implantações com fragmentos de ouro foram realizadas nos
Estados Unidos pelo Dr. Grady Young em meados da década de 70 e em 1975,
Dr. Terry Durkes iniciou pesquisas com implantes de ouro. As condições
inicialmente tratadas por Dr. Durkes foram casos de epilepsias/ convulsões e
displasia coxo-femoral. Hoje em dia, sabe-se que fragmentos de ouro são usados
em diversas patologias tais como: artrites, certos tipos de paralisia, espondiloses,
fraturas não tratadas, incontinência fecal e urinária, dermatite alérgica, asma,
entre outros (Durkes, 1999).
2. REVISÃO DE LITERATURA
Estudos vêm sendo feitos sobre a ação do ouro no organismo, mas ainda
não se sabe muito bem como ele realmente age. Acreditava-se que havia uma
resposta química regional na articulação em que o ouro era implantado, mas
depois essa possibilidade foi descartada devido ao ouro se mostrar intacto
tempos depois da implantação (Adams, 1988 apud Durkes,1992).
Como já comentado anteriormente, o ouro emite cargas elétricas
positivas para neutralizar as cargas negativas. Nas condições crônicas, em que
há um excesso de carga negativa, ocorre uma acidose localizada. A dor aumenta
à medida que a carga negativa vai aumentando, ao menos que o próprio
organismo seja capaz de neutralizar essa carga. O corpo do animal é capaz de
corrigir esse desequilíbrio devido aos íons Na+, Ca++ e H+. O íon Ca++ parece
ter um papel predominante nesse ajuste, já que a articulação está sempre
envolvida.
Osteofitos
aparecem
ao
redor
da
articulação
nos
exames
radiográficos. Nem todos os animais são capazes de mobilizar o íon Ca++ para
corrigir essa acidose (Durkes, 1992).
Ainda segundo Durkes (1992), pacientes mais idosos costumam ter
grandes alterações radiográficas, mas não apresentam dor. Eles conseguem
mover o íon Ca++ rápido o suficiente para neutralizar as cargas negativas e,
portanto, prevenir a dor. Já animais mais jovens não conseguem mobilizar os
íons tão rapidamente e por isso sofrem de intensa dor, apesar de lesões
radiográficas mínimas. O autor ainda cita que em torno de 25% dos cães
displásicos, o lado do quadril que aparece pior radiograficamente, nem sempre é
o mais dolorido.
A técnica de implante de ouro envolve pequenos pedaços de ouro de 24
quilates, com 1-3 mm de altura e 1 mm de espessura (Jaeger, 2006). Esses
pedaços de ouro são de base metálica magnetizada ou não, e folhados a ouro
(Durkes, 1992).
Os fragmentos são colocados no local de implantação através de uma
agulha hipodérmica de calibre 14 (Altman, 2006). O paciente é sedado e a região
é tricotomizada e limpa. Dois a três pedaços de ouro são inseridos na agulha e
depois uma pomada de antibiótico ou lubrificante é passada nesta agulha
hipodérmica para os pedaços de ouro não se soltarem (Hielm-Bjokman et al,
2001; Dvorak, 2008). A agulha é então inserida no ponto e o ouro é empurrado
através de um mandril até o local do implante.
Figura 1. Aplicador com mandril, agulha calibre 14 e fragmentos de ouro.
Na maior parte das vezes o implante é colocado nos músculos,
entretanto, em algumas regiões como cabeça, cotovelo e joelho; o ouro fica sob a
pele e as chances de migrarem para outra área são maiores. O local de
implantação do ouro é muito preciso, sendo que uma distância maior que 1/16 de
polegada (1,6mm) do local correto diminui a chance da operação ser bem
sucedida (Durkes, 1999).
Durkes (1999) também observou que após a implantação pode ocorrer
um gotejamento de sangue no local da aplicação, isto significa que o implante foi
bem colocado e dará bons resultados. A cor do sangue também pode servir como
diagnóstico, a coloração pode variar de vermelho vivo a preto. Isto significa uma
quantidade de sangue e Qi congestionado no local do ponto. Quanto mais escuro
a cor do sangue, mais Qi e sangue estão estagnados e, portanto, mais dor está
sendo causada naquela região.
3. PATOLOGIAS
3.1
Displasia coxo-femoral
A displasia coxo-femoral (DCF) é uma malformação e uma degeneração
das articulações coxo-femorais, considerada uma das doenças ósseas mais
comuns encontradas na prática clínica (McLaughlin, 2003). Na medicina oriental
a DCF é uma Síndrome Bi-óssea, em que o frio e a umidade causam um
bloqueio dos meridianos e seus colaterais, estagnando o Qi e o sangue e
conseqüentemente ocorrendo uma retenção de fluídos corporais (Partington,
1989). Estes se acumulam nas articulações por um longo período transformandose em fleuma, que se condensa na forma de crescimento ósseo (Maciocia, 1996).
Há 50 anos estudos vêm sendo feitos para erradicar essa doença, mas
ainda existem várias raças com altos índices de cães afetados (Hielm-Bjorkman
et al., 2001).
A DCF não tem cura, seu tratamento é apenas paliativo, até mesmo o
cirúrgico (Kapatkin et al., 2002). O implante de ouro tem sido usado como forma
de tratamento na acupuntura para melhorar a dor e a função nos membros
posteriores. Partington (1989) acredita que a presença de ouro nas proximidades
da cápsula articular irá manter a carga positiva (alcalina) na área da articulação,
reduzindo e/ou eliminando a dor.
Três pedaços de ouro são colocados em cada ponto de acupuntura ao
redor do quadril (Durkes, 1992). Grande parte dos cães tem três pontos reativos
em cada lado do quadril, estes coincidem com os acupontos VB29, VB30 e B54
(Hielm-Bjorkman et al., 2001) (Figura 3). VB29, VB30, VB33 e B49 são utilizados
em trabalho de Partington (1989). Durkes (1999) também usa o VB33 como um
ponto necessário para o tratamento de DCF, além de VB29, VB30 e B54
implantados em todos os seus casos de displasia. Os pontos VB31 e VB32 são
usados em alguns casos especiais. O autor para implantar o ouro, divide o
quadril em três zonas (Figura 2):
• Zona 1 = dorso anterior (VB29)
• Zona 2 = dorso-anterior e dorso-posterior (B54)
• Zona 3 = dorso-posterior (VB30)
Figura 2. As três zonas (círculos pretos) divididas ao redor dos pontos VB29, B54 e VB30 (círculos
brancos) (Durkes, 1992).
Figura 3. Os acupontos VB29, B54 e VB30, usados para implantar ouro (Hielm-Bjorkman et al.,
2001).
As zonas 1 e 2 são usadas com mais freqüência, dificilmente são usadas
as 3 zonas juntas. Pontos extras, geralmente, pontos gatilhos (Aishi/Trigger
Points) são procurados dentro dessas zonas e implantados. Quando não se
encontra mais pontos sensíveis nas 3 áreas, a implantação é completada.
A agulha ao ser inserida deve ir em direção da inserção capsular sobre o
colo do fêmur e esta nunca pode penetrar na cápsula articular (Durkes, 1992).
Ambos coxais devem ser implantados na mesma sessão, com exceção
de alguns casos em que só um lado do quadril é tratado (Durkes, 1999).
Quando o ouro é implantado, há mais um efeito local do que um efeito
sistêmico. Isto porque os pontos VB29, VB30 e B54 trabalham localmente na
articulação e os pontos gatilhos trabalham principalmente ao redor do músculo
(Durkes, 1999). No entanto, o ouro também pode ser implantado em pontos à
distância como F03, VB34, R03, E36 entre outros.
Estudo de Durkes (1992) demonstra que quando há sangramento
durante a inserção da agulha, o lugar escolhido está errado, o sangramento deve
ser contido e a agulha recolocada. O sangue deve sair apenas quando a agulha é
retirada. Como foi visto anteriormente, a cor do sangue também é importante na
implantação na região da articulação coxo-femoral: quanto mais congesto
(escuro), maior carga negativa está presente nesta área, portanto, maior dor. Se
o sangue apresentar uma coloração vermelha viva, provavelmente ocorreu um
erro na localização do ponto. O ouro sendo implantado no lugar correto, a dor do
animal pode desaparecer em uma semana. Achados radiográficos de 6 a 12
meses pós-implante podem mostrar uma descalcificação da articulação artrítica.
Figura 3. Aplicação do ouro na articulação coxo-femoral.
Em relação ao sucesso do implante de ouro em casos de DCF, os
resultados foram variados. Durkes (1992) obteve uma taxa de sucesso de 99%
em cães com idade menor que 7 anos; 80% de 7 a 12 anos e 50% de 12 a 16
anos. Estes animais tiveram melhora na maneira de andar e na mobilidade.
Neste estudo não teve um grupo controle para comparar. Hielm–Bjorkman et al.
(2001) não conseguiram o mesmo resultado em um estudo duplo-cego, apenas
12% tiveram uma redução da dor do grupo que foi implantado ouro em
comparação com o grupo placebo. Os dois grupos tiveram uma taxa alta de
sucesso e a diferença entre eles ficou insignificante. Estudos de Jaeger (2006,
2007) apresentaram bons resultados após 3 a 6 meses do implante realizado.
Jaeger et al.(2006) obtiveram uma redução da dor de 65,4% no grupo implante
de ouro contra 35,9% do grupo placebo. Em relação à disfunção, o resultado foi
de 64,6% no grupo ouro e somente 39,3% no grupo placebo. Essa melhora foi
alcançada á partir de 6 meses, cujos resultados foram mais significativos. Em
2007, outro trabalho de Jaeger, em um estudo duplo-cego nos primeiros 6 meses
e um estudo aberto nos 18 meses posteriormente, foi notado que ao longo do
tempo, a implantação de ouro continua a fornecer um alívio da dor.
Muitos são os fatores que influenciam nos resultados destes estudos. A
DCF é uma patologia em que os sinais clínicos podem melhorar ou piorar ao
longo do tempo e em jovens cães podem desaparecer sozinha. Tratamento
Sham (acupuntura falsa) também pode induzir um efeito parecido com a real
acupuntura (Hielm-Bjorkman et al., 2001). A idade é uma variável importante,
pois influencia no resultado do tratamento. Cães com menos de 2,5 anos tiveram
uma diminuição nos sinais da dor e cães com mais de 6 anos também tiveram
essa melhoria. Estudos cegos possuem um efeito placebo dos proprietários de
cães devido à expectativa em relação ao tratamento. Este fato é de grande
importância já que resultados são baseados na percepção dos proprietários na
melhoria dos sinais clínicos (Jaeger et al., 2005).
O implante de ouro é um método barato, rápido, fácil de executar, não
implica em complicações pós-operatórias, não há restrição de exercícios e nem
oferece desconforto para o animal (Hielm-Bjorkman et al., 2001). Devido a isso,
ele vem sendo usado com bastante freqüência em casos de displasia.
3.2
Convulsão / Epilepsia
Convulsão é uma hiperatividade neuronal anormal envolvendo os
neurônios corticais e cerebrais. O estado epiléptico resulta de uma convulsão
contínua que dura pelo menos 30 minutos ou de crises convulsivas repetidas em
intervalos de meia hora ou mais, sem recuperação completa entre as crises
(Parent, 2003).
Do ponto de vista da Medicina Tradicional Chinesa, uma das explicações
para a epilepsia pode ser pelo Vento interno invadindo os meridianos, a ascensão
do Yang do Fígado (F) causando Vento do F ou pela deficiência do yin do Rim
(Kline et al., 2006).
Os implantes de ouro são capazes de reduzir o número, freqüência e
gravidade das crises convulsivas (Durkes, 1999). O ouro é utilizado em animais
que não responderam a medicação convencional ou estão recebendo grandes
dosagens do medicamento anticonvulsivantes (Durkes, 1992). Em 1999, Durkes
tratou cães com convulsão e conseguiu uma taxa em que 25% dos pacientes não
precisaram mais de remédios e 50% reduziram a medicação. Em outro estudo
feito por Durkes (1992), 50% dos cães com convulsões pós-cinomose
responderam bem ao implante de ouro.
Na epilepsia cada convulsão inicia de uma parte diferente do cérebro,
portanto, diferentes canais estão envolvidos em cada episódio de crise
convulsiva. O tratamento por este motivo deve ser feito em todos os meridianos
(Durkes, 1999).
Os pontos básicos localizados na cabeça para o ouro ser implantado são:
VG20, VG14, VB20, VB14, B04, B06 e B09. Eventualmente pode ser necessário
mais pontos como E08, VG17, VG21 e VG23. Pontos Shu (assentimento)
específicos para o meridiano envolvido com a convulsão também podem ser
implantados com fragmentos de ouro (Durkes, 1999).
Implantes de ouro controlam muito bem as convulsões uma vez que os
animais se mantiverem em bons estados durante as atividades de rotina. No
entanto, se o cão é submetido a um estresse (viagem, brincadeiras excessivas)
as convulsões podem voltar (Durkes, 1992).
Durante a primeira semana após a implantação, as crises convulsivas
podem continuar, isto acontece devido a implantes de ouro agirem lentamente.
Contudo, se o paciente continuar a ter convulsão, mais acupontos precisam ser
implantados ou o caso deve ser reavaliado (Durkes, 1999).
3.3
Espondilose
A espondilose é um processo que atinge todos os níveis da coluna.
Caracteriza-se
por
alterações
degenerativas
progressivas
dos
discos
intervertebrais, corpos vertebrais, facetas articulares e estruturas cápsuloligamentares (Zardo, 2002).
Com a idade, a ocorrência da espondilose aumenta; 50% dos cães têm
em média 6 anos e 75% dos cães têm 9 anos de idade; cães jovens podem ter
predisposição hereditária e as fêmeas são mais afetadas que os machos
(Joseph, 2003).
Durkes (1992) acredita que uma das principais causas da claudicação
principalmente em cães de raças grandes seja devido à espondilose. Por volta de
25% dos cães afetados, a espondilose foi à única causa da claudicação e 75%
havia outra razão concomitante de claudicação. Nestes casos é necessário
corrigir as duas condições com implante de ouro antes de restaurar a função.
O tratamento segundo Durkes (1999) consiste em tratar o canal da
Bexiga e alguns pontos do Vaso Governador. O ouro é colocado começando pelo
ponto B13 e o implante é feito em cada ponto até o B28. O meridiano do Vaso
Governador geralmente é tratado na área de maior quantidade de espondilose.
Pontos gatilhos podem ser encontrados nos meridianos da Bexiga e Vaso
Governador e estes, talvez precisem ser implantados.
A implantação de ouro ao longo da coluna dorsal na espondilose costuma
dar bons resultados devido à grande quantidade de carga negativa nesta região,
diferente da doença do disco intervertebral que possui um excesso de carga
positiva (Durkes, 1992).
A radiografia pode não mostrar melhora por pelo menos seis meses, mas
o paciente pode sentir-se melhor logo após a implantação (Durkes, 2008).
3.4
Cauda eqüina
Compressão dorso-ventral do canal vertebral e das raízes dos nervos de
L7-S1. Os sinais clínicos são relacionados com a injúria das raízes destes
nervos. A característica clínica mais importante é a dor lombossacra, podendo
ser o único sinal (Inzana, 2003).
A síndrome da cauda eqüina pode se desenvolver sozinha ou vir
acompanhada por uma espondilose ventral (Durkes, 1992).
Os pontos da Bexiga e do Vaso Governador, caudais e craniais à lesão
devem ser estimulados (Kline et al., 2006). O implante de ouro, portanto, deve ser
colocado ao longo destes dois meridianos e o sangue obtido deve ser congesto
para o sucesso do tratamento (Durkes, 1992).
3.5
Mielopatia degenerativa
É uma doença caracterizada pela degeneração lenta e progressiva das
bainhas de mielina e axônios na medula espinhal (Sisson, 2003).
Os sinais clínicos incluem ataxia e paresia dos membros posteriores que
progridem lentamente (Kline et al., 2006).
Durkes (1992) em seus estudos conseguiu em 75% dos cães tratados,
algum melhoramento em um longo período, embora a avaliação seja difícil devido
ao desenvolvimento da doença. Com o implantação notou-se uma aumento da
força nos posteriores e uma diminuição da ataxia, porém é difícil saber se essa
melhora foi porque a desmielinização do nervo foi interrompida ou se o processo
degenerativo foi meramente abrandado.
Cães com severa atrofia muscular incapazes de andar, não são
candidatos a implantes de ouro (Durkes, 1992).
3.6
Osteocondrite dissecante do ombro
A osteocondrite dissecante da cabeça do úmero (OCD) é uma patologia
da cartilagem articular decorrente de distúrbio da ossificação endocondral (Selmi
et al., 1998). A claudicação é o sinal clínico mais comum.
Esta condição responde bem ao implante de ouro. Durkes (1999)
realizava a implantação apenas no ponto ID 10 durante 10 anos e obtinha 100%
de sucesso. Hoje, devido a algumas falhas encontradas, implanta-se em vários
acupontos, entre eles: TA14, TA15, IG15, IG16, ID09, ID10, ID11, ID12, ID14 e,
às vezes, P01 e P02.
3.7
Artrite
Deterioração da cartilagem articular encontrada nas articulações
sinoviais. Os sintomas são muito variados (Beale, 2003).
3.7.1
Cotovelo
O ouro alivia a dor, porém a claudicação continua se o implante não for
feito antes da aderência da articulação. Os dois lados do cotovelo (lateral e
medial) devem ser tratados. Na parte lateral os principais pontos são: P05, IG11,
ID09, TA05, TA10, além de pontos gatilhos distais ao TA10 e no canal do Triplo
Aquecedor. Sobre o lado medial os pontos principais são: PC03, TA03, ID08 e
pontos gatilhos proximais e distais ao ID08 (Durkes, 1999).
Os implantes nesta região são colocados sob a pele, devido à redução de
tecido muscular no local (Durkes, 1999).
3.7.2
Joelho
Geralmente a artrite do joelho é secundária à ruptura do ligamento
cruzado anterior e o implante deve ser feito após reparação cirúrgica. Pode exigir
uma segunda implantação em 50% dos casos (Durkes, 1999).
O implante de ouro deve ser feito ao lado medial e lateral da articulação.
Na área lateral os pontos de escolha são: E36, E35, VB34, VB33, B40 e trigger
points ao redor desta região. No lado medial do joelho os acupontos são: BP09,
BP10, F07, F08 e também pontos gatilhos ao redor da região (Durkes, 1999).
4. IMPLANTE EM OUTRAS ESPÉCIES
4.1
Aves
Os implantes em aves têm sido usados principalmente para o tratamento
de aves epilépticas, artrites graves e até para modificações comportamentais. O
implante é geralmente feito com fios de ouro pequenos suficientes para passar
através de uma agulha de calibre 20 (McCluggage, 2006).
4.2
Eqüinos
Os implantes de fragmentos de ouro têm sido usados no tratamento de
degeneração articular crônica, como do jarrete de cavalos (Mc Cormick, 1993
apud Fleming, 2006). Em artrite do membro anterior, o ouro é implantado em
pontos diagnósticos no pescoço, usado localmente na doença do navicular e em
osteocondrite dissecante do ombro e soldra (Fleming, 2006).
4.3
Humanos
O ouro injetável tem sido usado nos seres humanos em casos de artrite
reumatóide desde a década de 20 (Jones & Brooks, 1996). Neste tratamento o
ouro é usado na forma dissolvida e direcionado contra a doença imune-mediada
(Jaeger et al., 2006).
Outras técnicas de implante de ouro também são benéficas no
tratamento da osteoartrite como: inserção periosteal da agulha em osteofitos,
inserção superficial da agulha na cápsula articular e sobre músculos doloridos,
estimulação das origens e inserções dos tendões (Filshie and White, 1998 apud
Schoen, 2006).
5. CONTRA- INDICAÇÕES
O implante de ouro é inapropriado em animais com câncer, pois o ouro
estimula seu crescimento. No entanto, pacientes em que foram implantados
fragmentos de ouro não são mais propícios a contrair câncer do que qualquer
outro animal (Dvorak, 2008).
O ouro também acelera o crescimento da infecção em pacientes com
sarcoma osteogênico e osteomielite, logo, não deve ser implantado nestes casos
(Durkes, 1992).
6. COMPLICAÇÕES
As complicações são difíceis de ocorrer se o procedimento for feito de
forma correta com o uso de boas técnicas de assepsia e treinamento adequado
do veterinário. O problema mais comum é a infecção severa no local da
implantação em razão da limpeza inapropriada feita na região do implante. Outra
complicação é despreparo do técnico que realiza uma implantação mal
executada envolvendo a colocação do ouro no interior da cápsula articular. Este
procedimento incorreto tem como conseqüência muita dor ao paciente e sendo
assim, deve ser retirado antes do animal começar a se movimentar. Na DCF,
deve-se também tomar cuidado com os pontos ao redor da articulação coxofemoral devido a sua proximidade com o nervo ciático. Se o implante for colocado
em lugar impróprio, há uma possibilidade de lesar esse nervo o que poderá
resultar em uma paralisia temporária ou até permanente. Outros problemas
remanescentes foram resultados de diagnósticos mal feitos. Diagnósticos
radiográficos adequados são essenciais (Durkes, 1992).
Reações alérgicas ao ouro são difíceis de ocorrerem, porém a sua
impureza pode causar uma reação inflamatória local. O implante deve ser
fabricado com ouro puro (24 quilates), portanto saber a procedência do metal
para certificar a pureza do ouro é muito importante (Nunes et al., 2007).
7. CONCLUSÕES
O trabalho foi elaborado com a finalidade de demonstrar o efeito do
implante de ouro na acupuntura. O tratamento com a implantação deste metal
pode ser muito estimulador quanto ao alívio da dor e à melhor qualidade de vida
dos animais em diversas patologias (principalmente as crônicas), mesmo com o
efeito placebo prejudicando nos resultados dos estudos. Pacientes com câncer
não devem ser implantados com ouro. Despreparo do técnico, assepsia/antisepsia mal feita e impureza do ouro são geralmente as únicas complicações que
podem acontecer.
O implante de ouro é uma ferramenta muito importante que age sozinha
ou pode complementar outras terapias, no entanto, é necessário mais estudos
para a melhor compreensão do seu uso.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTMAN, S. Técnicas e instrumentação. In: SHOEN. A.. Acupuntura
Veterinária: da arte antiga à medicina moderna. 2. ed. São Paulo: Roca, 2006.
p.91-108.
BEALE, B, S. Artrite (osteoartrite). In: TILLEY, L.P.; SMITH F. W. k. Jr.
Consulta Veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina. 2. ed. São
Paulo: Manole, 2003. p.456-457.
BEHRSTOCK, B. B.; PETRAKIS, N. L. Permanent subcutaneous gold
acupuncture needles. West J. Med. 1974; 121:140-142.
DURKES, T. E. Gold bead implants. Problems Vet. Med. 1992; 4(1):20711.
DURKES, T. E. Gold bead implantation in small animals. In: Proceedings
of the 25th Annual International Congress of Veterinary Acupuncture; 1999 set.
15-18; Lexington. Lexington: International Veterinary Acupuncture Society; 1999.
p. 1-5.
DURKES,
T.
Gold
beads
implant.
Disponivel
<http://www.dpca.org/BreedEd/goldbeads.htm> Acesso em: 14 abr 2008.
em
DVORAK, Roy F. Permanent Acupuncture with gold bead implants.
<http://www.himmlisch.com/goldbeads.htm> Acesso em: 14 abr 2008.
FLEMING, P. Acupuntura para tratar condições musculoesqueléticas e
neurológicas em cavalos. In: SHOEN. A.. Acupuntura Veterinária: da arte
antiga à medicina moderna. 2. ed. São Paulo: Roca, 2006. p. 433-456.
GRIGORY, V.; CHERNYAK, M.D.; DANIEL I. SESSLER, M.D.
Perioperative Acupuncture and Related Techniques. Anesthesiology. 2005;
102(5):1031–1078.
HIELM-BJORKMAN, A.; RAEKALLIO M.;KUUSELA E.; SAARTO E.;
MARKKOLA A.; TULAMO R.M. Double-blind evaluation of implants of gold wire at
acupuncture points in the dog as a treatment for osteoarthritis induced by hip
dysplasia. Veterinary Record. 2001; 149:452-456.
INZANA, K. D. Estenose lombossacra (síndrome da cauda eqüina). In:
TILLEY, L.P.; SMITH F. W. k. Jr. Consulta Veterinária em 5 minutos: espécies
canina e felina. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. p.904-905.
JAEGER. G. T.; LARSEN S.; MOE L. Stratification, blinding and placebo
effect in a randomized, double-blind placebo-controlled clinical trial of gold bead
implantation in dogs with hip dysplasia. Acta Veterinaria Scandinavica. 2005;
46: 57-68.
JAEGER. G. T.; LARSEN S.; SØLI N.; MOE L. Double-blind, placebocontrolled trial of the pain relieving effects of the implantation of gold beads into
dogs with hip dysplasia. Veterinary Record. 2006; 158:722-726.
JAEGER. G. T.; LARSEN S.; SØLI N.; MOE L. Two years follow-up study
of the pain-relieving effect of gold bead implantation in dogs with hip-joint arthritis.
Acta Veterinaria Scandinavica. 2007; 49:9.
JONES, G.; BROOKS, P. M. Injectable gold compounds: an overview. Br
J Rheumatol. 1996; 35:1154-1158.
JOSEPH, R. J. Espondilose deformante. In: TILLEY, L.P.; SMITH F. W. k.
Jr. Consulta Veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina. 2. ed. São
Paulo: Manole, 2003. p.1209.
KAPATKIN A. S.; MAYHEW P. D.; SMITH G. K. Canine hip dysplasia:
evidence-based treatment. Compendium. 2002; 24(8):590-599.
KLINE, K. L.; CAPLAN, E. R.; JOSEPH, R. J. Acupuntura para tratar
distúrbios neurológicos. In: SHOEN. A.. Acupuntura Veterinária: da arte antiga
à medicina moderna. 2. ed. São Paulo: Roca, 2006. p. 175-189.
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa: um texto
abrangente para acupunturistas e fisioterapeutas. São Paulo: Roca; 1996.
658p.
McLAUGHLIN, R. M. Displasia Coxofemoral - cães. In: TILLEY, L.P.;
SMITH F. W. k. Jr. Consulta Veterinária em 5 minutos: espécies canina e
felina. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. p. 796-797.
McCLUGGAGE, D. Acupuntura em pacientes aviários. In: SHOEN. A..
Acupuntura Veterinária: da arte antiga à medicina moderna. 2. ed. São Paulo:
Roca, 2006. p. 299-325.
NUNES, T. P.; SARDINHA, M.; PEREIRA, I. C.; LUNARDELLI, P.;
MATAYOSHI, S. Implante de peso de ouro: complicações precoces e tardias.
Arq. Bras. Oftalmol. 2007; 70(4):599-602.
PARENT, J. M. Crises convulsivas (convulsões, estado epiléptico) –
cães. In: TILLEY, L.P.; SMITH F. W. K. Jr. Consulta Veterinária em 5 minutos:
espécies canina e felina. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. p.170-171.
PARTINGTON, M. Gold implants
Acupuncture Newsletter. 1989; 15(1):5-6.
for
hip
dysplasia.
Veterinary
SELMI, A. L.; PADILHA FILHO, J. G.; PEREIRA, P. M. et al.
Osteocondrite dissecante da cabeça do úmero em cães: Estudo retrospectivo de
36 casos (1991-1996). Ciência Rural. 1998; 28(1):71-75.
SCHOEN, A. M. Acupuntura para tratar distúrbios musculoesqueléticos.
In:_____ Acupuntura Veterinária: da arte antiga à medicina moderna. 2. ed.
São Paulo: Roca, 2006. p.159-167.
SISSON, A. Mielopatia degenerativa. In: TILLEY, L.P.; SMITH F. W. k. Jr.
Consulta Veterinária em 5 minutos: espécies canina e felina. 2. ed. São
Paulo: Manole, 2003. p.976-977.
WOLTERS, M. Goldacupuncture.com: a special form Traditional
Chinese Medicine Disponivel em <http://www.goldacupuncture.com> Acesso em
18 abr 2008.
ZARDO, E. A. Causas esqueléticas de dor torácica. In: SIMPÓSIO
SOBRE DIAGNÓSTICO DE DOR TORÁCICA. 4., 2002, Porto Alegre. Revista
AMRIGS, 46(1,2), 2002.
Download