FACULDADE MERIDIONAL – IMED CENTRO DE ESTUDOS ODONTOLÓGICOS MERIDIONAL CEOM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DENTÍSTICA ALVIN GUSTAVO FASOLIN TOMM INFLUÊNCIA DA COR, SUBSTRATO E TRANSLUCIDEZ NO RESULTADO FINAL DE FACETAS CERÂMICAS PASSO FUNDO 2012 ALVIN GUSTAVO FASOLIN TOMM INFLUÊNCIA DA COR, SUBSTRATO E TRANSLUCIDEZ NO RESULTADO FINAL DE FACETAS CERÂMICAS Monografia apresentada à Faculdade Meridional – IMED como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Dentística. Orientadora: Profª. Drª. Simone B. Alberton da Silva PASSO FUNDO 2012 ALVIN GUSTAVO FASOLIN TOMM INFLUÊNCIA DA COR, SUBSTRATO E TRANSLUCIDEZ NO RESULTADO FINAL DE FACETAS CERÂMICAS Monografia apresentada à comissão julgadora da Faculdade Meridional – IMED como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Dentística. Aprovada em ___/___/______. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________ Profª. Dra. Simone B. Alberton da Silva - Orientadora ________________________________________________ Prof. Dr. Aloísio Oro Spazzin ________________________________________________ Prof. Dr. Vinicius Rosa Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, Paulo Roberto Tomm e Margarete Fasolin Tomm por me darem algo muito importante: a vida. E depois disso, me deram subsídios para chegar até aqui. Tudo o que eu fizer vai ser pouco para honrar vocês. Amo muito vocês! Agradecimentos Primeiramente, agradeço a Deus, por ter tido esta oportunidade de ouro que é obter conhecimento. Ao meu irmão Laurence, por ter me dado uma sobrinha linda, a Sofia. Aos meus amigos Filipe Inácio Wibelinger, Mateus Berthier Bandeira e Flaubi Farias por terem sido mais que amigos, por serem os irmãos que a vida me deu. Aos professores da graduação na UPF, nas pessoas do prof. Tadeu da Rocha Pereira, prof. Armando João Antonio e prof. Carlos Alberto Kochenborger. Com certeza, aprendi muito mais que um ofício com vocês, aprendi a ser um profissional. Aos professores da Pós-Graduação da Dentística (Cristiano Magagnin, Paula Ghiggi, Nelson Massing e Janesca Cassali) da Prótese (Leonardo Federizzi e Aloísio Oro Spazzin). Também a profa. Lilian Rigo pela ajuda com a análise estatística. A profa. Simone Beatriz Alberton da Silva. Uma profissional ímpar. Muitas vezes bati a porta do teu consultório aflito com a vida profissional, e você sempre me dando motivos para seguir e ter perseverança, que tudo ia dar certo. Este trabalho certamente mostra que você tem ainda razão e que o caminho é longo, mas a gente vai seguindo. Meu muito obrigado! Ao amigo e colega Bento Luiz Serraglio. Outro profissional ímpar. Espelho-me muito em ti. Acredito que sou hoje Dentista por tua influência. Muito obrigado por abrir as portas do teu consultório para eu estar sempre aprendendo, conversando sobre as inúmeras oportunidades que a vida apresenta. Grande abraço! Aos meus colegas da Pós-graduação em Dentística/CEOM. Estes últimos dois anos foram especiais por eu ter estado ao lado de pessoas como vocês, vai ser difícil ficar sem estas aulas. Aos amigos da Uniodonto (Rodrigo Rosso, Vinicius Battochio, Hermes Brenner, Thisa Bordignon). A empreitada que assumimos é grande, mas vamos tirar de letra! Ao amigo Cesar A. Vagner, que muito estimo e muito escuto. A vida nos fez amigos, colegas de profissão. Muito aprendo de política e futebol. Com certeza o que tu buscas tu vais alcançar! Grande abraço! As minhas colegas de consultório Audrea Dallazen Nogueira e Luciana O. Leal por me abrirem as portas para eu dar continuidade a minha carreira. Muito Obrigado! Aos amigos e futuros colegas Guilerme Dalcin, Gulherme Piovesan, Liziane Donadussi, Bruna Fronza, Bruna Correa, Rafaela Bassani, Gabrielle Rauber, Márcio Dallagnol pelas incontáveis jantas e festas, pelas conversas a cerca do futuro e da Odontologia. Grande abraço! A família Tonello (seu Jaime, dona Tania, Lucas e Letícia) por me adotarem e me receberem de braços abertos! Muito obrigado! Ao Laboratório Prodent, nas pessoas dos técnicos Airton Karvat, Guido Paredes e Juan Paredes, pelas facetas para a confecção desta monografia. A todos os Pacientes que atendi durante esta curta (por enquanto) vida profissional. Agradecimento Especial Já faz quase três anos que estamos juntos. O caminho da vida não foi feito para seguirmos sozinhos. Eu tenho uma felicidade enorme por contar com alguém como você, que me aguenta e me estimula. Por ser linda e maravilhosa. Por ser companheira e amiga. Por ser uma cozinheira de mão cheia, por ser tão especial que qualquer coisa que eu escreva aqui vai ser pouco para mostrar o quanto te amo. Virgínia Simionato Tonello, meu amor por ti aumenta cada dia mais! Te amo! “QUEIRA! (QUEIRA!) BASTA SER SINCERO E DESEJAR PROFUNDO VOCÊ SERÁ CAPAZ DE SACUDIR O MUNDO VAI! TENTE OUTRA VEZ!” (Raul Seixas) LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Representação do sistema de ordenação de cores de Munsell .................................. 19 Figura 2: Representação do espaço de cor do sistema CIELAB ................................................ 20 Figura 3: Dente-Faceta A2 HT (controle) .................................................................................... 26 Figura 4: Dente-Faceta A2 LT ..................................................................................................... 26 Figura 5: Dente-Faceta A2 HT - E............................................................................................... 27 Figura 6: : Dente-Faceta A2 LT – E ............................................................................................ 27 Figura 7: Dente-Faceta A3 HT (controle) .................................................................................... 28 Figura 8: Dente-Faceta A3 LT ..................................................................................................... 28 Figura 9: Dente-Faceta A3 HT – E .............................................................................................. 29 Figura 10: Dente-Faceta A3 LT – E ............................................................................................ 29 Figura 11: Representação da relação entre cor de substrato, espessura e translucidez cerâmica na cor final de facetas laminadas (HILGERT et al. 2009). .......................................................... 36 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Médias dos grupos de estudo .............................................................................................. 32 Tabela 2: valores médios de ΔL*, Δ a*, Δ b* e Δ E para cada combinação de Substrato, Translucidez e Cor da cerâmica............................................................................................................ 33 RESUMO A estética dos elementos dentais é buscada cada vez mais pela população em geral. A aparência dos elementos dentais é um fator de grande e crescente importância para a maioria da população. O escurecimento dental é um dos fatores que atrapalham na estética do sorriso, tendo como abordagem inicial o clareamento e a profilaxia. Entretanto, quando o dente apresenta também alteração de forma, lança-se mão do uso de facetas em cerâmica. No entanto, quando há a presença de substrato escurecido existe uma dificuldade em relação à obtenção da cor final da restauração. Para a realização desta pesquisa foram confeccionadas facetas cerâmicas nas cores A2 e A3 e com duas variações de translucidez (HT e LT) para o dente 21. Foram utilizados dois substratos (normal e escurecido). Após fixação com uma pasta try-in os espécimes foram avaliados por um espectrofotômetro para obter a diferença de cor. Os resultados da analise espectrofotométrica mostrar que os grupos de cor A2 apresentaram uma diferença de cor maior que 3,3. Já para os grupos de cor A3 a diferença de cor foi inferior a 3,3. Cor da faceta cerâmica, cor do substrato e translucidez são fatores que exercem influência significativa na cor final da restauração. Palavras-chave: Cerâmica, Faceta Dentária, Cor, Espectrofotometria. ABSTRACT The aesthetics of dental elements is increasingly sought by the general population. The appearance of the dental elements is a factor of great and growing importance to the majority of the population. The darkening teeth is one of the factors that hinder the aesthetics of the smile, with the initial approach to prophylaxis and bleaching. However, when the tooth has also change shape, cast into the hand of the use of ceramic veneers. However, when the presence of dark substrate there is a problem with respect to obtain the final color of the restoration. For this research were made ceramic veneers in color A2 and A3 with two variations of translucency (HT and LT) to the tooth 21. We used two substrates (normal and darkened). After fixation with a try-in paste specimens were evaluated by a spectrophotometer to obtain the color difference. The results of the spectrophotometric analysis show that the color groups A2 showed a color difference of greater than 3.3. As for the color groups A3 color difference was less than 3.3. Color ceramic veneer, color and translucency of the substrate are factors that exert significant influence on the final color of the restoration. Keywords: Ceramics, Dental Veneers, Color, Spectrophotometry. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13 2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 14 2.1) CONSIDERAÇÕES SOBRE FACETAS CERÂMICAS .......................................................... 14 2.2) CONSIDERAÇÕES SOBRE COR ............................................................................................ 17 2.2.1) Matiz, Valor e Croma ........................................................................................................... 17 2.2.2) Translucidez .......................................................................................................................... 20 2.3) Espectrofotômetro ....................................................................................................................... 21 2.4) Substrato escurecido ................................................................................................................... 22 3 OBJETIVOS .................................................................................................. 24 4 METODOLOGIA ........................................................................................... 25 4.1 DELINEAMENTO .......................................................................................................................... 25 4.2 AMOSTRA...................................................................................................................................... 25 4.3 PROCEDIMENTOS ...................................................................................................................... 25 4.3.1) Avaliação espectrofotométrica ........................................................................................... 30 5 RESULTADOS .............................................................................................. 32 5.1) Análise espectrofotométrica da cor ........................................................................................... 32 6 DISCUSSÃO ................................................................................................. 34 7 CONCLUSÃO ............................................................................................... 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 39 APÊNDICIE ...................................................................................................... 42 Apêndice A............................................................................................................................................ 42 Apêndice B............................................................................................................................................ 43 13 1 INTRODUÇÃO As Ciências da Saúde, em especial a Odontologia, avançaram muito em tecnologia, técnicas e materiais. Na Odontologia Restauradora e Estética, as técnicas adesivas, o conhecimento sobre a doença cárie, etc. mostraram uma mudança de paradigmas, da “extensão para a prevenção” para “preparos minimamente invasivos”. A Odontologia restauradora é uma mistura de ciência e arte. O sucesso é determinado com base em resultados funcionais e estéticos (SIKRI, 2010). Atualmente, a Estética é buscada por pacientes cada vez mais exigentes. A aparência dos elementos dentais é um fator de grande e crescente importância para a maioria da população. A combinação de cores não só melhora a estética, mas também fazem as restaurações parecem naturais e atraentes (SIKRI, 2010). Desta forma, dentes escurecidos, por inúmeras causas, perturbam uma gama cada vez maior de pacientes que buscam por um belo sorriso. O escurecimento dental pode ter inúmeros fatores causais, como a absorção de pigmentos da dieta, má formação dental, fluorose, manchamento por tetraciclina, hemorragias pulpares, pigmentos provenientes de materiais obturadores e restauradores, deposição de dentina secundária e terciária, redução da espessura do esmalte, entre outros (WATTS; ADDY, 2001). Dentes escurecidos podem apresentar duas abordagens de tratamento. O tratamento de eleição é a profilaxia e o clareamento dental (HILGERT, 2009). Entretanto, quando dentes escurecidos apresentam alteração de forma, fazemse necessários tratamentos restauradores, como as facetas cerâmicas. No entanto, a interação do substrato escurecido com a cor da restauração pode afetar a cor final do tratamento. Idealmente, as facetas em cerâmica devem mascarar completamente a descoloração do dente com uma redução do tecido dental mínima, de aproximadamente 0,3 a 0,7mm. Entretanto, em substratos severamente descoloridos deve-se lançar mão de outros artifícios, como, por exemplo, a espessura da restauração e a opacidade do material (CHU, 2009). 14 A escolha da cor durante um tratamento estético e reabilitador é um desafio tanto para clínicos quanto para especialistas. Muitos componentes do processo de escolha das cores contribuem para a dificuldade de conseguir uma perfeita correspondência entre a restauração e o restante da dentição. Alguns desses fatores se originam da natureza subjetiva do ser humano em relação às cores. Além disso, fadiga, envelhecimento e emocional de o clínico, condições de iluminação e o metamerismo adicionam a complexidade da tarefa da escolha das cores (CAL, GÜNERI, KOSE, 2006) Os objetivos da Odontologia Estética e Restauradora é criar um sorriso bonito, com dentes de proporções agradáveis e um arranjo em harmonia com a gengiva, lábios e a face do paciente. Dentre as inúmeras dificuldades para a obtenção deste objetivo, a alteração de cor do substrato é um deles. Assim, o mote deste estudo é investigar in vitro a influência da cor, do substrato e da translucidez da cerâmica na cor final de facetas em cerâmica. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1) CONSIDERAÇÕES SOBRE FACETAS CERÂMICAS Os laminados cerâmicos oferecem uma solução restauradora que equilibra as necessidades funcionais e estéticas na dentição anterior, devendo o clínico estar sempre apto para a confecção do mesmo (CLAVIJO, 2008). As cerâmicas odontológicas são matérias amplamente utilizados na Odontologia. A estabilidade química, alta resistência à compressão, estética excelente e duradoura, e a biocompatibilidade com os menores índices de placa, são algumas das características incomparáveis das cerâmicas (DELLA BONA, 2009). Pincus, em 1947, foi um clínico ligado ao meio artístico de Beverly Hills, e era muito procurado por maquiadores, para mascarar os problemas estéticos relacionados aos dentes de alguns astros do cinema. O autor desenvolveu uma técnica que pode ser considerada a precursora das facetas laminadas. Os dentes perdidos ou esteticamente comprometidos eram recobertos com uma 15 faceta de acrílico ou porcelana de forma provisória, sem nenhum preparo dental e fixada através de um pó, que limitava a aplicação em apenas algumas horas (CLAVIJO, 2008). A busca por novas soluções restauradoras em odontologia tem impulsionado o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novos materiais restauradores e técnicas de confecção. Nessa nova filosofia, uma das maiores preocupações do cirurgião-dentista é aliar funcionalidade e preservação da estrutura dental a uma estética superior (CLAVIJO, 2008). Desta forma, o avanço dos mecanismos de adesão nos diversos materiais restauradores contribui para um excelente resultado estético. A utilização dos sistemas adesivos permite uma preservação dos tecidos dentais sadios aumentando a conscientização dos pacientes dos benefícios da manutenção da estrutura dos dentes naturais e dos procedimentos de menor invasividade. A decisão restauradora entre facetas e coroas é de extrema relevância no que se refere ao “custo biológico” dos preparos requeridos. Edelhoff e Sorensen (2002) simularam diversos tipos de preparo em dentes anteriores artificiais e, através de análise termogravimétrica, mostraram que a redução dental necessária para um preparo de faceta fica entre 16,6 e 30,2% do peso da coroa dental, enquanto um desgaste entre 62,8 e 72,1% é necessário para preparar uma coroa. Um dos grandes trunfos que alavancaram o sucesso das facetas é seu caráter conservador quando comparado às coroas. Facetas permitem preservar a face palatal, que é de extrema importância na distribuição dos esforços oclusais e consequente resistência do elemento dental. A preservação tecidual respeita o princípio de possibilidade e facilidade de reintervenção para que, no insucesso futuro da restauração (tempo de vida-útil da restauração), que é muito provável em pacientes jovens, existam condições de realizar um novo tratamento sem que, devido a uma extensa destruição dental, exista a necessidade de utilização de técnicas mais complexas ou a perda do elemento dental. Gonzales et. al. (2011), em uma revisão de literatura sobre falhas em restaurações com facetas laminadas em periódicos listados na fonte Pubmed, desde 1990 até 2010. Dentre estes, constam trabalhos longitudinais, de revisão e pesquisas in vitro. Para facilitar o entendimento, o estudo foi dividido e comentado em etapas específicas, onde, segundo a literatura, observam-se as 16 principais falhas da técnica de facetas laminadas: planejamento do caso, seleção de materiais, tipos e técnicas de preparo, tratamento das superfícies dente/restauração, cimentação e longevidade do procedimento. A primeira possibilidade de falha desta técnica é a seleção equivocada do caso, pois o respeito às suas indicações é condição indispensável para o sucesso do tratamento. Os estudos longitudinais comparativos com 5 a 10 anos de duração mostram todos os seus resultados favoráveis apenas à facetas de porcelana, com uma média de sucesso de 95 a 99%. Contudo, existem vários tipos de cerâmicas, sendo importante o conhecimento de suas características para uma menor chance de erro durante a escolha do material em cada situação clínica. Assim, as facetas estão indicadas para restaurações de elementos dentais com: alteração de cor, forma, tamanho, posição, em faces vestibulares com lesões cariosas ou restaurações deficientes e em fechamento de diastemas. Outra indicação seria a alteração e correção de relações oclusais como mudança da guia e dimensão vertical (GONZALES, 2011). Segundo Vichi et. al. (2000) substratos escurecidos podem afetar negativamente a estética de restaurações cerâmicas. Para isto, foram feitos discos de IPS-Empress com 1,0, 1,5 e 2,0mm de espessura e testados em substratos simulados de fibra de carbono, zircônia, substrato experimental e um substrato em compósito (Z100, 3M) de cor A3. Avaliaram-se os seguintes quesitos: 1) capacidade da cerâmica em mascarar o substrato em relação à espessura; 2) efeito da cor do cimento; 3) influencia da espessura do cimento. Quando a espessura da cerâmica foi de 1,0mm todas as variáveis foram visualizadas. Para a espessura de 1,5mm as diferenças na cor foram reduzidas e só eram identificadas com instrumentos laboratoriais. Para a espessura de 2,0mm não foram detectados diferenças. Como conclusão, a espessura de 2,0mm não afeta o resultado final da restauração. Quando a espessura diminui para 1,5mm é aconselhado uma análise do substrato para se obter o melhor resultado. Quando a espessura da cerâmica for de 1,0mm está contra indicada para mascarar os substratos escurecidos e o resultado final é afetado. Quando há a necessidade de se mascararem fundos escuros, é preciso utilizar uma ou mais das seguintes opções: cerâmicas menos translúcidas, maior espessura de material restaurador, agentes cimentantes de elevada 17 opacidade, infraestruturas cerâmicas de baixa translucidez recobertas por cerâmicas estratificadas, entre outras (HIGERT, 2009). Existe uma relação inversamente proporcional entre a espessura de um material e seu grau de translucidez. Quanto mais espesso um material translúcido, maior sua capacidade de mascaramento, até que seja atingida uma determinada espessura, chamada de espessura óptica infinita, na qual o fundo não mais exerce influência sobre a cor de superfície, ou seja, o mascaramento é total. Essa afirmação é decorrente da teoria de KubelkaMunk, que afirma que a espessura óptica infinita de um determinado material varia de acordo com sua espessura e seus índices de difusão e absorção para um determinado comprimento de onda do espectro luminoso. Assim, aplicandose a idéia básica da teoria de Kubelka-Munk na restauração de dentes escurecidos, pode-se afirmar que: 1. um material restaurador odontológico translúcido pode apresentar bom mascaramento, desde que utilizado em maior espessura. 2. a redução do grau de translucidez do material restaurador colabora para que a espessura óptica infinita seja menor (HILGERT, 2009). 2.2) CONSIDERAÇÕES SOBRE COR 2.2.1) Matiz, Valor e Croma Dentre os elementos que compõem a estética do sorriso, a cor dos dentes é de grande relevância (JARAD, 2008). A cor é um fenômeno psicofísico, ou seja, é a resposta do cérebro a um estímulo luminoso captado pelos olhos (AHMAD, 1999; AHMAD, 2000; PARAVINA; POWERS, 2004). Os cones e bastonetes da retina humana possuem fotopigmentos que passam por uma transformação química quando absorvidos determinados comprimentos de onda do espectro. Os bastonetes se apresentam em maior número, porém são incapazes de fornecer informação sobre cores. As cores são determinadas pelos cones, que podem ser do tipo S, M ou L (short-wave, medium-wave e long-wave), sensíveis às ondas curtas, médias e longas, respectivamente. Da existência de três tipos de cones responsáveis pela interpretação das cores, diz-se que a percepção de cores dos humanos é tridimensional (PARAVINA, 18 POWERS, 2004). Uma pessoa com visão normal pode recordar aproximadamente 300 cores e é capaz de discriminar cerca de 5 a 10 milhões de cores diferentes lado a lado (DELLA BONA, 2009). Os objetos opacos recebem luz ou as três cores primárias (vermelho, verde e azul) em alguma proporção. Alguns destes objetos refletem toda a luz recebida e outros absorvem quase totalmente. A maioria dos objetos “opacos” absorvem parcialmente e refletem o restante. O comprimento de onda dominante refletido de volta para o olho é a cor do objeto. Uma folha branca reflete quase toda a luz que recebe. Um objeto negro absorve a maior parte da luz. Um corpo perfeitamente negro é basicamente inalterado por um raio de luz que incida sobre ele. Um objeto amarelo, quando iluminado pelas cores primárias, absorve o azul e reflete o verde e vermelho, que quando misturado aparecerá como amarelo (FONDRIEST, 2003). Albert Munsell descreveu as cores como um fenômeno tridimensional. Ele descreveu as três dimensões da cor como matiz, croma e valor. Matiz é a qualidade que distingue uma família de cores de outra. O matiz é especificado como a gama de comprimentos de onda dominante no espectro visível que produz a cor percebida, mesmo que o comprimento de onda exato da cor percebida possa não estar presente. O matiz é uma interpretação fisiológica e psicológica de uma soma de comprimentos de onda. Em termos dentários, a tonalidade é representada pelas letras A, B, C ou D na Escala de cores da VITA. O valor (brilho) é a quantidade de luz que retorna de um objeto. Munsell descreveu o valor como uma escala que vai do branco ao preto numa escala de cinza. Objetos brilhantes (alto valor) tem menor quantidade de cinza enquanto que objetos com baixo valor tem grande quantidade de cinza e aparecerão escuros. Algumas cores tem uma faixa de valor maior que as outras, mantendo sua identidade a medida que se tornam mais escuras. Por exemplo, o azul permanece reconhecível como azul, mesmo quando uma quantidade de cinza é adicionada. Amarelo e laranja, por outro lado, perdem suas identidades de matiz quando o valor é diminuído. O baixo valor da cervical de um dente é um lugar difícil para avaliar a tonalidade devido a este fato. O croma é a saturação, intensidade ou força do matiz. Imagine colocar corante alimentício vermelho em um copo com água. Cada vez que é adicionado mais corante, a intensidade, a saturação, o croma é aumentado. À medida que mais 19 corante é adicionado, mais a mistura aparecerá escura. Quando o croma é aumentado o valor é diminuído. Croma e valor são inversamente relacionados. Na escala de cor da VITA, o croma é representado por números (FONDRIEST, 2003). Figura 1: Representação do sistema de ordenação de cores de Munsell O sistema de ordenação CIE (Commission Internationale de l'Eclairage Comissão Internacional de Iluminação) é o sistema mais amplamente utilizado para a especificação de cores. Os observadores, assim como os tipos de cones da retina, são três: X, Y e Z. Da mesma forma como determinados comprimentos de onda sensibilizam os cones S, M e L, os espectros captados por aparelhos, como os espectrofotômetros, são transformados em tristímulos X, Y e Z. Uma vez que os tristímulos representam a quantidade das cores primárias aditivas (vermelho, verde, azul, ou ondas-longas, ondas-médias e ondas-curtas, respectivamente) é possível, a partir dos valores de X, Y e Z, descrever numericamente a cor de um objeto para um iluminante específico (HILGERT, 2009). Para fazer com que o sistema de tristímulos concordasse com o de Munsell foi realizada uma transformação dos valores de X, Y e Z, criando o sistema de ordenação de cores CIELAB (PARAVINA, POWERS, 2004). No espaço de cor CIELAB existe uma escala de luminosidade, L*, (na 20 qual 0=preto absoluto e 100=branco absoluto), uma escala no eixo de opostos verde-vermelho, a*, e uma escala no eixo de opostos azul-amarelo, b*. Um dos mais disseminados usos do espaço de cor CIELAB é para o cálculo de diferença de cor entre duas amostras (PARAVINA, R.; POWERS, J. 2004). Figura 2: Representação do espaço de cor do sistema CIELAB 2.2.2) Translucidez Em restaurações cerâmicas, a tentativa de imitar a aparência do dente natural consiste na soma de todas as dimensões da cor (matiz, croma e valor). Entretanto, além destas dimensões, existem outras variáveis que também influenciam na cor final, dentre elas a translucidez. Translucidez pode ser definido como o gradiente entre o transparente e o opaco (FONDRIEST, 2003). O comportamento óptico do dente está diretamente relacionado com as características individuais dos tecidos que o formam: esmalte e dentina. Os dentes humanos são caracterizados por diferentes graus de translucidez, que pode ser definido como o gradiente entre o transparente e o opaco. Geralmente, o aumento da translucidez de uma restauração reduz seu valor, pois devolve menos luz para os olhos. Com translucidez aumentada, a luz é capaz de passar da superfície e se espalhar dentro da restauração (SIKRI, V.K, 2010). Segundo Raptis et. al. (2006), o esmalte é considerado translúcido 21 podendo transmitir acima de 70% da luz incidente através de uma secção de 1mm de espessura, aproximadamente 97% da massa de esmalte humano é constituída de cristais organizados de hidroxiapatita. No entanto, a dentina apresenta cerca de 70% desse cristal, disposto em forma tubular, por isso a dentina é menos translúcida que o esmalte, podendo transmitir 30% da luz incidida em um espécime com 1mm de espessura (PINTO, 2009).. De forma semelhante ao que acontece nos tecidos dentais e outros materiais, um feixe de luz é atenuado ao passar por um sólido cerâmico, pois ocorre a interação de luz pela absorção intrínseca do material e pelo espalhamento por heterogeneidades ópticas. As principais heterogeneidades ópticas são superfícies, fase secundária (incluindo poros) e, nas cerâmicas policristalinas, os contornos do grão (PINTO, 2009). 2.3) Espectrofotômetro Tradicionalmente, a seleção de cor é feita por comparação visual de um objeto (o dente) com escalas de cor (CAL, GÜNERI, KOSE, 2006). Outra forma de obtenção da cor dos dentes e também das restaurações é pelo método espectrofotométrico. Uma mesma cor pode ser percebida de forma diferente entre vários observadores. Desta forma, é possível que um instrumento de identificação das cores possa remover a subjetividade na percepção da cor. Um dos instrumentos utilizados para este fim é um “espectrofotômetro intra oral” (EasyShade®, Vita) com especificações para identificar duas escalas de cores comerciais: Vita-3D-Master (Vita) e a Vitapan Classical. (Vita). Esta combinação entre escalas de cores, desenvolvimento instrumental e capacidade de calibração presentes nesses equipamentos fornece um sistema para teste ordenado e integrado (DELLA BONA, 2009). Os espectrofotômetros medem e gravam a quantidade de luz refletida ou transmitida por um objeto, sendo que os dados devem ser transformados em um formato útil como curvas espectrais (CHU; DEVIGUS; MIELESZKO, 2004). A palavra espectrofotometria designa um método de análise baseado em medidas de absorção de radiação eletromagnética. Esta técnica está restrita a uma pequena região do comprimento de onda da radiação eletromagnética, 22 que corresponde à luz visível ou ultravioleta: é a faixa entre aproximadamente 200 e 700nm (1 nanômetro = 10−9m, 700nm = 0,7μm) (HIRATA, 2008). Um espectrofotômetro típico consiste de uma fonte de luz, um monocromador e um detector sendo que a fonte de luz é geralmente uma lâmpada de deutério ou xenônio, que emite radiação eletromagnética na região UV do espectro. Uma segunda fonte de luz, geralmente uma lâmpada de tungstênio, é usada para comprimentos de onda na região visível do espectro. O monocromador é uma rede de difração; sua função é separar o feixe de luz em seus comprimentos de onda constituintes. Um sistema de fendas focaliza o comprimento de onda desejado sobre a amostra. A radiação atravessa a amostra e atinge o detector, que registra a intensidade da luz transmitida. O porta-amostra deve ser construído de material que seja transparente na faixa visível à radiação eletromagnética usada no experimento. No caso da espectroscopia na faixa da luz visível, usam-se célula porta-amostras (ou cubetas, tubos de secção quadrada) de vidro ou plástico. Para medida na região do ultravioleta são usadas cubetas de quartzo, material que não absorve radiação na faixa do ultravioleta (HIRATA, 2008). Dozic et. al. (2007) relataram que o EasyShade foi o instrumento mais confiável em estudos in-viro e in-vivo. Entretanto, a relação entre a observação visual e a identificação instrumental para a tomada de cor necessitam de mais estudos. Existem poucas pesquisas que comparam a observação visual com a identificação instrumental. 2.4) Substrato escurecido Uma compreensão básica dos elementos da cor do dente é importante para muitos aspectos da odontologia restauradora. Os dentes são tipicamente compostos por inúmeras cores e a graduação destas ocorre em um dente da margem gengival em direção à borda incisal (WATTS, A.; ADDY, M. 2001). A porção coronal do dente é formada por esmalte, dentina e polpa. Qualquer mudança nestas estruturas provavelmente causa uma alteração na aparência externa do dente. A cor do dente é dependente da qualidade da luz refletida e também é, como consequência, dependente da luz que incide (WATTS, A.; ADDY, M. 2001). 23 Historicamente, a descoloração dos dentes foi classificada de acordo com a localização do escurecimento, que pode ser intrínseca ou extrínseca. Outra categoria de descoloração que pode ser considerada é a mancha internalizada (ADDY M, MORAN J.1995). A descoloração intrínseca ocorre após uma alteração estrutural ou devido a uma redução da espessura dos tecidos dentais. Um grande número de doenças metabólicas e sistêmicas pode afetar o desenvolvimento da dentição e causam como consequência descoloração. Como exemplos podese citar amelogênese imperfeita, dentinogênese imperfeita, fluorose, mancha por tetraciclina, hipoplasia de esmalte, entre outras (WATTS, A.; ADDY, M. 2001). A descoloração extrínseca ocorre na superfície externa do dente e encontra-se na superfície ou na película adquirida podendo ser de origem metálica e não metálica (WATTS, A.; ADDY, M. 2001). As manchas internalizadas são a incorporação de manchas extrínsecas no interior da estrutura dental após o desenvolvimento. Isto ocorre devido a defeitos no esmalte e também devido à exposição de dentina. As rotas pelas quais os pigmentos podem se tornar internalizados são defeitos de desenvolvimento ou defeitos adquiridos como, por exemplo, desgaste dentário, recessão gengival, cárie e materiais restauradores (WATTS, A.; ADDY, M. 2001). Com base na literatura existente, nota-se que a capacidade de mascaramento ainda não foi estudada de forma sistemática utilizando os principais materiais cerâmicos disponíveis atualmente e variando a espessura dentro de limites clinicamente relevantes (PINTO, 2009). Desta forma, o escopo deste trabalho é investigar in vitro a influência da cor do substrato, espessura e translucidez da cerâmica na cor final de facetas em cerâmica. 24 3 OBJETIVOS - Investigar in vitro a influência da cor, substrato e translucidez da cerâmica na cor final de facetas em cerâmica. - Avaliar, in vitro, com a utilização de espectrofotômetro, o resultado final de facetas cerâmicas com diferentes cores e translucidez em um substrato escurecido. 25 4 METODOLOGIA 4.1 DELINEAMENTO Estudo experimental in vitro, realizado na Unidade de Pós-Graduação do CEOM/Imed. 4.2 AMOSTRA Foram utilizados dois dentes de estoque (P-Oclusal, Brasil), incisivos centrais superiores (21) um na cor A3 e outro apresentando substrato escurecido na cor C4 em um manequim plástico (P-Oclusal, Brasil), preparados para lâminas de forma padronizada. 4.3 PROCEDIMENTOS A confecção dos substratos simulados iniciou-se pelo preparo para facetas cerâmicas de dentes plásticos do manequim P-Oclusal NS1 referentes ao elemento 21 com um desgaste de 1,0mm. Para este estudo in vitro foram utilizadas quatro lâminas de e.max CAD HT (High Translucency) e LT (Low Translucency,) sendo duas na cor A2 e outras duas na cor A3, para o dente 21. Para a cimentação das lâminas foi utilizado a pasta try-in Variolink® Veneer (Ivoclar Vivadent) na cor 0. A variação dos grupos está descrita nas imagens abaixo: 26 Figura 3: Dente-Faceta A2 HT (controle) Figura 4: Dente-Faceta A2 LT 27 Figura 5: Dente-Faceta A2 HT - E Figura 6: : Dente-Faceta A2 LT – E 28 Figura 7: Dente-Faceta A3 HT (controle) Figura 8: Dente-Faceta A3 LT 29 Figura 9: Dente-Faceta A3 HT – E Figura 10: Dente-Faceta A3 LT – E 30 Levando em consideração que a variação da cor da faceta, translucidez e substrato, os grupos foram divididos da seguinte forma: Grupo 1 = A2 HT (controle) Grupo 2 = A2LT Grupo 3 = A2HT - E Grupo 4 = A2LT - E Grupo 5 = A3HT (controle) Grupo 6 = A3LT Grupo 7 = A3HT – E Grupo 8 = A3LT – E Para a fixação das facetas no dente, foi utilizado a pasta try-in Variolink® Veneer (Ivoclar Vivadent). Primeiramente foi posicionado a faceta do grupo 1. Após a remoção dos excessos com um microbrush e com fio dental, o conjunto dente-faceta foi fotografado. Este procedimento foi realizado também com os grupos restantes. 4.3.1) Avaliação espectrofotométrica Após o preparo dos grupos, estes passaram pela avaliação espectrofotométrica. O aparelho utilizado foi o VITA EasyShade (VITA) (ES). Para a obtenção dos valores de cada grupo foram obtidas duas tomadas com o ES, uma com substrato normal e outra com o substrato escurecido. Para o cálculo da diferença de cor, representado pela expressão ∆E e é calculado pela fórmula: ΔE=(ΔL*2+Δa*2+Δb*2)1/2 Onde ΔL*= diferença entre a luminosidade das amostras; Δ a*= diferença na escala a*(verde-vermelho) entre as amostras; e Δ b*= diferença 31 na escala b*(azul-amarelo) entre as amostras. O valor do ∆E adotado por este estudo foi de 3,3. A utilização do cálculo de diferença de cor pelo sistema CIELAB é muito difundida na Odontologia, tanto em trabalhos in vitro, como em situações in vivo. A grande maioria dos estudos que procuraram simular o efeito de materiais restauradores sobre fundos escurecidos, porém, utilizaram espécimes em forma de discos planos e polidos (HILGERT, 2009). No presente estudo, a metodologia utilizada é a avaliação espectrofotométrica dos grupos, correlacionando com as situações clinicas. Cada grupo faceta-substrato foi avaliado três vezes. Os dados das coordenadas L*, a* e b* eram selecionados no terço médio da face vestibular dos espécimes. A média das três tomadas é a cor do espécime. Os dados obtidos foram armazenados e calculados em uma planilha eletrônica (Excel 2010, Microsoft). 32 5 RESULTADOS 5.1) Análise espectrofotométrica da cor As médias dos dados obtidos através das três avaliações dos grupos de estudos com o espectrofotômetro estão dispostas na tabela 1. Os dados crus obtidos do espectrofotômetro encontram-se no Apêndice A. Médias A2 HT (controle) A2 LT A3 HT (controle) A3 LT A2 HT - E A2 LT - E A3 HT - E A3 LT - E L* a* b* 79,16667 82 78,4 78,93333 73,86667 76,36667 77,5 77,4 -1 -1,46667 -0,2 0,233333 0,2 -0,2 -0,23333 0,433333 10,93333 17,13333 15,43333 20,7 10,73333 16,4 13,5 18,93333 Tabela 1: Médias dos grupos de estudo Cada espécime teve as suas coordenadas L*a*b* (média de três mensurações espectrofotométricas) comparados com os valores médios da restauração referência seguindo as seguintes fórmulas, resultando nas diferenças de cada uma das coordenadas (ΔL*, Δa* e Δb*): (1) ΔL*= L*Mensurado – L*Restauração Referência (2) Δa*= a*Mensurado – a*Restauração Referência (3) Δb*= b*Mensurado – b*Restauração Referência A partir desses valores foi calculada a diferença de cor (ΔE) entre cada espécime e a restauração referência, seguindo a formula: ΔE=(ΔL*2+Δa*2+Δb*2)1/2 A tabela 2 apresenta os valores médios de ΔL*, Δ a*, Δ b* e Δ E para cada combinação de Substrato, Translucidez e Cor da cerâmica. 33 Grupos A2 HT (controle) A2 LT A3 HT (controle) A3 LT A2 HT - E A2 LT - E A3 HT - E A3 LT - E ΔL* 79,16 2,84 78,4 0,53 -5,3 -2,8 -1,66 -1,76 Δa* -1 -0,46 -0,2 0,43 1,2 0,8 0,77 1,43 Δb* 10,93 6,2 15,43 5,27 -0,2 5,47 2,57 8 Tabela 2: valores médios de ΔL*, Δ a*, Δ b* e Δ E para cada combinação de Substrato, Translucidez e Cor da cerâmica. ΔE 0 4,28 0 2,97 4,13 4,1 1,33 2,22 34 6 DISCUSSÃO Os avanços no entendimento dos mecanismos de adesão alavancaram o sucesso das facetas. A concepção de cerâmicas condicionadas foi introduzida em 1982, por Simonsen e Calamia. Esses autores reportaram que a força de união entre dente e restauração era suficiente para a retenção de facetas cerâmicas (CALAMIA 1985). Atualmente, as técnicas utilizadas para a fixação de facetas são consagradas. Busca-se, idealmente, a preservação do esmalte para uma união adesiva longeva. Nesse sentido, Peumans et. al. (2004) num estudo de avaliação clinica de facetas com cinco a dez anos de cimentação. Os resultados mostraram que, após dez anos, nenhuma faceta foi perdida. A porcentagem de restaurações que foram consideradas “clinicamente aceitáveis” foi de 92% após cinco anos e 64% após dez anos. Somente 4% foram consideradas “clinicamente inaceitáveis” após 10 anos. Este estudo corrobora os resultados de outros autores (GRANELL-RUIZ, M et.al. 2010; GUESS, STAPPERT, 2007). Estes dados contribuem para que as facetas sejam um tratamento conservador, em que a face palatina do dente é preservada, aumentando a longevidade e também sendo possível uma intervenção, caso haja necessidade. Outro fator de relevância para as facetas é a cimentação. A cor de uma restauração cerâmica é resultado da interação entre o substrato e a faceta. (LEE, Y. et. al. 2007). Devido às diversas espessuras que as facetas podem ser confeccionadas, o agente cimentante também exerce grande influencia no resultado final da cor. Quanto menor a espessura, maior será a prevalência da cor do substrato. Quando este se apresenta com alteração de cor, o agente cimentante deve barrar este fator desagradável. No presente estudo, foi optado pela não inclusão da cimentação como variável, desta forma foi utilizado o gel try-in de médio valor. A dificuldade na escolha de cor é prevalente na Odontologia Restauradora. Para o sucesso do tratamento ser pleno, a cor é um fator importante. Uma pessoa de visão normal é capaz de distinguir aproximadamente 300 cores diferentes (DELLA BONA, 2009). A impressão de cor a olho nu é bastante subjetiva, não sendo mensurável e, portanto, percebida e sentida de forma diferente por cada indivíduo (HUGO, WITZEL, 35 KLAIBER, 2005). Esta subjetividade imposta na obtenção da cor correta do tratamento levou a criação de aparelhos que retiram o fator humano da escolha. Os espectrofotômetros são aparelhos que eliminam a subjetividade do processo, tornando fiel a obtenção da cor. Dozic et. al. (2007) testaram cinco espectrofotômetros comerciais, nas condições in vitro e in vivo. Como conclusão, os aparelhos EasyShade (VITA) e Ikam (DCM) tiveram os resultados mais confiáveis. Os outros aparelhos tiveram resultados melhores nos teste in vitro. O espectrofotômetro EasyShade (VITA) foi o mesmo utilizadado neste estudo. Entretanto, sugere-se para pesquisas futuras a correlação entre a avaliação visual e a avaliação espectrofotométrica, pois o mesmo fator humano que apresenta dificuldade na escolha da cor pode discernir se a restauração se mostra numa cor aceitável, tanto para o profissional quanto para o paciente. Substratos escurecidos são um desafio às restaurações com facetas cerâmicas. Devido à passagem de luz pela cerâmica, a cor do remanescente afeta o resultado final do tratamento. O grande desafio para a obtenção de um excelente resultado estético é mascarar o fundo escuro sem tornar a restauração opaca. Segundo a teoria de Kubella-Munk, quanto mais espesso um material translucido, maior será sua capacidade de mascaramento, até que se atinja a “espessura óptica infinita”, na qual o fundo não apresenta mais influencia sobre a cor da superfície (HILGERT, 2009). Como o esmalte tem uma alta translucidez, as facetas devem ter este mesmo comportamento. Um material excessivamente opaco, além de influenciar na cimentação, devido a um preparo mais invasivo no qual se retira o esmalte e expõe dentina, apresenta um comportamento óptico inverso ao do dente natural, afetando a estética. O sucesso do tratamento com facetas sobre substratos escurecidos parece residir no equilíbrio entre profundidade de preparo e opacidade dos materiais restauradores (HILGERT, 2009). A figura 11 apresenta de forma resumida os principais problemas apontados pela literatura no tratamento de dentes escurecidos com facetas cerâmicas, problemas esses relacionados com a inter-relação entre espessura cerâmica, translucidez do material e cor do substrato no resultado estético final das restaurações. 36 Figura 11: Representação da relação entre cor de substrato, espessura e translucidez cerâmica na cor final de facetas laminadas (HILGERT et al. 2009). 37 O uso do espaço de cor CIELAB e as mensurações de cor pela fórmula de cálculo do ΔE utilizadas são considerados padrões dentro da odontologia e apresentam comprovada boa relação com as observações visuais (PARAVINA, R.D.; POWERS, J.M, 2004). O valor de referência do ΔE utilizado neste estudo foi o de 3,3. Este valor se assemelha aquele proposto por outros autores (HILGERT, 2009; PINTO, 2009). No presente estudo, a diferença de cor dos corpos de prova foi mais prevalente nas facetas de cor A2. Nestas restaurações, o substrato e a translucidez tiveram interferência na cor final. Já para as facetas de cor A3, o substrato não teve influência na cor final, independente da translucidez. As restaurações de cor A2 tiveram um ∆E maior que 3,3, inclusive para substratos normais. Estudos indicam que um ∆E de até 6,8 foram clinicamente aceitáveis para os avaliadores clínicos (JOHNSTON; KAO, 1989). Para os grupos de cor A2 os valores foram de 4,23 (LT), 4,13 (HT – E) e 4,10 (LT – E). Com base nos resultados obtidos pela analise espectrofotométrica, acredita-se que estas restaurações que apresentaram um ∆E maior tenha sido devido à menor saturação do croma. A faceta de baixa translucidez deixa a restauração com maior valor. As facetas de cor A3 não apresentaram diferença nos valores de ∆E. Uma maior saturação do croma das facetas de cor A3 parece ter interferido para que não houvesse uma diferença de cor visível, ou seja, maior que 3,3. Por se tratar de uma forma de tratamento em voga atualmente, as facetas cerâmicas provaram seus bons serviços ao longo dos anos. É inegável a longevidade e a estética que este tratamento prove aos pacientes. Entretanto, por ser utilizadas cerâmicas geralmente de alta translucidez, e uma espessura em torno de 0,7 a 1,0mm, o substrato apresenta grande influência no resultado final do tratamento restaurador. Um fundo escurecido interfere negativamente a cor da superfície da cerâmica. Preparos mais invasivos podem atenuar este fator, no entanto este aumento na espessura da cerâmica pode acarretar numa maior opacidade do material. 38 7 CONCLUSÃO Diante do exposto, conclui-se que: - A cor da faceta exerce influência na cor final da restauração. - Facetas na cor A2 em substrato escurecido apresentaram um ∆E > 3,3 sendo perceptível a diferença de cor pelo olho humano. - Para facetas de cor A2, o substrato escurecido e a translucidez interferem no resultado final. - Para facetas de cor A3, independente da translucidez, o substrato escurecido não interfere no resultado final. - Sugerem-se mais estudos espectrofotométricas com avaliações visuais. relacionando-se avaliações 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADDY M, MORAN J. Mechanisms of stain formation on teeth, in particular associated with metal ions and antiseptics. Advances in Dental Research. Washington. v.9, p. 450-456,1995. AHMAD, I. Three-Dimensional Shade Analysis: Perspectives of Color Part I. 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