Operação Condor

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Notas Arqueológicas
O Brasil na Operação Condor
por Cláudia de Castro Lima
Em 28 de novembro de 1975, o general Manuel Contreras, homem de confiança do presidente chileno
Augusto Pinochet Ugarte, reuniu em Santiago coronéis, majores e capitães de seis países da América do
Sul. A intenção era propor um acordo de colaboração entre os países, todos governados por ditaduras
militares, para lutar contra o que eles chamavam de “terrorismo internacional” – na verdade,
guerrilheiros comunistas, militantes de esquerda ou simplesmente pessoas que faziam oposição à
ditadura. Era o nascimento oficial da Operação Condor. E o Brasil era um dos países envolvidos.
Além do Chile e do Brasil, fizeram parte da Operação Condor Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. O
jornalista americano John Dinges, após pesquisar milhares de documentos antes secretos dos governos
militares, chegou à conclusão de que a Condor era dividida em três fases. Em Os Anos do Condor, ele
explica que a fase 1 consistia na troca de informações entre os países sobre pessoas e organizações tidas
como “subversivas”. A fase 2 era marcada por ações contra os alvos no interior dos seis paísesmembros. A fase 3 ampliava o alvo das ações para os países estrangeiros. Por ações entenda-se
perseguições, prisões e mortes. “Mais de 30 mil pessoas foram torturadas e assassinadas pela Condor,
incluindo líderes civis exilados sob a proteção da ONU”, diz Dinges. Leia abaixo trechos da entrevista
exclusiva que ele deu a História.
Entrevista
História – Qual foi a participação do Brasil na Operação Condor?
John Dinges – O Brasil tinha um serviço de inteligência de primeira. O líder dele na época, o general
João Baptista Figueiredo, era amigo do coronel chileno Manuel Contreras. Entre 1974 e 1975, o Chile
mandou vários oficiais para treinarem no Brasil. Uma das atribuições de Pedro Espinoza, o número 2 da
Dina, a polícia secreta de Pinochet e da Operação Condor, era organizar uma escola de inteligência no
modelo brasileiro.
O Brasil chegou a participar da troca de informações entre os seis países da Operação Condor?
Sim. O Brasil participou da reunião que houve em 1975 em Santiago. O convite foi feito ao próprio
Figueiredo. Ele não foi e enviou um representante da inteligência brasileira, que assistiu a reunião mas
não assinou a ata oficial. Apenas seis meses depois, segundo documentos da CIA (agência americana de
inteligência), o Brasil se uniu a Condor. E fez parte das fases 1, com troca de informações, e 2, com ações
dentro dos países-membros.
A adesão não chegou à fase 3?
Não. Em 1976, houve uma nova reunião dos países da Condor. O Brasil esteve novamente nesse
encontro. Nele é que os membros acordaram quanto a entrar na fase 3, a mais atrevida, que levava a
“guerra contra os subversivos” aos países da Europa e aos Estados Unidos. Mas o Brasil não quis fazer
parte da fase 3. Sete documentos da CIA provam isso.
Qual é a parte de culpa que cabe aos Estados Unidos?
A CIA sabia de tudo. A princípio, achava que era apenas uma operação de intercomunicação entre os
países. Quando soube da fase 3, fez esforço para declarar sua oposição. Uma mensagem enviada pelo
secretário de Estado, Henry Kissinger, para os embaixadores dos seis países nunca chegou ao destino,
não se sabe por quê. Se isso tivesse acontecido, pelo menos o assassinato do ex-embaixador chileno
Orlando Letelier poderia não ter ocorrido em Washington.
Saiba mais
Livro
Os Anos do Condor, John Dinges, Companhia das Letras, 2005
http://historia.abril.com.br/politica/brasil-operacao-condor-434275.shtml
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