Universidade Federal do Pampa NAIANA OLIVEIRA DOS SANTOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DO DIABETES MELLITUS TIPO II JUNTO A IDOSOS: ESTÍMULO PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS E EMPODERAMENTO Trabalho de Conclusão de Curso URUGUAIANA 2010 0 1 NAIANA OLIVEIRA DOS SANTOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DO DIABETES MELLITUS TIPO II JUNTO A IDOSOS: ESTÍMULO PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS E EMPODERAMENTO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, no curso de Enfermagem da Universidade Federal do Pampa, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em enfermagem. Orientadora: Profª. Enfª. Dda. Karina Silveira de Almeida Hammerschmidt Co-orientadora: Profª. Enfª. Dda. Adriana Roese Uruguaiana 2010 2 3 AGRADECIMENTOS Ao finalizar essa etapa da minha formação profissional gostaria de agradecer a Deus, que com seu poder supremo, me deu força, sabedoria, serenidade e principalmente amor para guiar minhas ações e atitudes durante esta caminhada. Aos meus pais, João Antonio Bolzan e Neiva Oliveira, pelo amor incondicional, que sempre acreditaram em mim, me apoiando e me incentivando. Obrigada por estarem sempre ao meu lado, mesmo que a distância nos separasse vocês sempre se fizeram presentes nos momentos que precisei. Aos meus irmãos, Gustavo e Silvana pelo amor fraterno que nos une, amizade, torcida, preocupação e solidariedade, que em todos os momentos foi fundamental. Obrigada, ainda, por todos os ensinamentos e por me transmitirem segurança e conforto. Ao Maurício, por seu amor, disponibilidade, companheirismo e estímulo. Sempre com seu discurso cuidadoso e incentivador, a sua presença tornou esta etapa da minha vida mais amena. As minhas orientadoras, Karina Silveira de Almeida Hammerschmidt e Adriana Roese, pelos ensinamentos, apoio e estímulo a superação dos meus limites, durante todo o processo de criação e elaboração deste trabalho. A todos os demais professores, pela dedicação ao ensinar e compartilhar as suas experiências e conhecimentos, os quais contribuíram, para o meu crescimento profissional e pessoal. Agradeço a gentileza do Centro de Convivência Maior Comendador Gabriel Vijande Bermúdez por ceder o local para aplicação deste estudo. Também aos idosos pela sua participação e cooperação neste estudo. A minha amiga e colega de estágio Flávia Pandolfo, pela amizade, companheirismo e incentivo, todos os dias em que eu pensava que não iria conseguir, com suas palavras me encorajava e me dava força para seguir em frente. A colega Jennifer, quem me ajudou na coleta dos dados, meu muito obrigada. E a amiga Maiana Pinheiro, sempre me dando algumas dicas para facilitar na formatação desse trabalho. As minhas companheiras de apartamento que foram minha segunda família, por todos os momentos de convívio e afeto, e a todos os demais amigos que contribuíram, entenderam minhas ausências e me incentivaram nessa jornada. A todas as demais pessoas que estiveram comigo nessa trajetória da minha formação, o meu reconhecimento e meu sincero obrigada pelo apoio e encorajamento. 4 “...plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!" William Shakespeare 5 RESUMO Trata-se de uma pesquisa do tipo estudo de caso, fundamentada nas bases filosóficas propostas por Perrenoud (2000). O objetivo foi desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. Para o desenvolvimento da tecnologia educacional, buscou-se desenvolver processo de cuidar envolvendo a participação e decisão ativa do idoso com diabetes, de modo a desenvolver ações integradas, efetivas, resolutivas, criativas, dialógicas e de empoderamento. A tecnologia educacional desenvolvida foi aplicada no Centro de Convivência Maior Comendador Gabriel Vijande Bermúdez, onde participaram do estudo sete idosos com diabetes mellitus. A aplicação da tecnologia educacional ocorreu em forma de oficina constituída por dois momentos; o primeiro dia com a dinâmica de apresentação e o jogo do bingo educativo. O jogo do bingo educativo foi uma tecnologia educacional em que a pesquisadora desenvolveu para conseguir descobrir previamente o que o idoso diabético conhecia sobre sua patologia. O segundo dia de aplicação da tecnologia educacional contou com a cartilha educativa e com a dinâmica de encerramento. A cartilha educativa como tecnologia educacional desenvolvida pela pesquisadora foi uma ferramenta fundamental para o processo de ensino e aprendizagem dos idosos a respeito de sua doença, caracterizando-se como importante e viável alternativa para auxiliá-los no empoderamento e desenvolvimento de competências para o cuidado de si, por favorecer a construção do conhecimento. A análise do estudo foi ao encontro do referencial de Perrenoud, onde a tecnologia educacional desenvolvida para prevenção secundária do diabetes mellitus envolveu o idoso como protagonista e agente crítico, reflexivo e ativo, diante das tomadas de decisões que constituem estratégias centrais em todos os cuidados de enfermagem junto ao idoso com diabetes mellitus e o cuidado de si. Dessa forma, o desenvolvimento da tecnologia educacional aliado ao cuidado de enfermagem, permitiu novas possibilidades de educação em saúde junto a idosos, com o propósito de capacitá-los para promover o entendimento de sua doença, e consequentemente estimulá-los para a prevenção secundária do diabetes mellitus. Descritores: Tecnologia educacional, Diabetes mellitus, Idoso. 6 ABSTRACT This is a research of the type case study, based in philosophical basis proposed by Perrenoud (2000).The objective was to develop the educational technology in nursing care to secondary prevent of diabetes mellitus type II in elderly people. For the development of the educational technology, searched to develop process of care involving the participation and active decision of the elder with diabetes, in the way to develop integrated actions, effectives, resoluteness and creative, debatable and of empowerment. The educational technology developed was applied in the Centro de Convivência Maior Comendador Gabriel Vijande Bermúdez, with the participation of seven elder with diabetes mellitus. The application of the educational technology occurred how a workshop constituted by two moments; in the first day with the presentation dynamics and the educational bingo game. The educational bingo game was an educational technology that the researcher developed to discover what the diabetic elderly knows about your disease. In the second day of the application of the educational technology an educational primer was used and the day was finished with a closure dynamics. The educational primer how educational technology developed by the researcher was a fundamental tool to the teaching process and apprenticeship by the elderly about your disease, characterized how important and viable alternative to help them in the empowerment and development of competency for the self-care, to favor the construction of knowledge. The analysis of the study match with the referential of Perrenoud, where the educational technology developed for secondary prevention of diabetes mellitus involved the elderly how the protagonist and critical agent, reflexive and active, toward the decisions that compose central strategies in all the nursing care with the elderly with diabetes mellitus and self-care. In this way, the development of the educational technology joined to the nursing care, allowed new possibilities of health education with elderly people, with the purpose of enable us to promote the understanding of your disease, and consequently incite us to secondary prevention of diabetes mellitus. Descriptors: Educational technology, Diabetes mellitus, Elderly people. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 9 2 OBJETIVO ............................................................................................................................... 12 3 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................................... 13 3.1 Processo de Envelhecimento e Diabetes Mellitus.............................................................. 13 3.2 Tecnologia Educacional no Cuidado de Enfermagem ........................................................ 15 3.3 Educação em Saúde ............................................................................................................ 18 4 METODOLOGIA ...................................................................................................................... 22 4.1 O Estudo de Caso ................................................................................................................ 22 4.1.1 Componentes do Estudo de Caso.................................................................................... 22 4.1.1.1 Revisão de Literatura .................................................................................................... 22 4.1.1.2 Questão do estudo ....................................................................................................... 23 4.1.1.3 Preposição do estudo ................................................................................................... 23 4.1.1.4 Unidade de análise ....................................................................................................... 24 4.1.2 O papel da teoria no planejamento do estudo ............................................................... 24 4.1.2.1 Desenvolvimento da teoria .......................................................................................... 24 4.1.3 Projetos de estudo de caso ............................................................................................. 25 4.1.3.1 Projeto holístico de caso único..................................................................................... 25 4.1.4 Preparação para a coleta de dados ................................................................................. 25 4.1.4.1 Construção da tecnologia educacional no cuidado de enfermagem com estímulo de competências para o cuidado de si na prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos ........................................................................................................................... 25 4.1.4.2 Protocolo ...................................................................................................................... 26 4.1.5. Coleta de evidências ....................................................................................................... 27 4.1.5.1 Entrevistas .................................................................................................................... 27 4.1.5.2 Observação direta ........................................................................................................ 27 4.1.5.3 Artefatos físicos ............................................................................................................ 27 4.1.6 Princípios para coleta de dados....................................................................................... 28 4.1.6.1 Fontes múltiplas de evidência: Triangulação ............................................................... 28 4.1.6.2 Banco de dados ............................................................................................................ 29 4.1.6.3 Encadeamento de evidências ....................................................................................... 29 4.1.7 Análise das evidências ..................................................................................................... 30 4.1.8 Relatório do estudo de caso ............................................................................................ 31 4.1.9 Considerações bioéticas .................................................................................................. 31 5 RESULTADOS .......................................................................................................................... 32 5.1 Cenário do Estudo .............................................................................................................. 32 5.2 Processo de Coleta de Informações……………………………………………………………………………… 32 5.3 Tecnologia Educacional: Elaboração e Implementação ..................................................... 33 5.3.1 Dinâmica de Apresentação……………………………………………………………………………………..… 34 5.3.2 Jogo do bingo educativo .................................................................................................. 35 5.3.3 A construção da cartilha educativa ................................................................................. 38 5.3.4 Dinâmica de encerramento ............................................................................................. 40 5.4 Triangulação: Dados e Teoria ............................................................................................. 41 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 53 8 [Digite uma REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 55 do citação APÊNDICES ................................................................................................................................ 61 document APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........................................ o ou62o APÊNDICE B - PROTOCOLO DO ESTUDO DE CASO ................................................................... 63 resumo APÊNDICE C – SÍNTESE DO RELATÓRIO DO ESTUDO DE CASO ................................................. 66 de uma APÊNDICE D - CARTILHA EDUCATIVA ....................................................................................... 68 questão ANEXOS ..................................................................................................................................... 82 interessan ANEXO A - FIGURAS ESCOLHIDAS PELOS IDOSOS NA DINÂMICA DE APRESENTAÇÃO ............ 83 te. Você pode posicionar a caixa de texto em qualquer lugar do document o. Use a guia Ferrament as de Caixa de Texto para alterar a formataçã o da caixa de texto da citação.] 9 1 INTRODUÇÃO Evidencia-se que os idosos vivenciam as alterações inerentes ao processo de envelhecimento, tornando-se mais susceptíveis as doenças crônicas que podem trazer consequências para sua capacidade funcional. O diabetes mellitus do tipo II é uma das principais doenças crônicas que acomete as pessoas idosas. No Brasil, estima-se atualmente que 11% da população com idade de 40 anos ou mais tem o diagnóstico de diabetes mellitus, com tendência crescente conforme eleva-se a idade (BRASIL, 2006). A grande preocupação, é que essa patologia está associada ao aumento da prevalência de problemas micro e macrovasculares nessa população. Nesse sentido, para o alcance do bom controle metabólico, ou seja, o paciente diabético necessita de mudanças no estilo de vida o que acarreta profundas alterações na vida e no contexto familiar frente à nova situação (HAMMERSCHMIDT, 2007). Desta forma, a educação em saúde, pode auxiliar o idoso para o cuidado de si, desenvolvimento de competências e empoderamento. De acordo com Organização PanAmericana da Saúde (OPAS, 2005), o cuidado de si, pode na maioria das vezes, ser proporcionado pelo próprio indivíduo que dele necessita. Neste contexto o idoso desenvolve competências para o empoderamento no diabetes mellitus. O empoderamento permite desenvolvimento de consciência crítica, na qual o idoso com diabetes encontra sentido para um modo de viver saudável, próprio e personalizado (HAMMERSCHMIDT, 2007). Assim, é essencial que o idoso desenvolva competências, que auxilie ele a enfrentar determinadas situações no processo saúde e doença (PERRENOUD, 2000). Neste sentido, a educação em saúde juntamente com o cuidado de enfermagem pode instigar o idoso com diabetes mellitus no comportamento saudável, incitando o desenvolvimento de competências para o cuidado de si. Desse modo, incitar a adesão ao tratamento, torna-se fundamental para que os idosos com doenças crônicas possam participar no planejamento e na tomada de decisão do seu tratamento, o que acarretará um entendimento mais eficaz e eficiente de sua condição, bem como da prevenção secundária das patologias (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2003). A prevenção secundária enfatizada caracteriza-se por implementação de ações educativas de saúde voltadas para o efetivo controle dos fatores de risco do diabetes mellitus tipo II junto a idosos, visando à prevenção da doença e de seus agravos. Dessa forma, a 10 intervenção educacional na prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II, é de suma importância, pois pode suscitar no idoso mudança no estilo de vida, fazendo com que ele consiga conviver melhor com o diabetes mellitus e consequentemente ter melhor qualidade de vida. Relativo à adesão ao tratamento, tem-se as dificuldades dos idosos em compreender a patologia que possuem, e sendo o diabetes uma doença que exige inúmeros cuidados (Hammerschmidt, 2007), necessita de especial atenção. Desta forma, vislumbrou-se nesta pesquisa, a construção de tecnologia educacional no cuidado de enfermagem, construída especialmente para idosos com diabetes mellitus II, que ao ser utilizada na educação em saúde pode trazer benefícios. Acredita-se que esta pode ser uma forma renovada de cuidado, que contemple algumas especificidades da população idosa e ludicamente pode contribuir para o entendimento de sua condição de saúde, doença e prevenção de complicações. O presente estudo teve como fonte de motivação a experiência da acadêmica como bolsista de ensino na disciplina de Saúde Coletiva, onde desenvolvia um projeto de educação em saúde com diabéticos. A proposta em criar tecnologia de cuidado para pacientes idosos partiu do interesse pessoal, pois acredita-se que a população idosa é extremamente importante na sociedade, agregado a este fato tem-se o aumento populacional e as especificidades desta faixa etária. Concernente a isto, salienta-se a necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias de cuidado que respeitem os limites e as peculiaridades decorrentes do envelhecimento, capazes de reconhecer as modificações físicas, emocionais e sociais do idoso. Como futura profissional de saúde, desenvolver tecnologia educacional para pacientes idosos com diabetes mellitus tipo II, enriquecerá a formação acadêmica, bem como proporcionará a vivência de novas experiências educativas. Deste modo, torna-se um desafio desenvolver tecnologia educacional, com o intuito de promover o desenvolvimento de competências para o cuidado de si, auxiliando no empoderamento do idoso e provendo possíveis melhorias na qualidade de vida dessas pessoas. Nesse sentido, para desenvolver educação em saúde junto à pacientes idosos com diabetes mellitus, torna-se fundamental que os profissionais de saúde empenhem-se na busca e desenvolvimento de novas tecnologias de ensino, que despertem no idoso a percepção e compreensão do seu organismo e cuidado de si. Isso possibilitará o desenvolvimento de competências e empoderamento, essenciais para a manutenção de uma vida ativa e com qualidade, ao longo do processo de envelhecimento. Merhy (2002) afirma que o contexto 11 atual é de transição tecnológica em saúde, com novas possibilidades de reestruturação ou construção de modelos que se propõem a atender as necessidades dos idosos. Nesta proposta compreende-se a tecnologia num sentido amplo e abrangente, permeando o processo de trabalho em saúde, envolvendo saberes e habilidades, além disso, a tecnologia também aparece na forma como se estabelecem as relações, no modo como se dá o cuidado (MERHY, 2002). Acredita-se que o desenvolvimento da tecnologia educacional seja uma forma facilitadora para a educação em saúde com idosos, auxiliando no entendimento e compreensão da sua condição de saúde e doença, com o intuito de atender as necessidades de prevenção, promoção e recuperação da saúde no diabetes mellitus tipo II, exaltando a competência técnica do profissional de enfermagem, de modo digno, ético e humano. Sendo assim, tem-se como problemática deste estudo: como desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos? 12 2 OBJETIVO Desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. 13 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Processo de Envelhecimento e Diabetes Mellitus A busca para compreender o processo de envelhecimento teve inicio com as civilizações mais antigas, nas quais variavam o conceito de envelhecimento e a aceitação da velhice (FREITAS et al., 2002). Hoje os idosos, nas diferentes camadas, segmentos ou classes sociais, vivem a velhice de forma diversificada. Enfatiza-se que o processo do envelhecimento está relacionado a alterações nas mudanças funcionais e estruturais que, muitas vezes, favorecem o aparecimento de doenças. O envelhecimento no seu processo fisiológico se manifesta pelo declínio das funções dos diversos órgãos levando à diminuição da reserva funcional, o que pode afetar o sistema imunológico, diminuindo a capacidade de adaptação do idoso às modificações do meio interno e/ou externo (NETO; PONTE, 1999). Para Duarte (2002), em condições normais um organismo envelhecido pode sobreviver normalmente, mas quando é exposto ao estresse tanto físico quanto emocional, pode apresentar desequilíbrio de sua homeostase, gerando uma sobrecarga funcional que pode resultar em processos patológicos e até a morte. No Brasil, o crescimento da população idosa vem ocorrendo de forma bastante acelerada. Os dados estatísticos mostram que a faixa etária com maior crescimento na maioria dos países em desenvolvimento é a acima de 60 anos. As projeções indicam que no Brasil a proporção de idosos aumentou, passando de 8,8 % em 1998 para 11,1% em 2008. O Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul são os estados com maior proporção de idosos. Além disso, no Brasil a proporção de pessoas com mais de 70 anos ou mais também apresenta um aumento significativo (IBGE, 2009). No contexto da transição demográfica, o perfil de saúde em nosso país também sofre mudanças. Com o aumento populacional de idosos prevalecem as doenças crônicas não transmissíveis na população. As doenças mais frequentes são a hipertensão, diabetes, artrite, insuficiência renal crônica, osteoporose e demências (VAROTO; TRUZZI; PAVARINI, 2004; RAMOS, 2002). O aumento das doenças crônicas nos idosos traz consequências como alterações na sua capacidade funcional que, na maioria das vezes, exige mudanças na estrutura de vida dessas pessoas. Nesse sentido, Santos (2003) refere que muitas vezes a presença dessas patologias 14 interfere de alguma forma na vida dessas pessoas, e que dependendo do contexto social em que vivem, sua história de vida e aspectos socioeconômicos, a doença pode ter maior ou menor significado para cada um. Dificuldades nas condições de vida, juntamente com o processo de envelhecer pode tornar o idoso mais vulnerável a desenvolver doenças crônicas de saúde, como por exemplo, o diabete mellitus. A incidência do diabetes mellitus vem aumentando mundialmente. No Brasil, atualmente, estima-se que 11% da população com idade de 40 anos ou mais tem o diagnóstico de diabetes mellitus, com tendência de ampliação conforme eleva-se a faixa etária (BRASIL, 2006). A elevação do diabetes mellitus no idoso pode ter várias causas, dentre elas, a relação do processo de envelhecimento com o metabolismo da glicose. Da mesma forma Diogo; Paschoal; Cintra (2000), afirmam que a diminuição da elasticidade das paredes arteriais, decorrente do processo de envelhecimento, acarreta o aumento da pressão arterial, estando diretamente relacionada às complicações do diabetes. O diabetes mellitus é uma patologia crônica, com características genéticas, que pode ser influenciado pelas condições do ambiente. Ocorrem complicações do metabolismo, principalmente a falta de insulina, que é um hormônio produzido em pequena quantidade pelas células ßeta do pâncreas, tendo como função disponibilizar glicose às células (BRASIL, 2006). De acordo com Freitas et al. (2006), a prevalência e a incidência do diabetes mellitus vem crescendo como consequência do aumento da população idosa, da urbanização e industrialização, do aumento da obesidade, da inatividade física e principalmente do aumento de sobrevida dos diabéticos. Na maioria das vezes o diabetes mellitus tipo II se associa à obesidade, especialmente víscero/abdominal, surgindo muitas vezes após ganho de peso associado ao envelhecimento, caracterizado por menor tolerância à glicose. Ocorrem disfunção e anormalidades anatômicas do endotélio. A disfunção endotelial micro e macrovascular é percebida nas fases iniciais da doença, mesmo antes do aparecimento da hiperglicemia, tendo papel fundamental no acometimento aterosclerótico macrovascular, e possivelmente está associada à inflamação e à resistência à insulina (OLIVEIRA; WAJCHENBERG, 2003). A apresentação clínica do idoso frente ao diabetes em geral surge de forma silenciosa, não dando qualquer sinal ou sintoma da doença. Devido a esse fato, o idoso diabético pode desconhecer ser portador da doença, sendo o diagnóstico frequentemente comprovado através de exames quase rotineiramente requisitados em indivíduos dessa faixa etária. Desse modo, o diabetes, às vezes, é somente diagnosticado quando do surgimento de uma ou mais 15 complicações da doença. Assim, esses pacientes passam a ter conhecimento do fato de serem diabéticos quando sobrevêm distúrbios visuais (como catarata, glaucoma, retinopatia), neuropatias, nefropatia e vasculopatia periférica (FILHO; NETTO, 2006). Frente a uma doença crônica, a saúde do idoso é afetada de alguma forma, podendo acarretar comprometimento financeiro, emocional e social dentre outros, e a qualidade de vida em idosos com diabetes mellitus tipo II pode ser prejudicada em decorrência da doença. Corroborando com este pensamento, Hammerschmidt (2007), ressalta que o diabetes mellitus é uma condição crônica de saúde, que necessita de mudança no estilo de vida do paciente para o alcance de um bom controle metabólico, acarretando profundas alterações na vida do paciente e no contexto familiar frente à nova situação apresentada. Dessa forma, a prevenção secundária do diabetes mellitus é de suma importância, pois através da prevenção é possível contribuir para que, apesar das progressivas limitações que possam ocorrer com os idosos, eles possam redescobrir possibilidades de viver com a doença, desenvolvendo competências para o cuidado de si e empoderando-se para viver com qualidade de vida. Nesse sentido, acredita-se na importância da informação para a prevenção das complicações do diabetes mellitus nos idosos, pois é através do conhecimento que eles adquirem que pode-se vivenciar atitudes de prevenção. Acredita-se que a enfermagem pode intervir na patologia do diabetes mellitus, prestando assistência educativa ao paciente idoso com diabetes mellitus tipo II, fornecendo informação sobre processo da saúde/doença, cuidado de si, necessidade de tratamento, bem como auxiliar a prevenir complicações (DOENGES; MOORHOUSE; GEISSLER, 2003). Nesse sentido, faz-se necessária a tecnologia educacional que auxilie na educação em saúde junto a idosos com diabetes mellitus tipo II, incentivando o cuidado de si, o desenvolvimento de competências e o empoderamento. 3.2 Tecnologia Educacional no Cuidado de Enfermagem Com as constantes e intensas mudanças nos dias atuais, onde é crescente e cada vez mais acelerada a inovação tecnológica, tem-se à disposição dos profissionais e usuários os mais diversos tipos de tecnologias, tais como: tecnologias educacionais, tecnologias gerenciais e tecnologias assistenciais (BARRA et al., 2006). Dessa forma, é importante ter uma postura crítica e reflexiva sobre a utilização da tecnologia, buscando uma adequação às 16 necessidades do paciente como um todo e que, independente do uso da tecnologia, cabe ao enfermeiro saber utilizar estas tecnologias para benefício do idoso. A tecnologia educacional no cuidado de enfermagem é um conjunto de ferramentas que podem ser cada vez mais desenvolvidas e especializadas para auxiliar os profissionais motivados a proporcionar um melhor cuidado à saúde do ser humano. Nascimento (2005) refere que a tecnologia educacional não é composta somente por materiais e equipamentos. É necessário expandir esse conceito, inovando tecnologicamente a educação, ao reconhecer que o uso criativo dos instrumentos disponíveis pode estimular o pensamento crítico, levando ao desejo de manifestar opiniões, de trocar idéias, de conhecer o que o outro tem a ensinar. A esse respeito, Sampaio; Leite (2000) reforçam ao afirmar que tecnologia educacional deve ser empregada e analisada criticamente, com o propósito de beneficiar o processo de transformação social promovido pela educação. Sabe-se que termo tecnologia tem sido utilizado de forma enfática, incisiva e determinante, porém distorcida na prática diária, uma vez que tem sido concebido, quase sempre, somente como um produto ou equipamento. Nesse sentido, Mehry et al. (1997) ressaltam que a tecnologia não deve ser tratada através de uma concepção reducionista ou simplista, associada somente à máquinas. Dessa forma, a tecnologia compreende certos saberes constituídos para a geração e utilização de produtos e para organizar as relações humanas. Refletir o cuidado na perspectiva da tecnologia nos leva a repensar a inerente capacidade do ser humano em buscar inovações. A relação entre o cuidado de enfermagem e a tecnologia é permeada pela busca do conhecimento científico (ROCHA et al., 2008). Para abordar tecnologias em saúde interligando as necessidades reais dos usuários e dos próprios serviços de saúde é necessário ir além da dimensão das máquinas e equipamentos, cujo impacto da sua utilização na área da saúde auxilia na garantia e manutenção da vida por todos os indivíduos, quer sejam usuários ou trabalhadores de saúde (ROSSI; LIMA, 2005). Para a concretização dos processos de trabalho em saúde são utilizadas diferentes tecnologias que foram agrupadas por Merhy et al. (1997) em três categorias, a saber: a) Tecnologia dura, representada pelo material concreto como equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, normas, estruturas organizacionais; b) Tecnologia leve-dura, incluindo os saberes estruturados representados pelas disciplinas que operam em saúde, a exemplo da clínica médica, odontológica, epidemiológica, entre outras e; c) Tecnologia leve, que se expressa como o processo de produção da comunicação, acolhimento, de vínculos que conduzem ao encontro do usuário com necessidades de ações de saúde, gestão, como uma 17 forma de governar processos de trabalho. Observa-se que as três categorias apresentadas estão intimamente interligadas e presentes no agir da enfermagem, ainda que nem sempre de modo transparente. Neste contexto, a tecnologia educacional no cuidado de enfermagem com pacientes idosos diabéticos, pode ser uma importante ferramenta que auxilie no cuidado a essas pessoas. Com a tecnologia educacional no cuidado da enfermagem, pode-se desenvolver novas formas de cuidado que auxilie os profissionais, bem como os idosos no cuidado de si, no desenvolvimento de competências e no empoderamento. O uso das tecnologias contempla a existência de um objeto de trabalho dinâmico, em contínuo movimento. Esse objeto exige dos profissionais de saúde, especialmente do enfermeiro, uma capacidade diferenciada, a fim de que percebam essa dinamicidade e pluralidade, que desafiam os sujeitos à criatividade, à escuta e a flexibilidade (ROSSI, 2003). Tal consideração permite entender a dimensão da produção tecnológica na enfermagem, a qual pode encontrar estratégias tecnológicas de cuidado no cotidiano do seu trabalho, tanto em sua natureza assistencial como na administrativa, que objetivem melhorar as ações educativas em saúde. Nessa compreensão, a tecnologia não pode ser vista apenas como algo concreto, como um produto palpável, mas como resultado de um trabalho que envolve um conjunto de ações abstratas ou concretas que apresentam uma finalidade, nesse caso, o cuidado em saúde. Autores como Rocha et al. (2008), apontam que tecnologia permeia o processo de trabalho em saúde, contribuindo na construção do saber, apresentando-se desde o momento da idéia inicial, da elaboração e da implementação do conhecimento, como também, é resultado dessa mesma construção. Além disso, a tecnologia também aparece na forma como se estabelecem as relações, na maneira como se dá o cuidado em saúde. Quando se visualiza uma estrutura de forma flexível que sofre adaptações conforme a necessidade do cuidador e o ser cuidado, com o objetivo de promover um cuidado único, específico e ao mesmo tempo integral, o modelo de cuidado pode então ser visto como uma tecnologia (ROCHA et al., 2008). Desse modo, os modelos de cuidados manifestam-se como tecnologias, sejam estas leves, leve-duras ou duras, que englobam um conjunto de conhecimentos. A característica da tecnologia em enfermagem é própria, pois ao se cuidar do ser humano, não é possível generalizar condutas, mas sim adaptá-las às mais diversas situações, a fim de oferecer um cuidado adequado e individualizado principalmente quando se trata dos idosos (MEIER, 2004). Koerich et al. (2007) resgatam que a tecnologia moderna organiza e 18 sistematiza as atividade e, não somente, produz máquinas e ferramentas físicas. O que nos leva a compreender que a tecnologia envolve um conjunto de ferramentas que dá dinamicidade às ações, bem como auxilia no cuidado. Acredita-se que desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para pacientes idosos com diabetes mellitus tipo II, é uma forma de ação, um modo de fazer o cuidado. Corroborando com essa afirmação, Rocha et al. (2008), associam o modelo de cuidado como um processo tecnológico, que pode ser classificado, como uma tecnologia levedura, pois o mesmo é estruturado em uma sequência de passos ou normas que o determinam e orientam para a realização do cuidado. Dessa forma, Merhy (2002) refere que a tecnologia inclui saberes para a produção de produtos e para a organização de ações humanas nos processos produtivos, portanto sustentando o trabalho vivo. Assim, o trabalho vivo em ato comporta, por exemplo, a criatividade permanente do trabalhador em ação, inventando novos processos de trabalho e abrindo novas direções não pensadas. Neste estudo a tecnologia realizada também caracterizase como leve-dura, pois inclui saberes estruturados relacionados ao processo saúde e doença, em idosos com diabetes mellitus tipo II. Também pode-se considerar o produto deste estudo como uma tecnologia dura, pois será material concreto, que pode ser utilizado para educação em saúde, cuidado de si, desenvolvimento de competências e empoderamento do idoso. 3.3 Educação em Saúde O papel do enfermeiro em relação ao idoso é abrangente, englobando a educação em saúde, a gerência de recursos humanos e de materiais e a realização da assistência qualificada (CAMACHO, 2002). Nesse sentido, a educação em saúde é uma das vertentes em que o enfermeiro pode atuar, a fim de proporcionar melhor qualidade de vida aos idosos no seu processo de envelhecimento. Faz-se, necessária a implantação e a consolidação de práticas educativas que contemplem a especificidade de atenção da vida, saúde e doença das pessoas idosas, que seja condizente com o entendimento deles. Acredita-se que através de ações educativas, é possível despertar na pessoa idosa e na família a percepção e a compreensão do cuidado de si, como essencial à manutenção de vida ativa e com qualidade, ao longo do processo de envelhecimento. Desse modo, Pedro (2000) refere que a educação em saúde é um processo de 19 ensino-aprendizagem visando a prevenção e promoção da saúde, onde o educador desenvolve estratégias, no intuito de oferecer caminhos que possibilitem transformações nas pessoas. Segundo Cardoso et al. (2005), as pessoas envolvidas no processo educacional são dotadas de identidade com características individuais. Portanto, não se pode deixar de considerar esse aspecto quando se aborda a educação. Neste sentido, é necessário reconhecer as mudanças que ocorrem no processo de envelhecimento, para que dessa forma a educação em saúde para idosos com diabetes mellitus tipo II, seja uma forma renovada de cuidado, com o objetivo de promover o cuidado de si, a prevenção de complicações e o empoderamento, visando melhor qualidade de vida dessas pessoas. Assim, para desenvolver educação em saúde junto a idosos com diabetes mellitus, torna-se fundamental que os profissionais de saúde empenhem-se na busca de novas tecnologias de ensino, para que estas auxiliem os idosos a obterem informações apropriadas acerca do cuidado à saúde. Duran; Cocco (2003) ressaltam que o educador em saúde enfrenta alguns problemas no que tange a diversidade da população, as dificuldades de aprendizagem e de ensino e o decréscimo de recursos para a educação. Nessa direção, tem-se a necessidade urgente de se buscar estratégias efetivas direcionadas à educação do idoso diabético, observando as peculiaridades: idade, motivação para o tratamento, capacidade de cuidar de si, entre outras. É preciso reconhecer, que a educação é um processo de relação humana que exige uma atividade de interação entre educador e educando. Dessa forma, os profissionais de saúde devem lembrar que a educação, desenvolve-se num processo de construção de saber coletivo visando um cuidado humanizado com a finalidade de intervir e transformar a realidade de cada indivíduo (CARDOSO et al., 2005). A educação em saúde pode contribuir para mudanças no estilo de vida, favorecendo o conhecimento, sendo uma oportunidade para os idosos com diabetes mellitus vencerem os desafios impostos pela sua condição de saúde. Propicia, também o aprendizado de novas formas de cuidar, ampliando as oportunidades para resgatar seu bem-estar físico e emocional (MARTINS et al., 2007). Esses mesmos autores acreditam que, a educação em saúde é um dos mais importantes elos entre os desejos e expectativas da população por uma vida melhor. Nessa perspectiva, os enfermeiros ao desenvolver educação em saúde junto a idosos com diabetes mellitus tipo II, criam ferramentas que envolvam esses pacientes no cuidado de si, fazendo com que eles sejam os principais protagonistas no cuidado de sua saúde. Nessa direção Gonçalves; Schier (2005), referindo-se a enfermagem ao prestar cuidados à pessoa idosa, deve valorizar e estimular a independência e autonomia do paciente, utilizando entre 20 vários recursos, do método de educação participativa para o cuidado de si nas atividades do viver diário. Os mesmos ressaltam que por meio de ações libertadoras de educação para saúde, a pessoa idosa e seus cuidadores são capazes de cultivar e/ou buscar o bem estar e qualidade de vida que almejam para si. É fundamental que o enfermeiro desenvolva tecnologia educacional em saúde para idosos diabéticos, baseada no entendimento integral a respeito de saúde e de qualidade de vida do paciente, valorizando a cultura, estimulando a autoconfiança para o alcance uma educação em saúde efetiva. Assim, Martins et al. (2007), entendem que os pacientes idosos, precisam de algumas estratégias que possibilitem ter uma velhice satisfatória. Isto implica em estarem atentos a cultivar novos hábitos para prevenção secundária do diabetes, e desenvolvimento de competências em prol de uma melhor qualidade de vida. Acredita-se que a educação em saúde pode auxiliar os profissionais de saúde na prevenção secundária do diabetes melitus tipo II e entendida pela população idosa como ferramenta de cuidado, podendo ser umas das principais estratégias que visa à manutenção da autonomia e independência desses sujeitos no seu processo de cuidado. No caso do idoso com diabetes mellitus, Medeiros; Lopes (2007) afirmam que é necessária a intensificação dos processos de educação em saúde com esses pacientes, para que eles avaliem a sua saúde e consequentemente invistam em transformações em seu estilo de vida. Nesse sentido, a educação em saúde pode ser entendida como uma maneira de fazer com que as pessoas desenvolvam competências, empoderando-se do cuidado de si possibilitando modificações nos comportamentos prejudiciais à saúde. A educação em saúde não é, somente, levar a população à compreensão e às soluções corretas que os profissionais descobriram, pelo contrário, ao estudar a realidade de vida das pessoas, podem-se identificar ricas experiências e novas estratégias de cuidado. Assim, Danieli; Paixão (2007) ressaltam que ensinar em saúde é uma especificidade humana, que exige aceitação do novo, reconhecimento da identidade cultural das pessoas, bem como competência e comprometimento do profissional. Resgatando que a educação em saúde envolve a capacidade e disposição para mudança de cada sujeito na aprendizagem sobre saúde, Monteiro; Vargas; Cruz (2006) pressupõem que, ao buscar implementar ações de educação em saúde, as tecnologias são processos concretos. Assim, a partir de uma experiência do cotidiano, podem ser desenvolvidas tecnologias que serão controladas pelas pessoas, podendo ser veiculadas a artefatos ou saberes. 21 As tecnologias nesta pesquisa se referem às estratégicas de educação em saúde, que poderão ser utilizadas para estimular cuidado de si, o empoderamento e o desenvolvimento de competências para comportamentos saudáveis através da aprendizagem e de habilidades para os cuidados da saúde, que possibilitem ao idoso com diabetes mellitus tipo II entender e compreender o processo de saúde e doença que ocorre no organismo, descobrindo novas maneiras de enfrentar essa doença. Dessa forma, a ação educativa em saúde é um processo dinâmico, que busca melhoria das condições de saúde. Não basta apenas seguir normas recomendadas de como ter mais saúde e evitar doenças, é essencial desenvolver novas tecnologias educacionais que estimulem as ações dos idosos, almejando bem-estar e qualidade de vida. Sendo assim, reforça-se a necessidade do enfermeiro em produzir novas tecnologias educacionais no cuidado de enfermagem, reconhecendo as verdadeiras necessidades, desejos e aspirações dos idosos com diabetes mellitus tipo II, incitando a prevenção secundária, a adesão ao tratamento, o cuidado de si, o empoderamento, o desenvolvimento de competências e a melhor qualidade de vida. 22 4 METODOLOGIA A metodologia utilizada nesse trabalho caracterizou-se como estudo de caso seguindo os pressupostos de Yin (2005). Para se realizar um estudo de caso o autor citado defende a necessidade de realizar revisão de literatura, anteriormente ao estudo de caso propriamente dito, desta forma seguiu-se a recomendação metodológica do autor e na sequencia apresentase como ocorreu a pesquisa. 4.1 O Estudo de Caso Este trabalho caracterizou-se estudo de caso, pois, representou a “estratégia preferida, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos ou quando o foco se encontra em fenômenos inseridos em algum contexto da vida real” (YIN, 2005, p.19). 4.1.1 Componentes do Estudo de Caso O estudo de caso foi composto inicialmente por quatro componentes essenciais: revisão de literatura, questão do estudo, preposição do estudo e unidade de análise, que delinearam esta pesquisa. 4.1.1.1 Revisão de Literatura Foi realizada pesquisa bibliográfica, do tipo revisão de literatura não sistematizada, método que possibilita sintetizar pesquisas já concluídas e obter resultados a partir de um tema de interesse. A revisão de literatura não sistematizada é descrita como a busca de informações sobre um tema ou tópico que resuma a situação dos conhecimentos sobre um problema de pesquisa. O principal objetivo da revisão de literatura é fornecer uma síntese dos resultados de pesquisa, para auxiliar o profissional a tomar decisões. Neste tipo de estudo são abordados os tópicos relevantes sobre o tema, de forma a proporcionar ao leitor uma compreensão do que existe publicado sobre o assunto. Assim a revisão tem uma função integradora e facilita o acúmulo de conhecimento (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004). 23 A revisão de literatura foi baseada em livros, pesquisas em teses, dissertações e artigos nas bases de dados existentes. Para a busca nas bases de dados optou-se por procurar pelas seguintes palavras chaves: tecnologia educacional, diabetes mellitus tipo II, idosos e educação em saúde. 4.1.1.2 Questão do estudo A questão de estudo para ser considerada estratégia de estudo de caso precisa ter como forma de questão de pesquisa as palavras “como” “por quê”, pois elas revelam-se como a essência do estudo de caso; não se pode exigir controle sobre eventos comportamentais e por ter como foco acontecimentos contemporâneos (YIN, 2005). Desta forma, teve-se como questão deste estudo: Como desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos? 4.1.1.3 Preposição do estudo A preposição do estudo serviu para direcionar a busca de evidências relevantes e simultaneamente refletindo sobre a questão teórica. O estudo em questão teve a seguinte preposição: O desenvolvimento da tecnologia educacional, para o cuidado de enfermagem promove o estímulo de competências para o cuidado de si na prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. O cuidado de enfermagem na educação em saúde consiste, em desenvolver tecnologia educacional junto à pacientes idosos diabéticos, esta tecnologia pode ser uma importante ferramenta que auxilie no cuidado a essas pessoas. Desta forma, esta ação possibilitou a construção de proposta de cuidado em enfermagem que embasou a ação cuidativa, bem como para os idosos estimulou na prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II, incitando o empoderamento e o desenvolvimento de competências para o cuidado de si. 24 4.1.1.4 Unidade de análise A unidade de análise consistiu no foco principal do estudo de caso, ou seja, na definição do “caso” que foi estudado. O estudo em questão apresentou como unidade de análise o desenvolvimento de tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. 4.1.2 O papel da teoria no planejamento do estudo A partir desses quatro componentes essenciais do estudo de caso (revisão de literatura, questão de estudo, preposição e unidade de análise) foi criada uma teoria, salienta-se que a teoria apresentada está alicerçada na revisão de literatura anteriormente mencionada e realizada. Dessa forma, sua formulação foi fundamental antes do início do estudo de caso. 4.1.2.1 Desenvolvimento da teoria O desenvolvimento de uma teoria forneceu direcionamento consistente na determinação dos dados que foram coletados na sua análise, e também na generalização dos resultados. Existem inúmeros tipos de teoria e sua escolha depende do assunto que será trabalhado no estudo de interesse. Sendo que nesse estudo a teoria que apresentou maior afinidade com o tema é a teoria social, voltada ao desenvolvimento tecnológico, que visou atender a demanda social. Isto se deve por este estudo propor que o desenvolvimento da tecnologia auxiliasse os profissionais de saúde e os idosos na prevenção secundária do diabetes mellitus. Devido a isso, a teoria social foi aplicada nesse estudo de caso de forma efetiva, sendo apresentada logo abaixo. O estudo de caso mostrou que o desenvolvimento da tecnologia educacional com estímulo de competências para o cuidado de si pode contribuir no cuidado de enfermagem visando à prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. 25 4.1.3 Projetos de estudo de caso Os projetos de estudo de casos podem ser de quatro tipos: 1) holístico de caso único; 2) holístico de casos múltiplos; 3) incorporado de caso único; 4) incorporado de casos múltiplos. Após a análise desses quatros tipos, definiu-se que o estudo em questão adapta-se ao projeto holístico de caso único (YIN, 2005). 4.1.3.1 Projeto holístico de caso único Esta pesquisa foi classificada como projeto holístico por apresentar única unidade de análise, que é o desenvolvimento da tecnologia educacional. E de caso único, por ter um único propósito que é a prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. 4.1.4 Preparação para a coleta de dados Na preparação para a coleta de dados é necessário, citar os principais passos, objetivos e idéias principais do estudo, também o desenvolvimento de um protocolo de estudo que serviu como guia dos passos a serem realizados no estudo (YIN, 2005). 4.1.4.1 Construção da tecnologia educacional no cuidado de enfermagem com estímulo de competências para o cuidado de si na prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos O processo de elaboração da tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos, foi baseado em algumas bases filosóficas propostas por Perrenoud (2000). Este autor acredita que é essencial o desenvolvimento de competências, no sentido de “capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação” (PERRENOUD, 2000, p.15). Acredita-se na necessidade de desenvolver processo de cuidar envolvendo a participação e decisão ativa do idoso com diabetes, de modo a desenvolver ações integradas, efetivas, resolutivas, criativas, dialógicas e de empoderamento. 26 Sendo assim ressalta-se a importância do trabalho de estímulo junto ao idoso para o desenvolvimento de competências com vistas ao empoderamento, a ser realizado entre o profissional de saúde e o idoso com diabetes, com o intuito de prevenção secundária a saúde, visando melhorar a qualidade de vida dos diabéticos. O processo de desenvolvimento da construção da tecnologia educacional no cuidado de enfermagem com estímulo de competências para o cuidado de si na prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos, buscou alternativas dinâmicas que envolvessem o idoso. Na perspectiva de estimular este a modificar seus comportamentos, através da autocrítica, do desenvolvimento de competências e da motivação para o cuidado de sua saúde. Nesse sentido, a tecnologia considerou o entendimento do idoso quanto o diabetes mellitus tipo II, e serviu para elucidar como ocorre a doença no organismo humano, incluindo os sintomas e complicações crônicas da mesma. A importância do idoso em conhecer sua doença é essencial para o tratamento, visto as consequencias a que estão sujeitos diante do descuido consigo mesmo. A tecnologia educacional serviu como auxílio para o desenvolvimento de competências, cuidado de si, empoderamento e conscientização da importância da adesão do idoso ao tratamento, enfatizando principalmente o uso correto do medicamento (insulinoterapia), número de refeições que devem ser realizadas ao longo do dia, bem como os sintomas da hiper e hipoglicemia. Acredita-se que as informações fornecidas pelos profissionais de saúde aos idosos, podem auxiliá-los no desenvolvimento de competências, motivando-os para ao cuidado de si e a adesão ao tratamento que é essencial ao paciente diabético. Nesse sentido, ao desenvolver a tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus, foi importante primar pela participação direta do idoso no cuidado de si, de modo a desenvolver ações efetivas em prol de sua saúde e da qualidade de vida. 4.1.4.2 Protocolo Segundo (Yin, 2005, p.92) “um protocolo para o estudo de caso é mais do que um instrumento. O protocolo contém o instrumento, mas também contém os procedimentos e as regras gerais que deveriam ser seguidas ao utilizar o instrumento”. Este protocolo está apresentado na íntegra no Apêndice B. 27 4.1.5. Coleta de evidências As evidências podem ser buscadas através de documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos (YIN, 2005). Neste estudo foram utilizadas três fontes de evidência: entrevistas, observação direta, artefatos físicos. Dessa forma, utilizou-se filmadora para posterior análise dos dados. 4.1.5.1 Entrevistas As entrevistas foram grupais com os idosos participantes de uma oficina. Nesta oficina, primeiramente foi realizado questionamentos para identificar o conhecimento prévio do idoso sobre o diabetes mellitus. Durante toda a tecnologia foi utilizado indagações para os idosos. Ao final pode-se comparar as respostas obtidas no inicio e após as atividades educativas. As perguntas que compõem a entrevista encontram-se listadas no protocolo de estudo de caso (Apêndice B). 4.1.5.2 Observação direta Neste trabalho foi realizada observação direta, pois a própria pesquisadora estava coordenando a oficina, e ao mesmo tempo estava analisando os dados emergentes para a pesquisa. A observação é útil para fornecer informações adicionais sobre o que está sendo estudado (Yin, 2005). Nesse estudo utilizou-se a observação direta de maneira informal, foi direta em função de tratar de acontecimentos em tempo real dentro de seu contexto, e informal, pois as observações foram realizadas durante a coleta de dados. 4.1.5.3 Artefatos físicos O artefato físico deste trabalho foi à tecnologia educacional construída. Os artefatos físicos podem ser um aparelho de tecnologia, uma ferramenta, instrumento, obra de arte ou alguma forma física (YIN,2005). Neste estudo pretendeu-se utilizar a tecnologia educacional 28 embasada principalmente nos conhecimentos e linguagem prévia dos idosos, ressaltando que no artefato elaborado utilizou-se predominantemente de figuras e dinâmicas de grupo, o que possibilitou o estímulo ao lúdico e a compreensão. 4.1.6 Princípios para coleta de dados Para a coleta de dados ocorrer de forma satisfatória foi preciso satisfazer três princípios: utilizar várias fontes de evidência (triangulação); criar banco de dados para o estudo de caso; manter o encadeamento das evidências. 4.1.6.1 Fontes múltiplas de evidência: Triangulação Segundo Yin “triangulação é o fundamento lógico para utilizar as fontes múltiplas de evidências”, a vantagem mais importante da triangulação é “o desenvolvimento de linhas convergentes de investigação” (YIN, 2005, p.126). Também pode ser denominada convergência de evidências. Na sequência apresenta-se a figura 1, sobre a convergência de evidências deste estudo de caso. CONVERGÊNCIA DE EVIDÊNCIAS (TRIANGULAÇÃO) Observação Direta Entrevista s Tecnologia Educacional Artefatos Físicos Figura 1 - Convergência de evidências deste estudo de caso (YIN, 2007, p.127, adaptação nossa). A partir das fontes de evidência usadas nesse estudo, foi contemplado dois tipos de triangulação: 1) Triangulação de dados; 2) Triangulação de teoria. A triangulação dos dados deu-se pela utilização das diversas fontes de dados, a saber: observação direta, entrevistas e artefatos físicos; a triangulação de teoria foi reforçada pela 29 realização da Revisão de Literatura e com análise dos conceitos de Perrenoud (2000), baseado no pressuposto do desenvolvimento de competências. 4.1.6.2 Banco de dados A criação de um banco de dados foi necessária para organização do material da coleta de dados e documentos, que foram consultados em etapas posteriores do estudo de caso. Neste estudo o banco de dados foi criado em arquivos como WORD, EXCEL, JPJ, PDF. 4.1.6.3 Encadeamento de evidências O encadeamento das evidências significou a interligação das evidências através da sequencia lógica do estudo, servindo para orientar o leitor a se guiar a partir da origem das evidências indo desde as questões iniciais até a conclusão do estudo de caso ou podendo optar pela ordem inversa tendo a mesma fluidez de raciocínio. Sendo representado na figura 2, o encadeamento das evidências deste estudo: 30 Como desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos? ↕ Protocolo do estudo de caso: A. Introdução ao estudo de caso e objetivo do protocolo: questões de estudo, preposição, estrutura teórica, agenda. B. Procedimento da coleta de dados C. Esboço do relatório do estudo de caso D. Questões do estudo de caso para avaliação ↕ Citações de fontes comprobatórias específicas no banco de dados do estudo de caso ↕ Banco de dados do estudo de caso ↕ Relatório do estudo de caso Figura 2 - Encaminhamento de evidências deste estudo de caso (YIN, 2007, p.133, adaptação nossa). 4.1.7 Análise das evidências A análise de evidências consistiu na síntese dos dados encontradas do caso (desenvolvimento da tecnologia educacional), e depois categorização ou classificação dos dados obtidos com as entrevistas e observação direta (YIN, 2005). 31 4.1.8 Relatório do estudo de caso O relatório do estudo de caso foi construído através da condução das suas constatações e dos resultados para a sua conclusão. Apresentando, independente da forma que o estudo assumiu as seguintes etapas: identificação do público almejado para o relatório, desenvolvimento da estrutura de composição e adoção de procedimentos relacionados ao estudo de caso (YIN, 2005). 4.1.9 Considerações bioéticas Foi encaminhado o projeto deste estudo para a diretora do Centro de Convivência Maior Comendador Gabriel Vijande Bermúdez, solicitando a liberação para desenvolvimento do estudo. Após liberação da mesma, o estudo foi esclarecido para todos os sujeitos envolvidos e os que manifestaram concordância em participar na realização da pesquisa, assumindo assim, o compromisso na participação da pesquisa, ao assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A). O documento contou com a assinatura do pesquisador e pesquisado, em duas vias, uma para o arquivo da pesquisadora e outra entregue ao idoso, sujeito da pesquisa. Foi assegurado aos idosos, o direito de desistirem da participação no estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo, ficou claro que a participação é voluntária, sem nenhuma remuneração em espécie alguma; também foi esclarecido que, nos resultados e divulgação da pesquisa sempre será preservado o anonimato dos entrevistados, bem como a fidedignidade dos dados. 32 5 RESULTADOS A seguir apresentam-se os resultados de acordo com os objetivos propostos no presente estudo, estes emergiram do relatório desenvolvido no estudo de caso, bem como da observação direta, das entrevistas e do artefato físico. Os subtítulos envolvidos nos resultados estão relacionados à: caracterização do cenário do estudo; processo de coleta de informações; descrição da elaboração da tecnologia educacional e triangulação dos dados e teoria. 5.1 Cenário do Estudo O desenvolvimento deste estudo foi realizado no Centro de Convivência Maior Comendador Gabriel Vijande Bermúdez. A unidade deste estudo abriga 50 idosos acima dos setenta anos de idade, com autonomia física, carentes e que padecem de solidão. A estrutura física e a organização do Centro e Convivência está direcionada para a população da terceira idade, contribuindo para a melhor qualidade de vida destes, proporcionando lazer, recreação e assistência. Os profissionais que lá atuam, caracterizam-se por uma equipe multiprofissional treinada para o atendimento ao idoso, profissional médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, assistente social, fisioterapeuta, psicóloga, odontólogo e educadores físicos. A dinâmica de atendimento dos idosos descreve-se como chegada ao Centro de Convivência pela parte da manhã, onde recebem o café e fazem as atividades propostas pela unidade. Ao meio dia são levados ao restaurante popular para receber o almoço, e posteriormente são encaminhados para suas casas com o ônibus que é disponibilizado pela prefeitura para este fim. É importante mencionar que os profissionais permanecem com os idosos em todos os momentos até o domicílio. 5.2 Processo de Coleta de Informações As informações foram coletadas nos dias 26 e 27 de maio de 2010, pelo período da manhã, com duração de duas horas nos dois dias. A tecnologia educacional desenvolvida foi aplicada com todos os idosos diabéticos que frequentam o Centro de Convivência, totalizando 33 sete idosos. As informações foram obtidas por meio da aplicação da tecnologia educacional. Para análise do estudo a aplicação da tecnologia foi gravada. Foi utilizado como instrumento para coleta de dados, questionários, a saber: Questionário no Jogo do Bingo Educativo, este questionário refere-se as perguntas feitas no jogo do bingo. Também foi aplicado o questionário da Cartilha Educativa, onde esta era dividida em três partes na aplicação, sendo que o mesmo questionário feito no jogo do bingo estava presente na cartilha. Para a coleta das informações, foi utilizada metodologia de observação direta, artefato físico, entrevistas, conforme orientação deYIN (2005). Para melhor compreensão da coleta de dados, na seqüência será descrito o desmembramento do estudo: O primeiro dia da aplicação da tecnologia educacional foi estabelecido relação interativa e espontânea entre o pesquisador e os sete idosos participantes da oficina. Esta etapa foi realizada no dia 26 de maio, durante duas horas, com a finalidade de ressaltar os objetivos da pesquisa e a importância dos participantes de manifestarem a concordância em participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nesse mesmo dia foi realizado a dinâmica de apresentação, e logo em seguida, aplicação do jogo do bingo educativo. Essa atividade foi gravada. O segundo dia da aplicação da tecnologia educacional, realizado no dia 27 de maio, durante duas horas, no qual se utilizou a cartilha educativa que foi desenvolvida para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. Essa cartilha também contou com questionário dividido em três partes. A apresentação e discussão da cartilha educativa também foram gravadas. O último momento foi com a dinâmica de encerramento com a terapia do abraço, todos estes momentos possibilitaram coleta de dados e serão descritos na sequencia. 5.3 Tecnologia Educacional: Elaboração e Implementação A tecnologia educacional foi composta por oficina educativa realizada com idosos que foi dividida em dois dias. O primeiro dia contou com: 1) dinâmica de apresentação: “escolhendo as figuras” e 2) tecnologia educacional intitulada “jogo do bingo educativo”. O segundo dia da oficina teve como tecnologia educacional a: 3) “cartilha educativa” e 4) dinâmica de encerramento: “terapia do abraço”. Na sequência está descrito detalhadamente cada item inserido na oficina realizada. 34 5.3.1 Dinâmica de apresentação A dinâmica de apresentação de um grupo tem como um dos principais objetivos fazer com que o grupo se conheça, servindo também para desinibir os primeiros momentos e contatos dentro do grupo. As dinâmicas de grupo oferecem às pessoas respostas as necessidades lúdicas, com o objetivo de integrar o grupo e possibilitar um retorno dos dados necessários (SAID, 2001). Geralmente criativas e atrativas que possam desenvolver nas pessoas um lado descontraído e crítico. A dinâmica proposta de apresentação foi reformulada, baseada no livro de dinâmicas pedagógicas na perspectiva da educação em saúde (SAID, 2001). A dinâmica de apresentação “escolhendo as figuras”, se constituiu com a exposição de diversas figuras relacionadas à saúde, como por exemplo, alimentação, atividades físicas, lazer, cultura entre outras. O objetivo foi facilitar a apresentação, permitindo o grupo conhecer gosto ou preferências pessoais. As figuras utilizadas nesta dinâmica foram retiradas de revistas, e as escolhidas pelos idosos estão no Anexo A. Ao entrar na sala os idosos encontraram as cadeiras posicionadas em círculo e as gravuras espalhadas em uma mesa. Quando todos já estavam acomodados a pesquisadora explicou a atividade. Cada participante escolheu apenas uma figura, com a qual tinha se identificado mais. Depois que todos já tinham escolhido suas figuras, começou as apresentações. Cada participante se apresentou dizendo seu nome e porque escolheu a figura. Essa dinâmica de apresentação fez com que cada participante conhecesse um pouco sobre cada um do grupo de uma forma diferente, através do gosto, seja por uma figura, relacionada principalmente a saúde. Neste estudo as figuras escolhidas pelos idosos se reportaram todas a alimentação. Com essa dinâmica a pesquisadora conheceu um pouco mais sobre cada integrante da oficina, e, analisando as figuras escolhidas por eles (Anexo A), estas nos remetem as preferências dos idosos quanto aos seus hábitos ou gostos alimentares. Pelos relatos dos idosos, o motivo de terem escolhido determinada figura era pelo fato de gostarem daqueles alimentos, e a maioria deles associavam sua escolha ao diabetes, que muitas vezes eles tinham restrições a aqueles alimentos, mas mesmo assim consumiam. Para pesquisadora foi muito importante essa atividade, pois de uma forma descontraída ela conheceu as preferências e algumas características da alimentação do grupo de um modo geral, além de ser mais uma ferramenta que guiaram quais eram os pontos 35 principais que a pesquisadora teria que intervir junto aos idosos para a prevenção secundária do diabetes mellitus. 5.3.2 Jogo do bingo educativo O jogo didático caracteriza-se como uma importante e viável alternativa para os processos de aprendizagem e na construção do conhecimento. Este jogo é um eixo que conduz a um conteúdo didático específico, resultando em um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de informações (KISHIMOTO, 1999). O objetivo do jogo do bingo educativo foi considerar o entendimento prévio do idoso, quanto o diabetes mellitus tipo II. O jogo criado neste estudo, e descrito a seguir, visou abordar temas relevantes relacionados à diabetes possibilitando uma maior interação dos pacientes com sua patologia, além de ser uma maneira lúdica que ajudou a pesquisadora conhecer o que os idosos diabéticos sabiam a respeito de como ocorre a doença no seu organismo, sinais, sintomas, como se cuidar e outros aspectos da diabetes. Para pesquisadora é de suma importância conhecer o que os idosos sabem sobre a diabetes mellitus, pois esta abordagem possibilitou a aproximação da profissional com o ser idoso, bem como foi uma forma de conhecer o contexto de vida em que eles estavam inseridos. É fundamental que a educação em saúde considere a realidade dos pacientes, seu conhecimento prévio e suas dúvidas, a fim de transformar o sujeito passivo no seu tratamento em um indivíduo participativo (FERNANDES et al., 2003). O propósito do jogo do bingo educativo foi estimular a participação do público alvo. Para o desenvolvimento dessa atividade, confiou-se na necessidade de interação, buscando compreender e apreender quais os conhecimentos que os idosos sabiam sobre a diabetes. As ações profissionais quando planejadas com envolvimento e respeito ao idoso, podem propiciar melhores resultados do cuidar. Dessa forma, o jogo do bingo educativo foi elaborado para conhecer melhor o que o idoso diabético conhece sobre sua patologia. Para começar o jogo do bingo educativo foi distribuído as fichas para os participantes contendo perguntas a respeito do diabetes, ao lado de cada pergunta tinha um número o qual era sorteado, semelhante a uma cartela de bingo. O número de perguntas em cada ficha foi de acordo com o número de participantes do jogo. O jogo iniciou quando todos tinham suas fichas. Em seguida foi sorteado um número e quem tinha o número da pergunta sorteada, falava BINGO, o jogador fazia a leitura da 36 pergunta e os que precisaram de ajuda para ler pediram auxílio. A pergunta era lida em voz alta para que todos os participantes escutassem. O jogador tinha que responder o que sabia sobre aquela pergunta, e os outros participantes do jogo podiam contribuir e falar o que acham ou sabiam sobre a pergunta sorteada. Esta estratégia possibilitou conhecer em parte os conhecimentos do idoso, bem como do grupo. A pesquisadora criou dezenove perguntas para o jogo do bingo educativo. Baseou-se para a construção dessas perguntas no que é o diabetes mellitus; na importância da adesão do idoso ao tratamento, enfatizando principalmente o uso correto do medicamento (insulinoterapia); no tipo de alimentação e número de refeições que devem ser realizadas ao longo do dia; nos exercícios físicos; nos sinais e sintomas da hipoglicemia. As perguntas foram elaboradas no sentido de descobrir o que os idosos sabiam sobre a sua doença, e assim aplicar tecnologia educacional que contemplasse suas dúvidas a respeito do cuidado de si. Na figura 3 está a cartela do jogo do bingo com as dezenove perguntas que fizeram parte do jogo. Cabe ressaltar que em cada cartela de bingo conteve apenas algumas dessas perguntas, pois o número de perguntas que tinha em cada cartela foi dividido de acordo com o número de idosos que estavam participando da atividade. 37 Figura 3 – Cartela do Jogo do Bingo Educativo O jogo do bingo é uma tecnologia educacional que favoreceu a comunicação dos participantes do jogo, considerou o entendimento do participante sobre a diabetes mellitus e intensificou as diversas trocas de saberes, constituindo a base do aprendizado. Quando cada participante completou sua cartela, ganhou um brinde por ter participado do jogo. O brinde foi uma maneira de incentivar os idosos a participarem de atividades educativas, sendo que o 38 mesmo não era de alto valor financeiro, pois a intenção foi a compensação pela participação e motivação para envolvimento na atividade educativa. Este jogo do bingo construído é utilizado como uma ação educativa, possivelmente necessitará de lapidações com as sucessivas aplicações. A vivência de utilização da dinâmica possibilitará identificar e realizar ajustes e adaptações às necessidades de cada situação. Torna-se, então, necessário planejar a ação educativa considerando-se contextos que não os exclusivamente clínicos, bem como conhecer o grupo com quem será trabalhado. Enfatiza-se que a dinâmica sempre deve estar adaptadas a realidade do grupo que esta participando, isto inclui desde a linguagem a ser utilizada até a desenvoltura do grupo. Neste trabalho, como o foco é a tecnologia educacional, o jogo do bingo educativo em questão serviu para analisar e discutir a tecnologia educacional construída, isso se deu da seguinte forma: as perguntas respondidas no jogo do bingo foram posteriormente comparadas com as perguntas respondidas depois da aplicação da cartilha educativa, isto possibilitou analisar as diferenças das respostas após a aplicação da tecnologia educacional, e por consequência a eficácia da mesma. 5.3.3 A construção da cartilha educativa A proposta de desenvolvimento de uma cartilha educativa destinada a idosos com diabetes mellitus tipo II, teve por intuito servir de apoio para elucidar o que é a diabetes mellitus, como que ocorre a doença, quais os cuidados que os pacientes devem ter, facilitando na comunicação visual e no melhor entendimento sobre a doença no geral. Essa cartilha construída foi baseada no álbum seriado da dissertação de mestrado de HAMMERSCHMIDT (2007). Dessa forma, decidiu-se por desenvolver essa tecnologia educacional ilustrada com figuras para sanar possíveis dúvidas, que pudessem ser manuseada com facilidade em qualquer contexto. Esta estratégia é acessível para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II, facilitando a comunicação visual e o acesso por parte dos sujeitos com pouca familiaridade com a linguagem escrita, ou com dificuldades de atenção e ou visão, situação comum nos idosos, devido ao processo de envelhecimento e patologia do diabetes. A criação dessa tecnologia educacional foi fundamentada nas bases filosóficas propostas por Perrenoud (2000), permitindo que o profissional de saúde instigue o idoso para o desenvolvimento de competências. Acredita-se que através da cartilha educativa sugerida, 39 que envolve a participação e decisão ativa do idoso com diabetes, o cuidado de enfermagem nesse sentido, se caracteriza como cuidado empoderador, cujas premissas encontram-se na necessidade de desenvolvimento do processo de cuidar de modo a desenvolver ações integradas, efetivas, resolutivas, criativas, dialógicas e de empoderamento. Para a estruturação da cartilha educativa baseou-se em três grandes temas para serem trabalhados. A elaboração das mensagens e definição de estratégias para apresentar os conteúdos no material é fundamental. Os temas foram: Fisiopatologia, definição da doença, sintomas, complicações crônicas, como proceder em casos de hipoglicemia, dificuldades em controlar a glicemia, medicamentos. Atividade Física, importância do exercício; importância da avaliação médica antes de iniciar uma atividade física; hipoglicemia e atividade física. Alimentação, orientação sobre alimentos “de pouco consumo e permitidos”; dificuldade em seguir as orientações sobre alimentação saudável; importância das fibras; importância da periodicidade das refeições. A partir dessa estruturação, elaborou-se a cartilha educativa (Apêndice D), tendo por base a literatura técnico-científica. O material foi confeccionado em folha A2 (42cm de largura X 59,4cm de comprimento) em formato de configuração “paisagem”. Optou-se por pelo texto no formato pergunta/resposta, sendo sempre acompanhado por uma ilustração, pois estimula a memória visual. Esse formato aumenta a retenção do conteúdo pelo leitor (FREITAS; CABRAL, 2008). Os textos foram escritos utilizando-se a fonte Arial em tamanho 60, para que ficassem bem visíveis as mensagens, e que pudessem ser visualizadas a alguma distância considerável. Preocupou-se em colocar mensagens breves, considerando que frases longas reduzem a velocidade do processo de leitura e geralmente os leitores esquecem os itens muito grandes (OLIVEIRA et al., 2007). Na cartilha produzida, utilizou-se desenhos de linhas simples, de forma a complementar e reforçar as informações escritas. Alguns autores destacam a importância da ilustração para atrair o leitor, despertar o interesse pela leitura e auxiliar na compreensão do texto (OLIVEIRA et al., 2007; MOREIRA; NÓBREGA; SILVA, 2003). O material educativo foi apresentado por meio de uma roda de conversa, com exemplos cotidianos e explicações simples que estimularam a participação dos idosos. O profissional de saúde e/ou pesquisador permaneceu na posição de mediador, responsável pelo desenvolvimento do conteúdo temático, foi importante ter um assistente para auxiliar na gravação da apresentação da tecnologia educacional para posterior análise da tecnologia desenvolvida. 40 Como a cartilha educativa é dividida em três grandes temas (Apêndice D), na primeira parte tem-se: o que é o diabetes; quem produz o hormônio insulina; quem controla; os tipos de diabetes; suas causas; sinais; sintomas e diagnóstico. A segunda parte refere-se: ao tratamento do diabetes; a alimentação de um modo geral e a insulina. Por fim a terceira parte da cartilha abordou: níveis de glicose; hipoglicemia; complicações do diabetes e dicas de cuidado com o diabetes. Ao final de cada tema, tem-se um questionário composto pelas perguntas que guiaram para estruturação da cartilha. Esse questionário serviu para poder avaliar a tecnologia educacional desenvolvida. Dessa forma, as perguntas foram respondidas pelos idosos depois da apresentação de cada tema, possibilitando a avaliação parcial do que os idosos estavam assimilando o aprendizado realizado com a apresentação da tecnologia educacional para a prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II. A tecnologia educacional produzida serve para auxiliar nas ações de cuidado de enfermagem e no entendimento do paciente idoso a respeito do diabetes mellitus, visando atender as necessidades emergentes, desenvolver competências para o empoderamento, com meta de promover o desenvolvimento de competências do idoso diabético para o cuidado de si. 5.3.4 Dinâmica de encerramento Para finalização da oficina, optou-se por uma dinâmica de encerramento, que se torna bem sucedida através de um bom relacionamento entre os indivíduos do grupo. A dinâmica escolhida foi a “Terapia do Abraço”, essa dinâmica foi reformulada e extraída livro “Educar com o coração” (Puebla, 1997), com objetivo de cada participante do grupo ver a importância que eles têm perante a sociedade e o quanto eles são especiais. A finalidade principal é fazer com que os idosos diabéticos reflitam as responsabilidades que eles têm perante sua doença e a encarem com maior responsabilidade, vendo que é possível ser feliz com o desenvolvimento de competências para o cuidado de si. A facilitadora do grupo pediu para os participantes fizessem um círculo em pé, com uma música de ambiente, pedindo para que todos fechassem os olhos e se dessem um abraço bem apertado em si mesmo. Falou da importância que o abraço tem: o abraço é saudável, ajuda o sistema imunológico, cura a depressão, reduz o estresse. Revigora, rejuvenesce e não tem efeitos colaterais. O abraço é na maioria das vezes até mesmo um remédio. É o presente 41 ideal, excelente para qualquer ocasião, bom para dar e receber, demonstrando o seu carinho. Pense nas pessoas de sua vida e o quanto vocês são especiais, inteligentes e que sabem cuidar de sua saúde. A facilitadora após falar da importância do abraço pediu para que o grupo se desse um abraço coletivo em círculo, pedindo para que cada participante compartilhasse a magia do abraço, desejando algo para grupo, fosse uma dica ou algo que gostaria de expressar. A dinâmica encerrou quando todos os participantes tinham desejado algo para o grande grupo. A pesquisadora ao utilizar a “terapia do abraço”, visou o envolvimento do idoso, conhecimento dos modos de pensar, bem como seus valores; compreensão da reação do idoso quanto à sua situação particular, seus anseios, suas dúvidas, seus problemas; valorizando de um modo geral cada idoso. Dessa forma, a terapia do abraço constituiu-se como um instrumento que considerou e valorizou todos os envolvidos neste processo, além de agir como sinal de respeito, aceitação, afeto e solidariedade, lembrando a importância que cada um tem frente ao cuidado de si. 5.4 Triangulação: Dados e Teoria As informações oriundas da observação direta, das entrevistas e do artefato físico relacionadas a tecnologia educacional foram analisadas e propiciaram o desenvolvimento de considerações acerca da realidade vivenciada. Neste estudo desenvolveu-se tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. O jogo do bingo educativo e a cartilha educativa foram tecnologia educacional desenvolvida com vistas para desenvolvimento de competências e empoderamento dos idosos (Perrenoud, 2000) para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II. Com a finalidade de inovar as experiências de ensino-aprendizagem e tornar a abordagem de educação em saúde no cuidado de enfermagem estimulante e motivadora tanto para os profissionais de saúde quanto para os idosos, desenvolveu-se o jogo do bingo educativo, uma ferramenta lúdica e ao mesmo tempo com uma proposta pedagógica de educação em saúde. A oficina desenvolvida neste estudo visou abordar o tema referente ao diabetes mellitus, possibilitando envolvimento dos idosos diabéticos no processo da prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II. Estima-se que o processo educativo é enriquecido com 42 o uso de jogos, que além de serem instrumentos de comunicação, expressão, facilitam a aquisição de algum conhecimento ou intensificam as trocas de saberes (TORRES; HORTALE; SHALL, 2005). Acredita-se que para conseguir o aproveitamento das capacidades, habilidades de aprendizagem e o envolvimento do idoso em relação ao que irá aprender, é preciso que, previamente ao início dos processos educativos, ou de orientação, saiba-se quanto a pessoa sabe sobre determinado assunto. Dessa forma, o jogo do bingo educativo foi uma tecnologia educacional em que a pesquisadora desenvolveu para conseguir descobrir previamente o que o idoso diabético conhece sobre sua patologia, sua vivência, para que, através da ação educativa possa-se identificar sua própria realidade e assim possa transformá-la (ARAÚJO, 2005). Assim o jogo do bingo educativo foi uma tecnologia desenvolvida que chamou a atenção para que os idosos diabéticos participassem da atividade proposta. Para a pesquisadora foi fundamental saber o conhecimento prévio que os idosos tinham sobre a diabetes, seu modo de pensar, suas dúvidas, seus problemas, para que a cartilha educativa desenvolvida para a prevenção secundária do diabetes mellitus, despertasse o interesse e envolvimento do idoso nas ações de cuidado de si. Dessa forma, a cartilha educativa desenvolvida foi outra tecnologia educacional que foi aplicada posteriormente ao jogo do bingo educativo. Esse planejamento se deu, devido a estratégia da pesquisadora em depois de ter aplicado o jogo do bingo e já sabendo as principais dúvidas dos idosos a respeito do diabetes, pudesse desenvolver ações no cuidado de enfermagem apropriadas para estes, avaliando suas necessidades e características próprias e correlacionando as intervenções de cuidado. Esse planejamento proporcionou maior possibilidade de instigar o idoso para prevenção secundária do diabetes mellitus, consequentemente levando à maior empoderamento a respeito de sua doença. O educador deve conhecer a realidade para aperfeiçoar sua assistência, sendo que o educando sente-se valorizado quando sua maneira de pensar é levada em consideração (FRANCIONI, 2002). Algumas pesquisas realizadas na área de educação em saúde demonstram que é possível conduzir à aquisição consciente de comportamentos preventivos ou de promoção da saúde, o que amplia as possibilidades de prevenção secundária, de reabilitação e de tomada de decisões que favoreçam a vida saudável (SILVA et al., 2008). Nesse sentido, a cartilha educativa como tecnologia educacional foi uma ferramenta fundamental para o processo de ensino e aprendizagem dos idosos a respeito de sua doença, caracterizando-se como 43 importante e viável alternativa para auxiliá-los no empoderamento e desenvolvimento de competências no cuidado de si, por favorecer a construção do conhecimento. No momento da aplicação da cartilha educativa, em forma de roda de conversa, utilizou-se uma linguagem simples, objetivando promover a identificação do idoso diabético com as mensagens e manter a sua iniciativa no processo da educação em saúde. A criatividade presente nas imagens explicativas durante as discussões sobre o assunto fez do encontro um rico momento de troca, em que os participantes expuseram idéias, valores, crenças, e histórias de vida. É necessário que os profissionais de saúde se envolvam no processo de aquisição do conhecimento, de compartilhar soluções e de promover a saúde nos mais variados contextos e situações (Valla, 2000). As mensagens da cartilha educativa foram bem planejadas, compreensíveis e atrativas, o que se propiciou visualizar na participação ativa dos idosos. As informações contidas na cartilha eram condizentes com as necessidades dos idosos em entender a diabetes mellitus, permitindo reflexões conjuntas com a pesquisadora. As vivências compartilhadas, as informações e as práticas do viver possibilitaram socialização do saber entre os idosos e a pesquisadora. Para realização da ação de cuidado utilizou-se como estratégia o diálogo, realizado de forma horizontal, sem imposições, pois acredita-se que facilita à compreensão do idoso nas ações necessárias para o desenvolvimento de competências (HAMMERSCHMIDT, 2007). Neste estudo manifesta-se a possibilidade do profissional enfermeiro ser facilitador no desenvolvimento de competências e estimulador do empoderamento dos idosos, com o desenvolvimento da tecnologia educacional para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II, ao utilizar ações na horizontalidade das relações e no processo dialógico que permitem o direito a expressão, reflexão e conscientização. Como essencial para a triangulação dos dados e teoria, apresentam-se na sequencia, no quadro 1, algumas das respostas dos participantes obtidas no jogo do bingo educativo, e posteriormente as respostas obtidas após a aplicação da cartilha educativa. Cabe salientar que os idosos foram identificados pelos seguintes códigos: ID A; ID B; ID C; ID D; ID E; ID F; ID G. A sigla ID corresponde a palavra idoso. 44 QUADRO 1 Comparação das respostas na tecnologia educacional jogo do bingo e respostas depois da aplicação tecnologia educacional da cartilha educativa. RESPOSTAS DO JOGO DO BINGO EDUCATIVO RESPOSTAS DA CARTILHA EDUCATIVA 1. O que é o diabetes? ID C: “Eu acho que pode ser a quantidade de açúcar que temos no sangue.” ID F: “No meu caso, eu também acho que é o açúcar que se tem no sangue.” 1. O que é o diabetes? ID C: “O diabetes é falta de insulina ou pouca insulina, que o pâncreas produz.” 2. Existem quantos tipos de diabetes? ID C: “Olha isso aí era pra mim saber porque eu já vi falar. É são três parece que é, ou mais um pouco. Eu já escutei falar da gestante com diabetes, depois tem Tipo I e Tipo II, aí não lembro se tem mais alguma. Só sei que eu tenho a II.” 2. Existem quantos tipos de diabetes? ID C: “Tipo I e tipo II, na I a pessoa não produz nada e na II produz ainda alguma coisa de insulina.” ID B: “Dois, tipo I e II.” 3. Quais são os sinais e sintomas principais suspeitos que a pessoa está com diabetes? ID C: “Olha eu sentia parece que o teto parecia que ia cair. Sente assim, vamos dizer desânimo, a boca também parece que fica ressecada e desejo grande de comer doce.” ID B: “Eu acho que é um sintoma a tontura, porque eu sentia isso, e muita vontade de urinar, mas era só isso.” ID A: “A fome eu acho que é bem intensa, cansaço e eu tinha sede.” 3. Quais são os sinais e sintomas principais suspeitos que a pessoa está com diabetes? ID C: “Desânimo, as pernas ficam bambas, tontura.” ID B: “Tontura, cansaço nas pernas.” ID A: “Cansaço, muita sede e vontade de urinar .” ID F: “Tontura, desânimo, piora para enxergar.” ID D: “Ressecamento na boca.” ID E: “Boca seca, muita sede, urina toda hora.” ID G: “Não cicatriza o machucado, e difícil para enxergar.” 4. O que faz a injeção de insulina em nosso corpo? 4. O que faz a injeção de insulina em nosso corpo? ID C: “Ela faz controlar. Eu não sei bem, mas pode ser isso não é. A gente ID C: “A insulina produz o hormônio insulina, produzindo energia também aqui não faz.” para nós.” ID D: “Eu acho que é para diminuir a glicose, fazendo a injeção de insulina diminui a glicose.” 45 5. Onde deve ser injetada a insulina? ID D: “Na barriga, eu pelo menos só sei que deve ser na barriga. Graças a Deus eu nunca precisei usar, e nem vou.” ID C: “Na barriga né.” 6. Como deve ser armazenada a insulina? ID C: “Na geladeira.” ID D: “Na geladeira.” ID E: “Na geladeira eu acho.” 7. É importante verificar os níveis de glicose? Por quê? ID C: “É importante porque se nós não fizer isso, vai acontecer que ela vai subindo, subindo. Comigo aconteceu assim, porque eu dizia que não era diabetes e quando eu vi sabe com quanto eu tava, com quase 418 glicose de diabético. E assim a filha me dizia, pai vamos para o hospital. E eu dizia não que esperança eu não sou diabético. Mas o teto parecia que já tava caindo por cima da minha cabeça. Eu baixei o hospital, fizeram o exame e eu tava com 418. Sabe que quando a gente descobre que tem, a gente já tinha mas não sabia.” ID F: “Porque a gente pode ser diabético e nunca saber. E fui fazer esse exame.” 8. Quais são as complicações do diabetes que podem ocorrer? ID D: “Pode atrapalhar a visão, perder pelo, pé, essas coisas assim. Eu sei só isso né.” 5. Onde deve ser injetada a insulina? ID B: “Na coxa, ao redor da barriga.” ID F: “No braço na lateral.” 6. Como deve ser armazenada a insulina? ID B: “Guardar na geladeira na porta.” ID G: “Tem colocar a insulina na porta da geladeira.” 7. É importante verificar os níveis de glicose? Por quê? ID C: “Para ver quanto de açúcar está no nosso sangue, pra não ocorrer a hipoglicemia, não é.” ID F: “Para ver quanto de glicose estamos, como que está o controle.” 8. Quais são as complicações do diabetes que podem ocorrer? ID D: “Pode perder a visão, pode perder algum membro por não cicatrizar.” ID C: “Nos olhos diminui a nossa visão.” ID B: “Os pés doem.” ID A: “Infarto pode né?” 9. O que é hipoglicemia? O que podemos fazer para prevenir a 9. O que é hipoglicemia? O que podemos fazer para prevenir a hipoglicemia? hipoglicemia? ID D: “Eu não sei o que é hipoglicemia, não tenho a mínima idéia.” ID A: “Baixa glicose no nosso sangue, se alimentar.” ID A: “Pouca glicose no sangue.” ID B: “Diminui o açúcar no sangue da gente.” ID C: “O nível de açúcar tanto baixa como sobe. Não sei bem.” 10. Como podemos evitar as complicações do diabetes? 10. Como podemos evitar as complicações do diabetes? ID C: “O essencial é cuidar mesmo a comida, comer menos doce, e fazer ID A: “Cuidar na alimentação.” exercício.” ID F: “Diminuir as coisas que a gente não pode comer.” ID E: “É eu acho que tem que cuidar mesmo é o que a gente come, que daí da ID D: “Fazer exercício físico, e tomar remédio se precisar.” para evitar a doença né.” ID C: “O refrigerante é uma coisa que eu gosto, mas vou ter que diminuir.” 45 Verifica-se nas falas obtidas na tecnologia educacional do jogo do bingo educativo (quadro 1), que os idosos apresentaram déficits de conhecimentos a respeito de sua patologia. Acredita-se que os idosos utilizaram o conhecimento e a vivência experenciada para responder as perguntas que foram sorteadas no jogo do bingo. Se refletirmos sobre o tempo que os idosos convivem com a patologia, dado relatado por eles, estes deveriam apresentar conhecimentos essenciais/básicos sobre a doença, porém não foi essa realidade que emergiu nas respostas obtidas no jogo do bingo educativo. O conhecimento sobre a patologia é imprescindível para a realização de atividades diárias que promovam a saúde e não alterem o controle metabólico (HAMMERSCHMIDT, 2007). A carência de conhecimento sobre o que é diabetes mellitus afeta significativamente o cuidado de si do idoso, bem como a promoção da saúde e o controle metabólico, visto que o diabético não compreende os prejuízos e complicações para sua saúde. Quando sorteado a pergunta número 1, o que era o diabetes mellitus, somente dois idosos responderam, apresentando discurso que “Eu acho que pode ser a quantidade de açúcar que temos no sangue.” (ID C); “No meu caso, eu também acho que é o açúcar que se tem no sangue.” (ID F). No diabetes a informação acerca da doença é essencial e imprescindível para o tratamento, visto as consequências drásticas a que estão sujeitos diante do descuido consigo. Depois da aplicação da tecnologia educacional cartilha educativa, evidencia-se nas falas dos idosos, maior conhecimento e/ou empoderamento a respeito de sua patologia. Dessa forma, as respostas obtidas na cartilha educativa são relevantes para o estudo, pois se acredita que para “conviver com uma doença crônica como o diabetes mellitus necessita-se de conhecimento não só da natureza da doença, como também de habilidades específicas para o autocuidado” (GIMENES et al., 2006, p. 317). Verificou-se que os idosos necessitavam de ações de educação em saúde que os auxiliassem no desenvolvimento de competências para o empoderamento. O empoderamento entendido como estímulo para a reflexão crítica e tomada de decisão (Perrenoud, 2000), visando auxiliar para o desenvolvimento de ações que podem promover o cuidado de si, e o primeiro passo para isso, foi conhecer melhor sua patologia. Ainda em relação ao quadro 1, verifica-se que dos sete idosos que participaram do jogo do bingo educativo, somente um respondeu a pergunta número 2, verifica-se que os demais sabem que tem a patologia, mas não sabem responder quantos tipos de diabetes existem. Em estudo realizado por Otero; Zanetti; Teixeira (2007), também foi destaque que sujeitos entrevistados sobre quantos tipos de diabetes existem e qual possui, 31,5% tinham 46 consciência de ser diabético, entretanto não conheciam outras informações sobre a doença. “O conhecimento do paciente acerca do tipo do diabetes que possui é fundamental para o automanejo da doença, uso de medicação, incremento de atividade física, seguimento do plano alimentar, cuidados com os pés, entre outros” (OTERO; ZANETTI; TEIXEIRA, 2007, p. 771). Nesse sentido, a cartilha educativa foi uma tecnologia educacional entendida como conjunto de conhecimentos e agires aplicados à produção de algo. No caso deste estudo, foi desenvolvida para suscitar no idoso e instigá-lo para ele realmente ter a posse de sua doença e desenvolver competências para o cuidado de si na prevenção secundária do diabetes mellitus. Dessa forma, a cartilha educativa desenvolvida se encaixa nos pressupostos de Merhy (2002), quando este afirma que as tecnologias leve-duras são os saberes e práticas estruturados. Ainda, segundo Merhy (1997), discutir tecnologia não é tratar de equipamentos, é debater o proceder eficaz de determinados saberes e finalidades. Essa afirmação desperta nossa atenção para idéia equivocada de que tecnologia não é somente equipamentos, em sua reflexão sobre tecnologia Merhy nos remete, que é no nosso saber que temos o principal patrimônio para gerarmos opções tecnológicas de atenção à saúde. Com o intuito de gerar ferramentas tecnológicas de saúde que contemplem o idoso, para este desenvolver competências para o cuidado de si no diabetes, analisa-se as respostas obtidas na cartilha educativa. Verifica-se que a abordagem do profissional de saúde ao ter utilizado a cartilha para transmitir informações a respeito do diabetes mellitus, fez com que os idosos em suas respostas simples obtivessem alguma assimilação do que foi falado. Para o idoso, portador de uma doença crônica como a enfocada neste estudo, as respostas podem gerar resultados positivos em relação ao entendimento e aceitação da patologia promovendo, consequentemente, uma importante diminuição da incidência das complicações que podem ocorrem em função da diabetes. Quando perguntado se eles sabiam quais eram os sinais e sintomas principais suspeitos que a pessoa estava com diabetes, a grande maioria respondeu algo, a saber: “Olha eu sentia parece que o teto parecia que ia cair. Sente assim, vamos dizer desânimo, a boca também parece que fica ressecada e desejo grande de comer doce.” (ID C); “Eu acho que é um sintoma a tontura, porque eu sentia isso, e muita vontade de urinar, mas era só isso.” (ID B); “A fome eu acho que é bem intensa, cansaço e eu tinha sede.” (ID A). Os resultados obtidos, refletem que os idosos em alguns momentos compararam a pergunta com ou que já haviam sentido alguma vez. Observa-se mediante as informações deles que sustentaram razoável compreensão dos sinais e sintomas, com alguma variabilidade 47 dos sintomas do seu diabetes e relacionaram os sintomas do diabetes somente com a experiência pessoal, acreditando que os diabéticos de maneira geral sentem a mesma sintomatologia. Tem-se dificuldade de identificação do diabetes, quando relacionada aos sinais e sintomas, provavelmente associando-se à ausência de sintomas específicos do diabetes mellitus tipo II, podendo mesmo depois de instalada, permanecer assintomática durante anos, sendo o seu diagnóstico efetuado ocasionalmente em análises clínicas, ou somente quando aparecem as complicações (BRASIL, 2006). A apresentação clínica do idoso diabético é, em geral, mais discreta que a do jovem. Devido a esse fato, o idoso diabético desconhece ser portador da doença, sendo o diagnóstico frequentemente realizado através de exames quase rotineiramente requisitados em indivíduos dessa faixa etária. Acredita-se que as informações claras e precisas fornecidas pelos profissionais de saúde aos pacientes podem auxiliá-los no desenvolvimento de competências, motivando-os para ao cuidado de si, sempre alertando para ficarem atentos aos sinais e sintomas, para um melhor controle da patologia. Evidencia-se ainda no quadro 1, que os idosos não sabiam ao certo o que a injeção de insulina fazia, e achavam que a aplicação desta droga deveria ser realizada somente no abdômen. Pensa-se que isso está relacionado ao fato de mesmo sendo diabéticos tipo II, nenhum dos sete idosos fazia uso de insulina, isso referido por eles. Com o auxílio da cartilha educativa, foi possível elucidar com as figuras explicativas para o idoso, o que a insulina faz e como o corpo reage à ação da insulina, bem como, quais são os locais de aplicação da mesma. Apesar do uso da insulina está se tornando mais comuns nos idosos, devido a perda da função das células beta, ao longo dos anos, acaba fazendo com que o idoso tenha que fazer uso das injeções de insulina (FREITAS et al., 2006). Foi de fundamental importância a explicação de como deve ser utilizada a insulina, sua absorção pelo corpo e sua importância, para que se posteriormente o idoso vir a utilizá-la terá desenvolvido competências para o cuidado de si. O primeiro passo para introdução com a insulina é a capacidade cognitiva do paciente, fundamental para aprender a manusear corretamente injeções de insulina (FREITAS et al., 2006). Ainda no jogo do bingo educativo, quando perguntado se era importante verificar os níveis de glicose e por que disso, dois diabéticos responderam que sim, mas a importância da verificação eles não sabiam ao certo. Valla (2000) considera que o profissional de saúde deve usar linguagem compreensível e simples, adequada à realidade e que tenha como ponto fundamental o indivíduo, buscando conhecer suas necessidades em relação à doença. Nesse sentido, a explicação da importância dos idosos em verificarem os níveis de açúcar no sangue 48 dentro dos valores desejáveis, está diretamente relacionada com decréscimo no aparecimento de complicações tais como: retinopatias, neuropatias, nefropatias e doenças cardiovasculares (Brasil, 2006). Além da avaliação glicêmica frisou-se a importância também de avaliar a pressão arterial, pois permite monitorizar a doença, adequando o tratamento e consequentemente fazendo a prevenção secundária de possíveis complicações do diabetes mellitus. A cartilha educativa foi uma tecnologia educacional, que fez com que os idosos refletissem sobre seu estilo de vida cotidiano relacionado à sua patologia, no caso específico diabetes mellitus, caracterizando-se como mais um instrumento de educação em saúde sob uma perspectiva de promoção, prevenção e controle. No estabelecimento de um diálogo entre o profissional de saúde e o usuário, pode-se encontrar a solução conjunta para os problemas de saúde, já que muitas vezes o desabafo traz a resposta para determinada dificuldade (HAMMERSCHMIDT, 2007). Ao mesmo tempo, pode-se trabalhar com o conhecimento popular, que faz parte da cultura do paciente e jamais deve ser rejeitado. Nesse sentido, a tecnologia também se faz presente supondo a troca de saberes, formado por usuários, trabalhadores, gestores, familiares, entre outros sujeitos que estabelecem conexão para as construções coletivas, que suponha mudança pelos encontros entre seus componentes (MERHY et al., 1997). A troca de saberes e a participação coletiva são de suma importância, pois possibilitam analisar o que se tem que discutir mais, ou o que ainda não ficou bem claro. Ainda analisando a resposta obtida no jogo do bingo de quais são as complicações do diabetes, verifica-se que apenas um idoso respondeu. Sua resposta corrobora com algumas complicações que podem ocorrer em função do diabetes. Verificando a mesma pergunta com a resposta obtida depois da aplicação da cartilha educativa, quatro idosos responderam outras complicações que podem ocorrer: “Pode perder a visão, pode perder algum membro por não cicatrizar.” (ID D); “Nos olhos diminui a nossa visão.” (ID C); “Os pés doem.” (ID B); “Infarto pode né?” (ID A). Novamente a cartilha contribuiu para um melhor entendimento e assimilação do idoso a respeito das complicações que podem vir ocorrer com o diabetes. A manutenção de taxas de glicemia o mais perto da normalidade, que devem ser medidas por meio da realização regular da medida da glicose, protegem o paciente do surgimento e/ou da progressão das complicações (BRASIL, 2006). Os idosos devem entender sua doença e serem encorajados a seguir as orientações educativas que foram apresentadas na cartilha educativa. A educação em saúde, combinada 49 com a terapia de comportamento pode produzir grandes benefícios para os indivíduos diabéticos, fortalecendo e encorajando a decisão de sustentarem o regime terapêutico. Acredita-se que conviver com doença crônica como o diabetes mellitus requer conhecimento não só da natureza da doença, como também das habilidades específicas para o cuidado de si (HAMMERSCHMIDT, 2007). Dessa forma, são necessárias estratégias efetivas direcionadas à prática educativa dos pacientes, favorecendo conhecimento e, com isso, intensificando as diversas trocas de saberes que constituem a base do aprendizado. Quando se desenvolveu a tecnologia educacional para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II no cuidado de enfermagem, foi importante e desafiador refletir sobre como o sujeito da aprendizagem pensa sobre o seu corpo, como ele se relaciona com o processo saúde/doença. Foi necessário refletir sobre as formas de pensar, sentir e agir dos educandos para assim poder intervir com estratégias de ensino-aprendizagem envolventes, interessantes e proveitosas para ambas as partes, de modo que trouxe um compartilhar de conhecimentos de enriquecimento mútuo. As falas dos participantes no jogo do bingo quando perguntado o que era a hipoglicemia e o que se podia fazer para prevení-la, fica evidente que eles não sabiam ao certo o que era a hipoglicemia e muito menos como prevenir. A compreensão do diabetes, bem como aspectos do tratamento, traz além da conscientização para os idosos, o principal que é o aprendizado, incentivando-os à busca por uma melhor saúde. Foi essencial o entendimento do idoso a respeito do que era a hipoglicemia e como prevenir. É oportuno relembrar que a cartilha educativa, juntamente com a explicação do profissional estimulou o processo de entendimento do idoso, mas é importante destacar que o diabetes é uma doença de difícil controle, devido à necessidade constante de monitoramento glicêmico. Esta necessidade, influência o cuidado de si visto que ao não sentir sintomas relacionados com a patologia, os idosos esquecem-se das restrições impostas e acabam por fazer coisas que prejudicam sua saúde. Com isso, quando perguntado aos idosos no jogo do bingo como que se podem evitar as complicações do diabetes, as respostas foram na grande maioria relacionada ao cuidado com a alimentação. Em estudo realizado por Sousa (2003), um dos principais motivos que impedem a adesão ao regime alimentar recomendado para o diabético, prende-se com a dificuldade de modificar hábitos alimentares. Assim, a proposta na cartilha educativa apresentada para os idosos quanto aos cuidados para evitar as complicações, está estritamente relacionada com a reeducação que eles devem ter, tanto na alimentação, como na prática de atividades físicas, bem como no controle do tratamento. 50 Os hábitos, principalmente os alimentares, são formas de comportamento que foram assimilados por repetições pelos idosos, pois eles tinham muitas dúvidas a respeito do que era liberado e o que eles tinham que reduzir, ou qual alimentação que tinham que ter um maior controle. Dessa forma, todo hábito representa a resposta ou a satisfação de uma necessidade, “a erradicação deste hábito, não é possível sem que se substitua por outra resposta ou forma de melhor satisfazer a necessidade” (CASTILHO; VÁSQUEZ, 2006, p.76). Com os resultados das falas obtidas na oficina, tanto no jogo do bingo educativo como na cartilha educativa, foi imprescindível que os idosos desenvolvessem competências para o cuidado de si e empoderamento da diabetes mellitus, para sua prevenção secundária. Para os idosos deste estudo a tecnologia educacional no cuidado de enfermagem desenvolvida, envolveu práticas de educação em saúde abordando os seguintes itens: o que é o diabetes; importância do controle da glicose e que faz; os tipos de diabetes; suas causas; como se dá o diagnóstico do diabetes; tratamento; o que é a insulina, o que faz, como e onde deve ser aplicada, onde armazená-la; o que é a hipoglicemia, porque que acontece, como se cuidar quando estiver hipoglicêmico; complicações do diabetes; dicas de cuidado com o diabetes mellitus. No presente estudo foi elaborado tecnologia educacional contendo informações escritas, figuras ilustrativas e também foram repassadas orientações verbais. As orientações ocorreram de acordo com o planejado, entretanto inseriam-se outras informações, que se verificaram como necessárias, frente à realidade encontrada. Assim, as orientações foram adaptadas aos idosos. Acredita-se que a tecnologia educacional no cuidado de enfermagem desenvolvida para a prevenção secundária do diabetes mellitus, auxiliou o idoso a clarificar suas dúvidas e compreender sua patologia, desenvolvendo competências para o enfrentamento de seu diabetes. Na seqüência apresenta-se o quadro 2, relacionado as falas dos idosos após a aplicação da tecnologia educacional a cartilha educativa. 51 QUADRO 2 Fala dos idosos após a aplicação da Tecnologia Educacional – Cartilha Educativa ID A: “Como foi bom hoje, pena que nunca tinham explicado antes para nós isso, foi bom mas a gente as vezes esquece as coisas.” ID B: “Eu achei bom isso, porque é uma experiência pra gente que não sabe, qual alimentação se pode comer né. Nas figuras deu pra ver.” ID C: “É que a gente não sabia muito, a gente ta aprendendo como dominar os alimentos, as doçuras, conhecer a doença. É bom a gente conhecer o que é porque daí conhecendo a gente pode se cuidar não é. O meu caso, tem muita coisa que eu já reduzi, porque eu sou doente por doce, e eu comprava muito doce. Quando eu estou em casa não vou dizer que não como doce, lá de vez enquando eu como um pedaço. Mas hoje você me fez ver que eu é que tenho que me cuida né? Como é bom essa coisa que tu nos mostrou ai, cheio de figura.” ID D: “Eu achei muito bom todo esse aprendizado, porque a gente pode aprender algumas coisas da doença do diabetes que não sabia. Quando vai ter mais jogo do bingo? E tu vai vim aqui ainda nos ajudar.” ID E: “Eu to adorando tudo isso, porque a gente muitas vezes ta doente, ta com a diabetes, uma coisa ou outra e não sabe nunca o que tem.” ID F: “Eu aprendi um monte de coisas que eu não sabia mesmo.” ID G: “Eu não consegui pegar toda a explicação para aprender, porque tive que sair um pouquinho, mas vai ter mais né, outro dia?” No quadro 2, como resultado da tecnologia desenvolvida a cartilha educativa, os idosos expressaram compreensão da patologia, considerando-se este item como fundamental para o início do processo de mudanças nos hábitos de vida, que poderá significar maior quantidade e qualidade de vida. Acredita-se que com a troca de experiência entre a pesquisadora e os idosos diabéticos, eles adquiriram competências, descobriram significados nos fatos e acontecimentos do diabetes mellitus, e a partir das falas no quadro 2, sugere-se que idoso está se desenvolvendo para ser agente principal e responsável pela sua educação em saúde, instigando o empoderamento e desenvolvimento de competências para prevenção secundária de sua doença. Dessa forma, o cuidado de enfermagem desenvolvido na tecnologia educacional, buscou interagir com o idoso no intuito de promover sua saúde, utilizando a estratégia do empoderamento e desenvolvimento de competências proposto por Perrenoud (2000). Para isso, o educador deve considerar que a vida não é uma constante e que podem surgir eventos inesperados que podem favorecer o descontrole, portanto o educador busca tornar a pessoa competente para as experiências da vida diária (GROSSI, 2001). Os discursos processados pelos idosos, explicitados no quadro 2, reafirmam a cartilha educativa como uma tecnologia educacional, pois as informações e a educação em saúde 52 auxiliaram na reflexão crítica da realidade vivenciada pelos idosos, bem como no desenvolvimento de competências para mudança de hábitos de vida. Nesse contexto a tecnologia educacional permeou o cotidiano da saúde, pois a tecnologia utilizada não foi representada por equipamentos, mas sim por processos, métodos que subsidiaram o alcance de determinados objetivos de cuidados mais subjetivos (MERHY, 1997). Para tanto, a tecnologia educacional desenvolvida para prevenção secundária do diabetes mellitus, está pautado no trabalho vivo, em ato, no qual ocorreu à tecnologia de relações, aspectos subjetivos, que segundo Merhy (1997), as tecnologias, sejam quais forem tem sua importância na dinâmica do processo de trabalho em saúde. Essa classificação viabiliza a inclusão de todas as possibilidades de tecnologias em enfermagem, na medida em que destaca o trabalho vivo em ato (MEIER, 2004). Durante esse estudo, em vários momentos, a tecnologia foi apresentada e discutida nas práticas de cuidar como um elemento essencial para prevenção secundária do diabetes mellitus. Dessa forma, a tecnologia educacional utilizada pela pesquisadora, favoreceu no objetivo do trabalho, onde direcionou o cuidado de enfermagem junto ao idoso com vistas para o empoderamento e desenvolvimento de competências do idoso para o cuidado de si. 53 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento de tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos, realizado neste estudo, propiciaram aos idosos estímulos para promoção de sua saúde, com desenvolvimento de competências para o empoderamento. Espera-se que a tecnologia educacional desenvolvida aliada ao cuidado de enfermagem, possa contribuir de modo abrangente, despertando na pessoa idosa a percepção e a compreensão do cuidado de si, como essencial no processo de envelhecimento, além de estimular para a prevenção secundária do diabetes. Também deseja-se que essa ferramenta desenvolvida auxilie os profissionais, sendo meio facilitador para a educação em saúde, promovendo a prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II. Além disso, que a criação dessa tecnologia, possa ser subsídio para os profissionais de saúde desenvolverem outras formas de cuidado, com o intuito de atingir as reais necessidades de pacientes idosos com diabetes, promovendo o estímulo à adesão ao tratamento e adoção de hábitos saudáveis, para o alcance de melhor qualidade de vida. O intuito em desenvolver a tecnologia educacional para ser utilizada na prevenção secundária do diabetes mellitus, ou seja, na educação em saúde, baseou-se nos pressupostos do desenvolvimento de competências de Perrenoud (2000), visando instigar o idoso para o entendimento do diabetes mellitus tipo II, bem como conscientizando-o principalmente da adesão ao tratamento, fazendo com que dessa forma, o idoso seja empoderador de seu cuidado. O desenvolvimento da tecnologia educacional aliado ao cuidado de enfermagem se fez eficaz, quando permitiu o despertar das possibilidades criadoras do ser cuidado, com o propósito de capacitá-lo para promover o entendimento de sua patologia, e consequentemente estimulando o idoso a desenvolver competências para o cuidado de si. Evidencia-se que a tecnologia educacional quando aplicada, ocorreu de forma horizontal, envolvendo o idoso e a pesquisadora na troca de conhecimentos, possibilitando um maior aprendizado. Dessa forma, a tecnologia educacional desenvolvida possibilitou neste caso o desenvolvimento do cuidado de enfermagem dialógico e empoderador. Corroborando com este pensamento, o empoderamento emergiu como possibilidade de estímulo ao envelhecimento ativo e saudável, propiciando ao idoso com diabetes mellitus tipo 2 a promoção de sua saúde e enfrentamento da patologia (HAMMERSCHMIDT, 2007). Para 54 a pesquisadora o estudo descrito, possibilitou aprendizado de condução de pesquisa e coordenação de oficina com idosos, além da vivência sobre a realização de tecnologia educacional, construída para educação em saúde, visando a prevenção secundária do diabetes mellitus. É necessário que os profissionais de saúde, desenvolvam outras formas de cuidado para educação em saúde do paciente diabético, considerando como princípio fundamental envolver o paciente principalmente como protagonista e agente crítico, reflexivo e ativo, diante das tomadas de decisões que constituem estratégias para o cuidado de si. Acredita-se que o desenvolvimento da tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus, estimulou os idosos para uma aliança terapêutica em busca do seu empoderamento, através de um melhor conhecimento a respeito de sua doença. Assim, o empoderamento e o desenvolvimento de competências, estão diretamente relacionados a ajudar o indivíduo no crescente controle sobre sua vida (PERRENOUD, 2000). O trabalho desenvolvido teve como objetivo desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. Nesse contexto, a tecnologia educacional desenvolvida se insere enquanto conhecimento e instrumento; enquanto conhecimento que instiga o ser humano para absorver conhecimentos sobre sua saúde; enquanto instrumento que desenvolve tecnologia para viabilizar o processo de cuidar científico (MEIER, 2004). Sendo assim, as informações direcionadas para a educação em saúde, auxiliaram o idoso na reflexão sobre sua saúde, desenvolvendo competências para mudança de hábitos de vida, em prol da prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II. As tecnologias educacionais desenvolvidas comprovam a importância da criatividade e efetividade da educação em saúde, realizada pelo enfermeiro que seja condizente as necessidades dos idosos diabéticos. 55 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Renilda Rosa Dias Ferreira de. Educação Conscientizadora na prática do enfermeiro em hanseníase.2005. 144 f. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. BARRA, Daniela Couto Carvalho et al. 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Eu, ____________________________________________________________ li o texto acima e compreendi a natureza do estudo do qual fui convidado a participar. Eu entendi que sou livre para interromper minha participação no estudo a qualquer momento sem justificar minha decisão. Eu concordo voluntariamente em participar do estudo. Data ____________________ Assinatura do participante: ______________________________________________________________________ Nome do pesquisador: ______________________________________________________________________ 63 APÊNDICE B - PROTOCOLO DO ESTUDO DE CASO A. Introdução ao estudo de caso e objetivo do protocolo A.1. Questão de estudo: Como desenvolver tecnologia educacional no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos? A.1.1. Preposição: O desenvolvimento da tecnologia educacional, para o cuidado de enfermagem promove o estímulo de competências para o cuidado de si na prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. A.2. Estrutura teórica: O desenvolvimento da tecnologia educacional mostrará a importância da educação em saúde no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos. A.3. Agenda (definição de prazos) Outubro, Novembro e Dezembro/2009: Revisão de literatura e construção do projeto. Janeiro, Fevereiro e Março/ 20010: Desenvolvimento da tecnologia educacional. Abril e Maio/2010: Aperfeiçoamento da tecnologia educacional e aplicação. Junho/2010: Análise dos dados, elaboração do relatório e processo de finalização do trabalho. Julho/2010: Finalização do trabalho, apresentação deste trabalho de conclusão de curso para a banca do TCC II, e finalização do artigo sobre este estudo de caso. B. Procedimentos da coleta de dados Observação direta; Entrevistas; Artefatos físicos. 64 C. Síntese do relatório do estudo de caso ∙ Apêndice C. D. Questões do estudo de caso D.1 Questões norteadoras para o desenvolvimento da tecnologia educacional. • O que é o diabetes? • Qual órgão do nosso corpo está envolvido na ocorrência do diabetes? • Existem quantos tipos de diabetes, e qual é o seu tipo? Por quê? • O que causa o diabetes? • Quais são os sinais e sintomas principais suspeitos que a pessoa está com diabetes? • Como é realizado o diagnóstico do diabetes? • Como o diabetes pode ser tratado? • O que é importante cuidar na dieta do diabético? • Quais alimentos são bons para o diabético? • O que a insulina faz em nosso corpo? • Onde deve ser injetada a insulina? • Como deve ser armazenada a insulina? • É importante verificar os níveis de glicose? Por quê? • O que é hipoglicemia? O que podemos fazer para prevenir a hipoglicemia? • Quais são as complicações do diabetes que podem ocorrer? • Todos os diabéticos desenvolveram as complicações? Por quê? • Como podemos evitar as complicações do diabetes? • Quais os cuidados que deve-se ter com os pés? • Como o diabético pode se cuidar? Ele pode ser feliz? D.2 Questões para avaliação do estudo de caso • O que é o diabetes? • Qual órgão do nosso corpo está envolvido na ocorrência do diabetes? • Existem quantos tipos de diabetes, e qual é o seu tipo? Por quê? 65 • O que causa o diabetes? • Quais são os sinais e sintomas principais suspeitos que a pessoa está com diabetes? • Como é realizado o diagnóstico do diabetes? • Como o diabetes pode ser tratado? • O que é importante cuidar na dieta do diabético? • Quais alimentos são bons para o diabético? • O que a insulina faz em nosso corpo? • Onde deve ser injetada a insulina? • Como deve ser armazenada a insulina? • É importante verificar os níveis de glicose? Por quê? • O que é hipoglicemia? O que podemos fazer para prevenir a hipoglicemia? • Quais são as complicações do diabetes que podem ocorrer? • Todos os diabéticos desenvolveram as complicações? Por quê? • Como podemos evitar as complicações do diabetes? • Quais os cuidados que deve-se ter com os pés? • Como o diabético pode se cuidar? Ele pode ser feliz? 66 APÊNDICE C – SÍNTESE DO RELATÓRIO DO ESTUDO DE CASO A tecnologia educacional desenvolvida no cuidado de enfermagem para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos, foi aplicada no Centro de Convivência Maior Comendador Gabriel Vijande Bermúdez. Participaram deste estudo, sete idosos com diabetes mellitus tipo II. A aplicação da tecnologia educacional ocorreu nos dias 26 e 27 de maio de 2010, no período da manhã com duração de duas horas. Os participantes no primeiro momento assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando sua participação na pesquisa, bem como aceitando que fosse gravada a atividade. No dia 26 de maio, a pesquisadora primeiramente realizou dinâmica de apresentação, com o objetivo que todos os participantes se conhecessem um pouco mais. Utilizou figuras para que cada um escolhesse a quem mais achava interessante, assim o objetivo era que o participante além de se apresentar dizendo seu nome, também falaria o motivo que havia escolhido determinada figura. Essa dinâmica fez com que os participantes além se conhecerem melhor, pudessem conhecer um pouco mais sobre os gostos pessoais de cada um, através de cada figura escolhida. Ainda nesse mesmo dia ocorreu o jogo do bingo educativo. Essa tecnologia educacional foi desenvolvida com o objetivo que os participantes pudessem expressar seus conhecimentos pré-existentes sobre o diabetes mellitus, suas dúvidas de forma espontânea, evitando constrangimento, sendo uma ferramenta lúdica e atraente para os idosos. Para a pesquisadora foi fundamental descobrir o que os idosos sabem sobre sua patologia, tal processo traz subsídios a possibilidade para os profissionais de saúde desenvolverem ações educativas que auxiliem os idosos diabéticos a modificar o seu estilo de vida e ser o agente de transformação do cuidado de si. A tecnologia educacional (jogo do bingo), foi uma atividade em que os idosos participaram ativamente, ocorreu de forma tranqüila e no final dessa atividade cada idoso, ganhou um brinde, como uma forma de premiação e gratificação por terem participado da atividade. No dia 27 de maio, a pesquisadora aplicou a cartilha educativa, essa tecnologia educacional desenvolvida teve como objetivo principal elucidar para o idoso o que é o diabetes mellitus de modo geral. Em forma de roda de conversa, de uma maneira lúdica e 67 descontraída, utilizando um diálogo horizontal, onde todos pudessem participar e compartilhar conhecimentos. A tecnologia educacional (cartilha educativa) possuí além de frases escritas, muitas figuras que chamam a atenção do idoso para um melhor compreendimento de sua patologia, com objetivo que esse cuidado de enfermagem instigue e estimule o idoso para o empoderamento e desenvolvimento de competências para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II. Ainda, é oportuno ressaltar que os idosos contribuíram de modo efetivo para melhor compreensão de sua patologia. Dessa forma, o idoso teve a oportunidade de ampliar seus conhecimentos e compreensão sobre o diabetes, refletir a respeito do cuidado de si, privilegiando o desenvolvimento da sua autonomia para prevenção secundária de possíveis agravos que são decorrentes do diabetes mellitus. Para finalização das atividades, a pesquisadora utilizou a dinâmica “Terapia do Abraço”, essa dinâmica valorizou o ser humano, refletiu a importância do idoso ser empoderador de seu cuidado, além de ser o próprio agente de transformação para melhorar sua saúde. Assim o abraço significou muito mais do que carinho, gratidão; para a pesquisadora foi uma forma que ela encontrou para demonstrar a responsabilidade que cada um tem perante a sua saúde e principalmente sobre sua vida. A tecnologia educacional no cuidado de enfermagem, que foi desenvolvida para prevenção secundária do diabetes mellitus tipo II junto a idosos, será analisada após sua aplicação e posteriormente mostrará os resultados obtidos. 68 APÊNDICE D - CARTILHA EDUCATIVA C E A D R T U I L DIABETES MELLITUS H C A T I A V Projeto de: NAIANA OLIVEIRA DOS SANTOS / KARINA S. A. HAMMERSCHMDT A CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS O QUE É DIABETES? É um distúrbio causado pela falta absoluta ou relativa de insulina no organismo. 1 69 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS CONTROLE DA GLICOSE PÂNCREAS HORMÔNIO INSULINA • CONTROLA O NÍVEL DE GLICOSE NO SANGUE; • REGULA A PRODUÇÃO E ARMAZENAMENTO DE GLICOSE. 2 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS DIABETES resposta à insulina ou pára de produzir. Diabetes Tipo I - Falta completa do hormônio insulina; - Mais comum: ♦ crianças; ♦ jovens; ♦ adultos jovens. Diabetes Tipo II -Diminuição da insulina com uma resposta reduzida do corpo à este hormônio; - Mais comum: ♦ após 40 anos ou mais. 3 70 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS CAUSAS DO DIABETES • HEREDITARIEDADE • FATORES AMBIENTAIS • DIABETES • STRESS SECUNDÁRIO 4 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS SUSPEITAS: SINAIS E SINTOMAS Pressão Alta Difícil Cicatrização Familiares com Diabetes Piora da Visão 5 71 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS DIAGNÓSTICO DO DIABETES Teste de Glicose Teste de Tolerância Oral a Glicose Teste de Urina 6 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS REVISANDO O APRENDIZADO • O que é o diabetes? • Qual órgão do nosso corpo está envolvido na ocorrência do diabetes? • Existem quantos tipos de diabetes, e qual é o seu tipo? Por quê? • O que causa o diabetes? • Quais são os principais sinais e sintomas para suspeitar-se que uma pessoa está com diabetes? • Como é realizado o diagnóstico do diabetes? 7 72 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS TRATANDO O DIABETES Doença Crônica Não tem Cura; A eficácia do tratamento depende de cada pessoa; Tratamento pode ser: Dieta Comprimido Insulina 8 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS DIETA Limite o uso do sal; Tentar manter o seu peso ideal; Eliminar alimentos gordurosos e frituras de sua dieta; Eliminar “lanchinhos” como salgadinhos e biscoitos. 9 73 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS DIETA Dicas Importantes: • Faça refeições com intervalos regulares; • Faça exercícios físicos sempre que puder; • Inclua alimentos que contenham amido (carboidrato) em cada refeição,escolhendo sempre os que contém muita fibra; • Diminua a ingestão de açúcares. 10 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS DIETA Fique atento a: ♦ Realizar as refeições com intervalos regulares (uma refeição ou um lanche a cada 2 ou 3 horas); ♦ A aplicação da insulina deve ser feita em horários próximos aos das refeições. 11 74 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS COMPRIMIDO Respeitar o horário da prescrição; Tomar o medicamento todo dia; Não trocar de medicamento por conta própria; 12 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS INSULINA: Porque várias injeções de insulina diariamente? • O que se tenta é reproduzir o padrão normal de produção de insulina pelo pâncreas; É possível encontrar insulina na corrente sanguínea; • Seguir as orientações dos profissionais de saúde, se não se sentir bem, procurar serviço de saúde. 13 75 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS INSULINA:Como e onde deve ser injetada a insulina? Os locais adequados para injetar a insulina são: Braços (partes laterais) Abdômen (região central) Nádegas (parte lateral) r ica apl o r a t n Evi mpre al. se o loc sm me Coxas (parte anterior) 14 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS INSULINA: Onde deve ser armazenada a insulina? • O frasco de insulina fechada deve ser armazenada dentro da geladeira (2ºc a 8ºC); Na geladeira, a insulina deve ficar na porta; • Não se pode expor o medicamento à luz solar, ou guardar os frascos em ambientes quentes. 15 76 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS REVISANDO O APRENDIZADO • Como o diabetes pode ser tratado? • O que é importante cuidar na dieta do diabético? • Quais alimentos são bons para o diabético? • O que a insulina faz em nosso corpo? • Onde deve ser injetada a insulina? • Como deve ser armazenada a insulina? 16 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS NÍVEIS DE GLICOSE Por que fazer o teste de glicemia? Quando você faz o teste de glicemia está medindo a eficácia da última dose de insulina. 17 77 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS HIPOGLICEMIA Baixa Glicose Sanguínea SINTOMAS: Sonolência (pode perder a consciência); Formigamento em torno dos lábios. 18 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS HIPOGLICEMIA CAUSAS • Intervalo muito grande entre as refeições (carregue sempre algum alimento com você); • Fazer algum exercício inesperado (correr); • Tomar bebidas alcoólicas em demasia. Quando o fígado tem que metabolizar a bebida alcoólica ele não consegue produzir a insulina. 19 78 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS HIPOGLICEMIA Dicas Verifique o nível de glicose; COMA CARBOIDRATO: Ação Rápida Ação Lenta A glicose entra em seu fluxo sangüíneo muito rápido. Uma boa fonte de energia. Se os sintomas não passarem busque um serviço de saúde. 20 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS COMPLICAÇÕES DO DIABETES Olhos Rins Grandes Vasos Pele Nervos periféricos dos braços, mãos, pés e pernas. Todas as complicações podem ser evitadas com o controle da GLICEMIA. 21 79 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS COMPLICAÇÕES DO DIABETES OLHOS RINS Embaçamento temporário O diabetes pode lesar até os efeitos mais sérios estes filtros, pelo acúmulo da retinopatia (lesão da de glicose nos pequenos camada sensível a luz, na vasos sanguíneos, que parte posterior dos olhos), formam os filtros. Quando que podem causar a os rins ficam lesionados, cegueira. ocorre a chamada insuficiência renal. 22 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS COMPLICAÇÕES DO DIABETES PELE ARTÉRIAS Vermelhidão e estreitamento da pele sobre a parte inferior da perna. Endurecimento dos grandes vasos sanguíneos, o que pode induzir ataques cardíacos, acidente vascular cerebral e falta de circulação nas pernas. 23 80 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS COMPLICAÇÕES DO DIABETES NERVOS - Neuropatia diabética, devido ao acúmulo de glicose nos vasos. As consequencias vão depender do tipo de nervo afetado: Neuropatia Motora Neuropatia Sensorial Neuropatia Autonômica Os pés ficam mais Pode levar a uma sensíveis e mais doloridos, É pouco frequente, perda pequena da mas eventualmente eles pode causar podem ficar anestesiados e atividade, dos diarréia, incapazes de sentir músculos dos pés constipação e qualquer sensação. e das mãos. ocasionalmente vômitos. 24 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS DICAS DE CUIDADO COM O DIABETES 25 81 CARTILHA EDUCATIVA: DIABETES MELLITUS REVISANDO O APRENDIZADO • É importante verificar os níveis de glicose? Por quê? • O que é hipoglicemia? O que podemos fazer para prevenir a hipoglicemia? • Quais são as complicações do diabetes que podem ocorrer? • Todos os diabéticos desenvolverão as complicações? Por quê? • Como podemos evitar as complicações do diabetes? • Quais os cuidados que deve-se ter com os pés? • Como o diabético pode se cuidar? Ele pode ser feliz? 26 82 ANEXOS 83 ANEXO A - FIGURAS ESCOLHIDAS PELOS IDOSOS NA DINÂMICA DE APRESENTAÇÃO Revista Vida e Saúde, 2009, p. 9 Revista Vida e Saúde, 2008, p. 15 Revista Vida e Saúde, 2009, p. 20 Revista Vida e Saúde, 2009, p. 39 84 Revista ISTOÉ, 2009, p. 42 Revista Vida e Saúde, 2009, p. 35 Revista ISTOÉ, 2009, p. 8