Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos Aspectos Práticos dos Testes de Desempenho em Medidores de Parâmetros de QEE J. R. Macedo Jr., I. N. Gondim, J. A. F. Barbosa Jr., C. E. Tavares Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica, Av. João Naves de Ávila, 2121 – Campus Santa Mônica, Bloco 3N, CEP:38402-902, Uberlândia, MG – Brasil, Fone: (34) 3239 4763 / 3239 4733 Resumo Este trabalho tem por objetivo apresentar análises para qualificação e quantificação das causas associadas aos desvios de resultados em relação a um valor padrão eventualmente registrados por medidores de parâmetros de qualidade da energia elétrica durante ensaios de calibração realizados pelo Núcleo de Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia. Especificamente, são apresentados os efeitos da forma de cálculo dos valores eficazes das ondas de tensão na quantificação da duração e amplitude das variações de tensão de curta duração. Adicionalmente, são também apresentadas as diferenças existentes entre os diversos métodos disponíveis para quantificação dos desequilíbrios de tensão, assim como os impactos decorrentes das diferentes formas de cálculo dos valores médios das grandezas eficazes registradas pelos medidores de parâmetros de qualidade da energia elétrica (QEE). Palavras-chaves Medidores de parâmetros de qualidade da energia elétrica, testes de calibração, valores eficazes, VTCDs, desequilíbrios de tensão. I. INTRODUÇÃO Ao longo das últimas duas décadas, a qualidade da energia elétrica (QEE) vem ganhando regulamentações específicas em diversos países do mundo. No Brasil, especificamente, a regulamentação da qualidade da energia elétrica ainda é bastante preliminar, resumindo-se em módulos específicos1 em dois diferentes documentos normativos: os Procedimentos de Rede [1], para o caso dos sistemas de transmissão de energia elétrica, em tensões iguais ou superiores a 230 kV, e os Procedimentos de Distribuição - PRODIST [2] para o caso dos sistemas de distribuição de energia elétrica, com tensões iguais ou inferiores a 138 kV. Em ambos os documentos foram definidos os parâmetros para avaliação da qualidade da onda da tensão, a saber: distorções harmônicas, desequilíbrios, flutuações de tensão e variações de tensão de curta duração. A monitoração dos parâmetros de qualidade da energia nos sistemas elétricos é realizada através de modernos medidores eletrônicos, cujos protocolos seguem, invariavelmente, as metodologias de quantificação de J. R. Macedo Jr., [email protected], I. N. Gondim, [email protected], J. A. F. Barbosa Jr., [email protected], C. E. Tavares, [email protected], Tel. +55-34-3239-4701, Fax +55-34-3239-4763; Os autores expressam seus agradecimentos a CAPES, CNPq e a FAPEMIG pelas bolsas de mestrado e de doutorado no programa de Pós-Graduação da FEELT-UFU e outros apoios financeiros que viabilizaram a pesquisa. 843 indicadores definidas pela International Electrotechnical Commission – IEC [3]. Embora os equipamentos encontrados comercialmente utilizem as mais modernas tecnologias disponíveis a nível mundial, no que tange ao hardware, e ainda, obedeçam aos limites e procedimentos estabelecidos pela IEC, objetivando dirimir quaisquer dúvidas e disparidades entre medições realizadas por equipamentos de fabricantes diferentes, tais equipamentos necessitam ser submetidos a testes de calibração e certificação, a exemplo dos testes de certificação “Classe A” realizados a nível internacional. No Brasil, entretanto, não existem laboratórios credenciados para emissão de certificados de calibração para os medidores de parâmetros de qualidade da energia elétrica. Nesse contexto, embora não possua autorização para emissão de certificados de calibração, por volta de 2003, o Núcleo de Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica (NQREE) da Universidade Federal de Uberlândia, com o apoio de órgãos do setor elétrico, visando atender ao módulo 8 do PRODIST, desenvolveu uma proposta com uma rotina de ensaios que contemplam os indicadores de qualidade da energia, visando realizar testes de desempenho em medidores de QEE a fim de garantir a conformidade necessária para uma correta avaliação da qualidade nos sistemas de energia elétrica, por solicitação direta de fabricantes nacionais e internacionais. Desde então, já foram realizados inúmeros testes e avaliados diversos equipamentos ao longo desses anos. Diante dessa conjuntura, o NQREE adquiriu uma grande experiência no processo de avaliação de desempenho de medidores de parâmetros de qualidade da energia elétrica. Em geral, alguns equipamentos não obtiveram resultados satisfatórios durante os testes realizados, por vários motivos, destacando entre estes: a forma de cálculo dos valores eficazes das tensões, a qual influencia diretamente na determinação da magnitude e duração de variações de tensão de curta duração (VTCDs); a metodologia escolhida para o cálculo de desequilíbrio de tensão e, por fim, a forma de cálculo utilizada para a determinação de valores médios, qual seja, média aritmética ou média quadrática. Deve-se ressaltar que os ensaios realizados não têm o objetivo de reprovar equipamentos, mas sim, contribuir para a adequação dos equipamentos avaliados aos procedimentos e legislações exigidos no Brasil. Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo abordar as questões supramencionadas, buscando despertar e promover discussões que venham a contribuir para o Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos estabelecimento de um protocolo de medição específico a ser futuramente definido pela ANEEL. II. ANÁLISE DOS EFEITOS RELATIVOS ÀS FORMAS DE CÁLCULO DOS VALORES RMS NA QUANTIFICAÇÃO DOS EVENTOS DE VARIAÇÃO DE TENSÃO DE CURTA DURAÇÃO. Conforme conceituação definida em [2]-[3], as variações de tensão de curta duração são desvios significativos no valor eficaz da tensão em curtos intervalos de tempo. Com base nessa conceituação, portanto, todos os atributos dos eventos de variação de tensão de curta duração, como a duração e amplitude do evento, deverão ser quantificados a partir dos registros da tensão eficaz monitorada e não da tensão instantânea. Existem vários protocolos para o cálculo dos valores eficazes de uma determinada onda de tensão. Genericamente, os equipamentos eletrônicos de medição, baseados em processamento digital de sinais, utilizam valores discretos da tensão instantânea para cálculo dos respectivos valores eficazes. Matematicamente, o valor eficaz a ser obtido para um conjunto de N registros da tensão instantânea será quantificado por meio da equação (1). VRMS = 1 N N ∑ vi2 = i =1 v12 + v22 + v32 + L + vN2 N Fig. 1. Tipos de deslizamento das janelas de cálculo dos valores RMS. (a) deslizamento amostra a amostra, (b) deslizamento a cada ¼ de ciclo, (c) deslizamento a cada ½ ciclo e (d) deslizamento a cada ciclo. As combinações entre o tamanho da janela amostral e a forma de deslizamento da janela podem ser as mais variadas. Como exemplo, a Fig. 2 mostra a forma de cálculo do valor eficaz através de janelas amostrais de ½ ciclo com deslizamento da janela a cada ¼ de ciclo. Além disso, para o mesmo caso, a taxa de amostragem do medidor hipotético foi igual a 8 amostras por ciclo. (1) A partir da equação (1), os diversos protocolos para cálculo do valor eficaz de uma determinada onda de tensão instantânea, por exemplo, podem ser estratificados da seguinte forma: Cálculo do valor RMS utilizando-se janelas amostrais de 1 ciclo de duração da onda de tensão instantânea; Cálculo do valor RMS utilizando-se janelas amostrais de ½ ciclo de duração da onda de tensão instantânea; Cálculo do valor RMS utilizando-se janelas amostrais de ¼ ciclo de duração da onda de tensão instantânea. Para efeito de ilustração, supondo-se um medidor hipotético com taxa amostral igual a 8 amostras por ciclo de 60 Hz, tem-se que no caso do cálculo do valor RMS utilizando-se janelas amostrais de 1 ciclo de duração da onda de tensão instantânea, ter-se-ia na equação (1) um valor de N igual a 8. Da mesma forma, utilizando-se janelas amostrais de ½ ciclo e ¼ ciclo de duração da onda de tensão instantânea, na mesma equação seriam obtidos valores de N iguais a 4 e 2, respectivamente. Além do tamanho da janela amostral para cálculo dos valores RMS, a forma de deslizamento das janelas também apresenta um efeito importante no cálculo dos valores eficazes das grandezas elétricas. A Fig. 1, ainda baseando-se no medidor hipotético com taxa amostral de 8 amostras por ciclo, apresenta as formas mais usuais de deslizamento das janelas utilizadas pelos modernos registradores digitais de parâmetros de qualidade da energia elétrica. 844 Fig. 2. Medição de valores RMS com janelas amostrais com ½ ciclo de duração, deslizantes a cada ¼ de ciclo. Para ilustração dos impactos associados a cada combinação possível (tamanho da janela amostral e forma de deslizamento da janela) para o cálculo dos valores eficazes das ondas de tensão, a Fig. 3 apresenta os resultados obtidos quando do cálculo da duração de um evento de afundamento momentâneo de tensão (AMT), com 50% de amplitude e 5 ciclos de duração, com uma taxa de amostragem de 64 amostras por ciclo. A duração do evento, com base nos valores eficazes da onda de tensão, foram calculados a partir de janelas amostrais com 1 ciclo de duração e quatro formas distintas de deslizamento da janela. A duração exata do evento, igual a 83,33 ms (5 ciclos), não foi obtida em nenhum dos casos mostrados na Fig. 3. No caso particular da Fig. 3(a), por exemplo, o erro foi de quase ½ ciclo. O melhor resultado foi alcançado para o caso do deslizamento da janela a cada 1 ciclo, conforme mostrado na Fig. 3(b). Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos aquisição de dados também representa uma variável importante no processo de cálculo dos valores eficazes, conforme mostrado na Fig. 5. Fig. 5. Efeito da variação da taxa de amostragem para um AMT com 50% de amplitude e 5 ciclos de duração. (a) cálculo do RMS com janelas de 1 ciclo, deslizantes a cada ½ ciclo e (b) cálculo do RMS com janelas de ½ ciclo, deslizantes a cada ½ ciclo. Fig. 3. Calculo do valor RMS: (a) deslizamento da janela a cada amostra, (b) deslizamento da janela a cada ciclo, (c) deslizamento da janela a cada ½ ciclo e (d) deslizamento da janela a cada ¼ de ciclo. Além da forma de deslizamento da janela amostral, o tamanho da janela também apresenta um efeito muito importante na exatidão dos cálculos referentes aos atributos dos eventos de variação de tensão de curta duração. A Fig. 4 mostra os resultados obtidos para o mesmo evento utilizado na Fig. 3, porém, considerando-se a mesma forma de deslizamento da janela amostral e dois tamanhos distintos de janelas para cálculo do RMS, 1 ciclo e ½ ciclo, respectivamente. A Fig. 5(a) demonstra que, ao contrário do naturalmente esperado, o aumento da taxa de amostragem promove um aumento no erro do cálculo da duração do evento de AMT quando da utilização de janelas amostrais com 1 ciclo de duração com deslizamento a cada ½ ciclo. No caso da Fig. 5(b), quando da utilização de janelas amostrais com ½ ciclo de duração com deslizamento a cada ½ ciclo, a taxa de amostragem apresenta pouca influência nos resultados obtidos. Vale destacar também que neste último caso os erros foram inexpressivos em relação aos respectivos valores instantâneos da onda de tensão. Além das formas específicas de cálculo dos valores eficazes das grandezas elétricas, as próprias topologias dos eventos de afundamentos momentâneos de tensão contribuem para o agravamento das deficiências de medição relacionadas com o cálculo de valores RMS. Como exemplo, a Fig. 6 apresenta os resultados obtidos para a duração de um AMT com amplitude variável e 5 ciclos de duração. Fig. 4. Deslizamento da janela amostral a cada ½ ciclo com (a) cálculo dos valores RMS a cada ciclo e (b) cálculo dos valores RMS a cada ½ ciclo. Os resultados apresentados na Fig. 4(a) resultaram em um erro de 2,35 ms na duração do evento. Para o caso mostrado na Fig. 4(b) o valor obtido apresentou uma boa correlação com o esperado. As Figs. 3 e 4 evidenciam, portanto, que a forma de cálculo dos valores eficazes das grandezas instantâneas tem uma importância relevante no cálculo das durações dos eventos de variação de tensão de curta duração. Além do tamanho da janela amostral e da forma de deslizamento da mesma, a taxa amostral do equipamento de 845 Fig. 6. AMT com amplitude variável e 5 ciclos de duração. (a) cálculo do RMS com janelas de 1 ciclo, deslizantes a cada ½ ciclo e (b) cálculo do RMS com janelas de ½ ciclo, deslizantes a cada ½ ciclo. Conforme pode ser observado na Fig. 6(a), quando do cálculo do valor RMS através de janelas amostrais com duração de 1 ciclo, deslizantes a cada ½ ciclo, a amplitude do AMT contribui fortemente para os erros obtidos em relação à duração verdadeira do evento. No caso de AMTs de grande Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias amplitude, os erros obtidos foram próximos a 1 ciclo de duração. Outro parâmetro importante dos atributos do evento, em relação ao cálculo dos valores eficazes, é o ponto sobre a onda de tensão instantânea no qual o evento se inicia. A Fig. 7 mostra dois eventos de AMT, com mesma duração e amplitude, ocorridos em pontos distintos da onda instantânea da tensão. Os resultados obtidos são bastante divergentes. Para o evento iniciado na passagem por zero da onda de tensão, a duração calculada para o AMT foi de 85,68 ms (desvio de apenas 0,35 ms). Por outro lado, quando o mesmo evento é iniciado com atraso aproximado de 45 graus elétricos em relação à passagem pelo zero de tensão, o resultado obtido foi de 94,27 ms, o que representa um desvio de 10,94 ms. Fig. 7. Efeito do ponto de início do AMT, sobre a onda de tensão instantânea na duração do evento, para um AMT de 50% de amplitude e 5 ciclos de duração. (a) início do evento na passagem por zero da onda de tensão e (b) início do evento em um ponto qualquer da onda de tensão. Finalmente, vale destacar os efeitos das formas de cálculo dos valores RMS nas amplitudes e durações dos eventos de AMT de curtíssima duração. A Fig. 8 ilustra uma sequência de AMT´s, todos com mesma duração e amplitude sob o ponto de vista da onda de tensão instantânea. Programa Áreas 846 Busca de Artigos Fig. 9. AMT com 20% de amplitude e 1 ciclo de duração considerando-se cálculo do valor eficaz a cada ciclo com deslizamentos (a) a cada amostra, (b) a cada ciclo, (c) a cada ½ ciclo e (d) a cada ¼ de ciclo. III. ANÁLISE DOS EFEITOS RELATIVOS ÀS FORMAS DE CÁLCULO DOS VALORES MÉDIOS DAS GRANDEZAS EFICAZES Outra questão que também deve ser considerada diz respeito à forma de cálculo da média de um grupo de valores medidos. Alguns equipamentos utilizam para tanto o cálculo da média quadrática (2) enquanto outros utilizam a média aritmética (3). Xa = Os resultados mostrados na Fig. 8, cujos registros dos valores eficazes foram obtidos a partir de 64 amostras por ciclo, com janelas de 1 ciclo de duração, deslizantes a cada ½ ciclo, mostram que para diferentes pontos de início do evento sobre a onda de tensão instantânea, as amplitudes dos AMTs variam consideravelmente. Títulos Também nesses casos, para agravamento da situação, os efeitos da forma de cálculo dos valores RMS são intensificados, conforme pode ser observado na Fig. 9, na qual um mesmo evento de AMT, com 20% de amplitude e 1 ciclo de duração, tem a sua duração calculada a partir de janelas amostrais de 1 ciclo de duração e modos de deslizamento de janela variáveis. Os resultados obtidos mostram que nos casos de eventos de AMT de curtíssima duração, além das diferenças obtidas nas durações eventos, observam-se também elevadas alterações nas amplitudes dos mesmos. Xq = Fig. 8. Sequência de AMT´s com duração e amplitudes constantes e iguais a 1 ciclo e 20%, respectivamente. Autores 1 N ∑ xi2 = 1 N ∑x N i =1 N i =1 i = x12 + x 22 + x 32 + L + x N2 N x1 + x 2 + x 3 + L + x N N (2) (3) Ao se realizar uma medição com dois equipamentos em que um empregue o primeiro método e o outro o segundo método, pode-se verificar grande divergência nos resultados obtidos. Para ilustrar este fato imagine um caso hipotético de medição de uma rede elétrica que tenha certo conteúdo harmônico de tensão na qual a componente de 5ª ordem seja variável no tempo com duração de 300 ms em cada valor, enquanto as demais componentes são constantes, conforme apresentado na tabela I. Capa Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias TABELA I. DISTORÇÃO INDIVIDUAL DE TENSÃO Tempo 0 0,6 1,2 1,8 2,4 3ªh (%) 3 3 3 3 3 5ªh (%) 2 10 15 6 2 7ªh (%) 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 11ªh (%) 2 2 2 2 2 13ªh (%) 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos limite recomendado pelo PRODIST (10%), enquanto que pela média aritmética o valor obtido (10,2%) viola este limite. Tais resultados alertam a necessidade de uma padronização deste cálculo. IV. ANÁLISE DOS DIFERENTES MÉTODOS PARA O CÁLCULO DOS DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO As Figs. 10 e 11 permitem visualizar, respectivamente, a variação da 5ªh e da Distorção Harmônica Total da Tensão (DTT) no decorrer do tempo, onde a DTT é dada pela equação (4). hmáx 2 h ∑V DTT% = h =2 V1 ×100 = V%22 + V%23 + V%24 + L + V%2h (4) O desequilíbrio de tensão em um sistema elétrico trifásico é uma condição na qual as fases apresentam tensão com módulos diferentes entre si, ou defasagem angular entre as fases diferentes de 120° elétricos ou, ainda, as duas condições simultaneamente. Dentre os fatores mais comuns que podem levar à sua ocorrência pode-se citar: cargas trifásicas desequilibradas, desigualdade na distribuição de cargas monofásicas, linhas de transmissão mal transpostas e ainda sobreaquecimentos, mau funcionamento e/ou falhas dos dispositivos. O cálculo do nível do desequilíbrio de tensão, conhecido como fator K ou Fator de Desequilíbrio (FD) pode ser feito através de quatro diferentes métodos [4]: • Método das Componentes Simétricas: K % = FD% = V− × 100 V+ (5) Onde: V- Módulo da tensão de sequência negativa; V+ Módulo da tensão de sequência positiva; Fig. 10. Distorção Individual de Tensão – 5ª ordem. • Método CIGRÉ K % = FD% 1 − 3 − 6β 1 + 3 − 6β × 100 (6) Sendo: β= Fig. 11. Distorção Total de Tensão. Com base nos valores apresentados, a tabela II indica os valores médios obtidos para o período de acordo com os métodos de cálculo mencionados. TABELA II. MÉDIA DA DISTORÇÃO INDIVIDUAL E TOTAL DE TENSÃO Método de cálculo 5ª h (%) DTT (%) Média quadrática 8,6 10,2 Média aritmética 7,0 9,4 Vab 4 + Vbc 4 + Vca 4 (V 2 ab + Vbc 2 + Vca 2 847 2 (7) Onde: Vab, Vbc, Vca são os módulos das tensões trifásicas • Método NEMA K % = FD% = Como pode ser observado na tabela anterior, o valor representativo da componente harmônica de tensão de 5ª ordem é de 8,6% quando calculado pela média quadrática, ou seja, superior ao valor obtido pela média aritmética (7%). Já para o valor representativo da distorção harmônica total pode-se observar que, se o cálculo for realizado pela média quadrática o valor obtido para a DTT (9,4%) fica abaixo do ) ∆V × 100 Vm (8) Onde: ∆V - Máximo desvio das tensões de linha em relação ao valor médio; Vm - Média aritmética dos módulos das tensões trifásicas; Capa • Boas-vindas da CBQEE Organização Patrocinadores Palestras Plenárias Método IEEE K % = FD% = 3 ⋅ (Vmáx − Vmín ) × 100 % Vab + Vbc + Vca (9) Onde: Vmáx - Maior valor dentre os módulos das tensões trifásicas; Vmin - Menor valor dentre os módulos das tensões trifásicas; Vab, Vbc, Vca - Módulo das tensões trifásicas Para fazer uma comparação entre os métodos apresentados, a tabela III indica alguns valores hipotéticos de tensões de fase de uma rede elétrica com tensão nominal de 127 V. Quatro situações foram elaboradas em forma de casos que envolvam as possíveis combinações de características já apresentadas que levam ao desequilíbrio. O primeiro caso corresponde a valores aleatórios de tensões, diferentes do valor nominal, com ângulos defasados exatamente de 120º elétricos. O segundo caso compreende de tensões de 127 V, mas com ângulos de defasagem diferentes de 120º elétricos. O terceiro caso dispõe de valores aleatórios tanto em ângulo como em magnitude de tensão diferentes do nominal e o quarto tem a mesma característica do terceiro, porém com valores que levem a um desequilíbrio mais acentuado. TABELA III. CASOS ESTUDADOS – TENSÃO DESEQUILIBRADA Va Caso 1 2 3 4 Módulo (V) 120,3 127,0 127,6 125,3 Vb Ângulo (Graus) 0 -5,0 0 37,0 Módulo (V) 130,5 127,0 126,7 128,5 Vc Ângulo (Graus) -120,0 -110,0 -120,2 -80 Módulo (V) 126,3 127,0 126,7 126,8 Ângulo (Graus) 120,0 132,0 120,2 155,0 A Fig. 12 mostra os resultados obtidos para o cálculo do desequilíbrio pelos métodos apresentados para os casos propostos. Programa Áreas Autores Títulos Busca de Artigos sempre valores bem maiores que os indicados pelos demais métodos. Considerando que o método das componentes simétricas é o adotado como referência nos documentos de regulamentação nacional, referências [1] e [2], conclui-se que o método CIGRÉ pode ser amplamente utilizado com a vantagem de ter grande simplicidade de implementação em equipamentos de medição, pelo fato de utilizar apenas as tensões de linha da rede monitorada. V. CONCLUSÕES O presente artigo contemplou alguns aspectos práticos relacionados a testes de desempenho em medidores de parâmetros de qualidade da energia elétrica, realizados pelo Núcleo de Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia. Através dos ensaios realizados foi possível observar que algumas questões associadas ao tratamento dos dados advindos da medição podem gerar divergências nos resultados apresentados pelos medidores de QEE. Tais aspectos puderam ser observados principalmente no cálculo dos valores eficazes (RMS) das tensões e durações dos VTCDs que, dependendo do tamanho da janela de cálculo dos valores eficazes, assim como da forma de deslizamento da referida janela, resultam divergências de resultados superiores a 10%. Da mesma maneira isso também ocorreu para o cálculo da média dos valores representativos das grandezas a cada dez minutos. Neste último, verificou-se que, dependendo do tipo de equacionamento utilizado, resultados divergentes podem ser obtidos, comprometendo assim a análise quanto a violação dos limites estabelecidos para os indicadores de QEE. Outra questão abordada foi sobre os métodos para o cálculo dos desequilíbrios de tensão. No que tange aos estudos realizados sobre este assunto, verificou-se concordância de resultados apenas em dois dos quatro métodos avaliados para as diversas condições de ângulo e magnitude de tensão que caracterizam o desequilíbrio. Em um dos métodos verificou-se uma grande discordância em relação aos valores apresentados pelos outros. Os estudos apresentados alertam para a necessidade de padronização dos métodos de cálculo dos indicadores de qualidade de energia elétrica e de reflexões para o estabelecimento de protocolos de medição específicos a serem futuramente definidos pela ANEEL. REFERÊNCIAS [1] Fig. 12. Análise comparativa dos métodos para o cálculo dos desequilíbrios de tensão. Conforme indicado na figura anterior, pode-se perceber que o método das componentes simétricas e o método do CIGRÉ resultam em indicadores de desequilíbrio exatamente iguais em todos os casos avaliados. Verifica-se que o método NEMA apresenta um bom grau de concordância em relação aos dois métodos anteriores, mas que diverge quando a diferença angular é fixada em 120º ou à medida que o desequilíbrio aumenta. Já o método do IEEE apresenta 848 [2] [3] [4] [5] ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico. Procedimentos de Rede, Submódulo 2.8. “Gerenciamento dos indicadores de desempenho da rede básica e dos barramentos dos transformadores de fronteira, e de seus componentes”. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. “Procedimentos de Distribuição – PRODIST”. Módulo 8, Qualidade da Energia Elétrica. IEC 61000-4-30: 2008, Edition 2, Electromagnetic compatibility (EMC) – Testing and measurement techniques – Power quality measurement methods. A. L. F. Filho, M. A. Oliveira E M. G. S. Pinto, “Ferramenta Computacional para Quantificação e Qualificação do Desequilíbrio de Tensão” , VI SBQEE, Pará, ago., 2005. Dugan, R. C.; Mcgranaghan, M. F.; Beauty, H. W.; Electrical Power System Quality, Editora McGraw-Hill, EUA, 1996.