1 UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO LUCIANA BULHÕES MACHADO IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à Condutor em Camaçari-BA MACEIÓ - AL 2013 2 LUCIANA BULHÕES MACHADO IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à Condutor em Camaçari-BA Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof. Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva MACEIÓ - AL 2013 3 LUCIANA BULHÕES MACHADO IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: Percepção dos Candidatos à Condutor em Camaçari-BA Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. APROVADO EM: ____/____/____ _______________________________________________ PROF. MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA ORIENTADOR ________________________________________________ PROF.DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ PROF.ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA BANCA EXAMINADORA 4 DEDICATÓRIA Aos meus pais José Lúcio e Lucina Machado Ao meu amado marido Luís Henrique Araújo 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus a quem devo minha existência e que tornou possível seguir esse caminho profissional com amor, ética e dedicação. Ao meu marido Luís Henrique, pela compreensão e incentivo em todos os momentos. Aos professores pelo apoio e orientação necessários para a realização desse estudo. 6 RESUMO A avaliação psicológica é atualmente uma etapa preliminar e obrigatória para todos os candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Essa avaliação consiste na aplicação de testes psicológicos, observação, realização de dinâmicas e entrevistas por profissionais de Psicologia devidamente capacitados na área do Trânsito. O objetivo deste estudo foi verificar a importância da avaliação psicológica no contexto de trânsito na percepção dos candidatos à obtenção da CNH. De modo específico, pretendeu-se: analisar se os candidatos que passaram pela avaliação psicológica concordam que o candidato reprovado não pode dirigir um veículo automotor; se consideram que essa etapa contribui para identificar comportamentos adequados no trânsito, que diminuiriam o risco de acidentes; e detectar se essa avaliação psicológica deve ser realizada com maior periodicidade. Participaram da pesquisa 101 pessoas de uma clínica, na cidade de Camaçari, credenciada ao Departamento de Transito da Bahia. Os resultados revelaram altas porcentagens de respostas afirmativas nas cinco questões estudadas, evidenciado que os participantes, de maneira geral, consideram importante a realização da avaliação psicológica no trânsito. Isso demonstra a valorização e desenvolvimento dessa área da Psicologia, que busca contribuir para a segurança da população no trânsito. Palavras-chave: Psicologia do Trânsito; Avaliação psicológica; Habilitação. 7 ABSTRACT The psychological assessment is currently a preliminary step is mandatory for all applicants for a National Driver's License. This assessment is based on the use of psychological tests, observation, completion of dynamic and interviews by professionals of Psychology properly trained in the area of transit. The objective of this study was to verify the importance of the psychological assessment in the context of transit in the perception of candidates obtaining the National Driver's License. In particular, was intended to: examine whether candidates who have passed the psychological assessment agree that the candidate failed cannot address a powered vehicle; if they consider that this step helps to identify appropriate behaviors in traffic, which would decrease the risk of accidents; and detect if this psychological assessment must be carried out with greater frequency. Participated in this study 101 people of a clinic in the city of Camaçari, accredited to the Department of transit of Bahia. The results showed high percentages of affirmative answers in five issues studied, evidenced that the participants, in general, consider important the realization of the psychological assessment in transit. This demonstrates the enhancement and development of this area of Psychology, which aims to contribute to the security of the population in transit. Keywords: Traffic Psychology; Psychological assessment; Enabling. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 01 – Importância da realização da avaliação psicológica para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH)...................................................43 FIGURA 02 – Candidato reprovado na avaliação psicológica não pode dirigir um veículo................................................................................................45 FIGURA 03 – Avaliação psicológica contribui para identificar comportamentos adequados para o trânsito........................................................................47 FIGURA 04 – Avaliação psicológica pode ajudar a diminuir risco de acidentes ............48 FIGURA 05 – Avaliação psicológica deveria ocorrer com maior frequência...................49 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................10 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................12 2.1 Breve Histórico sobre a Psicologia do Trânsito...................................................12 2.2 Avaliação Psicológica no Processo de Habilitação de Condutores..................19 2.3 Testes Psicológicos Utilizados na Avaliação Pericial dos Condutores.............26 2.3.1 Testes de Personalidade.....................................................................................27 2.3.2 Testes de Atenção................................................................................................30 2.3.3 Testes de Inteligência e Raciocínio....................................................................32 2.4 A Importância da Avaliação Psicológica para Redução de Acidentes de Trânsito....................................................................................................................34 3 MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................40 3.1 Ética..........................................................................................................................40 3.2 Universo...................................................................................................................40 3.3 Amostra....................................................................................................................41 3.4 Instrumento de Coleta de Dados...........................................................................41 3.5 Procedimentos para Coleta de Dados...................................................................41 3.6 Procedimentos para Análise dos Dados...............................................................42 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................43 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................51 REFERÊNCIAS...............................................................................................................54 APÊNDICES....................................................................................................................58 ANEXOS.........................................................................................................................59 10 1 INTRODUÇÃO O trânsito de veículos ocupa um papel fundamental na vida das pessoas, que de diversas formas precisam se deslocar no seu dia a dia, transportar mercadorias que possibilitam a sobrevivência do ser humano e favorece o desenvolvimento em sociedade. Contudo, esse deslocamento de pessoas e veículos também trouxe sérias conseqüências negativas, como graves problemas de saúde e segurança pública. Através dessas conseqüências negativas, como os acidentes de trânsito, começou-se a cogitar a possibilidade de utilização de vários conhecimentos científicos, e dentre eles a psicologia, para minimizar essas trágicas ocorrências. A denominada Psicologia do Trânsito nasce, então, da necessidade de estudar o comportamento humano no trânsito e de torná-lo mais seguro, contribuindo para o bem estar das pessoas em seus deslocamentos. No Brasil, a história da psicologia aplicada ao trânsito começou com as primeiras aplicações de instrumentos psicológicos. O Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) estabeleceu a necessidade de avaliar psicologicamente os requerentes à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com finalidade profissional, com o objetivo de diminuir a incidência de acidentes no trânsito em veículos automotores; e posteriormente, esses exames foram estendidos para todos os futuros condutores no Brasil, perdurando até os dias de hoje. Portanto, um dos campos de atuação do psicólogo do trânsito é a realização da avaliação psicológica. Entretanto, pode-se verificar que tem havido um crescente debate sobre a importância, ou não, da avaliação psicológica nesse processo de aquisição da habilitação de condutor. Alguns autores consideram a avaliação psicológica no trânsito desnecessária e trazem discussões que envolvem questões referentes à segurança no trânsito, à validade dos testes psicológicos e à capacidade do psicólogo em avaliar o perfil do bom condutor. Por ser uma área em que a população tem bastante contato, é fundamental pesquisar a percepção dos candidatos à condutores com relação à importância da avaliação psicológica no trânsito. Percebe-se que esse estudo é bastante atual, possuindo grande relevância para o psicólogo de trânsito que irá realizar avaliação psicológica nos candidatos à carteira 11 de habilitação. Afinal esse profissional precisa estar seguro dos benefícios da sua atuação para a população brasileira, assim como ter uma visão crítica que possibilitará o investimento no desenvolvimento e valorização da Psicologia do Trânsito. Além disso, já existe um estudo realizado por Lamounier e Rueda (2005) em que foi verificado se os candidatos à obtenção da CNH e os condutores habilitados do Estado de Minas Gerais consideram a avaliação psicológica importante para o contexto do trânsito. Participaram da pesquisa 783 sujeitos e os autores observaram que a grande maioria dos sujeitos se mostrou a favor da avaliação psicológica. Os autores dessa pesquisa concluíram que estudos em outros Estados do Brasil são necessários para verificar a percepção da população acerca da avaliação psicológica, portanto, com base nisso, julga-se fundamental esse novo estudo que será realizado na cidade de Camaçari na Bahia a fim de compará-lo com os dados já apresentados. O objetivo desse estudo foi verificar a importância da avaliação psicológica no trânsito na percepção dos candidatos à 1ª CNH. De modo específico, pretende-se: analisar se os candidatos que passaram pela avaliação psicológica concordam que o candidato reprovado não pode dirigir um veículo automotor; se consideram que essa etapa contribui para identificar comportamentos adequados no trânsito; e detectar se essa avaliação psicológica deve ser realizada com maior freqüência. 12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Breve Histórico sobre a Psicologia do Trânsito O trânsito surgiu em função da necessidade do ser humano se locomover, trocar mercadorias, comercializar produtos, intercambiar conhecimentos, tecnologias e cultura, aspectos essenciais que possibilitam a sobrevivência e favorecem o desenvolvimento em sociedade (ROZESTRATEN, 1988). Os deslocamentos das pessoas e veículos nas vias públicas ocorrem dentro de um sistema regulamentado que assegura a integridade dos participantes. O trânsito é composto principalmente pelo homem, a via e o veículo; sendo que a segurança no trânsito necessita da integração harmônica entre esses três elementos (ROZESTRATEN, 1988). Atualmente, a grande quantidade de veículos nas ruas, a precariedade das vias públicas e as diversas características comportamentais das pessoas tornam a locomoção bem complicada (TEBALDI e FERREIRA, 2009). Os primeiros automóveis e caminhões começaram a circular no Brasil no início do século XX. A locomoção em massa realizada por meio de bondes e trens foi sendo lentamente substituída pelo uso do automóvel, fruto do apoio da indústria automobilística no país (LAGONEGRO, 2008). Nos tempos atuais, o uso de veículos automotores tem influenciado a sociedade de diferentes maneiras, como na mudança de valores culturais, na percepção de distância, entre espaço e tempo, cidades e países, nas relações humanas, no comportamento social e nos avanços tecnológicos (HOFFMANN e CRUZ, 2007). Apesar da produção e uso do automóvel ter contribuído para o desenvolvimento econômico do país, também trouxe um lado negativo, pois, passaram a existir graves problemas ambientais e de saúde pública (SILVA, 2005). Os órgãos governamentais, ao apresentarem as estatísticas de trânsito, geralmente consideram os motoristas como responsáveis pela produção de mais de 70% do total de acidentes (PORTUGAL e SANTOS, 1991; RODRIGUES, 2000 apud GOUVEIA et al, 2002). Em algumas pesquisas o Brasil foi apontado como o terceiro país do mundo em acidentes fatais no trânsito, apresentando uma média de 14 mortes por grupos de 100.000 habitantes, 13 ficando atrás apenas da Grécia e dos Estados Unidos (Notas Internacionais, 2000 apud GOUVEIA et al, 2002). Dessa maneira, a Organização Mundial de Saúde considera o trânsito um problema de saúde pública e buscam-se soluções para a violência. Notícias sobre o trânsito estão diariamente na mídia, mostrando os mortos contabilizados, assim como as incontáveis pessoas com seqüelas ou mutilações ocorridas por conseqüência da violência no trânsito (THIELEN, 2011). A psicologia do trânsito nasceu da necessidade de tornar o trânsito mais seguro, contribuindo para o bem estar das pessoas em seus deslocamentos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000, apud SILVA, 2005). Para Silva (2005), o homem, com seus múltiplos fatores sensoriais, motivacionais, emocionais e de personalidade, é o maior responsável pelas diferentes causas dos acidentes de trânsito. Hoffmann e Legal (2007) identificaram três grandes categorias que envolvem os erros mais importantes que precedem um acidente: erros de reconhecimento e percepção; erros de processamento e tomada de decisão-inteligência, conhecimentos ou atitudes; e erros na execução da manobra, que envolvem habilidades psicomotoras. Além disso, as falhas humanas mais comuns são as causas físicas, como fadiga, falta de energia, defeitos sensoriais; causas psíquicas, de pressa, falta de atenção, agressividade e competitividade; busca intencional de risco e de emoções intensas; distrações; e estados psicofísicos transitórios, através do uso inadequado de álcool, fármacos, sonolência, depressão e estresse. O trânsito do Brasil pode ser considerado o espelho das normas e condutas da sociedade. Percebe-se que a educação, os costumes e os valores dessa irão refletir na obediência ou não dos cidadãos aos códigos estabelecidos. Embora a fiscalização e punição no trânsito sejam necessárias, supõe-se que trabalhos preventivos, que os psicólogos do trânsito podem realizar, serão mais eficazes, promovendo conscientização e proteção dos brasileiros (DUARTE, 2007). Através de numerosas pesquisas em dezenas de institutos, laboratórios e centros de pesquisa observaram-se a importância de uma Psicologia do Trânsito, que foi definida como o estudo científico do comportamento dos participantes do trânsito (CARBONELLI, 1981). Os estudos acerca da Psicologia do trânsito são relevantes para 14 o conhecimento dos comportamentos individuais e sociais do homem neste tipo de situação, contribuindo para uma relação com o trânsito mais harmônica. Afinal ao se compreender mais acerca do comportamento humano no trânsito é possível fazer um trabalho preventivo, diminuindo as possibilidades de um motorista se colocar em situações de risco, o que dá maiores condições de segurança. A Psicologia aplicada ao estudo dos transportes terrestres remonta a meados do século XX, à década de 1920. Essa prática marcou uma das primeiras competências profissionais de intervenção legalmente regulamentada e preservada ao longo da história da Psicologia no Brasil (HOFFMANN, 1995 apud HOFFMANN e CRUZ, 2007). Hoffmann e Cruz (2007) apontam que os fatos mais importantes da história da evolução da Psicologia do Trânsito no Brasil podem ser estruturados em quatro grandes etapas: 1) o período das primeiras aplicações de técnicas de exame psicológico até a regulamentação da Psicologia como profissão; 2) consolidação da Psicologia do Trânsito como disciplina científica; 3) notável desenvolvimento da Psicologia do Trânsito em vários âmbitos e sua presença no meio interdisciplinar; 4) aprovação do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503, de 23/09/97) e um período de maior sensibilização da sociedade e dos psicólogos com relação à discussão sobre políticas públicas de saúde, educação e segurança na circulação humana. Com relação à Psicologia da Segurança Viária, Mira y López, diretor do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), destacou-se como precursor de uma atividade preventiva direcionada a todos os condutores e profissionais da condução. Em abril de 1951, o ISOP iniciou o exame dos candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) por meio de entrevistas, prova de aptidão e de personalidade (HOFFMANN e CRUZ, 2007). Segundo Silva (2005), apenas em 1953, o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) aprovou uma resolução que tornou obrigatório, em todo país, avaliar psicologicamente os requerentes à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com finalidade profissional. O objetivo era diminuir a incidência de acidentes no trânsito em veículos automotores, não concedendo a habilitação aos motoristas considerados inaptos. Em 1962, ano do reconhecimento da profissão de psicólogo no Brasil, o 15 CONTRAN estendeu o exame psicotécnico para todos os futuros condutores no Brasil, perdurando até os dias de hoje. A estrutura de um serviço de avaliação psicológica na área foi materializada pela primeira vez em Minas Gerais, por organizar o Serviço de Psicologia em avaliação de condutores. Tal programa pioneiro seguiu por vários anos como modelo de avaliação de condutores, tomado como referência de atuação a ser seguida pelos Serviços de Psicologia do Trânsito dos demais estados brasileiros. Neste sentido, Minas Gerais seguiu a dianteira dos estudos e pesquisas na área, editando livros e um periódico, o primeiro na Psicologia do Trânsito, a Revista do Gabinete de Psicotécnica em Trânsito (HOFFMANN e CRUZ, 2007). De acordo com Alchieri, Silva e Gomes (2006), a aprovação do Código Nacional de Trânsito em 1966, em substituição ao de 1941, veio confirmar com mais força a avaliação psicológica obrigatória. E a expressão de instituições nacionais, como Conselho Federal de Psicologia (CFP), Conselhos Regionais de Psicologia (CRP), no amparo legal e profissional a nova profissão, asseguraram a importância e expressão como ação no trânsito. Pelo trabalho desenvolvido, definem-se como precursores da Psicologia do Trânsito, Roberto Mange, Emilio Mira y López e Alice G. de Mira, José Nava, José A. Amorim, Roberto Suchaneck, Alfredo Oliveira Pereira, José Silveira Pontual, Suzana Cunha. Vale ressaltar que é com o professor Reinier Rozestraten que a Psicologia do Trânsito começa a ser amplamente conhecida no contexto brasileiro através de suas publicações nacionais e internacionais, participações em congressos e realizações de cursos para psicólogos. Por sua condução também foram criados diversos núcleos de pesquisa, assim como cursos de pós-graduação voltados para a área de Psicologia do Trânsito (HOFFMANN e CRUZ, 2007). Na década de 70, a psicologia tinha sua atenção voltada para os aspectos da avaliação e medida de comportamentos, posição esta questionada frontalmente por novas idéias no cenário mundial da contracultura, o que acabou restringindo o desenvolvimento de estratégias e ações quanto à avaliação psicológica por quase uma década (PASQUALI e ALCHIERI, 2001, apud ALCHIERI, SILVA e GOMES, 2006). 16 A partir dos anos 80, verifica-se a reativação da Psicologia do Trânsito e sua correlata, a Segurança Viária adentrando nos meios universitários e em outros países, como também em outras ciências no Brasil. Cabe considerar ainda a relevância do Código Brasileiro de Trânsito de 1998 e suas conseqüências na atualização dos aspectos legais desta área (ALCHIERI, SILVA e GOMES, 2006). Segundo Alchieri, Silva e Gomes (2006), por mais de cinco décadas os profissionais da psicologia avaliaram os candidatos a condutores de todo o país, seguindo os ditames legais dos órgãos de trânsito e as orientações dos seus respectivos órgãos de classe, quando estes se manifestavam. Desta maneira, as atividades da psicologia continuaram pelas décadas seguintes, com pouca ou quase nenhuma modificação em sua execução, até o veto presidencial, na virada do novo milênio, quase chegando a eliminar esta atividade. Através das ações da categoria e das orientações do DENATRAN, a resolução 80 (1998) é apresentada, regulamentando também a avaliação psicológica. Atualmente, a avaliação psicológica é exigência obrigatória em situações específicas, como no caso de condutores infratores contumazes, envolvidos em acidentes graves, conforme a Resolução N° 80/1998 do Conselho Nacional de Trânsito (1998), e, mais recentemente, em caso de renovação da CNH dos condutores profissionais, como estabelecido pela Resolução N° 168/2004 (CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO, 2004, apud SILVA, 2005). De acordo com Carbonelli (1981), a Psicologia do Trânsito estuda o comportamento dos pedestres de todas as idades, do motorista amador e profissional, do motoqueiro, do ciclista, dos passageiros e do motorista de coletivos, e num sentido mais largo ainda, de todos os participantes do tráfego aéreo, marítimo, fluvial e ferroviário. De modo geral, no entanto, essa área da Psicologia se restringe ao comportamento dos usuários das rodovias e das redes viárias urbanas. Segundo Silva (2005), para que se possa entender a importância de se falar em uma psicologia dedicada a estudar o trânsito e como ela pode ajudar a melhorar a situação neste espaço, é fundamental, que se tenha consciência do papel central que o trânsito exerce na vida das pessoas. É impossível não participar do trânsito em algum momento, seja como pedestre, condutor ou passageiro. 17 Segundo Carbonelli (1981), a Psicologia do Trânsito se relaciona com quase todas as áreas especializadas da Psicologia, desde a psicofísica e psicofisiologia até a teoria de decisão e os processos cognitivos, procurando explicações na teoria do condicionamento operante e na teoria psicanalítica. Permeia pela psicologia do desenvolvimento e pela psicologia gerontológica e se relaciona com a psicologia da motivação e da aprendizagem, com a psicopedagogia e com a psicologia social. É um campo que envolve grande complexidade de fatores. Além de estar ligado às diversas áreas da Psicologia, este campo requer também contatos com a engenharia de estradas e de veículos, com a medicina do trabalho, com a estatística, a física, a ergonomia, a sociologia, a psicopedagogia e mesmo com o direito e com a criminologia. O mesmo autor citado acima acredita que a Psicologia do Trânsito pode contribuir para diminuir a enorme quantidade de acidentes nas estradas. Afinal oferece subsídios para garantir ao ser humano condições de maior segurança no trânsito, diminuindo os riscos de acidentes e as ameaças de perder a vida. Ela pode dar as diretrizes educacionais, sugerindo recursos mais eficientes para o ensino, pois dirigir é aparentemente simples, mas um pequeno erro pode ter graves consequências. Assim o comportamento de dirigir é na realidade bastante complexo, pois pode incluir processo de atenção, de detecção, de diferenciação e de percepção, o processamento de informações, a memória a curto e a longo prazo, a aprendizagem e o conhecimento de normas e de símbolos, a motivação, a tomada de decisões bem como uma série de automatismos percepto-motores, de manobras rápidas e uma capacidade de reagir prontamente ao feedback, a previsão de situações em curvas, em cruzamentos e em lombadas, e também, uma série de atitudes em relação aos outros usuários, aos inspetores, às normas de segurança, ao limite de velocidade, etc. A realização da avaliação psicológica é considerada apenas uma das possibilidades de atuação do psicólogo do trânsito, que passa por processos de revisões e atualizações. É interessante que surjam novos espaços para a realização de outras atividades, como, por exemplo, a elaboração de pesquisas no campo dos processos psicológicos, elaboração/implantação de psicossociais, ações de psicofísicos; engenharia e colaboração operação de na tráfego; desenvolvimento de ações sócio-educativas; análise dos acidentes de trânsito e 18 sugestões de como evitar e atenuar suas incidências (HOFFMANN, 2003, apud SILVA, 2005). Os psicólogos que trabalham atualmente nos Departamentos de Trânsito (DETRANs), em parte por razões históricas, continuam atuando principalmente com a avaliação psicológica de condutores, administrando, analisando os resultados dos instrumentos e fiscalizando as atividades realizadas pelas clínicas credenciadas. O funcionamento desses departamentos também contribuiu para que os psicólogos assumissem outras tarefas decorrentes da evolução da legislação e de novas demandas sociais, como capacitação dos psicólogos peritos em trânsito, diretores e instrutores; elaboração de programas de reabilitação e educação aos motoristas infratores; e realização de ações para prevenir acidentes (HOFFMANN, 2003 apud SILVA e GUNTHER, 2009). É importante reconhecer também que existe campo de atuação, para o psicólogo do trânsito, fora das clínicas e dos DETRANs. Isso implica no desafio de ocupar outros campos potenciais e desenvolver práticas inovadoras. Para isso, destaca-se a resolução n.267/2008 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) que estabelece algumas mudanças para trabalho do psicólogo, dentre elas, a que determina que a partir de 2013, só serão credenciados os profissionais com título de especialista em Psicologia do Trânsito. Essa medida pode auxiliar para que tenhamos profissionais mais capacitados para atuar de forma mais ampla com os diversos problemas do trânsito, ocupando mais espaços, como no contexto das políticas públicas de transporte (SILVA e GUNTHER, 2009). O psicólogo do trânsito é um profissional polivalente, capaz de atuar nas áreas de educação, engenharia e fiscalização, intervindo no sistema do trânsito de forma eficiente. Por outro lado, apesar do campo de atuação do psicólogo do trânsito ter ampliado, ainda é na área de avaliação psicológica para habilitação de condutores que a grande maioria dos psicólogos atua. Dessa maneira, precisa-se estudar mais profundamente como vêm sendo desempenhada essa prática e a importância da avaliação psicológica no trânsito e na prevenção de acidentes. 19 2.2 Avaliação Psicológica no Processo de Habilitação de Condutores O termo avaliação refere-se ao fato de que o ser humano utiliza códigos de conduta através dos quais as pessoas e as sociedades julgam o comportamento dos semelhantes. Vale ressaltar que se deve aos psicólogos do fim do século XIX a origem da avaliação formal e sistemática (PASQUALI, 1999 apud GOUVEIA et al, 2002). A avaliação de habilidades e traços psicológicos, através de técnicas ou testes projetivos e psicométricos tem sido um dos alicerces da intervenção e direção do conhecimento do psicólogo nas diversas áreas: clínica, escolar, organizacional, trânsito, etc. A avaliação psicológica demonstrou seu valor ao longo da história, sendo fundamental durante a Primeira Guerra Mundial, quando os militares passaram a ser recrutados e designados para determinadas funções segundo suas habilidades psicológicas (PRIETO e GOUVEIA, 1997 apud GOUVEIA et al, 2002). Pasquali (1999 apud GOUVEIA et al, 2002, p.13) observa que os instrumentos psicológicos, como os testes, escalas e questionários “representam a expressão cientificamente sofisticada de um procedimento sistemático de qualquer organismo, biológico ou social, a saber, o de avaliar as situações para tomar decisões que garantam a sobrevivência do próprio organismo, bem como seu auto-desenvolvimento”. Isto possibilita um diagnóstico mais preciso e fidedigno. É importante abordar que a avaliação psicológica é, provavelmente, uma das mais antigas áreas da psicologia e que a utilização dos testes psicológicos tem crescido em um ritmo cada vez mais acelerado e vem contribuindo nas variadas áreas da vida cotidiana, inclusive na área do trânsito (ANASTASI e URBINA, 2000). Contudo, os testes são apenas ferramentas, sendo assim, os usuários dos testes precisam saber como avaliá-los, o propósito que será utilizado, quais são as informações que ele pode oferecer sobre a pessoa que se submete a ele e como avaliar o resultado. Observa-se que, até o momento, não existe consenso sobre a relevância e necessidade da avaliação psicológica no processo de concessão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Sabe-se que o antigo Presidente Fernando Henrique Cardoso vetou sua obrigatoriedade no novo Código Nacional de Trânsito, porém as intensas mobilizações dos psicólogos e de alguns parlamentares fez com que, no dia 15 de 20 Janeiro de 1998, a Câmara dos Deputados aprovasse o Projeto de Lei que a instituía, sendo esta decisão ratificada pelo Senado logo após. Essa foi uma situação de evidente confrontação de interesses, discutida no informativo mensal do CRP-05, matéria divulgada em Janeiro de 1998, sob o título “Avaliação Psicológica: Vitória da Psicologia” (GOUVEIA et al, 2002). A avaliação psicológica se inseriu no processo de habilitação, sendo atualmente uma etapa preliminar, obrigatória, eliminatória e complementar para todos os condutores e candidatos a obtenção ou mudança de categoria da Carteira Nacional de Habilitação. No exame de avaliação psicológica no trânsito devem ser investigadas segundo a Resolução n.80/98 do Código de Trânsito Brasileiro (1998) as seguintes características psicológicas: percepto-reacional, que permitem aferir a atenção, percepção, tomada de decisão, motricidade e nível mental; equilíbrio psíquico que avalia a ansiedade, excitabilidade, ausência de quadro patológico, controle adequado da agressividade e da impulsividade, equilíbrio emocional e ajustamento pessoal-social; e por último as habilidades específicas, que prevê avaliação dos tempos de reação, atenção concentrada, rapidez de raciocínio e relações espaciais (DUARTE, 2007). Pode-se considerar que a Psicologia de Trânsito e a Avaliação Psicológica são áreas afins, uma vez que essa última consiste em um processo técnico-científico, realizado por meio de estratégias psicológicas como métodos, técnicas e instrumentos que permitem um conhecimento de capacidades cognitivas e sensório-motoras, componentes sociais, emocionais, afetivos, motivacionais, aptidões específicas e indicadores psicopatológicos (NORONHA, 1999 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005). Desse modo, os psicólogos de trânsito fazem uso da avaliação psicológica para investigar as características psicológicas dos candidatos à obtenção da CNH, da mudança da categoria da CNH e em caso de renovação para motoristas profissionais. Desde o início da utilização da Avaliação Psicológica para o Trânsito, esse processo tem sido denominado Exame Psicotécnico. No entanto, em 1998, com a publicação do Novo Código de Trânsito Brasileiro, esse termo foi substituído pela Avaliação Psicológica Pericial. Deve-se dizer que essa alteração ocorreu em razão das novas exigências da Resolução 80/98 do CONTRAN em relação ao procedimento que passaria a ser adotado. 21 As principais alterações baseavam-se no fato de que a Avaliação Psicológica Pericial para o Trânsito deveria ser realizada por Peritos de Trânsito que tivessem o respectivo curso e a finalidade do exame passava a ser investigar adequações psicológicas mínimas no candidato à CNH para que fosse capaz de conduzir de forma correta e segura. Portanto, a razão maior desse processo estaria na necessidade de tentar garantir a segurança do condutor e dos demais envolvidos no trânsito (CFP, 2000 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005). Vale ressaltar que a avaliação psicológica é uma atividade ampla e complexa que permite ao profissional interpretar, através de coleta de dados e informações, traços do comportamento humano. Ela é uma área técnica produtora de ferramentas profissionais, assim como é a área da psicologia responsável pela operacionalização das teorias psicológicas em aspectos observáveis, possibilitando a integração da teoria com a prática. Tal processo não consiste apenas na aplicação e interpretação dos testes, mas também em um método que envolve entrevistas e observações psicológicas (PRIMI, 2010; LAMOUNIER e RUEDA, 2005). A entrevista psicológica é vista como um diálogo, uma comunicação entre pessoas, uma relação, levando em conta fatores psicológicos observados. As entrevistas permitem ao psicólogo verificar manifestações características do sujeito, o auxiliando a compreender de forma ampla e profunda o outro e seu modo de se relacionar. Por meio da entrevista é possível buscar esclarecimentos, exemplos e contextos para as respostas do indivíduo. E, para a boa realização de uma entrevista, o entrevistador precisa estar livre de preocupações se colocando presente, para ouvir o outro de forma a focar a atenção no entrevistando. Dessa forma, a entrevista deve ser considerada mais que uma técnica, é um momento de contato social entre duas ou mais pessoas. A execução dessa técnica é importante, pois é influenciada pelas habilidades interpessoais do entrevistador, permitindo ao analisado revelar seus pensamentos e sentimentos (ALMEIDA, 2004). Com relação ao teste psicológico, este é definido como uma mensuração objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento, podendo ser descrito com ajuda de escalas numéricas ou categorias fixas. Dividido em dois tipos, os testes psicológicos podem ser psicométricos ou projetivos. Os testes psicométricos se 22 baseiam na teoria da medida, usam números para descrever os fenômenos psicológicos e seus resultados originam um cálculo; sendo o resultado do teste de cada sujeito comparado com uma tabela do resultado para a população em geral. Os testes psicométricos primam pela objetividade e tarefas padronizadas; sua correção ou apuração é mecânica, portanto, sem ambiguidade por parte do avaliador. Já os testes projetivos se fundamentam na descrição lingüística e nas interpretações qualitativas da amostra estudada, caracterizando os sujeitos em termos de atributos e qualidades, permitindo identificar características da personalidade, da história de vida e estado mental do sujeito (ANASTASI, 1977). Após a aplicação e correção dos testes psicológicos, os psicólogos que atuam nas clínicas de trânsito devem realizar a construção do laudo psicológico, que é uma ferramenta usada para informar resultados referentes à avaliação, realizar análise dos resultados e informar as conclusões. Para Silva e Alchieri (2011), existem algumas falhas na construção de laudos psicológicos, seja na estrutura ou no preenchimento dos documentos construídos pelos profissionais de psicologia e pelos peritos de trânsito. A falta de padronização, de alguns itens obrigatórios como a conclusão, usos de abreviaturas, de expressões não adequadas dos instrumentos e de suas avaliações, além da falta de integração dos dados pessoais com as entrevistas, observações gerais, dos testes e da análise, a falta do nome do psicólogo ou número do Conselho Regional de Psicologia (CRP), acabam comprometendo o parecer final dos profissionais. Dessa maneira, entende-se que alguns laudos psicológicos não possuem a qualidade necessária que é estabelecida pelo CRP. No laudo deve ser identificado o resultado da avaliação psicológica, para que junto com a avaliação médica o futuro candidato possa obter a permissão ou não para dirigir (SILVA e ALCHIERI, 2010). Seguindo as recomendações da Resolução 267/2008, do CONTRAN, o candidato avaliado pelo psicólogo deverá ser considerado como: apto, se apresentar desempenho condizente para condução de veículo automotor; apto com restrições, se houver necessidade de restrição a ser registrada na CNH; inapto temporário, se o candidato apresentar deficiência passível de melhora, como estresse e depressão, podendo realizar após determinado período nova 23 avaliação; e inapto, quando apresentar inadequação nas áreas avaliadas que estejam fora dos padrões de normalidade e de natureza não recuperável. Contudo, verifica-se a ausência de critérios precisos para avaliar o condutor; deficiente capacitação profissional dos psicólogos; má qualidade do processo de avaliação psicológica, conforme realizado em alguns departamentos de trânsito e clínicas credenciadas, que possuem espaços inapropriados para a aplicação; simplificações e erros no uso dos testes e instrumentos copiados; divergências de posicionamentos entre psicólogos peritos examinadores e usuários, quanto ao grau de importância dado ao processo de avaliação de motoristas (SILVA E ALCHIERI, 2007). Sabe-se que a avaliação psicológica é uma ação bastante indagada no Brasil, por muitos anos esta atividade passou por mudanças. Seu início foi conturbado, pois havia a rotulação dos doentes mentais, sendo bastante questionada por seus métodos e pela pouca exatidão dos resultados. O que percebe-se é que, atualmente, essa prática encontra-se em um momento de aprimoramento, mesmo com as controvérsias que ainda existem. O que se busca é uma avaliação psicológica que seja considerada uma atividade importante e que seja uma necessidade primária (NORONHA, 2002). De acordo com Lamounier e Rueda (2005) é fundamental pontuar que o objetivo da Avaliação Psicológica Pericial no contexto de Trânsito nunca foi o de predizer se um determinado indivíduo viria a se envolver em acidente ou não, e sim de realizar um trabalho preventivo, no qual fosse possível diminuir as possibilidades de um condutor se expor as situações de risco. Alchieri e Stroeher (2002 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005) realizaram uma pesquisa revelando estudos que demonstram algumas características de personalidade predisponentes a acidentes de trânsito nos condutores. Ao lado disso, vários estudos verificam uma forte conexão entre agressividade e trânsito. Lancaster e Ward (2002 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005) também sugerem que pode haver uma relação entre estresse e acidentes de trânsito. Outra explicação dada à alta ocorrência de acidentes de trânsito é que exceder os limites de velocidade significa desafiar a lei, e para os indivíduos com desvio social mais elevado, esse comportamento representa uma forma de autoafirmação compensatória (CORASSA, 2001; HOFFMANN e GONZÁLEZ, 2003 apud LAMOUNIER e RUEDA, 2005). Sob 24 essas perspectivas, são muitas as variáveis psicológicas que podem influenciar na ocorrência de acidentes. Por outro lado, as características de personalidade verificadas na avaliação psicológica para o trânsito ainda não estão muito bem definidas. Muito embora alguns estudos internacionais indiquem algumas características psicológicas consideradas fatores que influenciam direta ou indiretamente no envolvimento do ser humano em acidentes, o Brasil é carente em pesquisas, não fornecendo subsídios para a compreensão das infrações associadas às características de personalidade. Não existe um estudo que defina claramente um perfil para a função de motorista, seja no exterior ou no Brasil. Lamounier e Rueda (2005) realizaram investigação com 110 candidatos à CNH para identificar, através do teste PMK (Psicodiagnóstico Miocinético) possíveis diferenças de variáveis de personalidade entre aptos e inaptos para dirigir e comparar as avaliações dadas por dois peritos e verificaram, quanto aos pareceres, que houve discordância em apenas dois casos, o que, segundo os autores, já refutaria afirmações de que a avaliação psicológica de condutores é feita sem parâmetros preestabelecidos. Pode-se questionar, então, até que ponto é importante à realização da avaliação psicológica para obtenção da CNH. Alguns autores consideram a Avaliação Psicológica no trânsito desnecessária e criticam os profissionais da área e os instrumentos que são utilizados. Quanto aos instrumentos psicológicos, com a Resolução nº 025/2001 do CFP, os instrumentos a serem utilizados por psicólogos devem ter propriedades adequadas para receberem um parecer favorável pelo CFP. É verdade que existem muitos profissionais pouco capacitados para serem peritos examinadores de trânsito, mas essa verdade também se encaixa nas diversas áreas da Psicologia e de outras profissões. De acordo com Hoffmann, Cruz e Klusener (2007) o psicólogo manifesta competências profissionais adequadas diante da avaliação psicológica de condutores quando for capaz de: identificar problemas que precisam ser resolvidos para realizar a avaliação; considerar os diversos fatores de tempo, recursos, custos, informações disponíveis; optar pela estratégia de avaliação mais eficiente; planejar e colocar em prática a estratégia de avaliação adotada; coordenar essa implementação alinhada aos 25 acontecimentos; reavaliar, caso necessário, a estratégia, podendo modificá-la; respeitar os princípios legais e éticos da avaliação psicológica dos condutores; documentar e registrar procedimentos. Percebe-se que a avaliação psicológica de condutores é uma ação complexa que necessita de competências também complexas do psicólogo que a realiza. Segundo Gouveia et al, (2002), o veículo automotor pode se transformar em uma “arma” seja pela forma de conduzir ou mesmo devido às condições de insegurança do ambiente. Portanto, é necessário prudência no momento de entregar uma “arma” a alguém sem antes conhecer de quem se trata; o exame psicológico constitui uma ferramenta indispensável neste contexto. Pode-se pensar que o problema não está na avaliação psicológica propriamente, mas em uma capacitação dos psicólogos e estabelecimento de critérios que definam o que significa ser um bom condutor nos dias atuais. Mostra-se bastante comum entre os brasileiros a sensação de que os comportamentos e atitudes de vários condutores têm causado insegurança aos pedestres e aos demais condutores. Observa-se agressão no volante, imprudência no trânsito, desatenção e irresponsabilidade. Porém, pouco se sabe sobre o que realmente possibilita diferenciar com exatidão os bons dos maus condutores. Esta deverá ser uma difícil, mas importante tarefa dos profissionais da Psicologia interessados no comportamento no trânsito, que contam com a vantagem de dispor de um banco de dados informatizado e permanente onde figuram a quantidade e os tipos de infração no trânsito. É possível relacionar os resultados dos exames psicológicos de cada condutor com o seu desempenho em situação real no trânsito. Isto auxiliaria a traçar um perfil do bom condutor, assim como na seleção dos instrumentos psicológicos mais adequados. E, embora a avaliação psicológica para condutores exista no país desde a metade do século passado, caminha-se a passos lentos. É oportuno destacar que existem diferentes aspectos a considerar sobre a importância e necessidade da avaliação psicológica. O presente e futuro do trânsito dependem principalmente da capacidade dos psicólogos de realizarem adequadamente suas atividades e mostrarem a utilidade dos serviços prestados à comunidade, tanto no tráfego como na vida pessoal do condutor. 26 Para Primi (2010), é necessário desenvolver mais estudos sobre a relação do uso da avaliação psicológica com o trânsito e a coerência na aplicabilidade. É fundamental aperfeiçoar os estudos sobre a avaliação psicológica, de forma a acabar com falsos conflitos e preconceitos de que a avaliação é uma atividade mecanicista e descompromissada socialmente. Nota-se o aumento na quantidade de eventos relacionados a área e de publicações sobre o assunto, sendo que a produção quase triplicou em relação à década de 1980, o que indica o quanto a área da avaliação psicológica teve um notável crescimento nos últimos 20 anos. 2.3 Testes Psicológicos Utilizados na Avaliação Pericial dos Condutores A identificação dos testes psicológicos mais utilizados na avaliação pericial do psicólogo junto ao trânsito foi motivo de discussão e polêmica durante os últimos anos, buscando uma definição dos atributos a serem medidos e avaliados (ALCHIERI e NORONHA, 2007). Percebe-se que esses instrumentos referem-se, principalmente, a testes de personalidade, atenção, inteligência e raciocínio. Alchieri e Stroeher (2003 apud SILVA e ALCHIERI, 2007), observaram uma grande diversidade de testes psicológicos utilizados pelos psicólogos do trânsito, bem como a falta de padronização no processo avaliativo. Foram identificados diversos instrumentos usados para avaliar o condutor em todo o país, entre eles estão: G-36, G38 e R-1 (Testes Não-Verbais de Inteligência); CPS (Escalas de Personalidade de Comrey); BFM-1 (Bateria de Funções Mentais para Motoristas – Teste de Atenção); BFM-2 (Teste de Memória); BFM-3 (Teste de Raciocínio Lógico); AC (Atenção Concentrada); IFP (Inventário Fatorial de Personalidade); Z-Teste-Zulliger (Teste de Pesonalidade); STAXI (Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço); HTP (Teste Projetivo de Personalidade); PFISTER (Teste das Pirâmides); PMK (Psicodiagnóstico Miocinético); entre outros. Destaca-se que o uso do teste PMK foi suspenso no ano de 2012 pelo SATEPSI – Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), buscando algumas adequações. A aplicação do PMK, com uma seqüência de falhas e descumprimento de normas instituídas pelo CFP resultou na sua suspensão. 27 Entretanto já está em análise uma nova versão, instituída PMK 2012, que tem como objetivo analisar os estudos que atendem aos critérios obrigatórios instituídos pelo Conselho Federal de Psicologia. Caso seja aprovado, o teste voltará ao uso profissional dos psicólogos (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA SP, 2012). O Brasil pode ser considerado pioneiro na implantação de um sistema de certificação que utiliza de critérios internacionais de validade dos testes, de forma a conter os instrumentos usados profissionalmente em um país. A meta do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) é a busca pela qualidade dos instrumentos de avaliação psicológica, visto que inúmeros testes, utilizados na prática profissional, não eram baseados em estudos que comprovassem sua validade e fundamentos científicos. Sendo assim, o CFP analisa os testes psicológicos e disponibiliza uma lista de testes com pareceres favoráveis e desfavoráveis, e informativos ligados ao tema. Isso representa um importante avanço na área, dando maior credibilidade ao profissional, porém, é difícil saber o quanto esse avanço reflete na prática dos psicólogos (PRIMI, 2010). Vale ressaltar que no ano de 2012, após suspensão do teste PMK, o Detran da Bahia elencou os seguintes testes psicológicos que podem ser utilizados pelos profissionais: os testes de personalidade Palográfico, HTP, Zulliger ou Pirâmides Pfistter; os testes de atenção concentrada TEACO, AC, TACOM A ou TACOM B; o teste de atenção dividida TEADI; o teste de atenção alternada TEALT; os testes de atenção difusa TADIM 1, TADIM 2, TEDIF 1 ou TEDIF 2; o teste de atenção discriminativa TADIS ou TADIS I; o teste de atenção seletiva MPM; e os testes de inteligência R1, R1-B, TRAP ou BETA 3. Cabe ao psicólogo escolher, dentre esses testes, os que ele prefere utilizar, sendo que é obrigatório avaliar a personalidade, inteligência e três tipos de atenção. 2.3.1 Testes de Personalidade Os testes de personalidade representam a maior parcela de instrumentos disponíveis no mercado, haja vista que a avaliação da personalidade é imprescindível em diferentes contextos, assim como no contexto do trânsito (NORONHA et al, 2002). 28 Os testes de personalidade procuram medir as características da personalidade, em um momento determinado. Conforme Tebaldi e Ferreira (2009), a personalidade do indivíduo não muda quando ele se senta diante do volante do carro. Ou seja, no trânsito, as características da personalidade, como o desejo de ser mais corajoso, podem aparecer com intensidade porque essas características fazem parte da vida do indivíduo. Sendo assim, avaliar as características da personalidade é fundamental para prevenir comportamentos de risco. Dos testes de personalidade, verifica-se que o teste palográfico é amplamente utilizado. Conforme a Universidade Estácio de Sá (2003), o Teste Palográfico foi idealizado e elaborado pelo professor Salvador Escala Milá, do Instituto Psicotécnico de Barcelona, na Espanha. No Brasil, esse teste teve validação com os estudos do Professor Agostinho Minicucci, na década de 1960, que introduziu um Centro de Estudos de Grafoanálise (Análise da Escrita) e Testes Gráficos, sendo que, na década de 1970, o uso do Palográfico foi difundido largamente no país. Para Vels (1982, apud ALVES e ESTEVES, 2009), o teste Palográfico pode ser aplicado tanto a crianças a partir dos oito anos quanto em adolescentes e adultos, tendo uma estrutura simples, que consiste na realização de traços verticais. Sua aplicação é dividida em duas partes, tendo a primeira duração de dois minutos e trinta segundos, não devendo ser avaliada, mas apenas com o objetivo de diminuir as inibições naturais que os testes produzem nos indivíduos. A segunda parte possui caráter avaliativo e dura cinco minutos, sendo controlado o tempo de realização a cada minuto, no qual se diz a palavra “sinal” quando o examinando deve fazer um traço horizontal e continuar a tarefa. O Palográfico é uma técnica expressiva de avaliação da personalidade, podendo ser utilizado em processos de seleção de pessoas, em consultorias, em psicodiagnóstico, em psicotécnicos e outros contextos, por possibilitar o registro de uma série de observações úteis no diagnóstico de comprometimento de aspectos cerebrais, uso de álcool e outras drogas. De acordo com a Universidade Estácio de Sá (2003), o teste Palográfico avalia a personalidade tendo como base a expressão gráfica, sendo que a folha de papel utilizada para o teste representa o mundo no qual o sujeito se coloca afetivamente e a forma pela qual ele se relaciona com o meio externo, através 29 dos traçados. Sendo uma técnica projetiva de movimento expressivo, apresenta semelhanças com outros testes de personalidade que utilizam desenhos e grafias. Outro teste de personalidade utilizado para avaliação de condutores à primeira CNH, é o teste HTP. Este teste normalmente é aplicado nos candidatos que foram reprovados no teste palográfico. O HTP é uma técnica projetiva de desenho da CasaÁrvore-Pessoa (House-Tree-Person) que busca obter informação de como o sujeito experiência sua individualidade em relação aos outros e ao ambiente, estimulando a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito. Nessa técnica, solicitase que o sujeito faça um desenho a mão livre, inicialmente de uma casa, posteriormente de uma árvore e de uma pessoa. Em um segundo momento, é realizado um inquérito bem estruturado, em que são feitas perguntas relativas às associações sobre aspectos de cada desenho. Na avaliação, verificam-se sinais de psicopatologia baseados no conteúdo, no tamanho do desenho, localização, presença ou ausência de determinadas partes e as respostas durante o inquérito (BUCK, 2009). Já o teste de personalidade das pirâmides coloridas de Pfister foi criado por Max Pfister que se apoiou nas impressões subjetivas que as cores produziam nas pessoas. Max Pfister nasceu em Zurique e tinha dons artísticos que se revelaram desde bem jovem, porém por problemas de saúde precisou se afastar da dança, interessando-se pela psicologia. Estudou no Instituto de Psicologia Aplicada em Zurique e seu trabalho de conclusão de curso foi sua criação da técnica das pirâmides coloridas para avaliação da personalidade (VILLEMOR-AMARAL, 2012). O teste das pirâmides coloridas é composto de material simples e de fácil manuseio, que consiste em jogo com quadrículos coloridos composto de 10 cores subdivididas em 24 tonalidades, cartelas contendo o esquema de uma pirâmide, folha de aplicação e mostruário de cores. O psicólogo deve instruir o candidato a cobrir os espaços da pirâmide usando as cores que quiser até que fique satisfeito com a pirâmide colorida que se formou. Na análise deve considerar o modo de execução, modo de colocação dos quadrículos e as cores utilizadas. As cores mantêm um simbolismo universal e representam os afetos e emoções, por exemplo, a cor azul tem a conotação de cor fria e profunda, ligada ao pensamento e introversão; e o vermelho aparece como a cor do instinto e da paixão (VILLEMOR-AMARAL, 2012). 30 Por fim, o teste Zulliger (Z-teste) reflete a personalidade do indivíduo por meio de manchas de tinta não estruturadas, provocando associações com registros de experiências que geram as respostas, que serão transformadas em categorias e interpretadas no todo, sob os múltiplos aspectos do dinamismo perceptivo e associativo (WIENER, 1994 apud VILLEMOR-AMARAL, MACHADO e NORONHA, 2009). Esse teste foi construído durante a segunda grande guerra por Hans Zulliger a partir de estudos com o Rorschach, porém o Z-teste tem um conjunto de apenas três figuras. O material desse teste é constituído de três lâminas ou slides, três cartões, folhas de localização e folha de síntese. A aplicação coletiva é dividida em quatro fases: Apresentação, fase clara, fase escura e inquérito. 2.3.2 Testes de Atenção A atenção é uma qualidade da percepção, considerando a percepção como a entrada de todos os materiais do conhecimento, de toda a informação recebida pelo indivíduo. A atenção é uma função mental que exige um determinado nível de alerta, de vigília plena, que mantém o cérebro preparado para desempenhar suas funções em diversos contextos. A percepção de situações no trânsito produz comportamentos diferentes e, para que sejam produzidos comportamentos adequados, são necessários estímulos claros, um organismo em condições de perceber e reagir, assim como conhecimento dos sinais e normas presentes no contexto do trânsito. Dessa maneira, quando o condutor olhar para uma determinada placa de trânsito, deve compreender o que o sinal está transmitindo e qual o comportamento esperado, já que, se não houver a percepção correta do mesmo, haverá risco de acidente. A atenção aos sinais de trânsito é um dos aspectos que constroem o comportamento adequado e que deve ser avaliado quando da avaliação psicológica do condutor (ROZESTRATEN, 1988). Com relação aos testes de atenção utilizados na avaliação de candidatos à primeira habilitação, a Bateria de Funções Mentais para Motorista (BFM-1) obteve parecer favorável do CFP. Esta Bateria, segundo Tonglet (2007, p. 22), “se constitui num conjunto de instrumentos psicológicos destinados à investigação, avaliação, classificação e padronização das funções psíquicas consideradas fundamentais para o 31 condutor”. Os testes de atenção da BFM-1 são particularmente importantes, pois “o examinando [...] em certo momento tem que utilizar sua atenção de forma difusa, num outro momento precisa empregar sua atenção de maneira concentrada e ainda em outro instante focaliza sua atenção de modo discriminativo” (TONGLET, 2007, p. 24). Assim, percebe-se que os testes da BFM-1 avaliam três aspectos da atenção: a atenção difusa (TADIM), a atenção concentrada (TACOM) e a atenção discriminativa (TADIS). A atenção difusa é chamada de função de vigilância e consiste na capacidade de estar atento e em busca de estímulos; é uma função mental que focaliza diversos estímulos dispersos espacialmente de uma só vez. A atenção concentrada consiste na capacidade de selecionar o estímulo relevante do meio e dirigir sua atenção para esse estímulo; é uma função mental de focalização. A atenção discriminativa é uma função mental que, ao focalizar estímulos diferentes, separa-os considerando somente o estímulo de interesse e emite respostas específicas a ele (BRAGA, 2007). Na avaliação psicológica de candidatos à primeira habilitação, Tonglet (2007) afirma ser importante que os três níveis de atenção sejam considerados para que o desempenho dos testes seja analisado de forma integrada. Os três testes de atenção da BFM têm sido utilizados na avaliação psicológica no trânsito em candidatos à obtenção da CNH e, para isso, as placas de sinalização de trânsito são apresentadas como estímulo. O autor recomenda que, na primeira avaliação, sejam realizados os testes de atenção partindo do simples para o complexo (por exemplo, TACOM A – TADIM – TADIS 1) e, sendo necessário reteste, aplicar a ordem seguinte: TACOM B – TADIM 2 - TADIS 2. A aplicação desses testes pode ser individual ou coletiva, podendo ser aplicados a sujeitos alfabetizados até sujeitos com nível superior de instrução. Outro instrumento de avaliação da atenção bastante aplicado no contexto de trânsito é o Teste AC, que avalia especificamente a habilidade que o sujeito tem de manter sua atenção concentrada no trabalho, por um período de tempo. Esse teste é uma produção nacional, de autoria de Suzy Vijande Cambraia e foi editado pela Vetor em 1967. Há indicações no manual de que o teste pode ser aplicado em todos níveis de escolaridade e não têm limites de idade. A aplicação possui duração de cinco minutos e pode ser individual ou coletiva. O material é composto por manual, crivo de correção e folha de respostas (ALCHIERI e NORONHA, 2007). Embora o teste AC não tenha sido 32 criado com a intenção de ser um instrumento específico para a avaliação de motoristas, e sim para ser utilizado nas mais diversas situações, atualmente sua utilização é muito comum na realização dos exames psicológicos para obtenção da CNH. Para a avaliação da atenção seletiva há o Teste de Medida de Prontidão Mental (MPM). O teste MPM se propõe a verificar a capacidade de atenção seletiva, e a rapidez perceptual, possibilitando identificar diferenças individuais em percepção visual. Esse tipo de atenção exige do sujeito esforço em reconhecer, discriminar e recordar imediatamente os elementos da figura que permite comparar com outras durante sua busca visual. O processo de realização do teste implica na procura de 60 pares de figuras exatamente iguais, em distâncias e posições variadas, demandando uma atenção seletiva. Este teste pode ser aplicado coletiva ou individualmente e o tempo de aplicação é de sete minutos e meio, sendo indicado para pessoas de 16 anos até 50 anos de idade (PIOVANI, 2006). 2.3.3 Teste de Inteligência e Raciocínio Segundo Green (1998), uma definição da inteligência foi apresentada no "Mainstream Science on Intelligence", assinada por 52 pesquisadores em inteligência, em 1994, afirmando que é uma capacidade mental, que entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. O conceito refere-se a uma capacidade ampla e profunda de compreensão do mundo à volta, algo como entender ou ter uma melhor percepção sobre o sentido das coisas. A inteligência é também uma capacidade avaliada no contexto de trânsito. Observa-se que a avaliação da inteligência ocupa, na maioria das vezes, um papel central na avaliação das capacidades das pessoas que desejam obter carteira de habilitação para dirigir veículos automotores. De acordo com Sisto, Bartholomeu e Fernandes (2005 apud NAKANO, SAMPAIO e SILVA, 2011), isso ocorre pelo fato da inteligência ser um aspecto socialmente valorizado e por existirem pesquisas que revelam existência de relação entre inteligência pobre e maior envolvimento em 33 acidentes de trânsito, assim como maiores dificuldades de aprender a dirigir e no próprio ato de dirigir. Em relação ao teste R-1, este pode ser incluído como um dos testes mais utilizados nesse contexto e construído com base na teoria geral de inteligência, podendo avaliar pessoas com baixo nível de escolaridade. Esse teste foi criado pelo psicólogo Rynaldo de Oliveira e editado pela Vetor Editora em 1973. Caracteriza-se por ser um instrumento não verbal de inteligência e seu manual possui informações sobre validade e precisão obtidos com pessoas que foram avaliadas por psicólogos peritos em trânsito. Este teste é constituído por 40 itens, que constituem figuras nas quais há uma parte faltando e o candidato deve selecionar, dentre as alternativas, a resposta que completa corretamente a figura (ALVES, 2009). Os materiais do teste R-1 são: caderno de questões, folha de respostas, crivo de correção e manual com as instruções do teste. A aplicação pode ser individual ou coletiva e as respostas devem ser anotadas pelo examinando na folha de respostas. Já o Teste de Raciocínio Lógico de Placas (TRAP-1), que faz parte da BFM-3, foi elaborado com a finalidade de investigar, avaliar e mensurar o raciocínio lógico dos candidatos à obtenção da CNH, motoristas que estão mudando a categoria, bem como aqueles profissionais que estão renovando os exames. O raciocínio lógico é a função mental cujo procedimento intelectual envolve a interação e conexão entre vários mecanismos operativos do pensamento que são encadeados de modo lógico, com finalidade de adquirir e verificar um conhecimento. Na construção do TRAP-1 foram utilizadas placas de regulamentação, de advertência e outros sinais de trânsito que são apresentados de forma colorida. O TRAP-1 é composto de 40 questões e o encadeamento das questões obedece um grau de complexidade progressiva, sendo que pode ser aplicado com marcação dos tempos (10, 15, 20 minutos) ou com tempo livre. Compõem o material do teste: manual do BFM-3, caderno do teste, folha de respostas, crivo de apuração e crivo de análise de erros. Vale ressaltar que a validade do TRAP-1 foi dada através da validade simultânea com o R-1 (TONGLET, 2001). O Teste BETA-III, conhecido internacionalmente como Revised Beta Examination, é também uma importante ferramenta para avaliação da inteligência geral. Há a padronização brasileira dos subtestes de Raciocínio Matricial e de Códigos, que 34 tem por objetivo a avaliação do raciocínio geral e velocidade de processamento em adolescentes e adultos. Pode ser aplicada coletiva ou individualmente, com tempo de cinco minutos para o subteste Raciocínio Matricial, e de dois minutos para o subteste Códigos, sendo que pode-se optar por apenas um subteste. Geralmente é aplicado nos contextos de avaliação educacional, organizacional, do trânsito e demais áreas; sendo que o manual apresenta estudos sobre amostra de trânsito. O material do teste consiste em manual, caderno de aplicação do subteste de Raciocínio Matricial, bloco de folha de resposta de ambos subtestes e crivo de correção de ambos subtestes (KELLOGG e MORTON, 2011). 2.4 A Importância da Avaliação Psicológica para Redução de Acidentes de Trânsito Na avaliação psicológica no contexto de trânsito considera-se fundamental avaliar o condutor de veículos em relação aos diversos aspectos do comportamento, afinal “pelo menos 80% dos acidentes são devidos a fatores humanos” (ROZESTRATEN, 1988, p.28). Desse modo, a Psicologia do Trânsito busca avaliar fatores humanos que podem induzir à falhas e insegurança no trânsito e diminuir a alta incidência de acidentes. Considera-se como acidente de trânsito todo acontecimento ocorrido com veículos automotores em uma via pública, resultando em danos materiais e/ou pessoais, havendo uma interrupção abrupta da atividade através de evento inesperado (LUZ, 1994 e ROZESTRATEN, 1988 apud MÉA e ILHA, 2007). “Os acidentes de trânsito podem ser causados por falhas mecânicas, pela imprudência dos motoristas, pelas condições de trabalho dos profissionais, por problemas de trânsito e outras” (LUZ, 1994, p.273). Os estudos sobre acidentes de trânsito (AT) no Brasil, assim como as ações de prevenção e controle ainda são escassos, pouco se conhece a respeito do comportamento do condutor e pedestre, das condições de segurança das vias e veículos, da engenharia do tráfego e das conseqüências dos acidentes. Percebe-se que nos países desenvolvidos há considerável esforço no sentido de controlá-lo, porém nos 35 países em desenvolvimento, ele aparece como um problema em crescimento (MARIN e QUEIROZ, 2000). “No ano 2000, mais de 1,2 milhões de pessoas morreram como conseqüência de acidentes de trânsito, fazendo desta a nona causa mais importante de morte no mundo. Há previsão de que no ano 2020 esta cifra praticamente duplique. Além das surpreendentes taxas de mortalidade, os traumatismos por acidentes de trânsito constituem uma das principais causas de perdas da saúde e vultosa despesa para o sistema de saúde” (WHO, 2003 apud HOFFMANN e LEGAL, 2007). No Brasil, o trânsito de veículos é considerado um dos piores e mais perigosos do mundo, obtendo alto índice de acidentes de trânsito. De 1992 a 1996, houve um acréscimo de 24% no número de mortes por AT, de acordo com o DENATRAN (1997), sendo o índice de fatalidade, pelo menos, duas vezes maior do que o encontrado em países desenvolvidos. Em 73,1% dos casos, os principais envolvidos em AT são pessoas do sexo masculino, sendo que os jovens são as principais vítimas, e a faixa etária que contém um número mais significativo destas, com 24,32% do total, é a que vai dos 15 aos 24 anos (DENATRAN, 1997). Os adolescentes podem apresentar maior freqüência de infração pelo forte desejo de aventura ou vontade de se destacar, e os adultos possivelmente revelam aspirações primitivas de poder (MARIN e QUEIROZ, 2000). De acordo com Paschoal (1995 apud MÉA e ILHA, 2007), os acidentes de trânsito têm sido observados e analisados pela Psicologia porque alguns fatores psicológicos são responsáveis pela maioria dos acidentes. Dentre esses fatores destaca-se a insegurança, depressão, desespero, impulsividade e agressão. Para esse autor, o exame psicológico deve “inaptar” quem apresenta traços de personalidade perturbada, impulsividade e agressividade não controladas. Hoffmann e Legal (2007), pontuam, entre os erros mais freqüentes que precedem um acidente, os erros de percepção, de processamento, na execução da manobra e de tomada de decisão. Kaiser (1979 apud MARIN e QUEIROZ, 2000) também considera como um aspecto psicológico importante para o condutor à tomada de decisão no trânsito, a qual sofre intervenção de percepção, juízos, motivações e outras atividades psíquicas. As situações de trânsito obrigam o indivíduo a tomar 36 decisões em frações de segundos, sendo que o condutor pode apresentar uma decisão inadequada em razão de uma perturbação transitória, como nos casos de fadiga, estresse, sobrecarga emotiva ou embriaguez. Percebe-se que o trânsito, com os congestionamentos de veículos cada vez mais freqüentes e longos, os ruídos e a violência, contribui para aumentar os níveis de estresse. Assim como o próprio estresse é agente causal de vários acidentes. A pesquisa de McMurray (1970 apud HOFFMANN e LEGAL, 2007) revelou que em períodos em que a pessoa se envolve em situações estressantes, como divórcio e morte de ente querido, a possibilidade de sofrer um acidente aumenta consideravelmente, podendo até duplicar. É interessante pontuar que existem condutores que para reduzir o seu estresse, fazem uso de determinados medicamentos ou de álcool. O estudo de Moura et al (2009) apresenta uma relação entre consumo abusivo de álcool e acidentes de trânsito. Pesquisas mostram que o nível de álcool no sangue produz diferentes alterações neuromotoras, assim como diminuição da atenção, uma falsa percepção da velocidade e falso juízo de confiança. O consumo de bebidas alcoólicas pelos condutores é considerado um problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento. Embora o art. 165 do Código Brasileiro de Trânsito considere dirigir alcoolizado como uma infração gravíssima na qual o sujeito poderá ser multado e até suspenso do direito de dirigir com apreensão do veículo, o índice de adultos que afirmam dirigir veículos motorizados após o consumo de bebidas alcoólicas ainda é elevado (DUALIBI et al, 2007). Portanto, é importante conscientizar a população da necessidade de conhecer o padrão de consumo e o tipo de pessoas mais vulneráveis, características essenciais para subsidiar políticas públicas de promoção da saúde e prevenção de um comportamento de risco (MOURA et al, 2009). Um outro problema freqüente entre a população geral é o transtorno mental da depressão. Muitas pessoas que desenvolvem depressão atuam como motoristas e são desinformadas das alterações que ela gera nas capacidades psicofísicas necessárias para dirigir. Dentre essas alterações, pode-se destacar a diminuição da atenção, tendência suicida, alterações de sono, alterações da capacidade de tomada de decisão, 37 diminuição da capacidade de processamento de informações e de reconhecimento visual (HOFFMANN e LEGAL, 2007). Diante dessas questões, percebe-se que no contexto de países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a grande diferença nos níveis de AT está estreitamente vinculada à responsabilidade que o poder público tem de implementar políticas adequadas e fazer cumprir a lei. No Brasil, os elevados índices de AT estão associados à falta de fiscalização da legislação e de políticas públicas adequadas (MARIN e QUEIROZ, 2000). Além da possibilidade de punir o infrator, é fundamental a educação no trânsito, que exigirá um esforço considerável de integração de vários órgãos federais, estaduais e municipais, como os Ministérios do Transporte, da Saúde, da Educação, do Trabalho, da Justiça, e o Sistema Único de Saúde. É previsto que as escolas de ensino fundamental, médio e as universidades contemplem vários tipos de atividades nesse sentido. A questão referente à educação de reincidentes é outro aspecto importante para a diminuição dos índices de AT. Contudo, a mudança que trará uma alteração significativa de comportamento e, conseqüentemente, na cultura do trânsito, será um processo que demandará um tempo considerável (MARIN e QUEIROZ, 2000). Com a legalização do atual Código de Trânsito Brasileiro, considera-se necessária a busca por um trânsito mais humanizado. Para alguns pesquisadores talvez esteja faltando conhecer mais o perfil das pessoas que conduzem veículos, aspectos como o que eles pensam sobre os automóveis, qual o sentimento de quando estão dirigindo na presença de outras pessoas e de outros automóveis, qual o sentimento de quando passam por uma situação de risco, como explicam a falta de respeito às normas de trânsito na prática (SPARTI e SZYMANSKI, 2008). Aprimorar os estudos sobre os processos psicológicos é algo essencial para a segurança no trânsito, já que nesse momento os resultados mostram o malfuncionamento do motorista. Aspectos relacionados a violações e erros são características dos comportamentos inadequados ao dirigir, como por exemplo, passar por um sinal vermelho. Vale salientar que no trânsito circulam pessoas, que no momento que estão dirigindo apresentam emoções, objetivos, passam por obstáculos, 38 podem demonstrar solidariedade, ou comportamentos de impaciência, vingança e violência (VEIGA et al, 2009; SPARTI e SZYMANSKI, 2008). Alguns estudos revelam conexão significativa entre personalidade e risco de AT. Uma pesquisa na Austrália, por exemplo, comparou cem indivíduos culpados de acidentes graves com cem controles pareados. Os casos apresentaram maior freqüência de sintomas psiquiátricos, como ansiedade, impulsividade e falta de consciência social. Relataram com maior freqüência eventos de vida desfavoráveis nas quatro semanas prévias ao acidente (WHO, 1976 apud MARIN e QUEIROZ, 2000). Grisci (1991 apud SILVA e ALCHIERI, 2010) investigou a relação entre acidentes de trânsito e o comportamento agressivo no teste Gestáltico Visomotor de Bender, sendo que participaram da pesquisa 60 motoristas profissionais. Os resultados revelaram que o grupo com histórico de acidentes teve um nível maior de agressividade, atuação e dificuldade no controle dos impulsos agressivos em comparação ao grupo sem esse histórico. Por outro lado, verifica-se que existem poucas pesquisas que comprovam a validade preditiva da avaliação psicológica em relação aos acidentes e infrações de trânsito. Sem evidências significativas, tal causalidade é apenas conjectura. Duarte (1999 apud SILVA e ALCHIERI, 2010) pesquisou o instrumento de atenção concentrada (AC), o Toulouse-Pierón e dois instrumentos de personalidade para verificar a validade preditiva com relação aos comportamentos de 182 condutores. Os resultados não evidenciaram diferenças significativas no teste AC entre os condutores infratores e os que não cometeram infrações. Também não houve correlação entre os resultados do teste projetivo Bender e no Inventário Fatorial de Personalidade (IFP), só teve correlação entre o número total de infrações e os fatores de assistência e deferência. “A literatura em psicologia do trânsito, tanto nacional quanto internacional, tem questionado se avaliar aspectos psicológicos dos motoristas traz uma efetiva colaboração para a diminuição dos acidentes ou das infrações” (SILVA E ALCHIERI, 2008, p.57). De acordo com esses autores, em cinco décadas, não houve avanço suficiente para responder aos questionamentos e anseios básicos da sociedade sobre a obrigatoriedade da avaliação psicológica no contexto do trânsito; assim como sobre os 39 ganhos efetivos com a segurança do trânsito e diminuição dos acidentes, que justifiquem o custo financeiro que os cidadãos despendem no processo. Desse modo, ressalta-se novamente a necessidade de investimento em pesquisas com o objetivo de clarificar a relação entre aspectos psicológicos e o comportamento do condutor. Para isso acontecer, o complexo sistema de trânsito precisa formular políticas públicas adequadas para a área, nas quais o psicoteste seja também utilizado como um dado para futuras pesquisas e não apenas como o aspecto principal da aquisição da CNH. É fundamental o acompanhamento dos condutores por um período, para que se possa realizar uma análise mais aprofundada da possível relação que envolve a avaliação psicológica e acidentes e infrações no trânsito (GOUVEIA et al, 2002). Acredita-se que relacionar a avaliação psicológica com as estatísticas reais do trânsito é um caminho para diagnosticar e propor novos caminhos para um sistema de trânsito seguro. 40 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Ética Por tratar-se de dados secundários, não houve necessidade do projeto de pesquisa ser submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, para atender à Resolução 196/96 do CNS-MS. Porém, todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa, que não incorriam em nenhum tipo de risco. Foi apresentado a cada participante um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em que ele autorizava a sua participação na pesquisa e era informado sobre aspectos importantes da mesma, como o fato de poder interromper sua participação a qualquer momento, que seu nome não será divulgado, que não terá despesas e não receberá dinheiro por participar do estudo. 3.2 Universo Esse trabalho utilizou o método de revisão de literatura sobre o trânsito e a avaliação psicológica no processo de habilitação de condutores. Foi realizada uma pesquisa de campo para avaliar a percepção dos candidatos à CNH. Os dados da pesquisa foram coletados em uma clínica na cidade de Camaçari que fica situada no Estado da Bahia; sendo que esta clínica é credenciada pelo Detran-BA. Em Camaçari, no momento, existem quatro clínicas credenciadas para avaliação psicológica de condutores de veículos de diferentes categorias e graus de habilitação. Camaçari fica localizada a 41 quilômetros da capital da Bahia, Salvador, e o município é também conhecido por Cidade Industrial, é considerada a quarta cidade mais populosa do estado e segunda maior cidade da Região Metropolitana de Salvador. Possui uma área equivalente a 785 quilómetros quadrados, com uma população de em média 242.970 habitantes (IBGE, 2010). 41 3.3 Amostra Participaram da pesquisa 101 indivíduos, sendo 66 homens e 35 mulheres, que realizaram avaliação psicológica pela primeira vez para obtenção da CNH. Os candidatos após a finalização da avaliação psicológica foram convidados a participar da pesquisa e os que concordaram receberam os questionários. Os dias e horários escolhidos para realização das entrevistas foram aleatórios. Com relação a escolaridade dos participantes, tiveram candidatos do 1º grau, 2º grau e nível superior. 3.4 Instrumento de Coleta de Dados Foi elaborado um instrumento estruturado, que consiste em um questionário com perguntas objetivas, buscando obter informações com relação aos objetivos da pesquisa. 3.5 Procedimentos para Coleta de Dados Em um primeiro momento foi realizado contato com uma clínica em Camaçari, credenciada pelo Detran da Bahia, informando os objetivos da pesquisa e solicitando autorização para aplicação dos questionários na própria clínica, através de assinatura do termo de autorização, pela pessoa responsável. Posteriormente, a própria pesquisadora aplicou o questionário nas pessoas que realizaram avaliação psicológica pela primeira vez e foi entregue juntamente o termo de consentimento para cada participante. Os participantes só responderam ao questionário após terem finalizado a avaliação psicológica. Esses questionários foram aplicados no período de 01 de setembro a 30 de outubro de 2012, e nesse período 101 pessoas aceitaram participar da pesquisa. 42 3.6 Procedimentos para Análise dos Dados Na análise dos resultados, inicialmente os dados foram organizados e contabilizados, calculando-se posteriormente a freqüência dos dados, segundo as variáveis da pesquisa. Em um segundo momento, observou-se possíveis diferenças de média em cada uma das questões com relação ao sexo. Os resultados foram também apresentados na forma de figuras, para melhor visualização dos dados. 43 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na questão referente à importância da avaliação psicológica na obtenção da CNH, 99% dos participantes, ou seja, 100 pessoas responderam “sim”, consideram essa avaliação importante, conforme demonstrado na figura 01. Figura 01 – Importância da realização da avaliação psicológica para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), em porcentagem (%), para o município de Camaçari-BA. Sim Não 1% 99% Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012. Aprofundando o resultado com relação ao sexo, identificou-se que 66 homens participaram da pesquisa e desses 66 homens, ou seja, 100% dos homens participantes, 65 (98,48%) apresentaram respostas positivas. Com relação às mulheres, 35 participaram da pesquisa e todas as mulheres (100%) apresentaram respostas positivas. Isso revela uma pequena diferença entre os sexos, que não é significativa para análise. Pode-se observar que essa questão apresentou uma alta porcentagem de concordância sobre a importância da avaliação psicológica. Esse resultado corrobora o resultado da pesquisa de Lamounier e Rueda (2005) em que se concluiu que a avaliação psicológica nesse contexto de trânsito era importante para a população estudada; contudo ambos os resultados vão de encontro com os achados de Gouveia et al (2002), que verificaram justamente o oposto. Uma hipótese é a de que as pesquisas mais recentes, em 2005 e a presente pesquisa de 2012, já revelam um 44 resultado positivo, o que pode ser atribuído a uma maior valorização da avaliação psicológica no trânsito. No Brasil, a implantação do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) possibilitou uma maior qualidade dos instrumentos de avaliação psicológica, através de estudos que comprovem a validade e fundamentos científicos dos testes utilizados pelos profissionais. O Conselho Federal de Psicologia avalia os testes psicológicos e disponibiliza os pareceres, o que, segundo Primi (2010), representa um importante avanço na área, que dá maior credibilidade ao trabalho do psicólogo. Ainda existirem diversos pontos a serem melhorados na avaliação psicológica com objetivo de obter a CNH, como deficiente capacitação dos profissionais, condições inapropriadas para aplicação dos testes e falta de critérios de avaliação. Por outro lado, percebe-se que os profissionais, com a cobrança de realizarem uma especialização na área de Psicologia do Trânsito, estão buscando maior capacitação e desenvolvimento profissional, o que lhes dão elementos para mostrar à população a importância do seu trabalho. De alguma maneira, isso já pode estar refletindo na população que revela posicionamento favorável quanto à importância dada ao processo de avaliação dos candidatos a condutor. Para Noronha (2002) e Primi (2010), essa prática está em momento de aprimoramento, verifica-se que a produção de publicações da área quase triplicou nos últimos 20 anos; com isso almeja-se que a avaliação psicológica seja considerada atividade importante e imprescindível. Gouveia et al (2002) afirma que depende dos profissionais mostrarem a utilidade de seu serviço e que se espera que suas práticas sejam sentidas pela população geral. Com o resultado dessa primeira questão da pesquisa, verifica-se que a população que participa do processo de avaliação psicológica para obter a CNH já está sentindo maior confiança e dando importância ao trabalho do psicólogo que atua no trânsito. A figura 02 apresenta os resultados referentes à questão que aborda se o participante concorda que, o candidato reprovado na avaliação psicológica não pode dirigir um veículo. Verifica-se que 70 participantes responderam que “sim”, ou seja, 69,3% das respostas foram positivas. 45 Figura 02 – Candidato reprovado na avaliação psicológica não pode dirigir um veículo. Sim Não 30,7% 69,3% Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012. Com relação ao sexo, identificou-se que considerando o total da amostra masculina pesquisada de 66 homens (100%), 47 (71,21%) apresentaram respostas positivas e do total da amostra feminina de 35 mulheres (100%), 24 (68,5%) apresentaram respostas positivas. Esse dado revela uma diferença pequena entre os sexos, que também não é significativa para análise. De acordo com Silva (2005), o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) aprovou resolução que tornou obrigatório avaliar psicologicamente os requerentes a CNH, não sendo concedida habilitação aos candidatos considerados inaptos. Portanto, seguindo as recomendações da Resolução 267/2008 do CONTRAN, ao ser avaliado pelo psicólogo o candidato deverá ser considerado inapto temporário quando apresentar deficiência no desempenho com possibilidade de melhora, sendo avaliado novamente após um período; e será considerado inapto, após ter sido submetido a avaliação psicológica algumas vezes e não apresentar desempenho apropriado para condução de veículo. Nesta questão da pesquisa, quanto ao fato de que caso o candidato seja reprovado na avaliação psicológica ele não pode dirigir um veículo, verificou-se uma significativa diminuição de respostas positivas com relação à questão anterior. Considera-se como hipótese para esse dado a de que a população no Brasil possui o entendimento de que o ato de dirigir é um “direito” deles e não aceitam facilmente perdê-lo, principalmente observando a população pesquisada, que é do interior da Bahia, onde é muito comum que as pessoas aprendam a dirigir desde criança com os 46 próprios pais e já o fazem muito antes de ter idade para dirigir, perante a lei do país. Afinal, é contraditório que os participantes considerem que a avaliação psicológica no trânsito é importante e por outro lado o candidato que fosse reprovado nessa avaliação pudesse dirigir normalmente, não tendo nenhum efeito ou repercussão para a segurança das pessoas no trânsito. Méa e Ilha (2007, p.276) afirmaram que por meio da avaliação psicológica “devese inaptar quem apresenta traços de personalidade perturbada, impulsividade e agressividade não controlada”. O Conselho Federal acredita que os testes psicológicos utilizados no exame de habilitação de condutores, quando são aplicados corretamente, podem efetivamente contribuir para impedir a presença de maus condutores. Ao avaliar os resultados no que diz respeito a se a avaliação psicológica contribui para identificar comportamentos adequados para o trânsito, verificou-se que 95 participantes, que correspondem a 94% do total de participantes, concordam com a questão formulada, conforme figura 03. Essa questão apresentou uma alta porcentagem de respostas afirmativas, o que pode demonstrar que os participantes conseguem perceber que para dirigir com segurança é necessário ter algumas habilidades e comportamentos específicos, que a avaliação psicológica consegue identificar. Determinadas habilidades e comportamentos devem ser investigados na avaliação psicológica no trânsito, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, como: atenção, percepção, tomada de decisão, nível mental, equilíbrio psíquico, ausência de quadro patológico, controle adequado da agressividade e impulsividade, ajustamento pessoal-social, entre outras (DUARTE, 2007). A avaliação psicológica é uma atividade ampla e complexa, que, através de entrevistas, dinâmicas, observações e aplicação de testes, permite ao psicólogo interpretar traços do comportamento humano (PRIMI, 2010; LAMOUNIER e RUEDA, 2005). Portanto, os participantes da pesquisa, assim como esses autores citados, acreditam que a avaliação psicológica pode contribuir para identificar comportamentos adequados dos condutores no trânsito. Por outro lado, observa-se que 6% dos participantes não concordaram que essa avaliação contribui para identificar comportamentos adequados para o trânsito. Pode-se pensar que esse dado reflete a falta de critérios estabelecidos que definam o que é ser 47 um bom condutor nos dias atuais com base em pesquisas e dados objetivos divulgados para a população. Para Gouveia et al (2002) existe pouco conhecimento sobre o que realmente diferencia os bons dos maus condutores; e deve ser uma tarefa dos psicólogos buscarem, através do banco de dados informatizado, os tipos de infrações de trânsito e suas causas relacionadas ao comportamento do condutor. Figura 03 - Avaliação psicológica contribui para identificar comportamentos adequados para o trânsito. Sim Não 6% 94% Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012. Com relação ao sexo dos participantes, considerou-se que do total da amostra masculina pesquisada de 66 homens (100%), 63 (95,4%) apresentaram respostas positivas e do total da amostra feminina, 33 mulheres (94,2%) apresentaram respostas positivas. Esse dado revela uma diferença pequena entre os sexos, que também não é significativa para análise. Com relação à questão referente a se a avaliação psicológica pode ajudar a diminuir o risco de acidentes de trânsito, apresentada na figura 04, constata-se que 87,1%, que correspondem a 88 participantes, indicaram respostas afirmativas. 48 Figura 04 - Avaliação psicológica pode ajudar a diminuir o risco de acidentes. Sim Não 12,9% 87,1% Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012. A questão referente a se a avaliação psicológica pode ajudar a diminuir o risco de acidentes de trânsito teve na sua grande maioria uma percepção positiva. Segundo Lamounier e Rueda (2005) o objetivo da avaliação psicológica pericial no contexto do trânsito é de realizar um trabalho preventivo, sendo possível diminuir a possibilidade do condutor se expor as situações de risco de acidentes. Percebe-se que não é possível prever que uma pessoa que apresenta traços agressivos e impulsivos vá manifestar esse comportamento no trânsito, pois ela pode canalizar esse comportamento quando dirige e manifestá-lo em outro ambiente. Em virtude de ser um trabalho preventivo, torna-se necessário evitar que essa pessoa dirija e venha a se expor em uma situação de risco podendo envolver outras vítimas. Todavia, houve diminuição de respostas positivas com relação à questão anterior, podendo-se levantar a hipótese de que apesar da avaliação psicológica ser realizada de forma obrigatória, não foram divulgadas pesquisas para a população que comprovem realmente a redução do número de acidentes de trânsito. Percebe-se que o Brasil ainda é carente em pesquisas e que poucas delas investigaram e fornecem subsídios para a compreensão de acidentes de trânsito associadas às características da personalidade. Dessa maneira, não há comprovação empírica consistente de que a avaliação psicológica ajuda a diminuir o risco de acidentes. Apesar disso, pode-se considerar, através do resultado da pesquisa, que há grande confiança da população no trabalho do psicólogo em auxiliar na segurança do trânsito e na diminuição de acidentes. 49 Observam-se nos dados da pesquisa, com relação ao sexo dos participantes, que nessa questão também não houve uma diferença significativa da percepção entre os sexos. Do total da amostra masculina pesquisada, 59 homens (89,3%) apresentaram respostas positivas e do total da amostra feminina, 31 mulheres (88,5%) apresentaram respostas positivas. Por fim, 88 participantes (87,1%) responderam que a avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência, sendo realizada na renovação da CNH, conforme demonstra a figura 05. Figura 05 - Avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência. Sim Não 12,9% 87,1% Fonte: Dados da Pesquisa. Camaçari/BA. 2012. A questão com relação a maior freqüência da realização da avaliação psicológica, sendo realizada na renovação da CNH, também teve na sua grande maioria uma percepção positiva. Atualmente a avaliação psicológica é realizada em caso de renovação da CNH dos condutores profissionais, como estabelecido na resolução número 168/2004. Contudo, os condutores não profissionais, só precisam passar pela avaliação psicológica em um primeiro momento; já o exame de aptidão física e mental é feito a cada renovação da CNH. Pode-se verificar que a maioria das pessoas se submete à avaliação psicológica no contexto de trânsito apenas uma vez, não havendo um acompanhamento do psicólogo na renovação da CNH. Isso torna menos eficaz o trabalho do psicólogo, pois assim como uma pessoa pode vir a desenvolver com o passar dos anos uma dificuldade na visão, ela também pode apresentar um transtorno psicológico ou mudar 50 características do comportamento, se tornando mais agressivo. O ser humano se transforma o tempo todo, então dificilmente um psicólogo poderá prever que ele terá características de um bom condutor ao longo de toda a sua vida. Portanto, assim como percebido pela maioria dos participantes da pesquisa, é realmente importante que o exame psicológico seja realizado com maior periodicidade. Observa-se que apesar dos participantes da pesquisa acreditarem na importância da avaliação psicológica, alguns deles não gostariam de ser submetidos a esta com maior freqüência. É possível perceber que a avaliação psicológica além de trazer um desgaste emocional para o candidato, pode fazer com que ele deixe de atuar como condutor e é mais um custo financeiro. Dessa maneira, alguns condutores podem ter dificuldade no pagamento periódico da avaliação. Considera-se a partir dos dados da pesquisa, que do total da amostra masculina pesquisada, 61 homens (92,4%) apresentaram respostas positivas e do total da amostra feminina, 28 mulheres (80%) apresentaram respostas positivas. Em relação à diferença das respostas entre os sexos, somente essa questão referente a se avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência é que indicou diferenças significativas, sendo mais homens do que as mulheres perceberam essa necessidade. Isso pode ocorrer pelo fato dos homens observarem mais as dificuldades no trânsito e as imprudências dos condutores, afinal na grande maioria dos acidentes os principais envolvidos são pessoas do sexo masculino. Segundo Andrade e Jorge (2000), os homens vivenciam mais violência no trânsito do que as mulheres; sendo que as ocorrências no grupo das mulheres geralmente estão relacionadas à condição de passageiros, divergente dos homens, que se traumatizam como os condutores. Isso parece estar ainda relacionado às normas sociais aceitas, de que o homem é quem deve assumir o veículo, na maioria dos casos. 51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trânsito ocupa um papel fundamental na vida das pessoas, onde todos necessitam dele para se locomover e participam de alguma maneira, seja como condutor, pedestre ou passageiro. Os estudos acerca da Psicologia do Trânsito são relevantes para o conhecimento dos comportamentos individuais e sociais do homem neste tipo de situação, contribuindo para uma relação com o trânsito mais harmônica. Afinal ao se compreender mais acerca do comportamento humano no trânsito é possível fazer um trabalho preventivo, diminuindo as possibilidades de um condutor se colocar em situações de risco, o que dá maiores condições de segurança. De acordo com Noronha (2002), é inconcebível que as intervenções ocorram sem que seja precedido as avaliações psicológicas, já que é fundamental para uma atuação adequada. A avaliação é relevante para a tomada de decisões, ou seja, serve para orientar uma ação de forma mais segura para o trabalho do psicólogo. Esse estudo teve como objetivo analisar a opinião da população de candidatos a CNH da cidade de Camaçari/BA em relação a questões referentes à avaliação psicológica no contexto de trânsito. Dessa maneira, analisando os resultados encontrados, verificou-se que, no geral, a maioria da amostra concorda sobre a importância da prática da avaliação psicológica para o trânsito, afinal todas as questões pesquisadas revelaram altas porcentagens de respostas afirmativas. A questão que dizia respeito a se a avaliação psicológica era importante foi a que apresentou maiores porcentagens de respostas afirmativas (99%), seguida pela questão relacionada à avaliação psicológica contribuir para identificar comportamentos adequados para o trânsito (94%). Percebe-se grande valorização da avaliação psicológica no contexto de trânsito pela população estudada, o que indica o avanço da Psicologia do Trânsito, com aumento de publicações científicas, maior credibilidade dos profissionais e compreensão da contribuição da avaliação psicológica para ter condutores com habilidades e comportamentos adequados no trânsito. Apesar dos participantes da presente pesquisa perceberem a avaliação psicológica como importante, ainda não há consenso entre os psicólogos sobre a 52 necessidade da realização da avaliação psicológica para a pessoa adquirir a CNH. De acordo com diversos autores, o campo da avaliação psicológica de condutores possui muitas dificuldades e limitações em sua fundamentação e exercício, não existindo clareza sobre sua validade em relação ao aumento da segurança nos deslocamentos nas vias públicas. Quanto à questão da avaliação psicológica ajudar a diminuir o risco de acidentes e a questão se esta avaliação deveria ocorrer com maior periodicidade, verificou-se 87,1% de concordância. O que permite concluir que, para os participantes, a avaliação psicológica torna possível a prevenção de que os condutores apresentem comportamentos de risco, podendo diminuir o número de acidentes de trânsito, que se encontra bastante elevado. Além disso, com a realização da avaliação psicológica com maior periodicidade, o psicólogo poderá acompanhar as mudanças ocorridas no comportamento do indivíduo, buscando manter como condutores, pessoas com desempenho adequado. Porém, para se ter clareza e consistência com relação à diminuição de acidentes de trânsito é imprescindível a efetuação de pesquisas para verificar a evolução dos candidatos. Ou seja, analisar o perfil psicológico de condutores que cometem muitas infrações e se envolvem em acidentes e contrastá-lo com o perfil dos que tem comportamento exemplar no trânsito. A questão que obteve o menor número de respostas afirmativas (69,3%) foi se o participante da pesquisa concorda que o candidato reprovado na avaliação psicológica não pode dirigir um veículo. Isso pode ser atribuído ao fato do participante se ver no risco de perder na avaliação psicológica caso não apresente desempenho mínimo esperado para possuir o direito de dirigir. Uma hipótese é a de que muitas pessoas consideram que já possuem o “direito” de dirigir e sentem-se lesadas caso não sejam consideradas aptas pelo psicólogo. Sabe-se que um erro no trânsito pode ser fatal e a avaliação psicológica busca diminuir essa possibilidade, o que já é algo positivo para a população brasileira e mostra que a avaliação psicológica possui um papel importante. Para haver uma maior valorização da Psicologia do Trânsito como um todo e da avaliação psicológica nesse contexto, os profissionais de psicologia devem se unir para discutir e trocar 53 informações, além de ter um papel mais ativo na realização de pesquisas que promovam um amparo científico de sua atuação. Afinal, nessa pesquisa, os participantes já demonstraram confiança no papel do psicólogo do trânsito ao considerar a avaliação psicológica importante. Em relação à diferença entre os sexos, apenas a questão referente a se avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência é que apresentou diferenças significativas, sendo os homens os que mais percebem dessa maneira. Pode-se levar em consideração o fato dos homens assumirem mais a posição de condutores, sendo assim eles observam mais as dificuldades no trânsito, as imprudências dos condutores e estão envolvidos na maioria dos acidentes. Por isso eles podem considerar a necessidade da avaliação psicológica ter maior freqüência. Conclui-se que o objetivo da pesquisa foi alcançado e considera-se fundamental que mais estudos em outras Cidades e Estados sejam realizados, com a finalidade de verificar a percepção da população brasileira a respeito da avaliação psicológica. Afinal, são as pessoas que se submetem a esse procedimento e que estão em contato permanente com o trânsito que podem oferecer informações sobre a necessidade e contribuição do trabalho do psicólogo para um trânsito mais seguro e harmonioso. 54 REFERÊNCIAS ALCHIERI, J. C., SILVA, F. H. C., GOMES, J. M. N. Estágio curricular como desenvolvimento e atualização da psicologia de trânsito no Brasil. Psicologia: pesquisa e trânsito. vol.2, n.1, 2006. Disponível em http://www.scielo.br Acessado em 20/03/2012. ALMEIDA, N. V. A entrevista psicológica como um processo dinâmico e criativo. 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( ) Sim ( ) Não 4- Em sua opinião, a avaliação psicológica pode ajudar a diminuir o risco de acidentes de trânsito? ( ) Sim ( ) Não 5- A avaliação psicológica deveria ocorrer com maior freqüência, sendo realizada na renovação da CNH? ( ) Sim ( ) Não Obrigada pela sua participação. Luciana Bulhões Machado – Psicóloga (CRP 03/04594) 59 ANEXO 60