Tratamento SOLUÇÕES SIMPLES Alguns problemas oculares podem ser tratados em casa com compressas, gotas e pomadas. olhos como tratar problemas comuns Os olhos são órgãos sensíveis constantemente expostos a fatores exteriores que facilmente os irritam. Existem situações que, embora frequentes, podem ser resolvidas em casa V erdes, castanhos, azuis ou até um de cada cor, os olhos, diz o povo, são o espelho da alma. O formato, esse, também varia de pessoa para pessoa. Do mais arredondado ao mais amendoado, são várias as configurações, mas todas bastante similares. Uma coisa é certa: os olhos são os órgãos que nos permitem ver e conhecer o mundo e, por isso, há que estimá-los. Estamos perante estruturas delicadas e constantemente 26 testesaúde 114 expostas a fatores que podem, de algum modo, danificá-las. Além de doenças propriamente ditas, existem vários problemas aos quais o olho humano está diariamente sujeito e que nem sempre exigem uma visita ao médico. Infeções e inflamações comuns Um esforço mais prolongado (por exemplo, demasiado tempo em frente ao computador, ao televisor ou a conduzir) pode provocar a secura dos olhos. Substâncias químicas, agentes ambientais, alérgenos e germes também são facilmente suscetíveis de irritar ou até infetar os olhos. Uma sensação de ardor ou até de queimadura, comichão, a impressão de que se tem areia ou poeira nos olhos, ou que estes se encontram demasiado secos, podem ser sintomas de uma alergia ou infeção. Se ficarem vermelhos e lacrimejantes ou as pálpebras inchadas, é sinal de que as barreiras de defesa natural falharam e de que os olhos vão sofrer durante alguns dias ou mesmo semanas até a infeção passar totalmente. Muitas vezes, estas situações mais não são do que ligeiras perturbações que afetam a conjuntiva ou as pálpebras, mas que, geralmente, se resolvem por si só ou com a ajuda de tratamentos simples para aliviar os sintomas. Entre os problemas oftalmológicos que podem ser ultrapassados com algumas medidas executadas pelo próprio paciente (desde que não ocorram complicações) contam-se a conjuntivite (infecciosa e não-infecciosa), a blefarite, o calázio e o hordéolo, vulgarmente conhecido como terçolho. No presente artigo, reunimos conselhos para solucionar estes quatro problemas. Causas, sintomas e tratamento encontram-se entre os temas abordados. Desfazemos ainda alguns mitos que rodeiam estes problemas oculares e que, afinal, não passam disso mesmo: crenças sem apoio científico. Quando o problema não se resolve em casa Se é verdade que algumas queixas em torno dos olhos podem ser tratadas em casa, com medidas para reforçar a higiene e o recurso a gotas ou pomadas, outras há que não dispensam a ida ao médico, mais concretamente ao oftalmologista. Situações de fotofobia (sensibilidade à luz), alterações da visão, dores oculares ou sensação de um corpo estranho no olho, que obriga a mantê-lo fechado, requerem a intervenção de um profissional de saúde. Na caixa da página seguinte, encontra algumas situações que justificam uma visita urgente ao consultório, já que podem ser sinónimo de complicações graves. É o caso do glaucoma, da queratite (inflamação da córnea) ou da irite (inflamação da íris). Felizmente, os problemas mais comuns não se revestem de tanta gravidade Deixam é sempre a lembrança de uns dias de mal-estar geral, mas, com alguns cuidados, tudo acaba bem. E, depois de passar o susto, o paciente continuará a ver com olhos de ver. 1 Conjuntivite Uma das patologias comuns nos olhos é a conjuntivite: a inflamação da conjuntiva. Esta pode ser infecciosa (viral ou bacteriana) ou não-infecciosa (alérgica ou não-alérgica). Sintomas A conjuntivite viral é altamente contagiosa Lentes de contacto Não use em caso de infeção ou de conjuntivite (até sete dias após os sintomas terem desaparecido) e irritação ocular (até dois dias depois do fim do problema). Lentes usadas demasiado tempo, danificadas ou com higiene deficiente podem causar vermelhidão, irritação e outros problemas oculares. e caracteriza-se, sobretudo, por uma vermelhidão difusa do olho e uma secreção de muco aguado ou um lacrimejar constante. Também pode surgir a sensação de ardor e pálpebras inchadas e, ao acordar, secreções secas nas pestanas (ramelas). A infeção começa, em geral, num olho, mas pode atingir o outro. A conjuntivite bacteriana é menos comum, mas também muito contagiosa. Afeta um ou ambos os olhos. Na maioria das vezes, são situações ligeiras que se resolvem numa a duas semanas. Os sinais são idênticos aos da conjuntivite viral, com secreções mais opacas. Ao acordar, devido às secreções secas, pode ser difícil abrir o olho infetado. A conjuntivite alérgica é a mais comum. São as pessoas mais propensas a alergias quem mais sofre. Indivíduos com conjuntivite alérgica apresentam normalmente os sintomas de rinite alérgica ou de uma alergia específica, como pelos de animais, ácaros ou fungos. Tratamentos As conjuntivites viral e bacteriana curam-se por si só, mas compressas frias aliviam o inchaço e o ardor. Após o aparecimento dos primeiros sintomas, não esfregar os olhos; manter uma higiene cuidada, com toalhas diferentes para cada um deles e sem as partilhar; e evitar ir à piscina, previnem a transmissão a terceiros. É que a conjuntivite viral é contagiosa entre 7 e 14 dias. Na conjuntivite viral não deve usar antibióticos, corticosteroides ou a combinação de ambos. Na bacteriana, os antibióticos tópicos só devem ser considerados se houver sério desconforto ou se os sintomas não melhorarem em três ou quatro dias. Aí, deve ir ao médico. Na conjuntivite alérgica, a vermelhidão, o inchaço da conjuntiva e das pálpebras, o lacrimejar, o ardor e a comichão podem ser aliviados com compressas frias ou lágrima artificial. Anti-histamínicos tópicos (colírios), como a levocabastina e a azelastina (ambos medicamentos não sujeitos a receita médica), são outra opção. 114 testesaúde 27 Alerta ATENÇÃO AOS SINTOMAS Sensação de ardor, comichão ou vermelhidão podem ser sinal de inflamação ocular. 3 2 Calázio Mais comum na pálpebra superior do que na inferior, o calázio desenvolve-se gradualmente e vai-se instalando. Pode surgir disfarçado, na medida em que o seu aspeto facilmente se confunde com o de um terçolho (ver página ao lado). Mais do que uma doença, estamos perante um problema estético, já que é benigno, mas bastante incomodativo. Sintomas Perante uma inflamação não infecciosa da glândula de Meibomius, aparece na pálpebra um nódulo redondo e acinzentado. Quanto maior é o nódulo, maior será o risco de turvar a visão. O calázio é duro e, por norma, indolor. Tratamento O calázio pode desaparecer por si mesmo, sendo reabsorvido ou drenando. Mas, no geral, é um processo que demora semanas ou meses. Para acelerar o ritmo natural, usar compressas quentes pode facilitar a drenagem. No caso de não ser reabsorvido e de o problema persistir durante meses, é possível remover o nódulo através da injeção de corticoides ou de uma simples intervenção cirúrgica. Com isto, o calázio ficará longe da vista. 28 testesaúde 114 Blefarite Os fatores associados à blefarite são infecção bacteriana, disfunção da glândula de Meibomius, dermatite seborreica, acne rosácea ou uma combinação destes fatores. A inflamação frequente das margens das pálpebras pode ser aguda ou crónica. Existe a blefarite anterior, em torno das pestanas, e a posterior, resultante de uma disfunção das glândulas de Meibomius, responsáveis pela secreção da camada externa do filme lacrimal. Sintomas Margens das pálpebras vermelhas e inchadas, vermelhidão ocular, ardor nos olhos e uma sensação arenosa em ambos os olhos são os principais sinais. Ao acordar, as pálpebras podem estar gordurosas e coladas. Por vezes, os olhos ficam secos, devido à disfunção das glândulas de Meibomius e surgem crostas nas pestanas. Tratamento Combine a limpeza das pálpebras e pestanas com o uso de compressas mornas e massagens suaves para aliviar os sintomas agudos e evitar futuras crises. É recomendado colocar um pano quente sobre os olhos cinco a dez minutos, duas a quatro vezes por dia. Isto irá desprender as crostas das pestanas e dissolver o óleo produzido pela glândula de Meibomius, que bloqueia o orifício glandular. Face a uma suspeita de infeção bacteriana, poderá ter de ir ao médico e utilizar um antibiótico tópico. Com estes cuidados, a inflamação irá diminuir. Vá ao médico SENSAÇÃO DE CORPO ESTRANHO Situação que não permite manter o olho aberto. Tal não deve ser confundido com a sensação passageira de areia no olho. Podemos estar perante algo que conduza a uma inflamação da córnea. FOTOFOBIA A sensibilidade excessiva à luz, às vezes, é sinónimo de inflamação da córnea ou da íris. ALTERAÇÃO DA VISÃO Névoa escura, visão turva ou grandes halos em torno das luzes podem ser sinal de glaucoma, queratite (inflamação da córnea) ou irite (inflamação da íris). DOR OCULAR Pode ser sinal de uma irite ou uma esclerite, ou seja, uma inflamação da parte branca dos olhos. DOR DE CABEÇA INTENSA, náuseas ou vómitos podem estar associados a sinais oculares de um modo geral. 4 Terçolho Fala-se em hordéolo (vulgarmente conhecido como terçolho) e, mais uma vez, as pálpebras já sabem que durante uns tempos vão sofrer e ficar inestéticas. Lá vem mais um inchaço localizado que, ao longo de uma a duas semanas, não vai querer abandonar o local onde se instalou. O hordéolo mais não é do que um abcesso que se forma na borda das pálpebras devido a uma infeção bacteriana aguda de uma glândula sebácea. Esta infeção é muitas vezes atribuída ao Staphylococcus aureus, uma bactéria encontrada na pele saudável. A forma como a infeção se desenvolve é algo que ainda não está completamente esclarecido pela comunidade científica. Sintomas O hordéolo pode ser externo ou interno, dependendo da glândula infetada. O externo, conhecido como terçolho e também o mais comum, surge quando uma glândula sebácea associada a um folículo do cílio (glândula de Zeiss) ou na margem da pestana (glândula de Moll) é infetada. O terçolho é doloroso e apresenta-se como um nódulo amarelado na base dos pestanas, rodeado por vermelhidão e inchaço das pálpebras. Quando ocorre a rutura da lesão e se dá uma descarga de pus, geralmente verifica-se um alívio da dor e o problema começa a desaparecer. Já o hordéolo interno, mais raro, desenvolve-se quando existe uma infeção da glândula de Meibomius. Surge ainda uma dor associada a vermelhidão e um inchaço localizado na parte interior da pálpebra. A juntar a estes sintomas, instala-se um abcesso amarelado na conjuntiva. Independentemente de ser interno ou externo, um hordéolo desenvolve-se em poucos dias. A boa notícia é que, apesar da dor e do incómodo, só raramente surgem complicações. De um modo geral, o problema costuma resolver-se por si só numa semana ou duas e não precisa de nenhum tratamento especial. Tratamento Para aliviar os sintomas do terçolho, é possível recorrer ao uso de compressas quentes. Estas podem suavizar a dor e incentivar a drenagem do abcesso. E não se esqueça: espremer a glândula infetada não é a melhor das ideias. Para aliviar o terçolho, Mitos que passam pode de boca em boca usar compres- Esfregar aliança quente num terçolho. É talvez uma das mais conhecidas crenças sas que chegam aos ouvidos de quem está quentes a tentar livrar-se de um hordéolo (nome científico). Pode haver um pequeno alívio devido ao calor, mas expor o olho a uma superfície “suja” não é a melhor opção. Deve optar por usar compressas quentes. Terçolho, terçolho, vai para aquele olho. Esta é uma lengalenga que se tem mantido viva de geração em geração. O objetivo é sempre o mesmo: fazer com que a maleita passe para o olho de outra pessoa. Como é fácil de perceber, não resulta. Leite materno cura conjuntivide em bebés. A conjuntivite é uma inflamação da conjuntiva, que pode ter origem alérgica, viral ou bacteriana. O tratamento visa combater o agente causal e, evidentemente, o leite materno não é indicado nestes casos. Com bebés, o cuidado deve ser ainda maior. Há que ir ao médico após os primeiros sintomas. Olho seco. Quem sofre deste mal recebe com frequência um conselho: lavar com água corrente. Nada resolve. O olho seco é uma alteração devido à diminuição da produção de lágrima, que não pode ser reposta com água corrente. 114 testesaúde 29