1/14 Resistência dos Materiais 2003/2004 Curso de Gestão e Engenharia Industrial 2ª Aula Duração - 2 Horas Data - 25 de Setembro de 2003 Sumário: Tensões numa Barra Traccionada. Conceito de Tensão. Tensor das Tensões. Casos Particulares. Simbologia. Unidades e Aplicações Elementares. Objectivos da Aula: Apreensão de alguns conceitos associados à grandeza Tensão de Cauchy e sua simbologia e apreensão das razões pelas quais são necessárias as componentes do tensor das tensões para representar o estado de tensão num ponto. Resumo do Conteúdo da Aula Materiais Utilizados nos Sólidos Referidos ao Longo da Aula: Homogéneos e Isotrópicos. 1- Sólidos no Espaço F1 Figura 2.1: Sólidos Solicitados no Espaço. P1 y P2 P3 x As condições de equilíbrio Estático para um sólido no espaço podem ser escritas com i F z forma: a seguinte (b) ∑ Fx = 0 Fn ∑ Mx = 0 O ∑ Fy = 0 y ∑ My = 0 ou ∑ Fi = 0 ∑ Mz = 0 ou ∑ Mi = 0 x ∑ Fz = 0 (a) y p (2.1) x onde Fx , Fy e Fz representam as componentes das forças aplicadas(c)segundo os eixos Ox, Oy e Oz e Mx , M y e Mz representam as componentes dos momentos aplicados ao sólido ou parcela do sólido segundo os eixos Ox, Oy e Oz. Exemplo 2.1 Considere o sólido representado na figura 2.2 e determine as resultantes dos esforços que se desenvolvem na secção A-A. 2/14 A A P A A P P M=Pa a (b) (a) Figura 2.2: Peça sujeita a carga exterior Utilizando o método das Secções e as equações de equilíbrio estático, para que a parcela do sólido representado na figura 2.2 b esteja em equilíbrio é necessário que se desenvolvam, na Secção A-A, esforços que equilibrem o efeito da força exterior aplicada P, estes esforços são uma força P aplicada em A-A de sentido contrário à força P aplicada e um momento M=Pa igual e de sinal contrário ao momento resultante da força exterior aplicada como resulta da equação de equilíbrio de momentos. 2- Barra Traccionada O elemento sólido tridimensional, com uma dimensão superior às restantes e sujeito a esforços axiais de tracção e/ou compressão segundo o eixo do elemento que corresponde à direcção de aplicação dos esforços, costuma ser designado por Barra. Os esforços são ditos de tracção no caso de terem a orientação representada na figura 2.3 e no caso de terem sentidos contrários são ditos de compressão. Secção A-A A P P a A b Figura 2.3: Barra Prismática Para que uma barra prismática como a que se representa na figura 2.3, esteja em equilíbrio estático é necessário que as forças que actuam nos extremos da barra traccionada ou comprimida sejam iguais e de sinal contrário. Considerando uma secção recta como a secção A-A, secção obtida por intercepção de um plano normal ao eixo da barra com a barra, a resultante dos esforços na referida secção deve igualar a força axial aplicada, no caso da figura, a referida força é designada por P, de modo a permitir o equilíbrio de cada uma das parcelas em que fica dividido o corpo. No caso da secção A-A ser suficientemente afastada do ponto de aplicação da acção exterior, 3/14 de acordo com Saint -Venant, a força pode considerar-se uniformemente distribuída na Secção como se representa na figura 2.4. Considera-se que a tensão, σ, na secção A-A, tem uma grandeza igual a P/A, sendo A, a área da secção e P a resultante da força na secção, sendo a distribuição de tensões tida por uniforme no caso do material da barra ser homogéneo e isotrópico. No caso de se considerar a secção obtida, a partir da intercepção de um plano com uma inclinação α em relação ao eixo da barra, sendo o eixo da barra, considerado coincidente com o eixo cartesiano do sólido, ou seja coincidente com o eixo Ox, a resultante das forças na secção de corte tem uma grandeza igual a P e tem a direcção do eixo da barra que é considerado coincidente com o eixo cartesiano Ox. Na secção obtida por intercepção do plano oblíquo com a barra, pode considerar-se o sistema de eixos Ox´y´, definidos de tal modo que o eixo Ox´ coincida com a direcção normal ao plano da secção e o eixo Oy´ coincida com a direcção tangente ao plano da secção, podendo considerar-se este eixo contido no plano Oxy, como se representa na figura 2.4.b. No sistema de eixos Ox´y´, a força P dá origem a duas componentes, uma força na direcção normal à secção designada por P´ e uma força com a direcção tangente à secção P´´. As forças P´ e P´´ são determinadas a partir da força P e do ângulo de inclinação do plano em relação ao eixo da barra e são: P´= P sen α e P´´ = P cos α (2.2) 4/14 B Ã Secção A-A α P P a B A b P = P ∫ σ dA A σ σ σ = P/A (a) y y´ y´ x´ x´ P´ x P x O P´´ P´ = P sen α P´´ = P cos α A´ = A/sen α (b) Figura 2.4 : Barra Prismática. Secção Recta e Secção não Recta. As tensões resultantes são uma tensão normal σ n e uma tensão tangencial σ , as quais podem ser calculadas a partir das forças P´ e P´´ tendo em conta que a t área A´ da secção B-B é igual a A/sen α. As tensões são: P′ Psenα P = = sen 2α A′ A / senα A P′′ P cos α p =− = − cos α senα σt = − A′ A / senα A σn = (2.3) As tensões normais máximas ocorrem nas secções normais ao eixo da barra e correspondem a um ângulo α = 0o . As tensões tangenciais máximas ocorrem nas secções inclinadas a 45o e − 45o em relação ao eixo dos xx como resulta de igualar a zero a derivada em ordem a α de σ t . As tensões tangenciais máximas têm uma grandeza igual a P/2A. 5/14 Exemplo 2.2 Uma barra colada, como se representa na figura 2.5, tem secção rectangular de dimensões 10 × 20 mm. O plano que corresponde ao plano de colagem faz um ângulo de 30 o com o eixo da barra, como se mostra na figura. Admitindo que a resistência ao corte da ligação colada controla o projecto e admitindo que a tensão de corte máxima admissível é de 10 Mpa, determine a carga axial P a aplicar à barra. P α=30 P Figura 2.5: Barra Colada Resolução: Na Secção de corte as forças actuantes são de acordo com a figura 2.6, as forças P´ e P´´ calculadas do seguinte modo: P´´= P cos α = P cos 30 o = 0.866025 P P´ = P sen α = P sen 30 o = 0.5 P P´ P α Figura 2.6 : Secção de Corte A tensão tangencial ou de corte na secção colada é: σt = − P′′ P cos α P =− = − cos α senα = −0.217P N / mm 2 A′ A / senα A = -0.217 P Mpa P´´ 6/14 Tendo em conta que a tensão tangencial máxima é 10 Mpa, o valor de P é obtido do seguinte modo: σ t = 10 = 0.217P ⇒ P = 10 = 46.08N 0.217 3 - Conceito de Tensão As forças no interior do sólido são distribuídas e têm efeitos distintos nos vários pontos do sólido. A fim de quantificar os esforços distribuídos no sólido é necessário definir a grandeza tensão. Na figura 2.7 representa-se uma parte de um sólido contínuo, no qual se considerou uma secção perpendicular à direcção do eixo dos yy (Para efeitos de definição de tensão a orientação da Secção a considerar pode ser arbitrária), as forças distribuídas na secção que equilibram as forças exteriores têm uma resultante que é conhecida e é de prever que numa área elementar da secção ∆A actue uma parcela da força designada por ∆F. O quociente ∆F/ ∆A representa uma força por unidade de superfície, o limite deste quociente quando ∆A tende para zero designa-se por tensão, σ, isto é : ∆F σ = lim ∆A→0 ∆A (2.4) A força ∆F pode decompor-se em três componentes, ∆ FX , ∆ Fy e ∆ Fz , segundo os eixos coordenados, como se representa a figura 2.7.b. As forças ∆ Fx e ∆ Fz , no caso da secção considerada na figura 2.7 que é uma secção perpendicular ao eixo Oy, são forças que são tangentes à secção e a força ∆ Fy tem a direcção da normal à secção. Nestas condições podem considerar-se três componentes da tensão σ que são: τ yx = ∆F ∆ Fx ∆ Fz y ; ; τ yz = lim = σ yy lim lim ∆A a 0 ∆A ∆A a 0 ∆A ∆A a 0 ∆A (2.5) 7/14 z ∆Fz ∆F ∆F O x ∆Fy ∆Fx y ∆A Figura 2.7: Sólido Contínuo 4- Tensor das Tensões As componentes da tensão σ foram representadas com dois índices, o primeiro índice indica a direcção da normal à secção e o segundo índice indica a direcção da componente da tensão, a tensão σ yy é uma tensão normal que pode ser de tracção ou compressão e as tensões, τyx e τyz , são tensões tangenciais em geral designadas por tensões de corte. Pode dizer-se que tensões normais actuam segundo a normal ao plano da secção e que tensões de corte são tangentes ao plano da secção considerada. No caso de se considerarem planos perpendiculares aos eixos Ox e Oz obtémse as tensões, σ xx , τ xy , τ xz e τzx , τzy , σ zz . O modo como se representam as tensões é tal que o primeiro índice representa a direcção da normal ao plano de intercepção e o segundo índice indica a direcção de actuação da tensão. No caso de se considerarem três planos de intercepção que sejam perpendiculares às direcções dos eixos coordenados, obtém-se nove tensões, três tensões normais, σ xx , σ yyeσ zz e seis tensões tangenciais que são, τ xy, τ yx , τ xz, τ zx , τ yzeτ zy . Estas tensões podem ser representadas sob a forma de tensor, σ = σ ij , tal que: σ xx τ xy τ xz σ11 σ12 σ13 σ = σij = τ yx σ yy τ yz ou σ ij = σ 21 σ 22 σ 23 τ zx τ zy σ zz σ 31 σ 32 σ 33 (2.6) os elementos da diagonal representam tensões normais e os elementos não pertencentes à diagonal representam tensões tangenciais ou de corte . 8/14 O modo como se definiu tensão mostra que a tensão é uma grandeza que se pretende referida a um ponto, ∆A a 0 e que depende da grandeza e sentido da força considerada e da orientação da superfície em que actua. No caso de se considerar o sólido interceptado por um plano com outra orientação, a intensidade e a orientação da força, ∆F, são distintas e consequentemente a tensão ou tensões obtidas também. Em cada ponto é possível definir uma infinidade de planos que contêm o ponto, não ficando o estado de tensão num ponto completamente definido pelo conhecimento das tensões normais e das tensões tangenciais num plano. A descrição do estado de tensão num ponto é em geral feita considerando três planos ortogonais que contêm o ponto, como se pode demonstrar. Convenção de sinais: As tensões são consideradas Positivas se têm o sentido considerado positivo nas facetas do paralelepípedo mais próximas do observador e nas outras facetas são consideradas positivas se têm o sentido contrário. As Tensões representadas nas figuras estão a ser consideradas positivas. 5- Casos Particulares do Estado de Tensão a)Tensões Axiais em Barras à Tracção ou Compressão σ σ Figura 2.8: Estado Uniaxial de Tensão σ 0 0 0 0 0 Tensor das Tensões no sistema de Eixos Oxyz: 0 0 0 ou 0 σ 0 ou 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 (2.7) 0 0 σ 9/14 b)Tensões de Corte Puro y Tensor das Tensões no Sistema de Eixos Oxyz: O x z Tensões Hidrostáticas z y y τ yx x τ yz τ xy x τ xz τ zy τ zx z z Figura 2.9: Corte Puro Tensor das Tensões no sistema de Eixos Oxyz: 0 0 0 0 τ xy 0 τ yx 0 0 ou 0 0 τ yz ou 0 τ zy 0 0 0 0 0 0 τ xz 0 0 0 τ zx 0 0 (2.8) 10/14 c) Tensões Normais σ yy y σ xx x z σ zz Figura 2.10: Tensões Axiais 0 σ xx 0 Tensor das Tensões: 0 σ yy 0 0 0 σ zz d) Estados Planos de Tensão σ yy y τ yx y τ xy σ yy σ xx τ yx τ xy σ xx x z Figura 2.11: Estado Plano de Tensão Tensor das Tensões para um Estado Plano de Tensão: σ xx τ xy 0 σ xx τ xy τ yx σ yy 0 ou τ yx σ yy 0 0 0 x 11/14 6- Unidades em que se Representam as Tensões As unidades em que se exprimem as tensões são as unidades que correspondem a uma força por unidade de superfície, no caso de se tratar do Sistema Internacional, a unidade de força é o Newton, N, a unidade de comprimento é o metro, m e consequentemente a unidade de tensão, é o Newton por metro quadrado, N/ m2 , muitas vezes designada por Pascal, Pa. No quadro 1.1 estão representadas as unidades de comprimento, massa, tempo, força e tensão nos Sistemas Internacional e no Sistema tradicional do Reino Unido (U.K.). No quadro 1.3. mostra-se uma tabela de conversão de unidades de um Sistema em unidades de outro Sistema. Note-se que a unidade Pascal, N/ m 2 é muitas vezes substituída por kPa que corresponde a 103 × Pa e por Mpa (N/ mm2 ) que corresponde a 106 × Pa . Os múltiplos e submúltiplos das unidades estão representados no quadro 1.2. . Unidade Comprimento Tempo Massa Força Tensão S.I. metro(m) segundo (s) Kilograma(Kg) Newton(N) Pascal(Pa) S. Métrico metro(m) segundo(s) Kilograma(Kg) Kilogramo(Kg) Kg/m2 U.K. polegada (in) segundo(s) Libra Massa (lb) Libra Peso (lb) lb/in2 Quadro 1.1 : Unidades Fundamentais dos Sistemas Internacional , Métrico e U.K. T 1012 G 109 M k 106 103 m 10−3 µ n p 10−6 10−9 10−12 Quadro1.2: Múltiplos e Submúltiplos das Unidades 12/14 S.I U.K. Comprimento 1mm 1mm 1m 1km Área 1 mm2 1 m2 1 m2 1ha = 104 m2 Volume 1 mm3 1 m3 1 m3 1 dm3 (1l i t r o) Recíproco 0.0394in 0.0033ft 1.094 yd 0.621 miles 25.4 304.80 0.9144 1.609 1.55 × 10−3 i n2 10.76 f t 2 2 1.996 yd 2.471 acre 0.6452 × 103 92.9 × 10−3 0.836 0.405 0.061 × 10−3 i n3 35.314 f t 3 3 1.308 yd 0.220 U.K. gal 16.387 × 10−3 0.028 0.765 4.546 Massa 1kg 1t = 1Mg 2.205lb 0.984 ton 0.4536 1.016 0.225lbf 7.23pdl 0.102Kgf 4.448 0.138 9.8067 Força 1N 1N 1N Pressão, Tensão 1kN/ m2 =1kPa 1 Pa =1N/ mm2 =1kN/ m2 =1N/ mm2 Momento 1Nm 29.88 lbf/ f t 2 0.145 × 103 l bf / i n2 9.33 × 10−3 t onf / f t 2 10.2Kgf/ cm2 0.7375lbf ft 47.88 × 10−3 6.895 × 10−3 108 98.067 × 10−3 1.3558 Quadro 1.3 : Conversão de Unidades do S.I. no U.K. 13/14 7- Problemas Propostos Para Resolução na Aula 1. a) Desenhe um Elemento de Volume, mostrando o estado de pressão hidrostática de tracção num ponto que é: σxx = σyy = σzz = 150MPa . b) Desenhe um Elemento de Volume, mostrando o estado de tensão num ponto cujas componentes do tensor das tensões são: σxx = σyy = σzz = 100MPa , τxy = τyx = −50MPa , τzx = τxz = τzy = τyz = 0 . c) Desenhe um Elemento de Volume, mostrando o estado de tensão num ponto cujas componentes do tensor das tensões são: σxx = 15MPa ,σyy = −20MPA, σzz = 80MPa , τxy = τyx = 10MPa , τzx = τxz = −12MPa , τzy = τyz = 20MPa. 2. Considere a barra prismática traccionada representada na figura 1.1. O plano AA´ faz um ângulo θ = 30º com a secção recta da viga prismática como se mostra na figura. As dimensões da secção recta da barra prismática são 30mm×60mm. Sob a acção da carga P de tracção, a tensão normal que se desenvolve no plano AA´ é σn = 10MPa . Determine: a) o valor da carga axial P aplicada, b) a tensão de corte τnt no plano AA´, A P θ P A´ Figura 1.12: Barra Traccionada 8- Problemas Propostos para Resolução nas Horas de Estudo 1. a) Desenhe um Elemento de Volume, mostrando o estado de pressão hidrostática de compressão num ponto que é: σxx = σyy = σzz = −90MPa . 14/14 b) Desenhe um Elemento de Volume, mostrando o estado de tensão num ponto cujas componentes do tensor das tensões são: σxx = −10MPa , σyy = 30MPA, σzz = 50MPa , τxy = τyx = −40MPa , τzx = τxz = 20MPa τzy = τyz = 50MPa 9- Leituras a Efectuar nas Horas de Estudo - V. Dias da Silva, Mecânica e Resistência dos Materiais, Ediliber Editora, 1995, Páginas 8-10 - Carlos Moura Branco, Mecânica dos Materiais, Teoria e Aplicação, McGraw-Hill, 1989. Páginas 1-3 No Final do Estudo desta aula devem saber responder a questões como as seguintes: 1- O que se entende por Tensão num ponto? 2- O que se entende por Barra? 3- O que se representa com o símbolo τ xy ? 4- Caracterize um Estado de Tensão Plana, um Estado de Corte Puro etc.. 5- Indique a unidade do Sistema Internacional em que se representa a tensão. etc.