o jogo de tabuleiro no atendimento educacional especializado

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O JOGO DE TABULEIRO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO - AEE
Fernanda Albertina Garcia1 - CA/UFSC
Ciriane Jane Casagrande da Silva 2 - CA/UFSC
Cássia Cilene de Almeida Chalá Machado 3 - CA/UFSC
Simone De Mamann Ferreira 4 - CA/UFSC
Eloisa Barcellos de Lima5 - CA/UFSC
Grupo de Trabalho - Diversidade e Inclusão
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente relato de experiência tem por objetivo evidenciar a importância do uso de jogos de
tabuleiro no Atendimento Educacional Especializado – AEE para os estudantes público-alvo
da Educação Especial, bem como, contextualizar esse atendimento no cenário da educação
inclusiva nacional possibilitando reflexões para um atendimento mais efetivo, competente e
significativo. O presente relato de experiência refere-se à prática pedagógica (em sala comum
e em sala de multimeios) com um estudante com diagnóstico de Transtorno do Espectro
Autista - TEA, o qual frequenta os anos iniciais do ensino fundamental de uma instituição
pública. Cabe lembrar que, o AEE é realizado no contraturno da própria escola onde foi
possível identificar a importância do jogo do tabuleiro para o aprendizado do estudante, visto
que, por ser um recurso didático possibilitou o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), Professora de Educação Especial
do Colégio de Aplicação/UFSC e mestranda da Linha Educação e Comunicação/PPGE/UFSC. Email:
[email protected]
2
Graduada em Educação Física pela Universidade de Passo Fundo ( UPF ) e em Pedagogia pela Cesumar.
Especialista em Educação Especial ( UPF ), Deficiência Intelectual ( UPF ) e Deficiência Auditiva ( UPF ).
Mestrado em Ciências da Saúde Humana pela Universidade do Contestado ( UnC ) e mestrado em Educação
pela Universidade de Passo Fundo ( UPF ). Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação/UFSC.
Email: [email protected]
3
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas(UFPEL/RS), especialista em Educação Especial
pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL/RS) e em Psicopedagogia pela Universidade de Amparo/SP.
Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação/UFSC e mestranda da Linha de Ensino e Formação de
Educadores/PPGE/UFSC. Email: [email protected]
4
Graduada em Educação Especial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), especialista em
Educação Inclusiva pela Universidade Castelo Branco – UCB, Educação de Surdos – Aspectos Culturais,
Políticos e Pedagógicos pelo CETEF/São José/SC e Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC. Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação/UFSC. Email:
[email protected]
5
Graduada em Pedagogia (PUCRS); Especialista em: Orientação Educacional (FAFIMC), Psicologia Escolar
(PUCRS), Psicologia do Desenvolvimento TGD (UFRGS), Educação Especial: déficit cognitivo e educação para
Surdos (UFSM); doutoranda em Epistemologia e História das Ciências (UNTREF)
ISSN 2176-1396
10501
várias habilidades por meio de diferentes estratégias no trabalho especializado. Desta forma,
os jogos de tabuleiro foram imprescindíveis no desenvolvimento global do estudante, com
vistas a sua plena participação em sala de aula. Apesar de haver regras distintas em jogos de
tabuleiro foi possível buscar adaptações e estratégias pedagógicas para que o estudante
desejasse aprender contribuindo desta forma, para a melhoria em diferentes aspectos, entre
eles: o social, o afetivo, o cognitivo como também, a autoestima, o controle inibitório, o
autocontrole, a linguagem, o raciocínio lógico, a tomada de decisão, a atenção e a
concentração. Neste sentido, são várias as razões que justificam a necessidade do uso de jogos
de tabuleiros ou de regras no AEE realizado pelo professor de educação especial, visto que, é
um atendimento mais individualizado o qual possibilita ter um olhar pedagógico direcionado
com intuito de suplementar/complementar as necessidades do(s) estudante(s).
Palavras-chave: Atendimento Educacional Especializado (AEE). Professor de educação
especial. Jogos de tabuleiro.
Introdução
O presente relato descreve a experiência do uso de jogos de tabuleiro como recurso
didático na interação com estudante com transtorno de espectro autista, no atendimento
educacional especializado. Esse atendimento refere-se a um serviço da educação especial, que
deve ser ofertado preferencialmente na escola regular de ensino para o estudante com
diagnóstico de deficiência, transtorno e/ou altas habilidades/superdotação no contraturno.
Busca-se com o atendimento identificar as necessidades e explorar as potencialidades de cada
estudante respeitando suas diferenças e especificidades, com o objetivo de que estes
estudantes possam ter suas diferenças respeitadas e atendidas, assim diferentes caminhos para
aprender são buscados incessantemente, e a partir deste atendimento, o professor de educação
especial tem elementos para orientar o professor em sala de aula para pensar possibilidades de
intervenção.
Cabe salientar que, o autismo ainda é considerado um desafio para a escola,
principalmente no que diz respeito a tornar esse espaço educacional adequado para as distintas
necessidades desses estudantes com características de comportamento e comunicação tão
variados. Foi nessa direção que essa ação pedagógica foi pensada, ou seja, havia necessidade
de descobrir algo que chamasse a atenção do estudante, algo muito significativo para o ele e
que lhe possibilitasse avançar no seu desenvolvimento integral, bem como, na aprendizagem.
O atendimento com professora de educação especial, na escola começou a ser
realizado no primeiro semestre deste ano, o estudante é atendido individualmente, e dentre as
inúmeras possibilidades de estratégias de intervenção, os jogos de tabuleiro foram
apresentados logo no inicio do atendimento, o jogo foi utilizado também como possibilidade
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de aproximação entre estudante e professor, assim as partidas foram realizadas por estes, sem
neste momento interação com outras crianças.
Cabe lembrar que, o jogo de regra mais especificamente o jogo de tabuleiro representa
uma importante estratégia motivadora e desafiadora, que além de outras questões, pode ajudar
o estudante a lidar com a frustação, visto que, há possibilidade do estudante perder, jogar
novamente e talvez, vencer. No entanto, é necessário respeitar as regras do jogo (previamente
estabelecidas), reconhecer que o adversário foi o vencedor, dentre outras coisas. Diferentes
habilidades podem ser desenvolvidas durante uma partida como a atenção, e o exercício de
manter-se atento tanto na sua jogada quanto na de seu adversário, a capacidade de
planejamento para resolver um problema, no caso escolher a melhor estratégia com o objetivo
específico, a linguagem, pois muitas vezes a necessidade de argumentação quanto à
justificativa de determinadas ações e como elas atendem as regras do jogo, a autorregulação,
pois a crianças deve aguardar a sua vez de jogar e se controlar para não burlar as regras do
jogo.
É sabido que nos anos iniciais do ensino fundamental, o lúdico tem papel fundamental
na participação dos estudantes de forma mais intensa. A brincadeira desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento da criança. Neste sentido, o jogo apresenta-se como um
importante meio de interação entre as crianças e até mesmo com adultos, nele aspectos
importantes para o desenvolvimento se fazem presentes, e no imaginário da criança. A partir
da brincadeira podemos observar como as crianças percebem o mundo e como interagem em
seu contexto social.
De acordo com planejamento no Atendimento Educacional Especializado (AEE),
realizado para o estudante do presente relato, que tem como objetivo desenvolver habilidade
de acordo com suas especificidades e necessidades,utilizamos jogos, mais especificamente os
jogos de tabuleiro, dentre as inúmeras possibilidades elencou-se três jogos o primeiro deles: A
Corrida das Bicicletas. Nele dois ou mais jogadores podem participar. O jogo é composto por
peças de madeira representam bicicletas, tabuleiro e também é necessário utilizar um dado, ou
uma pequena roleta de até o número seis. Para realizar o jogo, os jogadores lançam à mão da
sorte, para ver quem chega primeiro ao objetivo. Ao jogar os dados verificam-se quantas
casas devem ser avançadas e assim, dependendo da casa em que a peça está, o jogador pode
ficar sem jogar uma rodada. Esse jogo foi escolhido com o objetivo de desenvolver a
autoestima do estudante, e fazer com que os participantes (estudante e professor),
percebessem que todos apresentavam as mesmas condições para ganhar o jogo.
10503
O segundo jogo a ser escolhido, foi o jogo de Damas. Nele apenas dois participantes,
podem se enfrentar. Após apresentadas, discutidas e esclarecidas às regras do jogo, iniciou-se
a partida com jogadas iniciais ainda tentando consolidar a familiarização com as regras
apresentadas, contudo logo após algumas jogadas, foi possível observar ações mais objetivas
e planejadas. Em geral, as jogadas são realizadas com o intuito de capturar a peça do
adversário, mas sem perder de vista que faz-se necessário proteger as suas peças. O ápice das
partidas é conseguir transformar as peças em Damas, aumentando a possibilidade de capturar
mais peças do oponente. O objetivo principal em escolher este jogo foi observar a capacidade
do estudante em compreender e aplicar as regras, a qual está diretamente relacionada a sua
capacidade de autorregulação, interpretação, compreensão, planejamento e resolução de
problemas.
O terceiro jogo de tabuleiro, a ser utilizado foi o jogo Quarto, que pode ter como
participantes dois ou mais jogadores. Neste jogo o tabuleiro apresenta quadrados em sua base
quatro por quatro, as peças apresentam quatro características: forma (quadrado ou redondo);
cor (claro ou escuro); tamanho (grande ou pequeno) e textura (liso ou furado). O jogador não
escolhe a peça que ira jogar e sim, o seu adversário que escolhe, e lhe entrega para que realize
a ação. O participante vence a partida ao alinhar quatro peças com as mesmas características,
nas linhas horizontal, vertical ou diagonal, contudo durante toda partida deve estar vigilante a
jogada do adversário para que o mesmo não complete a estratégia antes da sua.
Figura 1 - Jogo de tabuleiro Quarto
Fonte: As autoras.
Esse jogo foi escolhido, pela possibilidade de análise estratégica (planejamento),
capacidade de antecipação ao se colocar-se no lugar do outro, desde o momento em que é
escolhida a peça que será apresentada ao outro, na tentativa de antecipar o que o oponente
pode realizar, assim antecipar, e se não obtiver êxito, poderá mudar a estratégia, resolvendo
assim o problema, e o trabalho de estimulação de atenção, pois os participantes durante todo o
10504
tempo da partida devem estar atentos as todas as características das peças, pois a qualquer
momento, qualquer jogador poderá trocar a estratégia se a nova característica for mais
conveniente.
Os jogos de tabuleiro apresentam-se como importante estratégia metodológica para o
desenvolvimento de habilidades que devem ser trabalhadas no atendimento educacional
especializado, e que também podem continuar sendo desenvolvidas no ambiente escolar com
outras estratégias.
Desenvolvimento
A Lei Berenice Piana, Lei nº 12.764 (BRASIL,2012), instituiu a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Este documento
representa um marco, em relação às políticas públicas para o atendimento de pessoas com
autismo. Com base nesta lei, as pessoas com TEA passaram a ter os mesmos direitos legais,
das pessoas com deficiência, pois havia uma grande lacuna com relação à legislação
específica destinada ao atendimento das pessoas com o transtorno do espectro, principalmente
ao acesso aos diferentes serviços.
Inúmeros desafios ainda são enfrentados cotidianamente pelas famílias de pessoas com
TEA, na busca por mais atendimentos adequados às suas necessidades específicas. Entretanto,
vale ressaltar é que os estudantes com TEA, frequentam o ensino regular muito antes da
publicação desta lei, e esta trajetória converge com a história das pessoas público-alvo da
educação especial. A partir da perspectiva da educação inclusiva, faz-se necessário refletir
sobre o atendimento para a pessoa com TEA, no ambiente escolar.
Para que uma mudança significativa de fato ocorra é necessário se estabelecer outra
cultura, onde outras relações fossem estabelecidas e com real vontade política de mudar.
Assim, as leis seriam apenas uma adequação a um novo contexto, e não algo meramente
imposto verticalmente.
De acordo com Laplane (2004, p.18), “[...] a escola é uma instituição bastante rígida
que tem dificuldades para receber aceitar e trabalhar com a diferença”. Ao decorrer do
processo de educação formal, algumas vezes parte dos estudantes é promovida, outra é
marginalizada e o restante é excluído. Muitas escolas têm dificuldades de trabalhar com
sujeitos que estão fora do padrão, pois assim como outros segmentos da sociedade, têm
dificuldade em lidar com o diferente. O caminho em busca da superação desta cultura está na
10505
realização pequenas ações, as quais têm por objetivo atender as especificidades daqueles que
compõe a diversidade escolar.
O discurso que trata da inclusão se torna frágil ao apresentar como “[...] única e
melhor solução para estudantes, professores, pais e sociedade, põe em evidência um
mecanismo discursivo que opera para assegurar a eficácia do discurso” (LAPLANE, 2004,
p.18). A autora aponta, ainda, para a contradição a se aplicar este discurso sobre a realidade
educacional brasileira, com estrutura carente, que é composta por classes superlotadas,
estrutura física insuficiente e professores cuja formação não contempla as diferenças. Muitos
estudantes estão em sala sem condições adequadas, ou seja, não há compromisso com o
conhecimento a preocupação é o acesso, a matrícula, estar na escola. Faz-se necessário
avançar em qualidade de ensino, ao refletir sobre a função social da escola precisamos
repensar se de fato a aprendizagem ocorre, neste espaço educativo.
A escola constitui-se um espaço privilegiado para a construção do saber construído
historicamente, ou seja, este lugar é fundamental para o desenvolvimento global dos
estudantes que fazem parte deste contexto e para a pessoa com deficiência não poderia ser
diferente, nenhum outro espaço seria capaz de substituir seu caráter social e de ensino.
Portanto, a educação inclusiva provoca a escola comum a repensar suas práticas, a partir de
um olhar mais sensível as diferenças considerando os diferentes contextos, aos quais este
sujeito faz parte. Neste sentido, para Mittler (2003,p.34):
A Inclusão implica uma reforma radical nas reformas em termos de currículo,
avaliação, pedagogia e formas de agrupamentos dos alunos em sala de aula. Ela é
baseada em um sistema de valores que todos se sintam bem vindos e celebra a
diversidade que tem como base o gênero, a nacionalidade, a raça, a linguagem de
origem, o background social, o nível de aquisição educacional ou a deficiência.
Assim, a inclusão exige uma reforma na estrutura atualmente colocada. A disposição
dos estudantes em sala, o currículo deve ser revisto assim como a avaliação. As diferenças
devem ser acolhidas e valorizadas, neste espaço que é composto pela diversidade. Como
incluir o diferente em uma escola com o currículo engessado e com uma avaliação tradicional
e que não respeita o ritmo e a singularidade de cada estudante? Como avançar em relação às
propostas metodológicas que atenda e respeite a todos?
Considerando estas dificuldades vividas na escola, percebe-se os problemas que esta
enfrenta ao se flexibilizar, ao modificar o seu currículo, quando trabalha com estudantes que
saem do padrão estipulado. Metas e índices são impostos à escola, mudando assim o foco do
desenvolvimento voltado às especificidades dos estudantes, para uma corrida incessante por
10506
resultados numéricos. A escola se caracteriza como uma instituição organizada para
estudantes que correspondem a um ideal padrão, não para o sujeito singular que é seu
estudante, o estudante real heterogêneo; implementa sua atividade pedagógica a partir de um
sistema organizado por um currículo não flexível; e seleciona os conteúdos segundo uma
sequência rígida, com complexidade crescente a partir de critérios padronizados de
desenvolvimento psicológico baseado em etapas (FERREIRA, 2005).
Portanto, a escola ainda enfrenta grande dificuldade em superar a falta de respeito
pelas individualidades ao manter um ensino pautado em um currículo único, onde o conteúdo
é trabalhado da mesma forma para todos os estudantes, de forma inflexível,
independentemente das condições e características apresentadas por seus distintos estudantes,
ou seja, aquele que não consegue acompanhar o ritmo imposto é excluído e marginalizado
agora dentro de sala de aula.
Para alterar a rigidez da escola e oportunizar aos estudantes a aprendizagem com
qualidade social é preciso viabilizar estratégias de ensino e avaliação demonstrando que “[...]
não é necessário que se tenha as mesmas metas educacionais quando aprendem juntos”
(FERREIRA, 2005, p.144). Neste sentido, a autora afirma que o desenvolvimento de algumas
metas diferencia-se dentro dos mesmos objetivos escolares. Faz-se necessário superar a
condição de alcançar metas padronizadas estipuladas de forma excludente, devemos valorizar
a diversidade, neste sentido o caminho a ser percorrido na educação inclusiva, deve ser aquele
onde cada estudante deve ser parâmetro dele mesmo, respeitando assim a diferenças por eles
apresentados. Ao definir educação Inclusiva, afirma Beyer (2006, p.85):
A educação inclusiva caracteriza-se como um novo princípio educacional, cujo
conceito fundamental defende a heterogeneidade na classe escolar, não apenas como
situação provocadora de interação entre as crianças com situações pessoais as mais
adversas. Além dessa interação, muito importante para o fomento das aprendizagens
recíprocas, é fundamental uma pedagogia que se dilate ante as diferenças do
alunado.
O autor propõe a transição de uma educação integradora para uma educação inclusiva.
Esta educação que almejamos, e buscamos incessantemente cotidianamente, e que ainda
temos muito a avançar. Neste sentido, além da flexibilização da escola perante a diferença,
esta deve adequar a proposta de ensino para que estas pessoas se apropriem do conhecimento
sistematizado, do contrário continuaremos em uma integração escolar. Apesar de contarmos
ainda com um crescente número de matrículas de pessoas com deficiência nas escolas,
10507
percebe-se, contudo, a grande dificuldade das instituições em perceber as diferenças
atendendo as suas dificuldades e favorecendo as suas potencialidades.
A educação especial perpassa todos os níveis etapas e modalidades de ensino e tem
como público-alvo da educação estudantes com deficiência (intelectual, surdez, múltipla,
física,
surdocegueira),
Transtorno
do
Espectro
Autista
–
TEA
e
altas
habilidades/superdotação. Dentre os serviços da educação especial contamos com o
Atendimento Educacional Especializado.
Assim, o AEE, realizado no período contrário ao frequentado no ensino regular, é um
serviço de fundamental importância, onde podemos avaliar possibilidades de intervenção, a
partir das necessidades e potencialidades dos estudantes, com o principal objetivo de
favorecer a participação do estudante em sala de aula comum (BRASIL, 2008).
O professor do AEE poderá contribuir orientando os profissionais da escola na
elaboração das estratégias no cotidiano escolar, na elaboração de recursos e na
organização da rotina, de acordo com as peculiaridades de cada aluno e de cada
escola. Os alunos com TGD deverão frequentar o AEE quando forem identificadas
necessidades educacionais específicas que demandem a oferta desse atendimento,
beneficiando-se das atividades e dos recursos pedagógicos e de acessibilidade,
disponibilizados nas salas de recursos multifuncionais (BELISÁRIO
JUNIOR;CUNHA, 2010, p.38).
Na busca da plena participação no ensino comum, os estudantes público-alvo da
educação especial, devem ter acesso a diferentes estratégias e metodologias, e o AEE é o
espaço ideal para buscarmos estas possibilidades e experimentarmos, de fato quais são mais
eficientes para cada estudante, bem como o uso de diversos jogos e materiais adaptados de
acordo com a necessidade de cada um.
Para Ramos (2013, p.21), “[...] os jogos de tabuleiro apresentam diversos formatos e
objetivos, de modo geral, envolvem pelo menos a participação de dois jogadores, o exercício
de estratégia e raciocínio lógico para vencer o adversário ou resolver o desafio apresentado”.
Assim para a autora, os jogos de tabuleiro compõem os jogos cognitivos, os quais podem
contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem. O jogo de tabuleiro apresenta-se como
importante instrumento metodológico, pois o estudante precisa apropriar-se das regras para
poder jogar a partida, planejando jogadas, resolvendo problemas, para proteger suas peças e
tentar capturar as de seu adversário, ou seja, ali são estimuladas habilidades essências para o
desenvolvimento de forma global para o estudante.
Também foi possível evidenciar, que durante a realização das partidas o estudante teve
dificuldade em lidar com a derrota e como essa ação pedagógica trazendo a possibilidade em
10508
superá-la, ou seja, sabendo lidar melhor com frustrações. Ao vencer partidas consecutivas,
esperava-se que o jogador, pudesse em algum momento demonstrar atitude de superioridade,
contudo o estudante comoveu-se com a derrota do oponente, sugerindo ao mesmo algumas
possibilidades para que capturasse suas peças. Mesmo ganhando com frequência, o estudante
vencedor apresentou atitude colaborativa ao seu oponente. O estudante conseguia colocar-se
no lugar do outro preocupando-se com o sentimento do outro, e possibilitado que seu
oponente superasse suas dificuldades, sem se preocupar com o resultado final da partida.
Ao vencer partidas consecutivas, esperava-se que o jogador, pudesse em algum
momento demonstrar atitude de superioridade, contudo o estudante comoveu-se com a derrota
do oponente, sugerindo ao mesmo algumas possibilidades para que capturasse suas peças.
Mesmo ganhando com frequencia, o estudante vencedor apresentou atitude colaborativa ao
seu oponente. O estudante conseguia colocar-se no lugar do outro preocupando-se com o
sentimento do outro, e possibilitado que seu oponente superasse suas dificuldades, sem se
preocupar com o resultado final da partida.
Assim, quanto às possibilidades estratégicas o estudante observado, surpreendeu não
apenas demonstrando raciocínio lógico apurado, atenção, capacidade de antecipação e
planejamento, mas também na resolução de problema auxiliando seu oponente, ao dar dicas,
favorecendo o desenvolvimento de novas jogas mesmo que o resultado destas fosse a captura
das próprias peças.
Durante a participação nos jogos utilizados no AEE junto a estudantes com TEA,
pudemos observar como o uso deste recurso é de extrema importância para contribuir para o
desenvolvimento de vários aspectos do autismo, como a atenção compartilhada, relação com
o outro, percepção do que o outro sente ou procura transmitir por meio de expressões faciais,
bem como, ampliar sua linguagem oral ou no uso de comunicação aumentativa alternativa –
CAA, se for necessário, como instrumento de apoio ao estudante sem comunicação oral.
Considerações finais
Conforme o que foi exposto, percebe-se o quanto os jogos de tabuleiro possibilitaram
novas aprendizagens ao estudante no ambiente escolar, mais especificamente no Atendimento
Educacional Especializado. Reforçando mais uma vez que, o uso desses jogos oportuniza
diferentes habilidades, as quais são fundamentais para o desenvolvimento global do estudante,
tais como: linguagem, aspectos afetivos e de autoestima, controle inibitório, autorregulação,
planejamento, resolução de problemas raciocínio lógico na elaboração de estratégias, e
10509
atenção. Ainda sim, seria importante observar a interação desse estudante no jogo de tabuleiro
com outros estudantes, o que não possível neste período.
Tendo em vista os aspectos observados, entende-se que os jogos de tabuleiro
apresentam-se como importante estratégia metodológica, a ser utilizada com vistas ao
desenvolvimento de importantes habilidades fundamentais, de forma mais prazerosa e
atrativa, favorecendo assim, sua plena participação do estudante público-alvo da educação
especial, tanto no Atendimento Educacional Especializado quanto no ensino comum. Foi
possível perceber também, a importância de oportunizar materiais, jogos alternativos para os
esses estudantes e finalmente, conscientizar as pessoas de que, precisamos acreditar nas
possibilidades dos estudantes com autismo, sem subestimar suas potencialidades.
REFERÊNCIAS
BELISÁRIO JUNIOR, José Ferreira; CUNHA, Patrícia. Transtornos globais do
desenvolvimento. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2010. (Coleção A Educação
Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar).
BEYER, Hugo Otto. Educação inclusiva ou integração escolar? Implicações pedagógicas dos
conceitos como rupturas paradigmáticas. In: BRASIL. Ministério da Educação. Ensaios
pedagógicos: III Seminário Nacional de Formação de Gestores e Educadores. Brasília, DF:
MEC, 2006. p. 85-88.
BRASIL. Ministério da Educação. Política nacional de educação especial na perspectiva
da educação inclusiva. Brasília, DF: MEC, 2008.
______. Lei n. 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção
dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº
8.112, de 11 de dezembro de 1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2012.
FERREIRA, Maria Cecília Carareto. Os movimentos possíveis e necessários para que uma
escola faça a inclusão de alunos com necessidades especiais. In: JESUS, Denise Meyrelles de;
BAPTISTA, Claudio Roberto; VICTOR, Sonia Lopes (Org.). Pesquisa e educação especial:
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LAPLANE, Adriana Lia Friszman. Notas para uma análise dos discursos sobre inclusão
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Políticas e práticas de educação inclusiva. Campinas: Autores Associados, 2004. p. 5-20.
MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003.
RAMOS, Daniela Karine. Jogos cognitivos eletrônicos: contribuições à aprendizagem no
contexto escolar. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, v. 18, p. 19-32, 2013.
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