O JOGO DE TABULEIRO NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO - AEE Fernanda Albertina Garcia1 - CA/UFSC Ciriane Jane Casagrande da Silva 2 - CA/UFSC Cássia Cilene de Almeida Chalá Machado 3 - CA/UFSC Simone De Mamann Ferreira 4 - CA/UFSC Eloisa Barcellos de Lima5 - CA/UFSC Grupo de Trabalho - Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente relato de experiência tem por objetivo evidenciar a importância do uso de jogos de tabuleiro no Atendimento Educacional Especializado – AEE para os estudantes público-alvo da Educação Especial, bem como, contextualizar esse atendimento no cenário da educação inclusiva nacional possibilitando reflexões para um atendimento mais efetivo, competente e significativo. O presente relato de experiência refere-se à prática pedagógica (em sala comum e em sala de multimeios) com um estudante com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista - TEA, o qual frequenta os anos iniciais do ensino fundamental de uma instituição pública. Cabe lembrar que, o AEE é realizado no contraturno da própria escola onde foi possível identificar a importância do jogo do tabuleiro para o aprendizado do estudante, visto que, por ser um recurso didático possibilitou o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação/UFSC e mestranda da Linha Educação e Comunicação/PPGE/UFSC. Email: [email protected] 2 Graduada em Educação Física pela Universidade de Passo Fundo ( UPF ) e em Pedagogia pela Cesumar. Especialista em Educação Especial ( UPF ), Deficiência Intelectual ( UPF ) e Deficiência Auditiva ( UPF ). Mestrado em Ciências da Saúde Humana pela Universidade do Contestado ( UnC ) e mestrado em Educação pela Universidade de Passo Fundo ( UPF ). Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação/UFSC. Email: [email protected] 3 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas(UFPEL/RS), especialista em Educação Especial pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL/RS) e em Psicopedagogia pela Universidade de Amparo/SP. Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação/UFSC e mestranda da Linha de Ensino e Formação de Educadores/PPGE/UFSC. Email: [email protected] 4 Graduada em Educação Especial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), especialista em Educação Inclusiva pela Universidade Castelo Branco – UCB, Educação de Surdos – Aspectos Culturais, Políticos e Pedagógicos pelo CETEF/São José/SC e Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação/UFSC. Email: [email protected] 5 Graduada em Pedagogia (PUCRS); Especialista em: Orientação Educacional (FAFIMC), Psicologia Escolar (PUCRS), Psicologia do Desenvolvimento TGD (UFRGS), Educação Especial: déficit cognitivo e educação para Surdos (UFSM); doutoranda em Epistemologia e História das Ciências (UNTREF) ISSN 2176-1396 10501 várias habilidades por meio de diferentes estratégias no trabalho especializado. Desta forma, os jogos de tabuleiro foram imprescindíveis no desenvolvimento global do estudante, com vistas a sua plena participação em sala de aula. Apesar de haver regras distintas em jogos de tabuleiro foi possível buscar adaptações e estratégias pedagógicas para que o estudante desejasse aprender contribuindo desta forma, para a melhoria em diferentes aspectos, entre eles: o social, o afetivo, o cognitivo como também, a autoestima, o controle inibitório, o autocontrole, a linguagem, o raciocínio lógico, a tomada de decisão, a atenção e a concentração. Neste sentido, são várias as razões que justificam a necessidade do uso de jogos de tabuleiros ou de regras no AEE realizado pelo professor de educação especial, visto que, é um atendimento mais individualizado o qual possibilita ter um olhar pedagógico direcionado com intuito de suplementar/complementar as necessidades do(s) estudante(s). Palavras-chave: Atendimento Educacional Especializado (AEE). Professor de educação especial. Jogos de tabuleiro. Introdução O presente relato descreve a experiência do uso de jogos de tabuleiro como recurso didático na interação com estudante com transtorno de espectro autista, no atendimento educacional especializado. Esse atendimento refere-se a um serviço da educação especial, que deve ser ofertado preferencialmente na escola regular de ensino para o estudante com diagnóstico de deficiência, transtorno e/ou altas habilidades/superdotação no contraturno. Busca-se com o atendimento identificar as necessidades e explorar as potencialidades de cada estudante respeitando suas diferenças e especificidades, com o objetivo de que estes estudantes possam ter suas diferenças respeitadas e atendidas, assim diferentes caminhos para aprender são buscados incessantemente, e a partir deste atendimento, o professor de educação especial tem elementos para orientar o professor em sala de aula para pensar possibilidades de intervenção. Cabe salientar que, o autismo ainda é considerado um desafio para a escola, principalmente no que diz respeito a tornar esse espaço educacional adequado para as distintas necessidades desses estudantes com características de comportamento e comunicação tão variados. Foi nessa direção que essa ação pedagógica foi pensada, ou seja, havia necessidade de descobrir algo que chamasse a atenção do estudante, algo muito significativo para o ele e que lhe possibilitasse avançar no seu desenvolvimento integral, bem como, na aprendizagem. O atendimento com professora de educação especial, na escola começou a ser realizado no primeiro semestre deste ano, o estudante é atendido individualmente, e dentre as inúmeras possibilidades de estratégias de intervenção, os jogos de tabuleiro foram apresentados logo no inicio do atendimento, o jogo foi utilizado também como possibilidade 10502 de aproximação entre estudante e professor, assim as partidas foram realizadas por estes, sem neste momento interação com outras crianças. Cabe lembrar que, o jogo de regra mais especificamente o jogo de tabuleiro representa uma importante estratégia motivadora e desafiadora, que além de outras questões, pode ajudar o estudante a lidar com a frustação, visto que, há possibilidade do estudante perder, jogar novamente e talvez, vencer. No entanto, é necessário respeitar as regras do jogo (previamente estabelecidas), reconhecer que o adversário foi o vencedor, dentre outras coisas. Diferentes habilidades podem ser desenvolvidas durante uma partida como a atenção, e o exercício de manter-se atento tanto na sua jogada quanto na de seu adversário, a capacidade de planejamento para resolver um problema, no caso escolher a melhor estratégia com o objetivo específico, a linguagem, pois muitas vezes a necessidade de argumentação quanto à justificativa de determinadas ações e como elas atendem as regras do jogo, a autorregulação, pois a crianças deve aguardar a sua vez de jogar e se controlar para não burlar as regras do jogo. É sabido que nos anos iniciais do ensino fundamental, o lúdico tem papel fundamental na participação dos estudantes de forma mais intensa. A brincadeira desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da criança. Neste sentido, o jogo apresenta-se como um importante meio de interação entre as crianças e até mesmo com adultos, nele aspectos importantes para o desenvolvimento se fazem presentes, e no imaginário da criança. A partir da brincadeira podemos observar como as crianças percebem o mundo e como interagem em seu contexto social. De acordo com planejamento no Atendimento Educacional Especializado (AEE), realizado para o estudante do presente relato, que tem como objetivo desenvolver habilidade de acordo com suas especificidades e necessidades,utilizamos jogos, mais especificamente os jogos de tabuleiro, dentre as inúmeras possibilidades elencou-se três jogos o primeiro deles: A Corrida das Bicicletas. Nele dois ou mais jogadores podem participar. O jogo é composto por peças de madeira representam bicicletas, tabuleiro e também é necessário utilizar um dado, ou uma pequena roleta de até o número seis. Para realizar o jogo, os jogadores lançam à mão da sorte, para ver quem chega primeiro ao objetivo. Ao jogar os dados verificam-se quantas casas devem ser avançadas e assim, dependendo da casa em que a peça está, o jogador pode ficar sem jogar uma rodada. Esse jogo foi escolhido com o objetivo de desenvolver a autoestima do estudante, e fazer com que os participantes (estudante e professor), percebessem que todos apresentavam as mesmas condições para ganhar o jogo. 10503 O segundo jogo a ser escolhido, foi o jogo de Damas. Nele apenas dois participantes, podem se enfrentar. Após apresentadas, discutidas e esclarecidas às regras do jogo, iniciou-se a partida com jogadas iniciais ainda tentando consolidar a familiarização com as regras apresentadas, contudo logo após algumas jogadas, foi possível observar ações mais objetivas e planejadas. Em geral, as jogadas são realizadas com o intuito de capturar a peça do adversário, mas sem perder de vista que faz-se necessário proteger as suas peças. O ápice das partidas é conseguir transformar as peças em Damas, aumentando a possibilidade de capturar mais peças do oponente. O objetivo principal em escolher este jogo foi observar a capacidade do estudante em compreender e aplicar as regras, a qual está diretamente relacionada a sua capacidade de autorregulação, interpretação, compreensão, planejamento e resolução de problemas. O terceiro jogo de tabuleiro, a ser utilizado foi o jogo Quarto, que pode ter como participantes dois ou mais jogadores. Neste jogo o tabuleiro apresenta quadrados em sua base quatro por quatro, as peças apresentam quatro características: forma (quadrado ou redondo); cor (claro ou escuro); tamanho (grande ou pequeno) e textura (liso ou furado). O jogador não escolhe a peça que ira jogar e sim, o seu adversário que escolhe, e lhe entrega para que realize a ação. O participante vence a partida ao alinhar quatro peças com as mesmas características, nas linhas horizontal, vertical ou diagonal, contudo durante toda partida deve estar vigilante a jogada do adversário para que o mesmo não complete a estratégia antes da sua. Figura 1 - Jogo de tabuleiro Quarto Fonte: As autoras. Esse jogo foi escolhido, pela possibilidade de análise estratégica (planejamento), capacidade de antecipação ao se colocar-se no lugar do outro, desde o momento em que é escolhida a peça que será apresentada ao outro, na tentativa de antecipar o que o oponente pode realizar, assim antecipar, e se não obtiver êxito, poderá mudar a estratégia, resolvendo assim o problema, e o trabalho de estimulação de atenção, pois os participantes durante todo o 10504 tempo da partida devem estar atentos as todas as características das peças, pois a qualquer momento, qualquer jogador poderá trocar a estratégia se a nova característica for mais conveniente. Os jogos de tabuleiro apresentam-se como importante estratégia metodológica para o desenvolvimento de habilidades que devem ser trabalhadas no atendimento educacional especializado, e que também podem continuar sendo desenvolvidas no ambiente escolar com outras estratégias. Desenvolvimento A Lei Berenice Piana, Lei nº 12.764 (BRASIL,2012), instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Este documento representa um marco, em relação às políticas públicas para o atendimento de pessoas com autismo. Com base nesta lei, as pessoas com TEA passaram a ter os mesmos direitos legais, das pessoas com deficiência, pois havia uma grande lacuna com relação à legislação específica destinada ao atendimento das pessoas com o transtorno do espectro, principalmente ao acesso aos diferentes serviços. Inúmeros desafios ainda são enfrentados cotidianamente pelas famílias de pessoas com TEA, na busca por mais atendimentos adequados às suas necessidades específicas. Entretanto, vale ressaltar é que os estudantes com TEA, frequentam o ensino regular muito antes da publicação desta lei, e esta trajetória converge com a história das pessoas público-alvo da educação especial. A partir da perspectiva da educação inclusiva, faz-se necessário refletir sobre o atendimento para a pessoa com TEA, no ambiente escolar. Para que uma mudança significativa de fato ocorra é necessário se estabelecer outra cultura, onde outras relações fossem estabelecidas e com real vontade política de mudar. Assim, as leis seriam apenas uma adequação a um novo contexto, e não algo meramente imposto verticalmente. De acordo com Laplane (2004, p.18), “[...] a escola é uma instituição bastante rígida que tem dificuldades para receber aceitar e trabalhar com a diferença”. Ao decorrer do processo de educação formal, algumas vezes parte dos estudantes é promovida, outra é marginalizada e o restante é excluído. Muitas escolas têm dificuldades de trabalhar com sujeitos que estão fora do padrão, pois assim como outros segmentos da sociedade, têm dificuldade em lidar com o diferente. O caminho em busca da superação desta cultura está na 10505 realização pequenas ações, as quais têm por objetivo atender as especificidades daqueles que compõe a diversidade escolar. O discurso que trata da inclusão se torna frágil ao apresentar como “[...] única e melhor solução para estudantes, professores, pais e sociedade, põe em evidência um mecanismo discursivo que opera para assegurar a eficácia do discurso” (LAPLANE, 2004, p.18). A autora aponta, ainda, para a contradição a se aplicar este discurso sobre a realidade educacional brasileira, com estrutura carente, que é composta por classes superlotadas, estrutura física insuficiente e professores cuja formação não contempla as diferenças. Muitos estudantes estão em sala sem condições adequadas, ou seja, não há compromisso com o conhecimento a preocupação é o acesso, a matrícula, estar na escola. Faz-se necessário avançar em qualidade de ensino, ao refletir sobre a função social da escola precisamos repensar se de fato a aprendizagem ocorre, neste espaço educativo. A escola constitui-se um espaço privilegiado para a construção do saber construído historicamente, ou seja, este lugar é fundamental para o desenvolvimento global dos estudantes que fazem parte deste contexto e para a pessoa com deficiência não poderia ser diferente, nenhum outro espaço seria capaz de substituir seu caráter social e de ensino. Portanto, a educação inclusiva provoca a escola comum a repensar suas práticas, a partir de um olhar mais sensível as diferenças considerando os diferentes contextos, aos quais este sujeito faz parte. Neste sentido, para Mittler (2003,p.34): A Inclusão implica uma reforma radical nas reformas em termos de currículo, avaliação, pedagogia e formas de agrupamentos dos alunos em sala de aula. Ela é baseada em um sistema de valores que todos se sintam bem vindos e celebra a diversidade que tem como base o gênero, a nacionalidade, a raça, a linguagem de origem, o background social, o nível de aquisição educacional ou a deficiência. Assim, a inclusão exige uma reforma na estrutura atualmente colocada. A disposição dos estudantes em sala, o currículo deve ser revisto assim como a avaliação. As diferenças devem ser acolhidas e valorizadas, neste espaço que é composto pela diversidade. Como incluir o diferente em uma escola com o currículo engessado e com uma avaliação tradicional e que não respeita o ritmo e a singularidade de cada estudante? Como avançar em relação às propostas metodológicas que atenda e respeite a todos? Considerando estas dificuldades vividas na escola, percebe-se os problemas que esta enfrenta ao se flexibilizar, ao modificar o seu currículo, quando trabalha com estudantes que saem do padrão estipulado. Metas e índices são impostos à escola, mudando assim o foco do desenvolvimento voltado às especificidades dos estudantes, para uma corrida incessante por 10506 resultados numéricos. A escola se caracteriza como uma instituição organizada para estudantes que correspondem a um ideal padrão, não para o sujeito singular que é seu estudante, o estudante real heterogêneo; implementa sua atividade pedagógica a partir de um sistema organizado por um currículo não flexível; e seleciona os conteúdos segundo uma sequência rígida, com complexidade crescente a partir de critérios padronizados de desenvolvimento psicológico baseado em etapas (FERREIRA, 2005). Portanto, a escola ainda enfrenta grande dificuldade em superar a falta de respeito pelas individualidades ao manter um ensino pautado em um currículo único, onde o conteúdo é trabalhado da mesma forma para todos os estudantes, de forma inflexível, independentemente das condições e características apresentadas por seus distintos estudantes, ou seja, aquele que não consegue acompanhar o ritmo imposto é excluído e marginalizado agora dentro de sala de aula. Para alterar a rigidez da escola e oportunizar aos estudantes a aprendizagem com qualidade social é preciso viabilizar estratégias de ensino e avaliação demonstrando que “[...] não é necessário que se tenha as mesmas metas educacionais quando aprendem juntos” (FERREIRA, 2005, p.144). Neste sentido, a autora afirma que o desenvolvimento de algumas metas diferencia-se dentro dos mesmos objetivos escolares. Faz-se necessário superar a condição de alcançar metas padronizadas estipuladas de forma excludente, devemos valorizar a diversidade, neste sentido o caminho a ser percorrido na educação inclusiva, deve ser aquele onde cada estudante deve ser parâmetro dele mesmo, respeitando assim a diferenças por eles apresentados. Ao definir educação Inclusiva, afirma Beyer (2006, p.85): A educação inclusiva caracteriza-se como um novo princípio educacional, cujo conceito fundamental defende a heterogeneidade na classe escolar, não apenas como situação provocadora de interação entre as crianças com situações pessoais as mais adversas. Além dessa interação, muito importante para o fomento das aprendizagens recíprocas, é fundamental uma pedagogia que se dilate ante as diferenças do alunado. O autor propõe a transição de uma educação integradora para uma educação inclusiva. Esta educação que almejamos, e buscamos incessantemente cotidianamente, e que ainda temos muito a avançar. Neste sentido, além da flexibilização da escola perante a diferença, esta deve adequar a proposta de ensino para que estas pessoas se apropriem do conhecimento sistematizado, do contrário continuaremos em uma integração escolar. Apesar de contarmos ainda com um crescente número de matrículas de pessoas com deficiência nas escolas, 10507 percebe-se, contudo, a grande dificuldade das instituições em perceber as diferenças atendendo as suas dificuldades e favorecendo as suas potencialidades. A educação especial perpassa todos os níveis etapas e modalidades de ensino e tem como público-alvo da educação estudantes com deficiência (intelectual, surdez, múltipla, física, surdocegueira), Transtorno do Espectro Autista – TEA e altas habilidades/superdotação. Dentre os serviços da educação especial contamos com o Atendimento Educacional Especializado. Assim, o AEE, realizado no período contrário ao frequentado no ensino regular, é um serviço de fundamental importância, onde podemos avaliar possibilidades de intervenção, a partir das necessidades e potencialidades dos estudantes, com o principal objetivo de favorecer a participação do estudante em sala de aula comum (BRASIL, 2008). O professor do AEE poderá contribuir orientando os profissionais da escola na elaboração das estratégias no cotidiano escolar, na elaboração de recursos e na organização da rotina, de acordo com as peculiaridades de cada aluno e de cada escola. Os alunos com TGD deverão frequentar o AEE quando forem identificadas necessidades educacionais específicas que demandem a oferta desse atendimento, beneficiando-se das atividades e dos recursos pedagógicos e de acessibilidade, disponibilizados nas salas de recursos multifuncionais (BELISÁRIO JUNIOR;CUNHA, 2010, p.38). Na busca da plena participação no ensino comum, os estudantes público-alvo da educação especial, devem ter acesso a diferentes estratégias e metodologias, e o AEE é o espaço ideal para buscarmos estas possibilidades e experimentarmos, de fato quais são mais eficientes para cada estudante, bem como o uso de diversos jogos e materiais adaptados de acordo com a necessidade de cada um. Para Ramos (2013, p.21), “[...] os jogos de tabuleiro apresentam diversos formatos e objetivos, de modo geral, envolvem pelo menos a participação de dois jogadores, o exercício de estratégia e raciocínio lógico para vencer o adversário ou resolver o desafio apresentado”. Assim para a autora, os jogos de tabuleiro compõem os jogos cognitivos, os quais podem contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem. O jogo de tabuleiro apresenta-se como importante instrumento metodológico, pois o estudante precisa apropriar-se das regras para poder jogar a partida, planejando jogadas, resolvendo problemas, para proteger suas peças e tentar capturar as de seu adversário, ou seja, ali são estimuladas habilidades essências para o desenvolvimento de forma global para o estudante. Também foi possível evidenciar, que durante a realização das partidas o estudante teve dificuldade em lidar com a derrota e como essa ação pedagógica trazendo a possibilidade em 10508 superá-la, ou seja, sabendo lidar melhor com frustrações. Ao vencer partidas consecutivas, esperava-se que o jogador, pudesse em algum momento demonstrar atitude de superioridade, contudo o estudante comoveu-se com a derrota do oponente, sugerindo ao mesmo algumas possibilidades para que capturasse suas peças. Mesmo ganhando com frequência, o estudante vencedor apresentou atitude colaborativa ao seu oponente. O estudante conseguia colocar-se no lugar do outro preocupando-se com o sentimento do outro, e possibilitado que seu oponente superasse suas dificuldades, sem se preocupar com o resultado final da partida. Ao vencer partidas consecutivas, esperava-se que o jogador, pudesse em algum momento demonstrar atitude de superioridade, contudo o estudante comoveu-se com a derrota do oponente, sugerindo ao mesmo algumas possibilidades para que capturasse suas peças. Mesmo ganhando com frequencia, o estudante vencedor apresentou atitude colaborativa ao seu oponente. O estudante conseguia colocar-se no lugar do outro preocupando-se com o sentimento do outro, e possibilitado que seu oponente superasse suas dificuldades, sem se preocupar com o resultado final da partida. Assim, quanto às possibilidades estratégicas o estudante observado, surpreendeu não apenas demonstrando raciocínio lógico apurado, atenção, capacidade de antecipação e planejamento, mas também na resolução de problema auxiliando seu oponente, ao dar dicas, favorecendo o desenvolvimento de novas jogas mesmo que o resultado destas fosse a captura das próprias peças. Durante a participação nos jogos utilizados no AEE junto a estudantes com TEA, pudemos observar como o uso deste recurso é de extrema importância para contribuir para o desenvolvimento de vários aspectos do autismo, como a atenção compartilhada, relação com o outro, percepção do que o outro sente ou procura transmitir por meio de expressões faciais, bem como, ampliar sua linguagem oral ou no uso de comunicação aumentativa alternativa – CAA, se for necessário, como instrumento de apoio ao estudante sem comunicação oral. Considerações finais Conforme o que foi exposto, percebe-se o quanto os jogos de tabuleiro possibilitaram novas aprendizagens ao estudante no ambiente escolar, mais especificamente no Atendimento Educacional Especializado. Reforçando mais uma vez que, o uso desses jogos oportuniza diferentes habilidades, as quais são fundamentais para o desenvolvimento global do estudante, tais como: linguagem, aspectos afetivos e de autoestima, controle inibitório, autorregulação, planejamento, resolução de problemas raciocínio lógico na elaboração de estratégias, e 10509 atenção. Ainda sim, seria importante observar a interação desse estudante no jogo de tabuleiro com outros estudantes, o que não possível neste período. Tendo em vista os aspectos observados, entende-se que os jogos de tabuleiro apresentam-se como importante estratégia metodológica, a ser utilizada com vistas ao desenvolvimento de importantes habilidades fundamentais, de forma mais prazerosa e atrativa, favorecendo assim, sua plena participação do estudante público-alvo da educação especial, tanto no Atendimento Educacional Especializado quanto no ensino comum. Foi possível perceber também, a importância de oportunizar materiais, jogos alternativos para os esses estudantes e finalmente, conscientizar as pessoas de que, precisamos acreditar nas possibilidades dos estudantes com autismo, sem subestimar suas potencialidades. REFERÊNCIAS BELISÁRIO JUNIOR, José Ferreira; CUNHA, Patrícia. Transtornos globais do desenvolvimento. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2010. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar). BEYER, Hugo Otto. Educação inclusiva ou integração escolar? 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