UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DISCIPLINA: CONTEMPORÃNEA II DISCENTE: IRLAN VILELA ANÁLISE DE DOCUMENTO DA ÉPOCA Racismo Hitlerista MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Textos e documentos para o estudo da história contemporânea (1789 – 1963). São Paulo: Fulgor, 1966, p. 178-179. UFBA/FFCH 2009.2 Estes dois documentos retratam um passado recente no qual a Europa atravessava uma terrível crise econômica com uma grande recessão e o crescimento do desemprego, neste patamar existiam teorias de partido de extrema-direita que pregava o ultranacionalismo, a xenofobia e o racismo. O primeiro documento trata-se de um fragmento da famosa obra de Adolf Hitler Mein kampf (minha luta), onde estão expostos os princípios do nazismo que serviram como orientação para suas ações futuras. A obra foi escrita enquanto Hitler esteve na prisão. No dia 08 de novembro de 1923, Hitler com a sua tropa de assalto – membros da SA comandou um golpe na cervejaria de Munique, chamado depois de putsch da cervejaria, com a finalidade de obter das autoridades locais um apoio para formar um governo nacional e derrubar a república de Weimar. O golpe fracassara. Hitler foi preso e condenado a cinco anos de prisão, no entanto só cumpriu nove meses, é neste período que inicia a escrita da obra.1 Segundo Carmo (1989) o primeiro volume, intitulado Eine Abrechnung, é essencialmente autobiográfico e foi publicado em 18 de Julho de 1925; já o segundo volume, Die Nationalsozialistische Bewegung (O movimento nacional-socialista), é mais preocupado em expressar a doutrina nazista e foi publicado em 1926. O nazismo foi uma forma extrema de fascismo (conhecido também por nazifascismo) que agregou à sua essência totalitária, o racismo. Neste fragmento da obra Mein Kampf é possível perceber um dos pilares centrais do racismo hitlerista que é a ideologia da superioridade racial ariana. Segundo Mein Kampf, na humanidade existem homens superiores e homens inferiores. A servidão foi imposta as raças vencidas, sendo assim para que ocorressem os progressos da humanidade os homens inferiores tiveram que se tornarem escravos cumprindo um 1 CARMO, Sonia Irene Silva. O golpe da cervejaria. In: História geral. São Paulo: Atual, 1989, p.157. papel semelhante aos animais. Como algo natural, e que sempre fez parte da necessidade da civilização em alcançar o seu grau de desenvolvimento, Hitler tenta justificar a escravidão e a dominação de certas raças sobre outras, julgando que só a raça ariana é "depositária do progresso da civilização" e, portanto, como um povo de senhores, tem de conquistar e submeter às raças inferiores. O racismo hitlerista com o Nazismo tornou-se uma política de Estado para eliminar outros povos considerados biologicamente inferiores. De acordo com a ideologia nazista a raça superior era formada pelo povo alemão, enquanto que as raças inferiores consideradas como os “inimigos” eram os comunistas, as minorias étnico-religiosas, os judeus, os povos eslavos, os ciganos, os negros, os homossexuais, por fim, todos originários de qualquer raça que não fossem considerados “arianos”. Algo importante que é possível detectar na análise deste documento é que Hitler desenvolve uma ideologia que somente a raça “ariana” é superior a todas as outras. Esta teoria remete a questão das minorias étnicas, a meu ver o desejo de Hitler era a criação de uma nação composta de indivíduos de origem única, por isso que na II guerra um dos planos dos nazistas alemães era de unificar os territórios dos povos de língua alemã. Sendo assim, com a doutrina nazista, surgiu um nacionalismo exacerbado e dentro da pátria alemã as raças consideradas inferiores deveriam ser eliminadas ou viverem na condição de escravos. O livro se tornou uma estratégia de propaganda para divulgar o anti-semitismo, além disso, fica clara a posição racista, inquestionável e confessa do autor. Quero destacar que em 1940 mais de seis milhões de exemplares deste livro foram vendidos fazendo com que estas teorias alcançassem grande popularidade. O segundo documento trata-se das leis de Nuremberg: lei de 15 de setembro de 1935 para a proteção do sangue e honra dos alemães. Neste período, Hitler já tinha conseguido o apoio total do exército e se nomeou após a morte do presidente Hindenburg, chefe do Estado, chanceler, líder do partido e da nação e ditador único da Alemanha.2 De acordo com estas leis racistas, a nação alemã deveria perpetuar a pureza do sangue alemão em seu território, sendo assim era proibido o casamento entre judeus considerados povos inferiores ou raças impuras com os súditos de sangue alemão. Além disso, segundo o programa do partido nacional-socialista alemão para ser cidadão, era necessário ser de sangue alemão. Nenhum judeu, porém, poderia alcançar a cidadania. O próprio Hitler pregava que “povos em cujas veias corre o mesmo sangue devem pertencer ao mesmo Estado”. A partir da análise deste documento, é possível detectar que mesmo antes do inicio da guerra, Hitler já iniciava seus planos de perseguição aos judeus e com isso muitos começaram a serem presos e aqueles que tiveram condições deixaram o país. Hitler também utilizou uma tese principal avocada de “perigo judeu” que marchetava sobre uma conspiração dos judeus para conquistar a liderança na Alemanha. Além da perseguição, com o decorrer da segunda guerra, a solução final proposta, seria o genocídio sistemático da comunidade judaica em todos os territórios conquistados pelos nazistas. É possível detectar nestas leis como é exposto no texto de Jeffrey Herf, 3 como Hitler se apropriou das teorias racistas do conde de Gobineau, do fervor nacionalista de Heinrich Von Treitschke e das próprias teorias de supremacia racial de Nietzche. No seu texto, Herf também explica que Hitler através de seus discursos oferecia aos alemães uma nova esperança. Sendo assim, a meu ver é possível entender o sucesso do partido nacional-socialista, o povo alemão estava vivendo um período de grave crise econômica em que cresceu a taxa de desemprego, os governantes da 2 3 ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. HERF, Jeffrey. A revolução conservadora em Weimar. In: O Modernismo Reacionário – tecnologia, cultura e política na república de Weimar e no 3º Reich. São Paulo: Ensaios, 1992. república do Weimar não conseguiram solucionar as dificuldades econômicas durante a grande depressão e ainda havia o temor do poder e da influência bolchevique.4 Durante o período de 1933 a 1945 com os nazistas dominando a Alemanha, as teorias racistas foram impostas em toda à Europa ocupada, muitos judeus e outros povos que eram considerados inimigos dos nazistas foram encarcerados e exterminados em campos de concentração. Para finalizar, infelizmente, ainda hoje aquelas idéias que foram construídas para exterminar judeus, homossexuais, negros, ciganos ou simplesmente opositores do regime nazista mataram e ainda matam centenas de pessoas inocentes em diversas partes do mundo. Aqui mesmo no Brasil, existem pequenos grupos simpatizantes com esta doutrina nazista. É possível ver indivíduos que utilizam ideologias racistas e, além disso, propagam estas idéias, inclusive pela Internet, pichando muros com frases “fora nordestinos” e agredindo homossexuais e negros como o movimento neonazista dos skinheads. 4 Ibidem. p.33.