starting up

Propaganda
MANUAIS SETORIAIS
STARTING UP
Um Novo Negócio de Acessórios
de Bicicletas
Índice
Introdução………………………………………………………………………………. 4
1. Conceitos e Metodologias…………………………………………………………. 6
1.1 – Da ideia ao modelo de negócio (Starting Lean)…………………….. 6
1.2 – Constituir a empresa…………………………………………………… 11
1.3 – Financiar o projeto……………………………………………………… 12
2. Enquadramento Competitivo…………………………………………….………… 14
2.1 – Envolvente Competitiva………………………………………………... 14
2.2 – Fatores Críticos de Sucesso…………………………………………... 20
3. Modelo de Negócio………………………………………………………………….. 21
3.1 – A Proposta de Valor………………………………………………………21
3.2 – O Desenho do Modelo………………………………...………………… 24
3.3 – O Marketing e os Processos Funcionais……………………………… 25
4. Considerações Finais………………………………………………………………... 27
5. Referências Bibliográficas…………………………………………………………… 28
2
Índice de Figuras
Figura 1: Tela do modelo de negócio (Business Model Canvas) segundo Alexander
Osterwalder…………………………………………………………………………….. 7
Figura 2: Componentes gerais de uma proposta de valor com base em Kotler, “Marketing
para o Século XXI”…………………………………………………………………….. 9
Figura 3: Peso da bicicleta na repartição modal por sub-região…………………. 16
Figura 4: Percentagem das vendas de bicicletas por países…………………….. 18
Figura 5: Estrutura da Exportação em Portugal…………………………………… 19
Figura 6: Vertentes de uma Proposta de Valor para uma Startup de Acessórios para
Bicicleta………………………………………………………………………………… 22
Figura 7: Acessórios para bicicletas - Modelos de negócio……………………… 24
Índice de Tabelas
Tabela 1: Impactes Gerais………………………………………………………...... 14
Tabela 2: Os 10 concelhos com mais utilizadores de bicicletas em Portugal (termos
relativos, base 2013)……………………………………………………………….... 16
Tabela 3: Fatores Críticos de Sucesso…………………………………………….. 20
Tabela 4: Exemplo da Identificação Geral da Proposta de Valor para a Atividade
………………………………………………………………………………………...... 23
3
Introdução
Vivemos
tempos
desafiantes,
porque
marcados pela mudança e pela incerteza,
mas, plenos de oportunidades. Para quem
quer iniciar um negócio, é fundamental efetuar
uma rigorosa análise da aderência do seu
projeto ao mercado, procurando sempre
ajustar as suas capacidades à inconstância
da procura.
A TER EM CONTA
 Clarificar a ideia
 Conhecer o Mercado
 Identificar a tipologia de
clientes
 Amadurecer o modelo de
O Programa ANJE Startup1 Accelerator
(ASA), uma iniciativa promovida pela ANJE
(Associação
Nacional
de
Jovens
Empresários) no âmbito do Projeto Inovação
Portugal (PIP)2, visa capacitar a entrada de
novos
empreendedores
em
áreas
consideradas
estratégicas
para
o
desenvolvimento
económico
nacional,
alicerçados em projetos de base tecnológica.
O programa iniciou-se com 300 promotores,
dos quais foram selecionados 30 para
participarem no processo de aceleração, após
o que foram escolhidos os 10 finalistas para
incubação.
negócio
 Desenvolver um protótipo
 Estabelecer objetivos
 Estruturar um plano de
negócio
 Testar a viabilidade
 Captar financiamento
 Constituir a empresa
Esses 10 projetos estão integrados em 10 sub-setores de atividade económica para os
quais foram elaborados 10 Manuais que visam contribuir para a reflexão em torno da
criação de uma Startup em cada um desses sub-setores, apontando um caminho crítico
e algumas condições a ter em conta.
Foram assim identificados os seguintes subsetores:
 Acessórios para bicicletas;
 Comercialização de equipamentos de apoio à mobilidade;
 Criação de lojas virtuais;
 Design e comercialização de jóias;
1 Empresas que vão iniciar atividade, explorando produtos, soluções e áreas de atuação inovadoras no
mercado
2 Programa de empreendedorismo cofinanciado pelo QREN, Compete - Programa Operacional Fatores de
Competitividade.
4






Minilaboratório de fotografia;
Mobiliário para atividades lúdicas e eventos;
Oferta de alojamento turístico;
Plataforma logística virtual;
Produção e comercialização de equipamento de diagnóstico médico;
Pronto-a-vestir para crianças.
Uma nova atividade em qualquer destes domínios, propondo valor diferencial,
pressupõe um modelo de negócio coerente e estruturado, elaborado de acordo com os
instrumentos e metodologias adequados.
Por esse motivo, impõe-se uma introdução metodológica a um conjunto de ferramentas
que vão permitir aos empreendedores percorrer o caminho que vai do surgimento da
ideia até ao estabelecimento do negócio, testando e validando hipóteses, de forma a
mitigar o risco inerente a qualquer startup.
É objetivo deste Manual deixar pistas claras e objetivas para o desenvolvimento de um
projeto, sob a forma de um guia de ação direto e focado no essencial, mas também
indicar ferramentas, com referências metodológicas sobre a sua utilização, para serem
utilizadas durante o percurso que os promotores devem empreender para montar o seu
negócio.
Optou-se por incluir em todos os Manuais, para além desta Introdução necessariamente
idêntica, um Primeiro Capítulo explicativo, genérico e adaptável a qualquer tipo de
negócio, que serve de início para quem pretende montar uma startup em qualquer
atividade e que, por esse motivo, tem a mesma redação em todos os Manuais.
Procurou-se ainda, apesar das limitações de informação existentes, nomeadamente
quantitativa, dos sub-setores ou áreas escolhidas, proporcionar elementos
caracterizadores do mercado, que permitam um melhor conhecimento do mesmo.
É importante salientar que nenhum dos exemplos referidos nestes Manuais são
inspirados ou têm alguma relação com os projetos apoiados pelo Programa ANJE
Startup Accelerator (ASA).
5
1. Conceitos e Metodologias
1.1 - Da ideia ao modelo de negócio (Starting Lean)
1.1.1 - Recursos, atividades e parcerias-chave
Para transformar a ideia num negócio é essencial estruturar um modelo de negócio.
Mas, o que é um Modelo de Negócio?
De uma forma simples, podemos dizer que um Modelo de Negócio é um esqueleto
estratégico e operacional do negócio, é uma explicação de como a startup vai ganhar
dinheiro e assegurar assim a sua sustentabilidade.
O quê? Como? Para quem? São perguntas essenciais cujas respostas estão na base
da estruturação de qualquer negócio.
Para estabelecer um Modelo de Negócio, podemos usar a metodologia do Business
Model Generation3, baseada numa Tela (Canvas) onde se dispõem os nove elementos
nucleares de um modelo de negócio, de forma a torná-los mais facilmente
percecionáveis. Temos assim:









Segmentos de Clientes – os consumidores alvo da oferta da empresa, os clientes
pretendidos pela empresa;
Propostas de Valor – explicitação dos argumentos porque é que os
consumidores devem escolher a oferta da empresa em prejuízo da concorrência;
Canais – quais os canais de comunicação e de entrega da proposta de valor;
Relacionamento com Clientes – de que forma a empresa se vai relacionar com
os seus clientes;
Fluxos de Rendimento – quais as fontes de rendimento da empresa;
Recursos-Chave – quais os recursos necessários para construir a proposta de
valor, comunicá-la e entregá-la aos segmentos de clientes;
Atividades-Chave – Quais as atividades que são necessárias para construir a
proposta de valor;
Parcerias-Chave – Quais as parcerias que é necessário estabelecer para
assegurar a construção de uma proposta de valor valorizada e uma entrega
eficaz ao mercado;
Estrutura de Custos – quais os custos necessários para construir e entregar a
proposta de valor ao mercados.
3 Alexander Osterwalder, Yves Pigneur, “Business Model Generation: A Handbook for visionaries, game
changers, and challengers striving to defy outmoded business models and design tomorrow's enterprises”.
Published by John Wiley and Sons, Inc. Hoboken, New Jersey.
6
Figura 1: Tela do modelo de negócio (Business Model Canvas) segundo Alexander
Osterwalder
Como pensar, então o Modelo de Negócio de uma Startup?
Para responder a essa pergunta temos de começar por detalhar os respetivos
elementos constituintes, clarificando o entendimento sobre cada um deles e
assegurando uma organização e interligação de forma consequente e integrada.
Como contributo para essa tarefa, deverão ser respondidas algumas perguntas,
relativas a diversas naturezas e fatores, nomeadamente:


Produto/serviço - Quais são as caraterísticas pretendidas? Qual o principal
benefício que trazem? Qual o agendamento do desenvolvimento esperado? Há
custos indiretos da adoção do produto? É autossuficiente ou precisa de outros
meios complementares? A Propriedade Intelectual é importante para proteção
da inovação que se pretende implementar?
Cliente - Qual é o perfil do público-alvo? Quais as caraterísticas principais do(s)
segmento(s)? Tem clientes pioneiros (early-adopters)? Quanto representam?
Quem decide, quem compra, quem influencia e quem usa o produto/serviço,
individualmente ou empresarialmente? Qual é o problema/necessidade a que o
produto/serviço pretende dar resposta? O que esperam os clientes? Quais as
caraterísticas mínimas que o produto/serviço deve ter para responder à
necessidade? Qual a dimensão do mercado/segmento que queremos explorar?
7




Preço e canais - Como é o processo de compra, de modo direto ou através de
intermediários? Quais são os custos diretos e indiretos esperados para cada
canal? Quais são os benefícios esperados para os intermediários? Se há algum
produto/serviço semelhante no mercado, quanto custa? Se não há, como é que
os potenciais clientes resolvem hoje o problema/necessidade e quanto lhes
custa? Qual o custo de cada canal?
Comunicação de produto/serviço - Como vão os potenciais clientes saber do
produto/serviço? Publicidade? Passa-a-palavra? Parceiros? Qual deve ser o
principal canal? Quem são as pessoas ou empresas mais influentes para o
público-alvo? Qual a mensagem e os conteúdos, via Inbound Marketing4 ? Como
gerar leads5 ?
Tipo de Mercado – É um novo mercado ou é uma nova segmentação, por preço
ou nicho, de um mercado existente? Para mercados existentes, qual é o
posicionamento único proposto? Para mercados segmentados, qual é o público
que ainda não consome o produto/serviço? Qual é a curva de adoção esperada?
A Startup tem condições financeiras para suportar o período de tempo que leva
a obter o retorno necessário à compensação dos investimentos efetuados?
Concorrência - Quem são os concorrentes diretos? Caso não haja
produtos/serviços similares, quem são os concorrentes indiretos? Em que é que
o produto/serviço difere? Há barreiras à entrada no mercado?
1.1.2 – A proposta de valor
Os dois pilares chave de qualquer modelo de negócio são a proposta de valor (o que a
empresa tem para oferecer e que os clientes mais valorizam) e os segmentos de clientes
(grupos de potenciais clientes com características idênticas que constituem o mercado
alvo da empresa).
O arranque da estruturação de um modelo de negócio começa por um ou outro destes
pilares, a partir dos quais serão definidos os restantes.
A ideia tem de ser formatada numa proposta de valor, construída a partir de um conjunto
de recursos, estruturados em atividades e suportados por parcerias, que são depois
disponibilizadas ao mercado através de canais e assegurando um relacionamento
adequado. A proposta de valor tem de ser ajustada ao mercado, correspondendo a
necessidades ou permitindo resolver problemas. Tem de assegurar um fluxo de
rendimentos que cubra a estrutura de custos e a remuneração dos investidores, de
forma a garantir a viabilidade do negócio.
4 Inbound marketing/marketing de atração é uma forma de divulgação e comunicação online através de
blogs, podcasts, vídeo, eBooks, newsletters e outras formas de marketing de conteúdo.
5 Leads - Em termos de marketing e vendas significa novos contactos
8
Quando no mercado é identificada uma necessidade não satisfeita ou deficientemente
satisfeita, ou um problema que não está a ser resolvido, temos o ponto de partida para
a construção de uma proposta de valor que vá ao encontro dessa necessidade ou da
resolução desse problema, de uma forma que os segmentos de clientes alvo valorizem
e que, portanto, a escolham em detrimento de qualquer outra da concorrência.
O valor gerado para o cliente resulta do ajustamento contínuo dos processos de suporte
da proposta de valor, os quais, dependem, por seu turno, do desempenho da equipa,
da cultura e da organização, ao nível de competências e saberes, do relacionamento
com a infraestrutura tecnológica e outros ativos tangíveis.
Toda esta “cadeia” de variáveis, e a sua interligação, é que determinam a permanente
adequação da proposta de valor de uma Startup ao mercado, satisfazendo os
segmentos de clientes de forma a garantir vendas, assegurando sustentabilidade para
a empresa e valor financeiro para o(s) investidor(es) e para o(s) promotor(es).
Uma base para a reflexão técnica de suporte à fixação da Proposta de Valor, deve
atender aos seguintes parâmetros:
Figura 2: Componentes gerais de uma proposta de valor
Fonte: Elaboração Própria, com base em Kotler, “Marketing para o Século XXI”
A perceção do valor, por parte dos segmentos de clientes, implica sempre uma
combinação de atributos físicos, relativos ao produto e/ou serviço, com aspetos
relacionais, concernentes à qualidade do serviço, e com aspetos intangíveis, ligados à
imagem e reputação da empresa e/ou da marca.
9
1.1.3 – A Empresa Lean
Uma nova empresa que pensa a sua entrada no mercado privilegiando a rapidez dos
seus movimentos e a velocidade da resposta do(s) seu(s) produto(s) e/ou serviço(s)
ao(s) segmento(s) de clientes, em detrimento da perfeição do modelo organizacional e
da carteira de produtos e serviços, é uma Lean Startup6.
Isto sem prejuízo de que o negócio, atendendo às suas necessidades de financiamento,
tem que garantir tangibilidade, eficiência, objetividade e influxos de tesouraria imediatos.
Atuando na linha da frente em vez de ficar nos bastidores a “aperfeiçoar” o produto, a
empresa Lean modela uma proposta mínima, valida-a com o cliente, descartando
hipóteses e avançando no mercado, de modo a aumentar as probabilidades de sucesso
imediato. Frequentemente, este modo de atuação resulta em significativas mudanças
ao nível da ideia/conceito/piloto/protótipo original – o pivô7 - e processos de suporte,
nomeadamente tecnológicos.
Pensar Lean é organizar o negócio de acordo com uma matriz estrutural assente em
três pólos:



Desenvolvimento de cliente (customer development), para testar e validar
iterativamente todas as hipóteses relativas a clientes, produto e/ou serviço e
mercado;
Desenvolvimento ágil, aplicando metodologias para reduzir o tempo de
desenvolvimento, através da resposta efetiva dos clientes/utilizadores;
Plataformas tecnológicas, como base de apoio para garantir eficiência com baixo
custo e grande rapidez (ou como instrumento de desenvolvimento, no caso da
construção de um grande número de produtos de base tecnológica, tanto de
software como de hardware).
Em suma, a Lean Startup usa um processo iterativo, com base numa ideia, para ir
ajustando uma Solução (produto e/ou serviço) a um Problema (necessidade do cliente),
aglutinando o desenvolvimento do produto e/ou serviço com as designadas atividades
de Desenvolvimento de Cliente - investigação qualitativa (entrevistas, testes de
usabilidade, etc.) ou experimentação quantitativa (produto e/ou serviço em
uso/funcionamento em sede de cliente). Este Desenvolvimento de Cliente pode ser
dividido em duas etapas8 - Identificação do Cliente (Customer Discovery) e Validação
do Cliente (Customer Validation).
6 Eric Ries. “The Lean Startup”, 2011. Crown Business, Nova Iorque
7 Eric Ries. “The Lean Startup”, 2011. Crown Business, Nova Iorque
8 Steve Blank, “The Four Steps to the Epiphany”, 2006, Printed by Lulu.com
10
No centro de todo este processo de maturidade sequencial está o conceito de Produto
Mínimo Viável (PMV) ou Minimum Viable Product (MVP)9, ou seja, uma versão do
produto e/ou serviço, com as características essenciais da oferta final, que permite aos
promotores obter e validar factos, de modo rápido e com o mínimo de esforço, naquilo
que, na prática, corresponde ao processo científico da experimentação. Sob forma
esquemática, temos os seguintes passos:




Identificar a hipótese principal a ser testada;
Definir e construir o Produto Mínimo Viável;
Efetuar os testes qualitativos e quantitativos (entrevistas, A/B testing10,
campanhas Adwords11, experiências de utilização, etc.);
Retirar conclusões e rever hipóteses.
Avaliar recursos, atividades e selecionar parceiros são, a par com o desenvolvimento
de produto e/ou serviço e de cliente, a base estratégica e operacional do modelo de
negócio.
1.2 – Constituir a Empresa
Esta é uma importante etapa a completar, na
medida em que a credibilidade e a
operacionalidade do negócio dependem da
existência de uma entidade jurídica para poder
operar formalmente no mercado e contratar
com terceiros.
Constituir a empresa significa pensar em dois
níveis de assuntos:


Legais;
Comerciais.
No primeiro caso, de modo muito sucinto,
existe a possibilidade de, através de “Empresa
na Hora”12 e de “Empresa Online”13, se
constituir uma sociedade unipessoal, por
quotas ou anónima, no momento e num só
balcão.
Do website “Empresa na Hora”:
Não necessita prévio certificado
admissibilidade nem escritura
pública;
Comunicação código de acesso ao
cartão eletrónico, número de
identificação da Segurança Social,
pacto social e Código de Acesso
Certidão Permanente e registo de
domínio na Internet. pt;
Registo do contrato em
"http://publicacoes.mj.pt/".
9 Idem, anterior e Eric Ries. “The Lean Startup”, 2011. Crown Business, Nova Iorque.
10 Testes comparativos
11 Serviço de publicidade da Google
12 http://www.empresanahora.pt/ENH/sections/PT_inicio
13 https://bde.portaldocidadao.pt/evo/landingpage.aspx
11
O custo do serviço é menor para empresas cujo objetivo seja o desenvolvimento
tecnológico ou a investigação e as Startup podem beneficiar de isenção de taxas e
emolumentos.
Na opção por qualquer das formas jurídicas de sociedade deve ter-se em conta o
património a afetar, a responsabilidade a assumir e se o exercício da atividade é feito
como único detentor da totalidade do capital ou com outros sócios/acionistas.
Deverão ser ainda ponderados os aspetos relacionados com o registo de patentes,
certificações ou outros conexos, que salvaguardem ideias, processos, protótipos e
produtos.
Em segundo lugar, há que definir eventuais conceitos e modos de intervenção
comercial, que podem conduzir à criação de marcas – institucionais ou de produto – e
de uma imagem e comunicação específicas, para construir uma identidade comercial
própria.
1.3 – Financiar o projeto
Qualquer negócio necessita de financiamento. E, numa primeira fase, é necessário
decidir e calcular qual a parte de capitais próprios que o promotor irá investir no projeto.
É muito importante determinar as necessidades financeiras, em desenvolvimento de
produto, infraestruturas, equipamentos e em fundo de maneio, para que a exploração
do negócio possa ser levada a cabo, nos primeiros tempos, sem ruturas de tesouraria
ou comprometimento da execução do plano de ação. Se houver que desenvolver pilotos
e efetuar testes de mercado, há que garantir o respetivo financiamento. As licenças,
patentes e outros registos têm um custo que pode ter expressão importante, sobretudo,
se a Startup tiver como objetivo outros mercados além do nacional.
Os capitais necessários para fazer face às despesas de arranque do projeto poderão
ser de origem própria ou alheia. Os capitais próprios (que devem assegurar o
funcionamento das empresas com uma margem de segurança) são, normalmente, o
capital social, as outras prestações de capital, o autofinanciamento, os subsídios ao
investimento ou à criação de postos de trabalho e o capital de risco (garantidos por
FFF14, Business Angels e Fundos vocacionados para apoiar startups, entre outros).
Necessitando recorrer a capitais alheios, a respetiva proveniência pode resultar de
créditos diversos - fornecedores, empréstimos bancários, empréstimos de
sócios/acionistas ou locação financeira, mobiliária e imobiliária.
14 Friends Fools and family, referência aos amigos, aos “loucos” e à família, ou seja, aqueles que investem
no negócio atendendo ao promotor e não ao projeto em si mesmo.
12
Existem diversas fontes de financiamento inicial para o projeto de uma Startup, que vão
desde os apoios comunitários – candidaturas diretas ao Horizon 2020, ao Portugal 2020
e a outros programas de entidades intermédias, como o IEFP, a garantia mútua, os
Business Angels e outros apoios geridos por Associações empresariais.
Mitigar o risco é muito importante para qualquer potencial empreendedor. Milhares de
decisões têm de ser tomadas todos os dias e uma delas poderá comprometer o futuro
da empresa. Um investimento mal calculado, um fornecimento com crédito mal parado
ou uma rutura de tesouraria inesperada são acontecimentos que podem fazer ruir um
negócio de um dia para o outro.
O projeto de uma startup deve garantir sustentabilidade e obedecer a um plano
económico e financeiro prévio, que contemple:







Projeções da atividade económica, com apuramento de resultados (vendas e
prestações de serviços, custo da mercadoria vendida e das matérias
consumidas, fornecimentos e serviços externos, subcontratos, comissões,
gastos com o pessoal, impostos e outros);
Cálculo do valor do investimento;
Cálculo das necessidades em fundo de maneio;
Cálculo das necessidades de financiamento total;
Apuramento do cash-flow de investimento e da exploração;
Cálculo da viabilidade do projeto (VAL15 , TIR16 , Payback17 , ROI18 );
Elaboração das demonstrações económicas e financeiras previsionais e de um
quadro de indicadores fundamentais, de natureza diversa.
15 Valor Atual Líquido, conceito utilizado para determinar a viabilidade de um investimento sendo que, para
um projeto ser viável o VAL tem de ter valor positivo.
16 Taxa Interna de rentabilidade, determina a taxa de rentabilidade do projeto. Trata-se de um importante
valor indicativo mas que não deve ser utilizado sozinho como fator de escolha, pois apresenta alguns
inconvenientes.
17 Payback é o período de retorno do capital investido.
18 Return On Investment taxa de rentabilidade do capital investido.
13
2. Enquadramento Competitivo
2.1 – Envolvente Competitiva
2.1.1 - Fatores Gerais com Influência a Curto e a Médio Prazo
Todas as áreas de atividade sofrem, direta ou indiretamente, a influência de fatores que
escapam ao controlo dos empresários e gestores de pequenas empresas, mas que
importa ter em atenção por poderem traduzir-se em oportunidades ou ameaças. Como
o tema da mobilidade ciclável tem vindo a ganhar crescente interesse e atenção - nos
média e um cada vez maior número de adeptos e também por responder a um conjunto
de preocupações económicas e ambientais -, é necessário abordar os fatores gerais de
influência estratégica na atividade em causa.
Tabela 1: Impactes Gerais
Fonte: Elaboração própria
Impacte Provável nas Atividades Ciclísticas
Fatores e Tendências
Situação económica geral e custo
da energia/combustíveis
Legislação, preocupações
ambientais e requalificação dos
espaços públicos
Tipo
Curto Prazo
Médio/Longo Prazo
Oportunidade
 Substituição do automóvel
pela bicicleta - menores
distâncias
 Incremento da utilização da
bicicleta no lazer passeios, promoção de
atividades ao ar livre,
turismo (maior nº de
pessoas com equipamento
e competências)
 Uso maior em urbes
pequenas e médias
 Substituição do
automóvel pela bicicleta
- menores distâncias
 Incremento da
utilização da bicicleta
 Adoção continuada do
acesso em bicicleta à
escola/trabalho
Oportunidade
 Criação de espaços de
lazer, zonas de acalmia de
tráfego, faixas e pistas
cicláveis para bicicletas nas
cidades e vilas;
 Novos instrumentos de
regulação pública de
incentivo à reabilitação
urbana, promovendo os
modos suaves em geral
 Reorganização da rede
viária e implementação
de zonas de acalmia e
de circulação
 Aumento das zonas de
circulação e das
condições de
segurança para ciclistas
 Cluster da bicicleta e da
mobilidade sustentável
(PT)
Cultura dos cidadãos,
envelhecimento da população e
orografia da maioria das cidades
e vilas portuguesas
Ameaça
Cultura dos cidadãos de alguns
países europeus e de alguns
grupos populacionais nacionais
Oportunidade
Evolução da Tecnologia
Oportunidade
 Morosidade de adoção
quotidiana do uso da
bicicleta
 Forte associação ao lazer e
atividades físicas
 Baixa valorização social da
bicicleta
 Aumento das viagens com
destino mais próximo
 Procura turística de
Portugal
 Modelos mais leves,
baratos e com apoio de
motores elétricos
 Adoção morosa da
bicicleta no uso
quotidiano
 Retoma da procura de
automóveis
 Utilização como
complemento ao
transporte público
 Expansão das soluções
de bicicleta de
utilização
coletiva/partilhada
14
Ressaltam, como tal, alguns fatores que configuram importantes espaços de
oportunidade a explorar no curto prazo:






Incremento crescente da utilização da bicicleta nas atividades ligadas ao lazer passeios, promoção de atividades ao ar livre, turismo, sobretudo, em contexto
de tempos livres e em agregados urbanos pequenos e médios;
Notoriedade da produção portuguesa, em contexto europeu;
Reorganização do espaço público com faixas dedicadas a bicicletas e alterações
favoráveis na legislação relativa à circulação rodoviária;
Evolução tecnológica dos equipamentos, disponibilidade, preço e imagem;
Criação de grupos sociais específicos em torno da bicicleta e de uma cultura
urbana;
Reforço do uso, nomeadamente comunitário, num crescente número de países.
2.1.2 – Mercado e Tendências
O mercado a analisar é, neste caso, algo complexo, pois, a respetiva quantificação
torna-se difícil, sobretudo no respeitante a Portugal, pela ausência de dados recentes e
fiáveis. Aborda-se, então, um modo de apurar a amostra total referencial apenas da
procura possível para a natureza de oferta em análise, que constitui o mercado total
disponível (Total Available Market – TAM)19. Vejamos:
i. Nacional
Um primeiro caminho para o conhecimento da realidade dos utilizadores de bicicleta é
a consulta dos Censos 2011. Houve um forte aumento do peso do transporte individual
(62%, em 2011 contra 46%, em 2001), em detrimento do transporte coletivo (redução
de 21 % para 15 %) e dos modos suaves (a pé, de 25% para 17% e bicicleta e
motorizada de 3,2% para 1,7%).
Estima-se que o peso da bicicleta seja, em termos médios nacionais e por repartição
modal, de cerca de 0,5%, abaixo da média europeia. A sub-região do Baixo Vouga é
onde mais pessoas andam regularmente de bicicleta, ou seja, 3,9% contra 0,5%20 da
média. Há ainda cem mil pessoas envolvidas em atividades desportivas ligadas à
bicicleta21. O crescimento tem sido homogéneo no território nacional, mas, com maior
relevância no Norte do país.
19 Steve Blank, “The Four Steps to the Epiphany”, 2006, Printed by Lulu.com e Eric Ries. “The Lean
Startup”, 2011. Crown Business, Nova Iorque.
20 INE, Censos 2011.
21 Federação Portuguesa de Ciclismo.
15
0,4%
0,6%
1,2%
3,9%
0,4%
0,1%
1,2%
1,4%
1,0%
0,3%
Baixo Vouga
Algarve
Grande Porto
Pinhal Litotal
Baixo Mondego
Grande Lisboa
Setúbal
Lezíria do Tejo
Oeste
Cávado
Figura 3: Peso da bicicleta na repartição modal por sub-região
Fonte: Trasportes em Revista (www.transportesemrevista.com)
Num total estimado de cerca de 31 mil utilizadores diários, a repartição pelos concelhos
com maior número de adeptos, e com o Baixo Vouga a responder por 40% do total, é a
seguinte:
Tabela 2: Os 10 concelhos com mais utilizadores de bicicletas em Portugal (termos relativos, base
2013)
Fonte: Transportes em Revista (www.transportesemrevista.com)
Local/NUTS
Peso
Bicicleta
Utilizadores
Automóvel
Bicicleta
Murtosa
Baixo Vouga
16,9%
5 275
893
Ílhavo
Baixo Vouga
9,7%
22 357
2 160
Estarreja
Baixo Vouga
6,8%
14 671
996
Golegã
Lazíria do Tejo
6,7%
2 879
192
Mira
Baixo Mondego
5,9%
6 032
355
Vagos
Baixo Vouga
4,7%
12 865
669
Vila Real Sto António
Algarve
3,9%
9 924
390
Marinha Grande
Pinhal Litoral
3,4%
22 013
745
Anadia
Baixo Vouga
3,1%
15 778
88
Ovar
Baixo Vouga
2,9%
32 325
935
Total
144 119
7 423
16
De referir ainda o segmento emergente dos utilizadores de bicicletas elétricas, sobre o
qual alguns estudos revelam ser um dos que mais está a crescer na Europa, podendo
vir a representar em Portugal “um volume de negócio na casa dos 80 milhões de
euros”22.
Em 2012 venderam-se em Portugal mais bicicletas que automóveis (113,4 mil
automóveis e 350 mil bicicletas). Constata-se uma crescente utilização diária de
bicicletas, cerca de 30 mil bicicletas por cotejo com 4 milhões de automóveis.
ii. Internacional
De acordo com dados da Federação Europeia de Ciclistas, atualmente são produzidas
cerca de 150 milhões de bicicletas por ano, e na Europa existem cerca de 40 milhões
de pessoas que utilizam a bicicletas como meio de transporte diário. E por cada
automóvel vendido, no último ano, são vendidas quase duas bicicletas.
O mercado é cada vez mais global e em crescimento, a par com as preocupações
ambientais. Note-se que o conceito de mobilidade verde já faz parte da agenda
europeia, onde a bicicleta assume um papel preponderante nas políticas de transporte.
Acresce ainda o facto de haver uma forma de turismo que privilegia a bicicleta e aumenta
o mercado potencial – o turismo ciclável. Tendo em atenção dados compilados pelo
Parlamento Europeu (DGIP, 2009), a atividade apresentava já em 2009, um valor
aproximadamente de 54 mil milhões de euros, suportando-se num plano para uma rede
europeia de ciclovias (EuroVelo), a unir diversos países e já parcialmente construída.
Ainda que o mercado europeu de bicicletas tenha evidenciado alguma redução no ritmo
de crescimento, está-se perante uma dimensão bastante interessante. Assiste-se a um
aumento das importações provenientes de países terceiros, principalmente, da Ásia.
Segundo dados do Eurostat, já em 2010 se importaram 9,3 milhões de bicicletas
Um negócio neste setor deve apontar para segmentos nacionais e internacionais,
visando. Neste último caso, acima de tudo, dos países com mais vendas regulares de
bicicletas destaca-se a Dinamarca, a que se segue um grupo de outros, que detêm o
maior volume de vendas, conforme a figura abaixo:
22 Paulo Rodrigues, ABIMOTA, JN 21 Nov 2013.
17
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
Dinamarca
Holanda
Finlândia
Austria
Suécia
Reino Unido
Alemanha
Eslovénia
França
Bélgica
Eslováquia
Chipre
Republica Checa
Portugal
Itália
Hungria
Estónia
Malta
latvia
Irlanda
Grécia
Espanha
Polónia
Lituânia
Luxemburgo
Bulgária
Roménia
0%
Por 1000 habitantes
Figura 4: Percentagem das vendas de bicicletas por países
Fonte: European Bicycle Market 2010 Edition, COLIBI – COLIPED
http://www.ecf.com/press-corner/cycling-facts-and-figures/#sthash.ZCSL70d8.dpuf
O segmento de mercado a abranger, ou disponível (Serviceable Available Market –
SAM)23, tem dimensões e limites diversos, conforme a natureza específica, os objetivos
e a escala do negócio. Contudo, deverá abarcar os países que têm maior tradição de
uso de bicicleta e que mais unidades compram anualmente. Nestes mercados, um
negócio de Acessórios para a Bicicleta tem como clientes B2B as cadeias de retalho de
bicicletas e de artigos para desporto.
2.1.3 – O Setor e a Dinâmica Concorrencial
De acordo com dados divulgados pela ABIMOTA – Associação Nacional dos Industriais
de Bicicletas, Ciclomotores, Motociclos e Acessórios, relativos a 2013, o volume de
vendas das empresas de produção industrial de bicicletas foi de 200 milhões de euros.
Existe ainda a perceção empírica de que têm surgido novas atividades económicas
relacionadas com a bicicleta - organização de eventos turísticos e de lazer, lojas de
bicicletas e oficinas, fabricação e comercialização de componentes e de vestuário para
bicicleta.
São, de um modo geral, negócios recentes, com uma estrutura de custos fixos baixa,
um leque alargado de serviços prestados e forte capacidade de resiliência.
23 Steve Blank, “The Four Steps to the Epiphany”, 2006, Printed by Lulu.com e Eric Ries. “The Lean
Startup”, 2011. Crown Business, Nova Iorque.
18
A indústria nacional de bicicletas é composta por empresas de dimensão pequena e
média. A produção anual tem vindo a subir, o que posiciona o nosso país no 5º lugar do
ranking europeu (UE 27) do setor24. Assim, a indústria portuguesa está no TOP 5
europeu da produção de acessórios e componentes de bicicletas e no TOP 7 europeu
da produção de bicicletas (num ranking que é encabeçado pela Itália com quase 2,5
milhões de unidades, seguindo-se a Alemanha, a Holanda e a Polónia), o setor está
avaliado em mais de 200 milhões de euros (exportações) e há um emergente conjunto
de pequenas e micro empresas e organizações, cujo valor de negócio se desconhece.
Não está medido o contributo direto e indireto para o PIB nacional25.
1% 5% 1%
1%
12%
Travões e cubos
Aros e raios
80%
Selins
Quadros e garfos
Outras partes e acessórios
Bicicletas
Figura 5: Estrutura da Exportação em Portugal
Fonte: Portugal Global, dezembro 2011
Portugal tem vindo a reforçar a sua posição exportadora de bicicletas - de 0,3%, em
2006, para 0,44%, em 201026. A balança comercial do sector é excedentária, sendo que
este excedente deriva não só da exportação de bicicletas, mas também de componentes
(aros e raios, travões, quadros e garfos, selins, pedais e pedaleiras, pneus e câmarasde-ar). A Espanha tem sido um forte cliente, a que se somam outros países como a
França, a Holanda, a Itália, a Alemanha e a Bélgica. Embora com valores baixos, de
referir ainda a Polónia, o Brasil, Angola, a Suécia e a Roménia. Por contrapartida, as
importações vêm, sobretudo, da China e de Espanha.
A dinâmica empresarial é muito forte e tem vindo a crescer nos últimos anos, o que se
reflete, nomeadamente no número de empresas e respetivos movimentos.
24 Revista Portugal global, 2011, ABIMOTA e apresentações públicas de Plataforma Tecnológica da
Bicicleta, Universidade de Aveiro.
25 Idem
26 INE.
19
2.2 – Fatores Críticos de Sucesso
Enquadrado o negócio no ambiente onde se movem as forças competitivas e após a
análise da respetiva influência, é curial tentar enumerar os fatores cruciais para a Startup
desta área de atividade sobreviver nessa envolvente, o que se evidencia, ainda que de
uma forma muito abrangente, na seguinte tabela:
Tabela 3: Fatores Críticos de Sucesso
Fonte: Elaboração própria
Fatores Críticos de Sucesso
Preço
Acesso aos canais
Efeitos
Adequação ao valor do bem principal
Presença nos pontos de venda onde o cliente procura o produto
Inovação
Investigação e desenvolvimento contínuos e melhoria de
processos. Utilidade e segurança
Proximidade
Presença nos canais tradicionais e sociais e estabelecimento de
comunicação biunívoca. Fazer parte da network de ciclistas –
profissionais, amadores e turísticos
Estas quatro naturezas de fatores foram selecionadas com base na apreciação do
ambiente, geral e setorial e ainda nas tendências deduzidas do quadro concorrencial e
de procura/oferta atual.
20
3. Modelo de Negócio
QUESTÕES PRÉVIAS:
 Há uma definição clara da ideia?
 Foi detetada uma necessidade ou um problema não resolvido?
 Há uma solução inovadora?
 É possível chegar ao mercado? Sozinho? Em parceria?
 Qual é o fator diferenciador da nossa proposta?
3.1 – A Proposta de Valor
3.1.1 – O Produto Mínimo Viável e o Mercado
A estruturação do modelo de negócio deve pois assegurar que existe uma proposta de
valor que seja adequada ao mercado e em particular aos segmentos alvo selecionados,
que essa proposta de valor é percecionada como sendo distintiva e apresentando
vantagens em relação à concorrência e que assegura a sustentabilidade da empresa
pois, como dizia Peter Drucker, uma empresa existe para ter clientes.
Por esse motivo é essencial assegurar a adequação do produto, ou serviço, ao mercado,
tanto em termos das suas especificações técnicas e da sua capacidade para solucionar
um problema ou responder a uma necessidade, como em termos económicos.
Assim, é muito importante validar o conceito antes mesmo de se iniciar a produção
propriamente dita e para esse efeito é útil considerar o conceito de Produto Mínimo
Viável, desenvolvendo um protótipo que sirva para esse processo de validação junto
dos mercados alvo, de modo a percecionar o mercado potencial para o produto da
empresa, validar caraterísticas e preço a propor.
3.1.2 – Targets, Bases de Relacionamento e Proposta
A definição da quota do mercado disponível a atingir, num mercado bastante competitivo
e com fracas estatísticas sobre os negócios do setor, em associação com uma forte
dinâmica dos mercados internacionais, implica uma definição/escolha precisa dos alvos
iniciais, recolhendo informação sobre aspetos que determinam a aquisição desta
tipologia de produtos/serviços.
21
Esta escolha deve ser feita com muito realismo. Por exemplo, se o negócio vai ter,
inicialmente, poucos meios, que quantidade de canais e de encomendas podemos
trabalhar com eficiência? O parceiro encarregue da produção consegue dar resposta?
Com que limite? Que volumes/unidades podemos garantir durante o ano? E em épocas
de “pico”? Este raciocínio leva-nos à necessidade de escolher com muito cuidado os
mercados de destino e os canais/clientes de B2B (Business to Business)27 ou de B2C
(Business to Consumer)28 com quem vamos trabalhar, as respetivas condições e a
necessidade de controlar o desempenho de cada ponto de venda, em território nacional
e no estrangeiro.
Conhecer e estar próximo do utilizador final, sendo um fator estratégico, deve também
ser contemplado na Proposta de Valor, com base em eficientes e eficazes meios de
inbound e de outbound29. O negócio constrói-se com o cliente e assegura-se por via da
proximidade ao utilizador. A Startup tem que estar presente no retalho, mas, também
noutras plataformas - redes sociais e eventos - que envolvam a bicicleta.
Atendendo à necessidade de entrar no mercado com vantagem competitiva, dando
suporte à Proposta de Valor e atendendo aos Fatores Críticos de Sucesso, a Startup
posiciona-se naturalmente de modo a diferenciar-se por:





Originalidade e ergonomia;
Conforto e segurança;
Função/necessidade a satisfazer;
Processo tecnológico simples e escalável;
Preço/mercado alvo (target) (B2B ou B2C), ajustado ao custo da bicicleta.
Então, uma Proposta de Valor ajustada deverá contemplar o seguinte:
Figura 6: Vertentes de uma Proposta de Valor para uma Startup de
Acessórios para Bicicleta
Fonte: Elaboração própria
27 De empresa para empresa.
28 De empresa para o consumidor final.
29 A qual a empresa utiliza os canais tradicionais de marketing para comunicar com o seu público-alvo.
22
O detalhe deve ser efetuado, caso a caso, sugerindo-se a ponderação dos fatores
cruciais do valor e a subsequente comunicação da proposta. Pode ser usada uma
matriz-síntese para ajustar as componentes de valor à consolidação e formulação da
proposta.
Para a construção da proposta de valor temos também de assegurar uma articulação
da mensagem com os veículos e os suportes, pelo que se sugere a criação de uma
matriz dinâmica que permita evidenciar:



os fatores de valor, ou seja, os elementos de base da proposta;
os vetores ou meios a utilizar na comunicação da proposta de valor aos
segmentos de clientes;
a mensagem a comunicar, para garantir um adequado posicionamento de
marketing.
Teremos assim evidenciados, para cada segmento de clientes, os elementos essenciais
da proposta de valor. Para esse efeito pode utilizar-se uma matriz com estrutura idêntica
à da tabela inscrita abaixo, em que é dado um exemplo de trabalho efetuado para o
estabelecimento de uma proposta de valor para um negocio de motociclos, atendendo
a:



Destinatários – retalho profissional e utilizadores finais;
Fatores subjacentes à adesão de cada um destes segmentos;
Vetores e suportes mais adequados para a comunicação da proposta.
Tabela 4: Exemplo da Identificação Geral da Proposta de Valor para a Atividade
Fonte: Elaboração Própria
Destinatário
Retalho
Comunicação
Fatores de valor

Aspetos técnicos

Manutenção

Preço

Apoio
Vetor
 Especificações
 Logística de
reservas/entregas
 Equipa/prazos de apoio
 Margens competitivas
Base Mensagem
 Logótipo/marca
 Catálogo
 Online para reserva e apoio
 Marketing direto
 Logótipo/marca

Imagem e
ergonomia

Utilizador
Facilidade
montagem

Preço

Manutenção/apoio
 Conforto e moda
 Preço proporcional valor
motociclo
 Manutenção rápida
 Apoio direto e no momento
 Cor
 Assinatura
 Comunicação online /
biunívoca / blog / website
 Podcasts e outros
 Prescritores
 Eventos
23
3.2 – O Desenho do Modelo
Definidas as variáveis-chave e objetivado o modelo de desenvolvimento e
implementação, estabelecidas as parcerias e identificadas as fontes de rendimento e de
receita, podemos partir para o Projeto e para a estruturação final do Negócio.
A fim de demonstrar, de uma forma prática, a aplicação desta metodologia,
apresentamos uma Tela de Modelo de Negócio para uma possível Startup de acessórios
para bicicleta. No caso vertente, estamos a considerar uma empresa de design e
comercialização de acessórios para bicicletas, cuja fabricação é subcontratada.
Os produtos são comercializados no retalho através de lojas e cadeias de lojas da
especialidade, mas também por venda direta através do website da empresa. A
empresa responde globalmente pelo negócio e tem necessidade de estar próxima dos
seus clientes – B2B – e dos seus utilizadores – ciclistas regulares, desportistas,
ocasionais, de diversas idades e classes socioeconómicas, em diversos países.
A comunicação será feita essencialmente pela utilização da web – website próprio e dos
distribuidores, redes sociais, blogs30 - e o relacionamento com os clientes terá dois eixos
de abordagem - personalizado junto do retalho e automatizado na web.
Os fluxos de rendimento provirão da venda de produtos, admitindo-se a possibilidade
de vir a efetuar licenciamentos que gerarão fees31 de royalties. Vejamos, então:
Figura 7: Acessórios para bicicletas - Modelos de negócio
Fonte: Elaboração própria
30 Contração do termo inglês web log, "diário da rede", é um website cuja estrutura permite a atualização
rápida de conteúdos, por via de (posts) publicações, sob a forma de artigos.
31 Taxa, pagamento, taxa de entrada, comissão, honorário, etc.
24
3.3 – O Marketing e os Processos Funcionais
A operacionalização da estratégia efetua-se, sobretudo, por via das políticas de
marketing, entendido como dimensão integradora de todas as vertentes que suportam
a Proposta de Valor para o cliente/mercado e consequentemente a Proposta de Valor
para o acionista/detentor do capital.
No caso de um negócio de Acessórios para Bicicletas, o marketing estrutura-se com
base num Mix32 de variáveis, cuja correta definição é crucial para a viabilidade prática
do negócio. Trata-se de definir as bases que vão orientar as políticas de atuação no
terreno e no curto prazo. Este Mix deverá, neste caso concreto, contemplar os seguintes
vetores de raciocínio:
i. Produto
Combina as subvariáveis que concorrem para o respetivo uso, segurança e
durabilidade. Deve ter-se presente que um acessório deve obedecer a conceitos de
ergonomia e de estética e permitir alguma personalização (dimensão
tangível/intangível). Deve atender-se a:










Denominação – fácil, identificável, memorizável;
Design e Imagem – direta, atrativa, memorizável, identificável;
Embalagem/solução de transporte/arrumação;
Funcionalidade – resposta a uma necessidade em condições mais favoráveis do
que as dos eventuais produtos concorrentes;
Fiabilidade e durabilidade;
Simplicidade e praticabilidade de montagem;
Correspondência do produto vendido com a Proposta de Valor (PV) e o que é
realmente percebido pelo cliente – conformidade com necessidade e
expectativas;
Inovação;
Disponibilidade/prazo e apoio;
Diversidade de soluções, com o Produto Mínimo Viável (PMV) e acréscimo por
desenho “caso-a-caso” (one-to-one).
ii. Preço
Variável muito ligada à perceção de valor pelo cliente, deve ponderar:





Benchmarking33 da concorrência;
Ajustamento ao mercado alvo - target (evitar concorrência só com base no preço,
contemplar valor percecionado, valor do bem de base (bicicleta), uso e níveis de
rendimento disponíveis);
Break-even34 e margens do negócio;
Preço mínimo e máximo recomendado;
Preço para distribuição e custo de promoção;
25

Viabilidade e sustentabilidade.
iii. Canais
O acesso ao utilizador final efetua-se através de distribuidores, individuais ou em cadeia,
que vendem exclusivamente bicicletas e acessórios e/ou que vendem artigos para a
prática desportiva ou que promovem atividades turísticas ou de competição. Trata-se de
tipologias de retalho com presença nacional e sobretudo internacional. Então, convém
trabalhar com:




Cadeias e lojas com presença nos mercados dos países definidos como
mercados-alvo;
Portais de turismo;
Operadores desportivos e de turismo ciclístico;
Outros, com impacte na realização de ações para o target definido.
iv. Promoção/Comunicação
Variável importante, por garantir a continuada presença das vertentes intangíveis
comunicadas ao público-alvo e ao utilizador, deve, neste caso, enquadrar:








Criação de marca;
Publicidade, nomeadamente, brochuras, panfletos, anúncios em revistas da
especialidade;
Promoção de vendas;
Merchandising35;
Relações públicas, por meio de informação no sítio e nos sítios dos parceiros,
newsletter36 e presença em eventos que divulguem a atividade e a filosofia, bem
como as vantagens das propostas da empresa;
Marketing direto, mediante a utilização dos parceiros;
Patrocínio/apoio/presença em eventos do setor;
Online marketing – redes sociais, sítio e blog.
33 Processo de análise das melhores práticas num determinado setor, que conduzem a um desempenho
superior.
34 Ponto crítico.
35 Ferramenta de Marketing - Conjunto de técnicas para destacar produtos no ponto de venda, promovendo
o respetivo consumo e a rotatividade prateleira/stock.
36 Comunicação regular e periódica enviada aos clientes (atuais e potenciais), informando sobre atividades,
produtos, serviços, destaque de prémios e de posição no mercado, etc. Pode oferecer produto e serviço.
26
4. Considerações Finais
O projeto de uma Startup para operar no domínio da Engenharia de Acessórios para
Bicicleta necessita de um claro enfoque inicial nos mercados com capacidade de
resposta rápida, em garantir um bom desempenho operacional e uma forte presença
nos canais com maior impacte. Um adequado posicionamento na cadeia de valor é,
assim, um fator crucial para o sucesso. A inovação, com base não apenas em
conhecimentos tecnológicos, mas, na proximidade com o utilizador final da bicicleta, tem
que fazer parte do ADN da nova empresa.
Se necessitar de garantir um quadro de apoio com recurso a financiamento por terceiros
deverá demonstrar um conjunto de aspetos, vitais para a adesão de qualquer entidade
parceira:
i.
Necessidade detetada e resposta dada pelo produto/solução;
ii.
Domínio do produto, no que respeita à respetiva caraterização,
desenvolvimento e propriedade intelectual;
iii.
Realização de testes de funcionamento e de adesão, já com resultados
positivos (pilotos);
iv.
Definição clara dos mercados-alvo e respetiva quantificação – vendas
iniciais, vendas potenciais e margens;
v.
Quantificação das primeiras fases de escalabilidade do projeto;
vi.
Boa definição de canais e garantia de acesso (contacto/compromisso/
contrato) a redes de distribuição, nacionais e internacionais, por fases;
vii.
Equipa, estratégia e parcerias estabelecidas e a estabelecer.
Tendo em conta o enquadramento setorial e a evolução registada, é de prever que o
crescimento esperado do mercado de bicicletas venha a proporcionar uma oportunidade
interessante para startups nesta área, com propostas de valor inovadoras e que vão ao
encontro de necessidades não satisfeitas ou de problemas não resolvidos, em
condições economicamente viáveis e enquadráveis nos segmentos alvo.
27
5. Referências Bibliográficas
Alexander Osterwalder, Yves Pigneur, “Business Model Generation: A Handbook for
visionaries, game changers, and challengers striving to defy outmoded business models
and design tomorrow's enterprises”. Published by John Wiley and Sons, Inc. Hoboken,
New Jersey
Berry, Michael e Linoff, Gordon (2000), Mastering Data Mining: the art and science of
customer relationship management, John Willey & Sons.
Drucker, Peter – A Organização do Futuro, Europa-América
Eric Ries. “The Lean Startup”, 2011. Crown Business, Nova Iorque
Kaplan, Robert S., Norton, David P., Organização Orientada para a Estratégia. Editora
Campus
Kotler, Philip (2000), Marketing para o Século XXI, Lisboa, Editorial Presença
Porter, Michael E.: Estratégia Competitiva Técnicas para Análise de Indústrias e da
Concorrência (2.ª edição)
Steve Blank, “The Four Steps to the Epiphany”, 2006, Printed by Lulu.com
Turismo de Portugal, “Animação do Turismo em Portugal, 2013”. Dezembro de 2014
http://www.abimota.org/
http://www.anje.pt/
http://www.ecf.com
http://www.empresanahora.pt/ENH/sections/PT_inicio
http://www.ibike.org/library/statistics.htm
http://www.inovaportugal.com/asa/
http://www.portugalglobal.pt
http://www.transportesemrevista.com/
https://bde.portaldocidadao.pt/evo/landingpage.aspx
https://www.ua.pt/ptbicicleta/
28
Download